edição de 27 de maio de 2019
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mkt<br />
AdShooter/iStock<br />
A última loja<br />
<strong>de</strong> brinquedos<br />
“Empinar papagaio é um bom brinquedo:<br />
obriga o menino a olhar para o céu”.<br />
Gilberto Amado<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Em verda<strong>de</strong> a Toys “R” Us não era uma<br />
única loja. Eram centenas, milhares.<br />
Durante décadas <strong>de</strong>u vida aos sonhos das<br />
crianças oferecendo brinquedos <strong>de</strong> todos<br />
os tipos, preços e dimensões. Dentre todas<br />
as lojas, a mais visitada no mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
para a compra dos presentes.<br />
nhos e bonecas, chegou a ter mais <strong>de</strong> 2 mil<br />
lojas. Com o seu jingle on<strong>de</strong> dizia: Não<br />
quero crescer, sou uma criança, Toy “R”<br />
Us, tomou conta do coração dos baixinhos<br />
e famílias americanas. E sua girafa ícone,<br />
Geofrey, agora só habita a lembrança e o<br />
imaginário <strong>de</strong> todas as mesmas crianças<br />
americanas, enquanto passam horas com<br />
seus tablets e games.<br />
Sintomas que os brinquedos convencionais<br />
iam per<strong>de</strong>ndo espaço nos quartos, vidas<br />
e horas das crianças aceleraram-se nos<br />
últimos anos. Na virada dos anos 1970, os<br />
vi<strong>de</strong>ogames começaram a roubar a atenção<br />
e as horas <strong>de</strong> diversões dos baixinhos. Mais<br />
adiante vieram os tablets, com centenas <strong>de</strong><br />
games <strong>de</strong>ntro. E mais recentemente a ocupação<br />
<strong>de</strong> todo o espaço pelos smartphones.<br />
A mais emblemática <strong>de</strong> todas as lojas<br />
<strong>de</strong> brinquedos dos Estados Unidos, a Fao<br />
Schwarz, às portas do Central Park, em<br />
Nova York, já não emocionava essas novas<br />
crianças, mais interessadas nos eletrônicos,<br />
e encerrou suas ativida<strong>de</strong>s numa<br />
quarta-feira <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2015, tendo em sua<br />
frente, e testemunhando sua <strong>de</strong>cadência,<br />
uma das mais emblemáticas lojas da Apple<br />
com filas <strong>de</strong>scomunais na porta.<br />
Resta sua presença em filmes emblemáticos<br />
como Po<strong>de</strong>rosa Afrodite, <strong>de</strong> Woody<br />
Allen, e muito especialmente no filme<br />
Quero ser Gran<strong>de</strong>, com Tom Hanks, on<strong>de</strong> as<br />
crianças tocavam pianos no formato tapete<br />
e com os pés.<br />
Na segunda semana <strong>de</strong> março do ano<br />
passado, finalmente, chegou a hora da partida<br />
da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> brinquedos Toys “R” Us.<br />
Seis meses <strong>de</strong>pois, não resistindo mais,<br />
setembro <strong>de</strong> 2018, jogou a toalha e pediu<br />
concordata. A última esperança eram as<br />
vendas do fim do ano. Foram pífias.<br />
A Toy “R” Us, nos tempos <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>,<br />
on<strong>de</strong> crianças brincavam <strong>de</strong> carri-<br />
Mas, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> mesmo, o golpe mortal<br />
contra o varejo <strong>de</strong> brinquedos foi perpetrado<br />
pelo comércio eletrônico. Todas as milhares<br />
<strong>de</strong> lojas que só ven<strong>de</strong>m brinquedos<br />
pela internet, muito especialmente a Amazon,<br />
com seu Market Place. O golpe que<br />
<strong>de</strong>terminou a morte da última loja <strong>de</strong> brinquedos.<br />
Segue a vida. Uma das mais trágicas<br />
marcas do ano <strong>de</strong> 2018. E a situação no<br />
Brasil não é diferente.<br />
A Ri Happy, fundada em 1988, pelo pediatra<br />
Ricardo Sayon, lí<strong>de</strong>r no varejo <strong>de</strong><br />
brinquedos e comprada em 2012, pelo fundo<br />
americano <strong>de</strong> Private Equity, Carlyle,<br />
e que meses <strong>de</strong>pois comprou a PBkids somando<br />
as duas re<strong>de</strong>s, segue crescendo, aumentando<br />
seu número <strong>de</strong> lojas, mas, e na<br />
tentativa <strong>de</strong> sobrevivência, reposicionando-se,<br />
simultaneamente.<br />
Os brinquedos, dia após dia, vão per<strong>de</strong>ndo<br />
espaço para artigos voltados para<br />
bebês. Que, segundo o instituto Euromonitor,<br />
é um mercado aproximando-se <strong>de</strong> R$<br />
12 bi, enquanto o <strong>de</strong> brinquedos parou nos<br />
R$ 4 bi. Ou seja, mesmo que sobrevivam e<br />
prosperem as investidas e investimentos<br />
do Carlyle, esse novo varejo em que está se<br />
convertendo a Ri Happy é um bicho totalmente<br />
novo, um cruzamento da antiga Ri<br />
Happy com uma Alô Bebê.<br />
Assim, as lojas <strong>de</strong> brinquedos, tal como<br />
conhecemos, são lembranças <strong>de</strong> um passado<br />
não tão distante. O ciclo encerrou-se.<br />
Mas foi bom, muito bom, ótimo mesmo,<br />
enquanto durou.<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
30 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark