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RCIA - ED. 111 - OUTUBRO 2014

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DIA DO COMPOSITOR<br />

Tixa: “Eu sou seresteiro,<br />

poeta e cantor”<br />

“Lua quebrada hoje não clareia o chão, nem tem sol que seca e<br />

mata a raiz da plantação” - trecho de uma das músicas de Sérgio<br />

Eduardo de Carvalho Costa, o Tixa, expressa a qualidade dos seus<br />

versos, hoje parte importante do Portal dos Poetas Brasileiros.<br />

Sérgio Eduardo de Carvalho Costa (Tixa)<br />

Expressar um sentimento em frases ou<br />

poesia é magnifico. Mas, imagina sob um som<br />

de violão, de um coral, de uma banda, junto<br />

com um ritmo que traga harmonia para nosso<br />

corpo e alma? Música é o que alimenta toda<br />

essa paixão, domina o ser, esplandece o nosso<br />

dia, indo para o trabalho de carro, bicicleta<br />

ou a pé, com a sonoridade que vai pra dentro<br />

antes de começar mais uma rotina, apenas<br />

para trazer a paz que está habitada em nós,<br />

mas escondida. A música liberta isso.<br />

E se não fossem os compositores, essa<br />

paixão não estaria perpetuada, ninguém iria<br />

encontrá-la. O Dia do Compositor Brasileiro<br />

é comemorado no dia 7 de outubro. Um dos<br />

mais fluentes e importantes compositores<br />

do nosso país foi o carioca Heitor Villa-Lobos.<br />

Suas obras foram importantes para formar o<br />

conceito sobre o nacionalismo musical e, ao<br />

mesmo tempo, representou a música brasileira<br />

em diversos países.<br />

Araraquara tem também seus compositores<br />

de respeito, que reverenciamos nesta data<br />

tão importante. Um deles é Sérgio Eduardo<br />

de Carvalho Costa, o popular Lagartixa, ou<br />

simplesmente Tixa. Nasceu no ano de 1947,<br />

uma época áurea de nossa música, em meio a<br />

“Copacabana” (João de Barro), “Brasileirinho”<br />

(Waldir Azevendo), “Mulher” (Custódio Mesquita,<br />

interpretada por Silvio Caldas), “Atire a<br />

Primeira Pedra” (Ataulfo Alves) e tantos outros.<br />

O olhar com a música começou aos 17<br />

anos, ao ir aos ensaios do Coral Araraquarense<br />

acompanhado de sua mãe, Lucilla de Carvalho<br />

Costa e de sua tia, Ana Eunice de Carvalho<br />

Guedes. “As irmãs Dorsas (Yolanda, Idalina e<br />

Marisa) do coral, eram amigas da minha mãe<br />

e também cantoras. Eu acompanhava os ensaios<br />

do coral e a partir dali, comecei a desenvolver<br />

um gosto pela música”, relata Tixa.<br />

A família não apoiava as aventuras do até<br />

então garoto, no mundo da música. Mas, graças<br />

a Valfrides Brandão, gerente do extinto Banco<br />

Bandeirantes, que ficava na Av. Dom Pedro II,<br />

a sua vida tomaria outro rumo. “Ele morava em<br />

42<br />

frente da minha casa e foi ele quem me ensinou<br />

os primeiros dedilhados no violão. Segundo<br />

Valfrides, eu tinha facilidade em tocar e compor.<br />

Isso ajudou muito”.<br />

Em 1967, aconteceu o Festival Araraquarense<br />

da Canção no IEBA. Tixa compôs diversas<br />

músicas para concorrer ao prêmio de melhor música.<br />

Entre os concorrentes estavam José Roberto<br />

Telarolli, Paulo Ferrante e Didinho (da Chalu) e<br />

Marinho Callera. Além deles, outros músicos do<br />

interior do estado estiveram presentes no festival<br />

pela tamanha repercussão e grandiosidade.<br />

“Para aquele festival eu compus a canção<br />

“A Tela”. O grupo, formado pela minha família,<br />

que tinha Marisia (tia), Leda Maria Gattás e Mário<br />

Sérgio de Carvalho (primos), além de outros,<br />

cantaram comigo a composição”. Para um primeiro<br />

festival, até que Tixa se saiu bem. Ficou<br />

na segunda colocação, perdendo para a canção<br />

“Viola”, de Marinho Galera. Depois, participou<br />

de outros festivais em Franca, Registro, Campinas<br />

e São Paulo.Teve grande influência também<br />

de autores mais modernos como Chico Buarque,<br />

Tom Jobim, Osvaldo Montenegro, Taiguara,<br />

Luís Vieira, Sidney Muller e Edu Lobo.<br />

“Hoje eu ouço mais o Yamandú Costa,<br />

que, pra mim, atualmente, é um dos grandes<br />

músicos e compositores do país. Ele passa por<br />

estilos polkas, jazz, tango, samba de gafieira e<br />

tantos outros ritmos e o som me agrada muito”.<br />

E, claro, Tixa não deixou de lado os músicos<br />

de Araraquara pelos quais admira e gosta<br />

muito de ouví-los. “A nossa cidade tem Pedro<br />

e Paulo Martelli como excelentes violonistas.<br />

Grupo que eu gosto bastante também é Os Seresteiros<br />

que, pra mim, poderia ser comparado<br />

a um MPB4, por exemplo. Tem muita força<br />

e qualidade sonora”.<br />

Porém, a música sofreu mudanças com<br />

o passar do tempo. Hoje, a essência é praticamente<br />

tirada do passado até por causa da<br />

fase que em se encontra a música brasileira. “A<br />

música de hoje foge um pouco do meu estilo,<br />

não por preconceito, mas por eu admirar o que<br />

é belo. Na década de 60 ou 70, ou até mesmo<br />

80, as músicas nacionais eram mais ricas em<br />

melodia e letra, diziam mais. A música é a que<br />

te toca, envolve. A letra tem que falar alguma<br />

coisa. Um dia isso poderá voltar. Tudo se transforma.<br />

Se o bom virou nisso que está aí, quem<br />

sabe ele ainda pode voltar ao que era”.<br />

Atualmente, Tixa trabalha em composições<br />

voltadas para regiões do país e fará novo<br />

CD, sem grandes investimentos. Além disso,<br />

outros cantores já usaram de sua composição,<br />

entre eles, Dani & Danilo, com a música<br />

“Terra Molhada”, que conta sobre o Pantanal.<br />

Faz suas idas e vindas a Campinas, seu segundo<br />

lar, aonde costuma tocar em bares com os<br />

amigos e se reúne, em Araraquara, na casa<br />

de Rodolfo Sotrati, do Castelinho, onde fazem<br />

uma grande roda de música, além de muita<br />

poesia, apresentações teatrais e sapateados.<br />

Lua Quebrada, última<br />

composição feita por Tixa:<br />

Relampeou, fez vento forte a noite inteira<br />

A chuva fina tá caindo no quintal<br />

Se água molha o pé descalço da mangueira<br />

É quase certo que lá vem o temporal,<br />

Está tão perto tá chegando um temporal<br />

Bico calado, pode ser um temporal<br />

Lua quebrada hoje não pisa no céu<br />

Nem tem brancas borboletas com asas de papel<br />

Lua quebrada hoje não clareia o chão<br />

Nem tem sol que seca e mata<br />

A raiz da plantação<br />

E o vento forte fustigou a passarada<br />

E os galhos secos num balé de vai e vem<br />

Foi tão grande a chuvarada que o caboclo<br />

Decidiu dar duas lágrimas também<br />

E a meninada da Janela de Maria<br />

Viu a noite virar dia numa forma de oração<br />

Chuva pesada que por sua conta e risco<br />

Implorou pra São Francisco trazer água<br />

pro sertão<br />

Pito de palha, fogão de lenha, carro de boi,<br />

levando leite de ordenha<br />

Chuva de vento, com tempestade, molhando<br />

a terra e a poeira da saudade<br />

Café bem forte, pão sobre a mesa, moça bonita<br />

com jeitinho de princesa<br />

Venha comigo bem do meu lado, abraça e beija<br />

o teu caboclo apaixonado<br />

Reportagem: Rafael Zocco

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