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Edição 17 - Revista Aquaculture Brasil

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aquaculturebrasil.com<br />

REVISTA<br />

AQUACULTURE<br />

BRASIL<br />

EDIÇÃO<br />

<strong>17</strong><br />

MARÇO/ABRIL<br />

2019<br />

ISSN 2525-3379<br />

OSTRAS DA<br />

AMAZÔNIA :<br />

Artigo: Microbiota<br />

intestinal em peixes de<br />

aquicultura<br />

Coluna: Tendências na<br />

nutrição em bioflocos<br />

Uma oportunidade de negócio<br />

sustentável<br />

Entrevista: Ligia Uribe<br />

Gonçalves - projeto<br />

GIGAS<br />

Eles fazem a diferença:<br />

Jesus Malpartida Pasco<br />

MAR/ABR 2018<br />

1


AQUACULTURE BRASIL<br />

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA<br />

BRASILEIRA!<br />

EDITOR-CHEFE:<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

redacao@aquaculturebrasil.com<br />

EDITORES-ASSISTENTES:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

DIREÇÃO DE ARTE:<br />

Syllas Mariz<br />

Jéssica Brol<br />

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:<br />

Alexandre Gobbo Fernandes, Alexandre Rodrigues Caetano,<br />

Amana Garrido, Ana Conceição Abreu de Sousa, Carla<br />

Zilberberg, Cristiano Pereira, Débora de Oliveira Pires,<br />

Eduardo Gomes Sanches, Eduardo Sousa Varela, Fabrício<br />

Flores Nunes, Fabrício Pereira Rezende, Jesus Malpartida<br />

Pasco, José Pablo Fuentes Quesada, Leandro Godoy,<br />

Ligia Uribe Gonçalves, Lucas Simon Torati, Luciana Cristine<br />

Vasques Villela, Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik,<br />

Luciana Shiotsuki, Luiz Eduardo Lima de Freitas, Maria<br />

Angélica Reis, Monique Berticelli Morselli, Otávio Mesquita<br />

de Sousa, Patrícia Ianella, Rafael Mansano Martins,<br />

Vanessa Villanova Kuhnen e William Bauer.<br />

Os artigos assinados e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

COLUNISTAS:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Andre Muniz Afonso<br />

André Camargo<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Eduardo Gomes Sanches<br />

Fábio Rosa Sussel<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

Marcelo Roberto Shei<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

As colunas assinadas e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

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Av. Tancredo Neves, 300, Tubarão/SC, 88704-700<br />

A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação<br />

bimestral da EDITORA<br />

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.<br />

(ISSN 2525-3379).<br />

www.aquaculturebrasil.com<br />

Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC,<br />

88790-000.<br />

“Incrível”<br />

Não há outra palavra para expressar o que foi<br />

a cerimônia de entrega do Prêmio Inovação Aquícola<br />

2019, em Santa Fé do Sul, noroeste paulista.<br />

A “terra da tilápia”, ao menos na noite do dia 15<br />

de maio de 2019, obrigou-se a reverenciar outras<br />

culturas aquáticas, como a carcinicultura marinha<br />

em águas interiores e a ostreicultura, diretamente<br />

do Estado do Pará!<br />

Aliás, o “Projeto Ostras da Amazônia”, de autoria<br />

de Ana Conceição Abreu de Sousa do SEBRAE/<br />

PA, foi o grande vencedor... o grande inovador<br />

aquícola de 2019. Com 1242 votos online, venceu<br />

na categoria “Produção” e de quebra foi, simbolicamente, o case campeão<br />

geral, por ter tido o maior percentual (48,5%) entre todos os vencedores de<br />

todas as categorias.<br />

Como não brindar estampando na capa da nossa <strong>17</strong>ª edição tamanha conquista?<br />

Parabéns a Ana, ao SEBRAE e demais órgãos e instituições envolvidas,<br />

aos produtores, ao belíssimo Estado do Pará e, claro, às ostras! Estreando nas<br />

capas da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

E os apresentadores do Prêmio? Um charme a participação do casal aquícola<br />

Célia Maria Dória Frascá-Scorvo e João Donato Scorvo Filho, pesquisadores do<br />

Instituto de Pesca de São Paulo. A cerimônia de entrega dos troféus não seria a<br />

mesma sem a participação destes queridos amigos.<br />

Aproveito para fazer um agradecimento especial às empresas MSD Saúde<br />

Animal e Phibro Saúde Animal, apoiadoras financeiras do prêmio em 2019.<br />

Sem vocês, tudo teria sido mais difícil. Obrigado aos parceiros Mariana Nagata,<br />

Rodrigo Zanolo e a toda equipe de vocês.<br />

Novidades, inovações e novas tecnologias... este sempre foi um dos principais<br />

motores propulsores da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Neste contexto, a coluna Biotecnologia de Algas, escrita sempre de forma<br />

impecável pelo Prof. Dr. Roberto Bianchini Derner, da UFSC, pela segunda edição<br />

consecutiva apresenta um laboratório de pesquisas aos seus leitores, desta<br />

vez o LNEG, de Portugal. Conversando com o Roberto, ele propôs que a AB<br />

em toda edição apresentasse um laboratório de pesquisas sobre aquicultura do<br />

<strong>Brasil</strong> ou de fora.<br />

Na AB é assim, uma ótima ideia trazida já vira realidade na próxima edição.<br />

Falta apenas o nome para esta nova seção. Alguma sugestão?<br />

Ótima leitura a todos!<br />

Giovanni Lemos de Mello,<br />

Editor-chefe.<br />

A AQUACULTURE BRASIL não se<br />

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SUMÁRIO<br />

AQUACULTURE BRASIL - edição <strong>17</strong> mar/abr 2019<br />

08 FOTO DO LEITOR<br />

»»<br />

p.10<br />

10 FUNDAÇÃO DAS BASES GENÉTICAS PARA UM<br />

FUTURO PROGRAMA DE MELHORAMENTO DE<br />

TAMBAQUI (Colossoma macropomum)<br />

16 CULTIVO DE PEIXES MARINHOS COMO ALTERNATIVA<br />

DE CONSERVAÇÃO: CONHECENDO O PROJETO<br />

MEROS DO BRASIL<br />

22 O MUNDO PECULIAR DOS CORAIS: CICLO DE VIDA E<br />

FORMAÇÃO DE RECIFES<br />

»»<br />

p.16<br />

28 OSTRAS DA AMAZÔNIA: UMA OPORTUNIDADE DE<br />

NEGÓCIO SUSTENTÁVEL<br />

34 MICROBIOTA INTESTINAL EM PEIXES DE<br />

AQUICULTURA<br />

38 A ECONOMIA CIRCULAR NA PRODUÇÃO DE<br />

ALIMENTOS: PANORAMA E DESAFIOS PARA A<br />

IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS<br />

44 BLUECO NET – WORKSHOP SOBRE AQUICULTURA<br />

MULTITRÓFICA INTEGRADA E O FUTURO DA<br />

AQUICULTURA SUSTENTÁVEL NO BRASIL<br />

48 ESPAÇO EMPRESA<br />

»»<br />

p.22<br />

50 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR<br />

51 CHARGES<br />

6


»»<br />

p.70<br />

»»<br />

p.72<br />

52 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />

53 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />

54 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA<br />

56 GENÉTICA<br />

»»<br />

p.34<br />

58 GREEN TECHNOLOGIES<br />

»»<br />

p.38<br />

»»<br />

p.44<br />

59 PISCICULTURA MARINHA<br />

60 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA<br />

62 VISÃO AQUÍCOLA<br />

64 RANICULTURA<br />

65 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA<br />

66 AQUICULTURA ORNAMENTAL<br />

68 TECNOLOGIA DO PESCADO<br />

70 DEFENDEU<br />

72 ENTREVISTA - LIGIA URIBE GONÇALVES<br />

78 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />

82 DESPESCOU<br />

»»<br />

p.78<br />

7


Fêmea ovada - Macrobrachium rosenbergii<br />

Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata,<br />

(Ribeirão, PE)<br />

Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri<br />

Daniel Cavalcanti<br />

(Fortaleza, CE)<br />

@triangulodocamarao<br />

Giancarlo Lavor<br />

Carpa ornamental - Piscicultura Pomar do Carmo<br />

(Mirim, SP)<br />

Carlos Conte<br />

@danilo_carpas_pomar_do_carmo<br />

MAR/ABR 2019<br />

Aquarium of the Pacific<br />

(Long Beach, Califórnia)<br />

Cristina Viriato de Freitas<br />

@criisviriato<br />

8


Piscicultura<br />

(Francisco Alves, PR)<br />

Débora Bueno<br />

@medvet.debora<br />

Camarão cultivado em BFT - Litopenaus vannamei<br />

(Rio Grande, RS)<br />

Marilia Fernandes Costa e Kelly Izumi<br />

@mary_costa / @kellyizumi<br />

MAR/ABR 2019<br />

>><br />

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia<br />

e participe desta seção.<br />

redacao@aquaculturebrasil.com<br />

9


MAR/ABR 2019<br />

© Jefferson Cristiano Christofoletti<br />

10


Fundação das Bases Genéticas<br />

para um Futuro Programa<br />

de Melhoramento de Tambaqui<br />

(Colossoma macropomum)<br />

Luciana Shiotsuki 1 *, Luciana Cristine Vasques Villela 1 , Luciana Nakaghi Ganeco<br />

Kirschnik 1 , Luiz Eduardo Lima de Freitas 1 , Fabrício Pereira Rezende 1 , Eduardo Sousa<br />

Varela 1 , Lucas Simon Torati 1 , Patrícia Ianella 2 e Alexandre Rodrigues Caetano 2<br />

1<br />

Embrapa Pesca e Aquicultura<br />

2<br />

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia<br />

Palmas, TO<br />

*luciana.shiotsuki@embrapa.br<br />

Brasília, DF<br />

Programas de melhoramento genético<br />

amplamente difundidos em espécies de<br />

animais domésticos ainda são pouco<br />

empregados na aquicultura<br />

e muitas das espécies criadas<br />

comercialmente ainda dependem<br />

da captura de reprodutores<br />

ou alevinos selvagens (Gjedrem,<br />

2005). Existem estimativas de<br />

que menos de 10% da produção<br />

mundial em aquicultura seja<br />

baseada em germoplasma<br />

proveniente de programas de<br />

melhoramento (Gjedrem et al.<br />

2012). Como exemplos clássicos<br />

de espécies de peixes em que<br />

a produção é baseada em<br />

programas de melhoramento<br />

podemos citar, salmão (Salmo<br />

salar), truta (Oncorhynchus sp.)<br />

e tilápia (Oreochromis niloticus),<br />

nas quais o foco tem sido a<br />

geração de linhagens com produtividade superior nos<br />

Existem estimativas<br />

de que menos de 10%<br />

da produção mundial em<br />

aquicultura seja baseada<br />

em germoplasma proveniente<br />

de programas de<br />

melhoramento.<br />

diferentes sistemas de criação (Powell et al. 2008;<br />

Nguyen et al. 2010).<br />

A escassez de programas de melhoramento<br />

genético em espécies de<br />

aquicultura está relacionada<br />

principalmente aos altos custos<br />

associados à infraestrutura e<br />

mão de obra necessários para<br />

a manutenção de núcleos de<br />

melhoramento, com animais<br />

identificados individualmente<br />

e coleta periódica de dados<br />

de produção. Em muitos<br />

casos, observa-se a erosão<br />

genética ocasionada pelo<br />

acúmulo da endogamia nos<br />

plantéis de reprodutores, em<br />

função da utilização de poucos<br />

exemplares para geração de<br />

animais de reposição dos<br />

estoques destinados a produção<br />

(Gjedrem, 2005), problema<br />

bastante comum em espécies com alta fertilidade.<br />

MAR/ABR 2019<br />

11


Justificativa do projeto<br />

A estruturação de programas de melhoramento<br />

genético possibilita a geração de materiais genéticos<br />

que permitem o aumento da produtividade e da qualidade<br />

dos produtos derivados, atendendo às exigências<br />

do mercado consumidor (Rosa et al., 2013). Tais programas<br />

consistem em importante atividade estratégica<br />

para aproveitamento máximo do potencial aquícola<br />

brasileiro, podendo colocar o País numa posição de<br />

destaque entre os maiores produtores mundiais de<br />

pescado. Embora em 20<strong>17</strong> tenha sido observado um<br />

crescimento de 8% em relação ao ano anterior (Anuário<br />

PeixeBR, 2018), o <strong>Brasil</strong> ainda não se destaca entre<br />

os dez principais países com maior produção aquícola<br />

mundial (FAO, 2018).<br />

A mudança desse cenário depende de inúmeros<br />

fatores, entre os quais o desenvolvimento de pacotes<br />

tecnológicos robustos e confiáveis para as espécies nativas.<br />

O tambaqui (Colossoma macropomum) tem despontado<br />

como uma das principais espécies da aquicultura<br />

nacional, com um volume de produção de cerca<br />

de 137 mil toneladas em 2016, inferior somente ao alcançado<br />

pela tilápia (IBGE, 2016), espécie amplamente<br />

estudada em diferentes países, cujo pacote tecnológico<br />

é bem estabelecido. Considerando o potencial dessa<br />

espécie e aptidão natural do <strong>Brasil</strong> para a aquicultura, o<br />

projeto “Fundação das Bases Genéticas para um Futuro<br />

Programa de Melhoramento de Tambaqui - AMA-<br />

ZONGEN”, financiado pelo Fundo Amazônia, objetiva<br />

implementar em produtores comerciais situados no<br />

Bioma Amazônico alguns plantéis de reprodutores de<br />

tambaqui com germoplasma qualificado. Tais plantéis<br />

(chamados de Núcleos Satélites) possibilitarão a estruturação<br />

da base para futuros programas de melhoramento<br />

genético da espécie.<br />

• Controle das taxas de endogamia;<br />

• Direcionamento dos acasalamentos;<br />

• Identificação de possíveis híbridos no plantel, entre<br />

outras.<br />

A realização da escrituração zootécnica é o primeiro<br />

passo para a estruturação de um programa de<br />

melhoramento genético, sendo imprescindível a identificação<br />

individual dos animais que compõem o plantel<br />

de reprodutores. Usualmente a identificação em<br />

peixes é feita por meio da implantação de dispositivos<br />

eletrônicos (tags ou micro chips) no corpo do animal<br />

(músculo ou cavidade abdominal) que permitam a leitura<br />

do código de identificação. A partir das informações<br />

coletadas pela escrituração zootécnica será possível<br />

que os produtores gerenciem os seus plantéis de<br />

forma mais eficiente, uma vez que será possível identificar<br />

de forma individualizada os animais com melhores<br />

índices produtivos, monitorar eventuais problemas<br />

no plantel, manter e analisar o histórico de uso dos<br />

animais e estabelecer manejos nutricionais, sanitários<br />

e reprodutivos mais apropriados, reduzindo riscos e<br />

custos associados. Além desses aspectos, será possível<br />

agregar valor aos animais, visto que os mesmos passarão<br />

a ter um “certificado” de pedigree e do seu desempenho<br />

produtivo e reprodutivo, o que possibilitará o<br />

controle de taxas de endogamia e o planejamento de<br />

uso de cada animal, seja no momento da seleção, uso<br />

e comercialização de matrizes, seja para a definição de<br />

critérios de descarte (Lobo, 2002).<br />

Figura 1. Piscicultura selecionada do estado de Rondônia. © Jenner Menezes<br />

MAR/ABR 2019<br />

Desenvolvimento<br />

Para o projeto, três pisciculturas comerciais foram<br />

selecionadas, sendo uma localizada no Estado de Rondônia<br />

(em virtude deste figurar como o maior produtor<br />

nacional de tambaqui), uma situada no Estado<br />

do Amazonas (principal polo nacional de consumo<br />

de tambaqui) e uma terceira propriedade no Estado<br />

do Tocantins (em função da proximidade com a base<br />

central dos núcleos satélites, estruturada na Embrapa<br />

Pesca e Aquicultura). Nos três núcleos satélites a serem<br />

implementados serão realizadas diversas ações<br />

que ainda não fazem parte da rotina da maioria dos<br />

piscicultores brasileiros, entre as quais:<br />

• Atividades de escrituração zootécnica;<br />

• Identificação individual dos reprodutores;<br />

12


Figura 2. Chipagem em tambaqui. © Luciana Ganeco<br />

A realização da<br />

escrituração zootécnica<br />

é o primeiro passo<br />

para a estruturação<br />

de um programa de<br />

melhoramento genético,<br />

sendo imprescindível a<br />

identificação individual<br />

dos animais que<br />

compõem o plantel de<br />

reprodutores.<br />

A construção de bancos de dados seguros e confiáveis<br />

contendo todas as informações dos plantéis<br />

(pedigree, produtivas, reprodutivas, entre<br />

outras) poderá consistir em pontos para<br />

a elaboração e execução de programas<br />

eficientes de seleção e de melhoramento<br />

genético. Além disso, essas informações<br />

são fundamentais para a caracterização fenotípica<br />

da população base (plantel de reprodutores)<br />

e poderão ser utilizadas para<br />

a seleção, ponto-chave para o sucesso de<br />

programas de melhoramento genético. É<br />

sabido ainda que uma base genética ampla<br />

e com alta variabilidade são pontos de<br />

partida para a mensuração das diferenças<br />

genéticas entre populações (Tave, 1995;<br />

Hilsdorf e Orfão, 2011) e permitem a<br />

obtenção de ganhos genéticos por um<br />

número elevado de gerações. As relações<br />

de parentesco também devem ser<br />

conhecidas com o intuito de minimizar a<br />

consanguinidade no plantel e suas consequências,<br />

como a depressão por endogamia.<br />

Outro ponto relevante é a certificação de pureza<br />

específica, que permite identificar e evitar possíveis introgressões<br />

gênicas interespecíficas nos reprodutores<br />

da população base. Para o projeto planeja-se, portanto,<br />

a formação/organização, orientação e acompanhamento<br />

in loco dos plantéis nos três núcleos satélites<br />

e a realização de diversas atividades de capacitação<br />

dos técnicos envolvidos em aspectos de escrituração<br />

zootécnica, manejo reprodutivo e direcionamento de<br />

acasalamentos (baseados nas relações de parentesco<br />

e na certificação da pureza específica). Todas essas informações<br />

serão organizadas e disponibilizadas para<br />

os produtores por meio de um aplicativo para dispositivos<br />

móveis que será desenvolvido no âmbito do<br />

projeto.<br />

Além dessas atividades, o projeto prevê caracterizar<br />

o germoplasma nos três núcleos satélites com<br />

relação à pureza específica, parentesco e análise da<br />

MAR/ABR 2019<br />

13


MAR/ABR 2019<br />

© Jefferson Cristiano Christofoletti<br />

diversidade genética. Para<br />

isso, serão utilizados painéis<br />

de genotipagem de<br />

SNPs de baixa densidade,<br />

contendo por volta de uma<br />

centena de marcadores,<br />

desenvolvidos pela Embrapa<br />

e em fase final de validação.<br />

A perspectiva da Embrapa<br />

é que com as ações<br />

desenvolvidas pelo projeto<br />

AMAZONGEN seja possível<br />

a estruturação de núcleos<br />

satélites em estados<br />

com representatividade<br />

na produção de tambaqui,<br />

podendo conectá-los a<br />

futuros programas de melhoramento<br />

genético.<br />

Os resultados previstos<br />

no projeto possibilitarão a<br />

produção e o fornecimento<br />

de alevinos padronizados<br />

e qualificados aos diferentes<br />

segmentos da cadeia<br />

produtiva do tambaqui<br />

(vendedores de alevinos,<br />

produtores, etc.), gerando<br />

uma série de impactos positivos<br />

ao longo da cadeia<br />

produtiva. Produtores de<br />

alevinos poderão contar<br />

com ferramentas genômicas<br />

para determinação de<br />

pureza específica, variabilidade<br />

genética e determinação<br />

de parentesco. As<br />

informações geradas serão<br />

a base para orientar acasalamentos,<br />

certificar reprodutores<br />

e lotes de alevinos<br />

comercializados tanto para<br />

engorda quanto para estruturação<br />

de plantéis de<br />

reprodutores.<br />

Consulte as referências<br />

bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/<br />

artigos<br />

14


© Áthila Bertoncini


Cultivo de peixes marinhos como<br />

alternativa de conservação:<br />

conhecendo o projeto<br />

Meros do <strong>Brasil</strong><br />

Eduardo Gomes Sanches 1,2<br />

Otávio Mesquita de Sousa 1<br />

1<br />

Laboratório de Piscicultura Marinha<br />

Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />

Ubatuba, SP<br />

*esanches@pesca.sp.gov.br<br />

Vanessa Villanova Kuhnen 1<br />

2<br />

Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho<br />

Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />

Santos, SP<br />

O<br />

Laboratório de Piscicultura Marinha<br />

(Lapim) do Instituto de Pesca,<br />

em Ubatuba/SP, vem desenvolvendo,<br />

desde 2005, estudos<br />

sobre o cultivo de peixes<br />

marinhos como alternativa<br />

ao extrativismo e como instrumento<br />

de conservação<br />

destes recursos pesqueiros.<br />

A primeira espécie estudada<br />

pelo laboratório foi a garoupa-verdadeira<br />

Epinephelus<br />

marginatus. Exemplares da<br />

espécie foram capturados e mantidos<br />

em cativeiro, buscando formar<br />

um plantel de reprodutores e obter<br />

a produção de formas jovens. Os<br />

estudos mostraram também, que o<br />

período de desova da garoupa tende<br />

a se concentrar em torno de dezembro,<br />

justamente o período em que afluem mais turistas<br />

para o litoral, com consequente aumento da demanda<br />

por peixes para restaurantes e hotéis, o que leva a um inadequado<br />

aumento do esforço de pesca sobre a espécie.<br />

Estes estudos possibilitaram importantes avanços no<br />

cultivo destes peixes em cativeiro, com destaque para o<br />

Atualmente o Lapim<br />

integra o Projeto Meros<br />

do <strong>Brasil</strong>, atuando na<br />

reprodução do mero<br />

Epinephelus itajara.<br />

desempenho produtivo da garoupa-verdadeira, elucidando<br />

importantes questões do ponto de vista de manejo<br />

desta espécie e propiciando a formação de um banco<br />

de reprodutores que permitiu iniciar<br />

pesquisas de inversão sexual,<br />

crioconservação de sêmen, reprodução<br />

induzida e produção de<br />

formas jovens, visando a realização<br />

dos primeiros ensaios de engorda<br />

em escala massiva desta espécie<br />

no <strong>Brasil</strong> (Sanches et al., 2008a;<br />

Sanches et al., 2009). A crioconservação<br />

do sêmen da garoupa-<br />

-verdadeira pode ser considerada<br />

um fato histórico para a piscicultura<br />

marinha brasileira, tanto pelo valor<br />

econômico deste peixe como por<br />

seu potencial para cultivo, tendo<br />

contribuído para a reprodução da<br />

espécie em cativeiro e possibilitado<br />

a primeira produção de formas jovens de garoupa-<br />

-verdadeira no <strong>Brasil</strong> (Sanches et al., 2008b).<br />

Atualmente, o Laboratório de Piscicultura Marinha<br />

do Instituto de Pesca integra o Projeto Meros do <strong>Brasil</strong>,<br />

atuando na reprodução de outro “parente” da garoupa,<br />

o mero Epinephelus itajara.<br />

MAR/ABR 2019<br />

<strong>17</strong>


Os trabalhos do Instituto de Pesca<br />

com o mero<br />

Através de uma parceria entre o Instituto de Pesca,<br />

a Embrapa Tabuleiros Costeiros, a Bahia Pesca, o<br />

Instituto Meros do <strong>Brasil</strong> e com o patrocínio do Programa<br />

Petrobras Ambiental, um grupo de meros foi<br />

capturado em três estados do <strong>Brasil</strong> (Pernambuco,<br />

Sergipe e Bahia) e mantido no laboratório. Os peixes<br />

vêm respondendo muito bem ao cativeiro, ganhando<br />

peso rapidamente com baixas taxas de mortalidade,<br />

demonstrando alto grau de domesticação.<br />

Após seis meses de administração de hormônios<br />

andrógenos a oito exemplares com peso variando<br />

entre 2,0 a 12,0 kg, foi obtida, de maneira inédita<br />

para a espécie, a inversão sexual de exemplares<br />

com a produção de sêmen.<br />

MAR/ABR 2019<br />

Este feito pode ser considerado como de extrema<br />

relevância para a espécie e para o projeto, já que abre<br />

as portas para a reprodução destes peixes em cativeiro,<br />

com inegáveis vantagens para a conservação da<br />

espécie, como por exemplo, a ampliação da base de<br />

estudos para se conhecer melhor a biologia reprodutiva<br />

deste serranídeo.<br />

Através de uma parceria com a equipe de pesquisadores<br />

da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE)<br />

este sêmen foi caracterizado quanto a volume, densidade<br />

espermática, viabilidade, taxa de motilidade e<br />

duração da motilidade e a seguir foi crioconservado,<br />

utilizando-se um protocolo desenvolvido pelo pesquisador<br />

do Instituto de Pesca, Eduardo Gomes Sanches,<br />

visando sua posterior utilização em procedimentos de<br />

reprodução do mero em cativeiro.<br />

O processo de caracterização envolveu a utilização<br />

do Sperm Class Analyzer (SCA), um sistema computadorizado<br />

acoplado a um microscópio que analisa<br />

diversos parâmetros da movimentação do espermatozóide.<br />

Elimina a subjetividade das análises, permitindo<br />

conclusões seguras sobre a viabilidade do sêmen. A<br />

conservação de sêmen traz inúmeras vantagens para<br />

o desenvolvimento de um protocolo de cultivo para<br />

uma espécie. Permite a otimização do transporte deste<br />

material, bem como seu armazenamento em bancos<br />

de germoplasma. Estes bancos apresentam grandes<br />

benefícios, tais como: manutenção do estoque de sêmen<br />

de um grande número de exemplares em botijões<br />

criogênicos, garantindo a variabilidade genética e<br />

intercâmbio entre as diversas instituições de pesquisa,<br />

fornecimento contínuo de sêmen durante toda a estação<br />

reprodutiva e redução dos custos na manutenção<br />

dos plantéis de reprodutores. O próximo passo será<br />

a maturação das fêmeas em cativeiro e a utilização do<br />

sêmen congelado na fertilização de seus ovócitos e a<br />

produção de larvas de mero.<br />

Conhecendo o mero<br />

O mero Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822) é<br />

um peixe marinho, que junto com as garoupas, chernes<br />

e badejos compõe a família Epinephelidae. Pode<br />

atingir comprimento acima de 2,5 metros e peso além<br />

de 450 kg (Heemstra & Randall, 1993). O termo itajara<br />

proveniente do tupi-guarani, pode ser traduzido<br />

como “ita”: pedra, e “jara”: senhor, portanto o mero é<br />

conhecido como o “senhor das pedras”.<br />

Sua ocorrência tem sido documentada em águas<br />

de zonas tropicais e subtropicais da costa oeste do Pacífico,<br />

da Costa Rica ao Peru, e também, em ambas<br />

costas, oeste e leste e do Atlântico, respectivamente,<br />

entre Senegal e Congo (África), e entre a Carolina<br />

do Norte (EUA) e Santa Catarina (<strong>Brasil</strong>). Juvenis são<br />

estuarino-dependentes abrigando-se entre as raízes<br />

do mangue vermelho (Rhizophora mangle) (Frias-Tor-<br />

18


es, 2006). Os adultos se refugiam em parceis mais<br />

afastados da costa e em ambientes artificiais como embarcações<br />

naufragadas e pilares de pontes. Os Meros<br />

são predadores situados em níveis superiores da cadeia<br />

trófica, alimentam-se principalmente de crustáceos, lagostas<br />

e caranguejos. Juvenis alimentam-se de camarões,<br />

caranguejos e bagres marinhos. Partes de polvos,<br />

tartarugas e outros peixes também foram encontrados<br />

(Sadovy & Eklund, 1999). São animais que, apesar do<br />

grande porte, são considerados pacíficos e curiosos,<br />

permitindo, por vezes, a aproximação orientada de<br />

mergulhadores.<br />

De acordo com Bullock et al. (1992), apresentam<br />

maturidade sexual entre 5 a 7 anos com comprimento<br />

total acima de 110 cm e peso superior a 40 kg (quando<br />

saem dos manguezais). Possuem ciclo de vida acima de<br />

40 anos e agregam-se para reproduzir em épocas e locais<br />

conhecidos por alguns pescadores, o que facilita a pesca<br />

predatória. Essas características tornaram a espécie muito<br />

vulnerável, em especial a pesca e poluição, colocando-a<br />

em sério risco de desaparecer da costa brasileira.<br />

Reprodutivamente, assume-se que o mero, similarmente<br />

aos seus congêneres Epinephelus, expressa<br />

fortes evidências de uma sexualidade reconhecida com<br />

o padrão hermafrodita sequencial protogínico (Bullock<br />

et al., 1992), na qual alguns indivíduos desenvolveriam<br />

tecido testicular para funcionarem como machos,<br />

depois de sofrerem degeneração do ovário. Não está<br />

definido se todos machos são obrigatoriamente fêmeas<br />

alteradas (monandria), ou se os indivíduos podem amadurecer<br />

como macho ou fêmea na “fase inicial” e qualquer<br />

um pode se tornar um macho na “fase terminal”<br />

(diandria). Embora os condicionantes que pressionam a<br />

decisão da mudança nos papéis sexuais são<br />

controversos em hermafroditas, para muitas<br />

espécies com sistema social harêmico, o<br />

número relativo de machos ou fêmeas e o<br />

tamanho dos indivíduos, em populações sob<br />

condições de confinamento, têm sido críticos<br />

para influenciar a frequência de sucessão<br />

do sexo.<br />

Os meros são solitários, contudo, no<br />

período reprodutivo formam cardumes, fenômeno<br />

conhecido como “agregações”, em<br />

épocas e locais específicos com a finalidade<br />

de encontrar parceiros. Nesse aspecto,<br />

as pesquisas têm constatado o desaparecimento<br />

gradual dos meros em locais onde<br />

costumavam ser abundantes, especialmente<br />

durante suas agregações. No entanto, não<br />

se sabe exatamente o número de indivíduos<br />

e o peso total que tem sido capturado anualmente<br />

de forma ilegal.<br />

Em função da diminuição dos estoques desta espécie<br />

e das características de sua biologia reprodutiva,<br />

o governo dos Estados Unidos declarou, em 1999, o<br />

mero como espécie protegida, proibindo sua captura<br />

na Zona Econômica Exclusiva Americana e nas águas<br />

territoriais da Flórida (NMFS, 1999). Na região do Caribe<br />

a proibição teve início antes, em 1993. Esse histórico<br />

aliado a falta de informações consistentes sobre<br />

sua bioecologia, foram decisivos para inclusão dessa<br />

espécie na lista vermelha das espécies ameaçadas da<br />

IUCN (The International Union for Conservation of Nature),<br />

classificada como Criticamente Ameaçada (Pusack<br />

& Graham, 2009). Há mais de quinze anos protegida<br />

da pesca em todo o Golfo do México, somente em<br />

2002 a espécie recebeu proteção em águas brasileiras<br />

(IBAMA, portaria nº 121, de 20 de setembro de 2002).<br />

Com isso, tornou-se a primeira espécie de peixe marinho<br />

a receber uma portaria específica que estabeleceu<br />

a moratória da pesca pelo período de 5 anos, no qual<br />

priorizou-se a realização de estudos aprofundados. Em<br />

2007, a portaria do IBAMA n° 42/2007 prorrogou por<br />

mais cinco anos a proibição da pesca, transporte e comercialização<br />

do mero.<br />

No ano de 2012, esforços conjuntos dos pesquisadores<br />

do Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> e Ministério do<br />

Meio Ambiente (ICMBio) produziram subsídios para<br />

proposição de nova prorrogação - Instrução Normativa<br />

Interministerial/ INI N° 13/2012 – a qual foi novamente<br />

renovada em 2 de outubro de 2015 por mais<br />

8 anos, através de Portaria Interministerial N°13/2015<br />

tendo como prioridade a recuperação das populações<br />

de meros no país.<br />

MAR/ABR 2019<br />

19


Projeto Meros do <strong>Brasil</strong><br />

Em 2002, tendo em vista o cenário de declínio dos<br />

meros na costa brasileira, um grupo de pesquisadores<br />

em Santa Catarina criou o Projeto Meros do <strong>Brasil</strong>,<br />

com o objetivo de viabilizar recursos para a pesquisa e<br />

conservação de meros.<br />

Em 2006, e por mais outras duas edições, (2012<br />

e 2018), o Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> tem contado com<br />

o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras<br />

Socioambiental. O patrocínio da Petrobras tem<br />

alavancado e permitido a realização de estudos de<br />

maior amplitude não somente sobre a conservação dos<br />

meros, mas também dos ambientes marinho-costeiros<br />

associados como manguezais, recifes de corais, costões<br />

rochosos e naufrágios ao longo da costa brasileira.<br />

Atualmente, os meros são tidos como um símbolo<br />

de conservação e proteção dos ambientes costeiros e<br />

marinhos. O Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> desenvolve ações<br />

de pesquisa e conservação do mero através do estudo<br />

da biologia pesqueira, genética, criação em cativeiro,<br />

educação ambiental e mergulho científico ao longo da<br />

costa brasileira. O Projeto busca ainda a inclusão da sociedade<br />

promovendo a equidade de gênero, igualdade<br />

e inclusão social.<br />

Para realizar suas ações de pesquisa, o Projeto<br />

Meros do <strong>Brasil</strong> trabalha com uma rede de parceiros<br />

formados por instituições de ensino e pesquisa,<br />

distribuídos pelo litoral brasileiro que atuam de forma<br />

autônoma, em cooperação técnica e científica. Dessa<br />

forma, o Projeto propõe unificar os desafios de pesquisa<br />

e conservação de uma espécie que é distribuída<br />

amplamente em quase todo o litoral brasileiro.<br />

O Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> é realizado por nove<br />

instituições que trabalham juntas por meio de uma<br />

rede de parceria técnica e científica em seus diferentes<br />

pontos focais: Universidade Federal do Pará<br />

(PA); Universidade Federal de Pernambuco (PE);<br />

Universidade Federal de Alagoas (AL), Grupo Cultural<br />

ArteManha (BA); Universidade Federal do Espírito<br />

Santo (ES); Universidade Federal do Estado<br />

do Rio de Janeiro (RJ); Instituto de Pesca (SP); Instituto<br />

Meros do <strong>Brasil</strong> (PR) e Instituto COMAR (SC).<br />

O Projeto conta também com a parceria de mais<br />

de 50 outras instituições e grupos no auxílio do desenvolvimento<br />

das ações em prol do conhecimento<br />

sobre a espécie e dos ambientes que habita.<br />

A Rede Meros do <strong>Brasil</strong> é hoje mais que uma rede<br />

de pesquisa ou um projeto de conservação de uma<br />

MAR/ABR 2019<br />

20


Atualmente,<br />

os meros são tidos<br />

como um símbolo de<br />

conservação e proteção<br />

dos ambientes costeiros<br />

e marinhos.<br />

espécie ameaçada. Nos últimos anos, consolidou-se<br />

uma Rede de instituições governamentais<br />

e ONGs, pesquisadores, ambientalistas, mergulhadores<br />

e pescadores em vários estados da costa<br />

brasileira. Todos os parceiros estão envolvidos<br />

diretamente com amplas ações de conservação<br />

marinha, e possuem o MERO como ponto de<br />

convergência e símbolo de uma espécie que estava<br />

quase desaparecendo de nossas águas. As<br />

diversas ações da Rede são desenvolvidas de<br />

forma autônoma pelas organizações que a integram,<br />

e a cooperação técnica e padronização de<br />

metodologias entre as diversas instituições são<br />

necessárias para se abordar os desafios de pesquisa<br />

e conservação do extenso litoral <strong>Brasil</strong>eiro<br />

(Hostim-Silva et al., 2005). O Instituto de Pesca<br />

foi a primeira instituição a crioconservar o sêmen<br />

da garoupa-verdadeira e vem desenvolvendo estudos<br />

para a reprodução em cativeiro do mero.<br />

A existência do Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> só é<br />

possível pela pluralidade de olhares e aspirações<br />

compartilhadas entre a academia (onde surgiu),<br />

sociedade (para quem se destinam os esforços<br />

de conservação dos meros e ambientes marinhos<br />

e costeiros) e a iniciativa privada e governamental<br />

que suportam, apoiam e acreditam na<br />

realização das suas ações.<br />

MAR/ABR 2019<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

21


MAR/ABR 2019<br />

22


O mundo peculiar<br />

dos corais: ciclo de vida<br />

e formação de recifes<br />

Leandro Godoy 1,4 , Amana Garrido 2 , Cristiano Pereira 3,4 , Carla Zilberberg 2,4 e Débora de<br />

Oliveira Pires 3,4<br />

1<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS<br />

2<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ<br />

3<br />

Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />

4<br />

Instituto Coral Vivo<br />

projetoreefbank@gmail.com<br />

Esqueça os padrões que você conhece de<br />

outros organismos, e venha mergulhar no<br />

mundo peculiar dos corais. O que externamente<br />

nos parece tão simples,<br />

na verdade evoluiu de<br />

uma forma muito sofisticada.<br />

Os corais podem ser solitários<br />

ou coloniais. Cada indivíduo<br />

solitário ou que faz parte<br />

de uma colônia é chamado<br />

de pólipo. Cada pólipo possui<br />

uma cavidade gastrovascular<br />

(local de digestão e distribuição<br />

de alimento) e uma boca<br />

circular cercada por tentáculos,<br />

e juntos esses pólipos podem<br />

chegar a ser milhares em<br />

uma única colônia (Figura 1).<br />

Dentro dos tecidos dos<br />

corais vivem microalgas, dinoflagelados<br />

da família Symbiodiniaceae (conhecidas<br />

como zooxantelas), sua densidade pode chegar<br />

a 1 milhão/cm 2 . Elas são essencialmente fábricas<br />

de alimento, vivendo em simbiose com os corais.<br />

Simbiose, que significa “viver juntos”, é uma<br />

Simplicidade<br />

por fora não significa<br />

simplicidade<br />

por dentro.<br />

relação de cooperação entre duas espécies diferentes.<br />

Por meio da fotossíntese as zooxantelas<br />

fornecem oxigênio e alimento (glicose, glicerol,<br />

aminoácidos) ao coral, ao passo<br />

que o coral dá CO 2<br />

, nutrientes<br />

e proteção para as zooxantelas.<br />

Os corais se alimentam do<br />

produto da fotossíntese das<br />

zooxantelas durante o dia e,<br />

durante a noite, enquanto as<br />

microalgas “dormem”, o animal<br />

se torna mais ativo. Os pólipos<br />

são expandidos e os tentáculos<br />

expostos, dessa forma, tudo<br />

que nadar próximo pode ser<br />

capturado, desde pequenos<br />

animais planctônicos até partículas<br />

orgânicas em suspensão<br />

na água. Ao redor da boca e<br />

nos tentáculos existem células<br />

de defesa e ataque equipadas com organelas<br />

chamadas nematocistos ou cnidas (Figura 1).<br />

Os nematocistos são disparados ao toque (mecanicamente)<br />

ou quimicamente, e alguns produzem<br />

toxinas capazes de imobilizar e matar as presas.<br />

MAR/ABR 2019<br />

23


MAR/ABR 2019<br />

Figura 1. Anatomia de um pólipo de coral pétreo. © Matheus Souza | Projeto ReefBank<br />

À medida que o coral cresce, o que nós vemos é<br />

o animal crescendo sobre o esqueleto calcário, que<br />

ele fabrica na base dos pólipos. Inúmeros esqueletos<br />

acrescidos ao longo de milênios formam a estrutura<br />

básica dos recifes de coral. Assim, podemos dizer<br />

que o recife é formado principalmente pela sobreposição<br />

de diversas gerações de colônias de corais<br />

e outros organismos (Pereira et al., 2016). Esse estilo<br />

de vida colonial, combinado com processos que<br />

aceleram a produção do esqueleto calcário, como<br />

o aporte de alimento fornecido pelas zooxantelas,<br />

permite que a taxa de formação do esqueleto seja<br />

maior que a capacidade de fatores físicos, químicos e<br />

biológicos de degradá-lo.<br />

A associação coral-zooxantela explica a formação<br />

desses ecossistemas em águas rasas tropicais e pobres<br />

em nutrientes, em função da dependência da<br />

luz solar para fotossíntese. Esse consórcio de organismos<br />

que cooperam se manifesta em formas maciças<br />

e ramificadas, de alta complexidade estrutural<br />

(Figura 2). A Grande Barreira de Corais australiana,<br />

por exemplo, possui mais de 2 mil quilômetros de<br />

extensão, e é considerada a única estrutura viva da<br />

Terra que pode ser vista do espaço.<br />

Os recifes de coral<br />

brasileiros<br />

Os únicos recifes biogênicos<br />

(formados pelo acúmulo<br />

de esqueletos calcários) do<br />

Atlântico Sul estão ao longo<br />

da costa brasileira e abrigam<br />

16 espécies de corais-pétreos<br />

zooxantelados, com<br />

cinco delas endêmicas do<br />

<strong>Brasil</strong> (Castro e Zilberberg,<br />

2016). O Banco dos Abrolhos,<br />

a região do Parque Municipal<br />

Marinho do Recife de<br />

Fora e outras áreas do Sul da<br />

Bahia são considerados os<br />

locais de maior biodiversidade<br />

marinha na nossa costa.<br />

O Parque Municipal Marinho<br />

do Recife de Fora -<br />

nossa área de estudo - está<br />

localizado na Costa do Descobrimento<br />

(Porto Seguro,<br />

BA), possui <strong>17</strong>,5 km² e<br />

abriga todas as espécies de<br />

corais brasileiros, inclusive<br />

as popularmente conhecidas<br />

como corais-cérebro<br />

(Figura 3), espécies-chave por serem considerados<br />

os principais construtores dos recifes brasileiros.<br />

Figura 2. Parque Marinho do Recife de Fora. © Enrico Marcovaldi<br />

24


Figura 3. Paisagem recifal com destaque para colônias do coral Mussismilia harttii. © Luiz Cassino - Concurso Coral Vivo de Foto Sub<br />

patrocinado pela Petrobras.<br />

MAR/ABR 2019<br />

25


Figura 4. Ciclo de vida dos corais liberadores de gametas. © Matheus Souza | Projeto ReefBank<br />

MAR/ABR 2019<br />

Como os corais se reproduzem?<br />

Os corais podem se reproduzir tanto de forma assexuada<br />

como sexuada. Os tipos mais comuns de reprodução<br />

assexuada se dão por meio da produção de larvas<br />

não fertilizadas do próprio indivíduo, por brotamento<br />

de um pólipo que se separa do pólipo parental ou pela<br />

fragmentação das colônias (Pires et al., 2016). Esse processo<br />

continua durante toda a vida do organismo, sendo<br />

que os novos corais são clones da colônia parental.<br />

A reprodução sexuada envolve a produção de gametas<br />

(espermatozoides e oócitos) e promove diversidade<br />

genética por meio da fecundação cruzada entre<br />

indivíduos (Figura 4). A maioria das espécies realiza ambos<br />

os tipos de reprodução.<br />

Os corais podem apresentar colônias ou pólipos de<br />

um único sexo (masculino ou feminino), ou hermafroditas.<br />

Neste último caso, um mesmo animal apresenta<br />

ambos os sexos, podendo ocorrer pólipos hermafroditas<br />

em toda a colônia, ou colônias com uma mistura de<br />

pólipos machos e pólipos fêmeas (Pires et al., 2016).<br />

Nas três espécies endêmicas de coral cérebro<br />

(Mussismilia braziliensis, Mussismilia hispida e Mussismilia<br />

harttii), os gametas masculinos e femininos são<br />

produzidos no mesmo pólipo, dentro de dobras de<br />

tecido chamadas mesentérios. Dessa forma, quando os<br />

gametas estão maduros a parede dos mesentérios se<br />

rompe, e os oócitos e espermatozoides são liberados<br />

para o interior da cavidade gastrovascular dos pólipos,<br />

onde ficam envoltos por muco formando um pacote<br />

compacto (Figura 1). Nos dias de desova, os pacotes<br />

contendo oócitos e espermatozoides são liberados<br />

pelas bocas dos pólipos. Quando saem das bocas, os<br />

pacotes, que boiam, atingem a superfície do mar. Na<br />

superfície, eles se rompem e os espermatozoides e<br />

oócitos se dissociam uns dos outros. Essa estratégia<br />

garante que os gametas sejam transportados de forma<br />

eficiente até a superfície, minimiza a diluição espermática,<br />

aumentando as chances de encontro entre os gametas<br />

femininos e masculinos e a formação de novos<br />

indivíduos. A fecundação é cruzada, na qual o oócito<br />

de uma colônia é fecundado pelo espermatozoide de<br />

outra colônia. A divisão celular se inicia poucas horas<br />

após a desova, com o desenvolvimento do embrião<br />

ocorrendo na coluna d’água já no primeiro dia. A larva<br />

plânula se desenvolve em seguida e é levada pelas correntes<br />

marinhas por alguns dias. Quando a larva se fixa<br />

e assenta permanentemente ao substrato, sofre metamorfose,<br />

transformando-se em um pólipo juvenil ou<br />

fundador, que começa a produzir o esqueleto calcário<br />

em sua base. Esses pólipos fundadores então se multiplicam<br />

de forma assexuada, por divisão, e assim se dá o<br />

crescimento das colônias (Pires et al. 2016).<br />

O conhecimento da época exata em que se dá<br />

a desova dos corais torna possível a coleta dos seus<br />

gametas, a realização de reprodução in vitro e até<br />

mesmo o uso de técnicas de criopreservação como<br />

o congelamento, a vitrificação e o resfriamento. Essas<br />

biotecnologias estão sendo utilizadas no nosso projeto<br />

e terão um papel crucial na conservação dos recifes de<br />

coral, haja vista as sérias ameaças que esses ecossistemas<br />

estão sofrendo ao redor do mundo, e que será tema do<br />

nosso próximo artigo. O ReefBank conta com o apoio<br />

do Projeto Coral Vivo (patrocinado pela Petrobras), do<br />

Instituto Coral Vivo, da Fundação Grupo Boticário, do<br />

Fundo <strong>Brasil</strong>eiro para a Biodiversidade (Funbio).<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

26


MAR/ABR 2019<br />

© Carlos Borges | SEBRAE - Pará<br />

28


Ostras da Amazônia:<br />

Uma oportunidade<br />

de negócio sustentável<br />

Ana Conceição Abreu de Sousa<br />

Analista do Sebrae no Pará - Gestora do projeto Ostras da Amazônia<br />

Capanema, Pará<br />

anaabreu@pa.sebrae.com.br<br />

No Pará, o extrativismo de moluscos é<br />

realizado durante o ano todo. Esta atividade<br />

constitui a renda principal ou complementar<br />

das famílias. Todavia, catadores e intermediários<br />

apontam que os estoques desse recurso pesqueiro<br />

vêm diminuindo ao longo dos anos. Com base neste<br />

cenário, iniciam-se os primeiros experimentos com<br />

cultivo de ostra (Crassostrea brasiliana) no Pará, no<br />

período de 2001 a 2003, em municípios que, até<br />

então, tinham como prática a coleta de ostras do<br />

extrativismo, com danos crescentes ao estuário<br />

natural. A ostra não era vista como uma possibilidade<br />

de um negócio sustentável.<br />

Em 2003, a ostreicultura paraense é qualificada por<br />

Alcântara Neto como uma nova e importante alternativa<br />

econômica para transformar o extrativismo em uma<br />

atividade de produção, evitando assim a diminuição<br />

dos estoques e a possibilidade de esgotamento dos<br />

mesmos. Em 2004, a Prefeitura Municipal de Augusto<br />

Corrêa reativa o projeto em escala comercial e<br />

firma parceria entre prefeitura, Sebrae e a associação<br />

representativa dos produtores – Agronol*.<br />

*<br />

A Agronol é hoje denominada Associação dos Agricultores e Aquicultores de Nova Olinda – Agromar e é atualmente a maior<br />

produtora de ostras do estado do Pará, com produção de 39.772 dúzias (dezembro/ 2018).<br />

MAR/ABR 2019<br />

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© Carlos Borges | SEBRAE - Pará<br />

MAR/ABR 2019<br />

30


A partir de 2005, foram implantados<br />

oito cultivos de ostras (dos quais<br />

dois são produtores de sementes de<br />

bancos naturais), com tecnologias<br />

apropriadas para a região amazônica,<br />

distribuídos em cinco municípios no<br />

litoral nordeste paraense, organizados<br />

em associações, as quais compõem a<br />

Rede Nossa Pérola, criada em 2009,<br />

com a finalidade de organizar as associações<br />

de produtores para elaborar,<br />

compartilhar e padronizar estratégias<br />

de trabalho, visando o desenvolvimento<br />

uniforme e sustentável da ostreicultura<br />

paraense.<br />

Além do Sebrae, o projeto contou<br />

com parceria de diversas instituições,<br />

como Ministério da Agricultura,<br />

Pecuária e Abastecimento - MAPA,<br />

Agência de Defesa Agropecuária do<br />

Estado do Pará - Adepará, Secretaria<br />

de Estado de Desenvolvimento<br />

Agropecuário e da Pesca - SEDAP,<br />

Prefeituras Municipais, Universidade<br />

e Instituto Federal do Pará (UFPA<br />

e IFPA), Secretaria de Estado de<br />

Meio Ambiente – SEMA, Instituto<br />

Chico Mendes de Conservação da<br />

Biodiversidade (ICMBio), Empresa<br />

de Assistência Técnica e Extensão<br />

O projeto<br />

destaca-se pela<br />

possibilidade de<br />

promover a inclusão<br />

social mediante a<br />

suplementação da renda<br />

familiar, promoção de<br />

igualdade entre gêneros<br />

e fortalecimento da<br />

segurança alimentar.<br />

Rural do Estado do Pará – EMATER<br />

e Al-Invest 5.0, que desempenharam<br />

uma multiplicidade de papeis e<br />

responsabilidades.<br />

Do ponto de vista social, o projeto<br />

Ostras da Amazônia destaca-se pela<br />

possibilidade de promover a inclusão<br />

social mediante a suplementação da<br />

renda familiar, promoção de igualdade<br />

entre gêneros e fortalecimento da<br />

segurança alimentar. Do ponto de<br />

vista econômico, a produção estável<br />

de ostras pode contribuir para a<br />

abertura de novos mercados, gerando<br />

emprego e renda. Do ponto de vista<br />

ambiental, o cultivo de ostras pode<br />

reduzir a pressão sobre os estoques<br />

naturais.<br />

Benefícios e ações<br />

O projeto Ostras da Amazônia tem<br />

como objetivo geral tornar a ostra de<br />

cultivo acessível aos consumidores do<br />

Pará e de outros estados, promovendo<br />

sua produção com qualidade, através<br />

do desenvolvimento da tecnologia<br />

social de baixo impacto ambiental,<br />

fortalecendo a rede “Nossa Pérola”<br />

como marca coletiva e iniciando o<br />

processo de Indicação Geográfica de<br />

Origem, para elevar a competitividade<br />

e agregar valor às Ostras da Amazônia<br />

e ser referência nacional.<br />

O projeto beneficia 80 produtores<br />

de agricultura familiar, os quais, em<br />

sua maioria, antes da implantação do<br />

projeto, já exerciam outras atividades<br />

da agricultura; porém a ostreicultura é<br />

referência na geração da renda familiar.<br />

Os resultados obtidos com a atividade<br />

são analisados de forma coletiva e<br />

individual, o que permite identificar e<br />

premiar os três melhores produtores<br />

do ano nos critérios de produção/<br />

produtividade e comercialização, além<br />

da categoria “Mulher de Negócios –<br />

Ostreicultura. Esse trabalho permite<br />

avaliar o desempenho, o interesse e<br />

as necessidades dos produtores, de<br />

forma a direcionar as ações de gestão<br />

do projeto.<br />

MAR/ABR 2019<br />

31


Dentre as principais ações executadas no<br />

projeto, estão:<br />

1. Capacitações para profissionalização dos<br />

produtores;<br />

2. Encontros Estaduais de Produtores de<br />

Ostras da Amazônia;<br />

3. Inovação e marketing com foco em<br />

Inteligência de Mercado;<br />

4. Convênio de Cooperação Técnica e<br />

Financeira (2009) - firmado entre Sebrae,<br />

Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura –<br />

SEPAQ (atualmente SEDAP) e Ministério da Pesca;<br />

5. Regularização dos produtores - Declaração<br />

de Aptidão ao Pronaf - DAP, Registro Geral de<br />

Pescador - RGP aquicultor e Inscrição Estadual de<br />

Produtor Rural;<br />

6. Regularização dos cultivos com a Dispensa<br />

de Licença Ambiental;<br />

7. Autorização Direta para os cultivos em área<br />

de Reservas Extrativistas;<br />

8. Regularização da atividade de ostreicultura<br />

no Estado do Pará, pela Adepará.<br />

© Carlos Borges | SEBRAE - Pará<br />

MAR/ABR 2019<br />

32


Tabela 1. Evolução da ostreicultura no estado do Pará.<br />

Houve divulgação do projeto em feiras e festivais<br />

de negócios, além de destaques na imprensa regional e<br />

nacional. O projeto também recebeu dois importantes<br />

prêmios: Prêmio internacional na categoria “Melhoria<br />

da Produtividade e Inovação nas MPEs”, no concurso<br />

“Transformando Vidas”, em 2018, pelo Programa AL-Invest<br />

5.0, na Guatemala; e o Prêmio Inovação Aquícola<br />

2019, vencedor na categoria Produção, a mais concorrida<br />

da premiação, com 21 projetos inscritos. O projeto<br />

paraense recebeu 1.242 votos, somando 48,5% da votação<br />

geral do Prêmio.<br />

Conclusão<br />

A ostreicultura no Pará, único estado na região Norte<br />

com cultivo de ostras da Amazônia, é vista hoje como<br />

importante alternativa de inclusão sócio produtiva, cujo<br />

diferencial está na busca da sustentabilidade. Com o projeto<br />

Ostras da Amazônia - Negócios Sustentáveis, foi<br />

possível a implementação de cultivos que preservam o<br />

meio ambiente, geram renda para os produtores locais e<br />

promovem a conservação dos bancos naturais do estado<br />

do Pará.<br />

Para o biênio 2019 – 2020, o projeto, através da<br />

Rede Nossa Pérola, tem como principais objetivos:<br />

1) Registro para agroindústrias com Serviço de Inspeção<br />

Estadual SIE e Serviço de Inspeção Federal - SIF,<br />

qualificando a ostra para comercialização de acordo as<br />

legislações vigentes;<br />

2) Registro da marca “Ostras da Amazônia” através do<br />

Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI;<br />

3) Aumento da produção de ostras em 71% (de<br />

70.628 para 120.800 dúzias), e consequentemente, o<br />

aumento de faturamento<br />

para<br />

os produtores,<br />

estimado em R$<br />

1.207,700 (hum<br />

milhão, duzentos e<br />

sete mil e setecentos<br />

reais).<br />

MAR/ABR 2019<br />

33


© Capri23auto<br />

MAR/ABR 2019<br />

34


Microbiota intestinal<br />

em peixes de aquicultura<br />

José Pablo Fuentes Quesada<br />

Zootecnista e especialista em nutrição aquícola<br />

Centro de Investigación Científica y Educación Superior de Ensenada<br />

Baja California, México<br />

pablofuentesq@gmail.com<br />

O<br />

trato gastrointestinal (TGI) é responsável<br />

por processos fisiológicos vitais como<br />

osmoregulação, digestão dos alimentos,<br />

absorção de nutrientes,<br />

regulação endócrina, resposta<br />

imune, eliminação de<br />

metabolitos tóxicos, além<br />

de funcionar como uma<br />

barreira de defesa contra<br />

agentes patogênicos. Por<br />

sua vez, a mucosa intestinal<br />

é colonizada principalmente<br />

por bactérias e, em menor<br />

escala, por leveduras, vírus,<br />

archaea e protozoários. Esta<br />

comunidade complexa de<br />

microrganismos benéficos que<br />

estão presentes no TGI de<br />

peixes, e que formam relações<br />

comensais ou de mutualismo<br />

com o hospedeiro, é o que<br />

chamamos de microbiota. A<br />

importância do papel desses<br />

microrganismos no TGI devese<br />

ao fato de que a relação<br />

simbiótica que prevalece<br />

entre a microbiota e o hospedeiro é fundamental<br />

para manter a homeostase do organismo.<br />

Os estudos sobre a microbiota intestinal têm<br />

aumentado nos últimos anos, devido aos avanços<br />

na tecnologia de sequenciamento de nova geração,<br />

que permitiram reduzir o<br />

custo de identificação da<br />

composição e riqueza de<br />

comunidades microbianas<br />

presentes nas membranas<br />

das mucosas dos peixes.<br />

Estas novas tecnologias<br />

abriram a possibilidade de<br />

estudar a relação entre a<br />

microbiota e homeostase<br />

dos peixes, permitindo a<br />

compreensão em maior<br />

detalhe da composição<br />

e do metabolismo da<br />

microbiota, e seu efeito<br />

sobre a fisiologia e saúde<br />

do hospedeiro. Não é de<br />

se admirar que esta estreita<br />

relação remonta a milhares<br />

de anos de co-evolução,<br />

onde a sobrevivência<br />

e inúmeros processos<br />

metabólicos podem ser realizados completamente ou<br />

facilitados por essas comunidades de microrganismos.<br />

Esta comunidade<br />

complexa de<br />

microrganismos benéficos<br />

que estão presentes no<br />

TGI de peixes, e que<br />

formam relações comensais<br />

ou de mutualismo com<br />

o hospedeiro, é o que<br />

chamamos de microbiota.


Microbiota transitória e residente<br />

As bactérias que estão presentes no intestino dos<br />

peixes podem ser classificadas de acordo com a sua<br />

interação com o hospedeiro como microbiota transitória,<br />

que são incapazes de aderir à superfície da mucosa<br />

do TGI, e estão geralmente presentes nas fezes,<br />

podendo ser patogênicas. Já a microbiota residente é<br />

capaz de colonizar e se estabelecer na mucosa do TGI.<br />

Dentro da microbiota residente, existe a presença<br />

de diversos táxons de bactérias no intestino que são<br />

semelhantes entre os peixes da mesma espécie e entre<br />

espécies de diferentes regiões geográficas, o que sugere<br />

que há um grupo de bactérias que têm um papel<br />

importante nas funções de TGI e no estado geral do<br />

hospedeiro, sendo chamado de microbiota intestinal<br />

central.<br />

O papel da microbiota<br />

A microbiota desempenha um papel essencial<br />

para o bom desenvolvimento e maturação de TGI e<br />

o sistema imune em peixes, através da regulação da<br />

expressão molecular associada com a proliferação e<br />

diferenciação intestinal, o metabolismo dos nutrientes<br />

e genes de resposta inata.<br />

Os animais cultivados em ambiente estéril<br />

apresentam: diferenciação incorreta do epitélio<br />

intestinal, diminuição da atividade de fosfatase<br />

alcalina na borda em escova, perda da capacidade de<br />

absorver macromoléculas, e redução na presença de<br />

células mucosas e enteroendócrinas, que sublinha a<br />

importância da microbiota em uma funcionalidade<br />

intestinal adequada. São também identificadas<br />

bactérias na microbiota intestinal que contribuem para<br />

a produção de vitaminas e enzimas exógenas como<br />

celulases, quitinases e fitases, para melhorar o processo<br />

digestivo nos peixes.<br />

Enquanto isso, as bactérias residentes fazem<br />

parte da primeira linha de defesa no intestino quando<br />

participam na regulação da permeabilidade paracelular,<br />

na produção de biofilmes segregando peptídeos<br />

antimicrobianos que limitam a colonização do<br />

patógeno.<br />

Fatores de influência na composição e<br />

abundância<br />

A composição e abundância da microbiota é<br />

influenciada pelo nível trófico, época do ano, salinidade,<br />

origem dos animais (selvagens ou cultivados) e tipo de<br />

dieta (Figura 1). Por exemplo, a maior diversidade de<br />

microbiota intestinal em peixes herbívoros, onívoros e<br />

planctófagos, em comparação com peixes carnívoros,<br />

está associada a intestinos mais longos.<br />

Uma microbiota mais diversificada facilita os<br />

processos de fermentação de material de origem<br />

vegetal da dieta (Figura 2). Da mesma forma, foi relatado<br />

que um aumento superior a 21 °C na temperatura<br />

da cultura reduz a abundância de bactérias do ácido<br />

láctico (BAL) do intestino no salmão do Atlântico, e<br />

tem sido associado a um efeito protetor mais baixo do<br />

BAL contra bactérias patógenas como Vibrio spp. Neste<br />

sentido, quando ocorre uma mudança no equilíbrio da<br />

microbiota que modifica sua funcionalidade e afeta a<br />

Figura 1. Alterações nos fatores bióticos e abióticos afetam a composição e funcionalidade da microbiota que se reflete no<br />

crescimento, estado de saúde, utilização de alimentos, entre outros (Adaptada de Ghanbari et al., 2015).<br />

Fatores bióticos e abióticos<br />

• Estilo de vida do<br />

animal<br />

• Genótipo • Fisiologia • Sistema<br />

imune<br />

• Comunidade<br />

transitória<br />

• Meio<br />

ambiente<br />

MAR/ABR 2019<br />

•Mudança na composição<br />

(filogenia)<br />

Microbiota intestinal do peixe<br />

•Mudança no metabolismo microbiano<br />

•Mudança no nível de<br />

expressão dos genes<br />

Hospedeiro<br />

Mudança no fenótipo:<br />

•Crescimento • Desempenho • Sanidade • Absorção de • Eficiência<br />

energia alimentar<br />

• Taxa de conversão<br />

alimentar<br />

36


Figura 2. Peixe carnívoro: a) Oncorhynchus mykiss; peixes onívoros/herbívoros: b) Ictalurus punctatus, c) Cyprinus carpio; peixe planctófico:<br />

d) Chanos chanos (Adaptado de FAO, 1980).<br />

Boca Esôfago Estômago<br />

Intestino<br />

médio<br />

Intestino<br />

posterior<br />

A<br />

Seco<br />

pilórico<br />

A<br />

B<br />

B<br />

Vesícula biliar<br />

C<br />

C<br />

D<br />

Moela<br />

D<br />

saúde ou o desempenho do hospedeiro, é chamado<br />

disbiose (Figura 3).<br />

No que diz respeito à dieta, tem sido demonstrado<br />

que a inclusão de ingredientes vegetais como<br />

substituto da farinha de peixe provoca uma diminuição<br />

na sobrevivência e crescimento em várias espécies<br />

cultivadas na aquicultura. Estes efeitos adversos são<br />

mais evidentes em espécies carnívoras de peixes<br />

marinhos, onde tem sido relacionado a um aumento<br />

na incidência de alterações intestinais, como a enterite,<br />

devido a fisiologia digestiva e a microbiota não estarem<br />

totalmente adaptadas para o uso de proteínas vegetais.<br />

Essas consequências estão associadas com mudanças<br />

na microbiota e tem sido proposto que a abundância<br />

relativa de certas bactérias pode ser usada como<br />

biomarcadores de saúde intestinal.<br />

Neste contexto, onde todos os dias há uma<br />

busca por dietas livres de farinha de peixe, o estudo<br />

sobre o efeito de novos ingredientes alternativos<br />

(insetos, microalgas, microbiana) permitiria identificar<br />

populações que são moduladas e possíveis interações<br />

negativas ou positivas com o hospedeiro, a fim de<br />

promover uma microbiota saudável para manter o<br />

desempenho, a saúde e o bem-estar ótimo dos peixes,<br />

visando promover a aquicultura sustentável.<br />

Figura 3. Interação da microbiota hospedeira durante a homeostase<br />

e disbiose (Tirada de Llewellyn et al., 2014).<br />

MAR/ABR 2019<br />

37


© Jéssica Brol | <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong><br />

MAR/ABR 2019<br />

38


A Economia Circular na<br />

Indústria de pescado:<br />

Panorama e desafios para a implantação<br />

de sistemas produtivos<br />

Ms Eng. Alexandre Gobbo Fernandes<br />

Consultor Associado GEOCIDADES<br />

Membro sênior da CEP-Americas (Circular Economy<br />

Platform of the Americas)<br />

Consultor especialista em Economia Circular<br />

geocidades.consultoria@gmail.com<br />

Eng. Fabrício Flores Nunes<br />

Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação<br />

Tecnológica do Instituto de Pesquisa, Extensão Rural<br />

e Organismos Aquáticos – PEROÁ<br />

Consultor em Aquicultura Biotecnológica e Novos Negócios<br />

fabriciofloresnunes@gmail.com<br />

A Economia Circular e a indústria de<br />

alimentos<br />

O a agenda por um<br />

consumo humano de alimentos tem um<br />

papel relevante para<br />

desenvolvimento sustentável.<br />

Levantamentos e cálculos da<br />

rede “Global Footprint Network”<br />

site que monitora a pegada<br />

ecológica e a biocapacidade<br />

que ainda é mantida em todo<br />

o mundo, defende que todos<br />

os países, indiferente de seu<br />

nível de desenvolvimento, têm<br />

grande responsabilidade sobre<br />

os desperdícios de alimentos.<br />

Como um exemplo do impacto,<br />

nos Estados Unidos estimase<br />

que 40% dos alimentos<br />

sejam desperdiçados, o que é<br />

equivalente à Pegada Ecológica<br />

total do Peru e da Suécia<br />

combinada, ou a biocapacidade<br />

total da Alemanha. Em relação<br />

ao pescado, segundo o último relatório sobre o<br />

“Estado da Pesca e Aquicultura Mundial”, SOFIA<br />

(FAO, 2018) estima-se que a perda seja de 35% do<br />

volume capturado.<br />

Nos Estados Unidos<br />

estima-se que 40%<br />

dos alimentos sejam<br />

desperdiçados, o que é<br />

equivalente à Pegada<br />

Ecológica total do Peru e<br />

da Suécia combinada.<br />

Em abril de 2019 foi apresentada pelo Ministério<br />

da Agricultura Holandês, uma abordagem circular<br />

e de sustentabilidade para o sistema agro-alimentar<br />

na “Oficina para Qualidade Alimentar e Natureza”<br />

realizada pela OECD em Paris,<br />

no artigo intitulado “Circular<br />

Approach and the Sustainability<br />

of the Agro-food System”. O<br />

documento, muito aprofundado<br />

e técnico no tema, coloca<br />

desde o início que o conceito<br />

da economia circular no sistema<br />

agroalimentar está relacionado<br />

à diversas questões ao longo<br />

de toda a cadeia de produção<br />

de alimentos. Nele, diversas<br />

questões são apontadas para<br />

a mudança para um modelo<br />

de produção mais circular,<br />

destacando três pontos chaves:<br />

a) redução do desperdício<br />

de alimentos e emissões na<br />

produção de alimentos -<br />

incluindo gases de efeito estufa;<br />

b) reciclagem de embalagens<br />

de alimentos e plástico, em particular e;<br />

c) uso em cascata de produtos alimentícios,<br />

incluindo o uso para fertilizantes (Cingiz; Wesseler,<br />

2019).<br />

MAR/ABR 2019<br />

39


MAR/ABR 2019<br />

Segundo dados do Global Footprint Network (2019):<br />

1,3 bilhão<br />

de toneladas/ano<br />

Cerca de um terço dos<br />

alimentos produzidos no<br />

mundo para consumo<br />

humano - 1,3 bilhão<br />

de toneladas a cada<br />

ano - são perdidos ou<br />

desperdiçados;<br />

A demanda atual por<br />

alimentos representa<br />

26% da Pegada<br />

Ecológica global e<br />

a quantidade de<br />

alimentos descartados<br />

pelos países, tanto<br />

de alta quanto baixa<br />

renda, equivale a 9%<br />

da Pegada Ecológica da<br />

humanidade.<br />

A Economia Circular também é apontada como<br />

uma estratégia efetiva para alcançar os objetivos<br />

de desenvolvimento sustentável, não apenas para<br />

consumo e produção responsáveis (Objetivo 12),<br />

como também para atingir o objetivo de Fome<br />

Zero (Objetivo 2) . Os sistemas circulares, tanto<br />

para produção de alimentos quanto para as práticas<br />

agrícolas, assim como o uso de materiais mais naturais<br />

e produtos biodegradáveis fechando o ciclo biológico<br />

de produção, pretendem ajudar a reduzir o uso de<br />

água e fertilizantes e reduzir a contaminação de<br />

alimentos. Com as práticas de distribuição e modelos<br />

de compartilhamento, previstos numa Economia<br />

Circular, para os equipamentos agrícolas, atesta-se que<br />

seria possível influenciar positivamente em mudanças<br />

desejadas para criar cadeias de valor agrícolas mais<br />

sustentáveis, com a redução de perdas de alimentos<br />

ao mesmo tempo aumentando a produtividade<br />

(Schroeder; Anggraeni; Weber, 2018).<br />

O impacto das práticas de Economia Circular<br />

em setores como silvicultura e agricultura são<br />

considerados particularmente relevantes para os<br />

contextos dos países em desenvolvimento pois<br />

podem gerar economias agrícolas circulares capazes<br />

de promover sistemas alimentares locais e sustentar<br />

meios de subsistência. A noção de uma Economia<br />

Circular “restabelecedora e regenerativa por design”<br />

é considerada um fator relevante para esses dois<br />

setores, pois define a sustentabilidade do desempenho<br />

e produtividade dos setores florestal e agrícola com<br />

práticas que visam restaurar e ao mesmo tempo não<br />

diminuir a capacidade regenerativa dos ecossistemas<br />

(Preston; Lehne, 20<strong>17</strong>).<br />

A Economia Circular e a realidade<br />

brasileira<br />

Para aumentar suas chances de êxito para gerar<br />

benefícios sociais em ambientes socioeconômicos<br />

como do <strong>Brasil</strong>, a economia circular precisaria<br />

ser adaptada ao contexto local, bem como as<br />

tecnologias aplicadas precisariam associar os saberes<br />

da população local ao conhecimento científico.<br />

Tecnologias comprovadas e descentralizadas, capazes<br />

de restaurar os nutrientes orgânicos para o solo<br />

para melhorar a produção de alimentos e causar<br />

impactos ambientalmente positivos são exemplos<br />

voltados à economia circular. Isso é o que aponta um<br />

trabalho da organização TEARFUND que investigou<br />

os benefícios da economia circular no contexto<br />

brasileiro e mostrou que o uso de biodigestores para<br />

tratamento de estrume direcionado à produção de<br />

fertilizantes e gás de cozinha são tecnologias circulares<br />

efetivas para países como o <strong>Brasil</strong> (inclusive existem<br />

experimentos produzindo gás a partir de carapaças<br />

de camarão, veremos isso nos próximos artigos). O<br />

mesmo trabalho conclui que a busca pelos benefícios<br />

sociais da Economia Circular inclui mudanças nas<br />

práticas de produção de alimentos. A economia<br />

circular poderia contribuir em comunidades pobres<br />

que sofrem desigualdades e falta de oportunidades<br />

ao ser utilizada de maneira apropriada para atuar de<br />

forma complementar a modelos de produção agrícola<br />

baseado na Agroecologia, fundamentando-se em<br />

quatro pilares: sustentabilidade, estabilidade, resiliência<br />

e capital próprio - com grande potencial para responder<br />

a situações de exclusão e invisibilidade, endereçando<br />

problemas de desigualdade, protagonismo e dignidade<br />

das pessoas (Fernandes, 2016).<br />

Para criar uma indústria do pescado baseada em<br />

uma economia circular é então, essencial, dar apoio<br />

às comunidades locais para que possam conceber<br />

sistemas de produção que sejam regenerativos, que<br />

não esgotem as populações de peixes ou danifiquem<br />

os ecossistemas aquáticos. Com esta premissa, buscase<br />

atividades de pesca e aquicultura mais resilientes e<br />

viáveis para as gerações futuras. Na publicação de 2019<br />

da FARNET, rede da UE no âmbito do Fundo Europeu<br />

dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), que<br />

integra grupos de ação local, autoridades de gestão,<br />

40


cidadãos e peritos, empenhados no desenvolvimento<br />

das comunidades locais, são reunidos casos e estratégias<br />

para a implementação da economia circular em<br />

zonas pesqueiras e aquícolas. O trabalho abrangente<br />

realizado por Burch et al. (2019) apresenta como a<br />

implementação de sistemas econômicos circulares<br />

poderiam ajudar os produtores e processadores locais<br />

a adaptar seu trabalho para criar formas de valorizar ao<br />

máximo os recursos utilizados nos processos, em vez<br />

de desperdiçá-los. Neste sentido, para planejar sistemas<br />

econômicos circulares e concretizar este objetivo em<br />

um dado sistema específico (baía, enseada, município,<br />

porto, região, etc), é necessário que os estoques e<br />

fluxos de materiais (água, comida, excremento, águas<br />

residuais, etc) e substâncias (nitrogênio, fósforo, carbono<br />

ou CO 2<br />

, GEE’s, etc.) sejam quantificados e avaliados. De<br />

forma geral, modelos econômicos circulares abrangem<br />

diversos pontos de mudanças na visão estratégica, que<br />

impactam nas várias etapas da cadeia de valor, conforme<br />

pode ser observado na figura 1.<br />

A colaboração para criar uma economia circular<br />

muitas vezes envolve a utilização compartilhada de<br />

serviços e infraestruturas que possibilitem trocas<br />

recíprocas e benéficas entre as diferentes partes em<br />

um território, destaca o trabalho. A chamada “Simbiose<br />

Industrial” envolve a colaboração de todas as partes<br />

interessadas dentro de um raio geográfico relativamente<br />

pequeno para o intercâmbio de subprodutos e resíduos<br />

das atividades produtivas, valorizados como insumos.<br />

Exemplos de iniciativas que vêm apresentando<br />

resultados positivos são:<br />

• O trabalho conjunto para desenvolver novas<br />

cadeias de valor a partir das conchas de ostras como<br />

insumo para produção de ração animal, fertilizantes,<br />

tinta para estradas, filamentos para impressoras 3D e<br />

solas de sapato, realizado por 20-25 produtores de<br />

ostras e uma fábrica local, em associação com um<br />

laboratório de pesquisa na região de Auray e Vannes,<br />

França;<br />

• O apoio para testar um sistema circular na qual<br />

os resíduos de restaurantes locais são coletados e<br />

utilizados para produzir insetos, transformados em<br />

farinha de proteína para ração de peixes destinada à<br />

aquicultura, realizado pelo Instituto Oceanográfico<br />

Paul Ricard em Esterel Côte d’Azur;<br />

O mesmo trabalho destaca benefícios potenciais da<br />

implementação de modelos econômicos circulares para<br />

este setor:<br />

• Otimizar o uso dos insumos de matéria-prima virgem;<br />

• Diminuir a geração de resíduos, descartados para<br />

incineração ou aterro (duas práticas que incorrem em<br />

grandes riscos ao meio ambiente);<br />

Figura 1. Algumas das perguntas estratégicas que devem ser feitas para estimular a reflexão sobre o potencial para o planejamento de<br />

sistemas econômicos circulares que constituam mudanças estruturadoras das etapas da cadeia de valor de pescado.<br />

MAR/ABR 2019<br />

41


MAR/ABR 2019<br />

• Desenvolver mais formas de gerar valor na<br />

produção, com insumos, produtos e processos;<br />

• Aumentar a resiliência da produção realizada por<br />

comunidades.<br />

Além da recuperação de resíduos como matériaprima<br />

de alto valor, numa Economia Circular<br />

produtores deverão repensar a maneira de usar os<br />

equipamentos e máquinas de pesca e aquicultura.<br />

Para tanto, produtores colaborando em toda a cadeia,<br />

precisam questionar alguns processos e práticas atuais<br />

em busca de soluções inovadoras e novos modelos de<br />

comercialização que irão exigir a agregação de mais<br />

atividades e atores à cadeia de valor. Neste sentido,<br />

modelos de compartilhamento e contratos de aluguel<br />

e leasing ao invés da transferência de posse, devem ser<br />

desenvolvidos para incluir a manutenção e a revenda e<br />

prever a remanufatura e o upgrade de equipamentos,<br />

utensílios e instalações. Sistemas econômicocirculares,<br />

exigirão ainda diferentes cadeias de logística<br />

e redistribuição, tanto para recuperação do valor de<br />

resíduos quanto para a utilização compartilhada de<br />

equipamentos, utensílios e instalações pelo máximo de<br />

tempo e qualidade, e demandando regulamentações<br />

adequadas para as novas atividades da cadeia circular<br />

de produção.<br />

Conclusão<br />

A economia circular depende da colaboração entre<br />

produtores. Sua finalidade é maximizar o uso eficiente<br />

e efetivo de materiais e isso envolve compartilhar<br />

recursos e estabelecer correspondências entre as<br />

atividades produtivas e as necessidades de insumos das<br />

partes de um sistema produtivo. Para tanto, existem<br />

algumas etapas para planejar cadeias de valor para uma<br />

economia circular:<br />

1. Analisar o potencial dos modelos em<br />

economia circular para as cadeias de valor;<br />

2. Conscientização para mudar a mentalidade e<br />

o comportamento nas atividades e operações;<br />

3. Aprofundamento nos conceitos e incentivo ao<br />

empreendedorismo;<br />

4. Estabelecer arranjos e associações para<br />

colaboração, compartilhamento e simbiose industrial;<br />

5. Repensar modelos de negócios baseados<br />

na posse de produtos e atrair investimentos para<br />

inovações.<br />

Para o setor de pescado, encontrar sinergias e<br />

estabelecer associações construtivas essenciais em<br />

nível local, é fundamental o desenvolvimento de<br />

relações entre pescadores, produtores de aquicultura,<br />

indústrias, sociedade civil e instituições locais. Isso<br />

pode acontecer no nível de uma única iniciativa, como<br />

a criação de uma cadeia de fornecimento de conchas<br />

de moluscos ou de carapaças de crustáceos, que<br />

exigirá o envolvimento de várias partes interessadas<br />

e dependendo da escala de atuação, pode ser ser<br />

necessário mobilizar mais parceiros, identificar e<br />

apoiar o desenvolvimento de ideias inovadoras para<br />

atividades específicas em economia circular e estudar<br />

outras sinergias.<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

Indústria de pescado e o plástico (Burch et al. 2019):<br />

Graças à sua natureza resistente à decomposição,<br />

o plástico provou ser extremamente eficaz no meio<br />

marinho. A indústria de pescado é, como outras,<br />

também dependente do plástico para, por exemplo,<br />

as artes de pesca, equipamento de aquicultura,<br />

engradados, embalagem, etc (Figura 02). No entanto,<br />

o plástico é um material não biodegradável derivado<br />

de combustíveis fósseis, que causam prejuízo aos<br />

ecossistemas marinhos.<br />

De fato, as comunidades piscatórias estão bem<br />

conscientes das consequências devastadoras que os<br />

microplásticos têm para os organismos marinhos. Mais<br />

de 80% do lixo marinho da Europa é composto de<br />

plástico de diferentes tipos e estima-se que 27% (11<br />

000 toneladas) são resíduos de plástico de artes de<br />

pesca (redes, cordas, barcos, armadilhas, etc.). Isso<br />

faz com que o manejo do plástico seja uma prioridade<br />

também para pescadores e produtores de aquicultura,<br />

se desejarem um ecossistema marinho saudável capaz<br />

de manter a produtividade da atividade (Figura 03).<br />

Exemplos de inovações que substituem o plástico<br />

de fontes fósseis:<br />

• Novo composto bioplástico biodegradável com<br />

base biológica e compostável, fabricado industrialmente<br />

a partir de conchas de ostras. Este material poderia ser<br />

usado para criar coletores de sementes de ostra;<br />

• A corda usada para cultivo de mexilhões foi<br />

substituída por algodão biodegradável. Esta solução foi<br />

copiada do sistema Hairy Rope da Nova Zelândia e,<br />

além de respeitar o meio ambiente, é mais eficaz para<br />

semear filetes e coletar mexilhões.<br />

42


Figura 2. Estrutura de cultivo de ostras fazendo uso de bombonas e outras embalagens plásticas como flutuadores. A atividade de<br />

cultivo de moluscos marinhos muitas vezes tem mais viés social do que econômico, impossibilitando o produtor adquirir materiais<br />

e petrechos específicos, ou pelo inexistência no mercado nacional ou pelo alto custo de aquisição de equipamentos importados de<br />

países com produção consolidada.<br />

Figura 3. Bombonas plásticas específicas para serem utilizadas como flutuadores separadas para a reciclagem. A combinação água<br />

do mar e exposição ao sol e intempéries diminui a vida útil dos polímeros, mesmo que específicos. O tempo de vida de polímeros<br />

reutilizados ou adaptados é muito menor, e também menos resistentes aos manejos diários. Estas bombonas são de fazendas de<br />

cultivo de ostras na Tasmânia.<br />

© ABC Rural - Laurissa Smith<br />

MAR/ABR 2019<br />

© amdro2003.blogspot.com<br />

43


MAR/ABR 2019<br />

44


BluEco Net – Workshop sobre<br />

Aquicultura Multitrófica<br />

Integrada e o futuro da<br />

aquicultura sustentável no<br />

<strong>Brasil</strong><br />

Maria Angélica Reis*<br />

William Bauer<br />

Doutores em Aquicultura<br />

Kona Blue Aquacultura, Tecnologia e Alimentos<br />

Sustentáveis<br />

*angelicareis@konablue.com.br<br />

Rafael Mansano Martins<br />

Zootecnista<br />

Kona Blue Aquacultura, Tecnologia e Alimentos<br />

Sustentáveis<br />

Atualmente, a Aquacultura<br />

Multitrófica<br />

Integrada (ou na<br />

sua sigla em inglês IMTA ou<br />

Integrated Multitrophic <strong>Aquaculture</strong>)<br />

tem ganhado popularidade<br />

principalmente pelas<br />

práticas de produção de alimentos<br />

sustentáveis em todo<br />

o mundo. As operações pioneiras<br />

bem sucedidas, as pesquisas<br />

científicas, publicação<br />

de documentos e realização<br />

de projetos, bem como surgimento<br />

de linhas de financiamento<br />

disponíveis dedicados<br />

ao tema comprovam isso.<br />

Face ao exposto, a BluEco<br />

Net e a Universidade Federal<br />

de Santa Catarina (UFSC)<br />

realizaram um workshop sobre<br />

este tema voltado para a<br />

indústria aquícola nacional. A<br />

BluEco Net é uma cooperação<br />

. O objetivo foi<br />

determinar o interesse<br />

da indústria no IMTA no<br />

<strong>Brasil</strong>, os atuais gargalos<br />

de implementação, uma<br />

agenda de pesquisa<br />

em sintonia com as<br />

necessidades da indústria,<br />

bem como para interligar os<br />

mercados internacionais.<br />

bi-lateral entre <strong>Brasil</strong> e Alemanha,<br />

cuja temática é voltada para<br />

pesquisas sobre bioeconomia<br />

e aquicultura, focando em toda<br />

cadeia de valor dessa atividade.<br />

Juntos, a rede incentiva projetos<br />

que desenvolvem novas tecnologias<br />

e processos para melhoria<br />

dos aspectos ambientais e econômicos<br />

destas duas áreas temáticas.<br />

O evento ocorreu nos<br />

dias 18 e 19 de junho de 2019,<br />

em Florianópolis, Santa Catarina,<br />

e reuniu pesquisadores<br />

nacionais e internacionais, especialistas<br />

do setor e a iniciativa privada.<br />

O objetivo foi determinar<br />

o interesse da indústria no IMTA<br />

no <strong>Brasil</strong>, os atuais gargalos de<br />

implementação, uma agenda<br />

de pesquisa em sintonia com as<br />

necessidades da indústria, bem<br />

como para interligar os mercados<br />

internacionais.<br />

MAR/ABR 2019<br />

45


O Secretário Nacional de<br />

Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior,<br />

com o professor Dr. Walter Seiffert<br />

da UFSC, após sua apresentação no<br />

workshop. © Instagram @lcmufsc<br />

Fábio Pereira, coordenador do BluEco<br />

Net, durante sua apresentação da<br />

rede no workshop em Florianópolis.<br />

© Instagram @lcmufsc<br />

MAR/ABR 2019<br />

Participaram do workshop universidades<br />

brasileiras (UFSC, FURG, CAUNESP,<br />

UEM, UFPB), além da EMBRAPA e EPA-<br />

GRI, e empresas privadas Redemar Alevinos,<br />

Kona Blue Aquacultura, Maricultura<br />

Itapema, Maricultura Costa Verde, Agertek,<br />

SynbiAqua, Lohn Bier, entre outras. Como<br />

convidados internacionais, estiveram presentes<br />

pesquisadores do Alfred Wegener<br />

Institute (Alemanha), Centro de Investigaciones<br />

Biológicas del Noroeste – CIBNOR<br />

(México), além de empresas do setor sediadas<br />

em Portugal e Alemanha.<br />

Durante o evento foram apresentadas<br />

iniciativas de produção e resultados<br />

de pesquisas em sistemas multitróficos,<br />

bem como em outras áreas de aquicultura<br />

sustentável, como bioflocos e aquaponia.<br />

A discussão girou em torno dos gargalos<br />

para a produção em IMTA, sobretudo regulamentação<br />

específica e licenciamento<br />

desta nova atividade. O workshop contou<br />

com a presença do Secretário Nacional de<br />

Aquicultura e Pesca, Sr. Jorge Seif Exemplar da “cerveja<br />

Júnior, que se comprometeu a multitrófica” da<br />

cervejaria Lohn Bier,<br />

atender prontamente os interessados<br />

no setor, de modo a elaborar<br />

Gose Salicórnia.<br />

normativas e soluções para facilitar<br />

a implantação de novos projetos.<br />

Foi possível também, durante o<br />

evento, degustar a Gose Salicornia, a chamada<br />

“cerveja multitrófica” da Lohn Bier,<br />

cervejaria de Lauro Muller-SC. Esse tipo de<br />

cerveja especial possui sabores dominantes<br />

de acidez de limão, característica herbácea<br />

e forte salgado, e para isso foi utilizada a<br />

Salicornia produzida pela UFSC em um<br />

sistema IMTA. A BluEco Net realiza eventos<br />

anuais no <strong>Brasil</strong>, e o programa está em<br />

vias de ser renovado por mais três anos.<br />

Os próximos passos são estreitar os laços<br />

entre as universidades e empresas brasileiras<br />

e internacionais, produzir artigos científicos,<br />

patentes e desenvolver protocolos<br />

para uma aquicultura sustentável econômica<br />

e ambientalmente.<br />

46


Soluções para quem procura<br />

resultados consistentes.<br />

Conheça os produtos da Phibro para aquacultura.<br />

A formulação exclusiva para tilápias e camarão do<br />

PAQ-Gro<br />

TM<br />

auxilia no desempenho e status de saúde dos animais.<br />

O BioPlus ® PS auxilia no equilíbrio da microbiota intestinal<br />

melhorando o ganho de peso e eficácia alimentar.<br />

Distribuidor exclusivo:


Empresa:<br />

Escama<br />

Forte<br />

Braço direito<br />

MAR/ABR 2019<br />

Com anos de tradição, a Escama Forte<br />

faz parte de um grupo empresarial com<br />

atuação nacional e unidades próprias de<br />

comercialização em Natal/RN,<br />

Acaraú/CE, Aracati/CE, Brejo<br />

Grande/SE e mais recentemente<br />

em Itabaiana/PB, além de<br />

possuir uma unidade de produção<br />

de tilápias em tanques-rede<br />

localizada em Zacarias/SP, e<br />

contar com diversos representantes<br />

técnicos em todo o território<br />

brasileiro.<br />

A Escama Forte utiliza a<br />

tecnologia como ferramenta<br />

principal na hora de melhorar<br />

o desempenho produtivo da<br />

aquicultura. Dessa forma, visa<br />

sempre contribuir com o crescimento<br />

e a consolidação do<br />

segmento no <strong>Brasil</strong>, gerando<br />

valor para clientes, fornecedores e colaboradores<br />

de uma forma justa. Sem deixar de lado a competitividade<br />

com ética, a excelência com simplicidade<br />

e os resultados com integridade, tem o objetivo de<br />

O braço direito de todo<br />

aquicultor tem nome<br />

e sobrenome: Escama<br />

Forte.<br />

estar entre os principais fornecedores de produtos<br />

e insumos da aquicultura brasileira.<br />

Distribuidor das marcas INVE, Phytobiotics,<br />

Nutriad, Organpesc, ASTEN,<br />

REHAU, BIORIGIN, Alfakit,<br />

CARBONOR, Bonkoski, Classifish,<br />

Super Pond, Akso, entre<br />

outras, a Escama Forte tem<br />

uma linha completa de probióticos<br />

e bioremediadores,<br />

aeradores de todos os modelos,<br />

medicamentos, promotores<br />

de crescimento naturais,<br />

equipamentos e kits de medição<br />

de parâmetros de qualidade<br />

de água. Conta ainda com<br />

o OxiAqua (oxigenador de<br />

emergência), alimentadores<br />

automáticos, Classifish (classificadora<br />

de peixes), bomba de<br />

transporte de peixes e camarões,<br />

redes (bagnets, puçás etc), Halamid (desinfetante<br />

e terapêutico), corretivos de água, bicarbonato,<br />

Lothar, calcários, entre outros, além de<br />

tudo isso, está sempre em busca de inovação e<br />

48<br />

Espaço empresa


Esp<br />

ço empresa<br />

soluções para atender de forma eficiente e satisfatória<br />

todos os clientes.<br />

A Escama Forte sempre participa de feiras e<br />

eventos ligados a aquicultura e realiza Workshops<br />

com o intuito de capacitar clientes e parceiros.<br />

Dentre esses eventos, podemos destacar a FENA-<br />

CAM (Feira Nacional de Camarão), que já se consolidou<br />

como o acontecimento técnico-científico e<br />

empresarial mais importante da Carcinicultura <strong>Brasil</strong>eira<br />

e Latino Americana, mantendo a tradição em<br />

mais de 15 anos de ser o evento que representa os<br />

segmentos da Carcinicultura, Piscicultura e Malacocultura,<br />

e acontece no Nordeste e do <strong>Brasil</strong>.<br />

Presente também na Aquishow <strong>Brasil</strong>, que reúne<br />

integrantes da aquicultura mundial que buscam<br />

conhecimento, realização de negócios, novos mercados<br />

e tendências por<br />

meio de interação entre<br />

produtores e inovações<br />

tecnológicas do setor, a<br />

Escama Forte tem presença<br />

cativa no evento<br />

com o objetivo de<br />

aperfeiçoar práticas de<br />

produção e de desenvolvimento<br />

sustentável,<br />

através de novas técnicas<br />

e tecnologias voltadas para o incremento da aquicultura<br />

em tanques-rede ou viveiros escavados,<br />

ressaltando a importância da sustentabilidade da atividade<br />

com base nos aspectos econômico, social e<br />

ambiental.<br />

Portanto, você já sabe, quando o assunto é<br />

aquicultura, a Escama Forte é o parceiro que você<br />

precisa para obter os melhores resultados para o<br />

seu negócio. Acesse nossas redes sociais, entre em<br />

contato conosco e vamos iniciar mais uma história<br />

de sucesso juntos.<br />

CONTATO:<br />

(84) 99657-4771<br />

@escamaforte<br />

/Escama Forte <strong>Brasil</strong><br />

MAR/ABR 2019<br />

Espaço empresa<br />

49


An insight into advances in fisheries biology,<br />

genetics and genomics of African tilapia species<br />

of interest in aquaculture<br />

Autores: T. OlivierAmoussou, Issaka Youssao Abdou Karim, Guiguigbaza-Kossigan Dayo, Nawroz<br />

Kareem, Ibrahim Imorou Toko, Antoine Chikou e AboubacarToguyéni<br />

Na lista dos artigos mais citados da revista científica <strong>Aquaculture</strong> Amsterdã, a revisão<br />

tem como foco apresentar os marcadores moleculares que podem ser usados ​na genética<br />

molecular de identificação das espécies de tilápia. O uso ou não de um marcador genético<br />

depende de vários fatores e conhecê-los é importante para atender os reais objetivos de<br />

cada pesquisa.<br />

Entre os principais pontos destacados na revisão, estão:<br />

O uso de um marcador genético é condicionado pelas instalações<br />

disponíveis, pelos objetivos da pesquisa e pela relação qualidadepreço;<br />

Os marcadores moleculares mais utilizados para os estudos<br />

de Oreochromis niloticus e Sarotherodon melanotheron são<br />

atualmente mtDNA e SSR;<br />

MAR/ABR 2019<br />

Mitocondriais, SSRs, ISSRs e SNPs são ferramentas<br />

promissoras para a caracterização genética de tilápias,<br />

especialmente em suas impressões digitais, mapeamento<br />

de ligação, estudos genéticos populacionais e análises de<br />

paternidade;<br />

O DNA barcoding está provando ser uma ferramenta útil para<br />

identificar diferentes espécies de tilápia.<br />

Saiba mais em:<br />

https://doi.org/10.1016/j.aqrep.2019.100188<br />

50


um problema antigo<br />

deu a louca no e-commerce<br />

MAR/ABR 2019<br />

51


MAR/ABR 2019<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Laboratório de Cultivo de Algas<br />

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

roberto.derner@ufsc.br<br />

Pesquisas com Microalgas no LNEG/Portugal<br />

Nesta edição apresentamos algumas das atividades<br />

desenvolvidas na Unidade de Bioenergia (http://<br />

www.lneg.pt/iedt/unidades/4/) do Laboratório Nacional de<br />

Energia e Geologia (LNEG) situado em Lisboa, Portugal.<br />

As informações apresentadas foram obtidas por meio de<br />

material enviado pela Dra. Luisa Gouveia, Chefe do Autothrophic<br />

Microalgae Group.<br />

À Unidade de Bioenergia compete a realização de<br />

Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação: “no domínio das<br />

bioenergias, para a utilização de fontes renováveis de biomassa<br />

na produção de biocombustíveis e biomateriais; no<br />

domínio das biorrefinarias de biomassa, incluindo a biofixação<br />

de carbono, com vistas à diversificação das fontes<br />

energéticas, à diminuição da dependência de fontes<br />

externas e ao aumento da segurança do abastecimento;<br />

além do apoio às políticas públicas nacionais (de Portugal)<br />

nas áreas de biomassa, bioenergia e biocombustíveis”.<br />

Com uma competente equipe de pesquisadores, experiência<br />

de mais de 30 anos e uma expressiva produção<br />

científica, a Unidade de Bioenergia tem no portfólio do<br />

LNEG (http://www.lneg.pt/portfolio/mobile/index.html#p=1)<br />

informações sobre os inúmeros projetos desenvolvidos<br />

em parceria com outros laboratórios/empresas portuguesas<br />

e de outros países da Comunidade Europeia. Dentre<br />

estes projetos, o de maior dimensão é o ALGAVALOR<br />

(MicroALGAs: produção integrada e VALORização da biomassa<br />

e das suas diversas aplicações, http://www.lneg.pt/iedt/<br />

projectos/619/), que tem como objetivo geral a produção<br />

Figura I. ALGAVALOR - Unidade de bioenergia.<br />

Subprojeto 6<br />

Gestão e disseminação dos<br />

resultados<br />

•Valorização de<br />

microalga para<br />

Alimentação Humana<br />

Subprojeto 1<br />

•Tecnologia e Redução<br />

de Custos de Produção<br />

Subprojeto 4<br />

BIOTECNOLOGIA DE<br />

ALGAS<br />

integrada de microalgas e a valorização da sua biomassa e<br />

extratos em diferentes aplicações, estando previsto o desenvolvimento<br />

e lançamento de novos produtos nos mercados<br />

da alimentação humana, nutrição animal, cosmética<br />

e biofertilizantes, buscando novos processos produtivos e<br />

a sustentabilidade. O ALGAVALOR foi subdivido em um 6<br />

subprojetos (SP) específicos (Figura1): valorização de microalgas<br />

para alimentação humana (SP 1); valorização de<br />

microalgas para alimentação animal (SP 2); valorização de<br />

microalgas para cosmética natural (SP 3); desenvolvimento<br />

de novos processos, incluindo reatores abertos de nova<br />

geração, e a otimização dos processos existentes, tendo<br />

em vista a obtenção de ganhos de escala e eficiência (SP<br />

4); desenvolvimento de biofertilizantes agrícolas a partir de<br />

microalgas e aproveitamento de resíduos agroindustriais<br />

como inputs para a produção de “microalgas biológicas“<br />

numa lógica de economia circular (SP 5); e por último,<br />

pretende-se que o projeto ALGAVALOR tenha um grande<br />

impacto multissetorial, nacional e internacional, nas várias<br />

linhas que estão sendo experimentadas (SP 6).<br />

É fato que muitas pesquisas têm sido desenvolvidas<br />

visando ao emprego das microalgas/biomassa para a produção<br />

de biocombustíveis e, reconhecidamente, as atividades<br />

da Unidade de Bioenergia do LNEG são muito<br />

importantes e se somam àquelas de outros importantes<br />

grupos de pesquisa, os quais seguem buscando a viabilidade<br />

econômica desta atividade através de coprocessos e<br />

coprodutos.<br />

Subprojeto 2<br />

•Valorização de<br />

microalga para<br />

Alimentação Animal<br />

• Microalga para<br />

Cosmética Natural<br />

Subprojeto 5<br />

•Economia Circular<br />

•Tratamento de efluentes<br />

•Biofertilizantes<br />

Subprojeto 3<br />

LNEG<br />

52


Marcelo Shei<br />

Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos<br />

Santos, SP<br />

shei@altamar.com.br<br />

Notas sobre sistemas de recirculação<br />

nos centros de ensino e pesquisa<br />

Nas últimas décadas aumentou-se muito os estudos<br />

dos ambientes aquáticos e de seus organismos.<br />

Consequentemente, houve também, uma<br />

expansão do número de centros de pesquisa e dos<br />

cursos de formação relacionados nessa área. Muitos<br />

desses centros têm utilizado sistemas de recirculação<br />

de água (RAS) para fins didáticos e para desenvolvimento<br />

de estudos e ensaios. Atualmente, é relativamente<br />

comum, encontrarmos a descrição da utilização<br />

de algum tipo de RAS na metodologia dos artigos<br />

científicos. Com isso, nesta oportunidade, faço aqui<br />

algumas notas, à respeito do uso de RAS para essa<br />

finalidade.<br />

Quanto ao ensino, a utilização de estruturas compactas<br />

permite a manutenção de peixes, anfíbios, crustáceos<br />

e outros organismos em diferentes estágios de<br />

desenvolvimento. Assim, os estudantes conseguem<br />

entender o seu comportamento, modo de vida e a<br />

interação com o ambiente ao redor.<br />

Já para a utilização dos sistemas de pesquisa, tenho<br />

observado uma falta de padronização, o que dificulta<br />

o entendimento e reprodução das condições experimentais.<br />

Como boa parte dos artigos não são sobre<br />

RAS, os revisores também tendem a não dar muita<br />

atenção nesse tema. Listo aqui, três exemplos comuns<br />

e que podem ajudar na descrição das estruturas e também<br />

na interpretação dos leitores.<br />

• Bombeamento: Muitos artigos citam a potência<br />

do motor como referência, a capacidade ou fluxo da<br />

motobomba. No entanto, mais importante do que a<br />

potência do motor, é a informação da vazão utilizada<br />

nas unidades experimentais ou etapas de filtração.<br />

Sendo menos importante se a água foi transferida por<br />

uma motobomba magnética, centrífuga ou por air lift;<br />

• Filtro biológico: Tão importante quanto a descrição<br />

do tipo de mídia ou substrato utilizado, é descrever<br />

a quantidade do material utilizado e o método<br />

de contato com água (submerso, dry wet ou outros).<br />

Isso permite ao leitor estimar a superfície disponível<br />

para fixação das bactérias nitrificantes;<br />

• Desinfeção por UV-C: Independentemente do<br />

fabricante, a informação determinante para esses equipamentos<br />

é a dose utilizada. A eficiência de uma lâmpada<br />

de uma mesma potência varia de acordo com o<br />

fabricante e com a câmara de contato. É importante<br />

descrever o modelo do equipamento, mas também a<br />

dose de operação.<br />

Quanto a otimização de recursos e espaços, nas<br />

universidades, apesar de ainda ser comum a individualização<br />

dos laboratórios experimentais e suas estruturas,<br />

penso que a tendência é, assim como ocorre<br />

com outros aparatos de grande porte e valor, o uso<br />

compartilhado dessas estruturas experimentais de<br />

RAS. Com isso, ao invés de cada laboratório precisar<br />

construir e manter o seu próprio sistema experimental,<br />

torna-se mais eficiente a construção de sistemas mais<br />

modernos e capazes de serem utilizados com diversas<br />

configurações de unidades experimentais. Hoje,<br />

um sistema que está sendo utilizado para nutrição de<br />

peixes de água doce, poderia ser utilizado para testar<br />

probióticos em pepinos do mar na semana seguinte.<br />

Se hoje, a tendência da economia compartilhada está<br />

em alta, por que também não compartilhamos os sistemas<br />

experimentais?<br />

MAR/ABR 2019<br />

53


NUTRIÇÃO AQUÍCOLA<br />

MAR/ABR 2019<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

CSIRO – Austrália<br />

IPEMAR – <strong>Brasil</strong><br />

Acredito que a maioria de vocês, leitores, já devem<br />

ter ouvido falar sobre a tecnologia de bioflocos.<br />

No <strong>Brasil</strong> esse tema é recorrente nos fóruns de discussões<br />

e também está presente na base educacional de<br />

alguns programas de graduação e pós-graduação. Nessa<br />

coluna não irei abordar aspectos dessa tecnologia. Para<br />

mais informações sobre esse sistema de produção, vejam<br />

as edições anteriores da Coluna “Green Technologies” e<br />

também no site (cursos e outras seções) da <strong>Aquaculture</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Meu intuito é apresentar brevemente o panorama<br />

da nutrição em sistemas de bioflocos e como essa<br />

linha de pesquisa está crescendo no mundo e sendo liderada<br />

pelo <strong>Brasil</strong>. Para tal, fiz uma busca rápida no site<br />

da Web of Science e Scopus colocando as palavras-chave<br />

“Nutrition + Biofloc”, resultando em mais de quarenta<br />

artigos científicos publicados. Vale ressaltar algumas limitações<br />

sobre esse sistema de busca. Como esses sites<br />

buscam apenas artigos científicos publicados em revistas<br />

indexadas na língua inglesa, uma quantidade considerável<br />

de material sobre esse tema não foi considerada, como,<br />

por exemplo, monografias, dissertações de mestrado,<br />

teses de doutorado e artigos científicos publicados em<br />

revistas de idiomas que não sejam em inglês. Outro<br />

ponto é que apresentarei apenas os resultados dessa<br />

busca específica. Em outras palavras, não usei outros termos<br />

e combinações dos mesmos como palavras-chave.<br />

A figura 1 apresenta o número de publicações nesse<br />

tema por ano. Interessante notar que o número de<br />

publicações aumenta ano a ano e em 2019 já foram publicados<br />

10 artigos, sendo que ainda estamos no mês de<br />

julho. A tendência é que esse número aumente a cada<br />

ano!<br />

Os principais países atuando nessa linha de pesquisa<br />

estão apresentados na figura 2, onde o <strong>Brasil</strong> aparece<br />

em primeiro lugar, seguido dos Estados Unidos e depois,<br />

empatados, China e México. Em termos das espécies<br />

pesquisadas, o camarão lidera com 73% dos artigos<br />

artur.rombenso@csiro.au<br />

*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições<br />

vinculadas ao mesmo.<br />

Tendências na nutrição em bioflocos<br />

publicados (principalmente o camarão branco do Pacífico,<br />

o Rosa e o de água doce), seguido por peixes com<br />

24% (tilápia, carpa e espécies nativas) e os 3% restantes<br />

consistem no pepino do mar. Por fim, os tópicos mais<br />

abordados na área de Nutrição em Bioflocos possuem<br />

certa semelhança com os da nutrição tradicional como:<br />

substituição da farinha e óleo de peixe, ingredientes<br />

complementares, entre outros (Tabela 1). Porém, outros<br />

tópicos são mais específicos como, por exemplo,<br />

a contribuição nutricional e a manipulação do biofloco.<br />

Antes de finalizar essa coluna gostaria de parabenizar<br />

os centros de pesquisa e universidades brasileiras<br />

pelo excelente trabalho nessa linha de pesquisa e por<br />

mostrar mais uma vez ao mundo o valor e a qualidade<br />

das pesquisas feitas no <strong>Brasil</strong>. Espero que vocês tenham<br />

aproveitado essa coluna e em futuras edições abordarei<br />

temas mais específicos dentro dessa área.<br />

Tabela I. Lista dos principais tópicos abordados na área de<br />

Nutrição em Bioflocos segundo os sites Web of Science e Scopus<br />

com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.<br />

54


Figura I. Número de publicações por ano em jornais científicos segundo os sites Web of Science e Scopus com a<br />

busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.<br />

12<br />

10<br />

MAR/ABR 2019<br />

Número de publicações por ano<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

2007 2009 2010 2012 2013 2014 2015 2016 20<strong>17</strong> 2018 2019<br />

Figura 2. Porcentagem de artigos publicados em jornais científicos por países de 2007 a 2019 segundo os sites<br />

Web of Science e Scopus com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.<br />

55


Genética<br />

MAR/ABR 2019<br />

herdabilidade de determinada população é um<br />

A dos parâmetros genéticos mais importantes de<br />

todo programa de melhoramento e nos vai nortear,<br />

em parte, o andamento do programa. Existem duas<br />

herdabilidades. A herdabilidade em sentido amplo, definida<br />

pela proporção da variância genética (somatória<br />

da variância genética de dominância e a variância genética<br />

aditiva) sobre a variância fenotípica. Já a herdabilidade<br />

em sentido restrito é definida pela proporção<br />

da variância genética aditiva e a variância fenotípica. É<br />

importante ressaltar que a herdabilidade é um atributo<br />

da população e não da espécie. Para o cálculo da herdabilidade<br />

precisamos manter um programa familiar e<br />

conhecer as relações de parentesco entre indivíduos<br />

e famílias. Na última edição definimos e explicamos<br />

a variância genética aditiva como aquela criada pelo<br />

efeito individual dos alelos de cada gene envolvido na<br />

caraterística de interesse.<br />

Existem vários métodos de estimar a herdabilidade.<br />

Entre eles, os tradicionais métodos dos quadrados<br />

mínimos onde estimamos a variância intrafamiliar<br />

e interfamiliar e a relação entre elas, ou o método de<br />

correlação da média dos pais com relação a média<br />

dos filhos. Atualmente com os avanços da informática<br />

o método mais utilizado para a estima de parâmetros<br />

genéticos é o “Modelo Animal” onde através de cálculos<br />

matrizares estimamos efeitos genéticos onde estarão<br />

incluídos dados de várias gerações de parentesco.<br />

Independentemente do método de estima, que não<br />

abordaremos na coluna, podemos dizer que nossa<br />

estima de herdabilidade será alta se a variância genética<br />

aditiva da população é alta com relação a variância<br />

fenotípica. Sendo assim, significa que a população possuirá<br />

alelos que estão aportando significativamente no<br />

fenótipo de interesse e que poderemos obter ganhos<br />

genéticos significativos se submetermos a população a<br />

SELEÇÃO. A seleção incrementará a frequência alélica<br />

dos genes responsáveis pela caraterística trabalhada, levando<br />

a respostas significativas de geração em geração.<br />

Tipos de seleção<br />

Existem três tipos principais de seleção:<br />

Rodolfo Luis Petersen<br />

Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar<br />

Universidade Federal do Paraná - UFPR<br />

Pontal do Paraná, PR<br />

rodolfopetersen@hotmail.com<br />

Uso da seleção: o conceito de herdabilidade<br />

a) Seleção direcional: aquela realizada para um único<br />

caráter ao longo das gerações. É o tipo de seleção<br />

mais utilizada na indústria aquícola;<br />

b) Seleção em Tandem: aquele realizado por um<br />

número definido de gerações para um determinado<br />

caráter (ex. taxa de crescimento) e sequencialmente<br />

por mais um número estabelecido de gerações para<br />

outro caráter (por exemplo, resistência a doenças);<br />

c) Seleção por índices: aquela realiza através de um<br />

índice de seleção o qual combina duas caraterísticas<br />

de interesse e lhes assina um peso a cada uma (Ex.<br />

80 % para crescimento e 20 % para resistência a uma<br />

determinada doença). Este tipo de seleção apresenta<br />

alguns inconvenientes, quando, as caraterísticas a seleção<br />

apresentam uma correlação genética negativa.<br />

Ou seja, ao selecionar para uma das caraterísticas estaremos<br />

selecionado negativamente para a outra. Isto<br />

aconteceu no programa de Melhoramento Genético<br />

do Oceanic Institute (Hawai) no final da década dos<br />

90, onde foi utilizado um índice de seleção (50:50)<br />

para a melhoria do crescimento e da resistência ao vírus<br />

do Taura na espécie Litopenaeus vannamei.<br />

Já com relação aos métodos de seleção podemos<br />

destacar o de seleção individual e de seleção familiar.<br />

O método de seleção individual seleciona com relação<br />

ao mérito zootécnico do indivíduo independentemente<br />

da família a qual pertence. Já o método de seleção<br />

familiar lhe dá ênfase ao mérito da família na população.<br />

O método de seleção familiar pode ser interfamiliar<br />

ou intrafamiliar. No método de seleção interfamiliar<br />

se selecionaram como progenitores da próxima geração<br />

as melhores famílias da população. No segundo,<br />

se selecionaram os melhores indivíduos de todas as<br />

famílias. Existe também e é o mais utilizado, método<br />

de seleção combinada, o qual seleciona os melhores<br />

indivíduos das melhores famílias.<br />

Antes de realizar a seleção numa determinada população<br />

devemos fixar a intensidade de seleção que<br />

será aplicada. A intensidade de seleção é a proporção<br />

da população que será selecionada como futuros progenitores.<br />

A intensidade de seleção dependerá em<br />

56


parte de nosso tamanho populacional. Não teremos<br />

condições de aplicar elevadas intensidades de seleção<br />

em populações limitadas (por exemplo 30 famílias de<br />

tilápia) já que elevaremos de forma brusca nosso coeficiente<br />

de endogamia em função da maior probabilidade<br />

de cruzar organismos emparentados ao longo das gerações<br />

de seleção. A intensidade de seleção está relacionada<br />

com a resposta a seleção. Antes de definir a<br />

resposta a seleção precisamos entender o conceito de<br />

diferencial de seleção. O diferencial de seleção é a diferença<br />

entre a média dos indivíduos selecionados (uma<br />

vez aplicada a intensidade de seleção) e a média da<br />

geração parental (ou seja, a média da população total).<br />

A resposta a seleção é a consequência do produto do<br />

diferencial de seleção, do desvio padrão da população<br />

e da herdabilidade. Altas intensidades de seleção, em<br />

populações com variabilidade fenotípica e alta herdabilidade,<br />

a resposta a seleção será maior. A média das médias<br />

de resposta a seleção em programas genéticos de<br />

espécies aquáticas é de 10 % por geração de seleção.<br />

Limites da seleção<br />

Na medida que vamos selecionado ao longo das gerações,<br />

as frequências alélicas dos genes que estão aportando<br />

para a caraterística selecionada, vão aumentando<br />

até chegar a sua fixação (frequência = 1, ou seja, todos<br />

os indivíduos da população possuirão o mesmo alelo<br />

com relação a determinado gene). Na medida que os<br />

genes vão se fixando na população, a resposta a seleção<br />

tende a diminuir a valores insignificantes.<br />

Desta forma é atribuição do melhorista ir definindo<br />

o tamanho da população, dosando as intensidades de<br />

seleção para evitar a endogamia, estimando a herdabilidade<br />

e as respostas a seleção para cada geração. Em<br />

função dos resultados obtidos o melhorista terá que ir<br />

definindo a melhor estratégia com relação ao futuro do<br />

programa e da linhagem. Populações onde foram fixados<br />

alelos para uma certa caraterística zootécnica podem ser<br />

utilizados para serem cruzadas com outras populações<br />

selecionadas para uma caraterística complementar e<br />

produzir um híbrido intraespecífico.<br />

MAR/ABR 2019<br />

57


MAR/ABR 2019<br />

Nesta edição da coluna Green Technologies trazemos<br />

dois convidados especiais para falar de<br />

um tema extremamente importante nos cultivos intensivos:<br />

compostos nitrogenados e sua correta interpretação.<br />

Por diversas vezes ao explicarmos sobre os níveis<br />

de segurança dos compostos nitrogenados, escutamos<br />

produtores que dizem: “meu nitrito chegou a 30mg/L e<br />

meus camarões estão ótimos!” ou “meus animais só começaram<br />

a morrer com níveis de nitrito acima de 50mg/L.<br />

Eles são muito resistentes!”. São fatos que até poderiam<br />

estar corretos se fossem cultivos em salinidades bem<br />

elevadas. Mas na verdade o que muitas vezes ocorre é<br />

uma confusão na leitura e interpretação dos resultados.<br />

Vamos explicar então a questão dos valores dos<br />

compostos nitrogenados de acordo com o teste/leitura<br />

das diferentes moléculas. Existem duas maneiras principais<br />

de descrever as concentrações de amônia, nitrito e<br />

nitrato na água:<br />

1. A partir da massa molecular do nitrogênio dessas<br />

moléculas, descrevendo apenas a massa do átomo de<br />

nitrogênio;<br />

II. A partir da massa da molécula inteira.<br />

Vejamos um exemplo: a fórmula N-NO 2<br />

(nitrogênio-nitrito)<br />

indica apenas a massa do átomo de nitrogênio<br />

presente na molécula. Já a fórmula NO 2<br />

indica<br />

a massa da molécula inteira de nitrito. Dessa forma,<br />

o valor de nitrogênio-nitrito terá um valor sempre<br />

menor do que o valor do íon nitrito associado. Assim<br />

podemos observar diferentes formas de descrever<br />

esses compostos: N-NH 3<br />

e NH 3<br />

(para amônia<br />

não-ionizada); N-NH 4<br />

e NH 4<br />

(para amônia ionizada);<br />

N-NO 2<br />

e NO 2<br />

(para o nitrito); e N-NO 3<br />

e NO 3<br />

(para o nitrato). A conversão entre as duas formas é<br />

bastante simples e pode ser observada na tabela I.<br />

Os principais testes de detecção desses compostos<br />

são os colorimétricos (testes comuns de aquário), e os<br />

fotocolorimétricos (utilizam equipamentos que leem o<br />

comprimento de onda de cor). Geralmente os testes<br />

Green<br />

TECHNOLOGIES<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

CSIRO - Austrália<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />

mauricioemerenciano@hotmail.com<br />

*As opiniões citadas abaixo do primeiro autor são exclusivamente pessoais e não necessariamente remetem as<br />

opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.<br />

Nitrogenados: explicando a confusão<br />

colorimétricos exibem no resultado as formas iônicas<br />

dos nitrogenados. Já os fotocolorímetros, no geral,<br />

quantificam as moléculas de nitrogênio ligadas ao composto<br />

em questão. Mas isso vai depender de cada marca/equipamento<br />

utilizado.<br />

Tabela I. Fator de multiplicação dos compostos nitrogenados de<br />

acordo com sua molécula.<br />

E por que precisamos levar em consideração essa<br />

diferença de valores? É simples: uma interpretação errônea<br />

pode trazer consequências desastrosas. Um certo<br />

valor de nitrito interpretado de maneira equivocada<br />

pode estar sendo subestimado em até 3,28 vezes a<br />

menos! Por exemplo, em um cultivo de camarões marinhos<br />

da espécie Litopenaeus vannamei em salinidade<br />

10, se o resultado para N-NO 2<br />

for 7,0 mg/L, você está<br />

dentro ou fora dos limites de segurança?<br />

O nível de segurança de nitrito para essa espécie em<br />

salinidade 10 é de 2,5 mg/L de N-NO 2<br />

. No entanto,<br />

utilizando a tabela acima e convertendo para a molécula<br />

NO 2<br />

, o nível de segurança passa a ser 8,2mg/L.<br />

Assim, você está fora dos limites de segurança, e medidas<br />

de manejo devem ser tomadas. Um olhar rápido<br />

e menos atencioso poderia supor que tudo está sob<br />

controle. Mero engano! Para evitar confusão, sempre<br />

verifique qual molécula o teste utilizado apresenta como<br />

resultado e tenha em mãos boas literaturas. Fazendo a<br />

conversão pode-se saber corretamente a concentração<br />

do composto nitrogenado e tomar as devidas medidas<br />

necessárias no seu cultivo. Ótimas despescas!<br />

*Colaboração: Maria Angélica Reis e William Bauer (Kona Blue<br />

Aquacultura)<br />

58


Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Estação Marinha de Aquacultura - EMA<br />

Universidade Federal do Rio Grande - FURG<br />

Rio Grande, RS<br />

vr.ricardo@gmail.com<br />

Produção de peixe marinho dá novo<br />

passo no <strong>Brasil</strong>?<br />

No mês de maio a <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> noticiou um<br />

futuro empreendimento na área da piscicultura<br />

marinha na Bahia. A empresa norte-americana Forever<br />

Oceans pretende investir cerca de 60 milhões de dólares<br />

na produção do olho-de-boi Seriola rivoliana. São<br />

escassas as informações, porém o governador da Bahia<br />

assinou um memorando de entendimento com a empresa.<br />

O empreendimento necessita ainda de todos os<br />

trâmites de licenciamento ambiental para então iniciar<br />

suas atividades. Espero que de fato essa iniciativa saia<br />

do papel, que as questões de licenciamento não travem<br />

o processo como já observamos no passado e que de<br />

fato mais uma iniciativa de maricultura tenha início nesse<br />

nosso enorme litoral pouco explorado pela aquicultura.<br />

Para quem nunca ouviu falar em produção de peixes<br />

do gênero Seriola, são muitas as espécies que são produzidas<br />

ao redor do mundo. Seriola quinqueradiata já é<br />

produzida no Japão desde a década de 60, enquanto S.<br />

lalandi vem sendo produzida no Japão, Austrália, Nova<br />

Zelândia, EUA e Chile. Quanto a espécie que é alvo no<br />

<strong>Brasil</strong> S. rivoliana, ela já vem sendo produzida nos EUA<br />

e estudos iniciais têm sido realizados com<br />

a espécie no Chile. As Seriolas são produzidas<br />

geralmente em tanques-redes,<br />

porém sistemas de recirculação também<br />

podem ser utilizados para sua engorda.<br />

Existem relatos de maturação e desova<br />

natural em tanques de grande volume<br />

das Seriolas, mas geralmente são realizadas<br />

induções hormonais para obtenção<br />

de larvas.<br />

A S. rivoliana é uma espécie amplamente<br />

distribuída, estando presente em<br />

praticamente todos os mares tropicais<br />

e temperados do mundo. É nativo da<br />

costa brasileira, com ocorrência de norte<br />

a sul do país. Como já é produzida<br />

comercialmente, dispõe de protocolo<br />

de produção de juvenis já estabelecido. Possui uma elevada<br />

taxa de crescimento, por volta de 2,2 kg entre 9<br />

a 12 meses de produção, dependendo da temperatura<br />

da água. Portanto, certamente pode ser uma excelente<br />

espécie para produção aqui no <strong>Brasil</strong>.<br />

Como o gênero Seriola vêm despertando muito interesse<br />

ao redor do mundo, no ano de 2018 foi realizado<br />

um workshop exclusivo sobre as espécies do gênero nos<br />

EUA (Seriola Workshop) reunindo os principais pesquisadores<br />

do mundo sobre as espécies do gênero. A tentativa<br />

de um segundo evento será para o ano de 2020. Para<br />

quem tiver mais interesse sobre a produção de Seriola<br />

em geral, recomendo a leitura do artigo de revisão sobre<br />

produção de Seriola (Sicuro e Luzzana, 2016*). Sobre<br />

as conclusões da revisão, ressalto os pontos considerados<br />

gargalos para expansão da produção das diferentes<br />

espécies de Seriola, que são: o impacto causado pelas<br />

enfermidades, carência de programas de melhoramento<br />

genético e um conhecimento incompleto relacionado<br />

as exigências nutricionais das espécies, sendo esse<br />

último ponto alvo de muito estudo na atualidade.<br />

Figura I. Exemplar da espécie S. rivolian. © Reef Life Survey<br />

*Sicuro, B. e Lazzuna, U. 2016. The state of Seriola spp. Other than Yellowtail (S.<br />

quinqueradiata) farming in the world. Reviews in Fisheries Science & <strong>Aquaculture</strong>. V.24,<br />

n.4: 314-325<br />

MAR/ABR 2019<br />

59


Fábio Rosa Sussel<br />

MAR/ABR 2019<br />

m tempos de informação abundante, o desafio da comu-<br />

é imenso”. Já escrevi isto em outras colunas e<br />

“Enicação<br />

em praticamente todas minhas palestras/cursos repito esta frase.<br />

Volto a insistir nesta questão por que é impressionante como<br />

isto prejudica diretamente o entendimento e o direcionamento<br />

dos fatos ou discussões. Por conta da facilidade no compartilhamento<br />

de notícias e opiniões, aliado a posicionamentos pessoais<br />

com a flexibilidade de termos que a língua portuguesa oferece,<br />

logo temos algo completamente distorcido e fora da realidade.<br />

Quer um exemplo prático envolvendo a produção de organismos<br />

aquáticos? Então observe bem como a falta de um<br />

entendimento primário envolvendo conceitos nas terminologias<br />

Preservação Ambiental e Conservação Ambiental afetam<br />

diretamente nosso setor.<br />

Conforme o naturalista John Muir, maior expoente preservacionista,<br />

defende que a natureza existe desde muito<br />

antes da ocupação humana e por isso deve se manter intocada.<br />

Envolve a adoção de medidas radicais e extremas.<br />

Em que situações este conceito deve ser aplicado? Nas<br />

Unidades de Conservação, Terras Indígenas, Parques Nacionais,<br />

Reserva Legal e Áreas de Proteção Permanente,<br />

os quais somados perfazem o montante de 563.736.030<br />

hectares ou 66,3% do território brasileiro (isto mesmo,<br />

66,3%), conforme dados recentes publicados pela Embrapa.<br />

Por algumas particularidades, especialmente as relacionadas<br />

a distinta riqueza de biodiversidade, tais áreas já foram previamente<br />

identificadas, mapeadas e declaradas como prioridade<br />

de intocabilidade de seus recursos naturais.<br />

Enquanto que a Conservação Ambiental, de acordo com<br />

Aldo Leopold, precursor da Biologia da Conservação, defende<br />

a participação humana com harmonia, explorando os<br />

recursos naturais de forma sustentável em prol da sociedade.<br />

Trata a mãe natureza de uma maneira bem menos rígida,<br />

liberando a exploração dos seus recursos desde que seja<br />

com inteligência, assim como o manejo correto do meio<br />

ambiente pelo homem. Defende ainda o desenvolvimento<br />

sustentável da humanidade, para assim garantir uma melhor<br />

qualidade de vida para as gerações presentes e as futuras.<br />

Diretamente ligado a Preservação e a Conservação Ambiental,<br />

temos ainda a Sustentabilidade, formando a tríade de<br />

terminologias frequentemente utilizadas fora do contexto ou em<br />

situações e casos inadequados. Sustentabilidade vem do termo<br />

“sustentável”, que, por sua vez, deriva do latim sustentare, que<br />

significa sustentar, defender, favorecer, apoiar, conservar e/ou<br />

Pesquisador Instituto de Pesca de SP - UPD Pirassununga<br />

Pirassununga, SP<br />

fabio@pesca.sp.gov.br<br />

Preservação Ambiental, Conservação Ambiental e<br />

Aquicultura<br />

cuidar. Teve origem em Estocolmo, na Suécia, durante Conferência<br />

das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente no ano de<br />

1972. Mais tarde, em 1992, na Conferência sobre Meio Ambiente<br />

e Desenvolvimento (Eco-92), foi consolidado o conceito<br />

de desenvolvimento sustentável; que passou a ser entendido<br />

como o desenvolvimento a longo prazo, de maneira que não<br />

sejam exauridos os recursos naturais utilizados pela humanidade.<br />

Por fim, conforme conceitos mais recentes sobre Sustentabilidade,<br />

de maneira simples e objetiva, prega que: “Deixar<br />

para nossos filhos e netos um meio ambiente igual ao que encontramos,<br />

é pouco! O desafio é deixar um ambiente melhor.”<br />

Pois bem, após devidamente apresentadas as reais definições<br />

e significados dos termos mais utilizados quando o assunto<br />

é meio ambiente, vamos aos fatos.<br />

O que isto tudo tem a ver com aquicultura? Por não saberem<br />

a real diferença entre um termo e outro, acabam misturando as<br />

coisas. Não tem lógica alguma falarmos de Preservação Ambiental<br />

em áreas que encontram-se fora das Unidades de Conservação,<br />

conforme os casos já citados acima. Enquanto que Conservação<br />

e Sustentabilidade, faz todo sentido. E de que forma<br />

devemos implementar e ou apoiar políticas que na prática sejam<br />

efetivas, que realmente tragam melhorias ao meio ambiente?<br />

Inicialmente identificar, bem como deixar claro aos legisladores,<br />

onde realmente estão os problemas e as principais ameaças<br />

ao meio ambiente. Por exemplo: considerando as regiões<br />

Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste, as quais concentram<br />

a maior densidade populacional do <strong>Brasil</strong>, o problema do meio<br />

ambiente está nas cidades e não no campo! É das cidades que<br />

partem os maiores exemplos de não aplicação dos conceitos de<br />

desenvolvimento sustentável. Ironicamente, é pautado principalmente<br />

na opinião de quem mora nas cidades as leis e regras<br />

pra quem vive no campo. Por sua vez, os que vivem no campo<br />

produzem alimentos para sustentar os que vivem na cidade.<br />

E aí então que o correto seria leis mais brandas para o campo?<br />

NÃO, de jeito nenhum. Já está provado por A + B que a<br />

proteína aquática é a forma mais sustentável de se produzir alimentos.<br />

Portanto, não precisamos ter qualquer abrandamento<br />

de leis, apenas deseja-se que sejam coerentes. E, lógico, que<br />

esta mesma coerência seja aplicada nas cidades. Simples assim.<br />

Agradeço a colaboração do amigo Splinter, Prof. Dr. André<br />

Luiz Julien Ferraz (UEMS), o qual auxiliou na construção desta<br />

linha de raciocínio que inicialmente foi proposta para a pesca<br />

esportiva, mas que enquadra-se perfeitamente para a aquicultura.<br />

Grato pela parceria, meu amigo.<br />

60


61<br />

MAR/ABR 2019


MAR/ABR 2019<br />

Visão<br />

aquícola<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

Berçários intensivos na carcinicultura<br />

catarinense: novos tempos!<br />

história da criação de camarões marinhos em<br />

A Santa Catarina passa pelo pioneirismo nacional<br />

na tentativa de produção com espécies nativas, ainda<br />

no final da década de 60, ou seja, há mais de 50 anos!<br />

Entretanto, somente a partir de 1998, com a introdução<br />

do Litopenaeus vannamei, a atividade deslanchou,<br />

embora os tempos áureos tenham durado<br />

muito pouco. O “apogeu” foi de 1998 até novembro<br />

de 2004, ou seja, apenas 6 anos... e hoje, passados<br />

15 anos, o setor ainda não se recuperou. Seis anos<br />

de produção para mais de 15 anos de paralisação? Por<br />

enquanto sim, mas as coisas parecem estar mudando...<br />

Sem dúvidas, o estado de SC não é o local ideal para<br />

a produção de uma espécie tropical como o L. vannamei.<br />

As temperaturas ótimas para esta espécie (28 – 32<br />

°C) não ocorrem em mais do que três meses durante o<br />

ano (dez/jan/fev). Fora as oscilações para baixo desta sua<br />

faixa ideal de conforto, mesmo nessa época de verão.<br />

Se houve algum erro estratégico do ponto de vista<br />

de concepção dos projetos catarinenses, certamente<br />

foi a questão da não utilização de estruturas como<br />

pré-berçários ou berçários intensivos para recepção/<br />

aclimatação das pós-larvas, visando sua “proteção” nos<br />

primeiros dias ou semanas. O Estado, mais do que<br />

qualquer outro produtor de camarões marinhos do<br />

<strong>Brasil</strong>, necessita de um local seguro e de um ambiente<br />

controlado para acondicionar as pós-larvas. Acondicionar<br />

ou quem sabe até cultivá-las durante os primeiros<br />

30 dias, concebendo uma pré-engorda. O fator clima<br />

atrapalha demais a região... Liberar pequenas pós-larvas<br />

em viveiros de até 8,0 hectares, em meio a tamanha<br />

incerteza e adversidades climáticas, não foi a<br />

melhor estratégia até então.<br />

A grande novidade da safra 2018-2019 na região<br />

Sul de SC foi a adoção de berçários intensivos para receber<br />

as pós-larvas e mantê-las seguras nos primeiros<br />

30 dias. Duas fazendas saíram na frente nesta questão,<br />

construindo berçários individuais para cada um de seus<br />

viveiros de engorda. Foram os primeiros 10 berçários<br />

intensivos no Sul de SC.<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />

Editor-chefe da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Laguna, SC<br />

giovanni@aquaculturebrasil.com<br />

Os berçários intensivos, na prática, foram construídos<br />

dentro dos viveiros de engorda (Figura 1), aproveitando<br />

o próprio material existente para movimentação<br />

de terra e construção dos taludes. Houve o revestimento<br />

com geoemembrana e cobertura por estufas<br />

feitas de eucalipto tratado, além da aeração por sistema<br />

misto (aeradores de pás + compressores radiais e<br />

mangueiras microperfuradas). Em geral, os berçários<br />

trabalharam com densidades ao redor de 800-1000<br />

pós-larvas/m³.<br />

Os resultados foram surpreendentes para o Estado!<br />

Em uma das fazendas, os berçários propiciaram a adoção<br />

de três ciclos completos, nas duas fases, atingindo<br />

um patamar acima de 5.000/kg/ha/ano. Em outra, dois<br />

ciclos completos foram realizados com sucesso e, já<br />

em meados de janeiro, todas as despescas destes dois<br />

ciclos estavam concluídas.<br />

Com os povoamentos em geral sendo realizados<br />

na região entre setembro e outubro, de forma inédita,<br />

uma destas fazendas que fez o uso dos berçários<br />

intensivos despescou todos os camarões no mês de<br />

novembro (média de 10 g). Os cultivos monofásicos<br />

jamais permitiram a realização de despescas no mês de<br />

novembro, algo impensável até então.<br />

Hoje, com os camarões sendo recebidos em berçários,<br />

tendo maior conforto, temperatura e biosseguridade,<br />

após os 30 dias iniciais em sistema intensivo e<br />

com a “liberação” para os viveiros de engorda, o efeito<br />

do crescimento compensatório somado a redução<br />

drástica da densidade (de 1.000 para 10-20 camarões/<br />

m²), tem provocado um ganho de peso semanal bastante<br />

interessante (1,5 – 2,0 g/semana).<br />

Apesar do “encurtamento” significativo da fase de<br />

engorda, somente a utilização desta tecnologia não é<br />

garantia de sucesso na produção, e os produtores locais<br />

já sabem disso. Tanto que a síndrome da mancha branca<br />

novamente assombrou os carcinicultores do Sul de SC<br />

após alguns anos em silêncio. De fato, trata-se apenas<br />

de uma ferramenta, entre tantas disponíveis para o enfrentamento<br />

das enfermidades nos cultivos de camarão.<br />

62


Figura I. Fazenda Costa Azul, localizada em Campos Verdes (Laguna/SC), retomando a produção de camarões marinhos após anos<br />

em inatividade. A imagem mostra dois viveiros com água e aeradores ligados e outros dois viveiros já despescados. Cada viveiro possuí<br />

um berçário intensivo, conforme indicado na imagem, construídos para pré-engorda de juvenis de Litopenaeus vannamei.<br />

Berçários<br />

Berçários<br />

Para a safra 2019-2020 no Sul de SC,<br />

que iniciará em setembro de 2019, durante<br />

o início da primavera, praticamente todas<br />

as fazendas que produzirão, utilizarão berçários<br />

para a pré-engorda. Há anos atrás,<br />

os produtores catarinenses já tiveram que<br />

receber pós-larvas em meio a frentes frias<br />

causadas por massas de ar polar que derrubam<br />

a temperatura na região, ficando<br />

reféns da situação, tendo em vista a falta de<br />

previsibilidade com relação à oferta de pós-<br />

-larvas em SC. Hoje em dia, produtores e<br />

laboratórios podem dormir um pouco mais<br />

tranquilos, pelo menos com relação a este<br />

aspecto. Se chegar uma massa de ar polar<br />

em meio a aclimatação, as pós-larvas ficarão<br />

seguras dentro dos berçários, até que<br />

o clima melhore do lado de fora.<br />

MAR/ABR 2019<br />

63


Ranicultura<br />

MAR/ABR 2019<br />

Andre Muniz Afonso<br />

Universidade Federal do Paraná - UFPR<br />

Palotina, PR<br />

andremunizafonso@gmail.com<br />

O que se produz da rã? - Parte III<br />

Aspectos mercadológicos<br />

Em 2007, o Serviço <strong>Brasil</strong>eiro de Apoio às Micro e<br />

Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ)<br />

publicou um estudo denominado “Estudo de mercado<br />

sobre varejo e consumo de carne de tilápia e rã nas<br />

cidades do Rio de Janeiro e Niterói”. Este estudo apontou<br />

a presença de um círculo vicioso, pois chegou-se à<br />

conclusão de que não se produzia mais rãs porque faltava<br />

mercado, enquanto que este mesmo mercado informou<br />

que não comprava mais o produto por conta da sua<br />

irregularidade. Outros dados importantes demonstrados<br />

relacionavam-se à falta de hábito de consumo da rã,<br />

preço elevado e resistência por parte do consumidor,<br />

que pode apresentar, inclusive, repulsa ao se deparar<br />

com o produto na gôndola do mercado. São poucos<br />

dados, extraídos de um mercado selecionado de uma<br />

das regiões mais populosas do país, mas extremamente<br />

representativos, pois se espelham em diversos outros<br />

espalhados por outras regiões e em outros países cuja<br />

cultura de consumo da rã ainda não foi desenvolvida.<br />

Ao analisá-los podemos perceber que: o produtor<br />

conhece as limitações do mercado e tem receio em produzir<br />

mais, uma vez que o produto tem baixo<br />

giro de prateleira; existe sazonalidade na<br />

oferta dos produtos, demonstrando que a<br />

cadeia apresenta gargalos ainda não superados;<br />

o consumidor desconhece ou não tem<br />

interesse em consumir a rã, fator este que<br />

pode possuir relação direta com o preço<br />

elevado e restrição direta ao produto e/ou<br />

à sua imagem, associando-o muitas vezes ao<br />

animal que vive no brejo, inclusive confundindo-o<br />

com o sapo ou a perereca. Todos<br />

estes fatores demonstram, claramente, que<br />

falta um bom trabalho de “marketing”.<br />

Ainda que existam algumas iniciativas<br />

no sentido de obterem-se produtos diferenciados,<br />

como bolinhos, pratos prontos,<br />

patês, empanados, entre outros, esses produtos<br />

não foram devidamente trabalhados ou mesmo<br />

não estão disponíveis, com regularidade e preços honestos<br />

ao consumidor. Todo o conhecimento sobre os<br />

benefícios do consumo da carne de rã, produzida de<br />

forma racional e higiênica, respeitando-se os conceitos<br />

da sustentabilidade econômica, social e ambiental não<br />

foram agregados à gama de produtos já desenvolvidos<br />

de forma à sensibilizar o consumidor (Figura 1).<br />

A rã não se vende sozinha... essa é uma realidade<br />

que deve ser encarada. O brasileiro a desconhece, não<br />

sabe como prepará-la, não sabe porque deve optar por<br />

ela e não por outro pescado ou pelo frango, por exemplo,<br />

categorizados como carnes brancas. Você, leitor, já<br />

consumiu carne de rã? Gostaria de consumir mais vezes<br />

ou de experimentá-la? Por que não o faz? É provável<br />

que a resposta esteja nos parágrafos acima. Se sabemos<br />

como mudar esta realidade, o que estamos esperando<br />

para colocar isso em prática? Fica a reflexão...<br />

Saudações ranícolas!<br />

Figura 1. Produtos da rã disponíveis no mercado nacional expostos<br />

à venda no varejo (2016). © Andre Muniz Afonso<br />

64


André Camargo<br />

Sócio Fundador da Escama Forte<br />

Botucatu, SP<br />

andre@escamaforte.com.br<br />

Acomodação pós crise<br />

Se você queria que os preços dos peixes da<br />

aquicultura voltassem aos patamares de 20<strong>17</strong>,<br />

pode esquecer. Os solavancos da crise de super<br />

produção vieram para acomodar os preços no<br />

mercado do atacado e nos preços pagos pela indústria.<br />

Dificilmente recuperaremos os patamares de preço,<br />

pois no varejo os preços já se estabilizaram em<br />

patamares mais baixos que antes.<br />

Isso é um problema muito sério para os pequenos<br />

produtores que direcionavam seus produtos para<br />

grandes mercados. Muitas vezes, por ser pequeno,<br />

seus custos são altos e “vender seu peixe” a preços<br />

baixos pode inviabilizar o processo produtivo deste<br />

produtor.<br />

Até mesmo os médios produtores encontram-se<br />

desafiados a encontrar equilíbrio em seu<br />

sistema de produção em busca da máxima<br />

eficiência. Nunca a palavra “custo” foi<br />

tão importante para o produtor piscícola<br />

brasileiro. Produzir a custos compatíveis<br />

virou questão de sobrevivência.<br />

Sendo assim, olhando para um horizonte<br />

em que dificilmente os preços vão subir<br />

e os limites de eficiência já estão sendo<br />

buscados, é chegada a hora da mudança de<br />

comportamento. Peixe pequeno tem que<br />

andar em cardume. É chegada a hora de<br />

pequenos e médios produtores se unirem<br />

no sentido de ganhar força de mercado,<br />

compartilhar seus resultados e assim buscar<br />

maior eficiência dentro deste mercado que<br />

hoje só dá sinais verdes para os grandes<br />

projetos.<br />

As associações estaduais possuem papel<br />

fundamental neste processo onde não mais<br />

precisam apenas representar politicamente<br />

por seus associados, mas sim prestar auxílio<br />

aos seus associados de pequeno porte para<br />

que estes consigam sobreviver a este novo<br />

momento. Nossa cadeia mostra maturidade e precisa<br />

de preços competitivos quando comparada a outras<br />

cadeias de produção animal.<br />

Portanto amigos aquicultores, técnicos, empresários<br />

e demais participantes da cadeia da piscicultura<br />

brasileira, a peneirada vai continuar, não existe mais<br />

espaço para a ineficiência, não é mais possível aceitar<br />

índices zootécnicos baixos e muito menos a falta deles.<br />

Todas as nossas unidades de produção têm chances<br />

de permanecerem, mas para tal, vão precisar saber<br />

exatamente o que está acontecendo em seu dia a dia<br />

de produção. Precisamos começar a nos preocupar<br />

com a segunda casa depois da vírgula e assim garantir<br />

o sucesso de todos.<br />

Vamos em frente!<br />

MAR/ABR 2019<br />

65


Eduardo Gomes Sanches<br />

Instituto de Pesca / APTA<br />

Ubatuba, SP<br />

esanches@pesca.sp.gov.br<br />

Início de trajetórias<br />

Aquicultura ornamental. Não tenho conheci-<br />

®mento de nenhuma pesquisa que fale do<br />

quanto este ramo da aquicultura ser responsável<br />

pelo despertar do interesse em seguir carreira<br />

profissional nesta atividade. Conheço muitas histórias<br />

de colegas que desde crianças mantinham peixes<br />

e outros organismos aquáticos em aquários e hoje<br />

são profissionais renomados junto a esta cadeia<br />

produtiva. Minha própria aptidão floresceu com<br />

minha paixão, na fase infantil, em reproduzir peixes e<br />

ficar horas estudando o comportamento reprodutivo<br />

de diversas espécies, alimentando os filhotes e tentar<br />

entender um pouco da tamanha diversidade biológica<br />

que conseguia manter em aquários no quarto onde<br />

dormia (ou tentava dormir frente ao barulho de filtros<br />

e bombas de ar).<br />

Já na década de 80, na universidade, estudando<br />

Zootecnia (Universidade Estadual Paulista - UNESP,<br />

campus de Botucatu/SP), entre tantas disciplinas de<br />

cadeias produtivas (bovinos de corte, de leite, caprinos,<br />

ovinos, avicultura de corte e de postura... até<br />

sericicultura - criação do bicho da seda), ficava indignado<br />

pelo pouco espaço da aquicultura e mais ainda<br />

pela inexistência da aquicultura ornamental!!!<br />

A aquicultura ornamental era tida como uma “bobagem”.<br />

Um hobby que não merecia espaço junto<br />

a cadeias produtivas “relevantes”, que produziam<br />

alimento. Quando ingressei no Instituto de Pesca, a<br />

aquicultura ornamental também era vista como “de<br />

segunda classe”. Alguns diziam: “Somos uma instituição<br />

de pesquisa em uma Secretaria de Agricultura e<br />

Abastecimento. Precisamos produzir tecnologia para<br />

ampliar a produção de alimentos. Não podemos<br />

perder tempo com peixinhos de aquário”.<br />

Tempos difíceis. Quantos bons pesquisadores<br />

não devem ter passado por isto. Passados quase trinta<br />

anos tudo mudou. O que era uma “atividade de<br />

segunda classe” hoje é um mercado de bilhões de<br />

MAR/ABR 2019<br />

© Jéssica Brol | <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong><br />

66


dólares. Muitas tecnologias (reprodução, larvicultura,<br />

sistemas de filtragem, alimentação, entre outras) surgem<br />

primeiro no mercado da aquicultura ornamental<br />

para muito tempo depois serem oferecidas na aquicultura<br />

de organismos aquáticos destinados à alimentação<br />

humana. Podemos até traçar um paralelo com<br />

a Fórmula 1. Novas tecnologias são inicialmente desenvolvidas<br />

nesta categoria, para muitos anos depois<br />

serem incorporadas nos carros de nosso dia a dia. A<br />

justificativa está nos custos elevados do desenvolvimento<br />

tecnológico que precisam ser “amortizados”<br />

por preços elevados, antes de atingirem a produção<br />

em escala. Assim, os valores elevados de uma atividade<br />

de alto valor agregado acaba “subsidiando”<br />

o desenvolvimento de produtos que depois, por<br />

exemplo, acabam beneficiando um produtor que engorda<br />

tilápias em uma pequena propriedade rural no<br />

interior do <strong>Brasil</strong>.<br />

A aquicultura ornamental também permite que se<br />

amplie o conhecimento sobre inúmeras espécies de<br />

maneira muito acelerada. É impressionante a quantidade<br />

de espécies de peixes ornamentais de recifes<br />

de coral que vem sendo reproduzidos por aquaristas.<br />

Uma notável contribuição à ciência e à conservação<br />

das espécies, quase sempre sem nenhum<br />

tipo de subsídio governamental (pelo contrário, puro<br />

financiamento<br />

pessoal em prol<br />

de uma paixão).<br />

Dizem que<br />

quando ficamos<br />

mais velhos passamos<br />

a ficar um<br />

pouco saudosistas.<br />

Não sei...<br />

mas posso admitir<br />

que quando<br />

participo de<br />

congressos de<br />

aquicultura, tenho<br />

uma enorme<br />

satisfação<br />

em ver a produção<br />

científica<br />

relacionada a<br />

aquicultura ornamental aumentando ano a ano. Sinal<br />

de que outros estão reconhecendo a oportunidade e<br />

a relevância deste segmento produtivo. E não posso<br />

deixar de pensar naqueles tempos em que tínhamos<br />

que trabalhar “escondidos” com peixes ornamentais<br />

e jamais pensar em levar um resumo sobre o tema<br />

em um congresso científico. Seria um vexame na<br />

certa. Nada como o passar do tempo.<br />

A partir da próxima coluna vou começar a abordar<br />

as diferentes facetas da aquicultura ornamental.<br />

Notadamente as mais curiosas, que fogem ao convencional,<br />

contribuindo para despertar nos leitores<br />

da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>, o interesse por esta atividade.<br />

Vamos conhecer empresas e profissionais que<br />

tiram seu sustento (e geram muitos empregos e renda)<br />

somente da produção de organismos aquáticos<br />

ornamentais. Vamos conhecer a história destas pessoas<br />

e observar um ponto em comum entre todas:<br />

a paixão pela aquicultura ornamental. Vocês vão se<br />

surpreender ao perceber que “peixinhos coloridos”<br />

são muito mais do que “peixinhos coloridos”.<br />

Portanto meus amigos, vamos agradecer a <strong>Aquaculture</strong><br />

<strong>Brasil</strong> por esta oportunidade de divulgação<br />

deste segmento produtivo e trazer a cada coluna,<br />

histórias e novidades deste segmento.<br />

Até a próxima coluna!<br />

MAR/ABR 2019<br />

67


Alex Augusto Gonçalves<br />

Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC<br />

Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA<br />

Mossoró - RN<br />

alaugo@gmail.com<br />

MAR/ABR 2019<br />

Em breve... Nova legislação sobre aditivos e coadjuvantes<br />

de tecnologia para pescado e produtos de pescado<br />

pós uma longa espera (~30 anos), as indústrias<br />

A de processamento de pescado, indústrias fornecedoras<br />

de aditivos alimentares e pesquisadores finalmente<br />

começam a enxergar uma luz no final do túnel...<br />

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância<br />

Sanitária, submeteu para consulta pública, no último<br />

dia <strong>17</strong> de abril de 2019, a proposta da Resolução da Diretoria<br />

Colegiada – RDC que estabelece os aditivos alimentares<br />

e coadjuvantes de tecnologia autorizados para<br />

uso em pescado e produtos de pescado, pelo prazo de<br />

sessenta dias para o envio de comentários e sugestões.<br />

Cabe lembrar que os aditivos alimentares são substâncias<br />

intencionalmente adicionadas aos alimentos, de<br />

origem natural ou sintética, normalmente sem valor nutricional<br />

apreciável, que são adicionadas aos alimentos na<br />

quantidade mínima necessária para se atingir o propósito<br />

tecnológico, durante a fabricação ou alteração industrial,<br />

ou durante o seu armazenamento.<br />

Baseado no Codex Alimentarius, a ANVISA propôs<br />

um incremento de novos aditivos de grau alimentar para<br />

a Categoria 9 – Pescado e produtos de pescado, passando<br />

de 6 provisões de aditivos (Res. n. 4/1988) e 1 provisão<br />

de coadjuvante de tecnologia (Res. n. 13/1978), para<br />

uma proposta de 389 provisões de aditivos e 4 provisões<br />

de coadjuvantes de tecnologia (Consulta Pública Nº<br />

634, de 16 de abril de 2019).<br />

Certamente as indústrias de processamento de pescado<br />

terão sugestões de novos aditivos, haja visto que<br />

um dos aditivos mais utilizados internacionalmente (fosfatos),<br />

não foi contemplado nessa consulta pública.<br />

Ressalta-se que o Ministério da Agricultura, Pecuária e<br />

Abastecimento (MAPA) recentemente publicou a Instrução<br />

Normativa Nº 30, de 9 de agosto de 20<strong>17</strong> – SDA/<br />

MAPA, que estabelece os procedimentos para submissão<br />

de proposta, avaliação, validação e implementação<br />

de inovações tecnológicas a serem empregadas em qualquer<br />

etapa da fabricação de produtos de origem animal<br />

em estabelecimentos com registro no Departamento de<br />

Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA/SDA.<br />

No Art. 2º, alínea III da IN 30/20<strong>17</strong> definem “inovação<br />

tecnológica” como sendo o processo, equipamento,<br />

substância ou material, isolado ou em combinação, tecnologicamente<br />

novo ou significativamente aperfeiçoado,<br />

que proporcione a melhoria do processo de fabricação<br />

ou da qualidade do produto de origem animal. Nesse<br />

sentido é que o aditivo FOSFATO poderia estar sendo<br />

incluído nessa Consulta Pública, uma vez que já existe<br />

uma abertura junto ao MAPA em viabilizar o uso de<br />

substâncias que melhorem a qualidade de produtos de<br />

origem animal.<br />

E somando-se a isso, esse aditivo já foi aprovado<br />

recentemente para a Categoria 8 – Carnes e produtos<br />

cárneos (RDC N o . 272, de 14 de março de 2019), dentro<br />

do limite de 0,5% (expresso como P 2<br />

O 5<br />

, quantidade<br />

adicionada sem considerar a quantidade naturalmente<br />

presente na carne), o que facilita sua inclusão na Categoria<br />

9 – Pescado e produtos de pescado, considerando<br />

que são necessários e indispensáveis visando a garantia<br />

da qualidade do pescado e dos produtos à base de pescado,<br />

bem como a segurança para o consumidor, uma<br />

vez que seu uso poderá ser limitado pela legislação, promovendo<br />

dessa forma o combate à fraude e o uso indiscriminado.<br />

FOSFATO: um “polêmico” e necessário aditivo alimentar<br />

A discussão sobre aditivos alimentares é um dos principais<br />

pontos de controvérsia entre indústria e órgãos<br />

legislativos – enquanto os primeiros buscam incrementos<br />

constantes de produtividade e shelf life através de<br />

formulações mais eficientes e/ou robustas, os segundos<br />

preocupam-se com a segurança alimentar, a manutenção<br />

dos padrões de qualidade e o combate a fraudes<br />

econômicas. Esta discussão não está, nem nunca estará<br />

encerrada, visto que os avanços científicos descortinam<br />

diariamente novas moléculas de interesse e novas funcionalidades<br />

antes não conhecidas – e, ao mesmo tempo,<br />

novas informações sobre a segurança da ingestão<br />

dos diversos aditivos.<br />

Os fosfatos são aditivos funcionais para alimentos com<br />

diversas aplicações no processamento do pescado, podendo<br />

ser uma alternativa para garantia da qualidade do<br />

pescado e seus produtos. O desenvolvimento contínuo<br />

68


de novos produtos de pescado e o avanço tecnológico<br />

requer fosfatos efetivos que podem cumprir todos os requisitos.<br />

O primeiro estudo que patenteou uso de polifosfatos<br />

em pescado, demonstrando que esse aditivo inibia a<br />

perda de líquido pelo descongelamento e após a cocção<br />

foi feito nos EUA em 1962. Desde então, diversos estudos<br />

têm sido feitos para demonstrar as aplicações apropriadas<br />

desse aditivo em alimentos, e em particular no pescado.<br />

Os fosfatos são utilizados na indústria alimentícia<br />

como emulsificantes, estabilizantes, suplementos minerais,<br />

agentes de dispersão, acidulantes, inibidores de<br />

descoloração, agentes sequestrantes, crioprotetores etc.<br />

Também é utilizado com a função de retenção de umidade,<br />

ou melhor, auxilia na reidratação da carne (água<br />

perdida no post-mortem) e auxilia na diminuição de perda<br />

de água no processo de cozimento (camarão), e após<br />

o descongelamento. Além disso, reduzem a resistência<br />

térmica de vários organismos, aumentando a vida de prateleira<br />

dos produtos. Quase todos os fosfatos alimentícios<br />

são considerados pela Food and Drug Administration<br />

(USFDA) como GRAS (Generally Recognized as Safe). Sua<br />

inocuidade com relação à saúde humana é confirmada<br />

não somente pelo fato de serem usados em todos os<br />

países do mundo, mas também por terem sido incluídos<br />

nas formulações de alimentos infantis e health foods.<br />

O ácido fosfórico, fosfatos e polifosfatos são aditivos<br />

autorizados, para vários fins tecnológicos, em muitos<br />

produtos alimentares. Estes aditivos foram avaliados pelo<br />

Comitê Científico para Alimentos (Scientific Committee for<br />

Food - SCF), quando o consumo diário máximo tolerável<br />

(MTDI) de 70 mg/kg, previamente proposto pelo Comitê<br />

de Especialistas da FAO/OMS em Aditivos Alimentares<br />

(Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives -<br />

JECFA) e expressado como fósforo, foi aprovado. A exposição<br />

aos fosfatos é considerada abaixo deste MTDI.<br />

Em 1991, o SCF endossou as conclusões do JECFA estabelecendo<br />

um MTDI de 70 mg/kg de peso corporal de<br />

todas as fontes, e expressou como P (equivalente a 160<br />

mg de P 2<br />

O 5<br />

) para o ácido ortofosfórico e seus sais de<br />

sódio, potássio, cálcio, magnésio e fosfatos de amônio,<br />

bem como para a di-, tri- e polifosfatos.<br />

A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (European<br />

Food Safety Authority - EFSA) sobre produtos dietéticos,<br />

nutrição e alergias foi incapaz de estabelecer um<br />

nível de ingestão tolerável de fósforo, porém concluíram<br />

que indivíduos saudáveis podem tolerar a ingestão de fósforo<br />

até pelo menos 3.000 mg de fósforo por dia, sem<br />

efeitos adversos sistêmicos.<br />

Assim, percebe-se que a polêmica do fosfato não está<br />

restrita ao possível grau de toxicidade, muito pelo contrário,<br />

são necessários e indispensáveis na indústria de<br />

alimentos, visando<br />

a garantia da qualidade<br />

dos mesmos,<br />

bem como a segurança<br />

para o consumidor,<br />

uma vez<br />

que seu uso poderá<br />

ser limitado pela<br />

legislação, promovendo<br />

dessa forma<br />

o combate à fraude<br />

(uso indiscriminado<br />

visando a incorporação<br />

excessiva de<br />

água).<br />

MAR/ABR 2019<br />

69


Defendeu!<br />

Em algum lugar do <strong>Brasil</strong>, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas<br />

informações para nossa aquicultura.<br />

Nome do acadêmico: Monique Berticelli Morselli<br />

Orientador: Prof. Dr. Diogo de Alcantara Lopes<br />

Co-orientador: Prof. Dr. Aleksandro Schafer da Silva<br />

Instituição: Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPG-<br />

ZOO), Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC<br />

Título da dissertação:<br />

Suplementação dietética de timol para carpa capim: efeitos<br />

sobre desempenho, sistema antioxidante e metabolismo<br />

energético hepático<br />

MAR/ABR 2019<br />

Introdução: Originária da Ásia, a carpa capim<br />

apresentam grande rusticidade, suporta baixas<br />

concentrações de oxigênio dissolvido na água<br />

e resiste a uma ampla faixa de temperatura, o que<br />

estimula sua produção nas regiões sul do <strong>Brasil</strong>.<br />

Contudo, apesar de sua rusticidade, as carpas não estão<br />

livres de serem acometidas por doenças bacterianas,<br />

e isso pode ocorrer devido ao sistema de manejo intensivo,<br />

elevadas densidades de estocagem, fornecimento<br />

de ração em demasia, redução da qualidade da água.<br />

Esses fatores podem aumentar a quantidade de bactérias<br />

no viveiro e como consequência, causar o surgimento<br />

de doenças. O uso indiscriminado de antibióticos para<br />

eliminar ou diminuir os problemas causados por doenças<br />

no sistema produtivo faz com que haja a seleção de<br />

linhagem de bactérias resistentes, aumentando o risco<br />

de resistência cruzada, ou seja, quando essa resistência<br />

acomete bactérias associadas à população humana.<br />

Para diminuir o risco a saúde humana e dos peixes,<br />

bem como aumentar seu bem-estar, vários<br />

estudos estão sendo realizados com produtos derivados<br />

de plantas como, por exemplo, óleos essenciais,<br />

extratos ou componentes puros, que constituem<br />

uma promissora fonte de moléculas bioativas.<br />

Os óleos essenciais são ricos em diferentes componentes,<br />

como por exemplo o óleo de orégano e tomilho<br />

que contém timol. O timol é quimicamente é conhecido<br />

como 2-isopropil-5-metilfenol (Figura 1) e pode ser<br />

extraído de diversas plantas aromáticas produtoras de<br />

óleos essenciais. A principal é o tomilho, sendo a planta<br />

na sua totalidade usada para extração do componente.<br />

De acordo com a literatura, o timol é um estimulante<br />

na digestão, e tem efeitos antisséptico e antioxidante<br />

que podem favorecer o desempenho zootécnico das<br />

carpas, o que justifica a escolha do composto como<br />

um aditivo alimentar. O timol também possui atividade<br />

antibacteriana relacionada ao mecanismo de ação que<br />

consiste em modificar a permeabilidade da membrana<br />

citoplasmática acarretando a saída do material intracelular<br />

e com isso causando a morte dos microrganismos.<br />

Figura 1. Estrutura<br />

molecular do timol<br />

(Peixoto-Neves et<br />

al., 2010).<br />

Objetivo: Avaliar a suplementação de timol na dieta<br />

de carpa capim e seu efeito sobre desempenho zootécnico,<br />

o sistema antioxidante e metabolismo energético.<br />

Materiais e métodos: O timol (peso molecular<br />

150,22 g/mol - Sigma-Aldrich®) foi adicionado a ração<br />

basal e um total de 160 alevinos de Ctenopharyngodon<br />

idella (7,33 ± 0,12 g; 8,13 ± 0,12 cm) foram<br />

mantidos em sistema de recirculação de água e divididos<br />

em quatro grupos, com quatro repetições e<br />

com 10 peixes por aquário (60 L) da seguinte forma:<br />

• T0: dieta sem suplementação de timol;<br />

• T100: dieta basal suplementada com 100 mg de<br />

timol / kg de ração basal;<br />

• T200: dieta basal suplementada com 200 mg de<br />

timol/kg de ração basal;<br />

• T300: dieta basal suplementada com 300 mg de<br />

timol/kg de ração basal.<br />

A taxa de alimentação diária foi de 6% da biomassa<br />

total, dividida em duas vezes (9h e <strong>17</strong>h), por 60 dias consecutivos.<br />

Ao término do estudo foi analisado o desempenho<br />

zootécnico e coletadas amostras de fígado para<br />

analises de variáveis relacionadas ao status oxidante e antioxidante,<br />

assim como metabolismo energético.<br />

70


Resultados e Discussão: Não houve<br />

diferença significativa entre os grupos quanto ao<br />

comprimento e consumo de ração. No entanto, o<br />

peso corporal e o ganho de peso corporal foram<br />

maiores nos peixes do grupo T100 em comparação<br />

com todos os outros grupos. Em porcentagem,<br />

o peso corporal dos peixes em 60 dias aumentou<br />

8,7% (T0), 47,1% (T100), 10,9% (T200) e 15,4%<br />

(T300). A análise de regressão mostrou um efeito<br />

do tratamento no peso corporal e no ganho de<br />

peso quando utilizada a dose recomendada de 68,4<br />

mg/kg e 72,6 mg/kg de timol, respectivamente.<br />

A atividade hepática da lactato desidrogenase<br />

(LDH) foi menor no grupo T100 comparado ao<br />

grupo T0. Os níveis de espécies reativas ao oxigênio<br />

(EROs) no fígado foram menores nos grupos<br />

T100, T200 e T300 comparado ao T0, assim como<br />

a peroxidação lipídica (LPO) foi menor no fígado<br />

dos peixes apenas do grupo T100. A atividade hepática<br />

da superóxido dismutase (SOD) foi maior no<br />

grupo T300 comparado ao T0, enquanto a atividade<br />

hepática da glutationa peroxidase (GPx) foi maior<br />

nos grupos T100, T200 e T300 comparado ao T0.<br />

Além disso, capacidade antioxidante total (ACAP)<br />

no fígado foi maior no grupo T100 comparado ao<br />

T0. Todos esses resultados mostram que a alimentação<br />

das carpas com 100 mg de timol/kg estimula<br />

o sistema antioxidante e consequentemente reduz<br />

a lipoperoxidação e níveis de radicais livres hepáticos,<br />

protegendo o fígado, um dos órgãos mais<br />

importantes relacionados ao sistema digestivo e<br />

interferindo assim diretamente no desenvolvimento<br />

dos peixes. A atividade hepática da adenilato kinase<br />

(AK) foi maior no grupo T100 comparado ao<br />

T0; mas a enzima piruvato quinase (PK) não diferiu<br />

entre grupos no fígado. Isso permite concluir que<br />

ocorre uma estimulação na síntese de ATP, molécula<br />

energética, envolvida em diferentes funções<br />

biológicas, entre elas no desempenho de animais.<br />

© Thinkstock<br />

Resumo dos principais resultados do trabalho<br />

com uso de 100 mg de timol/kg da ração na<br />

alimentação de carpas capim por 60 dias:<br />

1. Aumento de 47,1% do peso corporal<br />

comparado ao controle.<br />

2. Estimula resposta antioxidante enzimática<br />

(SOD e GPx) e não-enzimática (ACAP) no fígado.<br />

3. Reduz atividade da LDH hepática.<br />

4. Reduz peroxidação lipídica e radicais livres no<br />

fígado.<br />

5. Estimula atividade da AK, enzima envolvida no<br />

metabolismo energético, isto é, síntese de ATP.<br />

Considerações finais: Este estudo demonstrou que a suplementação dietética de timol (100 mg/kg de ração)<br />

foi capaz de melhorar o desempenho das carpas, sendo a dose recomendada de 68,4 mg/kg e 72,6 mg/kg<br />

de timol para peso corporal e ganho de peso, respectivamente. A suplementação dietética de timol (100 mg/kg<br />

de ração) foi capaz de melhorar o metabolismo energético hepático, enquanto que praticamente todas as concentrações<br />

testadas estimularam a resposta antioxidante hepática, que pode favorecer o aumento do desempenho e<br />

crescimento das carpas. No entanto, é importante notar que,<br />

de acordo com a análise estatística, doses ainda mais baixas<br />

de timol podem potencializar o desempenho da carpa.<br />

O trabalho foi defendido em:<br />

20/05/2019<br />

MAR/ABR 2019<br />

Agradecimento: Agradecemos a Matheus D. Baldissera, Carine F. Souza e Bernardo Baldisserotto por<br />

terem contribuído para execução do projeto.<br />

71


MAR/ABR 2019<br />

72


Ligia<br />

Uribe<br />

Gonçalves<br />

Zootecnista formada na Faculdade de Zootecnia<br />

e Engenharia de Alimentos da USP.<br />

Ligia é zootecnista, ingressou<br />

na aquicultura pelo gosto por<br />

ornamentais. Contudo, trabalha<br />

atualmente com um gigante dos<br />

rios! Ou como é chamado, o gigante<br />

da Amazônia: pirarucu. Os desafios<br />

acerca da produção do pirarucu em<br />

cativeiro motivaram o início de um<br />

grande projeto, o “Projeto Gigas”<br />

que teve início em 2015, do qual<br />

Ligia é coordenadora. Confira!<br />

AQUACULTURE BRASIL: Após a Zootecnia, qual foi a sua<br />

especialização?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Tenho Doutorado pela Faculdade<br />

de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP e<br />

durante o doutorado realizei um estágio sanduíche na<br />

Università degli Studi di Firenze na Itália. Após, fiz Pós-<br />

-Doutorado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de<br />

Queiróz” da USP.<br />

AQUACULTURE BRASIL: A ligação<br />

com a aquicultura começou na graduação<br />

ou ainda antes? Comente um<br />

pouco sobre sua carreira até aqui e<br />

projetos em que está envolvida.<br />

O objetivo do<br />

Projeto Gigas é realizar<br />

pesquisas direcionadas<br />

ao desenvolvimento<br />

morfológico, nutrição,<br />

manejo alimentar e<br />

sanidade das fases iniciais<br />

do pirarucu...<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Sempre tive<br />

paixão por peixes ornamentais e foi<br />

num curso sobre criação de peixes<br />

ornamentais que surgiu meu interesse<br />

pela aquicultura durante a graduação.<br />

Logo procurei a Profa. Elisabete<br />

Viegas para ser minha orientadora<br />

de iniciação científica. Iniciei na ciência<br />

com estudos de produção de<br />

coprodutos de resíduos de pescado<br />

para serem incluídos em dietas para<br />

peixes. Meus primeiros estudos foram<br />

com tilápias e depois passei a<br />

trabalhar com as espécies nativas:<br />

dourado, lambari, pacu, tambaqui e pirarucu. Em São<br />

Paulo, foquei a pesquisa mais para lipídios dietéticos, mas<br />

quando cheguei no Amazonas, vi que não fazia muito<br />

sentido continuar com esses estudos, pois faltavam conhecimentos<br />

mais básicos das espécies amazônicas. Então,<br />

encarei o grande desafio de trabalhar com a fase inicial<br />

do pirarucu. Iniciamos com a parte nutricional, mas<br />

logo vimos que tínhamos muito para conhecer desde a<br />

biologia da espécie até tratamento para doenças. Tem<br />

sido uma experiência muito gratificante trabalhar com o<br />

pirarucu.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Como coordenadora do projeto<br />

Gigas, explique para os leitores<br />

que ainda não conhecem, quando<br />

começou, onde é executado e<br />

quais seus principais objetivos?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: O projeto<br />

GIGAS nasceu em 2015, com<br />

recursos da CAPES e da FAPEAM,<br />

no Instituto Nacional de Pesquisas<br />

da Amazônia - INPA, Manaus,<br />

Amazonas. O nosso objetivo é<br />

realizar pesquisas direcionadas ao<br />

desenvolvimento morfológico,<br />

nutrição, manejo alimentar, sanidade<br />

das fases iniciais do pirarucu,<br />

com propostas de novas técnicas<br />

de manejo para uma larvicultura<br />

intensiva que promova maior sobrevivência<br />

dos animais e garanta<br />

juvenis saudáveis para a fase de<br />

engorda na piscicultura. Desde a<br />

sua criação, temos a honra de contar com a colaboração<br />

do Dr. Luís Conceição, da Sparos LDA em Portugal, que<br />

foi nosso bolsista Pesquisador Visitante Especial do Programa<br />

Ciências sem Fronteiras da CAPES.<br />

MAR/ABR 2019<br />

73


MAR/ABR 2019<br />

AQUACULTURE BRASIL: Quais os avanços em termos<br />

de pesquisa obtidos desde 2015 quando o Projeto Gigas<br />

começou?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Os principais avanços que tivemos<br />

foram o conhecimento dos principais eventos<br />

durante a metamorfose da larva do pirarucu, com finalização<br />

da formação das escamas acontecendo em<br />

animais com mais de 12 centímetros de comprimento.<br />

Verificamos que algumas rações comerciais podem desencadear<br />

problemas como hérnia e úlcera estomacal.<br />

Além disso, identificamos que larvas menores a 4 cm<br />

apresentam dificuldades pra digestão de zooplâncton<br />

do grupo ostacoda, que causam atraso no crescimento<br />

e até mortalidade. Estabelecemos um protocolo seguro<br />

para transição alimentar e utilização de ração comercial<br />

nas larvas de pirarucu com 4 centímetros de comprimento.<br />

Identificamos os principais parasitos que ocorrem<br />

nas pisciculturas de pirarucu, sendo que os tricodinídeos<br />

e os monogenéticos são os mais preocupantes<br />

nas larvas e juvenis, respectivamente. Com os nossos<br />

protocolos alimentares temos obtido 70% de sobrevivência,<br />

considerando a captura das larvas com 1,5 a 2<br />

centímetros de comprimento.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Atualmente, quais os principais<br />

desafios do projeto Gigas?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Nosso principal desafio é produzir<br />

microdietas para dar continuidade às pesquisas,<br />

pois grande parte dos alimentos foram feitos na empresa<br />

Sparos, em Olhão, Portugal. Estamos adquirindo<br />

os equipamentos e em breve poderemos processar rações<br />

(microdietas) mais adequadas para larvas de peixes<br />

e camarões.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Como é a relação do Projeto<br />

Gigas com os produtores, há uma troca de informações?<br />

Há participação de colaboradores externos ao<br />

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Nossos primeiros estudos foram<br />

realizados na piscicultura Boa Esperança, propriedade<br />

do Sr. Megumi Yokoyama, o “Pedrinho”,<br />

em Primavera de Rondônia, Rondônia. Esse primeiro<br />

contato com a família Yokoyama foi essencial para troca<br />

de informações com o produtor, quando aprendemos<br />

muito sobre o manejo reprodutivo e também das<br />

formas jovens. Essa colaboração foi muito importante<br />

para planejarmos os nossos experimentos. Além disso,<br />

os primeiros ensaios no INPA foram executados<br />

com larvas de pirarucu provenientes da piscicultura<br />

Boa Esperança. Hoje também temos parceria com o<br />

Sítio Amadeu Cirino, propriedade do Sr. Ari, que está<br />

localizado no munícipio de Coari, interior do Amazonas.<br />

Para atender os técnicos e produtores, realizamos<br />

algumas vezes o curso de capacitação chamado “Larvicultura<br />

intensiva do pirarucu” em Manaus e Coari<br />

no Amazonas e Paragominas no Pará. Em novembro,<br />

ofereceremos mais uma vez o curso no Congresso<br />

Zootecnia da Amazônia em Santarém no Pará.<br />

AQUACULTURE BRASIL: O projeto Gigas é financiado<br />

por agências de fomento ou apenas com<br />

recursos próprios? E estes recursos estão assegurados<br />

para a continuidade das pesquisas, mesmo<br />

diante do cenário atual de crise no Ministério<br />

da Educação, ou podem estar comprometidos?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Nós obtivemos recursos da<br />

CAPES e FAPEAM, porém esses projetos foram finda-<br />

74


dos em janeiro de 2019. Atualmente, tenho somente<br />

um projeto com pirarucu em vigência com recursos da<br />

FAPEAM e CNPq (Edital Primeiros Projetos de Pesquisa),<br />

que também está em fase final de utilização dos recursos<br />

financeiros. Infelizmente, no último edital da FAPEAM,<br />

destinado para aquicultura, somente foi possível apresentar<br />

proposta com tambaqui e matrinxã. Acredito que<br />

toda pesquisa brasileira está comprometida com o atual<br />

cenário brasileiro. Nós estamos tentando encontrar uma<br />

solução para que as nossas pesquisas não parem. Recentemente,<br />

conseguimos a aprovação da Advocacia Geral<br />

da União para comercializar os juvenis de pirarucu que<br />

são os resultados das nossas pesquisas, e assim, conseguir<br />

algum recurso para comprar insumos e continuar<br />

com os ensaios, mesmo que em “marcha” mais lenta.<br />

de peixes não nativos nos rios do Estado do Amazonas<br />

foi publicada e logo depois acabou sendo revogada sob<br />

apelo de instituições ambientais. Em sua opinião, valeria<br />

a pena arriscar a introdução de uma espécie não nativa<br />

nestes locais? Ou as espécies da aquicultura nacional tem<br />

potencial para alavancar a produção do Amazonas?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Na minha opinião não vale a<br />

pena arriscar a introdução de espécies exóticas nos rios<br />

do Amazonas, pois além dos problemas ambientais,<br />

as espécies nativas possuem desempenho zootécnico<br />

excelente na região.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Qual a sua perspectiva para a<br />

produção de peixes nativos no <strong>Brasil</strong>, em especial sobre<br />

o Pirarucu?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Eu acredito muito no potencial<br />

dos peixes amazônicos. Isso pode ser visto com o tambaqui,<br />

como principal representante, está lá no topo da<br />

produção aquícola brasileira. Em relação ao pirarucu,<br />

acho que faltam muitos estudos para deixar o produtor<br />

mais confiante em relação ao alto investimento inicial<br />

da sua produção, mas já vi casos de sucesso no <strong>Brasil</strong>.<br />

Nesse momento, acho que a espécie seria muito interessante<br />

para ser trabalhada em policultivo com peixes<br />

onívoros. O pirarucu pode atuar como predador de<br />

peixes forrageiros, diminuindo a quantidade de competidores<br />

de alimento e oxigênio, e o peixe onívoro pode<br />

se aproveitar do resto do alimento do pirarucu, além<br />

de filtrar a grande quantidade<br />

de plâncton que<br />

haverá na água devido<br />

os resíduos nitrogenados<br />

e fosfatados. Não<br />

falta mercado para comercializar<br />

a carne do<br />

pirarucu, já recebi comerciantes<br />

querendo<br />

indicação de produtores<br />

que poderiam oferecer<br />

regularmente 20<br />

toneladas de pirarucu<br />

ao mês, mas não encontramos.<br />

MAR/ABR 2019<br />

AQUACULTURE BRASIL:<br />

Em 2016 uma legislação<br />

que permitia o cultivo<br />

75


AQUACULTURE BRASIL: Atualmente o maior desafio do<br />

cultivo de Pirarucu e os peixes nativos redondos está<br />

na nutrição?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Acredito que para o pirarucu os<br />

maiores desafios são a inconstância na oferta de juvenis,<br />

preço muito elevado do juvenil, alto investimento e falta<br />

de tecnologias específicas para a espécie. Em relação ao<br />

tambaqui, o maior desafio é sanitário, algumas doenças<br />

têm prejudicado a produção e a utilização de medicamentos<br />

sem controle podem causar sérios problemas<br />

de segurança ambiental e alimentar.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Deixe um convite para<br />

futuros alunos interessados em ingressar em uma pósgraduação<br />

que possam colaborar com o projeto Gigas?<br />

Ligia Uribe Gonçalves: Primeiramente, gostaria de<br />

agradecer a equipe da revista <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> pelo<br />

interesse no Projeto GIGAS. As demais pessoas que<br />

tiverem interesse em conhecer um pouco mais do<br />

nosso trabalho, podem acessar a nossa página www.<br />

projetogigas.com e também nos seguir nas redes sociais<br />

@projetogigas e facebook.com/projetogigas. Os que tiverem<br />

interesse em pós-graduação podem obter maiores<br />

informações nos sites:<br />

PPG-Aquicultura: http://pgaquicultura.inpa.gov.br/<br />

PPG-Ciências Pesqueiras nos Trópicos: http://ppgcipet.ufam.edu.br/<br />

PPG-Ciência Animal: https://ppgcan.ufam.edu.br/<br />

Para o pirarucu<br />

os maiores desafios são a<br />

inconstância na oferta e<br />

preço muito elevado do<br />

juvenil, alto investimento<br />

e falta de tecnologias<br />

específicas para a<br />

espécie...<br />

Equipe do Projeto Gigas (2019).<br />

MAR/ABR 2019<br />

76


77<br />

MAR/ABR 2019


Jesus Malpartida Pasco<br />

@jesusmalpartidap<br />

A seção “Eles fazem a diferença” desta edição presta uma justa homenagem a<br />

alguém que talvez ainda não seja muito reconhecido pelas pessoas que trabalham<br />

com a aquicultura em todo o <strong>Brasil</strong>, entretanto, trata-se de um dos profissionais mais<br />

competentes e dedicados que o País possui. Peruano de nascimento e brasileiro de<br />

coração, Jesus é um grande multiplicador de conhecimentos técnicos, especialmente na<br />

área de tilapicultura e carcinicultura marinha, focado aos sistemas intensivos em bioflocos.<br />

“Quando fui escolher uma profissão defini que<br />

queria estudar algo que não fosse tão comum. Lá<br />

no Peru (meu país de nascimento) a pesca é uma<br />

atividade econômica muito significativa, porém as<br />

espécies aquáticas mais apreciadas pela tão reconhecida<br />

culinária peruana (por exemplo o linguado),<br />

eram escassas, sazonais ou inclusive restritas às<br />

classes sociais com maior poder econômico. Quando<br />

entendi que isto acontecia pela dificuldade e a baixa<br />

disponibilidade destas espécies, comecei a pesquisar a<br />

maneira de mudar este contexto e por isso orientei os<br />

meus estudos de biologia no Peru para a parte da produção<br />

aquícola. Porém encontrei bastante dificuldade<br />

para apoio à pesquisa, nas condições em que o país se<br />

encontrava naquela época (inícios dos anos 2000)”.<br />

MAR/ABR 2019<br />

Do Peru para o <strong>Brasil</strong><br />

“Logo que terminei minha graduação (fim de<br />

2001), conversando com o meu professor da Universidad<br />

Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), o<br />

Dr. Juan Enrique Vinatea Jaramillo, me candidatei a<br />

uma vaga no Programa de Mestrado em Aquicultura<br />

na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).<br />

Assim, cheguei ao <strong>Brasil</strong> para complementar meus<br />

estudos e encontrei uma realidade completamente<br />

diferente. A produção aquícola brasileira era cada vez<br />

maior, tanto em piscicultura continental, carcinicultura<br />

e inclusive também na malacocultura. As universidades<br />

que trabalhavam com pesquisa possuíam uma<br />

estrutura e um staff de profissionais de alto nível.<br />

Dentro destes profissionais tive a grande sorte e o favor<br />

de Deus em colocar no meu caminho aquele que<br />

viria a ser meu grande amigo, mentor e exemplo de<br />

profissional, o Dr. Luís Alejandro Vinatea Arana. Uma<br />

vez finalizado meu mestrado me casei com Adriana,<br />

minha esposa, e cinco anos depois veio a Marina, a<br />

nossa lindíssima filha. Quando a Marina nasceu iniciei<br />

78


meus estudos de doutorado no meu segundo lar, a<br />

UFSC. Já no doutorado trabalhei com a tecnologia de<br />

bioflocos, com a produção intensiva de tilápia e com<br />

a busca do manejo energético mais eficiente, tudo<br />

para que a nossa pesquisa fosse útil para a produção<br />

para o produtor, para o técnico, para o <strong>Brasil</strong> e para o<br />

mundo”.<br />

Especialista em sistemas intensivos<br />

“Na verdade, quando falamos em sistemas intensivos,<br />

como sempre ensinamos nos nossos cursos,<br />

a espécie é mais um fator de todo o sistema que<br />

trabalhamos. Pois o que cultivamos é a água, e a<br />

adequamos a certos requerimentos específicos para<br />

o tipo de espécie, o estágio de produção e a finalidade<br />

para a qual vamos usar o sistema. À época,<br />

iniciamos os cultivos com tilápia, dominando por<br />

completo os estágios e as produtividades. E continuamos<br />

com o cultivo de camarão marinho tanto na<br />

engorda como na produção de berçários intensivos.<br />

Com certeza estes cultivos conseguirão alavancar<br />

novamente a aquicultura brasileira e mundial, desde<br />

que bem orientados, projetados e manejados”.<br />

Um pré-conceito que se tornou um grande<br />

combustível<br />

“Trabalhar no <strong>Brasil</strong> foi difícil ao início, pois como<br />

me disse um professor de faculdade: “-Se eu dou<br />

a oportunidade a você, teria que tirá-la de um<br />

brasileiro...” Isso me marcou muito! Embora naquela<br />

época eu ainda não fosse oficialmente brasileiro,<br />

já gostava do bordão: sou brasileiro e não desisto<br />

nunca. Não desisti e encontrei pessoas (produtores,<br />

empresários e outros técnicos) que atentavam<br />

mais para a competência, seriedade, compromisso<br />

e capacidade técnica do que para o lugar de<br />

nascimento do profissional. Contei essa história para<br />

muitos amigos e muitos deles criticaram a atitude<br />

do professor, e isso me fez ver que o pensamento<br />

das pessoas atualmente é mais integrador, mais<br />

humano, e isso já é um bom caminho para consertar<br />

o país e o mundo. Agora agradeço a todas as<br />

pessoas que sempre me brindaram com sua<br />

confiança e que reconhecem o esforço realizado<br />

ao longo destes mais de 15 anos de atividade<br />

profissional especializada na aquicultura”.<br />

Principais projetos e conquistas<br />

“Produzir em fazendas com mancha branca,<br />

produzir camarão marinho em águas interiores,<br />

produzir com água de rio que ninguém botava<br />

fé, produzir em países que não conheciam o<br />

sistema BFT ou em lugares onde a estrutura<br />

montada já tinha sido abandonada por maus<br />

resultados, porém, com a nossa chegada como<br />

consultor externo conseguimos colocar um pouco<br />

de fé e muito pescado. Dar cursos no <strong>Brasil</strong> e<br />

em outros países da América Latina. Também,<br />

fazer um pós-doutorado com o Dr. Luís Vinatea<br />

na Espanha, trabalhando lado a lado junto com<br />

ele e alavancar o nome do <strong>Brasil</strong> e do Peru no<br />

velho continente. Um desafio muito grande foi<br />

montar a nossa empresa, a JMPaquaculture,<br />

já que marcava a ruptura da minha etapa de<br />

estudante. Tudo o que veio a partir desse dia é<br />

uma conquista, já que o fato de ter a empresa<br />

nos serve para poder participar em cursos,<br />

eventos e palestras no <strong>Brasil</strong> inteiro, onde só<br />

empresas podem participar. A JMP estará onde<br />

seja necessária”.<br />

MAR/ABR 2019<br />

79


Além de consultor, agora também produtor!<br />

“Justamente, mais do que uma produção<br />

própria, o nosso LabTA (Laboratório de Tecnologia<br />

Aquícola da JMPaquaculture), foi concebido<br />

para suprir dois objetivos. Primeiro comprovar<br />

para os investidores que conseguimos produzir<br />

tilápias em sistemas superintensivos (30-35kg/<br />

m³) e produzir camarões marinhos em águas<br />

interiores (3-4 kg/m³), utilizando água do mar<br />

transportada, água salinizada e água corrigida<br />

via balanço iônico. Segundo para oferecer aos<br />

nossos parceiros, produtores e clientes a possibilidade<br />

de testar seus produtos (aeradores,<br />

alimentadores etc.) com um acompanhamento<br />

técnico especializado que com certeza oferecerá<br />

resultados que servirão para melhorar os<br />

produtos testados. Também com o LabTA os nossos<br />

clientes-produtores e alunos poderão contar<br />

com uma unidade demonstrativa do sistema<br />

em funcionamento que possa servir para aquela<br />

tomada final de decisão entre construir ou não o<br />

projeto aquícola”.<br />

MAR/ABR 2019<br />

O motivo de maior orgulho<br />

“O que mais me deixa orgulhoso na minha<br />

trajetória é ser sincero. Sincero com os produtores,<br />

sincero com os alunos, sincero com as pessoas<br />

que me deram, me dão e me darão seu apoio e<br />

a sua confiança. Saber que a nossa bandeira é a<br />

sinceridade técnica atrelada a um grande conhecimento<br />

científico e de campo. O jogo aberto e o<br />

apoio às pessoas que buscam em nós um conselho<br />

profissional, e que respondem com um elogio,<br />

que respondem com um obrigado e que saem dos<br />

nossos cursos e consultorias nos recomendando, é<br />

o que nos deixa orgulhosos”.<br />

O que vem pela frente<br />

“Consolidar minha empresa e interagir<br />

com produtores responsáveis e a longo prazo.<br />

Consolidar parcerias a longo prazo com<br />

empresas que vendem produtos que sabemos<br />

que funcionam e muito bem, empresas que já<br />

são parceiras nossas e empresas que venhamos<br />

a conhecer, cujos produtos sejam diferenciados e<br />

que colaborem com o incremento da produção<br />

aquícola. Aumentar a equipe de trabalho e<br />

que mais clientes possam usufruir do nosso<br />

manejo especializado e diferenciado, e isso<br />

se traduza em maiores lucros para os nossos<br />

clientes. Aumentar a nossa consultoria e<br />

assessoria on-line que é um dos nossos maiores<br />

orgulhos pois conseguimos utilizar a tecnologia<br />

dos meios digitais para trabalhar em qualquer<br />

canto do planeta. Também espero em breve<br />

concretizar a nossa fazenda própria, pois já<br />

tenho dois projetos que estão em execução e<br />

muito logo seremos produtores para valer, em<br />

maior escala! Finalmente, gostaria de trabalhar<br />

em uma universidade, como professor externo<br />

ou com uma ou duas disciplinas só, para poder<br />

manter minha “liberdade” de ir de país em<br />

país, de produtor em produtor, de cursos em<br />

cursos, aprendendo, ensinando, produzindo em<br />

conjunto”.<br />

Onde o encontraremos daqui há 30 anos...<br />

“Se Deus me der vida ainda, gostaria de estar<br />

na minha fazenda com meus animais, cercado<br />

dos meus netos, minha filha, minha esposa e os<br />

meus amigos, produzindo de tudo, com uma fazenda<br />

autossustentável e podendo fazer trabalho<br />

social, podendo fazer com que muitas pessoas se<br />

beneficiem com o que nós produzimos. Me vejo<br />

feliz e tranquilo pela trajetória percorrida e me<br />

vejo comendo um delicioso ceviche de linguado<br />

produzido pela JMPaquaculture”.<br />

80


81<br />

MAR/ABR 2019


Nem só de tilápia caminha a aquicultura paranaense! Conheça os resultados da produção<br />

do camarão gigante da Malásia Macrobrachium rosenbergii, em parceria com o<br />

Laboratório de Carcinicultura - LABCAR, da Universidade Federal do Paraná, no município<br />

Palotina.<br />

Fazenda:<br />

Pierezan<br />

MAR/ABR 2019<br />

Data do povoamento: 07/09/2018<br />

Quantidade de PL estocadas: 25.000<br />

Área: 2.400 m²<br />

Densidade: 10,5 camarões / m²<br />

Data da despesca: 05/04/2019<br />

Dias de cultivo: 210<br />

Peso final médio: 40 g<br />

Biomassa final: 560 Kg<br />

Produtividade: 2.333Kg/ha<br />

Sobrevivência: 56,0%<br />

Total de ração: 1.400 Kg<br />

Conversão alimentar: 2,5:1<br />

82


83<br />

MAR/ABR 2019

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