Gestão Hospitalar N.º 18 2019
Novo ciclo político Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais Qualidade e segurança do doente | As pessoas fazem a mudança Resistência a antimicrobianos | Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos: a estratégia seguida no CHEDV Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção da cobertura universal de saúde Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira, o ACES Estuário do Tejo e as escolas Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento em contexto intra-hospitalar Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise da possível integração no Serviço Nacional de Saúde Congresso EAHM 2019, Ghent APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares portugueses no âmbito do EAHM2019 Prémio Healthcare Excellence Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde Fórum do Medicamento A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação marcam a 11.a edição do Fórum do Medicamento Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal
Novo ciclo político
Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais
Qualidade e segurança do doente | As pessoas fazem a mudança
Resistência a antimicrobianos | Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos: a estratégia seguida no CHEDV
Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção da cobertura universal de saúde
Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas
Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira, o ACES Estuário do Tejo e as escolas
Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento em contexto intra-hospitalar
Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise da possível integração no Serviço Nacional de Saúde
Congresso EAHM 2019, Ghent
APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares portugueses no âmbito do EAHM2019
Prémio Healthcare Excellence
Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde
Fórum do Medicamento
A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação marcam a 11.a edição do Fórum do Medicamento
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal
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JULHO AGOSTO SETEMBRO 2019
Edição Trimestral
Nº 18
GESTÃO
HOSPITALAR
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES
RECURSOS HUMANOS
Motivação
dos profissionais
SAÚDE
Refundar
os cuidados primários
SAÚDE
Segurança com
medicamentos
SNS
Terapêuticas
não convencionais
COMEMORAÇÃO
50 Anos
de Administração
Hospitalar
ENTREVISTA
adelaide belo
GH OPhghgh
GH SUMÁRIO
julho agostO setEMBRO 2019
GESTÃO
HOSPITALAR
PROPRIEDADE
APAH − Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares
Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.º Andar
Av. do Brasil 53
1749-002 Lisboa
secretariado@apah.pt
www.apah.pt
DIRETOR
Alexandre Lourenço
DIRETORA-ADJUNTA
Bárbara Sofia de Carvalho
COORDENADORES
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EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
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de Eventos, Ltda.
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PROJETO GRÁFICO
Sara Henriques
DISTRIBUIÇÃO
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PERIODICIDADE
Trimestral
DEPÓSITO LEGAL N.º
16288/97
ISSN N.º
0871–0767
TIRAGEM
2.000 exemplares
IMPRESSÃO
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Esta revista foi escrita segundo as novas regras
do Acordo Ortográfico
Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt
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Editorial
Novo ciclo político
Alexandre Lourenço
Recursos humanos
Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais
António Dias Alves, Daniela Maia, Fátima Neves
Qualidade e segurança do doente
As pessoas fazem a mudança
Rui Cortes
Resistência a antimicrobianos
Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos:
a estratégia seguida no CHEDV
Luís Pedro Tavares, Miguel Paiva
Cuidados de saúde primários
Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção
da cobertura universal de saúde
Miguel Lemos
Entrevista
Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas
Cuidados centrados no doente
Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira,
o ACES Estuário do Tejo e as escolas
Patrícia Nascimento
Segurança do doente
Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento
em contexto intra-hospitalar
Mavilde Vitorino, Paulo Sousa, Pedro Aguiar
Terapêuticas Não Convencionais
Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise
da possível integração no Serviço Nacional de Saúde
Marta Bacelar
Iniciativa APAH | Congresso EAHM
APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares
portugueses no âmbito do EAHM2019
Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence
Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde
Iniciativa APAH | Fórum do Medicamento
A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação
marcam a 11 .a edição do Fórum do Medicamento
Cerimónia Comemorativa
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH
50 Anos Administração Hospitalar
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar
em Portugal
Informação Técnica e Comercial
Monitores Médicos LG - tecnologia inteligente e design sofisticado
APAH marca a agenda
3
GH editorial
Alexandre Lourenço
Presidente da APAH
Novo ciclo político
Esta Gestão Hospitalar é publicada no
início de um novo ciclo político. Nos
últimos meses a Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares
reuniu com os vários grupos parlamentares,
tendo apresentado propostas concretas
para o Serviço Nacional de Saúde, tendo algumas sido
incorporadas nos programas eleitorais e no programa
atual de Governo.
Num momento em que vários sinais dão conta da desmotivação
dos profissionais, exige-se que o novo Governo
crie condições para aumentar a “alegria” do setor.
António Dias Alves e colegas falam-nos deste problema
e apresentam propostas concretas. Um artigo a não
perder para iniciarmos uma discussão sobre o tema.
Aos mais vários níveis, “As pessoas fazem a mudança”.
É este o tema do artigo de Rui Cortes a propósito
da segurança e qualidade nos cuidados de saúde. No
mesmo tema, Mavilde Vitorino e colegas apresentam
estudo sobre os eventos adversos relacionados com
o medicamento (EArM) em Portugal. Neste estudo
baseado nos dados dos doentes internados em hospitais
públicos no período de 2013-2015, identificaram
que 60 521 (cerca de 2% dos doentes) sofreram pelo
menos um EArM, dos quais 28.5% (17 213) ocorreram
no contexto intra-hospitalar. De acordo com
a reflexão dos autores, facilmente se chega à conclusão
da importância dos Administradores Hospitalares
em criar uma nova cultura organizacional permitindolhe
contribuir decisivamente para a criação de ambientes
promotores de uma exigente cultura de segurança.
Efetivamente, é através de uma persistente
liderança institucional e estabilidade de equipas que
se conseguem alcançar resultados. É esta a conclusão
de Luís Pedro Tavares e Miguel Paiva com base nos
resultados alcançados no combate à infeção hospitalar
no Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga.
Nesta GH entrevistamos uma campeã do Serviço
Nacional de Saúde. Com uma força e alegria contagiantes,
a Dra. Adelaide Belo tem abraçado vários
projetos ao longo da sua carreira profissional nos mais
variados níveis do sistema de saúde. Dadas as funções
atuais como Presidente da Associação Portuguesa de
Integração de Cuidados, a conversa foca-se no papel
desta associação no desenvolvimento de uma agenda
para a integração de cuidados.
Na linha da integração de cuidados, Patrícia Nascimento
do Hospital de Vila Franca de Xira descreve
o modelo de prestação de cuidados centrados nas
crianças e jovens com diabetes tipo I, envolvendo
os vários parceiros na comunidade e as famílias. Um
modelo a seguir.
Passados 40 anos da Declaração de Alma-Ata, e da
recente Declaração de Astana, Miguel Lemos do
ACES Arco Ribeirinho fala da necessidade de refundar
os cuidados de saúde primários de forma a garantir
um caminho na direção da cobertura universal
de saúde. Na linha da integração de cuidados, fará
sentido equacionar todo o modelo de prestação de
cuidados de saúde.
A Marta Bacelar vem apresentar outra dimensão na
prestação de cuidados de saúde: as terapêuticas não
convencionais. Num artigo que merecerá certamente
futuro contraditório, a autora vem analisar e advogar
a integração destas terapêuticas no SNS.
Nesta GH damos conta ainda da substantiva presença
da APAH no Congresso da European Association
of Hospital Managers, onde foi possível visitar 6 modernos
hospitais belgas.
Esta é a vossa GH! Ã
4
GH recursos humanos
INTERVIR NO CORAÇÃO
DO SNS: MOTIVAÇÃO
DOS PROFISSIONAIS
António Dias Alves
Administrador Hospitalar
Daniela Maia
Administradora Hospitalar
Fátima Neves
Cirurgiã Cardiotorácica
São evidentes as manifestações e os sinais
de desmotivação de profissionais de saúde
do SNS na área dos cuidados com consequências
em: insatisfação, absentismo,
greves e elevada rotação de profissionais,
menor cooperação e desempenho; preferência por carreira
em hospitais privados e pelo estrangeiro; e o mais
importante, risco de um pior serviço ao doente.
Esta desmotivação encontra fundamentação em causas
objetivas: carreiras congeladas e pouco atrativas;
insuficiência de profissionais, por não resolução completa
de saídas definitivas e temporárias; desadequação
das instalações e vetustez dos equipamentos,
fruto de uma quase ausência de investimento nos
últimos sete anos; lentidão de decisão, fruto da centralização
e perda de autonomia da gestão hospitalar.
Deve ainda referir-se o choque de realidades, face
às condições vigentes nos novos hospitais privados
(retribuição, instalações e equipamentos), e de expectativas,
relativamente à pronta e total reposição
da perda de regalias decidida no período da Troika.
A desmotivação dos profissionais de saúde gera consequências
negativas no desempenho, no clima e nos
cuidados hospitalares e, a manter-se, pode conduzir
à insustentabilidade futura do SNS ou, pelo menos,
à erosão da qualidade e do seu caráter geral e universal.
Por isso é crucial que os decisores políticos e os gestores
assegurem a motivação dos profissionais. Esta
é a razão deste texto.
Condições básicas para motivação dos profissionais
A gestão de pessoas em Unidades complexas e de
produção variável, como são os hospitais, não pode
ser centralizada, burocrática e em moldes rígidos, típicos
da função pública (FP) tradicional. Para criar um
ambiente de trabalho favorável à obtenção de melhores
resultados, consideramos como requisitos essenciais
o contrato individual de trabalho (CIT) para os
profissionais e o reconhecimento do estatuto de Entidade
Empresarial para os hospitais, com tudo o que
justificou a sua transformação em EPE, incluindo a autonomia
de gestão com responsabilização e prestação
de contas.
Na nossa opinião a gestão de pessoas será naturalmente
local e o recrutamento efetuar-se-á no respeito
pelos Princípios Gerais da Administração Pública,
de acordo com a experiência e o mérito, e de modo
a que complementem e se adequem aos já existentes
nos Serviços. A gestão de pessoas supõe atenção
personalizada, identificando-se os pontos fortes e fracos
e atuando-se sistematicamente com vista ao desenvolvimento
de cada profissional.
Assim, no âmbito hospitalar consideramos que devem,
à partida, existir três condições:
1. Reposição da autonomia e flexibilidade previstas no
estatuto dos hospitais EPE;
2. Regime de CIT sem termo, para assegurar segurança
e estabilidade aos profissionais bem como a flexibilidade
que permita adaptação do hospital à sua pro-
cura, dentro dos recursos existentes e de acordo com
as boas práticas, garantir a possibilidade de progressão
na carreira, independentemente do vínculo (CIT, FP),
remuneração base adequada e incentivos em função
dos resultados obtidos;
3. Nas condições de trabalho deverá assegurar-se: recursos
adequados ao trablho a executar - nomeadamente
instalações e equipamentos, informação, pessoas,
organização e gestão; ambiente seguro com promoção
da melhoria de processos e de resultados.
Como motivar os profissionais
Seguindo McClelland et al, são indicados seis fatores
principais que influenciam o ambiente organizacional:
liberdade para os profissionais inovarem sem constrangimento
burocrático; sentido de responsabilidade
para com a Instituição; clareza da Missão e dos Valores;
nível dos padrões fixados pelas pessoas; grau de
certeza quanto à relação entre o desempenho e as recompensas;
nível de comprometimento com finalidades
comuns.
Como o hospital é uma Organização de conhecimento,
marcada pela complexidade de produção e alta diferenciação
dos profissionais, fará sentido a aplicação
das regras do processo justo de Kim e Mauborgne
(HBR, 1997) ou seja: envolvimento dos profissionais
nas decisões que os afetam, explicação aos afetados
dos motivos e objetivos da mudança, clareza de expetativas
expondo as novas regras, padrões de desempenho
e suas consequências. O envolvimento de
profissionais deve fazer-se de acordo com a “Shared
Quality Agenda” (IHI, 2007) e “A CEO Checklist for
High-Value Health Care” (IOM, 2012).
Por outro lado, a finalidade do trabalho em meio hospitalar
- salvar vidas e melhorar a saúde das pessoas,
é motivadora em si mesma pelo que, conforme a valência
na Teoria das Expetativas (Vroom, 1964), o papel
da gestão fica facilitado.
Em síntese, para criarmos um ambiente organizacional
seguro, exigente e de responsabilidade que propicie
a dedicação dos profissionais e favoreça uma
cultura de melhoria, assente na transparência, no respeito,
na confiança e na cooperação, são necessários
os seis pontos que enumeramos de seguida: }
6 7
GH recursos humanos
“
É ESSENCIAL DISPOR DE UMA BASE
OBJETIVA PARA AVALIAÇÃO
DO DESEMPENHO, CONSTITUÍDA
POR SISTEMA DE MEDIÇÃO,
COM INDICADORES E PADRÕES,
E POR SISTEMA DE OBJETIVOS
E METAS A ALCANÇAR
NAS DIVERSAS DIMENSÕES.
”
Primeiro, aos profissionais deve ser atribuído um bom
trabalho, estimulante e com significado, de acordo
com as suas capacidades, com a necessária autonomia
e responsabilidade. Sempre que possível deve assentar-se
em equipas, nos cuidados, na gestão e nos
esforços de melhoria, pois constituirão instrumento
de desenvolvimento pessoal, tenderão a reduzir o erro
e a gerar melhores soluções.
Segundo, é essencial dispor de uma base objetiva
para avaliação do desempenho, constituída por sistema
de medição, com indicadores e padrões, e por
sistema de objetivos e metas a alcançar nas diversas
dimensões, ambos definidos com envolvimento profundo
de profissionais. De modo semelhante, deve
haver especificação que a promoção profissional requer
obtenção sistemática de resultados acima da média
e atuação de acordo com os valores e padrões de
comportamento definidos.
Terceiro, há que fazer a coisa certa do modo certo,
isto é, de modo a aumentar o desempenho global do
hospital e a motivar os profissionais:
• Procedendo a ampla difusão de informação (gestores
que informem, apoiem e encorajem), promovendo
comunicação sem riscos de erros e outros
problemas e encorajando a interação empática com
os doentes, para melhores resultados e prevenção de
re-hospitalização;
• Promovendo a formação com vista ao desenvolvimento,
para atualização e especialização técnica, maior
conhecimento em gestão e nas técnicas e metodologias
para a melhoria;
• Solicitando sugestões de melhoria e, quando concretizadas
com ganho significativo, recompensando
e reconhecendo publicamente pois a melhoria requer
o envolvimento contínuo das pessoas como produtores
de ideias e mentores da sua concretização;
• Reduzindo o absentismo através de programa avançado
de promoção da saúde e bem-estar, num ambiente
seguro, com prevenção e resposta adequada à violência
e abuso no trabalho;
• Conferindo mais responsabilidades a quem se destacar,
ao serviço dos doentes e noutros resultados,
e facilitando a adequação do horário às contingências
familiares;
• Promovendo a flexibilidade, a difusão de boas práticas
e a aprendizagem na prestação de idêntico serviço:
igual organização de espaços de trabalho e adoção
do mesmo processo, equipas que garantam idêntico
padrão de resposta face a variações temporárias da
procura e do absentismo;
• Reorganizando os cuidados em torno do doente,
evitando a inapropriação, o fracionamento, as deslocações
evitáveis e o tempo perdido pelos doentes e pelos
profissionais.
Quarto, perante um desempenho excelente é sempre
devido o reconhecimento adequado; para Serviços
será de atribuir verba a despender em formação
externa ou em instalações e equipamentos.
Quinto, para reforçar a orientação para a melhoria
de resultados do hospital, faz sentido: dar liberdade
e estimular os profissionais a procurarem novas formas
e práticas (projetos) que minimizem o desperdício,
simplifiquem os processos, reduzam a variabilidade
não esperada e melhorem a experiência dos doentes;
recompensar os profissionais que concretizem
aqueles projetos; considerar a satisfação nas métricas
de desempenho e reconhecer as melhores práticas.
Sexto, por fim, mas muito importante, é necessário
dispor de um sistema de incentivos dirigido sobretudo
ao desempenho das equipas - e a cada profissional
quando for fácil destrinçar e medir a contribuição
individual. A produção adicional fora do horário de
trabalho constitui outro fator de motivação.
A exclusividade é desejável e viável
A exclusividade - num contexto orientado para a motivação
profissional - irá permitir a focalização do profissional
numa instituição, com os ganhos de tempo
e a economia de custos correspondentes, favorecer
a realização plena das pessoas, minimizar os conflitos
de interesse e assegurar boa qualidade em todos
os hospitais, públicos e privados.
Defende-se a exclusividade como opção para os profissionais
que já estejam integrados em hospital e como
regra para recrutamentos futuros. Poderá ser de
aplicação progressiva, à medida que o orçamento
o permita e de acordo com as prioridades do SNS,
como sejam para acorrer a insuficiência grave de resposta
por falta de recursos humanos, genérica, por
exemplo em hospitais no interior, ou em determinados
serviços, ou para promover novas formas de
organização e atuação.
A retribuição da exclusividade deverá incluir remuneração
base, correspondente a horário semanal de 40
horas, prémio fixo, produção adicional e incentivos
conforme os resultados obtidos, por referência a objetivos
estabelecidos, cuja definição prévia visa assegurar
que o empenho, a produtividade e a qualidade
do exercício do profissional justificam a manutenção
do estatuto e da retribuição prevista.
A maior remuneração da exclusividade encontra sustentação
no valor acrescido que se obtém por:
• Maior dedicação permite ganhos financeiros diretos,
como sejam a redução de custos por menor rotação
de profissionais (recrutamento, formação, entre
outros), em horas extraordinárias, prestações de serviço
e subcontratação externa, e indiretos, em maior
atividade por encurtamento da curva de experiência
e melhor coordenação e ajustamento mútuo em
produção em equipa;
• Maior compreensão, adesão e focalização nos objetivos
do Serviço e da Equipa, com maior motivação para
cumprir metas de atividade, reduzir o desperdício, melhorar
a qualidade e os tempos de resposta aos doentes,
e melhor ambiente para projetos de melhoria que
geram ganhos na qualidade e na eficiência e permitem
atingir níveis superiores de desempenho; }
8 9
GH recursos humanos
“
A MOTIVAÇÃO DOS PROFISSIONAIS
É DECISIVA EM QUALQUER
ORGANIZAÇÃO DE SAÚDE,
DEVENDO NOS HOSPITAIS
DO SNS, SER CONSIDERADA
COMO UMA DIMENSÃO CHAVE
PARA O SUCESSOOU INSUCESSO.
”
• Dedicação plena e conhecimento profundo do hospital,
dos seus líderes, dos seus valores e regras, que
facilitam a definição e o cumprimento de práticas normalizadas
(protocolos clínicos) e a redução de erros
e omissões;
• Trabalho mais esclarecido, produtivo e sinérgico
nas três áreas de atividade hospitalar (assistência, ensino,
investigação);
• Maior tempo e experiência na instituição conduzem
a investimento emocional, com melhor formação
e desenvolvimento de todos os profissionais, transferência
de conhecimentos entre gerações e grupos
profissionais (criação de escola), alinhamento e assunção
plena da cultura institucional, disponibilidade para
assumir responsabilidades, sejam atividades operacionais
comuns ao hospital (ex. SU), de gestão de Unidades
ou direção técnica.
Integração na gestão do hospital
A sustentabilidade dos serviços hospitalares não se obtém
reivindicando cada vez mais recursos, antes pela
melhoria de processos e práticas com vista a maior
qualidade, segurança e eficiência. Para isso os hospitais
do SNS requerem um programa específico para
garantir instalações e equipamentos adequados e suficientes,
uma gestão profissional, próxima e promotora
de boas decisões, e um enquadramento e ambiente
organizacional motivadores para os profissionais.
Sem excluir outras possibilidades, os novos Centros
de Responsabilidade Integrados podem constituir um
bom enquadramento para melhorar a motivação e valorização
dos profissionais, possibilitando maior participação
destes na definição e concretização da estratégia,
do plano de ação anual, do contrato programa
e do regulamento interno, enquanto instrumentos de
gestão operacional previstos na legislação respetiva.
Estes instrumentos, a maior proximidade da gestão
à atividade clínica e a possibilidade de incentivos garantem
maior prestação de contas, promovem a melhoria
de processos e do desempenho, em qualidade e segurança,
eficiência, tempo de resposta, e satisfação dos
doentes e dos profissionais, ao mesmo tempo que permitem
a redução de burocracias e a reposição de poderes
da gestão operacional.
É nossa convicção, à luz de experiências já realizadas
entre nós e noutras latitudes, que a promoção da exclusividade
e das outras medidas explicitadas neste
texto permitirão cativar os profissionais para se dedicarem
ao SNS, contribuirão para instilar uma cultura
positiva, de responsabilidade e de prestação de contas,
de respeito mútuo e de orientação para o doente
e para criar um ambiente que suscite o orgulho de
pertença, gerando:
• Organização de conhecimento, de aprendizagem e
desenvolvimento de pessoas, que congregue alta especialização
e diferenciação, assegurando cuidados integrados
com os restantes serviços de saúde num clima
de respeito, de colaboração e de apoio à decisão;
• Instituições sustentáveis, pela qualidade e economicidade
dos Serviços, atualizadas sob o ponto de vista
clínico e tecnológico, com informação adequada e comunicação
aberta e franca, que propicie boas decisões
dos líderes, dos profissionais e dos doentes;
• Qualidade e segurança, com gestão que previna
riscos, erros e desperdícios e que promova a melhoria
contínua de resultados, incluindo a responsividade
aos doentes;
• Satisfação e comprometimento dos profissionais na
simplificação de processos e na definição e padronização
das melhores práticas clínicas.
A motivação dos profissionais é decisiva em qualquer
organização de saúde, devendo nos hospitais do SNS,
ser considerada como uma dimensão chave para o sucesso
ou insucesso e ser tratada prioritariamente na
definição da política de saúde e na gestão das Organizações.
A qualidade e a sustentabilidade futuras do
SNS não lhe serão indiferentes. Ã
Better Health,
Brighter Future
Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas.
Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda
proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua
fundação em 1781.
Hoje combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo
desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se:
encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar
melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível,
o mais rápido que conseguirmos.
Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa,
a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.
PT/INI/0319/0010d
10
Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda.
Avenida da Torre de Belém, nº 19 R/C Esq. 1400-342 Lisboa
Sociedade por quotas. NIF: 502 801 204
Conservatória do Registo Comercial de Cascais n.º 502 801 204
Tel: +351 21 120 1457 | Fax: +351 21 120 1456
www.takeda.pt
GH Qualidade e segurança do doente
"AS PESSOAS
FAZEM A MUDANÇA"
Rui Cortes
Consultor e fundador da Lean Health Portugal
“
People Make Change” foi a frase do International
Forum on Quality&Safety for
Healthcare, que decorreu em Glasgow,
na Escócia, na última semana de março
passado. Sem as pessoas não podemos
mudar a cultura dos sistemas e das organizações de
saúde, esta foi sem dúvida a mensagem e aprendizagem
principal deste evento em que todos os profissionais
têm duas responsabilidades: “Do their Job, Improve
Their Job”.
São três os pilares em que as pessoas têm de assegurar
as condições para que se possa implementar uma cultura
de mudança e melhoria contínua, e que passam pelo:
1. papel e postura das lideranças de topo, mas também
intermédias;
2. facto dos profissionais se sentirem como verdadeiros
agentes da mudança, atribuindo, assim, um maior significado
e prazer no seu trabalho; e
3. envolvimento dos utentes como agentes de mudança
e geradores de inovação nos cuidados de saúde.
No que aos gestores de topo diz respeito, e tendo tido
oportunidade de participar na sessão apenas dedicada a
“CEOs”, fica evidente que as preocupações são as mesmas
entre os vários países, onde a grande mensagem foi
a de que o líder tem de partir do pressuposto que pode
estar errado. Saber fazer as questões certas e apoiar os
diversos profissionais, num ambiente de confiança, na
procura das respostas a essas questões, é fator crítico de
sucesso sendo um papel do qual não se pode demitir.
A mudança precisa de uma clareza no propósito, apoiada
pela coragem necessária; só assim podemos assegurar
a primeira parte da “Trilogia de Juran”, acerca da
Planificação da Qualidade. Este planeamento deve ser
alinhado com os objetivos estratégicos da organização,
ou então resultar da voz dos utentes no que diz respeito
a fatores que condicionam os mesmos a terem uma
experiência, nos serviços de saúde, com qualidade.
É, no entanto, essencial, “os gestores de topo, terem o
domínio sobre a psicologia da mudança, e sobre o facto
de”, segundo Henry Timms, “estarmos a assistir ao
chamado novo poder”, o que obriga a mudanças claras
no estilo de liderança e nas estratégias usadas para assegurar
o necessário envolvimento dos profissionais de
saúde, para que se sintam como agentes de mudança.
Um dos exemplos muito falado por vários presidentes
de hospitais é a criação de um standard work em que,
no mínimo, seja definido um dia por semana, sempre
ao mesmo dia, sempre à mesma hora, em que os elementos
do conselho de administração, durante uma
ou duas horas, se dedicam exclusivamente a visitar os
diversos serviços, a fim de conhecer os problemas,
acompanhar e monitorar as melhorias, bem como desbloquear
barreiras para as mesmas.
Assim, o que se espera de um líder de topo não é quem
resolva problemas, mas sim quem apoia e incentiva a
resolução dos mesmos, que define objetivos claros,
quem vai ao “terreno”, quem define qual o método de
melhoria contínua a ser usado, quem cria uma cultura
de transparência onde o erro é a melhor oportunidade
de melhoria, seguindo a máxima de que “Confiem nas
pessoas, ataquem os processos”. Ademais, um hospital
que não identifica erros, não protege os seus doentes.
Passando aos profissionais… são eles os verdadeiros
agentes de mudança, numa cultura de transparência,
suportados por líderes que assegurem uma visão clara
e criem um ambiente seguro, levando, assim, a que os
profissionais sintam o ímpeto da mudança. Para que tal
aconteça, são essenciais os outros dois elementos da
“Triologia de Juran”: o controlo de qualidade e a melhoria
continua da qualidade.
No que diz respeito ao controlo de qualidade, implica
uma clara definição de quais os standards pretendidos
em cada processo, de forma a que se possam listar os
indicadores de processos e resultados, assentes em
ferramentas de gestão visual, permitindo os huddles
meetings diários, ou no mínimo semanais, e em que
haja uma clara identificação de quais os problemas ou
situações que têm de ser de imediato escaladas para
a gestão de topo.
Os huddles meetings, assentes na chamada “gestão diária”,
são a ferramenta mais importante para assegurar
uma verdadeira cultura de melhoria continua, em que,
pela minha experiência, por vezes é condição suficiente
para mudar resultados, mesmo sem haver qualquer
alteração nos processos. Não obstante, tem-se revelado
algo difícil implementar nos hospitais portugueses,
o que nos impele a pensar sobre o que está a falhar na
forma como está a ser apresentado, e não na culpabilização
de quem resiste à sua implementação. Os huddles
meetings são reuniões, em pé, de não mais de 15
minutos, sempre à mesma hora e/ou no mesmo dia, no
mesmo local, onde é feita uma monitoração dos quatro
ou cinco indicadores que estão a ser acompanhados,
e se definem medidas de implementação imediata ou
se identificam pontos críticos que necessitam de recursos.
São um primeiro passo para a gradual passagem
de uma qualidade retrospetiva para uma qualidade em
tempo real.
Sem prejuízo do atual estado da arte em Portugal, o que
ainda não referi no que diz respeito às pessoas fazerem
a mudança, sendo indubitavelmente o aspeto mais importante,
é que se assiste a uma gradual implementação
desta prática, devendo adotar-se um verdadeiro trabalho
de envolvimento, menos paternalista e determinista.
Importa ainda referir os utentes e suas famílias, parte
ativa e central nos processos de codesign e de cocriação,
agora centrais no processo, não só no desenho de
como deve ser construída a sua experiência no seu percurso
nos cuidados de saúde, mas também na forma como
esses desenhos são implementados e sustentados.
Esta coprodução deve ser adaptada a cada local, uma
vez que as iniquidades são muito grandes, inclusivamente
dentro da mesma cidade. Não pode haver uma solução
forçada para todos os locais, sem as devidas adaptações
através do envolvimento dos utentes. A título de
exemplo, refere-se o caso da diferença de 21 anos na
esperança média de vida entre um extremo do metro
de Londres e o outro extremo, o que deve ser tido em
conta quando procuramos forçar soluções para realidades
distintas, mesmo que pareçam estar ali ao lado.
Para que todo este paradigma se torne uma realidade,
impera (i) assegurar uma adequada e moderna capacitação
de líderes, não só na metodologia de melhoria
contínua, mas também na psicologia da mudança, (ii)
bem como capacitar e envolver utentes e famílias em
processos de cocriação e codesign.
Sem esta capacitação alinhada e complementar, correse
o risco claro de ser só uma das partes da equação
a falar uma linguagem de mudança, criando ainda mais
“silos” nas organizações em geral e no setor da saúde
em particular.
Desta forma estaremos em condições de assegurar
melhores outcomes de saúde, beneficiar as experiências
do doente e dos profissionais e aumentar o valor dos
cuidados prestados.
Juntando estes fatores, o Ministério da Saúde Escocês
criou o conceito de Medicina Realística, que é composto
por uma tomada de decisão partilhada, em detrimento
de uma decisão assente na autonomia dos
profissionais. Trata-se de uma abordagem personalizada
nos processos de cuidados, onde se assegura uma
redução do desperdício, principalmente em situações
em que o doente seja lesado, reduzindo variações desnecessárias
nos cuidados prestados e nos outcomes,
assente numa melhor gestão de risco e onde todos
possam ser “agentes de melhoria” e inovadores.
Segundo os autores de Compassionomics, estamos ou
inevitavelmente caminharemos para uma era além da
empatia (quiçá compaixão), o que se revela crucial na
saúde, onde, por exemplo, doentes terminais tendem
a valorizar mais esse fator do que aspetos associados
ao tratamento ou à sobrevida, preferindo, ao invés,
poderem estar assintomáticos e passarem mais tempo
com as suas famílias.
A abordagem assente na compaixão remete para a
questão “o que importa para si?”, evitando a decisão
pelo doente ou pelo profissional sobre o que importa
para ele, engrandecendo aspetos tão simples como
a hora das marcações (um dos “pormenores” mais valorizados).
Estas situações permitem reforçar as relações
entre profissionais, gestores, comunidade e utentes,
criando, assim, condições para um ambiente mais
propício à mudança e assente em confiança e foco no
bem-estar, quer de doentes quer dos profissionais.
Resumindo, parafraseando Gary Kaplan, CEO do Virginia
Mason Medical Centre, a qualidade nas organizações
de saúde parte de uma clara visão que se concretiza
com: “respeito pelas pessoas”, “envolvimento dos
profissionais e das equipas”, “obsessão pela qualidade
através da redução do desperdício” e uma cultura de
inovação onde haja espaço para PDSA (Plan- Do-Study-Act),
de forma a uma permanente procura de fazer
melhor.
Com efeito, fazendo bem à primeira e reduzindo desperdícios,
bem como a variação nos processos, os custos
são em si mesmo impactados no sentido decrescente.
Em jeito de conclusão, as pessoas fazem as mudanças
e os líderes têm de partir do pressuposto humilde que
podem estar errados! Ã
12 13
GH Resistência a antimicrobianos
INFEÇÕES ASSOCIADAS
A CUIDADOS DE SAÚDE
E RESISTÊNCIA AOS
ANTIMICROBIANOS
A ESTRATÉGIA SEGUIDA NO CHEDV
Figura1
Luís Pedro Tavares
Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna
Coordenador do GCL do PPCIRA do CHEDV
Enquadramento do problema
As infeções associadas a cuidados de
saúde (IACS) e o aumento da resistência
dos microrganismos aos antimicrobianos
(RAM), vem adquirindo
uma importância crescente à escala mundial, que se
traduz num forte impacto nos utentes (aumento da
morbilidade e a mortalidade), nas unidades de saúde
(prolongamento do tempo de internamento e reinternamentos)
e na comunidade (absentismo laboral
e aumento de custos em saúde).
A Organização Mundial de Saúde estima que, em
2050, a resistência aos antimicrobianos será responsável
por 10 milhões de mortes (mais do que a soma
da Diabetes e Cancro) - figura 1 - e uma queda do Produto
Interno Bruto entre 2.8% e 3.5%.
Portugal participou em todos os Inquéritos de Prevalência
de Ponto (PPS) do European Centre for Disease
Control (ECDC). Em 2012, o nosso país registava
a maior taxa de Infeção Hospitalar (10.5%) e valores
consideravelmente superiores à média europeia, no
que respeita à Infeção do Local Cirúrgico (ILC), ao
consumo de Fluoroquinolonas na comunidade e de
Miguel Paiva
Economista
Presidente do Conselho de Administração do CHEDV
Carbapenemos nos hospitais. A resistência do Acinetobacter
baumannii aos Carbapenemos (79.2%),
do Staphylococcus aureus à Meticilina (53.8%), da
Klebsiella pneumoniae às Cefalosporinas de 3ª geração
(38.7%), da Escherichia coli às Fluoroquinolonas
(30%) e do Enterococcus faecium à Vancomicina
(23.3%), eram motivo de grande preocupação.
Em 2013, o Governo português criou o Programa
de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências
aos Antimicrobianos (PPCIRA), os Grupos de
Coordenação Regional (GCR) e Local (GCL) - Despachos
n.º 2902 e 15423, tendo-o considerado um
dos 9 Programas Prioritários de Saúde. Neste ano,
morreram 4.606 doentes com infeções hospitalares
(a mortalidade rodoviária foi 637) e gastaram-se 45
milhões de euros em antimicrobianos.
Nos anos seguintes, diversas entidades públicas definiram
e atualizaram políticas, indicadores e metas
nesta área:
• Direção Geral de Saúde (DGS)- Normas de Orientação
Clínica (NOC) e Índice de Qualidade (IQ);
• Entidade Reguladora da Saúde (ERS) - Dimensão
Segurança do Doente;
• Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS)
e Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos
de Saúde (INFARMED) - Benchmarking Hospitalar
(sepsis pós-operatória, consumo de antibióticos);
• Rede de Informação e Observação em Saúde
(RIOS) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo
Jorge - Programas de Vigilância Epidemiológica (VE);
• Plano Nacional para a Segurança do Doente
2015/2020 (objetivo estratégico 9).
Em 2016, registaram-se resultados positivos relativamente
à adesão à Higiene das Mãos (+37.0%), às
Pneumonias associadas ao Ventilador (-36.6%), Infeções
da Corrente Sanguínea associadas a Cateter
Venoso Central (- 45.0% a -57.1%), às Infeções do
Local Cirúrgico (-13.5% para as cirurgias do colon/
reto e -52.9% na Prótese do Joelho), ao consumo de
Carbapenemos (-13.3%) e à taxa de Methicilin Resistant
Staphylococcus aureus - MRSA (-20.1%).
Em maio de 2017, a participação portuguesa no PPS
(28 países), envolveu 93 unidades hospitalares e
16.982 doentes. A percentagem de doentes internados
sob antibioterapia foi um pouco menor (39.6%),
e a taxa de Infeção Hospitalar foi significativamente
menor (7,8%), que em 2012.
Em 2018, terminaram os 3 anos do Desafio Gulbenkian
"Stop Infeção Hospitalar!", que envolveu 19 hospitais
do SNS, e um potencial investimento de 1.2 milhões
de euros. Conseguiram-se reduções de 51 a 56%
na incidência de infeções associadas a dispositivos (cateter
vesical, cateter venoso central, tubo oro-traqueal/
ventilador) e procedimentos cirúrgicos (próteses da
anca e joelho, cirurgia de vesícula e cólon/reto).
Contudo, no seu último relatório anual, o PPCIRA assume
as dificuldades no controlo do crescimento da
resistência da Klebsiella pneumoniae aos carbapenemos
(2.1% em 2014 e 9.7% em 2017), na implementação
do Programa de Apoio à Prescrição Antimicrobiana
(PAPA) e na participação na Vigilância
Epidemiológica da Infeção do Local Cirúrgico, em
cerca de 1/3 das instituições de saúde. Considerou
necessário reduzir a percentagem de profilaxia antibiótica
cirúrgica administrada após 24 horas da cirurgia
para 37,5%, e manter a taxa de consumo de
carbapenemos em meio hospitalar e de quinolonas
na comunidade, abaixo de 0,11 e 1.25 Doses Diárias
Definidas (DDD) por 1.000 habitantes, respetivamente
(médias europeias: 0.06 e 1.6). }
Observatório Português dos Sistemas de Saúde, “Relatório
Primavera 2018” (25 páginas dedicadas às IACS
e às RAM).
Direção Geral de Saúde, “A Saúde dos Portugueses
2016” (13 páginas dedicadas ao PPCIRA).
Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências
aos Antimicrobianos, Relatórios anuais “PPCI-
RA em números” 2014 a 2017; “Infeções e Resistências
aos Antimicrobianos - Desafios e Estratégias. 2018”.
14 15
GH Resistência a antimicrobianos
Figura 2
A realidade do Centro Hospitalar de Entre Douro
e Vouga - os últimos 5 anos
O CHEDV, criado na sequência da publicação do
Decreto-Lei n.º 27/2009, agrupa o Hospital São
Sebastião (HSS, Santa Maria da Feira), o Hospital
Distrital de São João da Madeira e o Hospital São
Miguel (Oliveira de Azeméis), e é responsável pela
prestação de cuidados de saúde a uma população
que ronda os 340.000 habitantes.
Ano 2013 Ano 2018
Lotação 384 381
Episódios SU 180.252 210.426
SUMC (HSS) 147 881 142 330
Internamentos pelo SU 11.404 10.992
Dias de Internamento 116.305 120 391
Doentes saídos 21.289 18597
Serviços médicos 6.590 7.317
Serviços cirúrgicos 13.512 10.474
Demora média 5,5 6,5
Cirurgia Convencional 8.374 5.697
Cirurgia Ambulatório 8.736 11.406
Cirurgia Urgente 2.603 2.351
ICMix 0,89 0,99
O seu GCL-PPCIRA iniciou funções em 1 de março de
2014, sendo o núcleo executivo composto por um
internista (coordenador, 28 horas semanais) e duas
enfermeiras especialistas (70 horas semanais).
São seus colaboradores regulares 3 médicos (internista,
cirurgião e pediatra), uma microbiologista e
uma farmacêutica.
O Despacho n.º 15423/2013, define com clareza
as competências dos GCL, tendo constituído o suporte
para a elaboração do regulamento interno e dos
planos anuais do GCL do CHEDV. A informação que
será apresentada neste artigo foi obtida a partir de
dados extraídos do processo clínico (Medtrix EPR
Health), das soluções de gestão do Laboratório
(Appolo Confidentia ® ) e dos Serviços Farmacêuticos
(GHAF ® ), do Gabinete de Informação para a Gestão
e do Serviço de Informática.
Cumprindo uma estratégia que visa a transparência
de informação e o envolvimento dos principais
agentes que intervêm na prestação de cuidados, os
resultados são disponibilizados trimestralmente às
chefias (Direções de Serviço e Enfermeiros-Chefes),
à Direção Clínica e à Direção de Enfermagem.
Importa agora descrever de forma mais detalhada as
estratégias adotadas aos vários níveis de intervenção.
• Contextualização da Antibioterapia
Uma das primeiras constatações que se fizeram
prendeu-se com a variabilidade de critérios clínicos
quanto às decisões de prescrição de antimicrobianos
de uso sistémico.
A atualização do Medtrix EPR-Health de setembro
de 2014 contemplou uma alteração significativa relativamente
aos antimicrobianos de uso sistémico. Todas
as prescrições, passaram a necessitar de contextualização
e a renovação de prescrição é necessária
a cada 7 dias.
• Programa de Apoio à Prescrição de Antimicrobianos
(PAPA)
O PAPA foi implementado em junho de 2014 (modelo
back-end). São monitorizadas as prescrições de
carbapenemos e quinolonas (com fundamentação
no processo clínico), até às 96 horas. As auditorias e
reports trimestrais são disponibilizados aos prescritores
e chefias - no 1º trimestre de 2019, a validação
na 1º hora ocorreu em 20.2% das prescrições e, até
às 4 horas, em 43.5% (figura 3).
• Apoio à implementação e atualização de protocolos
de antibioterapia dos diversos Serviços
Em 2014, foram revistos todos os protocolos de profilaxia
antibiótica cirúrgica dos Serviços de Oftalmologia,
ORL, Urologia, Cirurgia, Ortopedia, Ginecologia e
Obstetrícia, de acordo com as orientações da NOC
31/2013. Desde então, foram atualizados 27 protocolos
de antibioterapia terapêutica nos Serviços de
Cirurgia, Ortopedia, Ginecologia/Obstetrícia e Medi-
Figura 3
Figura 4
doentes CHEDV (DI) Prescrições (AB) doentes com AB (DAb) Ab/DI Dab/DI Ab/DAb
T1 427 245 194 0,57 0,45 1,26
médias
S1 398 227 178 0,57 0,45 1,27
cina Interna, tendo em consideração as atualizações
das recomendações das sociedades científicas e a
realidade da instituição, no que respeita a isolamentos
microbiológicos e padrões locais de resistência.
• Monitorização semanal da prescrição de antimicrobianos
Desde julho de 2015 que é elaborado um report semanal.
Em 2019, 45% dos doentes internados têm
prescrição de antibióticos e a profilaxia antibiótica
em cirurgia é responsável por ¼ destas prescrições.
Estes valores são sobreponíveis aos de período homólogo
de anos prévios (figura 4).
• Avaliação de risco na admissão de doentes, rastreios,
alertas, precauções de isolamento e fluxo
de informação entre serviços e instituições
Os riscos de IACS aumentam consideravelmente
com o grande movimento de doentes no hospital e
a insuficiência de unidades de isolamento. O CHEDV
dispõe de 31 unidades de isolamento (quarto individual
com casa de banho), e 13 enfermarias de 2 camas
(com casa de banho partilhada).
A priorização de risco é efetuada na admissão - doente
com risco acrescido para microrganismos epidemiologicamente
sensíveis (MoES), presença de alertas
e de doenças de declaração obrigatória (Despacho
5681-A/2014) - e tem em conta as recomendações
que constam da NOC 029/2012 e o Procedimento
Interno “Prevenção da Transmissão da Infeção - Precauções
Básicas e de acordo com a Via de Transmissão
e Isolamento Protetor”.
Figura 5
O fluxo de informação entre serviços e instituições
tem sido feito de forma sistemática desde 2014, utilizando
instrumentos convencionais (passagem de turno,
contacto telefónico, registo no processo) e através
do envio de mails para os GCL das instituições
de destino.
• Monitorização semanal de MoES
Desde agosto de 2018 que é elaborado um report
semanal. Os alertas permanecem ativos por 6 meses,
exceto no caso das Enterobactérias produtoras de
Carbapenemases (12 meses). No último report de
maio de 2019, dos 430 doentes com alertas ativos,
estavam internados 7 em serviços cirúrgicos, 1 no
Serviço de Medicina Intensiva Polivalente e 25 em
enfermarias médicas de adultos. Existe grande variabilidade
semanal relativamente a alguns MoES * (em
particular, MRSA, ESBL e EPC), o que dificulta a alocução
dos doentes e a operacionalização de áreas de
coorte/precauções de isolamento de acordo com a
via de transmissão (figura 5). }
*MRSA, Enterobactérias produtoras de Carbapenemases ou Betalactamases
de Espectro Alargado (EPC ou ESBL), Pseudomonas aeruginosa multirresistente,
Acinetobacter baumannii, Clostridium difficile , Mycobacterium tuberculosis.
16 17
GH Resistência a antimicrobianos
• Monitorização trimestral dos resultados microbiológicos
e das RAM
Desde abril 2015 que os resultados são disponibilizados
trimestralmente às chefias (Direções de Serviço
e Enfermeiros-Chefes) e aos prescritores, de modo
a que possam ir ajustando as suas práticas. Tem sido
realçada a importância de manter a tendência dos últimos
trimestres para a diminuição das taxas de MRSA e
de Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL (figura 6).
• Monitorização trimestral das infeções
A contextualização da antibioterapia permite conhecer
a tipologia das infeções (da comunidade e IACS
hospitalares ou não), os órgãos/sistemas envolvidos
e os serviços onde são tratadas, promover ações
corretivas e sedimentar bons resultados.
Tal como no primeiro trimestre de 2018, as infeções
respiratórias representam mais de metade de todas
as infeções e as urinárias quase ¼. Em 2019, registou-se
um aumento de infeções urinárias associadas
a cuidados de saúde (hospitalares ou não) e uma
diminuição significativa das infeções do local cirúrgico
no Serviço de Cirurgia (figura 7).
Figura 7
Figura 6
Figura 8
• Cartas microbiológicas
Desde 2006 que o Serviço de Patologia Clínica disponibiliza
anualmente uma “carta microbiológica”,
mas só a partir de 2014, se fez a sua discussão sistemática
nos diversos serviços. Nos últimos anos, tem-
-se registado um aumento significativo dos agentes
mais frequentemente responsáveis por infeções urinárias
(Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae) e uma
franca diminuição da resistência nas bactérias Gram+
(Staphylococcus aureus/Meticilina e Enterococcus faecium/Vancomicina)
e nos Gram- não fermentadores
(Pseudomonas aeruginosa/multirresistência e Acinetobacter
baumannii/Carbapenemos) - figura 8.
• Auditorias Internas
A realização de auditorias internas periódicas e a divulgação
dos seus resultados, é fundamental para se
encontrarem oportunidades de melhoria. Para além
das abaixo referidas, têm sido feitas outras auditorias
periódicas, de acordo com as Normas de Orientação
Clínica - NOCs - (p.e., profilaxia antibiótica em
cirurgia) e Procedimentos Internos (p.e., higiene ambiental
e consumo de solução antissética de base alcoólica).
Em 2018 realizaram-se as seguintes:
Precauções Básicas de controlo de Infeção (NOC 029/
2012): adequação de 92.3% (Processo) e 87.7% (Estrutura)
- em 2014, 87.2% e 81.1%, respetivamente;
Adesão à Higiene das Mãos (1º momento): cumprimento
de 75.6% (em 2014, 80.6%);
Qualidade de Limpeza Terminal (serviços de internamento):
adequação de 86% (em 2014, 32%).
• Programas de Vigilância Epidemiológica e Estudos
de Prevalência (PPS)
O CHEDV está integrado nos programas/plataformas
de VE (HELICS - Hospitals in Europe Link for Infection
Control through Surveillance) desde a fundação
no caso das Infeções Nosocomiais da Corrente
Sanguínea (2002) e das que ocorrem em Unidades
de Cuidados Intensivos de adultos (2004) e de Recém-Nascidos
(2007). Em 2013, aderiu ao programa
de VE de MoES (NOC 04/2013) e, em 2015, ao da
Infeção do Local Cirúrgico (plataforma europeia).
O CHEDV participou nos PPS do ECDC em 2012 e
2017 (taxas de infeção hospitalar de 7.4% e 7.0%, respetivamente)
e, em 2018, no Global Point Prevalence
Survey on Antimicrobial Consumption and Resistance,
projeto ambicioso que monitoriza a nível mundial
as taxas de prescrição de antimicrobianos em doentes
hospitalizados (http://www.global-pps.com).
• Formação
A formação dos profissionais é considerada uma
atividade nuclear do GCL, tendo sido intensificada
a partir de 2016. Para lá da apresentação dos resultados
e estratégias da instituição, são divulgadas
as Orientações e NOCs da DGS relacionadas com
Infeção e Uso de Antimicrobianos (30), os Feixes de
Intervenção de Prevenção de Infeções associadas a
cirurgias e dispositivos (4) e os documentos internos,
relativos a Procedimentos (20), Planos e Política (7).
Profissionais abrangidos em 2016: 700 (35%); em
2017: 913 (45%); e, em 2018: 622 (29%).
Horas de formação em 2016: 1.466; em 2017: 1.798,5;
e, em 2018: 1.395,5.
• Indicadores de Qualidade
Em 2019, o GCL propôs ao conselho de Administração
a contratualização anual de Indicadores de
Qualidade na área da infeção e antibioterapia (IQ
de estrutura, de processos e de resultados), em cada
serviço/unidade, tendo em consideração o seu histórico,
objetivos e metas nacionais.
• Eventos
Desde 2015 que existe uma parceria entre o CHEDV
e a Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha
Portuguesa de Oliveira de Azeméis para a realização
de Jornadas sobre IACS. Em 2017, em colaboração
com a Associação Nacional de Controlo de Infeção,
organizaram o 1º Congresso Internacional no âmbito
das IACS (https://iacs.pt/), que contou com 550 inscritos,
30 oradores, 8 nacionalidades e 5 grupos profissionais.
Em 2018, o GCL-PPCIRA voltou a participar
nas Comissões Organizadora e Científica deste evento,
que teve cerca de 6 centenas de participantes.
• Relatórios e Planos anuais
Anualmente, são elaborados relatórios para a Comissão
de Qualidade e Segurança, e entregues relatórios
e planos ao Conselho de Administração, tendo
por base análises SWOT.
Resultados Alcançados
O trabalho realizado ao longo destes anos, assente
numa estratégia claramente definida e institucionalmente
assumida, bem como na estabilidade da equipa
de trabalho que a tem implementado tem permitido
que a instituição registe uma evolução positiva
no combate a este problema.
Em 2018, no que respeita a resultados, os pontos
fortes mais significativos foram:
• MoES (fig. 9): MRSA, Enterococcus faecium resistente à
Vancomicina (EVR), Pseudomonas aeruginosa multirresistente
e Acinetobacter baumannii resistente ao Imipenemo.
• Sepsis pós-operatória: A realização de auditorias
e revisão de procedimentos, em consequência dos
resultados preocupantes de 2017, teve forte reper- }
18 19
GH Resistência a antimicrobianos
Figura 10
Figura 9
http://benchmarking.acss.min-saude.pt/BH_SegurancaDashboard
Figura 11
http://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/farmacia-hospitalar/antibióticos
1 DDD (Dose Diária definida) corresponde a um dia de tratamento de uma infeção moderada, com a posologia padrão.
cussão nos de 2018, no qual a instituição alcançou o 2º melhor
resultado de entre as unidades hospitalares do Grupo
C, de acordo com os dados oficiais da ACSS (http://benchmarking.acss.min-saude.pt/BH_SegurancaDashboard).
• Consumo de antibióticos: Em 2018, relativamente a
2014, o CHEDV teve mais 4.292 dias de internamento
e o consumo de antibióticos diminuiu 10% (5.919
DDD), o de carbapenemos 30.6% (1.914 DDD) e
o de quinolonas 49.0% (2.451 DDD) - fig. 10 e 11.
Considerações finais
Estes esperançosos resultados são a prova de que
o combate à infecção hospitalar, nas diversas formas
como ela se manifesta, não só deve ser assumida
como um desígnio estratégico para todas as instituições
hospitalares, como é possível e, se devidamente
levada a cabo, produz resultados positivos, que
se traduzem em ganhos em saúde para os doentes
e poupança de recursos. Trata-se, contudo, de um
trabalho que exige persistência, não só porque o
sucesso implica o permanente alinhamento dos profissionais,
mas também porque a própria natureza
das ameaças dos agentes infeciosos assume permanentemente
novas formas. Ã
Figura 12
Fontes de Informação no CHEDV
20 21
GH Cuidados de saúde primários
REFUNDAR OS CUIDADOS
DE SAÚDE PRIMÁRIOS:
UM CAMINHO NA DIREÇÃO
DA COBERTURA UNIVERSAL
DE SAÚDE
Miguel Lemos
Diretor Executivo do ACES Arco Ribeirinho
O
que foi feito: Alma-Ata
Quando há 40 anos, mais propriamente
em 1978, na Conferência Internacional
sobre Cuidados de Saúde
Primários, organizada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF), numa cidade da
antiga União Soviética, se materializou o documento
que ficou conhecido com a Declaração de Alma-Ata
(DAA), assistiu-se ao início formal do grande movimento
dos cuidados de saúde primários (CSP) em toda a
comunidade que integra a OMS.
Nesse momento tinha ficado inscrito internacionalmente,
que a saúde era o grande objetivo social a ser
conquistado em todas as sociedades, exigindo a participação
e o envolvimento de todos os setores da sociedade,
num esforço comum para reduzir desigualdades
sociais que estavam na base dos diferentes níveis de
acesso, prestação e desenvolvimento tecnológico dos
cuidados de saúde.
Aí se evidenciou com clareza o impacto que as determinantes
sociais tinham e, que continuariam a ter, na
saúde das populações e dos indivíduos. Firmaram-se
declarações, onde a perspetiva holística da saúde passou
a assumir-se como um grande referencial para a
construção de sistemas de saúde integrados, assente
em visões comunitário-cêntricas e salutogénicas, onde
a educação, a prevenção e a promoção da saúde se
constituiriam como alicerces fundamentais das estratégias
do desenvolvimento de políticas, programas e
ações orientadas para a resposta a necessidades contínuas
de saúde, tratava-se, portanto, de gerir e investir
em saúde e nas pessoas. A este propósito, poder-se-á
mesmo referir que a saúde pública (SP), enquanto área
de especialidade da medicina, dedicada à “arte de prevenir
a doença, prolongar a vida e promover a saúde
por meio de esforços organizados da sociedade”, tal
com definido por Sir Donald Acheson, em 1988, foi
parte indissociável e central deste movimento fundacional
dos CSP.
Curiosamente, e no que diz respeito a Portugal, em
1977, o Prof. Arnaldo Sampaio, ilustre médico de saúde
pública que, à data, integrava o Comité Executivo da
OMS teve a oportunidade de participar na organização
preparatória da Conferência de Alma-Ata, que viria a
realizar-se no ano seguinte, dando, deste modo, o seu
contributo para aquele que viria a ser o momento de
viragem nos CSP.
O reforço da continuidade: A Carta de Ottawa
Posteriormente, as sociedades foram assistindo ao desenvolvimento
dos CSP, onde a matriz conceptual forjada
na DAA, era mantida e reforçada, tal como veio a
acontecer na 1ª Conferência Internacional sobre Promoção
de Saúde, realizada na cidade de Ottawa, no
Canadá, em 1986.
Os 11 anos que mediaram a DAA e aquela que vi-
ria a ser conhecida como a Carta de Ottawa para a
Promoção da Saúde, ou simplesmente como a Carta
e Ottawa (CO), foram determinantes no processo de
consolidação do movimento dos CSP e da própria SP,
que viu o conceito de promoção de saúde assumir-
-se como o principal motor do seu desenvolvimento
a nível mundial.
Este momento foi crucial para disseminar e incorporar
na sociedade o conceito de promoção de saúde,
enquanto processo de capacitação que os indivíduos
e as comunidades têm de possuir para controlarem
de forma positiva a sua própria saúde. É um conceito
que remete para a tomada de consciência social de
que a saúde não é propriedade nem responsabilidade
única das politicas de saúde e prestadores de cuidados,
mas sim de cada um de nós em particular e da
sociedade em geral.
A CO veio introduzir uma conceção positiva da saúde,
enquanto um recurso indispensável para a vida, que
depende de outros recursos fundamentais, tais como
a paz, a segurança, educação, habitação, alimentação,
economia, ambiente, justiça e equidade, remetendo,
deste modo, para o compromisso de que a sociedade
tem de estabelecer, de forma a garantir a existência
destas condições de recursos, indispensáveis para a saúde
dos indivíduos.
Este compromisso para a promoção da saúde veio reforçar
o movimento em torno da SP e dos CSP, ao
mesmo tempo que definiu as orientações para atingir
a Saúde para Todos no ano 2000.
Onde estamos 40 anos depois:
A Declaração de Astana
Passadas quatro décadas da DAA, apesar do desenvolvimento
dos CSP, o desígnio da Saúde para Todos no
ano 2000, está longe de estar cumprido. Se, por um
lado, no inicio se assistiu a um movimento que estava
fundado numa visão salutogénica e promotora de
saúde, por outro, o desenvolvimento nestes últimos
40 anos, foi preenchido com visões mais patogénicas
e promotoras de doença que se foram instalando paulatinamente
na consciência dos decisores e que foram
influenciando políticas, programas e ações, que passaram
a estar focalizadas na organização de sistemas prestadores
de cuidados à doença, ao invés de cuidados
à saúde, de saúde e para a saúde!
Esta tendência de sobreposição do conceito de doença
sobre a saúde, tem sido um fator de desaceleração
na aplicação dos princípios fundacionais dos CSP e da
SP, aos sistemas de saúde em geral. Tem sido também
responsável pelo excesso de hospitalocêntrismo, que
muito tem influenciado a politica, o financiamento e a
“
ESTE COMPROMISSO
PARA A PROMOÇÃO
DA SAÚDE VEIO REFORÇAR
O MOVIMENTO EM TORNO
DA SP E DOS CSP.
”
prestação de cuidados, centrando a perceção das populações
no “admirável mundo novo” das tecnologias
de diagnóstico e tratamento da doença, em detrimento
da prevenção da doença e promoção da saúde.
Este facto tem condicionado fortemente as atitudes
sobre a saúde e a doença dos indivíduos, levando-os a
práticas de consumo de cuidados mais secundários do
que primários.
A evidência de que os CSP precisavam de ser energizados
e projetados para o futuro, foi consubstanciado
na Declaração de Astana (DA) que emergiu da Conferência
Global sobre CSP realizada na cidade de Astana,
no Cazaquistão, em 25 e 26 de outubro de 2018, promovida
mais uma vez pela OMS e UNICEF. Esta reunião
internacional teve como principal objetivo analisar
o percurso civilizacional dos CSP nos últimos 40 anos,
identificando o que é necessário pôr em movimento,
para que os mesmos se assumam como uma verdadeira
força de desenvolvimento e transformação social, de
forma a alcançar a cobertura universal de saúde.
Nesta Conferência, foi divulgado pela revista Lancet o
relatório “Alma-Ata 40 years: reflections from the Lancet
Commission on Investing in Health”, que retrata o
percurso dos CSP desde a DAA até aos nossos dias,
identificando as razões, analisando factos epidemiológicos
e sociais que atravessaram os CSP durante os
últimos 40 anos.
Este documento, veio evidenciar que o caminho para se
atingir uma Cobertura Universal de Saúde, deve obrigatoriamente
passar pela refundação/reforço/revitalização
dos CSP a nível mundial. Esta ideia é suportada pela
referência ao facto de que 80 a 90% das necessidades
de saúde ao longo do ciclo de vida, podem ser satisfeitas
pelos CSP, desde os cuidados de saúde mater- }
22 23
GH Cuidados de saúde primários
“
ASSUMINDO COMO UM GRANDE
REFERENCIAL A DECLARAÇÃO
DE ASTANA, NÃO SERÃO PRECISOS
OUTROS 40 ANOS PARA PODERMOS
PERCEBER QUE O CAMINHO
A FAZER, PASSA POR OLHAR PARA
A SOCIEDADE SOB UMA PERSPETIVA
MAIS SALUTOGÉNIA E POSITIVA.
”
noinfantis, prevenção de doenças através da vacinação,
passando pela gestão da doença crónica e terminando
nos cuidados paliativos.
No entanto, e dado não terem sido cumpridos na
integra os princípios da DAA, assiste-se atualmente a
assimetrias sociais no acesso e na oferta de cuidados
de saúde, que variam de forma abissal entre países de
baixo e médio rendimento, que continuam a lutar contra
doenças infecciosas e transmissíveis e os países de
alto rendimento, onde a transição epidemiológica para
as doenças crónicas é já há muito uma realidade. Esta
discrepância existente ao nível da riqueza e pobreza
entre países, tem naturalmente um impacto direto nos
modelos de organização e funcionamento dos sistemas
de saúde e desenvolvimento social das populações.
Neste contexto, a DA constitui um ponto de viragem
nas abordagens e compromissos que as nações têm de
assumir, de forma a poderem alcançar uma Cobertura
Universal de Saúde, que inevitavelmente passam pela
existência de um verdadeiro sistema de saúde assente
nos CSP, sem os quais as sociedades terão grande dificuldade
em concretizar as metas anteriormente preconizadas
na Saúde para Todos, em 2000, e os que
constam dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), definidos pela Organização das Nações
Unidas (ONU) a atingir até 2030.
A DA reúne, por isso, um conjunto de orientações e
compromissos assentes em princípios universais de que
todo o ser humano tem direito à cobertura universal
de cuidados; de que o reforço dos CSP é a forma mais
inclusiva, efetiva e eficiente de garantir um bom estado
de saúde mental, físico e social, de forma a poderem ser
alcançados os ODS; que apesar de todos os esforços
ainda há necessidades de saúde por satisfazer e que,
devido às iniquidades em saúde, às desigualdades sociais
e à pobreza, continuam a morrer prematuramente pessoas
e que a única forma de contrariar esta tendência
é de colocar a saúde na agenda de todas os setores
da sociedade e de reforçar os CSP, priorizando a sua
intervenção nos sistemas de saúde.
Trata-se, por isso, de recentralizar os CSP, posicionando-os
na primeira linha de atuação e intervenção em
saúde pública, tornando-os sustentáveis e dotados de
estrutura, condições e recursos que viabilizem uma
ação integrativa, de capacitação das comunidades e
seus indivíduos nas áreas da saúde e literacia e que esteja
devidamente alinhada com as politicas, estratégias
e planos de saúde de cada sociedade.
De forma sucinta, a DA identifica que o sucesso dos
CSP passa pela:
• Capacidade de gerar conhecimento, produzir investigação
e ciência;
• Existência de recursos humanos formados, capacitados,
motivados, e devidamente reconhecidos e
remunerados;
• Utilização de tecnologia ao nível do tratamento, dispositivos
de apoio e monitorização da saúde das populações,
de informação, de educação, promotoras de
acesso aos cuidados de saúde que sejam seguras, fiáveis,
de qualidade e efetivas;
• Garantia de um financiamento adequado aos contextos
sociais da intervenção e proporcional ao retorno
dos ganhos em saúde, que assegure a melhor alocação
dos recursos em contextos onde a redução das ineficiências
e iniquidades são evidentes.
O que falta fazer: em direção ao futuro
Assumindo como um grande referencial a Declaração
de Astana, julgo que não serão precisos outros 40 anos
para podermos perceber que o caminho a fazer, passa
por olhar para a sociedade sob uma perspetiva mais
salutogénia e positiva, centrando a atenção nas pessoas
e suas necessidades e decidindo em função disto mesmo.
É assumido que as dificuldades são muitas e difíceis,
mas nunca devem constituir um obstáculo ou justificação
para a inação, mas sim uma via para o desenvolvimento
criativo de soluções que, mesmo não sendo
realizadas no momento, possam fazer parte de
uma mobilização de ações/vontades que no futuro
possam ser concretizadas.
A par da Declaração de Astana, a OMS, em 2019, continua
a reforçar a ideia da Cobertura Universal de Saúde
iniciada no ano anterior, mas com um enfoque especial
nos Cuidados de Saúde Primários, devendo, por isso,
ser o mote para devolver à sociedade e aos decisores
políticos a importância crucial de possuirmos cuidados
de saúde primários acessíveis, equitativos e de qualidade.
Neste sentido, e crendo que o caminho a seguir é este,
devemos então refletir sobre o que queremos para o
nosso sistema de saúde, partindo da proposta de análise
de três pressupostos que condicionam e determinam
a existência de uma verdadeira Cobertura Universal
de Saúde:
• As determinantes sociais da saúde:
Em relação a este pressuposto, a atenção que deve ser
dedicada pela sociedade em perceber que os fatores
biológicos, estilos de vida, as condições socioeconómicas,
culturais e ambientais dos indivíduos são determinantes
para saúde e bem-estar das populações. Atuar
sobre estas determinantes implica o envolvimento corajoso
e persistente de todos os setores da sociedade
e uma mudança na forma de integrar a saúde como
elemento central em todas as políticas de uma nação.
• A organização do modelo de prestação de cuidados
de saúde primários:
Neste item, e tendo como objetivo o reforço dos CSP,
a proposta passa pelo reforço continuo das politicas de
saúde de proximidade e literacia em curso, que devem
ser acompanhadas de uma profunda alteração das estruturas/condições
físicas, onde os cuidados de saúde
primários são prestados.
Em simultâneo, devemos assistir ao reforço e valorização
dos recursos humanos através da implementação
de ações concretas de desenvolvimento organizacional,
que não se deve consubstanciar unicamente na perspetiva
imediata e motivacional de se constituir uma
Unidade de Saúde Familiar (USF), mas também pela
capacidade de oferecer percursos profissionais aliciantes,
formação adequada que resulte de diagnósticos
internos e de necessidades identificadas pelos profissionais
e utentes, incentivos ao desenvolvimento de estudos
e investigação, à criação e utilização de tecnologia
adaptada aos CSP (p.e. dispositivos de monitorização
à distância de parâmetros vitais), ferramentas de gestão
de informação de apoio à decisão disponíveis ontime
e a implementação de modelos de avaliação e reconhecimento
profissional baseados em desempenhos
de qualidade.
Também a reflexão sobre o modelo de gestão que se
pretende para os CSP, deve fazer parte deste percurso
de mudança. A perspetiva de um modelo de gestão
que aponta para uma autonomia administrativa e financeira,
permite antever maior flexibilidade na operação
e gestão de processos que, no terreno dos CSP, obrigam
muitas vezes a uma resposta célere. Esta possibilidade
de alteração estatutária e de personalidade jurídica
dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES),
pode ser concretizada à imagem do que já acontece
com o modelo de organização dos hospitais EPE.
• A opção equilibrada do financiamento:
Por último, não queria deixar de afirmar que a mudança
nos CSP, resultará também, e sobretudo, do seu
próprio modelo de financiamento. Não é despiciente
reconhecer que, se queremos CSP mais robustos que
sejam a base para a existência de uma Cobertura Universal
de Saúde, então não podemos ter um sistema
de saúde que investe somente cerca de 1% do total do
seu orçamento para às áreas da prevenção da doença
e promoção da saúde.
Aqui, a opção passa essencialmente por escolher se
queremos manter um sistema que tradicionalmente
teima em financiar a doença (talvez de forma desproporcionada),
o seu diagnóstico e tratamento ou, se por
outro lado, queremos um sistema mais equilibrado que,
não esquecendo a doença, financie de forma mais ativa
e robusta a saúde, a prevenção, a promoção a literacia
e a saúde pública em geral.
É assumido que as dificuldades são muitas e difíceis,
mas nunca devem constituir um obstáculo ou justificação
para a inação, mas sim uma via para o desenvolvimento
criativo de soluções que, mesmo que não
sejam atingíveis de imediato, possam fazer parte da
mobilização de ações e vontades que no futuro possam
vir a ser concretizadas.
Não é fácil reduzir desigualdades sociais, harmonizar
sociedades capacitando os indivíduos de forma a permitir-lhes
a possibilidade de escolhas livres e opções de
vida saudáveis. Sabemos que muitas são as determinantes
sociais de saúde que condicionam este desígnio,
no entanto devemos analisar em conjunto o caminho
trilhado, avaliar os impactos das politicas e intervenções
no sistema de saúde e tentar perceber se estamos no
caminho que desejamos que seja o melhor de todos! Ã
WHO “Report of the International Conference on Primary Health Care,
Alma-Ata - URSS, 6-12 September 1978”.
WHO “Otawwa Chart For Health Promotion - First International Conference
on Health Promotion, Ottawa, Canada, 17-21 November 1986”.
Durham University and WHO Europe “Strengthening Public Health Capacity
and Services in Europe - A Concept Paper - 2011”.
WHO “Declaration of ASTANA - Global Conference on Primary Health
Care, Astana-Kazakhstan, 25-26 October 2018”.
Watkins, A David et al - The Lancet Commission - Alma-Ata at 40 years: reflections
from the Lancet Commission on Investing in Health, Lancet 2018,
Vol 392: 1434-1457.
24 25
GH entrevista
ADELAIDE BELO
COORDENADORA DA EQUIPA DE PROJETO "GESTÃO DE CASO" DA UNIDADE
LOCAL DE SAÚDE LITORAL ALENTEJANO E PRESIDENTE DA PAFIC "PORTUGUESE
ASSOCIATION FOR INTEGRATED CARE "
CUIDADOS INTEGRADOS
CENTRADOS NAS PESSOAS
Adelaide Belo é médica e tem uma vasta experiência na gestão de unidades hospitalares.
Considerando que falta concretizar em Portugal um Plano Nacional de Integração
de Cuidados, a responsável destaca que têm sido tomadas algumas medidas e que a APAH
tem tido um papel muito importante na disseminação do conceito de Integração
de Cuidados, enquadrando-o nos seus eventos e publicações.
A
expressão “integração de cuidados”
tem sido sobejamente utilizada
por vários setores atuantes
na saúde, desde a academia, a gestão,
o poder político, os reguladores
e os próprios profissionais de saúde em todo
o seu espectro de atuação. Afinal de que falamos
quando referimos “integração de cuidados”? É gestão
de doença, é transposição e comunicação entre
níveis de cuidados, ou é efetivamente colocar
o doente no centro do sistema?
De facto, são multiplas as definições de “Integração
de Cuidados”, dependendo de quem analisa, nomeadamente
aqueles que referiram. No entanto, todas
essas definições têm um denominador comum que
é o de ultrapassar a atual fragmentação da prestação
de cuidados, com uma nova abordagem que permita
uma coordenação entre o continuum de cuidados ao
longo da vida - da promoção da saude à prevenção da
doença, passando pelo diagnóstico, tratamento, gestão
da doença, reabilitação, cuidados continuados e cuidados
paliativos. De início os conceitos estavam muito
focados no doente e nos serviços de saúde e sociais.
Mas tem havido uma evolução ao longo dos tempos,
numa perspetiva cada vez mais abrangente e integradora.
O documento da “WHO - global strategy on integrated
people-centered health services - 2016/2026”
vem reforçar a integração entre a prestação de cuidados
informais (doente e cuidadores) e a prestação
de cuidados formais (profissionais de saúde), alavancando
o papel da família e da comunidade em geral,
como cruciais na elaboração de políticas e serviços
de saúde. Assim a definição da WHO de “cuidados
integrados centrados nas pessoas” caracteriza-se por
uma abordagem à reorganização da prestação de cuidados
que incorpore as perspetivas do individuo, dos
cuidadores informais, da família e da comunidade que
os envolve, enquanto participantes e beneficiários de
sistemas de saúde confiáveis, que são organizados
de acordo com as verdadeiras necessidades das pessoas
(e não para a doença em particular) e respeitam
as suas preferências.
Em 2016 a Organização Mundial da Saúde preconizou
o European Framework for Action on Integrated
Health Services Delivery (EFFA IHSD). No seu entender,
como se posiciona Portugal no seio europeu
face a estas orientações?
Daquilo que temos conhecimento, a OMS pretende
replicar por todo o espaço europeu as experiências }
26
27
GH entrevista
de Integração de Cuidados que são casos de sucesso
nalguns países. Nesta iniciativa, Portugal integrou o
projeto dos “Internamentos Evitáveis”.
Este trabalho decorreu com a coordenação da Escola
Nacional de Saúde Pública e com a colaboração de
um grupo de trabalho multidisciplinar de profissionais
da área hospitalar e dos CSP , do qual resultou a elaboração
de um conjunto de Recomendações para
as “Ambulatory Care Sensitive Conditions”, posteriormente
publicados para a área da Integração de
Cuidados de Saúde.
A este proposito, deixe-me salientar o alinhamento
entre as iniciativas que entretanto foram implementadas
e estão a decorrer no terreno, nomeadamente
de “case management” e as orientações publicadas
nesse documento e subscritas sob a égide da OMS.
Nos EUA, prestadores como a Kaizer Permanente,
a Veterans Health Administration e a Bend Memorial
Clinic foram pioneiros na criação de programas de
integração de cuidados. Considera algum exemplo
internacional de integração de cuidados como um
modelo? Consegue vê-lo a ser adotado em Portugal?
A Kaiser Permanente é uma referência “permanente”
para quem trabalhar em Integração de Cuidados.
Pessoalmente, tenho uma grande admiração pela
transformação conseguida pela Veterans Health Administration.
Alguns de nós se recordarão que este
sistema de saúde (idêntico ao nosso ADM) esteve em
rutura financeira e para ser privatizado. Foi durante
a administração Obama que sofreu uma mudança de
estratégia na prestação de cuidados que permitiu que
hoje seja um caso de sucesso, assumindo-se como
“the largest integrated health care system in the United
States”. A grande mudança assentou em: integração
de cuidados (com cuidados de proximidade),
“case management”, telesaúde (incluindo a telemonitorização)
e sistemas de informação robustos.
Certamente que o nosso sistema de Assistência na
Doença aos Militares já estudou este caso de sucesso.
Mas como modelo para nós basta olhar para o lado.
Qualquer região de Espanha tem o seu Programa de
Integração de Cuidados. Os mais conhecidos e citados
internacionalmente são os da Catalunha e País
Basco, mas Valência integrou um projeto europeu do
ICARE4U, a Galiza teve novos desenvolvimentos, etc.
Qualquer destes programas são adaptáveis para a nossa
realidade, visto que a organização de base do sistema
de saúde espanhol é muito idêntica à nossa.
Que vantagens imediatas considera que esse modelo
de integração de cuidados traria efetivamente
para o doente e para o SNS? E quais são as principais
barreiras para uma adoção desse modelo?
O SNS (e todos os sistemas de saúde) tem enfrentado
um aumento da procura, relacionado com a evolução
da medicina, as expetativas dos utentes e o envelhecimento
da população, com consequente aumento
progressivo dos custos, pondo em causa a sua
sustentabilidade. Os modelos de integração de cuidados
centrados nas pessoas, devem ser entendidos como
um meio e não um fim em si, para a gestão destes
problemas. A literatura internacional, nomeadamente
a WHO classifica os benefícios dos modelos
de cuidados integrados em 3 grandes grupos:
• Melhoria dos resultados em saúde: a coordenação
holística da prestação de cuidados já provou ser mais
efetiva, por exemplo na gestão das doenças crónicas,
porque melhora a qualidade de vida dos doentes e famílias,
assegura a melhoria no acesso aos cuidados,
reduz hospitalizações e reinternamentos desnecessários
e melhora a aderência aos tratamentos.
• Melhoria na equidade: na medida em que promove
o uso dos vários tipos de serviços, baseados nas verdadeiras
necessidades dos utentes ao longo do seu
percurso de vida. Desta forma contribuem para uma
melhor distribuição dos resultados em saúde, com impactos
a nível individual, mas também sociais e económicos
em geral.
• Custo-efetividade que resulta de uma melhor coordenação
dos recursos. Esta coordenação leva à redução
da duplicação de procedimentos e da sobre
utilização dos serviços à diminuição dos tempos de
espera e do desconforto dos doentes e famílias.
Quanto às barreiras para a integração de cuidados
centrados nas pessoas, sugiro a leitura de um artigo, de
2018, publicado no IJIC 1 , que faz uma revisão da literatura
e identifica vinte barreiras, arrumadas em seis
grupos: 1) as barreiras administrativas e de regulação
e neste contexto, o que acontece frequentemente
é regulação a mais, que impede a existência da flexibilidade
necessária para se implementarem soluções locais;
2) as barreiras relacionadas com o financiamento -
e todos sabemos que, por vezes, o financiamento dos
CSP, dos cuidados hospitalares e da Segurança Social
nem sempre estão alinhados. A criação das ULS
tentou ultrapassar este problema, com o financiamento
per capita, mas não deu o devido ênfase a outros
pontos críticos de sucesso como toda a reorganização
do trabalho e governação clínica. Mais recentemente
o Departamento de Contratualização da
ACSS lançou linhas de financiamento específicas - Os
Programas de Incentivos à Integração de Cuidados
(PIIC) - e integrou nos Contrato Programa indicadores
de incentivo a essa prática, essencialmente na área
das doenças crónicas, nomeadamente nos internamentos
evitáveis e Utilizadores Frequentes do SU.
Vamos acreditar que podem contribuir para derrubar
barreiras para a reorganização dos serviços.
Continuando a enumerar as barreiras para a integração
de cuidados, destacamos ainda: 3) as resultantes
da falta de coordenação quer intra, quer 4) inter
instituições, diretamente relacionadas com a cultura
organizacional tradicionalmente organizada em silos
e 5) as barreiras relacionadas com o modo como
prestamos os serviços e 6) a nossa prática clínica que
continuam ambos muito virados para uma resposta
reativa e episódica, focada na doença e sem incentivos
ao trabalho em equipa e à partilha de informação.
Não podemos esquecer ainda 7) a barreira dos Sistemas
de Informação. Estes refletem a forma atual de organização
dos serviços e portanto não facilitam a partilha
de informação e sem isso fica muito difícil a integração
de cuidados. Das experiências já publicadas
noutros países é fator critico de sucesso a existência
do Processo Clínico Eletrónico (único) do doente.
“
O SNS TEM ENFRENTADO
UM AUMENTO DA PROCURA,
RELACIONADO COM
A EVOLUÇÃO DA MEDICINA,
AS EXPETATIVAS DOS UTENTES
E O ENVELHECIMENTO
DA POPULAÇÃO.
E a nível nacional, que bons exemplos considera que
respondem a este desafio de prestação de cuidados?
No I Encontro Nacional de Integração de Cuidados
que realizámos em maio, recebemos 18 posters sobre
projetos em curso de norte a sul do país, na área
da integração de cuidados. Isto revela que, no terreno,
se sente a necessidade de promover a inte-
”
gração de cuidados. A ACSS também promoveu a
implementação de projetos nesta área, estando alguns
a funcionar. Mas para ser mais concreta destaco
a Unidade Local de Saúde de Matosinhos, a Unidade
Local de Saúde do Litoral Alentejano e o Centro
Hospitalar Lisboa Ocidental, em conjunto com
o ACES Lisboa Ocidental e Oeiras que, embora com
respostas diferentes de Gestão de Caso (case management),
têm no terreno programas de apoio ao
doente crónico complexo.
A Gestão de Caso consiste num processo colaborativo
de trabalho que permite a integração entre vários
níveis da prestação cuidados em torno das necessidades
do doente crónico, com multiborbilidades. É focado
no indivíduo e na família, baseado na comunidade
e pro-ativo. As componentes base destes programas
são: identificação proativa do caso, avaliação clínica, familiar,
social e cultural do doente, a avaliação do cuidador,
a elaboração de um Plano Individual de Cuidados
partilhado e negociado. Aposta muito na capacitação
do doente e cuidador e no ensino dos sinais de alerta
de modo a reduzir as descompensações próprias do
percurso das doenças crónicas. Outro ponto fulcral é
a coordenação entre os vários níveis de cuidados que
é feita por um elemento, o gestor de caso (case manager),
que nos projetos referidos é um enfermeiro
ou do hospital ou dos CSP e que é o pivot entre o
doente/cuidador e os serviços que necessita: de saúde
ou sociais, etc. ajudando-o a navegar no sistema.
Os resultados já publicados destes três programas, que }
28 29
GH entrevista
comparam o percurso dos doentes envolvidos um ano
antes e um ano depois da entrada no programa, são
muito semelhantes entre si e alinhados com a literatura
internacional. Apontam para uma redução da ordem
dos 50/60% de idas ao Serviço de Urgência, de uma
redução de cerca de 50% dos internamentos hospitalares,
de uma redução da demora média dos que têm
de ser internados, bem como de uma melhor adesão
à terapêutica e de satisfação expressa do doente e família.
A Unidade Local de Saude do Alto Minho tem
um programa de integração de cuidados na área dos
doentes com demências, que vale a pena seguir para
ver os resultados. Isto vem confirmar que, mantendo
os princípios base, e independentemente do modelo
de integração de cuidados que se adote, as soluções
têm de ser sempre encontradas localmente, tendo
em conta o público-alvo, os recursos e as lideranças
disponíveis e as parcerias que se conseguem fazer na
comunidade. Todas têm em comum uma mudança de
paradigma da resposta habitual dos serviços.
Considera que há uma área de integração de cuidados
que seja de urgente aplicação em Portugal?
Consideramos que a área prioritaria é a do Doente
Crónico Complexo, tendo em conta as alterações
demográficas existentes, cuja tendência é de agravamento,
e o peso que esse segmento da população
tem na (in)capacidade de resposta dos serviços,
desde a Saúde Pública, Cuidados de Saúde Primários,
Cuidados Hospitalares, Cuidados Continuados
e Cuidados Paliativos e naturalmente os custos que
acarretam para o SNS. Além disso, é uma área em
que a integração de cuidados já deu provas de que é
uma mais-valia, quer para os doentes e famílias, quer
para as instituições. Não podemos deixar de lamentar
a inexistência de ferramentas de Estratificação do
Risco populacional implementadas em Portugal. Só
será possível elaborar políticas quando se souber a
dimensão do problema. Mais uma vez, todas as regiões
espanholas que são referência internacional,
têm a sua população estratificada e é a partir desse
conhecimento que são elaborados os Planos de
Integração de Cuidados. Os projetos existentes em
Portugal tentaram ultrapassar esse problema, utilizando
um indicador: os utilizadores frequentes do SU
e nestes focaram-se nos doentes crónicos complexos.
Estes projetos deviam ter o apoio da Tutela para
escalarem, como aliás é a recomendação da Comissão
Europeia no documento Call for Action “United
towards Integrated Care”: ponto 3) “recognise the
meaningful impact of regional and local integrated
care iniciatives” e ponto 5) “invest in scaling-up successful
integrated care projects and methodologies
and support experience sharing on that matter”.
É atualmente Presidente da PAFIC (Portuguese Association
For Integrated Care), que organizou este ano
o I Encontro Nacional de Integração de Cuidados.
Pode partilhar com os leitores da RGH a missão
e os objetivos desta entidade?
A Portuguese Association for Integrated Care é uma
associação nacional sem fins lucrativos, constituída
por um conjunto multidisciplinar de investigadores,
administradores hospitalares, médicos, enfermeiros,
assistentes sociais, farmacêuticos e outros profissionais,
unidos pela convicção que a Integração de Cuidados
de Saúde é uma condição fundamental para
a melhoria da qualidade dos cuidados prestados, bem
como para a sustentabilidade do Sistema de Saúde.
Tem por missão contribuir para a promoção, divulgação,
implementação e desenvolvimento da Integração
de Cuidados em Portugal. Pretende posicionar-
-se como uma referência para as instituições de saúde,
valorizando o conhecimento e experiência dos seus
associados, sendo um elo de ligação com parceiros
nacionais e internacionais. Foi criada em 2014, mas a
atual direção só assumiu funções em Novembro de
2018, constituida por mim, pela Vera Almeida e Cátia
Gaspar. Vamos ter que substituir a Vera Almeida, por
entretanto ter assumido um cargo de dirigente na função
pública. Desafiámos o Carlos Russo, asssistente de
MGF do ACES Lisboa Ocidental-Oeiras que aceitou,
e temos a certeza que vai acrescentar valor à equipa.
Considera que existe neste momento vontade política
para a promoção e implementação de um “Programa
Nacional de Integração de Cuidados”?
Consideramos que as várias tutelas, ao longo do
tempo têm intervido na área da integração de cuidados.
Vejamos alguns exemplos: a criação das ULS, da
RNCCI, a afetação de Fundos Comunitários a Programas
de Integração de Cuidados, a inclusão nos Contrato
Programa de linhas de financiamento e de indicadores
de incentivo à integração de cuidados, o Sistema
Integrado de Gestão do Acesso (SIGA), o SNS+
Proximidade, a Hospitalização Domiciliária, etc. Portanto,
não podemos dizer que as várias tutelas não
pensaram na integração de cuidados. O que pessoalmente
acho (e esta é mesmo uma opinião pessoal),
é que se fizeram várias medidas pouco enquadradas.
São como peças de um puzzle, mas falta a esquadria
para as peças encaixarem, falta mesmo um Plano Nacional
de Integração de Cuidados.
A Direção da PAFIC teve contactos com os dois Secretários
de Estado. O Secretáriode Estado Adjunto
e da Saúde deu-nos a honra de encerrar o nosso I Encontro
Nacional, e a Secretária de Estado teve a gentileza
de nos receber. A perceção com que ficámos
é que ambos estão cientes da importância da Integração
de Cuidados como resposta aos desafios que
o país enfrenta. Concomitantemente também temos
a perceção que no terreno, quer as instituições quer
as sociedades científicas, estão a ficar cada vez mais
recetivas a uma mudança na organização da prestação
de cuidados, pois convidam-nos para reuniões
e procuram os profissionais que têm projetos a decorrer.
Portanto, consideramos que há condições
para que a Tutela avançe para um Plano Nacional de
Integração de Cuidados.
Como pode a PAFIC ajudar na definição desta
agenda política? No seu entender, estamos a falar
apenas do envolvimento do Ministério da Saúde, ou
considera fundamental o envolvimento de outros
atores e domínios políticos?
A PAFIC pretende ser um espaço agregador de vários
atores e domínios e fez questão que isso ficasse
bem expresso no I Encontro Nacional que se realizou
no passado mês de maio na Figueira da Foz. Tivemos
o Alto Patrocínio da Presidência da República, contámos
com a presença de Deputados de três partidos
politicos (PS, PSD e CDU) e de representantes da
ACSS e do Ministério da Saúde. Tivemos cerca de
180 participantes, naturalmente que a maioria foram
profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos
de diagnóstico, farmacêuticos, administradores hospitalares,
etc, de norte a sul do país, bem como de representantes
de sociedades científicas e da academia.
Mas também esteve a sociedade civil com a presença
de utentes do SNS, de associações sem fins lucrativos
de apoio a doentes e cuidadores e de representantes
das autarquias, a quem foi dado espaço para exprimirem
as suas posições. A PAFIC tem parcerias com
a Escola Nacional de Saúde Pública, com a Associação
Portuguesa de Administradores Hospitalares e com
o Fórum Saúde XXI. Pretende assim posicionar-se
como um elo entre os vários setores intervenientes
numa resposta coordenada à Integração de Cuidados
centrados nas pessoas.
Por último, como considera que os administradores
hospitalares podem contribuir para que a integração
de cuidados se torne uma realidade nas
unidades de saúde portuguesas?
Os administradores hospitalares enquanto gestores
e elementos das equipas de saúde, são fundamentais
para a conceção, implementação e monitorização de
Programas de Integração de Cuidados. O papel que
atualmente assumem nas instituições de saúde, quer na
gestão intermédia, quer na gestão de topo, coloca-os
numa posição priveligiada para poderem ser agentes
de mudança. Podem e devem ser facilitadores, apoiando
as equipas que queiram começar novos projetos,
quer do ponto de vista teórico, quer do ponto de vista
prático, encontrando soluções no terreno que alavanquem
e consolidem projetos que integrem os diferentes
niveis de cuidados. E têm ainda o papel de catalisadores,
fomentando a integração de cuidados, mesmo
em ambientes mais adversos. Por último, a APAH tem
tido um papel muito importante na disseminação do
conceito de Integração de Cuidados, enquadrando-o
nos seus eventos e publicações. Ã
1. Auschra, C., Barriers to the Integration of Care in Inter-Organisational
Settings: a Literature Review. International Journal of Integrated Care,
2018;18(1):5.1-14.
30 31
GH Cuidados centrados no doente
OTIMIZAÇÃO DA GESTÃO
Hospital Vila Franca de Xira
SEGURA ENTRE O HOSPITAL
VILA FRANCA DE XIRA,
O ACES ESTUÁRIO DO TEJO
E AS ESCOLAS
Contacto
telefónico escola
Sim
Episódio inaugural
ACES
1º contacto mail
ACES
define
enfermeiro
responsável
Médico
de família?
Não
Follow up dia
seguinte.
Enf. consulta/
internamento
Na alta
hospitalar
Agudização
Nota alta
enviada
por mail
para o ACES
Consulta
Enviar informação ACES:
• Falta de comparência
• Hemoglobina glicada
• Autonomia da família
• Ajuste terapêutico
• Outros
Patrícia Nascimento
Enfermeira Chefe de Pediatria
do Hospital Vila Franca de Xira
A
Diabetes tipo 1 é uma das doenças
crónicas mais frequentes em crianças
e jovens em idade escolar. A capacitação
da família/cuidador é um
fator preponderante no sucesso do
controlo metabólico, sendo por isso necessário formar
e capacitar equipas multiprofissionais e intensificar programas
de educação na gestão do regime terapêutico.
O Programa Nacional de Controlo da Diabetes é um
dos mais antigos programas nacionais de saúde pública.
A Diabetes tipo 1 nas crianças e nos jovens em Portugal
(Registo DOCE) atingia, em 2015, 3.327 indivíduos
com idades entre 0-19 anos, o que corresponde a
0,16% da população portuguesa neste escalão etário.
A sua incidência tem aumentado cerca de 3% por ano
(Orientação da DGS n.º 003/2012 de 18/01/2012).
Sendo uma das doenças crónicas com maior prevalência
em idade escolar, a coordenação entre os diferentes
níveis de cuidados de saúde configura-se essencial
para a melhoria de todos os processos de assistência
e acompanhamento. A educação para a saúde e para a
autogestão da doença, providenciada por uma equipa
multidisciplinar, altamente diferenciada, permite elevados
padrões de qualidade nos cuidados, melhoria dos
indicadores clínicos e laboratoriais, bem como diminuição
da morbimortalidade.
A criança é um indivíduo vulnerável e dependente de
cuidados prestados por terceiros. Numa transição de
saúde-doença, ou no âmbito da continuidade de cuidados,
esta faixa etária necessita de cuidados de enfermagem
articulados entre si, de modo a conferir à criança
e família cuidados de qualidade. Este projeto surge da
necessidade de melhoria da articulação entre o ACES
Estuário do Tejo (ACES ET) e o Hospital Vila Franca
de Xira (HVFX), auxiliando as famílias e cuidadores de
crianças e jovens com DM inaugural na gestão das suas
dúvidas e preocupações, bem como assegurando uma
continuidade de cuidados. Permite ainda assegurar uma
maior vigilância e mais fácil notificação de situações de
risco e vulnerabilidade infantojuvenil, que careçam de
intervenção imediata.
Em 2016, integrado num projeto transversal ao hospital
sobre transição segura hospital/comunidade, decidiu
a equipa responsável pela saúde infantil e juvenil,
desenvolver o projeto no âmbito da diabetes infantil.
A consulta de diabetes infantil, com cerca de dois anos
de existência, assumia grande potencialidade de desenvolvimento,
contando já com uma equipa multidisciplinar
dedicada (pediatra, enfermeira, assistente social,
psicóloga e dietista). Desta forma, seria possível colocar
em prática as orientações do Programa Nacional para
a Diabetes: participar em projetos/programas de prevenção
da doença e promoção da saúde; promover as
boas práticas no tratamento da Diabetes Mellitus; reduzir
a mortalidade prematura por diabetes ≤ 70 anos;
reduzir as hospitalizações por complicações da diabetes
Enf.
Unidade
Contacto Enf.
Unidade Cuidados
Comunidade
Figura1: Fluxograma de referenciação.
Enf. Chefe atribui
gestor de caso
Contacto pais
durante
internamento
e diminuir o número de amputações major por pé diabético
(DGS, 2017).
A Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, em parceria
com o HVFX e ACES ET, formou os profissionais
sobre transição segura e metodologia de projeto, garantindo
assim o apoio na elaboração dos fluxogramas
de referenciação e elaboração de indicadores de processo
e resultados.
Sempre que uma criança/jovem é admitida no Hospital
Vila Franca de Xira, com um episódio inaugural de Diabetes
tipo I, é efetuada uma avaliação das necessidades
individuais da criança/família. A enfermeira da consulta
externa de pediatria, que passa a ser o profissional de
referência neste processo, efetua a referenciação para o
Centro de Saúde onde a criança está inscrita e o ACES
Estuário do Tejo, na ausência de um enfermeiro de família,
define um gestor de caso. É também efetuado o
contacto com o diretor de turma/instituição escolar,
para que a escola se possa preparar para o regresso da
criança à comunidade.
Durante o internamento é dada continuidade à capacitação
da criança/cuidador com formação contínua e
Informação de retorno
do acompanhamento em
Cuidados de Saúde Primários
treino, visando a auto capacitação das famílias e jovens.
Nesta altura, é realizada a reavaliação das necessidades
de formação, através de um questionário específico de
auto perceção e disponibilizada informação escrita.
Ainda durante o internamento, o ACES ET efetua o primeiro
contacto com a família e prepara o contexto escolar
para o regresso da criança à comunidade.
No momento da alta hospitalar, é efetuada a reavaliação
das necessidades formativas e encaminhamento
para o centro de saúde, através da carta de alta médica,
de enfermagem e impresso de educação terapêutica.
Foi elaborada uma lista de enfermeiros de referência
do ACES ET, por unidade de saúde, de forma a garantir
a eficácia da comunicação. A enfermeira de referência
(da consulta externa) realiza o follow up telefónico no
dia seguinte à alta hospitalar.
Em cada consulta de vigilância de saúde, o plano terapêutico
e os conhecimentos e dúvidas da criança/família
são revistos pelo pediatra e nutricionista, sendo referenciado
para áreas de especialidade quando necessário,
nomeadamente para psicologia ou oftalmologia.
Sempre que a criança/jovem vem à consulta é feita a }
32 33
GH Cuidados centrados no doente
Nº de crianças com diagnóstico de diabetes 15
mellitus tipo I
Nº de crianças referenciadas aos Cuidados 15
de Saúde Primários
Tempo médio de resposta da equipa 48h
dos Cuidados de Saúde Primários
após referenciação
Nº de crianças com plano de saúde 15
individual elaborado
Nº de reinternamentos por agudização 5
Hiperglicemia/HbA1c elevada
Nº de reinternamentos por agudização 1
Hipoglicémia
Nº de crianças referenciadas ao HVFX 1
por descontrolo metabólico
Nº de crianças com hemoglobina Glicada 7
entre 6,5 e 7,5
Taxa de adesão à consulta hospitalar 92,8%
Nº de crianças com parentalidade
9
comprometida
Nº de formações para a equipa de saúde 5
(ACES + HVFX)
Nº de documentos divulgados 10
Nº de crianças com diabetes com adesão 14
ao regime terapêutico eficaz
Nº de cuidadores com ganhos
15
de conhecimento
Nº de crianças/jovens com ganhos
15
de conhecimento
Tabela 1: Resultados dos indicadores de avaliação.
revisão dos conhecimentos da criança/família, do plano
terapêutico individualizado pela pediatra e nutricionista
e elaborado o encaminhamento para as áreas da especialidade
(psicologia, oftalmologia).
O canal de comunicação torna-se, assim, permanente
entre a enfermeira responsável pela consulta, as crianças/jovens/famílias
e os enfermeiros gestores de caso.
Estão inseridas no projeto todas as crianças seguidas na
consulta de diabetes infantil do Hospital Vila Franca de
Xira. São referenciadas para os cuidados de saúde primários,
todas as crianças admitidas no serviço de urgência
por diabetes inaugural, mesmo que venham a ser seguidas
noutras instituições hospitalares ou associações.
Com a implementação deste fluxograma pretende-se:
• A melhoria significativa da relação e canais de comunicação
entre Hospital Vila Franca de Xira/ACES ET/
/agrupamentos escolares;
• A capacitação dos familiares cuidadores e profissionais
da rede escolar;
• O aumento da adesão ao regime terapêutico;
• A diminuição de reinternamentos por descompensação
metabólica;
• Melhor controlo metabólico com consequente redução
das complicações tardias;
• A formação contínua dos profissionais envolvidos no
projeto.
São realizadas formações anuais conjuntas de forma a
manter as equipas atualizadas, a uniformizar procedimentos
e linguagem.
O grupo de trabalho reúne semestralmente para avaliar
as atividades desenvolvidas e implementar medidas de
melhoria contínua.
Em 2017, por proposta da UCFD, foi lançado um concurso
para a elaboração da mascote da consulta de diabetes
aos grupos escolares da área de influência do hospital
e assim nasceu o “Herói Diabete”. Foram também
efetuadas campanhas de sensibilização para hábitos de
vida saudáveis junto da comunidade, no Dia Mundial da
Saúde e também no Dia da Criança, em parceria com
a autarquia local. Ainda neste ano, o projeto venceu o
prémio Missão Sorriso do Continente, o que permitiu
adquirir e distribuir às crianças envolvidas sensores de
avaliação contínua da glicemia numa altura em que estes
ainda não eram comparticipados.
No primeiro semestre de 2018, foi aplicado um questionário
de satisfação aos cuidadores, de onde emergiu
a necessidade de melhorar o acompanhamento nas
consultas de psicologia e a articulação com as escolas.
Foram bastante valorizadas as dimensões sobre o apoio
prestado no internamento e na consulta.
De forma a dar resposta a estas necessidades, foi criado
um grupo terapêutico multidisciplinar, com sessões quinzenais
para oito adolescentes entre os 12 e os 16 anos.
Pretende-se ainda otimizar o projeto, desenvolvendo as
seguintes atividades:
• Elaborar a revisão dos protocolos clínicos e compilar
um manual de boas práticas;
• Elaborar um projeto de transição para a consulta
de adultos, com consultas médicas e de enfermagem
conjuntas, uma vez que este ano temos o 1º jovem a
completar 18 anos;
• Reforçar a referenciação existente para a UCC com o
preenchimento do anexo 5 do Programa Nacional de
Saúde Escolar, aquando do episódio inaugural;
• Intensificar o contacto precoce com a escola/família/criança;
• Garantir que 100% das crianças/jovens dos 0 aos
17 anos sejam acompanhadas no âmbito da Saúde
Escolar UCC;
• Garantir que 100% das crianças/jovens dos 0 aos 17
anos tenham PSI elaborado;
• Implementar monitorização semestral através dos sistemas
de informação, articulada com novos episódios.
O desenvolvimento deste projeto permitiu, conforme
estratégia definida para o SNS, colocar o doente
e o cuidador no centro dos cuidados de saúde, desenvolveu
a articulação entre o Hospital Vila Franca
de Xira e o ACES ET, facilitando o acesso aos cuidados
de saúde prestados por ambas as partes. Exigiu a
reorganização dos serviços, com clarificação das responsabilidades,
otimizando os circuitos e criando um
processo mais eficiente e ajustado às necessidades
individuais de cada família.
O projeto permite, na sua totalidade, a replicabilidade
noutras unidades de saúde, uma vez que exige baixos
custos de investimento e que os recursos necessários
à sua implementação são fundamentalmente recursos
humanos já existentes nas instituições. Ã
Diabetes: Factos e Números - O Ano de 2014 - Relatório Anual do Observatório
Nacional da Diabetes 11/2015.
Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Controlo da Diabetes.
https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes.aspx
Direção-Geral da Saúde. Orientação Conjunta Nº006/2016, de 23/11/2016.
Orientação Conjunta da DGS e da Direção-Geral da Educação sobre crianças
e jovens com Diabetes Mellitus Tipo 1 na Escola .
http://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes/circulares
Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Diabetes 2017.
34
GH Segurança do doente
SEGURANÇA DO DOENTE:
EVENTOS ADVERSOS
RELACIONADOS COM O
MEDICAMENTO EM CONTEXTO
INTRA HOSPITALAR
Mavilde Vitorino
Centro Hospitalar
de Lisboa Ocidental
Paulo Sousa
Escola Nacional de Saúde Pública,
Universidade Nova de Lisboa
Pedro Aguiar
Centro de Investigação
em Saúde Publica
A
segurança do doente é um enorme
problema de saúde pública global.
Anualmente estima-se que o risco
de morrer devido a um acidente
clínico evitável, ao receber cuidados
de saúde, seja muito superior que morrer devido
a um acidente de avião (1 em 300 vs 1 em 3 milhões).
No entanto, as indústrias que identificam alto risco de
morte, como a aviação, apresentam sistemas de segurança
mais efetivos que as instituições de saúde 1 .
Para sensibilizar para esta problemática a Organização
Mundial de Saúde (OMS) em 2019 definiu o dia 17
de Setembro como o dia internacional da segurança
do doente e publicou o documento Patient safety fact
file em que alerta para as dez principais causas responsáveis
pela morte e incapacidade de milhões de
doentes na prestação de cuidados de saúde.
A OMS neste documento continua a identificar unsafe
medication practices and errors (dosagens ou perfusões
incorretas, indicações pouco claras, uso de abreviaturas
e prescrições incorretas) como uma das principais
causas de danos evitáveis nos sistemas de saúde ao ní-
vel mundial. Os eventos adversos relacionados com
o medicamento (EArMs) podem surgir devido a falha
no sistema de medicação e/ou fatores humanos como
cansaço, condições de trabalho inadequadas ou
escassez de pessoal que afetam as práticas no circuito
do medicamento (prescrição, armazenamento, preparação,
dispensa, administração e monitorização) 1 .
O EArM é uma lesão nociva e involuntária resultante
da utilização de um medicamento e que ocorre em
doses usadas no doente para profilaxia, diagnóstico,
terapia ou modificação de funções fisiológicas 2 . Nesta
definição está incluída a reação adversa ao medicamento
(RAM) e a intoxicação acidental por medicamentos
(IAM), desde que resultem em lesão.
A ocorrência destes eventos, para além de terem um
impacto significativo na mortalidade e morbilidade, estão
também associados a um aumento dos custos em
saúde 3,4 . Ao nível mundial os custos anuais foram estimados
em 42 biliões de dólares 5 . Em resposta a este
grave problema de saúde pública a OMS em 2017
definiu Medication Without Harm como o terceiro desafio
global na segurança do doente, com o objetivo
de reduzir em 50% os danos evitáveis relacionados
com a medicação até 2022 6 .
Estudos internacionais evidenciam que entre 21.3%
a 0.7% dos doentes hospitalizados apresentam EAr-
Ms 7-10 . Em Portugal a evidência existente também
aponta para uma elevada taxa de EArMs em hospitais.
No estudo elaborado em 2018 por Sousa et al. em
nove centros hospitalares públicos de cuidados agudos,
utilizando a metodologia de revisão do processo
clínico, identificaram uma incidência de 12.5% de
eventos adversos, dos quais 9.8% associados a erros
de medicamentos 11 . De acordo com outros estudos
realizados nos hospitais públicos portugueses, utilizando
informação de tipo administrativo, 1.46% e 1.88%
dos doentes internados apresentaram pelo menos um
EArM 12,13 .
Face aos estudos mencionados anteriormente constatamos
que apresentaram uma elevada frequência
de EArMs mas com significativa heterogeneidade. Esta
diferença de resultados pode estar associada com
a heterogeneidade da população em estudo, definição
de EArM utilizada e metodologia de avaliação 9 .
A metodologia de avaliação da frequência de EArMs
tem sido apurada com o recurso a uma diversidade
de fontes de dados incluindo a revisão de processos
clínicos, a observação direta, os sistemas de notificação
de incidentes, os sistemas baseados em dados administrativos,
entre outros 15 . Estudos realizados com
recurso aos dados administrativos apresentaram taxas
mais elevadas de EArMs comparativamente aos sistemas
notificação espontânea de incidentes e mais baixas
relativamente à revisão do processo clínico 9,13,15,16 .
A utilização de dados administrativos com base na
International Classification of Diseases (ICD) como
suporte para monitorizar os eventos adversos que
ocorrem durante o internamento hospitalar (intra-
-hospitalares), tem vindo a ganhar relevância na última
década pelo facto de requererem menos recursos
- económicos, humanos, entre outros - e estarem
prontamente disponíveis 17 .
No entanto, a análise dos eventos adversos, através
dos dados administrativos, pode detetar eventos que
ocorreram antes da admissão hospitalar. A aplicação
da codificação com “presente na admissão” (PNA) }
36 37
GH Segurança do doente
possibilitou uma análise mais fidedigna dos eventos
adversos ocorridos na fase intra-hospitalar, na medida
em nos permite diferenciar os eventos presentes na
data de admissão hospitalar com dos que foram adquiridos
durante o internamento hospitalar.
Os estudos realizados em Portugal, de âmbito nacional,
com base em dados administrativos ainda não
contemplavam o indicador PNA. Face a esta realidade,
optamos por realizar um estudo com base em
dados administrativos, com o objetivo de analisar os
EArM que ocorreram no contexto intra-hospitalar
Português, a sua associação com a mortalidade e a duração
de internamento, no triénio 2013-2015, com a
aplicação do indicador PNA.
Eventos adversos relacionados com o medicamento
em contexto intra-hospitalar português. Uma análise
com base em dados administrativos
Realizamos um estudo observacional retrospetivo recorrendo
à base de dados de morbilidade hospitalar
(BDMH). Esta base de dados agrega informação de
todos os episódios de internamento e de ambulatório
realizados nos hospitais do SNS, codificados de
acordo com International Classification of Diseases, 9 th
Revision, Clinical Modification (ICD-9-CM). A população
foi constituída por todos os episódios de internamento
em hospitais do SNS de Portugal continental
no período de 01/01/2013 a 31/12/2015. A razão pela
seleção deste período prendeu-se com o facto de o
indicador PNA apenas ter sido introduzido em 2013
na codificação clínica da BDMH e na data de realização
deste estudo ainda existirem dados definitivos
disponíveis posteriores a 2015.
Os códigos que selecionamos para identificar os
EArM intra-hospitalares foram:
Categorias
EArM
Intoxicação acidental
do medicamento (IAM)
Reação adversa
do medicamento (RAM)
Códigos
ICD-9-CM
E850-
858.9
E930-
949.9
Nº de
códigos
50
171
Aplicamos a variável codificada PNA para diferenciar
os EArMs que já estavam presentes no momento da
admissão hospitalar dos que foram adquiridos durante
o internamento hospitalar.
A análise estatística foi efetuada em duas fases. Numa
primeira fase, com a população total em estudo, identificamos
os episódios com pelo menos um EArM
intra-hospitalar (EArM-I). Posteriormente, calculamos
a frequência de EArMs-I associados à IAM e à RAM
e identificamos as classes de medicamentos mais
frequentemente associadas a estes eventos. Numa
segunda fase, comparamos os episódios com EArMs-
-I e uma amostra randomizada de igual número de
episódios sem esse registo de eventos, relativamente
às caraterísticas da população, mortalidade (regressão
logística) e dias de internamento (regressão linear).
Inicialmente foi feita uma análise bivariada com as variáveis
idade, género, tipo de admissão (urgente vs
programada), tipo de tratamento (cirúrgico vs médico),
seis diagnósticos principais mais frequentes nos
episódios com EArM-I, número de diagnósticos secundários
e número de dias de internamento. As variáveis
estatisticamente significativas (p
GH Segurança do doente
“
OS ADMINISTRADORES
HOSPITALARES DESEMPENHAM
UM PAPEL FULCRAL
NA INTRODUÇÃO
DE UMA NOVA CULTURA
ORGANIZACIONAL DADO
QUE DEVEM SER DETENTORES
DE UMA ELEVADA LITERACIA
EM SEGURANÇA DO DOENTE.
”
estudos realizados identificaram uma elevada frequência
de EArMs com um impacto significativo na
morbilidade, mortalidade e custos em saúde.
Em resposta a este desiderato têm sido emanadas ao
longo das últimas décadas diferentes estratégias para
reduzir os EArMs, desenvolvidas por instituições de
âmbito internacional e nacional: por exemplo, sabemos
da publicação de nova legislação, do lançamento
de novos desafios junto dos diferentes intervenientes
do setor da saúde, o desenvolvimento de novos
projetos e programas que englobam o uso de novas
tecnologias, da formação específica e da utilização de
novas práticas profissionais. Apesar das múltiplas estratégias
implementadas nas últimas décadas verificamos
que, globalmente, não se tem obtido o sucesso
pretendido, continuando os EArMs a ser considerados
um problema de saúde pública pelas suas repercussões
avassaladoras quer ao nível dos doentes
quer ao nível dos sistemas de saúde 1 . Termos bem
presente a noção de que nem todos os eventos identificados
podem ser evitados mas sabemos que a sua
frequência pode ser reduzida. Por exemplo, segundo
a OMS existem intervenções específicas destinadas
a corrigir potenciais fontes de erro. Destas salientamos
a melhoria dos processos organizacionais internos,
o uso das diferentes tecnologias e a construção/
reforço de uma cultura organizacional mais segura,
transparente e justa 1,6 .
Apesar da cultura de segurança ser considerada um
dos fatores chave para reduzir os eventos adversos
(medicamentoso ou outro), verificamos que esta
ainda não está enraizada nos diferentes e complexos
desempenhos da atividade clínica. Para corroborar
esta afirmação referimos os resultados da avaliação
realizada pela DGS 18 , desenvolvida em 55 unidades
hospitalares em Portugal no ano de 2014. Decorrente
da sua leitura reforçamos a nossa convicção de que
os profissionais de saúde e as instituições ainda não
consideram a cultura de segurança do doente uma
prioridade e a cultura de notificação e aprendizagem
dos hospitais é fraca. Ainda sobre este ponto Faria 19
refere que a “construção de uma verdadeira cultura
de segurança não depende apenas da existência de
um quadro legal adequado, mas de um esforço de
natureza multidisciplinar e da criação de um ambiente
de não-culpabilização dos profissionais de saúde, pois
o risco é inerente ao sector de cuidados de saúde,
subsistindo mesmo perante um pleno cumprimento
das leges artis e das normas de segurança”.
Para a prossecução desta cultura organizacional de
segurança requerem-se mudanças estruturais no seio
das organizações de saúde. Para que possam existir
ruturas com o status quo instalado nas organizações
de saúde entendemos que, antes de se definir a visão
e as novas estratégias da organização, se devem selecionar
em primeiro lugar as pessoas certas para os
lugares certos, ou seja, que estas reúnam as competências
certas - aptidões, conhecimentos e talento 21 .
Isto significa que não dão só respostas ao como fazer
mas, além destas, reúnem também competências individuais
inatas como, por exemplo, o empenho ou
motivação, o raciocínio crítico e a capacidade de relacionamento
que, integradas com as anteriores, permitem
levar à concretização dos objetivos traçados
pela organização 20 .
Segue-se posteriormente a definição da estratégia
a adotar, através do uso dos instrumentos de gestão
onde, de forma eficiente e eficaz, se pretende alocar
os recursos adequados, definir a cultura organizacional
pretendida, desenvolver os processos internos
e externos à organização e introduzir racionalmente
a tecnologia que responda aos objetivos inicialmente
traçados. Sem a assunção efetiva destes pressupostos
todos os outros processos de decisão são potencialmente
redundantes.
Sobre esta matéria sabemos que nas últimas décadas
a evidência nos tem demonstrado que os habituais
modelos utilizados suportados em ações gestionárias
fragmentadas não têm sido de todo eficazes para
redução dos EArMs intra-hospitalares e, consequentemente,
não têm permitido aumentar a segurança
do doente. Dado que as causas subjacentes às ocorrências
dos EArMs intra-hospitalares são de natureza
multifactorial, de uma forma geral, qualquer evento
adverso que atinge o doente não decorre apenas de
uma ação inapropriada de uma única pessoa, mas
sim de uma combinação de fatores que resultam da
falha do sistema. Uma vez mais a evidência apontanos
para a necessidade de se implementar processos
e procedimentos suportados num modelo holístico
olhando para o todo organizacional. Existe por isso
a convicção de que, ao introduzirmos uma cultura organizacional
sistémica, o número de profissionais adequado,
a cultura organizacional, os processos e a tecnologia
devem assumir o mesmo grau de importância,
devendo ser contemplados em simultâneo 6 .
Razões suficientes para se refletirmos sobre a premência
de se implementar uma nova abordagem holística
na redução dos EArMs intra-hospitalares. Dado
que existe a necessidade de se gerirem recursos de
forma eficiente e eficaz, quase sempre muito escassos,
depreendemos que este modelo integrado poderá
ser implementado, de uma forma faseada, através da
introdução de projetos/programas piloto. Uma estratégia
possível seria a de começar por selecionar os serviços
que apresentam um maior número de doentes
com caraterísticas de risco para a ocorrência de EAr-
Ms intra-hospitalares e de prescrições de classes de
medicamentos mais associadas a estes eventos.
De acordo com esta reflexão facilmente depreendemos
que os Administradores Hospitalares desempenham
um papel fulcral na introdução de uma nova
cultura organizacional dado que devem ser detentores
de uma elevada literacia em segurança do doente
permitindo-lhe contribuir decisivamente para a criação
de ambientes promotores de uma exigente cultura
de segurança. Atores fundamentais no sistema
de saúde os Administradores Hospitalares devem ter
uma forte e efetiva participação através da utilização
dos instrumentos poderosos de liderança onde a conjugação
e articulação entre os interesses da organização
interna e externa se apresentam como um desígnio
fundamental. Suportados nestes princípios de
liderança deverão implementar uma gestão integrada
competente que permita desenvolver e fortalecer
uma comunicação interna e externa eficaz, implementando
medidas que sejam entendidas pela maioria
como justas e equitativas, fomentando o trabalho }
MISTURADORA DE DUCHE
TERMOSTÁTICA H9769
A conceção única da nova misturadora de duche termostática
SECURITHERM H9769 torna impossível a intercomunicação
entre a Água Quente e Água Fria, reduzindo consideravelmente
o risco da proliferação bacteriana.
Controlo da proliferação bacteriana : conceção única sem
válvula antirretorno (intercomunicação AQ/AF impossível),
baixa capacidade de retenção de água, corpo com interior liso
SECURITHERM segurança anti-queimaduras : fecho imediato
em caso de corte de água fria, isolamento térmico, segurança
nos choques térmicos
Conforto : estabilidade da temperatura, regulação da temperatura
progressiva e reabertura com a mesma mistura
Tecnologia SECURITHERM
40
Mais informações em delabie.pt
GH Segurança do doente
“
O ESTUDO QUE REALIZÁMOS
APRESENTOU RESULTADOS
MUITO CONSISTENTES COM
AS DEZENAS DE TRABALHOS
PUBLICADOS NAS ÚLTIMAS
DÉCADAS. AS ESTRATÉGIAS
FORMULADAS PARA A REDUÇÃO
DOS EARMS PARECEM SER
CONSENSUAIS JUNTO
DOS PERITOS.
”
em equipa, implementando as boas práticas baseadas
na evidência, proporcionando formação profissional
integrada de todos os profissionais de saúde, o respetivo
reporting e todas as práticas que centralizem os
cuidados de saúde no doente.
Finalmente importa referir que o estudo que realizámos
sobre esta temática apresentou resultados muito
consistentes com as dezenas de trabalhos publicados
nas últimas décadas. Curiosamente as estratégias
formuladas para a redução dos EArMs parecem ser
consensuais junto dos peritos. Assim sendo o que falta
para fazermos diferente? O que falta fazer para se
justificar a adotação de boas práticas gestionárias que
venham possibilitar a implementação de uma política
eficaz de segurança dos doentes contribuindo dessa
forma para a redução de um número relevante de
EArMs intra-hospitalares? Como refere Fragata “Não
deixa de ser curioso o facto de as medidas tomadas
para reduzir os erros nos sistemas de saúde, como
o uso de diretrizes clínicas (guidelines) terapêuticas e
tantas outras iniciativas, aparentemente boas, não terem
conseguido ainda fazer da prestação de cuidados
de saúde uma atividade segura, eficiente, uniformemente
geradora de valor e satisfação” 21 . Ã
1. WHO. (2019). “Patient Safety Fact File”. Patient Safety and Risk Management
Service Delivery and Safety. Geneva: WHO.
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42
GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS
EFEITOS DA UTILIZAÇÃO
DAS TERAPÊUTICAS NÃO
CONVENCIONAIS E ANÁLISE
DA POSSÍVEL INTEGRAÇÃO
NO SERVIÇO NACIONAL
DE SAÚDE
Marta Bacelar
Administradora Hospitalar
A
escassez de recursos (Barros,
2017), o aumento da prevalência
das doenças crónicas (Direção
Geral da Saúde, 2015), o envelhecimento
da população (o índice de
envelhecimento em 1961 era de 27,5% e em 2015
era de 143,9% (Pordata, 2016)) e o consequente incremento
das despesas em saúde (a despesa total
per capita em 1961 foi de 34,2€ e em 2015 foi de
923,8€ (Pordata, 2017)), afiguram-se como fatores
de pressão à sustentabilidade do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) Português.
Os hospitais, como parte do sistema de saúde, devem
concentrar-se em melhorar os resultados de
saúde e, simultaneamente, responder às expectativas
dos cidadãos (European Observatory on Health
Care Systems, 2002). Impõe-se, assim, a necessidade
da sua constante adaptação e a definição de novas
estratégias para ultrapassar estes e outros desafios.
É neste contexto, e na perspetiva de mudança do
paradigma atual do SNS, que surgiu o estudo: “Efeitos
da utilização das Terapêuticas Não Convencionais
(TNC) e análise da possível integração no Serviço
Nacional de Saúde”.
Em Portugal, as TNC estão definidas como “Terapêuticas
que partem de uma base filosófica diferente
da medicina convencional e aplicam processos específicos
de diagnóstico e terapêuticas próprias”. Em
2003, foram inicialmente reconhecidas seis TNC:
a Acupuntura, Fitoterapia, Homeopatia, Naturopatia,
Osteopatia e Quiropráxia (Lei n.o 45/2003), tendo
sido, em 2013, acrescida a Medicina Tradicional Chinesa
(Lei n.o 71/2013).
As TNC podem assumir um papel preponderante
na prevenção e na consequente redução dos custos
com o tratamento (Sierpina e Dalen, 2013). A introdução
das TNC no SNS Português poderá ser um
caminho para diminuir os custos de utilização de serviços
de saúde e proporcionar formas complementares
de tratamento. Efetivamente, existem TNC que
têm demonstrado um potencial para reduzir a intensidade
dos sintomas do cancro, melhorando o bem-
-estar do doente, em que a grande maioria utiliza
uma abordagem não farmacológica e que tem potencial
de implementação, sendo ainda necessária, no
entanto, mais investigação (Witt e Cardoso, 2016).
Nas últimas décadas, a utilização das TNC a nível europeu
tem vindo a aumentar, registando-se que mais
de 70% dos cidadãos utilizam-nas ou já as utilizaram
(Nissen et al., 2012). De facto, os cidadãos europeus
utilizam as TNC para o tratamento de doenças
crónicas (osteoarticulares, alérgicas, tratamento da dor,
etc.), mas também para a promoção e manutenção
da saúde, uma vez que tem aumentado a literacia em
saúde, e consequentemente aumentado o self-empowerment,
autocuidado e prevenção de doenças
(Fischer et al., 2014).
Enquadramento
A OMS defende no documento “Estratégia para
a Medicina Tradicional 2014-2023” (World Health
Organization, 2013) como estratégico apoiar os estados
membros a:
1. Aproveitar o contributo potencial das TNC para
a saúde, bem-estar e prestação dos cuidados de saúde
centrados na pessoa e cobertura universal;
2. Promover uma utilização segura e eficaz das TNC
através da regulamentação, investigação e integração
de produtos, práticas e profissionais de TNC no sistema
de saúde.
Muitos países já reconhecem a necessidade de desenvolver
uma abordagem coesa e integradora de
cuidados de saúde que permita aos governos, profissionais
de saúde e a todos os que utilizam os serviços
de saúde terem acesso às TNC de forma segura,
respeitosa, custo-eficiente e eficaz.
As doenças crónicas e os custos em saúde continuam
a aumentar a nível mundial. O aumento previsto
da carga global das doenças crónicas é uma das
razões para o desenvolvimento e intensificação da }
44 45
GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS
“
O PRESENTE ESTUDO,
QUE ANALISOU A UTILIZAÇÃO
DAS TNC E A SUA POSSÍVEL
INTEGRAÇÃO NO SNS,
POSICIONA-SE COMO
UM NOVO TEMA NO ATUAL
PANORAMA DA GESTÃO
EM SAÚDE E DA ADMINISTRAÇÃO
HOSPITALAR.
”
utilização partilhada das TNC e da medicina convencional
(World Health Organization, 2014). De facto,
as TNC são utilizadas não só para tratar doenças,
especialmente doenças crónicas, mas também contribuem
para a prevenção, promoção e manutenção
da saúde, tendo já alguns governos comprovado que
são rentáveis (World Health Organization, 2013).
Também Stahl e al. defendem que as terapêuticas
do corpo e da mente têm potencial para reduzir,
substancialmente, a utilização dos cuidados de saúde
a custos relativamente baixos e podem ser utilizadas
como componentes chave no sistema de prestação
de cuidados de saúde (Stahl et al., 2015).
Esta evidência foi descrita numa revisão bibliográfica
que analisou 338 avaliações económicas sobre
as TNC, incluindo 114 avaliações completas, publicadas
entre 2001 e 2010, cujas fontes de dados foram
a PubMed, CINAHL, AMED, PsychInfo, Web of
Science and EMBASE. As análises de custo-utilidade
encontradas sobre as TNC foram de qualidade semelhante
ou superior às publicadas sobre medicina
convencional. Os estudos de maior qualidade indicam
um potencial de custo-efetividade e até mesmo
redução de custos em diversas TNC e populações
(Barnes et al., 2012).
Os EUA criaram, em 1988, o National Center for
Complementary and Integrative Health (NCCIH),
que é um dos National Institutes of Health (NIH),
pertencente ao US Departament of Health and Human
Services, cujo objetivo é “definir, através da investigação
científica rigorosa, a utilidade e segurança
das intervenções de saúde complementar e integrativa
e o seu papel na melhoria da prestação dos
cuidados.” Este Centro dispõe de um orçamento
de 124,1 milhões de dólares e tem 74 profissionais.
O NCCIH tem como objetivo estratégico determinar
o que é promissor, o que ajuda e porquê, o que
não funciona e o que é seguro (U.S. Department
of Health & Human Services. National Institutes of
Health. National Center for Complementary and Integrative
Health, 2015).
Em Portugal, um longo caminho tem sido percorrido
desde 2003, com o objetivo de garantir a utilização,
qualidade e segurança da utilização das TNC,
como preconizado pela OMS (World Health Organization,
2013).
Assiste-se, no entanto, à iniquidade no acesso às TNC
pelos cidadãos portugueses, pois, embora haja legislação
e de terem sido emitidas, pela ACSS, cédulas
profissionais aos terapeutas para poderem exercer as
TNC, ainda não é possível que todos os cidadãos tenham
acesso às TNC no SNS. Quem tem recursos financeiros
pode adquirir estes serviços no setor privado.
No entanto, quem tem somente acesso ao SNS,
vê-se confrontado com a disponibilização de apenas
algumas das sete TNC e em alguns hospitais, com a
agravante dos tempos de espera nos hospitais onde
existem estas valências (Jornal do Centro, 2016) e
(Diário de Notícias, 2015). Nos casos de tratamento
oncológico, que outras alternativas disponibilizam
atualmente os hospitais além da quimioterapia, radioterapia
e tratamentos farmacológicos? A possibilidade
de usufruírem de outras terapêuticas que não as convencionais
está praticamente negada aos utentes do
SNS, e nos casos em que é possível a sua disponibilização,
apenas é possível pelos profissionais médicos.
Objetivos
O presente estudo, que analisou a utilização das
TNC e a sua possível integração no SNS, posiciona-se
como um novo tema no atual panorama da
gestão em saúde e da Administração Hospitalar,
pretendendo ser uma mais-valia para esta área, em
particular, e para o SNS, em geral.
Metodologia
O presente estudo incidiu sobre uma amostra de utilizadores
dos dois espaços físicos da Associação Mama
Help: o Mama Help localizado no Porto e o Mama
Help/Saúde Estrutural localizado em Lisboa,
tendo sido distribuídos 100 questionários no total.
O Mama Help/Saúde Estrutural em Lisboa recebe
doentes em tratamento da Fundação Champalimaud,
de outras instituições privadas e alguns (raramente)
do setor público. O Mama Help no Porto recebe
também maioritariamente doentes de unidades
privadas de saúde, proporcionando tratamentos individualizados
e profissionalizados, centrados na pessoa,
e disponibilizando diversas TNC concentradas
num único espaço (Mama Help, 2015).
Foram distribuídos dois questionários (um criado para
o estudo e o SF12v2 ® ) aos utilizadores da Associação
Mama Help, 24 no Porto e 76 em Lisboa. O QualityMetric
Incorporated (EUA) foi contactado e disponibilizou
o questionário SF12v2 ® e a aplicação informática,
Scoring Software 5.0 , para o tratamento
dos dados a recolher. Foi assinado um protocolo de
utilização por ambas as partes. A análise estatística
dos dados foi realizada através do software SPSS ®
(Statistical Pachage for the Social Sciences), versão
24.0, Microsoft Office Excel ® 2016 e Scoring Software
5.0 .
Resultados
Constatou-se que 41% dos inquiridos tinha idade
compreendida entre os 18 e os 49 anos, 70% tinha
nível de habilitações literárias superiores e 74% era
do sexo feminino, o que corrobora a literatura analisada,
que carateriza os utilizadores das TNC como
sendo mais jovens, mais educados, de nível socioeconómico
mais elevado e mulheres.
As TNC mais utilizadas são a Osteopatia e a Acupuntura,
com 72% e 52% utilizadores, respetivamente,
sendo a razão mais frequente para essa escolha
o aumento da qualidade de vida, seguindo-se razões
do foro psicológico, designadamente, a redução da
ansiedade, stress e sintomas depressivos.
Verificou-se que 22% dos inquiridos assumiram a decisão
de utilizar as TNC, sem qualquer recomendação
de outrem e 67% decidiram utilizar as TNC sem
qualquer indicação de um profissional de saúde da
medicina convencional ou das TNC, indiciando uma
preponderância de self-empowerment e autocuidado
(Fischer et al., 2014), igualmente preconizado no relatório
“Um Futuro para a Saúde - todos temos um }
46
GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS
“
PRECONIZA-SE QUE SEJAM
TOMADAS TODAS
AS DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS
PARA QUE, A BREVE TRECHO,
AS TNC PASSEM A INTEGRAR,
EM PLENO, O SNS, DANDO
CONTINUIDADE AO
CAMINHO JÁ PERCORRIDO.
”
papel a desempenhar” (Crisp et al., 2014).
Na avaliação da utilização das TNC e o seu impacto no
bem-estar dos utilizadores, verificou-se que 96% dos
inquiridos se sente melhor e muito melhor e que nenhum
inquirido respondeu pior ou muito pior, o que
reflete uma inequívoca melhoria do bem-estar decorrente
da utilização das TNC e que consideram
que estas devem ser integradas no SNS.
Recomendações
1. Criação do Instituto Nacional das TNC
Dos dados recolhidos e analisados, verificou-se que
67% dos inquiridos escolheram utilizar as TNC por
sua própria vontade ou por recomendação de amigos
e familiares. No entanto, nem sempre é fácil ter acesso
a informação adequada, atualizada e com qualidade,
pois mesmo que exista a possibilidade de pesquisa livre,
é necessária uma orientação, sem a qual o problema
de saúde pode ser agravado, ao invés de mitigado.
Entende-se pertinente propor a criação de um Instituto
em Portugal específico para as TNC, à semelhança
do NCCIH nos E.U.A., sob a égide da Direção
Geral da Saúde, cuja missão seja a promoção da investigação
das TNC e o acompanhamento da sua utilização,
para garantir o máximo de segurança aos cidadãos,
evolução e inovação destas terapêuticas.
2. Inclusão de questões sobre as TNC no Inquérito
Nacional de Saúde
À semelhança dos E.U.A. que utilizam o National
Health Interview Survey (NHIS) e do Reino Unido
que utiliza o inquérito nacional Omnibus para estimarem
os níveis de utilização das TNC e a sua correlação
com dados socio-económicos, considera-se
que devem passar a ser integradas questões sobre
as TNC no “Inquérito Nacional de Saúde Português”,
cumprindo a “Estratégia para a Medicina Tradicional
2014-2023” da OMS que defende a criação do perfil
nacional das TNC em cada país.
Estes dados permitirão explorar a relação da utilização
das TNC com várias dimensões, como por exemplo
com os comportamentos de saúde, género, as diferenças
entre a medicina convencional em complementaridade
com as TNC e aqueles que utilizam apenas
as medicinas convencionais.
3. Reconhecimento das despesas com a utilização
das TNC como despesas de saúde
Atualmente, as despesas com a utilização das TNC
não são consideradas despesas de saúde e não podem
ser deduzidas em sede de IRS. Já o Parlamento
Europeu, na sua proposta de resolução de 1997, defendia
que não há liberdade de acesso ao tratamento
da escolha dos cidadãos se houver uma discriminação
ao nível do reembolso das despesas de TNC.
Conclusão
Considera-se que devem ser desenvolvidos mais estudos
sobre as TNC no SNS, que permitam não só
analisar outras dimensões, como a redução do consumo
de medicamentos, do recurso aos Meios Complementares
de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT),
da realização de intervenções cirúrgicas e outros cuidados
de saúde. Estes devem ser assumidos por um
Instituto em Portugal específico para as TNC a criar,
à semelhança do que verifica em 73 países da OMS,
cuja missão seja a promoção da investigação das TNC
e o acompanhamento da sua utilização, salvaguardando
a segurança dos cidadãos, bem como a evolução
e inovação destas terapêuticas
Atento o exposto, preconiza-se que sejam tomadas
todas as diligências necessárias para que, a breve trecho,
as TNC passem a integrar, em pleno, o SNS,
dando continuidade ao caminho já percorrido. Considerando
a evidência comprovada dos benefícios,
seja em melhorias terapêuticas, seja na redução de
custos, e dada a garantia verificada na qualidade e segurança
dos utentes, este estudo confirma que as TNC
constituem um fator preponderante num sistema de
saúde. A expetativa para esta integração visa, sobretudo,
uma melhoria significativa nos resultados obtidos
no tratamento dos utentes, na redução dos custos
em saúde e um incremento relevante na saúde,
bem-estar e satisfação da população. Ã
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48
GH Iniciativa APAH | Congresso eahm
APAH PROMOVE VISITA TÉCNICA
A HOSPITAIS BELGAS DE GESTORES
HOSPITALARES PORTUGUESES
NO ÂMBITO DO EAHM2019
Com o objetivo de promover a aquisição
e ganho de competências assim
como a disseminação de conhecimentos
e o desenvolvimento de parcerias
de colaboração, a Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares (APAH) promoveu
a participação de uma delegação de gestores
hospitalares portugueses ao 28.º Congresso da European
Association of Hospital Managers (EAHM).
A 28.ª edição do EAHM (EAHM2019) foi este ano
dedicada ao tema “Innovative Healthcare Strategies”
tendo a organização desde ano ficado a cargo da
Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/
ABDH). A APAH é um membro efetivo da EAHM,
associação que reúne 28 associações de gestores
hospitalares em 25 países europeus representando
mais de 16.000 profissionais de gestão em hospitais
públicos e privados na Europa. A APAH está igualmente
representada no Board, no Executive Committe
e na Sub-Comissão de Assuntos Europeus da EAHM.
No ano passado a APAH organizou em Cascais, de
26 a 28 de setembro, o 27.º Congresso da EAHM
(EAHM2018) sob o tema "Redefining the Role of
Hospitals - Innovating in Population Health". A iniciativa
contou com a participação de mais de1100 delegados
oriundos de 45 países do mundo e na qual
participaram mais de 150 oradores convidados distribuídos
por mais de 50 sessões científicas e formativas.
Portugal sempre teve uma tradição de grande de presença
na EAHM tendo já recebido por três vezes esta
iniciativa: Espinho em 1984, Lisboa em 1999 e Cascais
em 2018.
A estrutura da edição 2019 do Congresso (EAHM
2019) foi diferente da anterior e na base do evento estiveram
visitas técnicas a seis novos hospitais belgas com
o objetivo de partilharem a sua experiência e resultados
nas seguintes áreas: big data e saúde digital; finanças
e economia da saúde; edifícios inteligentes e logística:
gestão, governação e ética em saúde; inovação
e tecnologia e arquitetura curativa.
As visitas técnicas incluíram os seguintes hospitais belgas:
AZ Groeninge, AZ Delta Chirec, AZ Delta Roeselare,
AZ Maria Middelares, AZ Zeno e o Antwerp
University Hospital. São 6 hospitais modernos que
trazem novidades na área da arquitetura hospitalar, da
transformação digital, das condições de trabalho dos
profissionais, da ética, da sustentabilidade e gestão financeira
e da melhoria da eficiência e da organização
com fluxos centrados no doente e suas famílias.
O EAHM2019 contou com a presença de cerca de
três dezenas de administradores e gestores portugueses,
de entre um total de quatro centenas de participantes,
que se distribuíram pelas visitas aos 6 hospitais
belgas. No decurso destas visitas a delegação portuguesa
teve a oportunidade de contactar com a realidade
do Sistema de Saúde Belga e dos modelos
de gestão das suas instituições hospitalares. Dos vários
momentos do Congresso destacam-se ainda
os “EAHM Innovation Awards 2019”, uma iniciativa
que foi presidida por Alexandre Lourenço, Presidente
da APAH, e que tem como objetivo promover a inovação
nos hospitais e disseminar as melhores práticas.
A delegação portuguesa ao EAHM2019 contou com
o apoio da SPMS, Roche, ViforPharma, Generis, Sanofi
e Pfizer. Em 2020 o 29.º Congresso da EAHM será
realizado de 30 de setembro a 2 de outubro, em Budapeste,
e terá como temas principais em análise: 1) Tecnologias
do futuro; 2) Hospitais “Go Green” e 3) “Doctor
Who” Novos papéis nos cuidados de saúde. Ã
50
GH Iniciativa APAH | PRÉMIO Healthcare Excellence
PRÉMIO RECONHECE AS MELHORES
PRÁTICAS DE GESTÃO EM SAÚDE
A
Associação Portuguesa de Administradores
Hospitalares (APAH),
com o apoio da biofarmacêutica
AbbVie, promove no próximo dia
18 de outubro, em Braga, a 6.ª edição
do Prémio Healthcare Excellence que irá premiar
as melhores iniciativas de gestão de serviços de
saúde implementadas durante o ano de 2018.
Os projetos candidatos ao Prémio Healthcare Excellence
são a prova da qualidade das nossas Instituições
de Saúde, são projetos inovadores que, com grande
criatividade, procuram superar limites e revelam ser
verdadeiros casos de sucesso.
São, muitas vezes, ideias aparentemente simples para
a resolução de problemas muitas vezes comuns às várias
Instituições de Saúde, fáceis de adaptar, que exigem
pouco ou nenhum investimento financeiro, mas
que permitem simultaneamente contribuir para a sustentabilidade
da Saúde em Portugal e assegurar ganhos
com grande impacto e valor para a qualidade de
vida dos doentes e das suas famílias.
Este é o objetivo do Prémio Healthcare Excellence:
premiar e distinguir a excelência, reconhecendo
as boas práticas no domínio da melhoria do serviço
aos utentes, promovendo a sua partilha como
ponto de partida para a criação de um verdadeiro
network colaborativo entre as várias Instituições de
Saúde e incentivar a sua implementação pelo Sistema
de Saúde Português.
Na reunião final do Prémio serão apresentados os
projetos finalistas e será distinguido o Vencedor da
edição 2019. Para além da qualidade da apresentação
final dos projetos candidatos, a inovação e a replicabilidade
em outras instituições de saúde são também
critérios de avaliação. A decisão ficará a cargo do júri
constituído por Margarida França, Presidente do Júri e
Presidente do Conselho de Administração do Centro
Hospitalar Baixo Vouga; Dulce Salzedas, Jornalista da
SIC; Maria José Costeira, Médica neonatologista do
Hospital da Senhora da Oliveira de Guimarães e Ricardo
Mestre, Vogal Executivo da Administração Central
do Sistema de Saúde.
Ao longo destes anos a adesão ao Prémio Healthcare
Excellence tem sido crescente, com um número
de projetos candidatos que evidenciam claramente a
dinâmica e a qualidade do trabalho que todos os dias
é desenvolvido nas Unidades de Saúde em Portugal.
Em 2019, foram recebidas 12 candidaturas, das quais
6 serão apresentadas na reunião final. Entre os finalistas
estão projetos do Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra, Centro Hospitalar e Universitário
de Lisboa Norte (Hospital Santa Maria), Hospital de
Vila Franca de Xira, Centro Hospitalar e Universitário
de Lisboa Central (Hospital Dona Estefânia) e da Associação
de solidariedade social - Aldeias Humanitar.
À semelhança da edição anterior a 6.ª Edição do Prémio
Healthcare Excellence será emitida em livestream
no Canal APAH “Gestão em Saúde” no You-
Tube permitindo assim a participação de todos os interessados.
Marque já na sua agenda. Ã
Prémio Healthcare Excellence
5 Edições | 5 Vencedores
2014 - Centro Hospitalar de São João
Inteligência Clínica
2015 - Centro Hospitalar do Porto
Implementação da metodologia Kaizen Diário, com
as equipas naturais envolvidas na atividade do Bloco
Operatório no Hospital de Santo António
2016 - Hospital Vila Franca de Xira
Capacitar para Melhor Cuidar - O cuidador no Projeto
Vida Ativa
2017 - Unidade Local de Saúde de Matosinhos
Portal do Utente de Matosinhos
2018 - Instituto Nacional de Emergência Médica
Via Verde Reanimação
52
GH Iniciativa APAH | fórum do medicamento
A EQUIDADE, A EFETIVIDADE
E A SUSTENTABILIDADE NO ACESSO
À INOVAÇÃO MARCAM A 11. A EDIÇÃO
DO FÓRUM DO MEDICAMENTO
HOMENAGEM AOS SÓCIOS
DE HONRA E MÉRITO DA APAH
GH cerimónia comemorativa
A
pressão para o aumento do investimento
na área da saúde, agravada
pelo progressivo envelhecimento
da população e pela evolução tecnológica,
nomeadamente o desenvolvimento
de novos medicamentos e de meios de
diagnóstico mais eficazes, a par com as expectativas
mais exigentes da população, marcam profundamente
as sociedades e os Sistemas de Saúde.
Contudo, e face às restrições orçamentais, os Sistemas
de Saúde dos países mais desenvolvidos têm experimentado
uma grande variedade de reformas nos seus
modelos de acesso e de financiamento, com o objetivo
de reduzir a incerteza causada pela introdução, por
exemplo, de novos medicamentos e o seu impacto na
sustentabilidade económica e financeira privilegiando
uma aposta em modelos baseados na partilha de risco,
na medição do valor e na efetividade dos resultados.
É sob o lema “Equidade, Efetividade e Sustentabilidade
no acesso à inovação” que a Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares (APAH) realiza na
manhã do próximo dia 15 de novembro de 2019 no
Centro Cultural de Belém, sala Sophia de Mello Breyner,
a 11.ª edição do Fórum do Medicamento.
O Fórum do Medicamento é uma iniciativa anual da
APAH, que conta com o apoio da AstraZeneca, e
que visa contribuir para o conhecimento e para a par-
tilha de boas práticas na área da gestão da tecnologia
do medicamento.
Na edição deste ano do Fórum do Medicamento faremos
uma análise da equidade e efetividade no acesso
aos medicamentos inovadores nos hospitais do
Serviço Nacional de Saúde (SNS), contando para essa
avaliação e discussão com a apresentação pública dos
resultados do “Índex nacional do acesso ao medicamento
hospitalar“. Esta é uma iniciativa da APAH e da
Ordem dos Farmacêuticos que conta com o apoio
científico da Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa e que tem como objetivos estudar:
1. O nível de acesso ao medicamento hospitalar e analisar
os correspondentes modelos de gestão, mecanismos
de criação de evidência e os sistemas de informação
que lhe estão associados;
2. Identificar as barreiras e problemas existentes associados
à gestão do medicamento nas Unidades Hospitalares
do SNS.
Também em análise na edição deste ano do Fórum
do Medicamento estão os desafios do financiamento
de tecnologias inovadoras e a necessidade de
serem encontradas novas respostas face aos novos
desafios que se colocam aos sistemas de saúde. Uma
vez mais esta iniciativa trará até nós o estado da arte
nacional e na Europa sobre estas temáticas e para
perspetivar quer as implicações quer as alternativas
para Portugal contaremos com as palestras de António
Araújo, Presidente do Conselho Regional do
Norte da Ordem dos Médicos, que nos apresentará
os “Contributos para a construção de uma Via
Verde do Pulmão” e com Wouter van Leeuwen,
partner e Diretor da Boston Consulting Group, que
nos falará do exemplo holandês para “A standartização,
o benchmarking e o trabalho colaborativo como
promotores da melhoria contínua”.
À semelhança das edições anteriores o Fórum do Medicamento
2019 será também emitido em livestream
no Canal APAH “Gestão em Saúde” no YouTube permitindo
assim a participação de todos os interessados.
Marque já na sua agenda. Ã
Por ocasião da Comemoração dos 50 Anos da Administração
Hospitalar em Portugal, a APAH presta homenagem às
seguintes personalidade distinguindo-as como:
S Ó C I O S d e H O N R A
A n t ó n i o C o r r e i a d e C a m p o s
A u g u s t o M a n t a s
C o r i o l a n o F e r r e i r a
D o n H o l l o w a y
E d u a r d o C a e t a n o
J o s é C a l d e i r a d a S i l v a
SÓCIOS DE MÉRITO SÓCIOS DE HONRA
António Correia de Campos
Don C. Holloway Jr.
António Menezes Duarte
João Urbano
Jorge Simões
S Ó C I O S d e M É R I T O
Margarida Bentes
A n t ó n i o M e n e z e s D u a r t e
E d u a r d o S á F e r r e i r a
F á t i m a N o g u e i r a
F e r n a n d a D i a s
J o ã o U r b a n o
J o ã o S a n t o s C a r d o s o
J o r g e S i m õ e s
J o r g e V a r a n d a José Nogueira da Rocha
J o s é C a r l o s L o p e s M a r t i n s
J o s é M e n e s e s C o r r e i a
J o s é N o g u e i r a d a R o c h a
J ú l i o R e i s
M a n u e l D e l g a d o
M a r g a r i d a B e n t e s
R a u l M o r e n o
V a s c o R e i s
José Meneses Correia
Augusto Mantas
Eduardo Caetano
Eduardo Sá Ferreira 1
Maria de Fátima Nogueira
Coriolano Ferreira
José Caldeira da Silva
Fernanda Dias
João Santos Cardoso 2
Jorge Varanda 3 José Carlos Lopes Martins 4
Júlio Pereira dos Reis
Manuel Delgado 5
Raúl Moreno Rodrigues
Vasco Reis
1
Presidente da APAH
(1981-1984),
2
Presidente da APAH
(1984-1987),
3
Presidente da APAH
(1988-1992),
4
Presidente da APAH
(1986-1989),
5
Presidente da APAH
(1992-2008).
www.apah.pt
54
55
GH 50 anos Administração Hospitalar
CERIMÓNIA COMEMORATIVA
DOS 50 ANOS DA
ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR
EM PORTUGAL
Foto de família.
Abertura da Cerimónia: Alexandre Lourenço (Presidente da APAH), Marta Temido (Ministra da Saúde), João Pereira (Diretor da ENSP).
Em Portugal, a Profissão de Administrador
Hospitalar, então chamada de
“provedor”, já vem expressa no “Regimento
do Hospital de Todos os Santos”
de 1504. Mas é com a revista
“Hospitais Portugueses”, editada em 1948 por Coriolano
Ferreira, que a criação da profissão é relançada.
Nos anos subsequentes, a administração hospitalar
vai alastrando pelos hospitais portugueses num
contexto de controvérsia em que se discutia, com
vários pretextos, a quem devia ser entregue o poder
nos hospitais: médicos, e de entre estes, docentes
universitários de Medicina, ou figuras de emanação
política. Ao mesmo tempo, reforçando a argumentação
favorável à profissionalização da administração
hospitalar, e seguindo à distância o percurso dos Estados
Unidos onde esta opção surgira no final da década
de 20 do século passado, defendia-se a criação
de uma formação específica.
Em 1968, o Decreto-lei n.º 48.357 e o Decreto-lei n.º
48.358, ambos de 27 de abril, para além de estabelecerem
que “os estabelecimentos e serviços hospitalares
devem organizar-se e ser administrados em termos
de gestão empresarial” (artigo 35.º do Decreto-Lei n.º
48.357) criam e regulamentam a carreira de Administração
Hospitalar.
Decorrido meio século de história, a APAH realizou no
passado dia 24 de abril, pelas 14h30, no Salão Nobre da
Escola Nacional de Saúde Pública, a Cerimónia Comemorativa
dos "50 anos da Administração Hospitalar em
Portugal", cuja Sessão de Abertura contou com a participação
da Ministra da Saúde, Prof.ª Doutora Marta
Temido, acompanhada pelo Prof. Doutor João Pereira,
Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e por Alexandre
Lourenço, Presidente da APAH.
No decurso desta Cerimónia, foram vários os momentos
de homenagem ao contributo dos Administradores
Hospitalares para a construção do Serviço Nacional de
Saúde, começando pela exibição do vídeo de tributo
à vida e obra do Professor Coriolano Ferreira, seguida
de uma intervenção do Professor Nogueira da Rocha.
Foi igualmente atribuído o Prémio Professor Coriolano
Ferreira, que visa distinguir anualmente o melhor aluno
do Curso de Especialização em Administração Hospitalar
(CEAH) da Escola Nacional de Saúde Pública, e que
nesta edição foi entregue à aluna Mavilde Vitorino.
Respeitando o mote dado pelo Presidente da APAH,
Alexandre Lourenço, no seu discurso inicial: “Foram várias
as gerações de homens e de mulheres que ao longo
do tempo contribuíram para a construção de melhores
e mais eficientes serviços de saúde. Esta Cerimónia é
sobre estas pessoas”, a Cerimónia prosseguiu com a homenagem
e distinção entregue aos Sócios de Honra e
Sócios de Mérito da APAH.
A APAH distinguiu António Correia de Campos, Augusto
Mantas, Coriolano Ferreira, Don Holloway, Eduardo
Caetano e José Caldeira da Silva como Sócios de
Honra; e distinguiu António Menezes Duarte, Eduardo
Sá Ferreira, Fernanda Dias, João Urbano, João Santos
Cardoso, Jorge Simões, Jorge Varanda, José Carlos Lopes
Martins, José Meneses Correia, José Nogueira da
Rocha, Júlio Reis, Maria de Fátima Nogueira, Manuel
Delgado, Margarida Bentes, Raúl Moreno e Vasco Reis,
como Sócios de Mérito.
A Cerimónia terminou com a sessão de lançamento do
livro “50 anos em 20 olhares. O percurso da Administração
Hospitalar em Portugal”, que pretende ser uma
reconstrução histórica dos principais marcos que diferenciaram
esta carreira profissional, contada na primeira
pessoa, através de um conjunto de entrevistas a
grandes nomes da Administração Hospitalar cujo legado
muito contribuiu para a desenvolvimento das
Instituições de Saúde e do SNS, nas últimas cinco décadas.
A apresentação contou com os comentários de
anteriores Ministros da Saúde, Maria de Belém Roseira
e Paulo Macedo. Ã
56 57
GH 50 anos Administração Hospitalar
Lançamento Livro “50 anos em 20 Olhares”, Alexandre Lourenço, Paulo Macedo (ex. Ministro da Saúde), Maria de Belém Roseira (ex Ministra da Saúde), Carla Pedro
(autora do livro). Na foto ao lado, Mavilde Vitorino, vencedora do Prémio Coriolano Ferreira 2019, ladeada por Sílvia Lopes (ENSP) e Filomena Santos (IQVIA).
Cerimónia de distinção aos Sócios de Honra da APAH.
Cerimonia de distinção aos Sócios de Mérito da APAH.
58 59
GH Iniciativas APAH
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61
GH Informação técnica e comercial
MONITORES MÉDICOS LG TECNOLOGIA
INTELIGENTE E DESIGN SOFISTICADO
Com uma vasta oferta de tecnologias e
soluções para o mercado empresarial,
a LG está rapidamente a tornar-se líder
no mercado B2B. Os produtos da Empresa
de Soluções Comerciais da LG
incluem gamas de monitores LCD, ecrãs comerciais
versáteis, infotainment auto e soluções telemáticas, sistemas
avançados de som e sistemas de segurança melhorados
digitalmente. A LG continuará a investir nestas
áreas de produtos e soluções comerciais, estabelecendo
novos padrões em tecnologia.
A empresa salienta que a sua área comercial de monitores
está a crescer mais rapidamente do que a média
do mercado devido à mistura perfeita de tecnologia
inteligente e design sofisticado. A LG dedicou muitos
esforços à criação de monitores LCD amigos do
ambiente com diminuição dos consumos energéticos
e eliminando materiais prejudiciais, como o mercúrio.
Na oferta para o segmento dos monitores, a marca
destaca os monitores IPS que proporcionam imagens
nítidas com alterações suaves nas cores, independentemente
do ângulo de visualização. A qualidade de
imagem do monitor cirúrgico da LG cumpre aos requisitos
das salas de operações. Com o seu ecrã IPS
com 8MP e 27", o monitor cirúrgico melhora a eficiência
de trabalho, não só ao permitir uma observação
mais detalhada, como também ao exibir múltiplas
aplicações de imagiologia.
É relevante destacar o facto de que, no campo da medicina,
os monitores devem disponibilizar imagens
precisas e de uma forma consistente, especialmente
para as escalas de cinzas que podem até variar entre
dois monitores do mesmo modelo. Para assegurar o
sombreado mais consistente e preciso que é possível
para imagens médicas, a LG mede e estabelece todas
as escalas de cinza na linha de produção para produzir
um monitor que cumpra com o DICOM Part 14.
Um outro exemplo da fiabilidade das soluções da
empresa expressa-se na certificação pelo Infarmed
do Monitor de Revisão Clínica de 1,3 MP, que apresenta
enorme fidelidade na reprodução de imagem
e é adaptado às necessidades e requisitos dos equipamentos
de diagnóstico médico.
Este monitor médico cumpre com a Norma ISO22
196 (medida anti-microbiana incorporada para inibir
o crescimento de bactérias que possam afetar o in-
vólucro deste produto). Tem tecnologia Flicker Safe,
que reduz a cintilação no ecrã, minimizando o cansaço
visual e a fadiga ocular. Ao combinar o Flicker Safe
com a qualidade de imagem provada da tecnologia
IPS, os utilizadores podem trabalhar confortavelmente
ao longo do dia.
A LG assegura também a sua alta durabilidade e o fato
de ser anti riscos para proteger o ecrã durante um
procedimento cirúrgico. O ecrã frontal do monitor cirúrgico
da LG tem um nível de proteção IP35 e na parte
de trás tem um nível IP32, protegendo-o contra
água ou fluídos com os quais possa entrar em contacto
durante uma operação. Além das proteções de
impermeabilização, a sua superfície lisa permite a limpeza
fácil do painel 8MP e dos botões de controlo.
A destacar ainda o vidro de ligação ótico que reduz
consideravelmente s reflexão interna entre o vidro
exterior e o LCD para melhorar a precisão. Esta capacidade
anti reflexiva melhorada permite um ecrã
mais brilhante e acentuado para a mais alta qualidade
de imagem. Ã
A LG destaca as seguintes soluções
diferenciadas para o universo hospitalar:
Monitor de Revisão Clínica de 1,3 MP
Estrutura de plástico com propriedades anti-bacterianas
330 cd/m2 e NTSC de 72%
Rápido tempo de resposta
Estabilização de brilho
Two-Way Pivot
Monitor de Revisão Clínica de 8MP 4K
Estrutura de plástico com propriedades anti-bacterianas
350 cd/m2 e sRGB a99%
Rápido tempo de resposta
Estabilização de brilho
Monitor de Diagnóstico IPS 3MP de 21,3"
Ecrã IPS 3MP de 21.3”
Sensor automático de luminosidade
Calibração Automática e Remota
Design Ergonómico
Monitor Cirúrgico 27" IPS 8MP Premium
UHD
Ecrã IPS 8MP Premium UHD
sRGB superior a 99%, sRGB a 115%
Video Anti-Reflexo
Dynamic Sync Mode e Tempo de Resposta Rápido
IP35 & IP32 Resistente a Poeiras e Água
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MARCA A AGENDA
A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (julho - setembro 2019):
“3F - Financiamento, Fórmula para o Futuro” | Apresentação
pública na Assembleia da República
2 de julho de 2019, Assembleia da República - Lisboa
Apresentação pública das recomendações do projeto “3F - Financiamento,
Fórmula para o Futuro” e do desenvolvimento dos
Projetos Piloto FAROL e POLARIS a decorrer no IPO Porto e
Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro. Todos os conteúdos
apresentados no âmbito desta apresentação pública estão
disponíveis para visualização no “Canal APAH - Gestão em Saúde”
no Youtube. Mais informações em https://apah.pt/portfolio/3f/
“AVC e Doenças Cardiovasculares” | Momentos Expresso
3 de julho, Montes Claros - Lisboa
A iniciativa contou com a participação de Delfim Rodrigues, Vice-Presidente
da APAH, no painel de debate “Mudar a primeira
causa de morte em Portugal - uma missão de todos” incluído no
evento ‘AVC e Doenças Cardiovasculares’.
Uma organização do Expresso com o apoio da Bayer Portugal que
incluiu a apresentação das primeiras conclusões do estudo “Impacto
económico da aterosclerose em Portugal” realizado pelo
Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência.
7.º Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “Gestão em
Saúde” | “O papel do Líder na implantação de projetos
de gestão da experiência do paciente”
30 de julho de 2019, Webconferência
O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de Gestão de Serviços de
Saúde” é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos
da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e
promover a excelência na gestão da saúde através da discussão de
temas relevantes para os gestores de saúde que exercem funções
no Brasil e em Portugal. Esta edição foi dedica ao “O papel do líder
na implantação de projetos de gestão da experiência do paciente”
e teve como oradora Andréa Drumond, Presidente do Chapter de
ACADEMIA
Controlo de Gestão Hospitalar | Seminário PADIS
1 e 2 de julho de 2019 - AESE Business School
Esta formação inserida na Academia APAH foi assegurada pela
AESE e teve como objetivo fortalecer a formação contínua dos
profissionais de saúde que desempenham funções de gestão e
Santa Catarina do CBEXs. Todos os conteúdos apresentados no
âmbito deste webinar estão disponíveis para visualização no “Canal
APAH - Gestão em Saúde” no Youtube.
EAHM 2019 | Innovative Healthcare Strategies
12 e 13 de setembro de 2019, Ghent - Bélgica
A edição 28.º do Congresso da European Association of Hospital
Managers (EAHM) foi este ano dedicado ao tema “Innovative
Healthcare Strategies” tendo a organização ficado a cargo da Belgian
Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH). A iniciativa
na qual participou uma delegação portuguesa, composta por
35 gestores em saúde, contou igualmente com a moderação de
Alexandre Lourenço, Presidente da APAH, na sessão “Innovation
Awards 2019”. Veja a reportagem nesta edição. Mais informações
em: http://eahm2019.eu/venue/ghent-belgium
ECCO 2019 | Cimeira Europeia do Cancro
13 de setembro de 2019, Bruxelas - Bélgica
O Presidente da APAH, Alexandre Lourenço, participou como
moderador da sessão “How does access to innovative cancer medicines
fit in high quality cancer care and well-functioning health
system as a whole?”.
Mais informações em: https://www.eccosummit.eu
19.º Caminho dos Hospitais | Instituto Português de
Oncologia de Lisboa
27 de setembro de 2019, IPO Lisboa
IPO Lisboa acolheu mais uma edição da iniciativa promovendo a
conferência/debate “Medicina personalizada - O que mudou na
prática clínica e na economia”. Todos os conteúdos apresentados
no âmbito desta iniciativa estão disponíveis para visualização no
“Canal APAH - Gestão em Saúde” no Youtube.
Para mais informações consulte https://apah.pt/portfolio/caminhodos-hospitais/
A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes iniciativas formativas (julho - setembro 2019):
EVENTOS +
Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em 2019:
ORGANIZAÇÃO APAH
Prémio Healthcare Excellence | Reunião Final
de eleição do Vencedor 2019
Data: 18 de outubro de 2019
Local: Hotel Vila Galé Collection Braga
Mais informações: ver artigo na presente edição e em https://
apah.pt/portfolio/premio-healthcare-excellence/
7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos
de gestão centrados no cidadão e na comunidade
Data: 18 e 19 de outubro de 2019
que desejam aprofundar as suas competências na área de Controlo
de custos hospitalares. A iniciativa contou com o apoio
da ViforPharma. Conheça em detalhe o Programa do curso em
https://apah.pt/noticia/academia-apah-seminario-padis-controlode-gestao-hospitalar/
Local: Hotel Vila Galé Collection, Braga
Mais informações em: http://www.apah.pt
Novos Modelos de Contratação Pública
| Que Futuro para a Gestão Hospitalar?
Data: 5 de novembro de 2019
Local: AESE Business School, Lisboa
Mais informações em: https://apah.pt/pec-events/novos-modelos-de-contratacao-publica-que-futuro-para-a-gestao-hospitalar/
XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade
e Sustentabilidade no Acesso à Inovação
Data: 15 de novembro de 2019
Local: C. Cultural de Belém (Sala Sophia de Mello Breyner), Lisboa
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forum
-do-medicamento/
CO-ORGANIZAÇÃO APAH
Caminho dos Hospitais
- Conferência/debate
Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços
Regionais de Saúde
Data: Periodicidade trimestral
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/
Webinars Luso-Brasileiro “Gestão em Saúde”
Organização: Parceria APAH + CBEXs
Data: Periodicidade trimestral
Local: Webconferência
Mais informações em: www.apah.pt
Webinars “Saúde Digital”
Organização: Parceria APAH + SPMS
Data: Periodicidade mensal
Local: Webconferência
Mais informações em: www.apah.pt
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde
- Ciclo Conferências 2019
Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem
dos Médicos (SRNOM)
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracao-de-servicos-de-saude/
APAH RECOMENDA em 2019
Investir em saúde - Financiar anos de vida
Organização: Janssen - Johnson & Johnson e Jornal de Negócios
Data: 2 de outubro de 2019
Local: Pavilhão do Conhecimento, Lisboa
Mais informações em: https://cofinaeventos.com/conferenciainvestiremsaude/
22 th European Health Forum
Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)
Data: 2 e 4 de outubro de 2019
Local: Bad Hofgastein, Áustria
SNS - O Futuro começa HOJE
Organização: Fundação para a Saúde - SNS
Data: 15 de outubro de 2019
Local: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Prémio Pedro Pita Barros
| Cerimónia de entrega do Prémio
Organização: Associação Portuguesa de Economia da Saúde
(APES)
Data: 16 de outubro de 2019
Local: Hotel Olissipo Oriente, Lisboa
Mais informações em: http://apes.pt/atividades/premioppb-2
16ª Conferência Nacional de Economia
da Saúde (CNES)
Organização: Associação Portuguesa de Economia da Saúde
(APES)
Data: 16 a 18 outubro de 2019
Local: Hotel Olissipo Oriente, Lisboa
Mais informações em: https://16cnes.apes.pt
IHF Webinar | “Implementando um plano
de longo prazo no NHS”
Organização: International Hospital Federation (IHF)
Data: 16 de outubro de 2019 (13h00)
Local: Webconferência
Mais informações e inscrições em: https://zoom.us/webinar/
register/2815695841614/WN_EwKjgOa8R_CmjBUOrqaaiw?-
fbclid=IwAR2OT0ZvqpW-iQ-KAhRJKBMHGsmXh8In82_
Fu4MFmgU0HuxqL9nlRjYr4HU
Conferência AUA Hospitalização Domiciliária
| Cerimónia de entrega de Prémios :: Hospital 2.0
Organização: Angelini University Awards (AUA)
Data: 17 de outubro de 2019
Local: Local: Pavilhão do Conhecimento, Lisboa
Mais informações e inscrições em https://aua.pt/pt/home-pt/
C-Health Congress 2019 | Singularidade na Saúde
Organização: IFE
Data: 22 de outubro de 2019
Local: Centro Cultural de Belém, Lisboa
Mais informações e inscrições em: https://www.c-healthcongress.pt/
43 rd World Hospital Congress | “People at the
heart of health services in peace and crisis”
Organização: International Hospital Federation (IHF)
Data: 7 a 9 de novembro de 2019
Local: Muscat, Oman
Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/
INOFARMA: digital + healthcare
Organização: INOFARMA
Data: 14 de novembro de 2019
Local: NOVA SBE - Carcavelos
Mais informações em: https://www.inofarma.org/
13ª Edição do Prémio de Boas Práticas
em Saúde® (PBPS)
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento
Hospitalar (APDH)
Data: 21 de novembro de 2019
Local: Edifício-sede da Polícia Judiciária, Lisboa
Mais informações em http://www.apdh.pt/evento/2
Conferência SNS no Feminino
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento
Hospitalar (APDH) e PWN Lisbon
Data: 22 de novembro de 2019
Local: Edifício-sede da Polícia Judiciária, Lisboa
Mais informações em http://www.apdh.pt/evento/3
Health Care Summit 2019
| Bridging the inequality gap through innovation
Organização: POLITICO
Data: 21-22 de Novembro de 2019
Local: Amsterdão, Holanda
Mais informações em: https://diievents.dii.eu/annual-health-care-summit/
EHMA Executive Workshop
| “Reconfiguring and leading the value-based
hospital”
Organização: European Health Management Association
Data: 11-12 de dezembro de 2019
Local: Bruxelas - Bélgica
Mais informações em: https://ehma.org/executive-workshop/
64 65
2 PESSOAS
POR SEGUNDO
120 PESSOAS
POR MINUTO
172.800 PESSOAS
POR DIA
Este é o número
de vidas que
são melhoradas
através das nossas
tecnologias médicas
e terapêuticas.
Através da nossa
missão de aliviar a dor,
restabelecer a saúde
e prolongar a vida,
ajudamos todos os
anos a melhorar a vida
de milhões de pessoas
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