edição de 27 de maio de 2019
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marketing & negócios<br />
bymurat<strong>de</strong>niz/iStock<br />
Paixão pela marca<br />
é mais importante<br />
que a lógica<br />
Interferência dos fundadores ou<br />
dos principais responsáveis pela<br />
marca fazem a gran<strong>de</strong> diferença<br />
Rafael Sampaio<br />
Analisando a trajetória das gran<strong>de</strong>s marcas<br />
globais e nacionais, <strong>de</strong> suas conquistas<br />
e perdas, acertos e erros, po<strong>de</strong>-se<br />
facilmente constatar que, apesar da relevância<br />
<strong>de</strong> domínio das (às vezes) intrincadas<br />
técnicas utilizadas em sua construção<br />
e manutenção, a paixão pela marca em si -<br />
bem como seu propósito, significado e personalida<strong>de</strong><br />
- é ainda mais importante que<br />
os recursos lógicos empregados.<br />
A interferência dos fundadores e/ou dos<br />
seus principais responsáveis em cada etapa<br />
da vida da marca fazem a gran<strong>de</strong> diferença<br />
entre as que estão em uma trajetória sustentável<br />
positiva ou cambaleiam para um<br />
lacônico fim. Vale lembrar a célebre frase<br />
do icônico Nenem Prancha, que teria dito<br />
que “o pênalti é tão importante que <strong>de</strong>veria<br />
ser cobrado pelo presi<strong>de</strong>nte do clube”, mas<br />
que, segundo o próprio, “o que falei é que o<br />
pênalti é tão fácil que até o presi<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong><br />
bater”.<br />
O que me leva a lembrar <strong>de</strong> uma lição <strong>de</strong><br />
Sergio Maia que nunca mais esqueci. Dita<br />
durante uma palestra na qual eu <strong>de</strong>fendia a<br />
tese <strong>de</strong> que cabe ao presi<strong>de</strong>nte cuidar pessoalmente<br />
da marca, a experiência <strong>de</strong>le era<br />
<strong>de</strong> que não, quem <strong>de</strong>ve cuidar da marca é o<br />
dono ou o conselho <strong>de</strong> acionistas da organização,<br />
uma vez que os CEOs estão muito<br />
focados no curto prazo.<br />
De origem na área financeira, Maia é um<br />
dos melhores profissionais <strong>de</strong> marketing e<br />
negócios que conheço, que veio ao Brasil<br />
para minimizar o imenso prejuízo que o<br />
Sonae registrava e, cuidando como dono<br />
das marcas que administrava, reverteu o<br />
negócio, vendido alguns anos <strong>de</strong>pois com<br />
gran<strong>de</strong>s lucros.<br />
Isso remete naturalmente a gran<strong>de</strong>s<br />
exemplos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> marcas po<strong>de</strong>rosas,<br />
como Steve Jobs e Apple, Richard<br />
Branson e Virgin, Phil Knight e Nike, Renzo<br />
Rosso e Diesel. Também remete a marcas<br />
que viveram gran<strong>de</strong>s momentos sendo<br />
li<strong>de</strong>radas por CEOs que tinham a visão e<br />
o comportamento <strong>de</strong> donos, como a Pepsi,<br />
dirigida por Roger Enrico nos anos <strong>de</strong><br />
1980, que abalou tanto a sua eterna rival,<br />
a Coca-Cola, que gerou o <strong>de</strong>sastre da New<br />
Coke, em 1985, quando ficou evi<strong>de</strong>nte que<br />
nem mesmo as <strong>maio</strong>res marcas do mundo<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> estar sujeitas a aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
percurso.<br />
O caso da Pepsi remete também ao já<br />
mencionado esforço <strong>de</strong> Sergio Maia ao revigorar<br />
a marca Nacional Supermercados,<br />
do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, que acabou vendida<br />
para o Walmart que, <strong>de</strong> lá para cá, cuida<br />
<strong>de</strong>la do modo tradicional, empanando seu<br />
brilho e valor.<br />
Além <strong>de</strong>ssas marcas icônicas globais,<br />
que primam pela altíssima qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sua publicida<strong>de</strong>, mas, acima <strong>de</strong> tudo, pela<br />
sua consistência, vale ressaltar um caso<br />
brasileiro admirável, que <strong>de</strong>monstra que<br />
o feeling do criador da marca e sua paixão<br />
por ela fazem uma enorme diferença. É o<br />
caso da Ultrafarma, criada em 2000 por<br />
Sidney Oliveira, a partir <strong>de</strong> uma única farmácia<br />
física em São Paulo, que já ultrapassou<br />
1 milhão <strong>de</strong> clientes ativos e mais <strong>de</strong> 15<br />
mil produtos pelo e-commerce e televendas.<br />
Seu mote é o preço baixo, infinitamente<br />
repetido na publicida<strong>de</strong>, que começou<br />
nas mídias periféricas e hoje já utiliza os<br />
principais veículos no país, além <strong>de</strong> estar<br />
no cerne das mensagens comerciais e esforços<br />
<strong>de</strong> brand content.<br />
Tudo <strong>de</strong> forma mais intuitiva que técnica,<br />
mas altamente eficaz, como está sendo<br />
a criação da marca Sidney Oliveira, que<br />
ven<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 150 tipos <strong>de</strong> vitaminas e fitoterápicos<br />
e a linha <strong>de</strong> cosméticos Rahda<br />
através <strong>de</strong> consultores e um catálogo <strong>de</strong><br />
100 páginas, mimetizando o sucesso da<br />
Avon, organização mundial com quase 150<br />
anos <strong>de</strong> vida que acaba <strong>de</strong> ser adquirida<br />
pela Natura, outra gigante do setor. E, uma<br />
vez mais, o dono-símbolo da marca está em<br />
todas as mídias, além da ousadia <strong>de</strong> patrocinar<br />
a seleção brasileira <strong>de</strong> futebol, ao lado<br />
<strong>de</strong> marcas <strong>de</strong> muito <strong>maio</strong>r fôlego.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafaelsampaio103@gmail.com<br />
24 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark