Edição 17 - Revista Aquaculture Brasil
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aquaculturebrasil.com<br />
REVISTA<br />
AQUACULTURE<br />
BRASIL<br />
EDIÇÃO<br />
<strong>17</strong><br />
MARÇO/ABRIL<br />
2019<br />
ISSN 2525-3379<br />
OSTRAS DA<br />
AMAZÔNIA :<br />
Artigo: Microbiota<br />
intestinal em peixes de<br />
aquicultura<br />
Coluna: Tendências na<br />
nutrição em bioflocos<br />
Uma oportunidade de negócio<br />
sustentável<br />
Entrevista: Ligia Uribe<br />
Gonçalves - projeto<br />
GIGAS<br />
Eles fazem a diferença:<br />
Jesus Malpartida Pasco<br />
MAR/ABR 2018<br />
1
AQUACULTURE BRASIL<br />
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA<br />
BRASILEIRA!<br />
EDITOR-CHEFE:<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
redacao@aquaculturebrasil.com<br />
EDITORES-ASSISTENTES:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
DIREÇÃO DE ARTE:<br />
Syllas Mariz<br />
Jéssica Brol<br />
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:<br />
Alexandre Gobbo Fernandes, Alexandre Rodrigues Caetano,<br />
Amana Garrido, Ana Conceição Abreu de Sousa, Carla<br />
Zilberberg, Cristiano Pereira, Débora de Oliveira Pires,<br />
Eduardo Gomes Sanches, Eduardo Sousa Varela, Fabrício<br />
Flores Nunes, Fabrício Pereira Rezende, Jesus Malpartida<br />
Pasco, José Pablo Fuentes Quesada, Leandro Godoy,<br />
Ligia Uribe Gonçalves, Lucas Simon Torati, Luciana Cristine<br />
Vasques Villela, Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik,<br />
Luciana Shiotsuki, Luiz Eduardo Lima de Freitas, Maria<br />
Angélica Reis, Monique Berticelli Morselli, Otávio Mesquita<br />
de Sousa, Patrícia Ianella, Rafael Mansano Martins,<br />
Vanessa Villanova Kuhnen e William Bauer.<br />
Os artigos assinados e imagens são de<br />
responsabilidade dos autores.<br />
COLUNISTAS:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Andre Muniz Afonso<br />
André Camargo<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Eduardo Gomes Sanches<br />
Fábio Rosa Sussel<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
Marcelo Roberto Shei<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
As colunas assinadas e imagens são de<br />
responsabilidade dos autores.<br />
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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação<br />
bimestral da EDITORA<br />
AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.<br />
(ISSN 2525-3379).<br />
www.aquaculturebrasil.com<br />
Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC,<br />
88790-000.<br />
“Incrível”<br />
Não há outra palavra para expressar o que foi<br />
a cerimônia de entrega do Prêmio Inovação Aquícola<br />
2019, em Santa Fé do Sul, noroeste paulista.<br />
A “terra da tilápia”, ao menos na noite do dia 15<br />
de maio de 2019, obrigou-se a reverenciar outras<br />
culturas aquáticas, como a carcinicultura marinha<br />
em águas interiores e a ostreicultura, diretamente<br />
do Estado do Pará!<br />
Aliás, o “Projeto Ostras da Amazônia”, de autoria<br />
de Ana Conceição Abreu de Sousa do SEBRAE/<br />
PA, foi o grande vencedor... o grande inovador<br />
aquícola de 2019. Com 1242 votos online, venceu<br />
na categoria “Produção” e de quebra foi, simbolicamente, o case campeão<br />
geral, por ter tido o maior percentual (48,5%) entre todos os vencedores de<br />
todas as categorias.<br />
Como não brindar estampando na capa da nossa <strong>17</strong>ª edição tamanha conquista?<br />
Parabéns a Ana, ao SEBRAE e demais órgãos e instituições envolvidas,<br />
aos produtores, ao belíssimo Estado do Pará e, claro, às ostras! Estreando nas<br />
capas da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
E os apresentadores do Prêmio? Um charme a participação do casal aquícola<br />
Célia Maria Dória Frascá-Scorvo e João Donato Scorvo Filho, pesquisadores do<br />
Instituto de Pesca de São Paulo. A cerimônia de entrega dos troféus não seria a<br />
mesma sem a participação destes queridos amigos.<br />
Aproveito para fazer um agradecimento especial às empresas MSD Saúde<br />
Animal e Phibro Saúde Animal, apoiadoras financeiras do prêmio em 2019.<br />
Sem vocês, tudo teria sido mais difícil. Obrigado aos parceiros Mariana Nagata,<br />
Rodrigo Zanolo e a toda equipe de vocês.<br />
Novidades, inovações e novas tecnologias... este sempre foi um dos principais<br />
motores propulsores da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
Neste contexto, a coluna Biotecnologia de Algas, escrita sempre de forma<br />
impecável pelo Prof. Dr. Roberto Bianchini Derner, da UFSC, pela segunda edição<br />
consecutiva apresenta um laboratório de pesquisas aos seus leitores, desta<br />
vez o LNEG, de Portugal. Conversando com o Roberto, ele propôs que a AB<br />
em toda edição apresentasse um laboratório de pesquisas sobre aquicultura do<br />
<strong>Brasil</strong> ou de fora.<br />
Na AB é assim, uma ótima ideia trazida já vira realidade na próxima edição.<br />
Falta apenas o nome para esta nova seção. Alguma sugestão?<br />
Ótima leitura a todos!<br />
Giovanni Lemos de Mello,<br />
Editor-chefe.<br />
A AQUACULTURE BRASIL não se<br />
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SUMÁRIO<br />
AQUACULTURE BRASIL - edição <strong>17</strong> mar/abr 2019<br />
08 FOTO DO LEITOR<br />
»»<br />
p.10<br />
10 FUNDAÇÃO DAS BASES GENÉTICAS PARA UM<br />
FUTURO PROGRAMA DE MELHORAMENTO DE<br />
TAMBAQUI (Colossoma macropomum)<br />
16 CULTIVO DE PEIXES MARINHOS COMO ALTERNATIVA<br />
DE CONSERVAÇÃO: CONHECENDO O PROJETO<br />
MEROS DO BRASIL<br />
22 O MUNDO PECULIAR DOS CORAIS: CICLO DE VIDA E<br />
FORMAÇÃO DE RECIFES<br />
»»<br />
p.16<br />
28 OSTRAS DA AMAZÔNIA: UMA OPORTUNIDADE DE<br />
NEGÓCIO SUSTENTÁVEL<br />
34 MICROBIOTA INTESTINAL EM PEIXES DE<br />
AQUICULTURA<br />
38 A ECONOMIA CIRCULAR NA PRODUÇÃO DE<br />
ALIMENTOS: PANORAMA E DESAFIOS PARA A<br />
IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS<br />
44 BLUECO NET – WORKSHOP SOBRE AQUICULTURA<br />
MULTITRÓFICA INTEGRADA E O FUTURO DA<br />
AQUICULTURA SUSTENTÁVEL NO BRASIL<br />
48 ESPAÇO EMPRESA<br />
»»<br />
p.22<br />
50 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR<br />
51 CHARGES<br />
6
»»<br />
p.70<br />
»»<br />
p.72<br />
52 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />
53 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />
54 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA<br />
56 GENÉTICA<br />
»»<br />
p.34<br />
58 GREEN TECHNOLOGIES<br />
»»<br />
p.38<br />
»»<br />
p.44<br />
59 PISCICULTURA MARINHA<br />
60 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA<br />
62 VISÃO AQUÍCOLA<br />
64 RANICULTURA<br />
65 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA<br />
66 AQUICULTURA ORNAMENTAL<br />
68 TECNOLOGIA DO PESCADO<br />
70 DEFENDEU<br />
72 ENTREVISTA - LIGIA URIBE GONÇALVES<br />
78 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />
82 DESPESCOU<br />
»»<br />
p.78<br />
7
Fêmea ovada - Macrobrachium rosenbergii<br />
Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata,<br />
(Ribeirão, PE)<br />
Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri<br />
Daniel Cavalcanti<br />
(Fortaleza, CE)<br />
@triangulodocamarao<br />
Giancarlo Lavor<br />
Carpa ornamental - Piscicultura Pomar do Carmo<br />
(Mirim, SP)<br />
Carlos Conte<br />
@danilo_carpas_pomar_do_carmo<br />
MAR/ABR 2019<br />
Aquarium of the Pacific<br />
(Long Beach, Califórnia)<br />
Cristina Viriato de Freitas<br />
@criisviriato<br />
8
Piscicultura<br />
(Francisco Alves, PR)<br />
Débora Bueno<br />
@medvet.debora<br />
Camarão cultivado em BFT - Litopenaus vannamei<br />
(Rio Grande, RS)<br />
Marilia Fernandes Costa e Kelly Izumi<br />
@mary_costa / @kellyizumi<br />
MAR/ABR 2019<br />
>><br />
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia<br />
e participe desta seção.<br />
redacao@aquaculturebrasil.com<br />
9
MAR/ABR 2019<br />
© Jefferson Cristiano Christofoletti<br />
10
Fundação das Bases Genéticas<br />
para um Futuro Programa<br />
de Melhoramento de Tambaqui<br />
(Colossoma macropomum)<br />
Luciana Shiotsuki 1 *, Luciana Cristine Vasques Villela 1 , Luciana Nakaghi Ganeco<br />
Kirschnik 1 , Luiz Eduardo Lima de Freitas 1 , Fabrício Pereira Rezende 1 , Eduardo Sousa<br />
Varela 1 , Lucas Simon Torati 1 , Patrícia Ianella 2 e Alexandre Rodrigues Caetano 2<br />
1<br />
Embrapa Pesca e Aquicultura<br />
2<br />
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia<br />
Palmas, TO<br />
*luciana.shiotsuki@embrapa.br<br />
Brasília, DF<br />
Programas de melhoramento genético<br />
amplamente difundidos em espécies de<br />
animais domésticos ainda são pouco<br />
empregados na aquicultura<br />
e muitas das espécies criadas<br />
comercialmente ainda dependem<br />
da captura de reprodutores<br />
ou alevinos selvagens (Gjedrem,<br />
2005). Existem estimativas de<br />
que menos de 10% da produção<br />
mundial em aquicultura seja<br />
baseada em germoplasma<br />
proveniente de programas de<br />
melhoramento (Gjedrem et al.<br />
2012). Como exemplos clássicos<br />
de espécies de peixes em que<br />
a produção é baseada em<br />
programas de melhoramento<br />
podemos citar, salmão (Salmo<br />
salar), truta (Oncorhynchus sp.)<br />
e tilápia (Oreochromis niloticus),<br />
nas quais o foco tem sido a<br />
geração de linhagens com produtividade superior nos<br />
Existem estimativas<br />
de que menos de 10%<br />
da produção mundial em<br />
aquicultura seja baseada<br />
em germoplasma proveniente<br />
de programas de<br />
melhoramento.<br />
diferentes sistemas de criação (Powell et al. 2008;<br />
Nguyen et al. 2010).<br />
A escassez de programas de melhoramento<br />
genético em espécies de<br />
aquicultura está relacionada<br />
principalmente aos altos custos<br />
associados à infraestrutura e<br />
mão de obra necessários para<br />
a manutenção de núcleos de<br />
melhoramento, com animais<br />
identificados individualmente<br />
e coleta periódica de dados<br />
de produção. Em muitos<br />
casos, observa-se a erosão<br />
genética ocasionada pelo<br />
acúmulo da endogamia nos<br />
plantéis de reprodutores, em<br />
função da utilização de poucos<br />
exemplares para geração de<br />
animais de reposição dos<br />
estoques destinados a produção<br />
(Gjedrem, 2005), problema<br />
bastante comum em espécies com alta fertilidade.<br />
MAR/ABR 2019<br />
11
Justificativa do projeto<br />
A estruturação de programas de melhoramento<br />
genético possibilita a geração de materiais genéticos<br />
que permitem o aumento da produtividade e da qualidade<br />
dos produtos derivados, atendendo às exigências<br />
do mercado consumidor (Rosa et al., 2013). Tais programas<br />
consistem em importante atividade estratégica<br />
para aproveitamento máximo do potencial aquícola<br />
brasileiro, podendo colocar o País numa posição de<br />
destaque entre os maiores produtores mundiais de<br />
pescado. Embora em 20<strong>17</strong> tenha sido observado um<br />
crescimento de 8% em relação ao ano anterior (Anuário<br />
PeixeBR, 2018), o <strong>Brasil</strong> ainda não se destaca entre<br />
os dez principais países com maior produção aquícola<br />
mundial (FAO, 2018).<br />
A mudança desse cenário depende de inúmeros<br />
fatores, entre os quais o desenvolvimento de pacotes<br />
tecnológicos robustos e confiáveis para as espécies nativas.<br />
O tambaqui (Colossoma macropomum) tem despontado<br />
como uma das principais espécies da aquicultura<br />
nacional, com um volume de produção de cerca<br />
de 137 mil toneladas em 2016, inferior somente ao alcançado<br />
pela tilápia (IBGE, 2016), espécie amplamente<br />
estudada em diferentes países, cujo pacote tecnológico<br />
é bem estabelecido. Considerando o potencial dessa<br />
espécie e aptidão natural do <strong>Brasil</strong> para a aquicultura, o<br />
projeto “Fundação das Bases Genéticas para um Futuro<br />
Programa de Melhoramento de Tambaqui - AMA-<br />
ZONGEN”, financiado pelo Fundo Amazônia, objetiva<br />
implementar em produtores comerciais situados no<br />
Bioma Amazônico alguns plantéis de reprodutores de<br />
tambaqui com germoplasma qualificado. Tais plantéis<br />
(chamados de Núcleos Satélites) possibilitarão a estruturação<br />
da base para futuros programas de melhoramento<br />
genético da espécie.<br />
• Controle das taxas de endogamia;<br />
• Direcionamento dos acasalamentos;<br />
• Identificação de possíveis híbridos no plantel, entre<br />
outras.<br />
A realização da escrituração zootécnica é o primeiro<br />
passo para a estruturação de um programa de<br />
melhoramento genético, sendo imprescindível a identificação<br />
individual dos animais que compõem o plantel<br />
de reprodutores. Usualmente a identificação em<br />
peixes é feita por meio da implantação de dispositivos<br />
eletrônicos (tags ou micro chips) no corpo do animal<br />
(músculo ou cavidade abdominal) que permitam a leitura<br />
do código de identificação. A partir das informações<br />
coletadas pela escrituração zootécnica será possível<br />
que os produtores gerenciem os seus plantéis de<br />
forma mais eficiente, uma vez que será possível identificar<br />
de forma individualizada os animais com melhores<br />
índices produtivos, monitorar eventuais problemas<br />
no plantel, manter e analisar o histórico de uso dos<br />
animais e estabelecer manejos nutricionais, sanitários<br />
e reprodutivos mais apropriados, reduzindo riscos e<br />
custos associados. Além desses aspectos, será possível<br />
agregar valor aos animais, visto que os mesmos passarão<br />
a ter um “certificado” de pedigree e do seu desempenho<br />
produtivo e reprodutivo, o que possibilitará o<br />
controle de taxas de endogamia e o planejamento de<br />
uso de cada animal, seja no momento da seleção, uso<br />
e comercialização de matrizes, seja para a definição de<br />
critérios de descarte (Lobo, 2002).<br />
Figura 1. Piscicultura selecionada do estado de Rondônia. © Jenner Menezes<br />
MAR/ABR 2019<br />
Desenvolvimento<br />
Para o projeto, três pisciculturas comerciais foram<br />
selecionadas, sendo uma localizada no Estado de Rondônia<br />
(em virtude deste figurar como o maior produtor<br />
nacional de tambaqui), uma situada no Estado<br />
do Amazonas (principal polo nacional de consumo<br />
de tambaqui) e uma terceira propriedade no Estado<br />
do Tocantins (em função da proximidade com a base<br />
central dos núcleos satélites, estruturada na Embrapa<br />
Pesca e Aquicultura). Nos três núcleos satélites a serem<br />
implementados serão realizadas diversas ações<br />
que ainda não fazem parte da rotina da maioria dos<br />
piscicultores brasileiros, entre as quais:<br />
• Atividades de escrituração zootécnica;<br />
• Identificação individual dos reprodutores;<br />
12
Figura 2. Chipagem em tambaqui. © Luciana Ganeco<br />
A realização da<br />
escrituração zootécnica<br />
é o primeiro passo<br />
para a estruturação<br />
de um programa de<br />
melhoramento genético,<br />
sendo imprescindível a<br />
identificação individual<br />
dos animais que<br />
compõem o plantel de<br />
reprodutores.<br />
A construção de bancos de dados seguros e confiáveis<br />
contendo todas as informações dos plantéis<br />
(pedigree, produtivas, reprodutivas, entre<br />
outras) poderá consistir em pontos para<br />
a elaboração e execução de programas<br />
eficientes de seleção e de melhoramento<br />
genético. Além disso, essas informações<br />
são fundamentais para a caracterização fenotípica<br />
da população base (plantel de reprodutores)<br />
e poderão ser utilizadas para<br />
a seleção, ponto-chave para o sucesso de<br />
programas de melhoramento genético. É<br />
sabido ainda que uma base genética ampla<br />
e com alta variabilidade são pontos de<br />
partida para a mensuração das diferenças<br />
genéticas entre populações (Tave, 1995;<br />
Hilsdorf e Orfão, 2011) e permitem a<br />
obtenção de ganhos genéticos por um<br />
número elevado de gerações. As relações<br />
de parentesco também devem ser<br />
conhecidas com o intuito de minimizar a<br />
consanguinidade no plantel e suas consequências,<br />
como a depressão por endogamia.<br />
Outro ponto relevante é a certificação de pureza<br />
específica, que permite identificar e evitar possíveis introgressões<br />
gênicas interespecíficas nos reprodutores<br />
da população base. Para o projeto planeja-se, portanto,<br />
a formação/organização, orientação e acompanhamento<br />
in loco dos plantéis nos três núcleos satélites<br />
e a realização de diversas atividades de capacitação<br />
dos técnicos envolvidos em aspectos de escrituração<br />
zootécnica, manejo reprodutivo e direcionamento de<br />
acasalamentos (baseados nas relações de parentesco<br />
e na certificação da pureza específica). Todas essas informações<br />
serão organizadas e disponibilizadas para<br />
os produtores por meio de um aplicativo para dispositivos<br />
móveis que será desenvolvido no âmbito do<br />
projeto.<br />
Além dessas atividades, o projeto prevê caracterizar<br />
o germoplasma nos três núcleos satélites com<br />
relação à pureza específica, parentesco e análise da<br />
MAR/ABR 2019<br />
13
MAR/ABR 2019<br />
© Jefferson Cristiano Christofoletti<br />
diversidade genética. Para<br />
isso, serão utilizados painéis<br />
de genotipagem de<br />
SNPs de baixa densidade,<br />
contendo por volta de uma<br />
centena de marcadores,<br />
desenvolvidos pela Embrapa<br />
e em fase final de validação.<br />
A perspectiva da Embrapa<br />
é que com as ações<br />
desenvolvidas pelo projeto<br />
AMAZONGEN seja possível<br />
a estruturação de núcleos<br />
satélites em estados<br />
com representatividade<br />
na produção de tambaqui,<br />
podendo conectá-los a<br />
futuros programas de melhoramento<br />
genético.<br />
Os resultados previstos<br />
no projeto possibilitarão a<br />
produção e o fornecimento<br />
de alevinos padronizados<br />
e qualificados aos diferentes<br />
segmentos da cadeia<br />
produtiva do tambaqui<br />
(vendedores de alevinos,<br />
produtores, etc.), gerando<br />
uma série de impactos positivos<br />
ao longo da cadeia<br />
produtiva. Produtores de<br />
alevinos poderão contar<br />
com ferramentas genômicas<br />
para determinação de<br />
pureza específica, variabilidade<br />
genética e determinação<br />
de parentesco. As<br />
informações geradas serão<br />
a base para orientar acasalamentos,<br />
certificar reprodutores<br />
e lotes de alevinos<br />
comercializados tanto para<br />
engorda quanto para estruturação<br />
de plantéis de<br />
reprodutores.<br />
Consulte as referências<br />
bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/<br />
artigos<br />
14
© Áthila Bertoncini
Cultivo de peixes marinhos como<br />
alternativa de conservação:<br />
conhecendo o projeto<br />
Meros do <strong>Brasil</strong><br />
Eduardo Gomes Sanches 1,2<br />
Otávio Mesquita de Sousa 1<br />
1<br />
Laboratório de Piscicultura Marinha<br />
Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />
Ubatuba, SP<br />
*esanches@pesca.sp.gov.br<br />
Vanessa Villanova Kuhnen 1<br />
2<br />
Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho<br />
Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />
Santos, SP<br />
O<br />
Laboratório de Piscicultura Marinha<br />
(Lapim) do Instituto de Pesca,<br />
em Ubatuba/SP, vem desenvolvendo,<br />
desde 2005, estudos<br />
sobre o cultivo de peixes<br />
marinhos como alternativa<br />
ao extrativismo e como instrumento<br />
de conservação<br />
destes recursos pesqueiros.<br />
A primeira espécie estudada<br />
pelo laboratório foi a garoupa-verdadeira<br />
Epinephelus<br />
marginatus. Exemplares da<br />
espécie foram capturados e mantidos<br />
em cativeiro, buscando formar<br />
um plantel de reprodutores e obter<br />
a produção de formas jovens. Os<br />
estudos mostraram também, que o<br />
período de desova da garoupa tende<br />
a se concentrar em torno de dezembro,<br />
justamente o período em que afluem mais turistas<br />
para o litoral, com consequente aumento da demanda<br />
por peixes para restaurantes e hotéis, o que leva a um inadequado<br />
aumento do esforço de pesca sobre a espécie.<br />
Estes estudos possibilitaram importantes avanços no<br />
cultivo destes peixes em cativeiro, com destaque para o<br />
Atualmente o Lapim<br />
integra o Projeto Meros<br />
do <strong>Brasil</strong>, atuando na<br />
reprodução do mero<br />
Epinephelus itajara.<br />
desempenho produtivo da garoupa-verdadeira, elucidando<br />
importantes questões do ponto de vista de manejo<br />
desta espécie e propiciando a formação de um banco<br />
de reprodutores que permitiu iniciar<br />
pesquisas de inversão sexual,<br />
crioconservação de sêmen, reprodução<br />
induzida e produção de<br />
formas jovens, visando a realização<br />
dos primeiros ensaios de engorda<br />
em escala massiva desta espécie<br />
no <strong>Brasil</strong> (Sanches et al., 2008a;<br />
Sanches et al., 2009). A crioconservação<br />
do sêmen da garoupa-<br />
-verdadeira pode ser considerada<br />
um fato histórico para a piscicultura<br />
marinha brasileira, tanto pelo valor<br />
econômico deste peixe como por<br />
seu potencial para cultivo, tendo<br />
contribuído para a reprodução da<br />
espécie em cativeiro e possibilitado<br />
a primeira produção de formas jovens de garoupa-<br />
-verdadeira no <strong>Brasil</strong> (Sanches et al., 2008b).<br />
Atualmente, o Laboratório de Piscicultura Marinha<br />
do Instituto de Pesca integra o Projeto Meros do <strong>Brasil</strong>,<br />
atuando na reprodução de outro “parente” da garoupa,<br />
o mero Epinephelus itajara.<br />
MAR/ABR 2019<br />
<strong>17</strong>
Os trabalhos do Instituto de Pesca<br />
com o mero<br />
Através de uma parceria entre o Instituto de Pesca,<br />
a Embrapa Tabuleiros Costeiros, a Bahia Pesca, o<br />
Instituto Meros do <strong>Brasil</strong> e com o patrocínio do Programa<br />
Petrobras Ambiental, um grupo de meros foi<br />
capturado em três estados do <strong>Brasil</strong> (Pernambuco,<br />
Sergipe e Bahia) e mantido no laboratório. Os peixes<br />
vêm respondendo muito bem ao cativeiro, ganhando<br />
peso rapidamente com baixas taxas de mortalidade,<br />
demonstrando alto grau de domesticação.<br />
Após seis meses de administração de hormônios<br />
andrógenos a oito exemplares com peso variando<br />
entre 2,0 a 12,0 kg, foi obtida, de maneira inédita<br />
para a espécie, a inversão sexual de exemplares<br />
com a produção de sêmen.<br />
MAR/ABR 2019<br />
Este feito pode ser considerado como de extrema<br />
relevância para a espécie e para o projeto, já que abre<br />
as portas para a reprodução destes peixes em cativeiro,<br />
com inegáveis vantagens para a conservação da<br />
espécie, como por exemplo, a ampliação da base de<br />
estudos para se conhecer melhor a biologia reprodutiva<br />
deste serranídeo.<br />
Através de uma parceria com a equipe de pesquisadores<br />
da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE)<br />
este sêmen foi caracterizado quanto a volume, densidade<br />
espermática, viabilidade, taxa de motilidade e<br />
duração da motilidade e a seguir foi crioconservado,<br />
utilizando-se um protocolo desenvolvido pelo pesquisador<br />
do Instituto de Pesca, Eduardo Gomes Sanches,<br />
visando sua posterior utilização em procedimentos de<br />
reprodução do mero em cativeiro.<br />
O processo de caracterização envolveu a utilização<br />
do Sperm Class Analyzer (SCA), um sistema computadorizado<br />
acoplado a um microscópio que analisa<br />
diversos parâmetros da movimentação do espermatozóide.<br />
Elimina a subjetividade das análises, permitindo<br />
conclusões seguras sobre a viabilidade do sêmen. A<br />
conservação de sêmen traz inúmeras vantagens para<br />
o desenvolvimento de um protocolo de cultivo para<br />
uma espécie. Permite a otimização do transporte deste<br />
material, bem como seu armazenamento em bancos<br />
de germoplasma. Estes bancos apresentam grandes<br />
benefícios, tais como: manutenção do estoque de sêmen<br />
de um grande número de exemplares em botijões<br />
criogênicos, garantindo a variabilidade genética e<br />
intercâmbio entre as diversas instituições de pesquisa,<br />
fornecimento contínuo de sêmen durante toda a estação<br />
reprodutiva e redução dos custos na manutenção<br />
dos plantéis de reprodutores. O próximo passo será<br />
a maturação das fêmeas em cativeiro e a utilização do<br />
sêmen congelado na fertilização de seus ovócitos e a<br />
produção de larvas de mero.<br />
Conhecendo o mero<br />
O mero Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822) é<br />
um peixe marinho, que junto com as garoupas, chernes<br />
e badejos compõe a família Epinephelidae. Pode<br />
atingir comprimento acima de 2,5 metros e peso além<br />
de 450 kg (Heemstra & Randall, 1993). O termo itajara<br />
proveniente do tupi-guarani, pode ser traduzido<br />
como “ita”: pedra, e “jara”: senhor, portanto o mero é<br />
conhecido como o “senhor das pedras”.<br />
Sua ocorrência tem sido documentada em águas<br />
de zonas tropicais e subtropicais da costa oeste do Pacífico,<br />
da Costa Rica ao Peru, e também, em ambas<br />
costas, oeste e leste e do Atlântico, respectivamente,<br />
entre Senegal e Congo (África), e entre a Carolina<br />
do Norte (EUA) e Santa Catarina (<strong>Brasil</strong>). Juvenis são<br />
estuarino-dependentes abrigando-se entre as raízes<br />
do mangue vermelho (Rhizophora mangle) (Frias-Tor-<br />
18
es, 2006). Os adultos se refugiam em parceis mais<br />
afastados da costa e em ambientes artificiais como embarcações<br />
naufragadas e pilares de pontes. Os Meros<br />
são predadores situados em níveis superiores da cadeia<br />
trófica, alimentam-se principalmente de crustáceos, lagostas<br />
e caranguejos. Juvenis alimentam-se de camarões,<br />
caranguejos e bagres marinhos. Partes de polvos,<br />
tartarugas e outros peixes também foram encontrados<br />
(Sadovy & Eklund, 1999). São animais que, apesar do<br />
grande porte, são considerados pacíficos e curiosos,<br />
permitindo, por vezes, a aproximação orientada de<br />
mergulhadores.<br />
De acordo com Bullock et al. (1992), apresentam<br />
maturidade sexual entre 5 a 7 anos com comprimento<br />
total acima de 110 cm e peso superior a 40 kg (quando<br />
saem dos manguezais). Possuem ciclo de vida acima de<br />
40 anos e agregam-se para reproduzir em épocas e locais<br />
conhecidos por alguns pescadores, o que facilita a pesca<br />
predatória. Essas características tornaram a espécie muito<br />
vulnerável, em especial a pesca e poluição, colocando-a<br />
em sério risco de desaparecer da costa brasileira.<br />
Reprodutivamente, assume-se que o mero, similarmente<br />
aos seus congêneres Epinephelus, expressa<br />
fortes evidências de uma sexualidade reconhecida com<br />
o padrão hermafrodita sequencial protogínico (Bullock<br />
et al., 1992), na qual alguns indivíduos desenvolveriam<br />
tecido testicular para funcionarem como machos,<br />
depois de sofrerem degeneração do ovário. Não está<br />
definido se todos machos são obrigatoriamente fêmeas<br />
alteradas (monandria), ou se os indivíduos podem amadurecer<br />
como macho ou fêmea na “fase inicial” e qualquer<br />
um pode se tornar um macho na “fase terminal”<br />
(diandria). Embora os condicionantes que pressionam a<br />
decisão da mudança nos papéis sexuais são<br />
controversos em hermafroditas, para muitas<br />
espécies com sistema social harêmico, o<br />
número relativo de machos ou fêmeas e o<br />
tamanho dos indivíduos, em populações sob<br />
condições de confinamento, têm sido críticos<br />
para influenciar a frequência de sucessão<br />
do sexo.<br />
Os meros são solitários, contudo, no<br />
período reprodutivo formam cardumes, fenômeno<br />
conhecido como “agregações”, em<br />
épocas e locais específicos com a finalidade<br />
de encontrar parceiros. Nesse aspecto,<br />
as pesquisas têm constatado o desaparecimento<br />
gradual dos meros em locais onde<br />
costumavam ser abundantes, especialmente<br />
durante suas agregações. No entanto, não<br />
se sabe exatamente o número de indivíduos<br />
e o peso total que tem sido capturado anualmente<br />
de forma ilegal.<br />
Em função da diminuição dos estoques desta espécie<br />
e das características de sua biologia reprodutiva,<br />
o governo dos Estados Unidos declarou, em 1999, o<br />
mero como espécie protegida, proibindo sua captura<br />
na Zona Econômica Exclusiva Americana e nas águas<br />
territoriais da Flórida (NMFS, 1999). Na região do Caribe<br />
a proibição teve início antes, em 1993. Esse histórico<br />
aliado a falta de informações consistentes sobre<br />
sua bioecologia, foram decisivos para inclusão dessa<br />
espécie na lista vermelha das espécies ameaçadas da<br />
IUCN (The International Union for Conservation of Nature),<br />
classificada como Criticamente Ameaçada (Pusack<br />
& Graham, 2009). Há mais de quinze anos protegida<br />
da pesca em todo o Golfo do México, somente em<br />
2002 a espécie recebeu proteção em águas brasileiras<br />
(IBAMA, portaria nº 121, de 20 de setembro de 2002).<br />
Com isso, tornou-se a primeira espécie de peixe marinho<br />
a receber uma portaria específica que estabeleceu<br />
a moratória da pesca pelo período de 5 anos, no qual<br />
priorizou-se a realização de estudos aprofundados. Em<br />
2007, a portaria do IBAMA n° 42/2007 prorrogou por<br />
mais cinco anos a proibição da pesca, transporte e comercialização<br />
do mero.<br />
No ano de 2012, esforços conjuntos dos pesquisadores<br />
do Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> e Ministério do<br />
Meio Ambiente (ICMBio) produziram subsídios para<br />
proposição de nova prorrogação - Instrução Normativa<br />
Interministerial/ INI N° 13/2012 – a qual foi novamente<br />
renovada em 2 de outubro de 2015 por mais<br />
8 anos, através de Portaria Interministerial N°13/2015<br />
tendo como prioridade a recuperação das populações<br />
de meros no país.<br />
MAR/ABR 2019<br />
19
Projeto Meros do <strong>Brasil</strong><br />
Em 2002, tendo em vista o cenário de declínio dos<br />
meros na costa brasileira, um grupo de pesquisadores<br />
em Santa Catarina criou o Projeto Meros do <strong>Brasil</strong>,<br />
com o objetivo de viabilizar recursos para a pesquisa e<br />
conservação de meros.<br />
Em 2006, e por mais outras duas edições, (2012<br />
e 2018), o Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> tem contado com<br />
o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras<br />
Socioambiental. O patrocínio da Petrobras tem<br />
alavancado e permitido a realização de estudos de<br />
maior amplitude não somente sobre a conservação dos<br />
meros, mas também dos ambientes marinho-costeiros<br />
associados como manguezais, recifes de corais, costões<br />
rochosos e naufrágios ao longo da costa brasileira.<br />
Atualmente, os meros são tidos como um símbolo<br />
de conservação e proteção dos ambientes costeiros e<br />
marinhos. O Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> desenvolve ações<br />
de pesquisa e conservação do mero através do estudo<br />
da biologia pesqueira, genética, criação em cativeiro,<br />
educação ambiental e mergulho científico ao longo da<br />
costa brasileira. O Projeto busca ainda a inclusão da sociedade<br />
promovendo a equidade de gênero, igualdade<br />
e inclusão social.<br />
Para realizar suas ações de pesquisa, o Projeto<br />
Meros do <strong>Brasil</strong> trabalha com uma rede de parceiros<br />
formados por instituições de ensino e pesquisa,<br />
distribuídos pelo litoral brasileiro que atuam de forma<br />
autônoma, em cooperação técnica e científica. Dessa<br />
forma, o Projeto propõe unificar os desafios de pesquisa<br />
e conservação de uma espécie que é distribuída<br />
amplamente em quase todo o litoral brasileiro.<br />
O Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> é realizado por nove<br />
instituições que trabalham juntas por meio de uma<br />
rede de parceria técnica e científica em seus diferentes<br />
pontos focais: Universidade Federal do Pará<br />
(PA); Universidade Federal de Pernambuco (PE);<br />
Universidade Federal de Alagoas (AL), Grupo Cultural<br />
ArteManha (BA); Universidade Federal do Espírito<br />
Santo (ES); Universidade Federal do Estado<br />
do Rio de Janeiro (RJ); Instituto de Pesca (SP); Instituto<br />
Meros do <strong>Brasil</strong> (PR) e Instituto COMAR (SC).<br />
O Projeto conta também com a parceria de mais<br />
de 50 outras instituições e grupos no auxílio do desenvolvimento<br />
das ações em prol do conhecimento<br />
sobre a espécie e dos ambientes que habita.<br />
A Rede Meros do <strong>Brasil</strong> é hoje mais que uma rede<br />
de pesquisa ou um projeto de conservação de uma<br />
MAR/ABR 2019<br />
20
Atualmente,<br />
os meros são tidos<br />
como um símbolo de<br />
conservação e proteção<br />
dos ambientes costeiros<br />
e marinhos.<br />
espécie ameaçada. Nos últimos anos, consolidou-se<br />
uma Rede de instituições governamentais<br />
e ONGs, pesquisadores, ambientalistas, mergulhadores<br />
e pescadores em vários estados da costa<br />
brasileira. Todos os parceiros estão envolvidos<br />
diretamente com amplas ações de conservação<br />
marinha, e possuem o MERO como ponto de<br />
convergência e símbolo de uma espécie que estava<br />
quase desaparecendo de nossas águas. As<br />
diversas ações da Rede são desenvolvidas de<br />
forma autônoma pelas organizações que a integram,<br />
e a cooperação técnica e padronização de<br />
metodologias entre as diversas instituições são<br />
necessárias para se abordar os desafios de pesquisa<br />
e conservação do extenso litoral <strong>Brasil</strong>eiro<br />
(Hostim-Silva et al., 2005). O Instituto de Pesca<br />
foi a primeira instituição a crioconservar o sêmen<br />
da garoupa-verdadeira e vem desenvolvendo estudos<br />
para a reprodução em cativeiro do mero.<br />
A existência do Projeto Meros do <strong>Brasil</strong> só é<br />
possível pela pluralidade de olhares e aspirações<br />
compartilhadas entre a academia (onde surgiu),<br />
sociedade (para quem se destinam os esforços<br />
de conservação dos meros e ambientes marinhos<br />
e costeiros) e a iniciativa privada e governamental<br />
que suportam, apoiam e acreditam na<br />
realização das suas ações.<br />
MAR/ABR 2019<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
21
MAR/ABR 2019<br />
22
O mundo peculiar<br />
dos corais: ciclo de vida<br />
e formação de recifes<br />
Leandro Godoy 1,4 , Amana Garrido 2 , Cristiano Pereira 3,4 , Carla Zilberberg 2,4 e Débora de<br />
Oliveira Pires 3,4<br />
1<br />
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS<br />
2<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ<br />
3<br />
Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro<br />
4<br />
Instituto Coral Vivo<br />
projetoreefbank@gmail.com<br />
Esqueça os padrões que você conhece de<br />
outros organismos, e venha mergulhar no<br />
mundo peculiar dos corais. O que externamente<br />
nos parece tão simples,<br />
na verdade evoluiu de<br />
uma forma muito sofisticada.<br />
Os corais podem ser solitários<br />
ou coloniais. Cada indivíduo<br />
solitário ou que faz parte<br />
de uma colônia é chamado<br />
de pólipo. Cada pólipo possui<br />
uma cavidade gastrovascular<br />
(local de digestão e distribuição<br />
de alimento) e uma boca<br />
circular cercada por tentáculos,<br />
e juntos esses pólipos podem<br />
chegar a ser milhares em<br />
uma única colônia (Figura 1).<br />
Dentro dos tecidos dos<br />
corais vivem microalgas, dinoflagelados<br />
da família Symbiodiniaceae (conhecidas<br />
como zooxantelas), sua densidade pode chegar<br />
a 1 milhão/cm 2 . Elas são essencialmente fábricas<br />
de alimento, vivendo em simbiose com os corais.<br />
Simbiose, que significa “viver juntos”, é uma<br />
Simplicidade<br />
por fora não significa<br />
simplicidade<br />
por dentro.<br />
relação de cooperação entre duas espécies diferentes.<br />
Por meio da fotossíntese as zooxantelas<br />
fornecem oxigênio e alimento (glicose, glicerol,<br />
aminoácidos) ao coral, ao passo<br />
que o coral dá CO 2<br />
, nutrientes<br />
e proteção para as zooxantelas.<br />
Os corais se alimentam do<br />
produto da fotossíntese das<br />
zooxantelas durante o dia e,<br />
durante a noite, enquanto as<br />
microalgas “dormem”, o animal<br />
se torna mais ativo. Os pólipos<br />
são expandidos e os tentáculos<br />
expostos, dessa forma, tudo<br />
que nadar próximo pode ser<br />
capturado, desde pequenos<br />
animais planctônicos até partículas<br />
orgânicas em suspensão<br />
na água. Ao redor da boca e<br />
nos tentáculos existem células<br />
de defesa e ataque equipadas com organelas<br />
chamadas nematocistos ou cnidas (Figura 1).<br />
Os nematocistos são disparados ao toque (mecanicamente)<br />
ou quimicamente, e alguns produzem<br />
toxinas capazes de imobilizar e matar as presas.<br />
MAR/ABR 2019<br />
23
MAR/ABR 2019<br />
Figura 1. Anatomia de um pólipo de coral pétreo. © Matheus Souza | Projeto ReefBank<br />
À medida que o coral cresce, o que nós vemos é<br />
o animal crescendo sobre o esqueleto calcário, que<br />
ele fabrica na base dos pólipos. Inúmeros esqueletos<br />
acrescidos ao longo de milênios formam a estrutura<br />
básica dos recifes de coral. Assim, podemos dizer<br />
que o recife é formado principalmente pela sobreposição<br />
de diversas gerações de colônias de corais<br />
e outros organismos (Pereira et al., 2016). Esse estilo<br />
de vida colonial, combinado com processos que<br />
aceleram a produção do esqueleto calcário, como<br />
o aporte de alimento fornecido pelas zooxantelas,<br />
permite que a taxa de formação do esqueleto seja<br />
maior que a capacidade de fatores físicos, químicos e<br />
biológicos de degradá-lo.<br />
A associação coral-zooxantela explica a formação<br />
desses ecossistemas em águas rasas tropicais e pobres<br />
em nutrientes, em função da dependência da<br />
luz solar para fotossíntese. Esse consórcio de organismos<br />
que cooperam se manifesta em formas maciças<br />
e ramificadas, de alta complexidade estrutural<br />
(Figura 2). A Grande Barreira de Corais australiana,<br />
por exemplo, possui mais de 2 mil quilômetros de<br />
extensão, e é considerada a única estrutura viva da<br />
Terra que pode ser vista do espaço.<br />
Os recifes de coral<br />
brasileiros<br />
Os únicos recifes biogênicos<br />
(formados pelo acúmulo<br />
de esqueletos calcários) do<br />
Atlântico Sul estão ao longo<br />
da costa brasileira e abrigam<br />
16 espécies de corais-pétreos<br />
zooxantelados, com<br />
cinco delas endêmicas do<br />
<strong>Brasil</strong> (Castro e Zilberberg,<br />
2016). O Banco dos Abrolhos,<br />
a região do Parque Municipal<br />
Marinho do Recife de<br />
Fora e outras áreas do Sul da<br />
Bahia são considerados os<br />
locais de maior biodiversidade<br />
marinha na nossa costa.<br />
O Parque Municipal Marinho<br />
do Recife de Fora -<br />
nossa área de estudo - está<br />
localizado na Costa do Descobrimento<br />
(Porto Seguro,<br />
BA), possui <strong>17</strong>,5 km² e<br />
abriga todas as espécies de<br />
corais brasileiros, inclusive<br />
as popularmente conhecidas<br />
como corais-cérebro<br />
(Figura 3), espécies-chave por serem considerados<br />
os principais construtores dos recifes brasileiros.<br />
Figura 2. Parque Marinho do Recife de Fora. © Enrico Marcovaldi<br />
24
Figura 3. Paisagem recifal com destaque para colônias do coral Mussismilia harttii. © Luiz Cassino - Concurso Coral Vivo de Foto Sub<br />
patrocinado pela Petrobras.<br />
MAR/ABR 2019<br />
25
Figura 4. Ciclo de vida dos corais liberadores de gametas. © Matheus Souza | Projeto ReefBank<br />
MAR/ABR 2019<br />
Como os corais se reproduzem?<br />
Os corais podem se reproduzir tanto de forma assexuada<br />
como sexuada. Os tipos mais comuns de reprodução<br />
assexuada se dão por meio da produção de larvas<br />
não fertilizadas do próprio indivíduo, por brotamento<br />
de um pólipo que se separa do pólipo parental ou pela<br />
fragmentação das colônias (Pires et al., 2016). Esse processo<br />
continua durante toda a vida do organismo, sendo<br />
que os novos corais são clones da colônia parental.<br />
A reprodução sexuada envolve a produção de gametas<br />
(espermatozoides e oócitos) e promove diversidade<br />
genética por meio da fecundação cruzada entre<br />
indivíduos (Figura 4). A maioria das espécies realiza ambos<br />
os tipos de reprodução.<br />
Os corais podem apresentar colônias ou pólipos de<br />
um único sexo (masculino ou feminino), ou hermafroditas.<br />
Neste último caso, um mesmo animal apresenta<br />
ambos os sexos, podendo ocorrer pólipos hermafroditas<br />
em toda a colônia, ou colônias com uma mistura de<br />
pólipos machos e pólipos fêmeas (Pires et al., 2016).<br />
Nas três espécies endêmicas de coral cérebro<br />
(Mussismilia braziliensis, Mussismilia hispida e Mussismilia<br />
harttii), os gametas masculinos e femininos são<br />
produzidos no mesmo pólipo, dentro de dobras de<br />
tecido chamadas mesentérios. Dessa forma, quando os<br />
gametas estão maduros a parede dos mesentérios se<br />
rompe, e os oócitos e espermatozoides são liberados<br />
para o interior da cavidade gastrovascular dos pólipos,<br />
onde ficam envoltos por muco formando um pacote<br />
compacto (Figura 1). Nos dias de desova, os pacotes<br />
contendo oócitos e espermatozoides são liberados<br />
pelas bocas dos pólipos. Quando saem das bocas, os<br />
pacotes, que boiam, atingem a superfície do mar. Na<br />
superfície, eles se rompem e os espermatozoides e<br />
oócitos se dissociam uns dos outros. Essa estratégia<br />
garante que os gametas sejam transportados de forma<br />
eficiente até a superfície, minimiza a diluição espermática,<br />
aumentando as chances de encontro entre os gametas<br />
femininos e masculinos e a formação de novos<br />
indivíduos. A fecundação é cruzada, na qual o oócito<br />
de uma colônia é fecundado pelo espermatozoide de<br />
outra colônia. A divisão celular se inicia poucas horas<br />
após a desova, com o desenvolvimento do embrião<br />
ocorrendo na coluna d’água já no primeiro dia. A larva<br />
plânula se desenvolve em seguida e é levada pelas correntes<br />
marinhas por alguns dias. Quando a larva se fixa<br />
e assenta permanentemente ao substrato, sofre metamorfose,<br />
transformando-se em um pólipo juvenil ou<br />
fundador, que começa a produzir o esqueleto calcário<br />
em sua base. Esses pólipos fundadores então se multiplicam<br />
de forma assexuada, por divisão, e assim se dá o<br />
crescimento das colônias (Pires et al. 2016).<br />
O conhecimento da época exata em que se dá<br />
a desova dos corais torna possível a coleta dos seus<br />
gametas, a realização de reprodução in vitro e até<br />
mesmo o uso de técnicas de criopreservação como<br />
o congelamento, a vitrificação e o resfriamento. Essas<br />
biotecnologias estão sendo utilizadas no nosso projeto<br />
e terão um papel crucial na conservação dos recifes de<br />
coral, haja vista as sérias ameaças que esses ecossistemas<br />
estão sofrendo ao redor do mundo, e que será tema do<br />
nosso próximo artigo. O ReefBank conta com o apoio<br />
do Projeto Coral Vivo (patrocinado pela Petrobras), do<br />
Instituto Coral Vivo, da Fundação Grupo Boticário, do<br />
Fundo <strong>Brasil</strong>eiro para a Biodiversidade (Funbio).<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
26
MAR/ABR 2019<br />
© Carlos Borges | SEBRAE - Pará<br />
28
Ostras da Amazônia:<br />
Uma oportunidade<br />
de negócio sustentável<br />
Ana Conceição Abreu de Sousa<br />
Analista do Sebrae no Pará - Gestora do projeto Ostras da Amazônia<br />
Capanema, Pará<br />
anaabreu@pa.sebrae.com.br<br />
No Pará, o extrativismo de moluscos é<br />
realizado durante o ano todo. Esta atividade<br />
constitui a renda principal ou complementar<br />
das famílias. Todavia, catadores e intermediários<br />
apontam que os estoques desse recurso pesqueiro<br />
vêm diminuindo ao longo dos anos. Com base neste<br />
cenário, iniciam-se os primeiros experimentos com<br />
cultivo de ostra (Crassostrea brasiliana) no Pará, no<br />
período de 2001 a 2003, em municípios que, até<br />
então, tinham como prática a coleta de ostras do<br />
extrativismo, com danos crescentes ao estuário<br />
natural. A ostra não era vista como uma possibilidade<br />
de um negócio sustentável.<br />
Em 2003, a ostreicultura paraense é qualificada por<br />
Alcântara Neto como uma nova e importante alternativa<br />
econômica para transformar o extrativismo em uma<br />
atividade de produção, evitando assim a diminuição<br />
dos estoques e a possibilidade de esgotamento dos<br />
mesmos. Em 2004, a Prefeitura Municipal de Augusto<br />
Corrêa reativa o projeto em escala comercial e<br />
firma parceria entre prefeitura, Sebrae e a associação<br />
representativa dos produtores – Agronol*.<br />
*<br />
A Agronol é hoje denominada Associação dos Agricultores e Aquicultores de Nova Olinda – Agromar e é atualmente a maior<br />
produtora de ostras do estado do Pará, com produção de 39.772 dúzias (dezembro/ 2018).<br />
MAR/ABR 2019<br />
29
© Carlos Borges | SEBRAE - Pará<br />
MAR/ABR 2019<br />
30
A partir de 2005, foram implantados<br />
oito cultivos de ostras (dos quais<br />
dois são produtores de sementes de<br />
bancos naturais), com tecnologias<br />
apropriadas para a região amazônica,<br />
distribuídos em cinco municípios no<br />
litoral nordeste paraense, organizados<br />
em associações, as quais compõem a<br />
Rede Nossa Pérola, criada em 2009,<br />
com a finalidade de organizar as associações<br />
de produtores para elaborar,<br />
compartilhar e padronizar estratégias<br />
de trabalho, visando o desenvolvimento<br />
uniforme e sustentável da ostreicultura<br />
paraense.<br />
Além do Sebrae, o projeto contou<br />
com parceria de diversas instituições,<br />
como Ministério da Agricultura,<br />
Pecuária e Abastecimento - MAPA,<br />
Agência de Defesa Agropecuária do<br />
Estado do Pará - Adepará, Secretaria<br />
de Estado de Desenvolvimento<br />
Agropecuário e da Pesca - SEDAP,<br />
Prefeituras Municipais, Universidade<br />
e Instituto Federal do Pará (UFPA<br />
e IFPA), Secretaria de Estado de<br />
Meio Ambiente – SEMA, Instituto<br />
Chico Mendes de Conservação da<br />
Biodiversidade (ICMBio), Empresa<br />
de Assistência Técnica e Extensão<br />
O projeto<br />
destaca-se pela<br />
possibilidade de<br />
promover a inclusão<br />
social mediante a<br />
suplementação da renda<br />
familiar, promoção de<br />
igualdade entre gêneros<br />
e fortalecimento da<br />
segurança alimentar.<br />
Rural do Estado do Pará – EMATER<br />
e Al-Invest 5.0, que desempenharam<br />
uma multiplicidade de papeis e<br />
responsabilidades.<br />
Do ponto de vista social, o projeto<br />
Ostras da Amazônia destaca-se pela<br />
possibilidade de promover a inclusão<br />
social mediante a suplementação da<br />
renda familiar, promoção de igualdade<br />
entre gêneros e fortalecimento da<br />
segurança alimentar. Do ponto de<br />
vista econômico, a produção estável<br />
de ostras pode contribuir para a<br />
abertura de novos mercados, gerando<br />
emprego e renda. Do ponto de vista<br />
ambiental, o cultivo de ostras pode<br />
reduzir a pressão sobre os estoques<br />
naturais.<br />
Benefícios e ações<br />
O projeto Ostras da Amazônia tem<br />
como objetivo geral tornar a ostra de<br />
cultivo acessível aos consumidores do<br />
Pará e de outros estados, promovendo<br />
sua produção com qualidade, através<br />
do desenvolvimento da tecnologia<br />
social de baixo impacto ambiental,<br />
fortalecendo a rede “Nossa Pérola”<br />
como marca coletiva e iniciando o<br />
processo de Indicação Geográfica de<br />
Origem, para elevar a competitividade<br />
e agregar valor às Ostras da Amazônia<br />
e ser referência nacional.<br />
O projeto beneficia 80 produtores<br />
de agricultura familiar, os quais, em<br />
sua maioria, antes da implantação do<br />
projeto, já exerciam outras atividades<br />
da agricultura; porém a ostreicultura é<br />
referência na geração da renda familiar.<br />
Os resultados obtidos com a atividade<br />
são analisados de forma coletiva e<br />
individual, o que permite identificar e<br />
premiar os três melhores produtores<br />
do ano nos critérios de produção/<br />
produtividade e comercialização, além<br />
da categoria “Mulher de Negócios –<br />
Ostreicultura. Esse trabalho permite<br />
avaliar o desempenho, o interesse e<br />
as necessidades dos produtores, de<br />
forma a direcionar as ações de gestão<br />
do projeto.<br />
MAR/ABR 2019<br />
31
Dentre as principais ações executadas no<br />
projeto, estão:<br />
1. Capacitações para profissionalização dos<br />
produtores;<br />
2. Encontros Estaduais de Produtores de<br />
Ostras da Amazônia;<br />
3. Inovação e marketing com foco em<br />
Inteligência de Mercado;<br />
4. Convênio de Cooperação Técnica e<br />
Financeira (2009) - firmado entre Sebrae,<br />
Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura –<br />
SEPAQ (atualmente SEDAP) e Ministério da Pesca;<br />
5. Regularização dos produtores - Declaração<br />
de Aptidão ao Pronaf - DAP, Registro Geral de<br />
Pescador - RGP aquicultor e Inscrição Estadual de<br />
Produtor Rural;<br />
6. Regularização dos cultivos com a Dispensa<br />
de Licença Ambiental;<br />
7. Autorização Direta para os cultivos em área<br />
de Reservas Extrativistas;<br />
8. Regularização da atividade de ostreicultura<br />
no Estado do Pará, pela Adepará.<br />
© Carlos Borges | SEBRAE - Pará<br />
MAR/ABR 2019<br />
32
Tabela 1. Evolução da ostreicultura no estado do Pará.<br />
Houve divulgação do projeto em feiras e festivais<br />
de negócios, além de destaques na imprensa regional e<br />
nacional. O projeto também recebeu dois importantes<br />
prêmios: Prêmio internacional na categoria “Melhoria<br />
da Produtividade e Inovação nas MPEs”, no concurso<br />
“Transformando Vidas”, em 2018, pelo Programa AL-Invest<br />
5.0, na Guatemala; e o Prêmio Inovação Aquícola<br />
2019, vencedor na categoria Produção, a mais concorrida<br />
da premiação, com 21 projetos inscritos. O projeto<br />
paraense recebeu 1.242 votos, somando 48,5% da votação<br />
geral do Prêmio.<br />
Conclusão<br />
A ostreicultura no Pará, único estado na região Norte<br />
com cultivo de ostras da Amazônia, é vista hoje como<br />
importante alternativa de inclusão sócio produtiva, cujo<br />
diferencial está na busca da sustentabilidade. Com o projeto<br />
Ostras da Amazônia - Negócios Sustentáveis, foi<br />
possível a implementação de cultivos que preservam o<br />
meio ambiente, geram renda para os produtores locais e<br />
promovem a conservação dos bancos naturais do estado<br />
do Pará.<br />
Para o biênio 2019 – 2020, o projeto, através da<br />
Rede Nossa Pérola, tem como principais objetivos:<br />
1) Registro para agroindústrias com Serviço de Inspeção<br />
Estadual SIE e Serviço de Inspeção Federal - SIF,<br />
qualificando a ostra para comercialização de acordo as<br />
legislações vigentes;<br />
2) Registro da marca “Ostras da Amazônia” através do<br />
Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI;<br />
3) Aumento da produção de ostras em 71% (de<br />
70.628 para 120.800 dúzias), e consequentemente, o<br />
aumento de faturamento<br />
para<br />
os produtores,<br />
estimado em R$<br />
1.207,700 (hum<br />
milhão, duzentos e<br />
sete mil e setecentos<br />
reais).<br />
MAR/ABR 2019<br />
33
© Capri23auto<br />
MAR/ABR 2019<br />
34
Microbiota intestinal<br />
em peixes de aquicultura<br />
José Pablo Fuentes Quesada<br />
Zootecnista e especialista em nutrição aquícola<br />
Centro de Investigación Científica y Educación Superior de Ensenada<br />
Baja California, México<br />
pablofuentesq@gmail.com<br />
O<br />
trato gastrointestinal (TGI) é responsável<br />
por processos fisiológicos vitais como<br />
osmoregulação, digestão dos alimentos,<br />
absorção de nutrientes,<br />
regulação endócrina, resposta<br />
imune, eliminação de<br />
metabolitos tóxicos, além<br />
de funcionar como uma<br />
barreira de defesa contra<br />
agentes patogênicos. Por<br />
sua vez, a mucosa intestinal<br />
é colonizada principalmente<br />
por bactérias e, em menor<br />
escala, por leveduras, vírus,<br />
archaea e protozoários. Esta<br />
comunidade complexa de<br />
microrganismos benéficos que<br />
estão presentes no TGI de<br />
peixes, e que formam relações<br />
comensais ou de mutualismo<br />
com o hospedeiro, é o que<br />
chamamos de microbiota. A<br />
importância do papel desses<br />
microrganismos no TGI devese<br />
ao fato de que a relação<br />
simbiótica que prevalece<br />
entre a microbiota e o hospedeiro é fundamental<br />
para manter a homeostase do organismo.<br />
Os estudos sobre a microbiota intestinal têm<br />
aumentado nos últimos anos, devido aos avanços<br />
na tecnologia de sequenciamento de nova geração,<br />
que permitiram reduzir o<br />
custo de identificação da<br />
composição e riqueza de<br />
comunidades microbianas<br />
presentes nas membranas<br />
das mucosas dos peixes.<br />
Estas novas tecnologias<br />
abriram a possibilidade de<br />
estudar a relação entre a<br />
microbiota e homeostase<br />
dos peixes, permitindo a<br />
compreensão em maior<br />
detalhe da composição<br />
e do metabolismo da<br />
microbiota, e seu efeito<br />
sobre a fisiologia e saúde<br />
do hospedeiro. Não é de<br />
se admirar que esta estreita<br />
relação remonta a milhares<br />
de anos de co-evolução,<br />
onde a sobrevivência<br />
e inúmeros processos<br />
metabólicos podem ser realizados completamente ou<br />
facilitados por essas comunidades de microrganismos.<br />
Esta comunidade<br />
complexa de<br />
microrganismos benéficos<br />
que estão presentes no<br />
TGI de peixes, e que<br />
formam relações comensais<br />
ou de mutualismo com<br />
o hospedeiro, é o que<br />
chamamos de microbiota.
Microbiota transitória e residente<br />
As bactérias que estão presentes no intestino dos<br />
peixes podem ser classificadas de acordo com a sua<br />
interação com o hospedeiro como microbiota transitória,<br />
que são incapazes de aderir à superfície da mucosa<br />
do TGI, e estão geralmente presentes nas fezes,<br />
podendo ser patogênicas. Já a microbiota residente é<br />
capaz de colonizar e se estabelecer na mucosa do TGI.<br />
Dentro da microbiota residente, existe a presença<br />
de diversos táxons de bactérias no intestino que são<br />
semelhantes entre os peixes da mesma espécie e entre<br />
espécies de diferentes regiões geográficas, o que sugere<br />
que há um grupo de bactérias que têm um papel<br />
importante nas funções de TGI e no estado geral do<br />
hospedeiro, sendo chamado de microbiota intestinal<br />
central.<br />
O papel da microbiota<br />
A microbiota desempenha um papel essencial<br />
para o bom desenvolvimento e maturação de TGI e<br />
o sistema imune em peixes, através da regulação da<br />
expressão molecular associada com a proliferação e<br />
diferenciação intestinal, o metabolismo dos nutrientes<br />
e genes de resposta inata.<br />
Os animais cultivados em ambiente estéril<br />
apresentam: diferenciação incorreta do epitélio<br />
intestinal, diminuição da atividade de fosfatase<br />
alcalina na borda em escova, perda da capacidade de<br />
absorver macromoléculas, e redução na presença de<br />
células mucosas e enteroendócrinas, que sublinha a<br />
importância da microbiota em uma funcionalidade<br />
intestinal adequada. São também identificadas<br />
bactérias na microbiota intestinal que contribuem para<br />
a produção de vitaminas e enzimas exógenas como<br />
celulases, quitinases e fitases, para melhorar o processo<br />
digestivo nos peixes.<br />
Enquanto isso, as bactérias residentes fazem<br />
parte da primeira linha de defesa no intestino quando<br />
participam na regulação da permeabilidade paracelular,<br />
na produção de biofilmes segregando peptídeos<br />
antimicrobianos que limitam a colonização do<br />
patógeno.<br />
Fatores de influência na composição e<br />
abundância<br />
A composição e abundância da microbiota é<br />
influenciada pelo nível trófico, época do ano, salinidade,<br />
origem dos animais (selvagens ou cultivados) e tipo de<br />
dieta (Figura 1). Por exemplo, a maior diversidade de<br />
microbiota intestinal em peixes herbívoros, onívoros e<br />
planctófagos, em comparação com peixes carnívoros,<br />
está associada a intestinos mais longos.<br />
Uma microbiota mais diversificada facilita os<br />
processos de fermentação de material de origem<br />
vegetal da dieta (Figura 2). Da mesma forma, foi relatado<br />
que um aumento superior a 21 °C na temperatura<br />
da cultura reduz a abundância de bactérias do ácido<br />
láctico (BAL) do intestino no salmão do Atlântico, e<br />
tem sido associado a um efeito protetor mais baixo do<br />
BAL contra bactérias patógenas como Vibrio spp. Neste<br />
sentido, quando ocorre uma mudança no equilíbrio da<br />
microbiota que modifica sua funcionalidade e afeta a<br />
Figura 1. Alterações nos fatores bióticos e abióticos afetam a composição e funcionalidade da microbiota que se reflete no<br />
crescimento, estado de saúde, utilização de alimentos, entre outros (Adaptada de Ghanbari et al., 2015).<br />
Fatores bióticos e abióticos<br />
• Estilo de vida do<br />
animal<br />
• Genótipo • Fisiologia • Sistema<br />
imune<br />
• Comunidade<br />
transitória<br />
• Meio<br />
ambiente<br />
MAR/ABR 2019<br />
•Mudança na composição<br />
(filogenia)<br />
Microbiota intestinal do peixe<br />
•Mudança no metabolismo microbiano<br />
•Mudança no nível de<br />
expressão dos genes<br />
Hospedeiro<br />
Mudança no fenótipo:<br />
•Crescimento • Desempenho • Sanidade • Absorção de • Eficiência<br />
energia alimentar<br />
• Taxa de conversão<br />
alimentar<br />
36
Figura 2. Peixe carnívoro: a) Oncorhynchus mykiss; peixes onívoros/herbívoros: b) Ictalurus punctatus, c) Cyprinus carpio; peixe planctófico:<br />
d) Chanos chanos (Adaptado de FAO, 1980).<br />
Boca Esôfago Estômago<br />
Intestino<br />
médio<br />
Intestino<br />
posterior<br />
A<br />
Seco<br />
pilórico<br />
A<br />
B<br />
B<br />
Vesícula biliar<br />
C<br />
C<br />
D<br />
Moela<br />
D<br />
saúde ou o desempenho do hospedeiro, é chamado<br />
disbiose (Figura 3).<br />
No que diz respeito à dieta, tem sido demonstrado<br />
que a inclusão de ingredientes vegetais como<br />
substituto da farinha de peixe provoca uma diminuição<br />
na sobrevivência e crescimento em várias espécies<br />
cultivadas na aquicultura. Estes efeitos adversos são<br />
mais evidentes em espécies carnívoras de peixes<br />
marinhos, onde tem sido relacionado a um aumento<br />
na incidência de alterações intestinais, como a enterite,<br />
devido a fisiologia digestiva e a microbiota não estarem<br />
totalmente adaptadas para o uso de proteínas vegetais.<br />
Essas consequências estão associadas com mudanças<br />
na microbiota e tem sido proposto que a abundância<br />
relativa de certas bactérias pode ser usada como<br />
biomarcadores de saúde intestinal.<br />
Neste contexto, onde todos os dias há uma<br />
busca por dietas livres de farinha de peixe, o estudo<br />
sobre o efeito de novos ingredientes alternativos<br />
(insetos, microalgas, microbiana) permitiria identificar<br />
populações que são moduladas e possíveis interações<br />
negativas ou positivas com o hospedeiro, a fim de<br />
promover uma microbiota saudável para manter o<br />
desempenho, a saúde e o bem-estar ótimo dos peixes,<br />
visando promover a aquicultura sustentável.<br />
Figura 3. Interação da microbiota hospedeira durante a homeostase<br />
e disbiose (Tirada de Llewellyn et al., 2014).<br />
MAR/ABR 2019<br />
37
© Jéssica Brol | <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong><br />
MAR/ABR 2019<br />
38
A Economia Circular na<br />
Indústria de pescado:<br />
Panorama e desafios para a implantação<br />
de sistemas produtivos<br />
Ms Eng. Alexandre Gobbo Fernandes<br />
Consultor Associado GEOCIDADES<br />
Membro sênior da CEP-Americas (Circular Economy<br />
Platform of the Americas)<br />
Consultor especialista em Economia Circular<br />
geocidades.consultoria@gmail.com<br />
Eng. Fabrício Flores Nunes<br />
Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação<br />
Tecnológica do Instituto de Pesquisa, Extensão Rural<br />
e Organismos Aquáticos – PEROÁ<br />
Consultor em Aquicultura Biotecnológica e Novos Negócios<br />
fabriciofloresnunes@gmail.com<br />
A Economia Circular e a indústria de<br />
alimentos<br />
O a agenda por um<br />
consumo humano de alimentos tem um<br />
papel relevante para<br />
desenvolvimento sustentável.<br />
Levantamentos e cálculos da<br />
rede “Global Footprint Network”<br />
site que monitora a pegada<br />
ecológica e a biocapacidade<br />
que ainda é mantida em todo<br />
o mundo, defende que todos<br />
os países, indiferente de seu<br />
nível de desenvolvimento, têm<br />
grande responsabilidade sobre<br />
os desperdícios de alimentos.<br />
Como um exemplo do impacto,<br />
nos Estados Unidos estimase<br />
que 40% dos alimentos<br />
sejam desperdiçados, o que é<br />
equivalente à Pegada Ecológica<br />
total do Peru e da Suécia<br />
combinada, ou a biocapacidade<br />
total da Alemanha. Em relação<br />
ao pescado, segundo o último relatório sobre o<br />
“Estado da Pesca e Aquicultura Mundial”, SOFIA<br />
(FAO, 2018) estima-se que a perda seja de 35% do<br />
volume capturado.<br />
Nos Estados Unidos<br />
estima-se que 40%<br />
dos alimentos sejam<br />
desperdiçados, o que é<br />
equivalente à Pegada<br />
Ecológica total do Peru e<br />
da Suécia combinada.<br />
Em abril de 2019 foi apresentada pelo Ministério<br />
da Agricultura Holandês, uma abordagem circular<br />
e de sustentabilidade para o sistema agro-alimentar<br />
na “Oficina para Qualidade Alimentar e Natureza”<br />
realizada pela OECD em Paris,<br />
no artigo intitulado “Circular<br />
Approach and the Sustainability<br />
of the Agro-food System”. O<br />
documento, muito aprofundado<br />
e técnico no tema, coloca<br />
desde o início que o conceito<br />
da economia circular no sistema<br />
agroalimentar está relacionado<br />
à diversas questões ao longo<br />
de toda a cadeia de produção<br />
de alimentos. Nele, diversas<br />
questões são apontadas para<br />
a mudança para um modelo<br />
de produção mais circular,<br />
destacando três pontos chaves:<br />
a) redução do desperdício<br />
de alimentos e emissões na<br />
produção de alimentos -<br />
incluindo gases de efeito estufa;<br />
b) reciclagem de embalagens<br />
de alimentos e plástico, em particular e;<br />
c) uso em cascata de produtos alimentícios,<br />
incluindo o uso para fertilizantes (Cingiz; Wesseler,<br />
2019).<br />
MAR/ABR 2019<br />
39
MAR/ABR 2019<br />
Segundo dados do Global Footprint Network (2019):<br />
1,3 bilhão<br />
de toneladas/ano<br />
Cerca de um terço dos<br />
alimentos produzidos no<br />
mundo para consumo<br />
humano - 1,3 bilhão<br />
de toneladas a cada<br />
ano - são perdidos ou<br />
desperdiçados;<br />
A demanda atual por<br />
alimentos representa<br />
26% da Pegada<br />
Ecológica global e<br />
a quantidade de<br />
alimentos descartados<br />
pelos países, tanto<br />
de alta quanto baixa<br />
renda, equivale a 9%<br />
da Pegada Ecológica da<br />
humanidade.<br />
A Economia Circular também é apontada como<br />
uma estratégia efetiva para alcançar os objetivos<br />
de desenvolvimento sustentável, não apenas para<br />
consumo e produção responsáveis (Objetivo 12),<br />
como também para atingir o objetivo de Fome<br />
Zero (Objetivo 2) . Os sistemas circulares, tanto<br />
para produção de alimentos quanto para as práticas<br />
agrícolas, assim como o uso de materiais mais naturais<br />
e produtos biodegradáveis fechando o ciclo biológico<br />
de produção, pretendem ajudar a reduzir o uso de<br />
água e fertilizantes e reduzir a contaminação de<br />
alimentos. Com as práticas de distribuição e modelos<br />
de compartilhamento, previstos numa Economia<br />
Circular, para os equipamentos agrícolas, atesta-se que<br />
seria possível influenciar positivamente em mudanças<br />
desejadas para criar cadeias de valor agrícolas mais<br />
sustentáveis, com a redução de perdas de alimentos<br />
ao mesmo tempo aumentando a produtividade<br />
(Schroeder; Anggraeni; Weber, 2018).<br />
O impacto das práticas de Economia Circular<br />
em setores como silvicultura e agricultura são<br />
considerados particularmente relevantes para os<br />
contextos dos países em desenvolvimento pois<br />
podem gerar economias agrícolas circulares capazes<br />
de promover sistemas alimentares locais e sustentar<br />
meios de subsistência. A noção de uma Economia<br />
Circular “restabelecedora e regenerativa por design”<br />
é considerada um fator relevante para esses dois<br />
setores, pois define a sustentabilidade do desempenho<br />
e produtividade dos setores florestal e agrícola com<br />
práticas que visam restaurar e ao mesmo tempo não<br />
diminuir a capacidade regenerativa dos ecossistemas<br />
(Preston; Lehne, 20<strong>17</strong>).<br />
A Economia Circular e a realidade<br />
brasileira<br />
Para aumentar suas chances de êxito para gerar<br />
benefícios sociais em ambientes socioeconômicos<br />
como do <strong>Brasil</strong>, a economia circular precisaria<br />
ser adaptada ao contexto local, bem como as<br />
tecnologias aplicadas precisariam associar os saberes<br />
da população local ao conhecimento científico.<br />
Tecnologias comprovadas e descentralizadas, capazes<br />
de restaurar os nutrientes orgânicos para o solo<br />
para melhorar a produção de alimentos e causar<br />
impactos ambientalmente positivos são exemplos<br />
voltados à economia circular. Isso é o que aponta um<br />
trabalho da organização TEARFUND que investigou<br />
os benefícios da economia circular no contexto<br />
brasileiro e mostrou que o uso de biodigestores para<br />
tratamento de estrume direcionado à produção de<br />
fertilizantes e gás de cozinha são tecnologias circulares<br />
efetivas para países como o <strong>Brasil</strong> (inclusive existem<br />
experimentos produzindo gás a partir de carapaças<br />
de camarão, veremos isso nos próximos artigos). O<br />
mesmo trabalho conclui que a busca pelos benefícios<br />
sociais da Economia Circular inclui mudanças nas<br />
práticas de produção de alimentos. A economia<br />
circular poderia contribuir em comunidades pobres<br />
que sofrem desigualdades e falta de oportunidades<br />
ao ser utilizada de maneira apropriada para atuar de<br />
forma complementar a modelos de produção agrícola<br />
baseado na Agroecologia, fundamentando-se em<br />
quatro pilares: sustentabilidade, estabilidade, resiliência<br />
e capital próprio - com grande potencial para responder<br />
a situações de exclusão e invisibilidade, endereçando<br />
problemas de desigualdade, protagonismo e dignidade<br />
das pessoas (Fernandes, 2016).<br />
Para criar uma indústria do pescado baseada em<br />
uma economia circular é então, essencial, dar apoio<br />
às comunidades locais para que possam conceber<br />
sistemas de produção que sejam regenerativos, que<br />
não esgotem as populações de peixes ou danifiquem<br />
os ecossistemas aquáticos. Com esta premissa, buscase<br />
atividades de pesca e aquicultura mais resilientes e<br />
viáveis para as gerações futuras. Na publicação de 2019<br />
da FARNET, rede da UE no âmbito do Fundo Europeu<br />
dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), que<br />
integra grupos de ação local, autoridades de gestão,<br />
40
cidadãos e peritos, empenhados no desenvolvimento<br />
das comunidades locais, são reunidos casos e estratégias<br />
para a implementação da economia circular em<br />
zonas pesqueiras e aquícolas. O trabalho abrangente<br />
realizado por Burch et al. (2019) apresenta como a<br />
implementação de sistemas econômicos circulares<br />
poderiam ajudar os produtores e processadores locais<br />
a adaptar seu trabalho para criar formas de valorizar ao<br />
máximo os recursos utilizados nos processos, em vez<br />
de desperdiçá-los. Neste sentido, para planejar sistemas<br />
econômicos circulares e concretizar este objetivo em<br />
um dado sistema específico (baía, enseada, município,<br />
porto, região, etc), é necessário que os estoques e<br />
fluxos de materiais (água, comida, excremento, águas<br />
residuais, etc) e substâncias (nitrogênio, fósforo, carbono<br />
ou CO 2<br />
, GEE’s, etc.) sejam quantificados e avaliados. De<br />
forma geral, modelos econômicos circulares abrangem<br />
diversos pontos de mudanças na visão estratégica, que<br />
impactam nas várias etapas da cadeia de valor, conforme<br />
pode ser observado na figura 1.<br />
A colaboração para criar uma economia circular<br />
muitas vezes envolve a utilização compartilhada de<br />
serviços e infraestruturas que possibilitem trocas<br />
recíprocas e benéficas entre as diferentes partes em<br />
um território, destaca o trabalho. A chamada “Simbiose<br />
Industrial” envolve a colaboração de todas as partes<br />
interessadas dentro de um raio geográfico relativamente<br />
pequeno para o intercâmbio de subprodutos e resíduos<br />
das atividades produtivas, valorizados como insumos.<br />
Exemplos de iniciativas que vêm apresentando<br />
resultados positivos são:<br />
• O trabalho conjunto para desenvolver novas<br />
cadeias de valor a partir das conchas de ostras como<br />
insumo para produção de ração animal, fertilizantes,<br />
tinta para estradas, filamentos para impressoras 3D e<br />
solas de sapato, realizado por 20-25 produtores de<br />
ostras e uma fábrica local, em associação com um<br />
laboratório de pesquisa na região de Auray e Vannes,<br />
França;<br />
• O apoio para testar um sistema circular na qual<br />
os resíduos de restaurantes locais são coletados e<br />
utilizados para produzir insetos, transformados em<br />
farinha de proteína para ração de peixes destinada à<br />
aquicultura, realizado pelo Instituto Oceanográfico<br />
Paul Ricard em Esterel Côte d’Azur;<br />
O mesmo trabalho destaca benefícios potenciais da<br />
implementação de modelos econômicos circulares para<br />
este setor:<br />
• Otimizar o uso dos insumos de matéria-prima virgem;<br />
• Diminuir a geração de resíduos, descartados para<br />
incineração ou aterro (duas práticas que incorrem em<br />
grandes riscos ao meio ambiente);<br />
Figura 1. Algumas das perguntas estratégicas que devem ser feitas para estimular a reflexão sobre o potencial para o planejamento de<br />
sistemas econômicos circulares que constituam mudanças estruturadoras das etapas da cadeia de valor de pescado.<br />
MAR/ABR 2019<br />
41
MAR/ABR 2019<br />
• Desenvolver mais formas de gerar valor na<br />
produção, com insumos, produtos e processos;<br />
• Aumentar a resiliência da produção realizada por<br />
comunidades.<br />
Além da recuperação de resíduos como matériaprima<br />
de alto valor, numa Economia Circular<br />
produtores deverão repensar a maneira de usar os<br />
equipamentos e máquinas de pesca e aquicultura.<br />
Para tanto, produtores colaborando em toda a cadeia,<br />
precisam questionar alguns processos e práticas atuais<br />
em busca de soluções inovadoras e novos modelos de<br />
comercialização que irão exigir a agregação de mais<br />
atividades e atores à cadeia de valor. Neste sentido,<br />
modelos de compartilhamento e contratos de aluguel<br />
e leasing ao invés da transferência de posse, devem ser<br />
desenvolvidos para incluir a manutenção e a revenda e<br />
prever a remanufatura e o upgrade de equipamentos,<br />
utensílios e instalações. Sistemas econômicocirculares,<br />
exigirão ainda diferentes cadeias de logística<br />
e redistribuição, tanto para recuperação do valor de<br />
resíduos quanto para a utilização compartilhada de<br />
equipamentos, utensílios e instalações pelo máximo de<br />
tempo e qualidade, e demandando regulamentações<br />
adequadas para as novas atividades da cadeia circular<br />
de produção.<br />
Conclusão<br />
A economia circular depende da colaboração entre<br />
produtores. Sua finalidade é maximizar o uso eficiente<br />
e efetivo de materiais e isso envolve compartilhar<br />
recursos e estabelecer correspondências entre as<br />
atividades produtivas e as necessidades de insumos das<br />
partes de um sistema produtivo. Para tanto, existem<br />
algumas etapas para planejar cadeias de valor para uma<br />
economia circular:<br />
1. Analisar o potencial dos modelos em<br />
economia circular para as cadeias de valor;<br />
2. Conscientização para mudar a mentalidade e<br />
o comportamento nas atividades e operações;<br />
3. Aprofundamento nos conceitos e incentivo ao<br />
empreendedorismo;<br />
4. Estabelecer arranjos e associações para<br />
colaboração, compartilhamento e simbiose industrial;<br />
5. Repensar modelos de negócios baseados<br />
na posse de produtos e atrair investimentos para<br />
inovações.<br />
Para o setor de pescado, encontrar sinergias e<br />
estabelecer associações construtivas essenciais em<br />
nível local, é fundamental o desenvolvimento de<br />
relações entre pescadores, produtores de aquicultura,<br />
indústrias, sociedade civil e instituições locais. Isso<br />
pode acontecer no nível de uma única iniciativa, como<br />
a criação de uma cadeia de fornecimento de conchas<br />
de moluscos ou de carapaças de crustáceos, que<br />
exigirá o envolvimento de várias partes interessadas<br />
e dependendo da escala de atuação, pode ser ser<br />
necessário mobilizar mais parceiros, identificar e<br />
apoiar o desenvolvimento de ideias inovadoras para<br />
atividades específicas em economia circular e estudar<br />
outras sinergias.<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
Indústria de pescado e o plástico (Burch et al. 2019):<br />
Graças à sua natureza resistente à decomposição,<br />
o plástico provou ser extremamente eficaz no meio<br />
marinho. A indústria de pescado é, como outras,<br />
também dependente do plástico para, por exemplo,<br />
as artes de pesca, equipamento de aquicultura,<br />
engradados, embalagem, etc (Figura 02). No entanto,<br />
o plástico é um material não biodegradável derivado<br />
de combustíveis fósseis, que causam prejuízo aos<br />
ecossistemas marinhos.<br />
De fato, as comunidades piscatórias estão bem<br />
conscientes das consequências devastadoras que os<br />
microplásticos têm para os organismos marinhos. Mais<br />
de 80% do lixo marinho da Europa é composto de<br />
plástico de diferentes tipos e estima-se que 27% (11<br />
000 toneladas) são resíduos de plástico de artes de<br />
pesca (redes, cordas, barcos, armadilhas, etc.). Isso<br />
faz com que o manejo do plástico seja uma prioridade<br />
também para pescadores e produtores de aquicultura,<br />
se desejarem um ecossistema marinho saudável capaz<br />
de manter a produtividade da atividade (Figura 03).<br />
Exemplos de inovações que substituem o plástico<br />
de fontes fósseis:<br />
• Novo composto bioplástico biodegradável com<br />
base biológica e compostável, fabricado industrialmente<br />
a partir de conchas de ostras. Este material poderia ser<br />
usado para criar coletores de sementes de ostra;<br />
• A corda usada para cultivo de mexilhões foi<br />
substituída por algodão biodegradável. Esta solução foi<br />
copiada do sistema Hairy Rope da Nova Zelândia e,<br />
além de respeitar o meio ambiente, é mais eficaz para<br />
semear filetes e coletar mexilhões.<br />
42
Figura 2. Estrutura de cultivo de ostras fazendo uso de bombonas e outras embalagens plásticas como flutuadores. A atividade de<br />
cultivo de moluscos marinhos muitas vezes tem mais viés social do que econômico, impossibilitando o produtor adquirir materiais<br />
e petrechos específicos, ou pelo inexistência no mercado nacional ou pelo alto custo de aquisição de equipamentos importados de<br />
países com produção consolidada.<br />
Figura 3. Bombonas plásticas específicas para serem utilizadas como flutuadores separadas para a reciclagem. A combinação água<br />
do mar e exposição ao sol e intempéries diminui a vida útil dos polímeros, mesmo que específicos. O tempo de vida de polímeros<br />
reutilizados ou adaptados é muito menor, e também menos resistentes aos manejos diários. Estas bombonas são de fazendas de<br />
cultivo de ostras na Tasmânia.<br />
© ABC Rural - Laurissa Smith<br />
MAR/ABR 2019<br />
© amdro2003.blogspot.com<br />
43
MAR/ABR 2019<br />
44
BluEco Net – Workshop sobre<br />
Aquicultura Multitrófica<br />
Integrada e o futuro da<br />
aquicultura sustentável no<br />
<strong>Brasil</strong><br />
Maria Angélica Reis*<br />
William Bauer<br />
Doutores em Aquicultura<br />
Kona Blue Aquacultura, Tecnologia e Alimentos<br />
Sustentáveis<br />
*angelicareis@konablue.com.br<br />
Rafael Mansano Martins<br />
Zootecnista<br />
Kona Blue Aquacultura, Tecnologia e Alimentos<br />
Sustentáveis<br />
Atualmente, a Aquacultura<br />
Multitrófica<br />
Integrada (ou na<br />
sua sigla em inglês IMTA ou<br />
Integrated Multitrophic <strong>Aquaculture</strong>)<br />
tem ganhado popularidade<br />
principalmente pelas<br />
práticas de produção de alimentos<br />
sustentáveis em todo<br />
o mundo. As operações pioneiras<br />
bem sucedidas, as pesquisas<br />
científicas, publicação<br />
de documentos e realização<br />
de projetos, bem como surgimento<br />
de linhas de financiamento<br />
disponíveis dedicados<br />
ao tema comprovam isso.<br />
Face ao exposto, a BluEco<br />
Net e a Universidade Federal<br />
de Santa Catarina (UFSC)<br />
realizaram um workshop sobre<br />
este tema voltado para a<br />
indústria aquícola nacional. A<br />
BluEco Net é uma cooperação<br />
. O objetivo foi<br />
determinar o interesse<br />
da indústria no IMTA no<br />
<strong>Brasil</strong>, os atuais gargalos<br />
de implementação, uma<br />
agenda de pesquisa<br />
em sintonia com as<br />
necessidades da indústria,<br />
bem como para interligar os<br />
mercados internacionais.<br />
bi-lateral entre <strong>Brasil</strong> e Alemanha,<br />
cuja temática é voltada para<br />
pesquisas sobre bioeconomia<br />
e aquicultura, focando em toda<br />
cadeia de valor dessa atividade.<br />
Juntos, a rede incentiva projetos<br />
que desenvolvem novas tecnologias<br />
e processos para melhoria<br />
dos aspectos ambientais e econômicos<br />
destas duas áreas temáticas.<br />
O evento ocorreu nos<br />
dias 18 e 19 de junho de 2019,<br />
em Florianópolis, Santa Catarina,<br />
e reuniu pesquisadores<br />
nacionais e internacionais, especialistas<br />
do setor e a iniciativa privada.<br />
O objetivo foi determinar<br />
o interesse da indústria no IMTA<br />
no <strong>Brasil</strong>, os atuais gargalos de<br />
implementação, uma agenda<br />
de pesquisa em sintonia com as<br />
necessidades da indústria, bem<br />
como para interligar os mercados<br />
internacionais.<br />
MAR/ABR 2019<br />
45
O Secretário Nacional de<br />
Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior,<br />
com o professor Dr. Walter Seiffert<br />
da UFSC, após sua apresentação no<br />
workshop. © Instagram @lcmufsc<br />
Fábio Pereira, coordenador do BluEco<br />
Net, durante sua apresentação da<br />
rede no workshop em Florianópolis.<br />
© Instagram @lcmufsc<br />
MAR/ABR 2019<br />
Participaram do workshop universidades<br />
brasileiras (UFSC, FURG, CAUNESP,<br />
UEM, UFPB), além da EMBRAPA e EPA-<br />
GRI, e empresas privadas Redemar Alevinos,<br />
Kona Blue Aquacultura, Maricultura<br />
Itapema, Maricultura Costa Verde, Agertek,<br />
SynbiAqua, Lohn Bier, entre outras. Como<br />
convidados internacionais, estiveram presentes<br />
pesquisadores do Alfred Wegener<br />
Institute (Alemanha), Centro de Investigaciones<br />
Biológicas del Noroeste – CIBNOR<br />
(México), além de empresas do setor sediadas<br />
em Portugal e Alemanha.<br />
Durante o evento foram apresentadas<br />
iniciativas de produção e resultados<br />
de pesquisas em sistemas multitróficos,<br />
bem como em outras áreas de aquicultura<br />
sustentável, como bioflocos e aquaponia.<br />
A discussão girou em torno dos gargalos<br />
para a produção em IMTA, sobretudo regulamentação<br />
específica e licenciamento<br />
desta nova atividade. O workshop contou<br />
com a presença do Secretário Nacional de<br />
Aquicultura e Pesca, Sr. Jorge Seif Exemplar da “cerveja<br />
Júnior, que se comprometeu a multitrófica” da<br />
cervejaria Lohn Bier,<br />
atender prontamente os interessados<br />
no setor, de modo a elaborar<br />
Gose Salicórnia.<br />
normativas e soluções para facilitar<br />
a implantação de novos projetos.<br />
Foi possível também, durante o<br />
evento, degustar a Gose Salicornia, a chamada<br />
“cerveja multitrófica” da Lohn Bier,<br />
cervejaria de Lauro Muller-SC. Esse tipo de<br />
cerveja especial possui sabores dominantes<br />
de acidez de limão, característica herbácea<br />
e forte salgado, e para isso foi utilizada a<br />
Salicornia produzida pela UFSC em um<br />
sistema IMTA. A BluEco Net realiza eventos<br />
anuais no <strong>Brasil</strong>, e o programa está em<br />
vias de ser renovado por mais três anos.<br />
Os próximos passos são estreitar os laços<br />
entre as universidades e empresas brasileiras<br />
e internacionais, produzir artigos científicos,<br />
patentes e desenvolver protocolos<br />
para uma aquicultura sustentável econômica<br />
e ambientalmente.<br />
46
Soluções para quem procura<br />
resultados consistentes.<br />
Conheça os produtos da Phibro para aquacultura.<br />
A formulação exclusiva para tilápias e camarão do<br />
PAQ-Gro<br />
TM<br />
auxilia no desempenho e status de saúde dos animais.<br />
O BioPlus ® PS auxilia no equilíbrio da microbiota intestinal<br />
melhorando o ganho de peso e eficácia alimentar.<br />
Distribuidor exclusivo:
Empresa:<br />
Escama<br />
Forte<br />
Braço direito<br />
MAR/ABR 2019<br />
Com anos de tradição, a Escama Forte<br />
faz parte de um grupo empresarial com<br />
atuação nacional e unidades próprias de<br />
comercialização em Natal/RN,<br />
Acaraú/CE, Aracati/CE, Brejo<br />
Grande/SE e mais recentemente<br />
em Itabaiana/PB, além de<br />
possuir uma unidade de produção<br />
de tilápias em tanques-rede<br />
localizada em Zacarias/SP, e<br />
contar com diversos representantes<br />
técnicos em todo o território<br />
brasileiro.<br />
A Escama Forte utiliza a<br />
tecnologia como ferramenta<br />
principal na hora de melhorar<br />
o desempenho produtivo da<br />
aquicultura. Dessa forma, visa<br />
sempre contribuir com o crescimento<br />
e a consolidação do<br />
segmento no <strong>Brasil</strong>, gerando<br />
valor para clientes, fornecedores e colaboradores<br />
de uma forma justa. Sem deixar de lado a competitividade<br />
com ética, a excelência com simplicidade<br />
e os resultados com integridade, tem o objetivo de<br />
O braço direito de todo<br />
aquicultor tem nome<br />
e sobrenome: Escama<br />
Forte.<br />
estar entre os principais fornecedores de produtos<br />
e insumos da aquicultura brasileira.<br />
Distribuidor das marcas INVE, Phytobiotics,<br />
Nutriad, Organpesc, ASTEN,<br />
REHAU, BIORIGIN, Alfakit,<br />
CARBONOR, Bonkoski, Classifish,<br />
Super Pond, Akso, entre<br />
outras, a Escama Forte tem<br />
uma linha completa de probióticos<br />
e bioremediadores,<br />
aeradores de todos os modelos,<br />
medicamentos, promotores<br />
de crescimento naturais,<br />
equipamentos e kits de medição<br />
de parâmetros de qualidade<br />
de água. Conta ainda com<br />
o OxiAqua (oxigenador de<br />
emergência), alimentadores<br />
automáticos, Classifish (classificadora<br />
de peixes), bomba de<br />
transporte de peixes e camarões,<br />
redes (bagnets, puçás etc), Halamid (desinfetante<br />
e terapêutico), corretivos de água, bicarbonato,<br />
Lothar, calcários, entre outros, além de<br />
tudo isso, está sempre em busca de inovação e<br />
48<br />
Espaço empresa
Esp<br />
ço empresa<br />
soluções para atender de forma eficiente e satisfatória<br />
todos os clientes.<br />
A Escama Forte sempre participa de feiras e<br />
eventos ligados a aquicultura e realiza Workshops<br />
com o intuito de capacitar clientes e parceiros.<br />
Dentre esses eventos, podemos destacar a FENA-<br />
CAM (Feira Nacional de Camarão), que já se consolidou<br />
como o acontecimento técnico-científico e<br />
empresarial mais importante da Carcinicultura <strong>Brasil</strong>eira<br />
e Latino Americana, mantendo a tradição em<br />
mais de 15 anos de ser o evento que representa os<br />
segmentos da Carcinicultura, Piscicultura e Malacocultura,<br />
e acontece no Nordeste e do <strong>Brasil</strong>.<br />
Presente também na Aquishow <strong>Brasil</strong>, que reúne<br />
integrantes da aquicultura mundial que buscam<br />
conhecimento, realização de negócios, novos mercados<br />
e tendências por<br />
meio de interação entre<br />
produtores e inovações<br />
tecnológicas do setor, a<br />
Escama Forte tem presença<br />
cativa no evento<br />
com o objetivo de<br />
aperfeiçoar práticas de<br />
produção e de desenvolvimento<br />
sustentável,<br />
através de novas técnicas<br />
e tecnologias voltadas para o incremento da aquicultura<br />
em tanques-rede ou viveiros escavados,<br />
ressaltando a importância da sustentabilidade da atividade<br />
com base nos aspectos econômico, social e<br />
ambiental.<br />
Portanto, você já sabe, quando o assunto é<br />
aquicultura, a Escama Forte é o parceiro que você<br />
precisa para obter os melhores resultados para o<br />
seu negócio. Acesse nossas redes sociais, entre em<br />
contato conosco e vamos iniciar mais uma história<br />
de sucesso juntos.<br />
CONTATO:<br />
(84) 99657-4771<br />
@escamaforte<br />
/Escama Forte <strong>Brasil</strong><br />
MAR/ABR 2019<br />
Espaço empresa<br />
49
An insight into advances in fisheries biology,<br />
genetics and genomics of African tilapia species<br />
of interest in aquaculture<br />
Autores: T. OlivierAmoussou, Issaka Youssao Abdou Karim, Guiguigbaza-Kossigan Dayo, Nawroz<br />
Kareem, Ibrahim Imorou Toko, Antoine Chikou e AboubacarToguyéni<br />
Na lista dos artigos mais citados da revista científica <strong>Aquaculture</strong> Amsterdã, a revisão<br />
tem como foco apresentar os marcadores moleculares que podem ser usados na genética<br />
molecular de identificação das espécies de tilápia. O uso ou não de um marcador genético<br />
depende de vários fatores e conhecê-los é importante para atender os reais objetivos de<br />
cada pesquisa.<br />
Entre os principais pontos destacados na revisão, estão:<br />
O uso de um marcador genético é condicionado pelas instalações<br />
disponíveis, pelos objetivos da pesquisa e pela relação qualidadepreço;<br />
Os marcadores moleculares mais utilizados para os estudos<br />
de Oreochromis niloticus e Sarotherodon melanotheron são<br />
atualmente mtDNA e SSR;<br />
MAR/ABR 2019<br />
Mitocondriais, SSRs, ISSRs e SNPs são ferramentas<br />
promissoras para a caracterização genética de tilápias,<br />
especialmente em suas impressões digitais, mapeamento<br />
de ligação, estudos genéticos populacionais e análises de<br />
paternidade;<br />
O DNA barcoding está provando ser uma ferramenta útil para<br />
identificar diferentes espécies de tilápia.<br />
Saiba mais em:<br />
https://doi.org/10.1016/j.aqrep.2019.100188<br />
50
um problema antigo<br />
deu a louca no e-commerce<br />
MAR/ABR 2019<br />
51
MAR/ABR 2019<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Laboratório de Cultivo de Algas<br />
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
roberto.derner@ufsc.br<br />
Pesquisas com Microalgas no LNEG/Portugal<br />
Nesta edição apresentamos algumas das atividades<br />
desenvolvidas na Unidade de Bioenergia (http://<br />
www.lneg.pt/iedt/unidades/4/) do Laboratório Nacional de<br />
Energia e Geologia (LNEG) situado em Lisboa, Portugal.<br />
As informações apresentadas foram obtidas por meio de<br />
material enviado pela Dra. Luisa Gouveia, Chefe do Autothrophic<br />
Microalgae Group.<br />
À Unidade de Bioenergia compete a realização de<br />
Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação: “no domínio das<br />
bioenergias, para a utilização de fontes renováveis de biomassa<br />
na produção de biocombustíveis e biomateriais; no<br />
domínio das biorrefinarias de biomassa, incluindo a biofixação<br />
de carbono, com vistas à diversificação das fontes<br />
energéticas, à diminuição da dependência de fontes<br />
externas e ao aumento da segurança do abastecimento;<br />
além do apoio às políticas públicas nacionais (de Portugal)<br />
nas áreas de biomassa, bioenergia e biocombustíveis”.<br />
Com uma competente equipe de pesquisadores, experiência<br />
de mais de 30 anos e uma expressiva produção<br />
científica, a Unidade de Bioenergia tem no portfólio do<br />
LNEG (http://www.lneg.pt/portfolio/mobile/index.html#p=1)<br />
informações sobre os inúmeros projetos desenvolvidos<br />
em parceria com outros laboratórios/empresas portuguesas<br />
e de outros países da Comunidade Europeia. Dentre<br />
estes projetos, o de maior dimensão é o ALGAVALOR<br />
(MicroALGAs: produção integrada e VALORização da biomassa<br />
e das suas diversas aplicações, http://www.lneg.pt/iedt/<br />
projectos/619/), que tem como objetivo geral a produção<br />
Figura I. ALGAVALOR - Unidade de bioenergia.<br />
Subprojeto 6<br />
Gestão e disseminação dos<br />
resultados<br />
•Valorização de<br />
microalga para<br />
Alimentação Humana<br />
Subprojeto 1<br />
•Tecnologia e Redução<br />
de Custos de Produção<br />
Subprojeto 4<br />
BIOTECNOLOGIA DE<br />
ALGAS<br />
integrada de microalgas e a valorização da sua biomassa e<br />
extratos em diferentes aplicações, estando previsto o desenvolvimento<br />
e lançamento de novos produtos nos mercados<br />
da alimentação humana, nutrição animal, cosmética<br />
e biofertilizantes, buscando novos processos produtivos e<br />
a sustentabilidade. O ALGAVALOR foi subdivido em um 6<br />
subprojetos (SP) específicos (Figura1): valorização de microalgas<br />
para alimentação humana (SP 1); valorização de<br />
microalgas para alimentação animal (SP 2); valorização de<br />
microalgas para cosmética natural (SP 3); desenvolvimento<br />
de novos processos, incluindo reatores abertos de nova<br />
geração, e a otimização dos processos existentes, tendo<br />
em vista a obtenção de ganhos de escala e eficiência (SP<br />
4); desenvolvimento de biofertilizantes agrícolas a partir de<br />
microalgas e aproveitamento de resíduos agroindustriais<br />
como inputs para a produção de “microalgas biológicas“<br />
numa lógica de economia circular (SP 5); e por último,<br />
pretende-se que o projeto ALGAVALOR tenha um grande<br />
impacto multissetorial, nacional e internacional, nas várias<br />
linhas que estão sendo experimentadas (SP 6).<br />
É fato que muitas pesquisas têm sido desenvolvidas<br />
visando ao emprego das microalgas/biomassa para a produção<br />
de biocombustíveis e, reconhecidamente, as atividades<br />
da Unidade de Bioenergia do LNEG são muito<br />
importantes e se somam àquelas de outros importantes<br />
grupos de pesquisa, os quais seguem buscando a viabilidade<br />
econômica desta atividade através de coprocessos e<br />
coprodutos.<br />
Subprojeto 2<br />
•Valorização de<br />
microalga para<br />
Alimentação Animal<br />
• Microalga para<br />
Cosmética Natural<br />
Subprojeto 5<br />
•Economia Circular<br />
•Tratamento de efluentes<br />
•Biofertilizantes<br />
Subprojeto 3<br />
LNEG<br />
52
Marcelo Shei<br />
Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos<br />
Santos, SP<br />
shei@altamar.com.br<br />
Notas sobre sistemas de recirculação<br />
nos centros de ensino e pesquisa<br />
Nas últimas décadas aumentou-se muito os estudos<br />
dos ambientes aquáticos e de seus organismos.<br />
Consequentemente, houve também, uma<br />
expansão do número de centros de pesquisa e dos<br />
cursos de formação relacionados nessa área. Muitos<br />
desses centros têm utilizado sistemas de recirculação<br />
de água (RAS) para fins didáticos e para desenvolvimento<br />
de estudos e ensaios. Atualmente, é relativamente<br />
comum, encontrarmos a descrição da utilização<br />
de algum tipo de RAS na metodologia dos artigos<br />
científicos. Com isso, nesta oportunidade, faço aqui<br />
algumas notas, à respeito do uso de RAS para essa<br />
finalidade.<br />
Quanto ao ensino, a utilização de estruturas compactas<br />
permite a manutenção de peixes, anfíbios, crustáceos<br />
e outros organismos em diferentes estágios de<br />
desenvolvimento. Assim, os estudantes conseguem<br />
entender o seu comportamento, modo de vida e a<br />
interação com o ambiente ao redor.<br />
Já para a utilização dos sistemas de pesquisa, tenho<br />
observado uma falta de padronização, o que dificulta<br />
o entendimento e reprodução das condições experimentais.<br />
Como boa parte dos artigos não são sobre<br />
RAS, os revisores também tendem a não dar muita<br />
atenção nesse tema. Listo aqui, três exemplos comuns<br />
e que podem ajudar na descrição das estruturas e também<br />
na interpretação dos leitores.<br />
• Bombeamento: Muitos artigos citam a potência<br />
do motor como referência, a capacidade ou fluxo da<br />
motobomba. No entanto, mais importante do que a<br />
potência do motor, é a informação da vazão utilizada<br />
nas unidades experimentais ou etapas de filtração.<br />
Sendo menos importante se a água foi transferida por<br />
uma motobomba magnética, centrífuga ou por air lift;<br />
• Filtro biológico: Tão importante quanto a descrição<br />
do tipo de mídia ou substrato utilizado, é descrever<br />
a quantidade do material utilizado e o método<br />
de contato com água (submerso, dry wet ou outros).<br />
Isso permite ao leitor estimar a superfície disponível<br />
para fixação das bactérias nitrificantes;<br />
• Desinfeção por UV-C: Independentemente do<br />
fabricante, a informação determinante para esses equipamentos<br />
é a dose utilizada. A eficiência de uma lâmpada<br />
de uma mesma potência varia de acordo com o<br />
fabricante e com a câmara de contato. É importante<br />
descrever o modelo do equipamento, mas também a<br />
dose de operação.<br />
Quanto a otimização de recursos e espaços, nas<br />
universidades, apesar de ainda ser comum a individualização<br />
dos laboratórios experimentais e suas estruturas,<br />
penso que a tendência é, assim como ocorre<br />
com outros aparatos de grande porte e valor, o uso<br />
compartilhado dessas estruturas experimentais de<br />
RAS. Com isso, ao invés de cada laboratório precisar<br />
construir e manter o seu próprio sistema experimental,<br />
torna-se mais eficiente a construção de sistemas mais<br />
modernos e capazes de serem utilizados com diversas<br />
configurações de unidades experimentais. Hoje,<br />
um sistema que está sendo utilizado para nutrição de<br />
peixes de água doce, poderia ser utilizado para testar<br />
probióticos em pepinos do mar na semana seguinte.<br />
Se hoje, a tendência da economia compartilhada está<br />
em alta, por que também não compartilhamos os sistemas<br />
experimentais?<br />
MAR/ABR 2019<br />
53
NUTRIÇÃO AQUÍCOLA<br />
MAR/ABR 2019<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
CSIRO – Austrália<br />
IPEMAR – <strong>Brasil</strong><br />
Acredito que a maioria de vocês, leitores, já devem<br />
ter ouvido falar sobre a tecnologia de bioflocos.<br />
No <strong>Brasil</strong> esse tema é recorrente nos fóruns de discussões<br />
e também está presente na base educacional de<br />
alguns programas de graduação e pós-graduação. Nessa<br />
coluna não irei abordar aspectos dessa tecnologia. Para<br />
mais informações sobre esse sistema de produção, vejam<br />
as edições anteriores da Coluna “Green Technologies” e<br />
também no site (cursos e outras seções) da <strong>Aquaculture</strong><br />
<strong>Brasil</strong>. Meu intuito é apresentar brevemente o panorama<br />
da nutrição em sistemas de bioflocos e como essa<br />
linha de pesquisa está crescendo no mundo e sendo liderada<br />
pelo <strong>Brasil</strong>. Para tal, fiz uma busca rápida no site<br />
da Web of Science e Scopus colocando as palavras-chave<br />
“Nutrition + Biofloc”, resultando em mais de quarenta<br />
artigos científicos publicados. Vale ressaltar algumas limitações<br />
sobre esse sistema de busca. Como esses sites<br />
buscam apenas artigos científicos publicados em revistas<br />
indexadas na língua inglesa, uma quantidade considerável<br />
de material sobre esse tema não foi considerada, como,<br />
por exemplo, monografias, dissertações de mestrado,<br />
teses de doutorado e artigos científicos publicados em<br />
revistas de idiomas que não sejam em inglês. Outro<br />
ponto é que apresentarei apenas os resultados dessa<br />
busca específica. Em outras palavras, não usei outros termos<br />
e combinações dos mesmos como palavras-chave.<br />
A figura 1 apresenta o número de publicações nesse<br />
tema por ano. Interessante notar que o número de<br />
publicações aumenta ano a ano e em 2019 já foram publicados<br />
10 artigos, sendo que ainda estamos no mês de<br />
julho. A tendência é que esse número aumente a cada<br />
ano!<br />
Os principais países atuando nessa linha de pesquisa<br />
estão apresentados na figura 2, onde o <strong>Brasil</strong> aparece<br />
em primeiro lugar, seguido dos Estados Unidos e depois,<br />
empatados, China e México. Em termos das espécies<br />
pesquisadas, o camarão lidera com 73% dos artigos<br />
artur.rombenso@csiro.au<br />
*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições<br />
vinculadas ao mesmo.<br />
Tendências na nutrição em bioflocos<br />
publicados (principalmente o camarão branco do Pacífico,<br />
o Rosa e o de água doce), seguido por peixes com<br />
24% (tilápia, carpa e espécies nativas) e os 3% restantes<br />
consistem no pepino do mar. Por fim, os tópicos mais<br />
abordados na área de Nutrição em Bioflocos possuem<br />
certa semelhança com os da nutrição tradicional como:<br />
substituição da farinha e óleo de peixe, ingredientes<br />
complementares, entre outros (Tabela 1). Porém, outros<br />
tópicos são mais específicos como, por exemplo,<br />
a contribuição nutricional e a manipulação do biofloco.<br />
Antes de finalizar essa coluna gostaria de parabenizar<br />
os centros de pesquisa e universidades brasileiras<br />
pelo excelente trabalho nessa linha de pesquisa e por<br />
mostrar mais uma vez ao mundo o valor e a qualidade<br />
das pesquisas feitas no <strong>Brasil</strong>. Espero que vocês tenham<br />
aproveitado essa coluna e em futuras edições abordarei<br />
temas mais específicos dentro dessa área.<br />
Tabela I. Lista dos principais tópicos abordados na área de<br />
Nutrição em Bioflocos segundo os sites Web of Science e Scopus<br />
com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.<br />
54
Figura I. Número de publicações por ano em jornais científicos segundo os sites Web of Science e Scopus com a<br />
busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.<br />
12<br />
10<br />
MAR/ABR 2019<br />
Número de publicações por ano<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
2007 2009 2010 2012 2013 2014 2015 2016 20<strong>17</strong> 2018 2019<br />
Figura 2. Porcentagem de artigos publicados em jornais científicos por países de 2007 a 2019 segundo os sites<br />
Web of Science e Scopus com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.<br />
55
Genética<br />
MAR/ABR 2019<br />
herdabilidade de determinada população é um<br />
A dos parâmetros genéticos mais importantes de<br />
todo programa de melhoramento e nos vai nortear,<br />
em parte, o andamento do programa. Existem duas<br />
herdabilidades. A herdabilidade em sentido amplo, definida<br />
pela proporção da variância genética (somatória<br />
da variância genética de dominância e a variância genética<br />
aditiva) sobre a variância fenotípica. Já a herdabilidade<br />
em sentido restrito é definida pela proporção<br />
da variância genética aditiva e a variância fenotípica. É<br />
importante ressaltar que a herdabilidade é um atributo<br />
da população e não da espécie. Para o cálculo da herdabilidade<br />
precisamos manter um programa familiar e<br />
conhecer as relações de parentesco entre indivíduos<br />
e famílias. Na última edição definimos e explicamos<br />
a variância genética aditiva como aquela criada pelo<br />
efeito individual dos alelos de cada gene envolvido na<br />
caraterística de interesse.<br />
Existem vários métodos de estimar a herdabilidade.<br />
Entre eles, os tradicionais métodos dos quadrados<br />
mínimos onde estimamos a variância intrafamiliar<br />
e interfamiliar e a relação entre elas, ou o método de<br />
correlação da média dos pais com relação a média<br />
dos filhos. Atualmente com os avanços da informática<br />
o método mais utilizado para a estima de parâmetros<br />
genéticos é o “Modelo Animal” onde através de cálculos<br />
matrizares estimamos efeitos genéticos onde estarão<br />
incluídos dados de várias gerações de parentesco.<br />
Independentemente do método de estima, que não<br />
abordaremos na coluna, podemos dizer que nossa<br />
estima de herdabilidade será alta se a variância genética<br />
aditiva da população é alta com relação a variância<br />
fenotípica. Sendo assim, significa que a população possuirá<br />
alelos que estão aportando significativamente no<br />
fenótipo de interesse e que poderemos obter ganhos<br />
genéticos significativos se submetermos a população a<br />
SELEÇÃO. A seleção incrementará a frequência alélica<br />
dos genes responsáveis pela caraterística trabalhada, levando<br />
a respostas significativas de geração em geração.<br />
Tipos de seleção<br />
Existem três tipos principais de seleção:<br />
Rodolfo Luis Petersen<br />
Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar<br />
Universidade Federal do Paraná - UFPR<br />
Pontal do Paraná, PR<br />
rodolfopetersen@hotmail.com<br />
Uso da seleção: o conceito de herdabilidade<br />
a) Seleção direcional: aquela realizada para um único<br />
caráter ao longo das gerações. É o tipo de seleção<br />
mais utilizada na indústria aquícola;<br />
b) Seleção em Tandem: aquele realizado por um<br />
número definido de gerações para um determinado<br />
caráter (ex. taxa de crescimento) e sequencialmente<br />
por mais um número estabelecido de gerações para<br />
outro caráter (por exemplo, resistência a doenças);<br />
c) Seleção por índices: aquela realiza através de um<br />
índice de seleção o qual combina duas caraterísticas<br />
de interesse e lhes assina um peso a cada uma (Ex.<br />
80 % para crescimento e 20 % para resistência a uma<br />
determinada doença). Este tipo de seleção apresenta<br />
alguns inconvenientes, quando, as caraterísticas a seleção<br />
apresentam uma correlação genética negativa.<br />
Ou seja, ao selecionar para uma das caraterísticas estaremos<br />
selecionado negativamente para a outra. Isto<br />
aconteceu no programa de Melhoramento Genético<br />
do Oceanic Institute (Hawai) no final da década dos<br />
90, onde foi utilizado um índice de seleção (50:50)<br />
para a melhoria do crescimento e da resistência ao vírus<br />
do Taura na espécie Litopenaeus vannamei.<br />
Já com relação aos métodos de seleção podemos<br />
destacar o de seleção individual e de seleção familiar.<br />
O método de seleção individual seleciona com relação<br />
ao mérito zootécnico do indivíduo independentemente<br />
da família a qual pertence. Já o método de seleção<br />
familiar lhe dá ênfase ao mérito da família na população.<br />
O método de seleção familiar pode ser interfamiliar<br />
ou intrafamiliar. No método de seleção interfamiliar<br />
se selecionaram como progenitores da próxima geração<br />
as melhores famílias da população. No segundo,<br />
se selecionaram os melhores indivíduos de todas as<br />
famílias. Existe também e é o mais utilizado, método<br />
de seleção combinada, o qual seleciona os melhores<br />
indivíduos das melhores famílias.<br />
Antes de realizar a seleção numa determinada população<br />
devemos fixar a intensidade de seleção que<br />
será aplicada. A intensidade de seleção é a proporção<br />
da população que será selecionada como futuros progenitores.<br />
A intensidade de seleção dependerá em<br />
56
parte de nosso tamanho populacional. Não teremos<br />
condições de aplicar elevadas intensidades de seleção<br />
em populações limitadas (por exemplo 30 famílias de<br />
tilápia) já que elevaremos de forma brusca nosso coeficiente<br />
de endogamia em função da maior probabilidade<br />
de cruzar organismos emparentados ao longo das gerações<br />
de seleção. A intensidade de seleção está relacionada<br />
com a resposta a seleção. Antes de definir a<br />
resposta a seleção precisamos entender o conceito de<br />
diferencial de seleção. O diferencial de seleção é a diferença<br />
entre a média dos indivíduos selecionados (uma<br />
vez aplicada a intensidade de seleção) e a média da<br />
geração parental (ou seja, a média da população total).<br />
A resposta a seleção é a consequência do produto do<br />
diferencial de seleção, do desvio padrão da população<br />
e da herdabilidade. Altas intensidades de seleção, em<br />
populações com variabilidade fenotípica e alta herdabilidade,<br />
a resposta a seleção será maior. A média das médias<br />
de resposta a seleção em programas genéticos de<br />
espécies aquáticas é de 10 % por geração de seleção.<br />
Limites da seleção<br />
Na medida que vamos selecionado ao longo das gerações,<br />
as frequências alélicas dos genes que estão aportando<br />
para a caraterística selecionada, vão aumentando<br />
até chegar a sua fixação (frequência = 1, ou seja, todos<br />
os indivíduos da população possuirão o mesmo alelo<br />
com relação a determinado gene). Na medida que os<br />
genes vão se fixando na população, a resposta a seleção<br />
tende a diminuir a valores insignificantes.<br />
Desta forma é atribuição do melhorista ir definindo<br />
o tamanho da população, dosando as intensidades de<br />
seleção para evitar a endogamia, estimando a herdabilidade<br />
e as respostas a seleção para cada geração. Em<br />
função dos resultados obtidos o melhorista terá que ir<br />
definindo a melhor estratégia com relação ao futuro do<br />
programa e da linhagem. Populações onde foram fixados<br />
alelos para uma certa caraterística zootécnica podem ser<br />
utilizados para serem cruzadas com outras populações<br />
selecionadas para uma caraterística complementar e<br />
produzir um híbrido intraespecífico.<br />
MAR/ABR 2019<br />
57
MAR/ABR 2019<br />
Nesta edição da coluna Green Technologies trazemos<br />
dois convidados especiais para falar de<br />
um tema extremamente importante nos cultivos intensivos:<br />
compostos nitrogenados e sua correta interpretação.<br />
Por diversas vezes ao explicarmos sobre os níveis<br />
de segurança dos compostos nitrogenados, escutamos<br />
produtores que dizem: “meu nitrito chegou a 30mg/L e<br />
meus camarões estão ótimos!” ou “meus animais só começaram<br />
a morrer com níveis de nitrito acima de 50mg/L.<br />
Eles são muito resistentes!”. São fatos que até poderiam<br />
estar corretos se fossem cultivos em salinidades bem<br />
elevadas. Mas na verdade o que muitas vezes ocorre é<br />
uma confusão na leitura e interpretação dos resultados.<br />
Vamos explicar então a questão dos valores dos<br />
compostos nitrogenados de acordo com o teste/leitura<br />
das diferentes moléculas. Existem duas maneiras principais<br />
de descrever as concentrações de amônia, nitrito e<br />
nitrato na água:<br />
1. A partir da massa molecular do nitrogênio dessas<br />
moléculas, descrevendo apenas a massa do átomo de<br />
nitrogênio;<br />
II. A partir da massa da molécula inteira.<br />
Vejamos um exemplo: a fórmula N-NO 2<br />
(nitrogênio-nitrito)<br />
indica apenas a massa do átomo de nitrogênio<br />
presente na molécula. Já a fórmula NO 2<br />
indica<br />
a massa da molécula inteira de nitrito. Dessa forma,<br />
o valor de nitrogênio-nitrito terá um valor sempre<br />
menor do que o valor do íon nitrito associado. Assim<br />
podemos observar diferentes formas de descrever<br />
esses compostos: N-NH 3<br />
e NH 3<br />
(para amônia<br />
não-ionizada); N-NH 4<br />
e NH 4<br />
(para amônia ionizada);<br />
N-NO 2<br />
e NO 2<br />
(para o nitrito); e N-NO 3<br />
e NO 3<br />
(para o nitrato). A conversão entre as duas formas é<br />
bastante simples e pode ser observada na tabela I.<br />
Os principais testes de detecção desses compostos<br />
são os colorimétricos (testes comuns de aquário), e os<br />
fotocolorimétricos (utilizam equipamentos que leem o<br />
comprimento de onda de cor). Geralmente os testes<br />
Green<br />
TECHNOLOGIES<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
CSIRO - Austrália<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />
mauricioemerenciano@hotmail.com<br />
*As opiniões citadas abaixo do primeiro autor são exclusivamente pessoais e não necessariamente remetem as<br />
opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.<br />
Nitrogenados: explicando a confusão<br />
colorimétricos exibem no resultado as formas iônicas<br />
dos nitrogenados. Já os fotocolorímetros, no geral,<br />
quantificam as moléculas de nitrogênio ligadas ao composto<br />
em questão. Mas isso vai depender de cada marca/equipamento<br />
utilizado.<br />
Tabela I. Fator de multiplicação dos compostos nitrogenados de<br />
acordo com sua molécula.<br />
E por que precisamos levar em consideração essa<br />
diferença de valores? É simples: uma interpretação errônea<br />
pode trazer consequências desastrosas. Um certo<br />
valor de nitrito interpretado de maneira equivocada<br />
pode estar sendo subestimado em até 3,28 vezes a<br />
menos! Por exemplo, em um cultivo de camarões marinhos<br />
da espécie Litopenaeus vannamei em salinidade<br />
10, se o resultado para N-NO 2<br />
for 7,0 mg/L, você está<br />
dentro ou fora dos limites de segurança?<br />
O nível de segurança de nitrito para essa espécie em<br />
salinidade 10 é de 2,5 mg/L de N-NO 2<br />
. No entanto,<br />
utilizando a tabela acima e convertendo para a molécula<br />
NO 2<br />
, o nível de segurança passa a ser 8,2mg/L.<br />
Assim, você está fora dos limites de segurança, e medidas<br />
de manejo devem ser tomadas. Um olhar rápido<br />
e menos atencioso poderia supor que tudo está sob<br />
controle. Mero engano! Para evitar confusão, sempre<br />
verifique qual molécula o teste utilizado apresenta como<br />
resultado e tenha em mãos boas literaturas. Fazendo a<br />
conversão pode-se saber corretamente a concentração<br />
do composto nitrogenado e tomar as devidas medidas<br />
necessárias no seu cultivo. Ótimas despescas!<br />
*Colaboração: Maria Angélica Reis e William Bauer (Kona Blue<br />
Aquacultura)<br />
58
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Estação Marinha de Aquacultura - EMA<br />
Universidade Federal do Rio Grande - FURG<br />
Rio Grande, RS<br />
vr.ricardo@gmail.com<br />
Produção de peixe marinho dá novo<br />
passo no <strong>Brasil</strong>?<br />
No mês de maio a <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> noticiou um<br />
futuro empreendimento na área da piscicultura<br />
marinha na Bahia. A empresa norte-americana Forever<br />
Oceans pretende investir cerca de 60 milhões de dólares<br />
na produção do olho-de-boi Seriola rivoliana. São<br />
escassas as informações, porém o governador da Bahia<br />
assinou um memorando de entendimento com a empresa.<br />
O empreendimento necessita ainda de todos os<br />
trâmites de licenciamento ambiental para então iniciar<br />
suas atividades. Espero que de fato essa iniciativa saia<br />
do papel, que as questões de licenciamento não travem<br />
o processo como já observamos no passado e que de<br />
fato mais uma iniciativa de maricultura tenha início nesse<br />
nosso enorme litoral pouco explorado pela aquicultura.<br />
Para quem nunca ouviu falar em produção de peixes<br />
do gênero Seriola, são muitas as espécies que são produzidas<br />
ao redor do mundo. Seriola quinqueradiata já é<br />
produzida no Japão desde a década de 60, enquanto S.<br />
lalandi vem sendo produzida no Japão, Austrália, Nova<br />
Zelândia, EUA e Chile. Quanto a espécie que é alvo no<br />
<strong>Brasil</strong> S. rivoliana, ela já vem sendo produzida nos EUA<br />
e estudos iniciais têm sido realizados com<br />
a espécie no Chile. As Seriolas são produzidas<br />
geralmente em tanques-redes,<br />
porém sistemas de recirculação também<br />
podem ser utilizados para sua engorda.<br />
Existem relatos de maturação e desova<br />
natural em tanques de grande volume<br />
das Seriolas, mas geralmente são realizadas<br />
induções hormonais para obtenção<br />
de larvas.<br />
A S. rivoliana é uma espécie amplamente<br />
distribuída, estando presente em<br />
praticamente todos os mares tropicais<br />
e temperados do mundo. É nativo da<br />
costa brasileira, com ocorrência de norte<br />
a sul do país. Como já é produzida<br />
comercialmente, dispõe de protocolo<br />
de produção de juvenis já estabelecido. Possui uma elevada<br />
taxa de crescimento, por volta de 2,2 kg entre 9<br />
a 12 meses de produção, dependendo da temperatura<br />
da água. Portanto, certamente pode ser uma excelente<br />
espécie para produção aqui no <strong>Brasil</strong>.<br />
Como o gênero Seriola vêm despertando muito interesse<br />
ao redor do mundo, no ano de 2018 foi realizado<br />
um workshop exclusivo sobre as espécies do gênero nos<br />
EUA (Seriola Workshop) reunindo os principais pesquisadores<br />
do mundo sobre as espécies do gênero. A tentativa<br />
de um segundo evento será para o ano de 2020. Para<br />
quem tiver mais interesse sobre a produção de Seriola<br />
em geral, recomendo a leitura do artigo de revisão sobre<br />
produção de Seriola (Sicuro e Luzzana, 2016*). Sobre<br />
as conclusões da revisão, ressalto os pontos considerados<br />
gargalos para expansão da produção das diferentes<br />
espécies de Seriola, que são: o impacto causado pelas<br />
enfermidades, carência de programas de melhoramento<br />
genético e um conhecimento incompleto relacionado<br />
as exigências nutricionais das espécies, sendo esse<br />
último ponto alvo de muito estudo na atualidade.<br />
Figura I. Exemplar da espécie S. rivolian. © Reef Life Survey<br />
*Sicuro, B. e Lazzuna, U. 2016. The state of Seriola spp. Other than Yellowtail (S.<br />
quinqueradiata) farming in the world. Reviews in Fisheries Science & <strong>Aquaculture</strong>. V.24,<br />
n.4: 314-325<br />
MAR/ABR 2019<br />
59
Fábio Rosa Sussel<br />
MAR/ABR 2019<br />
m tempos de informação abundante, o desafio da comu-<br />
é imenso”. Já escrevi isto em outras colunas e<br />
“Enicação<br />
em praticamente todas minhas palestras/cursos repito esta frase.<br />
Volto a insistir nesta questão por que é impressionante como<br />
isto prejudica diretamente o entendimento e o direcionamento<br />
dos fatos ou discussões. Por conta da facilidade no compartilhamento<br />
de notícias e opiniões, aliado a posicionamentos pessoais<br />
com a flexibilidade de termos que a língua portuguesa oferece,<br />
logo temos algo completamente distorcido e fora da realidade.<br />
Quer um exemplo prático envolvendo a produção de organismos<br />
aquáticos? Então observe bem como a falta de um<br />
entendimento primário envolvendo conceitos nas terminologias<br />
Preservação Ambiental e Conservação Ambiental afetam<br />
diretamente nosso setor.<br />
Conforme o naturalista John Muir, maior expoente preservacionista,<br />
defende que a natureza existe desde muito<br />
antes da ocupação humana e por isso deve se manter intocada.<br />
Envolve a adoção de medidas radicais e extremas.<br />
Em que situações este conceito deve ser aplicado? Nas<br />
Unidades de Conservação, Terras Indígenas, Parques Nacionais,<br />
Reserva Legal e Áreas de Proteção Permanente,<br />
os quais somados perfazem o montante de 563.736.030<br />
hectares ou 66,3% do território brasileiro (isto mesmo,<br />
66,3%), conforme dados recentes publicados pela Embrapa.<br />
Por algumas particularidades, especialmente as relacionadas<br />
a distinta riqueza de biodiversidade, tais áreas já foram previamente<br />
identificadas, mapeadas e declaradas como prioridade<br />
de intocabilidade de seus recursos naturais.<br />
Enquanto que a Conservação Ambiental, de acordo com<br />
Aldo Leopold, precursor da Biologia da Conservação, defende<br />
a participação humana com harmonia, explorando os<br />
recursos naturais de forma sustentável em prol da sociedade.<br />
Trata a mãe natureza de uma maneira bem menos rígida,<br />
liberando a exploração dos seus recursos desde que seja<br />
com inteligência, assim como o manejo correto do meio<br />
ambiente pelo homem. Defende ainda o desenvolvimento<br />
sustentável da humanidade, para assim garantir uma melhor<br />
qualidade de vida para as gerações presentes e as futuras.<br />
Diretamente ligado a Preservação e a Conservação Ambiental,<br />
temos ainda a Sustentabilidade, formando a tríade de<br />
terminologias frequentemente utilizadas fora do contexto ou em<br />
situações e casos inadequados. Sustentabilidade vem do termo<br />
“sustentável”, que, por sua vez, deriva do latim sustentare, que<br />
significa sustentar, defender, favorecer, apoiar, conservar e/ou<br />
Pesquisador Instituto de Pesca de SP - UPD Pirassununga<br />
Pirassununga, SP<br />
fabio@pesca.sp.gov.br<br />
Preservação Ambiental, Conservação Ambiental e<br />
Aquicultura<br />
cuidar. Teve origem em Estocolmo, na Suécia, durante Conferência<br />
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente no ano de<br />
1972. Mais tarde, em 1992, na Conferência sobre Meio Ambiente<br />
e Desenvolvimento (Eco-92), foi consolidado o conceito<br />
de desenvolvimento sustentável; que passou a ser entendido<br />
como o desenvolvimento a longo prazo, de maneira que não<br />
sejam exauridos os recursos naturais utilizados pela humanidade.<br />
Por fim, conforme conceitos mais recentes sobre Sustentabilidade,<br />
de maneira simples e objetiva, prega que: “Deixar<br />
para nossos filhos e netos um meio ambiente igual ao que encontramos,<br />
é pouco! O desafio é deixar um ambiente melhor.”<br />
Pois bem, após devidamente apresentadas as reais definições<br />
e significados dos termos mais utilizados quando o assunto<br />
é meio ambiente, vamos aos fatos.<br />
O que isto tudo tem a ver com aquicultura? Por não saberem<br />
a real diferença entre um termo e outro, acabam misturando as<br />
coisas. Não tem lógica alguma falarmos de Preservação Ambiental<br />
em áreas que encontram-se fora das Unidades de Conservação,<br />
conforme os casos já citados acima. Enquanto que Conservação<br />
e Sustentabilidade, faz todo sentido. E de que forma<br />
devemos implementar e ou apoiar políticas que na prática sejam<br />
efetivas, que realmente tragam melhorias ao meio ambiente?<br />
Inicialmente identificar, bem como deixar claro aos legisladores,<br />
onde realmente estão os problemas e as principais ameaças<br />
ao meio ambiente. Por exemplo: considerando as regiões<br />
Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste, as quais concentram<br />
a maior densidade populacional do <strong>Brasil</strong>, o problema do meio<br />
ambiente está nas cidades e não no campo! É das cidades que<br />
partem os maiores exemplos de não aplicação dos conceitos de<br />
desenvolvimento sustentável. Ironicamente, é pautado principalmente<br />
na opinião de quem mora nas cidades as leis e regras<br />
pra quem vive no campo. Por sua vez, os que vivem no campo<br />
produzem alimentos para sustentar os que vivem na cidade.<br />
E aí então que o correto seria leis mais brandas para o campo?<br />
NÃO, de jeito nenhum. Já está provado por A + B que a<br />
proteína aquática é a forma mais sustentável de se produzir alimentos.<br />
Portanto, não precisamos ter qualquer abrandamento<br />
de leis, apenas deseja-se que sejam coerentes. E, lógico, que<br />
esta mesma coerência seja aplicada nas cidades. Simples assim.<br />
Agradeço a colaboração do amigo Splinter, Prof. Dr. André<br />
Luiz Julien Ferraz (UEMS), o qual auxiliou na construção desta<br />
linha de raciocínio que inicialmente foi proposta para a pesca<br />
esportiva, mas que enquadra-se perfeitamente para a aquicultura.<br />
Grato pela parceria, meu amigo.<br />
60
61<br />
MAR/ABR 2019
MAR/ABR 2019<br />
Visão<br />
aquícola<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
Berçários intensivos na carcinicultura<br />
catarinense: novos tempos!<br />
história da criação de camarões marinhos em<br />
A Santa Catarina passa pelo pioneirismo nacional<br />
na tentativa de produção com espécies nativas, ainda<br />
no final da década de 60, ou seja, há mais de 50 anos!<br />
Entretanto, somente a partir de 1998, com a introdução<br />
do Litopenaeus vannamei, a atividade deslanchou,<br />
embora os tempos áureos tenham durado<br />
muito pouco. O “apogeu” foi de 1998 até novembro<br />
de 2004, ou seja, apenas 6 anos... e hoje, passados<br />
15 anos, o setor ainda não se recuperou. Seis anos<br />
de produção para mais de 15 anos de paralisação? Por<br />
enquanto sim, mas as coisas parecem estar mudando...<br />
Sem dúvidas, o estado de SC não é o local ideal para<br />
a produção de uma espécie tropical como o L. vannamei.<br />
As temperaturas ótimas para esta espécie (28 – 32<br />
°C) não ocorrem em mais do que três meses durante o<br />
ano (dez/jan/fev). Fora as oscilações para baixo desta sua<br />
faixa ideal de conforto, mesmo nessa época de verão.<br />
Se houve algum erro estratégico do ponto de vista<br />
de concepção dos projetos catarinenses, certamente<br />
foi a questão da não utilização de estruturas como<br />
pré-berçários ou berçários intensivos para recepção/<br />
aclimatação das pós-larvas, visando sua “proteção” nos<br />
primeiros dias ou semanas. O Estado, mais do que<br />
qualquer outro produtor de camarões marinhos do<br />
<strong>Brasil</strong>, necessita de um local seguro e de um ambiente<br />
controlado para acondicionar as pós-larvas. Acondicionar<br />
ou quem sabe até cultivá-las durante os primeiros<br />
30 dias, concebendo uma pré-engorda. O fator clima<br />
atrapalha demais a região... Liberar pequenas pós-larvas<br />
em viveiros de até 8,0 hectares, em meio a tamanha<br />
incerteza e adversidades climáticas, não foi a<br />
melhor estratégia até então.<br />
A grande novidade da safra 2018-2019 na região<br />
Sul de SC foi a adoção de berçários intensivos para receber<br />
as pós-larvas e mantê-las seguras nos primeiros<br />
30 dias. Duas fazendas saíram na frente nesta questão,<br />
construindo berçários individuais para cada um de seus<br />
viveiros de engorda. Foram os primeiros 10 berçários<br />
intensivos no Sul de SC.<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />
Editor-chefe da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong><br />
Laguna, SC<br />
giovanni@aquaculturebrasil.com<br />
Os berçários intensivos, na prática, foram construídos<br />
dentro dos viveiros de engorda (Figura 1), aproveitando<br />
o próprio material existente para movimentação<br />
de terra e construção dos taludes. Houve o revestimento<br />
com geoemembrana e cobertura por estufas<br />
feitas de eucalipto tratado, além da aeração por sistema<br />
misto (aeradores de pás + compressores radiais e<br />
mangueiras microperfuradas). Em geral, os berçários<br />
trabalharam com densidades ao redor de 800-1000<br />
pós-larvas/m³.<br />
Os resultados foram surpreendentes para o Estado!<br />
Em uma das fazendas, os berçários propiciaram a adoção<br />
de três ciclos completos, nas duas fases, atingindo<br />
um patamar acima de 5.000/kg/ha/ano. Em outra, dois<br />
ciclos completos foram realizados com sucesso e, já<br />
em meados de janeiro, todas as despescas destes dois<br />
ciclos estavam concluídas.<br />
Com os povoamentos em geral sendo realizados<br />
na região entre setembro e outubro, de forma inédita,<br />
uma destas fazendas que fez o uso dos berçários<br />
intensivos despescou todos os camarões no mês de<br />
novembro (média de 10 g). Os cultivos monofásicos<br />
jamais permitiram a realização de despescas no mês de<br />
novembro, algo impensável até então.<br />
Hoje, com os camarões sendo recebidos em berçários,<br />
tendo maior conforto, temperatura e biosseguridade,<br />
após os 30 dias iniciais em sistema intensivo e<br />
com a “liberação” para os viveiros de engorda, o efeito<br />
do crescimento compensatório somado a redução<br />
drástica da densidade (de 1.000 para 10-20 camarões/<br />
m²), tem provocado um ganho de peso semanal bastante<br />
interessante (1,5 – 2,0 g/semana).<br />
Apesar do “encurtamento” significativo da fase de<br />
engorda, somente a utilização desta tecnologia não é<br />
garantia de sucesso na produção, e os produtores locais<br />
já sabem disso. Tanto que a síndrome da mancha branca<br />
novamente assombrou os carcinicultores do Sul de SC<br />
após alguns anos em silêncio. De fato, trata-se apenas<br />
de uma ferramenta, entre tantas disponíveis para o enfrentamento<br />
das enfermidades nos cultivos de camarão.<br />
62
Figura I. Fazenda Costa Azul, localizada em Campos Verdes (Laguna/SC), retomando a produção de camarões marinhos após anos<br />
em inatividade. A imagem mostra dois viveiros com água e aeradores ligados e outros dois viveiros já despescados. Cada viveiro possuí<br />
um berçário intensivo, conforme indicado na imagem, construídos para pré-engorda de juvenis de Litopenaeus vannamei.<br />
Berçários<br />
Berçários<br />
Para a safra 2019-2020 no Sul de SC,<br />
que iniciará em setembro de 2019, durante<br />
o início da primavera, praticamente todas<br />
as fazendas que produzirão, utilizarão berçários<br />
para a pré-engorda. Há anos atrás,<br />
os produtores catarinenses já tiveram que<br />
receber pós-larvas em meio a frentes frias<br />
causadas por massas de ar polar que derrubam<br />
a temperatura na região, ficando<br />
reféns da situação, tendo em vista a falta de<br />
previsibilidade com relação à oferta de pós-<br />
-larvas em SC. Hoje em dia, produtores e<br />
laboratórios podem dormir um pouco mais<br />
tranquilos, pelo menos com relação a este<br />
aspecto. Se chegar uma massa de ar polar<br />
em meio a aclimatação, as pós-larvas ficarão<br />
seguras dentro dos berçários, até que<br />
o clima melhore do lado de fora.<br />
MAR/ABR 2019<br />
63
Ranicultura<br />
MAR/ABR 2019<br />
Andre Muniz Afonso<br />
Universidade Federal do Paraná - UFPR<br />
Palotina, PR<br />
andremunizafonso@gmail.com<br />
O que se produz da rã? - Parte III<br />
Aspectos mercadológicos<br />
Em 2007, o Serviço <strong>Brasil</strong>eiro de Apoio às Micro e<br />
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ)<br />
publicou um estudo denominado “Estudo de mercado<br />
sobre varejo e consumo de carne de tilápia e rã nas<br />
cidades do Rio de Janeiro e Niterói”. Este estudo apontou<br />
a presença de um círculo vicioso, pois chegou-se à<br />
conclusão de que não se produzia mais rãs porque faltava<br />
mercado, enquanto que este mesmo mercado informou<br />
que não comprava mais o produto por conta da sua<br />
irregularidade. Outros dados importantes demonstrados<br />
relacionavam-se à falta de hábito de consumo da rã,<br />
preço elevado e resistência por parte do consumidor,<br />
que pode apresentar, inclusive, repulsa ao se deparar<br />
com o produto na gôndola do mercado. São poucos<br />
dados, extraídos de um mercado selecionado de uma<br />
das regiões mais populosas do país, mas extremamente<br />
representativos, pois se espelham em diversos outros<br />
espalhados por outras regiões e em outros países cuja<br />
cultura de consumo da rã ainda não foi desenvolvida.<br />
Ao analisá-los podemos perceber que: o produtor<br />
conhece as limitações do mercado e tem receio em produzir<br />
mais, uma vez que o produto tem baixo<br />
giro de prateleira; existe sazonalidade na<br />
oferta dos produtos, demonstrando que a<br />
cadeia apresenta gargalos ainda não superados;<br />
o consumidor desconhece ou não tem<br />
interesse em consumir a rã, fator este que<br />
pode possuir relação direta com o preço<br />
elevado e restrição direta ao produto e/ou<br />
à sua imagem, associando-o muitas vezes ao<br />
animal que vive no brejo, inclusive confundindo-o<br />
com o sapo ou a perereca. Todos<br />
estes fatores demonstram, claramente, que<br />
falta um bom trabalho de “marketing”.<br />
Ainda que existam algumas iniciativas<br />
no sentido de obterem-se produtos diferenciados,<br />
como bolinhos, pratos prontos,<br />
patês, empanados, entre outros, esses produtos<br />
não foram devidamente trabalhados ou mesmo<br />
não estão disponíveis, com regularidade e preços honestos<br />
ao consumidor. Todo o conhecimento sobre os<br />
benefícios do consumo da carne de rã, produzida de<br />
forma racional e higiênica, respeitando-se os conceitos<br />
da sustentabilidade econômica, social e ambiental não<br />
foram agregados à gama de produtos já desenvolvidos<br />
de forma à sensibilizar o consumidor (Figura 1).<br />
A rã não se vende sozinha... essa é uma realidade<br />
que deve ser encarada. O brasileiro a desconhece, não<br />
sabe como prepará-la, não sabe porque deve optar por<br />
ela e não por outro pescado ou pelo frango, por exemplo,<br />
categorizados como carnes brancas. Você, leitor, já<br />
consumiu carne de rã? Gostaria de consumir mais vezes<br />
ou de experimentá-la? Por que não o faz? É provável<br />
que a resposta esteja nos parágrafos acima. Se sabemos<br />
como mudar esta realidade, o que estamos esperando<br />
para colocar isso em prática? Fica a reflexão...<br />
Saudações ranícolas!<br />
Figura 1. Produtos da rã disponíveis no mercado nacional expostos<br />
à venda no varejo (2016). © Andre Muniz Afonso<br />
64
André Camargo<br />
Sócio Fundador da Escama Forte<br />
Botucatu, SP<br />
andre@escamaforte.com.br<br />
Acomodação pós crise<br />
Se você queria que os preços dos peixes da<br />
aquicultura voltassem aos patamares de 20<strong>17</strong>,<br />
pode esquecer. Os solavancos da crise de super<br />
produção vieram para acomodar os preços no<br />
mercado do atacado e nos preços pagos pela indústria.<br />
Dificilmente recuperaremos os patamares de preço,<br />
pois no varejo os preços já se estabilizaram em<br />
patamares mais baixos que antes.<br />
Isso é um problema muito sério para os pequenos<br />
produtores que direcionavam seus produtos para<br />
grandes mercados. Muitas vezes, por ser pequeno,<br />
seus custos são altos e “vender seu peixe” a preços<br />
baixos pode inviabilizar o processo produtivo deste<br />
produtor.<br />
Até mesmo os médios produtores encontram-se<br />
desafiados a encontrar equilíbrio em seu<br />
sistema de produção em busca da máxima<br />
eficiência. Nunca a palavra “custo” foi<br />
tão importante para o produtor piscícola<br />
brasileiro. Produzir a custos compatíveis<br />
virou questão de sobrevivência.<br />
Sendo assim, olhando para um horizonte<br />
em que dificilmente os preços vão subir<br />
e os limites de eficiência já estão sendo<br />
buscados, é chegada a hora da mudança de<br />
comportamento. Peixe pequeno tem que<br />
andar em cardume. É chegada a hora de<br />
pequenos e médios produtores se unirem<br />
no sentido de ganhar força de mercado,<br />
compartilhar seus resultados e assim buscar<br />
maior eficiência dentro deste mercado que<br />
hoje só dá sinais verdes para os grandes<br />
projetos.<br />
As associações estaduais possuem papel<br />
fundamental neste processo onde não mais<br />
precisam apenas representar politicamente<br />
por seus associados, mas sim prestar auxílio<br />
aos seus associados de pequeno porte para<br />
que estes consigam sobreviver a este novo<br />
momento. Nossa cadeia mostra maturidade e precisa<br />
de preços competitivos quando comparada a outras<br />
cadeias de produção animal.<br />
Portanto amigos aquicultores, técnicos, empresários<br />
e demais participantes da cadeia da piscicultura<br />
brasileira, a peneirada vai continuar, não existe mais<br />
espaço para a ineficiência, não é mais possível aceitar<br />
índices zootécnicos baixos e muito menos a falta deles.<br />
Todas as nossas unidades de produção têm chances<br />
de permanecerem, mas para tal, vão precisar saber<br />
exatamente o que está acontecendo em seu dia a dia<br />
de produção. Precisamos começar a nos preocupar<br />
com a segunda casa depois da vírgula e assim garantir<br />
o sucesso de todos.<br />
Vamos em frente!<br />
MAR/ABR 2019<br />
65
Eduardo Gomes Sanches<br />
Instituto de Pesca / APTA<br />
Ubatuba, SP<br />
esanches@pesca.sp.gov.br<br />
Início de trajetórias<br />
Aquicultura ornamental. Não tenho conheci-<br />
®mento de nenhuma pesquisa que fale do<br />
quanto este ramo da aquicultura ser responsável<br />
pelo despertar do interesse em seguir carreira<br />
profissional nesta atividade. Conheço muitas histórias<br />
de colegas que desde crianças mantinham peixes<br />
e outros organismos aquáticos em aquários e hoje<br />
são profissionais renomados junto a esta cadeia<br />
produtiva. Minha própria aptidão floresceu com<br />
minha paixão, na fase infantil, em reproduzir peixes e<br />
ficar horas estudando o comportamento reprodutivo<br />
de diversas espécies, alimentando os filhotes e tentar<br />
entender um pouco da tamanha diversidade biológica<br />
que conseguia manter em aquários no quarto onde<br />
dormia (ou tentava dormir frente ao barulho de filtros<br />
e bombas de ar).<br />
Já na década de 80, na universidade, estudando<br />
Zootecnia (Universidade Estadual Paulista - UNESP,<br />
campus de Botucatu/SP), entre tantas disciplinas de<br />
cadeias produtivas (bovinos de corte, de leite, caprinos,<br />
ovinos, avicultura de corte e de postura... até<br />
sericicultura - criação do bicho da seda), ficava indignado<br />
pelo pouco espaço da aquicultura e mais ainda<br />
pela inexistência da aquicultura ornamental!!!<br />
A aquicultura ornamental era tida como uma “bobagem”.<br />
Um hobby que não merecia espaço junto<br />
a cadeias produtivas “relevantes”, que produziam<br />
alimento. Quando ingressei no Instituto de Pesca, a<br />
aquicultura ornamental também era vista como “de<br />
segunda classe”. Alguns diziam: “Somos uma instituição<br />
de pesquisa em uma Secretaria de Agricultura e<br />
Abastecimento. Precisamos produzir tecnologia para<br />
ampliar a produção de alimentos. Não podemos<br />
perder tempo com peixinhos de aquário”.<br />
Tempos difíceis. Quantos bons pesquisadores<br />
não devem ter passado por isto. Passados quase trinta<br />
anos tudo mudou. O que era uma “atividade de<br />
segunda classe” hoje é um mercado de bilhões de<br />
MAR/ABR 2019<br />
© Jéssica Brol | <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong><br />
66
dólares. Muitas tecnologias (reprodução, larvicultura,<br />
sistemas de filtragem, alimentação, entre outras) surgem<br />
primeiro no mercado da aquicultura ornamental<br />
para muito tempo depois serem oferecidas na aquicultura<br />
de organismos aquáticos destinados à alimentação<br />
humana. Podemos até traçar um paralelo com<br />
a Fórmula 1. Novas tecnologias são inicialmente desenvolvidas<br />
nesta categoria, para muitos anos depois<br />
serem incorporadas nos carros de nosso dia a dia. A<br />
justificativa está nos custos elevados do desenvolvimento<br />
tecnológico que precisam ser “amortizados”<br />
por preços elevados, antes de atingirem a produção<br />
em escala. Assim, os valores elevados de uma atividade<br />
de alto valor agregado acaba “subsidiando”<br />
o desenvolvimento de produtos que depois, por<br />
exemplo, acabam beneficiando um produtor que engorda<br />
tilápias em uma pequena propriedade rural no<br />
interior do <strong>Brasil</strong>.<br />
A aquicultura ornamental também permite que se<br />
amplie o conhecimento sobre inúmeras espécies de<br />
maneira muito acelerada. É impressionante a quantidade<br />
de espécies de peixes ornamentais de recifes<br />
de coral que vem sendo reproduzidos por aquaristas.<br />
Uma notável contribuição à ciência e à conservação<br />
das espécies, quase sempre sem nenhum<br />
tipo de subsídio governamental (pelo contrário, puro<br />
financiamento<br />
pessoal em prol<br />
de uma paixão).<br />
Dizem que<br />
quando ficamos<br />
mais velhos passamos<br />
a ficar um<br />
pouco saudosistas.<br />
Não sei...<br />
mas posso admitir<br />
que quando<br />
participo de<br />
congressos de<br />
aquicultura, tenho<br />
uma enorme<br />
satisfação<br />
em ver a produção<br />
científica<br />
relacionada a<br />
aquicultura ornamental aumentando ano a ano. Sinal<br />
de que outros estão reconhecendo a oportunidade e<br />
a relevância deste segmento produtivo. E não posso<br />
deixar de pensar naqueles tempos em que tínhamos<br />
que trabalhar “escondidos” com peixes ornamentais<br />
e jamais pensar em levar um resumo sobre o tema<br />
em um congresso científico. Seria um vexame na<br />
certa. Nada como o passar do tempo.<br />
A partir da próxima coluna vou começar a abordar<br />
as diferentes facetas da aquicultura ornamental.<br />
Notadamente as mais curiosas, que fogem ao convencional,<br />
contribuindo para despertar nos leitores<br />
da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>, o interesse por esta atividade.<br />
Vamos conhecer empresas e profissionais que<br />
tiram seu sustento (e geram muitos empregos e renda)<br />
somente da produção de organismos aquáticos<br />
ornamentais. Vamos conhecer a história destas pessoas<br />
e observar um ponto em comum entre todas:<br />
a paixão pela aquicultura ornamental. Vocês vão se<br />
surpreender ao perceber que “peixinhos coloridos”<br />
são muito mais do que “peixinhos coloridos”.<br />
Portanto meus amigos, vamos agradecer a <strong>Aquaculture</strong><br />
<strong>Brasil</strong> por esta oportunidade de divulgação<br />
deste segmento produtivo e trazer a cada coluna,<br />
histórias e novidades deste segmento.<br />
Até a próxima coluna!<br />
MAR/ABR 2019<br />
67
Alex Augusto Gonçalves<br />
Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC<br />
Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA<br />
Mossoró - RN<br />
alaugo@gmail.com<br />
MAR/ABR 2019<br />
Em breve... Nova legislação sobre aditivos e coadjuvantes<br />
de tecnologia para pescado e produtos de pescado<br />
pós uma longa espera (~30 anos), as indústrias<br />
A de processamento de pescado, indústrias fornecedoras<br />
de aditivos alimentares e pesquisadores finalmente<br />
começam a enxergar uma luz no final do túnel...<br />
A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância<br />
Sanitária, submeteu para consulta pública, no último<br />
dia <strong>17</strong> de abril de 2019, a proposta da Resolução da Diretoria<br />
Colegiada – RDC que estabelece os aditivos alimentares<br />
e coadjuvantes de tecnologia autorizados para<br />
uso em pescado e produtos de pescado, pelo prazo de<br />
sessenta dias para o envio de comentários e sugestões.<br />
Cabe lembrar que os aditivos alimentares são substâncias<br />
intencionalmente adicionadas aos alimentos, de<br />
origem natural ou sintética, normalmente sem valor nutricional<br />
apreciável, que são adicionadas aos alimentos na<br />
quantidade mínima necessária para se atingir o propósito<br />
tecnológico, durante a fabricação ou alteração industrial,<br />
ou durante o seu armazenamento.<br />
Baseado no Codex Alimentarius, a ANVISA propôs<br />
um incremento de novos aditivos de grau alimentar para<br />
a Categoria 9 – Pescado e produtos de pescado, passando<br />
de 6 provisões de aditivos (Res. n. 4/1988) e 1 provisão<br />
de coadjuvante de tecnologia (Res. n. 13/1978), para<br />
uma proposta de 389 provisões de aditivos e 4 provisões<br />
de coadjuvantes de tecnologia (Consulta Pública Nº<br />
634, de 16 de abril de 2019).<br />
Certamente as indústrias de processamento de pescado<br />
terão sugestões de novos aditivos, haja visto que<br />
um dos aditivos mais utilizados internacionalmente (fosfatos),<br />
não foi contemplado nessa consulta pública.<br />
Ressalta-se que o Ministério da Agricultura, Pecuária e<br />
Abastecimento (MAPA) recentemente publicou a Instrução<br />
Normativa Nº 30, de 9 de agosto de 20<strong>17</strong> – SDA/<br />
MAPA, que estabelece os procedimentos para submissão<br />
de proposta, avaliação, validação e implementação<br />
de inovações tecnológicas a serem empregadas em qualquer<br />
etapa da fabricação de produtos de origem animal<br />
em estabelecimentos com registro no Departamento de<br />
Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA/SDA.<br />
No Art. 2º, alínea III da IN 30/20<strong>17</strong> definem “inovação<br />
tecnológica” como sendo o processo, equipamento,<br />
substância ou material, isolado ou em combinação, tecnologicamente<br />
novo ou significativamente aperfeiçoado,<br />
que proporcione a melhoria do processo de fabricação<br />
ou da qualidade do produto de origem animal. Nesse<br />
sentido é que o aditivo FOSFATO poderia estar sendo<br />
incluído nessa Consulta Pública, uma vez que já existe<br />
uma abertura junto ao MAPA em viabilizar o uso de<br />
substâncias que melhorem a qualidade de produtos de<br />
origem animal.<br />
E somando-se a isso, esse aditivo já foi aprovado<br />
recentemente para a Categoria 8 – Carnes e produtos<br />
cárneos (RDC N o . 272, de 14 de março de 2019), dentro<br />
do limite de 0,5% (expresso como P 2<br />
O 5<br />
, quantidade<br />
adicionada sem considerar a quantidade naturalmente<br />
presente na carne), o que facilita sua inclusão na Categoria<br />
9 – Pescado e produtos de pescado, considerando<br />
que são necessários e indispensáveis visando a garantia<br />
da qualidade do pescado e dos produtos à base de pescado,<br />
bem como a segurança para o consumidor, uma<br />
vez que seu uso poderá ser limitado pela legislação, promovendo<br />
dessa forma o combate à fraude e o uso indiscriminado.<br />
FOSFATO: um “polêmico” e necessário aditivo alimentar<br />
A discussão sobre aditivos alimentares é um dos principais<br />
pontos de controvérsia entre indústria e órgãos<br />
legislativos – enquanto os primeiros buscam incrementos<br />
constantes de produtividade e shelf life através de<br />
formulações mais eficientes e/ou robustas, os segundos<br />
preocupam-se com a segurança alimentar, a manutenção<br />
dos padrões de qualidade e o combate a fraudes<br />
econômicas. Esta discussão não está, nem nunca estará<br />
encerrada, visto que os avanços científicos descortinam<br />
diariamente novas moléculas de interesse e novas funcionalidades<br />
antes não conhecidas – e, ao mesmo tempo,<br />
novas informações sobre a segurança da ingestão<br />
dos diversos aditivos.<br />
Os fosfatos são aditivos funcionais para alimentos com<br />
diversas aplicações no processamento do pescado, podendo<br />
ser uma alternativa para garantia da qualidade do<br />
pescado e seus produtos. O desenvolvimento contínuo<br />
68
de novos produtos de pescado e o avanço tecnológico<br />
requer fosfatos efetivos que podem cumprir todos os requisitos.<br />
O primeiro estudo que patenteou uso de polifosfatos<br />
em pescado, demonstrando que esse aditivo inibia a<br />
perda de líquido pelo descongelamento e após a cocção<br />
foi feito nos EUA em 1962. Desde então, diversos estudos<br />
têm sido feitos para demonstrar as aplicações apropriadas<br />
desse aditivo em alimentos, e em particular no pescado.<br />
Os fosfatos são utilizados na indústria alimentícia<br />
como emulsificantes, estabilizantes, suplementos minerais,<br />
agentes de dispersão, acidulantes, inibidores de<br />
descoloração, agentes sequestrantes, crioprotetores etc.<br />
Também é utilizado com a função de retenção de umidade,<br />
ou melhor, auxilia na reidratação da carne (água<br />
perdida no post-mortem) e auxilia na diminuição de perda<br />
de água no processo de cozimento (camarão), e após<br />
o descongelamento. Além disso, reduzem a resistência<br />
térmica de vários organismos, aumentando a vida de prateleira<br />
dos produtos. Quase todos os fosfatos alimentícios<br />
são considerados pela Food and Drug Administration<br />
(USFDA) como GRAS (Generally Recognized as Safe). Sua<br />
inocuidade com relação à saúde humana é confirmada<br />
não somente pelo fato de serem usados em todos os<br />
países do mundo, mas também por terem sido incluídos<br />
nas formulações de alimentos infantis e health foods.<br />
O ácido fosfórico, fosfatos e polifosfatos são aditivos<br />
autorizados, para vários fins tecnológicos, em muitos<br />
produtos alimentares. Estes aditivos foram avaliados pelo<br />
Comitê Científico para Alimentos (Scientific Committee for<br />
Food - SCF), quando o consumo diário máximo tolerável<br />
(MTDI) de 70 mg/kg, previamente proposto pelo Comitê<br />
de Especialistas da FAO/OMS em Aditivos Alimentares<br />
(Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives -<br />
JECFA) e expressado como fósforo, foi aprovado. A exposição<br />
aos fosfatos é considerada abaixo deste MTDI.<br />
Em 1991, o SCF endossou as conclusões do JECFA estabelecendo<br />
um MTDI de 70 mg/kg de peso corporal de<br />
todas as fontes, e expressou como P (equivalente a 160<br />
mg de P 2<br />
O 5<br />
) para o ácido ortofosfórico e seus sais de<br />
sódio, potássio, cálcio, magnésio e fosfatos de amônio,<br />
bem como para a di-, tri- e polifosfatos.<br />
A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (European<br />
Food Safety Authority - EFSA) sobre produtos dietéticos,<br />
nutrição e alergias foi incapaz de estabelecer um<br />
nível de ingestão tolerável de fósforo, porém concluíram<br />
que indivíduos saudáveis podem tolerar a ingestão de fósforo<br />
até pelo menos 3.000 mg de fósforo por dia, sem<br />
efeitos adversos sistêmicos.<br />
Assim, percebe-se que a polêmica do fosfato não está<br />
restrita ao possível grau de toxicidade, muito pelo contrário,<br />
são necessários e indispensáveis na indústria de<br />
alimentos, visando<br />
a garantia da qualidade<br />
dos mesmos,<br />
bem como a segurança<br />
para o consumidor,<br />
uma vez<br />
que seu uso poderá<br />
ser limitado pela<br />
legislação, promovendo<br />
dessa forma<br />
o combate à fraude<br />
(uso indiscriminado<br />
visando a incorporação<br />
excessiva de<br />
água).<br />
MAR/ABR 2019<br />
69
Defendeu!<br />
Em algum lugar do <strong>Brasil</strong>, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas<br />
informações para nossa aquicultura.<br />
Nome do acadêmico: Monique Berticelli Morselli<br />
Orientador: Prof. Dr. Diogo de Alcantara Lopes<br />
Co-orientador: Prof. Dr. Aleksandro Schafer da Silva<br />
Instituição: Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPG-<br />
ZOO), Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC<br />
Título da dissertação:<br />
Suplementação dietética de timol para carpa capim: efeitos<br />
sobre desempenho, sistema antioxidante e metabolismo<br />
energético hepático<br />
MAR/ABR 2019<br />
Introdução: Originária da Ásia, a carpa capim<br />
apresentam grande rusticidade, suporta baixas<br />
concentrações de oxigênio dissolvido na água<br />
e resiste a uma ampla faixa de temperatura, o que<br />
estimula sua produção nas regiões sul do <strong>Brasil</strong>.<br />
Contudo, apesar de sua rusticidade, as carpas não estão<br />
livres de serem acometidas por doenças bacterianas,<br />
e isso pode ocorrer devido ao sistema de manejo intensivo,<br />
elevadas densidades de estocagem, fornecimento<br />
de ração em demasia, redução da qualidade da água.<br />
Esses fatores podem aumentar a quantidade de bactérias<br />
no viveiro e como consequência, causar o surgimento<br />
de doenças. O uso indiscriminado de antibióticos para<br />
eliminar ou diminuir os problemas causados por doenças<br />
no sistema produtivo faz com que haja a seleção de<br />
linhagem de bactérias resistentes, aumentando o risco<br />
de resistência cruzada, ou seja, quando essa resistência<br />
acomete bactérias associadas à população humana.<br />
Para diminuir o risco a saúde humana e dos peixes,<br />
bem como aumentar seu bem-estar, vários<br />
estudos estão sendo realizados com produtos derivados<br />
de plantas como, por exemplo, óleos essenciais,<br />
extratos ou componentes puros, que constituem<br />
uma promissora fonte de moléculas bioativas.<br />
Os óleos essenciais são ricos em diferentes componentes,<br />
como por exemplo o óleo de orégano e tomilho<br />
que contém timol. O timol é quimicamente é conhecido<br />
como 2-isopropil-5-metilfenol (Figura 1) e pode ser<br />
extraído de diversas plantas aromáticas produtoras de<br />
óleos essenciais. A principal é o tomilho, sendo a planta<br />
na sua totalidade usada para extração do componente.<br />
De acordo com a literatura, o timol é um estimulante<br />
na digestão, e tem efeitos antisséptico e antioxidante<br />
que podem favorecer o desempenho zootécnico das<br />
carpas, o que justifica a escolha do composto como<br />
um aditivo alimentar. O timol também possui atividade<br />
antibacteriana relacionada ao mecanismo de ação que<br />
consiste em modificar a permeabilidade da membrana<br />
citoplasmática acarretando a saída do material intracelular<br />
e com isso causando a morte dos microrganismos.<br />
Figura 1. Estrutura<br />
molecular do timol<br />
(Peixoto-Neves et<br />
al., 2010).<br />
Objetivo: Avaliar a suplementação de timol na dieta<br />
de carpa capim e seu efeito sobre desempenho zootécnico,<br />
o sistema antioxidante e metabolismo energético.<br />
Materiais e métodos: O timol (peso molecular<br />
150,22 g/mol - Sigma-Aldrich®) foi adicionado a ração<br />
basal e um total de 160 alevinos de Ctenopharyngodon<br />
idella (7,33 ± 0,12 g; 8,13 ± 0,12 cm) foram<br />
mantidos em sistema de recirculação de água e divididos<br />
em quatro grupos, com quatro repetições e<br />
com 10 peixes por aquário (60 L) da seguinte forma:<br />
• T0: dieta sem suplementação de timol;<br />
• T100: dieta basal suplementada com 100 mg de<br />
timol / kg de ração basal;<br />
• T200: dieta basal suplementada com 200 mg de<br />
timol/kg de ração basal;<br />
• T300: dieta basal suplementada com 300 mg de<br />
timol/kg de ração basal.<br />
A taxa de alimentação diária foi de 6% da biomassa<br />
total, dividida em duas vezes (9h e <strong>17</strong>h), por 60 dias consecutivos.<br />
Ao término do estudo foi analisado o desempenho<br />
zootécnico e coletadas amostras de fígado para<br />
analises de variáveis relacionadas ao status oxidante e antioxidante,<br />
assim como metabolismo energético.<br />
70
Resultados e Discussão: Não houve<br />
diferença significativa entre os grupos quanto ao<br />
comprimento e consumo de ração. No entanto, o<br />
peso corporal e o ganho de peso corporal foram<br />
maiores nos peixes do grupo T100 em comparação<br />
com todos os outros grupos. Em porcentagem,<br />
o peso corporal dos peixes em 60 dias aumentou<br />
8,7% (T0), 47,1% (T100), 10,9% (T200) e 15,4%<br />
(T300). A análise de regressão mostrou um efeito<br />
do tratamento no peso corporal e no ganho de<br />
peso quando utilizada a dose recomendada de 68,4<br />
mg/kg e 72,6 mg/kg de timol, respectivamente.<br />
A atividade hepática da lactato desidrogenase<br />
(LDH) foi menor no grupo T100 comparado ao<br />
grupo T0. Os níveis de espécies reativas ao oxigênio<br />
(EROs) no fígado foram menores nos grupos<br />
T100, T200 e T300 comparado ao T0, assim como<br />
a peroxidação lipídica (LPO) foi menor no fígado<br />
dos peixes apenas do grupo T100. A atividade hepática<br />
da superóxido dismutase (SOD) foi maior no<br />
grupo T300 comparado ao T0, enquanto a atividade<br />
hepática da glutationa peroxidase (GPx) foi maior<br />
nos grupos T100, T200 e T300 comparado ao T0.<br />
Além disso, capacidade antioxidante total (ACAP)<br />
no fígado foi maior no grupo T100 comparado ao<br />
T0. Todos esses resultados mostram que a alimentação<br />
das carpas com 100 mg de timol/kg estimula<br />
o sistema antioxidante e consequentemente reduz<br />
a lipoperoxidação e níveis de radicais livres hepáticos,<br />
protegendo o fígado, um dos órgãos mais<br />
importantes relacionados ao sistema digestivo e<br />
interferindo assim diretamente no desenvolvimento<br />
dos peixes. A atividade hepática da adenilato kinase<br />
(AK) foi maior no grupo T100 comparado ao<br />
T0; mas a enzima piruvato quinase (PK) não diferiu<br />
entre grupos no fígado. Isso permite concluir que<br />
ocorre uma estimulação na síntese de ATP, molécula<br />
energética, envolvida em diferentes funções<br />
biológicas, entre elas no desempenho de animais.<br />
© Thinkstock<br />
Resumo dos principais resultados do trabalho<br />
com uso de 100 mg de timol/kg da ração na<br />
alimentação de carpas capim por 60 dias:<br />
1. Aumento de 47,1% do peso corporal<br />
comparado ao controle.<br />
2. Estimula resposta antioxidante enzimática<br />
(SOD e GPx) e não-enzimática (ACAP) no fígado.<br />
3. Reduz atividade da LDH hepática.<br />
4. Reduz peroxidação lipídica e radicais livres no<br />
fígado.<br />
5. Estimula atividade da AK, enzima envolvida no<br />
metabolismo energético, isto é, síntese de ATP.<br />
Considerações finais: Este estudo demonstrou que a suplementação dietética de timol (100 mg/kg de ração)<br />
foi capaz de melhorar o desempenho das carpas, sendo a dose recomendada de 68,4 mg/kg e 72,6 mg/kg<br />
de timol para peso corporal e ganho de peso, respectivamente. A suplementação dietética de timol (100 mg/kg<br />
de ração) foi capaz de melhorar o metabolismo energético hepático, enquanto que praticamente todas as concentrações<br />
testadas estimularam a resposta antioxidante hepática, que pode favorecer o aumento do desempenho e<br />
crescimento das carpas. No entanto, é importante notar que,<br />
de acordo com a análise estatística, doses ainda mais baixas<br />
de timol podem potencializar o desempenho da carpa.<br />
O trabalho foi defendido em:<br />
20/05/2019<br />
MAR/ABR 2019<br />
Agradecimento: Agradecemos a Matheus D. Baldissera, Carine F. Souza e Bernardo Baldisserotto por<br />
terem contribuído para execução do projeto.<br />
71
MAR/ABR 2019<br />
72
Ligia<br />
Uribe<br />
Gonçalves<br />
Zootecnista formada na Faculdade de Zootecnia<br />
e Engenharia de Alimentos da USP.<br />
Ligia é zootecnista, ingressou<br />
na aquicultura pelo gosto por<br />
ornamentais. Contudo, trabalha<br />
atualmente com um gigante dos<br />
rios! Ou como é chamado, o gigante<br />
da Amazônia: pirarucu. Os desafios<br />
acerca da produção do pirarucu em<br />
cativeiro motivaram o início de um<br />
grande projeto, o “Projeto Gigas”<br />
que teve início em 2015, do qual<br />
Ligia é coordenadora. Confira!<br />
AQUACULTURE BRASIL: Após a Zootecnia, qual foi a sua<br />
especialização?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Tenho Doutorado pela Faculdade<br />
de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP e<br />
durante o doutorado realizei um estágio sanduíche na<br />
Università degli Studi di Firenze na Itália. Após, fiz Pós-<br />
-Doutorado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de<br />
Queiróz” da USP.<br />
AQUACULTURE BRASIL: A ligação<br />
com a aquicultura começou na graduação<br />
ou ainda antes? Comente um<br />
pouco sobre sua carreira até aqui e<br />
projetos em que está envolvida.<br />
O objetivo do<br />
Projeto Gigas é realizar<br />
pesquisas direcionadas<br />
ao desenvolvimento<br />
morfológico, nutrição,<br />
manejo alimentar e<br />
sanidade das fases iniciais<br />
do pirarucu...<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Sempre tive<br />
paixão por peixes ornamentais e foi<br />
num curso sobre criação de peixes<br />
ornamentais que surgiu meu interesse<br />
pela aquicultura durante a graduação.<br />
Logo procurei a Profa. Elisabete<br />
Viegas para ser minha orientadora<br />
de iniciação científica. Iniciei na ciência<br />
com estudos de produção de<br />
coprodutos de resíduos de pescado<br />
para serem incluídos em dietas para<br />
peixes. Meus primeiros estudos foram<br />
com tilápias e depois passei a<br />
trabalhar com as espécies nativas:<br />
dourado, lambari, pacu, tambaqui e pirarucu. Em São<br />
Paulo, foquei a pesquisa mais para lipídios dietéticos, mas<br />
quando cheguei no Amazonas, vi que não fazia muito<br />
sentido continuar com esses estudos, pois faltavam conhecimentos<br />
mais básicos das espécies amazônicas. Então,<br />
encarei o grande desafio de trabalhar com a fase inicial<br />
do pirarucu. Iniciamos com a parte nutricional, mas<br />
logo vimos que tínhamos muito para conhecer desde a<br />
biologia da espécie até tratamento para doenças. Tem<br />
sido uma experiência muito gratificante trabalhar com o<br />
pirarucu.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Como coordenadora do projeto<br />
Gigas, explique para os leitores<br />
que ainda não conhecem, quando<br />
começou, onde é executado e<br />
quais seus principais objetivos?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: O projeto<br />
GIGAS nasceu em 2015, com<br />
recursos da CAPES e da FAPEAM,<br />
no Instituto Nacional de Pesquisas<br />
da Amazônia - INPA, Manaus,<br />
Amazonas. O nosso objetivo é<br />
realizar pesquisas direcionadas ao<br />
desenvolvimento morfológico,<br />
nutrição, manejo alimentar, sanidade<br />
das fases iniciais do pirarucu,<br />
com propostas de novas técnicas<br />
de manejo para uma larvicultura<br />
intensiva que promova maior sobrevivência<br />
dos animais e garanta<br />
juvenis saudáveis para a fase de<br />
engorda na piscicultura. Desde a<br />
sua criação, temos a honra de contar com a colaboração<br />
do Dr. Luís Conceição, da Sparos LDA em Portugal, que<br />
foi nosso bolsista Pesquisador Visitante Especial do Programa<br />
Ciências sem Fronteiras da CAPES.<br />
MAR/ABR 2019<br />
73
MAR/ABR 2019<br />
AQUACULTURE BRASIL: Quais os avanços em termos<br />
de pesquisa obtidos desde 2015 quando o Projeto Gigas<br />
começou?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Os principais avanços que tivemos<br />
foram o conhecimento dos principais eventos<br />
durante a metamorfose da larva do pirarucu, com finalização<br />
da formação das escamas acontecendo em<br />
animais com mais de 12 centímetros de comprimento.<br />
Verificamos que algumas rações comerciais podem desencadear<br />
problemas como hérnia e úlcera estomacal.<br />
Além disso, identificamos que larvas menores a 4 cm<br />
apresentam dificuldades pra digestão de zooplâncton<br />
do grupo ostacoda, que causam atraso no crescimento<br />
e até mortalidade. Estabelecemos um protocolo seguro<br />
para transição alimentar e utilização de ração comercial<br />
nas larvas de pirarucu com 4 centímetros de comprimento.<br />
Identificamos os principais parasitos que ocorrem<br />
nas pisciculturas de pirarucu, sendo que os tricodinídeos<br />
e os monogenéticos são os mais preocupantes<br />
nas larvas e juvenis, respectivamente. Com os nossos<br />
protocolos alimentares temos obtido 70% de sobrevivência,<br />
considerando a captura das larvas com 1,5 a 2<br />
centímetros de comprimento.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Atualmente, quais os principais<br />
desafios do projeto Gigas?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Nosso principal desafio é produzir<br />
microdietas para dar continuidade às pesquisas,<br />
pois grande parte dos alimentos foram feitos na empresa<br />
Sparos, em Olhão, Portugal. Estamos adquirindo<br />
os equipamentos e em breve poderemos processar rações<br />
(microdietas) mais adequadas para larvas de peixes<br />
e camarões.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Como é a relação do Projeto<br />
Gigas com os produtores, há uma troca de informações?<br />
Há participação de colaboradores externos ao<br />
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Nossos primeiros estudos foram<br />
realizados na piscicultura Boa Esperança, propriedade<br />
do Sr. Megumi Yokoyama, o “Pedrinho”,<br />
em Primavera de Rondônia, Rondônia. Esse primeiro<br />
contato com a família Yokoyama foi essencial para troca<br />
de informações com o produtor, quando aprendemos<br />
muito sobre o manejo reprodutivo e também das<br />
formas jovens. Essa colaboração foi muito importante<br />
para planejarmos os nossos experimentos. Além disso,<br />
os primeiros ensaios no INPA foram executados<br />
com larvas de pirarucu provenientes da piscicultura<br />
Boa Esperança. Hoje também temos parceria com o<br />
Sítio Amadeu Cirino, propriedade do Sr. Ari, que está<br />
localizado no munícipio de Coari, interior do Amazonas.<br />
Para atender os técnicos e produtores, realizamos<br />
algumas vezes o curso de capacitação chamado “Larvicultura<br />
intensiva do pirarucu” em Manaus e Coari<br />
no Amazonas e Paragominas no Pará. Em novembro,<br />
ofereceremos mais uma vez o curso no Congresso<br />
Zootecnia da Amazônia em Santarém no Pará.<br />
AQUACULTURE BRASIL: O projeto Gigas é financiado<br />
por agências de fomento ou apenas com<br />
recursos próprios? E estes recursos estão assegurados<br />
para a continuidade das pesquisas, mesmo<br />
diante do cenário atual de crise no Ministério<br />
da Educação, ou podem estar comprometidos?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Nós obtivemos recursos da<br />
CAPES e FAPEAM, porém esses projetos foram finda-<br />
74
dos em janeiro de 2019. Atualmente, tenho somente<br />
um projeto com pirarucu em vigência com recursos da<br />
FAPEAM e CNPq (Edital Primeiros Projetos de Pesquisa),<br />
que também está em fase final de utilização dos recursos<br />
financeiros. Infelizmente, no último edital da FAPEAM,<br />
destinado para aquicultura, somente foi possível apresentar<br />
proposta com tambaqui e matrinxã. Acredito que<br />
toda pesquisa brasileira está comprometida com o atual<br />
cenário brasileiro. Nós estamos tentando encontrar uma<br />
solução para que as nossas pesquisas não parem. Recentemente,<br />
conseguimos a aprovação da Advocacia Geral<br />
da União para comercializar os juvenis de pirarucu que<br />
são os resultados das nossas pesquisas, e assim, conseguir<br />
algum recurso para comprar insumos e continuar<br />
com os ensaios, mesmo que em “marcha” mais lenta.<br />
de peixes não nativos nos rios do Estado do Amazonas<br />
foi publicada e logo depois acabou sendo revogada sob<br />
apelo de instituições ambientais. Em sua opinião, valeria<br />
a pena arriscar a introdução de uma espécie não nativa<br />
nestes locais? Ou as espécies da aquicultura nacional tem<br />
potencial para alavancar a produção do Amazonas?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Na minha opinião não vale a<br />
pena arriscar a introdução de espécies exóticas nos rios<br />
do Amazonas, pois além dos problemas ambientais,<br />
as espécies nativas possuem desempenho zootécnico<br />
excelente na região.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Qual a sua perspectiva para a<br />
produção de peixes nativos no <strong>Brasil</strong>, em especial sobre<br />
o Pirarucu?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Eu acredito muito no potencial<br />
dos peixes amazônicos. Isso pode ser visto com o tambaqui,<br />
como principal representante, está lá no topo da<br />
produção aquícola brasileira. Em relação ao pirarucu,<br />
acho que faltam muitos estudos para deixar o produtor<br />
mais confiante em relação ao alto investimento inicial<br />
da sua produção, mas já vi casos de sucesso no <strong>Brasil</strong>.<br />
Nesse momento, acho que a espécie seria muito interessante<br />
para ser trabalhada em policultivo com peixes<br />
onívoros. O pirarucu pode atuar como predador de<br />
peixes forrageiros, diminuindo a quantidade de competidores<br />
de alimento e oxigênio, e o peixe onívoro pode<br />
se aproveitar do resto do alimento do pirarucu, além<br />
de filtrar a grande quantidade<br />
de plâncton que<br />
haverá na água devido<br />
os resíduos nitrogenados<br />
e fosfatados. Não<br />
falta mercado para comercializar<br />
a carne do<br />
pirarucu, já recebi comerciantes<br />
querendo<br />
indicação de produtores<br />
que poderiam oferecer<br />
regularmente 20<br />
toneladas de pirarucu<br />
ao mês, mas não encontramos.<br />
MAR/ABR 2019<br />
AQUACULTURE BRASIL:<br />
Em 2016 uma legislação<br />
que permitia o cultivo<br />
75
AQUACULTURE BRASIL: Atualmente o maior desafio do<br />
cultivo de Pirarucu e os peixes nativos redondos está<br />
na nutrição?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Acredito que para o pirarucu os<br />
maiores desafios são a inconstância na oferta de juvenis,<br />
preço muito elevado do juvenil, alto investimento e falta<br />
de tecnologias específicas para a espécie. Em relação ao<br />
tambaqui, o maior desafio é sanitário, algumas doenças<br />
têm prejudicado a produção e a utilização de medicamentos<br />
sem controle podem causar sérios problemas<br />
de segurança ambiental e alimentar.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Deixe um convite para<br />
futuros alunos interessados em ingressar em uma pósgraduação<br />
que possam colaborar com o projeto Gigas?<br />
Ligia Uribe Gonçalves: Primeiramente, gostaria de<br />
agradecer a equipe da revista <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> pelo<br />
interesse no Projeto GIGAS. As demais pessoas que<br />
tiverem interesse em conhecer um pouco mais do<br />
nosso trabalho, podem acessar a nossa página www.<br />
projetogigas.com e também nos seguir nas redes sociais<br />
@projetogigas e facebook.com/projetogigas. Os que tiverem<br />
interesse em pós-graduação podem obter maiores<br />
informações nos sites:<br />
PPG-Aquicultura: http://pgaquicultura.inpa.gov.br/<br />
PPG-Ciências Pesqueiras nos Trópicos: http://ppgcipet.ufam.edu.br/<br />
PPG-Ciência Animal: https://ppgcan.ufam.edu.br/<br />
Para o pirarucu<br />
os maiores desafios são a<br />
inconstância na oferta e<br />
preço muito elevado do<br />
juvenil, alto investimento<br />
e falta de tecnologias<br />
específicas para a<br />
espécie...<br />
Equipe do Projeto Gigas (2019).<br />
MAR/ABR 2019<br />
76
77<br />
MAR/ABR 2019
Jesus Malpartida Pasco<br />
@jesusmalpartidap<br />
A seção “Eles fazem a diferença” desta edição presta uma justa homenagem a<br />
alguém que talvez ainda não seja muito reconhecido pelas pessoas que trabalham<br />
com a aquicultura em todo o <strong>Brasil</strong>, entretanto, trata-se de um dos profissionais mais<br />
competentes e dedicados que o País possui. Peruano de nascimento e brasileiro de<br />
coração, Jesus é um grande multiplicador de conhecimentos técnicos, especialmente na<br />
área de tilapicultura e carcinicultura marinha, focado aos sistemas intensivos em bioflocos.<br />
“Quando fui escolher uma profissão defini que<br />
queria estudar algo que não fosse tão comum. Lá<br />
no Peru (meu país de nascimento) a pesca é uma<br />
atividade econômica muito significativa, porém as<br />
espécies aquáticas mais apreciadas pela tão reconhecida<br />
culinária peruana (por exemplo o linguado),<br />
eram escassas, sazonais ou inclusive restritas às<br />
classes sociais com maior poder econômico. Quando<br />
entendi que isto acontecia pela dificuldade e a baixa<br />
disponibilidade destas espécies, comecei a pesquisar a<br />
maneira de mudar este contexto e por isso orientei os<br />
meus estudos de biologia no Peru para a parte da produção<br />
aquícola. Porém encontrei bastante dificuldade<br />
para apoio à pesquisa, nas condições em que o país se<br />
encontrava naquela época (inícios dos anos 2000)”.<br />
MAR/ABR 2019<br />
Do Peru para o <strong>Brasil</strong><br />
“Logo que terminei minha graduação (fim de<br />
2001), conversando com o meu professor da Universidad<br />
Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), o<br />
Dr. Juan Enrique Vinatea Jaramillo, me candidatei a<br />
uma vaga no Programa de Mestrado em Aquicultura<br />
na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).<br />
Assim, cheguei ao <strong>Brasil</strong> para complementar meus<br />
estudos e encontrei uma realidade completamente<br />
diferente. A produção aquícola brasileira era cada vez<br />
maior, tanto em piscicultura continental, carcinicultura<br />
e inclusive também na malacocultura. As universidades<br />
que trabalhavam com pesquisa possuíam uma<br />
estrutura e um staff de profissionais de alto nível.<br />
Dentro destes profissionais tive a grande sorte e o favor<br />
de Deus em colocar no meu caminho aquele que<br />
viria a ser meu grande amigo, mentor e exemplo de<br />
profissional, o Dr. Luís Alejandro Vinatea Arana. Uma<br />
vez finalizado meu mestrado me casei com Adriana,<br />
minha esposa, e cinco anos depois veio a Marina, a<br />
nossa lindíssima filha. Quando a Marina nasceu iniciei<br />
78
meus estudos de doutorado no meu segundo lar, a<br />
UFSC. Já no doutorado trabalhei com a tecnologia de<br />
bioflocos, com a produção intensiva de tilápia e com<br />
a busca do manejo energético mais eficiente, tudo<br />
para que a nossa pesquisa fosse útil para a produção<br />
para o produtor, para o técnico, para o <strong>Brasil</strong> e para o<br />
mundo”.<br />
Especialista em sistemas intensivos<br />
“Na verdade, quando falamos em sistemas intensivos,<br />
como sempre ensinamos nos nossos cursos,<br />
a espécie é mais um fator de todo o sistema que<br />
trabalhamos. Pois o que cultivamos é a água, e a<br />
adequamos a certos requerimentos específicos para<br />
o tipo de espécie, o estágio de produção e a finalidade<br />
para a qual vamos usar o sistema. À época,<br />
iniciamos os cultivos com tilápia, dominando por<br />
completo os estágios e as produtividades. E continuamos<br />
com o cultivo de camarão marinho tanto na<br />
engorda como na produção de berçários intensivos.<br />
Com certeza estes cultivos conseguirão alavancar<br />
novamente a aquicultura brasileira e mundial, desde<br />
que bem orientados, projetados e manejados”.<br />
Um pré-conceito que se tornou um grande<br />
combustível<br />
“Trabalhar no <strong>Brasil</strong> foi difícil ao início, pois como<br />
me disse um professor de faculdade: “-Se eu dou<br />
a oportunidade a você, teria que tirá-la de um<br />
brasileiro...” Isso me marcou muito! Embora naquela<br />
época eu ainda não fosse oficialmente brasileiro,<br />
já gostava do bordão: sou brasileiro e não desisto<br />
nunca. Não desisti e encontrei pessoas (produtores,<br />
empresários e outros técnicos) que atentavam<br />
mais para a competência, seriedade, compromisso<br />
e capacidade técnica do que para o lugar de<br />
nascimento do profissional. Contei essa história para<br />
muitos amigos e muitos deles criticaram a atitude<br />
do professor, e isso me fez ver que o pensamento<br />
das pessoas atualmente é mais integrador, mais<br />
humano, e isso já é um bom caminho para consertar<br />
o país e o mundo. Agora agradeço a todas as<br />
pessoas que sempre me brindaram com sua<br />
confiança e que reconhecem o esforço realizado<br />
ao longo destes mais de 15 anos de atividade<br />
profissional especializada na aquicultura”.<br />
Principais projetos e conquistas<br />
“Produzir em fazendas com mancha branca,<br />
produzir camarão marinho em águas interiores,<br />
produzir com água de rio que ninguém botava<br />
fé, produzir em países que não conheciam o<br />
sistema BFT ou em lugares onde a estrutura<br />
montada já tinha sido abandonada por maus<br />
resultados, porém, com a nossa chegada como<br />
consultor externo conseguimos colocar um pouco<br />
de fé e muito pescado. Dar cursos no <strong>Brasil</strong> e<br />
em outros países da América Latina. Também,<br />
fazer um pós-doutorado com o Dr. Luís Vinatea<br />
na Espanha, trabalhando lado a lado junto com<br />
ele e alavancar o nome do <strong>Brasil</strong> e do Peru no<br />
velho continente. Um desafio muito grande foi<br />
montar a nossa empresa, a JMPaquaculture,<br />
já que marcava a ruptura da minha etapa de<br />
estudante. Tudo o que veio a partir desse dia é<br />
uma conquista, já que o fato de ter a empresa<br />
nos serve para poder participar em cursos,<br />
eventos e palestras no <strong>Brasil</strong> inteiro, onde só<br />
empresas podem participar. A JMP estará onde<br />
seja necessária”.<br />
MAR/ABR 2019<br />
79
Além de consultor, agora também produtor!<br />
“Justamente, mais do que uma produção<br />
própria, o nosso LabTA (Laboratório de Tecnologia<br />
Aquícola da JMPaquaculture), foi concebido<br />
para suprir dois objetivos. Primeiro comprovar<br />
para os investidores que conseguimos produzir<br />
tilápias em sistemas superintensivos (30-35kg/<br />
m³) e produzir camarões marinhos em águas<br />
interiores (3-4 kg/m³), utilizando água do mar<br />
transportada, água salinizada e água corrigida<br />
via balanço iônico. Segundo para oferecer aos<br />
nossos parceiros, produtores e clientes a possibilidade<br />
de testar seus produtos (aeradores,<br />
alimentadores etc.) com um acompanhamento<br />
técnico especializado que com certeza oferecerá<br />
resultados que servirão para melhorar os<br />
produtos testados. Também com o LabTA os nossos<br />
clientes-produtores e alunos poderão contar<br />
com uma unidade demonstrativa do sistema<br />
em funcionamento que possa servir para aquela<br />
tomada final de decisão entre construir ou não o<br />
projeto aquícola”.<br />
MAR/ABR 2019<br />
O motivo de maior orgulho<br />
“O que mais me deixa orgulhoso na minha<br />
trajetória é ser sincero. Sincero com os produtores,<br />
sincero com os alunos, sincero com as pessoas<br />
que me deram, me dão e me darão seu apoio e<br />
a sua confiança. Saber que a nossa bandeira é a<br />
sinceridade técnica atrelada a um grande conhecimento<br />
científico e de campo. O jogo aberto e o<br />
apoio às pessoas que buscam em nós um conselho<br />
profissional, e que respondem com um elogio,<br />
que respondem com um obrigado e que saem dos<br />
nossos cursos e consultorias nos recomendando, é<br />
o que nos deixa orgulhosos”.<br />
O que vem pela frente<br />
“Consolidar minha empresa e interagir<br />
com produtores responsáveis e a longo prazo.<br />
Consolidar parcerias a longo prazo com<br />
empresas que vendem produtos que sabemos<br />
que funcionam e muito bem, empresas que já<br />
são parceiras nossas e empresas que venhamos<br />
a conhecer, cujos produtos sejam diferenciados e<br />
que colaborem com o incremento da produção<br />
aquícola. Aumentar a equipe de trabalho e<br />
que mais clientes possam usufruir do nosso<br />
manejo especializado e diferenciado, e isso<br />
se traduza em maiores lucros para os nossos<br />
clientes. Aumentar a nossa consultoria e<br />
assessoria on-line que é um dos nossos maiores<br />
orgulhos pois conseguimos utilizar a tecnologia<br />
dos meios digitais para trabalhar em qualquer<br />
canto do planeta. Também espero em breve<br />
concretizar a nossa fazenda própria, pois já<br />
tenho dois projetos que estão em execução e<br />
muito logo seremos produtores para valer, em<br />
maior escala! Finalmente, gostaria de trabalhar<br />
em uma universidade, como professor externo<br />
ou com uma ou duas disciplinas só, para poder<br />
manter minha “liberdade” de ir de país em<br />
país, de produtor em produtor, de cursos em<br />
cursos, aprendendo, ensinando, produzindo em<br />
conjunto”.<br />
Onde o encontraremos daqui há 30 anos...<br />
“Se Deus me der vida ainda, gostaria de estar<br />
na minha fazenda com meus animais, cercado<br />
dos meus netos, minha filha, minha esposa e os<br />
meus amigos, produzindo de tudo, com uma fazenda<br />
autossustentável e podendo fazer trabalho<br />
social, podendo fazer com que muitas pessoas se<br />
beneficiem com o que nós produzimos. Me vejo<br />
feliz e tranquilo pela trajetória percorrida e me<br />
vejo comendo um delicioso ceviche de linguado<br />
produzido pela JMPaquaculture”.<br />
80
81<br />
MAR/ABR 2019
Nem só de tilápia caminha a aquicultura paranaense! Conheça os resultados da produção<br />
do camarão gigante da Malásia Macrobrachium rosenbergii, em parceria com o<br />
Laboratório de Carcinicultura - LABCAR, da Universidade Federal do Paraná, no município<br />
Palotina.<br />
Fazenda:<br />
Pierezan<br />
MAR/ABR 2019<br />
Data do povoamento: 07/09/2018<br />
Quantidade de PL estocadas: 25.000<br />
Área: 2.400 m²<br />
Densidade: 10,5 camarões / m²<br />
Data da despesca: 05/04/2019<br />
Dias de cultivo: 210<br />
Peso final médio: 40 g<br />
Biomassa final: 560 Kg<br />
Produtividade: 2.333Kg/ha<br />
Sobrevivência: 56,0%<br />
Total de ração: 1.400 Kg<br />
Conversão alimentar: 2,5:1<br />
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83<br />
MAR/ABR 2019