Gestão Hospitalar N.º 17 2019
Responsabilização e profissionalização A evolução dos hospitais portugueses Hospitais públicos, níveis intermédios de gestão e administradores hospitalares As políticas e práticas de formação dos hospitais do SNS O papel da Inspeção Geral das Atividades em saúde nas organizações de saúde Responsabilidade penal médica por negligência Teresa Sustelo de Freitas: É imperioso fazer uma reforma profunda no modelo de prestação de cuidados de saúde Registos clínicos, codificação, financiamento: que triângulo queremos ter? Hospitalização domiciliária, uma boa alternativa ao internamento hospitalar para um grupo específico de pacientes APAH discute modelos de gestão da qualidade e melhoria continua em saúde Entrevista a Marcia Makdisse: Alocar valor aos pacientes Desempenho hospitalar como determinante na criação de valor em saúde Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde - Resultados da 1ª edição Análise aos resultados do Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial Telemonitorização de doentes com insuficiência cardíaca crónica: Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, E.P. Evocação do professor Coriolano Ferreira Prémio Coriolano Ferreira Vivências e testemunhos de 50 anos de história Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal
Responsabilização e profissionalização
A evolução dos hospitais portugueses
Hospitais públicos, níveis intermédios de gestão e administradores hospitalares
As políticas e práticas de formação dos hospitais do SNS
O papel da Inspeção Geral das Atividades em saúde nas organizações de saúde
Responsabilidade penal médica por negligência
Teresa Sustelo de Freitas: É imperioso fazer uma reforma profunda no modelo de prestação de cuidados de saúde
Registos clínicos, codificação, financiamento: que triângulo queremos ter?
Hospitalização domiciliária, uma boa alternativa ao internamento hospitalar para um grupo específico de pacientes
APAH discute modelos de gestão da qualidade e melhoria continua em saúde
Entrevista a Marcia Makdisse: Alocar valor aos pacientes
Desempenho hospitalar como determinante na criação de valor em saúde
Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde - Resultados da 1ª edição
Análise aos resultados do Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial
Telemonitorização de doentes com insuficiência cardíaca crónica: Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, E.P.
Evocação do professor Coriolano Ferreira
Prémio Coriolano Ferreira
Vivências e testemunhos de 50 anos de história
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal
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ABRIL MAIO JUNHO <strong>2019</strong><br />
Edição Trimestral<br />
N<strong>º</strong> <strong>17</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />
HISTÓRIA<br />
Evolução<br />
dos hospitais<br />
portugueses<br />
FORMAÇÃO<br />
Políticas<br />
e práticas<br />
de formação<br />
ESTRATÉGIA<br />
Hospitalização<br />
domiciliária<br />
COMEMORAÇÃO<br />
50 anos de história<br />
da AH<br />
ENTREVISTA<br />
teresa<br />
sustelo<br />
de freitas
GH SUMÁRIO<br />
abril maio junho <strong>2019</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
PROPRIEDADE<br />
APAH − Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />
Av. do Brasil 53<br />
<strong>17</strong>49-002 Lisboa<br />
secretariado@apah.pt<br />
www.apah.pt<br />
DIRETOR<br />
Alexandre Lourenço<br />
DIRETORA-ADJUNTA<br />
Bárbara Sofia de Carvalho<br />
COORDENADORES<br />
Catarina Baptista, Miguel Lopes<br />
EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />
Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />
de Eventos, Ltda.<br />
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1600 - 082 Lisboa<br />
Tel.: 2<strong>17</strong> 957 045<br />
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PROJETO GRÁFICO<br />
Sara Henriques<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
Gratuita<br />
PERIODICIDADE<br />
Trimestral<br />
DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />
16288/97<br />
ISSN N.<strong>º</strong><br />
0871–0767<br />
TIRAGEM<br />
2.000 exemplares<br />
IMPRESSÃO<br />
Grafisol, lda<br />
Rua das Maçarocas<br />
Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />
2710-056 Sintra<br />
Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />
do Acordo Ortográfico<br />
Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />
4<br />
6<br />
10<br />
12<br />
16<br />
20<br />
24<br />
30<br />
38<br />
41<br />
44<br />
46<br />
48<br />
55<br />
60<br />
64<br />
66<br />
67<br />
68<br />
70<br />
72<br />
Editorial<br />
Responsabilização e profissionalização<br />
Alexandre Lourenço<br />
Evolução <strong>Hospitalar</strong><br />
A evolução dos hospitais portugueses<br />
José António Meneses Correia<br />
Evolução <strong>Hospitalar</strong><br />
Hospitais públicos, níveis intermédios de gestão e administradores hospitalares<br />
Júlio Pereira dos Reis<br />
<strong>Gestão</strong> da Formação<br />
As políticas e práticas de formação dos hospitais do SNS<br />
Tiago André Gomes de Oliveira<br />
Inspeção Geral<br />
O papel da Inspeção Geral das Atividades em saúde nas organizações de saúde<br />
Paulo Jorge Mantas Parreira<br />
Reflexões de Direito Biomédico<br />
Responsabilidade penal médica por negligência<br />
Sónia Mariza Florêncio Fidalgo<br />
Entrevista<br />
Teresa Sustelo de Freitas: É imperioso fazer uma reforma profunda no modelo<br />
de prestação de cuidados de saúde<br />
Registos Clínicos<br />
Registos clínicos, codificação, financiamento: que triângulo queremos ter?<br />
Maria José Costeira<br />
Hospitalização Domiciliária<br />
Hospitalização domiciliária, uma boa alternativa ao internamento hospitalar<br />
para um grupo específico de pacientes<br />
Ana Marques da Silva<br />
Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />
APAH discute modelos de gestão da qualidade e melhoria continua em saúde<br />
Iniciativa APAH | Conferência de valor | Testemunho<br />
Marcia Makdisse: Alocar valor aos pacientes<br />
Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />
Desempenho hospitalar como determinante na criação de valor em saúde<br />
Dora Melo, Tânia Portugal Henriques<br />
Iniciativa APAH | Barómetro<br />
Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde:<br />
Resultados da 1ª edição<br />
Teresa Magalhães<br />
Iniciativa APAH | Barómetro<br />
Análise aos resultados do Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial<br />
Eduardo Castela, Fernando Mota<br />
Prémio Healthcare Excellence | 2ª Menção Honrosa<br />
Telemonitorização de doentes com insuficiência cardíaca crónica: Serviço de Cardiologia<br />
do Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário Cova da Beira, E.P.<br />
João Pedro Reis Serra Garra, Luís Vítor Clemente Oliveira, Maria Gabriela Ramalhinho<br />
50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
Evocação do professor Coriolano Ferreira<br />
José Nogueira da Rocha<br />
50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
Prémio Coriolano Ferreira<br />
Mavilde Vitorino<br />
50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong> | Livro 50 Anos em 20 olhares<br />
Vivências e testemunhos de 50 anos de história<br />
Carla Pedro<br />
Cerimónia Comemorativa<br />
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH<br />
50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal<br />
APAH marca a agenda<br />
3
GH editorial<br />
Alexandre Lourenço<br />
Presidente da APAH<br />
Medalha de Ouro<br />
atribuída à APAH<br />
pelo Ministério da Saúde<br />
Responsabilização<br />
e profissionalização<br />
No passado mês de junho decorreram<br />
as eleições para a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
(APAH), tendo sido eleitos os<br />
novos corpos sociais para o período<br />
<strong>2019</strong>-2022. Uma equipa renovada tem agora como<br />
compromisso liderar a gestão de serviços de saúde<br />
através da responsabilização e profissionalização desta<br />
atividade.<br />
A linha editorial da Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> suporta<br />
esta agenda e, como podem testemunhar, esta edição<br />
mantém a sua excelência de conteúdos. Começamos<br />
com a clarividência de dois sócios de mérito da<br />
APAH. José António Menezes Correia contextualiza o<br />
momento atual dos hospitais portugueses numa perspetiva<br />
histórica, destacando os sequenciais equívocos<br />
ao nível da sua governação, nomeadamente os atuais<br />
limites à descentralização dos hospitais públicos. Falanos,<br />
ainda, da empresarialização do Hospital Privado e<br />
o seu impacto num Hospital Público sem os mesmos<br />
instrumentos. Na mesma linha, Júlio Pereira dos Reis<br />
pronuncia-se sobre a nunca obtida autonomia de gestão<br />
intermédia do Hospital Público para alcançar não<br />
só a eficiência (do ponto de vista do prestador), mas<br />
também a satisfação do consumidor (doente/utente).<br />
É, também, neste alinhamento de recentramento no<br />
doente que Márcia Makdisse (oradora nas últimas<br />
Conferência de Valor em Peniche - comunicação disponível<br />
no Canal Youtube da APAH) considera que<br />
o passo mais importante para a agenda de valor é o<br />
compromisso da administração hospitalar.<br />
Assim, não é por acaso que nas páginas centrais, a<br />
administradora hospitalar Teresa Sustelo de Freitas<br />
crítica o modelo de prestação dos cuidados de saúde<br />
e defende um novo enfoque que promova um maior<br />
nível de exigência, de rigor e competitividade positiva<br />
no Sistema de Saúde.<br />
Para o presente, Ana Marques da Silva fala-nos da hospitalização<br />
domiciliária, Tiago de Oliveira de formação<br />
no SNS e Maria José Costeira de registos clínicos e<br />
financiamento. Ao nível das parcerias institucionais, do<br />
Centro de Direito Biomédico, Sónia Fidalgo aborda a<br />
responsabilidade penal médica por negligência e, da<br />
Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, Paulo Parreira<br />
fala-nos do papel desta entidade nas organizações<br />
de saúde.<br />
A pensar no futuro, a APAH e a Glintt apresentaram<br />
os resultados da primeira edição do “Barómetro da<br />
adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema<br />
de saúde”. Teresa Magalhães explica a iniciativa e<br />
descreve os resultados obtidos e a Associação Portuguesa<br />
de Telemedicina faz uma apreciação da mesma.<br />
Demonstração da vitalidade da telessaúde é o artigo<br />
da equipa do Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário da<br />
Cova da Beira, a qual apresenta o projeto de telemonitorização<br />
de doentes com insuficiência cardíaca<br />
(segunda menção honrosa do Prémio Healthcare Excellence<br />
2018).<br />
É nesta GH que damos, ainda, nota da cerimónia comemorativa<br />
da administração hospitalar em Portugal,<br />
onde tivemos a oportunidade de homenagear figuras<br />
incontornáveis da gestão em saúde deste último meio<br />
século. Nesta edição, José Nogueira da Rocha evoca a<br />
figura maior: Coriolano Ferreira.<br />
A sabedoria que só o passado nos dá, o pragmatismo<br />
do presente e a esperança regeneradora na construção<br />
de serviços de saúde melhores para todos. É esta<br />
a vossa GH. Ã<br />
4
GH evolução hospitalar<br />
A EVOLUÇÃO DOS<br />
HOSPITAIS PORTUGUESES<br />
José António Meneses Correia<br />
Sócio de Mérito da APAH<br />
A<br />
evolução do hospital português foi<br />
idêntica à dos restantes países europeus.<br />
O que sucede na Europa<br />
acaba, mais tarde ou mais cedo,<br />
por acontecer em Portugal. Normalmente,<br />
muito mais tarde. Ainda que a legislação<br />
acolha, precocemente, novas ideias, passa muita água<br />
debaixo das pontes, antes de serem operacionalizadas.<br />
No passado, como no presente, a realidade, no<br />
nosso país, fica muito longe da norma jurídica.<br />
A lei 2011, publicada em 1946, é disso um bom<br />
exemplo. Muito antes de outros países o terem feito<br />
definia-se, em Portugal, um sistema hospitalar regionalizado,<br />
baseado em princípios de hierarquia técnica,<br />
complementaridade de valências e coordenação<br />
de atividades.<br />
Contra a corrente da doutrina assistencial então em<br />
vigor, estipulava a Lei 2011 que os encargos da assistência<br />
competiriam ao Estado, nos seus estabelecimentos<br />
próprios, e seriam custeados, em regime<br />
de cooperação, nos pertencentes a outras entidades.<br />
A Lei 2011 nunca foi regulamentada. Dezassete anos<br />
depois era aprovado o Estatuto da Saúde e Assistência<br />
(Lei 2120) que reservava ao Estado uma ação<br />
meramente supletiva em relação às iniciativas e instituições<br />
particulares, que deveria favorecer, sempre<br />
que oferecessem “as condições morais, financeiras e<br />
técnicas mínimas para a prossecução dos seus fins”.<br />
A responsabilidade pelo pagamento de serviços de<br />
saúde e assistência, para quem não fosse beneficiário<br />
da Previdência Social, cabia aos próprios assistidos e<br />
às suas famílias ou às câmaras municipais, no caso da<br />
“<br />
A CRIAÇÃO DOS HOSPITAIS SA<br />
PRETENDIA CONFIGURAR<br />
UM MODELO DE<br />
DESCENTRALIZAÇÃO<br />
ADMINISTRATIVA.<br />
assistência prestada aos pobres indigentes que tivessem<br />
o domicílio de socorro no respetivo concelho.<br />
À Santa Casa da Misericórdia da sede do concelho<br />
competia “o primeiro lugar nas atividades hospitalar<br />
e assistencial, por ação dos seus serviços próprios<br />
ou como centro coordenador daquelas atividades”.<br />
O direito à saúde só viria a ser plasmado em lei em<br />
1971, na Reforma de Gonçalves Ferreira. Ou seja,<br />
até à sua fase final, o regime anterior foi profundamente<br />
assistencialista e valeu-se das Misericórdias<br />
para assistir os mais desprotegidos.<br />
“O processo paulatino de secularização da sociedade<br />
portuguesa, de modernização do aparelho de<br />
Estado e de construção duma economia capitalista<br />
não impediu um aparente renascimento das Misericórdias,<br />
no final do Séc. XIX e sobretudo durante o<br />
Estado Novo.” 1<br />
A construção, remodelação ou ampliação de hospitais<br />
é largamente comparticipada pelo Estado e outros<br />
fundos (receitas do Totobola e Fundação Gulbenkian).<br />
É também a época “da mobilização popular, através<br />
dessa típica instituição do Estado Novo que se chamava<br />
cortejo de oferendas”. 2<br />
O Hospital da Misericórdia era ainda, nesse tempo, o<br />
hospital dos pobres. Como reconhecia, em 1998, o<br />
Conselho de Reflexão para a Saúde, os “membros da<br />
classe média alta do setor produtivo” e os “detentores<br />
de altos rendimentos” usavam “o setor privado de<br />
prestação de cuidados, consultórios e Casas de Saúde,<br />
de maior ou menor dimensão, de gestão privada, com<br />
ou sem fins lucrativos e pagavam do seu bolso”.<br />
Com a revolução de Abril os hospitais da Misericórdia<br />
foram nacionalizados. Se bem que a oficialização<br />
dos hospitais mais não tenha feito “do que reconhecer<br />
um caráter quase público preexistente, dada a<br />
finalidade não lucrativa e o facto de já serem financiados<br />
a 95% pelo Estado” 3 , ainda hoje há setores da<br />
sociedade portuguesa que consideram essa decisão<br />
um grave prejuízo para o País. Numa entrevista à Voz<br />
das Misericórdias afirmava, em 2004, o Provedor de<br />
uma delas:<br />
“Os 350 hospitais que foram retirados às Santas Casas<br />
em 1975 constituem, para mim, um golpe na saúde<br />
e do qual até hoje o País está ainda a ressentir-<br />
-se. Foi realmente um mau ato de gestão e um erro<br />
histórico na área da saúde. Os governantes de então<br />
não sabiam o que eram os hospitais das Misericórdias.<br />
Com exceção dos hospitais escolares e civis,<br />
eram as Misericórdias que faziam a saúde em todo o<br />
País. Era garantido o apoio às populações, e a rede<br />
funcionava bem.”<br />
O Estado Novo já tinha reconhecido que estávamos<br />
longe da visão idílica do senhor Provedor. Por isso,<br />
lançara um vasto programa de construção de novos<br />
hospitais. Antes de 1974 foram inaugurados e começaram<br />
a funcionar os Hospitais de Beja, Bragança,<br />
Portalegre e Funchal. Todos construídos pelo Estado.<br />
Todos hospitais oficiais.<br />
Se é verdade que as Misericórdias não tinham recursos,<br />
nem capacidade de gestão, para garantir o funcionamento<br />
dos novos hospitais distritais, situação<br />
diferente acontecia com os pequenos hospitais concelhios.<br />
O Prof. Correia de Campos, ao comentar<br />
as obras neles realizadas, com dinheiros do Estado,<br />
escrevia em 1983:<br />
“Se durante os anos sessenta se chegou a considerar<br />
desperdício tanta construção nova nas sedes dos<br />
pequenos concelhos, sobretudo do interior, e hoje<br />
ainda desesperamos de delas extrair o rendimento<br />
digno para o volume do investimento, amanhã<br />
rejubilaremos quando muitos deles puderem ser<br />
transformados em hospitais para crónicos e convalescentes.<br />
Nessa altura veremos talvez transformado<br />
em obra válida o fruto dum investimento onde<br />
a demagogia da politiquice local desempenhou papel<br />
importante”. 4<br />
Alguns dos hospitais concelhios foram promovidos<br />
a distritais e desenvolveram-se por impulsos políticos<br />
(partidários) sem nenhuma perspetiva de rede, fugindo<br />
a normas de planeamento do próprio Ministério<br />
e contrariando as mudanças demográficas e tecnológicas,<br />
entretanto ocorridas.<br />
A Oficialização dos Hospitais das Misericórdias ocorreu<br />
em plena crise energética, num tempo em que,<br />
nos países mais avançados, o Estado Social começava<br />
a dar sinais de dificuldades. Daí o subfinanciamento<br />
crónico, que teve como reflexo uma tecno estrutura<br />
praticamente inexistente, com consequências na<br />
qualidade da gestão.<br />
Persistindo nos hospitais um problema de gestão,<br />
entendeu-se, em 1988, que ele residiria nos administradores<br />
da carreira hospitalar e abriu-se a possibilidade<br />
legal de recrutar para o cargo de administrador<br />
delegado “gestores de reconhecido mérito, vinculados<br />
ou não à função pública e com currículo adequa-<br />
”<br />
do às funções a exercer” (n<strong>º</strong>1 Art.<strong>º</strong> 9.<strong>º</strong> do Decreto<br />
Regulamentar n.<strong>º</strong> 3/88).<br />
Bastaria ter lido Drucker para saber que as coisas<br />
não são assim tão simples. “As forças que impedem<br />
o espírito empresarial e a inovação numa instituição<br />
de serviços públicos são-lhe inerentes, fazem parte<br />
dela e são dela inseparáveis.” 5<br />
No mesmo diploma, o legislador também introduziu<br />
alterações na estrutura, ao prever a criação de Centros<br />
de Responsabilidade, que se não vieram a concretizar<br />
porque entre o modelo burocrático e a descentralização<br />
administrativa há uma contradição insanável.<br />
Em 1996 foi nomeado um Grupo de Trabalho, coordenado<br />
pelo Prof. Vasco Reis, com o objetivo de<br />
identificar as situações comprometedoras da eficiência<br />
dos hospitais e de equacionar um modelo, ou<br />
modelos estruturais, apropriados à superação dos<br />
problemas identificados.<br />
As conclusões desse trabalho abriram caminho a experiências<br />
inovadoras de gestão: primeiro hospital e<br />
primeira Unidade Local de Saúde com o estatuto<br />
de estabelecimento público de natureza empresarial.<br />
Sem que estas experiências tivessem sido avaliadas,<br />
foram transformados 31 hospitais em sociedades<br />
anónimas de capital público (Hospital SA). A uma<br />
abordagem gradual e experimentalista preferiu-se<br />
uma solução top-down sem preparação adequada.<br />
A criação dos Hospitais SA pretendia, naturalmente,<br />
configurar um modelo de descentralização administrativa,<br />
com delegação de poderes nos conselhos de<br />
administração. Para acompanhar essa descentralização<br />
foi criada uma Unidade de Missão que construiu }<br />
6 7
GH evolução hospitalar<br />
“<br />
AS INEFICIÊNCIAS<br />
DO SETOR PÚBLICO<br />
FORAM DETERMINANTES<br />
NO CRESCIMENTO<br />
DO SETOR PRIVADO.<br />
”<br />
o “Tableau de Bord dos Hospitais SA”. A informação<br />
de gestão tornou-se mais ampla e rigorosa, mas quase<br />
exclusivamente focada em objetivos financeiros e<br />
de eficiência.<br />
A monitorização da atividade dos hospitais passou<br />
assim a ser feita por várias entidades (IGIF, ARS e<br />
UMHSA), com base em critérios nem sempre coincidentes<br />
e sem os melhores resultados.<br />
Apesar das múltiplas tutelas, considerou o relatório<br />
da Comissão de Avaliação dos Hospitais SA (2006)<br />
(CAHSA) que “o sistema funciona de uma forma bastante<br />
autónoma, sobretudo nos SA, e não só pouco<br />
articulada como pouco controlada”.<br />
O controlo insuficiente ficou a dever-se a um dos<br />
equívocos do processo de empresarialização: “Havia<br />
um contrato-programa nas mãos das agências<br />
de contratualização (ARS), instrumento de aquisição<br />
de serviços ao hospital e da regulação da procura<br />
e oferta de cuidados na região (função compra e distribuição<br />
de recursos do SNS). Porém, o contrato<br />
necessário era da função acionista (Ministério das<br />
Finanças e da Saúde) com a gestão, um contrato de<br />
gestão. Assim, nunca existiu verdadeira prestação de<br />
contas da gestão dos Hospitais SA.” 6<br />
Não foi, também, previamente negociado um Acordo<br />
Coletivo de Trabalho (ACT), capaz de acomodar<br />
a regulamentação das carreiras e fixar retribuições<br />
fixas e variáveis. Pior do que isso, foram prometidos<br />
incentivos que nunca se concretizaram, com reflexos<br />
evidentes na motivação dos funcionários.<br />
A disponibilidade de capital social, a inexistência do<br />
ACT e a falta do contrato de gestão permitiram uma<br />
prática perversa de remunerações e o desenvolvimento<br />
de projetos ao arrepio das mais elementares<br />
normas de planeamento.<br />
A manutenção do regime de funcionário público<br />
promoveu a extensão aos médicos das políticas de<br />
aposentação na AP, fazendo-os desertar para um<br />
setor privado progressivamente inflacionado, pela<br />
incapacidade do MS de planear e regular a oferta<br />
de cuidados.<br />
Apesar de tudo, os resultados mostraram que, na<br />
generalidade das áreas, os Hospitais SA apresentaram<br />
alguns ganhos de eficiência. Natural, por isso,<br />
a transformação em Hospitais EPE, com o objetivo<br />
de impedir a sua putativa privatização.<br />
A comparação dos indicadores de saúde, em 1970<br />
e nos nossos dias, mostra-nos o extraordinário progresso<br />
registado em Portugal, que nos aproximou<br />
dos países desenvolvidos.<br />
A melhoria da saúde dos portugueses não tem apenas<br />
a ver com a melhoria das condições de vida e das<br />
infraestruturas sanitárias, mas também com a criação<br />
do SNS que, nos termos da Constituição, obriga<br />
o Estado a assegurar o direito à proteção da saúde.<br />
Apesar da grande melhoria da qualidade dos hospitais<br />
públicos, na tripla vertente da estrutura, do<br />
processo e dos resultados, a eficiência do setor não<br />
acompanhou o aumento da procura.<br />
As ineficiências do setor público foram determinantes<br />
no crescimento do setor privado. Até final do<br />
século passado, o tipo de oferta em hospitalização<br />
privada pouco se alterou, continuando a assentar na<br />
Casa de Saúde. Propriedade de confrarias, ordens<br />
religiosas, ou de privados, as Casas de Saúde são, essencialmente,<br />
plataformas logísticas, cujo cliente primário<br />
é o médico. O médico da Casa de Saúde é<br />
também o médico que trabalha no setor público,<br />
o que, desde sempre, deu origem a uma relação<br />
equívoca entre os dois setores.<br />
“A promiscuidade entre os setores privado e público<br />
é, claramente, a principal causa da falta de produtividade<br />
nos serviços hospitalares.” 7<br />
A procura de cuidados privados de saúde alterou-se<br />
muito nas últimas décadas, com o desenvolvimento<br />
dos seguros de saúde.<br />
Os seguros e os subsistemas de saúde, principalmente<br />
a ADSE, proporcionaram o aparecimento de<br />
um novo tipo de oferta - O Hospital Privado - com<br />
características diversas das da Casa de Saúde. Propriedade<br />
de grandes grupos económicos, apoia-se<br />
em sistemas de gestão evoluídos, dispõe de quadros<br />
técnicos próprios e equipamento sofisticado. A procura<br />
deixa de ser fundamentalmente determinada<br />
pelo médico, na sua faceta de médico liberal, estando<br />
agora mais dependente da “marca” institucional.<br />
Trata-se, afinal, do processo de empresarialização<br />
da hospitalização privada.<br />
Numa perspetiva holística, a empresarialização dos<br />
hospitais, públicos e privados até podia ser um facto<br />
positivo, caso se tratasse de uma oferta substitutiva<br />
das Casas de Saúde. Afinal, tem sido mais aditiva que<br />
substitutiva, sendo que a uma oferta não planeada, se<br />
acrescenta ainda à dos renovados hospitais das Misericórdias,<br />
não já com as características caritativas, mas<br />
em concorrência privilegiada com o setor privado.<br />
Ultimamente tem havido migração de equipas de<br />
médicos altamente qualificados, do setor público<br />
para os hospitais privados. Sendo esses médicos<br />
contratados em regime de exclusividade, este pode<br />
ser o começo da clarificação entre os dois setores.<br />
Será agora necessário que o Estado crie, mesmo que<br />
num cenário de médio prazo, condições para a dedicação<br />
exclusiva nos serviços oficiais, assegurando<br />
a progressão na carreira e a atribuição de incentivos<br />
em função dos resultados.<br />
A situação atual não parece, contudo, muito favorável<br />
a que tal aconteça. Sob o pretexto de controlar<br />
a despesa, “o Ministério das Finanças tem uma estratégia<br />
assente na suborçamentação e na tentativa<br />
administrativa de adiamento da despesa", afirmou<br />
Alexandre Lourenço, presidente da APAH numa entrevista<br />
ao Negócios/Antena 1.<br />
É verdade que no SNS “não existe, como se verifica<br />
no NHS, um conjunto de metas nacionais para<br />
os hospitais EPE em áreas que assegurem equidade<br />
e qualidade mínimas. Também não existe uma função<br />
estruturada de apoio à gestão dos hospitais e<br />
o acompanhamento apresenta problemas, quer na<br />
contratualização quer na função acionista. As auditorias<br />
realizadas por IGAS, IGF e Tribunal de Contas<br />
são positivas, embora com limitações quanto à<br />
frequência e âmbito. As previstas para a ACSS na<br />
área económico-financeira não acontecem. Dadas<br />
as debilidades de controlo externo e avaliação da<br />
gestão ganha ainda maior importância, diria mesmo<br />
imprescindibilidade”. 8<br />
Por deliberação do C. Ministros, de 8 de maio de<br />
2018, foi criada a Estrutura de Missão para a Sustentabilidade<br />
do Programa Orçamental da Saúde, “tendo<br />
como missão o acompanhamento do desempenho<br />
financeiro global das entidades do Serviço<br />
Nacional de Saúde (SNS) e do Ministério da Saúde<br />
(MS) e a proposição de medidas que contribuam para<br />
a sustentabilidade do SNS”.<br />
O seu coordenador Julian Perelman, nomeado por<br />
Despacho conjunto do Ministério das Finanças e do<br />
Ministério da Saúde, reconheceu, em reunião parlamentar<br />
de 9 de janeiro deste ano, as consequências<br />
da suborçamentação e anunciou um projeto de autonomia<br />
e financiamento dos hospitais em <strong>2019</strong>.<br />
"A ideia deste projeto é que tem de haver um reforço<br />
orçamental para os hospitais para aproximar<br />
os orçamentos às suas necessidades", mas, "é preciso<br />
haver uma segurança clara de que o dinheiro vai ser<br />
bem alocado".<br />
A melhor forma de conseguir esses dois objetivos,<br />
como o Presidente da APAH tem inúmeras vezes<br />
referido e foi reconhecido pelo Ministro das Finanças,<br />
em entrevista de 2 de abril ao jornal Público, é<br />
restituir a autonomia aos Hospitais EPE e monitorizar<br />
permanentemente a sua performance.<br />
A empresarialização dos hospitais públicos resultou<br />
da necessidade de adotar um modelo descentralizado<br />
capaz de eliminar as disfunções burocráticas.<br />
A descentralização pressupõe a delegação de poderes,<br />
enquadrada por dois princípios:<br />
• O princípio da integração: cada responsável orgânico<br />
deve ter poder de decisão sobre o conjunto dos<br />
aspetos funcionais que condicionam o resultado da<br />
sua atividade;<br />
• O princípio da coerência na ação: devem ser definidos<br />
rigorosamente os limites dentro dos quais se<br />
exerce a autonomia dos responsáveis orgânicos.<br />
Acredito firmemente nas vantagens da descentralização<br />
e na motivação que ela traz aos profissionais.<br />
Como dizia Alfred Sloan, o lendário CEO da General<br />
Motors: “É impossível saber a medida do que um<br />
indivíduo pode conseguir, a não ser que lhe seja dada<br />
responsabilidade.” Ã<br />
1. Graça, Luís - htpps/www.ensp.unl.pt/luis.graça/textos70.html.<br />
2. Graça, Luís - htpps/www.ensp.unl.pt/luis.graça/textos70.html.<br />
3. Campos, A.C. e Simões, Jorge - 40 anos de abril na Saúde.<br />
4. Campos, A. C. - Saúde, o custo dum valor sem preço.<br />
5. Drucker, Peter - Inovação e <strong>Gestão</strong>.<br />
6. Alves, A. Dias - Responsabilidade e governação na Moderna <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
- Tese de Doutoramento.<br />
7. Antunes, Manuel - A doença da saúde.<br />
8. Alves, A. Dias - Responsabilidade e governação na Moderna <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />
8 9
GH evolução hospitalar<br />
HOSPITAIS PÚBLICOS, NÍVEIS<br />
INTERMÉDIOS DE GESTÃO<br />
E ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES<br />
Júlio Pereira dos Reis<br />
Sócio de Mérito da APAH<br />
Com o aproximar do momento previsto<br />
para a entrada em funcionamento do<br />
NHCC (HUC), em meados dos anos<br />
80, colocou-se à equipa encarregada de<br />
cumprir essa tarefa, a qual integrava, a<br />
necessidade de encontrar resposta para uma questão<br />
complexa, que era a de saber como organizar a nova<br />
unidade por forma a potenciar uma gestão capaz de<br />
criar a eficiência exigida pelo vultuoso investimento feito<br />
em instalações, equipamentos e recursos humanos<br />
(como teoricamente aprendíamos com Peter Druker,<br />
Frederick Taylor, Henry Ford, Henri Fayol, etc.).<br />
Em simultâneo, foi necessário atender a outro desafio,<br />
nomeadamente a grande dimensão da estrutura em<br />
causa (mais de 1.600 camas, dispersas em 3 polos: central,<br />
celas e maternidade).<br />
Fechada esta deriva teórico/filosófica, tínhamos, também,<br />
a convicção de que os tradicionais serviços fragmentavam<br />
o desempenho assistencial, com dificuldade<br />
de integração e, por isso, não facilitariam práticas<br />
de gestão desconcentrada e participada, bem como<br />
a utilização comum de recursos técnicos e humanos.<br />
Além disso, tínhamos a preocupação de ligar os administradores<br />
hospitalares à gestão dos serviços de prestação<br />
direta, responsabilizá-los mesmo, na medida do<br />
possível, pelos resultados dessa gestão, não limitando,<br />
assim, a sua ação a meros responsáveis pelos setores<br />
tradicionais de apoio, também chamados, na altura, de<br />
serviços adjetivos.<br />
Hoje, provavelmente, perante as mesmas circunstâncias,<br />
estaríamos igualmente preocupados, a par da eficiência,<br />
com a criação de mais valor social no contexto da eficácia<br />
da prestação, face a um mais moderno conceito de<br />
gestão, bem explicado e fundamentado pela professora<br />
e investigadora Joan Magretta, no seu livro intitulado “O<br />
que é a gestão”. Ensina ela que a criação de valor se<br />
faz de fora para dentro, donde “a questão, ao mesmo<br />
tempo subtil e óbvia, é que o valor é definido não pelo<br />
que uma organização faz, mas pelos clientes que compram<br />
os seus bens ou serviços”, ou também “uma organização<br />
só pode ter um bom desempenho se for ao<br />
encontro das necessidades dos consumidores, que, por<br />
sua vez, são definidas pelos próprios consumidores”.<br />
Em saúde, nomeadamente na área da prestação pública,<br />
cumprirá então aos gestores, na ótica do que fica dito,<br />
aquilatar do grau de satisfação do consumidor (doente/<br />
/utente), face ao que lhes é prestado. É que não basta<br />
a prestação ser eficiente e eficaz (do ponto de vista do<br />
prestador) para que o dito consumidor sinta que a sua<br />
necessidade foi bem satisfeita. Poderá haver sempre, na<br />
sua perspetiva, a noção de que o desempenho do dito<br />
prestador pecou por falhas, carências, especialmente<br />
de informação, incumprimentos de datas e horas, incompreensões,<br />
desconforto, indiferença, etc. Identificar<br />
estes aspetos e procurar resolvê-los será certamente<br />
uma preciosa maneira de criar valor e, talvez mesmo,<br />
descortinar algumas razões para o facto de atualmente<br />
se registar um gradual e significativo aumento das despesas<br />
das famílias na aquisição de serviços em saúde de<br />
prestação privada.<br />
A decisão foi então a de criar, para o novo complexo<br />
hospitalar, um nível intermédio de gestão, a que<br />
chamámos, à falta de melhor, áreas de administração,<br />
constituídas pelo agrupamento de serviços do hospital<br />
segundo o critério de homogeneidade da atividade dos<br />
mesmos, na medida do possível, e onde seriam colocados<br />
administradores hospitalares, com os poderes/deveres<br />
de administração que foi possível estabelecer, no<br />
contexto da organização legal interna das instituições<br />
hospitalares públicas na altura.<br />
Por este motivo, mas não só, a margem de manobra<br />
de gestão dos administradores foi sempre algo limitada,<br />
não lhes permitindo, contra o que seria desejável, uma<br />
intervenção direta no planeamento, orçamentação,<br />
gestão de recursos humanos e materiais, controlo de<br />
custos, análise crítica de resultados, ou seja, verdadeiros<br />
gestores, essencialmente dos serviços de ação médica<br />
e de MCDT da sua responsabilidade, facto que emerge,<br />
com muita evidência, da leitura das tarefas algo modestas<br />
que se lhes foram confiadas.<br />
Embora o decreto-lei 16/87 e decreto regulamentar<br />
3/87 previssem a criação de centros de responsabilidade<br />
e de custos, mais numa ótica contabilística, afigura-se-me,<br />
o pioneirismo da nossa estratégia de ação,<br />
veio a ter algum acolhimento legal no decreto-lei 19/88,<br />
de 21 de janeiro, e no decreto regulamentar 3/88, de<br />
22 de janeiro, que no seu artigo 32<strong>º</strong> confere apenas<br />
(sublinho) a coordenação das atividades das Áreas de<br />
Administração a um profissional da carreira hospitalar.<br />
Na verdade, estes diplomas nada resolveram relativamente<br />
aos constrangimentos legais e comportamentais<br />
(derivados de conflitos de interesses socio-corporativos,<br />
essencialmente) implicados na experiência levada<br />
a efeito e, por isso, não ajudaram os administradores a<br />
ter um papel mais relevante, em termos de real gestão,<br />
nas suas áreas de atuação. Da minha vivência, enquanto<br />
profissional ativo em ambiente hospitalar, pude constatar,<br />
com alguma pena, resultados algo aquém do que<br />
era esperado e desejado, quer por alguma relutância<br />
de adesão de diretores dos serviços, receosos de quebra<br />
de poder e/ou controlo das suas atividades, quer<br />
também por alguma resistência em desconcentrar poderes<br />
por parte do órgão central interno de comando,<br />
quer por, num ou noutro caso, alguma descrença do<br />
administrador na sua capacidade de ultrapassar as contrariedades,<br />
e daí algum parco empenho em atuar. Mas<br />
é bom dizer, em abono da verdade, que muito do relativo<br />
insucesso da gestão intermédia residiu fortemente<br />
nos constrangimentos legais já referidos.<br />
Entretanto, o decreto-lei 374/99 vem criar os centros<br />
de responsabilidade integrados, dirigidos por médicos,<br />
que deverão integrar, para ações de gestão especificadas,<br />
administradores hospitalares de carreira, de preferência,<br />
e depois o disposto no decreto-lei 188/2003, de<br />
20 de agosto, que fala em centros de responsabilidade<br />
e de custos, de gestão descentralizada, com entrega de<br />
tarefas de assessoria a profissionais com o perfil adequado<br />
(administradores hospitalares?).<br />
No CHUC são criadas as chamadas UGI, Unidades<br />
de <strong>Gestão</strong> Intermédia, enquanto segundo nível intermédio<br />
de gestão, dirigidas por médicos, aparecendo o<br />
administrador como um dos elementos da equipa de<br />
gestão, não se especificando o conteúdo da respetiva<br />
função no conjunto. Entretanto, prevê-se que as UGI<br />
possam integrar outra unidade de gestão intermédia<br />
(um terceiro nível de gestão intermédia, a par dos tradicionais<br />
serviços de ação médica, que se podem transformar<br />
em unidades de gestão operacional, UGO), ou<br />
seja, o CRI (Centro de Responsabilidade Integrada) a<br />
funcionar com poderes delegados, cujo diretor será um<br />
profissional com experiência reconhecida em administração<br />
hospitalar (administrador hospitalar de carreira?).<br />
O decreto-lei 233/2005, no seu n.<strong>º</strong> 2 do artigo 9.<strong>º</strong>, que<br />
cria mais hospitais EPE, volta a determinar uma organização<br />
orgânica baseada em centros de responsabilidade,<br />
referindo, a propósito, palavras-chaves de gestão<br />
como contratualização, autonomia, responsabilidade,<br />
modelo que é retomado o decreto-lei n<strong>º</strong> 18/20<strong>17</strong>, de<br />
10 de fevereiro, que agora cria os CRI como forma<br />
de se conseguir mais acessibilidade aos cuidados, mais<br />
eficiência e eficácia, e onde o administrador hospitalar<br />
aparece integrado numa equipa de profissionais, responsáveis<br />
pela gestão deste patamar de gestão e respetivos<br />
resultados.<br />
Do que fica exposto, conclui-se que não será por falta<br />
de legislação que não existam eventualmente nos hospitais<br />
públicos, quer tenham o estatuto de EPE ou de<br />
SPA, níveis intermédios de gestão devidamente estruturados,<br />
não meramente em termos formais, mas em<br />
concreto funcionamento, para assim dar cumprimento<br />
aos objetivos, sempre preconizados, de mais eficiência,<br />
mais eficácia e qualidade da prestação, mais produtividade,<br />
maior proximidade com os utentes, etc. Naturalmente,<br />
tudo no pressuposto de atribuição de mais<br />
autonomia de gestão com a correspondente responsabilização,<br />
contratualização adequada na base de objetivos<br />
devidamente ponderados, etc.<br />
Efetivamente afastado, há muito tempo, das lides profissionais,<br />
desconheço, nesta matéria, a realidade nos<br />
nossos hospitais públicos, embora tenha a convicção,<br />
pelos ecos que me vão chegando, que, em boa verdade,<br />
persiste genericamente, na prática, uma gestão<br />
centrada na estrutura orgânica instituída, em 1968, pelo<br />
saudoso Mestre Coriolano Ferreira, ou seja, o "velho"<br />
serviço de ação médica. Pode ser que os CRI, ora legalmente<br />
criados, venham alterar a situação, embora isso<br />
me pareça algo difícil, dadas as condicionantes impostas.<br />
A ver vamos. Ã<br />
10 11
GH <strong>Gestão</strong> da Formação<br />
AS POLÍTICAS<br />
E PRÁTICAS DE FORMAÇÃO<br />
DOS HOSPITAIS DO SNS<br />
Tiago André Gomes de Oliveira<br />
Técnico Superior no Centro Académico e de Formação<br />
do Hospital da Senhora da Oliveira, Guimarães<br />
A<br />
humanização, modernização e evolução<br />
qualitativa na prestação de<br />
cuidados de saúde das instituições<br />
de saúde exige que a qualificação<br />
dos seus recursos humanos seja<br />
atingida através de processos de educação/formação<br />
ao longo da vida, contextualizados em programas de<br />
formação adequados às necessidades dos recursos<br />
humanos, das populações, das instituições, da evolução<br />
científica e da política global de saúde. A conceção<br />
dos referidos processos de formação carece de<br />
uma identidade definida.<br />
Em qualquer organização, área de trabalho e/ou serviço<br />
é relevante a identificação da política e prática de<br />
gestão de recursos humanos adotada na administração,<br />
por forma a delinear o seu caminho, os objetivos<br />
a alcançar.<br />
Neste sentido, compreender, refletir e interpretar o<br />
modo de atuação dos atores/unidades responsáveis<br />
pela formação dos profissionais do setor da saúde tornou-se<br />
essencial, pelo que através de um estudo multicasos,<br />
nomeadamente de cinco unidades hospitalares<br />
portuguesas da zona Norte, no âmbito de uma investigação<br />
realizada num projeto de estágio de mestrado<br />
por Oliveira (20<strong>17</strong>), procurou-se satisfazer essa necessidade,<br />
identificando as políticas e práticas de formação<br />
adotadas pelas referidas unidades hospitalares.<br />
A formação profissional dos profissionais de saúde<br />
A formação dos profissionais da saúde é essencial no<br />
suporte de um processo de mudança, pois “novos paradigmas<br />
de formação induziram reformulações profundas<br />
nos conteúdos e nas metodologias de ensino-<br />
-aprendizagem e de avaliação que urge assimilar”, no<br />
entanto, não é suficiente a transmissão de conhecimentos,<br />
sendo imperioso o desenvolvimento das capacidades<br />
(Grupo Técnico para a Reforma da Organização<br />
Interna dos Hospitais, 2010, pp.3-4).<br />
As posturas, comportamentos e profissionalismo são<br />
qualidades fulcrais no exercício das atividades da saúde,<br />
que devem ter peso curricular e ser objeto de treino e<br />
avaliação constante (idem).<br />
Baganha, Ribeiro, & Pires (2002, p.16), complementam,<br />
referindo que “a formação constitui, aliás, uma outra<br />
vertente decisiva na determinação das necessidades de<br />
profissionais numa área com níveis de qualificação cada<br />
vez mais exigentes, como é o caso da saúde. Com<br />
efeito, só a partir de um conhecimento aprofundado<br />
das necessidades de formação é possível vislumbrar,<br />
ao longo prazo, a capacidade de renovação interna do<br />
próprio sistema”.<br />
Especificamente no campo hospitalar, Feuerwerker<br />
& Cecílio (2007, p.966) acentuam a necessidade da<br />
formação dos profissionais de saúde, citando que “o<br />
hospital está nas duas pontas da questão da formação:<br />
como qualquer outro equipamento de saúde, necessita<br />
de trabalhadores formados adequadamente - para<br />
a gestão e para a atenção - e, ao mesmo tempo, cumpre<br />
um papel fundamental na conformação do perfil<br />
dos trabalhadores da área da saúde, como espaço privilegiado<br />
de aprendizagem durante a formação - técnica,<br />
de graduação e de pós-graduação. Mas o hospital<br />
não é qualquer equipamento de saúde. É uma organização<br />
complexa - atravessada por múltiplos interesses,<br />
que ocupa lugar crítico na prestação de serviços de<br />
saúde, lugar de construção de identidades profissionais,<br />
com grande reconhecimento social”.<br />
O Grupo Técnico para a Reforma da Organização Interna<br />
dos Hospitais (2010), vem realçar que a forma<br />
de concretização da formação nos hospitais não<br />
poderá continuar a ser realizada com base em modelos<br />
estáticos e clássicos, como aconteceu na segunda<br />
metade do século passado, fundamentados apenas<br />
pela divulgação dos conhecimentos técnicos e científicos<br />
e respetiva atualização, desadequados às<br />
realidades e necessidades formativas, suscetíveis de<br />
produzirem modificações nas práticas, quer ao nível<br />
individual, quer ao nível organizacional.<br />
O referido Grupo Técnico releva que “o estímulo ao<br />
conhecimento científico tem que ser enquadrado numa<br />
cultura de gestão, cujo paradigma deverá ser a<br />
transferência do brio profissional individual para o Serviço<br />
Público, a preocupação constante com a qualidade<br />
e continuidade da prestação de cuidados, a resposta<br />
efetiva às necessidades de saúde da população e com<br />
a correta utilização de recursos” (idem, pp.33-34).<br />
Importa explorar a questão da política da gestão da<br />
formação, na vertente contínua, definida também por<br />
política de educação permanente em saúde, sendo que<br />
na opinião de Sarreta (2009, p.14-15), “esta política foi<br />
arquitetada como estratégia para a formação e o desenvolvimento<br />
dos trabalhadores do setor”.<br />
A exploração da referida temática “levou a questionar<br />
se é possível modificar a ação dos trabalhadores na saúde,<br />
fazendo com que a formação profissional provoque<br />
o desenvolvimento da crítica e autocrítica e a reflexão<br />
do mundo do trabalho, o qual reproduz a dominação<br />
nas relações sociais. Do mesmo modo, poder-se-ia observar<br />
se a educação, como instrumento de transformação,<br />
nesse processo, pode ampliar o conhecimento<br />
e os saberes existentes e desenvolver uma postura<br />
ativa que transforme a ação desses sujeitos. Portanto,<br />
essa formação deve ser permanente, uma vez que<br />
os sujeitos estão, permanentemente, reinterpretando,<br />
redefinindo novos sentidos e modificando comportamentos”.<br />
(idem, p.15)<br />
Sarreta (2009, p.25) acrescenta ainda que a política de<br />
formação em saúde “aponta o fortalecimento da gestão<br />
participativa e da responsabilidade compartilhada,<br />
com dispositivos que ampliem os espaços para o exercício<br />
do diálogo, integração, participação, troca de experiências<br />
e de conhecimentos e a busca de respostas<br />
e soluções coletivas para problemas que impedem a<br />
atenção integral e de qualidade”, para além de “ao mesmo<br />
tempo, estimula a formação e o desenvolvimento<br />
de profissionais que atendam às necessidades dos serviços<br />
públicos, a partir de interesses e prioridades identificados<br />
pelos próprios sujeitos envolvidos na saúde”.<br />
Refere-se ainda que, atualmente, dependendo dos interesses<br />
e das conceções de saúde e de cuidado, as<br />
“<br />
NÃO SE PODE DEIXAR DE OBSERVAR<br />
QUE A FORMAÇÃO E/OU EDUCAÇÃO<br />
PERMANENTE, “ESTIMULA A REFLEXÃO<br />
NO MUNDO DO TRABALHO E PODE<br />
CONTRIBUIR PARA MELHORAR<br />
A QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA,<br />
INCORPORANDO NAS AÇÕES<br />
DE SAÚDE OS PRINCÍPIOS E VALORES<br />
”<br />
expectativas em relação aos hospitais vão-se alterando<br />
a dois níveis, sendo que o primeiro diz respeito em<br />
“relação às práticas de saúde e à gestão hospitalar”<br />
e o segundo em relação ao processo interno de “formação<br />
dos profissionais para o cuidado em saúde”,<br />
sendo que existem intensas disputas, muitos desafios e<br />
poucas respostas prontas, tornando-se pertinente abrir<br />
este debate, “enfrentando todas as suas complexidades,<br />
ampliando referenciais” e procurando “envolver<br />
todos os atores interessados na construção de novos<br />
arranjos, que possibilitem a superação dos impasses<br />
atuais (Feuerwerker & Cecílio, 2007, p.970).<br />
Não se pode deixar de observar que a formação e/<br />
/ou educação permanente, na opinião de Sarreta (2009,<br />
p.26), “estimula a reflexão no mundo do trabalho e pode<br />
contribuir para melhorar a qualidade da assistência,<br />
incorporando nas ações de saúde os princípios e valores<br />
(…) da integralidade da atenção, da humanização<br />
do cuidado e do reconhecimento da autonomia e dos<br />
direitos dos usuários dos serviços de saúde. A construção<br />
desse aprendizado é necessária para um novo<br />
modo de fazer saúde”.<br />
Por fim, importa aludir sobre motivações dos profissionais<br />
no que diz respeito à procura da formação, aferindo<br />
evidentemente que essas motivações são muito variadas,<br />
sendo que “as mais profícuas são as que partem<br />
da resposta à insegurança relativa ao domínio dum }<br />
12 13
GH <strong>Gestão</strong> da Formação<br />
saber necessário para o desempenho duma atividade”,<br />
pelo que as organizações não podem, obviamente, ficar<br />
alheias a esse apelo, a essa necessidade (Rodrigues et al,<br />
2002, p.224).<br />
Investigação: enquadramento metodológico<br />
Tendo em consideração o contexto, o público-alvo<br />
e o objeto de estudo, a nossa intervenção entroncou<br />
no paradigma qualitativo/interpretativo.<br />
No que diz respeito ao método, o mais adequado ao<br />
objeto da investigação foi o “estudo de caso”, tendo o<br />
mesmo recaído sobre um conjunto de cinco centros<br />
de formação de hospitais portugueses da zona Norte<br />
- estudo multicasos.<br />
As técnicas de recolha de dados aplicadas na investigação<br />
realizada foram a entrevista semi-estruturada<br />
e a análise documental, seguida da análise de conteúdo.<br />
As entrevistas foram realizadas, entre fevereiro<br />
e março de 20<strong>17</strong>, aos responsáveis dos centros de<br />
formação de cinco hospitais do SNS da zona Norte<br />
de Portugal.<br />
Investigação: resultados<br />
O Sistema de Saúde Português, representado pelo<br />
Serviço Nacional de Saúde, é composto por diversas<br />
unidades de saúde, das quais se destacam os hospitais<br />
pela prestação de serviços de saúde de forma permanente,<br />
como resposta a uma necessidade comum<br />
a toda a sociedade civil. Para melhor resposta a essa<br />
necessidade, os hospitais necessitam de ter quadros<br />
de pessoal devidamente qualificados e permanentemente<br />
atualizados, pelo que surgem aqui os centros<br />
de formação como responsáveis pela manutenção<br />
dos portefólios de competências de todos os profissionais.<br />
Para que essa garantia seja assegurada, torna-<br />
-se necessário que os próprios quadros de pessoal dos<br />
centros de formação sejam devidamente qualificados<br />
e compostos por um número de recursos humanos<br />
suficiente para a execução dos processos de gestão<br />
da formação de forma integral.<br />
A questão das políticas e práticas de gestão da formação<br />
profissional é muito subjetiva. Não há uma política<br />
totalmente definida para o processo de gestão da formação<br />
dos profissionais de saúde. Todos os centros<br />
de formação são acreditados pela mesma entidade<br />
(ACSS), que é responsável pela verificação dos pressupostos<br />
exigidos nos processos de formação a todas<br />
as entidades formadoras acreditadas. No entanto, parece<br />
ausente a atuação da ACSS neste campo. Temos<br />
a questão da falta de autonomia, reconhecida integralmente<br />
por todos os centros de formação sobre<br />
a área financeira, causando alguma instabilidade no<br />
desempenho destes e dos próprios ciclos formativos,<br />
pela turbulência oriunda das políticas adotadas pelos<br />
diversos governos estatais nos seus orçamentos de<br />
Estado, pela dependência permanente dos programas<br />
de financiamento da União Europeia, pelas diferentes<br />
estratégias dos conselhos de administração de cada<br />
hospital e pela importância, atribuída por estes, ao<br />
campo formativo dos seus quadros de pessoal. Neste<br />
domínio, manifestou-se também a falta de poder de<br />
decisão e o grau de dependência hierárquica. Cada<br />
centro de formação atua de forma diferente e de<br />
acordo com os recursos que dispõe. Todos têm um<br />
documento (norma, procedimento, regulamento) da<br />
atividade formativa. Embora todos apresentam anualmente<br />
um plano de formação, cada um tem o seu<br />
“modelo” de gestão da formação.<br />
Subjacente à questão anterior temos o processo de<br />
análise de necessidades, elaboração do plano de formação<br />
e avaliação da formação. No que diz respeito<br />
à análise de necessidades, verifica-se ausência de mecanismos<br />
definidos para esta etapa, nomeadamente<br />
instrumentos metodológicos, assim como o envolvimento<br />
dos profissionais no diagnóstico do processo.<br />
São tidos em conta outros instrumentos, tais como a<br />
avaliação de desempenho, as reclamações dos utentes<br />
e os relatórios das comissões e órgãos de apoio aos<br />
conselhos de administração dos hospitais. Pelo facto<br />
de não se envolver os profissionais na identificação<br />
das necessidades formativas, manifesta-se aqui um<br />
comportamento altruísta, numa perspetiva positivista,<br />
por parte das organizações. Este processo deveria ser<br />
partilhado, permitindo a negociação de interesses, desejos<br />
e racionalidades, possibilitando articular objetivos<br />
individuais e organizacionais. Quanto à elaboração do<br />
plano de formação, identifica-se um mero tecnicismo<br />
ideológico virado para o inventário de carências<br />
e produção de competências técnicas/instrumentais,<br />
uma vez as ações planeadas, por todos os centros de<br />
formação, são sobretudo de cariz técnico. O cariz relacional<br />
tem uma presença muito reduzida. No que<br />
concerne à avaliação da formação, produzem-se diversas<br />
dificuldades na sua produção. São aplicados em<br />
algumas ações instrumentos de avaliação dirigidos aos<br />
formandos para aferição das aprendizagens. É atribuído<br />
e reconhecido o valor da avaliação da formação,<br />
propriamente dita, no entanto apresentam carência<br />
de recursos na avaliação do impacto. A legitimidade<br />
e a objetividade da formação parece ináquia. Emerge<br />
a aposta no desenvolvimento da função da avaliação<br />
por todos os centros de formação, pela essência que<br />
apresenta na valorização dos processos formativos,<br />
pela adequação à realidade que deve assistir.<br />
Conclusões<br />
Os modelos de gestão da formação, de gestão das<br />
atividades dos centros de formação, estão muito<br />
centrados na execução, olvidando a monitorização<br />
e a produção de efeitos dessa mesma gestão. Há a<br />
necessidade de se instituir a gestão por objetivos e<br />
a responsabilização pelos resultados. Para o efeito,<br />
os hospitais têm de olhar para a formação como um<br />
custo orçamentado à semelhança de todos os outros<br />
custos.<br />
É necessário instituírem na sua política e cultura organizacional<br />
mecanismos condutores a uma prática<br />
formativa eficiente, capaz de reconhecer o custo-benefício<br />
que um processo formativo pode trazer para<br />
o desenvolvimento dos seus recursos humanos e da<br />
própria organização. Para isso, é também fundamental<br />
que os trabalhadores sejam reconhecidos como<br />
elementos essenciais do seio organizacional, sejam<br />
ouvidos e envolvidos nos processos formativos e que<br />
as organizações proporcionem a igualdade de acesso<br />
à formação. Ã<br />
Baganha, M. I., Ribeiro, J. R., & Pires, S. (2002). O sector da saúde em Portugal:<br />
funcionamento do sistema e caracterização sócio-profissional. Coimbra:<br />
Oficina do CES.<br />
Feuerwerker, L. C., & Cecílio, L. C. (2007). “O Hospital e a formação em<br />
saúde: desafios atuais”. Ciência & Saúde Coletiva, 12(4), pp.965-971.<br />
Grupo Técnico para a Reforma da Organização Interna dos Hospitais<br />
(2010). A Organização Interna e a Governação dos Hospitais. Matriz organizacional<br />
para os hospitais do SNS. Lisboa.<br />
Oliveira, T. A. G. (20<strong>17</strong>). Políticas e práticas de formação das unidades de<br />
saúde hospitalares: um estudo multicasos dos centros de formação dos<br />
hospitais. Braga: Relatório de estágio de mestrado, Instituto de Educação<br />
da Universidade de Minho.<br />
Rodrigues, L. A. C., Ginó, A., Sena, C. & Dahlin, K. (2002). Compreender os<br />
Recursos Humanos do Serviço Nacional de Saúde. Lisboa: Edições Colibri.<br />
Sarreta, F. O. (2009). Educação permanente em saúde para os trabalhadores<br />
do SUS. São Paulo: Cultura Académica.<br />
14
GH Inspeção geral<br />
O PAPEL DA INSPEÇÃO GERAL<br />
DAS ATIVIDADES EM SAÚDE<br />
NAS ORGANIZAÇÕES<br />
DE SAÚDE<br />
Paulo Jorge Mantas Parreira<br />
Inspetor da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde<br />
A<br />
Inspeção-Geral das Atividades em<br />
Saúde (IGAS), que integra o Sistema<br />
de Controlo interno da Administração<br />
Financeira do Estado,<br />
preside ao Grupo Coordenador<br />
do Controlo Interno do Ministério da Saúde (GCCI)<br />
e faz parte da Rede Europeia de Luta Contra a Fraude<br />
e Corrupção na Saúde (EHFCN), tem por missão<br />
auditar, inspecionar, fiscalizar e desenvolver a ação<br />
disciplinar no setor da saúde, com vista a assegurar<br />
o cumprimento da lei e elevados níveis técnicos de<br />
atuação em todos os domínios da atividade e da<br />
prestação dos cuidados de saúde desenvolvidos.<br />
E, enquanto serviço central da administração direta<br />
do Estado, dotado de autonomia administrativa,<br />
assume compromissos estratégicos assentes num<br />
conjunto de pressupostos (missão, visão, valores,<br />
objetivos estratégicos, entre outros), que visam a sua<br />
consolidação como instância de controlo em todos<br />
os domínios da prestação dos cuidados de saúde,<br />
quer pelas instituições, serviços e organismos do Ministério<br />
da Saúde, ou por este tutelados, quer ainda<br />
pelas entidades privadas, pessoas singulares ou coletivas,<br />
com ou sem fins lucrativos.<br />
A atividade levada a cabo pelos inspetores da IGAS<br />
rege-se por princípios éticos e regras de atuação<br />
bem definidas, credíveis e sustentadas em referências<br />
idóneas para este tipo de atividade. Para que se<br />
concretize a diversidade das ações, os âmbitos de<br />
intervenção e a sua tradução ao nível das competências<br />
e funções, impõe-se a previsão de mecanismos<br />
de adequabilidade que permitam um leque aberto,<br />
mas comum de opções e que seja assegurado o estado<br />
permanente de atualização do gesto profissional<br />
inspetivo, ou apenas, e tão só, do gesto inspetivo.<br />
O quadro imperativo a considerar em toda a atividade<br />
inspetiva, do seu início ao seu termo, decorre das<br />
diversas leis que regem as competências, as formas,<br />
os procedimentos e os conteúdos da atividade inspetiva,<br />
sendo de destacar a sua base legal e enquadramento<br />
regulamentar, ou seja, a atividade inspetiva<br />
é desenvolvida ao abrigo dos seguintes diplomas<br />
fundamentais: Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 33/2012, de 13 de fevereiro<br />
(Lei Orgânica da IGAS - LOIGAS), Decreto-<br />
-Lei n.<strong>º</strong> 276/2007, de 31 de julho (Regime Jurídico da<br />
Atividade de Inspeção), Decreto-Lei n.<strong>º</strong> <strong>17</strong>0/2009, de<br />
3 de agosto (Regime da Carreira Especial de Inspeção),<br />
Despacho n.<strong>º</strong> 10715-B/2015, de 22 de setembro<br />
(Regulamento da Atividade Inspetiva).<br />
Neste particular, a LOIGAS enquadra, entre outras,<br />
as ações de natureza contraordenacional e disciplinar,<br />
assim como as ações inspetivas que podem assumir<br />
diversas modalidades, consoante a natureza da<br />
função exercida assume um caráter preventivo, pedagógico<br />
e repressivo. A ação contraordenacional é<br />
aquela que se concretiza na instrução dos processos<br />
relativos a ilícitos de mera ordenação social, cuja<br />
competência seja determinada à IGAS.<br />
A ação disciplinar, que se concretiza no exercício do<br />
poder disciplinar, é regulado pelas disposições dos<br />
artigos <strong>17</strong>6.<strong>º</strong> a 240.<strong>º</strong>, da Lei do Trabalho em Funções<br />
Públicas (LTFP), encontra-se sujeito aos princípios<br />
gerais da atividade administrativa - artigo 2.<strong>º</strong>, n.<strong>º</strong> 3 e 5,<br />
do Código do Procedimento Administrativo (CPA) e,<br />
subsidiariamente, às normas de direito penal e de direito<br />
processual penal - artigos 18.<strong>º</strong>, 29.<strong>º</strong>, n.<strong>º</strong>s 4 e 5,<br />
32.<strong>º</strong>, 266.<strong>º</strong>, 269.<strong>º</strong>, n.<strong>º</strong> 3, todos da Constituição da República<br />
Portuguesa (CRP), permitindo, enquanto instrumento<br />
jurídico de garantia da relação jurídica de<br />
emprego público, assegurar o normal funcionamento<br />
dos serviços da Administração Pública.<br />
O ato inspetivo pode ainda revestir-se de diversas<br />
formas e procedimentos consoante o tipo de processo<br />
que concretiza. A ação de auditoria é a ação inspetiva<br />
que visa a análise e a conformidade de procedimentos,<br />
regras, normas, princípios, ou objetivos de<br />
execução ou de funcionamento de determinadas entidades,<br />
serviços ou atividades, consistindo num exame<br />
sistemático e objetivo, utilizando técnicas específicas<br />
de auditoria como, por exemplo, a amostragem,<br />
com vista à emissão de uma avaliação devidamente<br />
sustentada, que pode conter uma apreciação de natureza<br />
qualitativa.<br />
A ação de inspeção é a ação inspetiva dirigida ao<br />
controlo da legalidade através do apuramento e da<br />
correção de irregularidades, visando a conformidade<br />
legal e procedimental de determinada atividade, e<br />
que pode ser: (i) inspeção stricto sensu - a ação dirigida<br />
ao apuramento de uma realidade fundada em<br />
facto ou factos participados à IGAS ou determinada<br />
por esta; ou (ii) fiscalização - a ação dirigida à verificação<br />
da regularidade de procedimentos ou normativos<br />
implementados de acordo com quadro sancionatório<br />
próprio.<br />
Por cada um dos instrumentos processuais referidos,<br />
reconhecendo o importante contributo individual<br />
que cada um pode oferecer, uma Inspeção-Geral<br />
materializa o seu core essencialmente pela realização<br />
de inspeções. Com efeito, a inspeção stricto sensu é<br />
um tipo processual com uma práxis muito própria }<br />
16 <strong>17</strong>
GH Inspeção geral<br />
“<br />
EM TERMOS JURÍDICOS,<br />
INSPECIONAR TRADUZ<br />
UM PROCEDIMENTO<br />
ADMINISTRATIVO DIRECIONADO<br />
À VERIFICAÇÃO DO CUMPRIMENTO<br />
DE CERTAS REGRAS LEGAIS<br />
E PROCEDIMENTAIS PELA<br />
ENTIDADE INSPECIONADA.<br />
”<br />
que se desenrola num quadro que se pauta, sobretudo,<br />
pela dinâmica da ação, pela rapidez operacional,<br />
pela flexibilidade de execução e pela agilidade<br />
de procedimentos. Por outras palavras, esta opção<br />
processual amplia uma vasta panóplia de potencialidades,<br />
porquanto: (i) facilita a proatividade; (ii) gera<br />
ganhos em prevenção; (iii) cria conhecimento; (iv)<br />
promove a pedagogia; (v) permite o estudo, consoante<br />
as necessidades do momento; e é, em si mesma,<br />
(vi) garantia de resultado.<br />
Igualmente, é neste espírito que se pode afirmar que,<br />
também, na vertente endógena do próprio inspetor,<br />
é o tipo processual que mais ensina, forma e melhor<br />
ajuda a consolidar a construção de cada um em si<br />
mesmo no conhecimento da realidade apreendida<br />
e a apreender. A IGAS ao colocar em prática um<br />
conjunto de ações desta natureza, previamente planeadas<br />
e devidamente preparadas, dando-lhes execução<br />
pelo país, acaba por transformar este tipo de<br />
intervenção inspetiva, numa verdadeira ferramenta<br />
de mudança.<br />
Em termos jurídicos, inspecionar traduz um procedimento<br />
administrativo direcionado à verificação do<br />
cumprimento de certas regras legais e procedimentais<br />
pela entidade inspecionada que implica três tipos<br />
de análise: (i) diagnóstica, da factualidade identificada,<br />
podendo implicar o exame da organização, de serviços<br />
ou dos procedimentos; (ii) descritiva, da conformidade<br />
ou desconformidade normativa dos factos<br />
apurados; e (iii) prescritiva, com a enunciação das<br />
medidas corretivas e recomendações.<br />
Em termos práticos, inspecionar implica saber interpretar<br />
de forma pragmática os factos descritos no<br />
objeto do processo inspetivo, devidamente balizado<br />
no plano de atividades e na ordem de serviço e<br />
adotar o conjunto de atos processuais adequados<br />
à respetiva prossecução e materialização dos objetivos<br />
traçados, entre os quais, a identificação de medidas<br />
corretivas e a formulação de recomendações.<br />
Por isso, este trabalho, enquanto sistematização de saberes<br />
e condutas, pode contribuir decisivamente para<br />
simplificar, facilitar, uniformizar, harmonizar e sistematizar<br />
procedimentos relativos à organização e funcionamento<br />
das organizações de saúde, permitindo, ao<br />
mesmo tempo, um maior apetrechamento de todos<br />
os intervenientes no desempenho das suas tarefas,<br />
uma melhoria nas metodologias adotadas, a promoção<br />
generalizada de atitudes proativas, um maior respeito<br />
pelo quadro legal vigente, a melhoria contínua<br />
dos padrões de qualidade, eficácia e eficiência, pelos<br />
quais se devem pautar e até, em determinadas situações,<br />
o reforço da capacidade dos conselhos de administração<br />
no exercício dos poderes decorrentes das<br />
prerrogativas em que se encontram investidos.<br />
Porém, não pode ignorar-se que, sem embargo da<br />
criação de figuras organizacionais e até da implementação<br />
de dispositivos legais abrangentes e inovadores,<br />
a verdadeira mudança só pode ocorrer por via<br />
da ação dos seus intérpretes e dos quais depende<br />
e dependerá sempre, em grande medida, o sucesso<br />
das mesmas.<br />
Se, em abstrato, todos os modelos são bons, os problemas<br />
surgem quando são aplicados na prática, isto<br />
é, quando testados e postos verdadeiramente à prova,<br />
sendo que, as condutas, os processos e os procedimentos<br />
das organizações, dos seus profissionais e<br />
de todos aqueles que as utilizam, não mudam de um<br />
dia para o outro. Levam o seu tempo e por vezes,<br />
ainda assim, mudam pouco ou muito simplesmente<br />
não mudam.<br />
Há um trabalho de grande persistência e continuidade<br />
a desenvolver junto das organizações de saúde<br />
por forma a impedir eventuais retrocessos sistémicos<br />
e, simultaneamente, garantir os necessários avanços.<br />
Por isso, talvez pelo conhecimento global que o ato<br />
inspetivo potencia, e fruto da vivência próxima que<br />
se vai desenvolvendo, o país visto pelos inspetores<br />
tem muitas cores. Ã<br />
18
GH Reflexões de direito biomédico<br />
RESPONSABILIDADE PENAL<br />
MÉDICA POR NEGLIGÊNCIA<br />
Sónia Mariza Florêncio Fidalgo<br />
Professora da Faculdade de Direito<br />
da Universidade de Coimbra<br />
Investigadora do Centro de Direito Biomédico<br />
Introdução<br />
O Direito Penal é o conjunto de normas<br />
1.<br />
jurídicas que definem as condutas que são<br />
crimes e as consequências jurídicas que<br />
lhes correspondem. Quem pratica um<br />
comportamento previsto na lei como crime pode<br />
ser sancionado com uma pena ou com uma medida<br />
de segurança.<br />
A função do Direito Penal é a de proteção de bens<br />
jurídicos. Bem jurídico é “a expressão de um interesse,<br />
da pessoa ou da comunidade, na manutenção ou<br />
integridade de um certo estado, objeto ou bem em<br />
si mesmo socialmente relevante e por isso juridicamente<br />
reconhecido como valioso” 1 . São exemplos<br />
de bens jurídicos a vida, a integridade física, a liberdade,<br />
a honra, etc.<br />
O Direito Penal não protege todos os bens jurídicos;<br />
protege apenas certos bens jurídicos e somente contra<br />
determinadas formas de agressão. O Direito Penal<br />
é um ramo do direito de intervenção subsidiária,<br />
de ultima ratio - só intervém quando os bens em causa<br />
não puderem ser suficientemente tutelados por<br />
outro ramo do direito (v.g. o Direito Civil), que tenha<br />
consequências menos gravosas para o agressor.<br />
O Direito Penal descreve claramente os bens juridicos<br />
que quer proteger e os comportamentos que<br />
quer punir - nisto se traduz o princípio da legalidade<br />
(não há crime nem pena sem lei). Para que um sujeito<br />
seja responsabilizado criminalmente tem de praticar<br />
um comportamento previsto na lei como crime,<br />
correntes da violação das regras normais de atuação<br />
poderão fundamentar a responsabilidade do médico<br />
a título de negligência 4 . Por outro lado, nem todos<br />
os comportamentos que violam as regras normais<br />
de atuação e que causam uma ofensa ao paciente<br />
serão punidos - pode atuar, no caso concreto, por<br />
exemplo, uma causa de exclusão da ilicitude ou uma<br />
causa de exclusão da culpa.<br />
II. O paradigma da compreensão jurídico-penal dos<br />
atos médicos<br />
O legislador português reconhece a relevante função<br />
social exercida pela classe médica - o nosso Código<br />
Penal (CP) dedica um tratamento diferenciado<br />
e privilegiado à atividade médica, através do regime<br />
específico das intervenções e tratamentos médico-<br />
-cirúrgicos (artigo 150.<strong>º</strong>). Nos termos do artigo 150.<strong>º</strong><br />
do CP, a intervenção médico-cirúrgica medicamente<br />
indicada, realizada por um médico, com finalidade<br />
terapêutica e segundo as leges artis não preenche<br />
o tipo legal de crime de ofensa à integridade física. E<br />
a intervenção será atípica mesmo nos casos em que<br />
falhe nos seus objetivos, isto é, mesmo que agrave a<br />
lesão ou a doença ou provoque a morte do paciente.<br />
A produção de resultados indesejáveis só relevará,<br />
entre nós, como ofensa corporal típica quando representar<br />
a consequência da violação das leges artis 5 .<br />
Por outro lado, a intervenção médico-cirúrgica não<br />
preencherá o tipo de crime de ofensa à integridade<br />
física, independentemente de o paciente ter dado<br />
ou não o seu consentimento. A inexistência de consentimento<br />
do paciente pode conduzir à punição do<br />
médico pelo crime de intervenções e tratamentos<br />
médico-cirúrgicos arbitrários (artigo 156.<strong>º</strong> do CP),<br />
que consubstancia um crime contra a liberdade pessoal<br />
e não um crime contra a integridade física 6 .<br />
Porém, se o médico atuar negligentemente e se dessa<br />
atuação advier uma lesão para o corpo ou para<br />
saúde ou mesmo a morte do paciente, o médico<br />
pode vir a ser punido por ofensa à integridade física<br />
por negligência (artigo 148.<strong>º</strong> do CP) ou por homicídio<br />
por negligência (artigo 137.<strong>º</strong> do CP).<br />
III. O tipo de ilícito negligente: a violação do dever<br />
de cuidado<br />
1. Nos crimes negligentes, diferentemente do que<br />
sucede nos crimes dolosos, a vontade do agente não<br />
se dirige ao resultado. O tipo de ilícito negligente<br />
consubstancia-se na violação, por parte do agente,<br />
de um dever objetivo de cuidado que sobre ele impende<br />
e que conduz à produção de um resultado<br />
típico que seria previsível e evitável pelo homem<br />
“<br />
O LEGISLADOR PORTUGUÊS<br />
RECONHECE A RELEVANTE<br />
FUNÇÃO SOCIAL EXERCIDA<br />
PELA CLASSE MÉDICA.<br />
O CÓDIGO PENAL DEDICA<br />
UM TRATAMENTO DIFERENCIADO<br />
À ATIVIDADE MÉDICA.<br />
atuando com dolo ou com negligência, preenchendo<br />
o tipo de ilícito e o tipo de culpa respetivos - tipo de<br />
ilícito, tipo de culpa e punibilidade são as categorias<br />
dogmáticas do conceito de facto punível 2 .<br />
2. A atividade médica é uma atividade que se desenvolve<br />
num contexto de risco. Atendendo à natureza<br />
dos bens jurídicos que podem ser afetados no decurso<br />
de uma intervenção médica - a vida, a integridade<br />
física e a liberdade do paciente, o direito penal não<br />
poderá deixar de intervir. Se o médico, no exercício<br />
da sua profissão, levar a cabo um comportamento<br />
que viole as regras normais de atuação e, consequentemente,<br />
não melhorar ou prejudicar a saúde do<br />
paciente, ou descurar o seu consentimento para a<br />
intervenção em causa, ofende (por ação ou omissão)<br />
bens jurídicos penalmente protegidos e, como tal,<br />
poderá vir a ser penalmente responsabilizado.<br />
São, no entanto, infundados os receios dos médicos<br />
“que veem o Direito como uma máquina rígida e<br />
implacável, pronta para reprimir o menor desvio no<br />
exercício da sua atividade” 3 . O paciente não tem o<br />
direito à cura. Tendo em conta os conhecimentos<br />
da medicina e as circunstâncias de tempo e de lugar,<br />
pode apenas exigir-se ao médico que faça tudo o<br />
que estiver ao seu alcance para melhorar o estado<br />
de saúde do paciente. Mesmo quando o médico comete<br />
um erro que provoca uma ofensa ao doente,<br />
tal não significa que o médico venha a ser criminalmente<br />
responsabilizado - erro médico não é sinónimo<br />
de negligência médica. Só os erros médicos de-<br />
”<br />
médio, pertencente à categoria intelectual e social<br />
e ao círculo de vida do agente (artigo 15<strong>º</strong> do CP) 7 .<br />
Para que se possa imputar a um profissional de saúde<br />
um crime de ofensa à integridade física por negligência<br />
ou de homicídio por negligência, este agente<br />
tem de ter violado o dever de cuidado que sobre<br />
ele impendia e o resultado que se verificou (lesão<br />
do corpo ou da saúde, ou morte do doente) tem<br />
de ser imputada, precisamente, àquela violação do<br />
dever. Consequentemente, é necessário saber com<br />
exatidão quando se dá a violação do dever objetivo<br />
de cuidado.<br />
2. Quais são as fontes concretizadoras do dever objetivo<br />
de cuidado no exercício da medicina? 8<br />
Na aferição do preenchimento do tipo de ilícito negligente<br />
tem de averiguar-se se o agente violou o dever<br />
objetivo de cuidado no caso concreto - o legislador,<br />
no artigo 15.<strong>º</strong> do CP, utiliza a expressão “segundo<br />
as circunstâncias”.<br />
Há, desde logo, que ter em consideração um conjunto<br />
de regras jurídicas de comportamento que regulam<br />
a atividade médica. Pense-se, por exemplo, no<br />
Estatuto da Ordem dos Médicos 9 e na legislação que<br />
regula a colheita e transplante de órgãos e tecidos de<br />
origem humana 10 , a investigação clínica 11 e a procriação<br />
medicamente assistida 12 .<br />
No entanto, tendo conta, por um lado, a permanente<br />
evolução da medicina e, por outro, a multiplicidade<br />
e complexidade das diversas especialidades, seria<br />
impossível o legislador criar normas jurídicas concretizadoras<br />
do dever de cuidado em cada caso. Nos }<br />
20 21
GH Reflexões de direito biomédico<br />
domínios como o da medicina, o dever objetivo de cuidado<br />
há-de ser determinado atendendo também a um<br />
conjunto de regras fixadas pelo próprio círculo profissional<br />
- as leges artis medicinae. Entre nós, a expressão<br />
mais acabada desta autorregulação dos profissionais<br />
de medicina é o Código Deontológico da Ordem dos<br />
Médicos (CDOM) 13 . Para além do CDOM, há a considerar<br />
ainda, por exemplo, as declarações de princípios<br />
formuladas por organizações nacionais e internacionais<br />
de médicos, as guidelines resultantes de protocolos de<br />
atuação e de reuniões de consenso e os pareceres das<br />
Comissões de Ética.<br />
Nem todas as leges artis medicinae assumem a forma de<br />
regras escritas - na sua grande parte, as regras da arte<br />
médica são regras não escritas. Frequentemente, para<br />
se concretizar o dever de cuidado no caso concreto<br />
é necessário, assim, fazer-se apelo aos costumes profissionais<br />
comuns ao profissional prudente 14 .<br />
Tratando-se da atuação de uma equipa médica, a determinação<br />
do dever de cuidado de cada um dos profissionais<br />
há-de ser feita também a partir do designado<br />
princípio da confiança. Segundo o princípio da confiança,<br />
“quem se comporta no tráfico de acordo com a<br />
norma de cuidado deve poder confiar que o mesmo<br />
sucederá com os outros; salvo se tiver razão concretamente<br />
fundada para pensar ou dever pensar de outro<br />
modo” 15 . O princípio da confiança deve ser visto como<br />
um princípio delimitador dos deveres de cuidado em<br />
caso de pluralidade de agentes: quem atua ao abrigo<br />
do princípio da confiança não viola o dever objetivo de<br />
cuidado, logo, não preenche com o seu comportamento<br />
o tipo de ilícito negligente 16 .<br />
IV. O tipo de culpa negligente: a atitude de leviandade<br />
ou descuido por parte do médico<br />
Para que um agente seja punido por homicídio por negligência<br />
ou por ofensa à integridade física por negligência<br />
não é suficiente que viole o cuidado objetivamente<br />
imposto - é necessário ainda que não afaste o perigo<br />
ou evite o resultado, “apesar de aquele se apresentar<br />
como pessoalmente cognoscível e este como pessoalmente<br />
evitável” <strong>17</strong> . Este é o problema do tipo de culpa<br />
negligente (artigo 15<strong>º</strong> do CP). O que está em causa<br />
agora é aferir se o médico, segundo os seus conhecimentos<br />
e as suas capacidades pessoais, se encontrava<br />
em condições de cumprir o dever de cuidado que integra<br />
o tipo negligente. Só respondendo afirmativamente<br />
a esta questão poderá afirmar-se que o médico documentou<br />
no facto qualidades pessoais de descuido ou<br />
leviandade perante o direito e as suas normas, pelas<br />
quais tem de responder - por outras palavras, só assim<br />
poderá dizer-se que o médico atuou com culpa negligente.<br />
Diferentemente do que vimos suceder em sede<br />
de tipo de ilícito, no âmbito do tipo de culpa negligente<br />
não se vai ter em consideração o “homem médio”, mas<br />
sim o “tipo de homem da espécie e com as qualidades<br />
e capacidades do agente” 18 .<br />
V. A valoração jurídico-penal da conduta do médico<br />
em caso de agravação do estado de doença ou de<br />
morte do doente<br />
1. Para que se possa responsabilizar um médico por<br />
ofensa à integridade física ou por homicídio por negligência,<br />
é necessário que ele tenha violado o dever objetivo<br />
de cuidado que sobre ele impendia, criando, deste<br />
modo, um perigo não permitido que se concretizou no<br />
resultado (tipo de ilícito negligente); e é necessário, ainda,<br />
que o médico revele, na sua conduta, uma atitude<br />
de leviandade ou descuido perante o direito (tipo de<br />
culpa negligente). A valoração jurídico-penal da conduta<br />
do médico é, naturalmente, da competência do juiz.<br />
2. A doutrina tem entendido que a violação das normas<br />
jurídicas de comportamento ou das leges artis constituirá<br />
um indício de contrariedade ao cuidado objetivamente<br />
devido, mas “não pode em caso algum fundamentá-la<br />
definitivamente” 19 . Na esclarecedora expressão de Roxin,<br />
“o que in abstracto é perigoso, pode deixar de o ser<br />
no caso concreto” 20 .<br />
Na sua decisão acerca da violação do dever objetivo<br />
de cuidado, o juiz há-de ter em atenção a situação<br />
considerada na sua globalidade. O juiz tem de atender,<br />
desde logo, às condições de lugar e de tempo em que<br />
se realizou a intervenção. As exigências de cuidado (derivadas<br />
das leges artis) que se dirigem a um médico que<br />
trabalha num grande hospital universitário não serão<br />
as mesmas que se dirigem, por exemplo, a um outro<br />
profissional que desempenhe a sua atividade numa pequena<br />
instituição de saúde.<br />
3. Para proceder à valoração do comportamento do<br />
médico no caso concreto, o juiz terá de determinar previamente<br />
o modelo ao qual deve referir essa valoração.<br />
Não tendo o juiz (em princípio) formação médica, não<br />
lhe será fácil aceder ao conhecimento das regras técnicas<br />
da medicina. Tarefa dificultada também pela escassa<br />
regulamentação da atividade médica - grande parte das<br />
leges artis medicinae são regras não escritas. Na generalidade<br />
dos casos, para aceder ao conhecimento do estádio<br />
da ciência médica e da atuação adequada no caso<br />
concreto, o juiz terá de solicitar pareceres e relatórios<br />
à própria comunidade médica.<br />
VI. Conclusão<br />
O legislador penal português reconhece a relevante<br />
função social da atividade médica, dedicando um re-<br />
gime diferenciado e privilegiado às intervenções e tratamentos<br />
médico-cirúrgicos. Todavia, o direito penal<br />
não poderá deixar de intervir se o médico, violando<br />
o seu dever objetivo de cuidado, de modo leviano ou<br />
descuidado, agravar o estado de saúde do paciente ou<br />
provocar a morte deste.<br />
Afirmando-se, porém, o direito penal como um direito<br />
de ultima ratio e tendo em conta todas as características<br />
da valoração jurídico-penal da atuação médica, serão<br />
infundados quaisquer receios dos médicos no que diz<br />
respeito à responsabilidade penal: só haverá lugar à intervenção<br />
do direito penal nos casos de clara violação<br />
das regas da boa prática médica. Ã<br />
1. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal. Parte Geral I, 2.ª ed., Coimbra:<br />
Coimbra Editora, 2007, 6.<strong>º</strong> Cap., § 16.<br />
2. Idem, 10.<strong>º</strong> Cap., § 24 e ss.<br />
3. Romeo Casabona, Carlos María, El médico y el derecho penal, I. La actividad<br />
curativa (Licitud y responsabilidad penal), Barcelona: Bosch, Casa<br />
Editorial, S.A., 1981, p. 8.<br />
4. Fidalgo, Sónia, Responsabilidade Penal por Negligência no Exercício da<br />
Medicina em Equipa, Coimbra: Coimbra Editora, 2008, p. 13 e ss. e 31 e ss.<br />
5. Andrade, Manuel da Costa, in: Comentário Conimbricense do Código<br />
Penal, Parte Especial, dirigido por Jorge de Figueiredo Dias, t. I, 2ª ed., Coimbra:<br />
Coimbra Editora, 2012, artigo 150.<strong>º</strong>, § 9.<br />
6. Andrade, Manuel da Costa, in: Comentário Conimbricense do Código<br />
Penal, Parte Especial, dirigido por Jorge de Figueiredo Dias, t. I, 2ª ed., Coimbra:<br />
Coimbra Editora, 2012, artigo 156.<strong>º</strong>, § 1 e ss.<br />
7. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal…, cit., 34.<strong>º</strong> Cap., § 9, e 35.<strong>º</strong> Cap., § 4.<br />
8. Cf. Faria, Paula Ribeiro de, in: Comentário Conimbricense do Código Penal,<br />
Parte Especial, dirigido por Jorge de Figueiredo Dias, t. I, 2ª ed., Coimbra:<br />
Coimbra Editora, 2012, artigo 148<strong>º</strong>, § 20; e Fidalgo, Sónia, Responsabilidade<br />
penal por negligência…, cit., p. 69-70.<br />
9. Lei n.<strong>º</strong> 1<strong>17</strong>/2015, de 31 de agosto.<br />
10. Lei n.<strong>º</strong> 12/93, de 22 de abril (com sucessivas alterações).<br />
11. Lei n.<strong>º</strong> 21/2014, de 16 de abril (com sucessivas alterações).<br />
12. Lei n.<strong>º</strong> 32/2006, de 26 de julho (com sucessivas alterações).<br />
13. Regulamento n.<strong>º</strong> 707/2016, de 21 de julho.<br />
14. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal…, cit., 35.<strong>º</strong> Cap., § 19 e 23.<br />
15. Idem, 35.<strong>º</strong> Cap., § 28 (itálico do autor).<br />
16. Fidalgo, Sónia, Responsabilidade penal por negligência…, cit., p. 107 e ss.;<br />
e, da mesma autora, Princípio da Confiança e Crimes Negligentes, Coimbra:<br />
Almedina, 2018, p. 319 e ss.<br />
<strong>17</strong>. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal…, cit., 36.<strong>º</strong> Cap., § 5.<br />
18. Idem, 36.<strong>º</strong> Cap., § 7.<br />
19. Idem, 35.<strong>º</strong> Cap., § 21.<br />
20. Roxin, Claus, Strafrecht. Allgemainer Teil. Band I. Grundlagen. Aufbau der<br />
Verbrechenslehre, 4. Auf., München: Verlag C. H. Beck, 2006, § 24, n.<strong>º</strong> 16.<br />
22
GH entrevista<br />
TERESA SUSTELO<br />
DE FREITAS<br />
PRESIDENTE DO CONSELHO DIRETIVO DO CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE LISBOA<br />
É IMPERIOSO FAZER<br />
UMA REFORMA PROFUNDA<br />
NO MODELO DE PRESTAÇÃO<br />
DE CUIDADOS DE SAÚDE<br />
Atualmente Teresa Sustelo de Freitas é presidente do Conselho Diretivo do Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico de Lisboa e exerce funções na Administração <strong>Hospitalar</strong> desde 1985.<br />
Crítica do modelo de prestação dos cuidados de saúde, defende um novo enfoque que<br />
promova um maior nível de exigência, de rigor e competitividade positiva no Sistema de Saúde.<br />
Licenciada em direito pela Universidade<br />
Clássica de Lisboa, foi em 1985 que<br />
deu início à sua carreira na Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, concretamente nos<br />
Hospitais Civis de Lisboa, como Administradora<br />
<strong>Hospitalar</strong> de 3.ª classe. O seu percurso<br />
profissional tem sido marcado por desempenhar funções<br />
de gestão de topo em vários hospitais, no Instituto<br />
Nacional de Sangue e inclusive na Direcção-Geral<br />
dos Hospitais. Dada a vasta experiência comprovada,<br />
como pode descrever a importância da Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> na gestão destas estruturas reconhecidamente<br />
complexas? Quais os principais desafios com<br />
que se tem deparado na gestão de instituições hospitalares,<br />
tendo em consideração as diversas mudanças<br />
estruturais no modelo de gestão e financiamento?<br />
É indiscutível que a profissionalização é atualmente<br />
imprescindível para o bom desempenho. Essa constatação<br />
foi surpreendentemente feita, na área da gestão<br />
hospitalar e de serviços de saúde, muito cedo, por alguém<br />
que eu considero um visionário, pela forma lúcida<br />
e inteligente como defendeu e promoveu a criação de<br />
um curso de especialização nesta área. Estou a falar,<br />
como é óbvio, do Prof. Coriolano Ferreira. Percebeu<br />
cedo que a complexidade da gestão em saúde implicava<br />
uma série de conhecimentos que ultrapassava em<br />
muito as áreas clássicas da gestão e o conhecimento<br />
exclusivamente académico, implicando uma proximidade<br />
do terreno muito grande, capaz de dotar os<br />
profissionais de competências muito específicas ligadas<br />
à prática clínica e à atividade assistencial. Durante um<br />
grande período da minha vida profissional, o modelo<br />
de gestão e financiamento não sofreu alterações significativas.<br />
Vigoravam regras do setor público administrativo<br />
e o financiamento baseava-se nos indicadores<br />
mais tradicionais e rudimentares, como sejam a demora<br />
média, a percentagem de ocupação e o número de<br />
doentes saídos. Só a partir da transposição dos Grupos<br />
de Diagnóstico Homogéneos dos EUA, que se deve<br />
ao fantástico e entusiástico trabalho de alguns colegas<br />
nossos, como os saudosos João Urbano e Margarida<br />
Bentes, se alterou o sistema de financiamento. Mais<br />
tarde, em 2002, a criação dos Hospitais SA, veio revolucionar<br />
a gestão hospitalar em Portugal. A ideia de<br />
que se tornava indispensável dar a estas instituições<br />
níveis significativos de autonomia e responsabilidade<br />
e, simultaneamente, a agilidade necessária para adaptações<br />
permanentes que as tornassem competitivas, perante<br />
um ambiente de instalação crescente de unidades<br />
privadas na área da saúde, foi determinante para uma<br />
mudança radical nos processos gestionários. Esta foi,<br />
a meu ver, a época mais rica, interessante e altamente<br />
motivadora para os profissionais, já que foi possível<br />
relacionar a remuneração com níveis de desempenho<br />
e resultados, foi possível introduzir sistemas de acreditação<br />
para garantia da qualidade e realizar investimentos<br />
sempre que se considerassem prioritários por gerarem<br />
ganhos em saúde. A transformação da natureza jurídica<br />
destas instituições em entidades públicas empresariais<br />
(EPE) não teve alterações significativas numa primeira<br />
fase mas, paulatinamente, foram-se perdendo as principais<br />
características da gestão empresarial, nomeadamente<br />
através da perda da autonomia e da capacidade<br />
de manter o nível de motivação dos profissionais dada<br />
a impossibilidade de relacionar o desempenho com a remuneração<br />
e a produtividade e os resultados com o orçamento.<br />
Nessa altura deu-se um movimento de concentração<br />
com a criação de inúmeros Centros <strong>Hospitalar</strong>es<br />
visando gerar uma economia de meios e uma melhor<br />
rentabilização das estruturas. Lamentavelmente<br />
nenhum destes modelos foi avaliado tanto na sua vertente<br />
económica como na vertente assistencial. Ao longo<br />
dos tempos manteve-se a matriz hospitalocêntrica<br />
do nosso modelo de prestação de cuidados. Este modelo<br />
não favorece os cuidados de proximidade contribuindo<br />
para o crescimento da despesa, sem que os ganhos<br />
em saúde ocorram na mesma proporção. É imperioso<br />
fazer uma reforma profunda no modelo de prestação<br />
de cuidados de saúde que tenha em conta as características<br />
socio-demográficas da população e a uti- }<br />
24 25
GH entrevista<br />
lização racional e adequada dos recursos existentes.<br />
Porque não concentrar competências e diferenciação<br />
tecnológica e profissional num número mais reduzido<br />
de hospitais, convertendo os restantes em unidades de<br />
cuidados de proximidade com uma diferente panóplia<br />
de serviços partilhados por cuidados primários e hospitalares?<br />
Porque não construir uma cultura de meritocracia<br />
premiando níveis de desempenho associados aos<br />
resultados? Na minha opinião tem de ser alterada a visão<br />
administrativista e espartilhada por regras obsoletas<br />
que, como temos visto e sentido, em nada fomentam<br />
uma visão empresarial, o empreendedorismo e a motivação<br />
dos atores. Com este novo enfoque promovese,<br />
naturalmente, um maior nível de exigência, de rigor<br />
e competitividade positiva no Sistema de Saúde.<br />
Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) prosseguem<br />
com fortes restrições à sua autonomia que<br />
limitam a capacidade gestionária dos seus Conselhos<br />
de Administração. Contudo, os Secretários de Estado<br />
do Tesouro e Adjunto e da Saúde assinaram, a 21<br />
de junho, o despacho conjunto que enquadra o processo<br />
de reforço da autonomia de gestão das entidades<br />
públicas empresariais do SNS. Como Administradora<br />
<strong>Hospitalar</strong>, no seu entender qual o impacto deste<br />
despacho no dia-a-dia dos gestores de serviços de<br />
saúde, com funções de gestão de topo e intermédia,<br />
das instituições que por ele são abrangidas?<br />
Não creio que este despacho conjunto, assinado em 21<br />
de junho pelas Finanças e Saúde, possa produzir efeitos<br />
na gestão dos hospitais EPE a curto prazo. Constitui<br />
seguramente uma intenção louvável e um passo importante<br />
embora pudesse ter ido mais longe, pois, não prevê<br />
a possibilidade de negociar níveis de remuneração<br />
dos profissionais relacionados com a produtividade e os<br />
resultados. O SNS fica com poucos instrumentos para<br />
reter talentos que são absolutamente indispensáveis,<br />
não só para fomentar o “espírito de pertença”, mas<br />
também garantir um ambiente sereno e de menor incerteza<br />
neste setor e um melhor desempenho no cumprimento<br />
da necessidade de elevar os níveis de acesso<br />
aos cidadãos e oferecer atempadamente os cuidados<br />
que os nossos utentes precisam. Acredito que seja<br />
o passo seguinte.<br />
Ainda a este respeito, considera que a autonomia para<br />
a contratação e substituição de recursos humanos,<br />
bem como para a realização de investimentos aprovados,<br />
poderá refletir-se, per si, necessariamente em<br />
resultados positivos?<br />
Considero que a concretização da autonomia prevista<br />
neste diploma fica dependente do tempo e do modo<br />
como decorrerá todo este processo. A aprovação<br />
do PAO, do Contrato Programa e do Contrato de<br />
<strong>Gestão</strong> dos membros dos CA não pode ser demasiado<br />
longo nem implicar uma burocracia demasiado<br />
pesada. Por um lado, fico com dúvidas relativamente<br />
às questões emergentes e muitas vezes imprevisíveis<br />
que acontecem no quotidiano destas Instituições. Depreendo<br />
que só o previsto e aprovado é que fazem<br />
parte da recuperação da autonomia! É preciso libertar<br />
a gestão hospitalar de dificuldades desnecessárias. A agilização<br />
inteligente de todo este processo vai determinar<br />
o maior ou menor grau de sucesso e o impacto na<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>. Por outro lado, importa sublinhar<br />
que é minha convicção que a competência e o empenho<br />
dos órgãos de gestão é, ela também, a grande força<br />
transformadora que permitirá um melhor desempenho<br />
e influenciar decisiva e positivamente o poder político.<br />
Sobretudo numa era em que a saúde mental é reconhecidamente<br />
uma prioridade, quer ao nível de programas<br />
de saúde nacional, regionais e locais, quer ao nível<br />
dos diversos parceiros da comunidade, qual a estratégia<br />
que se definiu para que o Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
Psiquiátrico de Lisboa continue a ser uma referência<br />
na resposta aos desafios desta área da saúde pública?<br />
A Saúde Mental é sim reconhecidamente uma área<br />
com um impacto muito relevante na saúde das pessoas<br />
e consequentemente nas relações na comunidade<br />
e na sociedade. No entanto, continua a ser o “parente<br />
pobre” do SNS, pois não tem sido tratada nem como<br />
importante, nem como prioritária em termos de<br />
investimento, tanto ao nível das infraestruturas como<br />
ao nível dos recursos humanos e materiais. Acredito<br />
que o caminho tem de ser construído com uma discriminação<br />
positiva alocando verbas específicas para<br />
concretizar os Planos Nacional, Regionais e Locais de<br />
Saúde Mental. A concretização destes Planos implica<br />
também a construção e aplicação de indicadores de<br />
desempenho desta área, com unidades de medida concretas,<br />
que permitam comparar, monitorizar e avaliar<br />
os Serviços de Saúde Mental. Só assim podemos ser<br />
rigorosos na sua implementação e desenvolvimento,<br />
traçando objetivos concretos, nomeadamente de eficiência<br />
e eficácia, permitindo realizar uma adequada avaliação<br />
de resultados. O CHPL desenvolve a sua atividade<br />
assistencial tratando os doentes agudos e os residentes<br />
e apostando fortemente no tratamento em ambulatório,<br />
que se consubstancia, para além do seguimento<br />
em consultas, hospital de dia, centro de dia, também no<br />
apoio domiciliário e apoio comunitário. O CHPL definiu<br />
quatro eixos prioritários de atuação: A reabilitação<br />
psicossocial, os cuidados na comunidade, a psiquiatria<br />
geriátrica e a Alcoologia e novas Dependências. Importa<br />
realçar a área da reabilitação psicossocial que é uma<br />
atividade que seguramente nos diferencia das demais<br />
instituições. Nesta área destacamos a Unidade de Terapia<br />
Ocupacional, com vários ateliers tais como Carpintaria,<br />
Artes Plásticas, Cerâmica, Fotografia, Papel, Lavandaria,<br />
Culinária, Costura, Cabeleireiro e Jardinagem.<br />
Existe ainda o Grupo de Teatro Terapêutico, a Dançaterapia,<br />
a Unidade de Formação Profissional e de Emprego<br />
Protegido e a Rádio Aurora. Todos estes ateliers<br />
têm em vista a reabilitação dos doentes de forma a proporcionar-lhes<br />
o máximo de autonomia nas suas atividades<br />
de vida diária e na participação social, de forma a<br />
tornar possível a sua reinserção no mundo do trabalho<br />
“<br />
O CHPL DESENVOLVE A SUA<br />
ATIVIDADE ASSISTENCIAL<br />
TRATANDO OS DOENTES AGUDOS<br />
E OS RESIDENTES E APOSTANDO<br />
FORTEMENTE NO TRATAMENTO<br />
EM AMBULATÓRIO.<br />
”<br />
e na comunidade. Para isso também existem várias residências<br />
com níveis diferentes e progressivos de apoio<br />
ao treino de vida autónoma. Para além das residências<br />
dentro do Centro <strong>Hospitalar</strong>, existem três na comunidade<br />
nas freguesias de Alvalade e Marvila. Os resultados<br />
têm sido animadores, muito embora nos deparemos<br />
frequentemente com a dificuldade de conseguir<br />
casas com rendas acessíveis onde colocar estes doentes<br />
em fase posterior, quando capazes de se inserirem de<br />
novo na comunidade. Estamos a tentar desenvolver<br />
um programa concreto que dê resposta a esta questão,<br />
com a Junta de Freguesia de Alvalade, com a Paróquia<br />
do Campo Grande, com a Câmara Municipal de<br />
Lisboa e com outros parceiros que apoiam este programa.<br />
Quanto aos cuidados na comunidade temos<br />
sete Núcleos de Intervenção Comunitária que prestam<br />
cuidados de proximidade e desenvolvem atividades de<br />
apoio, reabilitação e ocupação de tempos livres. Pretende-se<br />
com isto acompanhar o mais de perto possível os<br />
utentes na transição para a comunidade garantindo respostas<br />
integradas e especializadas no contexto sóciocultural<br />
dos utentes, assegurando também a integração<br />
da Psiquiatria e Saúde Mental nas estruturas locais de<br />
saúde. O terceiro eixo prioritário é a Psiquiatria Geriátrica<br />
que assume um papel cada vez mais necessário face<br />
ao aumento da esperança de vida e ao consequente<br />
envelhecimento da população, com uma percentagem<br />
de população idosa sempre crescente. É vocacionada<br />
para o tratamento das demências e patologia psiquiátrica<br />
do idoso. Nesta população verifica-se um aumento<br />
dramático da incidência de doenças neurodegenerativas.<br />
Este serviço é dotado de uma equipa multidisciplinar<br />
que proporciona o suporte no internamento }<br />
26 27
GH entrevista<br />
e desenvolve uma intensa atividade ao nível dos cuidados<br />
ambulatórios. O quarto eixo prioritário é a Alcoologia<br />
e novas dependências nomeadamente o tratamento<br />
de doentes com co-morbilidades psiquiátricas<br />
associadas. O aumento das taxas de prevalência de consumo<br />
de álcool e o crescimento do número de doentes<br />
com novas dependências como o uso problemático<br />
da internet e de videojogos justificam esta prioridade.<br />
Relativamente à integração de cuidados, como descreve<br />
a articulação dos cuidados especializados de saúde<br />
mental com os cuidados de saúde primários e/ou<br />
outros setores conexos? Pode-nos dizer em que medida<br />
tem o Centro <strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico de Lisboa<br />
sido um dinamizador desta integração, para a qual se<br />
pressupõe a criação de valor para as instituições de<br />
saúde e para o doente? Poderá, se possível, dar um<br />
exemplo que considere passível de replicação noutras<br />
instituições hospitalares?<br />
O CHPL está sempre aberto ao desenvolvimento<br />
de parcerias onde se partilham recursos, diminuindo<br />
a despesa com ganhos para os doentes e que sejam<br />
enriquecedoras para os profissionais. Sem ser minimamente<br />
exaustiva e a título meramente exemplificativo<br />
refiro que temos protocolos com a Câmara de Mafra<br />
e com o Centro de Saúde onde se partilham efetivamente<br />
os recursos. O espaço é cedido pela Câmara<br />
e os recursos são partilhados com o Centro de Saúde.<br />
Em Sacavém estamos a abrir um núcleo com o mesmo<br />
modelo. Em Sintra temos também protocolos idênticos.<br />
Estes protocolos facilitam e agilizam o tratamento<br />
e encaminhamento do doente atempadamente, quer<br />
para os cuidados de Medicina Geral e Familiar, quer<br />
para os Cuidados Psiquiátricos. Temos ainda desenvolvido<br />
um programa único com a Câmara Municipal<br />
de Lisboa e a SCML e ISS, IP., ARS e muitos outros<br />
parceiros sociais, denominado NPISA (Núcleo de Planeamento<br />
e Intervenção Sem-Abrigo) que visa intervir<br />
junto dos sem abrigo da cidade detetando problemas<br />
psiquiátricos ou ao nível das dependências que se verifiquem<br />
nesse grupo. O CHPL disponibiliza uma equipa<br />
que se desloca pela cidade e funciona como retaguarda<br />
para o follow up através de uma consulta aberta ou<br />
internamento dos casos que dele necessitem. Temos<br />
ainda uma Unidade Partilhada com o Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
e Universitário de Lisboa Central para adolescentes<br />
e jovens adultos (pedopsiquiatria e psiquiatria) cujo funcionamento<br />
é assegurado nas instalações do CHPL com<br />
equipas das duas instituições. Pretende-se criar um contínuo<br />
de cuidados que assegure, numa eventual crise<br />
que muitas vezes ocorre na transição para a idade adulta,<br />
a proteção e o tratamento do doente o mais cedo possível,<br />
prevenindo que a doença se instale e se torne crónica.<br />
Este projeto é extremamente desafiante na medida<br />
em que tira os profissionais da sua zona de conforto<br />
e os faz partilhar e desenvolver em conjunto as suas<br />
competências. Citei apenas alguns dos imensos exemplos<br />
que fazem do CHPL uma instituição aberta, parceira<br />
de tantos e tão variados protagonistas da comunidade<br />
com o objetivo sempre presente de melhorar o<br />
acesso e facilitar a vida daqueles que necessitam de nós.<br />
Na sua opinião, o que tem falhado na implementação<br />
de respostas efetivas aos principais problemas de saúde<br />
mental da população, que favoreça uma abordagem<br />
de intervenção transversal e o envolvimento de<br />
todos os intervenientes, desde os prestadores de cuidados<br />
de saúde formais e informais, ao envolvimento<br />
de toda a sociedade?<br />
O principal obstáculo, que subsiste, é o estigma e preconceito<br />
social que infelizmente ainda existe relativamente<br />
à doença mental. Foi ele que esteve na base<br />
do relativo abandono a que foram votadas, ao longo<br />
de décadas, as instituições de Saúde Mental. Os doentes<br />
mentais foram durante muito tempo “escondidos”<br />
e esquecidos e talvez por isso não se criou uma rede de<br />
cuidados que suportasse as várias fases do tratamento<br />
e da reabilitação, bem como a reinserção na sociedade.<br />
Ainda hoje temos doentes institucionalizados há muitos<br />
anos, embora atualmente em muito menor número.<br />
Muito recentemente foi criada a Rede de Cuidados<br />
Continuados para a Saúde Mental que infelizmente<br />
é ainda muito incipiente. Era fundamental encontrar<br />
respostas na Comunidade que pudessem rentabilizar<br />
o investimento feito pelos hospitais no tratamento,<br />
através da disponibilização de alojamentos que permitissem<br />
a reinserção social sempre que estejam criadas as<br />
condições necessárias para uma vida autónoma, já que,<br />
na sua maioria, estes doentes dificilmente têm apoio<br />
familiar. De facto, as famílias estão muitas vezes desestruturadas<br />
e incapazes de lidar com a situação, para a<br />
qual não têm nem recursos, nem apoios, nem os instrumentos<br />
que permitam reintegrar o doente no meio<br />
familiar. É importante perceber que a Rede de Cuidados<br />
a desenvolver para esta área tem características<br />
que a diferencia significativamente das tradicionais redes<br />
de cuidados continuados. Com efeito esta rede pressupõe<br />
a existência de alojamentos, a disponibilização de<br />
emprego protegido, e uma capilaridade que permita<br />
que os doentes não tenham de ser desinseridos do<br />
seu meio ambiente. Importa referir que esta questão<br />
extravasa o âmbito do Ministério da Saúde, havendo<br />
um papel determinante a ser cumprido pelo Ministério<br />
do Trabalho e Segurança Social. Existem, é justo referir,<br />
parcerias com outras entidades, nomeadamente do setor<br />
social, que podem e devem ser aprofundadas.<br />
Tendo em consideração a sua coordenação do grupo<br />
de trabalho criado pelo Despacho n.<strong>º</strong> 13585-A/2016,<br />
de 10 de novembro, que veio proceder à análise, revisão<br />
e implementação da carreira de administração<br />
hospitalar, como explica a atual ausência de regulamentação<br />
no acesso à profissão de Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong> e, por inerência, à carreira? O que tem faltado<br />
para que este desígnio se torne uma realidade?<br />
Temos de reconhecer que todas as carreiras da área da<br />
saúde foram secundarizadas com as alterações do estatuto<br />
dos hospitais. A criação dos Hospitais SA e a subsequente<br />
transformação em EPE, bem como o regime<br />
de contrato individual de trabalho que passou a vigorar,<br />
levou a que, durante muitos anos, as carreiras permanecessem<br />
sem dinâmica. A carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> não foi exceção. Face ao desenvolvimento<br />
recente que as carreiras têm tido, acredito que também<br />
a carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> seja rapidamente<br />
revista. O anterior ministro da saúde solicitou ao<br />
grupo de trabalho a que presidi uma proposta de revisão<br />
da carreira que tivesse em conta a nova realidade.<br />
O trabalho foi produzido e entregue mas infelizmente<br />
ainda não foi discutido. Não creio que seja por falta de<br />
vontade política mas sim de oportunidade. O reconhecimento<br />
da competência dos profissionais de AH não<br />
está em causa, já que têm um papel cada vez mais relevante<br />
na administração de serviços de saúde. É bom recordar<br />
que em regra os Conselhos de Administração/<br />
Conselhos Diretivos integram estes profissionais na sua<br />
composição por nomeação da tutela. Se olharmos para<br />
“<br />
ESTA É UMA PROFISSÃO<br />
VERDADEIRAMENTE APAIXONANTE,<br />
QUE EXIGE GRANDE DEDICAÇÃO,<br />
ENORME SENSIBILIDADE,<br />
FORMAÇÃO CONTÍNUA<br />
E PROFUNDO RIGOR.<br />
”<br />
o setor privado da área da saúde vemos exatamente<br />
o mesmo: administradores hospitalares com funções de<br />
topo e intermédias nessas estruturas, um sinal claro de<br />
que são reconhecidamente competentes para a gestão<br />
de serviços de saúde quer no setor público, quer no<br />
setor privado. Importa pois sensibilizar os governantes<br />
para a necessidade de rapidamente se concretizar a revisão<br />
e aprovação da carreira.<br />
Por último, que conselho daria a um Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong> em início de carreira, que hoje ingressasse<br />
numa instituição hospitalar?<br />
Esta é uma profissão verdadeiramente apaixonante, que<br />
exige grande dedicação, enorme sensibilidade, formação<br />
contínua e profundo rigor. Por isso diria que quem<br />
nela ingresse tem necessariamente de ter um espírito<br />
empreendedor, ter a noção de que o curso é apenas<br />
um meio e não um fim em si mesmo, apostar na permanente<br />
atualização de conhecimentos, não permanecer<br />
numa zona de conforto e estar permanentemente<br />
atento às mudanças e à inovação. Aconselharia que<br />
desenvolvesse a sua capacidade negocial, que conhecesse<br />
muito bem o terreno, não permanecendo fechado<br />
nos gabinetes e que fosse criativo e exigente, desenvolvendo<br />
a inteligência emocional. A sua gestão deve basear-se<br />
em conhecimentos técnicos bem alicerçados,<br />
fundamentando solidamente as suas decisões, divulgando<br />
e discutindo permanentemente os objetivos, focando-se<br />
com ambição e inteligência nos resultados e na<br />
qualidade dos mesmos e desenvolvendo a investigação.<br />
Nunca me arrependi, nem por um minuto que fosse, de<br />
nela ter ingressado. Ã<br />
28 29
GH registos clínicos<br />
REGISTOS CLÍNICOS,<br />
CODIFICAÇÃO,<br />
FINANCIAMENTO: QUE<br />
TRIÂNGULO QUEREMOS TER?<br />
Maria José Costeira<br />
Médica, Consultora de Neonatologia<br />
Espera-se do Serviço Nacional de Saúde<br />
(e dos hospitais do SNS) que satisfaça<br />
as necessidades em saúde da<br />
população, de uma forma integrada,<br />
equitativa e tendencialmente gratuita<br />
(Lei 48/90 de 24 de agosto, base XII). Contudo, um<br />
sistema de saúde para subsistir e evoluir tem de ter<br />
sustentabilidade financeira e, a nível mundial, a despesa<br />
em saúde tem vindo a aumentar significativamente,<br />
o que condiciona a viabilidade dos sistemas e conduz<br />
a imperiosas mudanças na gestão, financiamento e<br />
contratualização das instituições.<br />
Em Portugal, nos últimos anos, passou-se de um modelo<br />
de financiamento com base nos custos históricos<br />
para um pagamento que financia a atividade realizada/<br />
/contratualizada, sendo feito o pagamento por ato/episódio<br />
em várias linhas de produção, medida em “unidades”<br />
de Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH);<br />
associado a este pagamento pelo montante de atividade<br />
produzida foram introduzidos, sobretudo desde 2012,<br />
indicadores do âmbito da qualidade e segurança dos<br />
doentes, mas também estes em estreita relação com a<br />
classificação dos doentes nos GDH. A tutela (Ministério<br />
da Saúde/ACSS) utiliza a informação dos GDH para o<br />
planeamento, alocação e organização dos recursos, sendo<br />
os hospitais financiados e o seu desempenho medi-<br />
do, comparado e monitorizado mediante, uma vez mais,<br />
a classificação da atividade nos GDH, feita com base<br />
na codificação que, por sua vez, recolhe a informação<br />
nos registos clínicos efetuados pelos médicos na prestação<br />
de cuidados aos doentes.<br />
Assim, poder-se-á dizer que a sustentabilidade financeira<br />
de qualquer hospital assenta em dois pilares: registos<br />
clínicos, que traduzam com rigor a qualidade dos cuidados<br />
prestados e os recursos consumidos; e a codificação<br />
clínica dos diagnósticos e procedimentos efetuados,<br />
realizada de forma fiel e exaustiva, devendo estas áreas<br />
ser objeto de particular atenção e intervenção pelos<br />
órgãos de gestão.<br />
Evolução dos sistemas de classificação de doentes<br />
em Portugal<br />
Existem vários sistemas de classificação e agrupamento<br />
dos doentes internados em hospitais de agudos, sendo<br />
os GDH um dos mais utilizados. Este sistema remonta<br />
às décadas de 60/70 nos EUA, em que o objetivo era<br />
classificar doentes em grupos relativamente homogéneos<br />
do ponto de vista das características clínicas e dos<br />
recursos alocados, identificando variáveis com maior<br />
efeito no consumo de recursos, permitindo assim comparar<br />
os hospitais. A cada grupo é associado um peso<br />
relativo, ie, um coeficiente de ponderação que reflete<br />
o custo esperado com o tratamento de um doente típico<br />
agrupado nesse GDH, expresso em termos relativos,<br />
face ao custo médio do doente típico a nível nacional.<br />
O Índice de Case Mix de um hospital resulta assim<br />
do rácio entre o número de doentes equivalentes<br />
ponderados pelos pesos relativos dos respetivos GDH<br />
e o número total de doentes equivalentes.<br />
Os GDH foram introduzidos em Portugal, em 1989,<br />
utilizando posteriormente a Classificação Internacional<br />
das Doenças, 9ª Revisão, Modificação Clínica (ICD-9-<br />
CM). Tendo como pressuposto a aproximação da clas-<br />
sificação dos doentes à perspetiva clínica (características<br />
clínicas comuns, similitude nos consumos, alocação<br />
de recursos com variação mínima) a ICD-9-CM evoluiu<br />
para a versão 10 (criada pela OMS) e adaptada pelos<br />
EUA para a versão ICD-10-CM/PCS. Em Portugal, foi<br />
decidida a sua implementação a partir de 01/01/16 1 ,<br />
sendo criada uma equipa de projeto, com competências,<br />
responsabilidades e cronograma definidos; contudo,<br />
a sua introdução foi protelada para 01/01/<strong>17</strong> 2, 3<br />
e as atividades planeadas para a transição não se encontram<br />
ainda terminadas. Esta necessidade de mudança<br />
foi determinada pelo facto da ICD-10-CM/PCS<br />
caracterizar melhor a morbilidade hospitalar, permitindo<br />
modelos de financiamento mais equitativos,<br />
devendo Portugal também acompanhar as tendências<br />
internacionais (utilização da ICD-10-CM/PCS) de forma<br />
a que a morbilidade, indicadores e financiamento<br />
pudessem ser comparáveis.<br />
Depois da recolha dos elementos clínicos e posterior<br />
classificação em linguagem de codificação clínica, os códigos<br />
são introduzidos num “agrupador informático”<br />
(aplicação informática que contém os algoritmos necessários<br />
para agrupar os registos codificados), bem como<br />
um conjunto de variáveis “administrativas”, como<br />
o sexo, idade, peso de nascimento (no caso de recém-<br />
-nascidos) e destino após a alta, sendo os resultados<br />
expressos em Grupos de Diagnósticos Homogéneos,<br />
os quais se repartem em 26 grandes categorias diagnósticas.<br />
Em Portugal, utilizaram-se vários agrupadores<br />
ao longo dos anos, sendo que desde 01/10/2013 estava<br />
em uso o agrupador AP-DRG 27, tendo sido alterado<br />
para o APR-DRG em 01/01/15 4 .<br />
A mudança do agrupador AP27 para APR-DRG (atualmente<br />
na versão 31), implicou a revisão e redefinição<br />
dos doentes equivalentes, demora hospitalar, pesos relativos<br />
para cada GDH, tabela de preços, sendo que a<br />
maior parte dos hospitais sofreu variação (diminuição)<br />
do seu ICM global e, por mudança do conceito de pequena<br />
cirurgia, um aumento do ICM de ambulatório<br />
cirúrgico 5 . Este agrupador apresenta maior rigor e<br />
poder discriminativo da morbilidade hospitalar, subdividindo<br />
cada GDH em quatro níveis de severidade, em<br />
vez dos três níveis prévios do AP-DRG 27, bem como<br />
em quatro níveis de risco de mortalidade. A severidade<br />
correlaciona-se com os diagnósticos adicionais, para<br />
além do diagnóstico principal, e com o consumo de recursos<br />
usados para tratamento dos doentes, sendo que<br />
a mortalidade reflete a probabilidade de ocorrência de<br />
óbito. Esta mudança de agrupador foi orientada, apoiada<br />
e monitorizada pela ACSS, sendo referido que a<br />
SPMS procederia posteriormente à adaptação dos sistemas<br />
de informação 3, 6 , situação essa ainda em curso. }<br />
30 31
GH registos clínicos<br />
Por seu turno, a introdução da ICD-10 (ICD-10-CM/<br />
/PCS) funcionou como uma revolução e um desafio<br />
à atividade de codificação, dado o enorme rigor, especificidade<br />
e discriminação da mesma; o número de<br />
códigos aumentou drasticamente (90000 versus os<br />
14000 da ICD-9-CM), bem como o número de procedimentos,<br />
tendo existido inclusivamente uma reformulação<br />
da sua metodologia de codificação (72000<br />
versus os 4000 existentes na ICD-9-CM), melhorando<br />
significativamente a caracterização da morbilidade<br />
hospitalar - este aumento do rigor e discriminação<br />
necessários à correta classificação só são possíveis, naturalmente,<br />
se a informação clínica estiver presente de<br />
forma clara, precisa e detalhada... A ACSS orientou,<br />
em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
a formação dos médicos codificadores, tendo sido<br />
feito um investimento considerável na formação de<br />
novos elementos e atualização dos médicos que já<br />
exerciam essa atividade previamente.<br />
Refira-se ainda que, em 2013, foi introduzido um indicador<br />
que permite monitorizar a qualidade dos cuidados<br />
prestados: o indicador PNA - Presente Na Admissão 7 .<br />
Este indicador permite identificar e discriminar quais as<br />
condições que o doente apresenta no momento da<br />
admissão e adquiridas na comunidade, das desenvolvidas<br />
ao longo do internamento, sejam como complicações,<br />
iatrogenia, efeitos secundários e eventos adversos,<br />
sendo exemplos as infeções associadas aos cuidados<br />
de saúde, úlceras de decúbito ou fraturas pós admissão<br />
hospitalar.<br />
Uniformização e consensualização da codificação<br />
clínica<br />
Apesar da codificação clínica proporcionar a uniformização<br />
da informação clínica é, em si mesma, uma atividade<br />
pouco estandardizada, subjetiva, propensa ao<br />
erro e com fraca consistência, havendo estudos que<br />
apontam variações entre 42-73% 8-10 ; por esses motivos<br />
a própria ICD-10-CM/PCS tem com um conjunto de<br />
orientações gerais e específicas para cada capítulo (“IC-<br />
D-10-CM Official Guidelines for Coding and Reporting“),<br />
que apoiam a codificação e, periodicamente, são feitas<br />
atualizações e esclarecimentos (“guidelines”). Na formação,<br />
desenvolvimento e esclarecimento da ICD-10-CM/<br />
PCS intervêm instituições como a American Hospital<br />
Association (responsável pela publicação do “Coding<br />
Clinic” e “ICD-10-CM and ICD-10-PCS Coding Handbook”),<br />
a American Health Information Management<br />
Association (a principal associação americana nesta<br />
área, com publicação de jornais, newsletters e cursos online),<br />
a Centers for Medicare & Medical Services e National<br />
Center for Health Statistics.<br />
Apesar destas normalizações propostas e impostas pela<br />
ICD-10-CM/PCS, a maior parte dos países reconhece<br />
a necessidade de criar consensos nacionais e de estabelecer<br />
uma política de codificação clínica, com o objetivo<br />
de promover a boa prática de codificação e a<br />
consistência dos resultados. Em Portugal, os recursos<br />
disponibilizados aos médicos codificadores e a normalização<br />
da atividade de codificação são mais limitados,<br />
sendo de destacar, entre outros: o Portal da Codificação<br />
Clínica e dos GDH (ativo entre 2009 e 2014, em<br />
versão ICD-9-CM pelo que atualmente inacessível, não<br />
existindo ainda o equivalente em ICD-10-CM/PCS); as<br />
atividades desenvolvidas pela Associação dos Médicos<br />
Auditores e Codificadores Clínicos (nomeadamente<br />
realização de congressos anuais dedicados à codificação<br />
clínica e estabelecimento de consensos, bem como<br />
ações formativas em codificação clínica, com o patrocínio<br />
da Ordem dos Médicos); os seminários de codificação<br />
clínica mensais realizados pelo Departamento<br />
de Medicina da Comunidade Informação e Decisão e<br />
Saúde (MEDCIDS) da FMUP e o Fórum Codificação<br />
Global. As orientações e normalização da codificação<br />
clínica na versão ICD-10-CM/PCS, política de codificação,<br />
auditorias à qualidade dos registos e formação de<br />
médicos auditores de codificação clínica, atividades da<br />
inteira responsabilidade da ACSS têm sido algo ténues.<br />
O recentemente criado “Grupo de Trabalho de<br />
Apoio à Codificação Clínica” da ACSS 11 terá um papel<br />
crucial no estabelecimento de orientações e na vinculação<br />
a consensos. Igualmente importante será o seu<br />
papel na uniformização dos procedimentos, evitando<br />
a variação de atitudes entre os hospitais e entre os<br />
próprios médicos codificadores. A título exemplificativo,<br />
refiro dois aspetos que merecerão normalização,<br />
dada a possibilidade de grande variação na sua codificação:<br />
as guidelines da ICD-10-CM/PCS preveem<br />
que num procedimento realizado com apoio de ecografia,<br />
a mesma possa ser codificada de acordo com<br />
“a política da instituição”; a oxigenoterapia é referida<br />
pelo Coding Handbook como um “procedimento de<br />
caráter não obrigatório” ("Hospitals can choose to code<br />
the administration of oxygen. However, it is not necessary<br />
to report this procedure, and many hospitals may opt not<br />
to code it.”), pelo que cabe a cada instituição definir se<br />
deve ser valorizada, sendo que, para todos os efeitos,<br />
o oxigénio é um medicamento...<br />
Morbilidade hospitalar e avaliação do desempenho<br />
das instituições<br />
A informação relativa aos GDH de todos os hospitais<br />
do SNS é recolhida de forma a integrar a base de dados<br />
da morbilidade hospitalar (Sistema de Informação da<br />
“<br />
A ATIVIDADE DE CONTROLO<br />
DAS INSTITUIÇÕES E DA ACSS<br />
PASSA, OBRIGATORIAMENTE,<br />
PELA REALIZAÇÃO<br />
DE AUDITORIAS À QUALIDADE<br />
DA CODIFICAÇÃO CLÍNICA.<br />
”<br />
Morbilidade <strong>Hospitalar</strong> - SIMH). O SIMH foi desenvolvido<br />
no sentido de responder a uma série de requisitos:<br />
possibilidade de integração de dados administrativos<br />
de vários sistemas, que a codificação do episódio fosse<br />
feita diretamente na aplicação, o envio automático dos<br />
dados para o sistema de faturação, bem como dispor<br />
de um módulo de apoio à codificação clínica, sistema<br />
de pesquisa de códigos de diagnóstico por índice e de<br />
procedimentos por construção em cascata; contudo, o<br />
seu funcionamento a pleno pressupõe: a inclusão de<br />
alertas de não-conformidades (ainda em reduzido número,<br />
face aos <strong>17</strong>7 alertas do programa Auditor, ferramenta<br />
prévia descontinuada em 2013), a não-interrupção<br />
da sua atividade (esteve inoperacional cerca de dois<br />
meses no início de <strong>2019</strong>, impedindo o agrupamento<br />
dos episódios codificados), a ligação a outras aplicações<br />
informáticas hospitalares como o SONHO, SIGLIC e<br />
SClínico (somente neste momento em vias de implementação<br />
em vários hospitais), tendo de haver substituição<br />
da ICD-9-CM pela ICD-10-CM/PCS nestas aplicações,<br />
com a consequente formação aos utilizadores,<br />
situação ainda não acautelada em muitas instituições -<br />
procedimentos estes todos previstos no Ofício Circular<br />
da ACSS em 20<strong>17</strong> 12 e ainda não finalizados.<br />
A atividade de monitorização e benchmarking das instituições<br />
é concretizada pelo BIMH (Business Intelligence<br />
da Morbilidade <strong>Hospitalar</strong>), o qual permite que cada<br />
instituição tenha acesso aos seus dados codificados,<br />
bem como aos das outras instituições. Os dados clínicos<br />
codificados são relevantes para a classificação<br />
dos doentes, avaliação do desempenho dos hospitais,<br />
definição de metodologias de custeio e modelos de<br />
financiamento, estudos epidemiológicos, avaliação da<br />
qualidade e segurança dos cuidados prestados, entre<br />
outros objetivos. No caso concreto, a informação do<br />
BIMH permite a avaliação do desempenho (e da qualidade)<br />
das instituições e o benchmarking das mesmas,<br />
ajustando sempre os resultados ao risco, destacando,<br />
uma vez mais, o papel crucial da ACSS na monitorização<br />
dos indicadores a nível nacional (e internacional).<br />
Dada a necessidade de acompanhamento dos resultados<br />
e do desempenho das instituições, alguns hospitais<br />
portugueses têm ainda optado por soluções privadas<br />
como a IASIST, em que a monitorização dos indicadores<br />
e benchmarking são feitos entre os hospitais aderentes<br />
nacionais e espanhóis.<br />
A atividade de controlo das instituições e da ACSS<br />
passa, obrigatoriamente, pela realização de auditorias<br />
à qualidade da codificação clínica, dado que o agrupamento<br />
incorreto (por excesso ou por defeito) dos<br />
diagnósticos e procedimentos realizados pode ter consequências<br />
no Índice de Case Mix e no montante de financiamento<br />
recebido. Nos hospitais, a monitorização<br />
e controlo da atividade desenvolvida é da responsabilidade<br />
dos conselhos de administração, os quais têm<br />
a responsabilidade da gestão corporativa (“corporate<br />
governance”), assegurando o cumprimento da lei, políticas,<br />
regulamentações e prestações de contas, a par<br />
da gestão clínica (“clinical governance”), cujo foco primordial<br />
é assegurar a prestação de cuidados com qualidade<br />
e segurança, pelo que, uma vez mais, se destaca<br />
a importância da codificação clínica como instrumento<br />
de avaliação da produção, qualidade e financiamento<br />
dos hospitais 13 .<br />
Responsabilidades dos médicos (clínicos) e codificadores<br />
A classificação dos doentes pela ICD-10-CM/PCS implica<br />
um rigor e complexidade, que não estarão a ter<br />
a devida atenção por todos os intervenientes no processo<br />
(ACSS, conselhos de administração, médicos codificadores/auditores<br />
e médicos prestadores de cuidados<br />
e responsáveis pela elaboração da informação clínica),<br />
embora a questão seja reiteradamente alertada<br />
e discutida, inclusivamente neste espaço 5 .<br />
Em relação aos médicos responsáveis pela prestação de<br />
cuidados há, historicamente, uma grande resistência (ou<br />
indiferença) pela elaboração de registos adequados e<br />
fidedignos, que transmitam com rigor e exatidão o nível<br />
de cuidados prestados, bem como insuficiente alocação<br />
de tempo para esta tarefa, não compreensão e subva- }<br />
32 33
GH registos clínicos<br />
lorização do papel crítico desempenhado pelos registos<br />
médicos, apesar da sua obrigatoriedade estar prevista<br />
no Art 100 do Código Deontológico Médico 14 .<br />
As mudanças e desafios dos últimos anos, sobretudo<br />
via processo clínico eletrónico (com o recurso excessivo<br />
ao copy and paste, escrita sintética e abreviaturas),<br />
também não têm propiciado que os médicos colaborem<br />
muito, sendo que as aplicações informáticas são<br />
pouco amigáveis, nem parecendo ser construídas com<br />
o intuito de servir os utilizadores 5, 15 .<br />
Por outro lado, a formação feita aos médicos sobre<br />
os dados relevantes (e obrigatórios) a constar do processo<br />
clínico continua a ser insuficiente. Para além do<br />
diagnóstico principal (aquele que, depois do estudo do<br />
doente, é considerado responsável pela sua admissão<br />
no hospital para tratamento/investigação, podendo ser,<br />
ou não, o mais grave), é também necessário referir todas<br />
as situações que tenham tido impacto no nível de<br />
cuidados (diagnósticos adicionais). A título de exemplo,<br />
se um doente é internado num Serviço de Ortopedia<br />
por uma fratura do colo do fémur, motivada por uma<br />
queda, é importante que os médicos refiram, para além<br />
do local e da lateralidade da fratura, a existência de situações<br />
predisponentes (por exemplo, osteoporose),<br />
todas as patologias e condições associadas (nomeadamente<br />
infeções), medicação prévia e concomitante, o<br />
local onde se deu a queda, se foi fora da instituição ou já<br />
internado, se houve intenção, a atividade que o doente<br />
se encontrava a realizar, a valorização dos resultados<br />
dos exames (e não somente a transcrição dos mesmos),<br />
bem como todos os procedimentos realizados<br />
e devices implantados. É fundamental que os médicos<br />
prestadores de cuidados saibam que tudo aquilo que<br />
lhes suscitar preocupação no doente, tudo o que seja<br />
considerado situação patológica a requerer investigação<br />
ou tratamento, tudo aquilo que seja responsável pelo<br />
aumento da demora ou consumo de recursos, deve<br />
estar vertido nos registos clínicos (registos completos e<br />
precisos) e, obrigatoriamente, deve ser recolhido e codificado<br />
pelos médicos codificadores em ICD-10-CM/<br />
PCS (diagnóstico principal, diagnósticos adicionais e<br />
procedimentos), sob pena dos GDH não refletirem<br />
adequadamente a produção realizada, nem a complexidade<br />
dos cuidados prestados, pelo que o financiamento<br />
será desadequado.<br />
Por seu turno, os codificadores clínicos assumem que,<br />
durante a atividade de codificação, não são médicos<br />
(apesar de sermos um dos poucos países em que a atividade<br />
de codificação clínica é realizada exclusivamente<br />
por médicos) e que a sua função é codificar somente<br />
o que está (e da forma em que está) registado, destacando-se<br />
completamente da atividade assistencial e<br />
não codificando segundo critérios clínicos, dado que as<br />
linguagens são diferentes 16 . Também relevante é a fonte<br />
da informação clínica: estão definidos pela ACSS os<br />
locais de análise e consulta de registos clínicos para a<br />
codificação - nota de alta (documento principal do episódio,<br />
embora não o exclusivo, para ser consultado no<br />
decurso da atividade de codificação), diários clínicos,<br />
relato operatório, resultados de anatomia patológica e<br />
outros meios complementares de diagnóstico <strong>17</strong> ; contudo,<br />
o rigor e a profundidade de recolha da informação<br />
clínica pelos médicos codificadores têm obrigatoriamente<br />
de ser monitorizados, assegurando que não<br />
existe leveza na recolha da informação clínica. Naturalmente<br />
que os médicos codificadores têm ética profissional<br />
mas, considerando que todo o processo assenta<br />
na sua atividade, teriam de existir mecanismos de controlo<br />
que confirmassem a devolução dos processos<br />
clínicos com informação insuficiente, a exatidão, rigor e<br />
uniformidade da sua recolha de informação, assegurando<br />
que não se envereda pela corrente minimalista de<br />
codificação de um número reduzido de diagnósticos/<br />
/procedimentos, se os mesmos constarem do processo<br />
clínico, bem como minimizando/eliminando a ocorrência<br />
de fenómenos como o upcoding (codificar o que<br />
não está registado), undercoding (não codificar o que<br />
não está registado) ou unbending (utilizar códigos múltiplos<br />
quando existem entradas de códigos agregados).<br />
A velha questão se os médicos codificadores devem<br />
codificar os processos das suas especialidades continua<br />
por resolver: embora o conhecimento da área possa<br />
aumentar o risco de upcoding 9 , permite igualmente<br />
maior acuidade da codificação clínica, sobretudo com<br />
o rigor e discriminação dos procedimentos exigidos pela<br />
ICD-10.<br />
Os codificadores clínicos integram-se num gabinete<br />
de codificação e auditoria clínica com competências<br />
específicas definidas pela ACSS 18 ; para além das funções<br />
inerentes de codificação e auditoria, está previsto<br />
que exista um trabalho desenvolvido com os serviços<br />
clínicos e com os médicos, no sentido de clarificação<br />
da informação clínica e promoção da melhoria da qualidade<br />
dos registos, bem como articulação estreita com<br />
a direção clínica/conselho de administração visando a<br />
melhoria do conteúdo e da qualidade da informação<br />
e a análise de situações irregulares (internamentos de<br />
curta duração, óbitos de doentes com nível de severidade<br />
baixo, internamentos acima do limiar máximo,<br />
para exemplificar).<br />
De uma forma sucinta, para que todo este circuito seja<br />
eficiente, é absolutamente crítico que os médicos traduzam<br />
os cuidados prestados aos doentes em registos<br />
clínicos e, por seu lado, que os codificadores traduzam<br />
o mais fielmente possível os registos clínicos em códigos<br />
ICD, tentando compatibilizar as duas linguagens (clínica<br />
e de codificação), trabalhando os dois em parceria... Infelizmente,<br />
na prática, continua a verificar-se um grande<br />
destacamento e distância entre estas duas atividades.<br />
Sugestões de melhoria<br />
Sendo os hospitais medidos (e financiados) pelos dados<br />
reportados, dever-se-ia tentar uma aproximação<br />
das três vertentes (registos clínicos, codificação, financiamento),<br />
transformando o clássico triângulo de ferro<br />
da saúde num triângulo de ouro!<br />
De uma forma pragmática, algumas medidas, mais ou<br />
menos inovadoras, poderiam ser estratégicas:<br />
1. Em relação aos médicos prestadores de cuidados:<br />
• Motivação, envolvimento e formação: envolvimento<br />
dos médicos de forma a que se possa garantir que a<br />
informação constante nos processos clínicos seja clara<br />
e completa; esclarecimento que, muito mais do que o<br />
diagnóstico principal, é também necessário referir todas<br />
as situações que tenham tido impacto no nível de cuidados;<br />
formação (individualizada a cada especialidade<br />
médica, nas reuniões de serviço) de quais os elementos<br />
(e em que forma) são determinantes registar no processo<br />
clínico; formação na linguagem da ICD-10 para os<br />
médicos utilizadores das aplicações SIGLIC e SClínico,<br />
dado que a inscrição na lista de espera cirúrgica ou o<br />
diagnóstico de alta do Serviço de Urgência para o internamento<br />
serão feitos nessa linguagem; formação dos<br />
novos médicos inserida no processo de integração dos<br />
mesmos nas instituições, particularmente porque serão<br />
os internos e médicos mais novos que ficarão responsáveis<br />
pelas atividades de registos clínicos;<br />
• Revisão das notas de alta e dos processos clínicos,<br />
particularmente dos que corresponderam a situações<br />
de maior complexidade (e óbitos), por médicos dos<br />
serviços com formação em codificação e com tempo<br />
atribuído a essa tarefa, cuja função seria assegurar<br />
que toda a informação clínica relevante constasse do<br />
processo clínico, e em formato adequado para ser valorizado<br />
pelos codificadores, antes deste seguir para<br />
a codificação;<br />
• Utilização de instrumentos de normalização dos registos<br />
(metodologia SOAP ou critérios sugeridos pelos<br />
diferentes referenciais de acreditação e qualidade hospitalar)<br />
e do uso de siglas e abreviaturas;<br />
• Realização de auditorias clínicas e avaliação da qualidade<br />
e eficiência dos cuidados prestados;<br />
• Utilização da qualidade dos registos na avaliação do<br />
desempenho médico e na atribuição de incentivos;<br />
• Integração da formação da qualidade e rigor nos registos<br />
clínicos no currículo da formação médica pré-graduada.<br />
“<br />
DESTACA-SE A IMPORTÂNCIA<br />
DA CODIFICAÇÃO CLÍNICA<br />
COMO INSTRUMENTO<br />
DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO,<br />
QUALIDADE E FINANCIAMENTO<br />
DOS HOSPITAIS.<br />
”<br />
2. Em relação aos médicos codificadores e auditores:<br />
• Formação obrigatória e recorrente dos codificadores;<br />
• Obrigação de devolução dos processos clínicos com informação<br />
contraditória ou insuficiente para codificação;<br />
• Auditorias à qualidade da codificação que garantam<br />
a fiabilidade e a uniformidade dos critérios utilizados;<br />
• Disponibilização de recursos aos médicos codificadores<br />
de forma a que possam realizar a sua atividade de<br />
forma adequada (por exemplo: livros, computadores,<br />
acesso VPN às aplicações informáticas hospitalares);<br />
• Revisão do modo de pagamento dos codificadores,<br />
dado o incremento de complexidade e morosidade de<br />
codificação em ICD-10-CM/PCS, com atribuição de incentivos<br />
e penalizações de acordo com a qualidade da<br />
sua codificação;<br />
• Aproximação dos gabinetes de codificação das instituições<br />
aos serviços clínicos, com análise dos fatores<br />
mais impactantes na variação dos níveis de severidade<br />
para cada GDH e reuniões periódicas para discussão<br />
dos resultados obtidos;<br />
• Integração, valorização e reconhecimento dos gabinetes<br />
de codificação e auditoria clínica como um serviço<br />
hospitalar, estreitamente alinhados com as orientações<br />
dos conselhos de administração e da tutela.<br />
3. Em relação às aplicações informáticas:<br />
• Estruturação e facilitação do Sclínico, tornando-se um<br />
sistema informático amigável do utilizador, permitindo a<br />
importação de diagnósticos e procedimentos de outros<br />
episódios do mesmo doente (nas situações patológicas<br />
crónicas), bem como de informação registada por ou- }<br />
34 35
GH registos clínicos<br />
tros profissionais de saúde (nutricionistas, enfermeiros,<br />
assistentes sociais...), necessitando somente de ser validados<br />
pelo médico responsável pelo doente;<br />
• Utilização de textos pré-formatados, por exemplo<br />
nos relatos cirúrgicos;<br />
• Aplicações informáticas que facilitem os registos, não<br />
obrigando os médicos com tarefas assistenciais a duplicar<br />
registos ou a escrever os diagnósticos de acordo<br />
com a nomenclatura ICD (9 ou 10), particularmente<br />
quando não foi feita formação nem proporcionado<br />
tempo acrescido para esse efeito;<br />
• Interoperabilidade das aplicações e importação automática<br />
da informação relevante.<br />
4. Em relação à ACSS e conselhos de administração:<br />
• Elaboração de consensos, esclarecimentos e orientações<br />
com obrigatoriedade de cumprimento das<br />
mesmas;<br />
• Tradução do manual da ICD-10-CM/PCS para<br />
português;<br />
• Discussão e benchmarking interno e externo (com<br />
publicação dos dados) da atividade realizada, respetivos<br />
níveis de severidade e mortalidade, bem como análise<br />
da demora média, internamentos acima do limiar máximo,<br />
óbitos em doentes com baixo risco de mortalidade,<br />
complicações, readmissões no bloco operatório,<br />
readmissões na instituição, infeções nosocomiais, casos<br />
sociais, n<strong>º</strong> de diagnósticos e procedimentos na alta, entre<br />
outros aspetos;<br />
• Reinício do hábito de realização de auditorias efetivas<br />
e frequentes à codificação realizada em cada hospital,<br />
promovendo a boa prática de codificação, bem como<br />
a consistência dos resultados;<br />
• Valorização da avaliação dos doentes feita por outros<br />
profissionais de saúde, mediante validação simples<br />
(rápida) da mesma pelos médicos (exemplo: inclusão<br />
facilitada da informação relativa ao rastreio da desnutrição<br />
ou da avaliação social, dado serem dois fatores<br />
responsáveis pelo aumento da morbilidade e de complexidades<br />
dos GDH e habitualmente negligenciados<br />
em termos de registos e de codificação);<br />
• Delineamento de estratégias que, duma forma correta<br />
e efetiva, aumentem o Índice de Case Mix da instituição<br />
(exemplo: investimento prioritário nos serviços<br />
com maior repercussão institucional, nos serviços<br />
com maior potencial de melhoria ou nos GDH com<br />
maior peso);<br />
• Monitorização dos gabinetes de codificação e auditoria<br />
clínica dos hospitais considerando que, com<br />
alguma frequência, são organismos externos às organizações<br />
funcionando “em circuito fechado” e com<br />
(ainda) pouca concorrência de mercado.<br />
Conclusão<br />
Sendo a produção e o ressarcimento das despesas dos<br />
hospitais feitos com base nos GDH, secundariamente<br />
à correta codificação da informação clínica constante<br />
dos processos clínicos, há um enorme potencial de<br />
melhoria em todos os estádios intermédios do macro<br />
processo registos clínicos-codificação-financiamento.<br />
Enquanto tal facto não for encarado por todos os intervenientes<br />
como uma verdadeira prioridade, temos um<br />
enorme potencial de desperdício!<br />
Por outro lado, os médicos ainda não tomaram consciência<br />
de que são eles (nós), mediante os seus registos<br />
clínicos corretamente codificados, que condicionam/permitem<br />
o financiamento e a sustentabilidade<br />
dos hospitais. Ã<br />
1. Despacho n<strong>º</strong> 10537/2013, de 13/08/2013, criou a equipa de projeto para<br />
a implementação em Portugal da ICD-10-CM/PCS.<br />
2. Despacho n<strong>º</strong> 9090/2015, de 13/08/2015, determinou a utilização da<br />
ICD-l0-CMlPCS, em substituição da ICD-9-CM, a partir de 1 de janeiro<br />
de 20<strong>17</strong>.<br />
3. Circular Informativa n<strong>º</strong> 24/2016/DPS/ACSS, 05/07/2016, “Implementação<br />
do sistema de codificação clínica ICD-10-CM/PCS em Portugal, em<br />
substituição da atual ICD-9-CM”.<br />
4. Circular Normativa ACSS n<strong>º</strong>22/2014/DPS/ACSS, 20/08/2014, “Agrupador<br />
de GDH All Patient Refined DRG”.<br />
5. Lopes Fernando, março 2015 “A importância da codificação clínica como<br />
ferramenta de apoio à gestão hospitalar e os desafios que se colocam à sua<br />
evolução no contexto do SNS”, <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, pag 8-13.<br />
6. Circular normativa n<strong>º</strong>31/2014, 22/12/2014, “Agrupador de GDH All<br />
Patient Refined”.<br />
7. Circular Normativa n<strong>º</strong> 8/2013/DPS, 04/03/2013, 04/03/2013, “Atribuição<br />
do indicador PNA”.<br />
8. Aliaos N et al, 2010, “Financial and clinical governance implications of<br />
clinical coding accuracy in neurosurgery: a multidisciplinar audit”. British<br />
Journal of Neurosurgery, vol 24, issue 2, pag 191-195.<br />
9. Roberts Luke et al, 2018 “Clinical coding - an insight into healthcare data”,<br />
The British Student Doctor; 2(2): 36-43.<br />
10. Andrew Tatham, 2008 “The increasing importance of clinical coding”,<br />
British Journal of Hospital Medicine, vol 69, n<strong>º</strong>7.<br />
11. Ofício Circular n<strong>º</strong> 5137/<strong>2019</strong>/DPS/ACSS, “Grupo de Trabalho de<br />
Apoio à Codificação Clínica”.<br />
12. Ofício Circular n<strong>º</strong> 8052/20<strong>17</strong>/DPS/ACSS, “Processo de implementação<br />
da ICD10CM/PCS nos sistemas de informação SONHO, SClínico, SIGLIC<br />
e sistemas de informação alternativos”.<br />
13. Santana Rui, Lopes Sílvia, “Codificação clínica e gestão hospitalar: uma<br />
relação biunívoca?”, Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, vol 1, pág 56-57.<br />
14. Regulamento n<strong>º</strong> 14/2009 da Ordem dos Médicos, 13/1/2009.<br />
15. Oliveira, Paulo Jorge Moreira Gil, 2015, “A importância da qualidade dos<br />
registos médicos para os hospitais”. Dissertação de Mestrado em <strong>Gestão</strong><br />
de Serviços de Saúde, ISCTE.<br />
16. Pires, Vera Lúcia Alonso, 2018, “A codificação clínica e os problemas associados<br />
à qualidade dos dados: perspetiva dos codificadores”. Dissertação<br />
de Mestrado em Informática Médica, FMUP.<br />
<strong>17</strong>. Circular normativa da ACSS n<strong>º</strong>23/2014/DPS, 27/08/2014: Codificação<br />
clínica: documentos ou registos médicos que devem estar presentes no<br />
momento da codificação clínica do episódio e de auditoria (interna e externa).<br />
18. Circular Informativa n<strong>º</strong> 19/2010/UOFC, de 22/11/2010, “Regulamento<br />
do Gabinete de Codificação e Auditoria Clínica”.<br />
36 37
GH Hospitalização domiciliária<br />
HOSPITALIZAÇÃO<br />
DOMICILIÁRIA,<br />
UMA BOA ALTERNATIVA<br />
AO INTERNAMENTO<br />
HOSPITALAR PARA UM GRUPO<br />
ESPECÍFICO DE PACIENTES<br />
Ana Marques da Silva<br />
Healthcare Strategic Consultant da Lean Health Portugal<br />
Decorreu no passado dia 5 e 6 de abril,<br />
em Madrid, o primeiro Hospital at Home<br />
World Congress (#HAHWC19).<br />
O evento reuniu na capital espanhola<br />
cerca de 500 congressistas, todos<br />
com o propósito de saber mais, aprender e partilhar<br />
experiências sobre um tema que está na agenda política<br />
como nunca.<br />
Portugal esteve presente com a 3ª delegação mais numerosa,<br />
em 37 países registados.<br />
A proposta de valor (melhorar os cuidados, aumentar<br />
a satisfação dos pacientes e diminuir custos) é suficientemente<br />
cativante para que a evolução dos cuidados<br />
hospitalares no domicílio se torne uma realidade. Importa<br />
ser efetivo na definição do que é valor acrescentado,<br />
pelo impacto que tem nos modelos operacionais<br />
e no financiamento.<br />
Acontece, porém, que os modelos apresentados, durante<br />
o congresso, traduzem realidades diferentes, onde<br />
se realçam as dissemelhanças dos sistemas de saúde<br />
de país para país. Tornar a hospitalização domiciliária<br />
uma prioridade poderá fazer toda a diferença.<br />
Durante o congresso, foi visível a vontade da organização<br />
em promover uma visão transversal do tema, não<br />
só do ponto de vista organizacional, como também<br />
operacional, partilhando uma abordagem de benefício<br />
inequívoco para os doentes e para os sistemas que se<br />
salda pela:<br />
• Diminuição de infeções hospitalares;<br />
• Redução da taxa de reinternamentos;<br />
• Redução e efeitos adversos (em particular de quedas);<br />
• Redução de risco de desenvolvimento de delirium;<br />
• Aumento da mobilidade funcional (permitindo ao<br />
doente retomar a sua vida normal mais rapidamente);<br />
• Reabilitação funcional a iniciar no ambiente do doente.<br />
Encontrando-se reunidas as condições, aliadas ao desejo<br />
de fazer mais pelo doente, reduzindo custos assistenciais,<br />
conclui-se estar disponível a base para o avanço<br />
da hospitalização domiciliária em qualquer país.<br />
A hospitalização domiciliária pode ser considerada<br />
como uma boa alternativa ao internamento hospitalar<br />
para um grupo específico de doentes. Medir o impacto,<br />
nomeadamente através da demora média de<br />
internamento, custos evitáveis/poupanças geradas e<br />
reinternamentos, possibilitará ter uma noção da evolução<br />
desta aposta.<br />
A forma como cada um vai decidir a sua implementação,<br />
isso sim, diferirá de país para país, dos meios disponíveis<br />
(técnicos e humanos) e do nível de prioridade/<br />
/oportunidade que cada sistema governativo atribuir<br />
a este, relativamente recente, modelo de cuidados.<br />
O caminho, apesar de promissor, é desafiante. A questão<br />
organizacional é pedra basilar, desde logo na definição<br />
destes doentes (Quem são?/Quem pode ser<br />
considerado?) e de onde vêm - a rede de referenciação.<br />
Definir bem este percurso é essencial e é aqui<br />
que identificamos diversas realidades assentes em diferentes<br />
modelos. A comunidade de Valência, em Espanha,<br />
apresentou uma segmentação de doentes muito<br />
bem estruturada, em que a definição de critérios para<br />
o doente poder ser tratado em casa é muito clara,<br />
permitindo, pela análise da informação, estimar custos<br />
destes novos modelos, evidenciando o custo, mas<br />
também a poupança.<br />
Parece, no entanto, ser condição sine qua non haver infraestruturas<br />
de apoio, compostas por recursos humanos<br />
competentes e adequados, meios que permitam<br />
a mobilidade das equipas e tecnologia que permita dar<br />
um suporte à distância fiável e seguro. A monitorização<br />
remota e o apoio telefónico são apenas dois exemplos.<br />
Espanha, França, Holanda, Itália, Brasil, Estados Unidos,<br />
Canadá, Israel e Taiwan foram alguns dos casos partilhados,<br />
pondo em evidência o percurso feito e os desafios<br />
que têm pela frente. Destaca-se Espanha, ou até França,<br />
com modelos mais próximos de Portugal, no entanto<br />
com um percurso mais longo e mais sustentado.<br />
A experiência nacional impele-nos a olhar para o caminho<br />
percorrido pelas unidades de hospitalização domiciliária<br />
pioneiras, tais como as dos Hospital Garcia de<br />
Orta, EPE e Centro <strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia/Espinho,<br />
EPE e que muito têm contribuído para a constituição<br />
das novas equipas. A título de exemplo, a Unidade<br />
de Hospitalização Domiciliária (UHD) do Hospital Garcia<br />
de Orta, EPE exibiu três trabalhos neste congresso<br />
cujos temas, Implementation of a Home Hospitalization<br />
Unit - an innovative experience in the portuguese healthcare<br />
system, Hospital at Home a pioneering Reality in<br />
Portugal e Hospital’s at Home pulmonary rehabilitation - in<br />
patients with acute pulmonary disease, refletem a aposta<br />
e nos deixam claras pistas para o futuro. }<br />
38 39
GH Hospitalização domiciliária<br />
GH Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />
FINANCIAMENTO<br />
EQUIPAS<br />
HOSPITALIZAÇÃO<br />
DOMICILIÁRIA<br />
(HD)<br />
PRESTADOR<br />
APAH DISCUTE MODELOS<br />
DE GESTÃO DA QUALIDADE<br />
E MELHORIA CONTINUA<br />
EM SAÚDE<br />
Figura1: Hospitalização Domiciliária (HD), variáveis.<br />
Os desafios<br />
Envolver stakeholders, constituir equipas, dotar de meios<br />
e avançar.<br />
O relevo dado aos stakeholders é significativo, não sendo<br />
claro para todos os benefícios destes modelos. Ministério<br />
da Saúde, administradores hospitalares, famílias,<br />
pagadores, decisores, equipas de hospitalização domiciliária,<br />
outros profissionais e, claro, doentes, fazem parte<br />
desta rede que é necessário ativar por forma a serem<br />
criadas as condições que facilitem a expansão consolidada<br />
deste novo paradigma de assistência.<br />
Relativamente às equipas, enfermeiros, médicos, assistentes<br />
sociais, assistentes operacionais, farmacêuticos,<br />
são parte integrante desta equação, num equilíbrio de<br />
recursos que deverá ir crescendo com o alargamento<br />
da assistência. Cativar todos para esta nova realidade,<br />
estimulando a iniciativa e as boas práticas, deverá ser<br />
uma aposta forte.<br />
Depois os meios, que, a todos os níveis, confiram a<br />
mobilidade necessária mas a segurança também. Assegurar<br />
a tranquilidade à distância, com o doente em<br />
sua casa, permanentemente monitorizado, permitindo<br />
à UHD conhecer a condição de saúde do doente<br />
a qualquer momento, é só um passo. Só assim se<br />
asseguram ganhos de eficiência que permitam escalar<br />
e que, do ponto de vista da gestão, ajudará na rentabilização<br />
dos recursos alocados e na atuação em tem-<br />
NOVO PARADIGMA<br />
DE CUIDADOS<br />
po real, sendo uma aspiração cada vez mais próxima.<br />
Finalmente o financiamento. A viabilização de toda esta<br />
dinâmica apenas será possível com uma aposta clara<br />
por parte da tutela, mas também, em Portugal, parece<br />
haver boas notícias nesta matéria.<br />
Se conseguirmos estabelecer KPI que nos ajudem a estabelecer<br />
a baseline da despesa e os custos evitáveis,<br />
estaremos a aferir do sucesso deste modelo, e, por outro<br />
lado, os ganhos em saúde que poderá potenciar,<br />
estamos perante uma importante contribuição para o<br />
alargamento da rede e a expansão dos cuidados.<br />
A terminar, focar o mote inspirador que Ron Sabar i nos<br />
deixou na sua intervenção Professional Guest - the art of<br />
caring for patients at home, relatando-nos um algoritmo<br />
de intervenção em que observar e absorver são apenas<br />
dois exemplos de como fazer, alertando para o novo<br />
paradigma “ir visitar”, sendo preciso estar preparado<br />
para ser surpreendido e para improvisar, mas com a<br />
certeza de que quando se visitam os doentes em suas<br />
casas passam a ser pessoas que bem conhecem, com<br />
quem criam uma relação e que têm um nome que lhes<br />
ficará na memória. Ã<br />
i Sabar Health Home Hospital, Israel<br />
Os desafios e oportunidades associados<br />
aos “Modelos de gestão de qualidade<br />
e melhoria contínua” foram o tema<br />
central da 6ª Conferência de Valor<br />
APAH, que decorreu em Peniche a 5<br />
e 6 de abril de <strong>2019</strong>. O evento promovido pela APAH<br />
reuniu responsáveis de inúmeras entidades e instituições<br />
nacionais, assim como um vasto painel de oradores nacionais<br />
e internacionais e parceiros do setor da saúde.<br />
A 6.ª Conferência de Valor APAH foi presidida por Jorge<br />
Varanda, administrador hospitalar, sócio de Mérito<br />
e Presidente da APAH (1988-1992). Contextualizando<br />
o problema o Presidente da Conferência analisou a<br />
evolução do sistema de saúde português, para atingir o<br />
objetivo estratégico de assegurar a segurança e qualidade<br />
dos cuidados prestados, e dos ciclos de governação,<br />
nos últimos 40 anos, dos seus sucessos e fracassos e<br />
dos ensinamentos recolhidos. Deu especial destaque<br />
ao papel dos gestores na liderança para uma cultura<br />
de melhoria continua da qualidade visando a excelência<br />
dos serviços prestados e a criação de valor para o<br />
cidadão e para a sociedade. Lançando o desafio aos<br />
participantes da Conferência, Jorge Varanda reforçou a<br />
necessidade de serem encontradas respostas inovadoras<br />
em articulação com todos os atores para transformação<br />
do setor da saúde.<br />
O programa da 6.ª Conferência de Valor APAH teve<br />
inicio com a palestra “APAH talksˮ dedicada ao “Roteiro<br />
estratégico para uma cultura de melhoria contínua<br />
de cuidados” que nos foi apresentada por Márcia Makdisse,<br />
Medical Manager no Value Management Office<br />
do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) em São<br />
Paulo (Brasil). Na sua palestra, Márcia apresentou o que<br />
gosta de chamar como “A jornada de Valor do Einstein”<br />
referindo-se às várias dimensões da gestão que<br />
conduziram o HIAE a ser considerado o melhor hospital<br />
da América Latina, com inúmeras distinções internacionais.<br />
Reforçando a importância da alta liderança e do<br />
alinhamento estratégico como promotor das dinâmicas<br />
de mudança organizacional partilhou os 3 pilares em<br />
que assentam o roteiro de criação de valor:<br />
• Eficiência operacional: assente numa cultura de melhoria<br />
continua suportada em metodologias Lean transversais<br />
a toda a instituição e profissionais que funciona em<br />
matriz e estimula a apresentação e desenvolvimento de<br />
soluções em todos os níveis operacionais e assistenciais;<br />
• <strong>Gestão</strong> e engajamento do corpo clínico: assente<br />
num modelo de gestão do corpo clínico com recurso<br />
a uma avaliação anual de desempenho, agrupamento<br />
de profissionais por níveis de evolução e atribuição de<br />
incentivos através de programa de reconhecimento de<br />
privilégios e benefícios. Em paralelo detalhou a estrutura<br />
criada para envolver estes médicos na padronização da<br />
prática clínica e na estandartização de cuidados;<br />
• Assistência baseada em valor: em alinhamento com a<br />
gestão de topo, que promove uma prática clínica que<br />
monitoriza, com recurso à incorporação das tecnologias<br />
de informação e análise de dados, os resultados<br />
clínicos em relação aos recursos utilizados.<br />
No sábado, Alexandre Lourenço, Presidente da APAH,<br />
abriu o segundo dia da Conferência com a apresentação<br />
dos resultados finais do 3.<strong>º</strong> Barómetro de Internamentos<br />
Sociais (BIS). Esta iniciativa anual da APAH<br />
conta com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa<br />
de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico<br />
da EY, tem por objetivo monitorizar periodicamente o<br />
fenómeno dos internamentos inapropriados, permitindo<br />
a sua quantificação e o desenvolvimento de ações<br />
conjuntas para minimização do seu impacto.<br />
A 3ª edição do BIS contou com a representatividade de<br />
79% do número total de camas de Internamento do<br />
Serviço Nacional de Saúde (SNS), representadas por<br />
33 unidades hospitalares de Norte a Sul do país (69%<br />
do SNS). A 18 de fevereiro de <strong>2019</strong>, data da recolha }<br />
40 41
GH Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />
de dados desta edição do BIS, 829 camas, o equivalente<br />
a 4,7% do total de camas disponível, estava ocupado<br />
com internamentos inapropriados, predominantemente<br />
justificados pela falta de resposta na Rede Nacional<br />
de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). No entanto,<br />
relativamente ao número de dias de internamentos<br />
inapropriados, a principal razão prende-se com a<br />
incapacidade de resposta do familiar/cuidador. Mais de<br />
metade destes casos concentram-se em duas regiões:<br />
região Norte (37%) e Lisboa e Vale do Tejo (41%).<br />
A nível geral, os hospitais participantes apresentam uma<br />
média de internamento inapropriado de 98,4 dias (aumento<br />
de 46% face à edição de 2018), correspondendo<br />
a uma despesa estimada de 31,5 milhões de euros.<br />
A extrapolação deste valor para um ano de internamentos<br />
inapropriados evidencia um impacto estimado<br />
superior a 83,7 milhões de euros para o Estado. A<br />
3ª edição do BIS revelou ainda que os episódios de<br />
internamento inapropriados são, maioritariamente, de<br />
origem médica (77%). O género feminino predomina,<br />
com uma percentagem de 58%. Quanto às idades, 36%<br />
referem-se ao intervalo entre os 65 e os 80 anos e 44%<br />
dizem respeito a internamentos de utentes com mais<br />
de 80 anos.<br />
O painel de comentadores aos resultados finais do 3.<strong>º</strong><br />
BIS contou com a participação de Ana Gomes, (Diretora<br />
da Unidade de <strong>Gestão</strong> e Apoio à Rede Nacional<br />
de Cuidados Continuados do Instituto da Segurança<br />
Social), João Araújo Correia (Presidente da SPMI), José<br />
Ribeiro (Presidente da Associação de Diretores de<br />
Enfermagem), Luís Pisco, (Presidente da Administração<br />
Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) e Teresa<br />
Anjinho (Provedora-Adjunta, Provedoria de Justiça).<br />
De seguida, iniciou-se a Sessão I, com o tema “Dinâmicas<br />
inovadoras de melhoria contínua da qualidade” que<br />
contou com uma palestra a cargo de Danny Havenith,<br />
Diretor da Belgian Association of Healthcare Managers<br />
(Bélgica). Na sua intervenção, Danny Havenith trouxe-nos<br />
uma visão de como evoluíram no seu país os<br />
modelos de governança estratégia e organizacional associadas<br />
à gestão da qualidade em saúde e deu especial<br />
destaque ao papel fundamental dos gestores em saúde<br />
na liderança desta mudança por forma a assegurar a sua<br />
implementação efetiva, que no seu entender, devem<br />
estar sedimentada numa cultura de melhoria contínua<br />
que promova respostas eficientes aos desafios atuais e<br />
futuros associados às dinâmicas da inovação tecnológica<br />
e das expetativas dos cidadãos.<br />
A moderação desta Sessão esteve a cargo de Elsa Baião,<br />
Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Oeste, e contou,<br />
também, com a participação de um painel de distintos<br />
comentadores entre os quais se incluiram José Laranja<br />
Pontes (Presidente do Instituto Português de Oncologia<br />
do Porto), Luís Campos (Diretor do Serviço Medicina<br />
Interna no Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Ocidental), Luís<br />
Rocha (Diretor de Market Access e Public Affairs da<br />
Novartis Portugal), Margarida Filipe (Enfermeira Diretora<br />
da Unidade Local de Saúde de Matosinhos) e Rita<br />
Sousa Kadic (Diretora de Qualidade e Segurança do<br />
Doente do Hospital de Cascais). Todos partilharam as<br />
suas visões e experiências profissionais na implementação<br />
de modelos de prestação de cuidados suportados<br />
numa dinâmica de melhoria continua da qualidade de<br />
cuidados que promova a integração da oferta de serviços<br />
e a sua costumização às necessidades dos cidadãos.<br />
A Sessão II foi dedicada ao “Caminho para a excelência<br />
no serviço ao cliente” e teve como moderadora Rosa<br />
Matos, Presidente do Conselho de Administração do<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Central. Esta Sessão contou<br />
com a palestra de Teresa Rodrigues, Senior Project Officer<br />
na Deco Proteste que na ocasião partilhou com os<br />
presentes os resultados do estudo que avaliou a satisfação<br />
e experiência dos utentes em 42 hospitais nacionais<br />
(37 hospitais públicos e 5 privados; representativos do<br />
território nacional).<br />
O estudo que teve inicio em 2013 com a definição dos<br />
aspetos-chave a avaliar e a abordagem metodológica,<br />
comtemplou uma revisão da literatura, a realização de<br />
entrevistas estruturadas, de grupos focais e de painéis<br />
de delphi que incluíram profissionais de saúde, doentes,<br />
cuidadores, decisores e académicos. No âmbito deste<br />
estudo procedeu-se à identificação das dimensões e<br />
dos indicadores da experiência do utente tendo-se definido<br />
as seguintes dimensões de avaliação: i) Acessibilidade<br />
(circulação na instituição e tempo de espera, etc.),<br />
ii) Condições do hospital (por exemplo: higiene, ruido,<br />
alimentação, etc.) e Contacto com os profissionais de<br />
saúde (apoio, respeito, privacidade, suporte emocional,<br />
simpatia e empatia, etc.). Na segunda fase do estudo<br />
que decorreu de maio a dezembro de 20<strong>17</strong>, foram realizadas<br />
<strong>17</strong>23 entrevistas completas, onde se procedeu<br />
à aplicação do questionário de forma aleatória e em<br />
horários alargados abrangendo utentes que utilizaram<br />
os serviços de urgência e/ou consultas externas e/ou<br />
internamento há menos de 6 meses.<br />
Os resultados obtidos tiveram em consideração uma<br />
análise global dos hospitais e uma análise por contexto<br />
de utilização dos serviços. A pontuação global das experiências<br />
dos utentes variou entre Bom e Muito Bom<br />
com todos os hospitais a obter resultados de satisfação<br />
acima de 74%, registando 3 hospitais resultados acima<br />
de 95% (2 públicos e 1 privado). Já ao nível das dimensões<br />
em análise no estudo a que obteve melhor classificação<br />
por parte dos utentes foi a associada ao “Contacto<br />
com os profissionais de saúde”, seguida das “Condições<br />
do hospital” e por último da “Acessibilidade”.<br />
Os resultados obtidos permitiram também identificar<br />
por contexto de utilização qual a matriz de valores que<br />
fazem da sua experiência e quais os indicadores que<br />
os utentes consideram mais relevantes na sua avaliação.<br />
O painel de comentadores desta sessão contou ainda<br />
com os contributos de Alexandre Guedes da Silva<br />
(Presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose<br />
Múltipla), Alexandre Valentim Lourenço (Presidente da<br />
Secção Regional Sul da Ordem dos Médicos), Guilherme<br />
Victorino (Vogal da Comissão Executiva do SAMS<br />
e Professor na NOVA IMS), Rosário Reis, (Vogal Executiva<br />
do Instituto Português de Oncologia de Coimbra)<br />
e Sofia André (Diretora de Market Access e Public<br />
Affairs da Bayer Portugal).<br />
A última Sessão do dia foi moderada por Ana Infante<br />
(Presidente do Hospital de Santarém) teve como<br />
tema as “Novas parcerias para melhoria contínua de<br />
cuidados”e contou como convidada principal e proveniente<br />
de Espanha, Eva Aurín, Diretora de Inovação<br />
e e-Health do Hospital Universitari Vall d’Hebron em<br />
Barcelona. A gestora partilhou com os presentes as<br />
modalidades de parcerias para a inovação atualmente<br />
existentes e quais as suas caraterísticas, especificidades<br />
e dinâmicas de contratação [PTP (Public Purchase of<br />
Inovation Techonology) e PCP (Pre-Comercial Public<br />
Purchase)] assim como o seu enquadramento no âmbito<br />
do financiamento europeu e a experiência da Catalunha<br />
nesta matéria.<br />
A sessão contou ainda com os contributos de Artur<br />
Mimoso (Vogal Executivo dos Serviços Partilhados do<br />
Ministério da Saúde), Paulo Sintra (Diretor Clínico do<br />
Hospital de Santarém), Luís Ferreira (Coordenador da<br />
Unidade de Valorização de Políticas, Agência Nacional<br />
de Inovação), Maria Celeste Silva (Vogal Executiva do<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> e Lisboa Ocidental e membro si<br />
Grupo de Trabalho para a Contratação Pública e Eliminação<br />
do Desperdício da APAH) e Pedro Lomba<br />
(Consultor PLMJ – Sociedade de Advogados, RL),<br />
que foram unanimes na necessidade de aprofundar em<br />
Portugal o conhecimento e a necessidade de dinamizar<br />
estas novas modalidades de contratação.<br />
A 6.ª Conferência de Valor APAH <strong>2019</strong> contou com<br />
o apoio anual dos seguintes parceiros: Abbvie, Bayer,<br />
Gilead Sciences, Novartis e Vifor Pharma. Pode ver a<br />
reportagem fotográfica da Conferência em https://just-<br />
news.pt/galeria/album/6a-conferencia-de-valor-apah-<br />
-peniche<br />
A 7.ª Conferência de Valor APAH decorrerá em Braga<br />
nos próximos dias 18 e 19 de outubro, sendo dedicada<br />
ao tema "Modelos de gestão centrados no cidadão e na<br />
comunidade”, marque já na sua agenda - a APAH conta<br />
com a Sua participação! Ã<br />
42 43
GH Iniciativa APAH | Conferência de valor | testemunho<br />
Concorda com aqueles que apontam o<br />
Value-based Health Care como a "estratégia<br />
que irá consertar a saúde"? Pode<br />
especificar em que termos?<br />
Acho que é um dos caminhos para a<br />
transformação do sistema de saúde. E é claro que há<br />
várias iniciativas para o melhorar, como a medicina<br />
baseada no valor, através da eficiência do processo,<br />
garantindo qualidade para o mesmo.<br />
Mas para o transformar é preciso mudar a forma de<br />
remuneração pelo serviço de saúde. Acredito que enquanto<br />
não houver uma transição do fee-for-service,<br />
do custo de uma taxa pelo serviço, para o pagamento<br />
baseado em resultados, o fee-for-value, não vai haver<br />
as mudanças que são necessárias de forma a gerar<br />
valor para o paciente. A fórmula para conseguir isso,<br />
passa também por remunerar melhor o médico ou<br />
o hospital, tornando-se um incentivo para transformar<br />
o sistema.<br />
Na sua opinião, de que forma é que o Value Management<br />
Office (VMO) contribuiu para acelerar a disseminação<br />
e adoção de uma agenda de valor no<br />
hospital? Tendo isso em consideração, pode-nos<br />
MARCIA MAKDISSE<br />
COFUNDADORA E CHIEF VALUE OFFICER DA CARECYCLE<br />
VALUE BASED HEALTHCARE<br />
ALOCAR VALOR<br />
AOS PACIENTES<br />
Marcia Makdisse foi responsável pela implementação do VMO (Value Management Office)<br />
no Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade brasileira de São Paulo.<br />
Ao longo desta entrevista, explica que o Value-Based HealthCare propõe a criação<br />
de valor para os pacientes, através de um sistema que prevê o pagamento do serviço<br />
baseado nos resultados obtidos.<br />
identificar os principais passos que já tomaram nesse<br />
sentido?<br />
Esta proposta foi uma provocação de Robert Kaplan,<br />
em 2015, no sentido de que os hospitais precisavam<br />
de ter um escritório, com uma equipa dedicada, que<br />
conseguisse disseminar os conceitos de valor, mas que<br />
tem uma interpretação incorreta do que é o valor.<br />
O valor não é reduzir custos, mas sim melhorar o resultado<br />
do paciente a um determinado custo. As duas<br />
grandes missões são disseminar esse conhecimento<br />
e, ao mesmo tempo, implementar uma agenda de<br />
valor, mas ela não é a mesma em todos os hospitais.<br />
O grande objetivo do escritório de valor é trazer um<br />
modelo para o contexto de cada hospital, de forma<br />
a que isso se torne possível de implementar. No fundo,<br />
é tornar palpável o valor da instituição.<br />
É preciso garantir que o paciente correto, no tempo<br />
certo, vá fazer o procedimento adequado. Daí ser necessária<br />
uma avaliação rigorosa, de forma a preparar<br />
o paciente para o procedimento, dando ainda as garantias<br />
de eventuais complicações que possam suceder<br />
ao longo de um episódio, que pode ser de 60<br />
ou 90 dias, medindo a qualidade do atendimento ao<br />
longo desse período.<br />
Esta é uma forma completamente diferente de pensar<br />
em relação ao que se cobra hoje no fee-for-service,<br />
no qual existe um valor para uma determinada cirurgia<br />
e, caso o paciente tenha complicações pós-operatórias<br />
e volte a ser internado, é novamente cobrado<br />
um valor mais o médico mais.<br />
No bundle que propomos, existe apenas um valor que<br />
é cobrado, seja por um episódio ou um ciclo completo<br />
de atendimento, incluindo a avaliação inicial, o internamento<br />
para a realização da cirurgia e uma garantia<br />
após a alta em caso de complicações.<br />
Um outro ponto muito importante é a padronização<br />
dos resultados clínicos. O modelo é composto por nove<br />
condições, que são medidas item por item, nos cerca<br />
de quatro mil pacientes. Isto implica padronizar desfechos,<br />
medir resultados e, muito importante, criar um<br />
sistema de business intelligence, que incorpora no mesmo<br />
ambiente os dados financeiros e clínicos e um prontuário<br />
eletrónico.<br />
No Value Management Office do Hospital que integra,<br />
também atuam ao nível da previsão do risco<br />
clínico? Antecipando, por exemplo, com base na informação<br />
existente, probabilidades de determinado<br />
evento adverso ocorrer e, assim, gerir melhor o fluxo<br />
de doentes e, consequentemente, a instituição?<br />
Sim, mas não só, já que trabalhamos ainda na definição<br />
do risco a ocorrer no modelo de remuneração, escolhendo<br />
para isso um médico que ofereça um risco<br />
menor. Acreditamos que os bundles são uma boa opção,<br />
porque se traçarmos uma matriz de risco financeiro,<br />
versus a necessidade de coordenação do cuidado,<br />
temos, por um lado, o risco assegurado por quem paga<br />
a conta e, por outro, o risco de quem presta o serviço.<br />
E o bundle está exatamente no meio, é preciso<br />
coordenar o cuidado e partilhar o risco.<br />
Face às mudanças inerentes à implementação de<br />
um modelo de cuidados de saúde baseados em valor,<br />
tiveram também de adequar os vossos sistemas<br />
de informação? O que precisaram de fazer e<br />
como implementaram?<br />
O primeiro investimento aconteceu em 2015, com<br />
a adoção do sistema DRG (Grupos de Diagnósticos<br />
Homogéneos), para dois anos depois implementarmos<br />
o Cerner Millenium, o nosso prontuário eletrónico.<br />
E o terceiro investimento surgiu no ano passado,<br />
quando conseguimos pôr em funcionamento<br />
o sistema de business intelligence, começando a integrar<br />
todas estas informações.<br />
Há muito ainda por fazer, mas estes são três grandes<br />
passos, os chamados potenciadores da mudança,<br />
sem eles é impossível fazer o resto. Através de<br />
uma plataforma eletrónica, que analisa os dados de<br />
desfecho e do custo, o risco é avaliado. É então<br />
proposto o modelo e criada uma equipa, comprometendo-se<br />
com os resultados ao longo de todo o<br />
tempo dedicado.<br />
Por último, quais as medidas que considera estruturantes<br />
para a valorização dos cuidados de saúde<br />
baseados em valor no setor da Saúde? Qual o papel<br />
do Administrador <strong>Hospitalar</strong>/Gestor de Serviços<br />
de Saúde nesse âmbito?<br />
Acho que o passo mais importante é que haja um compromisso<br />
da administração hospitalar com a agenda de<br />
valor. Não basta implementar um VMO e esperar que<br />
ele traga uma mudança, se não houver uma mudança<br />
também ao nível da alta liderança hospitalar.<br />
O nosso modelo de VMO inclui um comité de VBHC<br />
(Value-Based Health Care), liderado pelo presidente,<br />
no qual participam o CEO e vários diretores e é por<br />
aí que a estratégia é definida.<br />
O segundo ponto, que não depende única e exclusivamente<br />
das organizações, é a capacidade de criamos<br />
uma plataforma a nível nacional de benchmarking,<br />
porque para as instituições demonstrarem que integram<br />
valor, têm de ser comparadas. Para isso, é preciso<br />
não só a medir os resultados de desfecho, mas<br />
também um sistema de ajuste de riscos, que permita<br />
a comparação. E que, de alguma maneira, essa informação<br />
seja auditada, para que possa ser utilizada em<br />
modelos de remuneração.<br />
O terceiro ponto estruturante, passa por selecionar<br />
os médicos. Se não formos capazes de trazer os médicos<br />
para essa discussão, nada acontece, porque o valor<br />
é gerado na relação médico/paciente. É a equipe<br />
médica que entrega valor.<br />
A visão de valor diz: faça o que você faz, bem feito.<br />
E é essa redistribuição que precisa de acontecer de<br />
alguma maneira nas instituições hospitalares. O paciente<br />
não se vai fidelizar a uma organização para qualquer<br />
tipo de tratamento, mas sim aquela que for especializada,<br />
que seja uma referência.<br />
O valor é gerado nessa interação e também numa<br />
condição clínica, porque só posso demonstrar valor,<br />
se conhecer o histórico, saber qual o resultado esperado<br />
e a que custo.<br />
De cada vez que desenhamos um novo modelo no<br />
VMO, o médico está sempre presente, seja qual for<br />
a sua especialidade ou cargo que tenha, e ajuda a elaborar<br />
o modelo, o guia do cuidado. Depois, é que entra<br />
em ação o departamento comercial para colocar<br />
um custo e preço. Ã<br />
44 45
GH Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />
DESEMPENHO HOSPITALAR<br />
COMO DETERMINANTE<br />
NA CRIAÇÃO DE VALOR<br />
EM SAÚDE<br />
Dora Melo<br />
Aluna do XLVI Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
Tânia Portugal Henriques<br />
Aluna do XLVI Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
O<br />
envelhecimento da população, a alteração<br />
dos ciclos de vida e das próprias<br />
patologias e a necessidade de<br />
mudanças sistemáticas pelos avanços<br />
da medicina e da tecnologia,<br />
propiciam a procura e o consumo de cuidados e impõem<br />
novos desafios aos sistemas de saúde. Este novo<br />
paradigma, conduz a necessárias revisões aos modelos<br />
de gestão das organizações de saúde e obriga<br />
os decisores a repensar novas medidas de melhoria<br />
contínua dos cuidados prestados em Portugal.<br />
Com este desígnio de encontrar soluções para ultrapassar<br />
as barreiras que são impostas pelas novas<br />
necessidades e novas tecnologias, a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH)<br />
tem vindo a organizar desde 20<strong>17</strong> as Conferências<br />
de Valor APAH, proporcionando o debate entre os<br />
diferentes stakeholders na saúde, criando sinergias e<br />
potenciando respostas para a melhoria dos resultados<br />
em saúde.<br />
Foi neste âmbito que se realizou nos dias 5 e 6 de<br />
abril de <strong>2019</strong>, em Peniche, a 6ª Edição destas conferências,<br />
subordinada ao tema “Modelos de <strong>Gestão</strong> da<br />
Qualidade e Melhoria Contínua”.<br />
Da relação de colaboração que existe entre a APAH<br />
e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NO-<br />
VA), foram criadas condições especiais para a participação<br />
de estudantes nesta conferência e disponibilizados<br />
convites a dois alunos do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH) da<br />
ENSP-NOVA. Fomos as contempladas destes dois<br />
convites, os quais desde já agradecemos, pela possibilidade<br />
de formação em real time, junto de quem faz<br />
acontecer a mudança em saúde, quer seja ela política,<br />
de gestão ou operacional.<br />
As conferências foram presididas por Jorge Varanda,<br />
Administrador <strong>Hospitalar</strong> e sócio de mérito da<br />
APAH, e coordenadas por Alexandre Lourenço, Presidente<br />
da APAH, contando com a participação de<br />
vários intervenientes na área da saúde, entre os quais<br />
gestores e administradores hospitalares, representantes<br />
do Ministério da Saúde, da Segurança Social<br />
e da Justiça, associações de doentes e do consumidor<br />
e elementos da indústria farmacêutica, permitindo a<br />
integração de ideias e o debate de novas articulações<br />
de cuidados em prol de um bem comum: a saúde.<br />
Durante as palestras, foram apresentadas algumas estratégias<br />
de melhoria dos resultados em saúde e do<br />
desempenho hospitalar a nível nacional e internacional.<br />
Pela voz e experiência da preletora Marcia Mak-<br />
disse, médica e gestora do Escritório de <strong>Gestão</strong> de<br />
Valor do Hospital Israelita Albert Einstein, em São<br />
Paulo, Brasil, foi apresentado o roteiro estratégico<br />
desta instituição para uma cultura de melhoria contínua<br />
dos cuidados de saúde, baseados em valor, no<br />
qual as principais áreas de atuação para a transformação<br />
do sistema de saúde são os sistemas de business<br />
intelligence, os novos modelos de remuneração e de<br />
performance clínica, a padronização de resultados<br />
e a inovação, geração e difusão do conhecimento.<br />
Dos exemplos dos hospitais portugueses, foi realçada<br />
a necessidade da cooperação e do trabalho de<br />
equipa e da definição das funções de cada um dentro<br />
dessa equipa. Tal como referido por um dos preletores,<br />
as equipas de cuidados de saúde podem ser<br />
comparadas a uma orquestra - se cada um tocar para<br />
seu lado, sem uma coordenação e liderança, o<br />
resultado não será o mais agradável. É assim necessária<br />
esta integração e melhoria da comunicação entre<br />
diferentes áreas para criação de valor em saúde.<br />
É também imperativo um adequado planeamento<br />
de cuidados, através do plano individual do doente<br />
e do planeamento da sua alta. Nos dias de hoje, os<br />
exames de diagnóstico realizados e as terapêuticas<br />
prescritas prolongam os dias de internamentos aos<br />
nossos doentes, sendo que estes, ao longo do seu<br />
percurso de hospitalização, vão ficando mais dependentes.<br />
Já como referia António Lobo Antunes,<br />
mencionado por um dos preletores: “Estamos mais<br />
velhos, mais doentes e mais caros”. Muitos destes<br />
internamentos, de acordo com os dados do 3<strong>º</strong> Barómetro<br />
de Internamentos Sociais (BIS), são considerados<br />
como inapropriados, essencialmente por<br />
falta de resposta social. Atualmente, estes internamentos<br />
correspondem a 829 camas do SNS (4,7%<br />
do total de internamentos), a uma demora média<br />
de 98,4 dias e a um impacto financeiro de 84,8 milhões<br />
de euros.<br />
É assim importante repensar os modelos de gestão<br />
existentes e vencer as barreiras das profissões - é um<br />
dos desafios culturais que se coloca, uma vez que as<br />
organizações de saúde estão estruturadas em função<br />
dos seus profissionais e não estão centradas no<br />
doente. Só a própria existência do termo “internamento<br />
social”, denuncia o problema existente nos<br />
hospitais portugueses, os quais pretendem garantir<br />
a estes doentes a manutenção de direitos básicos,<br />
como a saúde, a alimentação e a higiene. É necessário<br />
pensar em estratégias conjuntas, centradas na<br />
pessoa, no doente, com uma visão holística das suas<br />
necessidades, criando parcerias sociais, de saúde e<br />
políticas, aumentando a sustentabilidade do Serviço<br />
“IF NOT WE, WHO THEN?”,<br />
“IF NOT NOW, THEN WHEN? ”<br />
”<br />
Danny Havenith,<br />
Diretor da Belgian Association of Healthcare<br />
Managers, Bélgica<br />
Nacional de Saúde (SNS) e promovendo a equidade<br />
e a eficiência dos cuidados prestados.<br />
Por último, e não menos importante, é preciso que<br />
seja desenvolvida uma cultura de avaliação, assente<br />
num adequado sistema de informação, com vista à<br />
digitalização e simplificação dos processos, para que<br />
se possam desenhar estratégias de mudança efetivas<br />
e avaliar o desempenho dos profissionais de saúde,<br />
das organizações e da satisfação, não só dos doentes,<br />
mas de todos os parceiros que permitem o aumento<br />
do valor em saúde no SNS.<br />
O local escolhido para esta edição foi o MH Peniche<br />
Hotel, o qual envolveu todos os participantes<br />
num ambiente muito acolhedor, integrado numa<br />
paisagem deslumbrante sobre o mar…, a lembrar<br />
os nossos descobrimentos e a vontade de conquista<br />
de novos desafios. Muitos foram os que pararam um<br />
pouco a olhar para a paisagem, tirando fotografias,<br />
nos intervalos das conferências e entre conversas<br />
animadas. Foi este o ambiente que se viveu durante<br />
os dois dias de trabalho, de grande cumplicidade<br />
e vontade de fazer sempre, a cada dia, um pouco<br />
melhor para a saúde em Portugal.<br />
Esta conferência deixou-nos com uma vontade de<br />
mudar comportamentos e com novas ferramentas<br />
para o pensar e o agir em prol da melhoria dos cuidados<br />
de saúde.<br />
Um bem haja à APAH e a todos os que trabalham<br />
diariamente para uma melhor prestação de cuidados<br />
e resultados em saúde, e um agradecimento especial<br />
à APAH pela oportunidade que foi dada aos alunos<br />
do CEAH da ENSP-NOVA de fazerem parte desta<br />
excelente iniciativa. Ã<br />
46 47
GH Iniciativa APAH | barómetro<br />
BARÓMETRO DA ADOÇÃO<br />
DA TELESSAÚDE<br />
E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />
NO SISTEMA DE SAÚDE<br />
RESULTADOS DA 1 a EDIÇÃO<br />
Teresa Magalhães<br />
Professora Auxiliar convidada da ENSP<br />
e Coordenadora do Grupo Trabalho para<br />
a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde da APAH<br />
O<br />
“Barómetro da adoção da telessaúde<br />
e inteligência artificial no sistema<br />
de saúde” é uma iniciativa da Associação<br />
Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e da Glintt<br />
- Global Intelligent Technologies, S.A que conta com<br />
a parceria científica da Escola Nacional de Saúde<br />
Pública (ENSP) e o apoio institucional dos Serviços<br />
Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) tendo os<br />
resultados da 1.ª edição do “Barómetro” sido apresentados<br />
no passado dia 4 de junho na sede da Associação<br />
Nacional de Farmácias, em Lisboa.<br />
1. Enquadramento<br />
A Telessaúde é atualmente uma ferramenta que permite<br />
a prestação de cuidados de saúde à distância,<br />
a organização de serviços e a formação de profissionais<br />
e utentes. Trata-se de uma área cujas vantagens<br />
se encontram amplamente discutidas na literatura<br />
científica. A este respeito a Organização Mundial de<br />
Saúde (OMS) considera que um dos principais benefícios<br />
da Telessaúde é melhorar o acesso e também<br />
promover a equidade nesse acesso. Independentemente<br />
de onde estão localizados geograficamente os<br />
doentes, todos têm a mesma possibilidade de acesso<br />
a cuidados de saúde, para além de uniformizar processos<br />
e práticas clínicas (OMS 2016). A Telessaúde<br />
é vista como uma ferramenta chave para providenciar<br />
cobertura de saúde universal e para uma melhor<br />
integração de cuidados, em especial em condições<br />
de doenças crónicas (OMS, 2016; Stroetmann, et al,<br />
2010), com resultados evidentes na efetividade e na<br />
eficiência (Totten, et al, 2016).<br />
É ainda reconhecida na literatura como um exemplo<br />
de inovação disruptiva que afeta a forma como<br />
os profissionais de saúde e o próprio sistema de saúde<br />
interage com os doentes (Fatehi, et al , 20<strong>17</strong>).<br />
A seguir à inteligência artificial, a Telessaúde é considerada<br />
a segunda tecnologia com maior potencial de<br />
inovação disruptiva nos próximos cinco anos, em particular<br />
a monitorização remota (Research 2 Guidance,<br />
20<strong>17</strong>). De referir que a Telessaúde é considerada na<br />
Estratégia Nacional para o Ecossistema de Informação<br />
de Saúde 2022 (ENESIS 2022) como um programa<br />
estratégico e tem uma linha de financiamento próprio<br />
nos Contratos-Programa dos Hospitais do SNS, em<br />
particular Teleconsultas e Telemonitorização.<br />
Por sua vez, a Inteligência Artificial (IA) tem um contributo<br />
relevante a dar no apoio à decisão clínica,<br />
na otimização de recursos e capacidade instalada,<br />
na melhoria da jornada do cidadão e seu contacto<br />
com as instituições, bem como na antecipação de<br />
estados de saúde quer do indivíduo, quer na saúde<br />
pública (OMS, 2015). O conceito de IA abordado<br />
neste Barómetro diz respeito à vertente de Advanced<br />
Analytics que compreende as soluções ou sistemas<br />
que utilizam técnicas de exploração de dados, de modelação,<br />
de simulação, de otimização e de aprendizagem<br />
automática com o objetivo de descrever, prever<br />
e compreender um conjunto de fenómenos de interesse<br />
para os decisores (Boobier, 2018; Gandomi<br />
e Haider, 2015).<br />
2. Objetivos<br />
O presente estudo é um estudo exploratório e servirá<br />
de base para a construção de escalas de adoção<br />
da Telessaúde e da Inteligência Artificial em Portugal<br />
tendo como objetivos gerais: i) Compreender o nível<br />
de adoção da Telessaúde e da Inteligência Artificial<br />
nas Instituições do Sistema de Saúde Português; ii)<br />
Identificar áreas de potencial utilização no Sistema de<br />
Saúde Português; e, iii) Clarificar os pontos críticos (facilitadores<br />
e barreiras) para a sua adoção e utilização.<br />
Como objetivos específicos para a componente de<br />
Telessaúde foram definidos: i) Identificar o nível de<br />
adoção de Telessaúde no Sistema de Saúde Português<br />
e em que áreas; ii) Identificar os facilitadores<br />
e barreiras na adoção da Telessaúde; iii) Relacionar<br />
o nível de adoção com as atitudes face à Telessaúde.<br />
Já para Inteligência Artificial foram definidos os seguintes<br />
objetivos específicos: i) Identificar o nível de adoção<br />
da Inteligência Artificial no Sistema de Saúde Português<br />
e em que áreas; ii) Identificar os facilitadores<br />
e barreiras na adoção da Inteligência Artificial; iii) Identificar<br />
o nível de maturidade auto percecionada pelas<br />
instituições de saúde e relacionar o com o nível de<br />
adoção da Inteligência Artificial.<br />
3. Metodologia<br />
O “Barómetro” teve como destinatários todos os profissionais<br />
em exercício de funções de gestão de topo<br />
nos diversos agentes do Sistema de Saúde Português<br />
(entidades centrais, prestadores públicos e privados<br />
de cuidados de saúde, setor social e seguradoras,<br />
etc.) e foi materializado através da construção de um<br />
questionário utilizando como suporte de recolha de<br />
respostas a ferramenta Microsoft Forms que foi disponibilizado<br />
online através de weblink de 15 de abril a 6<br />
de maio de <strong>2019</strong>.<br />
Foram recolhidas 77 respostas correspondentes a 57<br />
instituições diferentes. Das 77 respostas obtidas ex- }<br />
48 49
GH Iniciativa APAH | barómetro<br />
cluíram-se aquelas em que não foi possível identificar<br />
a instituição (n=2). A partir das 75 instituições conhecidas,<br />
foram consideradas as respostas provenientes<br />
de membros do Conselho de Administração (n=24)<br />
e apenas os casos onde as respostas dos membros<br />
do mesmo Conselho de Administração não foram<br />
incoerentes (n=15), tendo-se obtido 36 respostas<br />
válidas consideradas para análise.<br />
Considerou-se para a análise das atitudes de telessaúde<br />
as 75 respostas.<br />
Paralelamente realizou-se uma análise apenas dos<br />
hospitais pertencentes ao Serviço Nacional de Saúde<br />
(SNS) (n=24) – Centros <strong>Hospitalar</strong>es (CH) e Hospitais<br />
EPE (HH) e Parcerias Público Privadas (PPP),<br />
Unidades Locais de Saúde (ULS) e hospitais geridos<br />
pelas misericórdias. Caracterizaram-se os respondentes,<br />
através das variáveis: anos no Conselho de Administração,<br />
tipologia da instituição onde exercem o<br />
cargo e género.<br />
Para análise estatística consideraram-se três grupos:<br />
Agrupamentos de Centros de Saúde (n=2); CH/HH/<br />
ULS (n=27) onde estão incluídos centros hospitalares<br />
ou hospitais públicos até 500 camas (n =13) ou<br />
mais de 500 camas (n=3), os hospitais em parceria<br />
publico privada (n=3), as unidades de saúde do setor<br />
social (n=2), as unidades de saúde privadas (n=1)<br />
e as ULS (n=5); e Outras entidades (n=7), onde se<br />
incluíram seguradoras (n=1), unidades do setor social<br />
fora do contexto dos cuidados hospitalares (n=1),<br />
unidade de saúde privada fora do âmbito dos cuidados<br />
hospitalares (n=2) e outras tipologias que não<br />
se enquadram nas categorias anteriormente referidas<br />
(n=3). Para a amostra dos hospitais pertencentes ao<br />
SNS (n=24), foi também realizada uma análise por<br />
região de saúde: Norte, Lisboa e Vale do Tejo, Centro,<br />
Alentejo e Algarve.<br />
Ressalva-se que o questionário elaborado é um estudo<br />
exploratório e servirá de base para a construção<br />
de escalas de adoção da telessaúde e da inteligência<br />
artificial. Tendo esta restrição como base, os resultados<br />
apresentados são apenas indicativos e devem ser<br />
lidos com cautela.<br />
3.1. Metodologia utilizada na Telessaúde<br />
Tanto para a amostra das respostas válidas (n=36),<br />
como para a amostra do universo de hospitais pertencentes<br />
ao SNS, foi analisado o número de áreas diferentes<br />
de Telessaúde implementado por tipologia de<br />
instituição, onde 0 corresponde a nenhuma área de<br />
serviços prestados, 1 significa que presta cuidados apenas<br />
numa área de Telessaúde, e assim sucessivamente<br />
até ao 8 que corresponde à prestação de serviços em<br />
todas as áreas de Telessaúde identificadas. As áreas<br />
de Telessaúde consideradas para análise foram Teleconsulta<br />
síncrona, Teleconsulta assíncrona, Telediagnóstico,<br />
Telereabilitação, Telerastreio, Teletriagem, Telemonitorização<br />
e outras.<br />
Excecionalmente na análise das atitudes face à Telessaúde<br />
foi utilizada a amostra integral (n=75). Para tal,<br />
foi utilizada uma escala de 5 pontos, onde 0 refere-se<br />
à resposta Discordo totalmente, 1 refere-se a Discordo,<br />
2 a Indiferente/Neutro, 3 a Concordo e, finalmente<br />
4 Concordo Totalmente.<br />
De forma a identificarem-se facilitadores e barreiras<br />
na adoção da Telessaúde realizou-se uma pesquisa<br />
bibliográfica (literatura científica, literatura cinzenta<br />
e consulta a peritos na área), tendo-se apurado um<br />
conjunto de 8 facilitadores e 8 barreiras. Realizouse<br />
uma análise de forma a identificar os facilitadores<br />
e barreiras na adoção da Telessaúde mais frequentes<br />
para a amostra total das respostas válidas (n=36)<br />
e para a amostra dos hospitais pertencentes ao SNS<br />
(n=24).<br />
3.2. Metodologia utilizada na IA<br />
O apuramento do nível de adoção de IA, foi realizado<br />
identificando um conjunto relevante de áreas de<br />
aplicação da IA. Estas áreas de aplicação resultaram<br />
de pesquisas bibliográficas que incluem a literatura<br />
científica, relatórios de consultoras e experiências<br />
semelhantes (por exemplo, no NHS inglês), e a consulta<br />
a peritos.<br />
Foram identificadas 12 áreas de aplicação agrupadas<br />
em 4 grandes grupos:<br />
• Apoio à decisão clínica: i) Avaliação/estratificação<br />
do risco (reinternamento, patologia, mortalidade,<br />
sépsis, interações entre fármacos, etc.); ii) Interpretação<br />
de imagem; iii) Interpretação e extração de informação<br />
clínica;<br />
• <strong>Gestão</strong> da Saúde / Saúde Pública: i) Deteção precoce<br />
de surtos ou de eventos com impacto na Saúde<br />
Pública de uma determinada população; ii) Estratificação<br />
do risco ao nível da população, região/local<br />
ou período temporal; iii) <strong>Gestão</strong> do doente crónico<br />
(telemonitorização);<br />
• Otimização do desempenho e eficiência operacional:<br />
i) Agendamento de atividades clínicas (consultas,<br />
sessões de HD, cirurgias, MCDT, etc.); ii) Transcrição<br />
de voz; iii) Faturação (deteção de fraude, pré-faturação,<br />
etc.); iv) <strong>Gestão</strong> de Stocks; v) <strong>Gestão</strong> de rotas<br />
e de transportes;<br />
• Novos canais de atendimento: i) Atendimento automático<br />
(Chatbot).<br />
Para medir o nível de adoção de cada uma das áreas<br />
acima foi utilizada a seguinte escala de 5 itens: 1) Não<br />
espera vir a ter nos próximos dois anos; 2) Espera<br />
vir a ter durante os próximos dois anos; 3) Em fase<br />
de conceção/ arranque; 4) Piloto implementado; 5)<br />
Projeto com implementação à escala da instituição<br />
e sustentado. Foi ainda incluído o campo “outros”,<br />
para que os respondentes possam colocar áreas de<br />
aplicação não incluídas nas identificadas acima.<br />
Para cada uma das instituições inquiridas, foi calculada<br />
a percentagem de áreas de aplicação cuja resposta<br />
foi “Não espera vir a ter nos próximos dois anos”,<br />
a percentagem de respostas “Espera vir a ter durante<br />
os próximos dois anos” e a percentagem total das<br />
respostas “Em fase de conceção/ arranque”, “Piloto<br />
implementado” e “Projeto com implementação à escala<br />
da instituição e sustentado”. A última percentagem<br />
foi considerada como proxy do nível de adoção.<br />
Para a identificação dos facilitadores e das barreiras<br />
à adoção de IA, foram realizadas pesquisas bibliográficas<br />
que incluem a literatura científica, relatórios de<br />
consultoras e experiências semelhantes (por exemplo,<br />
no NHS inglês), e a consulta a peritos.<br />
Foram apuradas 13 facilitadores e 13 barreiras e avaliadas<br />
as suas frequências absolutas quer para o total<br />
de respostas válidas (n=36), quer para as respostas<br />
relativas aos hospitais pertencentes ao SNS (n=24).<br />
Para o apuramento do nível de maturidade auto-percecionada,<br />
foi utilizada a escala desenvolvida por João<br />
Vidal de Carvalho e Álvaro Rocha (Carvalho, Rocha<br />
e Vasconcelos, <strong>2019</strong>).<br />
Resultados<br />
Os resultados obtidos na dimensão da Telessaúde<br />
demostram que 75% das instituições participantes<br />
têm pelo menos um projeto implementado na área<br />
sendo que no universo dos hospitais do SNS, que<br />
responderam ao barómetro (n=24; 48% dos hospitais<br />
do SNS), esse valor é de 87%. As ULS são as<br />
Instituições que têm implementadas mais áreas de<br />
Telessaúde por instituição (3,6/ULS), seguidas dos<br />
HH Públicos (>500 camas) (2,3/HH).<br />
O Telerastreio é a área de Telessaúde mais utilizada<br />
(44%), seguida da Teleconsulta síncrona (36%) e do<br />
Telediagnóstico (36%). Já nos hospitais do SNS esses<br />
valores são superiores e correspondem a 58% no telerastreio<br />
e 54% na Teleconsulta síncrona.<br />
Em relação à Telemonitorização remota de doentes<br />
96% dos participantes considera que a Telessaúde<br />
desempenha um papel muito importante na monitorização<br />
remota de doentes crónicos mas apenas<br />
25% dos hospitais SNS disponibilizam cuidados com<br />
recurso a estas tecnologias sendo as áreas de maior<br />
“<br />
O “BARÓMETRO” TEVE COMO<br />
DESTINATÁRIOS TODOS<br />
OS PROFISSIONAIS EM EXERCÍCIO<br />
DE FUNÇÕES DE GESTÃO<br />
DE TOPO NOS DIVERSOS<br />
AGENTES DO SISTEMA<br />
DE SAÚDE PORTUGUÊS.<br />
”<br />
implementação a telemonitorização na Insuficiência<br />
Cardíaca Crónica (13%) e na Diabetes Mellitus (13%).<br />
Quando analisadas as atitudes face à Telessaúde, 53%<br />
dos inquiridos considera que a Telessaúde é uma<br />
prioridade da sua instituição, 47% considera que<br />
a Telessaúde promove a relação Utente - Profissional<br />
de Saúde e 87% que a partilha de dados clínicos por<br />
telemedicina promove a adequada orientação e adesão<br />
à terapêutica dos utentes por ultimo 75% considera<br />
que a Telessaúde permite uma redução das<br />
readmissões hospitalares.<br />
Relativamente ao TOP3 das componentes facilitadoras<br />
e barreiras à adoção da Telessaúde, 61% das<br />
instituições aponta como principal barreira ao desenvolvimento<br />
da telessaúde a infraestrutura tecnológica<br />
(42% aponta a cobertura de banda larga e acesso<br />
à internet reduzido), já 53% das instituições considera<br />
como principal barreira a baixa literacia em Telessaúde<br />
e 44% aponta a baixa motivação na adoção de<br />
Telessaúde por parte dos profissionais de saúde.<br />
Os resultados relativos à adoção da Inteligência Artificial<br />
revelam que 47% das instituições participantes<br />
afirmam ter projetos implementados ou em fase piloto.<br />
25% dos inquiridos já realiza a transcrição de voz, }<br />
50 51
GH Iniciativa APAH | barómetro<br />
“<br />
OS RESULTADOS OBTIDOS<br />
NA DIMENSÃO DA TELESSAÚDE<br />
DEMOSTRAM QUE 75%<br />
DAS INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES<br />
TÊM PELO MENOS UM PROJETO<br />
IMPLEMENTADO NA ÁREA.<br />
”<br />
cimento do potencial de IA por parte dos profissionais<br />
de saúde (oportunidade para formação) e 33%<br />
indicam a disponibilidade e a qualidade dos dados<br />
existentes. Em contraponto, as Barreiras principais à<br />
adoção da IA identificadas destaca-se a ausência de<br />
“Cientistas de Dados” e de “Infraestrutura Tecnológica”<br />
para 44% dos inquiridos e a ausência de recursos<br />
financeiros para 33% das instituições.<br />
Conclusões<br />
Deste primeiro barómetro há a destacar diversos<br />
pontos que se poderão estruturar da seguinte forma:<br />
• A participação das diversas instituições<br />
• Os resultados da telessaúde<br />
• Os resultados da IA<br />
• Os desenvolvimentos futuros<br />
Quanto à participação das Instituições destaca-se<br />
a resposta de 48% das Instituições <strong>Hospitalar</strong>es do<br />
SNS, representando um bom princípio para os futuros<br />
barómetros. No entanto, a área de telessaúde<br />
tendo como princípio a integração de cuidados<br />
e uma maior participação do utente exige-se uma<br />
maior adesão na resposta ao inquérito por parte dos<br />
cuidados de saúde primários. São muitos os projetos<br />
implementados que há que dar voz e conhecimento<br />
dos mesmos.<br />
Este barómetro assume-se como um espaço de observador<br />
destas áreas, pretendendo ser a alavanca<br />
para ultrapassar barreiras e disseminar conhecimento<br />
nesta área tanto para profissionais de saúde, como<br />
para doentes, academia e população em geral.<br />
Nos resultados de telessaúde há que destacar que<br />
apesar de ser um consenso que a telessaúde desempenha<br />
um papel muito importante na monitorização<br />
remota de doentes crónicos, apenas 25% dos hospitais<br />
do universo do SNS têm projetos implementados,<br />
apesar do incentivo para estes programas no<br />
financiamento dos contratos-programa. Destacam-se<br />
nestes programas a maior percentagem de telemonitorização<br />
da insuficiência cardíaca crónica e a diabetes<br />
mellitus, com 13% cada.<br />
De referir também que a seguir à infraestrutura tecnológica<br />
é apresentada como principal barreira para<br />
a implementação de programas de telessaúde a baxa<br />
literacia tanto de profissionais como de utentes.<br />
Poderá ser esta uma das justificações para a baixa<br />
implementação dos programas de telemonitorização<br />
que exigem a forte participação do doente e dos profissionais<br />
de saúde e, principalmente, como colocar<br />
um programa destes em marcha porque exige que<br />
estejam alinhadas uma série de condições que nem<br />
sempre são do conhecimento de todos. E por isso,<br />
14% fazem o agendamento de atividades clínicas e<br />
11% a interpretação e extração de informação clínica.<br />
Já quanto à maturidade auto-percepcionada, 33%<br />
das Instituições revêm-se no nível de maturidade mais<br />
baixo e 14% das Instituições revêm-se no nível de<br />
maturidade mais elevado.<br />
Na análise ao potencial de implementação da IA a 2<br />
anos são as áreas de apoio à decisão clínica as que<br />
apresentam mais potencial de realização: No TOP3<br />
das áreas de implementação de IA surge com 69%<br />
a avaliação/estratificação do risco, com 67% a interpretação<br />
e extração de informação clínica e com 64%<br />
o agendamento de atividades clínicas e a gestão do<br />
doente crónico (telemonitorização).<br />
Os participantes no estudo identificaram igualmente<br />
outras aplicações da IA por exemplo na pré-autorização<br />
de financiamento, na identificação e combate<br />
à fraude e abuso; no Processo Clínico de Enfermagem,<br />
na utilização de cateteres vesicais (objetivo para<br />
a diminuição de infeções associadas à sua utilização)<br />
e na robotização de processos administrativos (agendamento,<br />
reagendamento, faturação, emissão de faturação,<br />
relatórios automáticos).<br />
Relativamente ao TOP3 das componentes facilitadoras<br />
à adoção da IA, 58% consideraram importante<br />
a inclusão da sua utilização no Plano Estratégico da<br />
Instituição, 50% colocam a necessidade de reconhea<br />
necessidade de informar tanto profissionais como<br />
associações de doentes, podendo aqui a APAH ter<br />
um importante papel na sua formação e divulgação.<br />
Quanto aos resultados da IA é um tema que deverá<br />
ser melhor trabalhado em futuros inquéritos porque<br />
nos parece que 47% das Instituições respondentes<br />
terem projetos implementados ou em fase piloto de<br />
inteligência artificial é um valor elevado e que não<br />
conseguimos cientificamente comprovar este valor<br />
com o resultado da maturidade. É preciso mais respostas<br />
e mais evidência.<br />
Apesar desta nota é de evidenciar que as áreas com<br />
mais potencial e que geram mais interesse pelo seu<br />
retorno são o apoio à decisão clínica.<br />
Como desenvolvimentos futuros há que ressalvar a<br />
necessidade de validação científica desta ferramenta<br />
que poderá ser assim um importante instrumento<br />
não só para barómetro como para investigação.<br />
Como já se referiu será necessário fazer um trabalho<br />
de proximidade de divulgação da importância da resposta<br />
a este inquérito não só por parte dos hospitais<br />
mas também dos cuidados de saúde primários. Ã<br />
• Boobier T. Advanced analytics and AI: impact, implementation, and the<br />
future of work. 1st ed. John Wiley & Sons, Inc.; 2018. 286 p.<br />
• Carvalho JV, Rocha Á, Vasconcelos J, Abreu A. A health data analytics<br />
maturity model for hospitals information systems. Int J Inf Manage (Internet).<br />
<strong>2019</strong>;46 (July): 278-85. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2018.07.00.<br />
• Fatehi F, Smith AC, Maeder A, Wade V, Gray LC. How to formulate<br />
research questions and design studies for telehealth assessment<br />
and evaluation. J Telemed Telecare. 20<strong>17</strong>; 23(9): 759-63. https://doi.or-<br />
g/10.1<strong>17</strong>7/1357633X16673274-<br />
• Gandomi A, Haider M. Beyond the hype: Big data concepts, methods,<br />
and analytics. Int J Inf Manage (Internet). 2015 (cited <strong>2019</strong>, Jan 13); 35:137-44.<br />
Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2014.10.007.<br />
• OMS. Global diffusion of eHealth : making universal health coverage<br />
achievable. Report of the third global survey on eHealth. (Internet). Geneva:<br />
World Health Organization. 2016. Available from: http://www.wipo.int/<br />
amc/en/mediation/rules%0A. Report of the third global survey on eHealth<br />
Global Observatory for eHealth.<br />
• OMS. No Title (Internet). (cited <strong>2019</strong>, Jan 15). Available from: https://<br />
www.who.int/ethics/topics/big-data-artificial-intelligence/en/.<br />
• Stroetmann KA, Kubitschke L, Robinson S, Stroetmann V, Cullen K, Mc-<br />
Daid D. How can telehealth help in the provision of integrated care? World<br />
Health Organization (Internet). 2010; 39. Available from: http://www.euro.<br />
who.int/__data/assets/pdf_file/0011/120998/E94265.pdf.<br />
• Totten A, Womack D, Eden K, McDonagh M, Griffin J, Grusing S, et al.<br />
Telehealth: Mapping the Evidence for Patient Outcomes From Systematic<br />
Reviews. (Internet). Rockville; 2016. Available from: www.effectivehealthcare.ahrq.gov/reports/final.cfm.<br />
52 53
GH Iniciativa APAH | barómetro<br />
ANÁLISE AOS RESULTADOS<br />
DO BARÓMETRO DA ADOÇÃO<br />
DA TELESSAÚDE<br />
E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />
Eduardo Castela<br />
Presidente da Associação<br />
Portuguesa de Telemedicina<br />
Fernando Mota<br />
Vice-Presidente da Associação<br />
Portuguesa de Telemedicina<br />
A<br />
oportunidade do lançamento da iniciativa<br />
para criar um Barómetro da<br />
Adopção da Telessaúde e da Inteligência<br />
Artificial é por demais evidente,<br />
num cenário em que se reconhece<br />
a aposta do Governo em apoiar estas técnicas e<br />
em que se anuncia um Plano Estratégico para a área.<br />
Neste contexto, a Associação Portuguesa de Telemedicina<br />
(APT) saúda a iniciativa, não apenas pela qualidade<br />
dos promotores - a Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH), a Glintt, e o parceiro<br />
científico, a Escola Nacional de Saúde Pública, mas também<br />
pelos objetivos estabelecidos:<br />
• A compreensão dos níveis de adopção da telessaúde<br />
(e da Inteligência Artificial) nas instituições do Sistema<br />
de Saúde - ainda que nos preocupe prioritariamente o<br />
universo do Serviço Nacional de Saúde;<br />
• A identificação dos pontos críticos - facilitadores e inibidores,<br />
da adopção da presente técnica da telemedicina/telessaúde.<br />
Assinale-se ainda, e saúde-se, o apoio institucional da<br />
SPMS, na expectativa de uma transformação colaborativa<br />
e dialogante com os diferentes atores que intervêm<br />
nos processos técnicos e tecnológicos da prestação<br />
de cuidados de saúde, no caso vertente, no uso das<br />
ferramentas de suporte da telessaúde/telemedicina.<br />
Como atrás referido, a oportunidade do Barómetro é,<br />
por demais, evidente: as diretivas para a adoção da telemedicina/telessaúde<br />
são um facto, pelo que se torna necessário<br />
proceder à avaliação independente dos resultados<br />
obtidos perante métricas claras, suportadas cientificamente<br />
e adaptadas à realidade assistencial do País.<br />
Embora o questionário que a equipa do Barómetro<br />
elaborou seja um estudo exploratório, de que decorre<br />
que os resultados obtidos sejam apenas indicativos, não<br />
desmerece o trabalho apresentado - trata-se de uma<br />
etapa obrigatória para o conhecimento e para a construção<br />
de escalas de adoção da telessaúde e da inteligência<br />
artificial.<br />
Da metodologia e da amostra<br />
Será oportuno debruçarmo-nos inicialmente sobre alguns<br />
aspetos exploratórios relativos ao capítulo da metodologia<br />
e da representatividade da amostra.<br />
Releva, contudo, antes de mais, reafirmar que é incontestável<br />
a valia e o esforço feito nesse sentido, das bases<br />
científicas do estudo. Contudo, a APT, gostaria de<br />
propor algumas reflexões em torno dos aspetos a seguir<br />
discriminados.<br />
1. A equipa de trabalho<br />
A equipa de trabalho que elaborou o estudo é composta<br />
por um elemento da APAH, dois elementos da }<br />
54 55
GH Iniciativa APAH | barómetro<br />
“<br />
A INFRAESTRUTURA<br />
TECNOLÓGICA INCLUI<br />
NÃO APENAS A REDE<br />
DE COMUNICAÇÕES, MAS<br />
TAMBÉM A(S) APLICAÇÃO(ÕES)<br />
INFORMÁTICA(S).<br />
”<br />
Glintt e três elementos da ENSP, um dos quais coordenou<br />
o grupo.<br />
Será de repensar a equipa de modo a integrar:<br />
a) Profissionais de saúde com actividade reconhecida<br />
no âmbito da prática da telessaúde/telemedicina (um<br />
médico e/ou um enfermeiro);<br />
b) Gestores de unidades de saúde, igualmente reconhecidamente<br />
empenhados e com resultados na utilização<br />
da telessaúde/telemedicina (administrador de hospital,<br />
director executivo de ACeS, coordenador de uma<br />
Unidade de Saúde Familiar (USF));<br />
c) Cidadãos, utentes do SNS.<br />
2. A amostra<br />
Não nos ateremos em considerandos sobre a validade<br />
da amostra: a metodologia utilizada e os questionários<br />
elaborados encontram-se devidamente tipificados e caracterizados<br />
no estudo.<br />
Para a APT a prática da telessaúde/telemedicina envolve<br />
um conjunto de atores que integra não apenas profissionais<br />
de saúde e utentes, mas também, entre outros,<br />
corpos técnicos diversos, desde o que garante a<br />
operacionalidade da infraestrutura tecnológica, passando<br />
pelo administrativo que operacionaliza a formalização<br />
da contratualização dos serviços prestados, até aos<br />
membros do conselho de administração com intervenção<br />
no esforço inicial de lançamento das iniciativas de<br />
telessaúde/telemedicina e na continuidade da respe-<br />
tiva prática.<br />
Entende a APT que este é o público alvo de questionários<br />
futuros que aproximam o estudo da adoção da telessaúde/telemedicina<br />
ao terreno operacional em que<br />
esta prática se desenvolve e acontece.<br />
Os membros dos conselhos de administração são um<br />
grupo essencial na realização de qualquer inquérito/<br />
estudo sobre a presente problemática. Porém, tal como<br />
os demais grupos profissionais do ecossistema da<br />
telessaúde/telemedicina, estão sujeitos aos constrangimentos<br />
próprios da sua intervenção no processo. A título<br />
de exemplo, como reflexão, 96% dos inquiridos<br />
considera que “a telessaúde promove a relação utente-profissional<br />
de saúde”. Será que os profissionais de<br />
saúde subscrevem esta afirmação?<br />
Neste contexto apenas a inquirição dos diversos atores<br />
poderá dar uma imagem mais aproximada do que realmente<br />
se passa no terreno.<br />
3. O questionário<br />
Acredita a APT que a identificação e monitorização da<br />
adoção da telemedicina/telessaúde beneficiaria com<br />
a recolha de algumas informações adicionais:<br />
a) Qual o papel da legislação no impulsionar da telemedicina/telessaúde?<br />
Se o telerastreio é a área com maior utilização<br />
(44%) e sabendo que existe um despacho que<br />
obriga à sua utilização e que foi impedida a referenciação<br />
dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) para a consulta<br />
de dermatologia presencial, será legítimo pensar que<br />
mais medidas como esta devam ser adotadas? Isto é, que<br />
o “empurrãozinho” legislativo ajuda ou é necessário?<br />
b) Qual é o número de atos de prestação de cuidados<br />
de saúde que foram efetuados recorrendo ao uso da telessaúde/telemedicina<br />
e qual é o número total dos<br />
mesmos atos na instituição (na região, no País)? Qual<br />
a relação entre estes dois dados? Qual a percentagem<br />
de atos efetuados no âmbito da telesaúde (que expressão<br />
têm)?<br />
Se:<br />
• 96% dos inquiridos considera que “a telessaúde promove<br />
a relação utente-profissional de saúde”;<br />
• 96% dos inquiridos considera que “a telessaúde ajuda<br />
a colmatar a falta de resposta das instituições de saúde”;<br />
• 96% dos inquiridos considera que “a telessaúde promove<br />
uma melhor autogestão da doença”;<br />
• 87% dos inquiridos considera que “a partilha de dados<br />
clínicos por telemedicina promove adequada ori-<br />
-entação e adesão terapêutica”.<br />
Então porque há tão poucas teleconsultas (cerca de<br />
3%) no universo de consultas em Portugal?<br />
c) Qual a regularidade da prática da telemedicina/telessaúde<br />
na instituição? A APT considera que apenas a<br />
prática regular da telessaúde determina a adoção desta<br />
técnica. De resto são conhecidos, no SNS, experiências<br />
e pilotos que se iniciaram e concluíram sem que<br />
a adoção se tivesse concretizado, para além dos casos<br />
em que, apesar de bem-sucedidos inicialmente, caíram<br />
posteriormente em desuso; e nestes casos importava<br />
identificar os motivos que justificaram a não adoção.<br />
Das conclusões<br />
Finalmente, uns poucos comentários e reflexões sobre<br />
algumas das conclusões do Relatório Final do Barómetro,<br />
as primeiras relativas aos facilitadores e às barreiras<br />
na adoção da telessaúde/telemedicina, e as segundas<br />
sobre algumas conclusões que nos motivam outras tantas<br />
interrogações.<br />
Assim, relativamente aos facilitadores e barreiras:<br />
Em primeiro lugar, 61% dos inquiridos identifica a infraestrutura<br />
tecnológica desadequada, como sendo a<br />
maior barreira, o que significa que é urgente investir<br />
nesta área. Não se pode pedir aos utilizadores médicos<br />
(entre outros) que lidem com plataformas desadequadas<br />
e que não sejam facilitadores. A telessaúde é uma<br />
ferramenta que tem de ser vista como facilitadora e o<br />
sistema de informação de suporte deve acompanhar<br />
este ensejo.<br />
A APT identificou desde sempre este problema. Conhecida<br />
que é a génese da Associação Portuguesa de<br />
Telemedicina 1 permitimo-nos trazer à colação a experiência<br />
dramática e as dificuldades sentidas na estabi-<br />
lização e adequação da infraestrutura tecnológica na<br />
Cardiologia Pediátrica do CHUC que presta serviços<br />
de telemedicina - consultas em linha (síncronas) com<br />
tele-ecocardiografia em tempo real, com hospitais das<br />
regiões Norte e Centro e com países africanos de língua<br />
portuguesa.<br />
E relembrar que a infraestrutura tecnológica inclui não<br />
apenas a rede de comunicações, mas também a(s) aplicação(ões)<br />
informática(s) que permite(m) a realização<br />
do ato clínico à distância. E que ambos apresentam<br />
problemas que inibem a prática da telemedicina que a<br />
SPMS não resolve, e por isso inibe a adopção, desde há<br />
cerca de oito (!) anos a esta parte.<br />
Não é objeto do Barómetro, mas de elevado interesse<br />
para os diversos profissionais, para os diferentes responsáveis,<br />
para as instituições e para a Tutela, a revisão da<br />
estratégia da SPMS nesta matéria, de modo a alcançar a<br />
total disponibilidade das infraestruturas para a viabilização<br />
da adoção da telemedicina/telessaúde. Para quando,<br />
pois, por parte do Ministério da Saúde, uma aposta<br />
clara numa plataforma tecnológica que satisfaça os quesitos<br />
técnicos e funcionais dos agentes envolvidos?<br />
Um segundo aspeto dos “Facilitadores e Barreiras”, é a<br />
muito interessante reflexão sobre o papel da “Motivação<br />
na adoção da telessaúde dos profissionais”. Com<br />
efeito, 67% dos inquiridos apontam-na como facilitador.<br />
Uma vez mais recorrendo à génese da APT, o seu }<br />
56 57
GH Iniciativa APAH | barómetro<br />
“<br />
O BARÓMETRO É A GÉNESE<br />
DE UMA FERRAMENTA<br />
QUE TRARÁ O CONHECIMENTO<br />
DO NÍVEL DE ADOÇÃO<br />
DA TELESSAÚDE<br />
EM PORTUGAL.<br />
”<br />
Presidente pode testemunhar esse papel, uma vez que,<br />
tendo sido, desde cedo, um “evangelizador” da telemedicina,<br />
foi facilitador e motivador da sua prática no<br />
Hospital Pediátrico, no CHUC e na Região Centro.<br />
Contraditoriamente, contudo, 44% dos inquiridos citam-na<br />
como barreira à adoção! Importaria perceber<br />
a que se deve esta barreira: à gestão de topo (os conselhos<br />
de administração), aos responsáveis pelos Serviços<br />
de Ação Médica? Haverá necessidade de formação<br />
de profissionais de saúde (médicos)?<br />
Vem a propósito lembrar que 53% dos respondentes<br />
identificaram a “Baixa literacia em telessaúde” como<br />
barreira na adoção, imediatamente a seguir à “Infraestrutura<br />
tecnológica”! Note-se que a questão da literacia<br />
enquanto barreira, coloca-nos uma outra questão<br />
a incluir nos questionários: será necessário identificar<br />
o nível de literacia de cada respondente? E identificar<br />
necessidades de formação?<br />
No que diz respeito às restantes conclusões do barómetro,<br />
apenas algumas interrogações se nos colocam.<br />
Porque é que “As ULS são as instituições que têm implementado<br />
mais áreas de telessaúde por instituição”<br />
designadamente mais áreas do que os Centros <strong>Hospitalar</strong>es/Hospitais?<br />
• Porque estão sob a gestão de um só órgão (conselho<br />
de administração)?<br />
• Pela necessidade de partilha de informação clínica intra-ULS?<br />
58<br />
• Porque focam no cidadão o centro dos cuidados<br />
prestados na ULS (intra-ULS)?<br />
• Porque têm uma visão mais integradora da medicina?<br />
• Porque têm uma visão mais integradora da complementaridade<br />
de cuidados primários e hospitalares?<br />
Esta questão traduz a preocupação hospitalar na área<br />
da complementaridade e integração de cuidados: que<br />
perguntas poderiam ser introduzidas no questionário<br />
para encontrar respostas?<br />
Porque é que o telerastreio tem mais projetos que a<br />
teleconsulta ou o telediagnóstico?<br />
• E porque não a teleconsulta síncrona, por exemplo?<br />
• Por orientações políticas de cariz regional?<br />
• Por se identificar uma aposta clara de algumas especialidades<br />
médicas com maior propensão para a<br />
telessaúde?<br />
Como se incentiva o desenvolvimento e a adoção das<br />
áreas da telessaúde no SNS? Que ideias poderão ter<br />
os grupos profissionais - a inquirir doravante, sobre esta<br />
questão?<br />
Que bloqueios e dificuldades poderão ser identificados<br />
aos diversos níveis - central, regional e local, no<br />
cumprimento da vontade política para se desenvolverem<br />
projetos que conduzam à adoção da telessaúde<br />
no âmbito da rede de referenciação entre os<br />
diversos níveis de cuidados de saúde: primários, hospitalares,<br />
continuados?<br />
• Qual a opinião sobre esta matéria dos conselhos de<br />
administração (Hospitais, Centros <strong>Hospitalar</strong>es, Unida-des<br />
Locais de Saúde), dos conselhos directivos das<br />
Administrações Regionais de Saúde (ARS), da Administração<br />
Central do Sistema de Saúde (ACSS), dos<br />
directores executivos dos Agrupamentos de Centros<br />
de Saúde (ACeS), dos Coordenadores das USF, dos<br />
directores de Serviço <strong>Hospitalar</strong>es, entre outros?<br />
• E qual a opinião dos pacientes e dos utentes, de um<br />
modo geral?<br />
Conclusão<br />
Foram estas algumas das questões que a Associação<br />
Portuguesa de Telemedicina entendeu por bem equacionar,<br />
no âmbito do estudo elaborado pelo Barómetro<br />
da adoção da telessaúde e da inteligência artificial<br />
no Sistema da Saúde que, em boa hora, a APAH decidiu<br />
promover.<br />
Trata-se de uma iniciativa de inegável mérito que merece<br />
a maior atenção das instituições de saúde, particularmente<br />
do Serviço Nacional de Saúde, do Ministério da<br />
Saúde e de todos os atores que compõem o ecossistema<br />
da telessaúde/telemedicina.<br />
E merece também que não fique por aqui, que se aperfeiçoe<br />
de modo a alcançar um grau de maturidade que<br />
permita periodicamente dar uma visão independente,<br />
cientificamente sustentada, do estado da arte da adoção<br />
da telessaúde em Portugal.<br />
A Associação Portuguesa de Telemedicina tem por finalidade<br />
apoiar, implementar e dinamizar a prática da<br />
telemedicina nas suas várias vertentes - teleconsulta, teleurgência,<br />
teleformação, teleconsultadoria, etc., de modo<br />
a potenciar as suas principais vantagens, nomeadamente,<br />
a obtenção de ganhos em saúde, o incremento<br />
da acessibilidade da população à prestação de cuidados<br />
de saúde, a melhoria da articulação entre cuidados de<br />
saúde, a rentabilização dos recursos instalados e a consequente<br />
redução de custos diretos e indiretos, a formação<br />
continuada uma vez que o contacto entre os<br />
diversos profissionais no âmbito da prática clínica concreta,<br />
permite a constante atualização bilateral de conceitos,<br />
técnicas e procedimentos.<br />
A APT entende que o Barómetro é a génese de uma<br />
ferramenta que trará o conhecimento do nível de adoção<br />
da telessaúde em Portugal: o relatório apresentado<br />
demonstra que estão criadas todas as condições<br />
para que tal realidade seja alcançada. A APT tudo fará<br />
para apoiar esta iniciativa. Ã<br />
Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Proteção das Equipas de <strong>Gestão</strong> e dos Gestores Intermédios<br />
A Abordagem<br />
Na Aon, consideramos o setor da saúde<br />
como estratégico, procurando centrar<br />
esforços na identificação de<br />
tendências, exposições e riscos e no<br />
desenvolvimento de soluções de<br />
transferência de risco específicas e<br />
adaptáveis à cultura de risco dos<br />
nossos clientes.<br />
Administradores e Gestores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es são, mais do que nunca,<br />
sensíveis às responsabilidades que<br />
enfrentam no exercício das suas<br />
funções (podendo culminar na afetação<br />
do seu próprio património) muito por via<br />
da elevada complexidade e possíveis<br />
impactos das suas decisões e ao<br />
elevado grau de escrutínio que terceiros<br />
(como entidades reguladoras)<br />
promovem junto do setor.<br />
É este contexto que estabelecemos, em<br />
parceria com a APAH, uma solução<br />
especificamente dedicada à proteção<br />
do património pessoal das equipas<br />
de gestão das unidades de prestação<br />
de cuidados de saúde.<br />
As Soluções<br />
BASIC<br />
Indemnizações: 50.000 euros<br />
Apoio jurídico: 25.000 euros<br />
Prémio anual: 294,30 euros<br />
PLUS<br />
Indemnizações: 100.000 euros<br />
Apoio jurídico: 50.000 euros<br />
Prémio anual (*): 436,00 euros<br />
PREMIUM<br />
Indemnizações: 250.000 euros<br />
Apoio jurídico: 75.000 euros<br />
Prémio anual (*): 654,00 euros<br />
(*) Opção de fracionamento semestral, com agravamento de 4%<br />
1. O embrião da APT foi efetivamente o Serviço de Cardiologia Pediátrica<br />
(SCP) do anterior Centro <strong>Hospitalar</strong> de Coimbra (CHC), atual CHUC -<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário de Coimbra. Criada em 2007, reuniu personalidades<br />
dos mais variados quadrantes, nomeadamente, profissionais de<br />
saúde – não apenas do SCP, e das tecnologias de informação, mas também<br />
atores anónimos dos processos de saúde, com um interesse comum: o da<br />
divulgação e promoção da prestação de cuidados de saúde à distância (telemedicina<br />
e telessaúde). O facto de esta prática ter atingido, no SCP, um índice<br />
de regularidade único (ainda hoje!) no País, representando uma importante<br />
inovação com impactos assinaláveis quer na acessibilidade na prestação<br />
de cuidados de saúde especializados, quer nos resultados clínicos obtidos,<br />
quer ainda na formação contínua resultante da partilha de conhecimento<br />
interpares, a que acrescia o facto de se ter internacionalizado a prática<br />
regular da telemedicina com os PALOP, foi o principal leitmotiv para o<br />
surgimento da Associação.<br />
Proteções<br />
As indemnizações a pagar a Terceiros<br />
financeiramente lesados, pelos atos de<br />
gestão dos Administradores e Diretores,<br />
podem ser transferidos para a apólice,<br />
sem afetar o património do Segurado<br />
Permite o pagamento dos<br />
honorários de advogados incorridos<br />
na preparação da defesa do Segurado<br />
em reclamações (processos civis)<br />
apresentadas por Terceiros<br />
Permite o pagamento dos honorários de<br />
advogados incorridos na preparação da<br />
defesa do Segurado decorrente de em<br />
investigações (processos administrativos)<br />
iniciadas por entidades públicas (reguladores)<br />
Contatos<br />
secretariado@apah.pt
GH Prémio Healthcare Excellence | 2 a Menção Honrosa<br />
TELEMONITORIZAÇÃO<br />
DE DOENTES COM<br />
INSUFICIÊNCIA<br />
CARDÍACA CRÓNICA<br />
SERVIÇO DE CARDIOLOGIA DO CENTRO<br />
HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO COVA DA BEIRA, E.P.E.<br />
ção de episódios de urgência, internamentos e consultas<br />
presenciais.<br />
Este programa permite reforçar a ligação entre os<br />
profissionais de saúde e os doentes, aumentando a<br />
capacidade de monitorização remota dos doentes<br />
e uma gestão personalizada de casos de alto risco/<br />
/crónicos, através do acesso a mais e melhor informação<br />
sobre a evolução do estado de saúde do doente,<br />
objetivando-se assim uma efetiva melhoria da informação<br />
clínica.<br />
Também se pretende alterar o papel do doente,<br />
passando o próprio doente a reconhecer/visualizar<br />
o seu estado de saúde, com impacto no seu estilo de<br />
vida e na auto-gestão da sua condição crónica. Promove-se<br />
deste modo uma visão de cidadania para a<br />
saúde centrada na corresponsabilização do doente<br />
no processo e não simplesmente como destinatário<br />
deste, assumindo deste modo um papel mais ativo.<br />
“<br />
O PROGRAMA<br />
DE TELEMONITORIZAÇÃO<br />
DE DOENTES COM ICC<br />
ARRANCOU NO CHUCB<br />
COM A INCLUSÃO DE<br />
10 DOENTES, EM JULHO<br />
DE 20<strong>17</strong>, E TEM VINDO A CRESCER.<br />
ATUALMENTE ESTÃO A SER<br />
João Pedro Reis Serra Garra<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />
Cova da Beira, E.P.E.<br />
Luís Vítor Clemente Oliveira<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />
Cova da Beira, E.P.E.<br />
A<br />
insuficiência cardíaca é uma condição<br />
crónica que atinge cerca de<br />
380 mil pessoas em Portugal, nos<br />
indivíduos com 70 ou mais anos<br />
a prevalência é de 10%, sendo<br />
a 1<strong>º</strong> causa de hospitalização após os 65 anos. Na<br />
última década verifica-se um aumento de 33% nos<br />
internamentos por ICC. Com uma elevada taxa de<br />
mortalidade, 5 anos após o diagnóstico a taxa de<br />
mortalidade é de 50%, sendo que <strong>17</strong>% falecem no<br />
primeiro ano. Apresenta a maior taxa de mortalidade<br />
intra-hospitalar entre todas as doenças cérebrocardiovasculares,<br />
na ordem dos 12,5%. 1<br />
Tipicamente os doentes com esta condição crónica<br />
são seguidos em regime de ambulatório, com visitas<br />
frequentes ao hospital, em consultas e em sessões<br />
de hospital de dia. Não havendo uma forma de detetar<br />
deterioração do estado de saúde do doente<br />
fora do ambiente hospitalar. As descompensações<br />
dão origem a episódios de urgência e/ou internamentos/reinternamentos.<br />
Maria Gabriela Ramalhinho<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />
Cova da Beira, E.P.E.<br />
Equipa do projeto<br />
Este projeto é co-financiado pela Fundação EDP,<br />
através da obtenção de uma bolsa e nele participam<br />
membros do CHUCB e de um consórcio empresarial<br />
constituído pela NOS Comunicações, pela Hope<br />
Care, e pela Axa Assistance. A equipa do projeto é<br />
multidisciplinar, constituída por médicos, enfermeiros<br />
e técnicos especialistas.<br />
Objetivos<br />
Os objetivos deste programa passam essencialmente<br />
pela melhoria no tempo e na qualidade de vida<br />
dos doentes com ICC, contribuindo nomeadamente<br />
para:<br />
• Deteção precoce de episódios de descompensação;<br />
• Diminuir e prevenir hospitalizações;<br />
• Melhorar a qualidade de vida, a esperança de vida,<br />
o bem-estar físico e psicológico do doente;<br />
• Aumentar o auto-conhecimento dos doentes em<br />
relação à sua condição crónica;<br />
• Redução de custos financeiros, através da diminui-<br />
Ações implementadas<br />
Foram seleccionados doentes com episódios de internamento<br />
por ICC descompensada nos 12 meses<br />
prévios, fracção de ejecção ventricular esquerda inferior<br />
a 40%, a vontade e capacidade de garantir (autonomamente<br />
ou com ajuda de familiares) a medição<br />
domiciliária dos parâmetros para análises.<br />
A solução implementada no CHUCB consiste num<br />
sistema de monitorização inovador onde uma equipa<br />
multidisciplinar faz o acompanhamento permanente<br />
centrado no doente com ICC, através dos meios de<br />
telemonitorização que permitem medições diárias,<br />
com gestão de alertas em casos de não medição ou<br />
de medições com valores anómalos.<br />
Em resultado das medições a equipa clínica toma as<br />
medidas protocoladas, que poderão passar por pequenos<br />
ajustes da medicação ou dos hábitos diários ou<br />
a chamada do utente ao hospital para ser observado.<br />
O Programa de Telemonitorização de Doentes com<br />
ICC arrancou no CHUCB com a inclusão de 10 doentes,<br />
em julho de 20<strong>17</strong>, e tem vindo a crescer.<br />
Atualmente estão a ser telemonitorizados 31 doentes<br />
em simultâneo.<br />
O programa de telemonitorização de doentes com<br />
ICC funciona da seguinte forma:<br />
• É distribuído a cada doente um kit com um conjunto<br />
de equipamentos de medição de dados de saúde<br />
que o doente vai utilizar de forma autónoma ou com<br />
a ajuda de familiares para realizar as medições prescritas<br />
pelo médico;<br />
• Os dados de saúde recolhidos nos equipamentos<br />
de medição são transmitidos, via bluetooth para um<br />
tablet (também integrante do kit);<br />
TELEMONITORIZADOS 31<br />
DOENTES EM SIMULTÂNEO.<br />
”<br />
• O tablet colecta a informação recolhida de todos<br />
os dispositivos médicos e envia esses dados para<br />
uma plataforma online, através de uma ligação 4G,<br />
para o Centro de Monitorização e Triagem;<br />
• O Centro de Monitorização e Triagem é um serviço<br />
de acompanhamento de doentes, responsável<br />
por analisar numa primeira linha os parâmetros enviados<br />
pelos doentes, emitindo alarmes para os profissionais<br />
de saúde, de acordo com o protocolado;<br />
• Diariamente, os profissionais de saúde observam e<br />
analisam os dados enviados pelos doentes e os alarmes<br />
emitidos pelo Centro de Monitorização e Triagem;<br />
• A informação é apresentada sob a forma numérica<br />
e gráfica possibilitando visualizar rapidamente a evolução<br />
do utente e alarmística;<br />
• A equipa de profissionais atua depois em conformidade<br />
com aquilo que são os resultados das medições<br />
efetuadas pelos doentes, (esclarecimento, alteração<br />
terapêutica, ou outras).<br />
O kit de telemonitorização é constituído pelos seguintes<br />
equipamentos: }<br />
60 61
GH Prémio Healthcare Excellence | 2 a Menção Honrosa<br />
N=24 Telemonitorização Período prévio homólogo Variação<br />
Internamentos por IC 14 32 -56%<br />
Dias hospitalização por IC 156 286 -45%<br />
Episódios urgência por IC 4 38 -89%<br />
Mortalidade 1 (4,2%)<br />
Tabela 1: Resultados de 24 doentes que concluíram 12 meses de telemonitorização, em comparação com os 12 meses prévios.<br />
• Tablet;<br />
• Esfingmomanómetro digital;<br />
• Balança digital;<br />
• Oxímetro;<br />
• Termómetro digital;<br />
• Pedómetro/Monitor de Atividade Física.<br />
Alguns doentes, verificando-se a necessidade, recebem<br />
detetores de eventos arrítmicos.<br />
Ao nível da inovação tecnológica este programa<br />
utiliza equipamentos homologados pela CE, dotados<br />
com a mais moderna tecnologia de telemonitorização.<br />
Além disso, o facto de as medições serem<br />
efetuadas pelos doentes na sua residência, sem a<br />
necessidade de se deslocarem ao Hospital e o resultado<br />
dessas medições ficar disponível em tempo real<br />
constitui por si só uma inovação.<br />
Complementarmente, perspetiva-se que no futuro<br />
possa ser possível obter uma maior precisão na deteção<br />
de episódios de descompensação e, portanto,<br />
mais informação e conhecimento desta doença, através<br />
da análise de dados de saúde por soluções AI.<br />
Resultados<br />
Um ano após a implementação deste programa no<br />
CHUCB, já é possível começar a perceber o impacto<br />
em números, tal como a redução do número de<br />
internamentos (diminuição de 56%), do número de<br />
dias de internamento (diminuição de 45%) e de episódios<br />
de urgência (diminuição de 89%), bem como<br />
na taxa de mortalidade dos doentes integrados no<br />
programa.<br />
No primeiro ano de projeto, registou-se uma taxa<br />
de mortalidade dos doentes em programa de 4,2%,<br />
sendo que a taxa de mortalidade nos doentes diagnosticados<br />
com ICC com acompanhamento tradicional<br />
se situa nos 19%, segundo os dados apresentados<br />
pela British Heart Foundation.<br />
Em paralelo, conseguiram-se alcançar outros benefícios<br />
intangíveis, como sendo o aumento da qualidade<br />
de vida dos utentes e a promoção de uma visão<br />
da cidadania para a saúde, pelo facto de os doentes<br />
aprenderem a reconhecer/visualizar o seu estado de<br />
saúde, com impacto no seu estilo de vida e na autogestão<br />
da sua condição crónica, coresponsabilizando<br />
os doentes no processo e não simplesmente como<br />
destinatário deste.<br />
Em Portugal este programa de telemonitorização de<br />
doentes com ICC tem o mérito de se posicionar ao<br />
nível da inovação por ser uma iniciativa pioneira a<br />
nível nacional.<br />
Indicadores de resultado<br />
• 31 doentes em telemonitorização, 24 concluíram<br />
um ano;<br />
• 3 doentes não aderiram por desinteresse (2) ou<br />
falta de cobertura de rede (1);<br />
• 52% etiologia isquémica;<br />
• Fracção de ejecção ventricular esquerdo 29,2±<br />
7,0%. Ã<br />
1. Insuficiência Cardíaca em números: estimativas para o século XXI em<br />
Portugal.<br />
Cândida Fonseca, Daniel Brás, Inês Araújo, Fátima Ceia; Errata a "Insuficiência<br />
Cardíaca em números: estimativas para o século XXI em Portugal",<br />
Revista Portuguesa de Cardiologia, Volume 37, outubro de 2018, Paginas<br />
871-872.<br />
62
GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
EVOCAÇÃO DO PROFESSOR<br />
CORIOLANO FERREIRA<br />
José Nogueira da Rocha<br />
Sócio de mérito da APAH<br />
Agradeço à Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
(APAH) a oportunidade que me<br />
deu para evocar Coriolano Ferreira,<br />
que conheci em 1965 e com quem,<br />
nesse ano, comecei a minha vida profissional.<br />
Não é tarefa fácil fazê-lo nos dez minutos que me foram<br />
concedidos, já que, tendo sido a sua vida particularmente<br />
multifacetada, bem mais tempo seria necessário.<br />
Sacrificarei o conteúdo ao tempo.<br />
Vida multifacetada: na Administração Pública, no ensino,<br />
no governo do País e em outras áreas.<br />
Na Administração Pública, na área da Saúde, particularmente<br />
no setor hospitalar, a sua ação foi tão notória<br />
que, afinal, seria escusado relembra-la. Mas nunca será<br />
por demais fazê-lo.<br />
Coriolano Ferreira abandonou a advocacia e outras atividades<br />
profissionais na área da Assistência e Previdência<br />
e entrou na Saúde em 1944 para as funções de Chefe<br />
dos Serviços Administrativos dos Hospitais da Universidade<br />
de Coimbra, que manteve até 1950, ano em<br />
que passou a desempenhar o cargo de administrador.<br />
Depois de, em 1954, ter sido nomeado para a Comissão<br />
Instaladora do Hospital de São João, passou, em<br />
1959, a ocupar o cargo de administrador do Hospital<br />
de Santa Maria.<br />
Como consequência natural da sua destacada ação<br />
nestes cargos e, uma vez criada, em 1961, a Direção<br />
Geral dos Hospitais, foi nomeado seu primeiro Diretor-<br />
Geral, funções que exerceu até 1972, em acumulação<br />
com a presidência de diversas Comissões no âmbito do<br />
Ministério da Saúde.<br />
Antes e depois desta nomeação teve uma intensa<br />
atividade internacional de que se destacam o ter sido<br />
membro de um Grupo de Peritos que, em 1959, a Organização<br />
Mundial de Saúde (OMS) convidou para<br />
preparar Cursos de Administração <strong>Hospitalar</strong>, membro<br />
do Conselho Diretivo da Federação Internacional dos<br />
Hospitais (FHI) durante 6 anos, sendo seu Vice-Presidente<br />
entre 1973 e 1975 e um dos fundadores da<br />
European Healthcare Managente Association (EHMA).<br />
É no exercício do cargo de Diretor-Geral que Coriolano<br />
Ferreira se torna o grande paladino de marcantes<br />
inovações em matéria de organização e gestão hospitalares.<br />
Muito em particular, e para além do muito<br />
mais que o País lhe ficou a dever, todos certamente<br />
nos lembramos do seu quase que exclusivo contributo<br />
para que dois importantes diplomas vissem a luz do dia<br />
e dessem os seu frutos:<br />
• O Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 48.357, de 27 de abril de 1968,<br />
mais conhecido por Estatuto <strong>Hospitalar</strong>;<br />
• O Decreto-Regulamentar n.<strong>º</strong> 48.358, daquela data<br />
igualmente mais conhecido por Regulamento Geral<br />
dos Hospitais;<br />
• Do seu contributo, a começar pelo consignado naqueles<br />
dois diplomas, para a criação do Curso e da Carreira<br />
da Administração <strong>Hospitalar</strong>, bem como para a profissionalização<br />
do exercício desta atividade;<br />
• De ter sido o principal impulsionador de cursos de<br />
curta duração sobre o tema “Novas Conceções de <strong>Gestão</strong><br />
<strong>Hospitalar</strong>ˮ ministrados por personalidades estrangeiras<br />
de renome;<br />
• De ter sido, em 1965, o grande mentor e impulsionador<br />
do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais<br />
(SUCH), de que foi o seu primeiro Diretor, numa ação<br />
cujo desenvolvimento tive o privilégio de acompanhar<br />
e apoiar.<br />
Seja-me permitido que, por ter sido seu colaborador<br />
direto na Direção-Geral dos Hospitais, dê conta do<br />
respeito e admiração pelo Dirigente que impressionava<br />
pela sua determinação, saber, inteligência e capacidade<br />
de organização, de decisão e de liderança. Além de uma<br />
outra unânime e igualmente reconhecida e cujas consequências<br />
se tornaram particularmente visíveis: “Fazedor<br />
de Equipasˮ, permita-se-me a expressão.<br />
Numa mudança de cargo cuja razão então não compreendi<br />
e continuo a não compreender - mas a vida tem<br />
os seus mistérios (será este o caso?) - em 1972 foi nomeado<br />
Secretário-Geral do Ministério da Saúde, funções<br />
que desempenhou até 1982, ano em que cessou<br />
funções para se dedicar exclusivamente à Escola Nacional<br />
de Saúde Pública.<br />
Ao longo da sua vida profissional sempre atribuiu grande<br />
atenção ao ensino. Desde cedo, ainda em Coimbra,<br />
ensinou em diversos Estabelecimentos da área da Saúde,<br />
designadamente Escolas de Enfermagem.<br />
Em 1968, por concurso de avaliação curricular ingressou<br />
como professor ordinário (correspondente a professor<br />
catedrático) da cadeira de Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
da recentemente criada Escola Nacional de Saúde<br />
Pública e Medicina Tropical.<br />
Na sequência deste ingresso desenvolveu de imediato<br />
diligências para a criação do Curso de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, cujo início teve lugar em 1970.<br />
Entre 1976 e 1980 foi Presidente da Comissão Instaladora<br />
da Escola Nacional de Saúde Pública, cargo a que<br />
se seguiu o de Presidente do Conselho Diretivo, desempenhado<br />
até 1986.<br />
Permaneceu nas suas funções de Dirigente e de Professor<br />
Catedrático de Administração <strong>Hospitalar</strong> até à sua<br />
jubilação em 1986, funções que só interrompeu duranta<br />
a sua permanência no Governo.<br />
Mas a sua atividade no ensino situou-se também na<br />
extinta Universidade Internacional e no igualmente extinto<br />
Instituto Superior Politécnico Internacional, tendo,<br />
em 1984, no segundo destes Estabelecimentos de<br />
ensino, criado o Curso Superior de Segurança Social<br />
e desempenhado o cargo de Vice-Reitor da Universidade<br />
Internacional a partir de 1991.<br />
Entre setembro de 1978 e janeiro de 1980 integrou o<br />
III, IV e V Governos Constitucionais como Secretário de<br />
Estado da Segurança Social. Voltei de novo a ser testemunha<br />
presencial da sua ação à frente deste Departamento<br />
Governamental não hesitando em afirmar que<br />
vieram de novo ao de cima as suas reconhecidas capacidades<br />
e qualidades de decisão e de organização e,<br />
também aqui, de “Fazedor de Equipasˮ. Ainda hoje se<br />
ouve de alguns dirigentes por eles nomeados para os<br />
cargos de Presidentes das Comissões Instaladoras dos<br />
primeiros Centros Regionais de Segurança Social o reiterar<br />
dessas qualidades.<br />
Mas há outros aspetos da vida de Coriolano Ferreira<br />
que, embora menos conhecidos, não posso deixar de,<br />
aqui e agora, recordar.<br />
Foi associado fundador, em 1983, do Instituto de Apoio<br />
à Criança (IAC), tendo nele desempenhado os cargos<br />
de Presidente da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal,<br />
cargo em que tive a honra de lhe suceder.<br />
Na sua atividade editorial há que destacar, sem ser a<br />
única - o papel que teve no desenvolvimento da Revista<br />
Portuguesa de Saúde Pública, da Escola Nacional de<br />
Saúde Pública foi preponderante - o facto de ter sido<br />
fundador, em 1948 da revista Hospitais Portugueses -<br />
durante duas dezenas de anos a única revista dedicada<br />
à organização e administração hospitalares - verdadeiramente<br />
decisiva para a criação e desenvolvimento da<br />
carreira de administração hospitalar.<br />
Menos conhecida, mas, interessante, foi a sua atividade<br />
como etnógrafo. Grande admirador do Abade de Baçal,<br />
ficou-lhe o gosto pela etnografia que cultivou de<br />
forma amadora.<br />
Mas, antes de tudo, houve o Homem, para o que não<br />
há palavras. E como Homem há uma biografia que não<br />
posso omitir nesta minha intervenção.<br />
Nasceu em 12 de maio de 1916, em Valpereiro, pequena<br />
aldeia do concelho de Alfândega da Fé.<br />
Na sua infância coabita com os Pais e avós maternos -<br />
ainda conheci bem sua Mãe, a D.ª Emília - no seio de<br />
uma Família de tradições católicas e também recetiva<br />
às novas ideias republicanas.<br />
Estudou em Bragança onde concluiu, em 1933, os seus<br />
estudos liceais.<br />
Em Coimbra frequentou a Faculdade de Direito, licenciando-se<br />
em 1939 em Ciências Jurídicas e em 1940<br />
em Ciências Político-Económicas.<br />
Do seu casamento com a D.ª Maria José, em 20 de<br />
março de 1946, nasceram dez filhos.<br />
Faleceu em 1996 em plena atividade.<br />
Permitam-me, para concluir, que leia o que tive oportunidade<br />
de escrever quase logo após a sua morte no<br />
“álbum” de recordações que lhe dedicou a Universidade<br />
Internacional:<br />
“Três dias antes da sua morte saí de sua casa com o último<br />
e mais difícil caderno de encargos que dele recebi:<br />
assegurar a continuidade da sua obra na Universidade<br />
Internacional”. Não esquecerei jamais esse dia. Nele revivi<br />
toda a caminhada que Deus permitiu fazer com ele.<br />
Termino como em parte o fiz neste local na Sessão<br />
que, em 28 de outubro de 2016, muito justamente o<br />
homenageou pela passagem do seu centenário.<br />
“Num dueto a todos os títulos exemplar e particularmente<br />
fecundo, também aqui tem lugar a verdade, nem<br />
sempre absoluta, de que atrás de um grande Homem<br />
há sempre uma grande Mulher”.<br />
Amplio agora esta verdade. Não houve, afinal, uma<br />
grande Mulher. Há duas. Sua mãe, a D.ª Emília, que<br />
muito bem conheci e admirei e a D.ª Maria José, companheira<br />
de mais de 50 anos, que, igualmente bem conheci<br />
e admirei. Ã<br />
64 65
GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong> | Livro 50 Anos em 20 olhares<br />
PRÉMIO CORIOLANO FERREIRA<br />
Mavilde Vitorino<br />
Aluna do XLV CEAH<br />
Enf.ª Chefe da UCIP do CHLO<br />
O<br />
prémio Coriolano Ferreira foi entregue<br />
no passado dia 24 de abril de<br />
<strong>2019</strong>, através de uma iniciativa conjunta<br />
da Associação Portuguesa de Adminitradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e<br />
da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade<br />
Nova de Lisboa (ENSP), com o apoio da IQVIA (The<br />
Human Data Science Company). Um prémio atribuído<br />
ao melhor aluno do curso e que coincidiu este ano de<br />
<strong>2019</strong> com a comemoração dos 50 anos do Curso de<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Duas razões relevantes que me permitem hoje afirmar<br />
que receber este prémio foi não só uma honra como<br />
muito relevante para a minha carreira profissional e académica.<br />
Como se sabe o Professor Coriolano Ferreira<br />
foi um homem que se fez notar pelo seu exemplo de<br />
esforço, de liderança, de dinamismo, de resiliência e<br />
de inovação na área da Administração <strong>Hospitalar</strong>, para<br />
além das outras conhecidas qualidades pessoais e profissionais.<br />
Relevantes competências humanas e profissionais<br />
com as quais me permito identificar na atualidade<br />
enquanto pessoa e profissional de saúde. Um prémio<br />
duplamente relevante porque permite não só fazer<br />
uma justa homenagem à carreira notável do Professor<br />
Coriolano Ferreira, evidenciando a pessoa e a sua notável<br />
carreira, mas também porque de forma simultânea,<br />
pretende salientar e dinamizar o que de melhor a investigação<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> faz em benefício<br />
da boa prática gestionária a nível hospitalar, não só ao<br />
nível nacional como internacional. Razões suficientemente<br />
robustas para afirmar que este é um prémio<br />
que me permite dar visibilidade internacional ao meu<br />
trabalho final de campo, assim como me permite ainda<br />
adquirir novos conhecimentos e experiências pessoais<br />
e profissionais no âmbito da Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
fora de Portugal. Sabemos hoje que a carreira de<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong> é uma atividade profissional<br />
que se confronta regularmente com elevados níveis de<br />
complexidade gestionária. Os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
têm hoje que ser capazes de gerir profissionais<br />
com diferentes níveis de autoridade associados a conhecimentos<br />
altamente especializados, gerir estruturas<br />
tecnicamente complexas, gerir recursos quase sempre<br />
escassos associados quase sempre aos contínuos problemas<br />
de financiamento, gerir os problemas quotidianos<br />
associados aos problemas da logística, gerir os contínuos<br />
conflitos entre os diferentes grupos profissionais,<br />
entre outras relevantes áreas de intervenção. Razões<br />
suficientes para se exigir que os atuais e futuros Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es sejam na sua essência bons<br />
líderes capazes de conjugar competências que lhes permitam<br />
envolver e unir os profissionais em torno de caminhos<br />
comuns e ao mesmo tempo sejam capazes de contribuir<br />
para melhorar os níveis de eficiência e eficácia que<br />
permitam alcançar os objetivos da instituição. Áreas do<br />
conhecimento que ao longo de todo o curso nos foram<br />
apresentadas por notáveis e reconhecidos professores<br />
do panorama nacional e que nos permitiram fortes debates<br />
e profundas reflexões. No entanto sugeria-se o reforço<br />
de outras áreas do conhecimento ao nível dos curricula<br />
como por exemplo a melhoria de conceitos como<br />
a liderança, a gestão da mudança e gestão de conflitos.<br />
Ainda assim este é um curso muito exigente e consistente<br />
porque entendo que sabe aliar a exigência pedagógica<br />
e a excelência científica a uma sociedade complexa<br />
e em constante mudança.<br />
Apesar deste elevado grau de exigência, importa reconhecer<br />
que foi muito enriquecedor e gratificante participar<br />
neste curso não só pelos conhecimentos adquiridos,<br />
consubstanciados na qualidade das aulas lecionadas,<br />
mas também pela importante e constante partilha<br />
de conhecimentos com colegas de diferentes atividades<br />
profissionais e de diferentes faixas etárias.<br />
Um curso consistente que me permite afirmar que hoje<br />
reúno mais e melhores competências que me permitem<br />
responder de forma mais eficiente e eficaz aos velhos<br />
desafios que enfrento diariamente no âmbito da<br />
minha atividade profissional assim como, estou certa<br />
disso, a aquisição de novos conhecimentos que me ajudarão<br />
a enfrentar os novos desafios que espero poder<br />
abraçar brevemente. Ã<br />
VIVÊNCIAS E TESTEMUNHOS<br />
DE 50 ANOS DE HISTÓRIA<br />
Carla Pedro<br />
Jornalista<br />
Quando fui convidada para realizar uma<br />
série de entrevistas a personalidades<br />
relevantes no percurso da Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> em Portugal, por ocasião<br />
da celebração dos 50 anos da carreira<br />
no país, sendo o objetivo da APAH fazer um livro de<br />
homenagem à carreira com estes testemunhos, aceitei<br />
sem hesitar, pensando que teria pela frente um desafio<br />
muito interessante. Não me enganei. Aliás, a realidade<br />
superou todas as minhas expectativas. As pessoas<br />
com quem me cruzei enriqueceram a minha vida com<br />
as suas histórias, as suas vivências e a sua sabedoria.<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
tinha objetivos muito claros: pretendia criar um<br />
acervo com histórias contadas na primeira pessoa, sendo<br />
que as entrevistas deveriam ser presenciais. Um enorme<br />
desafio, algumas vezes pelas distâncias, outras vezes<br />
pelas agendas, mas que foi superado com o suporte<br />
de todos.<br />
Ter o Miguel Baltazar como fotógrafo deste projeto foi<br />
muito importante, pois além de ser um profissional<br />
exemplar é também uma óptima companhia, pelo que<br />
as nossas viagens foram sempre revigorantes. Depois<br />
das entrevistas conversávamos sobre o que tínhamos<br />
acabado de ouvir - e quando tínhamos viagens de regresso<br />
mais longas, o debate estendia-se durante horas.<br />
Nunca nos faltou tema de conversa porque todos os<br />
entrevistados nos deram muito por onde olhar.<br />
As entrevistas repartiram-se geograficamente por Lisboa,<br />
Oeiras, Coimbra, Vila Nova de Gaia e Funchal,<br />
e trouxeram a lume a realidade da carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> ao longo dos últimos 50 anos,<br />
sem esquecer o contexto político e a área em que a<br />
profissão se desenvolve: a Saúde. Todas as conversas<br />
acabaram por ser bastante descontraídas, o que torna<br />
a memória desta obra ainda mais especial. Deliciámonos<br />
com episódios mais caricatos que nos foram contados<br />
por entre gargalhadas, surpreendemo-nos com histórias<br />
nunca antes contadas e ficámos gratos pelos sorrisos<br />
abertos e afáveis. Pessoas de corpo inteiro, genuínas,<br />
com muito para dar, e que na fase de produção do<br />
livro continuaram a mostrar uma grande disponibilidade.<br />
Por entre os cargos que se ocuparam, foram contando<br />
as revoluções que se fizeram, as reestruturações<br />
e remodelações que se impuseram, as tentativas e erros,<br />
e as novas tentativas para se alcançar um exímio<br />
desempenho - sempre com um olhar direto e franco.<br />
Desde os acasos na escolha desta carreira até à convicção<br />
de era ali que queriam estar, todos os entrevistados,<br />
sem exceção, deixaram bem claro que a<br />
saúde é ‘um bichinho’ que fica. Porque se lida com a<br />
vida e a morte, porque se lida com a dignidade humana.<br />
Porque todos nós, mais cedo ou mais tarde,<br />
iremos precisar dos seus serviços e queremos ser<br />
bem tratados.<br />
O Professor Doutor Coriolano Ferreira, ‘pai’ da carreira<br />
de Administração <strong>Hospitalar</strong>, via os hospitais como um<br />
“mundo fascinante e absorvente”. E são também fascinantes<br />
e absorventes as caminhadas feitas pelas 20 personalidades<br />
que deram os seus testemunhos - e com<br />
as quais tive o gosto de aprender.<br />
De cada um dos entrevistados guardo uma lembrança<br />
que fica para memória futura e guardo muito especialmente<br />
um enorme carinho. Por me terem feito sorrir,<br />
mas também por me terem emocionado muitas outras<br />
vezes. E por me terem ensinado.<br />
Tenho a agradecer à Associação Portuguesa de Admi-nistradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es por este projeto magnífico<br />
e que me fez conhecer melhor esta carreira. As escolhas<br />
diárias que se fazem não são fáceis. Quase nunca<br />
o são. E sinto-me honrada por ter podido conhecer<br />
pessoas tão especiais.<br />
Na APAH, pude contar com todo o apoio para o bom<br />
desenrolar do livro, nomeadamente nas pessoas do seu<br />
presidente, Alexandre Lourenço, e de Raquel Chantre,<br />
Miguel Lopes e Margarida Silvestre. Ã<br />
66 67
GH cerimónia comemorativa<br />
HOMENAGEM AOS SÓCIOS<br />
DE HONRA E MÉRITO DA APAH<br />
oração dos 50 Anos da Administração<br />
l, a APAH presta homenagem às<br />
e distinguindo-as como:<br />
A<br />
a<br />
e C a m p o s<br />
S i l v a<br />
SÓCIOS DE MÉRITO SÓCIOS DE HONRA<br />
António Correia de Campos<br />
Don C. Holloway Jr.<br />
António Menezes Duarte<br />
João Urbano<br />
Jorge Simões<br />
S Ó C I O S d e M É R I T O<br />
José Meneses Correia<br />
Margarida Bentes<br />
Augusto Mantas<br />
Eduardo Caetano<br />
Eduardo Sá Ferreira 1<br />
A n t ó n i o M e n e z e s D u a r t e<br />
E d u a r d o S á F e r r e i r a<br />
F á t i m a N o g u e i r a<br />
F e r n a n d a D i a s<br />
J o ã o U r b a n o<br />
J o ã o S a n t o s C a r d o s o<br />
J o r g e S i m õ e s<br />
J o r g e V a r a n dJosé a Nogueira da Rocha<br />
J o s é C a r l o s L o p e s M a r t i n s<br />
J o s é M e n e s e s C o r r e i a<br />
J o s é N o g u e i r a d a R o c h a<br />
J ú l i o R e i s<br />
M a n u e l D e l g a d o<br />
M a r g a r i d a B e n t e s<br />
R a u l M o r e n o<br />
V a s c o R e i s<br />
Maria de Fátima Nogueira<br />
Coriolano Ferreira<br />
José Caldeira da Silva<br />
Fernanda Dias<br />
João Santos Cardoso 2<br />
Jorge Varanda 3 José Carlos Lopes Martins 4<br />
Júlio Pereira dos Reis<br />
Manuel Delgado 5<br />
Raúl Moreno Rodrigues<br />
Vasco Reis<br />
1 Presidente da APAH<br />
(1981-1984),<br />
2 Presidente da APAH<br />
(1984-1987),<br />
3 Presidente da APAH<br />
(1988-1992),<br />
4 Presidente da APAH<br />
(1986-1989),<br />
5 Presidente da APAH<br />
(1992-2008).<br />
www.apah.pt<br />
68
GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
CERIMÓNIA COMEMORATIVA<br />
DOS 50 ANOS DA<br />
ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR<br />
EM PORTUGAL<br />
Em Portugal, a Profissão de Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong>, então chamada de<br />
“provedor”, já vem expressa no “Regimento<br />
do Hospital de Todos os Santos”<br />
de 1504. Mas é com a revista<br />
“Hospitais Portugueses”, editada em 1948 por Coriolano<br />
Ferreira, que a criação da profissão é relançada.<br />
Nos anos subsequentes, a administração hospitalar<br />
vai alastrando pelos hospitais portugueses num<br />
contexto de controvérsia em que se discutia, com<br />
vários pretextos, a quem devia ser entregue o poder<br />
nos hospitais: médicos, e de entre estes, docentes<br />
universitários de Medicina, ou figuras de emanação<br />
política. Ao mesmo tempo, reforçando a argumentação<br />
favorável à profissionalização da administração<br />
hospitalar, e seguindo à distância o percurso dos Estados<br />
Unidos onde esta opção surgira no final da década<br />
de 20 do século passado, defendia-se a criação<br />
de uma formação específica.<br />
Em 1968, o Decreto-lei n.<strong>º</strong> 48.357 e o Decreto-lei n.<strong>º</strong><br />
48.358, ambos de 27 de abril, para além de estabelecerem<br />
que “os estabelecimentos e serviços hospitalares<br />
devem organizar-se e ser administrados em termos<br />
de gestão empresarial” (artigo 35.<strong>º</strong> do Decreto-Lei n.<strong>º</strong><br />
48.357) criam e regulamentam a carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>.<br />
Decorrido meio século de história, a APAH realizou no<br />
passado dia 24 de abril, pelas 14h30, no Salão Nobre da<br />
Escola Nacional de Saúde Pública, a Cerimónia Comemorativa<br />
dos "50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em<br />
Portugal", cuja Sessão de Abertura contou com a participação<br />
da Ministra da Saúde, Prof.ª Doutora Marta<br />
Temido, acompanhada pelo Prof. Doutor João Pereira,<br />
Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e por Alexandre<br />
Lourenço, Presidente da APAH.<br />
No decurso desta Cerimónia, foram vários os momentos<br />
de homenagem ao contributo dos Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es para a construção do Serviço Nacional de<br />
Saúde, começando pela exibição do vídeo de tributo<br />
à vida e obra do Professor Coriolano Ferreira, seguida<br />
de uma intervenção do Professor Nogueira da Rocha.<br />
Foi igualmente atribuído o Prémio Professor Coriolano<br />
Ferreira, que visa distinguir anualmente o melhor aluno<br />
do Curso de Especialização em Administração Hospita-<br />
lar (CEAH) da Escola Nacional de Saúde Pública, e que<br />
nesta edição foi entregue à aluna Mavilde Vitorino.<br />
Respeitando o mote dado pelo Presidente da APAH,<br />
Alexandre Lourenço, no seu discurso inicial: “Foram várias<br />
as gerações de homens e de mulheres que ao longo<br />
do tempo contribuíram para a construção de melhores<br />
e mais eficientes serviços de saúde. Esta Cerimónia é<br />
sobre estas pessoas”, a Cerimónia prosseguiu com a homenagem<br />
e distinção entregue aos Sócios de Honra e<br />
Sócios de Mérito da APAH.<br />
A APAH distinguiu António Correia de Campos, Augusto<br />
Mantas, Coriolano Ferreira, Don Holloway, Eduardo<br />
Caetano e José Caldeira da Silva como Sócios de<br />
Honra; e distinguiu António Menezes Duarte, Eduardo<br />
Sá Ferreira, Fernanda Dias, João Urbano, João Santos<br />
Cardoso, Jorge Simões, Jorge Varanda, José Carlos Lopes<br />
Martins, José Meneses Correia, José Nogueira da<br />
Rocha, Júlio Reis, Maria de Fátima Nogueira, Manuel<br />
Delgado, Margarida Bentes, Raúl Moreno e Vasco Reis,<br />
como Sócios de Mérito.<br />
A Cerimónia terminou com a sessão de lançamento do<br />
livro “50 anos em 20 olhares. O percurso da Adminis-<br />
tração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal”, que pretende ser uma<br />
reconstrução histórica dos principais marcos que diferenciaram<br />
esta carreira profissional, contada na primeira<br />
pessoa, através de um conjunto de entrevistas a grandes<br />
nomes da Administração <strong>Hospitalar</strong> cujo legado muito<br />
contribuiu para a desenvolvimento das Instituições de<br />
Saúde e do SNS, nas últimas cinco décadas. A apresentação<br />
contou com os comentários de anteriores Ministros<br />
da Saúde, Maria de Belém Roseira e Paulo Macedo. Ã<br />
70
MARCA A AGENDA<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (abril - julho <strong>2019</strong>):<br />
ACADEMIA<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes iniciativas formativas (abril - julho <strong>2019</strong>):<br />
6.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão<br />
da qualidade e melhoria continua em saúde<br />
5 e 6 de abril de <strong>2019</strong>, MH Peniche Hotel - Peniche<br />
Inserido no Ciclo de Conferências de Valor APAH <strong>2019</strong> esta foi a 1.ª<br />
de duas conferências que decorrem em <strong>2019</strong>.<br />
Todos os conteúdos apresentados no âmbito desta Conferência estão<br />
disponíveis para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />
no Youtube. Veja reportagem nesta edição e para mais informações<br />
consulte https: //apah.pt/portfolio/conferencias-de-valor-apah/<br />
Barómetro dos Internamentos Sociais | 3.ª edição<br />
6 de abril de <strong>2019</strong>, MH Peniche Hotel - Peniche<br />
Iniciativa da APAH com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa<br />
de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico da EY,<br />
tem como objetivo monitorizar de forma regular a problemática<br />
dos internamentos inapropriados fomentando ações conjuntas<br />
que minimizem este impacto. Os resultados da edição <strong>2019</strong> foram<br />
apresentados no dia 6 de abril no decurso da 6.ª Conferência<br />
VALOR APAH em Peniche e estão disponíveis em https://apah.<br />
pt/iniciativas-projetos/barometro-de-internamentos-sociais/ Todos<br />
os conteúdos apresentados no âmbito desta Conferência estão<br />
disponíveis para visualização vídeo no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em<br />
Saúde” no Youtube. Veja reportagem nesta edição.<br />
18.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Hospital Reynaldo dos<br />
Santos<br />
12 de abril de <strong>2019</strong>, Hospital Vila Franca de Xira (HVFX)<br />
Pela 1.ª vez o Caminho dos Hospitais chegou a uma Parceria Público<br />
Privada tendo promovido a Conferência/Debate “Boas Práticas<br />
na Prestação de Cuidados de Saúde” partilhando as boas práticas<br />
e soluções desenvolvidas pela instituição em prol de dois grandes<br />
desafios: Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos<br />
Antimicrobianos e a Transição Segura para a Comunidade dos utentes<br />
com Diabetes Infantil. Todos os conteúdos apresentados no<br />
âmbito desta iniciativa estão disponíveis para visualização no “Canal<br />
APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Veja reportagem na edição<br />
da Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> e para mais informações consulte https://apah.pt/portfolio/caminho-dos-hospitais/<br />
50 Anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal | Cerimónia<br />
Comemorativa<br />
24 de abril de <strong>2019</strong>, Salão Nobre Coriolano Ferreira - Escola<br />
Nacional de Saúde Pública em Lisboa<br />
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
em Portugal, celebrando a publicação do Estatuto <strong>Hospitalar</strong> e<br />
Regulamento Geral dos Hospitais a 27 de abril de 1968, que criaram<br />
a carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal. Todos os<br />
conteúdos apresentados no âmbito desta iniciativa estão disponíveis<br />
para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube.<br />
Veja reportagem nesta edição e para mais informações consulte<br />
https://apah.pt/noticia/comemoracoes-dos-50-anos-da-administracao-hospitalar/<br />
Prémio Coriolano Ferreira | Cerimónia Entrega Prémio<br />
ao Vencedor <strong>2019</strong><br />
24 de abril de <strong>2019</strong>, Salão Nobre Coriolano Ferreira - Escola<br />
Nacional de Saúde Pública em Lisboa<br />
Cerimónia de entrega do Prémio Coriolano Ferreira, uma iniciativa<br />
conjunta da APAH e da Escola Nacional de Saúde Pública da<br />
Universidade Nova de Lisboa (ENSP), a qual tem como objetivo<br />
homenagear o Professor Coriolano Ferreira e dinamizar a investigação<br />
em administração hospitalar, distinguindo anualmente o<br />
melhor aluno do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
(CEAH) da ENSP. O Vencedor da Edição <strong>2019</strong> foi atribuído<br />
a Mavilde Vitorino. Todos os conteúdos apresentados no âmbito<br />
desta iniciativa estão disponíveis para visualização no “Canal APAH<br />
- <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Veja reportagem nesta edição<br />
e para mais informações consulte https://apah.pt/noticia/mavilde-vitorino-recebe-premio-coriolano-ferreira-2018/<br />
I<strong>º</strong> Encontro Nacional de Integração de Cuidados | The<br />
Portuguese Association for Integrated Care (PAfIC)<br />
9 de maio de <strong>2019</strong>, Centro de Artes e Espetáculos - Figueira da Foz<br />
A APAH apoiou a iniciativa e participou no programa da iniciativa<br />
de forma ativa. Mais informações em: http://www.pafic.pt/pafic/<br />
Barómetro da adoção de Telesaúde e de Inteligência<br />
Artificial no Sistema de Saúde | Apresentação pública<br />
de resultados<br />
4 de junho de <strong>2019</strong>, Sede da Associação Nacional de Farmácia<br />
em Lisboa<br />
Iniciativa do Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong> da Informação em<br />
Saúde da APAH em parceria com a Glintt e com o apoio cientifico<br />
da Escola Nacional de Saúde Pública e institucional dos Serviços<br />
Partilhados do Ministério da Saúde. Todos os conteúdos apresentados<br />
no âmbito desta Conferência estão disponíveis para visualização<br />
no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Veja reportagem<br />
nesta edição e para mais informações consulte https://<br />
apah.pt/portfolio/barometro-telessaude-inteligencia-artificial /<br />
EHMA <strong>2019</strong> Annual Conference | HEALTH MANA-<br />
GEMENT 2.0<br />
<strong>17</strong> a 19 de junho de <strong>2019</strong>, Eespo - Finlandia<br />
O Presidente da APAH participou como moderador da sessão “Digital<br />
Transformation”. Mais informações em: https://ehma.org/events/<br />
annual-conference/<br />
6.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro "<strong>Gestão</strong> em Saúde"<br />
| "Cuidados integrados: A gestão de caso"<br />
18 de junho de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />
O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de<br />
Saúde” é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />
da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e<br />
promover a excelência na gestão da saúde através da discussão de<br />
temas relevantes para os gestores de saúde que exercem funções<br />
no Brasil e em Portugal.<br />
Esta edição foi dedica à “<strong>Gestão</strong> de caso (case management) como<br />
modelo da integração de cuidados" e teve como oradora, Adelaide<br />
Belo, Presidente da Portuguese Association for Integrated Care<br />
(PAfIC). Todos os conteúdos apresentados no âmbito deste webinar<br />
estão disponíveis para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong><br />
em Saúde” no Youtube.<br />
“3F - Financiamento, Fórmula para o Futuro” | Apresentação<br />
pública dos resultados inquérito no Parlamento<br />
2 de julho de <strong>2019</strong>, Assembleia da República - Lisboa<br />
Iniciativa da APAH com o suporte técnico da IQVIA e apoio da Roche<br />
Farmacêutica. Todos os conteúdos apresentados no âmbito<br />
desta apresentação pública estão disponíveis para visualização no<br />
“Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Mais informações<br />
em https://apah.pt/portfolio/3f/<br />
“AVC e Doenças Cardiovasculares” | Momento Expresso<br />
3 de julho, Montes Claros - Lisboa<br />
A iniciativa contou com a participação de Delfim Rodrigues, Vice-<br />
-Presidente da APAH, no painel de debate “Mudar a primeira causa<br />
de morte em Portugal - uma missão de todosˮ incluído no evento<br />
“AVC e Doenças Cardiovascularesˮ. Uma organização do Expresso<br />
com o apoio da Bayer Portugal que incluiu a apresentação das primeiras<br />
conclusões do estudo “Impacto económico da aterosclerose<br />
em Portugal”, liderado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada<br />
na Evidência.<br />
Curso Avançado de Direito da Saúde<br />
De janeiro a maio de <strong>2019</strong> - Faculdade de Direito da Universidade<br />
de Lisboa, Lisboa<br />
Inserido na Academia APAH este curso é uma organização do<br />
Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da<br />
Universidade de Lisboa. Os sócios efetivos da APAH beneficiaram<br />
de um desconto de 25% na propina.<br />
Programa Avançado de <strong>Gestão</strong> do Medicamento<br />
(PAGeM)<br />
De 22 de fevereiro a 22 de junho de <strong>2019</strong> - Faculdade de Farmácia<br />
da Universidade de Lisboa, Lisboa<br />
O PAGeM é uma parceria entre a APAH, a Ordem dos Farmacêuticos<br />
e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.<br />
EVENTOS +<br />
Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2019</strong>:<br />
ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Prémio Healthcare Excellence | Reunião Final de eleição<br />
do Vencedor <strong>2019</strong><br />
Data: 18 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Hotel Vila Galé, Braga<br />
Mais informações em: http://www.apah.pt<br />
7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão<br />
centrados no cidadão e na comunidade<br />
Data: 18 e 19 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Hotel Vila Galé, Braga<br />
Mais informações em: http://www.apah.pt<br />
XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade e<br />
Sustentabilidade no Acesso à Inovação<br />
Data: 15 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Centro Cultural de Belém (Sala Fernando Pessoa), Lisboa<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forumdo-<br />
medicamento/<br />
CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Caminho dos Hospitais – Conferência/debate<br />
Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços<br />
Regionais de Saúde<br />
Data: Periodicidade Trimestral<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminhodos-hospitais/<br />
Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde” | Webinars<br />
Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />
Data: Periodicidade mensal<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Liga Portuguesa da <strong>Gestão</strong> em Saúde (LEGOS)<br />
Parceria APAH + NOVA IMS destinada a promover a mudança<br />
efetiva na gestão em saúde.<br />
Data: Brevemente<br />
Local: Coimbra, Lisboa e Porto<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde - Ciclo<br />
Conferências <strong>2019</strong><br />
Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />
dos Médicos (SRNOM)<br />
Visita à Unidade Industrial da Generis®<br />
Dia 15 de maio de <strong>2019</strong> - Unidade Industrial da Generis®, Amadora<br />
Numa parceria com a APAH, a visita à Unidade Industrial da Generis<br />
® traduziu-se numa oportunidade única de aprendizagem,<br />
destacando a contextualização do mercado global dos medicamentos<br />
genéricos e desafios no presente e futuro próximo, e o<br />
conhecimento sobre a cadeia de produção do medicamento, com<br />
foco na aplicação da metodologia Kaizen.<br />
Seminário PADIS “Controlo de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>”<br />
Dias 1 e 2 de julho de <strong>2019</strong> - Instalações da AESE em Lisboa<br />
Realizado no âmbito da Academia APAH e com o apoio da empresa<br />
ViforPharma, este Seminário PADIS é organizado pela AESE<br />
e dedicado ao tema “Controlo de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>”.<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-<br />
administracao-de-servicos-de-saude/<br />
APAH RECOMENDA em <strong>2019</strong><br />
Webinars - Integrated Care Matters Series 3<br />
Esta série de webinars terá um foco particular no envelhecimento ativo<br />
e saudável e na prevenção e gestão da fragilidade.<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: https://integratedcarefoundation.org/events/<br />
webinar-integrated-care-matters-series-3-3#1540194957625- c2-<br />
0d3dc8-c1cd<br />
6th EuHEA PhD Student-Supervisor and Early Career<br />
Researcher Conference<br />
Organização: European Health Economics Association e Associação<br />
Portuguesa de Economia da Saúde<br />
Data: 4 a 6 de setembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Católica Porto Business School, Porto - Portugal<br />
Mais informações em: www.apes.pt<br />
EAHM <strong>2019</strong> | 6 Hospitals 6 Themes<br />
Organização: European Association of Hospital Managers (EAHM)<br />
e Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH)<br />
Data: 12 e 13 de setembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Ghent, Bélgica<br />
Mais informações em: http://eahm<strong>2019</strong>.eu/venue/ghent-belgium<br />
22th European Health Forum<br />
Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)<br />
Data: 2 e 4 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Bad Hofgastein, Austria<br />
Mais informações em: http://www.ehfg.org/<br />
43rd World Hospital Congress | “People at the heart<br />
of health services in peace and crisis”<br />
Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />
Data: 7 a 9 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Muscat - Oman<br />
Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/<br />
Conferência SNS no Feminino<br />
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />
<strong>Hospitalar</strong> (APDH) e PWN Lisbon<br />
Data: 22 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Mais informações em: www.apdh.pt<br />
72 73
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