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Gestão Hospitalar N.º 16 2019

Analisar o presente e preparar o futuro 50 anos da carreira de administração hospitalar - De um começo promissor à entrada em letargia e à procura de nova vida Modelos de gestão e tipos de cultura organizacional: O perfil dos administradores Hospitalares portugueses O percurso de um Administrador Hospitalar além fronteiras A carreira de assistente operacional nos serviços de saúde Ouvir a população Os portugueses e a saúde Rosa Matos: Administradores hospitalares devem ser inovadores e abertos à mudança PPP na Saúde As Parcerias Público Privadas na Saúde em Portugal: Análise Crítica Distribuição temporal das readmissões dos doentes com insuficiência cardíaca e fatores associados Abertas candidaturas para o Prémio Healthcare Excellence 2019 Avaliação clínica e económica do Programa ERAS para a cirurgia colorretal Qual o impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das quedas no estado de saúde dos idosos? Procriação Medicamente Assistida: a gravitas da jurisprudência WCOD: Programa de workshops de codificação clínica APAH promove apresentação sobre a utilização de dados e informação no SNS APAH aposta na profissionalização da investigação clínica nas unidades de saúde em Portugal

Analisar o presente e preparar o futuro
50 anos da carreira de administração hospitalar - De um começo promissor à entrada em letargia e à procura de nova vida
Modelos de gestão e tipos de cultura organizacional: O perfil dos administradores Hospitalares portugueses
O percurso de um Administrador Hospitalar além fronteiras
A carreira de assistente operacional nos serviços de saúde
Ouvir a população
Os portugueses e a saúde
Rosa Matos: Administradores hospitalares devem ser inovadores e abertos à mudança PPP na Saúde
As Parcerias Público Privadas na Saúde em Portugal: Análise Crítica
Distribuição temporal das readmissões dos doentes com insuficiência cardíaca e fatores associados
Abertas candidaturas para o Prémio Healthcare Excellence 2019
Avaliação clínica e económica do Programa ERAS para a cirurgia colorretal
Qual o impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das quedas no estado de saúde dos idosos?
Procriação Medicamente Assistida: a gravitas da jurisprudência
WCOD: Programa de workshops de codificação clínica
APAH promove apresentação sobre a utilização de dados e informação no SNS
APAH aposta na profissionalização da investigação clínica nas unidades de saúde em Portugal

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JANEIRO FEVEREIRO MARÇO <strong>2019</strong><br />

Edição Trimestral<br />

N<strong>º</strong> <strong>16</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />

GESTÃO<br />

Perfil dos Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es portugueses<br />

OUVIR A POPULAÇÃO<br />

Os Portugueses<br />

e a Saúde<br />

PPP NA SAÚDE<br />

EM PORTUGAL<br />

Análise Crítica<br />

READMISSÕES<br />

Insuficiência cardíaca<br />

e readmissão hospitalar<br />

ESTUDO<br />

Impacto das quedas<br />

no estado de saúde<br />

dos idosos<br />

ENTREVISTA<br />

rosa matos


GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

GH SUMÁRIO<br />

janeiro fevereiro março <strong>2019</strong><br />

aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />

4<br />

Editorial<br />

Analisar o presente e preparar o futuro<br />

Alexandre Lourenço<br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

PROPRIEDADE<br />

APAH − Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />

Av. do Brasil 53<br />

1749-002 Lisboa<br />

secretariado@apah.pt<br />

www.apah.pt<br />

DIRETOR<br />

Alexandre Lourenço<br />

DIRETORA-ADJUNTA<br />

Bárbara Sofia de Carvalho<br />

COORDENADORES<br />

Emanuel Magalhães de Barros, Miguel Lopes<br />

EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />

Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />

de Eventos, Ltda.<br />

Av. das Forças Armadas 4 – 8B<br />

<strong>16</strong>00-082 Lisboa<br />

Tel.: 217 957 045<br />

info@bleed.pt<br />

www.bleed.pt<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Sara Henriques<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

Gratuita<br />

PERIODICIDADE<br />

Trimestral<br />

DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />

<strong>16</strong>288/97<br />

ISSN N.<strong>º</strong><br />

0871–0767<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

IMPRESSÃO<br />

Grafisol, lda<br />

Rua das Maçarocas<br />

Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />

2710-056 Sintra<br />

Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />

do Acordo Ortográfico<br />

Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />

6<br />

10<br />

<strong>16</strong><br />

20<br />

22<br />

26<br />

32<br />

38<br />

42<br />

44<br />

48<br />

52<br />

54<br />

56<br />

58<br />

61<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

50 anos da carreira de administração hospitalar - De um começo promissor<br />

à entrada em letargia e à procura de nova vida<br />

José Nogueira da Rocha<br />

<strong>Gestão</strong><br />

Modelos de gestão e tipos de cultura organizacional:<br />

O perfil dos administradores <strong>Hospitalar</strong>es portugueses<br />

David Mateus, Sílvia Lopes e Rui Santana<br />

Testemunho<br />

O percurso de um Administrador <strong>Hospitalar</strong> além fronteiras<br />

José Carlos Freixinho<br />

Carreiras<br />

A carreira de assistente operacional nos serviços de saúde<br />

Paulo de Carvalho<br />

Ouvir a população<br />

Os portugueses e a saúde<br />

João Costa<br />

Entrevista<br />

Rosa Matos: Administradores hospitalares devem ser inovadores<br />

e abertos à mudança<br />

PPP na Saúde<br />

As Parcerias Público Privadas na Saúde em Portugal: Análise Crítica<br />

Cláudia Parente Rebelo<br />

Readmissões<br />

Distribuição temporal das readmissões dos doentes com insuficiência<br />

cardíaca e fatores associados<br />

Paula Cunha, Sílvia Lopes<br />

Iniciativa APAH<br />

Abertas candidaturas para o Prémio Healthcare Excellence <strong>2019</strong><br />

Programa ERAS<br />

Avaliação clínica e económica do Programa ERAS para a cirurgia colorretal<br />

Francisco Mota, Paulo Costa<br />

Estudo<br />

Qual o impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das quedas<br />

no estado de saúde dos idosos?<br />

Bruno Venâncio, Margarida Filipe<br />

Reflexões de direito biomédico<br />

Procriação Medicamente Assistida: a gravitas da jurisprudência<br />

Rafael Vale e Reis<br />

Espaço ENSP<br />

WCOD: Programa de workshops de codificação clínica<br />

Rui Santana, Sílvia Lopes<br />

Iniciativas APAH<br />

APAH promove apresentação sobre a utilização de dados e informação no SNS<br />

Iniciativas APAH<br />

APAH aposta na profissionalização da investigação clínica nas unidades<br />

de saúde em Portugal<br />

A APAH marca a agenda<br />

3


GH editorial<br />

Alexandre Lourenço<br />

Presidente da APAH<br />

Analisar o presente<br />

e preparar o futuro<br />

A<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> (GH) tem-nos<br />

habituado a acompanhar a atualidade<br />

da gestão de serviços de saúde<br />

e o exercício profissional dos<br />

administradores hospitalares.<br />

Nesta edição, abordamos o exercício profissional por<br />

várias vertentes e gerações. O Sócio de Mérito José<br />

Nogueira da Rocha apresenta a perspetiva conhecedora<br />

de meio século de carreira. Em contrapartida,<br />

do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

da Escola Nacional de Saúde Pública surge um<br />

estudo sobre o perfil atual dos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(AH).<br />

Dos resultados obtidos conclui-se que os AH inquiridos<br />

são maioritariamente do sexo feminino, têm entre<br />

40 e 60 anos, formaram-se em direito ou ciências<br />

empresariais, exercem funções de gestão intermédia<br />

no setor público. Deste estudo, dá-se ainda nota que<br />

a centralização hierárquica e perda de autonomia de<br />

gestão nas organizações, tem condicionado os AH a<br />

privilegiar os processos internos, em detrimento de<br />

atividades relacionadas com a adaptação, inovação e<br />

crescimento. Portanto, o contrário do desejável para<br />

um sistema que precisa de se reinventar.<br />

Em grande entrevista, a Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />

Rosa Matos diz isso mesmo: “Administradores hospitalares<br />

devem ser inovadores e abertos à mudança”.<br />

A Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário de<br />

Lisboa Central deixa-nos o testemunho de um vasto<br />

percurso em várias instituições do Ministério da Saúde,<br />

incluindo o exercício recente de funções como<br />

Secretária de Estado da Saúde.<br />

Resultado deste garrote administrativo e financeiro, o<br />

estudo da APAH “Os Portugueses e a Saúde” revela<br />

o descontentamento dos portugueses face ao estado<br />

da Saúde em Portugal, em particular, do setor Público.<br />

Não obstante, é importante notar que os portugueses<br />

não fazem uma “crítica cega” ao SNS. Ou seja,<br />

não criticam indiscriminadamente todos os aspetos<br />

do seu funcionamento, mas dão conta da sua insatisfação<br />

face aos tempos de espera e qualidade de serviço.<br />

Mais preocupante será a perceção de abandono face<br />

às dificuldades dos utentes do SNS. Alerta para todos<br />

nós e, principalmente, para os decisores políticos.<br />

Para nos apoiar na resposta aos desafios crescentes<br />

no sistema de saúde, a GH traz-nos dados sobre o<br />

impacto dos níveis crescentes de gravidade clínica das<br />

quedas no estado de saúde dos idosos, a avaliação clínica<br />

e económica do programa ERAS para a cirurgia<br />

colorretal e os fatores associados às readmissões dos<br />

doentes com insuficiência cardíaca.<br />

No âmbito da discussão pública na atualidade, Cláudia<br />

Parente Rebelo apresenta uma análise crítica às<br />

parcerias público-privadas, Rafael Vale e Reis aborda<br />

a problemática legislativa da gestação de substituição<br />

e Paulo de Carvalho fala-nos da importância da definição<br />

de uma carreira específica de assistente operacional<br />

nos serviços de saúde.<br />

A GH acompanha o exercício profissional de todos<br />

aqueles que exercem funções de gestão nos serviços<br />

de saúde. Colocando questões, promovendo a discussão,<br />

analisando o presente e preparando o futuro.<br />

Com a vossa extraordinária participação continuamos<br />

a cumprir os nossos objetivos. 40 anos depois<br />

da criação do SNS, a GH conta convosco neste extraordinário<br />

percurso de partilha e aprendizagem. Ã<br />

4


GH Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

50 ANOS DA CARREIRA<br />

DE ADMINISTRAÇÃO<br />

HOSPITALAR<br />

De um Começo Promissor<br />

à Entrada Em Letargia<br />

e à Procura de Nova Vida<br />

José Nogueira da Rocha<br />

Sócio de mérito da APAH<br />

Um começo promissor<br />

Os anos de 1968 e 1969 ficaram na<br />

história da administração hospitalar<br />

em Portugal como inquestionáveis<br />

marcos históricos, quer da sua “rampa<br />

de lançamento”, quer do seu desenvolvimento.<br />

No ano de 1968 teve lugar a criação da carreira<br />

de administração hospitalar através do Decreto-Lei<br />

n.<strong>º</strong> 47.357, de 27 de abril - habitualmente designado<br />

por Estatuto <strong>Hospitalar</strong> - e do Decreto n.<strong>º</strong> 48.358, da<br />

mesma data, mais conhecido por Regulamento Geral<br />

dos Hospitais.<br />

O preâmbulo do primeiro destes diplomas contém<br />

algumas afirmações que, desde logo, anunciam o que<br />

a sua parte dispositiva viria a consagrar.<br />

Assim,<br />

• “A administração dos hospitais, ao menos dos mais<br />

importantes, tornou-se tarefa de profissionais, com<br />

preparação cuidada e estatuto adequado, visto que<br />

a mobilização de meios financeiros e humanos nos<br />

serviços de saúde atinge enorme volume e os prejuízos<br />

decorrentes de uma gestão pouco esclarecida<br />

podem ser importantíssimos, tanto do ponto de vista<br />

económico como social e humano”;<br />

• “A gestão hospitalar, infraestrutura indispensável<br />

a toda a ação médica, terá de desenvolver-se de<br />

acordo com as técnicas próprias da vida económica,<br />

embora subordinada aos objetivos sociais e humanos<br />

que prossegue”;<br />

• “No que respeita aos problemas da gestão hospitalar,<br />

é perfeitamente visível o esforço de atualização<br />

feito nos últimos anos no nosso País.<br />

Ultrapassou-se a ideia de que as técnicas da economia<br />

nada tinham que ver com o governo dos hospitais<br />

e que os problemas de financiamento afetavam a<br />

nobreza dos objetivos da atividade médica. Aceita-se,<br />

em termos de generalidade, que os processos de gestão<br />

económica constituem garantia indispensável de<br />

que aos meios materiais reunidos pela comunidade<br />

será dada a utilidade ótima, o que, afinal, quer dizer<br />

maior número de doentes assistidos e melhor assistência<br />

prestada”.<br />

Na sua parte dispositiva relevam de interesse os n.<strong>º</strong>s<br />

1 e 2 dos artigos 35.<strong>º</strong> e n.<strong>º</strong> 1 do artigo 72.<strong>º</strong> que consignam,<br />

respetivamente:<br />

• “Artigo 35.<strong>º</strong> - 1. Em ordem a conseguir a maior eficiência<br />

técnica e social, os estabelecimentos e serviços hospitalares<br />

devem organizar-se e ser administrados em termos<br />

de gestão empresarial, garantindo à coletividade o<br />

mínimo custo económico no seu funcionamento.<br />

2. Nesse sentido, cabe-lhes:<br />

a) Elaborar planos de administração que devem ser<br />

submetidos à aprovação ministerial, juntamente com<br />

os orçamentos;<br />

b) Aplicar métodos atualizados de gestão económica,<br />

desde que adequados à sua natureza e fins;<br />

c) Efetuar a vigilância permanente da gerência, de modo<br />

a manter saneada a situação económica, e prestar<br />

à Direcção-Geral dos Hospitais as informações necessárias<br />

à avaliação periódica da administração”.<br />

• “Artigo 72.<strong>º</strong> - 1. São desde já estabelecidas as seguintes<br />

carreiras de pessoal hospitalar:<br />

a) Pessoal superior de administração;<br />

b) Pessoal médico;<br />

c) Pessoal farmacêutico”.<br />

O n.<strong>º</strong> 2 do artigo n.<strong>º</strong> 72 remete para o quadro anexo<br />

a este diploma, quadro que especifica a carreira de<br />

administração para os hospitais gerais centrais, com<br />

as seguintes categorias:<br />

“Enfermeiro-mor ¹<br />

Provedor<br />

Administrador<br />

Chefe de serviço de apoio geral<br />

Chefe de secretaria<br />

Chefe de contabilidade<br />

Chefe de serviço de aprovisionamento”.<br />

O Decreto n.<strong>º</strong> 48.358, consigna no seu artigo 37<strong>º</strong>.<br />

o seguinte:<br />

“1. A carreira do pessoal de administração abrange<br />

nos hospitais centrais os graus seguintes:<br />

a) Chefe de serviço de apoio geral<br />

b) Administrador<br />

c) Administrador-geral<br />

d) Provedor<br />

2. Nos hospitais regionais a carreira abrange apenas<br />

o lugar de administrador.<br />

3. Será fixada por portaria a data a partir da qual passa<br />

a ser exigida como habilitação indispensável o curso<br />

de administração hospitalar”.<br />

No ano de 1969 teve lugar o segundo marco histórico<br />

para o desenvolvimento da carreira de administração<br />

hospitalar.<br />

A Portaria n.<strong>º</strong> 24.222, de 4 de agosto de 1969, criou o<br />

curso de administração hospitalar, na sequência, aliás,<br />

de 3 diplomas que vinham já a fazer prever essa criação:<br />

o Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 36.219, de 10 de abril de 1947,<br />

o Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 38.884, de 28 de agosto de 1952 e<br />

o Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 46.301 de 17 de abril de 1965.<br />

No início dos anos 80 contavam-se já 279 diplomados<br />

em administração hospitalar pela Escola Nacional<br />

de Saúde Pública/Universidade Nova de Lisboa 2 , a<br />

que se juntavam mais 6 que haviam frequentado o<br />

curso de administração de hospitais, ministrado pela<br />

“<br />

OS ANOS DE 1968 E 1969<br />

FICARAM NA HISTÓRIA<br />

DA ADMINISTRAÇÃO<br />

HOSPITALAR EM PORTUGAL<br />

COMO INQUESTIONÁVEIS<br />

MARCOS HISTÓRICOS.<br />

”<br />

École Nationale de Santé Publique, em Rennes, França<br />

- atual École des Hautes Études en Santé Publique<br />

- a maior parte dos quais já então integrados na<br />

carreira criada em 1968 e regulamentada em 1969.<br />

Entrada em letargia<br />

Como escrevi em outro local, a gestão hospitalar em<br />

Portugal, quer pela natureza extremamente complexa<br />

das instituições que exigem a sua prática, quer pela<br />

atividade desenvolvida pelos respetivos profissionais,<br />

assumia-se já como uma realidade que confirmava totalmente<br />

as razões aduzidas nos diplomas de 1968,<br />

atrás citadas.<br />

Sentindo essa verdade, a criação, em 1981, da Associação<br />

Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH), constituiu um passo simultaneamente<br />

natural e oportuno. Impunha-se, com efeito, ante o<br />

desenvolvimento da profissão, encontrar uma organização<br />

destinada “à salvaguarda dos interesses profissionais<br />

e à promoção social e deontológica dos seus<br />

sócios”, o que, visivelmente, tem sido conseguido.<br />

Há, porém, que registar um facto que não deixa de causar<br />

alguma perplexidade: a carreira não tem acompanhado,<br />

bem longe disso, o desenvolvimento e a consolidação<br />

da gestão hospitalar em Portugal.<br />

Por razões que aqui me abstenho de referir, mas que<br />

são bem conhecidas, a carreira de administração hospitalar,<br />

após a sua revisão em 1981, pelo Decreto-Lei<br />

n.<strong>º</strong> 101/80, de 8 de maio, entrou num período que,<br />

usando uma qualificação que, porventura, estando<br />

longe de corresponder à verdade, apelido, benevo- }<br />

6 7


GH Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

“<br />

RECONHECIMENTO<br />

DA COMPLEXIDADE,<br />

ESPECIFICIDADE E ESPECIAIS<br />

EXIGÊNCIAS DA GESTÃO<br />

HOSPITALAR.<br />

”<br />

lamente de letargia. Porquê, perguntar-se-á?<br />

Não foi, certamente, por culpa dos profissionais cuja<br />

competência, mesmo nas situações mais exigentes e<br />

de maior responsabilidade, raramente foi posta em<br />

causa, bem pelo contrário.<br />

Não foi também pela ausência do reconhecimento da<br />

complexidade, especificidade e especiais exigências<br />

da gestão hospitalar, ampla e sistematicamente reconhecidas<br />

em múltiplos diplomas legais, para além<br />

dos já referidos. 3<br />

Será que uma carreira de administração hospitalar profissionalizada<br />

compromete, dificulta ou, até, impede uma<br />

liberdade de escolha amiúde utilizada, designadamente,<br />

como alguns dizem, para “pagar favores políticos”?<br />

Será que, não obstante esse reconhecimento, a carreira<br />

de administração hospitalar foi e continua a ser<br />

posta em causa quando confrontada com outros interesses<br />

situados no meio ambiente?<br />

Será que a carreira de administração hospitalar, mesmo<br />

e apenas dentro do SNS, sofreu e continua a sofrer<br />

os efeitos de uma disputa emergente de interesses<br />

corporativos?<br />

Será que há a convicção por parte das estruturas do<br />

poder que as alegadas dificuldades que o SNS enfrenta<br />

relativamente ao desempenho dos hospitais e demais<br />

estabelecimentos e serviços prestadores de cuidados<br />

de saúde, tem como causa, de entre outras,<br />

debilidades gestionárias resultantes da impreparação<br />

dos decisores responsáveis sobretudo pela gestão estratégica<br />

ou de quem os aconselha?<br />

Se tenho a certeza quanto ao conteúdo das afirmações<br />

não estou seguro da pertinência das interrogações.<br />

Mas, vox populi, perguntar não ofende.<br />

Procura de nova vida<br />

Em 20<strong>16</strong> e 2017 tiveram lugar algumas iniciativas que<br />

claramente visaram o “renascimento” da carreira.<br />

Em 10 de novembro de 20<strong>16</strong>, o Despacho n.<strong>º</strong> 13585,<br />

do Secretário de Estado da Saúde, reconhecendo<br />

que “a carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> não tem<br />

sido aplicada no recrutamento, admissão e progressão<br />

dos profissionais habilitados, pelo que urge criar<br />

as condições para a sua revitalização e efetiva aplicação”,<br />

determinou “A criação de um Grupo de Trabalho<br />

destinado à análise, revisão e implementação<br />

da Carreira <strong>Hospitalar</strong>, no sentido de repor o seu<br />

funcionamento para os efeitos que estiveram na sua<br />

génese”. Mais determinou o Despacho que “O Grupo<br />

de Trabalho apresentará um relatório de avaliação<br />

profissional dos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, bem<br />

como das propostas que considere necessárias para a<br />

revisão e implementação da Carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, até ao dia 31 de dezembro de 20<strong>16</strong>”.<br />

Cumprindo este mandato, o Grupo de Trabalho apresentou<br />

em 13 de Janeiro de 2017 o solicitado relatório,<br />

bem como um Projeto de Decreto-Lei visando a<br />

criação da carreira especial de administração hospitalar<br />

e de serviços de saúde no âmbito da organização e<br />

gestão dos serviços e estabelecimentos sob tutela do<br />

Ministro da Saúde.<br />

Se concretizadas, estas iniciativas bem podem constituir<br />

a necessária reversão da carreira da administração<br />

hospitalar, ainda que naturalmente com algumas diferenças<br />

em relação ao quadro legal anterior. E digo<br />

se concretizadas porque, passados dois anos, não se<br />

conhecem até ao momento, que sejam do domínio<br />

público, os efeitos destas iniciativas.<br />

Não obstante o que acabo de dizer adiro quase por<br />

inteiro à conclusão do Relatório do Grupo de Trabalho,<br />

do seguinte teor:<br />

“Impõe-se, ainda, assumir o papel dos AH, não só na<br />

gestão de topo, como em estruturas orgânicas de gestão<br />

intermédia como é o caso dos Centros de Responsabilidade<br />

Integrada.<br />

Como um dos pontos-chave, deve a CAR ser considerada<br />

como uma carreira do regime especial, alicerçada<br />

em conteúdo, deveres funcionais e formação específica,<br />

com a salvaguarda da equiparação dos AH a<br />

pessoal dirigente.<br />

A reestruturação da CAR tem igualmente que incidir,<br />

independentemente do regime de vinculação, sobre<br />

as condições de ingresso e promoção, o recrutamento,<br />

a estrutura remuneratória, o conteúdo funcional, o<br />

regime e horário de trabalho, a avaliação de desempenho,<br />

entre outros aspetos.<br />

Num contexto em que o sistema de saúde evolui<br />

para a integração de cuidados e gestão de base populacional<br />

da saúde, importa realçar a competência<br />

em domínios mais alargadas da gestão em saúde dos<br />

profissionais de administração hospitalar.<br />

Importa, assim, garantir a qualificação da gestão dos<br />

organismos do Ministério da Saúde, tal como a coerência<br />

gestionária do SNS num contexto extremamente<br />

desafiante de evolução e sustentação do sistema.<br />

Ora, na prática, tal tem vindo a suceder com naturalidade,<br />

uma vez que os AH têm vindo a exercer<br />

funções em Hospitais e Centros <strong>Hospitalar</strong>es, nos<br />

Agrupamentos de Centros de Saúde, em Unidades<br />

Locais de Saúde, na Administração Direta e Indireta do<br />

Ministério da Saúde. Por conseguinte, a CAH deve<br />

evoluir para um modelo de Carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> e Serviços de Saúde”.<br />

A preceder esta transcrição deixei explicita a minha<br />

não total adesão ao seu conteúdo.<br />

É esta também a minha posição quanto ao articulado<br />

da proposta de diploma para a criação da carreira<br />

especial de administração hospitalar e de serviços de<br />

saúde no âmbito da organização e gestão dos estabelecimentos<br />

e serviços sob tutela do Ministro da Saúde.<br />

Penso, contudo, que esta minha posição, não assume,<br />

bem longe disso, uma significativa discordância com<br />

os dois textos, bem longe disso. Muito em especial<br />

louvo-me no pretendido alargamento do âmbito da<br />

carreira a outros estabelecimentos e serviços públicos<br />

do SNS.<br />

Há, no entanto, dois pontos que pretendo ressalvar.<br />

O primeiro é o de que estando em causa o reconhecimento<br />

de uma atividade gestionária específica, a<br />

exercer com “ciência e arte”, afinal as duas componentes<br />

fundamentais da gestão, atrevo-me a defender<br />

uma designação diferente para a carreira: carreira<br />

de gestor público de hospitais e de estabelecimentos<br />

e serviços prestadores de cuidados de saúde ou<br />

carreira de gestor público de estabelecimentos e<br />

serviços do SNS.<br />

Não se trata de um mero jogo de palavras, sendo<br />

conhecida a minha posição, que, não sendo pacífica,<br />

não é isolada, sobre o real sentido e conteúdo dos<br />

termos administração e gestão. Defendo-a desde<br />

há muito tempo a esta parte e, mais recentemente,<br />

defendi-a no artigo publicado na Revista Tecno Hospital,<br />

n.<strong>º</strong> 77, setembro/outubro 20<strong>16</strong>, páginas 54 a 56,<br />

sob o título “Um olhar sobre a evolução da <strong>Gestão</strong><br />

<strong>Hospitalar</strong> em Portugal - Perspetivas de evolução e<br />

contributos de um académico/profissional”.<br />

Segundo esta minha posição, cuja justificação total não<br />

cabe nos limites deste artigo e, por isso, limito-a ao essencial,<br />

sempre que se exige à atividade de administrar,<br />

consubstanciada nos cinco infinitivos de Fayol: prever<br />

(planear), organizar, comandar, coordenar e controlar,<br />

que ela utilize as modernas técnicas do management, o<br />

termo gestão, correspondendo, aliás, à tradução deste<br />

termo para a nossa língua, é o que verdadeiramente<br />

corresponde à natureza dessa atividade.<br />

Acresce que, nesta “nova perspetiva” de “pilotar” as<br />

organizações, impõe-se que ela assuma uma natureza<br />

tridimensional, traduzida na trilogia já consagrada de<br />

gestão estratégica, gestão intermédia, gestão operacional,<br />

trilogia esta que se pretende ver consagrada na<br />

nova carreira quando se afirma na conclusão do grupo<br />

de trabalho que “Impõe-se, ainda, assumir o papel<br />

dos AH não só na gestão de topo, mas em estruturas<br />

orgânicas de gestão intermédia como é o caso<br />

dos Centros de Responsabilidade Integrada”.<br />

Parece-me, assim, que a designação por mim preferida<br />

se revela mais adequada à natureza da atividade<br />

em causa, pelo perfil exigido a quem a exerce aos<br />

diferentes níveis e pela natureza do universo institucional<br />

onde é exercida.<br />

O segundo, e porque tal não se encontra explicitado,<br />

como, a meu ver, se impõe, entendo que, desde logo<br />

na proposta de diploma, se deixe consignado que a<br />

avaliação dos profissionais terá como base, para além<br />

de outros critérios, o atingir dos objetivos estabelecidos<br />

e das metas fixadas.<br />

Julgo que, por várias razões, designadamente o reconhecimento<br />

da complexidade, especificidade e especiais<br />

exigências da gestão hospitalar que a “empresarialização”<br />

dos hospitais mais torna evidentes - ou deveria<br />

tornar - estão criadas as condições para que a carreira,<br />

agora com a designação que prefiro: carreira de<br />

gestor público de estabelecimentos e serviços prestadores<br />

de cuidados de saúde, ou carreira de gestor<br />

público de estabelecimentos e serviços do SNS, possa<br />

vir a ter “uma nova vida”. Se assim for, muito ficarão<br />

a ganhar o SNS, os hospitais e os demais estabelecimentos<br />

e serviços públicos prestadores de cuidados<br />

de saúde. Ã<br />

1. O n.<strong>º</strong> 3 do art. 84.<strong>º</strong> do Decreto n.<strong>º</strong> 48.358 consigna que “O provedor<br />

dos Hospitais Civis de Lisboa conserva o título de enfermeiro-mor”, cargo<br />

criado em 1770 quando, após o terramoto de 1755, o Hospital Real de Todos<br />

os Santos, com a nova designação de Hospital Real de S. José, é instalado<br />

no Colégio de Santo Antão-o-Novo. Quer isto significar que este titulo,<br />

que foi extinto na década de 70, subsume-se na categoria (cargo) de Provedor,<br />

não constando já do elenco estabelecido por aquele Decreto.<br />

2. Números facultados pelo Secretariado do Curso de Especialização em<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> da Escola Nacional de Saúde Pública/Universidade<br />

Nova de Lisboa. Em 2017, de acordo com esta fonte, o número de diplomados<br />

era de 888. Neste momento o número não andará longe de 1.000.<br />

3. Desde 1988 até agora, quer o Decreto-Lei n.19/88 quer todos os diplomas<br />

que consagraram e regulamentaram o reconheceram expressamente.<br />

8 9


GH gestão<br />

Modelos de <strong>Gestão</strong><br />

e Tipos de Cultura<br />

Organizacional:<br />

O Perfil dos Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es Portugueses<br />

Figura1:<br />

Relações humanas<br />

Participação, resolução de problemas,<br />

consenso, apoio, coesão, Conhecimento<br />

Trabalho em equipa (R.H.)<br />

Enfoque Interno<br />

e Integração<br />

Cultura de apoio<br />

• Mentor<br />

• Facilitador<br />

Processos internos<br />

Redefinição de responsabilidades,<br />

medida, documentação, regras,<br />

estabilidade e informação, Eficiência<br />

Hierarquia estável (transacional)<br />

Cultura de regras<br />

• Monitor<br />

•Coordenador<br />

Flexibilidade<br />

e Descentralização<br />

Estabilidade, controlo<br />

e Centralização<br />

Sistemas abertos<br />

Adaptação, inovação, rapidez,<br />

Crescimento<br />

Sistemas abertos (transformacional)<br />

Cultura de inovação<br />

• Inovador<br />

• Broker<br />

Objectivos racionais<br />

Produtividade, objetivos,<br />

planeamento, Lucro<br />

Organização racional (eficácia)<br />

Cultura de objetivos<br />

• Produtor<br />

• Diretor<br />

Enfoque Externo<br />

e Diferenciação<br />

Representação cartesiana do CVF, retirado de Morais, 2010.<br />

David Mateus<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

Sílvia Lopes<br />

Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

Rui Santana<br />

Subdiretor Escola Nacional<br />

de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

As organizações de saúde constituem<br />

as plataformas sociais mais<br />

complexas de governar, atendendo<br />

ao caráter multiproduto da sua<br />

atividade, grau de diferenciação<br />

e necessidade de adaptação face às exigências dos<br />

diversos stakeholders. Assim, ao longo do tempo os<br />

gestores têm adotado diferentes modelos de gestão<br />

para otimizar a efetividade destas organizações 1,2 .<br />

Um instrumento que pode ser utilizado pelos gestores<br />

para melhorar a eficácia organizacional é o Competing<br />

Values Framework (CVF). Este consiste num<br />

modelo tridimensional de diagnóstico e ajustamento<br />

dos modelos de gestão e tipos de cultura organizacional,<br />

que contribui para tornar as organizações<br />

mais eficazes consoante os objetivos a que se propõem<br />

3,5 . O CVF apresenta uma estrutura de três<br />

eixos, que cada um corresponde a uma dimensão:<br />

(Y) preferência do gestor na estrutura organizacional<br />

– flexibilidade ou estabilidade; (X) foco que<br />

a organização atribui ao meio interno versus meio<br />

externo; e (Z) objetivos a que a instituição se propõe<br />

e meios a utilizar na sua prossecução (Figura 1).<br />

Da sobreposição das dimensões Y e X, emergem<br />

4 modelos de gestão, 4 tipos de cultura, 8 papéis de<br />

liderança e 24 competências de gestão 3,6,7 .<br />

A cultura organizacional tem-se revelado um fator<br />

chave no sucesso e obtenção de vantagem competitiva,<br />

caracterizando-se pelo conjunto de pressupostos<br />

básicos criados e utilizados por um grupo para<br />

lidar com constrangimentos de adaptação internos<br />

ou externos à organização 5,9 . À semelhança dos<br />

modelos de gestão, o tipo de cultura também deve<br />

estar alinhado com os objetivos organizacionais.<br />

A coordenação destas dimensões é competência do<br />

administrador hospitalar 7,9 (AH), pois este detém<br />

conhecimento técnico e especializado na gestão de<br />

organizações de saúde e tem a responsabilidade de<br />

dirigir os restantes profissionais 10 . Neste contexto,<br />

importa apurar o perfil de competências de gestão,<br />

liderança e cultura organizacional dos administradores<br />

hospitalares, para possibilitar a sua relação com<br />

o panorama político, económico e social do sistema<br />

de saúde português.<br />

Objetivos<br />

Este estudo teve como objetivos: (1) caracterizar o<br />

perfil sócio demográfico dos AH; (2) enumerar as<br />

competências de gestão e papéis de liderança mais<br />

frequentemente praticados pelos AH; (3) nomear os<br />

modelos de gestão e tipos de cultura organizacional<br />

predominantes no sistema de saúde português, globalmente<br />

e por tipo de organização.<br />

Metodologia<br />

Realizou-se um estudo observacional retrospetivo, com<br />

uma amostra de conveniência constituída por <strong>16</strong>1 AH diplomados<br />

e um intervalo de confiança de 95%. Consideraram-se<br />

AH diplomados todos os que concluíram o<br />

Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong> da<br />

Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova<br />

de Lisboa. Por uma questão de clareza do texto, serão<br />

daqui em diante denominados como "administradores<br />

hospitalares" (AH). Como instrumento de colheita de<br />

dados foi utilizado o “questionário das competências de<br />

gestão” de Cameron e Quinn 3 , traduzido, adaptado e<br />

testado na realidade portuguesa. O envio do questionário<br />

foi feito por e-mail em colaboração com a APAH.<br />

Cumpriram-se as considerações éticas relativas ao anonimato,<br />

não existindo qualquer conflito de interesse na<br />

realização deste estudo. As variáveis utilizadas foram:<br />

(1) características sócio demográficas e profissionais; (2)<br />

competências de gestão, papéis de liderança e modelos<br />

de gestão/tipos de cultura; (3) tipos de organizações.<br />

A análise de dados efetuou-se através de estatística descritiva<br />

na caracterização da amostra, competências de<br />

gestão, papéis de liderança e modelos de gestão/tipos<br />

de cultura organizacional. Na comparação de grupos<br />

utilizou-se estatística inferencial, com testes paramétricos<br />

ANOVA e Post Hoc Tukey 11 . O nível de significância<br />

considerado para o estudo foi de 5%.<br />

Resultados<br />

De um total de <strong>16</strong>1 AH, 59% são do sexo feminino,<br />

72% têm idade superior a 41 anos, 36% são licenciados<br />

em direito e 31% têm grau académico superior<br />

ou igual a mestrado (Tabela 1). Observou-se que 66%<br />

dos inquiridos exerce funções de nível hierárquico intermédio,<br />

43% não está inserido na carreira de AH,<br />

10% nunca exerceu funções na área e 88% exercem<br />

funções no setor público.<br />

As competências de gestão e os papéis de líder mais<br />

frequentemente demonstrados no sistema de saúde<br />

português posicionam-se nos quadrantes do controlo<br />

do CVF (Tabela 2). No global, o modelo do processo<br />

interno/cultura hierárquica (média±desvio padrão:<br />

4,95±0,88) e o modelo do objetivo racional/cultura de<br />

mercado (4,90±0,96) são os mais frequentes.<br />

As organizações privadas demonstram com maior frequência<br />

o modelo do processo interno/cultura hierárquica,<br />

(4,68±0,71) à semelhança dos organismos centrais<br />

e ensino (5,08±0,80) e PCSP (4,96±0,92) (Tabela<br />

3). Existem diferenças estatisticamente significativas<br />

(p-value = 0,028) entre PCSP (4,87±1,08) e privado<br />

(4,00±1,19) na demonstração do modelo das relações<br />

humanas/cultura clã, observando-se dominância deste<br />

modelo e cultura nos prestadores de cuidados de saúde<br />

públicos.<br />

Discussão<br />

Da apreciação global das competências de gestão e<br />

papéis de liderança mais frequentemente demonstrados<br />

pelos AH no sistema de saúde português verifica-se<br />

um elevado teor de controlo com orientação<br />

interna e externa às organizações, o que promove<br />

uma estrutura hierárquica centralizada 7,12 . Estes resultados<br />

indicam que os AH respondentes apresentam<br />

um perfil de gestão e liderança baseado }<br />

10 11


GH gestão<br />

N Percentagem<br />

(%)<br />

Género Nível Hierárquico<br />

de Desempenho de Funções<br />

Masculino 66 41 Nível de topo 37 23<br />

Feminino 95 59 Nível intermédio 106 66<br />

Grupo Etário Nível operacional 18 11<br />

21- 40 46 28 Carreira/Progressão do AH<br />

41-60 98 61 AH de 1ª classe 10 6<br />

>60 17 11 AH de 2ª classe 40 25<br />

Área de Licenciatura AH de 3ª classe 41 26<br />

Direito 58 36 Progressão fora da carreira de AH 70 43<br />

Ciências empresariais 46 28 Tipo de Organização de Desempenho<br />

de Funções<br />

Restantes áreas de licenciatura 57 36 Organismos centrais e ensino 24 18<br />

Habilitações Académicas Prestadores de Cuidados de Saúde 114 68<br />

Públicos (PCSP)<br />

Licenciatura 111 69 Parceria Público Privada (PPP) 4 2<br />

Mestrado 45 28 Privado 19 12<br />

Doutoramento 5 3<br />

Situação Profissional Organização de Desempenho<br />

de Funções<br />

A exercer atividades de AH 92 57 Hospitais EPE/SPA 98 61<br />

dentro da carreira<br />

A exercer atividades de AH 38 24 Hospitais/Clínicas do setor privado 12 7<br />

na categoria de técnico superior<br />

ou outra<br />

A exercer atividades não 31 19 Restantes organizações 51 32<br />

relacionadas com AH<br />

Tempo de Exercício de Funções<br />

Nunca exerceu funções <strong>16</strong> 10<br />

1 – 20 anos 96 60<br />

Mais de 20 anos 49 30<br />

Tabela 1: Características sócio demográficas e profissionais dos AH.<br />

N<br />

Percentagem<br />

(%)<br />

Média±Desvio Padrão<br />

Modelo dos Sistemas Abertos/Cultura Adhocrática 4,78±0,87<br />

C1 – Conviver com a mudança 4,79±1,06<br />

Inovador C2 – Pensamento criativo 4,56±1,04 4,72±1,01<br />

Papéis<br />

C3 – Gerir a mudança 4,81±1,13<br />

Liderança<br />

C4 – Criar e manter uma base de poder 5,04±0,98<br />

Broker C5 – Negociar acordos e compromissos 4,68±1,<strong>16</strong> 4,84±0,82<br />

C6 – Apresentar ideias: apresentações verbais 4,82±1,08<br />

Modelo do Objetivo Racional/Cultura Mercado 4,90±0,96<br />

C7 – Produtividade e motivação pessoal 4,95±1,26<br />

Produtor C8 – Motivar os outros 5,07±1,12 4,93±0,98<br />

Papéis<br />

C9 – Gerir tempo e stresse 4,76±1,11<br />

Liderança<br />

C10 – Tomar iniciativa e ser decidido 4,73±1,28<br />

Diretor C11 – Fixar metas 5,09±1,06 4,88±1,03<br />

C12 – Delegar eficazmente 4,82±1,19<br />

Modelo do Processo Interno/Cultura Hierárquica 4,95±0,88<br />

C13 – Planificar 5,00±1,07<br />

Coordenador C14 – Organizar e desenhar 5,06±1,04 5,06±0,98<br />

C15 – Controlar 5,11±1,06<br />

Papéis<br />

Liderança<br />

C<strong>16</strong> – Reduzir a sobrecarga de informação 4,63±1,04<br />

Monitor<br />

C17 – Analisar a informação criticamente 4,93±1,04<br />

C18 – Apresentar a informação: redigir 4,99±1,19<br />

4,85±0,98<br />

com eficácia<br />

Modelo das Relações Humanas/Cultura Clã 4,74±1,20<br />

C19 – Criar equipas 4,65±1,34<br />

Facilitador C20 – Tomar decisões de forma participativa 4,71±1,32 4,66±1,22<br />

C21 – Gerir conflitos 4,63±1,17<br />

Papéis<br />

Liderança<br />

C22 – Autocompreensão e compreensão 4,85±1,32<br />

dos outros<br />

Mentor<br />

4,81±1,20<br />

C23 – Comunicação interpessoal 4,91±1,19<br />

C24 – Desenvolver os colaboradores 4,69±1,34<br />

Tabela 2: Análise descritiva das competências de gestão, papéis de liderança, modelos de gestão e tipos de cultura organizacional.<br />

Dimensão Y e X<br />

Flexibilidade/<br />

Exterior da<br />

Organização<br />

Controlo/<br />

Exterior da<br />

Organização<br />

Controlo/<br />

Interior da<br />

Organização<br />

Flexibilidade/<br />

Interior da<br />

Organização<br />

na responsabilidade, capacidade de programação e organização,<br />

cumprimento das regras, identificação de<br />

problemas e resolução dos mesmos, delineamento e<br />

prossecução de objetivos, distribuição de tarefas, comunicação<br />

interna e produtividade 3,13,14 .<br />

Os resultados obtidos podem estar relacionados com<br />

a posição hierárquica ocupada pelos inquiridos, tipo de<br />

estrutura organizacional em estudo e clima vivenciado<br />

nas organizações de saúde. Observou-se que 77% dos<br />

inquiridos são do nível hierárquico operacional e intermédio,<br />

pelo que as competências de gestão desenvolvidas<br />

são maioritariamente de cariz técnico, embora o<br />

nível intermédio desenvolva paralelamente atividades<br />

de teor político 15 . Por outro lado, as organizações de<br />

saúde integram as burocracias profissionais do ponto<br />

de vista estrutural, pelo que os núcleos operacionais<br />

são autónomos no exercício da sua atividade, preferindo<br />

a especialização/diferenciação em detrimento da<br />

mudança e inovação. Este tipo de estrutura é complexa<br />

de controlar e gerir, estimulando a utilização de<br />

competências de gestão e liderança no domínio do<br />

controlo <strong>16</strong>-18 . Por fim, os profissionais de saúde vivenciam<br />

um ambiente laboral de regras, protocolos e procedimentos<br />

que favorecem uma atmosfera inflexível<br />

que dificulta o processo de gestão, adaptação e mudança.<br />

O clima laboral vivenciado estimula a utilização<br />

de competências de gestão e liderança no âmbito do<br />

controlo justificando os resultados encontrados 19 .<br />

Da análise global dos quatro modelos de gestão e respetivos<br />

tipos de cultura organizacional verifica-se que<br />

os dominantes são o modelo do processo interno/<br />

/cultura hierárquica e o modelo do objetivo racional/<br />

/cultura de mercado. Estes resultados são congruentes<br />

com estudos nacionais e internacionais e pelo facto de<br />

uns modelos se evidenciarem em detrimento de outros,<br />

significa que as organizações de saúde têm uma<br />

identidade cultural definida 9,20,21 . Os resultados parecem<br />

relacionar-se com a dimensão das organizações<br />

em estudo, com os elevados índices de controlo e o<br />

tradicional distanciamento hierárquico entre gestores<br />

e colaboradores em organizações públicas. Estes fatores<br />

baseiam-se em pressupostos formais contributivos<br />

para a burocratização e traduzem-se em culturas rígidas<br />

do ponto de vista estrutural 9,22,23 . Por outro lado, a<br />

empresarialização das organizações de saúde e constante<br />

pressão por parte do Ministério das Finanças na<br />

contenção de despesa tem contribuído para um foco<br />

cada vez maior na redução de custos, centralização hierárquica<br />

por parte da tutela e consequente perda de<br />

autonomia de gestão nas organizações. Estes fatores<br />

condicionam o AH a privilegiar os processos internos,<br />

em detrimento de atividades relacionadas com a adaptação,<br />

inovação e crescimento 9,24,26 .<br />

Na comparação entre tipos de organizações, verificou-<br />

-se que os PCSP têm maior enfoque no meio interno<br />

à organização, os organismos centrais e ensino dividem<br />

o enfoque entre meio interno/externo e o privado tem<br />

maior enfoque no meio externo. Os resultados dos<br />

PCSP podem estar relacionados com o sistema integrado<br />

de gestão e avaliação de desempenho (SIADAP) na }<br />

12 13


GH gestão<br />

Modelo <strong>Gestão</strong><br />

e Tipo de Cultura<br />

N = 157<br />

Sistemas Abertos/<br />

Cultura Adhocrática<br />

Objetivo Racional/<br />

Cultura de Mercado<br />

Processo Interno/<br />

Cultura Hierárquica<br />

Relações Humanas/<br />

Cultura Clã<br />

Org. centrais<br />

e ensino<br />

Prestadores<br />

cuidados saúde<br />

públicos<br />

Média±Desvio N<br />

Padrão<br />

4,88±0,98 24<br />

administração pública, que à semelhança do contrato<br />

programa e contrato de gestão alicerçam os seus objetivos<br />

na eficiência, eficácia e qualidade, colocando dimensões<br />

como inovação, crescimento e capital humano<br />

excluídos do foco de atenção das organizações. As<br />

penalizações existentes para o não cumprimento dos<br />

contratos programa e contratos de gestão são bastante<br />

severas do ponto de vista financeiro. Por sua vez, os<br />

Tipo de organização de saúde<br />

p-value<br />

(ANOVA)<br />

Comparações<br />

múltiplas<br />

Prestadores cuidados<br />

saúde públicos<br />

p-value<br />

(Tukey)<br />

0,981<br />

Privado 0,379<br />

4,80±0,87 114 Org. centrais e ensino 0,981<br />

0,201<br />

Privado 0,332<br />

Privado 4,44±0,69 19 Org. centrais e ensino 0,379<br />

Org. centrais<br />

e ensino<br />

Prestadores<br />

cuidados saúde<br />

públicos<br />

4,98±0,89 24<br />

Prestadores cuidados 0,332<br />

saúde públicos<br />

Prestadores cuidados 0,986<br />

saúde públicos<br />

Privado 0,673<br />

4,90±1,00 114 Org. centrais e ensino 0,986<br />

0,117<br />

Privado 0,682<br />

Privado 4,64±0,67 19 Org. centrais e ensino 0,673<br />

Prestadores cuidados<br />

saúde públicos<br />

0,682<br />

Org. centrais 5,08±0,80 24<br />

Prestadores cuidados 0,936<br />

e ensino<br />

saúde públicos<br />

Privado 0,475<br />

Prestadores<br />

cuidados saúde<br />

públicos<br />

4,96±0,92 114 Org. centrais e ensino 0,936<br />

0,377<br />

Privado 0,574<br />

Privado 4,68±0,71 19 Org. centrais e ensino 0,475<br />

Org. centrais<br />

e ensino<br />

Prestadores<br />

cuidados saúde<br />

públicos<br />

4,74±1,39 24<br />

Prestadores cuidados 0,574<br />

saúde públicos<br />

Prestadores cuidados 0,967<br />

saúde públicos<br />

Privado 0,192<br />

4,87±1,08 114 Org. centrais e ensino 0,967<br />

0,028<br />

Privado 0,0<strong>16</strong><br />

Privado 4,00±1,19 19 Org. centrais e ensino 0,192<br />

* A diferença média é significativa no nível 0.05<br />

Tabela 3: Comparação dos modelos de gestão/tipos de cultura por tipos de organização.<br />

Prestadores cuidados<br />

saúde públicos<br />

0,0<strong>16</strong><br />

resultados do SIADAP têm efeito direto na avaliação<br />

dos dirigentes das organizações, na estratégia de gestão<br />

do ciclo seguinte e no orçamento auferido pelas<br />

organizações 9,27 .<br />

No contexto das organizações privadas, os resultados<br />

podem relacionar-se com a visão e objetivos institucionais.<br />

O desígnio deste tipo de organização está na<br />

eficiência, produtividade, qualidade, implementação de<br />

tecnologias inovadoras e orientação dos colaboradores<br />

para objetivos e resultados, num clima de elevada pressão<br />

com pagamentos referentes à produção 8,9 . O setor<br />

privado cresceu significativamente na última década,<br />

verificando-se um aumento expressivo no número de<br />

unidades, atendimentos urgentes, cirurgias, consultas<br />

médicas, internamentos e atos complementares de<br />

diagnóstico e terapêutica, concluindo-se que o setor<br />

tem privilegiado a produtividade e o crescimento 24,25 .<br />

Contudo, quando comparadas as três tipologias organizacionais<br />

através de testes estatísticos, constata-se que<br />

existe apenas diferença estatisticamente significativa entre<br />

PCSP e privado no modelo das relações humanas/<br />

/cultura clã. Os resultados demonstram que os PCSP<br />

demonstram com maior frequência práticas de gestão<br />

de conflito, desenvolvimento do capital humano e trabalho<br />

em equipa face ao privado. Estes resultados parecem<br />

relacionar-se com o facto das organizações do<br />

setor público se encontrarem num período em que a<br />

contratação de novos profissionais está condicionada,<br />

pelo que procuram com maior frequência o bom funcionamento<br />

e ambiente nos serviços, reduzindo assim<br />

as taxas de absentismo, burn out e turn over 28,31 .<br />

Conclusão<br />

Dos resultados obtidos conclui-se que os AH inquiridos<br />

são maioritariamente do sexo feminino, têm entre 40<br />

e 60 anos, formaram-se em direito ou ciências empresariais,<br />

exercem atividades de AH de 2ª/3ª classe, são<br />

de nível hierárquico intermédio e desempenham funções<br />

no setor público. Constatou-se que 78% dos respondentes<br />

exercem funções de nível hierárquico intermédio<br />

e operacional, pelo que o perfil de competências<br />

de gestão e liderança demonstrado se revela adequado<br />

face às atividades profissionais desempenhadas.<br />

A utilização dos modelos de gestão/tipos de cultura<br />

mais frequentes está relacionado com o tipo de organizações<br />

em estudo, dimensão, tradicional rigidez<br />

cultural, burocratização e falta de autonomia dos AH<br />

na gestão das organizações. O setor público, por apresentar<br />

médias superiores nos modelos de gestão/tipos<br />

de cultura em detrimento do privado, reconhece com<br />

maior frequência o conjunto de valores e pressupostos<br />

utilizados para lidar com os constrangimentos de adaptação<br />

internos e externos. Por fim, conclui-se que existe<br />

diferença estatisticamente significativa entre PCSP e<br />

privado no modelo das relações humanas/cultura clã. Ã<br />

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12. Felicio, M. Competências de gestão e desempenho organizacional percebido:<br />

um estudo na indústria portuguesa. Lisboa : ISCTE, 2007. Tese de doutoramento.<br />

13. Quinn, R. e Rohrbaugh, J. A spacial model of effectiveness criteria: to-<br />

-wards a competing values approach to organizational analyses. Management<br />

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14. Quinn, R. Beyond rational management: mastering the paradoxes and competing<br />

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15. Chiavenato, I. Introdução à teoria geral da administração. 9ª ed. Brasil:<br />

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<strong>16</strong>. Mintzberg, H. Estrutura e dinâmica das organizações. 2ª ed. Lisboa: Publicações<br />

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18. Mateus, D. Competências de gestão e lideranças nas organizações de<br />

saúde e cultura organizacional. Lisboa: AUHI, 2015. Tese de mestrado.<br />

19. Frich, J. et al. Leadership development programs for physicians: a systematic<br />

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26. Despacho n. <strong>º</strong> 199/20<strong>16</strong> – Diário da República. Série II. 41 (20<strong>16</strong>-01-07).<br />

27. Lei n<strong>º</strong>. 66B/2007 – Diário da República. Série I. 250 (2007-12-28).<br />

28. Santos, J. e Gonçalves, G. Cultura organizacional, satisfação profissional<br />

e atmosfera de grupo. Psico. 42: 4 (2011) 511-518.<br />

29. Gavric, G.; Sormaz, G. e Ilic, D. The impact of organizational culture on the<br />

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30. Radwan, M. Influence of organizational culture on provider adherence<br />

to the diabetic clinical practice guideline: using the competing values framework<br />

in Palestinian primary healthcare centers. International Journal of General<br />

Medicine. 11: 10 (2017) 239-247.<br />

31. Sasaki, H. et al. Assessing archetypes of organizational culture based on<br />

the competing values framework: the experimental use of the framework<br />

in Japanese neonatal intensive care units. International Journal for Quality in<br />

Health Care. 29: 3 (2017) 384-291.<br />

14 15


GH TESTEMUNHO<br />

O percurso<br />

de um Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong> além<br />

fronteiras<br />

José Carlos Freixinho<br />

Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />

Na partilha de reflexões sobre a minha<br />

experiência em África enquanto Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong>/Consultor/Perito<br />

em projetos de saúde, cabe partir<br />

do referencial que é o perfil de competências<br />

de um administrador hospitalar para enquadrar<br />

as atividades desenvolvidas, pois tal exercício<br />

permite filtrar, evidenciando-os, os skills que nem<br />

sempre, num ambiente socioeconómico estruturado<br />

no paradigma europeu, se encontram funcionalmente<br />

mapeados.<br />

Entre 1999 e 2001, assegurei a direção do projeto de<br />

desenvolvimento do Hospital Central de Cabinda -<br />

desenhado para reabilitar e melhorar a gestão e o funcionamento<br />

desse hospital, função essa iniciada três<br />

anos antes por um colega administrador hospitalar -,<br />

a que se seguiu novo projeto, em Brazzaville - República<br />

do Congo, no Centre Hospitalier Universitaire<br />

de Brazzaville, com o mesmo objetivo.<br />

Em ambos os projetos, ressaltou a criticidade da abordagem<br />

colaborativa multicultural, quer no plano estratégico<br />

quer no gestionário e logístico, como fator determinante<br />

da sua implementação e desenvolvimento.<br />

As atividades estavam enquadradas num plano de ação<br />

elaborado, discutido e consensualizado com as autoridades<br />

locais - Governo Provincial, no caso de Ca-<br />

binda, e Assessoria da Presidência da República para<br />

a área da saúde, no caso de Brazzaville - o que<br />

exigiu, em contínuo, uma componente muito grande<br />

de diplomacia e relacionamento cordial com as contrapartes,<br />

numa teia de lógicas regionais decorrentes<br />

de um ambiente de considerável volatilidade política<br />

e fragilidade socioeconómica. Ou seja, um ambiente<br />

pleno de fatores variáveis a apelar a soft skills, sem as<br />

quais não se cria oportunidade para impor as hard<br />

skills de gestão hospitalar como o fator fixo que potencia<br />

a credibilidade de intervenção na prossecução<br />

de resultados.<br />

Neste domínio, foi pedido que executasse tarefas<br />

inerentes ao conjunto de competências de um administrador<br />

hospitalar, tanto de gestão geral e planeamento<br />

e (re)organização de serviços, como de gestão<br />

de operações e logística, provendo os recursos e<br />

materiais indispensáveis ao funcionamento da organização,<br />

domínio de atuação cuja exigência é inversamente<br />

proporcional à dimensão do mercado de<br />

bens e serviços local, pois, como se calculará, os fornecedores<br />

para a maior parte dos produtos não estão<br />

sequer no mesmo Continente. O que implica um<br />

substancial trabalho de planeamento logístico, com<br />

permanente cenarização de contingência e flexibilidade<br />

na resolução de situações, numa escala acima<br />

e distante do que é a nossa realidade nacional,<br />

mesmo considerando os crónicos constrangimentos<br />

orçamentais.<br />

Mais recentemente, igualmente em África, estive ligado<br />

a um projeto de apoio ao setor da saúde (PASS<br />

II), financiado pela União Europeia e cuja assistência<br />

técnica dos peritos está implantada junto do Ministério<br />

da Saúde de Angola, com o objetivo de contribuir<br />

para a melhoria do nível do estado de saúde das populações,<br />

especialmente das mulheres e das crianças,<br />

nas cinco províncias de intervenção (Benguela, Bié,<br />

Huambo, Huíla e Luanda).<br />

Neste âmbito, a atuação é desde início fortemente<br />

enquadrada e estruturada pelos modelos de intervenção<br />

da UE desenhados para a cooperação e<br />

desenvolvimento dos países beneficiários, consistindo<br />

os objetivos específicos do projeto em três níveis de<br />

intervenção: (i) reforçar e melhorar as capacidades<br />

institucionais dos serviços centrais do Ministério da<br />

Saúde para desenvolver, aperfeiçoar e coordenar as<br />

normas, os procedimentos, os instrumentos e ferramentas<br />

nas áreas de planeamento estratégico e<br />

operacional, orçamentação, organização dos serviços,<br />

monitorização e negociação; (ii) reforçar e melhorar<br />

as capacidades ao nível provincial do Ministério da<br />

Saúde para planificar, orçamentar, organizar e gerir os<br />

serviços de saúde integrados em conformidade com<br />

a política de descentralização e o processo de Municipalização<br />

dos Serviços de Saúde e (iii) melhorar a<br />

qualidade dos cuidados prestados nos serviços de<br />

saúde materna e infantil dos Hospitais Municipais e<br />

dos Centros de Saúde de Referência, particularmente<br />

para garantir a cadeia de cuidados de saúde da gravidez,<br />

do parto, pós-parto e recém-nascidos.<br />

Como se pode ver este é um projeto ambicioso que<br />

abarca cinco províncias, que representam mais de<br />

metade da população de Angola e, de acordo com as<br />

regras estabelecidas para este tipo de projetos, tem<br />

um Quadro Lógico que estrutura os conteúdos a nível<br />

de Objetivos e Resultados e adapta as Atividades<br />

a desenvolver. A execução é feita de acordo com<br />

Pacotes Funcionais (PF): PE (Planificação Estratégica),<br />

SIGS (Sistema de Informação e <strong>Gestão</strong> Sanitária),<br />

RHS (Recursos Humanos para o Setor Saúde,<br />

pelo qual fui responsável, nos últimos quatro anos,<br />

enquanto perito sénior), M (Municipalização) e SMI<br />

(Saúde Materno Infantil).<br />

Aqui o que se pede a um Perito, e com base nisso fui<br />

selecionado, é que tenha skills e conhecimentos que<br />

embora estejam presentes no conteúdo funcional de<br />

um administrador hospitalar, exigem o domínio aprofundado<br />

de matérias como a realidade da saúde em<br />

“<br />

A EXPERIÊNCIA EM ÁFRICA<br />

EXIGE CONHECIMENTOS<br />

E CAPACIDADES DE QUE,<br />

NORMALMENTE,<br />

UM ADMINISTRADOR<br />

HOSPITALAR NÃO<br />

CARECE PARA EXERCER<br />

A SUA FUNÇÃO.<br />

”<br />

Angola, as regras extensas e complexas dos projetos<br />

da UE, o modelo de gestão de projetos mais adequado,<br />

a gestão de contratos, bem como conhecimentos<br />

relacionados com desenvolvimento de projetos em<br />

África, capacidade de trabalho em equipas multinacionais,<br />

gestão de sensibilidades, entre outros.<br />

As atividades que foram desenvolvidas no âmbito do<br />

PF RHS visaram atingir três grandes pilares envolvendo<br />

duas grandes áreas, como se pode ver no quadro<br />

infra: (i) Planeamento /Planificação de RH e (ii) Formação<br />

Permanente/Pós-graduada e <strong>Gestão</strong> das Escolas.<br />

De acordo com as regras da UE, nomeadamente o<br />

PRAG 1 , procedeu-se à elaboração de Cadernos de Encargos<br />

para lançamento dos concursos internacionais,<br />

para que empresas privadas desenvolvessem as atividades<br />

que cumprissem os objetivos definidos e elaborassem<br />

os produtos que cada um dos contratos previa.<br />

Para cada um dos pilares acima referidos foram elaborados<br />

os produtos pelas empresas selecionadas e<br />

com o envolvimento e participação dos técnicos também<br />

previamente selecionados, que tiveram formação<br />

para poderem elaborar esses produtos de acordo<br />

com os critérios estabelecidos.<br />

Como é bom de ver, o envolvimento dos técnicos<br />

dos GPS 2 , EFTS e PF da Formação Permanente, foi<br />

importante para o desenvolvimento quer da sua for }<br />

<strong>16</strong> 17


GH TESTEMUNHO<br />

mação quer da elaboração dos referidos produtos.<br />

Para além disso, o papel do perito principal é determinante<br />

no acompanhamento e desenvolvimento desses<br />

produtos e execução dos contratos, garantindo<br />

a sua adequação à realidade do país, fugindo-se assim<br />

à tentação do one size fits all. Garante-se, igualmente,<br />

o seu cumprimento para se alcançarem não só os objetivos,<br />

mas também os Resultados Esperados constantes<br />

do Quadro Lógico mencionado.<br />

Em suma, a experiência em África, para além de enriquecedora<br />

do ponto de vista pessoal e profissional,<br />

exige conhecimentos e capacidades de que, normalmente,<br />

um administrador hospitalar não carece para<br />

exercer a sua função na nossa geografia dado o nível<br />

organizacional existente. Acresce que todos os hospitais<br />

antes referidos, à época do início dos projetos,<br />

evidenciavam graves problemas de organização e funcionamento,<br />

condição que os levou à necessidade de<br />

apoio externo.<br />

No que se refere ao quadro da Assistência Técnica de<br />

suporte aos projetos, a mesma mitiga a repetição e redundância<br />

de consensos enquadradores da intervenção,<br />

respaldando a intervenção dos profissionais e consolidando<br />

e potenciando a sua ação. Contudo, outras<br />

competências específicas se exigem, para além das<br />

inerentes a um administrador hospitalar. Referem-se<br />

quer aos conteúdos e regras de funcionamento desses<br />

projetos, quer aos conteúdos técnicos necessários<br />

para o desenvolvimento e elaboração dos produtos<br />

em questão, nunca esquecendo a necessária visão<br />

de conjunto e do sistema de saúde em que se está a intervir,<br />

para adequada sintonia e integração funcionais.<br />

Num mercado de trabalho global, o contínuo aprofundamento<br />

de soft skills, no âmbito de experiências<br />

multiculturais de qualquer cariz, bem como de modelos<br />

estruturantes de instâncias internacionais de apoio,<br />

afigura-se incontornável e habilitante para qualquer profissional,<br />

mas com pertinência acrescida para os administradores<br />

hospitalares que, por inerência, têm de<br />

gerir a interação com diversos interesses e pressões<br />

no âmbito da sua ação. Ã<br />

1. PRAG, para mais informações ver https://ec.europa.eu/europeaid/<br />

funding/about-funding-and-procedures/procedures-and-practical-guide-<br />

-prag_en.<br />

2. GPS - Gabinetes Provinciais de Saúde - o equivalente às nossas ARS,<br />

mas com dependência hierárquica do respetivo Governo Provincial, o que<br />

levanta graves problemas de articulação com o órgão central do Ministério<br />

da Saúde que apenas tem função normativa.<br />

18


GH carreiras<br />

A carreira de Assistente<br />

Operacional nos<br />

serviços de saúde<br />

Paulo de Carvalho<br />

Presidente do SITAS - Sindicato Independente<br />

dos Técnicos Auxiliares de Saúde<br />

A<br />

existência de qualquer estrutura<br />

prestadora de Cuidados de Saúde<br />

assenta em dois princípios fundamentais<br />

muito simples, embora<br />

muito exigentes do ponto de vista<br />

organizacional e humano. Existem para cuidar da<br />

população doente, e para colaborar na prevenção<br />

da doença.<br />

A atual complexidade dos serviços prestados por estas<br />

estruturas obriga à composição de equipas multidisciplinares,<br />

que, embora os seus membros se revistam<br />

de competências muito próprias, por vezes se sobrepõem<br />

partilhando todas de um objetivo comum<br />

- o bem-estar do paciente. Por outro lado, os sucessivos<br />

constrangimentos orçamentais que afetam estas<br />

estruturas impõem que estas se tornem cada vez<br />

mais eficientes, na realização das suas tarefas.<br />

A eficiência destas unidades depende não só de meios<br />

técnicos, mas principalmente de meios humanos, e<br />

se grupos profissionais, como Médicos, Enfermeiros<br />

e TSDT’s, têm nos últimos 40 anos visto as suas profissões<br />

evoluírem, pelo contrário, os atualmente designados<br />

Assistentes Operacionais, antigos Auxiliares<br />

de Ação Médica, têm visto a sua profissão “abandonada”,<br />

quer por ponderação política, quer muitas vezes<br />

pelo desconhecimento da sua importância nas<br />

equipas de saúde, e os resultados deste desinvestimento<br />

está à vista, dificuldades de captação de profissionais,<br />

aumento da taxa de absentismo e o aumento<br />

dos casos de infeções nosocomiais, fator extremamente<br />

relevante para a avaliação da eficiência das<br />

Unidades Prestadoras de Cuidados de Saúde.<br />

Estes profissionais estão incluídos em praticamente<br />

todas as equipas de saúde, e o seu papel é preponderante<br />

para o desempenho e sucesso destas, é necessário<br />

por isso investir nestes profissionais por forma<br />

a que tenham as melhores ferramentas à sua disposição<br />

para realizarem as tarefas que lhes competem. É<br />

sabido também que profissionais com objetivos bem<br />

definidos, com perspetivas de carreira, com acompanhamento<br />

e pautados de certa autonomia, são mais<br />

produtivos, usam de menor absentismo e são minimizadas<br />

as ingerências por outros profissionais.<br />

Dentro de uma Unidade de Saúde os atuais Assistentes<br />

Operacionais, embora desprovidos de uma carreira,<br />

e de objetivos concretos, são responsáveis por<br />

tarefas de extrema importância, como a esterilização<br />

de equipamentos e materiais, higienização das unidades<br />

e dos pacientes, acompanhamento dos doentes<br />

entre unidades, cuidados de higiene, hidratação e alimentação<br />

dos pacientes e são sem dúvida o grupo<br />

profissional que mais contacto tem com os pacientes.<br />

Até 2008 existia em Portugal a carreira de Auxiliar<br />

de Ação Médica, que dispunha de objetivos e responsabilidades<br />

definidas, carreira essa que foi suprimida,<br />

deixando de existir parâmetros para o desenvolvimento<br />

desta profissão, isto acaba por colocar,<br />

ao Administrador <strong>Hospitalar</strong>, como se tem assistido,<br />

desafios de gestão que acabam por, em última análise,<br />

dificultar o próprio exercício de gestão, dispondo<br />

de quase um terço dos seus recursos humanos com<br />

indefinições e desinvestimento desta ordem, o que<br />

contribui de sobremaneira para alguns dos maus resultados<br />

do SNS.<br />

Em novembro de 2017, por iniciativa de quatro Assistentes<br />

Operacionais, o SITAS - Sindicato Independente<br />

de Técnicos Auxiliares de Saúde foi criado, com<br />

o puro objetivo de dar voz e promover esta profissão;<br />

este Sindicato pauta por uma atuação impar na sociedade<br />

portuguesa e na indústria da saúde, de trabalho<br />

e de consensos, e reveste-se de total independência<br />

de movimentos partidários, pretendendo,<br />

além de defender a criação de uma Carreira Especial<br />

da Saúde de Técnicos Auxiliares de Saúde, atingir<br />

consensos de gestão que suportem, quer estes trabalhadores,<br />

quer as administrações responsáveis pelas<br />

unidades onde estão integrados, pretendendo servir<br />

de ponte entre os trabalhadores e as administrações.<br />

Pretende colaborar com a gestão e administração<br />

com dois objetivos claros, que em algumas unidades,<br />

dada a sua dimensão, são difíceis de atingir: o bom<br />

relacionamento entre profissionais e a aplicação escrupulosa<br />

da Lei, que muitas vezes é atropelada pela<br />

gestão intermédia, seja por desconhecimento, seja<br />

por simples afirmação, colocando muitas vezes em<br />

causa a própria instituição.<br />

A criação da Carreira de Técnicos Auxiliares de Saúde<br />

reveste-se de extrema importância para os trabalhadores,<br />

mas ainda de mais importância para as<br />

instituições onde estes colaboram, uma vez que dota<br />

estes profissionais de competências ímpares, bem<br />

como minimiza os possíveis atritos entre diferentes<br />

grupos profissionais que todos sabemos ser um fator<br />

penalizador dentro de qualquer estrutura. Permite<br />

assim à gestão dispor de um perfil concreto de competências<br />

e valências pré-adquiridas, bem como implementar<br />

planos formativos mais incisivos e direcionados<br />

permitindo gerir melhor os recursos humanos<br />

e assim atribuir um maior nível de responsabilidade a<br />

estes trabalhadores, o que se traduz efetivamente na<br />

busca por parte do trabalhador de melhoria das suas<br />

competências por forma a se autovalorizar.<br />

Melhora-se assim a nosso ver a implementação de<br />

boas práticas, contribuindo para a melhor eficiência<br />

“<br />

A CRIAÇÃO DA CARREIRA<br />

DE TÉCNICOS AUXILIARES<br />

DE SAÚDE REVESTE-SE<br />

DE EXTREMA IMPORTÂNCIA<br />

PARA OS TRABALHADORES,<br />

MAS AINDA DE MAIS<br />

IMPORTÂNCIA PARA AS<br />

INSTITUIÇÕES ONDE<br />

ESTES COLABORAM.<br />

”<br />

do sistema, minimizando os custos e evidenciando a<br />

boa gestão. Estamos em querer que é do interesse<br />

comum esta valorização, aproximando os nossos serviços<br />

de Saúde dos mais altos standards internacionais,<br />

facultando à população melhores cuidados acabando<br />

por diminuir custos, através de fatores como<br />

a diminuição de infeções nosocomiais, a melhor intervenção<br />

destes profissionais, a correta dotação dos<br />

mesmos, seja em número seja em competências, formando<br />

assim um sistema verdadeiramente inclusivo.<br />

A inclusão destes profissionais nos processos de melhoria<br />

contínua e nos diversos grupos de trabalho que<br />

têm por finalidade solucionar os diversos constrangimentos<br />

que surgem nestas estruturas, traduzem-se<br />

numa maior efetividade na aplicação das soluções a<br />

encontrar, uma vez que a aplicabilidade das mesmas<br />

fica a cargo destes mesmos profissionais, existindo<br />

uma real valorização das suas competências.<br />

É com estes objetivos que o Sindicato Independente<br />

dos Técnicos Auxiliares de Saúde - SITAS se apresenta,<br />

estando sempre ao dispor para continuar a colaborar<br />

com todas as administrações, e com a APAH no sentido<br />

de dirimirem diferendos e por vezes dificuldades<br />

de comunicação entre as administrações e estes trabalhadores,<br />

tendo sempre como finalidade encontrar<br />

pontos de encontro entre todos os intervenientes. Ã<br />

20 21


GH OUVIR A POPULAÇÃO<br />

Os portugueses<br />

e a saúde<br />

João Costa<br />

GfK Metris<br />

Os Portugueses atribuem extrema importância<br />

à Saúde, mas consideram<br />

que esta sua valorização não tem<br />

paralelo na atuação do Estado. Esta<br />

é uma das conclusões de um inquérito<br />

realizado à população portuguesa pela GfK Metris,<br />

a pedido da APAH, sobre o estado da Saúde em<br />

Portugal, o financiamento da mesma e a participação<br />

da sociedade nas decisões críticas sobre esta área.<br />

“Haja saúde!”. O adágio popular é inequivocamente<br />

confirmado por este estudo, com 95% dos portugueses<br />

a considerarem a Saúde “muito importante”<br />

entre o seu conjunto de valores. Esta quase unânime<br />

valorização da saúde torna os portugueses exigentes,<br />

e também extremamente críticos, face ao estado da<br />

saúde em Portugal. Com efeito, 3 em cada 4 portugueses<br />

consideram que a Saúde não é encarada<br />

como uma prioridade pelo Estado, sentindo que há<br />

pouca preocupação quanto ao bem-estar dos utentes,<br />

e referindo especificamente o baixo investimento<br />

dedicado a esta área, apontando exemplos como<br />

a falta de profissionais de saúde e a falta de condições<br />

e equipamentos nos centros de tratamento.<br />

Assim, na ótica dos portugueses, há um problema de<br />

financiamento na saúde, e aqui surge um aparente paradoxo:<br />

7 em cada 10 portugueses consideram que o<br />

valor atribuído no OE à Saúde é insuficiente para as<br />

necessidades do setor, apesar de reconhecerem que,<br />

ainda assim, a Saúde é das áreas que absorve mais investimento<br />

por parte do Estado, ficando apenas atrás<br />

da Segurança Social. Apesar disto, os portugueses insistem<br />

que o investimento na Saúde deveria ser incrementado,<br />

e canalizado para a contratação de mais profissionais<br />

de saúde, bem como para a modernização<br />

de equipamentos, instalações e tratamentos.<br />

Público vs. Privado<br />

Este sentimento de sub-investimento na Saúde concentra-se<br />

numa insatisfação face ao Sistema Nacional<br />

de Saúde. O SNS é fortemente criticado, fundamentalmente<br />

pelas longas listas de espera dos utentes<br />

para consultas ou cirurgias. Esta visão menos positiva<br />

do SNS agudiza-se quando é feita uma comparação<br />

com os hospitais privados, isto apesar de só aproximadamente<br />

1 em cada 10 portugueses terem optado<br />

pelo privado na última ocasião em que visitaram<br />

um hospital. A utilização destas instituições não é<br />

maior, como os próprios admitem explicitamente,<br />

pelo facto do elevado custo de acesso servir de barreira<br />

a muitos portugueses, já que apenas 1 em cada<br />

3 portugueses tem seguro de saúde e/ou pertence a<br />

um subsistema de saúde.<br />

Ou seja, a boa prestação do setor privado da Saúde<br />

parece em grande parte alavancada numa sólida imagem<br />

pública, e não tanto na experiência privada de<br />

cada um. Valerá a pena refletir sobre quanto desta<br />

construção resultará efetivamente de uma manifestação<br />

na opinião pública da qualidade intrínseca das<br />

instituições (através do “passa palavra”, de notícias<br />

favoráveis na comunicação social, de bons indicado-<br />

“<br />

res de performance tornados públicos, etc.), e quanto<br />

resultará de uma reação às condições do SNS,<br />

amplificando as qualidades do privado como forma<br />

de melhor acentuar as debilidades do público. Ou,<br />

por outras palavras, “a galinha da vizinha é sempre É IMPORTANTE NOTAR<br />

melhor do que a minha”.<br />

Não obstante, é importante notar que os portugueses<br />

não fazem uma “crítica cega” ao SNS. Ou seja,<br />

QUE OS PORTUGUESES<br />

não criticam indiscriminadamente todos os aspetos<br />

do seu funcionamento para fazerem notar a sua insatisfação.<br />

Antes, mostram ter uma abordagem mais facetada,<br />

criticando certos aspetos, mas admitindo que<br />

CEGA” AO SNS. OU SEJA,<br />

noutros a situação não é tão negativa. Com efeito, as NÃO CRITICAM<br />

instituições privadas obtêm melhores avaliações do<br />

que o Serviço Público em todas as dimensões, mas é INDISCRIMINADAMENTE<br />

importante notar que esta vantagem do Setor Privado<br />

é mais expressiva precisamente nos pontos que TODOS OS ASPETOS<br />

são mais criticados no SNS, ou seja, nos tempos de<br />

espera; sendo menos expressiva em aspetos ligados<br />

à competência científica ou à qualidade do serviço.<br />

O diferencial, algo significativo, entre a satisfação PARA FAZEREM NOTAR<br />

global com o serviço público e o privado será, em<br />

grande parte, explicável pelos elevados tempos de A SUA INSATISFAÇÃO.<br />

espera no SNS. Todavia, os próprios utentes admitem<br />

que estes indicadores (“tempo de espera para<br />

”<br />

marcação” e “tempo de espera para admissão”) são<br />

subsidiários face ao aspeto mais importante: a competência<br />

e conhecimentos dos profissionais de saúde<br />

e, neste ponto, a proximidade entre o SNS e as instituições<br />

privadas é bastante maior. }<br />

NÃO FAZEM UMA “CRÍTICA<br />

DO SEU FUNCIONAMENTO<br />

22 23


GH OUVIR A POPULAÇÃO<br />

Competência e conhecimentos dos profissionais<br />

de saúde<br />

Qualidade dos equipamentos de exames<br />

Ter acesso a tratamentos inovadores/mais recentes<br />

Tempo de espera para admissão de consultas<br />

e/ou exames<br />

Tempo de espera para marcação de consultas<br />

e/ou exames<br />

Qualidade das instalações (salas de espera,<br />

gabinetes de consultas, cafetaria, etc…)<br />

Satisfação Global<br />

mostram-se, de um modo geral, favoráveis à ideia<br />

de aumentar a participação da sociedade nas decisões<br />

de saúde através da criação ou fortalecimento<br />

de corpos especializados da sociedade civil que lhe<br />

possam servir de voz, considerando assim interessantes<br />

as sugestões de conferir maior poder às associações<br />

de doentes, ou de tornar obrigatória a escuta<br />

de representantes da sociedade para certas decisões<br />

nesta área.<br />

A questão da representatividade leva-nos, de certa<br />

forma, ao início: este desejo de uma maior auscultação<br />

da sociedade resulta do sentimento de algum<br />

“abandono” por parte do Estado em termos de<br />

Saúde. Existe a perceção de que o Estado desconhece<br />

as dificuldades dos utentes do SNS e/ou não<br />

se preocupa em melhorar as condições de acesso<br />

ao mesmo. Os portugueses, em resumo, exigem um<br />

maior financiamento da saúde pública, financiamento<br />

esse que deverá traduzir-se, antes de mais, na agilização<br />

do acesso a consultas e exames, diminuindo os<br />

tempos de espera. Ã<br />

O universo deste estudo é constituído pelos indivíduos com 18 e mais<br />

anos, residentes em Portugal Continental. Foram realizadas 602 entrevistas,<br />

numa amostra proporcional à população portuguesa. A margem de erro é<br />

de 3,9% para um intervalo de confiança de 95%. Os respondentes foram<br />

selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que<br />

cruzou as variáveis Sexo, Idade, Instrução (homens), Ocupação (mulheres),<br />

Região e Habitat/ Dimensão dos agregados populacionais. Posteriormente,<br />

os dados foram ponderados para o universo da população em estudo, ou<br />

seja, 8.251.000 indivíduos.<br />

A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal, em total<br />

privacidade, com base em questionário elaborado pela GfK Metris, a partir<br />

dos objetivos enumerados. Os trabalhos de campo decorreram entre os<br />

dias 10 a 24 de Setembro de 2018, e foram realizados por 28 entrevistadores,<br />

recrutados e treinados pela GfK Metris, que receberam uma formação<br />

adequada às especificidades deste estudo.<br />

“<br />

A REPRESENTAÇÃO<br />

DA SOCIEDADE NAS DECISÕES<br />

RELACIONADAS COM A SAÚDE<br />

É TAMBÉM UMA ÁREA<br />

NA QUAL OS PORTUGUESES<br />

CONSIDERAM QUE SÃO<br />

POUCO OUVIDOS,<br />

COM METADE DOS INQUIRIDOS<br />

A CONSIDERAREM<br />

QUE A SOCIEDADE DEVERIA<br />

TER UM PAPEL MAIS ATIVO.<br />

”<br />

24<br />

Participação da sociedade<br />

Como foi dito, os portugueses são muito críticos do<br />

estado da Saúde em Portugal, em particular, do setor<br />

Público. Apesar de identificarem estas carências,<br />

os Portugueses mostram-se pouco disponíveis para<br />

suportar um maior investimento na saúde se isso representar<br />

um aumento nos descontos que já fazem.<br />

Os mecanismos de financiamento na Saúde são, de<br />

resto, um tema sobre o qual os portugueses revelam<br />

ter um conhecimento algo rudimentar. Existe a<br />

perceção de que o dinheiro vem dos impostos, mas<br />

é notória a incapacidade de completar este conhecimento<br />

com informação mais detalhada, como o<br />

peso da Saúde no OE ou a forma pela qual se define<br />

a atribuição de fundos a esta área.<br />

A representação da sociedade nas decisões relacionadas<br />

com a Saúde é também uma área na qual os<br />

portugueses consideram que são pouco ouvidos.<br />

com metade dos inquiridos a considerarem que<br />

a sociedade deveria ter um papel mais ativo. Esta<br />

maior proximidade representará, ainda assim, alguma<br />

forma de delegação, já que quando o foco é colocado<br />

no indivíduo, isto é, se cada inquirido gostaria de,<br />

a título pessoal, ter um papel mais ativo nas decisões<br />

sobre Saúde, apenas 29% mostraram-se disponíveis.<br />

Esta menor disponibilidade parece ser motivada pela<br />

consciência pessoal de alguma falta de competência<br />

para intervir diretamente, já que os portugueses


GH entrevista<br />

ROSA MATOS<br />

PRESIDENTE DO CENTRO HOSPITALAR E UNIVERSITÁRIO DE LISBOA CENTRAL, EPE<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES DEVEM<br />

SER INOVADORES<br />

E ABERTOS À MUDANÇA<br />

Com um vasto percurso em várias instituições do Ministério da Saúde, Rosa Matos<br />

considera que os hospitais são organizações complexas e que necessitam de mudança.<br />

Nesta entrevista, faz um balanço do setor da saúde em Portugal e salienta que ser<br />

administrador hospitalar é um desafio profissional muito exigente, mas também estimulante.<br />

Que balanço faz do seu mandato de<br />

governação na área da saúde?<br />

Quais foram os principais desafios<br />

na implementação das políticas<br />

delineadas para o setor da<br />

saúde em Portugal?<br />

Exerci um mandato curto e num contexto difícil, com<br />

todo o setor a refletir um quadro de stress devido às<br />

pressões para a mudança e para a adaptação a novos<br />

desafios, em cenário de escassez de recursos. Procurei<br />

contribuir para que a equipa governativa de que<br />

fiz parte reforçasse a sua capacidade de dar uma resposta<br />

integrada e sistémica. Promovi o diálogo com<br />

todos os atores e a cooperação entre os diversos<br />

agentes do sistema de saúde e também da administração<br />

do território, em particular as autarquias e o<br />

setor social. Lancei alguns programas inovadores e<br />

mobilizadores como a Hospitalização Domiciliária, os<br />

Centros de Responsabilidade Integrada e a criação<br />

de um plano de ação para a promoção de condições<br />

e bem-estar no local de trabalho. Avancei também,<br />

em conjunto com o Ministério das Finanças, com um<br />

modelo visando a progressiva autonomia dos hospitais<br />

através dos planos de atividades e orçamento,<br />

dos contratos programa e dos contratos de gestão<br />

dos membros dos Conselhos de Administração.<br />

Por outro lado, foi possível dar início a um processo<br />

de flexibilização dos modelos de recrutamento de<br />

profissionais, seja através de fixação de quotas, seja<br />

tornando mais céleres os procedimentos para substituição,<br />

definitiva ou temporária, desses profissionais.<br />

Faço por isso um balanço positivo do mandato que<br />

exerci, com a consciência que não tive tempo para<br />

dar resposta a tudo o que desejava, mas ao mesmo<br />

tempo, com a convicção que a equipa que integrei<br />

deixou boas sementes para o futuro. }<br />

26 27


GH entrevista<br />

“<br />

A SOCIEDADE ESTÁ<br />

EM CONSTANTE MUDANÇA<br />

E AS ORGANIZAÇÕES<br />

DEVEM ACOMPANHAR<br />

ESSE PROCESSO.<br />

”<br />

Tem um percurso muito rico em várias instituições<br />

do Ministério da Saúde e mesmo na Região Autónoma<br />

dos Açores. O que destaca do seu trabalho<br />

na ARS Alentejo e na Saúdaçor? Muito distinto da<br />

região de Lisboa e Vale do Tejo?<br />

Foram três experiências muito ricas e muito diferentes.<br />

Na ARS Alentejo enfrentei um desafio de modernização<br />

e de capacitação dos vários territórios,<br />

com equipamentos e respostas adequadas a um quadro<br />

caracterizado por uma baixa densidade territorial<br />

e uma população muito envelhecida. Renovámos a<br />

rede de centros de saúde, promovemos respostas<br />

de proximidade, criámos as USF, desenvolvemos as<br />

ações preventivas e de rastreio, apostámos na rede<br />

de continuados integrados, criando um sistema de<br />

resposta global que sem poder responder a todas as<br />

necessidades, se tornou, no entanto, muito mais potente,<br />

moderno e próximo das populações e das suas<br />

necessidades. Na Saúdaçor destaco, sobretudo, o trabalho<br />

de reorganização e digitalização de processos e<br />

sistemas que permitiu melhorar muito a capacidade<br />

de supervisão e gestão integrada dos recursos no plano<br />

da região e das suas nove ilhas. A ARS de Lisboa<br />

e Vale do Tejo colocou-me um desafio estimulante<br />

de resposta à complexidade, num território de saúde<br />

em que muitos equipamentos se encontravam degradados<br />

e pouco ajustados às necessidades atuais da<br />

prestação de cuidados de saúde. Um desafio que começámos<br />

a enfrentar envolvendo em parcerias todos<br />

os agentes interessados, com relevo para as parcerias<br />

com as autarquias e o sistema social. Saliento ainda o<br />

arranque e desenvolvimento dos processos de rastreio<br />

de base populacional na região de Lisboa e Vale<br />

do Tejo, que se encontravam até então estagnados.<br />

Acredita que o SNS e, particularmente, os hospitais<br />

estão preparados para o envelhecimento populacional<br />

e aumento da prevalência das doenças crónicas?<br />

O SNS e os hospitais têm consciência dos desafios<br />

e das prioridades estratégicas que têm de enfrentar<br />

para fazer face aos novos desafios da saúde do século<br />

XXI. Mas se me pergunta se estão preparados, eu<br />

digo que não. É difícil mudar o rumo para fazer face<br />

a uma realidade demográfica e sociologicamente diferente.<br />

Somos uma sociedade envelhecida com uma<br />

estrutura familiar e de vizinhança que já não consegue<br />

cuidar dos seus idosos. Os hospitais são organizações<br />

complexas e a chave é a mudança com compromisso<br />

e envolvimento, que exige muito diálogo e capacidade<br />

de ação, usando também as novas tecnologias e<br />

modelos organizacionais diferentes dos atuais como<br />

indutores da mudança, mas sem perder nunca a<br />

consciência de que nada se faz sem os profissionais e<br />

que nada faz sentido se não servir melhor os utentes.<br />

Como encara o quadro de transferência de competências<br />

no domínio da saúde para os órgãos municipais<br />

e para as entidades intermunicipais? Pese<br />

embora a participação do cidadão e dos municípios<br />

esteja prevista nos Conselhos da Comunidade dos<br />

ACES, tendo em conta o recente Decreto-Lei n.<strong>º</strong><br />

23/<strong>2019</strong>, de 30 de janeiro, como analisa a nova partilha<br />

de responsabilidades nos cuidados de saúde<br />

primários? As novas disposições legais não estarão<br />

a potenciar iniquidades no acesso?<br />

O princípio da proximidade na prestação dos cuidados<br />

de saúde e da corresponsabilização do patamar<br />

municipal e intermunicipal na garantia das respostas<br />

em saúde é um bom princípio e eu costumo dizer<br />

que os “Fregueses” são os mesmos, como tal, cada<br />

um tem de fazer o que lhe compete para que possamos<br />

servir melhor as pessoas. No meu percurso<br />

profissional sempre envolvi o poder local. Na área de<br />

Lisboa e Vale do Tejo, por exemplo, muitos dos centros<br />

de saúde estão a ser recuperados e construídos<br />

em parceria com as autarquias.<br />

A área de prevenção é também um campo onde a<br />

parceria com o poder local é bastante virtuosa e que<br />

deve ser feito um trabalho continuado de estreita colaboração<br />

para cada vez mais termos uma população<br />

com hábitos saudáveis<br />

Mais do que o quadro legal, será a robustez das parcerias<br />

e a qualidade dos resultados a determinar o<br />

sucesso do processo de transferências.<br />

As Unidades Locais de Saúde são uma resposta organizacional<br />

com o objetivo de aumentar a integração<br />

de cuidados de saúde e o desenvolvimento de cuidados<br />

de saúde centrados no cidadão. Este modelo é<br />

fortemente criticado por vários atores dos cuidados<br />

de saúde primários. Considera este modelo ótimo<br />

na perspetiva de potenciar e concretizar a integração<br />

de cuidados? Como é que ele pode ser aperfeiçoado?<br />

Poderá a região de Lisboa e Vale do Tejo beneficiar<br />

de um modelo organizativo desta natureza?<br />

O conceito de Unidade Local de Saúde tem um<br />

enorme potencial, que não tem sido explorado devidamente<br />

porque, em muitas circunstâncias, à integração<br />

administrativa não correspondeu uma efetiva<br />

integração clínica. Integrar não é o mesmo que juntar.<br />

Quando se junta sem se integrar, os cuidados primários<br />

correm o risco de se constituírem no parente<br />

pobre do sistema quando deveria ser o contrário.<br />

Penso, por isso, que os modelos organizativos têm<br />

que ser avaliados e aperfeiçoados antes de se lançarem<br />

novas parcerias.<br />

A sociedade está em constante mudança e as organizações<br />

devem acompanhar esse processo. Não<br />

podemos esperar que modelos organizativos com<br />

décadas e que permanecem inalteráveis respondam<br />

eficazmente às necessidades atuais das populações.<br />

A integração é o caminho do futuro colocando a<br />

pessoa no início do processo (início da linha de produção)<br />

e a cujas necessidades todos os serviços vão<br />

respondendo conforme for necessário. Quando falo<br />

de serviços não falo só da saúde, mas também da<br />

segurança social, da justiça, do ambiente, entre outros,<br />

fazendo cada um o que lhe compete para servir<br />

melhor as pessoas.<br />

Falamos de saúde e não de doença. O que temos }<br />

28 29


GH entrevista<br />

de fazer é evitar a doença e para isso temos que envolver<br />

toda a sociedade nas respostas que damos pa-<br />

-ra conseguirmos esse objetivo.<br />

Os contratos de gestão com os Conselhos de Administração<br />

dos Hospitais são um tópico recorrente da<br />

gestão hospitalar. Quais as vantagens que julga decorrerem<br />

de publicitar, no curto prazo, uma avaliação<br />

global das administrações dos hospitais do SNS?<br />

E considera que existem mecanismos para o efetuar?<br />

Procurei no meu mandato desenvolver as condições<br />

para a generalização dessa prática em articulação com<br />

o Ministério das Finanças. A valorização e o alinhamento<br />

dos instrumentos de governação dos hospitais<br />

EPE, nomeadamente dos planos de atividade e<br />

orçamento, dos contratos programa e dos contratos<br />

de gestão dos membros dos conselhos de administração,<br />

permitem a implementação, já em <strong>2019</strong>, de<br />

um novo modelo de gestão hospitalar, que reforça a<br />

autonomia e a responsabilidade da gestão dos hospitais<br />

do SNS, em termos de mapa de pessoal, planos<br />

de investimentos e desempenho assistencial económico–financeiro.<br />

Os contratos de gestão transparentes<br />

e avaliados são uma importante ferramenta para<br />

melhorar a administração dos hospitais, mas exigem<br />

uma robustez e uma certeza do quadro financeiro<br />

para assegurar a sua exequibilidade.<br />

Os hospitais do SNS continuam com fortes restrições<br />

à sua autonomia que limitam a capacidade gestionária<br />

dos seus Conselhos de Administração. Considera<br />

que a solução passa por, conforme anunciado, atribuir<br />

autonomia às instituições hospitalares?<br />

Autonomia e responsabilidade num quadro de transparência<br />

e avaliação. Só assim poderemos libertar<br />

o SNS de amarras burocráticas e práticas velhas e<br />

desajustadas que diminuem a sua capacidade de dar<br />

respostas flexíveis, àgeis e por medida, consistentes<br />

com as expectativas e as necessidades da sociedade<br />

do século XXI.<br />

Tendo consciência dos constrangimentos atuais,<br />

quais as vantagens, na sua perspetiva, decorrentes<br />

de um modelo de funcionamento assente em Centros<br />

de Responsabilidade Integrada (CRI)?<br />

Os Centros de Responsabilidade Integrada são um<br />

excelente exemplo em que a autonomia, associada<br />

à responsabilidade e à transparência, num quadro de<br />

negociação aberta entre as administrações, os profissionais<br />

e as comunidades envolventes, pode dar um<br />

excelente contributo para melhorar as respostas em<br />

saúde, satisfazendo os utentes, realizando melhor os<br />

profissionais e otimizando os recursos disponíveis.<br />

Reconhecidamente o parque de equipamentos hospitalar<br />

encontra-se em franca degradação pela redução<br />

do investimento sentida nos últimos anos. A<br />

equipa ministerial que integrou veio a reconhecer<br />

este problema através da criação de um plano especial<br />

de investimentos. Qual a solução que preconiza<br />

para ultrapassar esta situação?<br />

O plano especial de investimentos deve constituir um<br />

referencial, em permanente atualização, para dar uma<br />

resposta focada que permita recuperar o parque de<br />

equipamentos da saúde, da erosão a que foi sujeito<br />

em particular na primeira metade da década. Mas um<br />

plano tem de ter subjacente a componente financeira<br />

sem a qual o plano não é exequível: fazer planos sem<br />

orçamento é sempre o mais fácil, é o que acontece<br />

a maior parte das vezes. Eu pergunto: como vai ser<br />

o plano de investimento de <strong>2019</strong> dos hospitais do<br />

SNS? Investir em saúde é ter em conta particularmente<br />

o investimento na qualificação e na satisfação<br />

dos seus profissionais, mas não se pode descurar o<br />

investimento cada vez mais exigente em instalações e<br />

equipamentos adaptados às novas soluções que vão<br />

surgindo da experiência, da investigação científica e<br />

da capacidade de inovação em saúde.<br />

A relação público/privado é um tema sempre polémico.<br />

Considera que o SNS consegue assegurar na<br />

íntegra o direito à proteção na saúde dos cidadãos,<br />

sem recorrer aos setores privado e social?<br />

Considero que a articulação e o aproveitamento de<br />

sinergias são a chave para uma relação saudável entre<br />

o público e o privado. O direito à saúde que o SNS<br />

deve garantir de forma universal, fica reforçado com<br />

o relevante trabalho de proximidade garantido pelo<br />

setor social e pela possibilidade de opção que o setor<br />

privado proporciona.<br />

Articulação não quer dizer substituição. Cada um dos<br />

setores deve respeitar o outro, sendo que sou favorável<br />

a que os processos de articulação sejam transparentes<br />

e de fácil avaliação.<br />

Os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es marcaram o desenvolvimento<br />

do SNS e durante o seu mandato valorizou<br />

muito a sua participação ao nível da direção<br />

superior dos hospitais. Qual é a sua opinião sobre<br />

a necessidade de qualificação/profissionalização da<br />

gestão em saúde e o papel da carreira de administração<br />

hospitalar? Nunca se arrependeu por apostar<br />

em jovens Administradores <strong>Hospitalar</strong>es para<br />

lugares de elevada responsabilidade?<br />

Se há domínio em que a necessidade de formação<br />

contínua é absolutamente primordial ela é a área da<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong>. A aposta continuada na<br />

qualificação e profissionalização da carreira de administração<br />

hospitalar tem de estar cada vez mais associada<br />

a um protocolo de atualização permanente<br />

para que se possam garantir respostas adequadas a<br />

cada circunstância económica, social e tecnológica.<br />

“<br />

SE HÁ DOMÍNIO<br />

EM QUE A NECESSIDADE<br />

DE FORMAÇÃO CONTÍNUA<br />

É ABSOLUTAMENTE<br />

PRIMORDIAL ELA É A ÁREA<br />

DA ADMINISTRAÇÃO<br />

HOSPITALAR.<br />

”<br />

Neste sentido, a aposta em jovens Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es é uma aposta ganha, sem nunca perder<br />

de vista a necessidade de proporcionar aos mais experientes<br />

uma atualização permanente.<br />

É mais difícil ser mulher na administração hospitalar?<br />

É mais exigente, dado que em linha com o que se passa<br />

em toda a sociedade, as mulheres têm sempre de demonstrar<br />

mais para poderem ser consideradas como<br />

iguais. No entanto, na minha vida profissional em particular<br />

senti sempre que a sensibilidade própria resultante<br />

de ser mulher nunca constituiu uma restrição e antes<br />

foi muitas vezes um precioso auxiliar do meu trabalho.<br />

Uma mensagem final para todos os Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es?<br />

Numa sociedade em que as pessoas, graças à melhoria<br />

geral das condições de vida e de educação base e<br />

ao desenvolvimento tecnológico acelerado, têm expectativas<br />

de vida cada vez maiores e ao mesmo<br />

tempo procuram cuidados de saúde mais diferenciados,<br />

ser administrador hospitalar é um desafio profissional<br />

muito exigente, mas também estimulante.<br />

O mais importante é que tenhamos orgulho naquilo<br />

que fazemos, sejamos inovadores e abertos à mudança,<br />

sem que nos deixemos deslumbrar por ela. As<br />

pessoas são o nosso foco e devemos concentrar os<br />

nossos esforços para dia após dia dar o melhor dos<br />

nossos serviços e expressar o bem-estar e satisfação<br />

de todos os nossos utentes. Ã<br />

30 31


GH ppp na saúde<br />

As Parcerias Público<br />

Privadas na Saúde<br />

em Portugal<br />

Análise Crítica<br />

Cláudia Parente Rebelo<br />

Grupo José de Mello Saúde,<br />

Gestora da Relação com as Entidades<br />

Financeiras Responsáveis<br />

As parcerias público-privadas (PPP)<br />

em Portugal surgem na década de<br />

1990. A decisão política subjacente<br />

à escolha deste tipo de instrumento<br />

de gestão pública representou<br />

uma opção em prol de outras 7 . A experiência<br />

de outros países tem demonstrado que as parcerias<br />

não são apropriadas para todo o tipo de projetos 3 ,<br />

havendo conjunturas em que a provisão pública dos<br />

serviços se revela uma abordagem mais eficiente 1,15 .<br />

No contexto nacional, em 2010, Pita Barros referia,<br />

a propósito das PPP na Saúde, que o facto de terem<br />

surgido quer bons resultados, quer problemas, despoletou<br />

diversas reflexões sobre as condições que<br />

favorecem o sucesso de uma PPP, embora ainda não<br />

seja claro que conjunto de condições é necessário<br />

ou suficiente para o sucesso do modelo 4,14 . Neste<br />

âmbito, coloca-se a questão: “São as PPP hospitalares<br />

um instrumento de Nova <strong>Gestão</strong> Pública bem-sucedido?”,<br />

isto é, compensa ao Estado português usar<br />

este tipo de instrumentos na Saúde?<br />

Porém, a aferição do sucesso de uma PPP não se<br />

circunscreve à avaliação do desempenho 7 na provisão<br />

de um determinado serviço público, atento um determinado<br />

preço público comparável. Tal aferição deve<br />

também contemplar as restantes vertentes inerentes<br />

ao funcionamento de uma PPP, designadamente<br />

a necessidade de monitorização e controlo 7 por parte<br />

das competentes entidades públicas <strong>16</strong> . Neste sentido,<br />

esta investigação propôs-se compreender quais<br />

os fatores determinantes para o sucesso/insucesso<br />

destas PPP e o seu respetivo impacto, com base na<br />

perceção dos especialistas da área, relativamente aos<br />

hospitais da primeira vaga de PPP na saúde, a saber:<br />

Cascais, Braga, Vila Franca de Xira e Loures. No contexto<br />

atual, marcado por fortes restrições da atuação<br />

direta do Estado, temos vindo a assistir ao aumento<br />

das relações multissetoriais na implementação de políticas<br />

9 - em que as PPP proliferam 6 , segundo Savas<br />

devido a razões de ordem ideológica mas também<br />

pragmática 13 , designadamente, por constituírem uma<br />

forma de atrair capacidade técnica, recursos financeiros,<br />

know-how de gestão e inovação próprios do<br />

setor privado para a resolução de questões públicas<br />

complexas 10 . As PPP configuram, simultaneamente,<br />

um instrumento muito atrativo em termos políticos 15<br />

ao possibilitarem a realização de investimentos, projetando<br />

para o futuro o encargo financeiro, ou seja,<br />

aliviando os orçamentos no curto prazo. Este instrumento<br />

congrega algumas particularidades relevantes,<br />

desde logo, o Estado mantém a responsabilidade de<br />

garantir a provisão de bens ou serviços, cuja natureza<br />

Dimensões<br />

Teóricas<br />

Risco<br />

Custo-<br />

-benefício<br />

Impacto<br />

social<br />

e político<br />

Expertise<br />

Descrição e elementos caracterizadores das dimensões teóricas, de acordo com a literatura<br />

da especialidade<br />

Traduz os aspetos não controláveis com potencial e relevante impacto no objetivo que se pretende alcançar<br />

por via da PPP. A questão do risco reflete a necessidade de definir quem está em melhor condição para<br />

acautelar e controlar de forma efetiva um determinado risco e maximizar o interesse público 9 .<br />

Não obstante o risco seja uma das razões que mais justificam o recurso às PPP, é importante ter em conta<br />

o facto de o setor público, enquanto garante da prestação do serviço público, nunca se poder libertar do<br />

risco na totalidade (atenta a possibilidade de incumprimento contratual e a ocorrência de eventos de força<br />

maior), motivo pelo qual este setor deve manter uma capacidade residual para desempenhar a função 8 .<br />

Traduz a aferição da vantagem comparativa da PPP face à prestação tradicional. A análise de custo-benefício é<br />

essencial para se perceber que projetos são apropriados para o formato PPP e se existe de facto uma vantagem<br />

comparativa na escolha da PPP em face da tradicional prestação pública de determinado bem ou serviço.<br />

Para medir os benefícios associados às PPP é necessário ter uma noção global de todo o encargo relacionado<br />

com o projeto, designadamente: custos de transação, custos de oportunidade, custos associados a um determinado<br />

activo durante todo o seu ciclo de vida (i.e., “life cicle costs”), custos de operação e manutenção<br />

durante todo o período de duração da PPP e plano de contingência para a eventualidade de os benefícios<br />

esperados não se materializarem ou de surgirem prejuízos que não eram antecipáveis 15 .<br />

Traduz as repercurssões na PPP da opinião pública, social e política. Os impactos em termos sociais (designadamente<br />

ao nível da equidade) 8 devem ser tidos em consideração, uma vez que em causa está o acesso<br />

a bens e serviços públicos. Por inerência, os impactos sociais têm repercussões no sistema político e nos<br />

resultados eleitorais. Deste modo, o reconhecimento pela opinião pública do sucesso de uma PPP pode<br />

ser fundamental para a sua manutenção. Como referem Goldsmith e Eggers, “quando algo corre mal no<br />

cenário público, tendencialmente termina na primeira página de um jornal, transformando instantaneamente<br />

uma questão de gestão num problema político” 9 . É imperativo que uma PPP tenha suporte político, pois de<br />

outro modo pode não resistir às instabilidades políticas trazidas pelos ciclos eleitorais.<br />

Traduz o conhecimento aportado por cada parceiro. O envolvimento de pessoas com a visão e capacidades<br />

necessárias, o saber-fazer, o conhecimento técnico, a perícia adequada para levar a cabo os objetivos da parceria,<br />

sendo fundamental envolver o parceiro certo em cada parceria 8 . Esta dimensão está intrinsecamente<br />

ligada à ideia de inovação 15 .<br />

Colaboração Traduz a consistência das relações que se estabelecem na parceria, designadamente, a confiança recíproca entre<br />

parceiros. Não obstante Bult-Spiering e Dewulf 5 realcem a falta de investigação em torno da forma como é<br />

gerida a interação entre atores públicos e privados, várias avaliações a PPP revelam a importância deste aspeto<br />

para o sucesso das mesmas. A robustez das relações humanas de âmbito profissional que se estabelecem no<br />

decorrer do projeto de parceria afeta a capacidade da entidade pública para monitorizar o cumprimento dos<br />

objetivos e recompensar/punir o sucesso/insucesso 8 . A este nível, a clareza nas expetativas de parte a parte<br />

e a flexibilidade para uma colaboração efetiva devem estar muito bem definidas em termos contratuais, já<br />

que a realidade revela-se sempre mais complexa do que o que se pode prever e é impossível acautelar tudo,<br />

conforme demonstram os estudos empíricos efetuados até à data. A palavra de ordem é confiança, desde<br />

logo, porque a sua inexistência reduz a parceria a uma relação de estrito cumprimento contratual, em que as<br />

partes adotam comportamentos defensivos e de salvaguarda não se gerando o desejável valor acrescentado<br />

(i.e., “surplus value”). Na lógica de uma relação comercial, “Trust but verify” 11 .<br />

Performance Traduz a aferição do desempenho alcançado. A medição da performance reforça a responsabilização na<br />

parceria e garante que todos estão envolvidos, reforçando a confiança 8 . Ao nível das PPP deve existir um sistema<br />

de incentivo de desempenhos elevados que funcione como garante de que todos são recompensados<br />

por alcançarem um melhor desempenho. “Um sistema de incentivos é também crucial e pode representar<br />

a diferença entre uma parceria que falha e outra que é bem sucedida” 9 .<br />

Tabela 1: Dimensões Teóricas de Forrer et al. e sua descrição.<br />

permanece pública 3,14 , pagando por essa provisão e<br />

exercendo a monitorização necessária dos níveis de<br />

desempenho desejáveis 15,13 . Acresce que a relação<br />

que se estabelece numa PPP, entre atores públicos<br />

e privados, impõe que seja dedicada uma particular<br />

Fonte: Elaborado pela autora com base na sistematização de Forrer et al.<br />

atenção às questões de monitorização e prestação de<br />

contas 1 . Neste âmbito, Forrer et al. 8 elaboraram a partir<br />

da lista de indicadores de Goldsmith e Eggers 9 , seis<br />

dimensões essenciais que definem, na perspetiva da<br />

gestão pública, o sucesso destes instrumentos, por }<br />

32 33


GH ppp na saúde<br />

Dimensões<br />

Teóricas<br />

Risco<br />

gem não-aleatória, designada amostragem de especialistas<br />

12 . A população de inquiridos correspondeu a<br />

118 pessoas, dos quais 14 académicos, 52 do setor<br />

público e 52 do setor privado (políticos de primeira<br />

e segunda linha, executivos com cargos de direção/<br />

/administração, a par de gestores operacionais, igualmente,<br />

primeiras e segundas linhas). A inquirição compreendeu<br />

3 questões de caracterização sobre o perfil<br />

dos inquiridos, a par das 22 questões de opinião<br />

- fechadas -, e 2 de comentário - abertas.<br />

Este inquérito foi dirigdo, através de mensagens personalizadas<br />

enviadas para endereços de correio eletróni-<br />

Custo-<br />

-benefício<br />

Impacto<br />

social<br />

e político<br />

Expertise<br />

Colaboração<br />

Performance<br />

Percepção<br />

Sucesso<br />

PPP (VD)<br />

Variáveis Latentes<br />

Tabela 2: Dimensões Teóricas e Indicadores.<br />

1) Em termos gerais, a alocação de riscos efetuada nas PPP em análise foi adequada. Assumindo que cada<br />

tipo de risco deve ser atribuído à organização que melhor o pode controlar, maximizando o benefício público.<br />

2) No que respeita à extinção do contrato de gestão, o plano de contingência do setor público para as PPP<br />

em análise permite efetivamente minimizar os impactos desse facto para o interesse público.<br />

3) Em termos gerais, foi efetuada uma correta identificação e distribuição/partilha de riscos pelos parceiros<br />

público e privado, isto é, os riscos foram alocados ao parceiro que melhor os pode gerir e suportar.<br />

4) A opção pelas PPP em análise, assente no conceito de boa aplicação do dinheiro, numa perspetiva de<br />

custo-benefício (i.e. “Value for money”), determinado com base no custo público comparável, teve em consideração<br />

uma análise efetiva dos encargos globais que lhes estão associados.<br />

5) O Estado conseguirá obter uma boa aplicação do dinheiro (i.e. “Value for money”), considerando o ciclo<br />

de vida dos ativos em causa, mediante o recurso às PPP em análise.<br />

6) Os ganhos associados à participação do parceiro privado nas PPP em análise superam os encargos com o<br />

seu lançamento e monitorização, no sentido de que estes seriam significativamente reduzidos se o mesmo<br />

serviço fosse provido pelo setor público, em moldes tradicionais.<br />

7) As PPP em análise asseguram a equidade social (inexistência do efeito “escolha seletiva”), em termos de<br />

acesso aos cuidados de saúde.<br />

8) Existe suporte político suficiente para permitir a continuidade dos contratos de gestão das PPP em análise.<br />

9) Existe suporte social suficiente para permitir a continuidade dos contratos de gestão das PPP em análise.<br />

10) A experiência e o conhecimento do setor privado trouxeram valor acrescentado às PPP em análise.<br />

11) A experiência e o conhecimento do setor privado trouxeram inovação às PPP em análise.<br />

12) O setor público possui as capacidades/competências necessárias para executar a sua missão de acompanhamento/fiscalização,<br />

atento o grau de complexidade inerente às PPP em análise.<br />

13) O setor público é dependente da consultoria externa para realizar as funções que lhe estão atribuídas,<br />

atento o grau de complexidade inerente às PPP em análise.<br />

14) Existe uma relação de confiança entre parceiros públicos e parceiros privados nas PPP em análise.<br />

15) Existe um clima de cooperação entre parceiros públicos e parceiros privados nas PPP em análise.<br />

<strong>16</strong>) A forma de colaboração entre parceiros públicos e parceiros privados contribui para o bom desempenho<br />

das PPP em análise.<br />

17) Apesar do curto registo histórico das PPP, no que respeita à gestão da atividade/execução do contrato, a<br />

performance alcançada em termos de economia, eficiência, eficácia e qualidade do serviço é positiva.<br />

18) Em relação à gestão da atividade/execução do contrato, o sistema de incentivos à performance é adequado.<br />

19) No âmbito de uma apreciação global da experiência, considera que este instrumento de gestão pública se<br />

revelou adequado e deve ser replicado a outros Hospitais em Portugal.<br />

20) Enquanto instrumento de gestão pública, considera que as PPP podem ser replicadas noutros países nos<br />

termos em que foram implementadas em Portugal.<br />

21) Considera as PPP uma opção vantajosa/bem sucedida do ponto de vista do benefício público.<br />

22) Considera as PPP uma opção vantajosa/bem sucedida do ponto de vista do interesse privado.<br />

Fonte: Elaborado pela autora com base na revisão da literatura e nos contratos de gestão das 4 PPP em referência.<br />

referência às quais se estrutura a prestação pública de<br />

contas das PPP, a saber: risco, custo-benefício, impacto<br />

social e político, expertise, colaboração na parceria<br />

e medição da performance. Pela relevância destes<br />

conceitos na investigação, passamos a descrevê-los.<br />

Na análise foi utilizada uma metodologia mista, isto<br />

é, quantitativa e qualitativa, mediante a aplicação de<br />

um questionário a um conjunto de especialistas. A<br />

população alvo do estudo compreende aqueles que,<br />

no seu contexto profissional, participaram/participam<br />

ativamente na implementação e/ou execução<br />

destas PPP. Para o efeito, foi adotada uma amostra-<br />

co válidos, nos dias 22 e 23 de abril de 20<strong>16</strong>. Obtiveram-se<br />

39 respostas válidas. Os dados foram recolhidos<br />

de forma anónima e tratados com confidencialidade.<br />

Tendo consciência do possível impacto que uma<br />

maior participação de um determinado subconjunto<br />

de inquiridos poderia ter em termos da interpretação<br />

conjunta dos dados, nomeadamente consoante<br />

o tipo de contexto profissional, fomos aferir os resultados<br />

obtidos considerando as diferenças de perfil<br />

dos inquiridos. Com base no teste t de Student<br />

aferimos as tendências de resposta, concluindo que<br />

tal facto não se afigurou determinante na perceção<br />

do fenómeno em apreço. Esta primeira aferição permitiu-nos<br />

obviar a realização de análises específicas,<br />

efetuadas por referência a subconjuntos amostrais.<br />

Apresentamos infra a tabela contendo as 22 afirmações,<br />

sujeitas a apreciação dos especialistas, e uma<br />

tabela contendo os resultados da estatística descritiva,<br />

a par do gráfico das médias referentes às respostas<br />

dadas às perguntas de opinião.<br />

Cumpre notar que, em média, a concordância é superior<br />

ao ponto médio (5) da escala relativamente<br />

à maioria dos itens. A este nível, são de destacar<br />

os itens: “21), “10), “17) e “7). A concordância é<br />

inferior ao ponto intermédio da escala de medida<br />

relativamente aos itens: “14), “15), “<strong>16</strong>) e “8), apresentados<br />

por ordem crescente. Quanto às questões<br />

abertas, relativamente à Pergunta 23): “Considerando<br />

as questões colocadas anteriormente, entende<br />

que existem outros critérios a incluir numa avaliação<br />

genérica das PPP em análise, enquanto instrumentos<br />

de gestão pública”, as respostas dos especialistas<br />

inquiridos gravitam em torno de outras formas de<br />

avaliação da performance e da relação de custo-benefício.<br />

Referem, na sua maioria, a necessidade de se<br />

efetuar uma comparação efetiva, isto é, com base<br />

nos mesmos parâmetros de desempenho e critérios,<br />

entre hospitais do setor público e hospitais em regime<br />

de PPP. Foi também feita referência: i) à análise<br />

dos principais indicadores de saúde no início e no<br />

final do contrato de parceria, ii) à transparência na<br />

divulgação das responsabilidades totais assumidas<br />

pelo setor público com os contratos de gestão dos<br />

hospitais em regime de PPP e respetivos critérios<br />

de imputação défice orçamental/dívida pública, e iii)<br />

à comparação entre os vários indicadores de performance<br />

dos hospitais substituídos e dos hospitais<br />

de substituição.<br />

Em resposta à Pergunta 24) “Tem algum comentário<br />

final que gostasse de incluir?”, os especialistas assinalam<br />

como pontos fortes/aspetos positivos os relativos<br />

ao custo-benefício e à performance, afirmando<br />

Média<br />

Gráfico 1: Médias das perguntas de opinião.<br />

Perguntas de opinião<br />

que: i) por esta via o Estado consegue uma boa aplicação<br />

do dinheiro, e que, ii) numa lógica comparativa<br />

com o setor público, os encargos com a monitorização<br />

das PPP apenas são superiores porque o<br />

acompanhamento efetuado nos restantes hospitais<br />

públicos é, em regra, insuficiente, acrescentando, iii)<br />

que se afigura essencial uma análise aos Hospitais<br />

que não são PPP de forma a perceber quais os custos<br />

destes para o erário público.<br />

Na ótica dos mesmos inquiridos, os pontos fracos/<br />

/aspetos negativos desta experiência são: i) falhas de<br />

apreciação técnica inicial relativa ao cômputo dos<br />

encargos totais, isto é, face à aferição do custo-benefício<br />

inicialmente previsto para estes projetos, ii) a<br />

pouca internalização do know-how, por parte do parceiro<br />

público, com vista a uma menor dependência<br />

da consultoria externa, iii) o contágio prejudicial para<br />

a gestão regular da organização promovido por um<br />

sistema de incentivos assente, meramente, na aplicação<br />

de penalidades e multas – situação que influência<br />

negativamente a forma de colaboração entre<br />

as partes. Adicionalmente, merece ainda nota<br />

a referência feita a preconceitos ideológicos fortemente<br />

contrários às PPP, situação que poderia ser<br />

desmistificada mediante a existência de estudos efetuados<br />

em torno das parcerias e a menção de que,<br />

em termos gerais, o modelo PPP é vantajoso para o<br />

Estado, sendo, no entanto, crucial a simplificação do<br />

modelo de acompanhamento.<br />

Discussão dos resultados e conclusões<br />

Relativamente à fase de execução dos contratos, em<br />

curso atualmente, constatámos que o conjunto de<br />

especialistas inquiridos tem uma perceção positiva<br />

das PPP hospitalares. De um modo geral, na opinião<br />

dos profissionais da área, estas parcerias configuram<br />

um instrumento de gestão pública bem-sucedido, }<br />

34 35


GH ppp na saúde<br />

GH Iniciativa APAH<br />

Tabela 3: Estatísticas - Perguntas de Opinião..<br />

sendo relevante o facto de este entendimento se<br />

afigurar transversal. Os inquiridos consideram que o<br />

modelo de PPP em análise, é adequado e pode ser<br />

replicado a outros hospitais e entendem que este<br />

instrumento de gestão pública pode ser também replicado<br />

noutros países (perguntas 19 a 22). Ademais,<br />

percecionam as parcerias referidas como sendo vantajosas<br />

para ambas as partes, situação que evidencia<br />

o sucesso do modelo, já que, de acordo com a<br />

literatura da especialidade, as PPP só poderão ser<br />

efetivamente bem-sucedidas caso configurem uma<br />

situação de ganho mútuo 5 .<br />

Esta perceção é confirmada pela análise estatística<br />

descritiva, sendo de destacar que, na opinião dos inquiridos,<br />

em termos médios, o maior ganho se materializa<br />

sob o ponto de vista do benefício público,<br />

objetivo último das PPP enquanto instrumentos de<br />

gestão pública. Na posição contrária, em destaque<br />

e quase em paralelo, surgem os indicadores estatísticos<br />

relacionados com a dimensão teórica da colaboração,<br />

concretamente, o clima de cooperação e<br />

a forma de relacionamento entre parceiros 5 . A este<br />

nível merece nota o facto de a colaboração entre<br />

parceiros constituir o único aspeto menos positivo<br />

associado a estas parcerias (ver Tabela 3), o qual se<br />

traduz em comportamentos defensivos e de pendor<br />

legalista, impedindo uma cooperação plena e efetiva<br />

e tornando o contrato de gestão o verdadeiro motor<br />

da parceria 17, 2 . Ã<br />

1. Allard G, Trabant, A. “Public-Private Partnerships In Spain: Lessons And<br />

Opportunities”. International Business & Economics Research Journal.<br />

2008. 7(2):2.<br />

2. Azevedo M. As Parcerias Público-Privadas: Instrumento de uma Nova<br />

Governação Pública. Coimbra: Almedina; 2009. p.238, 264.<br />

3. Barlow J, Roehrich J, Wright S., “Europe Sees Mixed Results From Public-Private<br />

Partnerships For Building And Managing Health Care Facilities<br />

And Services”, Health Affairs 32. 2013 Jan;1:146-154.<br />

4. Barros P. “As parcerias público-privadas na saúde em Portugal. In Simões,<br />

J. (Ed).” 30 anos do Serviço Nacional de Saúde - Um percurso<br />

Comentado. Coimbra: Almedina; 2010. P.520, 521.<br />

5. Bult-Spiering M, Dewulf, G. Strategic issues in public-private partnerships:<br />

An international perspective. Oxford: Backwell Publishing; 2006. p.<strong>16</strong>.<br />

6. Cruz C, Marques R. “Integrating Infrastructure and Clinical Management<br />

in PPPs for Health Care”, Journal of Management in Engineering © ASCE.<br />

2013 Oct.<br />

7. EXPH (Expert Panel on effective ways of investing in Health). Health<br />

and Economic Analysis for an Evaluation of the Public-Private Partnerships<br />

in Health Care Delivery across Europe. 2014 Fev 27, acessível em http://<br />

bookshop.europa.eu/en/health-and-economic-analysis-for-an-evaluation-<br />

-of-the-public-private-partnerships-in-health-care-delivery-across-europe-<br />

-pbNDBA13001/.<br />

8. Forrer J, Kee J, Newcomer K, Boyer E. Public-Private Partnerships<br />

and the Public Accountability Question. Public Administration Review;<br />

2010:70(3):475-484.<br />

9. Goldsmith S, Eggers W. Governing by network: The new shape of the<br />

public sector. Washington, DC: Brookings Institution Press; 2004. p.8.<br />

10. Greve C, Hodge G. The Challenge of Public-Private Partnerships: Learning<br />

from International Experience. Ed. 2005 Cheltenham, UK: Edward<br />

Elgar Publishing; 2005. p.334.<br />

11. Kee J, Newcomer K. Transforming Public and Nonprofit Organizations:<br />

Stewardship for Leading Change. McLean, VA: Management Concepts;<br />

2008.<br />

12. Maroco J. Análise Estatística com utilização do SPSS: Lisboa: Edições<br />

Sílabo; 2003. p.22, 17.<br />

13. Savas, E. Privatization and Public-Private Partnerships. New York: Chatham<br />

House; 2000, p.4<br />

14. Sekhri N, Feachem R, Ni A. “Public-Private Integrated Partnerships<br />

Demonstrate The Potential To Improve Health Care Access, Quality, And<br />

Efficiency”, Health Affairs 30; 2011 Aug; 8:1498-1507.<br />

15. Silva J. Parcerias Público-privadas. Coimbra: Almedina; 20<strong>16</strong>.<br />

<strong>16</strong>. Tribunal de Contas. Encargos do Estado com PPP na Saúde, [Internet];<br />

2013 [acedido em 4 março 2014]. p. 45, 41. Relatório n.<strong>º</strong> 18/2013, - 2.ª<br />

Secção acessível em http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2013/2s/<br />

audit-dgtc-rel018-2013-2s.pdf.<br />

17. Tribunal de Contas (2013). Encargos do Estado com PPP na Saúde,<br />

Relatório n.<strong>º</strong> 18/2013 - 2.ª Secção. Acedido em Março 4, 2014, em http://<br />

www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2013/2s/audit-dgtc-rel018-2013-<br />

2s.pdf.<br />

Legislação consultada:<br />

Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 149/2012, de 12 de julho<br />

Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 111/2012, de 23 de maio<br />

Portaria n.<strong>º</strong> 155/2012, de 22 de maio<br />

Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 131/2010, de 14 de dezembro<br />

Lei n.<strong>º</strong> 3/2010, de 27 de abril<br />

Decreto-Lei n<strong>º</strong> 176/2009, de 4 de agosto<br />

Decreto-Lei n<strong>º</strong> 18/2008, de 29 de janeiro<br />

Despacho n.<strong>º</strong> 936/2007, de 21 de setembro<br />

Decreto-lei n.<strong>º</strong> 141/2006, de 27 de julho<br />

Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 86/2003, de 26 de abril<br />

Decreto Regulamentar n.<strong>º</strong> 10/2003, de 28 de abril<br />

Decreto Regulamentar n.<strong>º</strong> 14/2003, de 30 de junho<br />

Despacho Normativo n.<strong>º</strong> 35/2003, de 20 de agosto<br />

Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 185/2002, de 20 de agosto<br />

Resolução do Conselho de Ministros n.<strong>º</strong> <strong>16</strong>2/2001<br />

Constituição da República Portuguesa, de 2 de Abril de 1976, na redação<br />

dada pela Lei Constitucional n.<strong>º</strong>1/2005 (7.ª Revisão)<br />

A APAH em parceria com a NOVA IMS lança a iniciativa LEGOS: LIGA PORTUGUESA da GES-<br />

TÃO em SAÚDE, com o objetivo de promover uma mudança efetiva na gestão em saúde, assente<br />

numa cultura de liderança e motivação para a inovação organizacional, a qual será́ realizada através da<br />

aplicação de metodologias pedagógicas de pensamento criativo e de simuladores avançados de gestão<br />

da mudança. São destinatários da LEGOS todas as instituições prestadoras de cuidados de saúde<br />

integrantes do Sistema Nacional de Saúde (incluindo as Regiões Autônomas) de natureza publica,<br />

privada, social e Organizações Não Governamentais (ONGs). Mais informações em www.apah.pt.<br />

Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) têm individualmente áreas de excelência que merecem<br />

ser partilhadas com outras instituições.<br />

Com este objetivo, no âmbito da ACADEMIA APAH, a APAH apresenta o Programa PEGADA, um<br />

programa de estágios de curta duração (1 a 3 semanas), com o intuito de disseminar as melhores<br />

práticas de gestão e organização, entre os hospitais do SNS.<br />

O Programa PEGADA pretende criar oportunidades para os gestores de serviços de saúde poderem<br />

aceder a boas práticas que contribuam para o desenvolvimento de competências científicas e<br />

técnicas, ajustadas ao seu perfil profissional.<br />

Cada hospital oferece aos candidatos a oportunidade de compreender a gestão do setor da saúde<br />

num aspeto específico em que o Hospital desenvolve reconhecidas práticas de trabalho.<br />

A APAH pretende desta forma iniciar a construção de um caminho de mudança na gestão hospitalar,<br />

promovendo a sinergia dentro do SNS.<br />

A edição <strong>2019</strong> do Programa PEGADA conta com a participação de 9 Instituições <strong>Hospitalar</strong>es do<br />

SNS, promovendo 21 áreas de Estágio e disponibilizando 33 vagas.<br />

Conheça todas as oportunidades de estágio em https://apah.pt/iniciativas-projetos/pegada/.<br />

36 37


GH Readmissões<br />

Distribuição temporal<br />

das readmissões<br />

dos doentes com<br />

insuficiência cardíaca<br />

e fatores associados<br />

Número de readmissões<br />

Figura 1: Distribuição do número de readmissões ao longo do período de observação (30 dias).<br />

Tempo (dias)<br />

Paula Cunha<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade Nova de Lisboa<br />

Sílvia Lopes<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade Nova de Lisboa<br />

e Centro de Investigação em Saúde Pública,<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade Nova de Lisboa<br />

A<br />

insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome<br />

clínica comum e uma causa<br />

frequente de readmissão hospitalar.<br />

Estima-se que 25% dos doentes<br />

com insuficiência cardíaca (IC)<br />

são readmitidos nos primeiros 30 dias após a alta<br />

hospitalar, verificando-se que para certos estádios da<br />

doença o risco de readmissão está associado a fatores<br />

potencialmente modificáveis (Ross et al., 2010;<br />

Dunlay, Pereira e Kushwaha, 2014). O pico das readmissões<br />

hospitalares ocorre nos primeiros dias após<br />

a alta, sendo neste período de tempo que estas são<br />

mais frequentemente classificadas como evitáveis e<br />

associadas à qualidade dos cuidados prestados (Benbassat<br />

e Taragin, 2000; Balla, Malnick e Schattner,<br />

2008; Walraven et al., 2011). As readmissões evitáveis,<br />

para além de serem um problema de qualidade,<br />

com consequências negativas na saúde dos doentes<br />

(Fischer et al., 2014), são ainda um problema de eficiência,<br />

por significarem um acréscimo dos custos<br />

para os sistemas de saúde. O prazo mais comum no<br />

qual são avaliadas as readmissões é de 30 dias. Contudo,<br />

a sua distribuição ao longo deste período não<br />

é uniforme e varia por doença (Fischer et al., 2014).<br />

Conhecer a distribuição das readmissões hospitalares<br />

ao longo do primeiro mês após a alta e determinar os<br />

fatores de risco associados possibilitará a identificação<br />

dos doentes com elevado risco de readmissão e do<br />

momento mais adequado para realizar a intervenção.<br />

Dessa forma, poderão reduzir-se as readmissões e<br />

consequentemente reduzir os custos evitáveis e melhorar<br />

os resultados em saúde.<br />

Este estudo foi realizado no âmbito do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> e teve como<br />

objetivo geral caracterizar a distribuição temporal das<br />

readmissões hospitalares após internamento inicial por<br />

insuficiência cardíaca e fatores de risco associados.<br />

Metodologia<br />

Foi utilizada a base de dados de morbilidade hospitalar<br />

da Administração Central do Sistema de Saúde<br />

(ACSS), na qual constam os episódios de interna-<br />

mento dos hospitais públicos do Continente. Foram<br />

incluídos os episódios de internamento de adultos<br />

(>17 anos) com diagnóstico principal de IC (Classificação<br />

Internacional de Doenças - 9ª versão - Modificações<br />

Clínicas: 428.X) e alta no ano de 2014. Foi<br />

considerada readmissão uma nova admissão não planeada,<br />

independentemente do diagnóstico, no prazo<br />

de 30 dias após o internamento inicial por IC. A idade,<br />

o sexo, o Índice de Comorbilidade de Charlson<br />

(ICC; Quan et al, 2005), o número de diagnósticos<br />

secundários, o tipo de admissão, o tipo de Grupo de<br />

Diagnósticos Homogéneos (GDH), a duração do internamento<br />

e a presença de determinadas comorbilidades<br />

(demência, diabetes, doença cerebrovascular,<br />

doença pulmonar obstrutiva crónica - DPOC, doença<br />

renal, doença vascular periférica e enfarte do miocárdio)<br />

foram considerados fatores associados ao risco<br />

de readmissão. Foram calculadas as estimativas de<br />

Kaplan-Meier (KM), que representam a probabilidade<br />

de ocorrência de readmissão e que permitiram a análise<br />

comparativa entre os diferentes níveis de cada fator<br />

de risco ao longo do período de observação. Foi<br />

analisada a incidência (cumulativa) de readmissão na<br />

primeira semana (até 7 dias) após a alta hospitalar, para<br />

os diferentes fatores em estudo. A média do tempo<br />

de ocorrência de readmissão neste período específico<br />

foi avaliada através do teste t para amostras independentes.<br />

Nesta sub-análise, o grupo etário foi categorizado<br />

em: “até 65 anos”, “65+ anos” e os diagnósticos<br />

secundários em “até 8 diag, “9+ diag”. Na<br />

análise dos fatores que influenciam o tempo até à readmissão,<br />

foi utilizado o modelo de regressão de Cox.<br />

Apenas foram selecionadas as variáveis com significado<br />

estatístico (p0,05). Através deste modelo foi estimado<br />

o hazard ratio (HR) de cada fator de risco, sendo que<br />

HR>1 significa um risco aumentado de readmissão.<br />

RESULTADOS<br />

Caracterização da população em estudo<br />

Foram analisados 13 857 episódios de internamento<br />

de adultos com diagnóstico principal de IC. A população<br />

em estudo era constituída maioritariamente por<br />

mulheres (54,9%). A idade variou entre 21 e 104 anos,<br />

verificando-se que metade dos episódios correspondiam<br />

a doentes com idade igual ou superior a 80 anos<br />

e apresentavam entre 2 a 8 diagnósticos secundários.<br />

Do total de episódios de internamento, apenas 57<br />

(0,4%) não apresentavam diagnósticos secundários.<br />

A maioria dos doentes internados apresentou um<br />

ICC≥5 (54,1%), foi admitida de forma urgente (93,3%)<br />

e recebeu tratamento médico (97,0%). A demora média<br />

foi de 9,6 dias. A diabetes (34,2%), a doença renal<br />

(24,4%), a DPOC (18,7%) e o enfarte do miocárdio<br />

(10,1%) foram as comorbilidades mais prevalentes.<br />

Caracterização das readmissões<br />

Verificou-se um total de 1 861 readmissões aos 30 dias<br />

após a alta hospitalar, que correspondeu a uma taxa<br />

de readmissão de 13,4%. O pico das readmissões<br />

ocorreu no 6<strong>º</strong> dia após a alta hospitalar (96 readmissões).<br />

Mais de metade das readmissões (55,8%) ocorreram<br />

até aos 14 dias após a alta, sendo que 29,7%<br />

ocorreram nos primeiros 7 dias (Figura 1).<br />

Através da análise das curvas de incidência cumulativa }<br />

38 39


GH Readmissões<br />

Número de episódios Readmissões<br />

(n, %)<br />

Grupo etário<br />

< 65 * 1 583 <strong>16</strong>7 (10,5%) 1<br />

Tabela 1: Estimativas de Cox para o modelo multivariado.<br />

(Kaplan-Meier), verificou-se que poucas variáveis conseguiam<br />

explicar as readmissões nos primeiros dias.<br />

Efetivamente, apenas o Índice de Comorbilidade de<br />

Charlson (t=-2,795; p=0,005), a doença renal (t=-<br />

2,709; p=0,008) e a demência (t=-2,795; p=0,028), tiveram<br />

influência no tempo médio até à ocorrência de<br />

readmissão nos primeiros 6 dias após a alta hospitalar.<br />

Fatores de risco associados ao tempo de readmissão<br />

Tendo em consideração os resultados obtidos na análise<br />

de regressão multivariada (Tabela 1), verificou-se<br />

um maior risco de readmissão no grupo de doentes<br />

admitidos de forma urgente, com doença vascular periférica,<br />

com idade avançada (85+ anos), com doença<br />

renal e com 9+ diagnósticos secundários. Uma admissão<br />

não planeada e a presença de doença vascular<br />

periférica foram os fatores que mais influenciaram o<br />

tempo até à readmissão, aumentando o risco de readmissão<br />

em 2,4 vezes no primeiro caso [HR=2,41;<br />

intervalo de confiança a 95% (IC 95%): 1,81–3,21] e<br />

1,6 vezes no segundo (HR=1,59; IC 95%: 1,23–2,06).<br />

Ter mais de 85 anos e doença renal aumentou o risco<br />

de readmissão em mais de 30% (85+: HR=1,36;<br />

IC 95%: 1,15–1,62; doença renal: HR=1,34; IC 95%:<br />

1,21–1,48). A presença de múltiplos diagnósticos secundários<br />

(9+) apresentou-se como o fator de risco<br />

com menor influência, aumentando o risco de readmissão<br />

em cerca de 25% (HR=1,25; IC 95%: 1,14–<br />

1,37).<br />

Hazard ratio<br />

(IC 95%)<br />

Valor-p<br />

85 + anos 3 978 6<strong>16</strong> (15,5%) 1,36 (1,15-1,62)


GH Iniciativa APAH<br />

Abertas<br />

candidaturas<br />

para o<br />

Prémio Healthcare<br />

Excellence<br />

<strong>2019</strong><br />

Tendo como objetivo distinguir a excelência na gestão de unidades de saúde, reconhecendo as boas<br />

práticas no domínio da melhoria do serviço aos utentes, promovendo a sua partilha e incentivando<br />

a sua consolidação, a Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH), em parceria<br />

com a biofarmacêutica AbbVie, promovem em <strong>2019</strong> a 6.ª edição do Prémio Healthcare Excellence.<br />

Podem candidatar-se ao Prémio Healthcare Excellence equipas de profissionais de saúde, que integrem<br />

administradores hospitalares e gestores de unidades de saúde, públicas e privadas, cujos projetos<br />

desenvolvidos tenham sido implementados no ano de 2018 e que tenham resultado numa melhoria<br />

da segurança, do acesso, da eficiência, da participação e/ou dos resultados de saúde obtidos.<br />

As candidaturas ao Prémio Healthcare Excellence, edição <strong>2019</strong>, estão abertas de 1 de maio a 30 de junho<br />

de <strong>2019</strong>, sendo formalizadas mediante a apresentação de uma descrição resumida do projeto, que<br />

permita compreender e evidenciar o seu contributo, submetida online para o email secretariado@apah.pt.<br />

As candidaturas ao Prémio Healthcare Excellence serão avaliadas por um júri independente que integra<br />

4 profissionais de reconhecido mérito na área da saúde, a quem caberá a seleção dos melhores projetos.<br />

Os projetos selecionados serão apresentados e defendidos pelos autores em Sessão Pública a realizar<br />

no próximo dia 18 de outubro em Braga. No decurso desta sessão será eleito pelo júri o vencedor<br />

da edição <strong>2019</strong> do Prémio Healthcare Excellence, sendo-lhe atribuído um Prémio no valor de 5.000 euros.<br />

O Regulamento do Prémio Healthcare Excellence está disponível no site da APAH em www.apah.pt.<br />

42<br />

43


GH programa eras<br />

Avaliação Clínica<br />

e Económica<br />

do Programa ERAS<br />

para a cirurgia<br />

colorretal<br />

Figura 1: Tempo de internamento.<br />

Francisco Mota<br />

Direção Executiva | Diretor de Operações<br />

do Hospital Beatriz Ângelo<br />

Paulo Costa<br />

Diretor do Centro de <strong>Gestão</strong><br />

do Hospital Beatriz Ângelo<br />

O<br />

Hospital Beatriz Ângelo (HBA) iniciou<br />

o Programa ERAS (Enhanced<br />

Recovery After Surgery) em 20<strong>16</strong>,<br />

tendo, a partir do início de 2017,<br />

sido reconhecido como Centro de<br />

Excelência ERAS, o que lhe permite ser o único hospital<br />

no País com capacidade formativa para a implementação<br />

deste programa nas unidades hospitalares<br />

em Portugal.<br />

Os resultados alcançados com a implementação do<br />

Programa permitem defender de uma forma clara os<br />

benefícios da sua introdução nas práticas clínicas, promovendo<br />

a multidisciplinaridade no tratamento da<br />

patologia do doente e colocando este, claramente,<br />

no centro das preocupações dos profissionais envolvidos<br />

e da organização da prestação dos cuidados.<br />

Como se iniciou o processo<br />

O Hospital Beatriz Ângelo tem feito, desde o início,<br />

uma aposta forte em modelos e práticas de melhoria<br />

contínua, nomeadamente com vista à obtenção dos<br />

melhores resultados clínicos com a maior redução<br />

possível de desperdício. Tendo reunido informação<br />

suficiente sobre o programa ERAS (Enhanced Recovery<br />

After Surgery), e tendo em conta os estudos que o<br />

indicavam como potenciador de uma efetiva melhoria,<br />

quer do ponto de vista clínico, quer de custos envolvidos,<br />

foi decidido avançar com a sua implementação.<br />

Assim, o programa foi dado a conhecer à administração<br />

do Hospital, de quem se obteve a permissão para<br />

iniciar o projeto no HBA.<br />

Na prática, o objetivo principal do Programa de Implementação<br />

ERAS é a melhoria dos resultados dos<br />

doentes cirúrgicos, numa lógica multidisciplinar, colocando<br />

o doente no centro de todas as decisões, pelo<br />

que se obteve rápida e facilmente o apoio e adesão<br />

dos profissionais clínicos para esta nova realidade.<br />

Adicionalmente, foram definidos os objetivos clínicos<br />

a cumprir, nomeadamente, diminuir a taxa de complicações<br />

cirúrgicas relevantes, principalmente as que<br />

mais afetam a qualidade de vida dos pacientes, reduzir<br />

o tempo médio de permanência no hospital e promover<br />

uma recuperação mais rápida e saudável, para<br />

permitir os cuidados pós-operatórios (quimioterapia<br />

ou radioterapia, se aplicável) de forma mais célere.<br />

Tudo isto, dentro de uma ótica de melhoria de circuitos<br />

e em que, financeiramente, todas as alterações<br />

aos processos fossem sustentáveis.<br />

Além da elaboração de novos protocolos e de clinical<br />

pathways específicas, envolvendo médicos anestesistas,<br />

cirurgiões, intensivistas e fisiatras, enfermeiros,<br />

técnicos de nutrição, de medicina física e reabilitação<br />

e elementos da gestão, entre outros, foi necessária<br />

uma alteração dos circuitos dos doentes no Hospital,<br />

nomeadamente com a criação do “Dia ERAS” - que<br />

permite aos doentes, num único dia, realizar todos<br />

os exames e consultas pré-operatórias - para garantir<br />

a otimização do seu estado clínico antes da cirurgia.<br />

Numa primeira fase, o HBA começou a implantar o<br />

programa ERAS nos pacientes com cancro colorretal<br />

submetidos à cirurgia eletiva. Atualmente, o programa<br />

encontra-se em aplicação nas cirurgias do pâncreas,<br />

estômago e urológicas.<br />

Análise de resultados<br />

Para a análise dos resultados clínicos e financeiros, de<br />

forma a provar os benefícios da implementação do<br />

Programa no HBA, foram comparados dois grupos<br />

de doentes: um grupo de doentes operados antes<br />

da implementação do Programa ERAS (67 doentes<br />

consecutivos) e outro com cirurgia após a sua plena<br />

implementação no Hospital (137 doentes).<br />

Todos os dados foram obtidos através do ERAS Audit<br />

Interactive System - um poderoso banco de dados<br />

fornecido e desenvolvido pela organização que inicialmente<br />

promove o ERAS (Encare) - e através de uma<br />

análise estatística. }<br />

“<br />

O OBJETIVO PRINCIPAL<br />

DO PROGRAMA DE<br />

IMPLEMENTAÇÃO ERAS<br />

É A MELHORIA DOS<br />

RESULTADOS DOS DOENTES<br />

CIRÚRGICOS, NUMA LÓGICA<br />

MULTIDISCIPLINAR,<br />

COLOCANDO O DOENTE<br />

NO CENTRO DE TODAS<br />

AS DECISÕES.<br />

”<br />

44 45


GH programa eras<br />

GH Iniciativa APAH<br />

Figura 2: Complicações mais frequentes.<br />

Figura 3: Indicadores clínicos.<br />

Em relação aos desfechos clínicos, observou-se uma<br />

diminuição nas complicações médicas e cirúrgicas<br />

graves (de 20,9% no primeiro grupo para 15,1% no<br />

segundo) e uma forte queda na mortalidade (de 7,5%<br />

para 0,7%). Também as reintervenções cirúrgicas reduziram<br />

de 19,4% para 15,1%.<br />

Além destes resultados clínicos muito favoráveis, verificou-se<br />

também a diminuição no número de dias<br />

de internamento hospitalar: (i) mediana de dias de<br />

internamento de 14,6 dias para 6,4 dias e (ii) média<br />

de dias de internamento de 7 para 5 dias.<br />

Financeiramente, e no que diz respeito a todos os custos<br />

relativos à implementação do ERAS (que incluiram<br />

formação, recursos humanos e novos consumíveis),<br />

bem como o efeito da redução das complicações e do<br />

tempo de permanência dos doentes no internamento,<br />

o resultado positivo foi superior a 42.000 €, apenas<br />

durante o ano 2017. Neste resultado, estão ainda incluídos<br />

os custos com a formação para a obtenção do<br />

Centro de Excelência do Programa ERAS, entretanto<br />

reconhecido para o HBA pela organização internacional<br />

e que teve, igualmente, custos associados. De facto,<br />

os resultados alcançados devido ao Programa de<br />

Implementação ERAS na cirurgia colorretal na HBA<br />

são totalmente compatíveis com uma melhoria significativa<br />

em relação à segurança do paciente e à qualidade<br />

dos serviços prestados, tendo também um grande<br />

benefício financeiro, pois por cada 1€ gasto gerou-se<br />

mais de 2,1€ resultados positivos.<br />

Conclusão<br />

O investimento realizado na aquisição do Programa,<br />

a formação dos membros da equipa e o tempo dedicado<br />

mostraram um retorno relevante e rápido, não<br />

só pela diminuição do tempo médio de internamento,<br />

como, e mais importante, pela melhoria dos resultados<br />

clínicos alcançados, de que se salientam a redução<br />

das complicações major e da taxa de mortalidade. Ã<br />

Tenha acesso gratuito a vídeos, cursos e webinars de<br />

excelência na área da gestão de serviços de saúde<br />

Subscreva já<br />

46<br />

47


GH estudo<br />

Qual o impacto<br />

dos níveis crescentes<br />

de gravidade clínica<br />

das quedas no estado<br />

de saúde dos idosos<br />

Bruno Venâncio<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />

do Porto (CHUP)<br />

Margarida Filipe<br />

Unidade Local de Saúde<br />

de Matosinhos (ULSM)<br />

Relevância da problemática em análise<br />

As quedas constituem um problema<br />

importante na vida dos idosos e embora,<br />

na maioria das vezes, este seja um<br />

incidente evitável, a incidência anual de<br />

quedas na comunidade é aproximadamente de 37%<br />

(Moniz-Pereira, V. et al., 2012; Silva, 2013). Observou-<br />

-se ainda que 14,4% das quedas em idosos, resultavam<br />

numa fratura com necessidade de hospitalização. Há no<br />

entanto, em âmbito nacional, publicações que relatam<br />

valores numa ordem de grandeza muito superior, nomeadamente,<br />

em 21,8% e em 23,9% (Moniz-Pereira,<br />

V. et al., 2012, Palma, 2012; Silva, 2013). Em contraste, o<br />

contexto internacional regista um valor significativamente<br />

inferior, correspondente aos 5% (Rubenstein, 2006).<br />

As fraturas, mas também outras lesões que resultam das<br />

quedas, apresentam um impacto negativo na qualidade<br />

de vida relacionada com a saúde (QVRS). A título de<br />

exemplo, a literatura científica descreveu que um ano<br />

após a fratura, a QVRS não retornou ao nível prévio,<br />

sendo ainda significativamente inferior. Verificou-se que<br />

as diferenças entre o fim do primeiro mês após a alta<br />

clínica e as sucessivas medições que decorreram em alguns<br />

casos até aos três anos, não foram estatisticamente<br />

significativas. Concluindo-se que é no primeiro mês de<br />

convalescença que decorrem a maioria dos ganhos em<br />

termos da QVRS (Abimanyi-Ochom, J. et al., 2015; Tarride,<br />

J-E. et al., 20<strong>16</strong>).<br />

A deterioração da qualidade de vida, aparentemente irreversível<br />

das fraturas por queda, resultam de handicaps<br />

adquiridos. A título de exemplo, um estudo demonstrou<br />

que, em idosos com fraturas, há uma perda de funcionalidade<br />

estimada entre os 20 e os 25%, constituindo<br />

este último, um importante fator de risco para o desenvolvimento<br />

de dependência de terceiros no exercício<br />

das atividades de vida diária (AVD). No que concerne<br />

à capacidade de marcha sem auxílio, o mesmo estudo<br />

concluiu que houve uma redução estimada dos 59<br />

para os 26% e uma parte significativa dos doentes expressavam<br />

frequentemente dor. Contudo, importa ainda<br />

enfatizar a acentuada mortalidade associada, como<br />

por exemplo, nas fraturas da extremidade proximal do<br />

fémur em que no primeiro ano atinge os 33,1 % (Rosell,<br />

E. & Parker, J., 2003).<br />

A mensuração da QVRS em idosos, com lesões traumáticas<br />

por quedas, permite a determinação posterior<br />

dos anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs),<br />

perdidos em resultado desta condição. A perda estimada<br />

é quantificável e superior no género feminino, sendo<br />

também sensível à localização anatómica da fratura.<br />

(Hernlund, L. et al., 2013). Embora possa ser espectável<br />

que a maioria dos QALYs perdidos por quedas seja resultante<br />

das fraturas, um estudo num grupo de mulheres<br />

idosas evidenciou que a perda anual de QALYs por<br />

lesões traumáticas de gravidade clínica inferior foi de 30<br />

QALYs. Apesar de ser comparativamente inferior aos<br />

62 QALYs perdidos devido às fraturas, é igualmente<br />

significativo (Iglesias, P., Manca, A. & Torgerson, J., 2009).<br />

Objetivos<br />

A investigação apresentou como principais objetivos a<br />

descrição e o estudo da relação entre os antecedentes<br />

clínicos das quedas em idosos e a qualidade de vida relacionada<br />

com a saúde (QVRS). Atendendo ao supracitado,<br />

foram definidos os seguintes objetivos específicos:<br />

I) classificar as lesões por quedas de acordo com a<br />

proposta da National Database of Nursing Quality Indicators<br />

(NDNQI ® ) - fall injury level e II) determinar a desutilidade<br />

associada a cada uma das categorias qualitativas<br />

previstas pela NDNQI ® - fall injury level.<br />

Metodologia<br />

Os dados foram recolhidos entre o período de 1 de outubro<br />

a 27 de novembro de 2017 em utentes do Agrupamento<br />

de Centros de Saúde da ULS de Matosinhos.<br />

Estes últimos receberam entrevistas no contexto domiciliário<br />

e/ou nas unidades de saúde. Em cada uma das<br />

mesmas foi identificado: a idade e o género, os antecedentes<br />

de quedas caracterizados por lesão, resultantes<br />

das quedas em categorias e, em caso de fratura, também<br />

pela localização anatómica. Em alguns casos, na ótica<br />

dos enfermeiros, foram entrevistados os cuidadores informais,<br />

sempre que do ponto de vista clínico, estes fossem<br />

o cuidador de referência e o doente se encontrasse<br />

impossibilitado de responder. Em cada entrevista foi<br />

aplicado o EQ-5D-3L para a mensuração da utilidade<br />

do estado de saúde, ou seja, da QVRS. Explicitamos que,<br />

do questionário aplicado, as respostas ao instrumento<br />

EQ-5D-3L foram transcritas e traduzidas numa combinação<br />

numérica, correspondendo aos estados de saúde<br />

previstos pelo próprio instrumento e posteriormente<br />

identificando o valor de utilidade que se encontra associado<br />

(Ferreira, L., Ferreira, N. & Pereira, N., 2013; Ferreira,<br />

N., et al., 2014; Ferreira, N., et al., 2014). O estudo<br />

foi autorizado pela comissão de ética da ULSM e foram<br />

incluídos os utentes que forneceram o consentimento<br />

Quedas N Utilidade P-value *<br />

(frequência<br />

absoluta)<br />

Dois ou mais 91 0,435±0,280 0,0000<br />

Um 109 0,622±0,253 0,0085<br />

Zero 477 0,678±0,289 -<br />

*As diferenças na utilidade são calculadas face aos indivíduos sem quedas.<br />

Teste U-Mann Whitney<br />

Tabela 1: Utilidade média dos estados de saúde em função da frequência de quedas no último ano.<br />

informado, livre e esclarecido. A amostra contém 677<br />

indivíduos com média de idades aproximada a 74,45±<br />

6,74 anos, sendo que 54,21% são do género feminino.<br />

A análise é efetuada através do modelo de regressão linear<br />

múltipla com o uso do método dos mínimos quadrados<br />

e é considerada a utilidade do estado de saúde como<br />

variável dependente. O tratamento dos dados decorre<br />

com aplicação do software Eviews versão 9.0.<br />

Hipótese do estudo<br />

H 1<br />

: Os idosos com histórico de quedas, independentemente<br />

da gravidade clínica da lesão, apresentam uma<br />

qualidade de vida relacionada com a saúde, comparativamente<br />

inferior face aos demais?<br />

H 2<br />

: A classificação das lesões por quedas, em categorias<br />

qualitativas crescentes de gravidade clínica, são consistentes<br />

com a decrescente utilidade do estado de saúde<br />

dos idosos?<br />

Análise e discussão de resultados<br />

A população idosa em Matosinhos apresentou uma<br />

QVRS num valor médio de utilidade de 0,636 e uma<br />

incidência comunitária de quedas de 29,55%, em que,<br />

aproximadamente, 45,5% ostentou duas ou mais quedas.<br />

A avaliação do resultado demonstra uma deterioração<br />

significativa da utilidade (U=0,636), face ao expoente<br />

máximo possível (U=1). Recorde-se que, em cada<br />

estado de saúde, é possível associar um valor de utilidade,<br />

até ao limite de 1 e, quando este é correspondente<br />

a esse valor, significa que o indivíduo apresenta uma saúde<br />

perfeita. Em oposição, o apoderamento de um valor<br />

de utilidade zero, descreve a morte. Apesar do referido,<br />

é ainda admissível valores de utilidade negativa,<br />

como se verificou no presente estudo, em que 2,06 %<br />

dos indivíduos evidenciaram um estado de saúde pior do<br />

que a morte.<br />

Surgem inúmeras hipóteses explicativas para a desutilidade<br />

observada, das quais as quedas e algumas das doenças<br />

crónicas fazem parte. No entanto, a título de<br />

exemplo, a consciencialização de uma doença crónica<br />

não implica a perceção de limitações na qualidade de vi-}<br />

48 49


GH estudo<br />

da relacionada com a saúde, o que, sendo verdade, não<br />

justificará uma deterioração da mesma.<br />

Em contraposição, a análise estatística descritiva, evidenciou<br />

uma relação entre o historial de quedas e a qualidade<br />

de vida relacionada com a saúde. O quadro n.<strong>º</strong>1<br />

é ilustrativo, em parte, dessa constatação. Confirmará<br />

que, face ao incremento da frequência anual de quedas,<br />

os indivíduos demonstravam uma diminuição da utilidade,<br />

significando que os idosos com quedas passadas<br />

possuíam um pior estado de saúde, aquando da aplicação<br />

do instrumento EQ-5D-3L. Os achados científicos<br />

são, em todo o caso, consonantes com o expectável, dado<br />

que as consequências das quedas resultaria num pior estado<br />

de saúde. As lesões por quedas foram agrupadas em<br />

categorias qualitativas estratificadas pela gravidade clínica,<br />

apresentando-se no quadro n.<strong>º</strong> 2 o sistema de classificação<br />

proposto e a definição de cada categoria.<br />

O sistema apresentado tem por base uma adaptação<br />

das definições e respetivos indicadores, desenvolvido<br />

pela American Nurse Association (ANA) ao nível da<br />

NDNQI ® fall injury level (Garrard, L., et al., 2014). Entenda-se<br />

que a sua aplicação serve com o propósito<br />

de testar a veracidade da hipótese de investigação número<br />

dois.<br />

Tipo<br />

de lesão<br />

Sem lesão<br />

Lesão minor<br />

Lesão<br />

moderada<br />

Lesão major<br />

Definição<br />

Sem sinais ou sintomas resultantes da queda.<br />

Ausência de lesões confirmada através<br />

de exames imagiológicos e/ou a anamnese<br />

e exame físico.<br />

Apresenta necessidade da aplicação de um<br />

tratamento de ferida, crioterapia, medicação<br />

tópica, contusões ou abrasão.<br />

Resulta numa ferida que requer normalmente<br />

sutura e/ou aplicação de steristrip.<br />

Resulta em fratura com necessidade de<br />

internamento ou outro tipo de lesão com<br />

necessidade de intervenção cirúrgica e/<br />

/ou internamento, como exemplo, lesões<br />

internas ou necessidade de transfusão em<br />

doente anticoagulados.<br />

Tabela 2: Sistema de classificação de lesões por quedas.<br />

A classificação de lesões por quedas, em categorias<br />

qualitativas reúne, em cada uma das mesmas, condições<br />

clínicas heterogéneas. Sendo expectável um impacto<br />

em saúde, tanto como um potencial consumo<br />

de serviços de saúde, relativamente semelhante entre<br />

as diversas condições clínicas da mesma categoria.<br />

A literatura demonstra que as quedas conduzem à deterioração<br />

da QVRS, no entanto, não descura de que<br />

a mesma resulta, na globalidade, de uma pluralidade de<br />

fatores. Assente nessa premissa, procedeu-se à construção<br />

de um modelo de regressão linear múltiplo (MR-<br />

LM). Encontrando-se o mesmo representado abaixo:<br />

U=β0+β 1<br />

FEM+β 2<br />

SEM.LESAO+β 3<br />

MINOR+β 4<br />

MO-<br />

DERADA+β MAJOR 5<br />

+μ<br />

Equação 1: Modelo de regressão linear múltiplo.<br />

Ao testarmos o pressuposto da normalidade dos resíduos,<br />

obteve-se um Jarque-bera com p-value=0,000000,<br />

rejeitando-se a hipótese de normalidade. Apesar de existirem<br />

diversos estudos que a rejeitam, por resíduos de<br />

valores extremos, em amostras suficientemente grandes,<br />

como é o caso da amostra do nosso estudo (n=677), a<br />

violação do pressuposto de normalidade dos erros é virtualmente<br />

inconsequente. Uma vez que, de acordo com<br />

o teorema do limite central, a estatística do teste irá assintoticamente<br />

seguir uma distribuição adequada (Brooks,<br />

C., 2008). Na inferência estatística aplicamos os estimadores<br />

eficientes de Newey-West para a presença<br />

de autocorrelação e heterocedasticidade.<br />

A variável queda sem lesão traumática não apresentou<br />

significância estatística individual, no entanto, a regres-<br />

Variável Coeficiente Desvio Prob.<br />

padrão<br />

FEM (β1) -0,138920 0,0231<strong>16</strong> 0,0000<br />

SEM.LESÃO -0,029702 0,046596 0,5241<br />

(β2)<br />

LESÃO -0,112090 0,026670 0,0001<br />

MINOR (β3)<br />

LESÃO -0,<strong>16</strong>4959 0,045502 0,0003<br />

MODERADA<br />

(β4)<br />

LESÃO -0,254408 0,075643 0,0008<br />

MAJOR (β5)<br />

CONSTANTE<br />

(β0)<br />

0,744953 0,0<strong>16</strong>428 0,0000<br />

Tabela 3: Valores estimados do MRLM.<br />

R 2 = 0,117671<br />

R 2 - ajustado = 0,111096<br />

Prob (F-estatístico) = 0,000000<br />

são é globalmente significativa. Os coeficientes mostram<br />

um sinal negativo como seria expectado, apresentando-<br />

-se valores de ordem de grandeza superior em coeficientes<br />

em que a categoria qualitativa exibe uma maior gravidade<br />

clínica. Na análise dos resultados constatou-se que<br />

os idosos do género feminino, sem historial de queda,<br />

apresentam uma QVRS comparativamente inferior aos<br />

do sexo oposto (0,606 vs 0,745). Denote que a catego-<br />

ria omitida são os indivíduos sem quedas, significando,<br />

a título de exemplo, que β3 traduz a diferença entre a<br />

utilidade do estado de saúde de um idoso com queda e<br />

lesão minor e um sem quedas. Por outras palavras, infere-se<br />

que os idosos com queda e lesão minor apresentam<br />

um valor de utilidade aproximadamente inferior em<br />

0,112 face aos indivíduos sem quedas, coeterius paribus,<br />

interpretando-se esta diferença como de desutilidade.<br />

Aplica-se o mesmo raciocínio para todos os restantes<br />

coeficientes da regressão.<br />

O sistema de classificação não só conseguiu agrupar uma<br />

variabilidade de estados clínicos heterogéneos com impacto<br />

em saúde semelhantes, como evidenciou de forma<br />

consistente a diminuição da utilidade em inversa relação<br />

com o incremento da gravidade clínica das lesões resultantes<br />

de queda no último ano.<br />

Os resultados demonstraram concordância com as principais<br />

deduções teóricas, em que os idosos com quedas<br />

evidenciam uma pior qualidade de vida relacionada com<br />

a saúde (Iglesias, P., Manca, A. & Torgerson, J., 2009; Abi-<br />

-manyi-Ochom, J. et al., 2015; Tarride, J-E. et al., 20<strong>16</strong>).<br />

No entanto, observamos que o valor de desutilidade estimados<br />

para lesões traumáticas de gravidade clínica inferior<br />

face às fraturas são estatisticamente significativos<br />

e acompanham valores de incidência mais acentuados,<br />

o que pode representar uma perda estimada muito<br />

mais relevante (vide tabela n.<strong>º</strong> 4).<br />

Categoria Incidência Desutilidade/<br />

/indivíduo<br />

Sem lesão 7,68 % ≈ 0,030*<br />

Lesão minor 13,44 % ≈ 0,112<br />

Lesão moderada 5,76 % ≈ 0,<strong>16</strong>5<br />

Lesão major 2,66% ≈ 0,254<br />

*Não apresenta significância estatística individual<br />

Tabela 4: Resumo das incidências e desutilidades por categoria das lesões por quedas.<br />

Conclusão<br />

A utilização, em instituições de saúde, de um número<br />

de indicadores afecto às categorias qualitativas, pré-definidas<br />

no estudo, reflete a variabilidade do impacto em<br />

saúde dos diferentes desfechos clínicos traumáticos das<br />

quedas. Numa outra perspetiva, a sua aplicação, em detrimento<br />

das atuais medidas de resultado, como por<br />

exemplo, o “número de quedas” e/ou “número de<br />

quedas com lesão”, permite a estandardização e uniformização<br />

dos registos clínicos. Proporcionando assim<br />

dados para a tomada de decisão sobre os programas<br />

e tecnologias de prevenção de quedas que oferecem o<br />

melhor rácio custo-efetividade incremental. Ã<br />

“<br />

AS LESÕES POR QUEDAS<br />

FORAM AGRUPADAS EM<br />

CATEGORIAS QUALITATIVAS<br />

ESTRATIFICADAS PELA<br />

GRAVIDADE CLÍNICA.<br />

”<br />

Abimanyi-Ochom, J., Watts, J. J., Borgström, F., Nicholson, G. C., Shore-Lorenti,<br />

C., Stuart, A. L., … others. (2015). Changes in quality of life associated<br />

with fragility fractures: Australian arm of the International Cost and Utility<br />

Related to Osteoporotic Fractures Study (AusICUROS). Osteoporosis International,<br />

26(6), 1781–1790.<br />

Brooks, C. (2008), “Introductory econometrics for finance”,2ª ed., Cambridge:<br />

Cambridge University Press.<br />

Ferreira, L. N., Ferreira, P. L., Pereira, L. N., & Oppe, M. (2014). EQ-5D Portuguese<br />

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50 51


GH Reflexões de direito biomédico<br />

Procriação Medicamente<br />

Assistida: a gravitas<br />

da jurisprudência<br />

Rafael Vale e Reis<br />

Docente da Faculdade de Direito<br />

da Universidade de Coimbra<br />

Investigador do Centro de Direito Biomédico<br />

O<br />

Tribunal Constitucional (TC) português,<br />

por intermédio do Acórdão<br />

n.<strong>º</strong> 225/2018, de 24 de abril, provocou<br />

importantes alterações em dois<br />

aspetos do regime da procriação<br />

medicamente assistida: o da gestação de substituição e<br />

o do anonimato dos dadores de gâmetas.<br />

Abordarei, neste texto, apenas o tema da gestação de<br />

substituição.<br />

Depois de, em 20<strong>16</strong>, terem sido introduzidas alterações<br />

à lei que passaram a permitir gestação de substituição, em<br />

casos excepcionais e altruístas, entendeu o TC declarar<br />

o regime inconstitucional, com fundamento, entre outras<br />

razões, na não consagração legal de um adequado regime<br />

de enquadramento do eventual arrependimento da<br />

mãe portadora após o nascimento. Neste ponto, a legislação<br />

especial sobre a gestação de substituição estava em<br />

contradição com um princípio basilar da livre revogabilidade<br />

das restrições voluntárias aos direitos de personalidade,<br />

que o Código Civil garante há décadas. Com as<br />

regras reprovadas pelo TC, o casal beneficiário, após o<br />

nascimento, poderia, ainda que à força (utilizando a via<br />

judicial), arrancar dos braços da mãe portadora a criança<br />

acabada de nascer, como se esta fosse propriedade sua<br />

e aquela uma criminosa, portanto, em autêntica execução<br />

específica.<br />

Como já escrevi noutros artigos de opinião, pode parecer<br />

estranha a defesa deste “direito ao arrependimen-<br />

to”. Porém, a verdade é que há ordenamentos jurídicos,<br />

como o do Reino Unido, onde a figura é regulada desde<br />

a década de oitenta do século XX, em que os membros<br />

do casal beneficiário sabem que não podem dar por<br />

garantida a entrega da criança, tendo necessariamente,<br />

que pedir ao Tribunal uma ratificação retrospetiva do<br />

procedimento, que apenas é concedida nos casos em<br />

que a criança já lhes tenha sido entregue (assim se assegurando<br />

não ter havido arrependimento da portadora).<br />

Estas cautelas resultam da concessão à experiência da<br />

vida: o arrependimento da gestante acontece mais vezes<br />

do que se desejaria e, pelo menos na perspetiva de<br />

quem pensou muito mais do que nós sobre o assunto,<br />

é tão grave retirar à força a criança da mãe gestante,<br />

quanto frustrar as expectativas do casal beneficiário. Assim,<br />

mais vale avisar os destinatários que a gestação de<br />

substituição é arriscada para (todos) os envolvidos. Com<br />

este regime, a gestante também sabe que pode ter de<br />

ficar com a criança gerada, quando não contava com isso.<br />

Pense-se, por exemplo, nos casos em que os membros<br />

do casal beneficiário não estão em condições de<br />

a receber, simplesmente porque, desafortunadamente,<br />

morreram antes de o parto ocorrer...<br />

No caso português, cabe agora à Assembleia da República<br />

corrigir a Lei, expurgando-a das inconstitucionalidades<br />

declaradas pelo TC. É importante que o faça com<br />

a máxima brevidade, pois a consagração de um adequado<br />

modelo legal de gestação de substituição permitirá dar<br />

uma resposta (ainda que meramente excepcional) a casos<br />

de infertilidade grave e sociologicamente complexos.<br />

O processo legislativo já em curso mostra que podem<br />

merecer aprovação propostas que se limitem a conceder<br />

um prazo de alguns dias após o parto para a gestante<br />

revogar o seu consentimento. Não me parece ser um<br />

bom caminho! Exige-se aos Deputados, que já conhecem<br />

a posição do TC, a adoção de soluções que se traduzam<br />

numa concreta e efetiva proteção da gestante, e<br />

não constituam apenas retóricas positivistas e cosméticas<br />

legais, que signifiquem, na prática, uma confirmação<br />

do regime que o TC sentiu necessidade de afastar. Ã<br />

52


GH Espaço ENSP<br />

W COD: Programa de Workshops<br />

de Codificação Clínica<br />

Rui Santana<br />

Subdiretor Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

Acodificação clínica é atualmente<br />

uma peça chave do sistema de saúde<br />

em Portugal. Desde a sua introdução<br />

em 1983, a sua utilização<br />

tem vindo a disseminar-se, sendo<br />

utilizada transversalmente nos mais diversos contextos<br />

(público/privado, organismos centrais prestadores,<br />

hospitais/outros níveis de cuidados). Além disso, a introdução<br />

da ICD-10-CM/PCS em 20<strong>16</strong>, dadas as diferenças<br />

assinaláveis face à versão anterior, trouxe consigo<br />

a necessidade de atualização dos conhecimentos.<br />

A atividade de codificação rege-se por um conjunto<br />

de normas e orientações, específicas e em constante<br />

atualização. Específicas, porque a diferenciação e a<br />

complexidade de cada área de prestação de cuidados<br />

assim o exigem. Em constante atualização, porque<br />

são revistas anualmente, não só para colmatar as insuficiências<br />

detetadas numa classificação em constante<br />

melhoria, mas também para acompanhar as inovações<br />

no diagnóstico e na prática clínica que necessitam<br />

de uma tradução no seio da classificação. Por<br />

estas razões, é importante que a formação inicial seja<br />

complementada com uma formação em temas específicos<br />

ajustados ao percurso e interesses de cada<br />

codificador e com a sua atualização.<br />

Do ponto de vista do sistema de saúde, é importante<br />

dispor de uma codificação válida e fiável, suportada<br />

numa formação adequada. E é igualmente importante<br />

que os utilizadores da informação gerada pela codificação<br />

estejam capacitados para a usar de forma a<br />

maximizar todas as suas potencialidades. Os recur-<br />

Sílvia Lopes<br />

Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

sos do sistema de saúde são limitados, pelo que o<br />

investimento em recursos humanos e materiais para<br />

a recolha destes dados é demasiado expressivo para<br />

se circunscrever apenas ao âmbito (importante, mas<br />

limitado) do financiamento hospitalar. A capacitação<br />

dos utilizadores desta informação, habilitando-os para<br />

a sua compreensão e discussão, cria também condições<br />

para a melhoria da mesma. E, nos utilizadores,<br />

incluímos naturalmente as “fontes primárias” da informação,<br />

ie, todos aqueles que registam no processo clínico<br />

os elementos que depois vêm a ser codificados.<br />

Neste contexto, a Escola Nacional de Saúde Pública<br />

(ENSP-NOVA) e a Administração Central do Sistema<br />

de Saúde (ACSS) criaram em conjunto o W-COD |<br />

Programa de Workshops de Codificação Clínica, com<br />

vista a aprofundar e atualizar os conhecimentos dos<br />

seus participantes acerca dos métodos e implicações<br />

da codificação segundo a ICD-10-CM/PCS.<br />

O primeiro workshop daquela iniciativa, intitulado “Utilização<br />

da codificação clínica na gestão em saúde”, realizou-se<br />

nos passados dias 15 e <strong>16</strong> de Novembro na<br />

ENSP-NOVA. Este workshop visou dotar os participantes<br />

dos conhecimentos teóricos e práticos sobre<br />

a utilização da codificação clínica para a descrição da<br />

atividade hospitalar e construção de indicadores, bem<br />

como sobre a sua informação de suporte. Dessa forma,<br />

contribuiu para consolidar a utilização da codificação<br />

clínica como fundamento da tomada de decisão,<br />

bem como para a melhoria da sua informação de base,<br />

na perspetiva da gestão em saúde.<br />

Entre os conteúdos abordados naquele workshop, incluíram-se<br />

a importância da informação (registos administrativos<br />

e clínicos) e a estrutura da ICD-10-CM/<br />

PCS, abordando tanto os diagnósticos como os procedimentos.<br />

A versão mais recente dos Grupos de<br />

Diagnósticos Homogéneos (APR-DRG) foi também<br />

tratada, assim como a pertinência e apuramento de<br />

indicadores de desempenho: eventos adversos, internamentos<br />

por causas sensíveis a cuidados de ambulatório<br />

e mortalidade e demora média ajustados<br />

pelo risco. As auditorias à informação foram ainda<br />

um dos conteúdos versados no workshop, perspetivando<br />

a sua importância e os tipos de auditoria. O<br />

SIMH - sistema de informação dirigido aos médicos<br />

codificadores - e o seu papel para garantir uma codificação<br />

de qualidade, bem como o BIMH - sistema<br />

de informação dirigido à exploração e análise dos dados<br />

daí resultantes - são ferramentas disponibilizadas<br />

a nível nacional e que foram também apresentadas<br />

nesta formação. O modelo de ensino foi participativo<br />

e, nos vários temas incluídos, procurou-se dar resposta<br />

às questões práticas com que os participantes<br />

se defrontavam no seu dia-a-dia. A participação dos<br />

participantes culminou com a discussão de análises<br />

de gestão com dados da codificação clínica, com vista<br />

a consolidar os conteúdos do workshop e motivar<br />

os participantes a aumentar e diversificar as utilizações<br />

da codificação nas suas instituições. Foi uma discussão<br />

enriquecida pela diversidade dos percursos<br />

presentes, incluindo gestores de topo e intermédios,<br />

médicos com e sem formação em codificação, bem<br />

como investigadores.<br />

Para o futuro, no âmbito da parceria entre a ENSP-<br />

-NOVA e a ACSS temos já planeada uma nova<br />

edição do workshop “Utilização da codificação clínica<br />

na gestão em saúde”, revista e melhorada com<br />

os ensinamentos que colhemos na primeira edição.<br />

Contamos ainda alargar o leque de temas abordados<br />

nos workshops deste programa. Sempre tendo presente<br />

a necessidade de colocar a codificação como<br />

um meio para o sistema de saúde se aproximar do<br />

“triple aim”: menores custos, melhor experiência do<br />

doente e melhor saúde da população. Ã<br />

54 55


GH Iniciativa APAH<br />

APAH PROMOVE APRESENTAÇÃO<br />

SOBRE A UTILIZAÇÃO DE DADOS<br />

E INFORMAÇÃO NO SISTEMA<br />

NACIONAL DE SAÚDE<br />

• O futuro passa pela capacidade de processar e analisar<br />

dados com qualidade que contribuam para o<br />

diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças;<br />

• A formação é um ponto-chave e existem ainda lacunas<br />

na competência para a utilização de algumas<br />

ferramentas de gestão de informação;<br />

• Um mecanismo comum de comunicação entre os<br />

vários profissionais de saúde, onde se partilham experiências<br />

e soluções, pode contribuir para um SNS<br />

mais equitativo e eficiente.<br />

Todos estes fatores contribuem, segundo a APAH,<br />

para a necessidade premente de desenhar a estrutura<br />

de um BI para o SNS. Ã<br />

A<br />

Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu,<br />

no passado dia 12 de março<br />

de <strong>2019</strong>, a sessão pública “Contributos<br />

para a Implementação de<br />

um Business Intelligence no SNS”, iniciativa que contou<br />

com o apoio da Merck.<br />

O encontro revelou as principais conclusões de um<br />

White Paper desenvolvido pelo Grupo de Trabalho<br />

para a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde (GTGIS) da<br />

APAH, focado na tendência de aumento do volume<br />

de dados existentes nas organizações de saúde em<br />

Portugal, nos problemas que advêm da sua gestão<br />

ineficiente e nos contributos da implementação de<br />

um Business Intelligence (BI) no SNS.<br />

Na ocasião, Alexandre Lourenço, Presidente da<br />

APAH, afirmou que “É hoje inquestionável que as<br />

ferramentas de BI se posicionam como<br />

peças centrais no futuro dos cuidados<br />

de saúde, dado que será possível tratar<br />

ainda melhor os utentes, rentabilizando<br />

os recursos e melhorando os resultados<br />

em saúde. No então, é necessário<br />

equacionar os desafios inerentes à implementação<br />

de um BI, considerando a<br />

complexidade das organizações, a quantidade<br />

da informação a tratar, os diferentes<br />

níveis de decisores e as diferen-<br />

tes áreas que produzem e necessitam dessa informação.”<br />

A realidade nacional atual carateriza-se por dificuldades<br />

na extração de dados das múltiplas bases e<br />

sistemas disponíveis, a má qualidade e barreiras no<br />

acesso a dados, impossibilitando a realização de benchmarking<br />

entre as várias organizações. Teresa Magalhães,<br />

Coordenadora do GTGIS, salientou igualmente<br />

na sua intervenção que “a tecnologia atual<br />

das ferramentas de BI oferece hoje aos sistemas de<br />

saúde uma oportunidade de usar Big Data para efetivamente<br />

melhorar os aspetos clínicos e de prestação<br />

de cuidados. A implementação de um sistema<br />

de BI representa um grande passo na democratização<br />

da informação”.<br />

A participação de várias personalidades de destaque<br />

do setor da saúde nacional motivou um debate focado<br />

na visão dos diversos stakeholders sobre a utilização<br />

de dados e informação na saúde, e no acesso<br />

a esses dados na perspetiva dos utilizadores.<br />

Durante o evento foi ainda apresentado, por Afonso<br />

Pedrosa (GTGIS), o caso prático de um BI <strong>Hospitalar</strong>,<br />

o “HVITAL”, onde foram destacados os<br />

inúmeros benefícios deste sistema que se constitui<br />

como uma ferramenta de gestão hospitalar, criada<br />

no Centro <strong>Hospitalar</strong> de São João e que é reconhecida<br />

a nível nacional e internacional.<br />

De acordo com o presidente da APAH: “O setor<br />

da saúde está ainda muito atrasado em<br />

relação a outros setores da economia.<br />

Este trabalho é o primeiro passo para<br />

o longo caminho que temos diante de<br />

nós, na criação de sistemas de informação<br />

que nos permitam trabalhar, colaborar<br />

e gerir melhor todas as nossas<br />

interações na área de saúde, para bem<br />

de todos.”<br />

Como principais conclusões desta iniciativa<br />

destacam-se:<br />

Consultar o White Paper “Business Intelligence no SNS: principais desafios” em https://apah.pt/ebooks/<br />

Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Proteção das Equipas de <strong>Gestão</strong> e dos Gestores Intermédios<br />

A Abordagem<br />

Na Aon, consideramos o setor da saúde<br />

como estratégico, procurando centrar<br />

esforços na identificação de<br />

tendências, exposições e riscos e no<br />

desenvolvimento de soluções de<br />

transferência de risco específicas e<br />

adaptáveis à cultura de risco dos<br />

nossos clientes.<br />

Administradores e Gestores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es são, mais do que nunca,<br />

sensíveis às responsabilidades que<br />

enfrentam no exercício das suas<br />

funções (podendo culminar na afetação<br />

do seu próprio património) muito por via<br />

da elevada complexidade e possíveis<br />

impactos das suas decisões e ao<br />

elevado grau de escrutínio que terceiros<br />

(como entidades reguladoras)<br />

promovem junto do setor.<br />

É este contexto que estabelecemos, em<br />

parceria com a APAH, uma solução<br />

especificamente dedicada à proteção<br />

do património pessoal das equipas<br />

de gestão das unidades de prestação<br />

de cuidados de saúde.<br />

As Soluções<br />

BASIC<br />

Indemnizações: 50.000 euros<br />

Apoio jurídico: 25.000 euros<br />

Prémio anual: 294,30 euros<br />

PLUS<br />

Indemnizações: 100.000 euros<br />

Apoio jurídico: 50.000 euros<br />

Prémio anual (*): 436,00 euros<br />

PREMIUM<br />

Indemnizações: 250.000 euros<br />

Apoio jurídico: 75.000 euros<br />

Prémio anual (*): 654,00 euros<br />

(*) Opção de fracionamento semestral, com agravamento de 4%<br />

Proteções<br />

As indemnizações a pagar a Terceiros<br />

financeiramente lesados, pelos atos de<br />

gestão dos Administradores e Diretores,<br />

podem ser transferidos para a apólice,<br />

sem afetar o património do Segurado<br />

Permite o pagamento dos<br />

honorários de advogados incorridos<br />

na preparação da defesa do Segurado<br />

em reclamações (processos civis)<br />

apresentadas por Terceiros<br />

Permite o pagamento dos honorários de<br />

advogados incorridos na preparação da<br />

defesa do Segurado decorrente de em<br />

investigações (processos administrativos)<br />

iniciadas por entidades públicas (reguladores)<br />

Contatos<br />

secretariado@apah.pt<br />

56


GH Iniciativa APAH<br />

APAH APOSTA na<br />

PROFISSIONALIZAÇÃO<br />

da INVESTIGAÇÃO CLÍNICA<br />

nas UNIDADES de SAÚDE<br />

em PORTUGAL<br />

O<br />

Grupo de Trabalho para a Investigação<br />

em Saúde (GTIS) da APAH<br />

promoveu no passado dia 30 de<br />

janeiro de <strong>2019</strong> o Workshop de<br />

Sensibilização para a “Profissionalização<br />

da Investigação Clínica nas Unidades de Saúde<br />

em Portugal”, iniciativa que contou com o apoio da<br />

NOVA Medical School, da PtCRIN e da APIFARMA.<br />

O encontro que reuniu no INFARMED, em Lisboa,<br />

mais de 70 profissionais de saúde, incluindo membros<br />

de Conselhos de Administração, Diretores de<br />

Centros de Investigação Clínica (CIC), administradores<br />

hospitalares e gestores com funções na área de<br />

Investigação Clínica (IC) nos hospitais do Serviço Nacional<br />

de Saúde (SNS), teve como objetivos demonstrar<br />

que a aposta na IC é parte da estratégia para a<br />

excelência da prestação de cuidados, que acrescenta<br />

valor nos resultados em saúde, e que só há vantagens<br />

em profissionalizar esta área e em apostar em infraestruturas<br />

oleadas, com procedimentos instituídos,<br />

uniformizados e capacitadas. A profissionalização da<br />

IC deve, por isso, ser uma prioridade do SNS numa<br />

perspetiva de compromisso nacional com a Inovação.<br />

Neste Workshop de Sensibilização foram partilhadas<br />

experiências de diferentes organizações, nacionais<br />

(Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Central e 2CA-Braga) e internacionais<br />

(Fundación para la Investigación Biomédica<br />

del Hospital Clínico San Carlos em Madrid e Cliniques<br />

Universitaires Saint-Luc em Bruxelas), e apresentadas<br />

diferentes estratégias e soluções, todas com o mesmo<br />

objetivo: criar valor em saúde através da investigação<br />

associada aos cuidados de saúde. As apresentações<br />

realizadas no decurso deste Workshop estão<br />

disponíveis em vídeo no Canal APAH “<strong>Gestão</strong> em<br />

Saúde” no YouTube (https://apah.pt/iniciativas-projetos/canal-apah/).<br />

O Workshop de Sensibilização para a IC proporcionou<br />

uma discussão alargada em vários domínios, sendo<br />

de salientar alguns pontos comuns identificados<br />

nos diferentes exemplos apresentados:<br />

1 - Ficou patente que o investimento na organização<br />

de um CIC e a profissionalização destas estruturas é<br />

condição central para o seu sucesso;<br />

2 - Foi também demonstrado que a promoção da autonomia<br />

gestionária e financeira destes centros, bem<br />

como a multidisciplinaridade dos profissionais que<br />

a compõem, é fator chave para a sua consolidação,<br />

efetividade e sustentabilidade devendo existir um circuito<br />

financeiro de autofinanciamento da estrutura;<br />

3 - Identificou-se igualmente como racional comum<br />

entre os vários exemplos para o desenvolvimento<br />

e manutenção de um CIC competitivo a rapidez na<br />

aprovação dos estudos, a capacidade de recrutamento<br />

de doentes e a qualidade dos dados reportados.<br />

4 - Outro fator comum identificado foi a promoção de<br />

uma cultura de formação contínua em IC e uma dinâmica<br />

de comunicação interna e externa de resultados,<br />

ambas relevantes na capacidade de captação, motivação<br />

e retenção dos melhores profissionais de saúde.<br />

Como principais conclusões deste Workshop de Sensibilização<br />

regista-se:<br />

• A IC deve ser explicitamente uma prioridade estratégica<br />

das instituições de saúde com impacto na<br />

qualidade de cuidados de saúde, acesso à inovação e<br />

prestígio das Unidades de saúde;<br />

• A criação e desenvolvimento sustentado dos CIC<br />

requer uma política clara do Ministério da Saúde ao<br />

nível estratégico e de gestão de recursos humanos;<br />

• A melhoria da gestão operacional dos CIC exige uma<br />

dotação de recursos humanos profissionalizada e dedicada<br />

devendo assumir-se com uma prioridade das<br />

instituições;<br />

• A profissionalização dos CIC poderá ser um fator<br />

decisivo na retenção de profissionais de saúde qualificados,<br />

bem como na sua satisfação e motivação<br />

profissional;<br />

• A autonomia de gestão dos CIC é um fator considerado<br />

essencial para garantir um circuito financeiro<br />

de autofinanciamento e que permita uma agilidade<br />

dos procedimentos;<br />

• O aumento da literacia em Ensaios Clínicos é crucial<br />

para o desenvolvimento sustentado da IC e do<br />

conhecimento científico, sendo recomendável a sua<br />

inclusão na formação, quer a nível académico, quer a<br />

nível institucional, em todo o SNS;<br />

• O envolvimento dos Cuidados de Saúde Primários<br />

nos CIC é uma área pouco explorada que poderá ter<br />

grande impacto na captação de ensaios clínicos e na<br />

criação de valor para a população;<br />

• A partilha de experiências permitirá produzir um<br />

“Programa tipo” replicável e adaptável às várias unidades<br />

de saúde, abreviando o processo de criação e<br />

operacionalização dos CIC a nível nacional;<br />

• A criação e desenvolvimento sustentado dos CIC<br />

a nível nacional requer uma política top-down, com<br />

início no Ministério da Saúde e reflexo financeiro<br />

nos Contratos-Programa, mas a promoção da gestão<br />

operacional tem de ser bottom-up;<br />

• É desejável que os CIC, para além das Unidades de<br />

saúde englobem Universidades, Centros Académicos<br />

ou Centros/Laboratórios de Investigação Científica,<br />

permitindo uma atualização constante ao nível académico<br />

e científico das profissões da saúde, bem como<br />

um aumento da Literacia em IC. Neste domínio, a<br />

inclusão de parcerias a nível empresarial poderá também<br />

revestir-se de ganhos mútuos.<br />

Nesta linha de pensamento foi sugerido pelo Secre- }<br />

58


GH Iniciativa APAH<br />

MARCA A AGENDA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (janeiro - março <strong>2019</strong>):<br />

tário de Estado Adjunto e da Saúde, Dr. Francisco<br />

Ramos, a constituição de um Consórcio Nacional de<br />

Investigação Clínica, colocando CIC nacionais em rede,<br />

numa perspetiva de coordenação de interesses<br />

comuns. Esta estrutura possibilitaria, ainda, o efeito de<br />

escala necessário à captação de alguns ensaios clínicos<br />

multicêntricos, tornando Portugal um único prestador<br />

de cuidados e recrutamento de doentes, quando<br />

esse interesse se coloca. A criação deste consórcio<br />

implicaria a associação dos vários hospitais para conhecer<br />

e decidir domínios de cooperação e domínios<br />

de competição.<br />

Ainda que a iniciativa de cada instituição seja crucial<br />

para a constituição e manutenção dos CIC, há consciência<br />

da necessidade de uma estratégia nacional que<br />

dê visibilidade ao país no domínio da investigação clínica<br />

e de translação, que permita a captação de investimento<br />

estrangeiro essencial para capacitar os nossos<br />

recursos humanos e fomentar a competitividade.<br />

Uma das últimas ações de incentivo à investigação<br />

nos hospitais foi a constituição da Agência de Investigação<br />

Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), pela<br />

tutela. A AICIB tem como missão a promoção dos<br />

Centros Académicos Clínicos (CAC) como estruturas<br />

autónomas, financiadoras de investigação, responsáveis<br />

e responsabilizadas. Através da promoção dos<br />

CAC, a tutela visa assim a promoção da investigação<br />

clínica e de translação em Portugal, na sequência de<br />

uma série de medidas desde 2014.<br />

Próximos passos<br />

A APAH através do seu GTIS tem desenvolvido a longo<br />

dos últimos 3 anos inúmeros esforços e ações para elevar<br />

a IC ao nível da prioridade e parte da estratégia de desenvolvimento<br />

e diferenciação dos hospitais do SNS.<br />

Dando continuidade a este contributo a APAH irá<br />

solicitar, na sequência deste Workshop, um parecer<br />

jurídico que vise esclarecer os limites de cada modelo<br />

de organização dos CIC - Consórcios ou Associações<br />

- ao nível da autonomia de fluxo financeiro<br />

em relação aos hospitais, a autonomia de contratação<br />

e a obrigatoriedade de cumprimento do Código de<br />

Contração Pública (CCP), na perspetiva de apresentar<br />

um modelo de organização claro e funcional, e<br />

não um subterfúgio às imposições atuais, quer do Ministério<br />

das Finanças, quer do CCP.<br />

O GTIS propõe-se igualmente dinamizar uma Task<br />

Force que terá como missão a elaboração e apresentação<br />

de uma proposta de posicionamento estratégico,<br />

modelo organizacional e orientações normativas<br />

e de regulamento funcional dos CIC dentro do SNS,<br />

que inclua também a proposta de fluxos financeiros e<br />

burocráticos, que melhor potencie a competitividade<br />

portuguesa nesta matéria, mas sobretudo que clarifique<br />

o caminho a seguir.<br />

A APAH apela ainda ao desenvolvimento de uma<br />

Agenda nacional para o desenvolvimento da IC no<br />

SNS, a par da necessária aposta das instituições, ao<br />

nível da sua gestão de topo e intermédias, na definição<br />

da IC como uma prioridade, indo ao encontro<br />

também das expectativas dos profissionais de saúde<br />

e dos utentes.<br />

Por fim e porque queremos apoiar as instituições do<br />

SNS na aposta numa cultura de profissionalização da<br />

IC foi realizado nos dias 11 e 25 de março de <strong>2019</strong><br />

o Curso "Profissionalização da Investigação Clínica<br />

nas Unidades de Saúde em Portugal", uma parceria<br />

da APAH com a NOVA Medical School, a PtCRIN<br />

com o apoio da APIFARMA. Esta atividade formativa,<br />

em que participaram 20 profissionais oriundos de 20<br />

hospitais do SNS, pretendeu contribuir para aumentar<br />

a capacitação em investigação em saúde dos profissionais<br />

dos CIC, para efeitos de desenvolvimento<br />

e consolidação de infraestruturas personalizadas, necessárias<br />

ao seu desempenho de acordo com as boas<br />

práticas internacionais. Ã<br />

Estratégia para a Profissionalização da Investigação Clínica<br />

nas Unidades de Saúde em Portugal | Workshop de<br />

Sensibilização30 de janeiro de <strong>2019</strong>, INFARMED - Parque da Saúde<br />

de Lisboa, Lisboa<br />

Iniciativa do Grupo de Trabalho para a Investigação em Saúde da APAH<br />

com o apoio da NOVA Medical School, da PtCRIN e da APIFARMA.<br />

Ver reportagem nesta edição.<br />

Todos os conteúdos apresentados no âmbito deste workshop podem<br />

ser visualizados no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube:<br />

https://www.youtube.com/channel/UCyDNz2m3gpVhiLSu3E7Q6jg<br />

Conferência “THE FUTURE OF HEALTHCARE - A Humanização<br />

na Era Digital”<br />

31 de janeiro de <strong>2019</strong>, Europarque - Santa Maria da Feira<br />

A APAH deu o seu apoio institucional à iniciativa organizada pelo<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Entre-o-Douro e Vouga e o Seal Group, em celebração<br />

dos 20 anos do Hospital São Sebastião.<br />

Sabia mais em http://www.thefutureofhealthcare.pt/<br />

Rethinking Hospital<br />

1 e 2 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Centro de Congressos do Hotel<br />

Aqualuz - Tróia<br />

Evento de cariz nacional que pretende promover a discussão e o debate<br />

sobre a realidade <strong>Hospitalar</strong> em Portugal, as tendências, as<br />

ameaças e as oportunidades do momento presente, assim como<br />

repensar e discutir o papel de cada departamento enquanto motor<br />

social e económico num momento especialmente crítico para a economia,<br />

estimulando a consciência da mudança e a forma como se<br />

pode desenvolver o melhor modelo em prol da eficácia dos serviços<br />

e da eficiência na gestão multidisciplinar. A APAH apoiou a iniciativa<br />

e foi representada pelo seu Secretário-Geral que foi moderador da<br />

Mesa 1 dedicada ao tema: O Financiamento da Saúde.<br />

Mais informações: https://www.rethinkinghospital.pt/<br />

5.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde” |<br />

“Cuidados integrados: o desafio de cuidar do fim de vida”<br />

05 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />

O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de Saúde”<br />

é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />

da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e promover<br />

a excelência na gestão da saúde através da discussão de temas relevantes<br />

para os gestores de saúde que exercem funções no Brasil e<br />

em Portugal. Esta edição teve como orador Lucas Freire de Andrade,<br />

CEO da Clínica Florence - Brasil.<br />

17.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Edição Especial Açores<br />

08 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Hospital do Divino Espírito Santo<br />

de Ponta Delgada (HDES) – São Miguel, Açores<br />

Pela primeira vez o Caminho dos Hospitais esteve na Região Autónoma<br />

dos Açores onde decorreu a Conferência/Debate “A Saúde<br />

nas Ilhas Atlânticas”. Na ocasião foram partilhadas algumas das boas<br />

práticas do HDES na área da diabetes infantil e na gestão de feridas<br />

através do recurso à telesaúde e foi apresentado o Programa Nacional<br />

para a implementação e dinamização das Unidades de Hospitalização<br />

Domiciliária nos estabelecimentos hospitalares do SNS e foi<br />

feito pela ACSS um ponto de situação dos Programas de Telemonitoriação<br />

remota de doentes.<br />

Ver reportagem na próxima edição.<br />

Barómetro dos Internamentos Sociais | 3.ª edição<br />

18 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Hospitais do SNS<br />

Iniciativa da APAH com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa<br />

de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico da EY, tem como<br />

objetivo monitorizar de forma regular a problemática dos internamentos<br />

inapropriados fomentando ações conjuntas que minimizem este<br />

impacto. Os resultados da edição <strong>2019</strong> serão apresentados no dia 6<br />

de abril no decurso da 6.ª Conferência VALOR APAH em Peniche.<br />

Conheça em detalhe os resultados das edições anteriores em: https://<br />

apah.pt/iniciativas-projetos/barometro-de-internamentos-sociais/<br />

Conferência APIFARMA “Sistemas de Saúde baseados<br />

no Valor e Medição de Resultados”<br />

20 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Centro de Congressos - Lisboa<br />

Em colaboração com a EFPIA e o ICHOM, a APIFARMA organizou<br />

a Conferência “Sistemas de Saúde baseados no Valor e Medição de<br />

Resultados”, que contou com a participação do Presidente da APAH,<br />

Alexandre Lourenço, como comentador do painel de debate “Uma<br />

perspetiva nacional sobre a implementação da VBH - Resultados em<br />

Saúde na prática” no decurso do qual salientou o apoio estratégico e<br />

operacional da APAH aos projetos-piloto resultantes do Projeto 3F,<br />

atualmente em implementação no IPO-Porto e Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

Trás-os-Montes e Alto Douro.<br />

Conferência Momentos | Doença crónica: Saúde, Trabalho<br />

e Sociedade | Políticas públicas: que medidas implementar<br />

19 de fevereiro, Auditório da Reitoria da Universidade Nova<br />

de Lisboa - Lisboa<br />

Na iniciativa organizada pelo Expresso, Novartis e NOVA IMS a<br />

APAH participou como comentadora da discussão dos resultados<br />

do estudo AREA – Avaliação Resultados na Espondilite Anquilosante.<br />

XI Jornadas de Farmácia <strong>Hospitalar</strong> | Evidência na prática<br />

Farmacêutica<br />

22 e 23 de fevereiro de <strong>2019</strong>, Hotel Olissippo Oriente - Lisboa<br />

A APAH participou como comentadora no Painel dedicado à implementação<br />

da Diretiva dos medicamentos falsificados.<br />

Contributos para implementação de Business Intelligence<br />

no SNS | Apresentação Pública<br />

12 de março de <strong>2019</strong>, Teatro Thalia - Lisboa<br />

Apresentação pública do White Paper “Business Intelligence no SNS:<br />

principais desafios” desenvolvido pelo Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong><br />

da Informação em Saúde da APAH. Esta iniciativa da APAH, contou<br />

com o apoio da Merck, e teve como objetivo esclarecer o que é<br />

um BI na saúde na sua visão clássica e de futuro e propor soluções<br />

para os principais problemas existentes no SNS ao nível da qualidade<br />

e do acesso aos dados promovendo o consenso entre todos os stakeholders<br />

quanto aos fatores essenciais para a implementação de um<br />

BI na saúde a nível nacional e local.<br />

6.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />

| “Cuidados integrados: o modelo das Unidades Locais<br />

de Saúde em Portugal”<br />

19 de março de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />

O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de Saúde”<br />

é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />

da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e promover<br />

a excelência na gestão da saúde através da discussão de temas relevantes<br />

para os gestores de saúde que exercem funções no Brasil e em<br />

Portugal. Esta edição teve como oradora Margarida Filipe, Enfermeira<br />

Diretora da Unidade Local de Saúde de Matosinhos - Portugal.<br />

Portugal e-Health Summit <strong>2019</strong><br />

19 a 22 de março de <strong>2019</strong>, Altice Arena: Sala Tejo e PT Meeting<br />

Center - Lisboa<br />

A APAH foi moderadora da sessão: Liderança e Governação Clínica<br />

- Um Compromisso com o SNS, sendo representada pela<br />

colega Teresa Magalhães, Coordenadora do Grupo de Trabalho<br />

para a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde da APAH. No Painel participaram<br />

Carlos Nunes, Presidente do Conselho Diretivo ARS<br />

Norte e Rui Guimarães, Diretor Clínico do Hospital Santa Maria<br />

Maior em Barcelos. }<br />

60 61


Conferência “O Sistema de Saúde para o cidadão”<br />

23 de março de <strong>2019</strong>, Salão Nobre da Reitoria<br />

da Universidade do Porto - Porto<br />

Com o objetivo de refletir as questões ligadas ao futuro da Saúde em<br />

Portugal, a Universidade do Porto, em articulação com os subscritores<br />

dos Princípios Orientadores para uma Lei de Bases da Saúde e a<br />

Convenção Nacional da Saúde, promoveu a Conferência dedicada<br />

ao tema “O Sistema de Saúde para o Cidadão”. A APAH participou<br />

na iniciativa tendo sido representada pelo seu Presidente.<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde | “Como<br />

integrar inovação em Saúde”<br />

28 de março de <strong>2019</strong>, Secção Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos (SRNOM) - Porto<br />

No âmbito do protocolo assinado entre a SRNOM e a APAH,<br />

realizou-se a 3.ª edição do Ciclo de Conferências | Medicina e Administração<br />

de Serviços de Saúde. A conferência, intitulada “Como<br />

integrar inovação em Saúde”, teve com oradores João A. Fonseca,<br />

Diretor do Departamento de Medicina Comunitária, Informação<br />

e Decisão em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade<br />

do Porto e Guilherme Victorino, Vogal da Comissão Executiva do<br />

SAMS e Professor da NOVA IMS.<br />

ACADEMIA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes<br />

iniciativas formativas (janeiro - março <strong>2019</strong>):<br />

Curso Avançado de Direito da Saúde<br />

De janeiro a maio de <strong>2019</strong> - Faculdade de Direito da Universidade<br />

de Lisboa, Lisboa<br />

Inserido na Academia APAH este curso é uma organização do Instituto<br />

de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade<br />

de Lisboa. Os sócios efetivos da APAH beneficiaram de um<br />

desconto de 25% na propina.<br />

Conheça em detalhe o Programa do Curso em http://www.icjp.pt/<br />

cursos/<strong>16</strong>541/programa<br />

Programa Avançado de <strong>Gestão</strong> do Medicamento (PA-<br />

GeM)<br />

De 22 de fevereiro a 22 de junho de <strong>2019</strong> - Faculdade de Farmácia<br />

da Universidade de Lisboa, Lisboa<br />

O PAGeM é uma parceria entre a APAH, a Ordem dos Farmacêuticos<br />

e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Tem como<br />

destinatários administradores hospitalares e gestores de serviços de<br />

saúde do setor público, privado e social; farmacêuticos do setor hospitalar<br />

e comunitário; diretores de serviços clínicos, chefes de serviço<br />

e outros profissionais do setor da saúde com interesse na gestão do<br />

circuito do medicamento.<br />

Saiba mais no site da Academia APAH em http://apah.pt/…/pagem-<br />

-programa-avancado-de-gestao-do-medi…/<br />

Curso de Profissionalização da Investigação Clínica nas<br />

Unidades de Saúde em Portugal<br />

11 e 25 de março de <strong>2019</strong> - Nova Medical School da Universidade<br />

NOVA de Lisboa, Lisboa<br />

Numa parceria da APAH com a NOVA Medical School, a PtCRIN<br />

e com o apoio da APIFARMA. Este curso pretende contribuir para<br />

aumentar a capacitação em investigação em saúde dos profissionais<br />

dos Centros de Investigação Clínica, para efeitos de desenvolvimento<br />

e consolidação de infraestruturas personalizadas, necessárias ao seu<br />

desempenho de acordo com as boas práticas internacionais.<br />

Programa PEGADA - Programa de Estágios em <strong>Gestão</strong><br />

de Saúde<br />

Inserido na Academia APAH o Programa PEGADA contempla<br />

estágios de curta duração (1 a 3 semanas) cujo objetivo é promover<br />

a disseminação das melhores práticas de gestão e organização,<br />

entre os hospitais do SNS e contribuir para o desenvolvimento de<br />

competências científicas e técnicas, ajustadas ao perfil profissional<br />

dos gestores de serviços de saúde. A APAH pretende desta forma<br />

iniciar a construção de um caminho de mudança na gestão hospitalar,<br />

promovendo a sinergia dentro do SNS. A 1ª edição do Programa<br />

PEGADA teve início a 11 de março de <strong>2019</strong>, com o Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

do Oeste que recebeu a primeira colega para acompanhar a<br />

implementação do VNA (Vendor Neutral Archive), naquela que é a<br />

primeira instalação em hospitais portugueses. O Programa PEGADA<br />

conta com a participação de 9 Instituições <strong>Hospitalar</strong>es do SNS, promovendo<br />

21 áreas de Estágio e disponibilizando 33 vagas em <strong>2019</strong>.<br />

Saiba mais em https://apah.pt/iniciativas-projetos/pegada/<br />

EVENTOS +<br />

Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2019</strong>:<br />

ORGANIZAÇÃO APAH<br />

6.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão da qualidade<br />

e melhoria continua em saúde<br />

Data: 5 e 6 de abril de <strong>2019</strong><br />

Local: MH Peniche Hotel, Peniche<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Prémio Healthcare Excellence | 6.a Edição | Abertura das Candidaturas<br />

<strong>2019</strong><br />

Data: 01 de maio a 30 de junho de <strong>2019</strong><br />

Ver artigo nesta edição e em www.apah.pt<br />

“Os Portugueses e a Saúde” | Apresentação pública dos resultados<br />

inquérito no Parlamento<br />

Data: maio de <strong>2019</strong><br />

Local: Assembleia da República, Lisboa<br />

Ver artigo nesta edição e www.apah.pt<br />

Barómetro da adoção de Telesaúde e de Inteligência Artificial<br />

no Sistema de Saúde | Apresentação pública de resultados<br />

Data: 4 de junho de <strong>2019</strong><br />

Local: Sede da Associação Nacional de Farmácia, Lisboa<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão centrados<br />

no cidadão e na comunidade<br />

Data: 18 e 19 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Hotel Vila Galé, Braga<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade e Sustentabilidade<br />

no Acesso à Inovação<br />

Data: 15 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Centro Cultural de Belém, Lisboa<br />

O Fórum do Medicamento é uma iniciativa anual da APAH com o<br />

apoio da Astra Zeneca que visa contribuir para o conhecimento e<br />

partilha de boas práticas na área da gestão da tecnologia medicamento.<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/<br />

forum-do- medicamento/<br />

CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Caminho dos Hospitais – Conferência/debate<br />

Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços<br />

Regionais de Saúde<br />

Data: Periodicidade (bi)mensal<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-<br />

dos-hospitais/<br />

Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde” | Webinars<br />

Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />

Data: Periodicidade mensal<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Liga Portuguesa da <strong>Gestão</strong> em Saúde (LEGOS)<br />

Destinada a promover a mudança efetiva na gestão em saúde,<br />

assente numa cultura de liderança e motivação para a inovação<br />

organizacional através da aplicação de metodologias pedagógicas<br />

de pensamento criativo e de simuladores avançados de projetos<br />

de mudança.<br />

Organização: Parceria APAH + NOVA IMS<br />

Data: Brevemente<br />

Local: Coimbra, Lisboa e Porto<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde - Ciclo<br />

Conferências <strong>2019</strong><br />

Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos (SRNOM)<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-<br />

administracao-de-servicos-de-saude/<br />

APAH RECOMENDA em <strong>2019</strong>13.ª edição Prémio<br />

de Boas Práticas em Saúde | Candidaturas Abertas<br />

Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />

<strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />

Data: 19 de março a 12 de abril de <strong>2019</strong><br />

Local: Tbd<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Webinars - Integrated Care Matters Series 3<br />

Esta série de webinars terá um foco particular no envelhecimento<br />

ativo e saudável e na prevenção e gestão da fragilidade. Cada<br />

webinar contará com profissionais de saúde e cuidadores com<br />

experiência na implementação de cuidados integrados centrados<br />

nas pessoas idosas.<br />

Organização: The International Foundation for Integrated Care<br />

(IFIC) in collaboration with IFIC Scotland and IFIC Ireland<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: https://integratedcarefoundation.org/<br />

events/webinar-integrated-care-matters-series-3-3#15<br />

40194957625- c20d3dc8-c1cd<br />

19th International Conference on Integrated Care | Evaluating<br />

and implement models of integrated people-centred<br />

services<br />

Organização: International Foundation for Integrated Care (IFIC)<br />

Data: 1 a 3 de abril de <strong>2019</strong><br />

Local: San Sebastian, País Basco – Espanha<br />

Mais informações em: https://integratedcarefoundation.org/<br />

events/ icic19-19th-international-conference-on-integratedcare-san-se-<br />

bastian-basque-country<br />

I Encontro Nacional de Integração de Cuidados<br />

Organização: The Portuguese Association for Integrated Care (PAfIC)<br />

Data: 9 de maio de <strong>2019</strong><br />

Local: Centro de Artes e Espetáculos, Figueira da Foz<br />

Mais informações em: http://www.pafic.pt/pafic/<br />

VIII Jornadas da Associação Portuguesa de Hotelaria<br />

<strong>Hospitalar</strong><br />

Organização: Associação Portuguesa de Hotelaria <strong>Hospitalar</strong><br />

em parceria com a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo<br />

Data: 23 a 24 de maio de <strong>2019</strong><br />

Local: Instituto Politécnico de Beja<br />

Mais informações em: www.aphh.pt<br />

The HOPE Exchange Programme <strong>2019</strong><br />

Organização: HOPE European Hospital and Health Care Federation<br />

Data: 6 de maio a 4 de junho de <strong>2019</strong><br />

Local: Estágio de formação<br />

Mais informações em: http://www.hope.be/national-coordinators/<br />

The HOPE Agora | Evidence-informed decision-making in<br />

healthcare management<br />

Organização: HOPE European Hospital and Health Care Federation<br />

Data: 2 a 4 de junho de <strong>2019</strong><br />

Local: Ljubljana, Eslovénia<br />

Mais informações em: http://www.hope.be/programme-<strong>2019</strong>/<br />

EHMA <strong>2019</strong> Annual Conference | HEALTH MANAGE-<br />

MENT 2.0<br />

Organização: European Health Management Association (EHMA)<br />

Data: 17 a 19 de junho de <strong>2019</strong><br />

Local: Eespo, Finlandia<br />

Mais informações em: https://ehma.org/events/annual-conference/<br />

6th EuHEA PhD Student-Supervisor and Early Career Researcher<br />

Conference<br />

Organização: European Health Economics Association e Associação<br />

Portuguesa de Economia da Saúde<br />

Data: 4 a 6 de setembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Católica Porto Business School, Porto – Portugal<br />

Mais informações em: www.apes.pt<br />

EAHM <strong>2019</strong> | 6 Hospitals 6 Themes<br />

Organização: European Association of Hospital Managers (EAHM)<br />

e Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH)<br />

Data: 12 e 13 de setembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Ghent, Bélgica<br />

Mais informações em: http://eahm<strong>2019</strong>.eu/venue/ghent-belgium<br />

22th European Health Forum<br />

Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)<br />

Data: 2 e 4 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Bad Hofgastein, Austria<br />

Mais informações em: http://www.ehfg.org/<br />

43rd World Hospital Congress | “People at the heart of<br />

health services in peace and crisis”<br />

Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />

Data: 7 a 9 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Muscat - Oman<br />

Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/<br />

Conferência SNS no Feminino<br />

Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />

<strong>Hospitalar</strong> (APDH) e PWN Lisbon<br />

Data: 22 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Tbd<br />

Mais informações em: www.apdh.pt<br />

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Cuidados de Saúde<br />

Especializados<br />

Medicamentos<br />

Nutrição Clínica<br />

Dispositivos Médicos<br />

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Fresenius Kabi Pharma Portugal, Lda.<br />

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