Revista Vol 02 web
PERSONALIDADE - José Pereira Arouca RELIGIOSIDADE - Semana Santa em Mariana CULTURA - O Legado de Roque Camello PATRIMÔNIO - Pedra Sabão
PERSONALIDADE - José Pereira Arouca
RELIGIOSIDADE - Semana Santa em Mariana
CULTURA - O Legado de Roque Camello
PATRIMÔNIO - Pedra Sabão
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A Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural é<br />
uma publicação eletrônica da Associação<br />
Memória, Arte, Comunicação e Cultural de<br />
Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar<br />
artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.<br />
A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos<br />
de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma<br />
forma leve, histórias e curiosidades que marcaram<br />
estes 321 anos da primeira cidade de Minas.<br />
Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong><br />
Belas Artes é um passo importante para a<br />
divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a<br />
cidade de Mariana. Esperamos que os textos<br />
publicados contribuam para a formação de uma<br />
consciência de preservação e incentivem a<br />
pesquisa.<br />
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />
são de inteira responsabilidade dos autores.<br />
Colaboradores:<br />
Prof. Cristiano Casimiro,<br />
Prof. Vitor Gomes,<br />
Prof. Paulo Castagna,<br />
Agradecimentos:<br />
Arquivo Histórico da Câmara de Mariana<br />
IPHAN - Escritório Mariana<br />
Arquivo Fotográfico Marezza<br />
Museu da Música de Mariana,<br />
Bruna Santos<br />
Sandra Aparecida dos Reis<br />
Thalia Aparecida Gonçalves<br />
Fotografias:<br />
Thalia Gonçalves, Cristiano Casimiro, Vitor Gomes,<br />
Márcio Souza e César do Carmo<br />
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />
Capa: Sacada da Casa do Barão de Pontal- Mariana -MG<br />
Associação Memória Arte Comunicação e Cultura<br />
CNPJ: 06.0<strong>02</strong>.739/0001-19<br />
Rua Senador Bawden, 122, casa <strong>02</strong>
Índice<br />
PERSONALIDADE - José Pereira Arouca<br />
04<br />
RELIGIOSIDADE - Semana Santa em Mariana<br />
12<br />
CULTURA - O Legado de Roque Camello<br />
20<br />
PATRIMÔNIO - Pedra Sabão<br />
22<br />
Cristiano Casimiro
José Pereira<br />
AROUCA<br />
O homem que construiu Mariana<br />
Arte : Cristiano Casimiro
05<br />
José Pereira Arouca<br />
O<br />
De acordo com o historiador<br />
marianense Diogo de Vasconcelos, as<br />
primeiras capelas dos arraiais mineiros<br />
eram feitas em taipa e cobertas por folhas.<br />
Logo, porém, mestres canteiros chegados do<br />
Douro e do Minho, entre as levas de<br />
portugueses do Norte, cuidaram de talhar<br />
degraus, pórticos, vergas e cunhais,<br />
coruchéus, mísulas de púlpito, pias, lavabos e<br />
carrancas para a requintada evolução dos<br />
templos e casa. Os mestres, do norte de<br />
Portugal, transplantaram modelos portugueses<br />
facilmente adaptados em razão da abundância<br />
de matéria prima (o quartzito).<br />
Em Minas Gerais, a arte foi implantada por<br />
influência de pedreiros e canteiros portugueses<br />
e adquiriu peculiaridades graças ao uso das<br />
rochas locais e à criatividade dos mestres e oficiais<br />
portugueses e nativos, marcando presença<br />
na arquitetura setecentista e ajudando a compor<br />
o belo e original acervo que caracteriza o<br />
Barroco Mineiro.<br />
Por se tratar de uma técnica relativamente<br />
onerosa de construção, a cantaria teve<br />
desenvolvimento nas vilas e cidades ligadas às<br />
riquezas do século XVIII, ou seja, à mineração<br />
do ouro e às atividades mercantis. Assim, os<br />
mais completos conjuntos arquitetônicos<br />
encontram-se em Ouro Preto, Mariana, São<br />
João del-Rei, Congonhas, São José Del-Rei<br />
( Ti r a d e n t e s ) , l o c a i s d e m o r a d a d e<br />
governadores, bispos, nobres, autoridades<br />
m i l i t a r e s , f a z e n d e i r o s e d e s t a c a d o s<br />
negociantes.<br />
Dentre as antigas vilas do ouro que tiveram sua<br />
arquitetura marcada pela arte canteira, Mariana<br />
e Ouro Preto são as que mais se destacam pela<br />
quantidade e qualidade de suas obras. Em<br />
substituição à pedra lioz (calcário português),<br />
tipo de rocha empregado na cantaria<br />
portuguesa, a cantaria desta região de Minas<br />
desenvolveu-se com o emprego do quartzito,<br />
conhecido na época por itacolomito, por ser<br />
retirado da Serra do Itacolomi (ita corumim) e o<br />
Esteatito. Essas rochas eram consideradas de<br />
excelente qualidade para uso de cantaria.<br />
Cristiano Casimirio<br />
Casa Capitular Obrad de José Pereira Arouca
Arte : Cristiano Casimiro<br />
06<br />
entre as antigas vilas do ouro, cuja<br />
Darquitetura é marcada pela presença da<br />
cantaria, Mariana e Ouro Preto se<br />
destacam pela quantidade e qualidade de suas<br />
obras. Com o emprego do itacolomito, a cantaria<br />
ganhou formas, cores e texturas na região, mas é<br />
importante ressaltar a utilização de outras<br />
rochas, como o quartzo-clorita-xisto, que está<br />
p r e s e n t e , p a r t i c u l a r m e n t e , n a s o b r a s<br />
arrematadas por José Pereira Arouca.<br />
Nas Minas Gerais, um dos primeiros registros<br />
que se tem de José Pereira Arouca data de 1753,<br />
como aprendiz e fiador de outro grande construtor<br />
colonial, José Pereira dos Santos, na obra da<br />
Igreja de São Pedro dos Clérigos de Mariana.<br />
Desde então, José Pereira Arouca ficou ligado à<br />
história administrativa, urbanística e arquitetônica<br />
de Mariana e região.<br />
Em Mariana, desempenhou trabalhos na Igreja<br />
de São Francisco de Assis (entre 1762 e 1797,<br />
construiu o corpo e as partes constituintes da<br />
referida igreja, mudando o projeto original), Igreja<br />
de São Pedro dos Clérigos (em 1753, como fiador<br />
das obras), na Catedral da Sé (entre 1763 e<br />
1789), Igreja de Nossa Senhora do Carmo (1762)<br />
e Igreja do Bom Jesus (distrito de Furquim).<br />
Paralelamente à construção de templos,<br />
dedicou-se às obras públicas e privadas,<br />
participou da construção e conserto de diversas<br />
pontes; em 1770 arrematou as obras da Casa<br />
Capitular; construiu e consertou diversos<br />
chafarizes (além do reparo de um aqueduto);<br />
participou de várias obras no Palácio dos Bispos<br />
e no Seminário de Nossa Senhora do Boa Morte,<br />
fez e reformou várias calçadas (além de outras<br />
obras de infraestrutura. Em 1782 foi encarregado<br />
de dirigir as obras da estrada entre Mariana e<br />
Vila Rica, reconstruída a mando do governador<br />
de então, Dom Rodrigo José de Meneses.
07<br />
Vitor Gomes<br />
Obra de José Pereira Arouca a Igreja de São Francisco de Assis em<br />
Mariana e um dos mais belos exemplares da arquitetura religiosa barroca.<br />
Arrouca era Irmão da Ordem Terceira de São Francisco e foi enterrado na<br />
igreja em 22 julho de 1795.
Interior da Igreja de Bom Jesus do Monte em Furquim.<br />
Obra José Pereira Arouca<br />
Cristiano Casimirio
09<br />
Casão construído por José pereira Arouca para sua residência. Atual sede do Marianense FC.<br />
J<br />
José Pereira Aroura foi eleito Juiz do Ofício de Pedreiro em 1762 (reeleito novamente em<br />
1772 e 1774). Em 1764 foi eleito Juiz do Ofício de Carpinteiro. Em 1780 foi nomeado Porta<br />
Estandarte da Segunda Companhia do Primeiro Regimento Auxiliar de Mariana e neste<br />
mesmo ano tesoureiro da Câmara de Mariana. Em 1781, recebeu a patente de Alferes de Ordenança<br />
do distrito de Morro de Santana. Em 1787 era Administrador da Renda das Aferições, por<br />
conta do Senado da Câmara. Residiu na rua dos Cortez e residiu na rua Direita.<br />
Cristiano Casimirio<br />
Casão construído por José Pereira Arouca para sua residência. Posteriormente foi a Casa do Barao de Pontal
Um dos exemplares mais importantes da arquitetura colonial mineira, a Casa de Câmara e Cadeia de<br />
Mariana foi projetada em 1768 e ficou pronta em 1798, quando começou a ser utilizada. Sede da<br />
administração e da justiça, foi construída em um local nobre da cidade. A arquitetura da Câmara de Mariana<br />
assemelha-se às muitas quintas nobres de Portugal.
Coube a José Pereira dos Santos o desenho arquitetônico e a arrematação da obra ficou por conta de José<br />
Pereira Arouca. Segundo o historiador Diogo de Vasconcelos, Arouca foi um dos melhores e mais poderosos<br />
empreiteiros dos setecentos nas principais vilas do ouro .<br />
Cristiano Casimiro
César do Carmo
13<br />
“Semana Santa” surgiu já nos primórdios do<br />
cristianismo quando as comunidades cristãs<br />
em Jerusalém se reuniam, na Sextafeira<br />
e no Sábado, mediante rigoroso<br />
jejum, recordando o sofrimento e a morte<br />
de Jesus, ou seja, rememorando “os dias<br />
em que nos foi tirado o esposo” (diebus in<br />
quibus ablatus est sponsus: Cf. Mt 9,15;<br />
Mc 2,20). Dessa forma, se preparavam<br />
para a festa da Páscoa, no Domingo, em<br />
que celebravam a memória da ressurreição<br />
de Jesus.<br />
Posteriormente, a observância do jejum<br />
passou a ser praticada também na Quartafeira<br />
para lembrar o dia em que os chefes<br />
judaicos decidiram prender Jesus, isto é,<br />
“porque nesse dia começaram a tramar a<br />
morte do Senhor” (propter initum a Iudaeis<br />
consilium de proditione Domini: Cf. Mc 3,6;<br />
14,1-2; Lc 6,11; 19,47; 20,19a; 22,2).<br />
Tudo isto ocorria mais fortemente em Jerusalém<br />
porque provavelmente ali permaneciam<br />
mais vivas as lembranças dos últimos<br />
dias de Jesus. Essas solenidades passaram<br />
a ser imitadas pelas Igrejas do Oriente<br />
e depois pelas Igrejas europeias. Esses<br />
dias eram também de descanso para<br />
todos os servos e escravos. Em algumas<br />
Igrejas em Jerusalém eram celebradas<br />
todas as noites vigílias solenes com orações<br />
e leituras bíblicas, e com a celebração<br />
da Eucaristia. Em meados do Século<br />
III, já se observava o jejum em todos os<br />
dias da Semana Santa.<br />
A importância da Semana que antecede a<br />
festa da Páscoa está evidenciada claramente<br />
através dos diversos nomes dados<br />
a essa época litúrgica ao longo dos primeiros<br />
séculos: “Hebdomada Paschalis” (Semana<br />
da Páscoa); “Hebdomada Authentica”<br />
(Semana “sem comparação” ou que<br />
“tem uma importância toda sua, em si e por<br />
si mesma”); “Hebdomada Maior” (Semana<br />
Maior); e, por fim, “Hebdomada Sancta”<br />
(Semana Santa). As cerimônias litúrgicas<br />
particulares da Semana Santa começaram<br />
a desenvolver-se a partir do século IV.<br />
Rituais do século XVIII permanecem vivos<br />
nas cerimônias de Mariana, com a mesma<br />
naturalidade que marca a integração da<br />
comunidade na cidade colonial. A Guarda<br />
Romana bate suas lanças nas pedras das<br />
ladeiras, a Verônica sobe no pequeno<br />
mocho para cantar em latim e mostrar o<br />
sudário com o rosto de Cristo.
César do Carmo
15<br />
OTríduo Pascal corresponde aos três<br />
últimos dias da Semana Santa (que<br />
celebra os episódios narrados nos<br />
Evangelhos, entre a entrada triunfal de Jesus<br />
em Jerusalém e a Ressurreição de Cristo), e<br />
esses três dias (Quinta-feira, Sexta-feira e<br />
Sábado Santos) são, respectivamente, relacionados<br />
à Santa Ceia na quinta-feira - por isso<br />
denominada "Feria Quinta in Cœna Domini"<br />
(Quinta-Feira Santa na Ceia do Senhor) - a crucifixão<br />
na "Feria Sexta in Parasceve" (Sextafeira<br />
na Paixão) e o Sábado no enterro e Ressurreição<br />
de Cristo, preparando o Domingo de<br />
Páscoa ou da Ressurreição, que celebra intensamente<br />
o episódio máximo do cristianismo.<br />
Afora o Ofício de Trevas (Matinas e Laudes),<br />
geralmente celebrado na noite de quarta-feira,<br />
mas que pertence à liturgia da Quinta-feira Santa,<br />
a quinta-feira Santa inclui as seguintes celebrações,<br />
todas elas acompanhadas de repertório<br />
musical específico:<br />
1. Missa Comemorativa da Ceia do Senhor<br />
2. Bênção dos Santos Óleos<br />
3. Procissão de transladação do Santíssimo<br />
Sacramento<br />
4. Lava-pés (Mandato)<br />
Existe uma grande quantidade de obras escritas<br />
no Brasil para o Tríduo Pascal (entre elas as<br />
composições para a Quinta-feira Santa), assim<br />
como vários trabalhos em tela, entre eles a<br />
conhecida "A Última Ceia" do pintor marianense<br />
Manoel da Costa Ataíde, sua última obra,<br />
feita em 1828 para o Colégio do Caraça (Santa<br />
Bárbara - MG).<br />
Entre as inúmeras obras que existem no Museu<br />
da Música de Mariana para esta ocasião, apresentamos<br />
aqui esta composição anônima do<br />
século XVIII para o Gradual e Ofertório da<br />
Missa de Quinta-feira Santa.<br />
O que são os “Ofícios de Trevas”?<br />
Para responder esta questão, vamos relembrar<br />
as oito horas canônicas, celebradas principalmente<br />
em mosteiros e catedrais desde a Idade<br />
Média:<br />
00h00 - Matinas<br />
03h00 - Laudes<br />
06h00 - Prima<br />
09h00 - Tercia<br />
12h00 - Sexta<br />
15h00 - Nona<br />
18h00 - Vésperas<br />
21h00 - Completas<br />
No Tríduo Pascal (os três últimos dias da Quaresma<br />
e da Semana Santa: Quinta-feira Santa,<br />
Sexta-feira Santa e Sábado Santo ou de Alleluia),<br />
desde a Idade Média, as Matinas e Laudes<br />
foram abertas para a frequência publica e suas<br />
dimensões cresceram tanto a ponto dessas<br />
duas cerimônias fundirem-se em uma só, que<br />
passou a ser chamada de “Ofício de Trevas”.<br />
Mas por que “de Trevas”?<br />
O emprego da palavra “Trevas”, nesta dupla<br />
cerimônia, é alusivo ao episódio narrado no<br />
quinto Responsório das Matinas de Sexta-feira<br />
Santa - “Tenebræ factæ sunt, dum crucifixissent<br />
Jesum” (Fizeram-se as trevas quando crucificaram<br />
Jesus), extraído de Mateus 27, 45 - e também<br />
à escuridão que se produz na igreja ao<br />
serem apagadas as velas do candelabro, para<br />
simbolizar a escuridão (uma tempestade ou<br />
eclipse solar) que se abateu em Jerusalém da<br />
“hora sexta” (atualmente meio dia) à “hora<br />
nona” (hoje 15h00), quando Jesus foi crucificado<br />
(Mateus 27, 45; Marcos 16, 33; Lucas 23,<br />
44), além da dor pela sua morte e a fuga dos<br />
Apóstolos. Ao final de cada um dos Salmos<br />
(que são nove nas Matinas e cinco nas Laudes),<br />
o acólito apaga uma das velas, à exceção<br />
da superior (que representa Cristo), escondida<br />
atrás do altar após o canto do Benedictus. Terminada<br />
a Oração “Respice quæsumus, Domine”,<br />
a liturgia tridentina solicita que os assistentes<br />
produzam um forte ruído com os pés (destinado<br />
a simbolizar, segundo alguns, a ressurreição<br />
e, segundo outros, o sentimento pela morte<br />
de Jesus). Esta é a “rubrica”, ou seja, a instrução<br />
referente ao ruído que os fiéis são solicitados<br />
a produzir nas Laudes: “Terminada a Oração,<br />
deve-se produzir fragor e estrépito durante<br />
um certo de tempo; logo depois, a vela acesa<br />
será levada para baixo do Altar e então todos se<br />
levantam e, em silêncio, se vão”.<br />
O simbolismo do Ofício de Trevas foi uma das<br />
razões que motivou sua antecipação, já na<br />
Idade Média, da madrugada para a tarde anterior<br />
(além de facilitar o concurso dos fiéis), pois à<br />
extinção das velas correspondia também a<br />
extinção da luz solar, com o final das Laudes em<br />
plena noite. Por isso, o Ofício de Trevas da Quinta-feira<br />
Santa passou a ser cantado na tarde/noite<br />
de quarta-feira, ocorrendo o mesmo<br />
para os demais dias do Tríduo Pascal.
César do Carmo
17<br />
"Feria Sexta in Parasceve" (Sexta-feira na<br />
Paixão), do ponto de vista da quantidade e<br />
duração, é o dia mais intenso das cerimônias<br />
da Semana Santa e mesmo de todo o ano litúrgico,<br />
e cujas celebrações referem-se principalmente<br />
à crucifixão e morte de Jesus Cristo,<br />
que também foi o tema desta composição de<br />
estátuas construídas pelo Aleijadinho e pintadas<br />
por mestre Ataíde para um dos passos do<br />
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, de<br />
Congonhas do Campo.<br />
As cerimônias públicas da Sexta-feira Santas<br />
mais freqüentes no Brasil, desde pelo menos o<br />
século XVIII, são as seguintes:<br />
1. Ofício de Trevas (Matinas e Laudes)<br />
2. Missa dos Catecúmenos<br />
3. Adoração da Cruz<br />
4. Procissão ao Santíssimo Sacramento<br />
5. Procissão do Enterro<br />
Muitos são os atrativos das cerimônias desse<br />
dia, como a celebração com a igreja às escuras,<br />
o canto dos Salmos e das Lições das Matinas<br />
por meio das fórmulas ou "tons" apropriados<br />
para cada um deles. Outro desses atrativos<br />
é a Paixão de São João, cantada por três<br />
padres, no altar e nos púlpitos, com a participação<br />
do coro polifônico no fundo da igreja.<br />
A “Procissão do Enterro”<br />
Na noite de Sexta-feira Santa é celebrada, no<br />
mundo lusófono, uma cerimônia conhecida<br />
como “Procissão do Enterro”, que consta de<br />
uma encenação do descendimento de Cristo<br />
da cruz e seu enterro no Santo Sepulcro.<br />
Originada na Diocese de Braga (Portugal) em<br />
fins da idade Média, a Procissão do Enterro foi<br />
concebida como uma intensa teatralização<br />
das cenas relacionadas à morte.<br />
De Portugal, a Procissão do Enterro difundiuse,<br />
a partir do século XVI, para as colônias portuguesas<br />
da Ásia, África e América, principalmente<br />
devido à atuação missionária jesuítica.<br />
O primeiro registro conhecido desta cerimônia,<br />
fora de Portugal, ocorreu em Goa (Índia), no<br />
ano de 1558, mas, na mesma região, os jesuítas<br />
descreveram minuciosamente a Procissão<br />
do Enterro na Sexta-feira Santa de 1576:<br />
“Faz-se esta procissão desta maneira: que à<br />
noite que precede a Sexta-feira se arma um<br />
sepulcro todo coberto de negro, muito bem<br />
feito, e depois de acabada a missa, à Sextafeira,<br />
saem todos os padres e irmãos em procissão<br />
da sacristia, com a fralda do manto<br />
sobre a cabeça, com que fica cobrindo a cabeça<br />
à maneira de dó; e outros seis padres, vestidos<br />
com alvas e cobertas as cabeças e os rostos<br />
com os amictos, trazem uma tumba coberta<br />
de veludo preto, diante da qual vão uns<br />
anjos com os mistérios da paixão e, após eles,<br />
dois coros de apóstolos e, detrás da tumba, um<br />
coro das Marias, os quais se representam<br />
pelos meninos de casa e alguns outros cantores<br />
da nossa capela. Estes todos vão cantando<br />
uns versos da Sagrada Escritura a propósito<br />
do que se representa, ora cantando uns, ora<br />
respondendo outros, com as vozes tão lacrimosas<br />
e tristes e com um Heu! Heu! Domine!<br />
Salvator noster!, que respondem as Marias,<br />
que bastam para quebrar os corações.”<br />
IA música da Procissão do Enterro envolve o<br />
canto coral Heu! Heu! Domine! Salvator noster!<br />
(que popularizou-se como o "Canto das<br />
Três Marias" ou das "Beús"), assim como o<br />
"Canto da Verônica" O vos omnes.<br />
Vale a pena presenciar a Procissão do Enterro<br />
na noite de hoje e observar uma cerimônia<br />
medieval ainda em prática no século XXI.A<br />
César do Carmo
18
19<br />
A Procissão do Enterro de Sexta-feira Santa,<br />
depois de ter sido criada em Braga (Portugal),<br />
em fins da Idade Média, recebeu uma nova<br />
unidade funcional, provavelmente no século<br />
XVI: consiste em um canto monódico por uma<br />
única pessoa (que até o século XIX era um cantor<br />
masculino) e que representa as lendas medievais<br />
da Verônica, costume que perdura até o<br />
presente em inúmeras cidades brasileiras.<br />
Em pleno século XVI já existia a exposição,<br />
durante a Procissão do Enterro, de um pano<br />
com a imagem de Jesus, denominado “Verônica<br />
de Cristo”, “Verônica do Senhor” ou, simplesmente,<br />
“Verônica”. Foi o jesuíta Fernão Cardim,<br />
escrivão do Padre Visitador Cristóvão de Gouveia,<br />
da Companhia de Jesus, quem apresentou<br />
a primeira notícia conhecida dessa prática no<br />
Brasil, na Sexta-feira Santa celebrada no Colégio<br />
Jesuítico de Salvador, em 30 de março de<br />
1584:<br />
“Tornando à Quaresma em nossa casa, tivemos<br />
um devoto e rico sepulcro. A Paixão foi tão bem<br />
devota, que concorreu toda a terra; os Ofícios<br />
Divinos se fizeram em casa com devoção. Sexta-feira<br />
Santa, ao desencerrar do Senhor, certos<br />
mancebos [indígenas] vieram à nossa igreja;<br />
traziam uma Verônica de Cristo mui devota, em<br />
pano de linho pintado, dois deles a tinham e juntamente<br />
com outros dois se disciplinavam,<br />
fazendo seus trocados e mudanças. E como a<br />
dança se fazia ao som de cruéis açoutes, mostrando<br />
a Verônica ensanguentada, não havia<br />
quem tivesse as lágrimas com tal espetáculo,<br />
pelo que foi notável a devoção que houve na<br />
gente.”<br />
Não existe nenhuma menção à Verônica na<br />
Bíblia e existiram pelo menos duas versões em<br />
torno dessa palavra, encontradas somente na<br />
tradição e em Evangelhos apócrifos, principalmente<br />
os "Atos de Pilatos": 1) uma mulher chamada<br />
Verônica teria pintado ou mandado pintar<br />
um retrato de Jesus em um pano; 2) carregando<br />
a cruz pela Via Dolorosa em direção ao Calvário,<br />
no caminho para a crucifixão, Verônica teria<br />
oferecido seu véu para que Jesus enxugasse o<br />
rosto, nele sendo impressa sua imagem, véu<br />
esse levado para Roma no ano 700 e depositado<br />
junto às relíquias de São Pedro. Alguns acreditam<br />
que essa lenda esteja relacionada ao<br />
"Mandylion" (ou "Imagem de Edessa"), ao Sudário<br />
de Oviedo e mesmo ao Santo Sudário de<br />
Turim. Ao que tudo indica, no entanto, o nome<br />
Verônica resultou da expressão antiga "vero<br />
eikon" - verdadeira imagem - que designava não<br />
exatamente uma pessoa, mas uma pintura ou<br />
representação do rosto de Jesus.<br />
O Canto da Verônica surgiu em meio à Procissão<br />
do Enterro de Sexta-feira Santa e a partir<br />
dessas lendas, mas com dois significados distintos<br />
para a palavra Verônica: 1) a imagem de<br />
Jesus; 2) a mulher que, de alguma forma, elaborou<br />
ou obteve a imagem de Jesus. No século<br />
XVIII, essa melodia ainda era cantada por um<br />
homem, já que ainda existiam restrições em relação<br />
à participação de mulheres na música religiosa.<br />
O mais antigo registro dessa prática portuguesa,<br />
até agora localizado, está no Manual da<br />
Semana Santa (1775), de Francisco de Jesus<br />
Maria Sarmento, no qual a palavra Verônica<br />
designa a imagem de Jesus e a melodia é prescrita<br />
a um cantor masculino. O texto sugere que<br />
o Canto da Verônica seria inserido na primeira<br />
parte da cerimônia (a procissão propriamente<br />
dita), em meio ao canto alternado dos tiples e do<br />
coro, sendo proferido logo após o Heu! Heu!<br />
Domine!:<br />
“Canta-se com voz terna o que vem a dizer: Ai!<br />
Ai! Senhor! Ai! Salvador nosso! E o que mostra a<br />
Verônica do Senhor, diz assim: Ó vós todos, que<br />
passais pelo caminho desta vida, vede e reparai,<br />
se há dor se- melhante à minha dor?”<br />
O Canto da Verônica - desprovido de qualquer<br />
acompanhamento instrumental - utiliza o texto<br />
latino “O vos omnes, qui transitis per viam, attendite<br />
et videte si est dolor similis sicut dolor meus”<br />
(acima traduzido por Francisco de Jesus Maria<br />
Sarmento) e as melodias até hoje conhecidas<br />
são quase sempre derivadas da estética operística<br />
italiana dos séculos XVIII e XIX. O recibo<br />
mais antigo até o momento encontrado de uma<br />
atuação profissional para o Canto da Verônica,<br />
no Brasil, está no Livro de Despesas (1768-<br />
1819) da Irmandade do Santíssimo Sacramento<br />
da Vila do Príncipe do Serro do Frio (MG), onde<br />
nasceu Lobo de Mesquita: trata-se do pagamento<br />
a um cantor em 15 de maio de 1779, no<br />
qual a palavra Verônica designa o personagem<br />
e não o retrato de Jesus: “A Vicente Luno de<br />
Mendonça, de cantar o contralto nas domingas<br />
e Semana Santa e fazer o papel de Verônica na<br />
Procissão do Enterro do Senhor.”
Roque Camello<br />
Empresário, advogado e professor, formado<br />
em Letras e Direito pela UFMG, Roque<br />
Camêllo é marianense, nascido em berço<br />
pobre, chegando a ser engraxate na porta da<br />
Catedral da Sé em Mariana.<br />
Estudou no Seminário de Mariana, depois<br />
cursou Direito em Belo Horizonte onde foi professor<br />
de Latim e Português. Nesta época,<br />
com apenas 18 anos (1961), foi eleito vereador<br />
em Mariana, liderou a troca da Cia Força e<br />
luz de Mariana para CEMIG. Em 1979 juntos<br />
com um grupo de marianenses realizou o<br />
Encontro de Desenvolvimento de Mariana<br />
(EDEM I) para discutir o a preservação do<br />
patrimônio histórico de Mariana e as consequências<br />
da Mineração na expansão da cidade.<br />
Uma das consequências do EDEM I foi<br />
construção da Estrada de Contorno para preservar<br />
o centro histórico da cidade dos veículos<br />
pesados consequência da implantação da<br />
planta de Mineração em Mariana, a revitalização<br />
do centro histórico de Mariana com a colocação<br />
do pelourinho na Praça Minas Gerais.<br />
Roque Camêllo foi o proponente, em 1979, do<br />
projeto que instituiu o DIA DO ESTADO DE<br />
MINAS GERAIS, comemorado em todo o território<br />
mineiro em 16 de Julho, data coincidente<br />
com o aniversário de Mariana, primeira vila<br />
e primeira Capital de Minas.<br />
Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico<br />
de Minas Gerais, cadeira 66, tendo<br />
como patronese a princesa Isabel. Dedicou<br />
sua vida à preservação do patrimônio de Mariana<br />
e de Minas. Foram inúmeras suas contribuições<br />
para a preservação da memória e<br />
promoção da cultura mineira. Presidente da<br />
Academia Marianense de Letras, foi diretor<br />
da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese<br />
de Mariana (FUNDARQ), pela qual<br />
foi responsável pelo restauro do Órgão Arp<br />
Schnitger da Catedral de Mariana, pelo restauro<br />
do Santuário Nossa Senhora do Carmo,<br />
”<br />
Uma vida dedicada a cultura de Mariana e de Minas<br />
que foi consumido por incêndio em 1999, e<br />
pelo Antigo Palácio dos Bispos, onde funciona,<br />
atualmente, o Museu da Música de Mariana.<br />
Pela FUNDARQ, vem conduzindo, com<br />
uma equipe de arqueologia e arquitetura, a<br />
reconstrução e a revitalização dos jardins históricos<br />
desse palácio.<br />
Roque Camêllo participou de inúmeras atividades<br />
culturais e intensa participação em entidades<br />
em Minas e em outros estados em prol<br />
da Cultura, História e do Patrimônio Artístico<br />
de Minas.<br />
Em 2004, após um pedido de dom Luciano<br />
retornou à política como vice-prefeito entre<br />
2004 a 2008. Candidatou-se a prefeito, venceu<br />
as eleições e assumiu a prefeitura em<br />
2009. Ficou no cargo até março de 2010,<br />
quando foi afastado por decisão do Tribunal<br />
Superior Eleitoral (TSE).<br />
Um dos seus últimos trabalhos foi o livro “Mariana:<br />
assim nasceram as Minas Gerais –<br />
uma visão panorâmica da história”. A obra<br />
traz uma visão inédita de fatos nunca antes<br />
revelados sobre diversas passagens da história<br />
de Minas Gerais que tiveram origem em<br />
Mariana. Entre eles, a primeira luta pela liberdade;<br />
a primeira lei de caráter ambiental do<br />
Brasil; o bispo da Igreja Católica que lutou<br />
contra a escravidão; o surgimento do conceito<br />
de “preservação do patrimônio”, e dos museus<br />
em terras brasileiras; e a história de figuras<br />
ilustres como Manuel da Costa Atayde, Cláudio<br />
Manuel da Costa, Frei Santa Rita Durão,<br />
Diogo de Vasconcelos, dentre tantos outros.<br />
Agora, Roque Camêllo entra para a história<br />
de Mariana como um homem que lutou,<br />
incansavelmente, pela cultura, história e<br />
desenvolvimento da primeira cidade de<br />
Minas.
“Nasci e cresci não apenas numa cidade encravada no interior do país, mas no meio da<br />
história de Minas e do Brasil. Quando visito Mariana e me deparo com esse lugar que meu<br />
amigo Roque aqui descreve com o talento do intelectual que é, sinto não apenas os<br />
cheiros e a lembrança dos amigos e parentes que lá deixei, mas respiro um ar que parece<br />
vivo, que parece poder ser tocado com as mãos. ”<br />
Fernando Morais<br />
Arquivo Câmara Municipal de Mariana
22<br />
Pedra Sabão, expresão da arte em Perdas<br />
Cristiano Casimiro
Pedra Sabão<br />
23<br />
Pedra de sabão: Uma rocha metamórfica<br />
que consiste principalmente de talco<br />
com quantidades variáveis de outros<br />
minerais, como micas, clorito, pirita, piroxênios<br />
e carbonatos. É uma rocha<br />
macia, densa e resistente ao calor que<br />
tem uma elevada capacidade calorífica<br />
específica. Estas propriedades torná-lo<br />
útil para uma ampla variedade de usos<br />
arquitetônicos, práticos e artísticos.<br />
História Pedra Sabão<br />
Há registros da extração pedra-sabão<br />
há milhares de anos. O Irã foi um grande<br />
produtor e distribuidor de pedra sabão já<br />
em 500 AC e a pedra sabão tem sido um<br />
material escolhido por escultores na<br />
Índia por centenas de anos. A pedra<br />
sabão foi usada pelos primeiros nativos<br />
americanos para fazer ferramentas de<br />
uso diário como taças, placas de cozinha<br />
e cachimbos.<br />
O povo da Escandinávia começou a<br />
usar pedra-sabão durante a Idade da<br />
Pedra e ajudou-os a entrar na Idade do<br />
Bronze quando descobriu que poderia<br />
ser facilmente esculpir em moldes para<br />
fundição de objetos metálicos, como<br />
lâminas de faca e pontas de lança. Eles<br />
estavam entre os primeiros a descobrir<br />
a habilidade da pedra-sabão para<br />
absorver o calor e irradiá-lo lentamente.<br />
Essa descoberta os inspirou a fazer<br />
panela.<br />
Em Minas Gerais há registro de mais de<br />
300 anos de uso de pedra sabão, tanto<br />
por nativos indígenas, como os primeiros<br />
colonizadores. Com o passar do tempos<br />
os artístas e artesão do Sec.XVII e<br />
Sec XVII tornaram a pedra sabão uma<br />
das maiores expressões do barroco.
24<br />
O que é pedra de sabão?<br />
Pedra de sabão é uma rocha metamórfica que é<br />
composta principalmente de talco, com quantidades<br />
variadas de clorita, micas, anfibólio, carbonatos<br />
e outros minerais. Porque é composto<br />
principalmente de talco é geralmente muito<br />
macio. É tipicamente cinza, azulado, verde, ou<br />
marrom na cor, frequentemente variável. Seu<br />
nome é derivado de sua sensação de "sabão" e<br />
suavidade.<br />
O nome "pedra-sabão" é frequentemente usado<br />
de outras maneiras. Os mineiros e os perfuradores<br />
usam o nome para toda a rocha macia que é<br />
escorregadia ao toque. No mercado de artesanato,<br />
esculturas e objetos ornamentais feitos de<br />
rochas macias como alabastro ou serpentina<br />
são muitas vezes dito ser feito de "pedrasabão".<br />
Muitas pessoas usam o nome "esteatita" indistintamente<br />
com "pedra-sabão". No entanto,<br />
algumas pessoas reservam o nome de "esteatita"<br />
para uma pedra de sabão não folhada de<br />
grão fino que é quase 100% talco e altamente<br />
adequado para escultura.<br />
Propriedades físicas da pedra de sabão:<br />
Pedra Sabão é resistente ao calor e não queima.<br />
Isso faz com que seja uma excelente cobertura<br />
de parede atrás de fogões a lenha e fornos.<br />
Lareiras também são revestidas com pedrasabão<br />
para criar uma lareira que rapidamente<br />
absorve o calor e irradia-lo muito tempo depois<br />
que o fogo está fora. Esta propriedade de pedrasabão<br />
foi reconhecida na Europa mais de 1000<br />
anos atrás, e muitas lareiras antigas foram<br />
revestidas com pedra-sabão.<br />
Estas propriedades físicas úteis incluem:<br />
Ÿ suave e muito fácil de esculpir<br />
Ÿ não poroso<br />
Ÿ Não absorvente<br />
Ÿ Baixa condutividade elétrica<br />
Ÿ resistente ao calor<br />
Ÿ alta capacidade calorífica específica<br />
Ÿ resistente a ácidos<br />
Como é usada?<br />
As propriedades especiais da pedra-sabão torná-lo<br />
adequado, ou o material de escolha, para<br />
uma ampla variedade de usos como:<br />
Bancadas em cozinhas e laboratórios<br />
Panelas de cozinha, placas de cozinha, pedras<br />
ferventes<br />
Ÿ Taças e pratos<br />
Ÿ Marcadores do cemitério<br />
Ÿ Painéis elétricos<br />
Ÿ Esculturas ornamentais e esculturas<br />
Ÿ Forros e lareiras para chaminés<br />
Ÿ Fornos de lenha<br />
Ÿ Azulejos e ladrilhos de parede<br />
Ÿ Pedra de revestimento<br />
Ÿ Aquecedores de cama<br />
Ÿ Marcação de lápis<br />
Ÿ Moldes para fundição de metais<br />
Ÿ Pedras frias<br />
Cristiano Casimiro<br />
Pia da Sacristia<br />
Igreja bom Jesus do Monte de Furquim
Como curar uma panela de pedra<br />
25<br />
A panela de pedra sabão é pesada, podendo<br />
variar com tampa, de 2 a 3 kg. Ela é antiaderente<br />
naturalmente, o que facilita sua higienização<br />
(limpeza) e termicamente considerada<br />
inerte, ou seja, demora para aquecer e<br />
para esfriar o alimento. Sua utilização pela<br />
população local baseia-se no preparo de<br />
feijão, arroz, carnes, angu, ensopados e frituras.<br />
Porém, não é recomendado a técnica<br />
de fritura neste tipo de panela pois a degradação<br />
do óleo ocorre mais rapidamente, formando<br />
compostos prejudiciais ao organismo.<br />
Em caso de fritura, o óleo deve ser dispensado.<br />
A técnica de cura da panela crua é um procedimento<br />
recomendado neste tipo de material<br />
e consiste em untar todo o utensílio com óleo<br />
vegetal refinado na parte interna e externa,<br />
encher o recipiente com água em temperatura<br />
ambiente e leva-la ao forno na temperatura<br />
de 200ºC por 2 horas. Em seguida, desligar<br />
o forno e apenas retira-lo quando estiver<br />
resfriado, repetindo o procedimento antes do<br />
primeiro uso.<br />
A limpeza deve ser efetuada com atenção,<br />
nunca armazenando-a úmida, sendo indicado<br />
a chama do fogo como método de garantia.<br />
O cuidado para que resíduos de sujeira<br />
não fiquem retidos nos poros contribui no<br />
aspecto de segurança alimentar.<br />
Destaca-se o mito das panelas em pedra<br />
sabão são melhores para a ingestão dos<br />
minerais cálcio e ferro. No entanto, este fato<br />
não é comprovado, embora as análises relataram<br />
a migração dos minerais cálcio, magnésio,<br />
ferro e manganês ao alimento, sendo<br />
o níquel em elevado grau apenas se a panela<br />
não estiver curada. O níquel também foi identificado<br />
no alimento, que é mantido por certo<br />
tempo em contato com a panela curada.<br />
Dessa forma não é recomendada a utilização<br />
desta panela para o armazenamento de<br />
alimentos por mais de 24 horas.
26<br />
Thalia Gonçalves<br />
Gegê Barbudo<br />
No torno movido à água
27<br />
Pedra Sabão em Cachoeira do Brumado<br />
Thalia Gonçalves*<br />
Há aproximadamente 200 anos iniciou-se a fabricação das panelas de<br />
pedra-sabão no distrito de Cachoeira do Brumado, Mariana-MG, que<br />
na atualidade viria a consagrar a comunidade no pioneirismo da produção<br />
do artesanato, homologando em 2015 o modo de fazer as panelas<br />
de pedra com o título de Patrimônio Imaterial de Mariana. Segundo<br />
Geraldo Teixeira, que aos 65 anos é o artesão mais velho da comunidade,<br />
as primeiras panelas de pedra-sabão foram feitas utilizando apenas<br />
uma ferramenta semelhante a uma machadinha, realizando todo o<br />
trabalho de modelagem e acabamento do artesanato com as mãos.<br />
A expansão da venda por várias cidades mineiras e nacionais pelos<br />
tropeiros, homens que conduziam tropas de cavalos para vender seus<br />
produtos, consolidou a importância da venda do artesanato, juntamente<br />
com os tapetes de sisal, para o sustento das famílias cachoeirenses.<br />
Em homenagem a esses homens, o senhor Mário Ramos Eleutério,<br />
filho e neto de tropeiro, inaugurou em 2014 o “Memorial Antônio Pedro<br />
Eleutério” a fim de manter viva, para as gerações futuras, a memória<br />
desses senhores que são personagens marcantes para a história do<br />
distrito. No Memorial, além de uma galeria de fotos dos tropeiros da<br />
comunidade é possível ver também objetos como arreios, ferraduras,<br />
capas, utensílios domésticos entre outros itens usados por eles em<br />
suas viagens.<br />
Ao decorrer dos anos, o ofício passado de geração a geração, foi se<br />
firmando em Cachoeira do Brumado e novas técnicas foram sendo<br />
implantadas pelos artesãos no processo de produção, deixando de ser<br />
feitas com machadinhas para serem fabricadas em tornos movidos à<br />
água. Esses tornos são uma espécie de motor que fica acoplado a um<br />
moinho, que gera energia a partir da água. Assim, o bloco de pedrasabão<br />
que está preso no equipamento irá girar, facilitando na modelagem<br />
da rocha, enquanto recebe os acabamentos e detalhes pelo artesão.<br />
Hoje há apenas um torno movido à água em funcionamento no distrito,<br />
pertencente ao artesão Geraldo Teixeira, o Gegê Barbudo . Localizado<br />
próximo à queda d'água o local é também um ponto de visita dos turistas,<br />
que curiosos, visitam o local para verem de perto como são feitas<br />
as panelas de pedra. Apesar da idade avançada, o senhor Geraldo continua<br />
a fabricar o seu artesanato, produzindo cerca de uma carga – jogo<br />
de dezesseis panelas, que era o peso que os burros suportavam carregar<br />
no passado – por dia. “Eu faço por amor à minha Terra”, afirma.<br />
Além das panelas de pedra, atualmente a pedra-sabão é também utilizada<br />
na fabricação de formas de pizza e lasanha, grelhas, churrasqueiras,<br />
panelas de pressão, reachaud, pilão, adornos, filtro, barril para<br />
pinga, entre outros objetos que são comercializados em todo país.<br />
*Estudante de jornalismo
28<br />
Curiosidades<br />
Pedra Sabão é resistente ao calor e não queima.<br />
Isso faz com que seja uma excelente cobertura de<br />
parede atrás de fogões a lenha e fornos. Lareiras<br />
também são revestidas com pedra-sabão para criar<br />
uma lareira que rapidamente absorve o calor e<br />
irradia-lo muito tempo depois que o fogo está fora.<br />
Esta propriedade de pedra-sabão foi reconhecida<br />
na Europa mais de 1000 anos atrás, e muitos<br />
lareiras antigas lá foram revestidas com pedrasabão.<br />
São pequenos cubos de pedra sabão que são<br />
refrigerados e, em seguida, usado para resfriar um<br />
copo com bebidas. Eles não derreterem e diluiem a<br />
bebida. A Pedra Sabão tem uma capacidade<br />
calorífica muito alta específica e muda a<br />
temperatura muito lentamente, algumas pedras<br />
podem manter uma bebida fria por 30 minutos ou<br />
mais.<br />
Nativos americanos usaram pedra-sabão para fazer<br />
cachimbos. Eles usaram pedra-sabão porque é fácil<br />
de esculpir e perfurar. Sua alta capacidade calorífica<br />
específica permitia que o exterior do cachimbo tivesse<br />
uma temperatura mais baixa do que o tabaco queimando<br />
dentro.
29<br />
No meio do caminho tinha uma pedra<br />
tinha uma pedra no meio do caminho<br />
tinha uma pedra<br />
no meio do caminho tinha uma pedra.<br />
No caminho do Mestre Canteiro<br />
tinha uma pedra<br />
No caminho da arte<br />
tinha uma pedra<br />
No meio do caminho,<br />
a arte encontrou a pedra<br />
A pedra tornou se arte e seguiu outros<br />
caminhos...<br />
Licença poética<br />
Cristiano Casimiro<br />
Cristiano Casimiro