Allan Kardec - O que é o Espiritismo
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O QUE É O ESPIRITISMO 141<br />
podiam eles entrar em relação com os homens, ainda hoje o<br />
podem, e, se são Espíritos de mortos, não são exclusivamente<br />
demônios. Antes de tudo, devemos ser lógicos.<br />
Padre. — A Igreja não nega <strong>que</strong> bons Espíritos<br />
possam comunicar-se, pois reconhece <strong>que</strong> os santos tamb<strong>é</strong>m se<br />
têm manifestado; ela, por<strong>é</strong>m, não considera bons a<strong>que</strong>les <strong>que</strong><br />
vêm contradizer seus princípios imutáveis. Os Espíritos<br />
ensinam, <strong>é</strong> verdade, <strong>que</strong> há penas e recompensas futuras,<br />
por<strong>é</strong>m, de modo diverso do <strong>que</strong> ela ensina; só ela pode julgar o<br />
<strong>que</strong> eles pregam e, portanto, distinguir os bons dos maus.<br />
A. K. — Eis a magna <strong>que</strong>stão. Galileu foi acusado de<br />
heresia e de ser inspirado pelo demônio, por<strong>que</strong> vinha revelar<br />
uma lei da Natureza, provando o erro de uma crença julgada<br />
inatacável, e, então, foi condenado e excomungado.<br />
Se os Espíritos tivessem, sobre todos os pontos,<br />
abundado no sentido exclusivo da Igreja, se eles não<br />
proclamassem a liberdade de consciência e não<br />
condenassem certos abusos, teriam sido todos bem-vindos e<br />
não os qualificariam de demônios. Tal <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m a razão<br />
por <strong>que</strong> todas as religiões, os muçulmanos como os<br />
católicos, crendo-se na posse exclusiva da verdade<br />
absoluta, olham como obra do demônio qual<strong>que</strong>r doutrina<br />
<strong>que</strong> não <strong>é</strong> inteiramente ortodoxa, do seu ponto de vista.<br />
Ora, os Espíritos vêm, não derribar a religião, mas, como<br />
Galileu, revelar-nos novas leis da Natureza. Se alguns<br />
pontos de f<strong>é</strong> sofrem com isto, <strong>é</strong> por<strong>que</strong>, como na velha<br />
crença de girar o Sol ao redor da Terra, estão em<br />
contradição com essas leis. A <strong>que</strong>stão está em saber se um<br />
artigo de f<strong>é</strong> pode anular uma lei natural, <strong>que</strong> <strong>é</strong> obra de<br />
Deus; e se, sendo essa lei reconhecida, não será mais<br />
racional adaptar a interpretação do dogma a ela, do <strong>que</strong><br />
atribuí-la ao demônio.<br />
Padre. — Deixemos a <strong>que</strong>stão dos demônios; bem sei<br />
<strong>que</strong> ela <strong>é</strong> diversamente interpretada pelos teólogos; por<strong>é</strong>m o