L+D 74
Edição: julho| agosto de 2019
Edição: julho| agosto de 2019
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GASHOLDERS LONDON (LONDRES)<br />
FOUR SEASONS HOTEL (SÃO PAULO) | MUSEU NACIONAL DO CATAR (DOHA)<br />
GIUSEPPE GRILL (RIO DE JANEIRO) | EVOLUTION TOWER (MOSCOU) | FOTO LUZ FOTO: JAMES NEWTON 1
2 3
4 5
SUMÁRIO<br />
3º Trimestre 2019<br />
edição <strong>74</strong><br />
66<br />
<strong>74</strong><br />
82<br />
88<br />
94<br />
98<br />
12<br />
¿QUÉ PASA?<br />
66<br />
<strong>74</strong><br />
82<br />
88<br />
94<br />
98<br />
GASHOLDERS LONDON<br />
Luz coesa e integrada em múltiplas escalas<br />
FOUR SEASONS HOTEL<br />
Exuberância brasileira<br />
MUSEU NACIONAL DO CATAR<br />
O brilho da rosa do deserto<br />
GIUSEPPE GRILL<br />
Sob a luz<br />
EVOLUTION TOWER<br />
(R)evolução<br />
FOTO LUZ FOTO<br />
James Newton<br />
6 7
8 9
Romulo Fialdini<br />
Thiago Gaya<br />
publisher<br />
GASHOLDERS LONDON<br />
Iluminação: Speirs + Major<br />
Foto: James Newton e Speirs+Major<br />
Orlando Marques<br />
editor-chefe<br />
#LEDFORUM10<br />
A <strong>L+D</strong> desta edição vem celebrar o décimo aniversario do LEDforum, com a<br />
puplicação de cinco projetos desenvolvidos por alguns de seus palestrantes.<br />
Trazemos com exclusividade os edifícios de apartamentos do Gasholders London,<br />
projeto de arquitetura de Wilkinson Eyre Architects e de iluminação de Speirs+Major.<br />
Segundo Mark Major, “um dos melhores projetos desenvolvidos pelo escritório”.<br />
A tão esperada abertura do Museu Nacional do Catar, projeto do Ateliers Jean<br />
Nouvel, teve projeto de iluminação das áreas internas do escritório alemão Licht Kunst<br />
Licht, coordenado pela lighting designer Martina Weiss.<br />
Dean Skira apresenta o projeto Evolution Tower, localizado em Moscou, com<br />
projeto de arquitetura de RMJM, cuja fachada foi transformada em uma tela multimídia.<br />
A rede de hotéis de luxo Four Seasons chega ao Brasil, com projeto de iluminação<br />
da Foco Luz & Desenho e de arquitetura local de Aflalo e Gasperini.<br />
Giuseppe Grill é uma casa de carnes no Rio de Janeiro, com projeto de 2007<br />
do escritório carioca LD Studio. No final do ano passado, o projeto foi revisto pelo<br />
estúdio, transcendendo seu escopo inicial de projeto de iluminação, para também<br />
definir acabamentos e detalhes construtivos.<br />
Na seção ¿Qué Pasa? destacamos a instalação Light Path, do artista multimídia<br />
Vigas; os premiados do 36º International Lighting Design Awards, promovido pela<br />
IALD; o laboratório Summlab, divisão de desenvolvimento de produto e projetos<br />
especiais do escritório catalão artec3; a instalação Live Colour, da artista Liz West<br />
para a Clerkenwell Design Week; a instalação do coletivo japonês teamLab no Changi<br />
Airport, em Cingapura, entre outras novidades!<br />
A seção Foto Luz Foto especial desta edição, apresenta o fotógrafo londrino<br />
James Newton. Trabalhos realizados no passado como lighting designer, deram a<br />
James a experiência e o conhecimento técnico necessários para entender os projetos<br />
tanto do ponto de vista do fotógrafo, quanto do de designer.<br />
PUBLISHER<br />
Thiago Gaya<br />
EDITOR-CHEFE<br />
Orlando Marques<br />
DIRETORA DE ARTE<br />
Thais Moro<br />
REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />
Débora Torii, Diana Joels, Gilberto Franco,<br />
Mariana Novaes, Orlando Marques<br />
REVISÃO<br />
Débora Tamayose<br />
CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />
Márcio Silva<br />
PUBLICIDADE<br />
Lucimara Ricardi | diretora<br />
PARA ANUNCIAR<br />
comercial@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
PARA ASSINAR<br />
assinaturas@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
administracao@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
Boa leitura!<br />
Impressão e Acabamento: Ipsis<br />
Orlando Marques<br />
Editor-chefe<br />
Camilla Joels<br />
PUBLICADA POR<br />
Diana Joels, cujo escritório<br />
concepDUAL é parte do programa<br />
Escritório Parceiro da <strong>L+D</strong>, é nossa<br />
convidada para a coedição do<br />
¿Qué Pasa? duplo deste número.<br />
Editora Lumière Ltda.<br />
Rua João Moura, 661 – cj. 72, 05412-001<br />
São Paulo SP, T 11 3062.2622<br />
www.editoralumiere.com.br<br />
10 11
Imagens: Bia Ferrer<br />
¿QUÉ PASA?<br />
CONSCIENTIZAÇÃO<br />
INTERATIVA<br />
Em apoio à iniciativa Maio Amarelo, criada pelo Observatório<br />
Nacional de Segurança Viária para incentivar a segurança no<br />
trânsito, o festival de arte digital SP_Urban realizou uma edição<br />
“cápsula” durante o mês de maio, com curadoria artística de<br />
Marilia Pasculli. Uma das obras apresentadas foi Light Path, uma<br />
instalação imersiva que jogou com a ideia de fluxo e o conceito<br />
de sinalização viária, por meio de um túnel luminoso construído<br />
sobre um trecho da ciclovia da movimentada avenida Brigadeiro<br />
Faria Lima, em São Paulo.<br />
Assinada pelo artista multimídia brasileiro Leandro Mendes<br />
– mais conhecido como Vigas –, a instalação contou com uma<br />
programação de luzes e sons inspirada nos fluxos cotidianos da<br />
cidade, com variações em suas cores, suas intensidades e seus<br />
movimentos, assim como ocorre diariamente com veículos,<br />
pedestres e ciclistas numa das mais movimentadas cidades do<br />
país. “Sua forma de túnel transporta o público a outro contexto<br />
espacial, transformando a passagem em uma experiência<br />
imersiva. Para os pedestres à espera para atravessar a ciclovia,<br />
há um portal luminoso com programação acompanhada por<br />
texturas sonoras, criando um ambiente acolhedor e diminuindo<br />
o ritmo do entorno caótico. A instalação propõe experiências<br />
sensoriais em nosso cotidiano, transformando nossas rotinas<br />
com rupturas visuais e sonoras”, declara o artista. A ambientação<br />
cinética da instalação também chamou a atenção, de maneira<br />
lúdica, para os novos meios de mobilidade urbana que vêm<br />
povoando as metrópoles brasileiras. (D.T.)<br />
12 13
1<br />
2<br />
Nigel Young/Foster + Partners<br />
James Newton, JN Photographs<br />
James Brittain<br />
Sam Fentress<br />
Gavriil Papadiotis<br />
3 4 5<br />
¿QUÉ PASA?<br />
36º IALD INTERNATIONAL<br />
LIGHTING DESIGN AWARDS<br />
A 36ª edição do prêmio anual oferecido pela International<br />
Association of Lighting Designers (IALD) teve seus vencedores<br />
anunciados durante o tradicional jantar de gala, realizado no<br />
mês de maio na Filadélfia, Estados Unidos. O júri deste ano,<br />
formado por Kerri Calahan, Amardeep M. Dugar, Norwood<br />
“Woody” Faust, Patricia Glasow, Samantha Hollomon,<br />
Christopher Knowlton e Yah Li Toh, selecionou um total de<br />
23 projetos de iluminação, reconhecidos pelo alto nível de<br />
criatividade e sofisticação na aplicação da luz na arquitetura.<br />
Entre os agraciados com o Award of Merit, destacamse<br />
o projeto de iluminação da Arup Alemanha para a nova<br />
sede da Amorepacific – capa da edição 73 da <strong>L+D</strong> – e a<br />
iluminação da ponte CF Toronto Eaton Centre Bridge 1<br />
, assinada pelos lighting designers do Speirs + Major.<br />
Os britânicos também foram premiados com o Award of<br />
Excellence por seu projeto para o complexo Gasholders<br />
London, que pode ser conferido em mais detalhes na<br />
matéria desta edição da <strong>L+D</strong>. Outros dez projetos também<br />
foram reconhecidos com prêmios de excelência, sendo três<br />
deles concedidos ao escritório norte-americano Tillotson<br />
Design Associates, pelos pro jetos para o Gateway Arch<br />
Museum 2 , em St. Louis, Estados Unidos; para o edifício de<br />
escritórios Bloomberg European Headquarters 3 , em Londres,<br />
Reino Unido; e para a exposição London Mithraeum 4 , instalada<br />
nesse mesmo edifício, cujo projeto assinam em conjunto com<br />
o Schreiber Studio. A equipe do Lighting Planners Associates,<br />
liderada por Kaoru Mende, também foi agraciada com o Award<br />
of Excellence pela iluminação do Mt. Fuji Heritage Centre, capa<br />
da edição 70 da <strong>L+D</strong>.<br />
O grande destaque da noite foi o projeto de iluminação<br />
do escritório britânico Lighting Design International para a<br />
fachada do Kimpton Fitzroy London Hotel 5 , na capital da<br />
Inglaterra, que alcançou a maior pontuação nas avaliações<br />
dos jurados, sendo consagrado com o Radiance Award for<br />
Excellence in Lighting Design, além de reconhecido com um<br />
Award of Excellence. Os jurados destacaram a elegância<br />
do projeto ao combinar e balancear equipamentos com<br />
diferentes intensidades luminosas, todos criteriosamente<br />
ocultos em meio aos próprios detalhes arquitetônicos da<br />
fachada. Felicitações aos premiados! (D.T.)<br />
14 15
16 17
1<br />
2<br />
3<br />
Fernando Guerra<br />
Pedro Pegenaute<br />
Mr. Shih-Hung Yang<br />
Matej Slávik<br />
Shannon McGrath<br />
Transurban<br />
4<br />
5<br />
6<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LIGHTING DESIGN AWARDS 2019<br />
No Dia Internacional da Luz, 16 de maio, ocorreu em<br />
Londres, Reino Unido, a entrega do Lighting Design Awards,<br />
promovido pela revista inglesa Lighting.<br />
Depois de dez anos no centro de convenções do Hilton, este<br />
ano a festa aconteceu no icônico teatro Troxy, imprimindo uma<br />
pegada mais moderna na glamorosa festa black-tie.<br />
O primeiro prêmio da noite, o Publishers’ Lifetime<br />
Achievement Award, foi entregue à arquiteta tcheca radicada<br />
em Londres Eva Jiřičná 1 , pelo conjunto de sua obra e sua<br />
carreira, em que se destacam globalmente projetos de<br />
interiores com o uso pioneiro da interação entre a luz e<br />
as características dos materiais, sobretudo em espaços<br />
comerciais. Segundo Zaha Hadid, Eva teria reinventado a<br />
ideia de retail. Única premiada com direito a um discurso de<br />
agradecimento, a arquiteta proferiu uma fala emocionada,<br />
destacando o potencial de arquitetos e lighting designers<br />
criarem num futuro próximo um novo mundo a partir de<br />
tecnologias emergentes.<br />
Na sequência, foram entregues os troféus aos selecionados<br />
na premiação 40under40, após a projeção de um<br />
vídeo recompilando as reflexões de alguns dos premiados<br />
sobre as características dessa geração em relação às das<br />
anteriores.<br />
A noite seguiu com a entrega dos prêmios para projetos<br />
e produtos, em diversas categorias.<br />
O escritório australiano Electrolight obteve grande<br />
destaque com três prêmios: os projetos do edifício do<br />
Terminal 2 do Aeroporto de Melbourne Luxury Mall 2 e do<br />
CityLink Sound Tube 3 , ambos em Melbourne, Austrália,<br />
respectivamente nas categorias Projeto Comercial do Ano e<br />
Projeto de Espaço e Público e de Paisagem do Ano, além do<br />
prêmio Escritório do Ano.<br />
Outros prêmios incluem o Projeto de Restaurante do Ano<br />
para o Four Seasons Restaurant, em Nova York, Estados Unidos,<br />
de Tillotson Design Associates 4 ; o Projeto de Lazer do Ano para<br />
o New Shanghai Theatre, em Xangai, China, de Unolai Lighting<br />
Design + Associates 5 ; o Projeto de Baixo Orçamento do Ano<br />
para o edifício Bamboo Pavilion, Exposição Mundial de Flora<br />
Taichung, em Taiwan, de OuDelight 6 ; o Projeto de Espaços<br />
de Trabalho do Ano para o Nousaku office and factory, em<br />
Toyama, Japão, de Sirius Lighting Office; o Projeto de Patrimônio<br />
Histórico do Ano para a Igreja Presbiteriana Internacional, em<br />
Ealing, Reino Unido, de 18 Degrees; o Projeto de Luz Natural<br />
para o Louvre, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, de<br />
BuroHappold Engineering; o Projeto de Integração do Ano para<br />
o Shanghai Sunac Sales Center, em Xangai, China, de Brandston<br />
Partnership; e, por fim, o prêmio Light Art do Ano, para a<br />
instalação Halo, em Londres, Reino Unido, de Kimchi and Chips.<br />
Confira todos os vencedores no site da premiação. Parabéns<br />
a todos! (D.J.)<br />
18 19
summalab<br />
Daniel Ríos<br />
iGuzzini<br />
LAMP summalab<br />
summalab<br />
iGuzzini<br />
¿QUÉ PASA?<br />
SUMMALAB<br />
Quem acompanha o trabalho do lighting designer Maurici<br />
Ginés e seu premiado escritório artec3 studio, em Barcelona,<br />
Espanha, terá percebido que nos últimos anos, além dos projetos<br />
de iluminação, o designer começou a dar cada vez mais ênfase a<br />
projetos de produtos e também instalações de light-art.<br />
Em 2008, o escritório – anteriormente denominado<br />
artecluminotecnia – passou a se chamar artec3, sendo o 3 uma<br />
referência a seus três departamentos: lighting, design e vision,<br />
responsáveis, respectivamente, pelos projetos de iluminação<br />
arquitetônica, produtos especiais e instalações especiais,<br />
sempre vinculados aos projetos de iluminação.<br />
Desde 2011, entre outros fatores, em virtude da grave crise<br />
econômica na Espanha, artec3 buscou se reinventar e investir<br />
cada vez mais em ampliar seu escopo de serviços. Baseado na<br />
experiência do desenvolvimento de produtos customizados e<br />
projetos de fachadas interativas para seus próprios projetos, a<br />
evolução para o desenvolvimento desse tipo de serviço de forma<br />
autônoma foi um caminho natural. Os antigos departamentos<br />
de design e vision passaram a chamar-se divisões de Product<br />
Design e Light Art, complementando a sempre clara e bemsucedida<br />
divisão de Lighting.<br />
A colaboração com empresas como iGuzzini e LAMP fez<br />
o departamento de Product Design ganhar força rapidamente.<br />
E o mercado já testemunhou o resultado desse trabalho em<br />
diversos produtos premiados, como a luminária Stormbell,<br />
vencedora do Architectural SSL Product Innovation Awards;<br />
e a linha Palco, recentemente vencedora do Prêmio Nazionale<br />
per l’Innovazione, na categoria máxima Premio dei Premi, e<br />
do Codega International Lighting Design Award, ambos na<br />
Itália, além do Delta de Oro nos Prêmios Delta ADI-FAD, mais<br />
importante premiação de desenho industrial da Espanha.<br />
O interesse em potencializar os projetos de light-art,<br />
respondendo a uma demanda crescente por experiências<br />
sensoriais com significado, e ao mesmo tempo tornar ainda<br />
mais claro seu escopo de trabalho, evitando confusões<br />
recorrentes, levou à decisão de a artec3 criar uma empresaparceira:<br />
a summalab.<br />
Na summalab, Ginés desenvolve com mais liberdade suas<br />
facetas de light-artist e designer de produtos. Junto a uma<br />
equipe multidisciplinar, desenvolve projetos de instalações<br />
interativas, conteúdos midiáticos, design de produtos e obras<br />
de arte.<br />
A summalab também surge como espaço colaborativo, com<br />
o objetivo de explorar a sinergia entre design e arte em parceria<br />
com outras equipes, engajando artistas, programadores e<br />
músicos, em razão do projeto. (D.J.)<br />
20 21
Imagens: Haberdashery<br />
¿QUÉ PASA?<br />
HERE COMES THE SUN<br />
Durante a feira de design Clerkenwell Design Week 2019,<br />
realizada de 21 a 23 de maio, em Londres, na Inglaterra, o escritório<br />
londrino Haberdashery apresentou The Dawn to Dusk, linha de<br />
luminárias com cúpula plana, em forma de disco, que desliza para<br />
cima e para baixo por uma haste central, provocando variações na<br />
intensidade e nas cores da luz, que remetem à luz do sol.<br />
À medida que o disco sobe pela haste, a tonalidade da<br />
fonte de luz varia do vermelho até o laranja, atingindo uma<br />
luz branca brilhante que emula o sol do meio-dia. Em virtude<br />
disso, a luminária, segundo seus criadores, pode auxiliar no<br />
ritmo circadiano, de forma a sincronizar as funções fisiológicas<br />
do corpo humano.<br />
Segundo Ben Rigby, diretor criativo da Haberdashery,<br />
um dos principais desafios para a criação da luminária<br />
foi recriar a tonalidade de luz quente do pôr do sol<br />
com a tecnologia existente. “Tivemos de incorporar<br />
um vermelho específico usado na horticultura para<br />
desenvolver uma matriz de LED personalizada que fosse<br />
satisfatória”, explica.<br />
A luminária, que é acionada pelo toque, fica apagada<br />
quando a cúpula está na base da haste. O disco também<br />
pode girar 360 graus para que a luminária possa ser<br />
utilizada em diferentes ambientes, incluindo áreas de<br />
trabalho. (V.F.)<br />
22 23
Imagens: Peer Lindgreen<br />
¿QUÉ PASA?<br />
MULTIESPAÇO DISCIPLINAR<br />
Tom Dixon, o superstar multidesigner britânico, está de<br />
casa nova. The Coal Office é o novo centro de operações de<br />
sua marca em Londres, Reino Unido, onde, além da base para o<br />
desenvolvimento de experimentos, inovações e colaborações,<br />
situa-se sua mais ambiciosa flagship store.<br />
Localizado no Coal Drops Yard, na antiga zona industrial<br />
de King’s Cross, recentemente renovada e atualmente<br />
aclamada como principal hub de criatividade e tecnologia da<br />
capital, o Coal Office se apresenta como um novo epicentro<br />
do design e plataforma multidisciplinar para inovação.<br />
Para um designer que cria de luminárias a perfumes,<br />
passando por peças de mobiliário e acessórios, figurando<br />
tanto em museus como nas prateleiras do Ikea e contabilizando<br />
mais de 600 produtos, nada mais natural do<br />
que um multiespaço que combine escritórios, ateliê, loja e<br />
restaurante – colaboração de Tom Dixon com Assaf Granit –,<br />
em seus mais de 1.600 metros quadrados.<br />
Entre os objetivos desse novo espaço, figura a<br />
criação de experiências que venham a testar os limites<br />
contemporâneos dos espaços comerciais no universo<br />
do design de interiores. Os resultados dessas inovações<br />
certamente repercutirão em seus produtos e também nos<br />
demais hubs da marca, localizados em Hong Kong, Tóquio,<br />
Los Angeles e Nova York, recentemente expandida de loja<br />
local a supershowroom com três pavimentos em Greene<br />
Street, no Soho. (D.J.)<br />
24 25
¿QUÉ PASA?<br />
ESTÚDIO TUPI + ESTÚDIO CARLOS FORTES<br />
O Estúdio Tupi, de Aldo Urbinati, Andrea Bazarian e<br />
Rafael Ayres, e o Estúdio Carlos Fortes, cujo titular é um dos<br />
colaboradores da <strong>L+D</strong>, estão lançando um livro que retrata a<br />
parceria dos dois escritórios em cinco projetos.<br />
Os projetos da Joalheria Ara Vartanian, em Londres, e<br />
das lojas NK Store, Joalheria Sauer, Uniflex Cidade Jardim e<br />
Perfumaria Neeche, em São Paulo, estão publicados em 144<br />
páginas, com texto de apresentação de Evelise Grunow.<br />
Os projetos foram fotografados por Andrés Otero, Leonardo<br />
Finotti, Leka Mendes e Tadeu Melegatti. A publicação, editada<br />
pela Ipsis Editora, teve a colaboração de Cris Correa, da Editora<br />
C4, e será lançada com cinco sobrecapas diferentes, uma<br />
dedicada a cada projeto. A primeira apresentação do livro é<br />
nos dias 15 e 16 de agosto, durante o LEDForum. Na semana<br />
seguinte, durante a DW, acontece seu lançamento oficial na<br />
Uniflex Cidade Jardim, no dia 21 de agosto. Estará também<br />
nas lojas Dpot e Dpot Objeto, na Alameda Gabriel Monteiro<br />
da Silva – ocasião em que será lançada com exclusividade a<br />
linha de luminárias de cerâmica desenhadas por Carlos Fortes e<br />
executadas pela ceramista Alice Felzenszwalb.<br />
26 27<br />
Foto: Eduardo Knapp
Imagens: Craig Wall<br />
1<br />
2<br />
3 4<br />
¿QUÉ PASA?<br />
JARDINS DO PRAZER<br />
Em março de 2019, o designer britânico Lee Broom<br />
apresentou Park Life, mostra que transformou o estacionamento<br />
da Space Furniture, loja de móveis e luminárias em Sydney,<br />
Austrália, na sua interpretação contemporânea dos jardins do<br />
prazer do século XVIII.<br />
Com a forma de um labirinto, Park Life conduziu os<br />
hóspedes a uma viagem poética de descobrimento da coleção<br />
de luminárias de Le Broom por meio de corredores ocultos.<br />
Um dos destaques da exposição foi o lançamento da nova<br />
versão do premiado pendente Eclipse 1 , com acabamento<br />
dourado polido. A peça, com silhueta escultórica que lembra<br />
um móbile, é formada por discos de acrílico dourados<br />
polidos, que escurecem e revelam simultaneamente sua<br />
iluminação ao espectador.<br />
Outras luminárias de Lee Broom lançadas na versão dourada<br />
e polida foram a Fulcrum 2 , a Orion Tube 3 e a Globe Lights 4<br />
. Ocupando uma área de 4 mil metros quadrados, Park Life é<br />
considerada a maior mostra realizada pelo designer britânico,<br />
que é vencedor de prêmios como o British Designer of the Year<br />
e The Queen’s Award for Enterprise. (V.F.)<br />
28 29
30 31
Cortesia de The Beam<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ARTE, ENERGIAS RENOVÁVEIS E AÇÃO SOCIAL<br />
Iniciativa da revista The Beam, The Solar Panel Art Series<br />
reúne diversas instituições parceiras e promove a criação<br />
de obras de arte obras de arte cujo meio artístico são<br />
painéis solares, estabelecendo um diálogo entre energias<br />
renováveis e criatividade artística.<br />
A cada edição, os curadores do projeto – que já teve<br />
seus resultados expostos em Berlim, Leipzig, Colônia,<br />
Madri e Nova York – convidam um grupo de artistas<br />
internacionais a participar dessa iniciativa de geração de<br />
impacto positivo.<br />
As obras de arte únicas são todas vendidas em leilões<br />
beneficentes, organizados pela parceira Paddle8, e parte<br />
da arrecadação é destinada ao projeto Solar Kids School<br />
Program, da Little Sun Foundation, instituição fundada pelo<br />
artista Olafur Eliasson. O compromisso do programa é levar<br />
luz segura e sustentável às crianças e a seus professores em<br />
zonas de Ruanda desprovidas de redes de eletricidade, onde<br />
dependem de velas e/ou querosene, que são fontes de luz<br />
poluentes, caras e de alto risco.<br />
Nas palavras de Olafur Eliasson: “Uma obra de arte nunca<br />
é apenas o objeto; é também a experiência e seu impacto<br />
contextual, como é usada e desfrutada e como provoca<br />
questões e transforma maneiras de se pensar e viver. The Solar<br />
Panel Art Series faz exatamente isso e é um excelente exemplo<br />
de como ampliar a discussão sobre energias renováveis e a<br />
desigualdade no acesso à energia hoje. Adicionalmente, além<br />
de fazer pensar, há a ação”.<br />
Por meio de sua materialidade e sua cadeia de ações, esse<br />
projeto tem o duplo objetivo de prover luz limpa a populações<br />
marginalizadas e trazer à tona a questão da coexistência<br />
entre arte, tecnologia e natureza.<br />
Em última instância, é um projeto que promove uma<br />
tomada de consciência do nosso futuro e a possibilidade de<br />
ele ser mais verde, mais limpo e mais igualitário.<br />
Em 2019, o projeto já teve quatro exposições e um leilão<br />
online. Para o segundo semestre, estão previstos mais três<br />
leilões e três exposições, dentre as quais uma no edifício das<br />
Nações Unidas, em Nova York. (D.J.)<br />
32 33
Imagens: IFSC-USP/ Nature Communications<br />
ESPECTRO VISÍVEL DA LUZ<br />
¿QUÉ PASA?<br />
O PODER DA BIOFOTÔNICA<br />
Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/<br />
USP) e da Universidade de Toronto, Canadá, anunciaram o<br />
desenvolvimento de um novo método que pode aumentar<br />
significativamente as chances de sucesso dos transplantes<br />
de órgãos por meio de uma técnica de biofotônica, que é a<br />
combinação da biologia com a luz.<br />
Pelo método utilizado atualmente, o órgão retirado do<br />
doador passa pelo processo de perfusão (substituição<br />
do sangue pelo líquido de preservação). Apesar de o<br />
procedimento contribuir para a eliminação da carga viral<br />
e da bacteriana presentes, ele não é capaz de eliminá-las<br />
totalmente, o que leva à necessidade do uso de antibióticos<br />
e de antivirais pelo paciente durante os meses seguintes ao<br />
transplante, para evitar infecções. Com o intuito de reduzir a<br />
presença desses vírus e bactérias, os cientistas desenvolveram<br />
uma máquina para viabilizar a descontaminação por meio da<br />
radiação ultravioleta, com base em um método já utilizado<br />
para purificar doações de sangue.<br />
A máquina funciona como uma espécie de carrossel,<br />
expondo o líquido utilizado na perfusão a um sistema<br />
que emite radiação ultravioleta, com comprimento de<br />
onda de 254 nanômetros, ao mesmo tempo que faz<br />
esse líquido circular pelo interior do órgão. À medida<br />
que os microrganismos são expostos a essa radiação,<br />
são eliminados. O gráfico acima compara duas amostras<br />
infectadas e comprova a eliminação gradativa das infecções<br />
em uma delas, 180 minutos após sua exposição à radiação<br />
UV. Um processo de descontaminação indireta ocorre<br />
em paralelo, por meio da exposição direta do órgão à luz<br />
vermelha, com comprimento de onda de 660 nanômetros,<br />
que elimina os microrganismos presentes em seus tecidos.<br />
O novo método possibilita que uma quantidade reduzida<br />
do líquido da perfusão possa ser reutilizada, em um mesmo<br />
órgão, centenas de vezes, reduzindo os custos do processo.<br />
Além disso, a técnica possibilitará que órgãos antes rejeitados<br />
para o procedimento, por estarem infectados por algum tipo<br />
de vírus ou bactéria, sejam totalmente descontaminados e<br />
reutilizados, podendo haver, assim, uma redução no tempo<br />
de espera na fila de transplantes. A equipe, formada pelas<br />
pesquisadoras Cristina Kurachi e Natália Inada e chefiada<br />
pelo professor Vanderlei Bagnato, realizou os primeiros<br />
testes, com sucesso, em pulmões infectados com o vírus da<br />
hepatite C e agora trabalha para adaptar a técnica a fígados<br />
e rins. (D.T.)<br />
34 35
Imagens: Anna Stathaki<br />
¿QUÉ PASA?<br />
CORES PURAS,<br />
EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS INTENSAS<br />
Durante a Clerkenwell Design Week, que aconteceu em<br />
Londres entre os dias 21 e 23 de maio, o porão do showroom<br />
da marca de acabamentos Domus transformou-se em uma<br />
experiência de imersão em cores, obra da artista britânica Liz West.<br />
Intitulado Live Colour, o mais recente trabalho da artista<br />
criou um ambiente intenso, mesclando luminâncias e luzes de<br />
emissão colorida contra um ambiente branco com fundo de<br />
placas brancas de porcelana de grande formato.<br />
O espaço se transformava de acordo com um ciclo de seis<br />
diferentes cores: vermelha, amarela, azul, verde, rosa e branca,<br />
cada uma com duração de 22 segundos, o tempo de adaptação<br />
do olho a cada cor, antes da chegada do próximo tom.<br />
O objetivo era proporcionar uma experiência sensorial<br />
intensa, de cores puras, e o questionamento a respeito das<br />
sensações provocadas por cada cor; nas palavras da artista, “cor<br />
é uma linguagem universal, compreendida por todos, apesar<br />
de cada um de nós trazer para este trabalho nossas próprias<br />
memórias e vivências individuais de cores”.<br />
Os visitantes eram encorajados a vestir roupas brancas,<br />
de forma a intensificar a experiência sensorial. Algumas das<br />
questões propostas eram: Qual é a sua cor preferida? Você se<br />
sentiu como esperava quando imerso em determinada cor?<br />
Como você sentiu o branco, após a experiência de outras<br />
cores intensas?<br />
A instalação utilizou a tecnologia SL1 Mix LED, patenteada<br />
pela Rosco, para criar equivalência cromática precisa com<br />
gelatinas da marca e cores saturadas e intensas.<br />
Além da instalação, parte da Semana de Design, Liz West<br />
palestrou no mesmo local no dia 21 de maio, dedicando parte<br />
de sua apresentação a esse novo projeto, que inclui também<br />
temáticas da psicologia das cores e como a experiência de ver e<br />
sentir cores pode influenciar o bem-estar. (D.J.)<br />
36 37
38 39
Imagens: Takumi Ota<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ESCHER × NENDO<br />
A National Gallery of Victoria (NGV) em Melbourne,<br />
Austrália, exibiu a exposição Escher × nendo | Between Two<br />
Worlds, na qual foram apresentados 157 trabalhos do artista<br />
holandês M. C. Escher (1898-1972), em um espaço idealizado<br />
pelo estúdio de design japonês nendo. As obras do artista,<br />
mundialmente conhecido por seus trabalhos de ilusões de<br />
ópticas em xilogravuras, litogravuras e mezzotinta, foram<br />
dispostas de maneira narrativa, e não cronológica.<br />
A exposição foi dividida em nove temas dedicados a<br />
expressar as diferentes ideias e pontos de vista do artista<br />
holandês. O aspecto labiríntico do percurso da exposição<br />
levou o nendo a adotar um motivo central para guiar o<br />
público pelos espaços. Presente em todas as dez salas, a<br />
forma arquetípica de uma casa foi a escolhida para criar “um<br />
lar para Escher”. Esse símbolo pôde ser visto logo na entrada<br />
da exposição, por meio de uma projeção que iluminava o<br />
piso. Remetendo à areia de uma ampulheta, a projeção<br />
apresentou pequenas partículas que fluíam pela superfície<br />
e gradualmente se convertiam na forma da casa, de modo a<br />
guiar os visitantes até a primeira sala.<br />
A maior de todas as salas apresentou o trabalho de<br />
pesquisa de Escher a respeito de seu conceito da divisão<br />
regular do plano por meio de uma aparente ilusão do<br />
movimento sucessivo de planos brancos e pretos que<br />
parecem formar e desformar o arquétipo da casa de Escher,<br />
usada também como suporte para a exibição das obras do<br />
artista. Para acentuar a dramaticidade cromática e espacial,<br />
cada casa foi destacada individualmente por projetores com<br />
facho de alta precisão.<br />
Em outra sala, dedicada às perspectivas, às reflexões e às<br />
formas geométricas, muito marcantes na obra de Escher, um<br />
cilindro permeável suspenso, medindo 5 metros de diâmetro,<br />
ocupou o centro do espaço. Construído com mais de 55<br />
mil pequenas peças planas em forma de casas, o elemento<br />
revelava, desde determinada perspectiva, a ilusão da sombra<br />
de uma grande casa flutuante em seu interior, formada pela<br />
diferença entre as cores das peças. Quando observada do lado<br />
oposto, a instalação apresentava a mesma casa flutuante,<br />
porém na cor branca, aparentando ser uma projeção de luz.<br />
Somente as cores preta, branca e cinza foram utilizadas<br />
em todos os elementos e acabamentos da exposição, de<br />
maneira a acentuar detalhes importantes por meio das luzes,<br />
das sombras, das reflexões e dos contrastes, como na última<br />
galeria do percurso, dedicada à gravura “Snakes”, composta<br />
de um caminho luminoso serpenteado – cuja seção derivou<br />
do formato extrudado da casa – que cortava a imensidão da<br />
sala escura, culminando na exibição da famosa obra, a última<br />
feita por Escher antes de sua morte. (D.T.)<br />
40 41
Imagens: Alex Grazioli, Cortesia de Carpenters Workshop Gallery<br />
2<br />
1<br />
3 4<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ARTE CONTEMPORÂNEA,<br />
CONTEXTO HISTÓRICO<br />
Inaugurada em 8 de maio, coincidindo com o período<br />
da Bienal de Arte, a mostra DYSFUNCTIONAL reúne<br />
50 trabalhos de 22 artistas internacionais na Galleria<br />
Giorgio Franchetti alla Ca’ d’Oro, em Veneza, em torno da<br />
temática dos limites entre arte e design.<br />
Todas as obras instaladas são versões site-specific<br />
pensadas para dialogar tanto com a arquitetura do<br />
palácio do século XV quanto com a coleção de obras de<br />
arte renascentistas e barrocas em permanente exposição<br />
na galeria.<br />
Distribuídas por todo o palácio, as esculturas estão<br />
expostas de forma a aguçar descobertas e gerar um<br />
senso de encantamento, celebrando a história rica do<br />
local, e ao mesmo tempo questionar o que define uma<br />
obra de arte e sua relação com o design. A ideia de<br />
disfuncional, vinculada à disrupção de relações sociais<br />
convencionais, tem o objetivo de convidar à reflexão,<br />
a partir da contraposição entre arte contemporânea e<br />
patrimônio histórico.<br />
Dentre as obras que compõem o conjunto e sua<br />
narrativa, está Fragile Future 3 1 , dos holandeses do Studio<br />
Drift, que se configura como moldura de luz para a pintura<br />
San Sebastian, de Andrea Mantegna, de 1506, estimulando<br />
o visitante a repensar nossa relação com a natureza, por<br />
meio da fusão de um dente-de-leão com um LED.<br />
O autorretrato Real Time 2 , de Maarten Bass, foi criado<br />
em homenagem ao homem vitruviano de Leonardo da Vinci,<br />
cidadão de Veneza, para essa mostra que ocorre no ano do<br />
aniversário de 500 anos de sua morte.<br />
Já a obra Moments of Happiness 3 , dos Verhoeven Twins,<br />
transforma o pavilhão térreo com sua instalação que reflete<br />
e refrata luz. E Stuart Haygart traz à tona a questão da<br />
poluição do plástico com Tide Colour 4 , obra produzida com<br />
objetos recolhidos na costa britânica.<br />
A exposição é uma parceria entre a galeria inglesa de<br />
expressão internacional Carpenters Workshop Gallery e a<br />
empresa de gestão de recursos suíça Lombard Odier e pode<br />
ser visitada até 24 de novembro. (D.J.)<br />
42 43
Imagens: Mark Reeves<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ARQUITETURA QUE RESPIRA<br />
Trabalhando com bordados desde muito cedo, quando<br />
começou a ajudar a mãe na produção de mantas, a artista<br />
sul-coreana Kimsooja rodou o mundo para investigar a<br />
importância cultural de vestuários e tecidos e das técnicas<br />
de produção por trás desses itens. Nessa busca, ela adotou<br />
como lema a ideia do bottari, que é o nome coreano para<br />
um pacote embrulhado em tecido, tradicionalmente usado<br />
para o transporte de objetos pessoais. Para Kimsooja, bottari<br />
é um mundo autocontido, como um “recipiente capaz de<br />
carregar tudo, material e conceptualmente falando”. A<br />
artista passou a incorporar o conceito em seus trabalhos,<br />
aplicando-o a espaços cada vez maiores, ao entender que<br />
edifícios também poderiam ser “embrulhados” e assim ter<br />
seus conteúdos alterados e reformulados.<br />
Sua mais recente instalação, To Breathe, é um exemplo<br />
dessa abordagem. Concebida para a primeira edição do<br />
festival Yorkshire Sculpture International, a obra transformou<br />
os interiores da histórica capela do Yorkshire Sculpture Park<br />
(YSP), em Yorkshire, Reino Unido. O edifício, datado do<br />
século XVII, teve seu piso totalmente revestido de espelhos,<br />
que tornaram fluido e amplo o que antes parecia sólido<br />
e limitante. Adicionalmente, a artista aplicou películas<br />
de difração aos vidros das janelas, que decompõem a luz<br />
natural, formando uma infinidade de arco-íris em todo o<br />
espaço interno. O efeito muda de acordo com as condições<br />
da luz natural e é potencializado pelos reflexos gerados pelo<br />
piso espelhado.<br />
A instalação pode ser visitada até o final do mês de<br />
setembro e é complementada por sons da respiração da<br />
própria artista, tornando a experiência ainda mais íntima<br />
e meditativa. Kimsooja costuma chamar os interiores da<br />
arquitetura de “vazios”, que considera dotados de certa<br />
forma e fluidez e sobre os quais tem particular interesse na<br />
relação de “Yin e Yang”, ou seja, na dualidade representada<br />
por aquele espaço – “como uma forma de inspiração e<br />
expiração, que é o processo natural da respiração, uma lei<br />
da vida”, complementa. O “vazio”, nesse caso, torna-se a<br />
matéria para a obra de arte. (D.T.)<br />
44 45
Fotos: Nicolas Gaudelet<br />
¿QUÉ PASA?<br />
PINTURAS DE LUZ, PINCÉIS HUMANOS<br />
Recentemente realizada no Museu Soulages, em Rodez,<br />
na França, a exposição Pixels Noir Lumière proporcionou ao<br />
público experiências sensoriais fortes. Os visitantes podiam<br />
intervir nas “pinturas de luz” com um simples movimento,<br />
“como se fossem pincéis”, segundo o artista Miguel<br />
Chevalier, o idealizador da instalação. Feita em homenagem<br />
ao 100º aniversário do pintor e escultor francês Pierre<br />
Soulages, a mostra apresenta duas instalações digitais<br />
interativas que exploram a luz como material artístico: Pixels<br />
Liquides e L’Origine du Monde.<br />
Nascido no México e radicado na França, Miguel Chevalier<br />
foi um dos pioneiros em investigar a natureza do pixel como<br />
uma forma poética, dinâmica e artística. Na instalação<br />
Pixels Liquides, pixels pretos e azuis reagiam ao movimento<br />
do espectador. A parede (13,40 metros × 7,80 metros)<br />
transformava-se em uma tela que registrava as “pinceladas”<br />
dos visitantes, definindo um desenho fluido, abstrato e efêmero<br />
que se esvaía com a chegada de outra pessoa.<br />
Inspirada na biologia, nos microrganismos e nos autômatos<br />
celulares, a instalação L’Origine du Monde foi feita no<br />
piso (12 metros × 7,50 metros), com pinturas virtuais em<br />
preto e branco compostas de “aglomerados de células” que se<br />
moviam num padrão orgânico de proliferação, divisão e fusão,<br />
à medida que os espectadores caminhavam pelo espaço. (V.F.)<br />
46 47
Imagens: Noah Kalina<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ESPELHO,<br />
ESPELHO MEU<br />
Localizada às margens do rio Potomac, a cidade<br />
de Alexandria, nos Estados Unidos, tem realizado uma<br />
série de ações para atrair visitantes para a região da orla,<br />
especialmente nas proximidades de seu centro histórico.<br />
Como parte das iniciativas, o estúdio de design novaiorquino<br />
SOFTlab concebeu Mirror Mirror, uma instalação<br />
interativa que será exibida até o mês de novembro, no novo<br />
parque King Street.<br />
Inspirados pelo funcionamento dos faróis, os designers<br />
construíram uma estrutura semicircular, com aproximadamente<br />
8 metros de diâmetro e 2,5 metros de altura, cujos materiais<br />
e mecanismos fazem referência às lentes do tipo Fresnel<br />
utilizadas no próprio farol histórico de Alexandria, o Jones Point<br />
Lighthouse. A instalação é formada por uma série de elementos<br />
verticais de forma prismática, cuja face exterior é revestida<br />
de espelhos monocromáticos, que refletem o entorno e os<br />
visitantes, enquanto a face interna é constituída de espelhos<br />
coloridos com as cores do espectro. Jogando com os conceitos<br />
de reflexão e refração da luz, esses elementos contam com<br />
LEDs em seus interiores, cuja operação responde a estímulos<br />
sonoros, encorajando os visitantes a interagir por meio da voz<br />
e do corpo. Ao serem acionadas, as luzes tornam transparentes<br />
os espelhos frontais, enquanto os espelhos internos mantêm<br />
suas propriedades refletivas, criando infinitos reflexos de cores,<br />
descritos pelos designers como “uma floresta de luz”. O efeito<br />
é totalmente distinto do que é produzido durante o dia, quando<br />
os reflexos são gerados pela interação da obra com a luz do sol.<br />
O artista e arquiteto Michael Szivos, titular do SOFTlab,<br />
conta que a intenção da instalação é fundir, visualmente,<br />
a orla, a paisagem do centro histórico e a presença dos<br />
pedestres no novo parque. “Como um farol, Mirror Mirror vai<br />
agir como um ponto de referência, acenando aos visitantes<br />
para que se aproximem, interajam com a obra e explorem<br />
essa área da cidade”, ele completa. (D.T.)<br />
48 49
Porcelanosa UK & Jestico + Whiles<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LUZ, MOVIMENTO E TEXTURA<br />
Proporcionar uma experiência envolvente e hipnotizante<br />
por meio da luz, do movimento e da textura, esse foi o objetivo<br />
de Pareidolia, instalação luminosa criada pelos escritórios de<br />
arquitetura Studio Fractal e Jestico + Whiles, em parceria com<br />
o Architainment Lighting e o Grupo Porcelanosa, empresa<br />
espanhola de revestimentos cerâmicos, na Clerkenwell<br />
Design Week 2019, festival independente de design realizado<br />
de 21 a 23 de maio em Londres, Reino Unido.<br />
Material produzido pela Porcelanosa a partir de minerais<br />
e resina, o krion, por ser moldável e permitir a confecção<br />
de grandes superfícies sem juntas aparentes, favoreceu<br />
a criação das formas orgânicas curvas de Pareidolia. À<br />
noite, a escultura de 2,3 metros de altura, erguida em uma<br />
plataforma de pedra, encantava com seu dinamismo e seu<br />
efeito luminoso.<br />
O detalhamento, a construção e a montagem da<br />
instalação foram feitos com esmero. Inseridas nas<br />
extremidades dos painéis de krion, em uma fenda discreta,<br />
fitas de LED RGB acendem em ordem sequencial para criar<br />
movimento. Pareidolia, com suas luzes coloridas e seu<br />
ritmo, foi uma das instalações que mais se destacaram na<br />
Clerkenwell Design Week 2019. (V.F.)<br />
50 51
Imagens: Courtesy of Blue Lagoon Iceland<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LUA CHEIA NA LAGOA AZUL<br />
O gigantesco spa termal Blue Lagoon, cuja água, rica uma sensação de hierarquia por meio do contraste gerado<br />
em minerais, é aquecida por vulcões, é uma das atrações pela iluminação pontual, cujos fachos foram precisamente<br />
mais visitadas da Islândia. Como parte do complexo, foi calculados para destacar pontualmente alguns elementos,<br />
inaugurado recentemente o hotel e spa The Retreat. O sem nunca iluminar diretamente os hóspedes – promovendo<br />
projeto arquitetônico do escritório Basalt Architects buscou uma espécie de “privacidade” por meio da ausência da luz.<br />
se integrar à paisagem local por meio de sua forma e dos A iluminação dos quartos teve como principal premissa<br />
materiais utilizados na construção.<br />
a abordagem centrada no ser humano, em decorrência da<br />
Da mesma maneira, a equipe do escritório islandês Liska, peculiaridade das condições de luz natural nessa latitude –<br />
sob comando do lighting designer Guðjón L. Sigurðsson, marcadas pelas claras noites de verão e pelos dias de inverno<br />
procurou promover a conexão dos hóspedes com a natureza escuros. Dessa forma, os hóspedes podem escolher dentre<br />
por meio da iluminação. Seu conceito buscou balancear diferentes cenas de iluminação (“relaxante”, “energética”,<br />
cuidadosamente os níveis de iluminância, de modo a prover “dia” e “noite”), com temperaturas de cor e intensidades<br />
o máximo de conforto, por meio do mínimo de luminosidade variáveis de acordo com cada opção.<br />
necessária para cada ambiente. Todas as luminárias estão Um aspecto intrigante da solução é a origem dessa luz:<br />
conectadas a sistemas de controle que permitem regular uma luminária circular embutida por trás do forro de tela<br />
suas intensidades luminosas de acordo com a presença da luz tensionada acústica, dando a impressão de que sua borda está<br />
natural, além de serem dotadas da tecnologia “warm dimming”, se dissolvendo. Chamada SoleLuna, a luminária foi desenvolvida<br />
que torna a temperatura de cor mais quente à medida que a especialmente para esse projeto com o objetivo de simular<br />
intensidade da luz diminui – da mesma forma que as lâmpadas as condições naturais da luz do sol e da lua (reproduzindo<br />
incandescentes e halógenas.<br />
até mesmo as manchas escuras observadas na superfície<br />
A maioria dos ambientes foi iluminada por meio de lunar). “Buscamos estabelecer uma conexão perfeita entre<br />
detalhes de iluminação indireta, rasante ou difusa, de os elementos de design, a natureza, a biologia humana e a<br />
maneira a revelar a essência dos materiais e suas texturas, arquitetura, de forma a criar espaços sublimes e experienciais,<br />
de acordo com o projeto de interiores do Design Group nos quais a iluminação e a arquitetura foram concebidas de<br />
Italia. Os lighting designers procuraram também introduzir maneira unificada”, declara a equipe do Liska. (D.T.)<br />
52 53
Imagens: Satoshi Shigeta<br />
¿QUÉ PASA?<br />
COMPRAS DO FUTURO<br />
A nova loja flagship da marca de moda de rua Hipanda<br />
em Tóquio, Japão, uniu os mundos analógico e digital para<br />
proporcionar, com a ajuda da luz e da iluminação, uma<br />
experiência de compras totalmente inovadora. O projeto<br />
desenvolvido pelo estúdio multidisciplinar Curiosity criou uma<br />
ambientação futurística para o espaço, com inspiração nos<br />
universos das artes, da moda, da tecnologia e da arquitetura,<br />
que também são as bases de criação dos produtos vendidos<br />
pela marca.<br />
Após serem recebidos, logo na entrada, por um telão<br />
com animações do panda “anfitrião”, os clientes chegam<br />
ao primeiro ambiente da loja, que é marcado pelos altos<br />
contrastes gerados pelos acabamentos na cor preta e pelas<br />
mesas expositoras espelhadas. Além da iluminação de<br />
destaque para os produtos, o espaço também é iluminado<br />
por meio de um sistema linear com desenho aparentemente<br />
“caótico”, cujas luzes, em tom branco frio, se movimentam<br />
de maneira independente, sem a necessidade do toque do<br />
consumidor. Em contraponto, o segundo maior espaço da<br />
loja apresenta acabamentos predominantemente brancos e<br />
iluminação totalmente indireta e uniforme. O ambiente sem<br />
sombras remete a um mundo virtual, quase que ausente<br />
de gravidade, sensação que é potencializada pelas paredes<br />
espelhadas, que confundem os limites do espaço.<br />
Em seu percurso pela loja, os clientes podem experimentar<br />
experiências interativas de realidade aumentada<br />
(AR) por meio de celulares e tablets. Como parte de seu<br />
projeto, os designers desenvolveram a “Ghost House”,<br />
composta de uma série de experiências virtuais em<br />
que os visitantes poderão interagir com o “anfitrião”<br />
enquanto conferem os produtos à venda. “Nosso desafio<br />
foi levar a moda de rua a novos territórios, rompendo<br />
barreiras de cultura, idade e gênero por meio de um<br />
espaço experimental, acessível e inspirador para todos,<br />
como se estivessem viajando pelo espaço. O mesmo sistema que redefine nossas expectativas quanto à experiência de<br />
funciona 54 como suporte para os cabides de roupas, que giram compra”, declaram os designers. (D.T.)<br />
55
Danica O Kus<br />
Mohamed Somji<br />
Roland Halbe<br />
Creative Family Shutterstockcom<br />
Chris Coulter<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LOUVRE DE ABU DHABI<br />
Vencedor do Lighting Design Awards na categoria<br />
Luz Natural, o projeto de BuroHappold Engineering para<br />
o Louvre de Abu Dhabi tem inspiração nos efeitos de luz<br />
natural característicos dos mercados típicos do Oriente<br />
Médio, com suas variações constantes e o fenômeno dos<br />
raios de sol se materializando ao incidir na poeira ou na<br />
umidade excessiva no ar.<br />
Com base nessa referência, a “chuva de luz” proporciona uma<br />
experiência característica de espaços externos nos ambientes<br />
internos do museu, que se inspira na arquitetura árabe e culmina<br />
em um telhado abobadado em que oito camadas de padrões<br />
geométricos abstratos permitem a passagem limitada da luz<br />
solar, cujos movimentos naturais transformam os espaços.<br />
O resultado só foi possível graças ao desenvolvimento do<br />
projeto com base em um modelo em escala 1 : 1, que permitiu<br />
a definição precisa da porosidade da cobertura, de forma a criar<br />
um elevado contraste com a incidência solar, maximizando<br />
a visualização dos raios. Posteriormente, a porosidade foi<br />
modulada para garantir o máximo aproveitamento da luz<br />
natural nas galerias e minimizar sua influência nas passagens<br />
externas em razão do conforto térmico. Também foram<br />
levadas em consideração as demandas e as normas referentes<br />
à conservação, com base em uma matriz que equacionou a<br />
contribuição de cada abertura para as superfícies destinadas a<br />
obras de arte.<br />
Nesse sentido, foi também intensa a colaboração com<br />
os designers de luz artificial – do escritório 8’18” – e os<br />
curadores do museu.<br />
As aberturas voltadas para o céu estabelecem uma<br />
conexão visual com o domo de cobertura. Por sua vez, as<br />
aberturas verticais, além de oferecer vistas para o mar –<br />
proporcionando momentos de pausa ao longo do percurso<br />
–, iluminam os espaços intersticiais, criando um efeito<br />
atrativo e, portanto, contribuindo para uma navegação<br />
intuitiva do projeto de arquitetura assinado pelo Atelier<br />
Jean Nouvel. (D.J.)<br />
56 57
Imagens: cepezed, Lucas van der Wee<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LUMINÁRIA URBANA<br />
Em março deste ano, foi inaugurada uma estação de<br />
ônibus autossuficiente na geração de energia elétrica, em<br />
Tilburg, Holanda. Criada pelo escritório de arquitetura<br />
cepezed com projeto luminotécnico do Atelier LEK, a<br />
construção tem como destaque a cobertura translúcida<br />
de ETFE (etileno tetrafluoretileno), que filtra a luz do sol<br />
durante o dia. À noite, o elemento se transforma em uma<br />
luminária que emite uma luz difusa e agradável.<br />
Toda a energia consumida pelo edifício é gerada por<br />
250 metros quadrados de painéis fotovoltaicos instalados<br />
sobre sua cobertura. Em balanço, sustentada por uma<br />
estrutura metálica esbelta, a cobertura parece flutuar<br />
O projeto luminotécnico com tecnologia LED privilegia<br />
a economia de energia elétrica e o conforto dos usuários<br />
da estação. A membrana de ETFE atua como um grande<br />
difusor, espalhando a luz.<br />
Sensores de movimento, instalados nas vigas metálicas<br />
a cada 14 metros, evitam o gasto desnecessário de energia,<br />
já que, na presença de pessoas ou dos ônibus, os níveis<br />
de luz são ajustados para alcançar a intensidade luminosa<br />
desejável à tarefa visual.<br />
A linguagem minimalista, livre de excessos, foi viabilizada<br />
por soluções como as colunas metálicas delgadas, que<br />
incorporam as instalações elétricas e pluviais, assim como<br />
sobre o espaço das plataformas de ônibus.<br />
as vigas. (V.F.)<br />
58 59
Imagens: Fernando Alda<br />
¿QUÉ PASA?<br />
CALABOUÇO REPAGINADO<br />
Parte do conjunto de palácios do Alcácer de Sevilha, na<br />
Espanha, o Palácio do Rei Pedro I – mais conhecido como<br />
Palácio Mudéjar – foi construído em 1364 sobre as ruínas<br />
das fortificações utilizadas como residências pela dinastia<br />
muçulmana abássida, destruídas durante a conquista de<br />
Sevilha pelos cristãos. Os resquícios da antiga fortaleza<br />
serviram de contenção para a construção das bases do<br />
palácio, em cujos porões abobadados de tijolos podem ser<br />
observados alguns traços daquela época.<br />
O setor subterrâneo foi objeto de uma reforma no<br />
século XVI, quando as aberturas existentes foram<br />
ampliadas, melhorando as condições de ventilação no<br />
espaço e permitindo uma conexão visual maior com<br />
os históricos jardins renascentistas que fazem parte<br />
do Alcácer. Após séculos sendo utilizado como área<br />
de serviço, o porão encontrava-se fechado há algumas<br />
décadas, até passar pela recente reforma conduzida pelo<br />
escritório espanhol Reina & Asociados, que o transformou<br />
em um espaço expositivo onde serão exibidas peças<br />
arqueológicas pertencentes à coleção do Alcácer.<br />
Considerado essencial para o entendimento da história da<br />
construção do palácio, o porão passou por uma restauração<br />
completa que manteve visíveis as camadas de tijolos do estilo<br />
mudéjar, de influência ibero-muçulmana. O espaço recebeu<br />
um novo piso de pedras naturais, que oculta as instalações e<br />
condiciona o local para a visitação do público. Os arquitetos<br />
optaram por criar uma lacuna em todo o perímetro do novo<br />
piso, mantendo visíveis resquícios do pavimento original e<br />
das pedras nas bases das paredes. Nesse vão foi instalado<br />
um sistema linear de iluminação indireta que ressalta,<br />
de maneira poética, as texturas originais e históricas da<br />
construção. A iluminação artificial é complementada pela<br />
luz natural abundante que entra através das aberturas, agora<br />
envidraçadas, feitas na reforma do século XVI. (D.T.)<br />
60 61
Hideaki Takahashi, Shiseido, teamLab (represented by Pace Gallery)<br />
Hideaki Takahashi, teamLab (represented by Pace Gallery)<br />
Hideaki Takahashi, Shiseido, teamLab (represented by Pace Gallery)<br />
Hideaki Takahashi, Shiseido, teamLab (represented by Pace Gallery)<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ECO<br />
A mais nova instalação do coletivo de design japonês<br />
teamLab, no Jewel Changi Airport, em Cingapura, dividese<br />
em duas partes: Resonating Trees, no jardim Topiary Walk;<br />
e Resonating Forest, exibida no Shiseido Forest Valley – o<br />
icônico átrio do aeroporto, que conta também com a mais alta<br />
cascata em áreas internas do mundo. Ambas as instalações<br />
iluminam individualmente as árvores dos jardins com luzes<br />
coloridas, influenciadas pela circulação dos visitantes. A<br />
presença de uma pessoa faz a iluminação da árvore mais<br />
próxima adquirir determinada cor, que ressoa pelas árvores<br />
vizinhas em diferentes tons, de acordo com a altura em que<br />
estão assentadas. De maneira muito sutil, a troca de cores<br />
é acompanhada de uma suave atenuação da luz, antes que<br />
volte a brilhar com intensidade total novamente, em sua nova<br />
tonalidade. É como se as árvores estivessem respirando.<br />
Uma mudança de cor originada do centro da floresta<br />
significa que há alguém passando por aquele local. Dessa<br />
forma, os artistas esperam que as pessoas se tornem mais<br />
conscientes da presença de outros indivíduos no mesmo<br />
espaço em que estão. (D.T.)<br />
62 63
Imagens: Speirs + Major<br />
4<br />
1<br />
5<br />
6<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TERCEIRA ERA DA LUZ<br />
2<br />
Third Age of Light é uma experiência única de realidade virtual,<br />
criada pelo escritório britânico Speirs + Major, que explora e<br />
discute a vivência dos espaços públicos noturnos de Londres em<br />
um futuro próximo 1 .<br />
Por meio de equipamento de realidade virtual, o visitante<br />
acessa três diferentes áreas icônicas de Londres: South Bank 2 ,<br />
com seu agito cultural; o hub de transportes de King’s Cross 3 e a<br />
zona de parques de Primrose Hill 4 .<br />
Em cada uma dessas zonas, em sua visualização do<br />
futuro, diferentes temas são abordados por meio de reflexões<br />
e especulações, buscando respostas a diversas questões<br />
acerca de atitudes e comportamentos sociais e da influência<br />
de novas tecnologias nas paisagens noturnas. Dentre os<br />
15 temas, destacam-se: meio ambiente, comunidades,<br />
redes 5 , mobilidade, energia 6 , trabalho, moda, bem-estar,<br />
comunicação e cultura.<br />
De forma sintética, a experiência noturna explorada no<br />
trabalho pode ser descrita como uma experiência focada e<br />
autônoma, ainda que variável e compartilhada; um mundo imerso<br />
em mídias e luz, mas onde a escuridão retoma um papel tangível.<br />
Essa Terceira Era da Luz sucede as eras anteriores, imaginada<br />
a partir de uma evolução da compreensão de nossas<br />
necessidades físicas, psicológicas, biológicas, sociais e<br />
econômicas. Na Primeira Era da Luz, eram utilizadas lanternas<br />
portáteis para criar iluminação; com tecnologia limitada,<br />
o brilho de luzes funcionais discretamente pontuavam a<br />
noite. Na Segunda Era da Luz, vimos o desenvolvimento<br />
de sistemas industriais de iluminação pública a gás e<br />
posteriormente a eletricidade, que resultaram em um uso da<br />
luz geralmente pouco cuidadoso e despreocupado, levando<br />
ao extenso desperdício de energia, à poluição luminosa, à<br />
superiluminação e ao desrespeito às qualidades da noite.<br />
Na Terceira Era da Luz, elevando novamente a luz artificial à<br />
categoria de preciosa commodity, não mais como recurso inequívoco<br />
e abundante, uma nova geração de técnicas e tecnologias surge<br />
como resposta a novas formas de extensão do dia.<br />
Após uma estreia bem-sucedida em Paris, França, em<br />
novembro de 2017, uma versão atualizada da experiência esteve<br />
instalada este ano na Royal Society of the Arts, em Londres,<br />
Reino Unido. (Diana Joels, concepDUAL)<br />
64 65<br />
3
Ao lado, croquis conceitual que expressa a<br />
intenção de que o pátio interno - ponto de<br />
encontro dos 3 edifícios e gasômetros - fosse o<br />
coração da composição luminosa. A partir do<br />
ponto mais luminoso do projeto, a luz se revela<br />
também na estrutura histórica.<br />
LUZ COESA E<br />
INTEGRADA<br />
EM MÚLTIPLAS<br />
ESCALAS<br />
Texto: Diana Joels<br />
Fotos: Peter Landers, James Newton e Speirs + Major<br />
Ilustrações: Spiers+Major<br />
Gasholders London é um projeto de edifícios de<br />
apartamentos circunscritos em um conjunto triplo<br />
das estruturas tombadas de antigos gasômetros na<br />
zona de King’s Cross, em Londres, Reino Unido. É, portanto,<br />
um projeto de arquitetura com características patrimoniais,<br />
inserido em contexto urbano marcado por uma recente<br />
renovação e um programa residencial privado. O projeto dos<br />
edifícios, do escritório Wilkinson Eyre Architects, finalizado em<br />
2018, expressa sensibilidade a todas essas esferas, por meio de<br />
uma arquitetura contemporânea em harmonia com sua moldura<br />
industrial histórica e seu entorno pulsante.<br />
O projeto de iluminação, desenvolvido pelo escritório britânico<br />
Speirs + Major – e premiado no FX Awards 2018 como Lighting<br />
Design of the Year; no LIT Awards 2019 na categoria Heritage<br />
Lighting; no Civic Trust Award 2019 e pelo IALD com o prêmio<br />
Award of Excellence –, dialoga com essa complexidade de forma<br />
potente, por meio de uma narrativa baseada em composições de luz<br />
e sombra que se integra harmonicamente à arquitetura, tanto em<br />
suas dimensões histórico-industriais quanto nas privado-residenciais.<br />
66 67
As colunas foram iluminadas<br />
por luminárias customizadas,<br />
com mínimo impacto físico<br />
e visual. Em cada uma delas,<br />
foram especificadas nove<br />
fontes de luz com diferentes<br />
ópticas, de forma a conseguir<br />
um controle preciso da luz,<br />
tanto para a iluminação<br />
desejada nas colunas quanto<br />
para evitar emissão de luz<br />
residual. As colunas do pátio<br />
interno (imagem abaixo)<br />
são iluminadas em toda a<br />
circunferência. As das fachadas<br />
não recebem luz na porção<br />
interna, evitando contaminação<br />
nos apartamentos.<br />
Impossível falar desse projeto sem mencionar seu contexto.<br />
A zona de King’s Cross, ao norte da estação de mesmo nome,<br />
destaca-se por uma renovação recente, com a construção e a<br />
restauração de edifícios para usos diversos, em uma antiga zona<br />
industrial. Seu plano diretor de iluminação foi desenvolvido também<br />
por Speirs + Major, em 2007, assim como diversos outros projetos<br />
de destaque na região.<br />
De acordo com Mark Major, essa situação é muito especial,<br />
pois, ao desenvolver um plano diretor, um arquiteto ou um lighting<br />
designer não pode ter expectativas concretas em relação aos<br />
projetos específicos que serão desenvolvidos posteriormente por<br />
diferentes profissionais dentro daquela zona. No entanto, nesse<br />
caso, seu escritório teve a oportunidade de desenvolver projetos<br />
dentro do marco de um plano diretor também desenvolvido por eles.<br />
No caso dos edifícios dos Gasholders, Mark menciona que<br />
a composição da luz foi uma oportunidade muito interessante<br />
dentro do sítio de King’s Cross de unificar diversos fatores<br />
cruciais naquela área: o aspecto da memória e o do registro<br />
histórico-industrial, em relação ao qual, desde o plano diretor,<br />
já estava definida a diretriz de não iluminar os edifícios novos,<br />
mas enfatizar as características patrimoniais das estruturas<br />
preexistentes. Também o aspecto simbólico, a partir da forma<br />
emblemática da estrutura, configura-se como um marco de<br />
referência na imagem urbana. Dessa forma, já estava definida<br />
uma intenção muito enraizada de ênfase às estruturas dos<br />
antigos gasômetros.<br />
Particularmente, a estrutura que circunscreve os edifícios<br />
residenciais acabou por receber um tratamento de cor clara na<br />
composição arquitetônica em contraposição à estrutura de um<br />
quarto gasômetro justo ao lado, o qual envolve o Gasholder<br />
Park – também projeto de S+M, finalizado em 2015. No caso do<br />
parque, a estrutura é preta e conduziu a um conceito de iluminação<br />
que a trata como um remanescente, um fantasma, expresso em<br />
uma composição muito mais poética e romântica do que a do<br />
vizinho residencial. Na visão de Mark, a postura do projeto<br />
de iluminação, em ambos os casos, é de enfatizar e reforçar a<br />
mensagem existente, intrínseca à arquitetura, com sua força<br />
própria. No caso do parque, a paisagem e o vazio são envoltos na<br />
escuridão, vistos em silhueta; no caso dos edifícios, na moldura<br />
histórica, para o uso residencial contemporâneo.<br />
Nesse sentido, é bastante intrigante como a imagem<br />
exterior do projeto consegue um resultado harmônico<br />
entre a iluminação da estrutura e a iluminação interna dos<br />
apartamentos, visível através das cortinas e das janelas.<br />
Mark destaca que a multiplicidade de soluções, inerente<br />
ao fato de serem unidades residenciais, é positivo, criando<br />
uma colagem – uma imagem abstrata – estabilizada pela luz<br />
da moldura, íntegra e legível. Por se tratar de um edifício<br />
residencial, não foram propostas diretrizes para iluminação<br />
dos espaços privados. No sentido inverso, a iluminação da<br />
estrutura foi cuidadosamente projetada para não ocasionar<br />
contaminação nos espaços interiores.<br />
Nas colunas das fachadas, a luz ocorre apenas na porção<br />
voltada para o exterior, evitando sua penetração nos apartamentos;<br />
já no pátio interno do edifício, uma área comum, as colunas<br />
recebem iluminação em toda a circunferência.<br />
68 69
Nos pátios internos dos edifícios, a luz integrada nas sancas, ilumina as paredes com um sistema de branco dinâmico, equalizando<br />
a luz artificial e à influência da luz natural, variando de 4.000 K durante o dia, a 2.700 K durante a noite. Tanto nas ilustrações<br />
(na página ao lado, embaixo), quanto nas fotos, fica evidente como o espaço se transforma em relação à incidência da luz nas<br />
superfícies verticais.<br />
O pátio apresenta importância peculiar para o projeto como<br />
um todo, pois é o ponto de contato entre os três edifícios. É visível<br />
desde o exterior, através de vazios, e possui um espelho-d’água<br />
e um paisagismo que criam um ambiente único, tratado pelo<br />
projeto de iluminação como o coração da composição, tornandose<br />
o ponto mais iluminado, por meio da iluminação da estrutura<br />
metálica. Todas as superfícies verticais circundantes não são<br />
iluminadas para criar contraste, dando ênfase à estrutura no<br />
centro da composição.<br />
Em se tratando da iluminação da estrutura, o escritório<br />
enfrentou o clássico desafio de instalar equipamentos em<br />
estruturas históricas e sua demanda por mínima intervenção<br />
e discrição estética. A solução, muito engenhosa, resultou em<br />
peças sob medida, com um sistema de fixação imantado, em<br />
que nove fontes luminosas com diferentes ópticas produzem o<br />
efeito de luz desejado.<br />
Se a iluminação exterior se baseia na ênfase na estrutura<br />
metálica, nos espaços internos das áreas comuns, a luz – também<br />
majoritariamente oriunda de fontes integradas – se aplica<br />
basicamente às superfícies verticais, de forma a criar ambientes<br />
envolventes e conduzir o olhar para as enormes claraboias, que<br />
permitem a entrada da enorme quantidade de luz natural. Para<br />
sua harmonização com a iluminação artificial de cor quente – em<br />
coerência com a natureza residencial do projeto e seus materiais<br />
–, optou-se pela utilização de um sistema de branco dinâmico. A<br />
intensidade de luz artificial mantém-se praticamente a mesma<br />
ao longo do tempo, mas sua cor se adapta à luz natural.<br />
Nas horas em que não há influência da luz do dia, a luz atinge<br />
sua calidez máxima, proporcionada tanto pela luz indireta das<br />
sancas quanto pela luz difusa de luminárias posicionadas ao lado<br />
das portas de acesso aos apartamentos e também nos jardins<br />
dos pátios internos.<br />
70 71
As mesmas luminárias customizadas que aparecem nos pátios internos, e utilizam o vidro e o cobre para produzir uma luz muito<br />
quente e difusa, podem ser vistas no terraço, que, propositalmente, tem baixo nível de luz, coerente com a atmosfera residencial,<br />
e que permite desfrutar as vistas.<br />
Na imagem do meio, uma visão externa do projeto tendo ao lado o Gasholder Park, com sua estrutura preta iluminada em silhueta<br />
com temperatura de cor neutra, que se contrapõe à iluminação frontal de destaque com temperatura de cor morna da estrutura de<br />
cor clara do projeto residencial. À direita, imagem do pátio interno, com a estrutura intensamente revelada pela iluminação. Abaixo,<br />
detalhe da luminária customizada no terraço.<br />
Mark Major menciona que nesse ambiente lhe parece<br />
importante que o morador, ao sair de casa e ao voltar para casa,<br />
experimente sensações diferentes. Obviamente, a luz do dia<br />
criaria essa variação naturalmente. O que impressiona nesse<br />
projeto é como a luz artificial equaliza e trabalha, criando um<br />
senso de espacialidade diferente nessas duas oportunidades:<br />
com a luz natural e sem a luz natural. No primeiro caso, o<br />
vazio é percebido pela incidência da luz natural nos planos<br />
verticais dos guarda-corpos; no segundo, pela dominância da<br />
luz artificial, transferindo a verticalidade para os planos das<br />
paredes e ampliando a sensação espacial.<br />
As luminárias cilíndricas são os elementos de luz visíveis na<br />
composição do projeto e imprimem uma qualidade para o espaço<br />
que se relaciona com sua característica doméstica, ao mesmo<br />
tempo que proporcionam uma luz cujas propriedades remetem<br />
ao gás, dois aspectos simbólicos relevantes para a criação desse<br />
ambiente residencial.<br />
Esses elementos se repetem no terraço, onde a atmosfera<br />
residencial coexiste com a estrutura histórica iluminada. Não<br />
por acaso, Benz Roos – um dos lighting designers responsáveis<br />
pelo projeto – menciona a questão da escala como central no<br />
processo e para o resultado. É realmente impressionante como<br />
o projeto produz um resultado coeso, orquestrando muito bem a<br />
grandiosidade das fachadas e o intimismo dos espaços comuns<br />
interiores. E é também na cobertura que essas duas escalas<br />
coexistem, em um ambiente em que a pouca luz permite que se<br />
admire a vista de King’s Cross e de Londres.<br />
Essas duas escalas também falam das múltiplas experiências<br />
do observador-usuário dos espaços: da urbana à residencial. Para<br />
Roos, essa qualidade nesse projeto retrata uma das principais<br />
características do trabalho realizado por S+M: a consideração<br />
pela escala humana.<br />
Mark Major entende que esse é um dos melhores projetos<br />
realizados por seu escritório recentemente e menciona a<br />
colaboração com os arquitetos como elemento-chave para o<br />
sucesso do projeto, resultando em uma integração da luz que<br />
potencializa a arquitetura.<br />
Particularmente, diz que é um daqueles projetos cujo<br />
resultado superou suas expectativas também em relação à<br />
dificuldade de pré-visualizar toda a composição em um espaço<br />
tão complexo. Vale destacar que toda essa complexidade foi<br />
tratada por um projeto que prima pela orquestração de poucos<br />
elementos, em uma narrativa cujo conjunto proporciona resultado<br />
extremamente potente.<br />
GASHOLDERS LONDON<br />
Londres, Inglaterra<br />
Projeto de iluminação:<br />
Speirs + Major<br />
Mark Major (titular)<br />
Andrew Howis (in memoriam)<br />
e Benz Roos Neville de Sa<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Wilkinson Eyre Architects<br />
Projeto de paisagismo:<br />
Dan Pearson<br />
Cliente:<br />
King's Cross Central Limited Partnership<br />
Fornecedores:<br />
ACDC lighting, Architainment,<br />
Mike Stoane Lighting e Optelma<br />
72 73
O projeto de interiores previu para o<br />
teto da recepção do Hotel Four Seasons<br />
um desenho concêntrico de pequenas<br />
esferas transparentes luminosas sobre<br />
um teto escuro e brilhante. Isso foi obtido<br />
com muita engenhosidade, por meio da<br />
utilização de uma tela tensionada de<br />
acabamento preto brilhante como fundo,<br />
perfurada por fibras ópticas que iluminam<br />
individualmente as esferas de vidro. O<br />
resultado, instigante, atende muito bem à<br />
desejada ideia de “boas-vindas”.<br />
EXUBERÂNCIA<br />
BRASILEIRA<br />
Texto: Gilberto Franco | Fotos: Filippo Bamberghi, Daniel Ducci<br />
Em setembro de 2018, foi inaugurado, em São Paulo, o<br />
primeiro hotel Four Seasons do Brasil. A torre, em dois<br />
volumes, abriga embaixo o hotel e acima uma área de<br />
residências privadas, operadas pela mesma rede.<br />
Foi premissa do projeto que todos os acabamentos, materiais,<br />
tecnologia e objetos deveriam ser nacionais, “resultando numa<br />
grande oportunidade de pesquisa”, explica Ana Karina Camasmie,<br />
titular do escritório Foco Luz & Desenho, encarregado do projeto<br />
de iluminação do Four Seasons Residence e do hotel. O projeto<br />
foi norteado pelos conceitos iniciais do escritório estadunidense<br />
Lang Lighting. Fornecedores e fabricantes brasileiros tiveram de<br />
oferecer e desenvolver o melhor de sua tecnologia e seu design<br />
para atender aos rigorosos padrões da operadora, durante quatro<br />
anos de projeto e desenvolvimento de mock-ups.<br />
<strong>74</strong> 75
Acima e à direita, painéis de tecido dourado com iluminação indireta, complementados pela luz das cortinas, emprestam iluminação<br />
difusa ao ambiente do lobby e bar Caju. A iluminação nas garrafas cria o ponto focal da cena, complementada por abajures sobre o<br />
tampo do bar e downlights no teto escuro, tudo ajustado e automatizado.<br />
Abaixo, à direita, o restaurante, cuja iluminação foi cuidadosamente programada com diferentes cenas e intensidades, para atender<br />
aos diversos horários de funcionamento, desde o café da manhã até jantares tardios.<br />
LOBBY, BAR E RESTAURANTE<br />
Ao entrar, encontramos um ambiente alto e longilíneo, tendo<br />
à direita a recepção (falaremos dela posteriormente), um estar à<br />
esquerda e o bar Caju SP à frente. Ao final, uma escada helicoidal<br />
atua como ponto focal. Os acabamentos são escuros e brilhantes,<br />
exceto por uma lateral de painéis de tecido dourado, com delicada<br />
luz indireta, contraposta a cortinas do lado oposto, também<br />
iluminadas, conjunto que proporciona conforto visual ao espaço.<br />
Downlights de facho controlado complementam a iluminação.<br />
Obras de arte, sujeitas a constante renovação pela curadoria,<br />
receberam luminárias de fachos intercambiáveis.<br />
O restaurante Neto, aberto de dia, à noite, e na madrugada,<br />
exigiu diferentes cenários luminosos, alterando a luz em intensidade<br />
e difusão, conforme o “mood” desejado. Até mesmo a cozinha,<br />
aberta ao ambiente, participou da programação.<br />
76 77
ESCADA ESCULTÓRICA, CONVENÇÕES<br />
Ao final do lobby, chega-se à escada helicoidal, cujo destaque<br />
se dá por projetores embutidos no piso, complementados<br />
por iluminação na lateral dos degraus, convidando os<br />
hóspedes a entrar. No teto, três pendentes, compostos de<br />
diversos cilindros de cobre, conferem forte referência simbólica<br />
ao local, além de contribuir com a iluminação.<br />
No foyer do ballroom (piso superior), um painel de azulejos,<br />
iluminado por fachos assimétricos, traz caráter ao local. No<br />
ballroom, cúpulas retangulares, distribuídas aleatoriamente,<br />
dão vida ao espaço e escondem luminárias embutidas no forro<br />
para iluminação direta. Uma malha regular de sancas esconde<br />
grelhas de ar-condicionado e o sistema de iluminação indireta.<br />
Acima, a escada escultórica, que liga o térreo<br />
ao mezanino, iluminada por três conjunto<br />
de pendentes cilíndricos, complementados<br />
por um nicho luminoso com fitas de LED que<br />
acompanha os degraus, convidando o hóspede<br />
a percorrê-la.<br />
À direita, acima, no foyer do ballroom, situado<br />
no piso superior, um painel de azulejos é<br />
iluminado por luminárias de facho assimétrico,<br />
desenvolvidas especialmente para a aplicação.<br />
Abaixo, a iluminação direta do ballroom,<br />
feita por meio de downlights, é suavizada<br />
por “cortinas” de pingentes translúcidos que<br />
ocultam a visualização direta dos equipamentos<br />
e emprestam difusão ao ambiente.<br />
Originalmente os pingentes deveriam ser de<br />
vidro, mas as lighting designers optaram por<br />
executá-los em resina tingida e fosqueada, com<br />
excelente resultado.<br />
78 79
Originalmente a decoração dos quartos previa abajures pretos nas camas e cor crua nos pedestais, mas o projeto de iluminação<br />
optou pela inversão desses acabamentos , de modo a equilibrar os brilhos de forma mais convidativa.<br />
À direita acima, volumes cilíndricos que avançam sobre a área da piscina receberam sutil iluminação em degradé através de sancas.<br />
Abaixo, na recepção do spa, uma “chuva” de luz rasante ilumina o painel temático de madeira.<br />
Dois abajures retangulares fazem a iluminação de trabalho e emolduram o ambiente.<br />
QUARTOS<br />
Para dinamizar a luminosidade do ambiente sem prejudicar<br />
as funções, foram escolhidos abajures de cúpula crua para<br />
junto das camas e preta para o pedestal de leitura.<br />
Os banheiros, transparentes, receberam iluminação direta<br />
e antiofuscante, de modo a minimizar interferências. Um<br />
pendente difuso garante boa iluminação defronte ao espelho.<br />
SPA / FITNESS CENTER<br />
Logo na recepção do spa, fachos concentrados iluminam<br />
um painel com uma composição de “bananas” feitas de<br />
madeira escura, provocando brilhos em seus contornos.<br />
Dois abajures emolduram o balcão defronte.<br />
Na piscina, volumes cilíndricos recebem sutil<br />
iluminação em seus capitéis, complementada por luz<br />
geral indireta.<br />
A DANÇA DAS COMPETÊNCIAS<br />
O interesse do cliente no uso de materiais e tecnologia<br />
locais, aliado a rigorosos parâmetros de conforto e qualidade<br />
da luz, alavancou um grande esforço de pesquisa, devolvendo<br />
um resultado em que técnica e criatividade se permeiam<br />
mutuamente, alegrando os olhos do visitante.<br />
FOUR SEASONS HOTEL<br />
São Paulo, Brasil<br />
Projeto de iluminação:<br />
Concepção inicial:<br />
Lang Lighting (Estados Unidos)<br />
Projeto de iluminação:<br />
Foco Luz & Desenho (Brasil)<br />
Junia Azenha e Ana Karina Camasmie (arquitetas titulares)<br />
Adriana Leite (arquiteta colaboradora)<br />
Esther Stiller (arquiteta consultora)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Concepção inicial:<br />
HKS Architects (Estados Unidos)<br />
Desenvolvimento do projeto:<br />
Aflalo e Gasperini (Brasil)<br />
Projeto de interiores:<br />
BAMO (Estados Unidos)<br />
EDG (Estados Unidos)<br />
Projeto de paisagismo:<br />
Sérgio Santana Planejamento e Desenho da Paisagem (Brasil)<br />
Cliente:<br />
Iron House/Four Seasons<br />
Fornecedores:<br />
FASA Fibra Ótica, La Luminarias, Lumini, Lutron (Steluti) e<br />
Tensoflex<br />
80 81
O BRILHO DA ROSA DO DESERTO<br />
Vista diurna do Museu Nacional do Catar, inspirado na forma e na estrutura de uma rosa do deserto, ao mesmo tempo que reflete<br />
a história do país. Segundo Jean Nouvel, “conta a história da península e de seus habitantes; apresenta os estilos de vida costeiros<br />
e desérticos, bem como da indústria de pérolas; abrange a aceleração espetacular que deu ao reino, em apenas algumas décadas,<br />
o poder e a prosperidade com que associamos o Catar hoje.”<br />
Texto: Mariana Novaes | Fotos: Danica O. Kus<br />
Inaugurado em março deste ano, o Museu Nacional do Catar,<br />
projeto do Ateliers Jean Nouvel, teve sua arquitetura inspirada<br />
nas formas de uma rosa do deserto – estrutura cristalina<br />
formada por areia, água salgada e vento que ocorre naturalmente<br />
na região. Sua principal característica é a justaposição de grandes<br />
discos convexos, interseções e lajes em balanço.<br />
Seus interiores apresentam aos visitantes, em quase 3 qui lômetros<br />
de percurso, mais de 700 milhões de anos de história<br />
natural e cultural da região do Golfo Pérsico. Volumes de grande<br />
expressão emergem, com sequências de ambientes com pésdireitos<br />
variados, algumas vezes evocando a intimidade de<br />
tendas nômades, e outras, a vastidão do firmamento. A luz<br />
82 83
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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
do dia penetra através de vãos em locais cuidadosamente<br />
selecionados para filtrar a intensa insolação, a fim de cumprir<br />
as diretrizes de conservação dos objetos expostos.<br />
A qualidade, a sequência e a apresentação das exposições<br />
criam temas em constante mudança e envolvem todos os<br />
sentidos dos visitantes, que são praticamente absorvidos<br />
pela abundância de impressões. A exposição é caracterizada<br />
por uma sequência de artefatos, modelos e reproduções em<br />
uma variedade de vitrines, complementada por projeções<br />
de vídeo e exibição de obras. A iluminação desempenha um<br />
papel sutil, mas significativo no espaço. Assim, o visitante se<br />
move entre campos visuais que mal se sobrepõem.<br />
O conceito do projeto de iluminação teve de levar em<br />
conta essa progressão espacial de campos visuais expositivos,<br />
exigindo uma forte orquestração entre as exposições e os<br />
espaços. Por essa razão, foram consideradas duas camadas de luz<br />
como solução: a primeira com uma iluminação geral, fornecida<br />
por luminárias ajustáveis e com controle de antiofuscamento<br />
posicionadas no forro; e a segunda com uma iluminação de<br />
destaque, enfatizando os expositores por meio de pequenas<br />
luminárias neles integradas, praticamente invisíveis.<br />
As amplas geometrias espaciais e as proporções diversas da<br />
exposição exigiam diferentes características fotométricas para as<br />
luminárias embutidas ajustáveis. Foram utilizados três ângulos<br />
diferentes de abertura de facho – fechado, médio e aberto –,<br />
combinados com acessórios ópticos onde e quando necessários.<br />
Estes incluem lentes esculturais para distribuição de luz elíptica<br />
perto de paredes e grelhas honeycomb para grandes inclinações do<br />
forro. Com cuidadoso controle antiofuscamento, o brilho das fontes<br />
luminosas das luminárias dificilmente é visível em perspectiva.<br />
Uma particularidade do projeto é a capacidade de ajuste das<br />
luminárias por controle remoto. O equipamento é comandado<br />
por sinal infravermelho, podendo ser orientado em mais ou<br />
menos 35° e rotacionado em aproximadamente 175°. Isso não<br />
só permite uma correção da cenografia de luz se as exposições<br />
forem trocadas, mas, principalmente, fornece uma enorme<br />
A temperatura de cor 3.000K foi usada em<br />
todo o museu. Na página à esquerda, as<br />
fontes de luz foram instaladas respeitando<br />
uma distância específica das telas de projeção<br />
para não diminuir o efeito das imagens. Os<br />
expositores recebem iluminação de destaque<br />
proveniente das luminárias embutidas no forro.<br />
Acima à direita, objetos do cotidiano utilizados<br />
para o transporte em camelos também são<br />
destacados por luminárias embutidas no<br />
forro. Abaixo à direita, artefatos cerâmicos<br />
são dispostos verticalmente na vitrine e<br />
destacados por mini projetores integrados ao<br />
forro. Projeções e objetos são apresentados<br />
harmonicamente, em igual importância visual.<br />
84 85
Ao lado, à esquerda, a vitrine de<br />
vidro é destacada por luminárias<br />
integradas no forro. Na imagem<br />
do meio, uma das vitrines do reino<br />
subaquático do habitat marinho,<br />
também com iluminação integrada<br />
e na cor azul como referência<br />
ao fundo do mar. Abaixo, uma<br />
projeção desenvolvida pelo<br />
consultor multimídia Ducks em que<br />
as criaturas marinhas em tamanho<br />
original “mergulham na água do<br />
mar”, que é suavemente ondulada<br />
e infundida pela luz do sol, como<br />
se estivessem sendo vistas por<br />
mergulhadores. Os projetores<br />
ficam invisíveis ao observador.<br />
A iluminação destaca a expografia<br />
com precisão, sem perturbar o<br />
efeito da projeção.<br />
Em alguns espaços, as vitrines se tornam grandes estantes em que a representação de animais de vários tamanhos coexistem<br />
em compartimentos modulares. A iluminação é sempre integrada e modular: um perfil acomoda a passagem de cabos e<br />
também miniprojetores e perfis lineares, os quais foram distribuídos de acordo com os objetos expostos.<br />
simplificação do processo de focalização. Como resultado, essa<br />
solução por controle remoto oferece um ajuste sofisticado,<br />
sem complicações, abrangendo todos os tipos de exposição.<br />
As vitrines expositoras do Museu Nacional do Catar são<br />
tão diversas quanto os próprios espaços expositivos. Algumas<br />
salas se transformam em instalações, outras configurações<br />
as integram com paredes e pisos ou se transformam em<br />
grandes mostruários que abrigam uma infinidade de objetos<br />
e artefatos de tamanhos diferentes.<br />
Para cada tipologia de vitrine, foi desenvolvida uma solução<br />
de iluminação cuidadosamente adaptada a sua localização<br />
e seu conteúdo. Os equipamentos de iluminação dentro<br />
delas são modulares: um perfil acomoda o cabeamento, os<br />
projetores em miniatura e as luminárias lineares. Outras<br />
configurações envolvem luminárias que se conectam mecânica<br />
e eletricamente a um trilho por meio de ímãs. Enquanto as<br />
caixas de vidro, posicionadas livremente, são iluminadas<br />
apenas por luminárias ajustáveis embutidas no forro, todos<br />
os displays que formam uma interface com a arquitetura,<br />
como tetos, pisos ou paredes, contêm fontes de luz ocultas.<br />
Cada solução de iluminação é, portanto, cuidadosamente<br />
adaptada a sua localização e seu conteúdo.<br />
A relação finamente sintonizada de todos os componentes<br />
lumínicos, como a esparsa – mas modeladora – luz natural,<br />
a iluminação de destaque em conjunto com a iluminação<br />
diferenciada das vitrines e as projeções multimídia criam<br />
uma sequência sensorial que tocam o visitante durante todo<br />
o seu percurso.<br />
MUSEU NACIONAL DO CATAR<br />
Doha, Catar<br />
Projeto de iluminação:<br />
Licht Kunst Licht<br />
Martina Weiss e Stephanie Grosse-Brockhoff<br />
(designers titulares)<br />
Laura Sudbrock e Daniela Torres Toledo<br />
(designers colaboradores)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Ateliers Jean Nouvel (França)<br />
Philippe Charpiot e Nikola Radovanovic<br />
(arquitetos coordenadores)<br />
Projeto de arquitetura local:<br />
QDC – Qatar Design Consortium (Catar)<br />
Projeto de museografia:<br />
Renaud Pierard Studio (França)<br />
Exposições especiais:<br />
Art+Com (Alemanha)<br />
Opera (Holanda)<br />
Cenografia de mídia:<br />
Ducks Scéno (França)<br />
Cliente:<br />
Qatar Museums Authority<br />
Fornecedores:<br />
Corporate friends, iGuzzini,<br />
RCL Remote Controlled Lighting e XAL<br />
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O restaurante Giuseppe Grill teve<br />
seus interiores revistos por meio<br />
de um novo conceito de de iluminação,<br />
com o desenvolvimento de detalhes<br />
construtivos e cores novas no forro.<br />
Todos com projeto do escritório<br />
carioca LD Studio.<br />
SOB A LUZ<br />
Texto: Orlando Marques | Fotos: André Nazareth<br />
"A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes<br />
reunidos sob a luz. Nossos olhos são feitos para ver formas sob a<br />
luz; as sombras e os claros revelam as formas...”<br />
Le Corbusier. Por uma Arquitetura, 1923.<br />
Nos últimos dez anos, a profissão de arquitetura de<br />
iluminação tem passado por mudanças significativas.<br />
A começar pela revolução da tecnologia das fontes<br />
luminosas e de controle da luz, ferramentas indispensáveis para<br />
o exercício da profissão, passando pelos avanços nas pesquisas<br />
sobre luz, bem-estar e saúde e, consequentemente, na rotina<br />
projetual e de negócios do profissional de projetos de iluminação.<br />
Escritórios pioneiros na profissão, no Brasil e no exterior, vêm<br />
discutindo incansavelmente os rumos da profissão em conferências,<br />
encontros e associações profissionais de iluminação.<br />
Não alheios a esse movimento, os arquitetos do escritório<br />
carioca LD Studio vêm desenvolvendo estratégias para responder<br />
a esse novo cenário de maneira criativa e profissional. Em 2017,<br />
iniciaram um abrangente e detalhado processo interno, batizado<br />
de “O Pulo”. Esse trabalho tem o propósito de transcender a prática<br />
profissional e aumentar os níveis de felicidade de todos os envolvidos<br />
nos projetos – desde os próprios profissionais do escritório, até<br />
clientes e fornecedores, e, com isso, evidenciar a relevância da luz<br />
e da iluminação no ambiente construído.<br />
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OBRA DE ARTE<br />
PASSE-PARTOUT<br />
PAINEL DE MDF<br />
FONTE LUMINOSA<br />
REVESTIMENTO PINTADO<br />
NA COR FENDI<br />
FOLHEADO<br />
DE MADEIRA<br />
PRATELEIRA<br />
EXISTENTE<br />
FUNDO CÔNCAVO<br />
REVESTIDO E<br />
PINTADO NA<br />
COR FENDI<br />
PAREDE DE TIJOLO<br />
CORTE<br />
Acima, à esquerda, detalhe construtivo das molduras dos quadros, com iluminação integrada desenvolvido pelo LD Studio.<br />
Ao lado, as obras de arte, ponto focal importante no conceito do projeto, foram iluminadas de duas maneiras: por meio de sistema linear<br />
escondido na moldura de madeira e frontalmente, por meio de luminárias embutidas no forro, para lâmpada AR 111 LED, 12 W, 12°.<br />
As imagens mostram o<br />
restaurante antes e depois<br />
da intervenção do novo<br />
projeto do LD Studio.<br />
É possível notar a diferença<br />
entre o ambiente com ponto<br />
focal definido e o ambiente<br />
antes do novo projeto, com<br />
iluminação mais uniforme.<br />
Ao longo desses dois anos, Marcelo Torres, restarateur carioca,<br />
vem experimentando os novos processos do LD Studio, por meio<br />
de uma série bem-sucedida de projetos realizados juntos. No ano<br />
passado, o empresário confiou nesse novo olhar do escritório e o<br />
contratou para rever os interiores da casa de carnes Giuseppe Grill<br />
Leblon, no Rio de Janeiro, unicamente por meio de um novo projeto<br />
de iluminação, o qual deveria se sobrepor ou se ajustar ao projeto<br />
original, também realizado pelo LD Studio em 2007.<br />
O projeto teve como briefing “criar uma atmosfera sofisticada<br />
e madura, que refletisse, não só esse novo olhar, mas também<br />
acabamentos e materiais dos espaços”. O briefing transcendeu o<br />
escopo inicial e, além do projeto de iluminação, coube ao estúdio<br />
definir acabamentos e detalhes construtivos.<br />
Durante o processo de análise para a criação do novo conceito,<br />
foi identificada uma série de atributos próprios do Giuseppe Grill.<br />
Dois deles se destacaram pelo caráter formal: a arte gastronômica<br />
do restaurante e seu vasto acervo de obras de arte dedicado à<br />
temática da tauromaquia, com trabalho de artistas contemporâneos<br />
brasileiros como Anna Bella Geiger, Daniel Senise, Flavio-Shiró,<br />
Luiz Áquila, Nelson Felix, Piti Tomé, Rubem Grilo, entre outros.<br />
Assim, acentuar esses atributos tornou-se a principal abordagem<br />
conceitual do projeto.<br />
Com a intenção de formar um ambiente contrastado entre<br />
“sombras e claros”, elaboraram-se dois conjuntos de pontos focais:<br />
o de destaque da coleção de obras arte e o da gastronomia,<br />
representado pelo destaque das mesas e das áreas de preparo de<br />
comidas e de bebidas. O conceito foi reforçado pela pintura do forro<br />
dos pés-direitos mais altos e da coluna em tom de cinza-escuro, com<br />
o intuito de acentuar a percepção de contrastes entre os ambientes.<br />
As obras de arte foram iluminadas individualmente por meio<br />
de um engenhoso sistema de iluminação indireta e suave. Foram<br />
criadas molduras de madeira, projetadas para esconder uma fonte<br />
luminosa linear difusa, iluminando o que representa o passe-partout<br />
do quadro. Dessa forma, as obras são rodeadas por um halo luminoso<br />
que parece fazê-las flutuar no espaço, ampliando seu universo<br />
pictórico. Além disso, cada trabalho é iluminado frontalmente por<br />
fachos definidos de luz, provenientes de luminárias embutidas no<br />
forro. Essa solução motivou o cliente a renovar as obras expostas<br />
e, desde a reabertura do restaurante, apresenta uma nova coleção<br />
de trabalhos de cartunistas brasileiros.<br />
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À esquerda, durante<br />
o dia, a iluminação<br />
do restaurante é<br />
difusa, intensa e mais<br />
homogênea.<br />
À noite, ao dimerizar<br />
a claraboia, nascem<br />
pontos luminosos<br />
em seu firmamento.<br />
O contraste entre<br />
sombras e claros<br />
é acentuado pela<br />
criação de pontos<br />
focais nas obras de<br />
arte, nas mesas e nas<br />
áreas de preparo de<br />
comidas e bebidas.<br />
À direita, o ambiente<br />
mais reservado do<br />
salão é uma síntese<br />
do projeto: obra de<br />
arte emoldurada e<br />
acentuada pela luz,<br />
mesas destacadas<br />
por fachos precisos,<br />
forro pintado de<br />
cinza-escuro para<br />
reforçar o contraste<br />
das luminosidades e<br />
claraboia com efeito<br />
de luz de acordo com<br />
o período do dia ou<br />
da noite.<br />
A gastronomia do restaurante, outro importante atributo do<br />
lugar, é destacada por meio da iluminação individual das mesas. Já<br />
as áreas para preparo de comidas e bebidas, como o bar, a cozinha e<br />
a padaria, receberam iluminação por meio de luminárias decorativas,<br />
algumas mantidas do projeto original, outras atualizadas.<br />
Também reaproveitados do projeto original, grandes planos<br />
luminosos horizontais junto ao forro – grandes claraboias – definem<br />
dois ambientes do restaurante: a adega e a área de mesas mais<br />
reservadas do salão. Durante o dia, os planos luminosos são uniformes<br />
e intensos. À noite, a imagem criada nesses planos adquire vocação<br />
artística: a luz uniforme é dimerizada, e pontos luminosos difusos,<br />
distribuídos aleatoriamente, despontam em seus firmamentos,<br />
formando um universo particular com forte apelo autoral.<br />
No processo projetual do ambiente construído, o projeto de<br />
iluminação é frequentemente designado como complementar ao<br />
projeto de arquitetura. No caso do Giuseppe Grill Leblon, reformado<br />
pela construção da luz, o projeto de iluminação passa a ser uma<br />
espécie de céu, reunindo sob ele o mundo todo.<br />
GIUSEPPE GRILL<br />
Rio de Janeiro, Brasil<br />
Projeto de iluminação:<br />
LD Studio<br />
Ana Paula de C. Laronga, Danielle Vale,<br />
Gabriel Aracri e Mônica Luz Lobo<br />
Cliente:<br />
Marcelo Torres<br />
Giuseppe Grill<br />
Fornecedores:<br />
A+Larong Iluminação, Ecklart, LEDPlus,<br />
Lumicenter, Stella e O/M<br />
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Nesta página, a área<br />
do café foi iluminada<br />
por meio de luminárias<br />
lineares com dimensões<br />
reduzidas, equipadas<br />
com LEDs 29 W,<br />
2.600 lm, 4.000 K,<br />
com facho de 42°,<br />
para iluminação geral<br />
uniforme. O painel atrás<br />
do balcão e os pilares<br />
revestidos de madeira<br />
foram valorizados por<br />
meio de perfis flexíveis<br />
de LEDs 8,5 W/m,<br />
310 lm/m, 3.800 K.<br />
A parede curva,<br />
continuação do balcão,<br />
foi destacada por meio<br />
de luminárias com<br />
óptica wallwasher,<br />
com LED 21 W,<br />
3.000 lm, 4.000 K.<br />
No hall de entrada do<br />
edifício foram adotadas<br />
as mesmas soluções<br />
para iluminação geral e<br />
para destaque dos<br />
pilares. Adicionalmente,<br />
as superfícies verticais<br />
que delimitam o espaço<br />
foram iluminadas de<br />
maneira rasante por<br />
meio de luminárias<br />
lineares com<br />
LED 22 W/m,<br />
2.000 lm/m, 4.000 K.<br />
A fachada da Evolution Tower foi transformada em uma grande tela multimídia por meio da instalação de 3.600 módulos de LED RGBW<br />
15 W, que podem ser controlados individualmente. As luminárias foram integradas à caixilharia no interior do edifício, tendo em vista que<br />
o formato da construção inviabilizaria a fixação de andaimes para sua instalação do lado externo. Os módulos de LED foram dispostos de<br />
maneira mais adensada entre o 40º e o 47º pisos, para permitir a exibição da logo da Transneft no topo do edifício.<br />
(R)EVOLUÇÃO<br />
Texto: Débora Torii | Fotos: Multivideo<br />
A<br />
ousada arquitetura da Evolution Tower, projetada pelo ser sua nova sede, o que resultou em uma série de grandes<br />
estúdio internacional RMJM, é um marco na paisagem desafios, enfrentada – com maestria – pelo lighting designer<br />
do Centro Internacional de Negócios de Moscou, croata Dean Skira, titular do Skira Architectural Lighting, durante<br />
Rússia, desde 2014, quando foi concluída sua construção. Foi o processo de elaboração do projeto de iluminação.<br />
somente em 2016, porém, que o edifício foi comprado pela Skira e sua equipe tinham como missão a realização de um<br />
Transneft, a maior companhia de oleodutos do mundo, para projeto que comunicasse a grandiosidade da empresa e que,<br />
ao mesmo tempo, fosse um símbolo nacional de eficiência<br />
energética. Tal tarefa foi dificultada pelo fato de o edifício<br />
já estar pronto e pela resistência à tecnologia LED naquele<br />
momento, quando sua aplicação ainda não era tão comum<br />
em espaços comerciais.<br />
OS INTERIORES<br />
O programa do edifício apresenta dezenas de tipologias<br />
de sala, com distintos tamanhos e funções, cujos formatos<br />
variam significativamente em decorrência da forma torcida<br />
da estrutura. Isso levou a equipe de lighting designers à<br />
realização de cálculos luminotécnicos para cada um dos<br />
ambientes, em cada um dos 55 pavimentos do edifício,<br />
para garantir que os níveis desejados de iluminância e de<br />
uniformidade fossem atendidos em todos os espaços.<br />
O projeto de iluminação propôs a utilização de uma<br />
única tipologia de luminária em praticamente todo o edifício,<br />
escolhida por oferecer diversas possibilidades ópticas e de<br />
fluxos luminosos e pela baixa luminância em sua superfície,<br />
garantindo alto nível de conforto visual.<br />
Para minimizar contrastes e sombras nos ambientes de trabalho,<br />
onde recursos de vídeo são muito utilizados em virtude da natureza<br />
internacional da empresa, a iluminação geral foi complementada<br />
pela iluminação vertical, realizada por equipamentos com óptica<br />
tipo wallwasher. Solução similar foi adotada nas áreas comuns,<br />
como no hall de entrada, onde as paredes são iluminadas de<br />
maneira rasante por luminárias lineares com LEDs de alta potência.<br />
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A sala de conferências foi iluminada por luminárias lineares de dimensões reduzidas, com LEDs 31 W, 2.760 lm, 4.000 K e facho<br />
de 48°, complementadas por downlights circulares com LEDs 7,8 W, 700 lm, 4.000 K e facho de 36°, para destaque da divisória<br />
revestida de madeira.<br />
A sala de reuniões foi iluminada com equipamentos lineares da mesma família, com refletores de alto contraste, com LEDs 10 W,<br />
920 lm, 4.000 K, e facho de 48°, evitando ofuscamentos e reflexos na tela ao fundo da sala.<br />
A fachada envidraçada permite a ampla entrada de luz<br />
natural no interior do edifício – até mesmo nas circulações, em<br />
decorrência das divisórias de vidro dos espaços compartimentados.<br />
Dessa forma, Skira propôs para as circulações um sistema duplo<br />
com iluminação direta e iluminação tipo wallwasher, criando<br />
um resultado uniforme e balanceado. Todas as luminárias<br />
do edifício têm sua intensidade luminosa ajustada por meio<br />
de sistema de automação de acordo com a iluminância da<br />
luz natural no espaço. O sistema de controle utilizado – que<br />
comanda também o sistema de persianas – possibilitou alcançar<br />
a meta de consumo energético menor do que 5 W por metro<br />
quadrado, solicitada pelo cliente.<br />
A FACHADA<br />
Um dos objetivos do projeto de iluminação era valorizar a<br />
forma única do edifício durante a noite, transformando-o em uma<br />
espécie de símbolo que se destaca das demais edificações do<br />
entorno. Com a construção já concluída, os lighting designers<br />
optaram por instalar a iluminação de fachada no interior do edifício.<br />
Essa decisão contribuiu para o barateamento significativo da<br />
solução – que não precisa ser robusta para resistir às condições<br />
climáticas extremas do local – e para a redução dos custos<br />
futuros com manutenção.<br />
Skira desenvolveu um módulo de LED RGBW potente o<br />
suficiente para que sua luz pudesse ser vista a distância e pequeno<br />
o bastante para que pudesse ser instalado junto aos elementos<br />
verticais que estruturam as persianas e a própria fachada. O<br />
material e o acabamento escolhidos permitiram que as luminárias se<br />
integrassem perfeitamente à estrutura existente. Os 3.600 módulos<br />
podem ter suas intensidades luminosas e suas cores controladas<br />
individualmente, permitindo a exibição de distintas imagens –<br />
incluindo a logomarca da Transneft. Apesar de instalados do<br />
lado interno da fachada, esses equipamentos não influenciam a<br />
iluminação interna do edifício.<br />
EVOLUTION TOWER<br />
Moscou, Rússia<br />
Projeto de iluminação:<br />
Skira Architectural Lighting<br />
Dean Skira (arquiteto titular)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
RMJM, Kettle Collective<br />
Projeto de interiores:<br />
Elforma<br />
IQ Architects<br />
Cliente:<br />
Transneft<br />
Fornecedores:<br />
iGuzzini e Lutron<br />
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FOTO LUZ FOTO<br />
JAMES NEWTON<br />
O ponto de vista desta foto foi escolhido<br />
para mostrar os vários níveis do átrio, bem como<br />
sua forma circular. Ao posicionar a câmera a<br />
um quarto da altura do átrio, consegui também<br />
mostrar o piso, enfatizando a altura e a escala do<br />
espaço. Isso permitiu uma visão clara de alguns<br />
dos terraços da circulação, revelando, dessa<br />
forma, a iluminação das sancas dos pavimentos,<br />
e o paisagismo do pavimento térreo.<br />
A foto foi tirada em vários momentos antes<br />
do anoitecer, sob diferentes condições de luz<br />
natural. Isso garantiu um bom equilíbrio entre<br />
a luz quente da iluminação dos terraços e a<br />
luz natural mais azulada – em contraste com<br />
a iluminação dos interiores, de 2.800 K – e<br />
também uma boa quantidade de luz natural<br />
entrando pela claraboia.<br />
Além de ajudar a definir a escala arquitetônica,<br />
as pessoas na foto conferem presença<br />
mais humana ao espaço, que, sem elas, pareceria<br />
um ambiente bastante espartano.<br />
A imagem final é uma composição de quatro<br />
imagens em formato paisagem, montadas uma<br />
sobre a outra para criar uma visualização ampla<br />
única em formato retrato.<br />
Essa técnica foi necessária para mostrar uma<br />
grande área do átrio e, com isso, revelar a sua<br />
escala, apesar do recuo restrito.<br />
Utilizei uma câmera Nikon D850 com lentes<br />
19 mm PC-E e f11/ISO 64/3 segundos.<br />
James Newton é fotografo londrino especializado em<br />
fotografia de arquitetura e de luz. Trabalhos realizados<br />
no passado como lighting designer, deram a Newton<br />
experiência e conhecimento.<br />
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