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INSTITUTO CULTURAL GIUSEPPE E ANITA GARIBALDI<br />
HISTÓRIA<br />
co. Em 23 de setembro a guarnição da Fortaleza de Santa<br />
Cruz rende-se às forças francesas. Em 10 de outubro ocorre<br />
a assinatura da convenção para pagamento de grande<br />
soma em dinheiro, pelo resgate da cidade; acordam o ato<br />
o almirante Duguay Trouin e o mestre de campo João de<br />
Paiva Souto Maior, representando o Governador Francisco<br />
de Castro Morais. Em 11 de outubro chega à cidade uma<br />
tropa de 6.000 homens chefiada por Antônio Albuquerque<br />
Coelho de Carvalho, Governador da capitania de São<br />
Paulo e Minas, que nada pode fazer em função do acordo<br />
assinado entre o governador Castro Morais e os invasores.<br />
Em 4 de novembro, após receber a última parcela do<br />
valor acordado, Duguay Trouin evacua a cidade. Em 13 de<br />
novembro as tropas francesas partem do Rio de Janeiro<br />
deixando para trás uma cidade totalmente devastada.<br />
Sobre as invasões de 1710 e 1711 Brasil Gerson,<br />
em seu famoso livro “História das Ruas do<br />
Rio”, relata:<br />
“Rua da Quitanda - Ela é uma rua - a da Quitanda - que<br />
está ligada, bem de perto, a acontecimentos decisivos da<br />
nossa história, e a um crime famoso que teve profundas<br />
repercussões da nossa vida estudantil. Porto de desembarque<br />
para Portugal do ouro que descia das montanhas<br />
mineiras, o Rio passou a despertar, logo no começo do século<br />
XVIII, a cobiça de muita gente ávida de fácil enriquecimento.<br />
Esse foi o motivo que levou o Capitão de Fragata<br />
Duclerc a atacá-o em setembro de 1710, com sua poderosa<br />
esquadra. Temeroso de forçar as fortalezas costeiras, contornou-as<br />
por Guaratiba, vindo dali a pé, à frente de seus<br />
marinheiros. O ataque foi iniciado depois de um descanso<br />
no Engenho Velho dos jesuítas, e com inteiro êxito, a<br />
princípio, para os invasores, só repelidos na Rua Direita<br />
(ou 1º de março), em combates nos quais se destacaram<br />
os estudantes do Colégio da Sociedade de Jesus, do Morro<br />
do Castelo, os maiores dos quais eram organizados militarmente<br />
e estavam sob o comando do Capitão Bento do<br />
Amaral Coutinho, irmão do Capitão-Mor de São Paulo do<br />
clã dos Amaral Gurgel, descendente do francês Toussaint<br />
Gurgel e famoso aventureiro que, forçado a abandonar o<br />
Rio, se havia então imposto como duro e vingativo “sargento<br />
de batalha” dos emboabas contra mineradores paulistas<br />
em Minas - e, além desses estudantes, os escravos<br />
e os homens brancos recrutados por Gregório de Castro<br />
Morais, irmão do Governador, e pelo Frade Francisco de<br />
Menezes, não menos aventureiro que Bento, e de Minas<br />
escorraçado como concessionário do contrato da carne.<br />
Refugiados na Alfândega, acabaram por se render, seu<br />
comandante Duclerc foi levado preso para o Colégio e<br />
logo transferido para o Forte de São Sebastião, também<br />
no Morro do Castelo, e por último para a casa do Tenente<br />
Tomás Gomes da Silva, na esquina da Rua da Quitanda e<br />
da do Sabão (ou General Câmara, já demolida), à vista da<br />
Candelária - e nela sendo assassinado na noite de 18 de<br />
março de 1711 por quatro encapuçados.<br />
Para vingá-lo e ver se levava o que ele não levou, outra<br />
frota francesa apareceu no Rio a 12 de setembro, ainda<br />
de 1711, dispondo de 750 peças de fogo, entrando a barra<br />
protegida por um grande nevoeiro, e sem que lhe pudesse<br />
oferecer maior resistência (diante da inércia do Governador<br />
Castro de Morais) os que se tinham oposto a ele, entre<br />
os quais o Sargento-mor de batalha Costa Ataíde, o Capitão-de-mar-e-guerra<br />
Gillet du Bocage (avô do poeta),<br />
o Coronel Manuel Correia Vasques e os capitães Manuel<br />
Gomes Barbosa e Bento do Amaral, este morto em combate,<br />
às margens da Lagoa da Sentinela, na confluência<br />
das ruas do Riachuelo (Mata-Cavalos) e Frei Caneca (Mata-Porcos).<br />
O saque foi espantoso. Tudo quanto havia de valioso ao<br />
alcance de suas mãos eles transportaram para bordo: ouro<br />
da Casa dos Contos, açúcar e outras cargas dos trapiches,<br />
coisas belas das igrejas e das casas particulares. Arquivos<br />
foram remexidos e queimados. E para retirar-se, satisfeito<br />
e vingado, Duguay-Trouin, embora algo contido nos seus<br />
ímpetos pela mediação hábil dos padres, ainda exigiu que<br />
lhe dessem dinheiro, no valor de 616.000 cruzados - contados<br />
moeda por moeda, na Rua da Quitanda número 89,<br />
esquina da do Sabão.<br />
Com os homens que lhe restariam, Costa Ataíde se retirou<br />
para o Engenho Novo, e aí encontraria o irmão de Bento<br />
do Amaral, o Capitão-mor de Paraty, Francisco Gurgel do<br />
Amaral, vindo do litoral de sua jurisdição com mais de<br />
500 voluntários, para a expulsão do invasor. E a eles se<br />
juntando, por outro lado, o Governador Antônio de Albuquerque<br />
Coelho de Carvalho, com mais de mil paulistas e<br />
emboabas já por eles apaziguados, numa marcha batida<br />
de 17 dias através do Caminho Novo, que Rodrigues Garcia<br />
Pais (o filho do Caçador de Esmeraldas) tinha aberto<br />
à sua custa entre Minas e o Rio, e concluído por volta de<br />
1700. E eis por que, sabedor de que ele já se havia acampado<br />
em Irajá para recompor suas forças, o invasor saciado<br />
abandonaria seu plano de fixar a bandeira da França<br />
na terra carioca permanentemente, e zarparia, antes de ter<br />
de enfrentá-los, a Francisco do Amaral e a Albuquerque<br />
reunidos, e razão pela qual o povo do Rio aclamaria Albuquerque<br />
seu novo Governador.”<br />
Fonte: JEAN DE LÉRY<br />
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