RCIA - ED. OUTUBRO 2019
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Piloto Eduardo Luzia, em Interlagos<br />
VELHOS TEMPOS, BELOS DIAS<br />
Sonhos de criança<br />
A fantasia que a gente criava quando era criança torna<br />
efetivamente o mundo mais belo e neste encantamento é que<br />
criávamos a alegria pela vida. Hoje, conseguimos lembrar<br />
deste tempo com muita saudade.<br />
Texto: Benedito<br />
Salvador Carlos,<br />
o Benê, com a<br />
colaboração de<br />
Leandro Pardine<br />
Fim de tarde de verão, perto das<br />
17 horas, e Zezé chegou defronte sua<br />
casa, com aquela ‘lambretinha’ modelo<br />
Stander, pronta para a corrida,<br />
completamente ‘pelada’ e sem as<br />
suas já poucas latarias. Tinha uma<br />
cor azul, banco de vinil preto com assento<br />
único, escapamento em forma<br />
de funil, extremamente barulhenta,<br />
produzindo muita fumaça devido à<br />
sua rica mistura de gasolina e óleo<br />
Castrol R e que ele, buscando regulagem,<br />
acelerava desmedidamente.<br />
Eu, que tinha no máximo 6 ou 7<br />
anos e em um tempo que criança ficar<br />
na rua, não representava perigo<br />
algum, na companhia de seu pai, Seu<br />
Pinante (Lindomar Braghini), que era<br />
meu padrinho de crisma, por minha<br />
única e exclusiva escolha, assistíamos<br />
a todo aquele espetáculo embasbacados.<br />
Aquele barulho me remetia ao<br />
famoso DKW nº 10, magistralmente<br />
guiado por Marinho Camargo Filho,<br />
nas corridas da ‘Avenida 36’. Evidentemente<br />
que eu não sabia o porquê,<br />
mas já era a magia do motor 2 tempos,<br />
que era o propulsor do carro e<br />
seu mesmo modelo também para a<br />
lambreta. Seu barulho ensandecido,<br />
estridente, encantador e, ao mesmo<br />
tempo, inebriante.<br />
Escutar aquele som era um balsamo<br />
para minha alma, a batida do<br />
motor, o cheiro da gasolina impregnada<br />
em meu corpo e em meus sonhos.<br />
Naquele dia eu queria ser um Zezé,<br />
um Gildo Scarpa ou Manolo.<br />
Com a chegada de minha adolescência,<br />
mais a convivência nas oficinas,<br />
fui ampliando horizontes e ganhando<br />
novos sonhos, nascendo daí<br />
então novos ídolos: Evaldo Salerno,<br />
de quem aprendi a admirar a “tocada”<br />
muito técnica e também muito agressiva.<br />
Neto era magistral, tinha a capacidade<br />
de repetir meticulosamente as<br />
curvas de forma absolutamente igual<br />
a corrida inteira, sendo técnico e, ao<br />
mesmo tempo, determinado. Se comparado<br />
a um baile, Salerno conduzia<br />
a motocicleta e Neto se apropriava do<br />
salão.<br />
Chegar em São Paulo, no Autódromo<br />
de Interlagos, foi um divisor de<br />
águas na minha vida. Tinha aqui as<br />
amizades e a convivência de ambos,<br />
acrescida de Baiano Faito (Celso Martinez),<br />
Zé Faito, Diogo Martinez, Nego<br />
(Adolpho Tedeschi), Pinho (José Manoel<br />
do Amaral Sampaio) e Edivilmo.<br />
Lá o encontro especial com Eduardo<br />
Luzia, que daqui já havia ido embora,<br />
Araraquara tinha ficado muito pe-<br />
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