Gestão Hospitalar N.º 16 2019
Analisar o presente e preparar o futuro 50 anos da carreira de administração hospitalar - De um começo promissor à entrada em letargia e à procura de nova vida Modelos de gestão e tipos de cultura organizacional: O perfil dos administradores Hospitalares portugueses O percurso de um Administrador Hospitalar além fronteiras A carreira de assistente operacional nos serviços de saúde Ouvir a população Os portugueses e a saúde Rosa Matos: Administradores hospitalares devem ser inovadores e abertos à mudança PPP na Saúde As Parcerias Público Privadas na Saúde em Portugal: Análise Crítica Distribuição temporal das readmissões dos doentes com insuficiência cardíaca e fatores associados Abertas candidaturas para o Prémio Healthcare Excellence 2019 Avaliação clínica e económica do Programa ERAS para a cirurgia colorretal Qual o impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das quedas no estado de saúde dos idosos? Procriação Medicamente Assistida: a gravitas da jurisprudência WCOD: Programa de workshops de codificação clínica APAH promove apresentação sobre a utilização de dados e informação no SNS APAH aposta na profissionalização da investigação clínica nas unidades de saúde em Portugal
Analisar o presente e preparar o futuro
50 anos da carreira de administração hospitalar - De um começo promissor à entrada em letargia e à procura de nova vida
Modelos de gestão e tipos de cultura organizacional: O perfil dos administradores Hospitalares portugueses
O percurso de um Administrador Hospitalar além fronteiras
A carreira de assistente operacional nos serviços de saúde
Ouvir a população
Os portugueses e a saúde
Rosa Matos: Administradores hospitalares devem ser inovadores e abertos à mudança PPP na Saúde
As Parcerias Público Privadas na Saúde em Portugal: Análise Crítica
Distribuição temporal das readmissões dos doentes com insuficiência cardíaca e fatores associados
Abertas candidaturas para o Prémio Healthcare Excellence 2019
Avaliação clínica e económica do Programa ERAS para a cirurgia colorretal
Qual o impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das quedas no estado de saúde dos idosos?
Procriação Medicamente Assistida: a gravitas da jurisprudência
WCOD: Programa de workshops de codificação clínica
APAH promove apresentação sobre a utilização de dados e informação no SNS
APAH aposta na profissionalização da investigação clínica nas unidades de saúde em Portugal
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JANEIRO FEVEREIRO MARÇO <strong>2019</strong><br />
Edição Trimestral<br />
N<strong>º</strong> <strong>16</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />
GESTÃO<br />
Perfil dos Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es portugueses<br />
OUVIR A POPULAÇÃO<br />
Os Portugueses<br />
e a Saúde<br />
PPP NA SAÚDE<br />
EM PORTUGAL<br />
Análise Crítica<br />
READMISSÕES<br />
Insuficiência cardíaca<br />
e readmissão hospitalar<br />
ESTUDO<br />
Impacto das quedas<br />
no estado de saúde<br />
dos idosos<br />
ENTREVISTA<br />
rosa matos
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
GH SUMÁRIO<br />
janeiro fevereiro março <strong>2019</strong><br />
aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />
4<br />
Editorial<br />
Analisar o presente e preparar o futuro<br />
Alexandre Lourenço<br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
PROPRIEDADE<br />
APAH − Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />
Av. do Brasil 53<br />
1749-002 Lisboa<br />
secretariado@apah.pt<br />
www.apah.pt<br />
DIRETOR<br />
Alexandre Lourenço<br />
DIRETORA-ADJUNTA<br />
Bárbara Sofia de Carvalho<br />
COORDENADORES<br />
Emanuel Magalhães de Barros, Miguel Lopes<br />
EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />
Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />
de Eventos, Ltda.<br />
Av. das Forças Armadas 4 – 8B<br />
<strong>16</strong>00-082 Lisboa<br />
Tel.: 217 957 045<br />
info@bleed.pt<br />
www.bleed.pt<br />
PROJETO GRÁFICO<br />
Sara Henriques<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
Gratuita<br />
PERIODICIDADE<br />
Trimestral<br />
DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />
<strong>16</strong>288/97<br />
ISSN N.<strong>º</strong><br />
0871–0767<br />
TIRAGEM<br />
2.000 exemplares<br />
IMPRESSÃO<br />
Grafisol, lda<br />
Rua das Maçarocas<br />
Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />
2710-056 Sintra<br />
Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />
do Acordo Ortográfico<br />
Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />
6<br />
10<br />
<strong>16</strong><br />
20<br />
22<br />
26<br />
32<br />
38<br />
42<br />
44<br />
48<br />
52<br />
54<br />
56<br />
58<br />
61<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
50 anos da carreira de administração hospitalar - De um começo promissor<br />
à entrada em letargia e à procura de nova vida<br />
José Nogueira da Rocha<br />
<strong>Gestão</strong><br />
Modelos de gestão e tipos de cultura organizacional:<br />
O perfil dos administradores <strong>Hospitalar</strong>es portugueses<br />
David Mateus, Sílvia Lopes e Rui Santana<br />
Testemunho<br />
O percurso de um Administrador <strong>Hospitalar</strong> além fronteiras<br />
José Carlos Freixinho<br />
Carreiras<br />
A carreira de assistente operacional nos serviços de saúde<br />
Paulo de Carvalho<br />
Ouvir a população<br />
Os portugueses e a saúde<br />
João Costa<br />
Entrevista<br />
Rosa Matos: Administradores hospitalares devem ser inovadores<br />
e abertos à mudança<br />
PPP na Saúde<br />
As Parcerias Público Privadas na Saúde em Portugal: Análise Crítica<br />
Cláudia Parente Rebelo<br />
Readmissões<br />
Distribuição temporal das readmissões dos doentes com insuficiência<br />
cardíaca e fatores associados<br />
Paula Cunha, Sílvia Lopes<br />
Iniciativa APAH<br />
Abertas candidaturas para o Prémio Healthcare Excellence <strong>2019</strong><br />
Programa ERAS<br />
Avaliação clínica e económica do Programa ERAS para a cirurgia colorretal<br />
Francisco Mota, Paulo Costa<br />
Estudo<br />
Qual o impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das quedas<br />
no estado de saúde dos idosos?<br />
Bruno Venâncio, Margarida Filipe<br />
Reflexões de direito biomédico<br />
Procriação Medicamente Assistida: a gravitas da jurisprudência<br />
Rafael Vale e Reis<br />
Espaço ENSP<br />
WCOD: Programa de workshops de codificação clínica<br />
Rui Santana, Sílvia Lopes<br />
Iniciativas APAH<br />
APAH promove apresentação sobre a utilização de dados e informação no SNS<br />
Iniciativas APAH<br />
APAH aposta na profissionalização da investigação clínica nas unidades<br />
de saúde em Portugal<br />
A APAH marca a agenda<br />
3
GH editorial<br />
Alexandre Lourenço<br />
Presidente da APAH<br />
Analisar o presente<br />
e preparar o futuro<br />
A<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> (GH) tem-nos<br />
habituado a acompanhar a atualidade<br />
da gestão de serviços de saúde<br />
e o exercício profissional dos<br />
administradores hospitalares.<br />
Nesta edição, abordamos o exercício profissional por<br />
várias vertentes e gerações. O Sócio de Mérito José<br />
Nogueira da Rocha apresenta a perspetiva conhecedora<br />
de meio século de carreira. Em contrapartida,<br />
do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
da Escola Nacional de Saúde Pública surge um<br />
estudo sobre o perfil atual dos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
(AH).<br />
Dos resultados obtidos conclui-se que os AH inquiridos<br />
são maioritariamente do sexo feminino, têm entre<br />
40 e 60 anos, formaram-se em direito ou ciências<br />
empresariais, exercem funções de gestão intermédia<br />
no setor público. Deste estudo, dá-se ainda nota que<br />
a centralização hierárquica e perda de autonomia de<br />
gestão nas organizações, tem condicionado os AH a<br />
privilegiar os processos internos, em detrimento de<br />
atividades relacionadas com a adaptação, inovação e<br />
crescimento. Portanto, o contrário do desejável para<br />
um sistema que precisa de se reinventar.<br />
Em grande entrevista, a Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />
Rosa Matos diz isso mesmo: “Administradores hospitalares<br />
devem ser inovadores e abertos à mudança”.<br />
A Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário de<br />
Lisboa Central deixa-nos o testemunho de um vasto<br />
percurso em várias instituições do Ministério da Saúde,<br />
incluindo o exercício recente de funções como<br />
Secretária de Estado da Saúde.<br />
Resultado deste garrote administrativo e financeiro, o<br />
estudo da APAH “Os Portugueses e a Saúde” revela<br />
o descontentamento dos portugueses face ao estado<br />
da Saúde em Portugal, em particular, do setor Público.<br />
Não obstante, é importante notar que os portugueses<br />
não fazem uma “crítica cega” ao SNS. Ou seja,<br />
não criticam indiscriminadamente todos os aspetos<br />
do seu funcionamento, mas dão conta da sua insatisfação<br />
face aos tempos de espera e qualidade de serviço.<br />
Mais preocupante será a perceção de abandono face<br />
às dificuldades dos utentes do SNS. Alerta para todos<br />
nós e, principalmente, para os decisores políticos.<br />
Para nos apoiar na resposta aos desafios crescentes<br />
no sistema de saúde, a GH traz-nos dados sobre o<br />
impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das<br />
quedas no estado de saúde dos idosos, a avaliação clínica<br />
e económica do programa ERAS para a cirurgia<br />
colorretal e os fatores associados às readmissões dos<br />
doentes com insuficiência cardíaca.<br />
No âmbito da discussão pública na atualidade, Cláudia<br />
Parente Rebelo apresenta uma análise crítica às<br />
parcerias público-privadas, Rafael Vale e Reis aborda<br />
a problemática legislativa da gestação de substituição<br />
e Paulo de Carvalho fala-nos da importância da definição<br />
de uma carreira específica de assistente operacional<br />
nos serviços de saúde.<br />
A GH acompanha o exercício profissional de todos<br />
aqueles que exercem funções de gestão nos serviços<br />
de saúde. Colocando questões, promovendo a discussão,<br />
analisando o presente e preparando o futuro.<br />
Com a vossa extraordinária participação continuamos<br />
a cumprir os nossos objetivos. 40 anos depois<br />
da criação do SNS, a GH conta convosco neste extraordinário<br />
percurso de partilha e aprendizagem. Ã<br />
4
GH Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
50 ANOS DA CARREIRA<br />
DE ADMINISTRAÇÃO<br />
HOSPITALAR<br />
De um Começo Promissor<br />
à Entrada Em Letargia<br />
e à Procura de Nova Vida<br />
José Nogueira da Rocha<br />
Sócio de mérito da APAH<br />
Um começo promissor<br />
Os anos de 1968 e 1969 ficaram na<br />
história da administração hospitalar<br />
em Portugal como inquestionáveis<br />
marcos históricos, quer da sua “rampa<br />
de lançamento”, quer do seu desenvolvimento.<br />
No ano de 1968 teve lugar a criação da carreira<br />
de administração hospitalar através do Decreto-Lei<br />
n.<strong>º</strong> 47.357, de 27 de abril - habitualmente designado<br />
por Estatuto <strong>Hospitalar</strong> - e do Decreto n.<strong>º</strong> 48.358, da<br />
mesma data, mais conhecido por Regulamento Geral<br />
dos Hospitais.<br />
O preâmbulo do primeiro destes diplomas contém<br />
algumas afirmações que, desde logo, anunciam o que<br />
a sua parte dispositiva viria a consagrar.<br />
Assim,<br />
• “A administração dos hospitais, ao menos dos mais<br />
importantes, tornou-se tarefa de profissionais, com<br />
preparação cuidada e estatuto adequado, visto que<br />
a mobilização de meios financeiros e humanos nos<br />
serviços de saúde atinge enorme volume e os prejuízos<br />
decorrentes de uma gestão pouco esclarecida<br />
podem ser importantíssimos, tanto do ponto de vista<br />
económico como social e humano”;<br />
• “A gestão hospitalar, infraestrutura indispensável<br />
a toda a ação médica, terá de desenvolver-se de<br />
acordo com as técnicas próprias da vida económica,<br />
embora subordinada aos objetivos sociais e humanos<br />
que prossegue”;<br />
• “No que respeita aos problemas da gestão hospitalar,<br />
é perfeitamente visível o esforço de atualização<br />
feito nos últimos anos no nosso País.<br />
Ultrapassou-se a ideia de que as técnicas da economia<br />
nada tinham que ver com o governo dos hospitais<br />
e que os problemas de financiamento afetavam a<br />
nobreza dos objetivos da atividade médica. Aceita-se,<br />
em termos de generalidade, que os processos de gestão<br />
económica constituem garantia indispensável de<br />
que aos meios materiais reunidos pela comunidade<br />
será dada a utilidade ótima, o que, afinal, quer dizer<br />
maior número de doentes assistidos e melhor assistência<br />
prestada”.<br />
Na sua parte dispositiva relevam de interesse os n.<strong>º</strong>s<br />
1 e 2 dos artigos 35.<strong>º</strong> e n.<strong>º</strong> 1 do artigo 72.<strong>º</strong> que consignam,<br />
respetivamente:<br />
• “Artigo 35.<strong>º</strong> - 1. Em ordem a conseguir a maior eficiência<br />
técnica e social, os estabelecimentos e serviços hospitalares<br />
devem organizar-se e ser administrados em termos<br />
de gestão empresarial, garantindo à coletividade o<br />
mínimo custo económico no seu funcionamento.<br />
2. Nesse sentido, cabe-lhes:<br />
a) Elaborar planos de administração que devem ser<br />
submetidos à aprovação ministerial, juntamente com<br />
os orçamentos;<br />
b) Aplicar métodos atualizados de gestão económica,<br />
desde que adequados à sua natureza e fins;<br />
c) Efetuar a vigilância permanente da gerência, de modo<br />
a manter saneada a situação económica, e prestar<br />
à Direcção-Geral dos Hospitais as informações necessárias<br />
à avaliação periódica da administração”.<br />
• “Artigo 72.<strong>º</strong> - 1. São desde já estabelecidas as seguintes<br />
carreiras de pessoal hospitalar:<br />
a) Pessoal superior de administração;<br />
b) Pessoal médico;<br />
c) Pessoal farmacêutico”.<br />
O n.<strong>º</strong> 2 do artigo n.<strong>º</strong> 72 remete para o quadro anexo<br />
a este diploma, quadro que especifica a carreira de<br />
administração para os hospitais gerais centrais, com<br />
as seguintes categorias:<br />
“Enfermeiro-mor ¹<br />
Provedor<br />
Administrador<br />
Chefe de serviço de apoio geral<br />
Chefe de secretaria<br />
Chefe de contabilidade<br />
Chefe de serviço de aprovisionamento”.<br />
O Decreto n.<strong>º</strong> 48.358, consigna no seu artigo 37<strong>º</strong>.<br />
o seguinte:<br />
“1. A carreira do pessoal de administração abrange<br />
nos hospitais centrais os graus seguintes:<br />
a) Chefe de serviço de apoio geral<br />
b) Administrador<br />
c) Administrador-geral<br />
d) Provedor<br />
2. Nos hospitais regionais a carreira abrange apenas<br />
o lugar de administrador.<br />
3. Será fixada por portaria a data a partir da qual passa<br />
a ser exigida como habilitação indispensável o curso<br />
de administração hospitalar”.<br />
No ano de 1969 teve lugar o segundo marco histórico<br />
para o desenvolvimento da carreira de administração<br />
hospitalar.<br />
A Portaria n.<strong>º</strong> 24.222, de 4 de agosto de 1969, criou o<br />
curso de administração hospitalar, na sequência, aliás,<br />
de 3 diplomas que vinham já a fazer prever essa criação:<br />
o Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 36.219, de 10 de abril de 1947,<br />
o Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 38.884, de 28 de agosto de 1952 e<br />
o Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 46.301 de 17 de abril de 1965.<br />
No início dos anos 80 contavam-se já 279 diplomados<br />
em administração hospitalar pela Escola Nacional<br />
de Saúde Pública/Universidade Nova de Lisboa 2 , a<br />
que se juntavam mais 6 que haviam frequentado o<br />
curso de administração de hospitais, ministrado pela<br />
“<br />
OS ANOS DE 1968 E 1969<br />
FICARAM NA HISTÓRIA<br />
DA ADMINISTRAÇÃO<br />
HOSPITALAR EM PORTUGAL<br />
COMO INQUESTIONÁVEIS<br />
MARCOS HISTÓRICOS.<br />
”<br />
École Nationale de Santé Publique, em Rennes, França<br />
- atual École des Hautes Études en Santé Publique<br />
- a maior parte dos quais já então integrados na<br />
carreira criada em 1968 e regulamentada em 1969.<br />
Entrada em letargia<br />
Como escrevi em outro local, a gestão hospitalar em<br />
Portugal, quer pela natureza extremamente complexa<br />
das instituições que exigem a sua prática, quer pela<br />
atividade desenvolvida pelos respetivos profissionais,<br />
assumia-se já como uma realidade que confirmava totalmente<br />
as razões aduzidas nos diplomas de 1968,<br />
atrás citadas.<br />
Sentindo essa verdade, a criação, em 1981, da Associação<br />
Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
(APAH), constituiu um passo simultaneamente<br />
natural e oportuno. Impunha-se, com efeito, ante o<br />
desenvolvimento da profissão, encontrar uma organização<br />
destinada “à salvaguarda dos interesses profissionais<br />
e à promoção social e deontológica dos seus<br />
sócios”, o que, visivelmente, tem sido conseguido.<br />
Há, porém, que registar um facto que não deixa de causar<br />
alguma perplexidade: a carreira não tem acompanhado,<br />
bem longe disso, o desenvolvimento e a consolidação<br />
da gestão hospitalar em Portugal.<br />
Por razões que aqui me abstenho de referir, mas que<br />
são bem conhecidas, a carreira de administração hospitalar,<br />
após a sua revisão em 1981, pelo Decreto-Lei<br />
n.<strong>º</strong> 101/80, de 8 de maio, entrou num período que,<br />
usando uma qualificação que, porventura, estando<br />
longe de corresponder à verdade, apelido, benevo- }<br />
6 7
GH Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
“<br />
RECONHECIMENTO<br />
DA COMPLEXIDADE,<br />
ESPECIFICIDADE E ESPECIAIS<br />
EXIGÊNCIAS DA GESTÃO<br />
HOSPITALAR.<br />
”<br />
lamente de letargia. Porquê, perguntar-se-á?<br />
Não foi, certamente, por culpa dos profissionais cuja<br />
competência, mesmo nas situações mais exigentes e<br />
de maior responsabilidade, raramente foi posta em<br />
causa, bem pelo contrário.<br />
Não foi também pela ausência do reconhecimento da<br />
complexidade, especificidade e especiais exigências<br />
da gestão hospitalar, ampla e sistematicamente reconhecidas<br />
em múltiplos diplomas legais, para além<br />
dos já referidos. 3<br />
Será que uma carreira de administração hospitalar profissionalizada<br />
compromete, dificulta ou, até, impede uma<br />
liberdade de escolha amiúde utilizada, designadamente,<br />
como alguns dizem, para “pagar favores políticos”?<br />
Será que, não obstante esse reconhecimento, a carreira<br />
de administração hospitalar foi e continua a ser<br />
posta em causa quando confrontada com outros interesses<br />
situados no meio ambiente?<br />
Será que a carreira de administração hospitalar, mesmo<br />
e apenas dentro do SNS, sofreu e continua a sofrer<br />
os efeitos de uma disputa emergente de interesses<br />
corporativos?<br />
Será que há a convicção por parte das estruturas do<br />
poder que as alegadas dificuldades que o SNS enfrenta<br />
relativamente ao desempenho dos hospitais e demais<br />
estabelecimentos e serviços prestadores de cuidados<br />
de saúde, tem como causa, de entre outras,<br />
debilidades gestionárias resultantes da impreparação<br />
dos decisores responsáveis sobretudo pela gestão estratégica<br />
ou de quem os aconselha?<br />
Se tenho a certeza quanto ao conteúdo das afirmações<br />
não estou seguro da pertinência das interrogações.<br />
Mas, vox populi, perguntar não ofende.<br />
Procura de nova vida<br />
Em 20<strong>16</strong> e 2017 tiveram lugar algumas iniciativas que<br />
claramente visaram o “renascimento” da carreira.<br />
Em 10 de novembro de 20<strong>16</strong>, o Despacho n.<strong>º</strong> 13585,<br />
do Secretário de Estado da Saúde, reconhecendo<br />
que “a carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> não tem<br />
sido aplicada no recrutamento, admissão e progressão<br />
dos profissionais habilitados, pelo que urge criar<br />
as condições para a sua revitalização e efetiva aplicação”,<br />
determinou “A criação de um Grupo de Trabalho<br />
destinado à análise, revisão e implementação<br />
da Carreira <strong>Hospitalar</strong>, no sentido de repor o seu<br />
funcionamento para os efeitos que estiveram na sua<br />
génese”. Mais determinou o Despacho que “O Grupo<br />
de Trabalho apresentará um relatório de avaliação<br />
profissional dos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, bem<br />
como das propostas que considere necessárias para a<br />
revisão e implementação da Carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, até ao dia 31 de dezembro de 20<strong>16</strong>”.<br />
Cumprindo este mandato, o Grupo de Trabalho apresentou<br />
em 13 de Janeiro de 2017 o solicitado relatório,<br />
bem como um Projeto de Decreto-Lei visando a<br />
criação da carreira especial de administração hospitalar<br />
e de serviços de saúde no âmbito da organização e<br />
gestão dos serviços e estabelecimentos sob tutela do<br />
Ministro da Saúde.<br />
Se concretizadas, estas iniciativas bem podem constituir<br />
a necessária reversão da carreira da administração<br />
hospitalar, ainda que naturalmente com algumas diferenças<br />
em relação ao quadro legal anterior. E digo<br />
se concretizadas porque, passados dois anos, não se<br />
conhecem até ao momento, que sejam do domínio<br />
público, os efeitos destas iniciativas.<br />
Não obstante o que acabo de dizer adiro quase por<br />
inteiro à conclusão do Relatório do Grupo de Trabalho,<br />
do seguinte teor:<br />
“Impõe-se, ainda, assumir o papel dos AH, não só na<br />
gestão de topo, como em estruturas orgânicas de gestão<br />
intermédia como é o caso dos Centros de Responsabilidade<br />
Integrada.<br />
Como um dos pontos-chave, deve a CAR ser considerada<br />
como uma carreira do regime especial, alicerçada<br />
em conteúdo, deveres funcionais e formação específica,<br />
com a salvaguarda da equiparação dos AH a<br />
pessoal dirigente.<br />
A reestruturação da CAR tem igualmente que incidir,<br />
independentemente do regime de vinculação, sobre<br />
as condições de ingresso e promoção, o recrutamento,<br />
a estrutura remuneratória, o conteúdo funcional, o<br />
regime e horário de trabalho, a avaliação de desempenho,<br />
entre outros aspetos.<br />
Num contexto em que o sistema de saúde evolui<br />
para a integração de cuidados e gestão de base populacional<br />
da saúde, importa realçar a competência<br />
em domínios mais alargadas da gestão em saúde dos<br />
profissionais de administração hospitalar.<br />
Importa, assim, garantir a qualificação da gestão dos<br />
organismos do Ministério da Saúde, tal como a coerência<br />
gestionária do SNS num contexto extremamente<br />
desafiante de evolução e sustentação do sistema.<br />
Ora, na prática, tal tem vindo a suceder com naturalidade,<br />
uma vez que os AH têm vindo a exercer<br />
funções em Hospitais e Centros <strong>Hospitalar</strong>es, nos<br />
Agrupamentos de Centros de Saúde, em Unidades<br />
Locais de Saúde, na Administração Direta e Indireta do<br />
Ministério da Saúde. Por conseguinte, a CAH deve<br />
evoluir para um modelo de Carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> e Serviços de Saúde”.<br />
A preceder esta transcrição deixei explicita a minha<br />
não total adesão ao seu conteúdo.<br />
É esta também a minha posição quanto ao articulado<br />
da proposta de diploma para a criação da carreira<br />
especial de administração hospitalar e de serviços de<br />
saúde no âmbito da organização e gestão dos estabelecimentos<br />
e serviços sob tutela do Ministro da Saúde.<br />
Penso, contudo, que esta minha posição, não assume,<br />
bem longe disso, uma significativa discordância com<br />
os dois textos, bem longe disso. Muito em especial<br />
louvo-me no pretendido alargamento do âmbito da<br />
carreira a outros estabelecimentos e serviços públicos<br />
do SNS.<br />
Há, no entanto, dois pontos que pretendo ressalvar.<br />
O primeiro é o de que estando em causa o reconhecimento<br />
de uma atividade gestionária específica, a<br />
exercer com “ciência e arte”, afinal as duas componentes<br />
fundamentais da gestão, atrevo-me a defender<br />
uma designação diferente para a carreira: carreira<br />
de gestor público de hospitais e de estabelecimentos<br />
e serviços prestadores de cuidados de saúde ou<br />
carreira de gestor público de estabelecimentos e<br />
serviços do SNS.<br />
Não se trata de um mero jogo de palavras, sendo<br />
conhecida a minha posição, que, não sendo pacífica,<br />
não é isolada, sobre o real sentido e conteúdo dos<br />
termos administração e gestão. Defendo-a desde<br />
há muito tempo a esta parte e, mais recentemente,<br />
defendi-a no artigo publicado na Revista Tecno Hospital,<br />
n.<strong>º</strong> 77, setembro/outubro 20<strong>16</strong>, páginas 54 a 56,<br />
sob o título “Um olhar sobre a evolução da <strong>Gestão</strong><br />
<strong>Hospitalar</strong> em Portugal - Perspetivas de evolução e<br />
contributos de um académico/profissional”.<br />
Segundo esta minha posição, cuja justificação total não<br />
cabe nos limites deste artigo e, por isso, limito-a ao essencial,<br />
sempre que se exige à atividade de administrar,<br />
consubstanciada nos cinco infinitivos de Fayol: prever<br />
(planear), organizar, comandar, coordenar e controlar,<br />
que ela utilize as modernas técnicas do management, o<br />
termo gestão, correspondendo, aliás, à tradução deste<br />
termo para a nossa língua, é o que verdadeiramente<br />
corresponde à natureza dessa atividade.<br />
Acresce que, nesta “nova perspetiva” de “pilotar” as<br />
organizações, impõe-se que ela assuma uma natureza<br />
tridimensional, traduzida na trilogia já consagrada de<br />
gestão estratégica, gestão intermédia, gestão operacional,<br />
trilogia esta que se pretende ver consagrada na<br />
nova carreira quando se afirma na conclusão do grupo<br />
de trabalho que “Impõe-se, ainda, assumir o papel<br />
dos AH não só na gestão de topo, mas em estruturas<br />
orgânicas de gestão intermédia como é o caso<br />
dos Centros de Responsabilidade Integrada”.<br />
Parece-me, assim, que a designação por mim preferida<br />
se revela mais adequada à natureza da atividade<br />
em causa, pelo perfil exigido a quem a exerce aos<br />
diferentes níveis e pela natureza do universo institucional<br />
onde é exercida.<br />
O segundo, e porque tal não se encontra explicitado,<br />
como, a meu ver, se impõe, entendo que, desde logo<br />
na proposta de diploma, se deixe consignado que a<br />
avaliação dos profissionais terá como base, para além<br />
de outros critérios, o atingir dos objetivos estabelecidos<br />
e das metas fixadas.<br />
Julgo que, por várias razões, designadamente o reconhecimento<br />
da complexidade, especificidade e especiais<br />
exigências da gestão hospitalar que a “empresarialização”<br />
dos hospitais mais torna evidentes - ou deveria<br />
tornar - estão criadas as condições para que a carreira,<br />
agora com a designação que prefiro: carreira de<br />
gestor público de estabelecimentos e serviços prestadores<br />
de cuidados de saúde, ou carreira de gestor<br />
público de estabelecimentos e serviços do SNS, possa<br />
vir a ter “uma nova vida”. Se assim for, muito ficarão<br />
a ganhar o SNS, os hospitais e os demais estabelecimentos<br />
e serviços públicos prestadores de cuidados<br />
de saúde. Ã<br />
1. O n.<strong>º</strong> 3 do art. 84.<strong>º</strong> do Decreto n.<strong>º</strong> 48.358 consigna que “O provedor<br />
dos Hospitais Civis de Lisboa conserva o título de enfermeiro-mor”, cargo<br />
criado em 1770 quando, após o terramoto de 1755, o Hospital Real de Todos<br />
os Santos, com a nova designação de Hospital Real de S. José, é instalado<br />
no Colégio de Santo Antão-o-Novo. Quer isto significar que este titulo,<br />
que foi extinto na década de 70, subsume-se na categoria (cargo) de Provedor,<br />
não constando já do elenco estabelecido por aquele Decreto.<br />
2. Números facultados pelo Secretariado do Curso de Especialização em<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> da Escola Nacional de Saúde Pública/Universidade<br />
Nova de Lisboa. Em 2017, de acordo com esta fonte, o número de diplomados<br />
era de 888. Neste momento o número não andará longe de 1.000.<br />
3. Desde 1988 até agora, quer o Decreto-Lei n.19/88 quer todos os diplomas<br />
que consagraram e regulamentaram o reconheceram expressamente.<br />
8 9
GH gestão<br />
Modelos de <strong>Gestão</strong><br />
e Tipos de Cultura<br />
Organizacional:<br />
O Perfil dos Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es Portugueses<br />
Figura1:<br />
Relações humanas<br />
Participação, resolução de problemas,<br />
consenso, apoio, coesão, Conhecimento<br />
Trabalho em equipa (R.H.)<br />
Enfoque Interno<br />
e Integração<br />
Cultura de apoio<br />
• Mentor<br />
• Facilitador<br />
Processos internos<br />
Redefinição de responsabilidades,<br />
medida, documentação, regras,<br />
estabilidade e informação, Eficiência<br />
Hierarquia estável (transacional)<br />
Cultura de regras<br />
• Monitor<br />
•Coordenador<br />
Flexibilidade<br />
e Descentralização<br />
Estabilidade, controlo<br />
e Centralização<br />
Sistemas abertos<br />
Adaptação, inovação, rapidez,<br />
Crescimento<br />
Sistemas abertos (transformacional)<br />
Cultura de inovação<br />
• Inovador<br />
• Broker<br />
Objectivos racionais<br />
Produtividade, objetivos,<br />
planeamento, Lucro<br />
Organização racional (eficácia)<br />
Cultura de objetivos<br />
• Produtor<br />
• Diretor<br />
Enfoque Externo<br />
e Diferenciação<br />
Representação cartesiana do CVF, retirado de Morais, 2010.<br />
David Mateus<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
Sílvia Lopes<br />
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
Rui Santana<br />
Subdiretor Escola Nacional<br />
de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
As organizações de saúde constituem<br />
as plataformas sociais mais<br />
complexas de governar, atendendo<br />
ao caráter multiproduto da sua<br />
atividade, grau de diferenciação<br />
e necessidade de adaptação face às exigências dos<br />
diversos stakeholders. Assim, ao longo do tempo os<br />
gestores têm adotado diferentes modelos de gestão<br />
para otimizar a efetividade destas organizações 1,2 .<br />
Um instrumento que pode ser utilizado pelos gestores<br />
para melhorar a eficácia organizacional é o Competing<br />
Values Framework (CVF). Este consiste num<br />
modelo tridimensional de diagnóstico e ajustamento<br />
dos modelos de gestão e tipos de cultura organizacional,<br />
que contribui para tornar as organizações<br />
mais eficazes consoante os objetivos a que se propõem<br />
3,5 . O CVF apresenta uma estrutura de três<br />
eixos, que cada um corresponde a uma dimensão:<br />
(Y) preferência do gestor na estrutura organizacional<br />
– flexibilidade ou estabilidade; (X) foco que<br />
a organização atribui ao meio interno versus meio<br />
externo; e (Z) objetivos a que a instituição se propõe<br />
e meios a utilizar na sua prossecução (Figura 1).<br />
Da sobreposição das dimensões Y e X, emergem<br />
4 modelos de gestão, 4 tipos de cultura, 8 papéis de<br />
liderança e 24 competências de gestão 3,6,7 .<br />
A cultura organizacional tem-se revelado um fator<br />
chave no sucesso e obtenção de vantagem competitiva,<br />
caracterizando-se pelo conjunto de pressupostos<br />
básicos criados e utilizados por um grupo para<br />
lidar com constrangimentos de adaptação internos<br />
ou externos à organização 5,9 . À semelhança dos<br />
modelos de gestão, o tipo de cultura também deve<br />
estar alinhado com os objetivos organizacionais.<br />
A coordenação destas dimensões é competência do<br />
administrador hospitalar 7,9 (AH), pois este detém<br />
conhecimento técnico e especializado na gestão de<br />
organizações de saúde e tem a responsabilidade de<br />
dirigir os restantes profissionais 10 . Neste contexto,<br />
importa apurar o perfil de competências de gestão,<br />
liderança e cultura organizacional dos administradores<br />
hospitalares, para possibilitar a sua relação com<br />
o panorama político, económico e social do sistema<br />
de saúde português.<br />
Objetivos<br />
Este estudo teve como objetivos: (1) caracterizar o<br />
perfil sócio demográfico dos AH; (2) enumerar as<br />
competências de gestão e papéis de liderança mais<br />
frequentemente praticados pelos AH; (3) nomear os<br />
modelos de gestão e tipos de cultura organizacional<br />
predominantes no sistema de saúde português, globalmente<br />
e por tipo de organização.<br />
Metodologia<br />
Realizou-se um estudo observacional retrospetivo, com<br />
uma amostra de conveniência constituída por <strong>16</strong>1 AH diplomados<br />
e um intervalo de confiança de 95%. Consideraram-se<br />
AH diplomados todos os que concluíram o<br />
Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong> da<br />
Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova<br />
de Lisboa. Por uma questão de clareza do texto, serão<br />
daqui em diante denominados como "administradores<br />
hospitalares" (AH). Como instrumento de colheita de<br />
dados foi utilizado o “questionário das competências de<br />
gestão” de Cameron e Quinn 3 , traduzido, adaptado e<br />
testado na realidade portuguesa. O envio do questionário<br />
foi feito por e-mail em colaboração com a APAH.<br />
Cumpriram-se as considerações éticas relativas ao anonimato,<br />
não existindo qualquer conflito de interesse na<br />
realização deste estudo. As variáveis utilizadas foram:<br />
(1) características sócio demográficas e profissionais; (2)<br />
competências de gestão, papéis de liderança e modelos<br />
de gestão/tipos de cultura; (3) tipos de organizações.<br />
A análise de dados efetuou-se através de estatística descritiva<br />
na caracterização da amostra, competências de<br />
gestão, papéis de liderança e modelos de gestão/tipos<br />
de cultura organizacional. Na comparação de grupos<br />
utilizou-se estatística inferencial, com testes paramétricos<br />
ANOVA e Post Hoc Tukey 11 . O nível de significância<br />
considerado para o estudo foi de 5%.<br />
Resultados<br />
De um total de <strong>16</strong>1 AH, 59% são do sexo feminino,<br />
72% têm idade superior a 41 anos, 36% são licenciados<br />
em direito e 31% têm grau académico superior<br />
ou igual a mestrado (Tabela 1). Observou-se que 66%<br />
dos inquiridos exerce funções de nível hierárquico intermédio,<br />
43% não está inserido na carreira de AH,<br />
10% nunca exerceu funções na área e 88% exercem<br />
funções no setor público.<br />
As competências de gestão e os papéis de líder mais<br />
frequentemente demonstrados no sistema de saúde<br />
português posicionam-se nos quadrantes do controlo<br />
do CVF (Tabela 2). No global, o modelo do processo<br />
interno/cultura hierárquica (média±desvio padrão:<br />
4,95±0,88) e o modelo do objetivo racional/cultura de<br />
mercado (4,90±0,96) são os mais frequentes.<br />
As organizações privadas demonstram com maior frequência<br />
o modelo do processo interno/cultura hierárquica,<br />
(4,68±0,71) à semelhança dos organismos centrais<br />
e ensino (5,08±0,80) e PCSP (4,96±0,92) (Tabela<br />
3). Existem diferenças estatisticamente significativas<br />
(p-value = 0,028) entre PCSP (4,87±1,08) e privado<br />
(4,00±1,19) na demonstração do modelo das relações<br />
humanas/cultura clã, observando-se dominância deste<br />
modelo e cultura nos prestadores de cuidados de saúde<br />
públicos.<br />
Discussão<br />
Da apreciação global das competências de gestão e<br />
papéis de liderança mais frequentemente demonstrados<br />
pelos AH no sistema de saúde português verifica-se<br />
um elevado teor de controlo com orientação<br />
interna e externa às organizações, o que promove<br />
uma estrutura hierárquica centralizada 7,12 . Estes resultados<br />
indicam que os AH respondentes apresentam<br />
um perfil de gestão e liderança baseado }<br />
10 11
GH gestão<br />
N Percentagem<br />
(%)<br />
Género Nível Hierárquico<br />
de Desempenho de Funções<br />
Masculino 66 41 Nível de topo 37 23<br />
Feminino 95 59 Nível intermédio 106 66<br />
Grupo Etário Nível operacional 18 11<br />
21- 40 46 28 Carreira/Progressão do AH<br />
41-60 98 61 AH de 1ª classe 10 6<br />
>60 17 11 AH de 2ª classe 40 25<br />
Área de Licenciatura AH de 3ª classe 41 26<br />
Direito 58 36 Progressão fora da carreira de AH 70 43<br />
Ciências empresariais 46 28 Tipo de Organização de Desempenho<br />
de Funções<br />
Restantes áreas de licenciatura 57 36 Organismos centrais e ensino 24 18<br />
Habilitações Académicas Prestadores de Cuidados de Saúde 114 68<br />
Públicos (PCSP)<br />
Licenciatura 111 69 Parceria Público Privada (PPP) 4 2<br />
Mestrado 45 28 Privado 19 12<br />
Doutoramento 5 3<br />
Situação Profissional Organização de Desempenho<br />
de Funções<br />
A exercer atividades de AH 92 57 Hospitais EPE/SPA 98 61<br />
dentro da carreira<br />
A exercer atividades de AH 38 24 Hospitais/Clínicas do setor privado 12 7<br />
na categoria de técnico superior<br />
ou outra<br />
A exercer atividades não 31 19 Restantes organizações 51 32<br />
relacionadas com AH<br />
Tempo de Exercício de Funções<br />
Nunca exerceu funções <strong>16</strong> 10<br />
1 – 20 anos 96 60<br />
Mais de 20 anos 49 30<br />
Tabela 1: Características sócio demográficas e profissionais dos AH.<br />
N<br />
Percentagem<br />
(%)<br />
Média±Desvio Padrão<br />
Modelo dos Sistemas Abertos/Cultura Adhocrática 4,78±0,87<br />
C1 – Conviver com a mudança 4,79±1,06<br />
Inovador C2 – Pensamento criativo 4,56±1,04 4,72±1,01<br />
Papéis<br />
C3 – Gerir a mudança 4,81±1,13<br />
Liderança<br />
C4 – Criar e manter uma base de poder 5,04±0,98<br />
Broker C5 – Negociar acordos e compromissos 4,68±1,<strong>16</strong> 4,84±0,82<br />
C6 – Apresentar ideias: apresentações verbais 4,82±1,08<br />
Modelo do Objetivo Racional/Cultura Mercado 4,90±0,96<br />
C7 – Produtividade e motivação pessoal 4,95±1,26<br />
Produtor C8 – Motivar os outros 5,07±1,12 4,93±0,98<br />
Papéis<br />
C9 – Gerir tempo e stresse 4,76±1,11<br />
Liderança<br />
C10 – Tomar iniciativa e ser decidido 4,73±1,28<br />
Diretor C11 – Fixar metas 5,09±1,06 4,88±1,03<br />
C12 – Delegar eficazmente 4,82±1,19<br />
Modelo do Processo Interno/Cultura Hierárquica 4,95±0,88<br />
C13 – Planificar 5,00±1,07<br />
Coordenador C14 – Organizar e desenhar 5,06±1,04 5,06±0,98<br />
C15 – Controlar 5,11±1,06<br />
Papéis<br />
Liderança<br />
C<strong>16</strong> – Reduzir a sobrecarga de informação 4,63±1,04<br />
Monitor<br />
C17 – Analisar a informação criticamente 4,93±1,04<br />
C18 – Apresentar a informação: redigir 4,99±1,19<br />
4,85±0,98<br />
com eficácia<br />
Modelo das Relações Humanas/Cultura Clã 4,74±1,20<br />
C19 – Criar equipas 4,65±1,34<br />
Facilitador C20 – Tomar decisões de forma participativa 4,71±1,32 4,66±1,22<br />
C21 – Gerir conflitos 4,63±1,17<br />
Papéis<br />
Liderança<br />
C22 – Autocompreensão e compreensão 4,85±1,32<br />
dos outros<br />
Mentor<br />
4,81±1,20<br />
C23 – Comunicação interpessoal 4,91±1,19<br />
C24 – Desenvolver os colaboradores 4,69±1,34<br />
Tabela 2: Análise descritiva das competências de gestão, papéis de liderança, modelos de gestão e tipos de cultura organizacional.<br />
Dimensão Y e X<br />
Flexibilidade/<br />
Exterior da<br />
Organização<br />
Controlo/<br />
Exterior da<br />
Organização<br />
Controlo/<br />
Interior da<br />
Organização<br />
Flexibilidade/<br />
Interior da<br />
Organização<br />
na responsabilidade, capacidade de programação e organização,<br />
cumprimento das regras, identificação de<br />
problemas e resolução dos mesmos, delineamento e<br />
prossecução de objetivos, distribuição de tarefas, comunicação<br />
interna e produtividade 3,13,14 .<br />
Os resultados obtidos podem estar relacionados com<br />
a posição hierárquica ocupada pelos inquiridos, tipo de<br />
estrutura organizacional em estudo e clima vivenciado<br />
nas organizações de saúde. Observou-se que 77% dos<br />
inquiridos são do nível hierárquico operacional e intermédio,<br />
pelo que as competências de gestão desenvolvidas<br />
são maioritariamente de cariz técnico, embora o<br />
nível intermédio desenvolva paralelamente atividades<br />
de teor político 15 . Por outro lado, as organizações de<br />
saúde integram as burocracias profissionais do ponto<br />
de vista estrutural, pelo que os núcleos operacionais<br />
são autónomos no exercício da sua atividade, preferindo<br />
a especialização/diferenciação em detrimento da<br />
mudança e inovação. Este tipo de estrutura é complexa<br />
de controlar e gerir, estimulando a utilização de<br />
competências de gestão e liderança no domínio do<br />
controlo <strong>16</strong>-18 . Por fim, os profissionais de saúde vivenciam<br />
um ambiente laboral de regras, protocolos e procedimentos<br />
que favorecem uma atmosfera inflexível<br />
que dificulta o processo de gestão, adaptação e mudança.<br />
O clima laboral vivenciado estimula a utilização<br />
de competências de gestão e liderança no âmbito do<br />
controlo justificando os resultados encontrados 19 .<br />
Da análise global dos quatro modelos de gestão e respetivos<br />
tipos de cultura organizacional verifica-se que<br />
os dominantes são o modelo do processo interno/<br />
/cultura hierárquica e o modelo do objetivo racional/<br />
/cultura de mercado. Estes resultados são congruentes<br />
com estudos nacionais e internacionais e pelo facto de<br />
uns modelos se evidenciarem em detrimento de outros,<br />
significa que as organizações de saúde têm uma<br />
identidade cultural definida 9,20,21 . Os resultados parecem<br />
relacionar-se com a dimensão das organizações<br />
em estudo, com os elevados índices de controlo e o<br />
tradicional distanciamento hierárquico entre gestores<br />
e colaboradores em organizações públicas. Estes fatores<br />
baseiam-se em pressupostos formais contributivos<br />
para a burocratização e traduzem-se em culturas rígidas<br />
do ponto de vista estrutural 9,22,23 . Por outro lado, a<br />
empresarialização das organizações de saúde e constante<br />
pressão por parte do Ministério das Finanças na<br />
contenção de despesa tem contribuído para um foco<br />
cada vez maior na redução de custos, centralização hierárquica<br />
por parte da tutela e consequente perda de<br />
autonomia de gestão nas organizações. Estes fatores<br />
condicionam o AH a privilegiar os processos internos,<br />
em detrimento de atividades relacionadas com a adaptação,<br />
inovação e crescimento 9,24,26 .<br />
Na comparação entre tipos de organizações, verificou-<br />
-se que os PCSP têm maior enfoque no meio interno<br />
à organização, os organismos centrais e ensino dividem<br />
o enfoque entre meio interno/externo e o privado tem<br />
maior enfoque no meio externo. Os resultados dos<br />
PCSP podem estar relacionados com o sistema integrado<br />
de gestão e avaliação de desempenho (SIADAP) na }<br />
12 13
GH gestão<br />
Modelo <strong>Gestão</strong><br />
e Tipo de Cultura<br />
N = 157<br />
Sistemas Abertos/<br />
Cultura Adhocrática<br />
Objetivo Racional/<br />
Cultura de Mercado<br />
Processo Interno/<br />
Cultura Hierárquica<br />
Relações Humanas/<br />
Cultura Clã<br />
Org. centrais<br />
e ensino<br />
Prestadores<br />
cuidados saúde<br />
públicos<br />
Média±Desvio N<br />
Padrão<br />
4,88±0,98 24<br />
administração pública, que à semelhança do contrato<br />
programa e contrato de gestão alicerçam os seus objetivos<br />
na eficiência, eficácia e qualidade, colocando dimensões<br />
como inovação, crescimento e capital humano<br />
excluídos do foco de atenção das organizações. As<br />
penalizações existentes para o não cumprimento dos<br />
contratos programa e contratos de gestão são bastante<br />
severas do ponto de vista financeiro. Por sua vez, os<br />
Tipo de organização de saúde<br />
p-value<br />
(ANOVA)<br />
Comparações<br />
múltiplas<br />
Prestadores cuidados<br />
saúde públicos<br />
p-value<br />
(Tukey)<br />
0,981<br />
Privado 0,379<br />
4,80±0,87 114 Org. centrais e ensino 0,981<br />
0,201<br />
Privado 0,332<br />
Privado 4,44±0,69 19 Org. centrais e ensino 0,379<br />
Org. centrais<br />
e ensino<br />
Prestadores<br />
cuidados saúde<br />
públicos<br />
4,98±0,89 24<br />
Prestadores cuidados 0,332<br />
saúde públicos<br />
Prestadores cuidados 0,986<br />
saúde públicos<br />
Privado 0,673<br />
4,90±1,00 114 Org. centrais e ensino 0,986<br />
0,117<br />
Privado 0,682<br />
Privado 4,64±0,67 19 Org. centrais e ensino 0,673<br />
Prestadores cuidados<br />
saúde públicos<br />
0,682<br />
Org. centrais 5,08±0,80 24<br />
Prestadores cuidados 0,936<br />
e ensino<br />
saúde públicos<br />
Privado 0,475<br />
Prestadores<br />
cuidados saúde<br />
públicos<br />
4,96±0,92 114 Org. centrais e ensino 0,936<br />
0,377<br />
Privado 0,574<br />
Privado 4,68±0,71 19 Org. centrais e ensino 0,475<br />
Org. centrais<br />
e ensino<br />
Prestadores<br />
cuidados saúde<br />
públicos<br />
4,74±1,39 24<br />
Prestadores cuidados 0,574<br />
saúde públicos<br />
Prestadores cuidados 0,967<br />
saúde públicos<br />
Privado 0,192<br />
4,87±1,08 114 Org. centrais e ensino 0,967<br />
0,028<br />
Privado 0,0<strong>16</strong><br />
Privado 4,00±1,19 19 Org. centrais e ensino 0,192<br />
* A diferença média é significativa no nível 0.05<br />
Tabela 3: Comparação dos modelos de gestão/tipos de cultura por tipos de organização.<br />
Prestadores cuidados<br />
saúde públicos<br />
0,0<strong>16</strong><br />
resultados do SIADAP têm efeito direto na avaliação<br />
dos dirigentes das organizações, na estratégia de gestão<br />
do ciclo seguinte e no orçamento auferido pelas<br />
organizações 9,27 .<br />
No contexto das organizações privadas, os resultados<br />
podem relacionar-se com a visão e objetivos institucionais.<br />
O desígnio deste tipo de organização está na<br />
eficiência, produtividade, qualidade, implementação de<br />
tecnologias inovadoras e orientação dos colaboradores<br />
para objetivos e resultados, num clima de elevada pressão<br />
com pagamentos referentes à produção 8,9 . O setor<br />
privado cresceu significativamente na última década,<br />
verificando-se um aumento expressivo no número de<br />
unidades, atendimentos urgentes, cirurgias, consultas<br />
médicas, internamentos e atos complementares de<br />
diagnóstico e terapêutica, concluindo-se que o setor<br />
tem privilegiado a produtividade e o crescimento 24,25 .<br />
Contudo, quando comparadas as três tipologias organizacionais<br />
através de testes estatísticos, constata-se que<br />
existe apenas diferença estatisticamente significativa entre<br />
PCSP e privado no modelo das relações humanas/<br />
/cultura clã. Os resultados demonstram que os PCSP<br />
demonstram com maior frequência práticas de gestão<br />
de conflito, desenvolvimento do capital humano e trabalho<br />
em equipa face ao privado. Estes resultados parecem<br />
relacionar-se com o facto das organizações do<br />
setor público se encontrarem num período em que a<br />
contratação de novos profissionais está condicionada,<br />
pelo que procuram com maior frequência o bom funcionamento<br />
e ambiente nos serviços, reduzindo assim<br />
as taxas de absentismo, burn out e turn over 28,31 .<br />
Conclusão<br />
Dos resultados obtidos conclui-se que os AH inquiridos<br />
são maioritariamente do sexo feminino, têm entre 40<br />
e 60 anos, formaram-se em direito ou ciências empresariais,<br />
exercem atividades de AH de 2ª/3ª classe, são<br />
de nível hierárquico intermédio e desempenham funções<br />
no setor público. Constatou-se que 78% dos respondentes<br />
exercem funções de nível hierárquico intermédio<br />
e operacional, pelo que o perfil de competências<br />
de gestão e liderança demonstrado se revela adequado<br />
face às atividades profissionais desempenhadas.<br />
A utilização dos modelos de gestão/tipos de cultura<br />
mais frequentes está relacionado com o tipo de organizações<br />
em estudo, dimensão, tradicional rigidez<br />
cultural, burocratização e falta de autonomia dos AH<br />
na gestão das organizações. O setor público, por apresentar<br />
médias superiores nos modelos de gestão/tipos<br />
de cultura em detrimento do privado, reconhece com<br />
maior frequência o conjunto de valores e pressupostos<br />
utilizados para lidar com os constrangimentos de adaptação<br />
internos e externos. Por fim, conclui-se que existe<br />
diferença estatisticamente significativa entre PCSP e<br />
privado no modelo das relações humanas/cultura clã. Ã<br />
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um estudo na indústria portuguesa. Lisboa : ISCTE, 2007. Tese de doutoramento.<br />
13. Quinn, R. e Rohrbaugh, J. A spacial model of effectiveness criteria: to-<br />
-wards a competing values approach to organizational analyses. Management<br />
Science. 29 (1983) 363-377.<br />
14. Quinn, R. Beyond rational management: mastering the paradoxes and competing<br />
demands of high performance. San Francisco, CA: Jossey-Bass, 1988.<br />
15. Chiavenato, I. Introdução à teoria geral da administração. 9ª ed. Brasil:<br />
Manole, 2014.<br />
<strong>16</strong>. Mintzberg, H. Estrutura e dinâmica das organizações. 2ª ed. Lisboa: Publicações<br />
Dom Quixote, 2010.<br />
17. Bento, L. Liderança, identificação organizacional e desempenho numa organização<br />
de saúde. Lisboa: ISCTE, 2013. Tese de mestrado.<br />
18. Mateus, D. Competências de gestão e lideranças nas organizações de<br />
saúde e cultura organizacional. Lisboa: AUHI, 2015. Tese de mestrado.<br />
19. Frich, J. et al. Leadership development programs for physicians: a systematic<br />
review. Journal of General and Internal Medicine. 30: 5 (2014) 656-74.<br />
20. Kokt, D. e Merwe, C. Using the Competing Values Framework (CVF) to<br />
investigate organisational culture in a major private security company. South<br />
African Journal of Economic and Management Sciences. 12: 3 (2009) 343-352.<br />
21. Adams, C.; Dawson, A. e Foureur, M. Competing values framework: a<br />
useful tool to define the predominant culture in a maternity setting in Australia.<br />
Women Birth. 30: 2 (2017) 107-113.<br />
22. Ferreira, M.; Hill, A. Diferenças de cultura entre instituições de ensino superior<br />
público e privado: um estudo de caso. Psicologia. 21: 1 (2007) 1-20.<br />
23. Sebastião, D.; Jesus, J. A influência da cultura/clima organizacional e da<br />
satisfação com o suporte social no stresse percebido. Psychologica. 52: 1<br />
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Estatística, 20<strong>16</strong>.<br />
25. INE – Destaque: dia mundial da saúde. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística,<br />
2018.<br />
26. Despacho n. <strong>º</strong> 199/20<strong>16</strong> – Diário da República. Série II. 41 (20<strong>16</strong>-01-07).<br />
27. Lei n<strong>º</strong>. 66B/2007 – Diário da República. Série I. 250 (2007-12-28).<br />
28. Santos, J. e Gonçalves, G. Cultura organizacional, satisfação profissional<br />
e atmosfera de grupo. Psico. 42: 4 (2011) 511-518.<br />
29. Gavric, G.; Sormaz, G. e Ilic, D. The impact of organizational culture on the<br />
ultimate performance of a company. International Review. 3: 4 (20<strong>16</strong>) 25-30.<br />
30. Radwan, M. Influence of organizational culture on provider adherence<br />
to the diabetic clinical practice guideline: using the competing values framework<br />
in Palestinian primary healthcare centers. International Journal of General<br />
Medicine. 11: 10 (2017) 239-247.<br />
31. Sasaki, H. et al. Assessing archetypes of organizational culture based on<br />
the competing values framework: the experimental use of the framework<br />
in Japanese neonatal intensive care units. International Journal for Quality in<br />
Health Care. 29: 3 (2017) 384-291.<br />
14 15
GH TESTEMUNHO<br />
O percurso<br />
de um Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong> além<br />
fronteiras<br />
José Carlos Freixinho<br />
Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />
Na partilha de reflexões sobre a minha<br />
experiência em África enquanto Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong>/Consultor/Perito<br />
em projetos de saúde, cabe partir<br />
do referencial que é o perfil de competências<br />
de um administrador hospitalar para enquadrar<br />
as atividades desenvolvidas, pois tal exercício<br />
permite filtrar, evidenciando-os, os skills que nem<br />
sempre, num ambiente socioeconómico estruturado<br />
no paradigma europeu, se encontram funcionalmente<br />
mapeados.<br />
Entre 1999 e 2001, assegurei a direção do projeto de<br />
desenvolvimento do Hospital Central de Cabinda -<br />
desenhado para reabilitar e melhorar a gestão e o funcionamento<br />
desse hospital, função essa iniciada três<br />
anos antes por um colega administrador hospitalar -,<br />
a que se seguiu novo projeto, em Brazzaville - República<br />
do Congo, no Centre Hospitalier Universitaire<br />
de Brazzaville, com o mesmo objetivo.<br />
Em ambos os projetos, ressaltou a criticidade da abordagem<br />
colaborativa multicultural, quer no plano estratégico<br />
quer no gestionário e logístico, como fator determinante<br />
da sua implementação e desenvolvimento.<br />
As atividades estavam enquadradas num plano de ação<br />
elaborado, discutido e consensualizado com as autoridades<br />
locais - Governo Provincial, no caso de Ca-<br />
binda, e Assessoria da Presidência da República para<br />
a área da saúde, no caso de Brazzaville - o que<br />
exigiu, em contínuo, uma componente muito grande<br />
de diplomacia e relacionamento cordial com as contrapartes,<br />
numa teia de lógicas regionais decorrentes<br />
de um ambiente de considerável volatilidade política<br />
e fragilidade socioeconómica. Ou seja, um ambiente<br />
pleno de fatores variáveis a apelar a soft skills, sem as<br />
quais não se cria oportunidade para impor as hard<br />
skills de gestão hospitalar como o fator fixo que potencia<br />
a credibilidade de intervenção na prossecução<br />
de resultados.<br />
Neste domínio, foi pedido que executasse tarefas<br />
inerentes ao conjunto de competências de um administrador<br />
hospitalar, tanto de gestão geral e planeamento<br />
e (re)organização de serviços, como de gestão<br />
de operações e logística, provendo os recursos e<br />
materiais indispensáveis ao funcionamento da organização,<br />
domínio de atuação cuja exigência é inversamente<br />
proporcional à dimensão do mercado de<br />
bens e serviços local, pois, como se calculará, os fornecedores<br />
para a maior parte dos produtos não estão<br />
sequer no mesmo Continente. O que implica um<br />
substancial trabalho de planeamento logístico, com<br />
permanente cenarização de contingência e flexibilidade<br />
na resolução de situações, numa escala acima<br />
e distante do que é a nossa realidade nacional,<br />
mesmo considerando os crónicos constrangimentos<br />
orçamentais.<br />
Mais recentemente, igualmente em África, estive ligado<br />
a um projeto de apoio ao setor da saúde (PASS<br />
II), financiado pela União Europeia e cuja assistência<br />
técnica dos peritos está implantada junto do Ministério<br />
da Saúde de Angola, com o objetivo de contribuir<br />
para a melhoria do nível do estado de saúde das populações,<br />
especialmente das mulheres e das crianças,<br />
nas cinco províncias de intervenção (Benguela, Bié,<br />
Huambo, Huíla e Luanda).<br />
Neste âmbito, a atuação é desde início fortemente<br />
enquadrada e estruturada pelos modelos de intervenção<br />
da UE desenhados para a cooperação e<br />
desenvolvimento dos países beneficiários, consistindo<br />
os objetivos específicos do projeto em três níveis de<br />
intervenção: (i) reforçar e melhorar as capacidades<br />
institucionais dos serviços centrais do Ministério da<br />
Saúde para desenvolver, aperfeiçoar e coordenar as<br />
normas, os procedimentos, os instrumentos e ferramentas<br />
nas áreas de planeamento estratégico e<br />
operacional, orçamentação, organização dos serviços,<br />
monitorização e negociação; (ii) reforçar e melhorar<br />
as capacidades ao nível provincial do Ministério da<br />
Saúde para planificar, orçamentar, organizar e gerir os<br />
serviços de saúde integrados em conformidade com<br />
a política de descentralização e o processo de Municipalização<br />
dos Serviços de Saúde e (iii) melhorar a<br />
qualidade dos cuidados prestados nos serviços de<br />
saúde materna e infantil dos Hospitais Municipais e<br />
dos Centros de Saúde de Referência, particularmente<br />
para garantir a cadeia de cuidados de saúde da gravidez,<br />
do parto, pós-parto e recém-nascidos.<br />
Como se pode ver este é um projeto ambicioso que<br />
abarca cinco províncias, que representam mais de<br />
metade da população de Angola e, de acordo com as<br />
regras estabelecidas para este tipo de projetos, tem<br />
um Quadro Lógico que estrutura os conteúdos a nível<br />
de Objetivos e Resultados e adapta as Atividades<br />
a desenvolver. A execução é feita de acordo com<br />
Pacotes Funcionais (PF): PE (Planificação Estratégica),<br />
SIGS (Sistema de Informação e <strong>Gestão</strong> Sanitária),<br />
RHS (Recursos Humanos para o Setor Saúde,<br />
pelo qual fui responsável, nos últimos quatro anos,<br />
enquanto perito sénior), M (Municipalização) e SMI<br />
(Saúde Materno Infantil).<br />
Aqui o que se pede a um Perito, e com base nisso fui<br />
selecionado, é que tenha skills e conhecimentos que<br />
embora estejam presentes no conteúdo funcional de<br />
um administrador hospitalar, exigem o domínio aprofundado<br />
de matérias como a realidade da saúde em<br />
“<br />
A EXPERIÊNCIA EM ÁFRICA<br />
EXIGE CONHECIMENTOS<br />
E CAPACIDADES DE QUE,<br />
NORMALMENTE,<br />
UM ADMINISTRADOR<br />
HOSPITALAR NÃO<br />
CARECE PARA EXERCER<br />
A SUA FUNÇÃO.<br />
”<br />
Angola, as regras extensas e complexas dos projetos<br />
da UE, o modelo de gestão de projetos mais adequado,<br />
a gestão de contratos, bem como conhecimentos<br />
relacionados com desenvolvimento de projetos em<br />
África, capacidade de trabalho em equipas multinacionais,<br />
gestão de sensibilidades, entre outros.<br />
As atividades que foram desenvolvidas no âmbito do<br />
PF RHS visaram atingir três grandes pilares envolvendo<br />
duas grandes áreas, como se pode ver no quadro<br />
infra: (i) Planeamento /Planificação de RH e (ii) Formação<br />
Permanente/Pós-graduada e <strong>Gestão</strong> das Escolas.<br />
De acordo com as regras da UE, nomeadamente o<br />
PRAG 1 , procedeu-se à elaboração de Cadernos de Encargos<br />
para lançamento dos concursos internacionais,<br />
para que empresas privadas desenvolvessem as atividades<br />
que cumprissem os objetivos definidos e elaborassem<br />
os produtos que cada um dos contratos previa.<br />
Para cada um dos pilares acima referidos foram elaborados<br />
os produtos pelas empresas selecionadas e<br />
com o envolvimento e participação dos técnicos também<br />
previamente selecionados, que tiveram formação<br />
para poderem elaborar esses produtos de acordo<br />
com os critérios estabelecidos.<br />
Como é bom de ver, o envolvimento dos técnicos<br />
dos GPS 2 , EFTS e PF da Formação Permanente, foi<br />
importante para o desenvolvimento quer da sua for }<br />
<strong>16</strong> 17
GH TESTEMUNHO<br />
mação quer da elaboração dos referidos produtos.<br />
Para além disso, o papel do perito principal é determinante<br />
no acompanhamento e desenvolvimento desses<br />
produtos e execução dos contratos, garantindo<br />
a sua adequação à realidade do país, fugindo-se assim<br />
à tentação do one size fits all. Garante-se, igualmente,<br />
o seu cumprimento para se alcançarem não só os objetivos,<br />
mas também os Resultados Esperados constantes<br />
do Quadro Lógico mencionado.<br />
Em suma, a experiência em África, para além de enriquecedora<br />
do ponto de vista pessoal e profissional,<br />
exige conhecimentos e capacidades de que, normalmente,<br />
um administrador hospitalar não carece para<br />
exercer a sua função na nossa geografia dado o nível<br />
organizacional existente. Acresce que todos os hospitais<br />
antes referidos, à época do início dos projetos,<br />
evidenciavam graves problemas de organização e funcionamento,<br />
condição que os levou à necessidade de<br />
apoio externo.<br />
No que se refere ao quadro da Assistência Técnica de<br />
suporte aos projetos, a mesma mitiga a repetição e redundância<br />
de consensos enquadradores da intervenção,<br />
respaldando a intervenção dos profissionais e consolidando<br />
e potenciando a sua ação. Contudo, outras<br />
competências específicas se exigem, para além das<br />
inerentes a um administrador hospitalar. Referem-se<br />
quer aos conteúdos e regras de funcionamento desses<br />
projetos, quer aos conteúdos técnicos necessários<br />
para o desenvolvimento e elaboração dos produtos<br />
em questão, nunca esquecendo a necessária visão<br />
de conjunto e do sistema de saúde em que se está a intervir,<br />
para adequada sintonia e integração funcionais.<br />
Num mercado de trabalho global, o contínuo aprofundamento<br />
de soft skills, no âmbito de experiências<br />
multiculturais de qualquer cariz, bem como de modelos<br />
estruturantes de instâncias internacionais de apoio,<br />
afigura-se incontornável e habilitante para qualquer profissional,<br />
mas com pertinência acrescida para os administradores<br />
hospitalares que, por inerência, têm de<br />
gerir a interação com diversos interesses e pressões<br />
no âmbito da sua ação. Ã<br />
1. PRAG, para mais informações ver https://ec.europa.eu/europeaid/<br />
funding/about-funding-and-procedures/procedures-and-practical-guide-<br />
-prag_en.<br />
2. GPS - Gabinetes Provinciais de Saúde - o equivalente às nossas ARS,<br />
mas com dependência hierárquica do respetivo Governo Provincial, o que<br />
levanta graves problemas de articulação com o órgão central do Ministério<br />
da Saúde que apenas tem função normativa.<br />
18
GH carreiras<br />
A carreira de Assistente<br />
Operacional nos<br />
serviços de saúde<br />
Paulo de Carvalho<br />
Presidente do SITAS - Sindicato Independente<br />
dos Técnicos Auxiliares de Saúde<br />
A<br />
existência de qualquer estrutura<br />
prestadora de Cuidados de Saúde<br />
assenta em dois princípios fundamentais<br />
muito simples, embora<br />
muito exigentes do ponto de vista<br />
organizacional e humano. Existem para cuidar da<br />
população doente, e para colaborar na prevenção<br />
da doença.<br />
A atual complexidade dos serviços prestados por estas<br />
estruturas obriga à composição de equipas multidisciplinares,<br />
que, embora os seus membros se revistam<br />
de competências muito próprias, por vezes se sobrepõem<br />
partilhando todas de um objetivo comum<br />
- o bem-estar do paciente. Por outro lado, os sucessivos<br />
constrangimentos orçamentais que afetam estas<br />
estruturas impõem que estas se tornem cada vez<br />
mais eficientes, na realização das suas tarefas.<br />
A eficiência destas unidades depende não só de meios<br />
técnicos, mas principalmente de meios humanos, e<br />
se grupos profissionais, como Médicos, Enfermeiros<br />
e TSDT’s, têm nos últimos 40 anos visto as suas profissões<br />
evoluírem, pelo contrário, os atualmente designados<br />
Assistentes Operacionais, antigos Auxiliares<br />
de Ação Médica, têm visto a sua profissão “abandonada”,<br />
quer por ponderação política, quer muitas vezes<br />
pelo desconhecimento da sua importância nas<br />
equipas de saúde, e os resultados deste desinvestimento<br />
está à vista, dificuldades de captação de profissionais,<br />
aumento da taxa de absentismo e o aumento<br />
dos casos de infeções nosocomiais, fator extremamente<br />
relevante para a avaliação da eficiência das<br />
Unidades Prestadoras de Cuidados de Saúde.<br />
Estes profissionais estão incluídos em praticamente<br />
todas as equipas de saúde, e o seu papel é preponderante<br />
para o desempenho e sucesso destas, é necessário<br />
por isso investir nestes profissionais por forma<br />
a que tenham as melhores ferramentas à sua disposição<br />
para realizarem as tarefas que lhes competem. É<br />
sabido também que profissionais com objetivos bem<br />
definidos, com perspetivas de carreira, com acompanhamento<br />
e pautados de certa autonomia, são mais<br />
produtivos, usam de menor absentismo e são minimizadas<br />
as ingerências por outros profissionais.<br />
Dentro de uma Unidade de Saúde os atuais Assistentes<br />
Operacionais, embora desprovidos de uma carreira,<br />
e de objetivos concretos, são responsáveis por<br />
tarefas de extrema importância, como a esterilização<br />
de equipamentos e materiais, higienização das unidades<br />
e dos pacientes, acompanhamento dos doentes<br />
entre unidades, cuidados de higiene, hidratação e alimentação<br />
dos pacientes e são sem dúvida o grupo<br />
profissional que mais contacto tem com os pacientes.<br />
Até 2008 existia em Portugal a carreira de Auxiliar<br />
de Ação Médica, que dispunha de objetivos e responsabilidades<br />
definidas, carreira essa que foi suprimida,<br />
deixando de existir parâmetros para o desenvolvimento<br />
desta profissão, isto acaba por colocar,<br />
ao Administrador <strong>Hospitalar</strong>, como se tem assistido,<br />
desafios de gestão que acabam por, em última análise,<br />
dificultar o próprio exercício de gestão, dispondo<br />
de quase um terço dos seus recursos humanos com<br />
indefinições e desinvestimento desta ordem, o que<br />
contribui de sobremaneira para alguns dos maus resultados<br />
do SNS.<br />
Em novembro de 2017, por iniciativa de quatro Assistentes<br />
Operacionais, o SITAS - Sindicato Independente<br />
de Técnicos Auxiliares de Saúde foi criado, com<br />
o puro objetivo de dar voz e promover esta profissão;<br />
este Sindicato pauta por uma atuação impar na sociedade<br />
portuguesa e na indústria da saúde, de trabalho<br />
e de consensos, e reveste-se de total independência<br />
de movimentos partidários, pretendendo,<br />
além de defender a criação de uma Carreira Especial<br />
da Saúde de Técnicos Auxiliares de Saúde, atingir<br />
consensos de gestão que suportem, quer estes trabalhadores,<br />
quer as administrações responsáveis pelas<br />
unidades onde estão integrados, pretendendo servir<br />
de ponte entre os trabalhadores e as administrações.<br />
Pretende colaborar com a gestão e administração<br />
com dois objetivos claros, que em algumas unidades,<br />
dada a sua dimensão, são difíceis de atingir: o bom<br />
relacionamento entre profissionais e a aplicação escrupulosa<br />
da Lei, que muitas vezes é atropelada pela<br />
gestão intermédia, seja por desconhecimento, seja<br />
por simples afirmação, colocando muitas vezes em<br />
causa a própria instituição.<br />
A criação da Carreira de Técnicos Auxiliares de Saúde<br />
reveste-se de extrema importância para os trabalhadores,<br />
mas ainda de mais importância para as<br />
instituições onde estes colaboram, uma vez que dota<br />
estes profissionais de competências ímpares, bem<br />
como minimiza os possíveis atritos entre diferentes<br />
grupos profissionais que todos sabemos ser um fator<br />
penalizador dentro de qualquer estrutura. Permite<br />
assim à gestão dispor de um perfil concreto de competências<br />
e valências pré-adquiridas, bem como implementar<br />
planos formativos mais incisivos e direcionados<br />
permitindo gerir melhor os recursos humanos<br />
e assim atribuir um maior nível de responsabilidade a<br />
estes trabalhadores, o que se traduz efetivamente na<br />
busca por parte do trabalhador de melhoria das suas<br />
competências por forma a se autovalorizar.<br />
Melhora-se assim a nosso ver a implementação de<br />
boas práticas, contribuindo para a melhor eficiência<br />
“<br />
A CRIAÇÃO DA CARREIRA<br />
DE TÉCNICOS AUXILIARES<br />
DE SAÚDE REVESTE-SE<br />
DE EXTREMA IMPORTÂNCIA<br />
PARA OS TRABALHADORES,<br />
MAS AINDA DE MAIS<br />
IMPORTÂNCIA PARA AS<br />
INSTITUIÇÕES ONDE<br />
ESTES COLABORAM.<br />
”<br />
do sistema, minimizando os custos e evidenciando a<br />
boa gestão. Estamos em querer que é do interesse<br />
comum esta valorização, aproximando os nossos serviços<br />
de Saúde dos mais altos standards internacionais,<br />
facultando à população melhores cuidados acabando<br />
por diminuir custos, através de fatores como<br />
a diminuição de infeções nosocomiais, a melhor intervenção<br />
destes profissionais, a correta dotação dos<br />
mesmos, seja em número seja em competências, formando<br />
assim um sistema verdadeiramente inclusivo.<br />
A inclusão destes profissionais nos processos de melhoria<br />
contínua e nos diversos grupos de trabalho que<br />
têm por finalidade solucionar os diversos constrangimentos<br />
que surgem nestas estruturas, traduzem-se<br />
numa maior efetividade na aplicação das soluções a<br />
encontrar, uma vez que a aplicabilidade das mesmas<br />
fica a cargo destes mesmos profissionais, existindo<br />
uma real valorização das suas competências.<br />
É com estes objetivos que o Sindicato Independente<br />
dos Técnicos Auxiliares de Saúde - SITAS se apresenta,<br />
estando sempre ao dispor para continuar a colaborar<br />
com todas as administrações, e com a APAH no sentido<br />
de dirimirem diferendos e por vezes dificuldades<br />
de comunicação entre as administrações e estes trabalhadores,<br />
tendo sempre como finalidade encontrar<br />
pontos de encontro entre todos os intervenientes. Ã<br />
20 21
GH OUVIR A POPULAÇÃO<br />
Os portugueses<br />
e a saúde<br />
João Costa<br />
GfK Metris<br />
Os Portugueses atribuem extrema importância<br />
à Saúde, mas consideram<br />
que esta sua valorização não tem<br />
paralelo na atuação do Estado. Esta<br />
é uma das conclusões de um inquérito<br />
realizado à população portuguesa pela GfK Metris,<br />
a pedido da APAH, sobre o estado da Saúde em<br />
Portugal, o financiamento da mesma e a participação<br />
da sociedade nas decisões críticas sobre esta área.<br />
“Haja saúde!”. O adágio popular é inequivocamente<br />
confirmado por este estudo, com 95% dos portugueses<br />
a considerarem a Saúde “muito importante”<br />
entre o seu conjunto de valores. Esta quase unânime<br />
valorização da saúde torna os portugueses exigentes,<br />
e também extremamente críticos, face ao estado da<br />
saúde em Portugal. Com efeito, 3 em cada 4 portugueses<br />
consideram que a Saúde não é encarada<br />
como uma prioridade pelo Estado, sentindo que há<br />
pouca preocupação quanto ao bem-estar dos utentes,<br />
e referindo especificamente o baixo investimento<br />
dedicado a esta área, apontando exemplos como<br />
a falta de profissionais de saúde e a falta de condições<br />
e equipamentos nos centros de tratamento.<br />
Assim, na ótica dos portugueses, há um problema de<br />
financiamento na saúde, e aqui surge um aparente paradoxo:<br />
7 em cada 10 portugueses consideram que o<br />
valor atribuído no OE à Saúde é insuficiente para as<br />
necessidades do setor, apesar de reconhecerem que,<br />
ainda assim, a Saúde é das áreas que absorve mais investimento<br />
por parte do Estado, ficando apenas atrás<br />
da Segurança Social. Apesar disto, os portugueses insistem<br />
que o investimento na Saúde deveria ser incrementado,<br />
e canalizado para a contratação de mais profissionais<br />
de saúde, bem como para a modernização<br />
de equipamentos, instalações e tratamentos.<br />
Público vs. Privado<br />
Este sentimento de sub-investimento na Saúde concentra-se<br />
numa insatisfação face ao Sistema Nacional<br />
de Saúde. O SNS é fortemente criticado, fundamentalmente<br />
pelas longas listas de espera dos utentes<br />
para consultas ou cirurgias. Esta visão menos positiva<br />
do SNS agudiza-se quando é feita uma comparação<br />
com os hospitais privados, isto apesar de só aproximadamente<br />
1 em cada 10 portugueses terem optado<br />
pelo privado na última ocasião em que visitaram<br />
um hospital. A utilização destas instituições não é<br />
maior, como os próprios admitem explicitamente,<br />
pelo facto do elevado custo de acesso servir de barreira<br />
a muitos portugueses, já que apenas 1 em cada<br />
3 portugueses tem seguro de saúde e/ou pertence a<br />
um subsistema de saúde.<br />
Ou seja, a boa prestação do setor privado da Saúde<br />
parece em grande parte alavancada numa sólida imagem<br />
pública, e não tanto na experiência privada de<br />
cada um. Valerá a pena refletir sobre quanto desta<br />
construção resultará efetivamente de uma manifestação<br />
na opinião pública da qualidade intrínseca das<br />
instituições (através do “passa palavra”, de notícias<br />
favoráveis na comunicação social, de bons indicado-<br />
“<br />
res de performance tornados públicos, etc.), e quanto<br />
resultará de uma reação às condições do SNS,<br />
amplificando as qualidades do privado como forma<br />
de melhor acentuar as debilidades do público. Ou,<br />
por outras palavras, “a galinha da vizinha é sempre É IMPORTANTE NOTAR<br />
melhor do que a minha”.<br />
Não obstante, é importante notar que os portugueses<br />
não fazem uma “crítica cega” ao SNS. Ou seja,<br />
QUE OS PORTUGUESES<br />
não criticam indiscriminadamente todos os aspetos<br />
do seu funcionamento para fazerem notar a sua insatisfação.<br />
Antes, mostram ter uma abordagem mais facetada,<br />
criticando certos aspetos, mas admitindo que<br />
CEGA” AO SNS. OU SEJA,<br />
noutros a situação não é tão negativa. Com efeito, as NÃO CRITICAM<br />
instituições privadas obtêm melhores avaliações do<br />
que o Serviço Público em todas as dimensões, mas é INDISCRIMINADAMENTE<br />
importante notar que esta vantagem do Setor Privado<br />
é mais expressiva precisamente nos pontos que TODOS OS ASPETOS<br />
são mais criticados no SNS, ou seja, nos tempos de<br />
espera; sendo menos expressiva em aspetos ligados<br />
à competência científica ou à qualidade do serviço.<br />
O diferencial, algo significativo, entre a satisfação PARA FAZEREM NOTAR<br />
global com o serviço público e o privado será, em<br />
grande parte, explicável pelos elevados tempos de A SUA INSATISFAÇÃO.<br />
espera no SNS. Todavia, os próprios utentes admitem<br />
que estes indicadores (“tempo de espera para<br />
”<br />
marcação” e “tempo de espera para admissão”) são<br />
subsidiários face ao aspeto mais importante: a competência<br />
e conhecimentos dos profissionais de saúde<br />
e, neste ponto, a proximidade entre o SNS e as instituições<br />
privadas é bastante maior. }<br />
NÃO FAZEM UMA “CRÍTICA<br />
DO SEU FUNCIONAMENTO<br />
22 23
GH OUVIR A POPULAÇÃO<br />
Competência e conhecimentos dos profissionais<br />
de saúde<br />
Qualidade dos equipamentos de exames<br />
Ter acesso a tratamentos inovadores/mais recentes<br />
Tempo de espera para admissão de consultas<br />
e/ou exames<br />
Tempo de espera para marcação de consultas<br />
e/ou exames<br />
Qualidade das instalações (salas de espera,<br />
gabinetes de consultas, cafetaria, etc…)<br />
Satisfação Global<br />
mostram-se, de um modo geral, favoráveis à ideia<br />
de aumentar a participação da sociedade nas decisões<br />
de saúde através da criação ou fortalecimento<br />
de corpos especializados da sociedade civil que lhe<br />
possam servir de voz, considerando assim interessantes<br />
as sugestões de conferir maior poder às associações<br />
de doentes, ou de tornar obrigatória a escuta<br />
de representantes da sociedade para certas decisões<br />
nesta área.<br />
A questão da representatividade leva-nos, de certa<br />
forma, ao início: este desejo de uma maior auscultação<br />
da sociedade resulta do sentimento de algum<br />
“abandono” por parte do Estado em termos de<br />
Saúde. Existe a perceção de que o Estado desconhece<br />
as dificuldades dos utentes do SNS e/ou não<br />
se preocupa em melhorar as condições de acesso<br />
ao mesmo. Os portugueses, em resumo, exigem um<br />
maior financiamento da saúde pública, financiamento<br />
esse que deverá traduzir-se, antes de mais, na agilização<br />
do acesso a consultas e exames, diminuindo os<br />
tempos de espera. Ã<br />
O universo deste estudo é constituído pelos indivíduos com 18 e mais<br />
anos, residentes em Portugal Continental. Foram realizadas 602 entrevistas,<br />
numa amostra proporcional à população portuguesa. A margem de erro é<br />
de 3,9% para um intervalo de confiança de 95%. Os respondentes foram<br />
selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que<br />
cruzou as variáveis Sexo, Idade, Instrução (homens), Ocupação (mulheres),<br />
Região e Habitat/ Dimensão dos agregados populacionais. Posteriormente,<br />
os dados foram ponderados para o universo da população em estudo, ou<br />
seja, 8.251.000 indivíduos.<br />
A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal, em total<br />
privacidade, com base em questionário elaborado pela GfK Metris, a partir<br />
dos objetivos enumerados. Os trabalhos de campo decorreram entre os<br />
dias 10 a 24 de Setembro de 2018, e foram realizados por 28 entrevistadores,<br />
recrutados e treinados pela GfK Metris, que receberam uma formação<br />
adequada às especificidades deste estudo.<br />
“<br />
A REPRESENTAÇÃO<br />
DA SOCIEDADE NAS DECISÕES<br />
RELACIONADAS COM A SAÚDE<br />
É TAMBÉM UMA ÁREA<br />
NA QUAL OS PORTUGUESES<br />
CONSIDERAM QUE SÃO<br />
POUCO OUVIDOS,<br />
COM METADE DOS INQUIRIDOS<br />
A CONSIDERAREM<br />
QUE A SOCIEDADE DEVERIA<br />
TER UM PAPEL MAIS ATIVO.<br />
”<br />
24<br />
Participação da sociedade<br />
Como foi dito, os portugueses são muito críticos do<br />
estado da Saúde em Portugal, em particular, do setor<br />
Público. Apesar de identificarem estas carências,<br />
os Portugueses mostram-se pouco disponíveis para<br />
suportar um maior investimento na saúde se isso representar<br />
um aumento nos descontos que já fazem.<br />
Os mecanismos de financiamento na Saúde são, de<br />
resto, um tema sobre o qual os portugueses revelam<br />
ter um conhecimento algo rudimentar. Existe a<br />
perceção de que o dinheiro vem dos impostos, mas<br />
é notória a incapacidade de completar este conhecimento<br />
com informação mais detalhada, como o<br />
peso da Saúde no OE ou a forma pela qual se define<br />
a atribuição de fundos a esta área.<br />
A representação da sociedade nas decisões relacionadas<br />
com a Saúde é também uma área na qual os<br />
portugueses consideram que são pouco ouvidos.<br />
com metade dos inquiridos a considerarem que<br />
a sociedade deveria ter um papel mais ativo. Esta<br />
maior proximidade representará, ainda assim, alguma<br />
forma de delegação, já que quando o foco é colocado<br />
no indivíduo, isto é, se cada inquirido gostaria de,<br />
a título pessoal, ter um papel mais ativo nas decisões<br />
sobre Saúde, apenas 29% mostraram-se disponíveis.<br />
Esta menor disponibilidade parece ser motivada pela<br />
consciência pessoal de alguma falta de competência<br />
para intervir diretamente, já que os portugueses
GH entrevista<br />
ROSA MATOS<br />
PRESIDENTE DO CENTRO HOSPITALAR E UNIVERSITÁRIO DE LISBOA CENTRAL, EPE<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES DEVEM<br />
SER INOVADORES<br />
E ABERTOS À MUDANÇA<br />
Com um vasto percurso em várias instituições do Ministério da Saúde, Rosa Matos<br />
considera que os hospitais são organizações complexas e que necessitam de mudança.<br />
Nesta entrevista, faz um balanço do setor da saúde em Portugal e salienta que ser<br />
administrador hospitalar é um desafio profissional muito exigente, mas também estimulante.<br />
Que balanço faz do seu mandato de<br />
governação na área da saúde?<br />
Quais foram os principais desafios<br />
na implementação das políticas<br />
delineadas para o setor da<br />
saúde em Portugal?<br />
Exerci um mandato curto e num contexto difícil, com<br />
todo o setor a refletir um quadro de stress devido às<br />
pressões para a mudança e para a adaptação a novos<br />
desafios, em cenário de escassez de recursos. Procurei<br />
contribuir para que a equipa governativa de que<br />
fiz parte reforçasse a sua capacidade de dar uma resposta<br />
integrada e sistémica. Promovi o diálogo com<br />
todos os atores e a cooperação entre os diversos<br />
agentes do sistema de saúde e também da administração<br />
do território, em particular as autarquias e o<br />
setor social. Lancei alguns programas inovadores e<br />
mobilizadores como a Hospitalização Domiciliária, os<br />
Centros de Responsabilidade Integrada e a criação<br />
de um plano de ação para a promoção de condições<br />
e bem-estar no local de trabalho. Avancei também,<br />
em conjunto com o Ministério das Finanças, com um<br />
modelo visando a progressiva autonomia dos hospitais<br />
através dos planos de atividades e orçamento,<br />
dos contratos programa e dos contratos de gestão<br />
dos membros dos Conselhos de Administração.<br />
Por outro lado, foi possível dar início a um processo<br />
de flexibilização dos modelos de recrutamento de<br />
profissionais, seja através de fixação de quotas, seja<br />
tornando mais céleres os procedimentos para substituição,<br />
definitiva ou temporária, desses profissionais.<br />
Faço por isso um balanço positivo do mandato que<br />
exerci, com a consciência que não tive tempo para<br />
dar resposta a tudo o que desejava, mas ao mesmo<br />
tempo, com a convicção que a equipa que integrei<br />
deixou boas sementes para o futuro. }<br />
26 27
GH entrevista<br />
“<br />
A SOCIEDADE ESTÁ<br />
EM CONSTANTE MUDANÇA<br />
E AS ORGANIZAÇÕES<br />
DEVEM ACOMPANHAR<br />
ESSE PROCESSO.<br />
”<br />
Tem um percurso muito rico em várias instituições<br />
do Ministério da Saúde e mesmo na Região Autónoma<br />
dos Açores. O que destaca do seu trabalho<br />
na ARS Alentejo e na Saúdaçor? Muito distinto da<br />
região de Lisboa e Vale do Tejo?<br />
Foram três experiências muito ricas e muito diferentes.<br />
Na ARS Alentejo enfrentei um desafio de modernização<br />
e de capacitação dos vários territórios,<br />
com equipamentos e respostas adequadas a um quadro<br />
caracterizado por uma baixa densidade territorial<br />
e uma população muito envelhecida. Renovámos a<br />
rede de centros de saúde, promovemos respostas<br />
de proximidade, criámos as USF, desenvolvemos as<br />
ações preventivas e de rastreio, apostámos na rede<br />
de continuados integrados, criando um sistema de<br />
resposta global que sem poder responder a todas as<br />
necessidades, se tornou, no entanto, muito mais potente,<br />
moderno e próximo das populações e das suas<br />
necessidades. Na Saúdaçor destaco, sobretudo, o trabalho<br />
de reorganização e digitalização de processos e<br />
sistemas que permitiu melhorar muito a capacidade<br />
de supervisão e gestão integrada dos recursos no plano<br />
da região e das suas nove ilhas. A ARS de Lisboa<br />
e Vale do Tejo colocou-me um desafio estimulante<br />
de resposta à complexidade, num território de saúde<br />
em que muitos equipamentos se encontravam degradados<br />
e pouco ajustados às necessidades atuais da<br />
prestação de cuidados de saúde. Um desafio que começámos<br />
a enfrentar envolvendo em parcerias todos<br />
os agentes interessados, com relevo para as parcerias<br />
com as autarquias e o sistema social. Saliento ainda o<br />
arranque e desenvolvimento dos processos de rastreio<br />
de base populacional na região de Lisboa e Vale<br />
do Tejo, que se encontravam até então estagnados.<br />
Acredita que o SNS e, particularmente, os hospitais<br />
estão preparados para o envelhecimento populacional<br />
e aumento da prevalência das doenças crónicas?<br />
O SNS e os hospitais têm consciência dos desafios<br />
e das prioridades estratégicas que têm de enfrentar<br />
para fazer face aos novos desafios da saúde do século<br />
XXI. Mas se me pergunta se estão preparados, eu<br />
digo que não. É difícil mudar o rumo para fazer face<br />
a uma realidade demográfica e sociologicamente diferente.<br />
Somos uma sociedade envelhecida com uma<br />
estrutura familiar e de vizinhança que já não consegue<br />
cuidar dos seus idosos. Os hospitais são organizações<br />
complexas e a chave é a mudança com compromisso<br />
e envolvimento, que exige muito diálogo e capacidade<br />
de ação, usando também as novas tecnologias e<br />
modelos organizacionais diferentes dos atuais como<br />
indutores da mudança, mas sem perder nunca a<br />
consciência de que nada se faz sem os profissionais e<br />
que nada faz sentido se não servir melhor os utentes.<br />
Como encara o quadro de transferência de competências<br />
no domínio da saúde para os órgãos municipais<br />
e para as entidades intermunicipais? Pese<br />
embora a participação do cidadão e dos municípios<br />
esteja prevista nos Conselhos da Comunidade dos<br />
ACES, tendo em conta o recente Decreto-Lei n.<strong>º</strong><br />
23/<strong>2019</strong>, de 30 de janeiro, como analisa a nova partilha<br />
de responsabilidades nos cuidados de saúde<br />
primários? As novas disposições legais não estarão<br />
a potenciar iniquidades no acesso?<br />
O princípio da proximidade na prestação dos cuidados<br />
de saúde e da corresponsabilização do patamar<br />
municipal e intermunicipal na garantia das respostas<br />
em saúde é um bom princípio e eu costumo dizer<br />
que os “Fregueses” são os mesmos, como tal, cada<br />
um tem de fazer o que lhe compete para que possamos<br />
servir melhor as pessoas. No meu percurso<br />
profissional sempre envolvi o poder local. Na área de<br />
Lisboa e Vale do Tejo, por exemplo, muitos dos centros<br />
de saúde estão a ser recuperados e construídos<br />
em parceria com as autarquias.<br />
A área de prevenção é também um campo onde a<br />
parceria com o poder local é bastante virtuosa e que<br />
deve ser feito um trabalho continuado de estreita colaboração<br />
para cada vez mais termos uma população<br />
com hábitos saudáveis<br />
Mais do que o quadro legal, será a robustez das parcerias<br />
e a qualidade dos resultados a determinar o<br />
sucesso do processo de transferências.<br />
As Unidades Locais de Saúde são uma resposta organizacional<br />
com o objetivo de aumentar a integração<br />
de cuidados de saúde e o desenvolvimento de cuidados<br />
de saúde centrados no cidadão. Este modelo é<br />
fortemente criticado por vários atores dos cuidados<br />
de saúde primários. Considera este modelo ótimo<br />
na perspetiva de potenciar e concretizar a integração<br />
de cuidados? Como é que ele pode ser aperfeiçoado?<br />
Poderá a região de Lisboa e Vale do Tejo beneficiar<br />
de um modelo organizativo desta natureza?<br />
O conceito de Unidade Local de Saúde tem um<br />
enorme potencial, que não tem sido explorado devidamente<br />
porque, em muitas circunstâncias, à integração<br />
administrativa não correspondeu uma efetiva<br />
integração clínica. Integrar não é o mesmo que juntar.<br />
Quando se junta sem se integrar, os cuidados primários<br />
correm o risco de se constituírem no parente<br />
pobre do sistema quando deveria ser o contrário.<br />
Penso, por isso, que os modelos organizativos têm<br />
que ser avaliados e aperfeiçoados antes de se lançarem<br />
novas parcerias.<br />
A sociedade está em constante mudança e as organizações<br />
devem acompanhar esse processo. Não<br />
podemos esperar que modelos organizativos com<br />
décadas e que permanecem inalteráveis respondam<br />
eficazmente às necessidades atuais das populações.<br />
A integração é o caminho do futuro colocando a<br />
pessoa no início do processo (início da linha de produção)<br />
e a cujas necessidades todos os serviços vão<br />
respondendo conforme for necessário. Quando falo<br />
de serviços não falo só da saúde, mas também da<br />
segurança social, da justiça, do ambiente, entre outros,<br />
fazendo cada um o que lhe compete para servir<br />
melhor as pessoas.<br />
Falamos de saúde e não de doença. O que temos }<br />
28 29
GH entrevista<br />
de fazer é evitar a doença e para isso temos que envolver<br />
toda a sociedade nas respostas que damos pa-<br />
-ra conseguirmos esse objetivo.<br />
Os contratos de gestão com os Conselhos de Administração<br />
dos Hospitais são um tópico recorrente da<br />
gestão hospitalar. Quais as vantagens que julga decorrerem<br />
de publicitar, no curto prazo, uma avaliação<br />
global das administrações dos hospitais do SNS?<br />
E considera que existem mecanismos para o efetuar?<br />
Procurei no meu mandato desenvolver as condições<br />
para a generalização dessa prática em articulação com<br />
o Ministério das Finanças. A valorização e o alinhamento<br />
dos instrumentos de governação dos hospitais<br />
EPE, nomeadamente dos planos de atividade e<br />
orçamento, dos contratos programa e dos contratos<br />
de gestão dos membros dos conselhos de administração,<br />
permitem a implementação, já em <strong>2019</strong>, de<br />
um novo modelo de gestão hospitalar, que reforça a<br />
autonomia e a responsabilidade da gestão dos hospitais<br />
do SNS, em termos de mapa de pessoal, planos<br />
de investimentos e desempenho assistencial económico–financeiro.<br />
Os contratos de gestão transparentes<br />
e avaliados são uma importante ferramenta para<br />
melhorar a administração dos hospitais, mas exigem<br />
uma robustez e uma certeza do quadro financeiro<br />
para assegurar a sua exequibilidade.<br />
Os hospitais do SNS continuam com fortes restrições<br />
à sua autonomia que limitam a capacidade gestionária<br />
dos seus Conselhos de Administração. Considera<br />
que a solução passa por, conforme anunciado, atribuir<br />
autonomia às instituições hospitalares?<br />
Autonomia e responsabilidade num quadro de transparência<br />
e avaliação. Só assim poderemos libertar<br />
o SNS de amarras burocráticas e práticas velhas e<br />
desajustadas que diminuem a sua capacidade de dar<br />
respostas flexíveis, àgeis e por medida, consistentes<br />
com as expectativas e as necessidades da sociedade<br />
do século XXI.<br />
Tendo consciência dos constrangimentos atuais,<br />
quais as vantagens, na sua perspetiva, decorrentes<br />
de um modelo de funcionamento assente em Centros<br />
de Responsabilidade Integrada (CRI)?<br />
Os Centros de Responsabilidade Integrada são um<br />
excelente exemplo em que a autonomia, associada<br />
à responsabilidade e à transparência, num quadro de<br />
negociação aberta entre as administrações, os profissionais<br />
e as comunidades envolventes, pode dar um<br />
excelente contributo para melhorar as respostas em<br />
saúde, satisfazendo os utentes, realizando melhor os<br />
profissionais e otimizando os recursos disponíveis.<br />
Reconhecidamente o parque de equipamentos hospitalar<br />
encontra-se em franca degradação pela redução<br />
do investimento sentida nos últimos anos. A<br />
equipa ministerial que integrou veio a reconhecer<br />
este problema através da criação de um plano especial<br />
de investimentos. Qual a solução que preconiza<br />
para ultrapassar esta situação?<br />
O plano especial de investimentos deve constituir um<br />
referencial, em permanente atualização, para dar uma<br />
resposta focada que permita recuperar o parque de<br />
equipamentos da saúde, da erosão a que foi sujeito<br />
em particular na primeira metade da década. Mas um<br />
plano tem de ter subjacente a componente financeira<br />
sem a qual o plano não é exequível: fazer planos sem<br />
orçamento é sempre o mais fácil, é o que acontece<br />
a maior parte das vezes. Eu pergunto: como vai ser<br />
o plano de investimento de <strong>2019</strong> dos hospitais do<br />
SNS? Investir em saúde é ter em conta particularmente<br />
o investimento na qualificação e na satisfação<br />
dos seus profissionais, mas não se pode descurar o<br />
investimento cada vez mais exigente em instalações e<br />
equipamentos adaptados às novas soluções que vão<br />
surgindo da experiência, da investigação científica e<br />
da capacidade de inovação em saúde.<br />
A relação público/privado é um tema sempre polémico.<br />
Considera que o SNS consegue assegurar na<br />
íntegra o direito à proteção na saúde dos cidadãos,<br />
sem recorrer aos setores privado e social?<br />
Considero que a articulação e o aproveitamento de<br />
sinergias são a chave para uma relação saudável entre<br />
o público e o privado. O direito à saúde que o SNS<br />
deve garantir de forma universal, fica reforçado com<br />
o relevante trabalho de proximidade garantido pelo<br />
setor social e pela possibilidade de opção que o setor<br />
privado proporciona.<br />
Articulação não quer dizer substituição. Cada um dos<br />
setores deve respeitar o outro, sendo que sou favorável<br />
a que os processos de articulação sejam transparentes<br />
e de fácil avaliação.<br />
Os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es marcaram o desenvolvimento<br />
do SNS e durante o seu mandato valorizou<br />
muito a sua participação ao nível da direção<br />
superior dos hospitais. Qual é a sua opinião sobre<br />
a necessidade de qualificação/profissionalização da<br />
gestão em saúde e o papel da carreira de administração<br />
hospitalar? Nunca se arrependeu por apostar<br />
em jovens Administradores <strong>Hospitalar</strong>es para<br />
lugares de elevada responsabilidade?<br />
Se há domínio em que a necessidade de formação<br />
contínua é absolutamente primordial ela é a área da<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong>. A aposta continuada na<br />
qualificação e profissionalização da carreira de administração<br />
hospitalar tem de estar cada vez mais associada<br />
a um protocolo de atualização permanente<br />
para que se possam garantir respostas adequadas a<br />
cada circunstância económica, social e tecnológica.<br />
“<br />
SE HÁ DOMÍNIO<br />
EM QUE A NECESSIDADE<br />
DE FORMAÇÃO CONTÍNUA<br />
É ABSOLUTAMENTE<br />
PRIMORDIAL ELA É A ÁREA<br />
DA ADMINISTRAÇÃO<br />
HOSPITALAR.<br />
”<br />
Neste sentido, a aposta em jovens Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es é uma aposta ganha, sem nunca perder<br />
de vista a necessidade de proporcionar aos mais experientes<br />
uma atualização permanente.<br />
É mais difícil ser mulher na administração hospitalar?<br />
É mais exigente, dado que em linha com o que se passa<br />
em toda a sociedade, as mulheres têm sempre de demonstrar<br />
mais para poderem ser consideradas como<br />
iguais. No entanto, na minha vida profissional em particular<br />
senti sempre que a sensibilidade própria resultante<br />
de ser mulher nunca constituiu uma restrição e antes<br />
foi muitas vezes um precioso auxiliar do meu trabalho.<br />
Uma mensagem final para todos os Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es?<br />
Numa sociedade em que as pessoas, graças à melhoria<br />
geral das condições de vida e de educação base e<br />
ao desenvolvimento tecnológico acelerado, têm expectativas<br />
de vida cada vez maiores e ao mesmo<br />
tempo procuram cuidados de saúde mais diferenciados,<br />
ser administrador hospitalar é um desafio profissional<br />
muito exigente, mas também estimulante.<br />
O mais importante é que tenhamos orgulho naquilo<br />
que fazemos, sejamos inovadores e abertos à mudança,<br />
sem que nos deixemos deslumbrar por ela. As<br />
pessoas são o nosso foco e devemos concentrar os<br />
nossos esforços para dia após dia dar o melhor dos<br />
nossos serviços e expressar o bem-estar e satisfação<br />
de todos os nossos utentes. Ã<br />
30 31
GH ppp na saúde<br />
As Parcerias Público<br />
Privadas na Saúde<br />
em Portugal<br />
Análise Crítica<br />
Cláudia Parente Rebelo<br />
Grupo José de Mello Saúde,<br />
Gestora da Relação com as Entidades<br />
Financeiras Responsáveis<br />
As parcerias público-privadas (PPP)<br />
em Portugal surgem na década de<br />
1990. A decisão política subjacente<br />
à escolha deste tipo de instrumento<br />
de gestão pública representou<br />
uma opção em prol de outras 7 . A experiência<br />
de outros países tem demonstrado que as parcerias<br />
não são apropriadas para todo o tipo de projetos 3 ,<br />
havendo conjunturas em que a provisão pública dos<br />
serviços se revela uma abordagem mais eficiente 1,15 .<br />
No contexto nacional, em 2010, Pita Barros referia,<br />
a propósito das PPP na Saúde, que o facto de terem<br />
surgido quer bons resultados, quer problemas, despoletou<br />
diversas reflexões sobre as condições que<br />
favorecem o sucesso de uma PPP, embora ainda não<br />
seja claro que conjunto de condições é necessário<br />
ou suficiente para o sucesso do modelo 4,14 . Neste<br />
âmbito, coloca-se a questão: “São as PPP hospitalares<br />
um instrumento de Nova <strong>Gestão</strong> Pública bem-sucedido?”,<br />
isto é, compensa ao Estado português usar<br />
este tipo de instrumentos na Saúde?<br />
Porém, a aferição do sucesso de uma PPP não se<br />
circunscreve à avaliação do desempenho 7 na provisão<br />
de um determinado serviço público, atento um determinado<br />
preço público comparável. Tal aferição deve<br />
também contemplar as restantes vertentes inerentes<br />
ao funcionamento de uma PPP, designadamente<br />
a necessidade de monitorização e controlo 7 por parte<br />
das competentes entidades públicas <strong>16</strong> . Neste sentido,<br />
esta investigação propôs-se compreender quais<br />
os fatores determinantes para o sucesso/insucesso<br />
destas PPP e o seu respetivo impacto, com base na<br />
perceção dos especialistas da área, relativamente aos<br />
hospitais da primeira vaga de PPP na saúde, a saber:<br />
Cascais, Braga, Vila Franca de Xira e Loures. No contexto<br />
atual, marcado por fortes restrições da atuação<br />
direta do Estado, temos vindo a assistir ao aumento<br />
das relações multissetoriais na implementação de políticas<br />
9 - em que as PPP proliferam 6 , segundo Savas<br />
devido a razões de ordem ideológica mas também<br />
pragmática 13 , designadamente, por constituírem uma<br />
forma de atrair capacidade técnica, recursos financeiros,<br />
know-how de gestão e inovação próprios do<br />
setor privado para a resolução de questões públicas<br />
complexas 10 . As PPP configuram, simultaneamente,<br />
um instrumento muito atrativo em termos políticos 15<br />
ao possibilitarem a realização de investimentos, projetando<br />
para o futuro o encargo financeiro, ou seja,<br />
aliviando os orçamentos no curto prazo. Este instrumento<br />
congrega algumas particularidades relevantes,<br />
desde logo, o Estado mantém a responsabilidade de<br />
garantir a provisão de bens ou serviços, cuja natureza<br />
Dimensões<br />
Teóricas<br />
Risco<br />
Custo-<br />
-benefício<br />
Impacto<br />
social<br />
e político<br />
Expertise<br />
Descrição e elementos caracterizadores das dimensões teóricas, de acordo com a literatura<br />
da especialidade<br />
Traduz os aspetos não controláveis com potencial e relevante impacto no objetivo que se pretende alcançar<br />
por via da PPP. A questão do risco reflete a necessidade de definir quem está em melhor condição para<br />
acautelar e controlar de forma efetiva um determinado risco e maximizar o interesse público 9 .<br />
Não obstante o risco seja uma das razões que mais justificam o recurso às PPP, é importante ter em conta<br />
o facto de o setor público, enquanto garante da prestação do serviço público, nunca se poder libertar do<br />
risco na totalidade (atenta a possibilidade de incumprimento contratual e a ocorrência de eventos de força<br />
maior), motivo pelo qual este setor deve manter uma capacidade residual para desempenhar a função 8 .<br />
Traduz a aferição da vantagem comparativa da PPP face à prestação tradicional. A análise de custo-benefício é<br />
essencial para se perceber que projetos são apropriados para o formato PPP e se existe de facto uma vantagem<br />
comparativa na escolha da PPP em face da tradicional prestação pública de determinado bem ou serviço.<br />
Para medir os benefícios associados às PPP é necessário ter uma noção global de todo o encargo relacionado<br />
com o projeto, designadamente: custos de transação, custos de oportunidade, custos associados a um determinado<br />
activo durante todo o seu ciclo de vida (i.e., “life cicle costs”), custos de operação e manutenção<br />
durante todo o período de duração da PPP e plano de contingência para a eventualidade de os benefícios<br />
esperados não se materializarem ou de surgirem prejuízos que não eram antecipáveis 15 .<br />
Traduz as repercurssões na PPP da opinião pública, social e política. Os impactos em termos sociais (designadamente<br />
ao nível da equidade) 8 devem ser tidos em consideração, uma vez que em causa está o acesso<br />
a bens e serviços públicos. Por inerência, os impactos sociais têm repercussões no sistema político e nos<br />
resultados eleitorais. Deste modo, o reconhecimento pela opinião pública do sucesso de uma PPP pode<br />
ser fundamental para a sua manutenção. Como referem Goldsmith e Eggers, “quando algo corre mal no<br />
cenário público, tendencialmente termina na primeira página de um jornal, transformando instantaneamente<br />
uma questão de gestão num problema político” 9 . É imperativo que uma PPP tenha suporte político, pois de<br />
outro modo pode não resistir às instabilidades políticas trazidas pelos ciclos eleitorais.<br />
Traduz o conhecimento aportado por cada parceiro. O envolvimento de pessoas com a visão e capacidades<br />
necessárias, o saber-fazer, o conhecimento técnico, a perícia adequada para levar a cabo os objetivos da parceria,<br />
sendo fundamental envolver o parceiro certo em cada parceria 8 . Esta dimensão está intrinsecamente<br />
ligada à ideia de inovação 15 .<br />
Colaboração Traduz a consistência das relações que se estabelecem na parceria, designadamente, a confiança recíproca entre<br />
parceiros. Não obstante Bult-Spiering e Dewulf 5 realcem a falta de investigação em torno da forma como é<br />
gerida a interação entre atores públicos e privados, várias avaliações a PPP revelam a importância deste aspeto<br />
para o sucesso das mesmas. A robustez das relações humanas de âmbito profissional que se estabelecem no<br />
decorrer do projeto de parceria afeta a capacidade da entidade pública para monitorizar o cumprimento dos<br />
objetivos e recompensar/punir o sucesso/insucesso 8 . A este nível, a clareza nas expetativas de parte a parte<br />
e a flexibilidade para uma colaboração efetiva devem estar muito bem definidas em termos contratuais, já<br />
que a realidade revela-se sempre mais complexa do que o que se pode prever e é impossível acautelar tudo,<br />
conforme demonstram os estudos empíricos efetuados até à data. A palavra de ordem é confiança, desde<br />
logo, porque a sua inexistência reduz a parceria a uma relação de estrito cumprimento contratual, em que as<br />
partes adotam comportamentos defensivos e de salvaguarda não se gerando o desejável valor acrescentado<br />
(i.e., “surplus value”). Na lógica de uma relação comercial, “Trust but verify” 11 .<br />
Performance Traduz a aferição do desempenho alcançado. A medição da performance reforça a responsabilização na<br />
parceria e garante que todos estão envolvidos, reforçando a confiança 8 . Ao nível das PPP deve existir um sistema<br />
de incentivo de desempenhos elevados que funcione como garante de que todos são recompensados<br />
por alcançarem um melhor desempenho. “Um sistema de incentivos é também crucial e pode representar<br />
a diferença entre uma parceria que falha e outra que é bem sucedida” 9 .<br />
Tabela 1: Dimensões Teóricas de Forrer et al. e sua descrição.<br />
permanece pública 3,14 , pagando por essa provisão e<br />
exercendo a monitorização necessária dos níveis de<br />
desempenho desejáveis 15,13 . Acresce que a relação<br />
que se estabelece numa PPP, entre atores públicos<br />
e privados, impõe que seja dedicada uma particular<br />
Fonte: Elaborado pela autora com base na sistematização de Forrer et al.<br />
atenção às questões de monitorização e prestação de<br />
contas 1 . Neste âmbito, Forrer et al. 8 elaboraram a partir<br />
da lista de indicadores de Goldsmith e Eggers 9 , seis<br />
dimensões essenciais que definem, na perspetiva da<br />
gestão pública, o sucesso destes instrumentos, por }<br />
32 33
GH ppp na saúde<br />
Dimensões<br />
Teóricas<br />
Risco<br />
gem não-aleatória, designada amostragem de especialistas<br />
12 . A população de inquiridos correspondeu a<br />
118 pessoas, dos quais 14 académicos, 52 do setor<br />
público e 52 do setor privado (políticos de primeira<br />
e segunda linha, executivos com cargos de direção/<br />
/administração, a par de gestores operacionais, igualmente,<br />
primeiras e segundas linhas). A inquirição compreendeu<br />
3 questões de caracterização sobre o perfil<br />
dos inquiridos, a par das 22 questões de opinião<br />
- fechadas -, e 2 de comentário - abertas.<br />
Este inquérito foi dirigdo, através de mensagens personalizadas<br />
enviadas para endereços de correio eletróni-<br />
Custo-<br />
-benefício<br />
Impacto<br />
social<br />
e político<br />
Expertise<br />
Colaboração<br />
Performance<br />
Percepção<br />
Sucesso<br />
PPP (VD)<br />
Variáveis Latentes<br />
Tabela 2: Dimensões Teóricas e Indicadores.<br />
1) Em termos gerais, a alocação de riscos efetuada nas PPP em análise foi adequada. Assumindo que cada<br />
tipo de risco deve ser atribuído à organização que melhor o pode controlar, maximizando o benefício público.<br />
2) No que respeita à extinção do contrato de gestão, o plano de contingência do setor público para as PPP<br />
em análise permite efetivamente minimizar os impactos desse facto para o interesse público.<br />
3) Em termos gerais, foi efetuada uma correta identificação e distribuição/partilha de riscos pelos parceiros<br />
público e privado, isto é, os riscos foram alocados ao parceiro que melhor os pode gerir e suportar.<br />
4) A opção pelas PPP em análise, assente no conceito de boa aplicação do dinheiro, numa perspetiva de<br />
custo-benefício (i.e. “Value for money”), determinado com base no custo público comparável, teve em consideração<br />
uma análise efetiva dos encargos globais que lhes estão associados.<br />
5) O Estado conseguirá obter uma boa aplicação do dinheiro (i.e. “Value for money”), considerando o ciclo<br />
de vida dos ativos em causa, mediante o recurso às PPP em análise.<br />
6) Os ganhos associados à participação do parceiro privado nas PPP em análise superam os encargos com o<br />
seu lançamento e monitorização, no sentido de que estes seriam significativamente reduzidos se o mesmo<br />
serviço fosse provido pelo setor público, em moldes tradicionais.<br />
7) As PPP em análise asseguram a equidade social (inexistência do efeito “escolha seletiva”), em termos de<br />
acesso aos cuidados de saúde.<br />
8) Existe suporte político suficiente para permitir a continuidade dos contratos de gestão das PPP em análise.<br />
9) Existe suporte social suficiente para permitir a continuidade dos contratos de gestão das PPP em análise.<br />
10) A experiência e o conhecimento do setor privado trouxeram valor acrescentado às PPP em análise.<br />
11) A experiência e o conhecimento do setor privado trouxeram inovação às PPP em análise.<br />
12) O setor público possui as capacidades/competências necessárias para executar a sua missão de acompanhamento/fiscalização,<br />
atento o grau de complexidade inerente às PPP em análise.<br />
13) O setor público é dependente da consultoria externa para realizar as funções que lhe estão atribuídas,<br />
atento o grau de complexidade inerente às PPP em análise.<br />
14) Existe uma relação de confiança entre parceiros públicos e parceiros privados nas PPP em análise.<br />
15) Existe um clima de cooperação entre parceiros públicos e parceiros privados nas PPP em análise.<br />
<strong>16</strong>) A forma de colaboração entre parceiros públicos e parceiros privados contribui para o bom desempenho<br />
das PPP em análise.<br />
17) Apesar do curto registo histórico das PPP, no que respeita à gestão da atividade/execução do contrato, a<br />
performance alcançada em termos de economia, eficiência, eficácia e qualidade do serviço é positiva.<br />
18) Em relação à gestão da atividade/execução do contrato, o sistema de incentivos à performance é adequado.<br />
19) No âmbito de uma apreciação global da experiência, considera que este instrumento de gestão pública se<br />
revelou adequado e deve ser replicado a outros Hospitais em Portugal.<br />
20) Enquanto instrumento de gestão pública, considera que as PPP podem ser replicadas noutros países nos<br />
termos em que foram implementadas em Portugal.<br />
21) Considera as PPP uma opção vantajosa/bem sucedida do ponto de vista do benefício público.<br />
22) Considera as PPP uma opção vantajosa/bem sucedida do ponto de vista do interesse privado.<br />
Fonte: Elaborado pela autora com base na revisão da literatura e nos contratos de gestão das 4 PPP em referência.<br />
referência às quais se estrutura a prestação pública de<br />
contas das PPP, a saber: risco, custo-benefício, impacto<br />
social e político, expertise, colaboração na parceria<br />
e medição da performance. Pela relevância destes<br />
conceitos na investigação, passamos a descrevê-los.<br />
Na análise foi utilizada uma metodologia mista, isto<br />
é, quantitativa e qualitativa, mediante a aplicação de<br />
um questionário a um conjunto de especialistas. A<br />
população alvo do estudo compreende aqueles que,<br />
no seu contexto profissional, participaram/participam<br />
ativamente na implementação e/ou execução<br />
destas PPP. Para o efeito, foi adotada uma amostra-<br />
co válidos, nos dias 22 e 23 de abril de 20<strong>16</strong>. Obtiveram-se<br />
39 respostas válidas. Os dados foram recolhidos<br />
de forma anónima e tratados com confidencialidade.<br />
Tendo consciência do possível impacto que uma<br />
maior participação de um determinado subconjunto<br />
de inquiridos poderia ter em termos da interpretação<br />
conjunta dos dados, nomeadamente consoante<br />
o tipo de contexto profissional, fomos aferir os resultados<br />
obtidos considerando as diferenças de perfil<br />
dos inquiridos. Com base no teste t de Student<br />
aferimos as tendências de resposta, concluindo que<br />
tal facto não se afigurou determinante na perceção<br />
do fenómeno em apreço. Esta primeira aferição permitiu-nos<br />
obviar a realização de análises específicas,<br />
efetuadas por referência a subconjuntos amostrais.<br />
Apresentamos infra a tabela contendo as 22 afirmações,<br />
sujeitas a apreciação dos especialistas, e uma<br />
tabela contendo os resultados da estatística descritiva,<br />
a par do gráfico das médias referentes às respostas<br />
dadas às perguntas de opinião.<br />
Cumpre notar que, em média, a concordância é superior<br />
ao ponto médio (5) da escala relativamente<br />
à maioria dos itens. A este nível, são de destacar<br />
os itens: “21), “10), “17) e “7). A concordância é<br />
inferior ao ponto intermédio da escala de medida<br />
relativamente aos itens: “14), “15), “<strong>16</strong>) e “8), apresentados<br />
por ordem crescente. Quanto às questões<br />
abertas, relativamente à Pergunta 23): “Considerando<br />
as questões colocadas anteriormente, entende<br />
que existem outros critérios a incluir numa avaliação<br />
genérica das PPP em análise, enquanto instrumentos<br />
de gestão pública”, as respostas dos especialistas<br />
inquiridos gravitam em torno de outras formas de<br />
avaliação da performance e da relação de custo-benefício.<br />
Referem, na sua maioria, a necessidade de se<br />
efetuar uma comparação efetiva, isto é, com base<br />
nos mesmos parâmetros de desempenho e critérios,<br />
entre hospitais do setor público e hospitais em regime<br />
de PPP. Foi também feita referência: i) à análise<br />
dos principais indicadores de saúde no início e no<br />
final do contrato de parceria, ii) à transparência na<br />
divulgação das responsabilidades totais assumidas<br />
pelo setor público com os contratos de gestão dos<br />
hospitais em regime de PPP e respetivos critérios<br />
de imputação défice orçamental/dívida pública, e iii)<br />
à comparação entre os vários indicadores de performance<br />
dos hospitais substituídos e dos hospitais<br />
de substituição.<br />
Em resposta à Pergunta 24) “Tem algum comentário<br />
final que gostasse de incluir?”, os especialistas assinalam<br />
como pontos fortes/aspetos positivos os relativos<br />
ao custo-benefício e à performance, afirmando<br />
Média<br />
Gráfico 1: Médias das perguntas de opinião.<br />
Perguntas de opinião<br />
que: i) por esta via o Estado consegue uma boa aplicação<br />
do dinheiro, e que, ii) numa lógica comparativa<br />
com o setor público, os encargos com a monitorização<br />
das PPP apenas são superiores porque o<br />
acompanhamento efetuado nos restantes hospitais<br />
públicos é, em regra, insuficiente, acrescentando, iii)<br />
que se afigura essencial uma análise aos Hospitais<br />
que não são PPP de forma a perceber quais os custos<br />
destes para o erário público.<br />
Na ótica dos mesmos inquiridos, os pontos fracos/<br />
/aspetos negativos desta experiência são: i) falhas de<br />
apreciação técnica inicial relativa ao cômputo dos<br />
encargos totais, isto é, face à aferição do custo-benefício<br />
inicialmente previsto para estes projetos, ii) a<br />
pouca internalização do know-how, por parte do parceiro<br />
público, com vista a uma menor dependência<br />
da consultoria externa, iii) o contágio prejudicial para<br />
a gestão regular da organização promovido por um<br />
sistema de incentivos assente, meramente, na aplicação<br />
de penalidades e multas – situação que influência<br />
negativamente a forma de colaboração entre<br />
as partes. Adicionalmente, merece ainda nota<br />
a referência feita a preconceitos ideológicos fortemente<br />
contrários às PPP, situação que poderia ser<br />
desmistificada mediante a existência de estudos efetuados<br />
em torno das parcerias e a menção de que,<br />
em termos gerais, o modelo PPP é vantajoso para o<br />
Estado, sendo, no entanto, crucial a simplificação do<br />
modelo de acompanhamento.<br />
Discussão dos resultados e conclusões<br />
Relativamente à fase de execução dos contratos, em<br />
curso atualmente, constatámos que o conjunto de<br />
especialistas inquiridos tem uma perceção positiva<br />
das PPP hospitalares. De um modo geral, na opinião<br />
dos profissionais da área, estas parcerias configuram<br />
um instrumento de gestão pública bem-sucedido, }<br />
34 35
GH ppp na saúde<br />
GH Iniciativa APAH<br />
Tabela 3: Estatísticas - Perguntas de Opinião..<br />
sendo relevante o facto de este entendimento se<br />
afigurar transversal. Os inquiridos consideram que o<br />
modelo de PPP em análise, é adequado e pode ser<br />
replicado a outros hospitais e entendem que este<br />
instrumento de gestão pública pode ser também replicado<br />
noutros países (perguntas 19 a 22). Ademais,<br />
percecionam as parcerias referidas como sendo vantajosas<br />
para ambas as partes, situação que evidencia<br />
o sucesso do modelo, já que, de acordo com a<br />
literatura da especialidade, as PPP só poderão ser<br />
efetivamente bem-sucedidas caso configurem uma<br />
situação de ganho mútuo 5 .<br />
Esta perceção é confirmada pela análise estatística<br />
descritiva, sendo de destacar que, na opinião dos inquiridos,<br />
em termos médios, o maior ganho se materializa<br />
sob o ponto de vista do benefício público,<br />
objetivo último das PPP enquanto instrumentos de<br />
gestão pública. Na posição contrária, em destaque<br />
e quase em paralelo, surgem os indicadores estatísticos<br />
relacionados com a dimensão teórica da colaboração,<br />
concretamente, o clima de cooperação e<br />
a forma de relacionamento entre parceiros 5 . A este<br />
nível merece nota o facto de a colaboração entre<br />
parceiros constituir o único aspeto menos positivo<br />
associado a estas parcerias (ver Tabela 3), o qual se<br />
traduz em comportamentos defensivos e de pendor<br />
legalista, impedindo uma cooperação plena e efetiva<br />
e tornando o contrato de gestão o verdadeiro motor<br />
da parceria 17, 2 . Ã<br />
1. Allard G, Trabant, A. “Public-Private Partnerships In Spain: Lessons And<br />
Opportunities”. International Business & Economics Research Journal.<br />
2008. 7(2):2.<br />
2. Azevedo M. As Parcerias Público-Privadas: Instrumento de uma Nova<br />
Governação Pública. Coimbra: Almedina; 2009. p.238, 264.<br />
3. Barlow J, Roehrich J, Wright S., “Europe Sees Mixed Results From Public-Private<br />
Partnerships For Building And Managing Health Care Facilities<br />
And Services”, Health Affairs 32. 2013 Jan;1:146-154.<br />
4. Barros P. “As parcerias público-privadas na saúde em Portugal. In Simões,<br />
J. (Ed).” 30 anos do Serviço Nacional de Saúde - Um percurso<br />
Comentado. Coimbra: Almedina; 2010. P.520, 521.<br />
5. Bult-Spiering M, Dewulf, G. Strategic issues in public-private partnerships:<br />
An international perspective. Oxford: Backwell Publishing; 2006. p.<strong>16</strong>.<br />
6. Cruz C, Marques R. “Integrating Infrastructure and Clinical Management<br />
in PPPs for Health Care”, Journal of Management in Engineering © ASCE.<br />
2013 Oct.<br />
7. EXPH (Expert Panel on effective ways of investing in Health). Health<br />
and Economic Analysis for an Evaluation of the Public-Private Partnerships<br />
in Health Care Delivery across Europe. 2014 Fev 27, acessível em http://<br />
bookshop.europa.eu/en/health-and-economic-analysis-for-an-evaluation-<br />
-of-the-public-private-partnerships-in-health-care-delivery-across-europe-<br />
-pbNDBA13001/.<br />
8. Forrer J, Kee J, Newcomer K, Boyer E. Public-Private Partnerships<br />
and the Public Accountability Question. Public Administration Review;<br />
2010:70(3):475-484.<br />
9. Goldsmith S, Eggers W. Governing by network: The new shape of the<br />
public sector. Washington, DC: Brookings Institution Press; 2004. p.8.<br />
10. Greve C, Hodge G. The Challenge of Public-Private Partnerships: Learning<br />
from International Experience. Ed. 2005 Cheltenham, UK: Edward<br />
Elgar Publishing; 2005. p.334.<br />
11. Kee J, Newcomer K. Transforming Public and Nonprofit Organizations:<br />
Stewardship for Leading Change. McLean, VA: Management Concepts;<br />
2008.<br />
12. Maroco J. Análise Estatística com utilização do SPSS: Lisboa: Edições<br />
Sílabo; 2003. p.22, 17.<br />
13. Savas, E. Privatization and Public-Private Partnerships. New York: Chatham<br />
House; 2000, p.4<br />
14. Sekhri N, Feachem R, Ni A. “Public-Private Integrated Partnerships<br />
Demonstrate The Potential To Improve Health Care Access, Quality, And<br />
Efficiency”, Health Affairs 30; 2011 Aug; 8:1498-1507.<br />
15. Silva J. Parcerias Público-privadas. Coimbra: Almedina; 20<strong>16</strong>.<br />
<strong>16</strong>. Tribunal de Contas. Encargos do Estado com PPP na Saúde, [Internet];<br />
2013 [acedido em 4 março 2014]. p. 45, 41. Relatório n.<strong>º</strong> 18/2013, - 2.ª<br />
Secção acessível em http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2013/2s/<br />
audit-dgtc-rel018-2013-2s.pdf.<br />
17. Tribunal de Contas (2013). Encargos do Estado com PPP na Saúde,<br />
Relatório n.<strong>º</strong> 18/2013 - 2.ª Secção. Acedido em Março 4, 2014, em http://<br />
www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2013/2s/audit-dgtc-rel018-2013-<br />
2s.pdf.<br />
Legislação consultada:<br />
Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 149/2012, de 12 de julho<br />
Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 111/2012, de 23 de maio<br />
Portaria n.<strong>º</strong> 155/2012, de 22 de maio<br />
Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 131/2010, de 14 de dezembro<br />
Lei n.<strong>º</strong> 3/2010, de 27 de abril<br />
Decreto-Lei n<strong>º</strong> 176/2009, de 4 de agosto<br />
Decreto-Lei n<strong>º</strong> 18/2008, de 29 de janeiro<br />
Despacho n.<strong>º</strong> 936/2007, de 21 de setembro<br />
Decreto-lei n.<strong>º</strong> 141/2006, de 27 de julho<br />
Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 86/2003, de 26 de abril<br />
Decreto Regulamentar n.<strong>º</strong> 10/2003, de 28 de abril<br />
Decreto Regulamentar n.<strong>º</strong> 14/2003, de 30 de junho<br />
Despacho Normativo n.<strong>º</strong> 35/2003, de 20 de agosto<br />
Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 185/2002, de 20 de agosto<br />
Resolução do Conselho de Ministros n.<strong>º</strong> <strong>16</strong>2/2001<br />
Constituição da República Portuguesa, de 2 de Abril de 1976, na redação<br />
dada pela Lei Constitucional n.<strong>º</strong>1/2005 (7.ª Revisão)<br />
A APAH em parceria com a NOVA IMS lança a iniciativa LEGOS: LIGA PORTUGUESA da GES-<br />
TÃO em SAÚDE, com o objetivo de promover uma mudança efetiva na gestão em saúde, assente<br />
numa cultura de liderança e motivação para a inovação organizacional, a qual será́ realizada através da<br />
aplicação de metodologias pedagógicas de pensamento criativo e de simuladores avançados de gestão<br />
da mudança. São destinatários da LEGOS todas as instituições prestadoras de cuidados de saúde<br />
integrantes do Sistema Nacional de Saúde (incluindo as Regiões Autônomas) de natureza publica,<br />
privada, social e Organizações Não Governamentais (ONGs). Mais informações em www.apah.pt.<br />
Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) têm individualmente áreas de excelência que merecem<br />
ser partilhadas com outras instituições.<br />
Com este objetivo, no âmbito da ACADEMIA APAH, a APAH apresenta o Programa PEGADA, um<br />
programa de estágios de curta duração (1 a 3 semanas), com o intuito de disseminar as melhores<br />
práticas de gestão e organização, entre os hospitais do SNS.<br />
O Programa PEGADA pretende criar oportunidades para os gestores de serviços de saúde poderem<br />
aceder a boas práticas que contribuam para o desenvolvimento de competências científicas e<br />
técnicas, ajustadas ao seu perfil profissional.<br />
Cada hospital oferece aos candidatos a oportunidade de compreender a gestão do setor da saúde<br />
num aspeto específico em que o Hospital desenvolve reconhecidas práticas de trabalho.<br />
A APAH pretende desta forma iniciar a construção de um caminho de mudança na gestão hospitalar,<br />
promovendo a sinergia dentro do SNS.<br />
A edição <strong>2019</strong> do Programa PEGADA conta com a participação de 9 Instituições <strong>Hospitalar</strong>es do<br />
SNS, promovendo 21 áreas de Estágio e disponibilizando 33 vagas.<br />
Conheça todas as oportunidades de estágio em https://apah.pt/iniciativas-projetos/pegada/.<br />
36 37
GH Readmissões<br />
Distribuição temporal<br />
das readmissões<br />
dos doentes com<br />
insuficiência cardíaca<br />
e fatores associados<br />
Número de readmissões<br />
Figura 1: Distribuição do número de readmissões ao longo do período de observação (30 dias).<br />
Tempo (dias)<br />
Paula Cunha<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade Nova de Lisboa<br />
Sílvia Lopes<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade Nova de Lisboa<br />
e Centro de Investigação em Saúde Pública,<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade Nova de Lisboa<br />
A<br />
insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome<br />
clínica comum e uma causa<br />
frequente de readmissão hospitalar.<br />
Estima-se que 25% dos doentes<br />
com insuficiência cardíaca (IC)<br />
são readmitidos nos primeiros 30 dias após a alta<br />
hospitalar, verificando-se que para certos estádios da<br />
doença o risco de readmissão está associado a fatores<br />
potencialmente modificáveis (Ross et al., 2010;<br />
Dunlay, Pereira e Kushwaha, 2014). O pico das readmissões<br />
hospitalares ocorre nos primeiros dias após<br />
a alta, sendo neste período de tempo que estas são<br />
mais frequentemente classificadas como evitáveis e<br />
associadas à qualidade dos cuidados prestados (Benbassat<br />
e Taragin, 2000; Balla, Malnick e Schattner,<br />
2008; Walraven et al., 2011). As readmissões evitáveis,<br />
para além de serem um problema de qualidade,<br />
com consequências negativas na saúde dos doentes<br />
(Fischer et al., 2014), são ainda um problema de eficiência,<br />
por significarem um acréscimo dos custos<br />
para os sistemas de saúde. O prazo mais comum no<br />
qual são avaliadas as readmissões é de 30 dias. Contudo,<br />
a sua distribuição ao longo deste período não<br />
é uniforme e varia por doença (Fischer et al., 2014).<br />
Conhecer a distribuição das readmissões hospitalares<br />
ao longo do primeiro mês após a alta e determinar os<br />
fatores de risco associados possibilitará a identificação<br />
dos doentes com elevado risco de readmissão e do<br />
momento mais adequado para realizar a intervenção.<br />
Dessa forma, poderão reduzir-se as readmissões e<br />
consequentemente reduzir os custos evitáveis e melhorar<br />
os resultados em saúde.<br />
Este estudo foi realizado no âmbito do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> e teve como<br />
objetivo geral caracterizar a distribuição temporal das<br />
readmissões hospitalares após internamento inicial por<br />
insuficiência cardíaca e fatores de risco associados.<br />
Metodologia<br />
Foi utilizada a base de dados de morbilidade hospitalar<br />
da Administração Central do Sistema de Saúde<br />
(ACSS), na qual constam os episódios de interna-<br />
mento dos hospitais públicos do Continente. Foram<br />
incluídos os episódios de internamento de adultos<br />
(>17 anos) com diagnóstico principal de IC (Classificação<br />
Internacional de Doenças - 9ª versão - Modificações<br />
Clínicas: 428.X) e alta no ano de 2014. Foi<br />
considerada readmissão uma nova admissão não planeada,<br />
independentemente do diagnóstico, no prazo<br />
de 30 dias após o internamento inicial por IC. A idade,<br />
o sexo, o Índice de Comorbilidade de Charlson<br />
(ICC; Quan et al, 2005), o número de diagnósticos<br />
secundários, o tipo de admissão, o tipo de Grupo de<br />
Diagnósticos Homogéneos (GDH), a duração do internamento<br />
e a presença de determinadas comorbilidades<br />
(demência, diabetes, doença cerebrovascular,<br />
doença pulmonar obstrutiva crónica - DPOC, doença<br />
renal, doença vascular periférica e enfarte do miocárdio)<br />
foram considerados fatores associados ao risco<br />
de readmissão. Foram calculadas as estimativas de<br />
Kaplan-Meier (KM), que representam a probabilidade<br />
de ocorrência de readmissão e que permitiram a análise<br />
comparativa entre os diferentes níveis de cada fator<br />
de risco ao longo do período de observação. Foi<br />
analisada a incidência (cumulativa) de readmissão na<br />
primeira semana (até 7 dias) após a alta hospitalar, para<br />
os diferentes fatores em estudo. A média do tempo<br />
de ocorrência de readmissão neste período específico<br />
foi avaliada através do teste t para amostras independentes.<br />
Nesta sub-análise, o grupo etário foi categorizado<br />
em: “até 65 anos”, “65+ anos” e os diagnósticos<br />
secundários em “até 8 diag, “9+ diag”. Na<br />
análise dos fatores que influenciam o tempo até à readmissão,<br />
foi utilizado o modelo de regressão de Cox.<br />
Apenas foram selecionadas as variáveis com significado<br />
estatístico (p0,05). Através deste modelo foi estimado<br />
o hazard ratio (HR) de cada fator de risco, sendo que<br />
HR>1 significa um risco aumentado de readmissão.<br />
RESULTADOS<br />
Caracterização da população em estudo<br />
Foram analisados 13 857 episódios de internamento<br />
de adultos com diagnóstico principal de IC. A população<br />
em estudo era constituída maioritariamente por<br />
mulheres (54,9%). A idade variou entre 21 e 104 anos,<br />
verificando-se que metade dos episódios correspondiam<br />
a doentes com idade igual ou superior a 80 anos<br />
e apresentavam entre 2 a 8 diagnósticos secundários.<br />
Do total de episódios de internamento, apenas 57<br />
(0,4%) não apresentavam diagnósticos secundários.<br />
A maioria dos doentes internados apresentou um<br />
ICC≥5 (54,1%), foi admitida de forma urgente (93,3%)<br />
e recebeu tratamento médico (97,0%). A demora média<br />
foi de 9,6 dias. A diabetes (34,2%), a doença renal<br />
(24,4%), a DPOC (18,7%) e o enfarte do miocárdio<br />
(10,1%) foram as comorbilidades mais prevalentes.<br />
Caracterização das readmissões<br />
Verificou-se um total de 1 861 readmissões aos 30 dias<br />
após a alta hospitalar, que correspondeu a uma taxa<br />
de readmissão de 13,4%. O pico das readmissões<br />
ocorreu no 6<strong>º</strong> dia após a alta hospitalar (96 readmissões).<br />
Mais de metade das readmissões (55,8%) ocorreram<br />
até aos 14 dias após a alta, sendo que 29,7%<br />
ocorreram nos primeiros 7 dias (Figura 1).<br />
Através da análise das curvas de incidência cumulativa }<br />
38 39
GH Readmissões<br />
Número de episódios Readmissões<br />
(n, %)<br />
Grupo etário<br />
< 65 * 1 583 <strong>16</strong>7 (10,5%) 1<br />
Tabela 1: Estimativas de Cox para o modelo multivariado.<br />
(Kaplan-Meier), verificou-se que poucas variáveis conseguiam<br />
explicar as readmissões nos primeiros dias.<br />
Efetivamente, apenas o Índice de Comorbilidade de<br />
Charlson (t=-2,795; p=0,005), a doença renal (t=-<br />
2,709; p=0,008) e a demência (t=-2,795; p=0,028), tiveram<br />
influência no tempo médio até à ocorrência de<br />
readmissão nos primeiros 6 dias após a alta hospitalar.<br />
Fatores de risco associados ao tempo de readmissão<br />
Tendo em consideração os resultados obtidos na análise<br />
de regressão multivariada (Tabela 1), verificou-se<br />
um maior risco de readmissão no grupo de doentes<br />
admitidos de forma urgente, com doença vascular periférica,<br />
com idade avançada (85+ anos), com doença<br />
renal e com 9+ diagnósticos secundários. Uma admissão<br />
não planeada e a presença de doença vascular<br />
periférica foram os fatores que mais influenciaram o<br />
tempo até à readmissão, aumentando o risco de readmissão<br />
em 2,4 vezes no primeiro caso [HR=2,41;<br />
intervalo de confiança a 95% (IC 95%): 1,81–3,21] e<br />
1,6 vezes no segundo (HR=1,59; IC 95%: 1,23–2,06).<br />
Ter mais de 85 anos e doença renal aumentou o risco<br />
de readmissão em mais de 30% (85+: HR=1,36;<br />
IC 95%: 1,15–1,62; doença renal: HR=1,34; IC 95%:<br />
1,21–1,48). A presença de múltiplos diagnósticos secundários<br />
(9+) apresentou-se como o fator de risco<br />
com menor influência, aumentando o risco de readmissão<br />
em cerca de 25% (HR=1,25; IC 95%: 1,14–<br />
1,37).<br />
Hazard ratio<br />
(IC 95%)<br />
Valor-p<br />
85 + anos 3 978 6<strong>16</strong> (15,5%) 1,36 (1,15-1,62)
GH Iniciativa APAH<br />
Abertas<br />
candidaturas<br />
para o<br />
Prémio Healthcare<br />
Excellence<br />
<strong>2019</strong><br />
Tendo como objetivo distinguir a excelência na gestão de unidades de saúde, reconhecendo as boas<br />
práticas no domínio da melhoria do serviço aos utentes, promovendo a sua partilha e incentivando<br />
a sua consolidação, a Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH), em parceria<br />
com a biofarmacêutica AbbVie, promovem em <strong>2019</strong> a 6.ª edição do Prémio Healthcare Excellence.<br />
Podem candidatar-se ao Prémio Healthcare Excellence equipas de profissionais de saúde, que integrem<br />
administradores hospitalares e gestores de unidades de saúde, públicas e privadas, cujos projetos<br />
desenvolvidos tenham sido implementados no ano de 2018 e que tenham resultado numa melhoria<br />
da segurança, do acesso, da eficiência, da participação e/ou dos resultados de saúde obtidos.<br />
As candidaturas ao Prémio Healthcare Excellence, edição <strong>2019</strong>, estão abertas de 1 de maio a 30 de junho<br />
de <strong>2019</strong>, sendo formalizadas mediante a apresentação de uma descrição resumida do projeto, que<br />
permita compreender e evidenciar o seu contributo, submetida online para o email secretariado@apah.pt.<br />
As candidaturas ao Prémio Healthcare Excellence serão avaliadas por um júri independente que integra<br />
4 profissionais de reconhecido mérito na área da saúde, a quem caberá a seleção dos melhores projetos.<br />
Os projetos selecionados serão apresentados e defendidos pelos autores em Sessão Pública a realizar<br />
no próximo dia 18 de outubro em Braga. No decurso desta sessão será eleito pelo júri o vencedor<br />
da edição <strong>2019</strong> do Prémio Healthcare Excellence, sendo-lhe atribuído um Prémio no valor de 5.000 euros.<br />
O Regulamento do Prémio Healthcare Excellence está disponível no site da APAH em www.apah.pt.<br />
42<br />
43
GH programa eras<br />
Avaliação Clínica<br />
e Económica<br />
do Programa ERAS<br />
para a cirurgia<br />
colorretal<br />
Figura 1: Tempo de internamento.<br />
Francisco Mota<br />
Direção Executiva | Diretor de Operações<br />
do Hospital Beatriz Ângelo<br />
Paulo Costa<br />
Diretor do Centro de <strong>Gestão</strong><br />
do Hospital Beatriz Ângelo<br />
O<br />
Hospital Beatriz Ângelo (HBA) iniciou<br />
o Programa ERAS (Enhanced<br />
Recovery After Surgery) em 20<strong>16</strong>,<br />
tendo, a partir do início de 2017,<br />
sido reconhecido como Centro de<br />
Excelência ERAS, o que lhe permite ser o único hospital<br />
no País com capacidade formativa para a implementação<br />
deste programa nas unidades hospitalares<br />
em Portugal.<br />
Os resultados alcançados com a implementação do<br />
Programa permitem defender de uma forma clara os<br />
benefícios da sua introdução nas práticas clínicas, promovendo<br />
a multidisciplinaridade no tratamento da<br />
patologia do doente e colocando este, claramente,<br />
no centro das preocupações dos profissionais envolvidos<br />
e da organização da prestação dos cuidados.<br />
Como se iniciou o processo<br />
O Hospital Beatriz Ângelo tem feito, desde o início,<br />
uma aposta forte em modelos e práticas de melhoria<br />
contínua, nomeadamente com vista à obtenção dos<br />
melhores resultados clínicos com a maior redução<br />
possível de desperdício. Tendo reunido informação<br />
suficiente sobre o programa ERAS (Enhanced Recovery<br />
After Surgery), e tendo em conta os estudos que o<br />
indicavam como potenciador de uma efetiva melhoria,<br />
quer do ponto de vista clínico, quer de custos envolvidos,<br />
foi decidido avançar com a sua implementação.<br />
Assim, o programa foi dado a conhecer à administração<br />
do Hospital, de quem se obteve a permissão para<br />
iniciar o projeto no HBA.<br />
Na prática, o objetivo principal do Programa de Implementação<br />
ERAS é a melhoria dos resultados dos<br />
doentes cirúrgicos, numa lógica multidisciplinar, colocando<br />
o doente no centro de todas as decisões, pelo<br />
que se obteve rápida e facilmente o apoio e adesão<br />
dos profissionais clínicos para esta nova realidade.<br />
Adicionalmente, foram definidos os objetivos clínicos<br />
a cumprir, nomeadamente, diminuir a taxa de complicações<br />
cirúrgicas relevantes, principalmente as que<br />
mais afetam a qualidade de vida dos pacientes, reduzir<br />
o tempo médio de permanência no hospital e promover<br />
uma recuperação mais rápida e saudável, para<br />
permitir os cuidados pós-operatórios (quimioterapia<br />
ou radioterapia, se aplicável) de forma mais célere.<br />
Tudo isto, dentro de uma ótica de melhoria de circuitos<br />
e em que, financeiramente, todas as alterações<br />
aos processos fossem sustentáveis.<br />
Além da elaboração de novos protocolos e de clinical<br />
pathways específicas, envolvendo médicos anestesistas,<br />
cirurgiões, intensivistas e fisiatras, enfermeiros,<br />
técnicos de nutrição, de medicina física e reabilitação<br />
e elementos da gestão, entre outros, foi necessária<br />
uma alteração dos circuitos dos doentes no Hospital,<br />
nomeadamente com a criação do “Dia ERAS” - que<br />
permite aos doentes, num único dia, realizar todos<br />
os exames e consultas pré-operatórias - para garantir<br />
a otimização do seu estado clínico antes da cirurgia.<br />
Numa primeira fase, o HBA começou a implantar o<br />
programa ERAS nos pacientes com cancro colorretal<br />
submetidos à cirurgia eletiva. Atualmente, o programa<br />
encontra-se em aplicação nas cirurgias do pâncreas,<br />
estômago e urológicas.<br />
Análise de resultados<br />
Para a análise dos resultados clínicos e financeiros, de<br />
forma a provar os benefícios da implementação do<br />
Programa no HBA, foram comparados dois grupos<br />
de doentes: um grupo de doentes operados antes<br />
da implementação do Programa ERAS (67 doentes<br />
consecutivos) e outro com cirurgia após a sua plena<br />
implementação no Hospital (137 doentes).<br />
Todos os dados foram obtidos através do ERAS Audit<br />
Interactive System - um poderoso banco de dados<br />
fornecido e desenvolvido pela organização que inicialmente<br />
promove o ERAS (Encare) - e através de uma<br />
análise estatística. }<br />
“<br />
O OBJETIVO PRINCIPAL<br />
DO PROGRAMA DE<br />
IMPLEMENTAÇÃO ERAS<br />
É A MELHORIA DOS<br />
RESULTADOS DOS DOENTES<br />
CIRÚRGICOS, NUMA LÓGICA<br />
MULTIDISCIPLINAR,<br />
COLOCANDO O DOENTE<br />
NO CENTRO DE TODAS<br />
AS DECISÕES.<br />
”<br />
44 45
GH programa eras<br />
GH Iniciativa APAH<br />
Figura 2: Complicações mais frequentes.<br />
Figura 3: Indicadores clínicos.<br />
Em relação aos desfechos clínicos, observou-se uma<br />
diminuição nas complicações médicas e cirúrgicas<br />
graves (de 20,9% no primeiro grupo para 15,1% no<br />
segundo) e uma forte queda na mortalidade (de 7,5%<br />
para 0,7%). Também as reintervenções cirúrgicas reduziram<br />
de 19,4% para 15,1%.<br />
Além destes resultados clínicos muito favoráveis, verificou-se<br />
também a diminuição no número de dias<br />
de internamento hospitalar: (i) mediana de dias de<br />
internamento de 14,6 dias para 6,4 dias e (ii) média<br />
de dias de internamento de 7 para 5 dias.<br />
Financeiramente, e no que diz respeito a todos os custos<br />
relativos à implementação do ERAS (que incluiram<br />
formação, recursos humanos e novos consumíveis),<br />
bem como o efeito da redução das complicações e do<br />
tempo de permanência dos doentes no internamento,<br />
o resultado positivo foi superior a 42.000 €, apenas<br />
durante o ano 2017. Neste resultado, estão ainda incluídos<br />
os custos com a formação para a obtenção do<br />
Centro de Excelência do Programa ERAS, entretanto<br />
reconhecido para o HBA pela organização internacional<br />
e que teve, igualmente, custos associados. De facto,<br />
os resultados alcançados devido ao Programa de<br />
Implementação ERAS na cirurgia colorretal na HBA<br />
são totalmente compatíveis com uma melhoria significativa<br />
em relação à segurança do paciente e à qualidade<br />
dos serviços prestados, tendo também um grande<br />
benefício financeiro, pois por cada 1€ gasto gerou-se<br />
mais de 2,1€ resultados positivos.<br />
Conclusão<br />
O investimento realizado na aquisição do Programa,<br />
a formação dos membros da equipa e o tempo dedicado<br />
mostraram um retorno relevante e rápido, não<br />
só pela diminuição do tempo médio de internamento,<br />
como, e mais importante, pela melhoria dos resultados<br />
clínicos alcançados, de que se salientam a redução<br />
das complicações major e da taxa de mortalidade. Ã<br />
Tenha acesso gratuito a vídeos, cursos e webinars de<br />
excelência na área da gestão de serviços de saúde<br />
Subscreva já<br />
46<br />
47
GH estudo<br />
Qual o impacto<br />
dos níveis crescentes<br />
de gravidade clínica<br />
das quedas no estado<br />
de saúde dos idosos<br />
Bruno Venâncio<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />
do Porto (CHUP)<br />
Margarida Filipe<br />
Unidade Local de Saúde<br />
de Matosinhos (ULSM)<br />
Relevância da problemática em análise<br />
As quedas constituem um problema<br />
importante na vida dos idosos e embora,<br />
na maioria das vezes, este seja um<br />
incidente evitável, a incidência anual de<br />
quedas na comunidade é aproximadamente de 37%<br />
(Moniz-Pereira, V. et al., 2012; Silva, 2013). Observou-<br />
-se ainda que 14,4% das quedas em idosos, resultavam<br />
numa fratura com necessidade de hospitalização. Há no<br />
entanto, em âmbito nacional, publicações que relatam<br />
valores numa ordem de grandeza muito superior, nomeadamente,<br />
em 21,8% e em 23,9% (Moniz-Pereira,<br />
V. et al., 2012, Palma, 2012; Silva, 2013). Em contraste, o<br />
contexto internacional regista um valor significativamente<br />
inferior, correspondente aos 5% (Rubenstein, 2006).<br />
As fraturas, mas também outras lesões que resultam das<br />
quedas, apresentam um impacto negativo na qualidade<br />
de vida relacionada com a saúde (QVRS). A título de<br />
exemplo, a literatura científica descreveu que um ano<br />
após a fratura, a QVRS não retornou ao nível prévio,<br />
sendo ainda significativamente inferior. Verificou-se que<br />
as diferenças entre o fim do primeiro mês após a alta<br />
clínica e as sucessivas medições que decorreram em alguns<br />
casos até aos três anos, não foram estatisticamente<br />
significativas. Concluindo-se que é no primeiro mês de<br />
convalescença que decorrem a maioria dos ganhos em<br />
termos da QVRS (Abimanyi-Ochom, J. et al., 2015; Tarride,<br />
J-E. et al., 20<strong>16</strong>).<br />
A deterioração da qualidade de vida, aparentemente irreversível<br />
das fraturas por queda, resultam de handicaps<br />
adquiridos. A título de exemplo, um estudo demonstrou<br />
que, em idosos com fraturas, há uma perda de funcionalidade<br />
estimada entre os 20 e os 25%, constituindo<br />
este último, um importante fator de risco para o desenvolvimento<br />
de dependência de terceiros no exercício<br />
das atividades de vida diária (AVD). No que concerne<br />
à capacidade de marcha sem auxílio, o mesmo estudo<br />
concluiu que houve uma redução estimada dos 59<br />
para os 26% e uma parte significativa dos doentes expressavam<br />
frequentemente dor. Contudo, importa ainda<br />
enfatizar a acentuada mortalidade associada, como<br />
por exemplo, nas fraturas da extremidade proximal do<br />
fémur em que no primeiro ano atinge os 33,1 % (Rosell,<br />
E. & Parker, J., 2003).<br />
A mensuração da QVRS em idosos, com lesões traumáticas<br />
por quedas, permite a determinação posterior<br />
dos anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs),<br />
perdidos em resultado desta condição. A perda estimada<br />
é quantificável e superior no género feminino, sendo<br />
também sensível à localização anatómica da fratura.<br />
(Hernlund, L. et al., 2013). Embora possa ser espectável<br />
que a maioria dos QALYs perdidos por quedas seja resultante<br />
das fraturas, um estudo num grupo de mulheres<br />
idosas evidenciou que a perda anual de QALYs por<br />
lesões traumáticas de gravidade clínica inferior foi de 30<br />
QALYs. Apesar de ser comparativamente inferior aos<br />
62 QALYs perdidos devido às fraturas, é igualmente<br />
significativo (Iglesias, P., Manca, A. & Torgerson, J., 2009).<br />
Objetivos<br />
A investigação apresentou como principais objetivos a<br />
descrição e o estudo da relação entre os antecedentes<br />
clínicos das quedas em idosos e a qualidade de vida relacionada<br />
com a saúde (QVRS). Atendendo ao supracitado,<br />
foram definidos os seguintes objetivos específicos:<br />
I) classificar as lesões por quedas de acordo com a<br />
proposta da National Database of Nursing Quality Indicators<br />
(NDNQI ® ) - fall injury level e II) determinar a desutilidade<br />
associada a cada uma das categorias qualitativas<br />
previstas pela NDNQI ® - fall injury level.<br />
Metodologia<br />
Os dados foram recolhidos entre o período de 1 de outubro<br />
a 27 de novembro de 2017 em utentes do Agrupamento<br />
de Centros de Saúde da ULS de Matosinhos.<br />
Estes últimos receberam entrevistas no contexto domiciliário<br />
e/ou nas unidades de saúde. Em cada uma das<br />
mesmas foi identificado: a idade e o género, os antecedentes<br />
de quedas caracterizados por lesão, resultantes<br />
das quedas em categorias e, em caso de fratura, também<br />
pela localização anatómica. Em alguns casos, na ótica<br />
dos enfermeiros, foram entrevistados os cuidadores informais,<br />
sempre que do ponto de vista clínico, estes fossem<br />
o cuidador de referência e o doente se encontrasse<br />
impossibilitado de responder. Em cada entrevista foi<br />
aplicado o EQ-5D-3L para a mensuração da utilidade<br />
do estado de saúde, ou seja, da QVRS. Explicitamos que,<br />
do questionário aplicado, as respostas ao instrumento<br />
EQ-5D-3L foram transcritas e traduzidas numa combinação<br />
numérica, correspondendo aos estados de saúde<br />
previstos pelo próprio instrumento e posteriormente<br />
identificando o valor de utilidade que se encontra associado<br />
(Ferreira, L., Ferreira, N. & Pereira, N., 2013; Ferreira,<br />
N., et al., 2014; Ferreira, N., et al., 2014). O estudo<br />
foi autorizado pela comissão de ética da ULSM e foram<br />
incluídos os utentes que forneceram o consentimento<br />
Quedas N Utilidade P-value *<br />
(frequência<br />
absoluta)<br />
Dois ou mais 91 0,435±0,280 0,0000<br />
Um 109 0,622±0,253 0,0085<br />
Zero 477 0,678±0,289 -<br />
*As diferenças na utilidade são calculadas face aos indivíduos sem quedas.<br />
Teste U-Mann Whitney<br />
Tabela 1: Utilidade média dos estados de saúde em função da frequência de quedas no último ano.<br />
informado, livre e esclarecido. A amostra contém 677<br />
indivíduos com média de idades aproximada a 74,45±<br />
6,74 anos, sendo que 54,21% são do género feminino.<br />
A análise é efetuada através do modelo de regressão linear<br />
múltipla com o uso do método dos mínimos quadrados<br />
e é considerada a utilidade do estado de saúde como<br />
variável dependente. O tratamento dos dados decorre<br />
com aplicação do software Eviews versão 9.0.<br />
Hipótese do estudo<br />
H 1<br />
: Os idosos com histórico de quedas, independentemente<br />
da gravidade clínica da lesão, apresentam uma<br />
qualidade de vida relacionada com a saúde, comparativamente<br />
inferior face aos demais?<br />
H 2<br />
: A classificação das lesões por quedas, em categorias<br />
qualitativas crescentes de gravidade clínica, são consistentes<br />
com a decrescente utilidade do estado de saúde<br />
dos idosos?<br />
Análise e discussão de resultados<br />
A população idosa em Matosinhos apresentou uma<br />
QVRS num valor médio de utilidade de 0,636 e uma<br />
incidência comunitária de quedas de 29,55%, em que,<br />
aproximadamente, 45,5% ostentou duas ou mais quedas.<br />
A avaliação do resultado demonstra uma deterioração<br />
significativa da utilidade (U=0,636), face ao expoente<br />
máximo possível (U=1). Recorde-se que, em cada<br />
estado de saúde, é possível associar um valor de utilidade,<br />
até ao limite de 1 e, quando este é correspondente<br />
a esse valor, significa que o indivíduo apresenta uma saúde<br />
perfeita. Em oposição, o apoderamento de um valor<br />
de utilidade zero, descreve a morte. Apesar do referido,<br />
é ainda admissível valores de utilidade negativa,<br />
como se verificou no presente estudo, em que 2,06 %<br />
dos indivíduos evidenciaram um estado de saúde pior do<br />
que a morte.<br />
Surgem inúmeras hipóteses explicativas para a desutilidade<br />
observada, das quais as quedas e algumas das doenças<br />
crónicas fazem parte. No entanto, a título de<br />
exemplo, a consciencialização de uma doença crónica<br />
não implica a perceção de limitações na qualidade de vi-}<br />
48 49
GH estudo<br />
da relacionada com a saúde, o que, sendo verdade, não<br />
justificará uma deterioração da mesma.<br />
Em contraposição, a análise estatística descritiva, evidenciou<br />
uma relação entre o historial de quedas e a qualidade<br />
de vida relacionada com a saúde. O quadro n.<strong>º</strong>1<br />
é ilustrativo, em parte, dessa constatação. Confirmará<br />
que, face ao incremento da frequência anual de quedas,<br />
os indivíduos demonstravam uma diminuição da utilidade,<br />
significando que os idosos com quedas passadas<br />
possuíam um pior estado de saúde, aquando da aplicação<br />
do instrumento EQ-5D-3L. Os achados científicos<br />
são, em todo o caso, consonantes com o expectável, dado<br />
que as consequências das quedas resultaria num pior estado<br />
de saúde. As lesões por quedas foram agrupadas em<br />
categorias qualitativas estratificadas pela gravidade clínica,<br />
apresentando-se no quadro n.<strong>º</strong> 2 o sistema de classificação<br />
proposto e a definição de cada categoria.<br />
O sistema apresentado tem por base uma adaptação<br />
das definições e respetivos indicadores, desenvolvido<br />
pela American Nurse Association (ANA) ao nível da<br />
NDNQI ® fall injury level (Garrard, L., et al., 2014). Entenda-se<br />
que a sua aplicação serve com o propósito<br />
de testar a veracidade da hipótese de investigação número<br />
dois.<br />
Tipo<br />
de lesão<br />
Sem lesão<br />
Lesão minor<br />
Lesão<br />
moderada<br />
Lesão major<br />
Definição<br />
Sem sinais ou sintomas resultantes da queda.<br />
Ausência de lesões confirmada através<br />
de exames imagiológicos e/ou a anamnese<br />
e exame físico.<br />
Apresenta necessidade da aplicação de um<br />
tratamento de ferida, crioterapia, medicação<br />
tópica, contusões ou abrasão.<br />
Resulta numa ferida que requer normalmente<br />
sutura e/ou aplicação de steristrip.<br />
Resulta em fratura com necessidade de<br />
internamento ou outro tipo de lesão com<br />
necessidade de intervenção cirúrgica e/<br />
/ou internamento, como exemplo, lesões<br />
internas ou necessidade de transfusão em<br />
doente anticoagulados.<br />
Tabela 2: Sistema de classificação de lesões por quedas.<br />
A classificação de lesões por quedas, em categorias<br />
qualitativas reúne, em cada uma das mesmas, condições<br />
clínicas heterogéneas. Sendo expectável um impacto<br />
em saúde, tanto como um potencial consumo<br />
de serviços de saúde, relativamente semelhante entre<br />
as diversas condições clínicas da mesma categoria.<br />
A literatura demonstra que as quedas conduzem à deterioração<br />
da QVRS, no entanto, não descura de que<br />
a mesma resulta, na globalidade, de uma pluralidade de<br />
fatores. Assente nessa premissa, procedeu-se à construção<br />
de um modelo de regressão linear múltiplo (MR-<br />
LM). Encontrando-se o mesmo representado abaixo:<br />
U=β0+β 1<br />
FEM+β 2<br />
SEM.LESAO+β 3<br />
MINOR+β 4<br />
MO-<br />
DERADA+β MAJOR 5<br />
+μ<br />
Equação 1: Modelo de regressão linear múltiplo.<br />
Ao testarmos o pressuposto da normalidade dos resíduos,<br />
obteve-se um Jarque-bera com p-value=0,000000,<br />
rejeitando-se a hipótese de normalidade. Apesar de existirem<br />
diversos estudos que a rejeitam, por resíduos de<br />
valores extremos, em amostras suficientemente grandes,<br />
como é o caso da amostra do nosso estudo (n=677), a<br />
violação do pressuposto de normalidade dos erros é virtualmente<br />
inconsequente. Uma vez que, de acordo com<br />
o teorema do limite central, a estatística do teste irá assintoticamente<br />
seguir uma distribuição adequada (Brooks,<br />
C., 2008). Na inferência estatística aplicamos os estimadores<br />
eficientes de Newey-West para a presença<br />
de autocorrelação e heterocedasticidade.<br />
A variável queda sem lesão traumática não apresentou<br />
significância estatística individual, no entanto, a regres-<br />
Variável Coeficiente Desvio Prob.<br />
padrão<br />
FEM (β1) -0,138920 0,0231<strong>16</strong> 0,0000<br />
SEM.LESÃO -0,029702 0,046596 0,5241<br />
(β2)<br />
LESÃO -0,112090 0,026670 0,0001<br />
MINOR (β3)<br />
LESÃO -0,<strong>16</strong>4959 0,045502 0,0003<br />
MODERADA<br />
(β4)<br />
LESÃO -0,254408 0,075643 0,0008<br />
MAJOR (β5)<br />
CONSTANTE<br />
(β0)<br />
0,744953 0,0<strong>16</strong>428 0,0000<br />
Tabela 3: Valores estimados do MRLM.<br />
R 2 = 0,117671<br />
R 2 - ajustado = 0,111096<br />
Prob (F-estatístico) = 0,000000<br />
são é globalmente significativa. Os coeficientes mostram<br />
um sinal negativo como seria expectado, apresentando-<br />
-se valores de ordem de grandeza superior em coeficientes<br />
em que a categoria qualitativa exibe uma maior gravidade<br />
clínica. Na análise dos resultados constatou-se que<br />
os idosos do género feminino, sem historial de queda,<br />
apresentam uma QVRS comparativamente inferior aos<br />
do sexo oposto (0,606 vs 0,745). Denote que a catego-<br />
ria omitida são os indivíduos sem quedas, significando,<br />
a título de exemplo, que β3 traduz a diferença entre a<br />
utilidade do estado de saúde de um idoso com queda e<br />
lesão minor e um sem quedas. Por outras palavras, infere-se<br />
que os idosos com queda e lesão minor apresentam<br />
um valor de utilidade aproximadamente inferior em<br />
0,112 face aos indivíduos sem quedas, coeterius paribus,<br />
interpretando-se esta diferença como de desutilidade.<br />
Aplica-se o mesmo raciocínio para todos os restantes<br />
coeficientes da regressão.<br />
O sistema de classificação não só conseguiu agrupar uma<br />
variabilidade de estados clínicos heterogéneos com impacto<br />
em saúde semelhantes, como evidenciou de forma<br />
consistente a diminuição da utilidade em inversa relação<br />
com o incremento da gravidade clínica das lesões resultantes<br />
de queda no último ano.<br />
Os resultados demonstraram concordância com as principais<br />
deduções teóricas, em que os idosos com quedas<br />
evidenciam uma pior qualidade de vida relacionada com<br />
a saúde (Iglesias, P., Manca, A. & Torgerson, J., 2009; Abi-<br />
-manyi-Ochom, J. et al., 2015; Tarride, J-E. et al., 20<strong>16</strong>).<br />
No entanto, observamos que o valor de desutilidade estimados<br />
para lesões traumáticas de gravidade clínica inferior<br />
face às fraturas são estatisticamente significativos<br />
e acompanham valores de incidência mais acentuados,<br />
o que pode representar uma perda estimada muito<br />
mais relevante (vide tabela n.<strong>º</strong> 4).<br />
Categoria Incidência Desutilidade/<br />
/indivíduo<br />
Sem lesão 7,68 % ≈ 0,030*<br />
Lesão minor 13,44 % ≈ 0,112<br />
Lesão moderada 5,76 % ≈ 0,<strong>16</strong>5<br />
Lesão major 2,66% ≈ 0,254<br />
*Não apresenta significância estatística individual<br />
Tabela 4: Resumo das incidências e desutilidades por categoria das lesões por quedas.<br />
Conclusão<br />
A utilização, em instituições de saúde, de um número<br />
de indicadores afecto às categorias qualitativas, pré-definidas<br />
no estudo, reflete a variabilidade do impacto em<br />
saúde dos diferentes desfechos clínicos traumáticos das<br />
quedas. Numa outra perspetiva, a sua aplicação, em detrimento<br />
das atuais medidas de resultado, como por<br />
exemplo, o “número de quedas” e/ou “número de<br />
quedas com lesão”, permite a estandardização e uniformização<br />
dos registos clínicos. Proporcionando assim<br />
dados para a tomada de decisão sobre os programas<br />
e tecnologias de prevenção de quedas que oferecem o<br />
melhor rácio custo-efetividade incremental. Ã<br />
“<br />
AS LESÕES POR QUEDAS<br />
FORAM AGRUPADAS EM<br />
CATEGORIAS QUALITATIVAS<br />
ESTRATIFICADAS PELA<br />
GRAVIDADE CLÍNICA.<br />
”<br />
Abimanyi-Ochom, J., Watts, J. J., Borgström, F., Nicholson, G. C., Shore-Lorenti,<br />
C., Stuart, A. L., … others. (2015). Changes in quality of life associated<br />
with fragility fractures: Australian arm of the International Cost and Utility<br />
Related to Osteoporotic Fractures Study (AusICUROS). Osteoporosis International,<br />
26(6), 1781–1790.<br />
Brooks, C. (2008), “Introductory econometrics for finance”,2ª ed., Cambridge:<br />
Cambridge University Press.<br />
Ferreira, L. N., Ferreira, P. L., Pereira, L. N., & Oppe, M. (2014). EQ-5D Portuguese<br />
population norms. Quality of Life Research, 23(2), 425–430.<br />
Ferreira, L. N., Ferreira, P. L., Pereira, L. N., & Oppe, M. (2014). The valuation<br />
of the EQ-5D in Portugal. Quality of Life Research, 23(2), 413–423. Retrieved<br />
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50 51
GH Reflexões de direito biomédico<br />
Procriação Medicamente<br />
Assistida: a gravitas<br />
da jurisprudência<br />
Rafael Vale e Reis<br />
Docente da Faculdade de Direito<br />
da Universidade de Coimbra<br />
Investigador do Centro de Direito Biomédico<br />
O<br />
Tribunal Constitucional (TC) português,<br />
por intermédio do Acórdão<br />
n.<strong>º</strong> 225/2018, de 24 de abril, provocou<br />
importantes alterações em dois<br />
aspetos do regime da procriação<br />
medicamente assistida: o da gestação de substituição e<br />
o do anonimato dos dadores de gâmetas.<br />
Abordarei, neste texto, apenas o tema da gestação de<br />
substituição.<br />
Depois de, em 20<strong>16</strong>, terem sido introduzidas alterações<br />
à lei que passaram a permitir gestação de substituição, em<br />
casos excepcionais e altruístas, entendeu o TC declarar<br />
o regime inconstitucional, com fundamento, entre outras<br />
razões, na não consagração legal de um adequado regime<br />
de enquadramento do eventual arrependimento da<br />
mãe portadora após o nascimento. Neste ponto, a legislação<br />
especial sobre a gestação de substituição estava em<br />
contradição com um princípio basilar da livre revogabilidade<br />
das restrições voluntárias aos direitos de personalidade,<br />
que o Código Civil garante há décadas. Com as<br />
regras reprovadas pelo TC, o casal beneficiário, após o<br />
nascimento, poderia, ainda que à força (utilizando a via<br />
judicial), arrancar dos braços da mãe portadora a criança<br />
acabada de nascer, como se esta fosse propriedade sua<br />
e aquela uma criminosa, portanto, em autêntica execução<br />
específica.<br />
Como já escrevi noutros artigos de opinião, pode parecer<br />
estranha a defesa deste “direito ao arrependimen-<br />
to”. Porém, a verdade é que há ordenamentos jurídicos,<br />
como o do Reino Unido, onde a figura é regulada desde<br />
a década de oitenta do século XX, em que os membros<br />
do casal beneficiário sabem que não podem dar por<br />
garantida a entrega da criança, tendo necessariamente,<br />
que pedir ao Tribunal uma ratificação retrospetiva do<br />
procedimento, que apenas é concedida nos casos em<br />
que a criança já lhes tenha sido entregue (assim se assegurando<br />
não ter havido arrependimento da portadora).<br />
Estas cautelas resultam da concessão à experiência da<br />
vida: o arrependimento da gestante acontece mais vezes<br />
do que se desejaria e, pelo menos na perspetiva de<br />
quem pensou muito mais do que nós sobre o assunto,<br />
é tão grave retirar à força a criança da mãe gestante,<br />
quanto frustrar as expectativas do casal beneficiário. Assim,<br />
mais vale avisar os destinatários que a gestação de<br />
substituição é arriscada para (todos) os envolvidos. Com<br />
este regime, a gestante também sabe que pode ter de<br />
ficar com a criança gerada, quando não contava com isso.<br />
Pense-se, por exemplo, nos casos em que os membros<br />
do casal beneficiário não estão em condições de<br />
a receber, simplesmente porque, desafortunadamente,<br />
morreram antes de o parto ocorrer...<br />
No caso português, cabe agora à Assembleia da República<br />
corrigir a Lei, expurgando-a das inconstitucionalidades<br />
declaradas pelo TC. É importante que o faça com<br />
a máxima brevidade, pois a consagração de um adequado<br />
modelo legal de gestação de substituição permitirá dar<br />
uma resposta (ainda que meramente excepcional) a casos<br />
de infertilidade grave e sociologicamente complexos.<br />
O processo legislativo já em curso mostra que podem<br />
merecer aprovação propostas que se limitem a conceder<br />
um prazo de alguns dias após o parto para a gestante<br />
revogar o seu consentimento. Não me parece ser um<br />
bom caminho! Exige-se aos Deputados, que já conhecem<br />
a posição do TC, a adoção de soluções que se traduzam<br />
numa concreta e efetiva proteção da gestante, e<br />
não constituam apenas retóricas positivistas e cosméticas<br />
legais, que signifiquem, na prática, uma confirmação<br />
do regime que o TC sentiu necessidade de afastar. Ã<br />
52
GH Espaço ENSP<br />
W COD: Programa de Workshops<br />
de Codificação Clínica<br />
Rui Santana<br />
Subdiretor Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
Acodificação clínica é atualmente<br />
uma peça chave do sistema de saúde<br />
em Portugal. Desde a sua introdução<br />
em 1983, a sua utilização<br />
tem vindo a disseminar-se, sendo<br />
utilizada transversalmente nos mais diversos contextos<br />
(público/privado, organismos centrais prestadores,<br />
hospitais/outros níveis de cuidados). Além disso, a introdução<br />
da ICD-10-CM/PCS em 20<strong>16</strong>, dadas as diferenças<br />
assinaláveis face à versão anterior, trouxe consigo<br />
a necessidade de atualização dos conhecimentos.<br />
A atividade de codificação rege-se por um conjunto<br />
de normas e orientações, específicas e em constante<br />
atualização. Específicas, porque a diferenciação e a<br />
complexidade de cada área de prestação de cuidados<br />
assim o exigem. Em constante atualização, porque<br />
são revistas anualmente, não só para colmatar as insuficiências<br />
detetadas numa classificação em constante<br />
melhoria, mas também para acompanhar as inovações<br />
no diagnóstico e na prática clínica que necessitam<br />
de uma tradução no seio da classificação. Por<br />
estas razões, é importante que a formação inicial seja<br />
complementada com uma formação em temas específicos<br />
ajustados ao percurso e interesses de cada<br />
codificador e com a sua atualização.<br />
Do ponto de vista do sistema de saúde, é importante<br />
dispor de uma codificação válida e fiável, suportada<br />
numa formação adequada. E é igualmente importante<br />
que os utilizadores da informação gerada pela codificação<br />
estejam capacitados para a usar de forma a<br />
maximizar todas as suas potencialidades. Os recur-<br />
Sílvia Lopes<br />
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
sos do sistema de saúde são limitados, pelo que o<br />
investimento em recursos humanos e materiais para<br />
a recolha destes dados é demasiado expressivo para<br />
se circunscrever apenas ao âmbito (importante, mas<br />
limitado) do financiamento hospitalar. A capacitação<br />
dos utilizadores desta informação, habilitando-os para<br />
a sua compreensão e discussão, cria também condições<br />
para a melhoria da mesma. E, nos utilizadores,<br />
incluímos naturalmente as “fontes primárias” da informação,<br />
ie, todos aqueles que registam no processo clínico<br />
os elementos que depois vêm a ser codificados.<br />
Neste contexto, a Escola Nacional de Saúde Pública<br />
(ENSP-NOVA) e a Administração Central do Sistema<br />
de Saúde (ACSS) criaram em conjunto o W-COD |<br />
Programa de Workshops de Codificação Clínica, com<br />
vista a aprofundar e atualizar os conhecimentos dos<br />
seus participantes acerca dos métodos e implicações<br />
da codificação segundo a ICD-10-CM/PCS.<br />
O primeiro workshop daquela iniciativa, intitulado “Utilização<br />
da codificação clínica na gestão em saúde”, realizou-se<br />
nos passados dias 15 e <strong>16</strong> de Novembro na<br />
ENSP-NOVA. Este workshop visou dotar os participantes<br />
dos conhecimentos teóricos e práticos sobre<br />
a utilização da codificação clínica para a descrição da<br />
atividade hospitalar e construção de indicadores, bem<br />
como sobre a sua informação de suporte. Dessa forma,<br />
contribuiu para consolidar a utilização da codificação<br />
clínica como fundamento da tomada de decisão,<br />
bem como para a melhoria da sua informação de base,<br />
na perspetiva da gestão em saúde.<br />
Entre os conteúdos abordados naquele workshop, incluíram-se<br />
a importância da informação (registos administrativos<br />
e clínicos) e a estrutura da ICD-10-CM/<br />
PCS, abordando tanto os diagnósticos como os procedimentos.<br />
A versão mais recente dos Grupos de<br />
Diagnósticos Homogéneos (APR-DRG) foi também<br />
tratada, assim como a pertinência e apuramento de<br />
indicadores de desempenho: eventos adversos, internamentos<br />
por causas sensíveis a cuidados de ambulatório<br />
e mortalidade e demora média ajustados<br />
pelo risco. As auditorias à informação foram ainda<br />
um dos conteúdos versados no workshop, perspetivando<br />
a sua importância e os tipos de auditoria. O<br />
SIMH - sistema de informação dirigido aos médicos<br />
codificadores - e o seu papel para garantir uma codificação<br />
de qualidade, bem como o BIMH - sistema<br />
de informação dirigido à exploração e análise dos dados<br />
daí resultantes - são ferramentas disponibilizadas<br />
a nível nacional e que foram também apresentadas<br />
nesta formação. O modelo de ensino foi participativo<br />
e, nos vários temas incluídos, procurou-se dar resposta<br />
às questões práticas com que os participantes<br />
se defrontavam no seu dia-a-dia. A participação dos<br />
participantes culminou com a discussão de análises<br />
de gestão com dados da codificação clínica, com vista<br />
a consolidar os conteúdos do workshop e motivar<br />
os participantes a aumentar e diversificar as utilizações<br />
da codificação nas suas instituições. Foi uma discussão<br />
enriquecida pela diversidade dos percursos<br />
presentes, incluindo gestores de topo e intermédios,<br />
médicos com e sem formação em codificação, bem<br />
como investigadores.<br />
Para o futuro, no âmbito da parceria entre a ENSP-<br />
-NOVA e a ACSS temos já planeada uma nova<br />
edição do workshop “Utilização da codificação clínica<br />
na gestão em saúde”, revista e melhorada com<br />
os ensinamentos que colhemos na primeira edição.<br />
Contamos ainda alargar o leque de temas abordados<br />
nos workshops deste programa. Sempre tendo presente<br />
a necessidade de colocar a codificação como<br />
um meio para o sistema de saúde se aproximar do<br />
“triple aim”: menores custos, melhor experiência do<br />
doente e melhor saúde da população. Ã<br />
54 55
GH Iniciativa APAH<br />
APAH PROMOVE APRESENTAÇÃO<br />
SOBRE A UTILIZAÇÃO DE DADOS<br />
E INFORMAÇÃO NO SISTEMA<br />
NACIONAL DE SAÚDE<br />
• O futuro passa pela capacidade de processar e analisar<br />
dados com qualidade que contribuam para o<br />
diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças;<br />
• A formação é um ponto-chave e existem ainda lacunas<br />
na competência para a utilização de algumas<br />
ferramentas de gestão de informação;<br />
• Um mecanismo comum de comunicação entre os<br />
vários profissionais de saúde, onde se partilham experiências<br />
e soluções, pode contribuir para um SNS<br />
mais equitativo e eficiente.<br />
Todos estes fatores contribuem, segundo a APAH,<br />
para a necessidade premente de desenhar a estrutura<br />
de um BI para o SNS. Ã<br />
A<br />
Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu,<br />
no passado dia 12 de março<br />
de <strong>2019</strong>, a sessão pública “Contributos<br />
para a Implementação de<br />
um Business Intelligence no SNS”, iniciativa que contou<br />
com o apoio da Merck.<br />
O encontro revelou as principais conclusões de um<br />
White Paper desenvolvido pelo Grupo de Trabalho<br />
para a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde (GTGIS) da<br />
APAH, focado na tendência de aumento do volume<br />
de dados existentes nas organizações de saúde em<br />
Portugal, nos problemas que advêm da sua gestão<br />
ineficiente e nos contributos da implementação de<br />
um Business Intelligence (BI) no SNS.<br />
Na ocasião, Alexandre Lourenço, Presidente da<br />
APAH, afirmou que “É hoje inquestionável que as<br />
ferramentas de BI se posicionam como<br />
peças centrais no futuro dos cuidados<br />
de saúde, dado que será possível tratar<br />
ainda melhor os utentes, rentabilizando<br />
os recursos e melhorando os resultados<br />
em saúde. No então, é necessário<br />
equacionar os desafios inerentes à implementação<br />
de um BI, considerando a<br />
complexidade das organizações, a quantidade<br />
da informação a tratar, os diferentes<br />
níveis de decisores e as diferen-<br />
tes áreas que produzem e necessitam dessa informação.”<br />
A realidade nacional atual carateriza-se por dificuldades<br />
na extração de dados das múltiplas bases e<br />
sistemas disponíveis, a má qualidade e barreiras no<br />
acesso a dados, impossibilitando a realização de benchmarking<br />
entre as várias organizações. Teresa Magalhães,<br />
Coordenadora do GTGIS, salientou igualmente<br />
na sua intervenção que “a tecnologia atual<br />
das ferramentas de BI oferece hoje aos sistemas de<br />
saúde uma oportunidade de usar Big Data para efetivamente<br />
melhorar os aspetos clínicos e de prestação<br />
de cuidados. A implementação de um sistema<br />
de BI representa um grande passo na democratização<br />
da informação”.<br />
A participação de várias personalidades de destaque<br />
do setor da saúde nacional motivou um debate focado<br />
na visão dos diversos stakeholders sobre a utilização<br />
de dados e informação na saúde, e no acesso<br />
a esses dados na perspetiva dos utilizadores.<br />
Durante o evento foi ainda apresentado, por Afonso<br />
Pedrosa (GTGIS), o caso prático de um BI <strong>Hospitalar</strong>,<br />
o “HVITAL”, onde foram destacados os<br />
inúmeros benefícios deste sistema que se constitui<br />
como uma ferramenta de gestão hospitalar, criada<br />
no Centro <strong>Hospitalar</strong> de São João e que é reconhecida<br />
a nível nacional e internacional.<br />
De acordo com o presidente da APAH: “O setor<br />
da saúde está ainda muito atrasado em<br />
relação a outros setores da economia.<br />
Este trabalho é o primeiro passo para<br />
o longo caminho que temos diante de<br />
nós, na criação de sistemas de informação<br />
que nos permitam trabalhar, colaborar<br />
e gerir melhor todas as nossas<br />
interações na área de saúde, para bem<br />
de todos.”<br />
Como principais conclusões desta iniciativa<br />
destacam-se:<br />
Consultar o White Paper “Business Intelligence no SNS: principais desafios” em https://apah.pt/ebooks/<br />
Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Proteção das Equipas de <strong>Gestão</strong> e dos Gestores Intermédios<br />
A Abordagem<br />
Na Aon, consideramos o setor da saúde<br />
como estratégico, procurando centrar<br />
esforços na identificação de<br />
tendências, exposições e riscos e no<br />
desenvolvimento de soluções de<br />
transferência de risco específicas e<br />
adaptáveis à cultura de risco dos<br />
nossos clientes.<br />
Administradores e Gestores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es são, mais do que nunca,<br />
sensíveis às responsabilidades que<br />
enfrentam no exercício das suas<br />
funções (podendo culminar na afetação<br />
do seu próprio património) muito por via<br />
da elevada complexidade e possíveis<br />
impactos das suas decisões e ao<br />
elevado grau de escrutínio que terceiros<br />
(como entidades reguladoras)<br />
promovem junto do setor.<br />
É este contexto que estabelecemos, em<br />
parceria com a APAH, uma solução<br />
especificamente dedicada à proteção<br />
do património pessoal das equipas<br />
de gestão das unidades de prestação<br />
de cuidados de saúde.<br />
As Soluções<br />
BASIC<br />
Indemnizações: 50.000 euros<br />
Apoio jurídico: 25.000 euros<br />
Prémio anual: 294,30 euros<br />
PLUS<br />
Indemnizações: 100.000 euros<br />
Apoio jurídico: 50.000 euros<br />
Prémio anual (*): 436,00 euros<br />
PREMIUM<br />
Indemnizações: 250.000 euros<br />
Apoio jurídico: 75.000 euros<br />
Prémio anual (*): 654,00 euros<br />
(*) Opção de fracionamento semestral, com agravamento de 4%<br />
Proteções<br />
As indemnizações a pagar a Terceiros<br />
financeiramente lesados, pelos atos de<br />
gestão dos Administradores e Diretores,<br />
podem ser transferidos para a apólice,<br />
sem afetar o património do Segurado<br />
Permite o pagamento dos<br />
honorários de advogados incorridos<br />
na preparação da defesa do Segurado<br />
em reclamações (processos civis)<br />
apresentadas por Terceiros<br />
Permite o pagamento dos honorários de<br />
advogados incorridos na preparação da<br />
defesa do Segurado decorrente de em<br />
investigações (processos administrativos)<br />
iniciadas por entidades públicas (reguladores)<br />
Contatos<br />
secretariado@apah.pt<br />
56
GH Iniciativa APAH<br />
APAH APOSTA na<br />
PROFISSIONALIZAÇÃO<br />
da INVESTIGAÇÃO CLÍNICA<br />
nas UNIDADES de SAÚDE<br />
em PORTUGAL<br />
O<br />
Grupo de Trabalho para a Investigação<br />
em Saúde (GTIS) da APAH<br />
promoveu no passado dia 30 de<br />
janeiro de <strong>2019</strong> o Workshop de<br />
Sensibilização para a “Profissionalização<br />
da Investigação Clínica nas Unidades de Saúde<br />
em Portugal”, iniciativa que contou com o apoio da<br />
NOVA Medical School, da PtCRIN e da APIFARMA.<br />
O encontro que reuniu no INFARMED, em Lisboa,<br />
mais de 70 profissionais de saúde, incluindo membros<br />
de Conselhos de Administração, Diretores de<br />
Centros de Investigação Clínica (CIC), administradores<br />
hospitalares e gestores com funções na área de<br />
Investigação Clínica (IC) nos hospitais do Serviço Nacional<br />
de Saúde (SNS), teve como objetivos demonstrar<br />
que a aposta na IC é parte da estratégia para a<br />
excelência da prestação de cuidados, que acrescenta<br />
valor nos resultados em saúde, e que só há vantagens<br />
em profissionalizar esta área e em apostar em infraestruturas<br />
oleadas, com procedimentos instituídos,<br />
uniformizados e capacitadas. A profissionalização da<br />
IC deve, por isso, ser uma prioridade do SNS numa<br />
perspetiva de compromisso nacional com a Inovação.<br />
Neste Workshop de Sensibilização foram partilhadas<br />
experiências de diferentes organizações, nacionais<br />
(Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Central e 2CA-Braga) e internacionais<br />
(Fundación para la Investigación Biomédica<br />
del Hospital Clínico San Carlos em Madrid e Cliniques<br />
Universitaires Saint-Luc em Bruxelas), e apresentadas<br />
diferentes estratégias e soluções, todas com o mesmo<br />
objetivo: criar valor em saúde através da investigação<br />
associada aos cuidados de saúde. As apresentações<br />
realizadas no decurso deste Workshop estão<br />
disponíveis em vídeo no Canal APAH “<strong>Gestão</strong> em<br />
Saúde” no YouTube (https://apah.pt/iniciativas-projetos/canal-apah/).<br />
O Workshop de Sensibilização para a IC proporcionou<br />
uma discussão alargada em vários domínios, sendo<br />
de salientar alguns pontos comuns identificados<br />
nos diferentes exemplos apresentados:<br />
1 - Ficou patente que o investimento na organização<br />
de um CIC e a profissionalização destas estruturas é<br />
condição central para o seu sucesso;<br />
2 - Foi também demonstrado que a promoção da autonomia<br />
gestionária e financeira destes centros, bem<br />
como a multidisciplinaridade dos profissionais que<br />
a compõem, é fator chave para a sua consolidação,<br />
efetividade e sustentabilidade devendo existir um circuito<br />
financeiro de autofinanciamento da estrutura;<br />
3 - Identificou-se igualmente como racional comum<br />
entre os vários exemplos para o desenvolvimento<br />
e manutenção de um CIC competitivo a rapidez na<br />
aprovação dos estudos, a capacidade de recrutamento<br />
de doentes e a qualidade dos dados reportados.<br />
4 - Outro fator comum identificado foi a promoção de<br />
uma cultura de formação contínua em IC e uma dinâmica<br />
de comunicação interna e externa de resultados,<br />
ambas relevantes na capacidade de captação, motivação<br />
e retenção dos melhores profissionais de saúde.<br />
Como principais conclusões deste Workshop de Sensibilização<br />
regista-se:<br />
• A IC deve ser explicitamente uma prioridade estratégica<br />
das instituições de saúde com impacto na<br />
qualidade de cuidados de saúde, acesso à inovação e<br />
prestígio das Unidades de saúde;<br />
• A criação e desenvolvimento sustentado dos CIC<br />
requer uma política clara do Ministério da Saúde ao<br />
nível estratégico e de gestão de recursos humanos;<br />
• A melhoria da gestão operacional dos CIC exige uma<br />
dotação de recursos humanos profissionalizada e dedicada<br />
devendo assumir-se com uma prioridade das<br />
instituições;<br />
• A profissionalização dos CIC poderá ser um fator<br />
decisivo na retenção de profissionais de saúde qualificados,<br />
bem como na sua satisfação e motivação<br />
profissional;<br />
• A autonomia de gestão dos CIC é um fator considerado<br />
essencial para garantir um circuito financeiro<br />
de autofinanciamento e que permita uma agilidade<br />
dos procedimentos;<br />
• O aumento da literacia em Ensaios Clínicos é crucial<br />
para o desenvolvimento sustentado da IC e do<br />
conhecimento científico, sendo recomendável a sua<br />
inclusão na formação, quer a nível académico, quer a<br />
nível institucional, em todo o SNS;<br />
• O envolvimento dos Cuidados de Saúde Primários<br />
nos CIC é uma área pouco explorada que poderá ter<br />
grande impacto na captação de ensaios clínicos e na<br />
criação de valor para a população;<br />
• A partilha de experiências permitirá produzir um<br />
“Programa tipo” replicável e adaptável às várias unidades<br />
de saúde, abreviando o processo de criação e<br />
operacionalização dos CIC a nível nacional;<br />
• A criação e desenvolvimento sustentado dos CIC<br />
a nível nacional requer uma política top-down, com<br />
início no Ministério da Saúde e reflexo financeiro<br />
nos Contratos-Programa, mas a promoção da gestão<br />
operacional tem de ser bottom-up;<br />
• É desejável que os CIC, para além das Unidades de<br />
saúde englobem Universidades, Centros Académicos<br />
ou Centros/Laboratórios de Investigação Científica,<br />
permitindo uma atualização constante ao nível académico<br />
e científico das profissões da saúde, bem como<br />
um aumento da Literacia em IC. Neste domínio, a<br />
inclusão de parcerias a nível empresarial poderá também<br />
revestir-se de ganhos mútuos.<br />
Nesta linha de pensamento foi sugerido pelo Secre- }<br />
58
GH Iniciativa APAH<br />
MARCA A AGENDA<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (janeiro - março <strong>2019</strong>):<br />
tário de Estado Adjunto e da Saúde, Dr. Francisco<br />
Ramos, a constituição de um Consórcio Nacional de<br />
Investigação Clínica, colocando CIC nacionais em rede,<br />
numa perspetiva de coordenação de interesses<br />
comuns. Esta estrutura possibilitaria, ainda, o efeito de<br />
escala necessário à captação de alguns ensaios clínicos<br />
multicêntricos, tornando Portugal um único prestador<br />
de cuidados e recrutamento de doentes, quando<br />
esse interesse se coloca. A criação deste consórcio<br />
implicaria a associação dos vários hospitais para conhecer<br />
e decidir domínios de cooperação e domínios<br />
de competição.<br />
Ainda que a iniciativa de cada instituição seja crucial<br />
para a constituição e manutenção dos CIC, há consciência<br />
da necessidade de uma estratégia nacional que<br />
dê visibilidade ao país no domínio da investigação clínica<br />
e de translação, que permita a captação de investimento<br />
estrangeiro essencial para capacitar os nossos<br />
recursos humanos e fomentar a competitividade.<br />
Uma das últimas ações de incentivo à investigação<br />
nos hospitais foi a constituição da Agência de Investigação<br />
Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), pela<br />
tutela. A AICIB tem como missão a promoção dos<br />
Centros Académicos Clínicos (CAC) como estruturas<br />
autónomas, financiadoras de investigação, responsáveis<br />
e responsabilizadas. Através da promoção dos<br />
CAC, a tutela visa assim a promoção da investigação<br />
clínica e de translação em Portugal, na sequência de<br />
uma série de medidas desde 2014.<br />
Próximos passos<br />
A APAH através do seu GTIS tem desenvolvido a longo<br />
dos últimos 3 anos inúmeros esforços e ações para elevar<br />
a IC ao nível da prioridade e parte da estratégia de desenvolvimento<br />
e diferenciação dos hospitais do SNS.<br />
Dando continuidade a este contributo a APAH irá<br />
solicitar, na sequência deste Workshop, um parecer<br />
jurídico que vise esclarecer os limites de cada modelo<br />
de organização dos CIC - Consórcios ou Associações<br />
- ao nível da autonomia de fluxo financeiro<br />
em relação aos hospitais, a autonomia de contratação<br />
e a obrigatoriedade de cumprimento do Código de<br />
Contração Pública (CCP), na perspetiva de apresentar<br />
um modelo de organização claro e funcional, e<br />
não um subterfúgio às imposições atuais, quer do Ministério<br />
das Finanças, quer do CCP.<br />
O GTIS propõe-se igualmente dinamizar uma Task<br />
Force que terá como missão a elaboração e apresentação<br />
de uma proposta de posicionamento estratégico,<br />
modelo organizacional e orientações normativas<br />
e de regulamento funcional dos CIC dentro do SNS,<br />
que inclua também a proposta de fluxos financeiros e<br />
burocráticos, que melhor potencie a competitividade<br />
portuguesa nesta matéria, mas sobretudo que clarifique<br />
o caminho a seguir.<br />
A APAH apela ainda ao desenvolvimento de uma<br />
Agenda nacional para o desenvolvimento da IC no<br />
SNS, a par da necessária aposta das instituições, ao<br />
nível da sua gestão de topo e intermédias, na definição<br />
da IC como uma prioridade, indo ao encontro<br />
também das expectativas dos profissionais de saúde<br />
e dos utentes.<br />
Por fim e porque queremos apoiar as instituições do<br />
SNS na aposta numa cultura de profissionalização da<br />
IC foi realizado nos dias 11 e 25 de março de <strong>2019</strong><br />
o Curso "Profissionalização da Investigação Clínica<br />
nas Unidades de Saúde em Portugal", uma parceria<br />
da APAH com a NOVA Medical School, a PtCRIN<br />
com o apoio da APIFARMA. Esta atividade formativa,<br />
em que participaram 20 profissionais oriundos de 20<br />
hospitais do SNS, pretendeu contribuir para aumentar<br />
a capacitação em investigação em saúde dos profissionais<br />
dos CIC, para efeitos de desenvolvimento<br />
e consolidação de infraestruturas personalizadas, necessárias<br />
ao seu desempenho de acordo com as boas<br />
práticas internacionais. Ã<br />
Estratégia para a Profissionalização da Investigação Clínica<br />
nas Unidades de Saúde em Portugal | Workshop de<br />
Sensibilização30 de janeiro de <strong>2019</strong>, INFARMED - Parque da Saúde<br />
de Lisboa, Lisboa<br />
Iniciativa do Grupo de Trabalho para a Investigação em Saúde da APAH<br />
com o apoio da NOVA Medical School, da PtCRIN e da APIFARMA.<br />
Ver reportagem nesta edição.<br />
Todos os conteúdos apresentados no âmbito deste workshop podem<br />
ser visualizados no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube:<br />
https://www.youtube.com/channel/UCyDNz2m3gpVhiLSu3E7Q6jg<br />
Conferência “THE FUTURE OF HEALTHCARE - A Humanização<br />
na Era Digital”<br />
31 de janeiro de <strong>2019</strong>, Europarque - Santa Maria da Feira<br />
A APAH deu o seu apoio institucional à iniciativa organizada pelo<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Entre-o-Douro e Vouga e o Seal Group, em celebração<br />
dos 20 anos do Hospital São Sebastião.<br />
Sabia mais em http://www.thefutureofhealthcare.pt/<br />
Rethinking Hospital<br />
1 e 2 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Centro de Congressos do Hotel<br />
Aqualuz - Tróia<br />
Evento de cariz nacional que pretende promover a discussão e o debate<br />
sobre a realidade <strong>Hospitalar</strong> em Portugal, as tendências, as<br />
ameaças e as oportunidades do momento presente, assim como<br />
repensar e discutir o papel de cada departamento enquanto motor<br />
social e económico num momento especialmente crítico para a economia,<br />
estimulando a consciência da mudança e a forma como se<br />
pode desenvolver o melhor modelo em prol da eficácia dos serviços<br />
e da eficiência na gestão multidisciplinar. A APAH apoiou a iniciativa<br />
e foi representada pelo seu Secretário-Geral que foi moderador da<br />
Mesa 1 dedicada ao tema: O Financiamento da Saúde.<br />
Mais informações: https://www.rethinkinghospital.pt/<br />
5.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde” |<br />
“Cuidados integrados: o desafio de cuidar do fim de vida”<br />
05 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />
O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de Saúde”<br />
é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />
da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e promover<br />
a excelência na gestão da saúde através da discussão de temas relevantes<br />
para os gestores de saúde que exercem funções no Brasil e<br />
em Portugal. Esta edição teve como orador Lucas Freire de Andrade,<br />
CEO da Clínica Florence - Brasil.<br />
17.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Edição Especial Açores<br />
08 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Hospital do Divino Espírito Santo<br />
de Ponta Delgada (HDES) – São Miguel, Açores<br />
Pela primeira vez o Caminho dos Hospitais esteve na Região Autónoma<br />
dos Açores onde decorreu a Conferência/Debate “A Saúde<br />
nas Ilhas Atlânticas”. Na ocasião foram partilhadas algumas das boas<br />
práticas do HDES na área da diabetes infantil e na gestão de feridas<br />
através do recurso à telesaúde e foi apresentado o Programa Nacional<br />
para a implementação e dinamização das Unidades de Hospitalização<br />
Domiciliária nos estabelecimentos hospitalares do SNS e foi<br />
feito pela ACSS um ponto de situação dos Programas de Telemonitoriação<br />
remota de doentes.<br />
Ver reportagem na próxima edição.<br />
Barómetro dos Internamentos Sociais | 3.ª edição<br />
18 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Hospitais do SNS<br />
Iniciativa da APAH com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa<br />
de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico da EY, tem como<br />
objetivo monitorizar de forma regular a problemática dos internamentos<br />
inapropriados fomentando ações conjuntas que minimizem este<br />
impacto. Os resultados da edição <strong>2019</strong> serão apresentados no dia 6<br />
de abril no decurso da 6.ª Conferência VALOR APAH em Peniche.<br />
Conheça em detalhe os resultados das edições anteriores em: https://<br />
apah.pt/iniciativas-projetos/barometro-de-internamentos-sociais/<br />
Conferência APIFARMA “Sistemas de Saúde baseados<br />
no Valor e Medição de Resultados”<br />
20 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Centro de Congressos - Lisboa<br />
Em colaboração com a EFPIA e o ICHOM, a APIFARMA organizou<br />
a Conferência “Sistemas de Saúde baseados no Valor e Medição de<br />
Resultados”, que contou com a participação do Presidente da APAH,<br />
Alexandre Lourenço, como comentador do painel de debate “Uma<br />
perspetiva nacional sobre a implementação da VBH - Resultados em<br />
Saúde na prática” no decurso do qual salientou o apoio estratégico e<br />
operacional da APAH aos projetos-piloto resultantes do Projeto 3F,<br />
atualmente em implementação no IPO-Porto e Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
Trás-os-Montes e Alto Douro.<br />
Conferência Momentos | Doença crónica: Saúde, Trabalho<br />
e Sociedade | Políticas públicas: que medidas implementar<br />
19 de fevereiro, Auditório da Reitoria da Universidade Nova<br />
de Lisboa - Lisboa<br />
Na iniciativa organizada pelo Expresso, Novartis e NOVA IMS a<br />
APAH participou como comentadora da discussão dos resultados<br />
do estudo AREA – Avaliação Resultados na Espondilite Anquilosante.<br />
XI Jornadas de Farmácia <strong>Hospitalar</strong> | Evidência na prática<br />
Farmacêutica<br />
22 e 23 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Hotel Olissippo Oriente - Lisboa<br />
A APAH participou como comentadora no Painel dedicado à implementação<br />
da Diretiva dos medicamentos falsificados.<br />
Contributos para implementação de Business Intelligence<br />
no SNS | Apresentação Pública<br />
12 de março de <strong>2019</strong>, Teatro Thalia - Lisboa<br />
Apresentação pública do White Paper “Business Intelligence no SNS:<br />
principais desafios” desenvolvido pelo Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong><br />
da Informação em Saúde da APAH. Esta iniciativa da APAH, contou<br />
com o apoio da Merck, e teve como objetivo esclarecer o que é<br />
um BI na saúde na sua visão clássica e de futuro e propor soluções<br />
para os principais problemas existentes no SNS ao nível da qualidade<br />
e do acesso aos dados promovendo o consenso entre todos os stakeholders<br />
quanto aos fatores essenciais para a implementação de um<br />
BI na saúde a nível nacional e local.<br />
6.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />
| “Cuidados integrados: o modelo das Unidades Locais<br />
de Saúde em Portugal”<br />
19 de março de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />
O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de Saúde”<br />
é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />
da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e promover<br />
a excelência na gestão da saúde através da discussão de temas relevantes<br />
para os gestores de saúde que exercem funções no Brasil e em<br />
Portugal. Esta edição teve como oradora Margarida Filipe, Enfermeira<br />
Diretora da Unidade Local de Saúde de Matosinhos - Portugal.<br />
Portugal e-Health Summit <strong>2019</strong><br />
19 a 22 de março de <strong>2019</strong>, Altice Arena: Sala Tejo e PT Meeting<br />
Center - Lisboa<br />
A APAH foi moderadora da sessão: Liderança e Governação Clínica<br />
- Um Compromisso com o SNS, sendo representada pela<br />
colega Teresa Magalhães, Coordenadora do Grupo de Trabalho<br />
para a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde da APAH. No Painel participaram<br />
Carlos Nunes, Presidente do Conselho Diretivo ARS<br />
Norte e Rui Guimarães, Diretor Clínico do Hospital Santa Maria<br />
Maior em Barcelos. }<br />
60 61
Conferência “O Sistema de Saúde para o cidadão”<br />
23 de março de <strong>2019</strong>, Salão Nobre da Reitoria<br />
da Universidade do Porto - Porto<br />
Com o objetivo de refletir as questões ligadas ao futuro da Saúde em<br />
Portugal, a Universidade do Porto, em articulação com os subscritores<br />
dos Princípios Orientadores para uma Lei de Bases da Saúde e a<br />
Convenção Nacional da Saúde, promoveu a Conferência dedicada<br />
ao tema “O Sistema de Saúde para o Cidadão”. A APAH participou<br />
na iniciativa tendo sido representada pelo seu Presidente.<br />
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde | “Como<br />
integrar inovação em Saúde”<br />
28 de março de <strong>2019</strong>, Secção Regional Norte da Ordem<br />
dos Médicos (SRNOM) - Porto<br />
No âmbito do protocolo assinado entre a SRNOM e a APAH,<br />
realizou-se a 3.ª edição do Ciclo de Conferências | Medicina e Administração<br />
de Serviços de Saúde. A conferência, intitulada “Como<br />
integrar inovação em Saúde”, teve com oradores João A. Fonseca,<br />
Diretor do Departamento de Medicina Comunitária, Informação<br />
e Decisão em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade<br />
do Porto e Guilherme Victorino, Vogal da Comissão Executiva do<br />
SAMS e Professor da NOVA IMS.<br />
ACADEMIA<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
(APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes<br />
iniciativas formativas (janeiro - março <strong>2019</strong>):<br />
Curso Avançado de Direito da Saúde<br />
De janeiro a maio de <strong>2019</strong> - Faculdade de Direito da Universidade<br />
de Lisboa, Lisboa<br />
Inserido na Academia APAH este curso é uma organização do Instituto<br />
de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade<br />
de Lisboa. Os sócios efetivos da APAH beneficiaram de um<br />
desconto de 25% na propina.<br />
Conheça em detalhe o Programa do Curso em http://www.icjp.pt/<br />
cursos/<strong>16</strong>541/programa<br />
Programa Avançado de <strong>Gestão</strong> do Medicamento (PA-<br />
GeM)<br />
De 22 de fevereiro a 22 de junho de <strong>2019</strong> - Faculdade de Farmácia<br />
da Universidade de Lisboa, Lisboa<br />
O PAGeM é uma parceria entre a APAH, a Ordem dos Farmacêuticos<br />
e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Tem como<br />
destinatários administradores hospitalares e gestores de serviços de<br />
saúde do setor público, privado e social; farmacêuticos do setor hospitalar<br />
e comunitário; diretores de serviços clínicos, chefes de serviço<br />
e outros profissionais do setor da saúde com interesse na gestão do<br />
circuito do medicamento.<br />
Saiba mais no site da Academia APAH em http://apah.pt/…/pagem-<br />
-programa-avancado-de-gestao-do-medi…/<br />
Curso de Profissionalização da Investigação Clínica nas<br />
Unidades de Saúde em Portugal<br />
11 e 25 de março de <strong>2019</strong> - Nova Medical School da Universidade<br />
NOVA de Lisboa, Lisboa<br />
Numa parceria da APAH com a NOVA Medical School, a PtCRIN<br />
e com o apoio da APIFARMA. Este curso pretende contribuir para<br />
aumentar a capacitação em investigação em saúde dos profissionais<br />
dos Centros de Investigação Clínica, para efeitos de desenvolvimento<br />
e consolidação de infraestruturas personalizadas, necessárias ao seu<br />
desempenho de acordo com as boas práticas internacionais.<br />
Programa PEGADA - Programa de Estágios em <strong>Gestão</strong><br />
de Saúde<br />
Inserido na Academia APAH o Programa PEGADA contempla<br />
estágios de curta duração (1 a 3 semanas) cujo objetivo é promover<br />
a disseminação das melhores práticas de gestão e organização,<br />
entre os hospitais do SNS e contribuir para o desenvolvimento de<br />
competências científicas e técnicas, ajustadas ao perfil profissional<br />
dos gestores de serviços de saúde. A APAH pretende desta forma<br />
iniciar a construção de um caminho de mudança na gestão hospitalar,<br />
promovendo a sinergia dentro do SNS. A 1ª edição do Programa<br />
PEGADA teve início a 11 de março de <strong>2019</strong>, com o Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
do Oeste que recebeu a primeira colega para acompanhar a<br />
implementação do VNA (Vendor Neutral Archive), naquela que é a<br />
primeira instalação em hospitais portugueses. O Programa PEGADA<br />
conta com a participação de 9 Instituições <strong>Hospitalar</strong>es do SNS, promovendo<br />
21 áreas de Estágio e disponibilizando 33 vagas em <strong>2019</strong>.<br />
Saiba mais em https://apah.pt/iniciativas-projetos/pegada/<br />
EVENTOS +<br />
Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2019</strong>:<br />
ORGANIZAÇÃO APAH<br />
6.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão da qualidade<br />
e melhoria continua em saúde<br />
Data: 5 e 6 de abril de <strong>2019</strong><br />
Local: MH Peniche Hotel, Peniche<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Prémio Healthcare Excellence | 6.a Edição | Abertura das Candidaturas<br />
<strong>2019</strong><br />
Data: 01 de maio a 30 de junho de <strong>2019</strong><br />
Ver artigo nesta edição e em www.apah.pt<br />
“Os Portugueses e a Saúde” | Apresentação pública dos resultados<br />
inquérito no Parlamento<br />
Data: maio de <strong>2019</strong><br />
Local: Assembleia da República, Lisboa<br />
Ver artigo nesta edição e www.apah.pt<br />
Barómetro da adoção de Telesaúde e de Inteligência Artificial<br />
no Sistema de Saúde | Apresentação pública de resultados<br />
Data: 4 de junho de <strong>2019</strong><br />
Local: Sede da Associação Nacional de Farmácia, Lisboa<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão centrados<br />
no cidadão e na comunidade<br />
Data: 18 e 19 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Hotel Vila Galé, Braga<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade e Sustentabilidade<br />
no Acesso à Inovação<br />
Data: 15 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Centro Cultural de Belém, Lisboa<br />
O Fórum do Medicamento é uma iniciativa anual da APAH com o<br />
apoio da Astra Zeneca que visa contribuir para o conhecimento e<br />
partilha de boas práticas na área da gestão da tecnologia medicamento.<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/<br />
forum-do- medicamento/<br />
CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Caminho dos Hospitais – Conferência/debate<br />
Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços<br />
Regionais de Saúde<br />
Data: Periodicidade (bi)mensal<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-<br />
dos-hospitais/<br />
Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde” | Webinars<br />
Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />
Data: Periodicidade mensal<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Liga Portuguesa da <strong>Gestão</strong> em Saúde (LEGOS)<br />
Destinada a promover a mudança efetiva na gestão em saúde,<br />
assente numa cultura de liderança e motivação para a inovação<br />
organizacional através da aplicação de metodologias pedagógicas<br />
de pensamento criativo e de simuladores avançados de projetos<br />
de mudança.<br />
Organização: Parceria APAH + NOVA IMS<br />
Data: Brevemente<br />
Local: Coimbra, Lisboa e Porto<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde - Ciclo<br />
Conferências <strong>2019</strong><br />
Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />
dos Médicos (SRNOM)<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-<br />
administracao-de-servicos-de-saude/<br />
APAH RECOMENDA em <strong>2019</strong>13.ª edição Prémio<br />
de Boas Práticas em Saúde | Candidaturas Abertas<br />
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />
<strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />
Data: 19 de março a 12 de abril de <strong>2019</strong><br />
Local: Tbd<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Webinars - Integrated Care Matters Series 3<br />
Esta série de webinars terá um foco particular no envelhecimento<br />
ativo e saudável e na prevenção e gestão da fragilidade. Cada<br />
webinar contará com profissionais de saúde e cuidadores com<br />
experiência na implementação de cuidados integrados centrados<br />
nas pessoas idosas.<br />
Organização: The International Foundation for Integrated Care<br />
(IFIC) in collaboration with IFIC Scotland and IFIC Ireland<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: https://integratedcarefoundation.org/<br />
events/webinar-integrated-care-matters-series-3-3#15<br />
40194957625- c20d3dc8-c1cd<br />
19th International Conference on Integrated Care | Evaluating<br />
and implement models of integrated people-centred<br />
services<br />
Organização: International Foundation for Integrated Care (IFIC)<br />
Data: 1 a 3 de abril de <strong>2019</strong><br />
Local: San Sebastian, País Basco – Espanha<br />
Mais informações em: https://integratedcarefoundation.org/<br />
events/ icic19-19th-international-conference-on-integratedcare-san-se-<br />
bastian-basque-country<br />
I Encontro Nacional de Integração de Cuidados<br />
Organização: The Portuguese Association for Integrated Care (PAfIC)<br />
Data: 9 de maio de <strong>2019</strong><br />
Local: Centro de Artes e Espetáculos, Figueira da Foz<br />
Mais informações em: http://www.pafic.pt/pafic/<br />
VIII Jornadas da Associação Portuguesa de Hotelaria<br />
<strong>Hospitalar</strong><br />
Organização: Associação Portuguesa de Hotelaria <strong>Hospitalar</strong><br />
em parceria com a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo<br />
Data: 23 a 24 de maio de <strong>2019</strong><br />
Local: Instituto Politécnico de Beja<br />
Mais informações em: www.aphh.pt<br />
The HOPE Exchange Programme <strong>2019</strong><br />
Organização: HOPE European Hospital and Health Care Federation<br />
Data: 6 de maio a 4 de junho de <strong>2019</strong><br />
Local: Estágio de formação<br />
Mais informações em: http://www.hope.be/national-coordinators/<br />
The HOPE Agora | Evidence-informed decision-making in<br />
healthcare management<br />
Organização: HOPE European Hospital and Health Care Federation<br />
Data: 2 a 4 de junho de <strong>2019</strong><br />
Local: Ljubljana, Eslovénia<br />
Mais informações em: http://www.hope.be/programme-<strong>2019</strong>/<br />
EHMA <strong>2019</strong> Annual Conference | HEALTH MANAGE-<br />
MENT 2.0<br />
Organização: European Health Management Association (EHMA)<br />
Data: 17 a 19 de junho de <strong>2019</strong><br />
Local: Eespo, Finlandia<br />
Mais informações em: https://ehma.org/events/annual-conference/<br />
6th EuHEA PhD Student-Supervisor and Early Career Researcher<br />
Conference<br />
Organização: European Health Economics Association e Associação<br />
Portuguesa de Economia da Saúde<br />
Data: 4 a 6 de setembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Católica Porto Business School, Porto – Portugal<br />
Mais informações em: www.apes.pt<br />
EAHM <strong>2019</strong> | 6 Hospitals 6 Themes<br />
Organização: European Association of Hospital Managers (EAHM)<br />
e Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH)<br />
Data: 12 e 13 de setembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Ghent, Bélgica<br />
Mais informações em: http://eahm<strong>2019</strong>.eu/venue/ghent-belgium<br />
22th European Health Forum<br />
Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)<br />
Data: 2 e 4 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Bad Hofgastein, Austria<br />
Mais informações em: http://www.ehfg.org/<br />
43rd World Hospital Congress | “People at the heart of<br />
health services in peace and crisis”<br />
Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />
Data: 7 a 9 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Muscat - Oman<br />
Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/<br />
Conferência SNS no Feminino<br />
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />
<strong>Hospitalar</strong> (APDH) e PWN Lisbon<br />
Data: 22 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Tbd<br />
Mais informações em: www.apdh.pt<br />
62 63
Cuidados de Saúde<br />
Especializados<br />
Medicamentos<br />
Nutrição Clínica<br />
Dispositivos Médicos<br />
417/18<br />
Fresenius Kabi Pharma Portugal, Lda.<br />
Contacto: Avenida do Forte, 3 - Edifício Suécia IV, piso 3<br />
2794-039 Carnaxide, Portugal<br />
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Telefone: +351 214 241 280 | Fax: +351 214 241 290<br />
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