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editorial<br />
Armando Ferrentini<br />
aferrentini@editorareferencia.com.br<br />
Publicida<strong>de</strong> em sofrimento<br />
mpresários, profissionais e colaboradores do setor publicitário brasileiro,<br />
Ecom ênfase maior em São Paulo, estão indignados com a inércia pelo menos<br />
aparente das li<strong>de</strong>ranças do setor, diante <strong>de</strong> uma crise sem fim que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há<br />
tempos se <strong>de</strong>senrola, tomando porém um vulto inigualável este ano.<br />
Todos sabemos das transformações técnicas ocorridas nas comunicações, atingindo<br />
em cheio a ativida<strong>de</strong> publicitária, não apenas no Brasil, mas praticamente em todo<br />
o planeta.<br />
tadas para a comunicação publicitária, com <strong>de</strong>staque para uma absurda censura <strong>de</strong><br />
costumes que chegou a ser implantada, mas não durou muito, foram <strong>de</strong>rrubadas ou<br />
<strong>de</strong>scontinuadas porque as mesmas li<strong>de</strong>ranças da nossa iniciativa privada publicitária<br />
viajavam em bloco para Brasília, participando <strong>de</strong> audiências inclusive com o<br />
presi<strong>de</strong>nte da República e seus ministros, mostrando o erro oficial que estava sendo<br />
cometido, ou prestes a ocorrer, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> um setor que já naquela época<br />
honrava o país diante das multinacionais do setor primário aqui presentes, além <strong>de</strong><br />
causar curiosida<strong>de</strong> e permanente boa impressão além dos nossos limites pátrios.<br />
Porém, o que aqui mais se reclama é do silêncio dos que comandam as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
classe, tanto patronais, como profissionais e até mesmo as que cuidam do institucional<br />
publicitário no país, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> representarem categorias do setor.<br />
Para piorar o quadro recessivo, que evi<strong>de</strong>ntemente não começou neste ano, o novo<br />
governo fe<strong>de</strong>ral, instalado no comando do país a 1º <strong>de</strong> janeiro, vem cuidando também<br />
<strong>de</strong> fazer a sua parte, para prejudicar ainda mais o mercado.<br />
A liberação da obrigatorieda<strong>de</strong> das veiculações em jornais <strong>de</strong> todas as variáveis da<br />
publicida<strong>de</strong> legal, transferindo-as para a web, foi apenas mais uma pá <strong>de</strong> cal sobre o<br />
setor, em um momento já <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s por tudo o que vem lhe atingindo.<br />
Nessa questão da publicida<strong>de</strong> legal, prevalece ainda a versão <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>cisão do<br />
Executivo Fe<strong>de</strong>ral ocorreu propositalmente, como repulsa às críticas que vinha e<br />
prossegue sofrendo por parte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da mídia, porém com maior força e<br />
constância da mídia impressa.<br />
Mas, essa é apenas uma parte pequena <strong>de</strong> todo o gran<strong>de</strong> dano que o novo governo<br />
vem causando ao mercado, inibindo as gran<strong>de</strong>s estatais com relação às práticas publicitárias,<br />
colocando <strong>de</strong>ssa forma sob suspeita a necessária comunicação publicitária<br />
<strong>de</strong> empresas do Estado que disputam o mercado com congêneres da iniciativa<br />
privada.<br />
É o caso do Banco do Brasil, da Caixa e da própria Petrobras, com os <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong><br />
petróleo explorados comercialmente por ela e outras gran<strong>de</strong>s companhias, com <strong>de</strong>staque<br />
para as po<strong>de</strong>rosas multinacionais do setor.<br />
Pior <strong>de</strong>ssa história é que o próprio governo se prejudica com a sua <strong>de</strong>cisão autoritária,<br />
já que <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> fazer propaganda <strong>de</strong>sses produtos e serviços sob a sua tutela,<br />
além <strong>de</strong> outros segmentos que também assina, per<strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong> inestimável<br />
<strong>de</strong> combater os seus críticos, muitos <strong>de</strong>les mal-intencionados nessa batalha política<br />
que foi por <strong>de</strong>mais aguçada a partir da era Bolsonaro.<br />
Se não po<strong>de</strong>m agir em nome do governo, todos os que pertencem à iniciativa privada,<br />
em especial do setor publicitário, <strong>de</strong>veriam se unir e exigir das li<strong>de</strong>ranças do<br />
setor um enfrentamento vigoroso diante <strong>de</strong>ssa questão (que chega a ser inexplicável<br />
em <strong>de</strong>terminados segmentos), lembrando às atuais autorida<strong>de</strong>s do Executivo que o<br />
nosso mo<strong>de</strong>lo econômico é o da iniciativa privada, sem a qual não teríamos atingido,<br />
e vimos mantendo por tempos já sem conta, a condição <strong>de</strong> oitava economia do<br />
planeta.<br />
É profundamente lamentável essa situação criada quem sabe por objetivos bem-<br />
-intencionados, mas que estão atrapalhando <strong>de</strong> forma incalculável todo um setor<br />
on<strong>de</strong> o Brasil é (ou foi) sempre vencedor. Que o digam as principais competições<br />
publicitárias que anualmente se realizam mundo afora, com <strong>de</strong>staque para o sempre<br />
prestigiado Cannes Lions.<br />
Mas, esse bater <strong>de</strong> palmas não se limita apenas ao nosso produto final publicitário,<br />
mas também a muitas das empresas do setor, com <strong>de</strong>staque para o segmento das<br />
agências, que constituídas lá atrás em sua gran<strong>de</strong> maioria por ex-publicitários que<br />
se tornaram gran<strong>de</strong>s lí<strong>de</strong>res do setor, a ponto inclusive <strong>de</strong> enfrentarem certos <strong>de</strong>smandos<br />
institucionais da ditadura militar, <strong>de</strong>ntro da qual algumas cabeças pensantes<br />
chegaram a imaginar a exclusivida<strong>de</strong> do setor, entregando a tarefa publicitária<br />
brasileira à então Agência Nacional, órgão do governo fe<strong>de</strong>ral.<br />
A i<strong>de</strong>ia, como tantas outras <strong>de</strong>ssa época terrível, chegou a empolgar figuras importantes<br />
do então governo militar, mas foi abortada porque importantes li<strong>de</strong>ranças<br />
publicitárias da iniciativa privada do nosso país resolveram enfrentar a situação e<br />
conseguiram brecar o processo ainda em fase <strong>de</strong> estudos.<br />
Outras iniciativas do po<strong>de</strong>r central e não apenas do período da ditatura militar vol-<br />
Esperamos sinceramente que as nossas li<strong>de</strong>ranças civis <strong>de</strong> hoje do setor compreendam<br />
a missão que lhes cabem e lutem pela preservação dos valores incalculáveis<br />
obtidos pela eficácia e organização da publicida<strong>de</strong> brasileira, que não para <strong>de</strong> fornecer<br />
receitas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> até mesmo a países do Primeiro Mundo, não apenas como<br />
dissemos na elaboração do seu produto final publicitário, como também e principalmente<br />
na união pela <strong>de</strong>fesa dos interesses comuns que uniram essas forças até aqui.<br />
***<br />
Bom saber que pelo menos respeitamos nossos ídolos, reconhecendo neles o talento<br />
inexcedível que se expandiu por todo o setor, a todos beneficiando.<br />
Ainda agora, está sendo produzido um filme em homenagem a esse craque que é e<br />
sempre foi José Bonifácio <strong>de</strong> Oliveira Sobrinho, o Boni, com <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> amigos<br />
e conhecidos que <strong>de</strong> alguma forma têm uma história a contar sobre esse herói<br />
brasileiro.<br />
Todos que militam no setor leram ou pelo menos ouviram falar do livro sobre a sua<br />
vida, editado em 2011 pela Casa da Palavra.<br />
Logo no prefácio da obra, assinado por ninguém menos que Domenico De Masi, uma<br />
citação <strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>rico Garcia Lorca que justifica tudo o que o leitor lerá dali em diante,<br />
nas 463 páginas do livro, batizado pela editora com a simplicida<strong>de</strong> que sempre<br />
acompanhou o famoso e já lendário personagem, que todavia prossegue produzindo:<br />
O livro do Boni.<br />
Por contar a trajetória <strong>de</strong> quem se propôs, a obra dispensaria qualquer outro título.<br />
Aguardaremos agora o filme, produzido pela sua TV Vanguarda, contendo relatos <strong>de</strong><br />
muitos profissionais que <strong>de</strong>vem a ele, sob muitas formas e causas, o que apren<strong>de</strong>ram<br />
na sua trajetória.<br />
Este editor, por exemplo, ainda muito jovem, trabalhando na então Multi MP Propaganda<br />
(estamos falando <strong>de</strong> 1958/1959), teve a gran<strong>de</strong> sorte, não po<strong>de</strong>ndo almoçar<br />
em casa (hábito da época) <strong>de</strong>vido à distância da agência e a casa dos seus pais, <strong>de</strong><br />
frequentar a mesma mesa <strong>de</strong> almoço da agência on<strong>de</strong> profissionais já consagrados<br />
tomavam assento diariamente e discutiam as campanhas que estavam sendo criadas<br />
e produzidas pela agência ou por sua or<strong>de</strong>m.<br />
Um <strong>de</strong>les era simplesmente o Boni, com seus 25, talvez 26 anos, já brilhando naquele<br />
grupo da hora do almoço na Multi, ao narrar suas i<strong>de</strong>ias para <strong>de</strong>terminados<br />
trabalhos.<br />
Para mim, essa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado é inesquecível até hoje, tantos anos<br />
já passados.<br />
Grato por tudo, querido amigo!<br />
***<br />
Apesar <strong>de</strong> tudo o acima escrito, a propaganda brasileira prossegue criando e produzindo<br />
trabalhos incomparáveis, como a megacampanha <strong>de</strong> lançamento do Onix<br />
Plus, assinada pela WMcCann sob a supervisão <strong>de</strong> Hugo Rodrigues.<br />
Mereceu matéria nesta edição do seu PROPMARK.<br />
***<br />
Na edição <strong>de</strong> julho/agosto (nº 302) da Revista Abrigraf, em foto <strong>de</strong> página dupla, uma<br />
homenagem dos editores à equipe <strong>de</strong> redação do PROPMARK.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos, emocionados.<br />
4 <strong>16</strong> <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark