Gestão Hospitalar N.º 18 2019
Novo ciclo político Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais Qualidade e segurança do doente | As pessoas fazem a mudança Resistência a antimicrobianos | Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos: a estratégia seguida no CHEDV Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção da cobertura universal de saúde Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira, o ACES Estuário do Tejo e as escolas Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento em contexto intra-hospitalar Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise da possível integração no Serviço Nacional de Saúde Congresso EAHM 2019, Ghent APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares portugueses no âmbito do EAHM2019 Prémio Healthcare Excellence Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde Fórum do Medicamento A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação marcam a 11.a edição do Fórum do Medicamento Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal
Novo ciclo político
Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais
Qualidade e segurança do doente | As pessoas fazem a mudança
Resistência a antimicrobianos | Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos: a estratégia seguida no CHEDV
Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção da cobertura universal de saúde
Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas
Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira, o ACES Estuário do Tejo e as escolas
Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento em contexto intra-hospitalar
Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise da possível integração no Serviço Nacional de Saúde
Congresso EAHM 2019, Ghent
APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares portugueses no âmbito do EAHM2019
Prémio Healthcare Excellence
Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde
Fórum do Medicamento
A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação marcam a 11.a edição do Fórum do Medicamento
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal
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JULHO AGOSTO SETEMBRO <strong>2019</strong><br />
Edição Trimestral<br />
N<strong>º</strong> <strong>18</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />
RECURSOS HUMANOS<br />
Motivação<br />
dos profissionais<br />
SAÚDE<br />
Refundar<br />
os cuidados primários<br />
SAÚDE<br />
Segurança com<br />
medicamentos<br />
SNS<br />
Terapêuticas<br />
não convencionais<br />
COMEMORAÇÃO<br />
50 Anos<br />
de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong><br />
ENTREVISTA<br />
adelaide belo
GH OPhghgh<br />
GH SUMÁRIO<br />
julho agostO setEMBRO <strong>2019</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
PROPRIEDADE<br />
APAH − Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />
Av. do Brasil 53<br />
1749-002 Lisboa<br />
secretariado@apah.pt<br />
www.apah.pt<br />
DIRETOR<br />
Alexandre Lourenço<br />
DIRETORA-ADJUNTA<br />
Bárbara Sofia de Carvalho<br />
COORDENADORES<br />
Catarina Baptista, Miguel Lopes<br />
EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />
Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />
de Eventos, Ltda.<br />
Av. das Forças Armadas 4 - 8B<br />
1600 - 082 Lisboa<br />
Tel.: 217 957 045<br />
info@bleed.pt<br />
www.bleed.pt<br />
PROJETO GRÁFICO<br />
Sara Henriques<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
Gratuita<br />
PERIODICIDADE<br />
Trimestral<br />
DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />
16288/97<br />
ISSN N.<strong>º</strong><br />
0871–0767<br />
TIRAGEM<br />
2.000 exemplares<br />
IMPRESSÃO<br />
Grafisol, lda<br />
Rua das Maçarocas<br />
Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />
2710-056 Sintra<br />
Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />
do Acordo Ortográfico<br />
Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />
4<br />
6<br />
12<br />
14<br />
22<br />
26<br />
32<br />
36<br />
44<br />
50<br />
52<br />
54<br />
55<br />
56<br />
62<br />
64<br />
Editorial<br />
Novo ciclo político<br />
Alexandre Lourenço<br />
Recursos humanos<br />
Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais<br />
António Dias Alves, Daniela Maia, Fátima Neves<br />
Qualidade e segurança do doente<br />
As pessoas fazem a mudança<br />
Rui Cortes<br />
Resistência a antimicrobianos<br />
Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos:<br />
a estratégia seguida no CHEDV<br />
Luís Pedro Tavares, Miguel Paiva<br />
Cuidados de saúde primários<br />
Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção<br />
da cobertura universal de saúde<br />
Miguel Lemos<br />
Entrevista<br />
Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas<br />
Cuidados centrados no doente<br />
Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira,<br />
o ACES Estuário do Tejo e as escolas<br />
Patrícia Nascimento<br />
Segurança do doente<br />
Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento<br />
em contexto intra-hospitalar<br />
Mavilde Vitorino, Paulo Sousa, Pedro Aguiar<br />
Terapêuticas Não Convencionais<br />
Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise<br />
da possível integração no Serviço Nacional de Saúde<br />
Marta Bacelar<br />
Iniciativa APAH | Congresso EAHM<br />
APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares<br />
portugueses no âmbito do EAHM<strong>2019</strong><br />
Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence<br />
Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde<br />
Iniciativa APAH | Fórum do Medicamento<br />
A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação<br />
marcam a 11 .a edição do Fórum do Medicamento<br />
Cerimónia Comemorativa<br />
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH<br />
50 Anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
em Portugal<br />
Informação Técnica e Comercial<br />
Monitores Médicos LG - tecnologia inteligente e design sofisticado<br />
APAH marca a agenda<br />
3
GH editorial<br />
Alexandre Lourenço<br />
Presidente da APAH<br />
Novo ciclo político<br />
Esta <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> é publicada no<br />
início de um novo ciclo político. Nos<br />
últimos meses a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
reuniu com os vários grupos parlamentares,<br />
tendo apresentado propostas concretas<br />
para o Serviço Nacional de Saúde, tendo algumas sido<br />
incorporadas nos programas eleitorais e no programa<br />
atual de Governo.<br />
Num momento em que vários sinais dão conta da desmotivação<br />
dos profissionais, exige-se que o novo Governo<br />
crie condições para aumentar a “alegria” do setor.<br />
António Dias Alves e colegas falam-nos deste problema<br />
e apresentam propostas concretas. Um artigo a não<br />
perder para iniciarmos uma discussão sobre o tema.<br />
Aos mais vários níveis, “As pessoas fazem a mudança”.<br />
É este o tema do artigo de Rui Cortes a propósito<br />
da segurança e qualidade nos cuidados de saúde. No<br />
mesmo tema, Mavilde Vitorino e colegas apresentam<br />
estudo sobre os eventos adversos relacionados com<br />
o medicamento (EArM) em Portugal. Neste estudo<br />
baseado nos dados dos doentes internados em hospitais<br />
públicos no período de 2013-2015, identificaram<br />
que 60 521 (cerca de 2% dos doentes) sofreram pelo<br />
menos um EArM, dos quais 28.5% (17 213) ocorreram<br />
no contexto intra-hospitalar. De acordo com<br />
a reflexão dos autores, facilmente se chega à conclusão<br />
da importância dos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
em criar uma nova cultura organizacional permitindolhe<br />
contribuir decisivamente para a criação de ambientes<br />
promotores de uma exigente cultura de segurança.<br />
Efetivamente, é através de uma persistente<br />
liderança institucional e estabilidade de equipas que<br />
se conseguem alcançar resultados. É esta a conclusão<br />
de Luís Pedro Tavares e Miguel Paiva com base nos<br />
resultados alcançados no combate à infeção hospitalar<br />
no Centro <strong>Hospitalar</strong> Entre Douro e Vouga.<br />
Nesta GH entrevistamos uma campeã do Serviço<br />
Nacional de Saúde. Com uma força e alegria contagiantes,<br />
a Dra. Adelaide Belo tem abraçado vários<br />
projetos ao longo da sua carreira profissional nos mais<br />
variados níveis do sistema de saúde. Dadas as funções<br />
atuais como Presidente da Associação Portuguesa de<br />
Integração de Cuidados, a conversa foca-se no papel<br />
desta associação no desenvolvimento de uma agenda<br />
para a integração de cuidados.<br />
Na linha da integração de cuidados, Patrícia Nascimento<br />
do Hospital de Vila Franca de Xira descreve<br />
o modelo de prestação de cuidados centrados nas<br />
crianças e jovens com diabetes tipo I, envolvendo<br />
os vários parceiros na comunidade e as famílias. Um<br />
modelo a seguir.<br />
Passados 40 anos da Declaração de Alma-Ata, e da<br />
recente Declaração de Astana, Miguel Lemos do<br />
ACES Arco Ribeirinho fala da necessidade de refundar<br />
os cuidados de saúde primários de forma a garantir<br />
um caminho na direção da cobertura universal<br />
de saúde. Na linha da integração de cuidados, fará<br />
sentido equacionar todo o modelo de prestação de<br />
cuidados de saúde.<br />
A Marta Bacelar vem apresentar outra dimensão na<br />
prestação de cuidados de saúde: as terapêuticas não<br />
convencionais. Num artigo que merecerá certamente<br />
futuro contraditório, a autora vem analisar e advogar<br />
a integração destas terapêuticas no SNS.<br />
Nesta GH damos conta ainda da substantiva presença<br />
da APAH no Congresso da European Association<br />
of Hospital Managers, onde foi possível visitar 6 modernos<br />
hospitais belgas.<br />
Esta é a vossa GH! Ã<br />
4
GH recursos humanos<br />
INTERVIR NO CORAÇÃO<br />
DO SNS: MOTIVAÇÃO<br />
DOS PROFISSIONAIS<br />
António Dias Alves<br />
Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />
Daniela Maia<br />
Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />
Fátima Neves<br />
Cirurgiã Cardiotorácica<br />
São evidentes as manifestações e os sinais<br />
de desmotivação de profissionais de saúde<br />
do SNS na área dos cuidados com consequências<br />
em: insatisfação, absentismo,<br />
greves e elevada rotação de profissionais,<br />
menor cooperação e desempenho; preferência por carreira<br />
em hospitais privados e pelo estrangeiro; e o mais<br />
importante, risco de um pior serviço ao doente.<br />
Esta desmotivação encontra fundamentação em causas<br />
objetivas: carreiras congeladas e pouco atrativas;<br />
insuficiência de profissionais, por não resolução completa<br />
de saídas definitivas e temporárias; desadequação<br />
das instalações e vetustez dos equipamentos,<br />
fruto de uma quase ausência de investimento nos<br />
últimos sete anos; lentidão de decisão, fruto da centralização<br />
e perda de autonomia da gestão hospitalar.<br />
Deve ainda referir-se o choque de realidades, face<br />
às condições vigentes nos novos hospitais privados<br />
(retribuição, instalações e equipamentos), e de expectativas,<br />
relativamente à pronta e total reposição<br />
da perda de regalias decidida no período da Troika.<br />
A desmotivação dos profissionais de saúde gera consequências<br />
negativas no desempenho, no clima e nos<br />
cuidados hospitalares e, a manter-se, pode conduzir<br />
à insustentabilidade futura do SNS ou, pelo menos,<br />
à erosão da qualidade e do seu caráter geral e universal.<br />
Por isso é crucial que os decisores políticos e os gestores<br />
assegurem a motivação dos profissionais. Esta<br />
é a razão deste texto.<br />
Condições básicas para motivação dos profissionais<br />
A gestão de pessoas em Unidades complexas e de<br />
produção variável, como são os hospitais, não pode<br />
ser centralizada, burocrática e em moldes rígidos, típicos<br />
da função pública (FP) tradicional. Para criar um<br />
ambiente de trabalho favorável à obtenção de melhores<br />
resultados, consideramos como requisitos essenciais<br />
o contrato individual de trabalho (CIT) para os<br />
profissionais e o reconhecimento do estatuto de Entidade<br />
Empresarial para os hospitais, com tudo o que<br />
justificou a sua transformação em EPE, incluindo a autonomia<br />
de gestão com responsabilização e prestação<br />
de contas.<br />
Na nossa opinião a gestão de pessoas será naturalmente<br />
local e o recrutamento efetuar-se-á no respeito<br />
pelos Princípios Gerais da Administração Pública,<br />
de acordo com a experiência e o mérito, e de modo<br />
a que complementem e se adequem aos já existentes<br />
nos Serviços. A gestão de pessoas supõe atenção<br />
personalizada, identificando-se os pontos fortes e fracos<br />
e atuando-se sistematicamente com vista ao desenvolvimento<br />
de cada profissional.<br />
Assim, no âmbito hospitalar consideramos que devem,<br />
à partida, existir três condições:<br />
1. Reposição da autonomia e flexibilidade previstas no<br />
estatuto dos hospitais EPE;<br />
2. Regime de CIT sem termo, para assegurar segurança<br />
e estabilidade aos profissionais bem como a flexibilidade<br />
que permita adaptação do hospital à sua pro-<br />
cura, dentro dos recursos existentes e de acordo com<br />
as boas práticas, garantir a possibilidade de progressão<br />
na carreira, independentemente do vínculo (CIT, FP),<br />
remuneração base adequada e incentivos em função<br />
dos resultados obtidos;<br />
3. Nas condições de trabalho deverá assegurar-se: recursos<br />
adequados ao trablho a executar - nomeadamente<br />
instalações e equipamentos, informação, pessoas,<br />
organização e gestão; ambiente seguro com promoção<br />
da melhoria de processos e de resultados.<br />
Como motivar os profissionais<br />
Seguindo McClelland et al, são indicados seis fatores<br />
principais que influenciam o ambiente organizacional:<br />
liberdade para os profissionais inovarem sem constrangimento<br />
burocrático; sentido de responsabilidade<br />
para com a Instituição; clareza da Missão e dos Valores;<br />
nível dos padrões fixados pelas pessoas; grau de<br />
certeza quanto à relação entre o desempenho e as recompensas;<br />
nível de comprometimento com finalidades<br />
comuns.<br />
Como o hospital é uma Organização de conhecimento,<br />
marcada pela complexidade de produção e alta diferenciação<br />
dos profissionais, fará sentido a aplicação<br />
das regras do processo justo de Kim e Mauborgne<br />
(HBR, 1997) ou seja: envolvimento dos profissionais<br />
nas decisões que os afetam, explicação aos afetados<br />
dos motivos e objetivos da mudança, clareza de expetativas<br />
expondo as novas regras, padrões de desempenho<br />
e suas consequências. O envolvimento de<br />
profissionais deve fazer-se de acordo com a “Shared<br />
Quality Agenda” (IHI, 2007) e “A CEO Checklist for<br />
High-Value Health Care” (IOM, 2012).<br />
Por outro lado, a finalidade do trabalho em meio hospitalar<br />
- salvar vidas e melhorar a saúde das pessoas,<br />
é motivadora em si mesma pelo que, conforme a valência<br />
na Teoria das Expetativas (Vroom, 1964), o papel<br />
da gestão fica facilitado.<br />
Em síntese, para criarmos um ambiente organizacional<br />
seguro, exigente e de responsabilidade que propicie<br />
a dedicação dos profissionais e favoreça uma<br />
cultura de melhoria, assente na transparência, no respeito,<br />
na confiança e na cooperação, são necessários<br />
os seis pontos que enumeramos de seguida: }<br />
6 7
GH recursos humanos<br />
“<br />
É ESSENCIAL DISPOR DE UMA BASE<br />
OBJETIVA PARA AVALIAÇÃO<br />
DO DESEMPENHO, CONSTITUÍDA<br />
POR SISTEMA DE MEDIÇÃO,<br />
COM INDICADORES E PADRÕES,<br />
E POR SISTEMA DE OBJETIVOS<br />
E METAS A ALCANÇAR<br />
NAS DIVERSAS DIMENSÕES.<br />
”<br />
Primeiro, aos profissionais deve ser atribuído um bom<br />
trabalho, estimulante e com significado, de acordo<br />
com as suas capacidades, com a necessária autonomia<br />
e responsabilidade. Sempre que possível deve assentar-se<br />
em equipas, nos cuidados, na gestão e nos<br />
esforços de melhoria, pois constituirão instrumento<br />
de desenvolvimento pessoal, tenderão a reduzir o erro<br />
e a gerar melhores soluções.<br />
Segundo, é essencial dispor de uma base objetiva<br />
para avaliação do desempenho, constituída por sistema<br />
de medição, com indicadores e padrões, e por<br />
sistema de objetivos e metas a alcançar nas diversas<br />
dimensões, ambos definidos com envolvimento profundo<br />
de profissionais. De modo semelhante, deve<br />
haver especificação que a promoção profissional requer<br />
obtenção sistemática de resultados acima da média<br />
e atuação de acordo com os valores e padrões de<br />
comportamento definidos.<br />
Terceiro, há que fazer a coisa certa do modo certo,<br />
isto é, de modo a aumentar o desempenho global do<br />
hospital e a motivar os profissionais:<br />
• Procedendo a ampla difusão de informação (gestores<br />
que informem, apoiem e encorajem), promovendo<br />
comunicação sem riscos de erros e outros<br />
problemas e encorajando a interação empática com<br />
os doentes, para melhores resultados e prevenção de<br />
re-hospitalização;<br />
• Promovendo a formação com vista ao desenvolvimento,<br />
para atualização e especialização técnica, maior<br />
conhecimento em gestão e nas técnicas e metodologias<br />
para a melhoria;<br />
• Solicitando sugestões de melhoria e, quando concretizadas<br />
com ganho significativo, recompensando<br />
e reconhecendo publicamente pois a melhoria requer<br />
o envolvimento contínuo das pessoas como produtores<br />
de ideias e mentores da sua concretização;<br />
• Reduzindo o absentismo através de programa avançado<br />
de promoção da saúde e bem-estar, num ambiente<br />
seguro, com prevenção e resposta adequada à violência<br />
e abuso no trabalho;<br />
• Conferindo mais responsabilidades a quem se destacar,<br />
ao serviço dos doentes e noutros resultados,<br />
e facilitando a adequação do horário às contingências<br />
familiares;<br />
• Promovendo a flexibilidade, a difusão de boas práticas<br />
e a aprendizagem na prestação de idêntico serviço:<br />
igual organização de espaços de trabalho e adoção<br />
do mesmo processo, equipas que garantam idêntico<br />
padrão de resposta face a variações temporárias da<br />
procura e do absentismo;<br />
• Reorganizando os cuidados em torno do doente,<br />
evitando a inapropriação, o fracionamento, as deslocações<br />
evitáveis e o tempo perdido pelos doentes e pelos<br />
profissionais.<br />
Quarto, perante um desempenho excelente é sempre<br />
devido o reconhecimento adequado; para Serviços<br />
será de atribuir verba a despender em formação<br />
externa ou em instalações e equipamentos.<br />
Quinto, para reforçar a orientação para a melhoria<br />
de resultados do hospital, faz sentido: dar liberdade<br />
e estimular os profissionais a procurarem novas formas<br />
e práticas (projetos) que minimizem o desperdício,<br />
simplifiquem os processos, reduzam a variabilidade<br />
não esperada e melhorem a experiência dos doentes;<br />
recompensar os profissionais que concretizem<br />
aqueles projetos; considerar a satisfação nas métricas<br />
de desempenho e reconhecer as melhores práticas.<br />
Sexto, por fim, mas muito importante, é necessário<br />
dispor de um sistema de incentivos dirigido sobretudo<br />
ao desempenho das equipas - e a cada profissional<br />
quando for fácil destrinçar e medir a contribuição<br />
individual. A produção adicional fora do horário de<br />
trabalho constitui outro fator de motivação.<br />
A exclusividade é desejável e viável<br />
A exclusividade - num contexto orientado para a motivação<br />
profissional - irá permitir a focalização do profissional<br />
numa instituição, com os ganhos de tempo<br />
e a economia de custos correspondentes, favorecer<br />
a realização plena das pessoas, minimizar os conflitos<br />
de interesse e assegurar boa qualidade em todos<br />
os hospitais, públicos e privados.<br />
Defende-se a exclusividade como opção para os profissionais<br />
que já estejam integrados em hospital e como<br />
regra para recrutamentos futuros. Poderá ser de<br />
aplicação progressiva, à medida que o orçamento<br />
o permita e de acordo com as prioridades do SNS,<br />
como sejam para acorrer a insuficiência grave de resposta<br />
por falta de recursos humanos, genérica, por<br />
exemplo em hospitais no interior, ou em determinados<br />
serviços, ou para promover novas formas de<br />
organização e atuação.<br />
A retribuição da exclusividade deverá incluir remuneração<br />
base, correspondente a horário semanal de 40<br />
horas, prémio fixo, produção adicional e incentivos<br />
conforme os resultados obtidos, por referência a objetivos<br />
estabelecidos, cuja definição prévia visa assegurar<br />
que o empenho, a produtividade e a qualidade<br />
do exercício do profissional justificam a manutenção<br />
do estatuto e da retribuição prevista.<br />
A maior remuneração da exclusividade encontra sustentação<br />
no valor acrescido que se obtém por:<br />
• Maior dedicação permite ganhos financeiros diretos,<br />
como sejam a redução de custos por menor rotação<br />
de profissionais (recrutamento, formação, entre<br />
outros), em horas extraordinárias, prestações de serviço<br />
e subcontratação externa, e indiretos, em maior<br />
atividade por encurtamento da curva de experiência<br />
e melhor coordenação e ajustamento mútuo em<br />
produção em equipa;<br />
• Maior compreensão, adesão e focalização nos objetivos<br />
do Serviço e da Equipa, com maior motivação para<br />
cumprir metas de atividade, reduzir o desperdício, melhorar<br />
a qualidade e os tempos de resposta aos doentes,<br />
e melhor ambiente para projetos de melhoria que<br />
geram ganhos na qualidade e na eficiência e permitem<br />
atingir níveis superiores de desempenho; }<br />
8 9
GH recursos humanos<br />
“<br />
A MOTIVAÇÃO DOS PROFISSIONAIS<br />
É DECISIVA EM QUALQUER<br />
ORGANIZAÇÃO DE SAÚDE,<br />
DEVENDO NOS HOSPITAIS<br />
DO SNS, SER CONSIDERADA<br />
COMO UMA DIMENSÃO CHAVE<br />
PARA O SUCESSOOU INSUCESSO.<br />
”<br />
• Dedicação plena e conhecimento profundo do hospital,<br />
dos seus líderes, dos seus valores e regras, que<br />
facilitam a definição e o cumprimento de práticas normalizadas<br />
(protocolos clínicos) e a redução de erros<br />
e omissões;<br />
• Trabalho mais esclarecido, produtivo e sinérgico<br />
nas três áreas de atividade hospitalar (assistência, ensino,<br />
investigação);<br />
• Maior tempo e experiência na instituição conduzem<br />
a investimento emocional, com melhor formação<br />
e desenvolvimento de todos os profissionais, transferência<br />
de conhecimentos entre gerações e grupos<br />
profissionais (criação de escola), alinhamento e assunção<br />
plena da cultura institucional, disponibilidade para<br />
assumir responsabilidades, sejam atividades operacionais<br />
comuns ao hospital (ex. SU), de gestão de Unidades<br />
ou direção técnica.<br />
Integração na gestão do hospital<br />
A sustentabilidade dos serviços hospitalares não se obtém<br />
reivindicando cada vez mais recursos, antes pela<br />
melhoria de processos e práticas com vista a maior<br />
qualidade, segurança e eficiência. Para isso os hospitais<br />
do SNS requerem um programa específico para<br />
garantir instalações e equipamentos adequados e suficientes,<br />
uma gestão profissional, próxima e promotora<br />
de boas decisões, e um enquadramento e ambiente<br />
organizacional motivadores para os profissionais.<br />
Sem excluir outras possibilidades, os novos Centros<br />
de Responsabilidade Integrados podem constituir um<br />
bom enquadramento para melhorar a motivação e valorização<br />
dos profissionais, possibilitando maior participação<br />
destes na definição e concretização da estratégia,<br />
do plano de ação anual, do contrato programa<br />
e do regulamento interno, enquanto instrumentos de<br />
gestão operacional previstos na legislação respetiva.<br />
Estes instrumentos, a maior proximidade da gestão<br />
à atividade clínica e a possibilidade de incentivos garantem<br />
maior prestação de contas, promovem a melhoria<br />
de processos e do desempenho, em qualidade e segurança,<br />
eficiência, tempo de resposta, e satisfação dos<br />
doentes e dos profissionais, ao mesmo tempo que permitem<br />
a redução de burocracias e a reposição de poderes<br />
da gestão operacional.<br />
É nossa convicção, à luz de experiências já realizadas<br />
entre nós e noutras latitudes, que a promoção da exclusividade<br />
e das outras medidas explicitadas neste<br />
texto permitirão cativar os profissionais para se dedicarem<br />
ao SNS, contribuirão para instilar uma cultura<br />
positiva, de responsabilidade e de prestação de contas,<br />
de respeito mútuo e de orientação para o doente<br />
e para criar um ambiente que suscite o orgulho de<br />
pertença, gerando:<br />
• Organização de conhecimento, de aprendizagem e<br />
desenvolvimento de pessoas, que congregue alta especialização<br />
e diferenciação, assegurando cuidados integrados<br />
com os restantes serviços de saúde num clima<br />
de respeito, de colaboração e de apoio à decisão;<br />
• Instituições sustentáveis, pela qualidade e economicidade<br />
dos Serviços, atualizadas sob o ponto de vista<br />
clínico e tecnológico, com informação adequada e comunicação<br />
aberta e franca, que propicie boas decisões<br />
dos líderes, dos profissionais e dos doentes;<br />
• Qualidade e segurança, com gestão que previna<br />
riscos, erros e desperdícios e que promova a melhoria<br />
contínua de resultados, incluindo a responsividade<br />
aos doentes;<br />
• Satisfação e comprometimento dos profissionais na<br />
simplificação de processos e na definição e padronização<br />
das melhores práticas clínicas.<br />
A motivação dos profissionais é decisiva em qualquer<br />
organização de saúde, devendo nos hospitais do SNS,<br />
ser considerada como uma dimensão chave para o sucesso<br />
ou insucesso e ser tratada prioritariamente na<br />
definição da política de saúde e na gestão das Organizações.<br />
A qualidade e a sustentabilidade futuras do<br />
SNS não lhe serão indiferentes. Ã<br />
Better Health,<br />
Brighter Future<br />
Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas.<br />
Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda<br />
proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua<br />
fundação em 1781.<br />
Hoje combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo<br />
desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se:<br />
encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar<br />
melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível,<br />
o mais rápido que conseguirmos.<br />
Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa,<br />
a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.<br />
PT/INI/0319/0010d<br />
10<br />
Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda.<br />
Avenida da Torre de Belém, n<strong>º</strong> 19 R/C Esq. 1400-342 Lisboa<br />
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GH Qualidade e segurança do doente<br />
"AS PESSOAS<br />
FAZEM A MUDANÇA"<br />
Rui Cortes<br />
Consultor e fundador da Lean Health Portugal<br />
“<br />
People Make Change” foi a frase do International<br />
Forum on Quality&Safety for<br />
Healthcare, que decorreu em Glasgow,<br />
na Escócia, na última semana de março<br />
passado. Sem as pessoas não podemos<br />
mudar a cultura dos sistemas e das organizações de<br />
saúde, esta foi sem dúvida a mensagem e aprendizagem<br />
principal deste evento em que todos os profissionais<br />
têm duas responsabilidades: “Do their Job, Improve<br />
Their Job”.<br />
São três os pilares em que as pessoas têm de assegurar<br />
as condições para que se possa implementar uma cultura<br />
de mudança e melhoria contínua, e que passam pelo:<br />
1. papel e postura das lideranças de topo, mas também<br />
intermédias;<br />
2. facto dos profissionais se sentirem como verdadeiros<br />
agentes da mudança, atribuindo, assim, um maior significado<br />
e prazer no seu trabalho; e<br />
3. envolvimento dos utentes como agentes de mudança<br />
e geradores de inovação nos cuidados de saúde.<br />
No que aos gestores de topo diz respeito, e tendo tido<br />
oportunidade de participar na sessão apenas dedicada a<br />
“CEOs”, fica evidente que as preocupações são as mesmas<br />
entre os vários países, onde a grande mensagem foi<br />
a de que o líder tem de partir do pressuposto que pode<br />
estar errado. Saber fazer as questões certas e apoiar os<br />
diversos profissionais, num ambiente de confiança, na<br />
procura das respostas a essas questões, é fator crítico de<br />
sucesso sendo um papel do qual não se pode demitir.<br />
A mudança precisa de uma clareza no propósito, apoiada<br />
pela coragem necessária; só assim podemos assegurar<br />
a primeira parte da “Trilogia de Juran”, acerca da<br />
Planificação da Qualidade. Este planeamento deve ser<br />
alinhado com os objetivos estratégicos da organização,<br />
ou então resultar da voz dos utentes no que diz respeito<br />
a fatores que condicionam os mesmos a terem uma<br />
experiência, nos serviços de saúde, com qualidade.<br />
É, no entanto, essencial, “os gestores de topo, terem o<br />
domínio sobre a psicologia da mudança, e sobre o facto<br />
de”, segundo Henry Timms, “estarmos a assistir ao<br />
chamado novo poder”, o que obriga a mudanças claras<br />
no estilo de liderança e nas estratégias usadas para assegurar<br />
o necessário envolvimento dos profissionais de<br />
saúde, para que se sintam como agentes de mudança.<br />
Um dos exemplos muito falado por vários presidentes<br />
de hospitais é a criação de um standard work em que,<br />
no mínimo, seja definido um dia por semana, sempre<br />
ao mesmo dia, sempre à mesma hora, em que os elementos<br />
do conselho de administração, durante uma<br />
ou duas horas, se dedicam exclusivamente a visitar os<br />
diversos serviços, a fim de conhecer os problemas,<br />
acompanhar e monitorar as melhorias, bem como desbloquear<br />
barreiras para as mesmas.<br />
Assim, o que se espera de um líder de topo não é quem<br />
resolva problemas, mas sim quem apoia e incentiva a<br />
resolução dos mesmos, que define objetivos claros,<br />
quem vai ao “terreno”, quem define qual o método de<br />
melhoria contínua a ser usado, quem cria uma cultura<br />
de transparência onde o erro é a melhor oportunidade<br />
de melhoria, seguindo a máxima de que “Confiem nas<br />
pessoas, ataquem os processos”. Ademais, um hospital<br />
que não identifica erros, não protege os seus doentes.<br />
Passando aos profissionais… são eles os verdadeiros<br />
agentes de mudança, numa cultura de transparência,<br />
suportados por líderes que assegurem uma visão clara<br />
e criem um ambiente seguro, levando, assim, a que os<br />
profissionais sintam o ímpeto da mudança. Para que tal<br />
aconteça, são essenciais os outros dois elementos da<br />
“Triologia de Juran”: o controlo de qualidade e a melhoria<br />
continua da qualidade.<br />
No que diz respeito ao controlo de qualidade, implica<br />
uma clara definição de quais os standards pretendidos<br />
em cada processo, de forma a que se possam listar os<br />
indicadores de processos e resultados, assentes em<br />
ferramentas de gestão visual, permitindo os huddles<br />
meetings diários, ou no mínimo semanais, e em que<br />
haja uma clara identificação de quais os problemas ou<br />
situações que têm de ser de imediato escaladas para<br />
a gestão de topo.<br />
Os huddles meetings, assentes na chamada “gestão diária”,<br />
são a ferramenta mais importante para assegurar<br />
uma verdadeira cultura de melhoria continua, em que,<br />
pela minha experiência, por vezes é condição suficiente<br />
para mudar resultados, mesmo sem haver qualquer<br />
alteração nos processos. Não obstante, tem-se revelado<br />
algo difícil implementar nos hospitais portugueses,<br />
o que nos impele a pensar sobre o que está a falhar na<br />
forma como está a ser apresentado, e não na culpabilização<br />
de quem resiste à sua implementação. Os huddles<br />
meetings são reuniões, em pé, de não mais de 15<br />
minutos, sempre à mesma hora e/ou no mesmo dia, no<br />
mesmo local, onde é feita uma monitoração dos quatro<br />
ou cinco indicadores que estão a ser acompanhados,<br />
e se definem medidas de implementação imediata ou<br />
se identificam pontos críticos que necessitam de recursos.<br />
São um primeiro passo para a gradual passagem<br />
de uma qualidade retrospetiva para uma qualidade em<br />
tempo real.<br />
Sem prejuízo do atual estado da arte em Portugal, o que<br />
ainda não referi no que diz respeito às pessoas fazerem<br />
a mudança, sendo indubitavelmente o aspeto mais importante,<br />
é que se assiste a uma gradual implementação<br />
desta prática, devendo adotar-se um verdadeiro trabalho<br />
de envolvimento, menos paternalista e determinista.<br />
Importa ainda referir os utentes e suas famílias, parte<br />
ativa e central nos processos de codesign e de cocriação,<br />
agora centrais no processo, não só no desenho de<br />
como deve ser construída a sua experiência no seu percurso<br />
nos cuidados de saúde, mas também na forma como<br />
esses desenhos são implementados e sustentados.<br />
Esta coprodução deve ser adaptada a cada local, uma<br />
vez que as iniquidades são muito grandes, inclusivamente<br />
dentro da mesma cidade. Não pode haver uma solução<br />
forçada para todos os locais, sem as devidas adaptações<br />
através do envolvimento dos utentes. A título de<br />
exemplo, refere-se o caso da diferença de 21 anos na<br />
esperança média de vida entre um extremo do metro<br />
de Londres e o outro extremo, o que deve ser tido em<br />
conta quando procuramos forçar soluções para realidades<br />
distintas, mesmo que pareçam estar ali ao lado.<br />
Para que todo este paradigma se torne uma realidade,<br />
impera (i) assegurar uma adequada e moderna capacitação<br />
de líderes, não só na metodologia de melhoria<br />
contínua, mas também na psicologia da mudança, (ii)<br />
bem como capacitar e envolver utentes e famílias em<br />
processos de cocriação e codesign.<br />
Sem esta capacitação alinhada e complementar, correse<br />
o risco claro de ser só uma das partes da equação<br />
a falar uma linguagem de mudança, criando ainda mais<br />
“silos” nas organizações em geral e no setor da saúde<br />
em particular.<br />
Desta forma estaremos em condições de assegurar<br />
melhores outcomes de saúde, beneficiar as experiências<br />
do doente e dos profissionais e aumentar o valor dos<br />
cuidados prestados.<br />
Juntando estes fatores, o Ministério da Saúde Escocês<br />
criou o conceito de Medicina Realística, que é composto<br />
por uma tomada de decisão partilhada, em detrimento<br />
de uma decisão assente na autonomia dos<br />
profissionais. Trata-se de uma abordagem personalizada<br />
nos processos de cuidados, onde se assegura uma<br />
redução do desperdício, principalmente em situações<br />
em que o doente seja lesado, reduzindo variações desnecessárias<br />
nos cuidados prestados e nos outcomes,<br />
assente numa melhor gestão de risco e onde todos<br />
possam ser “agentes de melhoria” e inovadores.<br />
Segundo os autores de Compassionomics, estamos ou<br />
inevitavelmente caminharemos para uma era além da<br />
empatia (quiçá compaixão), o que se revela crucial na<br />
saúde, onde, por exemplo, doentes terminais tendem<br />
a valorizar mais esse fator do que aspetos associados<br />
ao tratamento ou à sobrevida, preferindo, ao invés,<br />
poderem estar assintomáticos e passarem mais tempo<br />
com as suas famílias.<br />
A abordagem assente na compaixão remete para a<br />
questão “o que importa para si?”, evitando a decisão<br />
pelo doente ou pelo profissional sobre o que importa<br />
para ele, engrandecendo aspetos tão simples como<br />
a hora das marcações (um dos “pormenores” mais valorizados).<br />
Estas situações permitem reforçar as relações<br />
entre profissionais, gestores, comunidade e utentes,<br />
criando, assim, condições para um ambiente mais<br />
propício à mudança e assente em confiança e foco no<br />
bem-estar, quer de doentes quer dos profissionais.<br />
Resumindo, parafraseando Gary Kaplan, CEO do Virginia<br />
Mason Medical Centre, a qualidade nas organizações<br />
de saúde parte de uma clara visão que se concretiza<br />
com: “respeito pelas pessoas”, “envolvimento dos<br />
profissionais e das equipas”, “obsessão pela qualidade<br />
através da redução do desperdício” e uma cultura de<br />
inovação onde haja espaço para PDSA (Plan- Do-Study-Act),<br />
de forma a uma permanente procura de fazer<br />
melhor.<br />
Com efeito, fazendo bem à primeira e reduzindo desperdícios,<br />
bem como a variação nos processos, os custos<br />
são em si mesmo impactados no sentido decrescente.<br />
Em jeito de conclusão, as pessoas fazem as mudanças<br />
e os líderes têm de partir do pressuposto humilde que<br />
podem estar errados! Ã<br />
12 13
GH Resistência a antimicrobianos<br />
INFEÇÕES ASSOCIADAS<br />
A CUIDADOS DE SAÚDE<br />
E RESISTÊNCIA AOS<br />
ANTIMICROBIANOS<br />
A ESTRATÉGIA SEGUIDA NO CHEDV<br />
Figura1<br />
Luís Pedro Tavares<br />
Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna<br />
Coordenador do GCL do PPCIRA do CHEDV<br />
Enquadramento do problema<br />
As infeções associadas a cuidados de<br />
saúde (IACS) e o aumento da resistência<br />
dos microrganismos aos antimicrobianos<br />
(RAM), vem adquirindo<br />
uma importância crescente à escala mundial, que se<br />
traduz num forte impacto nos utentes (aumento da<br />
morbilidade e a mortalidade), nas unidades de saúde<br />
(prolongamento do tempo de internamento e reinternamentos)<br />
e na comunidade (absentismo laboral<br />
e aumento de custos em saúde).<br />
A Organização Mundial de Saúde estima que, em<br />
2050, a resistência aos antimicrobianos será responsável<br />
por 10 milhões de mortes (mais do que a soma<br />
da Diabetes e Cancro) - figura 1 - e uma queda do Produto<br />
Interno Bruto entre 2.8% e 3.5%.<br />
Portugal participou em todos os Inquéritos de Prevalência<br />
de Ponto (PPS) do European Centre for Disease<br />
Control (ECDC). Em 2012, o nosso país registava<br />
a maior taxa de Infeção <strong>Hospitalar</strong> (10.5%) e valores<br />
consideravelmente superiores à média europeia, no<br />
que respeita à Infeção do Local Cirúrgico (ILC), ao<br />
consumo de Fluoroquinolonas na comunidade e de<br />
Miguel Paiva<br />
Economista<br />
Presidente do Conselho de Administração do CHEDV<br />
Carbapenemos nos hospitais. A resistência do Acinetobacter<br />
baumannii aos Carbapenemos (79.2%),<br />
do Staphylococcus aureus à Meticilina (53.8%), da<br />
Klebsiella pneumoniae às Cefalosporinas de 3ª geração<br />
(38.7%), da Escherichia coli às Fluoroquinolonas<br />
(30%) e do Enterococcus faecium à Vancomicina<br />
(23.3%), eram motivo de grande preocupação.<br />
Em 2013, o Governo português criou o Programa<br />
de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências<br />
aos Antimicrobianos (PPCIRA), os Grupos de<br />
Coordenação Regional (GCR) e Local (GCL) - Despachos<br />
n.<strong>º</strong> 2902 e 15423, tendo-o considerado um<br />
dos 9 Programas Prioritários de Saúde. Neste ano,<br />
morreram 4.606 doentes com infeções hospitalares<br />
(a mortalidade rodoviária foi 637) e gastaram-se 45<br />
milhões de euros em antimicrobianos.<br />
Nos anos seguintes, diversas entidades públicas definiram<br />
e atualizaram políticas, indicadores e metas<br />
nesta área:<br />
• Direção Geral de Saúde (DGS)- Normas de Orientação<br />
Clínica (NOC) e Índice de Qualidade (IQ);<br />
• Entidade Reguladora da Saúde (ERS) - Dimensão<br />
Segurança do Doente;<br />
• Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS)<br />
e Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos<br />
de Saúde (INFARMED) - Benchmarking <strong>Hospitalar</strong><br />
(sepsis pós-operatória, consumo de antibióticos);<br />
• Rede de Informação e Observação em Saúde<br />
(RIOS) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo<br />
Jorge - Programas de Vigilância Epidemiológica (VE);<br />
• Plano Nacional para a Segurança do Doente<br />
2015/2020 (objetivo estratégico 9).<br />
Em 2016, registaram-se resultados positivos relativamente<br />
à adesão à Higiene das Mãos (+37.0%), às<br />
Pneumonias associadas ao Ventilador (-36.6%), Infeções<br />
da Corrente Sanguínea associadas a Cateter<br />
Venoso Central (- 45.0% a -57.1%), às Infeções do<br />
Local Cirúrgico (-13.5% para as cirurgias do colon/<br />
reto e -52.9% na Prótese do Joelho), ao consumo de<br />
Carbapenemos (-13.3%) e à taxa de Methicilin Resistant<br />
Staphylococcus aureus - MRSA (-20.1%).<br />
Em maio de 2017, a participação portuguesa no PPS<br />
(28 países), envolveu 93 unidades hospitalares e<br />
16.982 doentes. A percentagem de doentes internados<br />
sob antibioterapia foi um pouco menor (39.6%),<br />
e a taxa de Infeção <strong>Hospitalar</strong> foi significativamente<br />
menor (7,8%), que em 2012.<br />
Em 20<strong>18</strong>, terminaram os 3 anos do Desafio Gulbenkian<br />
"Stop Infeção <strong>Hospitalar</strong>!", que envolveu 19 hospitais<br />
do SNS, e um potencial investimento de 1.2 milhões<br />
de euros. Conseguiram-se reduções de 51 a 56%<br />
na incidência de infeções associadas a dispositivos (cateter<br />
vesical, cateter venoso central, tubo oro-traqueal/<br />
ventilador) e procedimentos cirúrgicos (próteses da<br />
anca e joelho, cirurgia de vesícula e cólon/reto).<br />
Contudo, no seu último relatório anual, o PPCIRA assume<br />
as dificuldades no controlo do crescimento da<br />
resistência da Klebsiella pneumoniae aos carbapenemos<br />
(2.1% em 2014 e 9.7% em 2017), na implementação<br />
do Programa de Apoio à Prescrição Antimicrobiana<br />
(PAPA) e na participação na Vigilância<br />
Epidemiológica da Infeção do Local Cirúrgico, em<br />
cerca de 1/3 das instituições de saúde. Considerou<br />
necessário reduzir a percentagem de profilaxia antibiótica<br />
cirúrgica administrada após 24 horas da cirurgia<br />
para 37,5%, e manter a taxa de consumo de<br />
carbapenemos em meio hospitalar e de quinolonas<br />
na comunidade, abaixo de 0,11 e 1.25 Doses Diárias<br />
Definidas (DDD) por 1.000 habitantes, respetivamente<br />
(médias europeias: 0.06 e 1.6). }<br />
Observatório Português dos Sistemas de Saúde, “Relatório<br />
Primavera 20<strong>18</strong>” (25 páginas dedicadas às IACS<br />
e às RAM).<br />
Direção Geral de Saúde, “A Saúde dos Portugueses<br />
2016” (13 páginas dedicadas ao PPCIRA).<br />
Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências<br />
aos Antimicrobianos, Relatórios anuais “PPCI-<br />
RA em números” 2014 a 2017; “Infeções e Resistências<br />
aos Antimicrobianos - Desafios e Estratégias. 20<strong>18</strong>”.<br />
14 15
GH Resistência a antimicrobianos<br />
Figura 2<br />
A realidade do Centro <strong>Hospitalar</strong> de Entre Douro<br />
e Vouga - os últimos 5 anos<br />
O CHEDV, criado na sequência da publicação do<br />
Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 27/2009, agrupa o Hospital São<br />
Sebastião (HSS, Santa Maria da Feira), o Hospital<br />
Distrital de São João da Madeira e o Hospital São<br />
Miguel (Oliveira de Azeméis), e é responsável pela<br />
prestação de cuidados de saúde a uma população<br />
que ronda os 340.000 habitantes.<br />
Ano 2013 Ano 20<strong>18</strong><br />
Lotação 384 381<br />
Episódios SU <strong>18</strong>0.252 210.426<br />
SUMC (HSS) 147 881 142 330<br />
Internamentos pelo SU 11.404 10.992<br />
Dias de Internamento 116.305 120 391<br />
Doentes saídos 21.289 <strong>18</strong>597<br />
Serviços médicos 6.590 7.317<br />
Serviços cirúrgicos 13.512 10.474<br />
Demora média 5,5 6,5<br />
Cirurgia Convencional 8.374 5.697<br />
Cirurgia Ambulatório 8.736 11.406<br />
Cirurgia Urgente 2.603 2.351<br />
ICMix 0,89 0,99<br />
O seu GCL-PPCIRA iniciou funções em 1 de março de<br />
2014, sendo o núcleo executivo composto por um<br />
internista (coordenador, 28 horas semanais) e duas<br />
enfermeiras especialistas (70 horas semanais).<br />
São seus colaboradores regulares 3 médicos (internista,<br />
cirurgião e pediatra), uma microbiologista e<br />
uma farmacêutica.<br />
O Despacho n.<strong>º</strong> 15423/2013, define com clareza<br />
as competências dos GCL, tendo constituído o suporte<br />
para a elaboração do regulamento interno e dos<br />
planos anuais do GCL do CHEDV. A informação que<br />
será apresentada neste artigo foi obtida a partir de<br />
dados extraídos do processo clínico (Medtrix EPR<br />
Health), das soluções de gestão do Laboratório<br />
(Appolo Confidentia ® ) e dos Serviços Farmacêuticos<br />
(GHAF ® ), do Gabinete de Informação para a <strong>Gestão</strong><br />
e do Serviço de Informática.<br />
Cumprindo uma estratégia que visa a transparência<br />
de informação e o envolvimento dos principais<br />
agentes que intervêm na prestação de cuidados, os<br />
resultados são disponibilizados trimestralmente às<br />
chefias (Direções de Serviço e Enfermeiros-Chefes),<br />
à Direção Clínica e à Direção de Enfermagem.<br />
Importa agora descrever de forma mais detalhada as<br />
estratégias adotadas aos vários níveis de intervenção.<br />
• Contextualização da Antibioterapia<br />
Uma das primeiras constatações que se fizeram<br />
prendeu-se com a variabilidade de critérios clínicos<br />
quanto às decisões de prescrição de antimicrobianos<br />
de uso sistémico.<br />
A atualização do Medtrix EPR-Health de setembro<br />
de 2014 contemplou uma alteração significativa relativamente<br />
aos antimicrobianos de uso sistémico. Todas<br />
as prescrições, passaram a necessitar de contextualização<br />
e a renovação de prescrição é necessária<br />
a cada 7 dias.<br />
• Programa de Apoio à Prescrição de Antimicrobianos<br />
(PAPA)<br />
O PAPA foi implementado em junho de 2014 (modelo<br />
back-end). São monitorizadas as prescrições de<br />
carbapenemos e quinolonas (com fundamentação<br />
no processo clínico), até às 96 horas. As auditorias e<br />
reports trimestrais são disponibilizados aos prescritores<br />
e chefias - no 1<strong>º</strong> trimestre de <strong>2019</strong>, a validação<br />
na 1<strong>º</strong> hora ocorreu em 20.2% das prescrições e, até<br />
às 4 horas, em 43.5% (figura 3).<br />
• Apoio à implementação e atualização de protocolos<br />
de antibioterapia dos diversos Serviços<br />
Em 2014, foram revistos todos os protocolos de profilaxia<br />
antibiótica cirúrgica dos Serviços de Oftalmologia,<br />
ORL, Urologia, Cirurgia, Ortopedia, Ginecologia e<br />
Obstetrícia, de acordo com as orientações da NOC<br />
31/2013. Desde então, foram atualizados 27 protocolos<br />
de antibioterapia terapêutica nos Serviços de<br />
Cirurgia, Ortopedia, Ginecologia/Obstetrícia e Medi-<br />
Figura 3<br />
Figura 4<br />
doentes CHEDV (DI) Prescrições (AB) doentes com AB (DAb) Ab/DI Dab/DI Ab/DAb<br />
T1 427 245 194 0,57 0,45 1,26<br />
médias<br />
S1 398 227 178 0,57 0,45 1,27<br />
cina Interna, tendo em consideração as atualizações<br />
das recomendações das sociedades científicas e a<br />
realidade da instituição, no que respeita a isolamentos<br />
microbiológicos e padrões locais de resistência.<br />
• Monitorização semanal da prescrição de antimicrobianos<br />
Desde julho de 2015 que é elaborado um report semanal.<br />
Em <strong>2019</strong>, 45% dos doentes internados têm<br />
prescrição de antibióticos e a profilaxia antibiótica<br />
em cirurgia é responsável por ¼ destas prescrições.<br />
Estes valores são sobreponíveis aos de período homólogo<br />
de anos prévios (figura 4).<br />
• Avaliação de risco na admissão de doentes, rastreios,<br />
alertas, precauções de isolamento e fluxo<br />
de informação entre serviços e instituições<br />
Os riscos de IACS aumentam consideravelmente<br />
com o grande movimento de doentes no hospital e<br />
a insuficiência de unidades de isolamento. O CHEDV<br />
dispõe de 31 unidades de isolamento (quarto individual<br />
com casa de banho), e 13 enfermarias de 2 camas<br />
(com casa de banho partilhada).<br />
A priorização de risco é efetuada na admissão - doente<br />
com risco acrescido para microrganismos epidemiologicamente<br />
sensíveis (MoES), presença de alertas<br />
e de doenças de declaração obrigatória (Despacho<br />
5681-A/2014) - e tem em conta as recomendações<br />
que constam da NOC 029/2012 e o Procedimento<br />
Interno “Prevenção da Transmissão da Infeção - Precauções<br />
Básicas e de acordo com a Via de Transmissão<br />
e Isolamento Protetor”.<br />
Figura 5<br />
O fluxo de informação entre serviços e instituições<br />
tem sido feito de forma sistemática desde 2014, utilizando<br />
instrumentos convencionais (passagem de turno,<br />
contacto telefónico, registo no processo) e através<br />
do envio de mails para os GCL das instituições<br />
de destino.<br />
• Monitorização semanal de MoES<br />
Desde agosto de 20<strong>18</strong> que é elaborado um report<br />
semanal. Os alertas permanecem ativos por 6 meses,<br />
exceto no caso das Enterobactérias produtoras de<br />
Carbapenemases (12 meses). No último report de<br />
maio de <strong>2019</strong>, dos 430 doentes com alertas ativos,<br />
estavam internados 7 em serviços cirúrgicos, 1 no<br />
Serviço de Medicina Intensiva Polivalente e 25 em<br />
enfermarias médicas de adultos. Existe grande variabilidade<br />
semanal relativamente a alguns MoES * (em<br />
particular, MRSA, ESBL e EPC), o que dificulta a alocução<br />
dos doentes e a operacionalização de áreas de<br />
coorte/precauções de isolamento de acordo com a<br />
via de transmissão (figura 5). }<br />
*MRSA, Enterobactérias produtoras de Carbapenemases ou Betalactamases<br />
de Espectro Alargado (EPC ou ESBL), Pseudomonas aeruginosa multirresistente,<br />
Acinetobacter baumannii, Clostridium difficile , Mycobacterium tuberculosis.<br />
16 17
GH Resistência a antimicrobianos<br />
• Monitorização trimestral dos resultados microbiológicos<br />
e das RAM<br />
Desde abril 2015 que os resultados são disponibilizados<br />
trimestralmente às chefias (Direções de Serviço<br />
e Enfermeiros-Chefes) e aos prescritores, de modo<br />
a que possam ir ajustando as suas práticas. Tem sido<br />
realçada a importância de manter a tendência dos últimos<br />
trimestres para a diminuição das taxas de MRSA e<br />
de Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL (figura 6).<br />
• Monitorização trimestral das infeções<br />
A contextualização da antibioterapia permite conhecer<br />
a tipologia das infeções (da comunidade e IACS<br />
hospitalares ou não), os órgãos/sistemas envolvidos<br />
e os serviços onde são tratadas, promover ações<br />
corretivas e sedimentar bons resultados.<br />
Tal como no primeiro trimestre de 20<strong>18</strong>, as infeções<br />
respiratórias representam mais de metade de todas<br />
as infeções e as urinárias quase ¼. Em <strong>2019</strong>, registou-se<br />
um aumento de infeções urinárias associadas<br />
a cuidados de saúde (hospitalares ou não) e uma<br />
diminuição significativa das infeções do local cirúrgico<br />
no Serviço de Cirurgia (figura 7).<br />
Figura 7<br />
Figura 6<br />
Figura 8<br />
• Cartas microbiológicas<br />
Desde 2006 que o Serviço de Patologia Clínica disponibiliza<br />
anualmente uma “carta microbiológica”,<br />
mas só a partir de 2014, se fez a sua discussão sistemática<br />
nos diversos serviços. Nos últimos anos, tem-<br />
-se registado um aumento significativo dos agentes<br />
mais frequentemente responsáveis por infeções urinárias<br />
(Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae) e uma<br />
franca diminuição da resistência nas bactérias Gram+<br />
(Staphylococcus aureus/Meticilina e Enterococcus faecium/Vancomicina)<br />
e nos Gram- não fermentadores<br />
(Pseudomonas aeruginosa/multirresistência e Acinetobacter<br />
baumannii/Carbapenemos) - figura 8.<br />
• Auditorias Internas<br />
A realização de auditorias internas periódicas e a divulgação<br />
dos seus resultados, é fundamental para se<br />
encontrarem oportunidades de melhoria. Para além<br />
das abaixo referidas, têm sido feitas outras auditorias<br />
periódicas, de acordo com as Normas de Orientação<br />
Clínica - NOCs - (p.e., profilaxia antibiótica em<br />
cirurgia) e Procedimentos Internos (p.e., higiene ambiental<br />
e consumo de solução antissética de base alcoólica).<br />
Em 20<strong>18</strong> realizaram-se as seguintes:<br />
Precauções Básicas de controlo de Infeção (NOC 029/<br />
2012): adequação de 92.3% (Processo) e 87.7% (Estrutura)<br />
- em 2014, 87.2% e 81.1%, respetivamente;<br />
Adesão à Higiene das Mãos (1<strong>º</strong> momento): cumprimento<br />
de 75.6% (em 2014, 80.6%);<br />
Qualidade de Limpeza Terminal (serviços de internamento):<br />
adequação de 86% (em 2014, 32%).<br />
• Programas de Vigilância Epidemiológica e Estudos<br />
de Prevalência (PPS)<br />
O CHEDV está integrado nos programas/plataformas<br />
de VE (HELICS - Hospitals in Europe Link for Infection<br />
Control through Surveillance) desde a fundação<br />
no caso das Infeções Nosocomiais da Corrente<br />
Sanguínea (2002) e das que ocorrem em Unidades<br />
de Cuidados Intensivos de adultos (2004) e de Recém-Nascidos<br />
(2007). Em 2013, aderiu ao programa<br />
de VE de MoES (NOC 04/2013) e, em 2015, ao da<br />
Infeção do Local Cirúrgico (plataforma europeia).<br />
O CHEDV participou nos PPS do ECDC em 2012 e<br />
2017 (taxas de infeção hospitalar de 7.4% e 7.0%, respetivamente)<br />
e, em 20<strong>18</strong>, no Global Point Prevalence<br />
Survey on Antimicrobial Consumption and Resistance,<br />
projeto ambicioso que monitoriza a nível mundial<br />
as taxas de prescrição de antimicrobianos em doentes<br />
hospitalizados (http://www.global-pps.com).<br />
• Formação<br />
A formação dos profissionais é considerada uma<br />
atividade nuclear do GCL, tendo sido intensificada<br />
a partir de 2016. Para lá da apresentação dos resultados<br />
e estratégias da instituição, são divulgadas<br />
as Orientações e NOCs da DGS relacionadas com<br />
Infeção e Uso de Antimicrobianos (30), os Feixes de<br />
Intervenção de Prevenção de Infeções associadas a<br />
cirurgias e dispositivos (4) e os documentos internos,<br />
relativos a Procedimentos (20), Planos e Política (7).<br />
Profissionais abrangidos em 2016: 700 (35%); em<br />
2017: 913 (45%); e, em 20<strong>18</strong>: 622 (29%).<br />
Horas de formação em 2016: 1.466; em 2017: 1.798,5;<br />
e, em 20<strong>18</strong>: 1.395,5.<br />
• Indicadores de Qualidade<br />
Em <strong>2019</strong>, o GCL propôs ao conselho de Administração<br />
a contratualização anual de Indicadores de<br />
Qualidade na área da infeção e antibioterapia (IQ<br />
de estrutura, de processos e de resultados), em cada<br />
serviço/unidade, tendo em consideração o seu histórico,<br />
objetivos e metas nacionais.<br />
• Eventos<br />
Desde 2015 que existe uma parceria entre o CHEDV<br />
e a Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha<br />
Portuguesa de Oliveira de Azeméis para a realização<br />
de Jornadas sobre IACS. Em 2017, em colaboração<br />
com a Associação Nacional de Controlo de Infeção,<br />
organizaram o 1<strong>º</strong> Congresso Internacional no âmbito<br />
das IACS (https://iacs.pt/), que contou com 550 inscritos,<br />
30 oradores, 8 nacionalidades e 5 grupos profissionais.<br />
Em 20<strong>18</strong>, o GCL-PPCIRA voltou a participar<br />
nas Comissões Organizadora e Científica deste evento,<br />
que teve cerca de 6 centenas de participantes.<br />
• Relatórios e Planos anuais<br />
Anualmente, são elaborados relatórios para a Comissão<br />
de Qualidade e Segurança, e entregues relatórios<br />
e planos ao Conselho de Administração, tendo<br />
por base análises SWOT.<br />
Resultados Alcançados<br />
O trabalho realizado ao longo destes anos, assente<br />
numa estratégia claramente definida e institucionalmente<br />
assumida, bem como na estabilidade da equipa<br />
de trabalho que a tem implementado tem permitido<br />
que a instituição registe uma evolução positiva<br />
no combate a este problema.<br />
Em 20<strong>18</strong>, no que respeita a resultados, os pontos<br />
fortes mais significativos foram:<br />
• MoES (fig. 9): MRSA, Enterococcus faecium resistente à<br />
Vancomicina (EVR), Pseudomonas aeruginosa multirresistente<br />
e Acinetobacter baumannii resistente ao Imipenemo.<br />
• Sepsis pós-operatória: A realização de auditorias<br />
e revisão de procedimentos, em consequência dos<br />
resultados preocupantes de 2017, teve forte reper- }<br />
<strong>18</strong> 19
GH Resistência a antimicrobianos<br />
Figura 10<br />
Figura 9<br />
http://benchmarking.acss.min-saude.pt/BH_SegurancaDashboard<br />
Figura 11<br />
http://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/farmacia-hospitalar/antibióticos<br />
1 DDD (Dose Diária definida) corresponde a um dia de tratamento de uma infeção moderada, com a posologia padrão.<br />
cussão nos de 20<strong>18</strong>, no qual a instituição alcançou o 2<strong>º</strong> melhor<br />
resultado de entre as unidades hospitalares do Grupo<br />
C, de acordo com os dados oficiais da ACSS (http://benchmarking.acss.min-saude.pt/BH_SegurancaDashboard).<br />
• Consumo de antibióticos: Em 20<strong>18</strong>, relativamente a<br />
2014, o CHEDV teve mais 4.292 dias de internamento<br />
e o consumo de antibióticos diminuiu 10% (5.919<br />
DDD), o de carbapenemos 30.6% (1.914 DDD) e<br />
o de quinolonas 49.0% (2.451 DDD) - fig. 10 e 11.<br />
Considerações finais<br />
Estes esperançosos resultados são a prova de que<br />
o combate à infecção hospitalar, nas diversas formas<br />
como ela se manifesta, não só deve ser assumida<br />
como um desígnio estratégico para todas as instituições<br />
hospitalares, como é possível e, se devidamente<br />
levada a cabo, produz resultados positivos, que<br />
se traduzem em ganhos em saúde para os doentes<br />
e poupança de recursos. Trata-se, contudo, de um<br />
trabalho que exige persistência, não só porque o<br />
sucesso implica o permanente alinhamento dos profissionais,<br />
mas também porque a própria natureza<br />
das ameaças dos agentes infeciosos assume permanentemente<br />
novas formas. Ã<br />
Figura 12<br />
Fontes de Informação no CHEDV<br />
20 21
GH Cuidados de saúde primários<br />
REFUNDAR OS CUIDADOS<br />
DE SAÚDE PRIMÁRIOS:<br />
UM CAMINHO NA DIREÇÃO<br />
DA COBERTURA UNIVERSAL<br />
DE SAÚDE<br />
Miguel Lemos<br />
Diretor Executivo do ACES Arco Ribeirinho<br />
O<br />
que foi feito: Alma-Ata<br />
Quando há 40 anos, mais propriamente<br />
em 1978, na Conferência Internacional<br />
sobre Cuidados de Saúde<br />
Primários, organizada pela Organização<br />
Mundial de Saúde (OMS) e Fundo das Nações<br />
Unidas para a Infância (UNICEF), numa cidade da<br />
antiga União Soviética, se materializou o documento<br />
que ficou conhecido com a Declaração de Alma-Ata<br />
(DAA), assistiu-se ao início formal do grande movimento<br />
dos cuidados de saúde primários (CSP) em toda a<br />
comunidade que integra a OMS.<br />
Nesse momento tinha ficado inscrito internacionalmente,<br />
que a saúde era o grande objetivo social a ser<br />
conquistado em todas as sociedades, exigindo a participação<br />
e o envolvimento de todos os setores da sociedade,<br />
num esforço comum para reduzir desigualdades<br />
sociais que estavam na base dos diferentes níveis de<br />
acesso, prestação e desenvolvimento tecnológico dos<br />
cuidados de saúde.<br />
Aí se evidenciou com clareza o impacto que as determinantes<br />
sociais tinham e, que continuariam a ter, na<br />
saúde das populações e dos indivíduos. Firmaram-se<br />
declarações, onde a perspetiva holística da saúde passou<br />
a assumir-se como um grande referencial para a<br />
construção de sistemas de saúde integrados, assente<br />
em visões comunitário-cêntricas e salutogénicas, onde<br />
a educação, a prevenção e a promoção da saúde se<br />
constituiriam como alicerces fundamentais das estratégias<br />
do desenvolvimento de políticas, programas e<br />
ações orientadas para a resposta a necessidades contínuas<br />
de saúde, tratava-se, portanto, de gerir e investir<br />
em saúde e nas pessoas. A este propósito, poder-se-á<br />
mesmo referir que a saúde pública (SP), enquanto área<br />
de especialidade da medicina, dedicada à “arte de prevenir<br />
a doença, prolongar a vida e promover a saúde<br />
por meio de esforços organizados da sociedade”, tal<br />
com definido por Sir Donald Acheson, em 1988, foi<br />
parte indissociável e central deste movimento fundacional<br />
dos CSP.<br />
Curiosamente, e no que diz respeito a Portugal, em<br />
1977, o Prof. Arnaldo Sampaio, ilustre médico de saúde<br />
pública que, à data, integrava o Comité Executivo da<br />
OMS teve a oportunidade de participar na organização<br />
preparatória da Conferência de Alma-Ata, que viria a<br />
realizar-se no ano seguinte, dando, deste modo, o seu<br />
contributo para aquele que viria a ser o momento de<br />
viragem nos CSP.<br />
O reforço da continuidade: A Carta de Ottawa<br />
Posteriormente, as sociedades foram assistindo ao desenvolvimento<br />
dos CSP, onde a matriz conceptual forjada<br />
na DAA, era mantida e reforçada, tal como veio a<br />
acontecer na 1ª Conferência Internacional sobre Promoção<br />
de Saúde, realizada na cidade de Ottawa, no<br />
Canadá, em 1986.<br />
Os 11 anos que mediaram a DAA e aquela que vi-<br />
ria a ser conhecida como a Carta de Ottawa para a<br />
Promoção da Saúde, ou simplesmente como a Carta<br />
e Ottawa (CO), foram determinantes no processo de<br />
consolidação do movimento dos CSP e da própria SP,<br />
que viu o conceito de promoção de saúde assumir-<br />
-se como o principal motor do seu desenvolvimento<br />
a nível mundial.<br />
Este momento foi crucial para disseminar e incorporar<br />
na sociedade o conceito de promoção de saúde,<br />
enquanto processo de capacitação que os indivíduos<br />
e as comunidades têm de possuir para controlarem<br />
de forma positiva a sua própria saúde. É um conceito<br />
que remete para a tomada de consciência social de<br />
que a saúde não é propriedade nem responsabilidade<br />
única das politicas de saúde e prestadores de cuidados,<br />
mas sim de cada um de nós em particular e da<br />
sociedade em geral.<br />
A CO veio introduzir uma conceção positiva da saúde,<br />
enquanto um recurso indispensável para a vida, que<br />
depende de outros recursos fundamentais, tais como<br />
a paz, a segurança, educação, habitação, alimentação,<br />
economia, ambiente, justiça e equidade, remetendo,<br />
deste modo, para o compromisso de que a sociedade<br />
tem de estabelecer, de forma a garantir a existência<br />
destas condições de recursos, indispensáveis para a saúde<br />
dos indivíduos.<br />
Este compromisso para a promoção da saúde veio reforçar<br />
o movimento em torno da SP e dos CSP, ao<br />
mesmo tempo que definiu as orientações para atingir<br />
a Saúde para Todos no ano 2000.<br />
Onde estamos 40 anos depois:<br />
A Declaração de Astana<br />
Passadas quatro décadas da DAA, apesar do desenvolvimento<br />
dos CSP, o desígnio da Saúde para Todos no<br />
ano 2000, está longe de estar cumprido. Se, por um<br />
lado, no inicio se assistiu a um movimento que estava<br />
fundado numa visão salutogénica e promotora de<br />
saúde, por outro, o desenvolvimento nestes últimos<br />
40 anos, foi preenchido com visões mais patogénicas<br />
e promotoras de doença que se foram instalando paulatinamente<br />
na consciência dos decisores e que foram<br />
influenciando políticas, programas e ações, que passaram<br />
a estar focalizadas na organização de sistemas prestadores<br />
de cuidados à doença, ao invés de cuidados<br />
à saúde, de saúde e para a saúde!<br />
Esta tendência de sobreposição do conceito de doença<br />
sobre a saúde, tem sido um fator de desaceleração<br />
na aplicação dos princípios fundacionais dos CSP e da<br />
SP, aos sistemas de saúde em geral. Tem sido também<br />
responsável pelo excesso de hospitalocêntrismo, que<br />
muito tem influenciado a politica, o financiamento e a<br />
“<br />
ESTE COMPROMISSO<br />
PARA A PROMOÇÃO<br />
DA SAÚDE VEIO REFORÇAR<br />
O MOVIMENTO EM TORNO<br />
DA SP E DOS CSP.<br />
”<br />
prestação de cuidados, centrando a perceção das populações<br />
no “admirável mundo novo” das tecnologias<br />
de diagnóstico e tratamento da doença, em detrimento<br />
da prevenção da doença e promoção da saúde.<br />
Este facto tem condicionado fortemente as atitudes<br />
sobre a saúde e a doença dos indivíduos, levando-os a<br />
práticas de consumo de cuidados mais secundários do<br />
que primários.<br />
A evidência de que os CSP precisavam de ser energizados<br />
e projetados para o futuro, foi consubstanciado<br />
na Declaração de Astana (DA) que emergiu da Conferência<br />
Global sobre CSP realizada na cidade de Astana,<br />
no Cazaquistão, em 25 e 26 de outubro de 20<strong>18</strong>, promovida<br />
mais uma vez pela OMS e UNICEF. Esta reunião<br />
internacional teve como principal objetivo analisar<br />
o percurso civilizacional dos CSP nos últimos 40 anos,<br />
identificando o que é necessário pôr em movimento,<br />
para que os mesmos se assumam como uma verdadeira<br />
força de desenvolvimento e transformação social, de<br />
forma a alcançar a cobertura universal de saúde.<br />
Nesta Conferência, foi divulgado pela revista Lancet o<br />
relatório “Alma-Ata 40 years: reflections from the Lancet<br />
Commission on Investing in Health”, que retrata o<br />
percurso dos CSP desde a DAA até aos nossos dias,<br />
identificando as razões, analisando factos epidemiológicos<br />
e sociais que atravessaram os CSP durante os<br />
últimos 40 anos.<br />
Este documento, veio evidenciar que o caminho para se<br />
atingir uma Cobertura Universal de Saúde, deve obrigatoriamente<br />
passar pela refundação/reforço/revitalização<br />
dos CSP a nível mundial. Esta ideia é suportada pela<br />
referência ao facto de que 80 a 90% das necessidades<br />
de saúde ao longo do ciclo de vida, podem ser satisfeitas<br />
pelos CSP, desde os cuidados de saúde mater- }<br />
22 23
GH Cuidados de saúde primários<br />
“<br />
ASSUMINDO COMO UM GRANDE<br />
REFERENCIAL A DECLARAÇÃO<br />
DE ASTANA, NÃO SERÃO PRECISOS<br />
OUTROS 40 ANOS PARA PODERMOS<br />
PERCEBER QUE O CAMINHO<br />
A FAZER, PASSA POR OLHAR PARA<br />
A SOCIEDADE SOB UMA PERSPETIVA<br />
MAIS SALUTOGÉNIA E POSITIVA.<br />
”<br />
noinfantis, prevenção de doenças através da vacinação,<br />
passando pela gestão da doença crónica e terminando<br />
nos cuidados paliativos.<br />
No entanto, e dado não terem sido cumpridos na<br />
integra os princípios da DAA, assiste-se atualmente a<br />
assimetrias sociais no acesso e na oferta de cuidados<br />
de saúde, que variam de forma abissal entre países de<br />
baixo e médio rendimento, que continuam a lutar contra<br />
doenças infecciosas e transmissíveis e os países de<br />
alto rendimento, onde a transição epidemiológica para<br />
as doenças crónicas é já há muito uma realidade. Esta<br />
discrepância existente ao nível da riqueza e pobreza<br />
entre países, tem naturalmente um impacto direto nos<br />
modelos de organização e funcionamento dos sistemas<br />
de saúde e desenvolvimento social das populações.<br />
Neste contexto, a DA constitui um ponto de viragem<br />
nas abordagens e compromissos que as nações têm de<br />
assumir, de forma a poderem alcançar uma Cobertura<br />
Universal de Saúde, que inevitavelmente passam pela<br />
existência de um verdadeiro sistema de saúde assente<br />
nos CSP, sem os quais as sociedades terão grande dificuldade<br />
em concretizar as metas anteriormente preconizadas<br />
na Saúde para Todos, em 2000, e os que<br />
constam dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável<br />
(ODS), definidos pela Organização das Nações<br />
Unidas (ONU) a atingir até 2030.<br />
A DA reúne, por isso, um conjunto de orientações e<br />
compromissos assentes em princípios universais de que<br />
todo o ser humano tem direito à cobertura universal<br />
de cuidados; de que o reforço dos CSP é a forma mais<br />
inclusiva, efetiva e eficiente de garantir um bom estado<br />
de saúde mental, físico e social, de forma a poderem ser<br />
alcançados os ODS; que apesar de todos os esforços<br />
ainda há necessidades de saúde por satisfazer e que,<br />
devido às iniquidades em saúde, às desigualdades sociais<br />
e à pobreza, continuam a morrer prematuramente pessoas<br />
e que a única forma de contrariar esta tendência<br />
é de colocar a saúde na agenda de todas os setores<br />
da sociedade e de reforçar os CSP, priorizando a sua<br />
intervenção nos sistemas de saúde.<br />
Trata-se, por isso, de recentralizar os CSP, posicionando-os<br />
na primeira linha de atuação e intervenção em<br />
saúde pública, tornando-os sustentáveis e dotados de<br />
estrutura, condições e recursos que viabilizem uma<br />
ação integrativa, de capacitação das comunidades e<br />
seus indivíduos nas áreas da saúde e literacia e que esteja<br />
devidamente alinhada com as politicas, estratégias<br />
e planos de saúde de cada sociedade.<br />
De forma sucinta, a DA identifica que o sucesso dos<br />
CSP passa pela:<br />
• Capacidade de gerar conhecimento, produzir investigação<br />
e ciência;<br />
• Existência de recursos humanos formados, capacitados,<br />
motivados, e devidamente reconhecidos e<br />
remunerados;<br />
• Utilização de tecnologia ao nível do tratamento, dispositivos<br />
de apoio e monitorização da saúde das populações,<br />
de informação, de educação, promotoras de<br />
acesso aos cuidados de saúde que sejam seguras, fiáveis,<br />
de qualidade e efetivas;<br />
• Garantia de um financiamento adequado aos contextos<br />
sociais da intervenção e proporcional ao retorno<br />
dos ganhos em saúde, que assegure a melhor alocação<br />
dos recursos em contextos onde a redução das ineficiências<br />
e iniquidades são evidentes.<br />
O que falta fazer: em direção ao futuro<br />
Assumindo como um grande referencial a Declaração<br />
de Astana, julgo que não serão precisos outros 40 anos<br />
para podermos perceber que o caminho a fazer, passa<br />
por olhar para a sociedade sob uma perspetiva mais<br />
salutogénia e positiva, centrando a atenção nas pessoas<br />
e suas necessidades e decidindo em função disto mesmo.<br />
É assumido que as dificuldades são muitas e difíceis,<br />
mas nunca devem constituir um obstáculo ou justificação<br />
para a inação, mas sim uma via para o desenvolvimento<br />
criativo de soluções que, mesmo não sendo<br />
realizadas no momento, possam fazer parte de<br />
uma mobilização de ações/vontades que no futuro<br />
possam ser concretizadas.<br />
A par da Declaração de Astana, a OMS, em <strong>2019</strong>, continua<br />
a reforçar a ideia da Cobertura Universal de Saúde<br />
iniciada no ano anterior, mas com um enfoque especial<br />
nos Cuidados de Saúde Primários, devendo, por isso,<br />
ser o mote para devolver à sociedade e aos decisores<br />
políticos a importância crucial de possuirmos cuidados<br />
de saúde primários acessíveis, equitativos e de qualidade.<br />
Neste sentido, e crendo que o caminho a seguir é este,<br />
devemos então refletir sobre o que queremos para o<br />
nosso sistema de saúde, partindo da proposta de análise<br />
de três pressupostos que condicionam e determinam<br />
a existência de uma verdadeira Cobertura Universal<br />
de Saúde:<br />
• As determinantes sociais da saúde:<br />
Em relação a este pressuposto, a atenção que deve ser<br />
dedicada pela sociedade em perceber que os fatores<br />
biológicos, estilos de vida, as condições socioeconómicas,<br />
culturais e ambientais dos indivíduos são determinantes<br />
para saúde e bem-estar das populações. Atuar<br />
sobre estas determinantes implica o envolvimento corajoso<br />
e persistente de todos os setores da sociedade<br />
e uma mudança na forma de integrar a saúde como<br />
elemento central em todas as políticas de uma nação.<br />
• A organização do modelo de prestação de cuidados<br />
de saúde primários:<br />
Neste item, e tendo como objetivo o reforço dos CSP,<br />
a proposta passa pelo reforço continuo das politicas de<br />
saúde de proximidade e literacia em curso, que devem<br />
ser acompanhadas de uma profunda alteração das estruturas/condições<br />
físicas, onde os cuidados de saúde<br />
primários são prestados.<br />
Em simultâneo, devemos assistir ao reforço e valorização<br />
dos recursos humanos através da implementação<br />
de ações concretas de desenvolvimento organizacional,<br />
que não se deve consubstanciar unicamente na perspetiva<br />
imediata e motivacional de se constituir uma<br />
Unidade de Saúde Familiar (USF), mas também pela<br />
capacidade de oferecer percursos profissionais aliciantes,<br />
formação adequada que resulte de diagnósticos<br />
internos e de necessidades identificadas pelos profissionais<br />
e utentes, incentivos ao desenvolvimento de estudos<br />
e investigação, à criação e utilização de tecnologia<br />
adaptada aos CSP (p.e. dispositivos de monitorização<br />
à distância de parâmetros vitais), ferramentas de gestão<br />
de informação de apoio à decisão disponíveis ontime<br />
e a implementação de modelos de avaliação e reconhecimento<br />
profissional baseados em desempenhos<br />
de qualidade.<br />
Também a reflexão sobre o modelo de gestão que se<br />
pretende para os CSP, deve fazer parte deste percurso<br />
de mudança. A perspetiva de um modelo de gestão<br />
que aponta para uma autonomia administrativa e financeira,<br />
permite antever maior flexibilidade na operação<br />
e gestão de processos que, no terreno dos CSP, obrigam<br />
muitas vezes a uma resposta célere. Esta possibilidade<br />
de alteração estatutária e de personalidade jurídica<br />
dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES),<br />
pode ser concretizada à imagem do que já acontece<br />
com o modelo de organização dos hospitais EPE.<br />
• A opção equilibrada do financiamento:<br />
Por último, não queria deixar de afirmar que a mudança<br />
nos CSP, resultará também, e sobretudo, do seu<br />
próprio modelo de financiamento. Não é despiciente<br />
reconhecer que, se queremos CSP mais robustos que<br />
sejam a base para a existência de uma Cobertura Universal<br />
de Saúde, então não podemos ter um sistema<br />
de saúde que investe somente cerca de 1% do total do<br />
seu orçamento para às áreas da prevenção da doença<br />
e promoção da saúde.<br />
Aqui, a opção passa essencialmente por escolher se<br />
queremos manter um sistema que tradicionalmente<br />
teima em financiar a doença (talvez de forma desproporcionada),<br />
o seu diagnóstico e tratamento ou, se por<br />
outro lado, queremos um sistema mais equilibrado que,<br />
não esquecendo a doença, financie de forma mais ativa<br />
e robusta a saúde, a prevenção, a promoção a literacia<br />
e a saúde pública em geral.<br />
É assumido que as dificuldades são muitas e difíceis,<br />
mas nunca devem constituir um obstáculo ou justificação<br />
para a inação, mas sim uma via para o desenvolvimento<br />
criativo de soluções que, mesmo que não<br />
sejam atingíveis de imediato, possam fazer parte da<br />
mobilização de ações e vontades que no futuro possam<br />
vir a ser concretizadas.<br />
Não é fácil reduzir desigualdades sociais, harmonizar<br />
sociedades capacitando os indivíduos de forma a permitir-lhes<br />
a possibilidade de escolhas livres e opções de<br />
vida saudáveis. Sabemos que muitas são as determinantes<br />
sociais de saúde que condicionam este desígnio,<br />
no entanto devemos analisar em conjunto o caminho<br />
trilhado, avaliar os impactos das politicas e intervenções<br />
no sistema de saúde e tentar perceber se estamos no<br />
caminho que desejamos que seja o melhor de todos! Ã<br />
WHO “Report of the International Conference on Primary Health Care,<br />
Alma-Ata - URSS, 6-12 September 1978”.<br />
WHO “Otawwa Chart For Health Promotion - First International Conference<br />
on Health Promotion, Ottawa, Canada, 17-21 November 1986”.<br />
Durham University and WHO Europe “Strengthening Public Health Capacity<br />
and Services in Europe - A Concept Paper - 2011”.<br />
WHO “Declaration of ASTANA - Global Conference on Primary Health<br />
Care, Astana-Kazakhstan, 25-26 October 20<strong>18</strong>”.<br />
Watkins, A David et al - The Lancet Commission - Alma-Ata at 40 years: reflections<br />
from the Lancet Commission on Investing in Health, Lancet 20<strong>18</strong>,<br />
Vol 392: 1434-1457.<br />
24 25
GH entrevista<br />
ADELAIDE BELO<br />
COORDENADORA DA EQUIPA DE PROJETO "GESTÃO DE CASO" DA UNIDADE<br />
LOCAL DE SAÚDE LITORAL ALENTEJANO E PRESIDENTE DA PAFIC "PORTUGUESE<br />
ASSOCIATION FOR INTEGRATED CARE "<br />
CUIDADOS INTEGRADOS<br />
CENTRADOS NAS PESSOAS<br />
Adelaide Belo é médica e tem uma vasta experiência na gestão de unidades hospitalares.<br />
Considerando que falta concretizar em Portugal um Plano Nacional de Integração<br />
de Cuidados, a responsável destaca que têm sido tomadas algumas medidas e que a APAH<br />
tem tido um papel muito importante na disseminação do conceito de Integração<br />
de Cuidados, enquadrando-o nos seus eventos e publicações.<br />
A<br />
expressão “integração de cuidados”<br />
tem sido sobejamente utilizada<br />
por vários setores atuantes<br />
na saúde, desde a academia, a gestão,<br />
o poder político, os reguladores<br />
e os próprios profissionais de saúde em todo<br />
o seu espectro de atuação. Afinal de que falamos<br />
quando referimos “integração de cuidados”? É gestão<br />
de doença, é transposição e comunicação entre<br />
níveis de cuidados, ou é efetivamente colocar<br />
o doente no centro do sistema?<br />
De facto, são multiplas as definições de “Integração<br />
de Cuidados”, dependendo de quem analisa, nomeadamente<br />
aqueles que referiram. No entanto, todas<br />
essas definições têm um denominador comum que<br />
é o de ultrapassar a atual fragmentação da prestação<br />
de cuidados, com uma nova abordagem que permita<br />
uma coordenação entre o continuum de cuidados ao<br />
longo da vida - da promoção da saude à prevenção da<br />
doença, passando pelo diagnóstico, tratamento, gestão<br />
da doença, reabilitação, cuidados continuados e cuidados<br />
paliativos. De início os conceitos estavam muito<br />
focados no doente e nos serviços de saúde e sociais.<br />
Mas tem havido uma evolução ao longo dos tempos,<br />
numa perspetiva cada vez mais abrangente e integradora.<br />
O documento da “WHO - global strategy on integrated<br />
people-centered health services - 2016/2026”<br />
vem reforçar a integração entre a prestação de cuidados<br />
informais (doente e cuidadores) e a prestação<br />
de cuidados formais (profissionais de saúde), alavancando<br />
o papel da família e da comunidade em geral,<br />
como cruciais na elaboração de políticas e serviços<br />
de saúde. Assim a definição da WHO de “cuidados<br />
integrados centrados nas pessoas” caracteriza-se por<br />
uma abordagem à reorganização da prestação de cuidados<br />
que incorpore as perspetivas do individuo, dos<br />
cuidadores informais, da família e da comunidade que<br />
os envolve, enquanto participantes e beneficiários de<br />
sistemas de saúde confiáveis, que são organizados<br />
de acordo com as verdadeiras necessidades das pessoas<br />
(e não para a doença em particular) e respeitam<br />
as suas preferências.<br />
Em 2016 a Organização Mundial da Saúde preconizou<br />
o European Framework for Action on Integrated<br />
Health Services Delivery (EFFA IHSD). No seu entender,<br />
como se posiciona Portugal no seio europeu<br />
face a estas orientações?<br />
Daquilo que temos conhecimento, a OMS pretende<br />
replicar por todo o espaço europeu as experiências }<br />
26<br />
27
GH entrevista<br />
de Integração de Cuidados que são casos de sucesso<br />
nalguns países. Nesta iniciativa, Portugal integrou o<br />
projeto dos “Internamentos Evitáveis”.<br />
Este trabalho decorreu com a coordenação da Escola<br />
Nacional de Saúde Pública e com a colaboração de<br />
um grupo de trabalho multidisciplinar de profissionais<br />
da área hospitalar e dos CSP , do qual resultou a elaboração<br />
de um conjunto de Recomendações para<br />
as “Ambulatory Care Sensitive Conditions”, posteriormente<br />
publicados para a área da Integração de<br />
Cuidados de Saúde.<br />
A este proposito, deixe-me salientar o alinhamento<br />
entre as iniciativas que entretanto foram implementadas<br />
e estão a decorrer no terreno, nomeadamente<br />
de “case management” e as orientações publicadas<br />
nesse documento e subscritas sob a égide da OMS.<br />
Nos EUA, prestadores como a Kaizer Permanente,<br />
a Veterans Health Administration e a Bend Memorial<br />
Clinic foram pioneiros na criação de programas de<br />
integração de cuidados. Considera algum exemplo<br />
internacional de integração de cuidados como um<br />
modelo? Consegue vê-lo a ser adotado em Portugal?<br />
A Kaiser Permanente é uma referência “permanente”<br />
para quem trabalhar em Integração de Cuidados.<br />
Pessoalmente, tenho uma grande admiração pela<br />
transformação conseguida pela Veterans Health Administration.<br />
Alguns de nós se recordarão que este<br />
sistema de saúde (idêntico ao nosso ADM) esteve em<br />
rutura financeira e para ser privatizado. Foi durante<br />
a administração Obama que sofreu uma mudança de<br />
estratégia na prestação de cuidados que permitiu que<br />
hoje seja um caso de sucesso, assumindo-se como<br />
“the largest integrated health care system in the United<br />
States”. A grande mudança assentou em: integração<br />
de cuidados (com cuidados de proximidade),<br />
“case management”, telesaúde (incluindo a telemonitorização)<br />
e sistemas de informação robustos.<br />
Certamente que o nosso sistema de Assistência na<br />
Doença aos Militares já estudou este caso de sucesso.<br />
Mas como modelo para nós basta olhar para o lado.<br />
Qualquer região de Espanha tem o seu Programa de<br />
Integração de Cuidados. Os mais conhecidos e citados<br />
internacionalmente são os da Catalunha e País<br />
Basco, mas Valência integrou um projeto europeu do<br />
ICARE4U, a Galiza teve novos desenvolvimentos, etc.<br />
Qualquer destes programas são adaptáveis para a nossa<br />
realidade, visto que a organização de base do sistema<br />
de saúde espanhol é muito idêntica à nossa.<br />
Que vantagens imediatas considera que esse modelo<br />
de integração de cuidados traria efetivamente<br />
para o doente e para o SNS? E quais são as principais<br />
barreiras para uma adoção desse modelo?<br />
O SNS (e todos os sistemas de saúde) tem enfrentado<br />
um aumento da procura, relacionado com a evolução<br />
da medicina, as expetativas dos utentes e o envelhecimento<br />
da população, com consequente aumento<br />
progressivo dos custos, pondo em causa a sua<br />
sustentabilidade. Os modelos de integração de cuidados<br />
centrados nas pessoas, devem ser entendidos como<br />
um meio e não um fim em si, para a gestão destes<br />
problemas. A literatura internacional, nomeadamente<br />
a WHO classifica os benefícios dos modelos<br />
de cuidados integrados em 3 grandes grupos:<br />
• Melhoria dos resultados em saúde: a coordenação<br />
holística da prestação de cuidados já provou ser mais<br />
efetiva, por exemplo na gestão das doenças crónicas,<br />
porque melhora a qualidade de vida dos doentes e famílias,<br />
assegura a melhoria no acesso aos cuidados,<br />
reduz hospitalizações e reinternamentos desnecessários<br />
e melhora a aderência aos tratamentos.<br />
• Melhoria na equidade: na medida em que promove<br />
o uso dos vários tipos de serviços, baseados nas verdadeiras<br />
necessidades dos utentes ao longo do seu<br />
percurso de vida. Desta forma contribuem para uma<br />
melhor distribuição dos resultados em saúde, com impactos<br />
a nível individual, mas também sociais e económicos<br />
em geral.<br />
• Custo-efetividade que resulta de uma melhor coordenação<br />
dos recursos. Esta coordenação leva à redução<br />
da duplicação de procedimentos e da sobre<br />
utilização dos serviços à diminuição dos tempos de<br />
espera e do desconforto dos doentes e famílias.<br />
Quanto às barreiras para a integração de cuidados<br />
centrados nas pessoas, sugiro a leitura de um artigo, de<br />
20<strong>18</strong>, publicado no IJIC 1 , que faz uma revisão da literatura<br />
e identifica vinte barreiras, arrumadas em seis<br />
grupos: 1) as barreiras administrativas e de regulação<br />
e neste contexto, o que acontece frequentemente<br />
é regulação a mais, que impede a existência da flexibilidade<br />
necessária para se implementarem soluções locais;<br />
2) as barreiras relacionadas com o financiamento -<br />
e todos sabemos que, por vezes, o financiamento dos<br />
CSP, dos cuidados hospitalares e da Segurança Social<br />
nem sempre estão alinhados. A criação das ULS<br />
tentou ultrapassar este problema, com o financiamento<br />
per capita, mas não deu o devido ênfase a outros<br />
pontos críticos de sucesso como toda a reorganização<br />
do trabalho e governação clínica. Mais recentemente<br />
o Departamento de Contratualização da<br />
ACSS lançou linhas de financiamento específicas - Os<br />
Programas de Incentivos à Integração de Cuidados<br />
(PIIC) - e integrou nos Contrato Programa indicadores<br />
de incentivo a essa prática, essencialmente na área<br />
das doenças crónicas, nomeadamente nos internamentos<br />
evitáveis e Utilizadores Frequentes do SU.<br />
Vamos acreditar que podem contribuir para derrubar<br />
barreiras para a reorganização dos serviços.<br />
Continuando a enumerar as barreiras para a integração<br />
de cuidados, destacamos ainda: 3) as resultantes<br />
da falta de coordenação quer intra, quer 4) inter<br />
instituições, diretamente relacionadas com a cultura<br />
organizacional tradicionalmente organizada em silos<br />
e 5) as barreiras relacionadas com o modo como<br />
prestamos os serviços e 6) a nossa prática clínica que<br />
continuam ambos muito virados para uma resposta<br />
reativa e episódica, focada na doença e sem incentivos<br />
ao trabalho em equipa e à partilha de informação.<br />
Não podemos esquecer ainda 7) a barreira dos Sistemas<br />
de Informação. Estes refletem a forma atual de organização<br />
dos serviços e portanto não facilitam a partilha<br />
de informação e sem isso fica muito difícil a integração<br />
de cuidados. Das experiências já publicadas<br />
noutros países é fator critico de sucesso a existência<br />
do Processo Clínico Eletrónico (único) do doente.<br />
“<br />
O SNS TEM ENFRENTADO<br />
UM AUMENTO DA PROCURA,<br />
RELACIONADO COM<br />
A EVOLUÇÃO DA MEDICINA,<br />
AS EXPETATIVAS DOS UTENTES<br />
E O ENVELHECIMENTO<br />
DA POPULAÇÃO.<br />
E a nível nacional, que bons exemplos considera que<br />
respondem a este desafio de prestação de cuidados?<br />
No I Encontro Nacional de Integração de Cuidados<br />
que realizámos em maio, recebemos <strong>18</strong> posters sobre<br />
projetos em curso de norte a sul do país, na área<br />
da integração de cuidados. Isto revela que, no terreno,<br />
se sente a necessidade de promover a inte-<br />
”<br />
gração de cuidados. A ACSS também promoveu a<br />
implementação de projetos nesta área, estando alguns<br />
a funcionar. Mas para ser mais concreta destaco<br />
a Unidade Local de Saúde de Matosinhos, a Unidade<br />
Local de Saúde do Litoral Alentejano e o Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> Lisboa Ocidental, em conjunto com<br />
o ACES Lisboa Ocidental e Oeiras que, embora com<br />
respostas diferentes de <strong>Gestão</strong> de Caso (case management),<br />
têm no terreno programas de apoio ao<br />
doente crónico complexo.<br />
A <strong>Gestão</strong> de Caso consiste num processo colaborativo<br />
de trabalho que permite a integração entre vários<br />
níveis da prestação cuidados em torno das necessidades<br />
do doente crónico, com multiborbilidades. É focado<br />
no indivíduo e na família, baseado na comunidade<br />
e pro-ativo. As componentes base destes programas<br />
são: identificação proativa do caso, avaliação clínica, familiar,<br />
social e cultural do doente, a avaliação do cuidador,<br />
a elaboração de um Plano Individual de Cuidados<br />
partilhado e negociado. Aposta muito na capacitação<br />
do doente e cuidador e no ensino dos sinais de alerta<br />
de modo a reduzir as descompensações próprias do<br />
percurso das doenças crónicas. Outro ponto fulcral é<br />
a coordenação entre os vários níveis de cuidados que<br />
é feita por um elemento, o gestor de caso (case manager),<br />
que nos projetos referidos é um enfermeiro<br />
ou do hospital ou dos CSP e que é o pivot entre o<br />
doente/cuidador e os serviços que necessita: de saúde<br />
ou sociais, etc. ajudando-o a navegar no sistema.<br />
Os resultados já publicados destes três programas, que }<br />
28 29
GH entrevista<br />
comparam o percurso dos doentes envolvidos um ano<br />
antes e um ano depois da entrada no programa, são<br />
muito semelhantes entre si e alinhados com a literatura<br />
internacional. Apontam para uma redução da ordem<br />
dos 50/60% de idas ao Serviço de Urgência, de uma<br />
redução de cerca de 50% dos internamentos hospitalares,<br />
de uma redução da demora média dos que têm<br />
de ser internados, bem como de uma melhor adesão<br />
à terapêutica e de satisfação expressa do doente e família.<br />
A Unidade Local de Saude do Alto Minho tem<br />
um programa de integração de cuidados na área dos<br />
doentes com demências, que vale a pena seguir para<br />
ver os resultados. Isto vem confirmar que, mantendo<br />
os princípios base, e independentemente do modelo<br />
de integração de cuidados que se adote, as soluções<br />
têm de ser sempre encontradas localmente, tendo<br />
em conta o público-alvo, os recursos e as lideranças<br />
disponíveis e as parcerias que se conseguem fazer na<br />
comunidade. Todas têm em comum uma mudança de<br />
paradigma da resposta habitual dos serviços.<br />
Considera que há uma área de integração de cuidados<br />
que seja de urgente aplicação em Portugal?<br />
Consideramos que a área prioritaria é a do Doente<br />
Crónico Complexo, tendo em conta as alterações<br />
demográficas existentes, cuja tendência é de agravamento,<br />
e o peso que esse segmento da população<br />
tem na (in)capacidade de resposta dos serviços,<br />
desde a Saúde Pública, Cuidados de Saúde Primários,<br />
Cuidados <strong>Hospitalar</strong>es, Cuidados Continuados<br />
e Cuidados Paliativos e naturalmente os custos que<br />
acarretam para o SNS. Além disso, é uma área em<br />
que a integração de cuidados já deu provas de que é<br />
uma mais-valia, quer para os doentes e famílias, quer<br />
para as instituições. Não podemos deixar de lamentar<br />
a inexistência de ferramentas de Estratificação do<br />
Risco populacional implementadas em Portugal. Só<br />
será possível elaborar políticas quando se souber a<br />
dimensão do problema. Mais uma vez, todas as regiões<br />
espanholas que são referência internacional,<br />
têm a sua população estratificada e é a partir desse<br />
conhecimento que são elaborados os Planos de<br />
Integração de Cuidados. Os projetos existentes em<br />
Portugal tentaram ultrapassar esse problema, utilizando<br />
um indicador: os utilizadores frequentes do SU<br />
e nestes focaram-se nos doentes crónicos complexos.<br />
Estes projetos deviam ter o apoio da Tutela para<br />
escalarem, como aliás é a recomendação da Comissão<br />
Europeia no documento Call for Action “United<br />
towards Integrated Care”: ponto 3) “recognise the<br />
meaningful impact of regional and local integrated<br />
care iniciatives” e ponto 5) “invest in scaling-up successful<br />
integrated care projects and methodologies<br />
and support experience sharing on that matter”.<br />
É atualmente Presidente da PAFIC (Portuguese Association<br />
For Integrated Care), que organizou este ano<br />
o I Encontro Nacional de Integração de Cuidados.<br />
Pode partilhar com os leitores da RGH a missão<br />
e os objetivos desta entidade?<br />
A Portuguese Association for Integrated Care é uma<br />
associação nacional sem fins lucrativos, constituída<br />
por um conjunto multidisciplinar de investigadores,<br />
administradores hospitalares, médicos, enfermeiros,<br />
assistentes sociais, farmacêuticos e outros profissionais,<br />
unidos pela convicção que a Integração de Cuidados<br />
de Saúde é uma condição fundamental para<br />
a melhoria da qualidade dos cuidados prestados, bem<br />
como para a sustentabilidade do Sistema de Saúde.<br />
Tem por missão contribuir para a promoção, divulgação,<br />
implementação e desenvolvimento da Integração<br />
de Cuidados em Portugal. Pretende posicionar-<br />
-se como uma referência para as instituições de saúde,<br />
valorizando o conhecimento e experiência dos seus<br />
associados, sendo um elo de ligação com parceiros<br />
nacionais e internacionais. Foi criada em 2014, mas a<br />
atual direção só assumiu funções em Novembro de<br />
20<strong>18</strong>, constituida por mim, pela Vera Almeida e Cátia<br />
Gaspar. Vamos ter que substituir a Vera Almeida, por<br />
entretanto ter assumido um cargo de dirigente na função<br />
pública. Desafiámos o Carlos Russo, asssistente de<br />
MGF do ACES Lisboa Ocidental-Oeiras que aceitou,<br />
e temos a certeza que vai acrescentar valor à equipa.<br />
Considera que existe neste momento vontade política<br />
para a promoção e implementação de um “Programa<br />
Nacional de Integração de Cuidados”?<br />
Consideramos que as várias tutelas, ao longo do<br />
tempo têm intervido na área da integração de cuidados.<br />
Vejamos alguns exemplos: a criação das ULS, da<br />
RNCCI, a afetação de Fundos Comunitários a Programas<br />
de Integração de Cuidados, a inclusão nos Contrato<br />
Programa de linhas de financiamento e de indicadores<br />
de incentivo à integração de cuidados, o Sistema<br />
Integrado de <strong>Gestão</strong> do Acesso (SIGA), o SNS+<br />
Proximidade, a Hospitalização Domiciliária, etc. Portanto,<br />
não podemos dizer que as várias tutelas não<br />
pensaram na integração de cuidados. O que pessoalmente<br />
acho (e esta é mesmo uma opinião pessoal),<br />
é que se fizeram várias medidas pouco enquadradas.<br />
São como peças de um puzzle, mas falta a esquadria<br />
para as peças encaixarem, falta mesmo um Plano Nacional<br />
de Integração de Cuidados.<br />
A Direção da PAFIC teve contactos com os dois Secretários<br />
de Estado. O Secretáriode Estado Adjunto<br />
e da Saúde deu-nos a honra de encerrar o nosso I Encontro<br />
Nacional, e a Secretária de Estado teve a gentileza<br />
de nos receber. A perceção com que ficámos<br />
é que ambos estão cientes da importância da Integração<br />
de Cuidados como resposta aos desafios que<br />
o país enfrenta. Concomitantemente também temos<br />
a perceção que no terreno, quer as instituições quer<br />
as sociedades científicas, estão a ficar cada vez mais<br />
recetivas a uma mudança na organização da prestação<br />
de cuidados, pois convidam-nos para reuniões<br />
e procuram os profissionais que têm projetos a decorrer.<br />
Portanto, consideramos que há condições<br />
para que a Tutela avançe para um Plano Nacional de<br />
Integração de Cuidados.<br />
Como pode a PAFIC ajudar na definição desta<br />
agenda política? No seu entender, estamos a falar<br />
apenas do envolvimento do Ministério da Saúde, ou<br />
considera fundamental o envolvimento de outros<br />
atores e domínios políticos?<br />
A PAFIC pretende ser um espaço agregador de vários<br />
atores e domínios e fez questão que isso ficasse<br />
bem expresso no I Encontro Nacional que se realizou<br />
no passado mês de maio na Figueira da Foz. Tivemos<br />
o Alto Patrocínio da Presidência da República, contámos<br />
com a presença de Deputados de três partidos<br />
politicos (PS, PSD e CDU) e de representantes da<br />
ACSS e do Ministério da Saúde. Tivemos cerca de<br />
<strong>18</strong>0 participantes, naturalmente que a maioria foram<br />
profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos<br />
de diagnóstico, farmacêuticos, administradores hospitalares,<br />
etc, de norte a sul do país, bem como de representantes<br />
de sociedades científicas e da academia.<br />
Mas também esteve a sociedade civil com a presença<br />
de utentes do SNS, de associações sem fins lucrativos<br />
de apoio a doentes e cuidadores e de representantes<br />
das autarquias, a quem foi dado espaço para exprimirem<br />
as suas posições. A PAFIC tem parcerias com<br />
a Escola Nacional de Saúde Pública, com a Associação<br />
Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es e com<br />
o Fórum Saúde XXI. Pretende assim posicionar-se<br />
como um elo entre os vários setores intervenientes<br />
numa resposta coordenada à Integração de Cuidados<br />
centrados nas pessoas.<br />
Por último, como considera que os administradores<br />
hospitalares podem contribuir para que a integração<br />
de cuidados se torne uma realidade nas<br />
unidades de saúde portuguesas?<br />
Os administradores hospitalares enquanto gestores<br />
e elementos das equipas de saúde, são fundamentais<br />
para a conceção, implementação e monitorização de<br />
Programas de Integração de Cuidados. O papel que<br />
atualmente assumem nas instituições de saúde, quer na<br />
gestão intermédia, quer na gestão de topo, coloca-os<br />
numa posição priveligiada para poderem ser agentes<br />
de mudança. Podem e devem ser facilitadores, apoiando<br />
as equipas que queiram começar novos projetos,<br />
quer do ponto de vista teórico, quer do ponto de vista<br />
prático, encontrando soluções no terreno que alavanquem<br />
e consolidem projetos que integrem os diferentes<br />
niveis de cuidados. E têm ainda o papel de catalisadores,<br />
fomentando a integração de cuidados, mesmo<br />
em ambientes mais adversos. Por último, a APAH tem<br />
tido um papel muito importante na disseminação do<br />
conceito de Integração de Cuidados, enquadrando-o<br />
nos seus eventos e publicações. Ã<br />
1. Auschra, C., Barriers to the Integration of Care in Inter-Organisational<br />
Settings: a Literature Review. International Journal of Integrated Care,<br />
20<strong>18</strong>;<strong>18</strong>(1):5.1-14.<br />
30 31
GH Cuidados centrados no doente<br />
OTIMIZAÇÃO DA GESTÃO<br />
Hospital Vila Franca de Xira<br />
SEGURA ENTRE O HOSPITAL<br />
VILA FRANCA DE XIRA,<br />
O ACES ESTUÁRIO DO TEJO<br />
E AS ESCOLAS<br />
Contacto<br />
telefónico escola<br />
Sim<br />
Episódio inaugural<br />
ACES<br />
1<strong>º</strong> contacto mail<br />
ACES<br />
define<br />
enfermeiro<br />
responsável<br />
Médico<br />
de família?<br />
Não<br />
Follow up dia<br />
seguinte.<br />
Enf. consulta/<br />
internamento<br />
Na alta<br />
hospitalar<br />
Agudização<br />
Nota alta<br />
enviada<br />
por mail<br />
para o ACES<br />
Consulta<br />
Enviar informação ACES:<br />
• Falta de comparência<br />
• Hemoglobina glicada<br />
• Autonomia da família<br />
• Ajuste terapêutico<br />
• Outros<br />
Patrícia Nascimento<br />
Enfermeira Chefe de Pediatria<br />
do Hospital Vila Franca de Xira<br />
A<br />
Diabetes tipo 1 é uma das doenças<br />
crónicas mais frequentes em crianças<br />
e jovens em idade escolar. A capacitação<br />
da família/cuidador é um<br />
fator preponderante no sucesso do<br />
controlo metabólico, sendo por isso necessário formar<br />
e capacitar equipas multiprofissionais e intensificar programas<br />
de educação na gestão do regime terapêutico.<br />
O Programa Nacional de Controlo da Diabetes é um<br />
dos mais antigos programas nacionais de saúde pública.<br />
A Diabetes tipo 1 nas crianças e nos jovens em Portugal<br />
(Registo DOCE) atingia, em 2015, 3.327 indivíduos<br />
com idades entre 0-19 anos, o que corresponde a<br />
0,16% da população portuguesa neste escalão etário.<br />
A sua incidência tem aumentado cerca de 3% por ano<br />
(Orientação da DGS n.<strong>º</strong> 003/2012 de <strong>18</strong>/01/2012).<br />
Sendo uma das doenças crónicas com maior prevalência<br />
em idade escolar, a coordenação entre os diferentes<br />
níveis de cuidados de saúde configura-se essencial<br />
para a melhoria de todos os processos de assistência<br />
e acompanhamento. A educação para a saúde e para a<br />
autogestão da doença, providenciada por uma equipa<br />
multidisciplinar, altamente diferenciada, permite elevados<br />
padrões de qualidade nos cuidados, melhoria dos<br />
indicadores clínicos e laboratoriais, bem como diminuição<br />
da morbimortalidade.<br />
A criança é um indivíduo vulnerável e dependente de<br />
cuidados prestados por terceiros. Numa transição de<br />
saúde-doença, ou no âmbito da continuidade de cuidados,<br />
esta faixa etária necessita de cuidados de enfermagem<br />
articulados entre si, de modo a conferir à criança<br />
e família cuidados de qualidade. Este projeto surge da<br />
necessidade de melhoria da articulação entre o ACES<br />
Estuário do Tejo (ACES ET) e o Hospital Vila Franca<br />
de Xira (HVFX), auxiliando as famílias e cuidadores de<br />
crianças e jovens com DM inaugural na gestão das suas<br />
dúvidas e preocupações, bem como assegurando uma<br />
continuidade de cuidados. Permite ainda assegurar uma<br />
maior vigilância e mais fácil notificação de situações de<br />
risco e vulnerabilidade infantojuvenil, que careçam de<br />
intervenção imediata.<br />
Em 2016, integrado num projeto transversal ao hospital<br />
sobre transição segura hospital/comunidade, decidiu<br />
a equipa responsável pela saúde infantil e juvenil,<br />
desenvolver o projeto no âmbito da diabetes infantil.<br />
A consulta de diabetes infantil, com cerca de dois anos<br />
de existência, assumia grande potencialidade de desenvolvimento,<br />
contando já com uma equipa multidisciplinar<br />
dedicada (pediatra, enfermeira, assistente social,<br />
psicóloga e dietista). Desta forma, seria possível colocar<br />
em prática as orientações do Programa Nacional para<br />
a Diabetes: participar em projetos/programas de prevenção<br />
da doença e promoção da saúde; promover as<br />
boas práticas no tratamento da Diabetes Mellitus; reduzir<br />
a mortalidade prematura por diabetes ≤ 70 anos;<br />
reduzir as hospitalizações por complicações da diabetes<br />
Enf.<br />
Unidade<br />
Contacto Enf.<br />
Unidade Cuidados<br />
Comunidade<br />
Figura1: Fluxograma de referenciação.<br />
Enf. Chefe atribui<br />
gestor de caso<br />
Contacto pais<br />
durante<br />
internamento<br />
e diminuir o número de amputações major por pé diabético<br />
(DGS, 2017).<br />
A Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, em parceria<br />
com o HVFX e ACES ET, formou os profissionais<br />
sobre transição segura e metodologia de projeto, garantindo<br />
assim o apoio na elaboração dos fluxogramas<br />
de referenciação e elaboração de indicadores de processo<br />
e resultados.<br />
Sempre que uma criança/jovem é admitida no Hospital<br />
Vila Franca de Xira, com um episódio inaugural de Diabetes<br />
tipo I, é efetuada uma avaliação das necessidades<br />
individuais da criança/família. A enfermeira da consulta<br />
externa de pediatria, que passa a ser o profissional de<br />
referência neste processo, efetua a referenciação para o<br />
Centro de Saúde onde a criança está inscrita e o ACES<br />
Estuário do Tejo, na ausência de um enfermeiro de família,<br />
define um gestor de caso. É também efetuado o<br />
contacto com o diretor de turma/instituição escolar,<br />
para que a escola se possa preparar para o regresso da<br />
criança à comunidade.<br />
Durante o internamento é dada continuidade à capacitação<br />
da criança/cuidador com formação contínua e<br />
Informação de retorno<br />
do acompanhamento em<br />
Cuidados de Saúde Primários<br />
treino, visando a auto capacitação das famílias e jovens.<br />
Nesta altura, é realizada a reavaliação das necessidades<br />
de formação, através de um questionário específico de<br />
auto perceção e disponibilizada informação escrita.<br />
Ainda durante o internamento, o ACES ET efetua o primeiro<br />
contacto com a família e prepara o contexto escolar<br />
para o regresso da criança à comunidade.<br />
No momento da alta hospitalar, é efetuada a reavaliação<br />
das necessidades formativas e encaminhamento<br />
para o centro de saúde, através da carta de alta médica,<br />
de enfermagem e impresso de educação terapêutica.<br />
Foi elaborada uma lista de enfermeiros de referência<br />
do ACES ET, por unidade de saúde, de forma a garantir<br />
a eficácia da comunicação. A enfermeira de referência<br />
(da consulta externa) realiza o follow up telefónico no<br />
dia seguinte à alta hospitalar.<br />
Em cada consulta de vigilância de saúde, o plano terapêutico<br />
e os conhecimentos e dúvidas da criança/família<br />
são revistos pelo pediatra e nutricionista, sendo referenciado<br />
para áreas de especialidade quando necessário,<br />
nomeadamente para psicologia ou oftalmologia.<br />
Sempre que a criança/jovem vem à consulta é feita a }<br />
32 33
GH Cuidados centrados no doente<br />
N<strong>º</strong> de crianças com diagnóstico de diabetes 15<br />
mellitus tipo I<br />
N<strong>º</strong> de crianças referenciadas aos Cuidados 15<br />
de Saúde Primários<br />
Tempo médio de resposta da equipa 48h<br />
dos Cuidados de Saúde Primários<br />
após referenciação<br />
N<strong>º</strong> de crianças com plano de saúde 15<br />
individual elaborado<br />
N<strong>º</strong> de reinternamentos por agudização 5<br />
Hiperglicemia/HbA1c elevada<br />
N<strong>º</strong> de reinternamentos por agudização 1<br />
Hipoglicémia<br />
N<strong>º</strong> de crianças referenciadas ao HVFX 1<br />
por descontrolo metabólico<br />
N<strong>º</strong> de crianças com hemoglobina Glicada 7<br />
entre 6,5 e 7,5<br />
Taxa de adesão à consulta hospitalar 92,8%<br />
N<strong>º</strong> de crianças com parentalidade<br />
9<br />
comprometida<br />
N<strong>º</strong> de formações para a equipa de saúde 5<br />
(ACES + HVFX)<br />
N<strong>º</strong> de documentos divulgados 10<br />
N<strong>º</strong> de crianças com diabetes com adesão 14<br />
ao regime terapêutico eficaz<br />
N<strong>º</strong> de cuidadores com ganhos<br />
15<br />
de conhecimento<br />
N<strong>º</strong> de crianças/jovens com ganhos<br />
15<br />
de conhecimento<br />
Tabela 1: Resultados dos indicadores de avaliação.<br />
revisão dos conhecimentos da criança/família, do plano<br />
terapêutico individualizado pela pediatra e nutricionista<br />
e elaborado o encaminhamento para as áreas da especialidade<br />
(psicologia, oftalmologia).<br />
O canal de comunicação torna-se, assim, permanente<br />
entre a enfermeira responsável pela consulta, as crianças/jovens/famílias<br />
e os enfermeiros gestores de caso.<br />
Estão inseridas no projeto todas as crianças seguidas na<br />
consulta de diabetes infantil do Hospital Vila Franca de<br />
Xira. São referenciadas para os cuidados de saúde primários,<br />
todas as crianças admitidas no serviço de urgência<br />
por diabetes inaugural, mesmo que venham a ser seguidas<br />
noutras instituições hospitalares ou associações.<br />
Com a implementação deste fluxograma pretende-se:<br />
• A melhoria significativa da relação e canais de comunicação<br />
entre Hospital Vila Franca de Xira/ACES ET/<br />
/agrupamentos escolares;<br />
• A capacitação dos familiares cuidadores e profissionais<br />
da rede escolar;<br />
• O aumento da adesão ao regime terapêutico;<br />
• A diminuição de reinternamentos por descompensação<br />
metabólica;<br />
• Melhor controlo metabólico com consequente redução<br />
das complicações tardias;<br />
• A formação contínua dos profissionais envolvidos no<br />
projeto.<br />
São realizadas formações anuais conjuntas de forma a<br />
manter as equipas atualizadas, a uniformizar procedimentos<br />
e linguagem.<br />
O grupo de trabalho reúne semestralmente para avaliar<br />
as atividades desenvolvidas e implementar medidas de<br />
melhoria contínua.<br />
Em 2017, por proposta da UCFD, foi lançado um concurso<br />
para a elaboração da mascote da consulta de diabetes<br />
aos grupos escolares da área de influência do hospital<br />
e assim nasceu o “Herói Diabete”. Foram também<br />
efetuadas campanhas de sensibilização para hábitos de<br />
vida saudáveis junto da comunidade, no Dia Mundial da<br />
Saúde e também no Dia da Criança, em parceria com<br />
a autarquia local. Ainda neste ano, o projeto venceu o<br />
prémio Missão Sorriso do Continente, o que permitiu<br />
adquirir e distribuir às crianças envolvidas sensores de<br />
avaliação contínua da glicemia numa altura em que estes<br />
ainda não eram comparticipados.<br />
No primeiro semestre de 20<strong>18</strong>, foi aplicado um questionário<br />
de satisfação aos cuidadores, de onde emergiu<br />
a necessidade de melhorar o acompanhamento nas<br />
consultas de psicologia e a articulação com as escolas.<br />
Foram bastante valorizadas as dimensões sobre o apoio<br />
prestado no internamento e na consulta.<br />
De forma a dar resposta a estas necessidades, foi criado<br />
um grupo terapêutico multidisciplinar, com sessões quinzenais<br />
para oito adolescentes entre os 12 e os 16 anos.<br />
Pretende-se ainda otimizar o projeto, desenvolvendo as<br />
seguintes atividades:<br />
• Elaborar a revisão dos protocolos clínicos e compilar<br />
um manual de boas práticas;<br />
• Elaborar um projeto de transição para a consulta<br />
de adultos, com consultas médicas e de enfermagem<br />
conjuntas, uma vez que este ano temos o 1<strong>º</strong> jovem a<br />
completar <strong>18</strong> anos;<br />
• Reforçar a referenciação existente para a UCC com o<br />
preenchimento do anexo 5 do Programa Nacional de<br />
Saúde Escolar, aquando do episódio inaugural;<br />
• Intensificar o contacto precoce com a escola/família/criança;<br />
• Garantir que 100% das crianças/jovens dos 0 aos<br />
17 anos sejam acompanhadas no âmbito da Saúde<br />
Escolar UCC;<br />
• Garantir que 100% das crianças/jovens dos 0 aos 17<br />
anos tenham PSI elaborado;<br />
• Implementar monitorização semestral através dos sistemas<br />
de informação, articulada com novos episódios.<br />
O desenvolvimento deste projeto permitiu, conforme<br />
estratégia definida para o SNS, colocar o doente<br />
e o cuidador no centro dos cuidados de saúde, desenvolveu<br />
a articulação entre o Hospital Vila Franca<br />
de Xira e o ACES ET, facilitando o acesso aos cuidados<br />
de saúde prestados por ambas as partes. Exigiu a<br />
reorganização dos serviços, com clarificação das responsabilidades,<br />
otimizando os circuitos e criando um<br />
processo mais eficiente e ajustado às necessidades<br />
individuais de cada família.<br />
O projeto permite, na sua totalidade, a replicabilidade<br />
noutras unidades de saúde, uma vez que exige baixos<br />
custos de investimento e que os recursos necessários<br />
à sua implementação são fundamentalmente recursos<br />
humanos já existentes nas instituições. Ã<br />
Diabetes: Factos e Números - O Ano de 2014 - Relatório Anual do Observatório<br />
Nacional da Diabetes 11/2015.<br />
Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Controlo da Diabetes.<br />
https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes.aspx<br />
Direção-Geral da Saúde. Orientação Conjunta N<strong>º</strong>006/2016, de 23/11/2016.<br />
Orientação Conjunta da DGS e da Direção-Geral da Educação sobre crianças<br />
e jovens com Diabetes Mellitus Tipo 1 na Escola .<br />
http://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes/circulares<br />
Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Diabetes 2017.<br />
34
GH Segurança do doente<br />
SEGURANÇA DO DOENTE:<br />
EVENTOS ADVERSOS<br />
RELACIONADOS COM O<br />
MEDICAMENTO EM CONTEXTO<br />
INTRA HOSPITALAR<br />
Mavilde Vitorino<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
de Lisboa Ocidental<br />
Paulo Sousa<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade Nova de Lisboa<br />
Pedro Aguiar<br />
Centro de Investigação<br />
em Saúde Publica<br />
A<br />
segurança do doente é um enorme<br />
problema de saúde pública global.<br />
Anualmente estima-se que o risco<br />
de morrer devido a um acidente<br />
clínico evitável, ao receber cuidados<br />
de saúde, seja muito superior que morrer devido<br />
a um acidente de avião (1 em 300 vs 1 em 3 milhões).<br />
No entanto, as indústrias que identificam alto risco de<br />
morte, como a aviação, apresentam sistemas de segurança<br />
mais efetivos que as instituições de saúde 1 .<br />
Para sensibilizar para esta problemática a Organização<br />
Mundial de Saúde (OMS) em <strong>2019</strong> definiu o dia 17<br />
de Setembro como o dia internacional da segurança<br />
do doente e publicou o documento Patient safety fact<br />
file em que alerta para as dez principais causas responsáveis<br />
pela morte e incapacidade de milhões de<br />
doentes na prestação de cuidados de saúde.<br />
A OMS neste documento continua a identificar unsafe<br />
medication practices and errors (dosagens ou perfusões<br />
incorretas, indicações pouco claras, uso de abreviaturas<br />
e prescrições incorretas) como uma das principais<br />
causas de danos evitáveis nos sistemas de saúde ao ní-<br />
vel mundial. Os eventos adversos relacionados com<br />
o medicamento (EArMs) podem surgir devido a falha<br />
no sistema de medicação e/ou fatores humanos como<br />
cansaço, condições de trabalho inadequadas ou<br />
escassez de pessoal que afetam as práticas no circuito<br />
do medicamento (prescrição, armazenamento, preparação,<br />
dispensa, administração e monitorização) 1 .<br />
O EArM é uma lesão nociva e involuntária resultante<br />
da utilização de um medicamento e que ocorre em<br />
doses usadas no doente para profilaxia, diagnóstico,<br />
terapia ou modificação de funções fisiológicas 2 . Nesta<br />
definição está incluída a reação adversa ao medicamento<br />
(RAM) e a intoxicação acidental por medicamentos<br />
(IAM), desde que resultem em lesão.<br />
A ocorrência destes eventos, para além de terem um<br />
impacto significativo na mortalidade e morbilidade, estão<br />
também associados a um aumento dos custos em<br />
saúde 3,4 . Ao nível mundial os custos anuais foram estimados<br />
em 42 biliões de dólares 5 . Em resposta a este<br />
grave problema de saúde pública a OMS em 2017<br />
definiu Medication Without Harm como o terceiro desafio<br />
global na segurança do doente, com o objetivo<br />
de reduzir em 50% os danos evitáveis relacionados<br />
com a medicação até 2022 6 .<br />
Estudos internacionais evidenciam que entre 21.3%<br />
a 0.7% dos doentes hospitalizados apresentam EAr-<br />
Ms 7-10 . Em Portugal a evidência existente também<br />
aponta para uma elevada taxa de EArMs em hospitais.<br />
No estudo elaborado em 20<strong>18</strong> por Sousa et al. em<br />
nove centros hospitalares públicos de cuidados agudos,<br />
utilizando a metodologia de revisão do processo<br />
clínico, identificaram uma incidência de 12.5% de<br />
eventos adversos, dos quais 9.8% associados a erros<br />
de medicamentos 11 . De acordo com outros estudos<br />
realizados nos hospitais públicos portugueses, utilizando<br />
informação de tipo administrativo, 1.46% e 1.88%<br />
dos doentes internados apresentaram pelo menos um<br />
EArM 12,13 .<br />
Face aos estudos mencionados anteriormente constatamos<br />
que apresentaram uma elevada frequência<br />
de EArMs mas com significativa heterogeneidade. Esta<br />
diferença de resultados pode estar associada com<br />
a heterogeneidade da população em estudo, definição<br />
de EArM utilizada e metodologia de avaliação 9 .<br />
A metodologia de avaliação da frequência de EArMs<br />
tem sido apurada com o recurso a uma diversidade<br />
de fontes de dados incluindo a revisão de processos<br />
clínicos, a observação direta, os sistemas de notificação<br />
de incidentes, os sistemas baseados em dados administrativos,<br />
entre outros 15 . Estudos realizados com<br />
recurso aos dados administrativos apresentaram taxas<br />
mais elevadas de EArMs comparativamente aos sistemas<br />
notificação espontânea de incidentes e mais baixas<br />
relativamente à revisão do processo clínico 9,13,15,16 .<br />
A utilização de dados administrativos com base na<br />
International Classification of Diseases (ICD) como<br />
suporte para monitorizar os eventos adversos que<br />
ocorrem durante o internamento hospitalar (intra-<br />
-hospitalares), tem vindo a ganhar relevância na última<br />
década pelo facto de requererem menos recursos<br />
- económicos, humanos, entre outros - e estarem<br />
prontamente disponíveis 17 .<br />
No entanto, a análise dos eventos adversos, através<br />
dos dados administrativos, pode detetar eventos que<br />
ocorreram antes da admissão hospitalar. A aplicação<br />
da codificação com “presente na admissão” (PNA) }<br />
36 37
GH Segurança do doente<br />
possibilitou uma análise mais fidedigna dos eventos<br />
adversos ocorridos na fase intra-hospitalar, na medida<br />
em nos permite diferenciar os eventos presentes na<br />
data de admissão hospitalar com dos que foram adquiridos<br />
durante o internamento hospitalar.<br />
Os estudos realizados em Portugal, de âmbito nacional,<br />
com base em dados administrativos ainda não<br />
contemplavam o indicador PNA. Face a esta realidade,<br />
optamos por realizar um estudo com base em<br />
dados administrativos, com o objetivo de analisar os<br />
EArM que ocorreram no contexto intra-hospitalar<br />
Português, a sua associação com a mortalidade e a duração<br />
de internamento, no triénio 2013-2015, com a<br />
aplicação do indicador PNA.<br />
Eventos adversos relacionados com o medicamento<br />
em contexto intra-hospitalar português. Uma análise<br />
com base em dados administrativos<br />
Realizamos um estudo observacional retrospetivo recorrendo<br />
à base de dados de morbilidade hospitalar<br />
(BDMH). Esta base de dados agrega informação de<br />
todos os episódios de internamento e de ambulatório<br />
realizados nos hospitais do SNS, codificados de<br />
acordo com International Classification of Diseases, 9 th<br />
Revision, Clinical Modification (ICD-9-CM). A população<br />
foi constituída por todos os episódios de internamento<br />
em hospitais do SNS de Portugal continental<br />
no período de 01/01/2013 a 31/12/2015. A razão pela<br />
seleção deste período prendeu-se com o facto de o<br />
indicador PNA apenas ter sido introduzido em 2013<br />
na codificação clínica da BDMH e na data de realização<br />
deste estudo ainda existirem dados definitivos<br />
disponíveis posteriores a 2015.<br />
Os códigos que selecionamos para identificar os<br />
EArM intra-hospitalares foram:<br />
Categorias<br />
EArM<br />
Intoxicação acidental<br />
do medicamento (IAM)<br />
Reação adversa<br />
do medicamento (RAM)<br />
Códigos<br />
ICD-9-CM<br />
E850-<br />
858.9<br />
E930-<br />
949.9<br />
N<strong>º</strong> de<br />
códigos<br />
50<br />
171<br />
Aplicamos a variável codificada PNA para diferenciar<br />
os EArMs que já estavam presentes no momento da<br />
admissão hospitalar dos que foram adquiridos durante<br />
o internamento hospitalar.<br />
A análise estatística foi efetuada em duas fases. Numa<br />
primeira fase, com a população total em estudo, identificamos<br />
os episódios com pelo menos um EArM<br />
intra-hospitalar (EArM-I). Posteriormente, calculamos<br />
a frequência de EArMs-I associados à IAM e à RAM<br />
e identificamos as classes de medicamentos mais<br />
frequentemente associadas a estes eventos. Numa<br />
segunda fase, comparamos os episódios com EArMs-<br />
-I e uma amostra randomizada de igual número de<br />
episódios sem esse registo de eventos, relativamente<br />
às caraterísticas da população, mortalidade (regressão<br />
logística) e dias de internamento (regressão linear).<br />
Inicialmente foi feita uma análise bivariada com as variáveis<br />
idade, género, tipo de admissão (urgente vs<br />
programada), tipo de tratamento (cirúrgico vs médico),<br />
seis diagnósticos principais mais frequentes nos<br />
episódios com EArM-I, número de diagnósticos secundários<br />
e número de dias de internamento. As variáveis<br />
estatisticamente significativas (p
GH Segurança do doente<br />
“<br />
OS ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES DESEMPENHAM<br />
UM PAPEL FULCRAL<br />
NA INTRODUÇÃO<br />
DE UMA NOVA CULTURA<br />
ORGANIZACIONAL DADO<br />
QUE DEVEM SER DETENTORES<br />
DE UMA ELEVADA LITERACIA<br />
EM SEGURANÇA DO DOENTE.<br />
”<br />
estudos realizados identificaram uma elevada frequência<br />
de EArMs com um impacto significativo na<br />
morbilidade, mortalidade e custos em saúde.<br />
Em resposta a este desiderato têm sido emanadas ao<br />
longo das últimas décadas diferentes estratégias para<br />
reduzir os EArMs, desenvolvidas por instituições de<br />
âmbito internacional e nacional: por exemplo, sabemos<br />
da publicação de nova legislação, do lançamento<br />
de novos desafios junto dos diferentes intervenientes<br />
do setor da saúde, o desenvolvimento de novos<br />
projetos e programas que englobam o uso de novas<br />
tecnologias, da formação específica e da utilização de<br />
novas práticas profissionais. Apesar das múltiplas estratégias<br />
implementadas nas últimas décadas verificamos<br />
que, globalmente, não se tem obtido o sucesso<br />
pretendido, continuando os EArMs a ser considerados<br />
um problema de saúde pública pelas suas repercussões<br />
avassaladoras quer ao nível dos doentes<br />
quer ao nível dos sistemas de saúde 1 . Termos bem<br />
presente a noção de que nem todos os eventos identificados<br />
podem ser evitados mas sabemos que a sua<br />
frequência pode ser reduzida. Por exemplo, segundo<br />
a OMS existem intervenções específicas destinadas<br />
a corrigir potenciais fontes de erro. Destas salientamos<br />
a melhoria dos processos organizacionais internos,<br />
o uso das diferentes tecnologias e a construção/<br />
reforço de uma cultura organizacional mais segura,<br />
transparente e justa 1,6 .<br />
Apesar da cultura de segurança ser considerada um<br />
dos fatores chave para reduzir os eventos adversos<br />
(medicamentoso ou outro), verificamos que esta<br />
ainda não está enraizada nos diferentes e complexos<br />
desempenhos da atividade clínica. Para corroborar<br />
esta afirmação referimos os resultados da avaliação<br />
realizada pela DGS <strong>18</strong> , desenvolvida em 55 unidades<br />
hospitalares em Portugal no ano de 2014. Decorrente<br />
da sua leitura reforçamos a nossa convicção de que<br />
os profissionais de saúde e as instituições ainda não<br />
consideram a cultura de segurança do doente uma<br />
prioridade e a cultura de notificação e aprendizagem<br />
dos hospitais é fraca. Ainda sobre este ponto Faria 19<br />
refere que a “construção de uma verdadeira cultura<br />
de segurança não depende apenas da existência de<br />
um quadro legal adequado, mas de um esforço de<br />
natureza multidisciplinar e da criação de um ambiente<br />
de não-culpabilização dos profissionais de saúde, pois<br />
o risco é inerente ao sector de cuidados de saúde,<br />
subsistindo mesmo perante um pleno cumprimento<br />
das leges artis e das normas de segurança”.<br />
Para a prossecução desta cultura organizacional de<br />
segurança requerem-se mudanças estruturais no seio<br />
das organizações de saúde. Para que possam existir<br />
ruturas com o status quo instalado nas organizações<br />
de saúde entendemos que, antes de se definir a visão<br />
e as novas estratégias da organização, se devem selecionar<br />
em primeiro lugar as pessoas certas para os<br />
lugares certos, ou seja, que estas reúnam as competências<br />
certas - aptidões, conhecimentos e talento 21 .<br />
Isto significa que não dão só respostas ao como fazer<br />
mas, além destas, reúnem também competências individuais<br />
inatas como, por exemplo, o empenho ou<br />
motivação, o raciocínio crítico e a capacidade de relacionamento<br />
que, integradas com as anteriores, permitem<br />
levar à concretização dos objetivos traçados<br />
pela organização 20 .<br />
Segue-se posteriormente a definição da estratégia<br />
a adotar, através do uso dos instrumentos de gestão<br />
onde, de forma eficiente e eficaz, se pretende alocar<br />
os recursos adequados, definir a cultura organizacional<br />
pretendida, desenvolver os processos internos<br />
e externos à organização e introduzir racionalmente<br />
a tecnologia que responda aos objetivos inicialmente<br />
traçados. Sem a assunção efetiva destes pressupostos<br />
todos os outros processos de decisão são potencialmente<br />
redundantes.<br />
Sobre esta matéria sabemos que nas últimas décadas<br />
a evidência nos tem demonstrado que os habituais<br />
modelos utilizados suportados em ações gestionárias<br />
fragmentadas não têm sido de todo eficazes para<br />
redução dos EArMs intra-hospitalares e, consequentemente,<br />
não têm permitido aumentar a segurança<br />
do doente. Dado que as causas subjacentes às ocorrências<br />
dos EArMs intra-hospitalares são de natureza<br />
multifactorial, de uma forma geral, qualquer evento<br />
adverso que atinge o doente não decorre apenas de<br />
uma ação inapropriada de uma única pessoa, mas<br />
sim de uma combinação de fatores que resultam da<br />
falha do sistema. Uma vez mais a evidência apontanos<br />
para a necessidade de se implementar processos<br />
e procedimentos suportados num modelo holístico<br />
olhando para o todo organizacional. Existe por isso<br />
a convicção de que, ao introduzirmos uma cultura organizacional<br />
sistémica, o número de profissionais adequado,<br />
a cultura organizacional, os processos e a tecnologia<br />
devem assumir o mesmo grau de importância,<br />
devendo ser contemplados em simultâneo 6 .<br />
Razões suficientes para se refletirmos sobre a premência<br />
de se implementar uma nova abordagem holística<br />
na redução dos EArMs intra-hospitalares. Dado<br />
que existe a necessidade de se gerirem recursos de<br />
forma eficiente e eficaz, quase sempre muito escassos,<br />
depreendemos que este modelo integrado poderá<br />
ser implementado, de uma forma faseada, através da<br />
introdução de projetos/programas piloto. Uma estratégia<br />
possível seria a de começar por selecionar os serviços<br />
que apresentam um maior número de doentes<br />
com caraterísticas de risco para a ocorrência de EAr-<br />
Ms intra-hospitalares e de prescrições de classes de<br />
medicamentos mais associadas a estes eventos.<br />
De acordo com esta reflexão facilmente depreendemos<br />
que os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es desempenham<br />
um papel fulcral na introdução de uma nova<br />
cultura organizacional dado que devem ser detentores<br />
de uma elevada literacia em segurança do doente<br />
permitindo-lhe contribuir decisivamente para a criação<br />
de ambientes promotores de uma exigente cultura<br />
de segurança. Atores fundamentais no sistema<br />
de saúde os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es devem ter<br />
uma forte e efetiva participação através da utilização<br />
dos instrumentos poderosos de liderança onde a conjugação<br />
e articulação entre os interesses da organização<br />
interna e externa se apresentam como um desígnio<br />
fundamental. Suportados nestes princípios de<br />
liderança deverão implementar uma gestão integrada<br />
competente que permita desenvolver e fortalecer<br />
uma comunicação interna e externa eficaz, implementando<br />
medidas que sejam entendidas pela maioria<br />
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na evidência, proporcionando formação profissional<br />
integrada de todos os profissionais de saúde, o respetivo<br />
reporting e todas as práticas que centralizem os<br />
cuidados de saúde no doente.<br />
Finalmente importa referir que o estudo que realizámos<br />
sobre esta temática apresentou resultados muito<br />
consistentes com as dezenas de trabalhos publicados<br />
nas últimas décadas. Curiosamente as estratégias<br />
formuladas para a redução dos EArMs parecem ser<br />
consensuais junto dos peritos. Assim sendo o que falta<br />
para fazermos diferente? O que falta fazer para se<br />
justificar a adotação de boas práticas gestionárias que<br />
venham possibilitar a implementação de uma política<br />
eficaz de segurança dos doentes contribuindo dessa<br />
forma para a redução de um número relevante de<br />
EArMs intra-hospitalares? Como refere Fragata “Não<br />
deixa de ser curioso o facto de as medidas tomadas<br />
para reduzir os erros nos sistemas de saúde, como<br />
o uso de diretrizes clínicas (guidelines) terapêuticas e<br />
tantas outras iniciativas, aparentemente boas, não terem<br />
conseguido ainda fazer da prestação de cuidados<br />
de saúde uma atividade segura, eficiente, uniformemente<br />
geradora de valor e satisfação” 21 . Ã<br />
1. WHO. (<strong>2019</strong>). “Patient Safety Fact File”. Patient Safety and Risk Management<br />
Service Delivery and Safety. Geneva: WHO.<br />
2. WHO. (2009). “Conceptual framework for the international classification<br />
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Pharmacoepidemiol Drug Saf. Jun;26(6):635-41.<br />
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Geneva: WHO.<br />
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events in inpatients: a systematic review and meta-analysis”. Eur J Clin Pharmacol.<br />
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with inpatients’ length of stay: a propensity-matched cohort study”. Int J Clin<br />
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among adult inpatients: a meta-analysis of observational studies”. J Clin<br />
Pharm Ther. Dec;39(6):609-20.<br />
10. Parikh et al. (2014). “Exploring in-hospital adverse drug events using ICD-<br />
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21. Fragata, J.; Martins, L. (2014). O Erro em Medicina. Almedina.<br />
42
GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS<br />
EFEITOS DA UTILIZAÇÃO<br />
DAS TERAPÊUTICAS NÃO<br />
CONVENCIONAIS E ANÁLISE<br />
DA POSSÍVEL INTEGRAÇÃO<br />
NO SERVIÇO NACIONAL<br />
DE SAÚDE<br />
Marta Bacelar<br />
Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />
A<br />
escassez de recursos (Barros,<br />
2017), o aumento da prevalência<br />
das doenças crónicas (Direção<br />
Geral da Saúde, 2015), o envelhecimento<br />
da população (o índice de<br />
envelhecimento em 1961 era de 27,5% e em 2015<br />
era de 143,9% (Pordata, 2016)) e o consequente incremento<br />
das despesas em saúde (a despesa total<br />
per capita em 1961 foi de 34,2€ e em 2015 foi de<br />
923,8€ (Pordata, 2017)), afiguram-se como fatores<br />
de pressão à sustentabilidade do Serviço Nacional de<br />
Saúde (SNS) Português.<br />
Os hospitais, como parte do sistema de saúde, devem<br />
concentrar-se em melhorar os resultados de<br />
saúde e, simultaneamente, responder às expectativas<br />
dos cidadãos (European Observatory on Health<br />
Care Systems, 2002). Impõe-se, assim, a necessidade<br />
da sua constante adaptação e a definição de novas<br />
estratégias para ultrapassar estes e outros desafios.<br />
É neste contexto, e na perspetiva de mudança do<br />
paradigma atual do SNS, que surgiu o estudo: “Efeitos<br />
da utilização das Terapêuticas Não Convencionais<br />
(TNC) e análise da possível integração no Serviço<br />
Nacional de Saúde”.<br />
Em Portugal, as TNC estão definidas como “Terapêuticas<br />
que partem de uma base filosófica diferente<br />
da medicina convencional e aplicam processos específicos<br />
de diagnóstico e terapêuticas próprias”. Em<br />
2003, foram inicialmente reconhecidas seis TNC:<br />
a Acupuntura, Fitoterapia, Homeopatia, Naturopatia,<br />
Osteopatia e Quiropráxia (Lei n.o 45/2003), tendo<br />
sido, em 2013, acrescida a Medicina Tradicional Chinesa<br />
(Lei n.o 71/2013).<br />
As TNC podem assumir um papel preponderante<br />
na prevenção e na consequente redução dos custos<br />
com o tratamento (Sierpina e Dalen, 2013). A introdução<br />
das TNC no SNS Português poderá ser um<br />
caminho para diminuir os custos de utilização de serviços<br />
de saúde e proporcionar formas complementares<br />
de tratamento. Efetivamente, existem TNC que<br />
têm demonstrado um potencial para reduzir a intensidade<br />
dos sintomas do cancro, melhorando o bem-<br />
-estar do doente, em que a grande maioria utiliza<br />
uma abordagem não farmacológica e que tem potencial<br />
de implementação, sendo ainda necessária, no<br />
entanto, mais investigação (Witt e Cardoso, 2016).<br />
Nas últimas décadas, a utilização das TNC a nível europeu<br />
tem vindo a aumentar, registando-se que mais<br />
de 70% dos cidadãos utilizam-nas ou já as utilizaram<br />
(Nissen et al., 2012). De facto, os cidadãos europeus<br />
utilizam as TNC para o tratamento de doenças<br />
crónicas (osteoarticulares, alérgicas, tratamento da dor,<br />
etc.), mas também para a promoção e manutenção<br />
da saúde, uma vez que tem aumentado a literacia em<br />
saúde, e consequentemente aumentado o self-empowerment,<br />
autocuidado e prevenção de doenças<br />
(Fischer et al., 2014).<br />
Enquadramento<br />
A OMS defende no documento “Estratégia para<br />
a Medicina Tradicional 2014-2023” (World Health<br />
Organization, 2013) como estratégico apoiar os estados<br />
membros a:<br />
1. Aproveitar o contributo potencial das TNC para<br />
a saúde, bem-estar e prestação dos cuidados de saúde<br />
centrados na pessoa e cobertura universal;<br />
2. Promover uma utilização segura e eficaz das TNC<br />
através da regulamentação, investigação e integração<br />
de produtos, práticas e profissionais de TNC no sistema<br />
de saúde.<br />
Muitos países já reconhecem a necessidade de desenvolver<br />
uma abordagem coesa e integradora de<br />
cuidados de saúde que permita aos governos, profissionais<br />
de saúde e a todos os que utilizam os serviços<br />
de saúde terem acesso às TNC de forma segura,<br />
respeitosa, custo-eficiente e eficaz.<br />
As doenças crónicas e os custos em saúde continuam<br />
a aumentar a nível mundial. O aumento previsto<br />
da carga global das doenças crónicas é uma das<br />
razões para o desenvolvimento e intensificação da }<br />
44 45
GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS<br />
“<br />
O PRESENTE ESTUDO,<br />
QUE ANALISOU A UTILIZAÇÃO<br />
DAS TNC E A SUA POSSÍVEL<br />
INTEGRAÇÃO NO SNS,<br />
POSICIONA-SE COMO<br />
UM NOVO TEMA NO ATUAL<br />
PANORAMA DA GESTÃO<br />
EM SAÚDE E DA ADMINISTRAÇÃO<br />
HOSPITALAR.<br />
”<br />
utilização partilhada das TNC e da medicina convencional<br />
(World Health Organization, 2014). De facto,<br />
as TNC são utilizadas não só para tratar doenças,<br />
especialmente doenças crónicas, mas também contribuem<br />
para a prevenção, promoção e manutenção<br />
da saúde, tendo já alguns governos comprovado que<br />
são rentáveis (World Health Organization, 2013).<br />
Também Stahl e al. defendem que as terapêuticas<br />
do corpo e da mente têm potencial para reduzir,<br />
substancialmente, a utilização dos cuidados de saúde<br />
a custos relativamente baixos e podem ser utilizadas<br />
como componentes chave no sistema de prestação<br />
de cuidados de saúde (Stahl et al., 2015).<br />
Esta evidência foi descrita numa revisão bibliográfica<br />
que analisou 338 avaliações económicas sobre<br />
as TNC, incluindo 114 avaliações completas, publicadas<br />
entre 2001 e 2010, cujas fontes de dados foram<br />
a PubMed, CINAHL, AMED, PsychInfo, Web of<br />
Science and EMBASE. As análises de custo-utilidade<br />
encontradas sobre as TNC foram de qualidade semelhante<br />
ou superior às publicadas sobre medicina<br />
convencional. Os estudos de maior qualidade indicam<br />
um potencial de custo-efetividade e até mesmo<br />
redução de custos em diversas TNC e populações<br />
(Barnes et al., 2012).<br />
Os EUA criaram, em 1988, o National Center for<br />
Complementary and Integrative Health (NCCIH),<br />
que é um dos National Institutes of Health (NIH),<br />
pertencente ao US Departament of Health and Human<br />
Services, cujo objetivo é “definir, através da investigação<br />
científica rigorosa, a utilidade e segurança<br />
das intervenções de saúde complementar e integrativa<br />
e o seu papel na melhoria da prestação dos<br />
cuidados.” Este Centro dispõe de um orçamento<br />
de 124,1 milhões de dólares e tem 74 profissionais.<br />
O NCCIH tem como objetivo estratégico determinar<br />
o que é promissor, o que ajuda e porquê, o que<br />
não funciona e o que é seguro (U.S. Department<br />
of Health & Human Services. National Institutes of<br />
Health. National Center for Complementary and Integrative<br />
Health, 2015).<br />
Em Portugal, um longo caminho tem sido percorrido<br />
desde 2003, com o objetivo de garantir a utilização,<br />
qualidade e segurança da utilização das TNC,<br />
como preconizado pela OMS (World Health Organization,<br />
2013).<br />
Assiste-se, no entanto, à iniquidade no acesso às TNC<br />
pelos cidadãos portugueses, pois, embora haja legislação<br />
e de terem sido emitidas, pela ACSS, cédulas<br />
profissionais aos terapeutas para poderem exercer as<br />
TNC, ainda não é possível que todos os cidadãos tenham<br />
acesso às TNC no SNS. Quem tem recursos financeiros<br />
pode adquirir estes serviços no setor privado.<br />
No entanto, quem tem somente acesso ao SNS,<br />
vê-se confrontado com a disponibilização de apenas<br />
algumas das sete TNC e em alguns hospitais, com a<br />
agravante dos tempos de espera nos hospitais onde<br />
existem estas valências (Jornal do Centro, 2016) e<br />
(Diário de Notícias, 2015). Nos casos de tratamento<br />
oncológico, que outras alternativas disponibilizam<br />
atualmente os hospitais além da quimioterapia, radioterapia<br />
e tratamentos farmacológicos? A possibilidade<br />
de usufruírem de outras terapêuticas que não as convencionais<br />
está praticamente negada aos utentes do<br />
SNS, e nos casos em que é possível a sua disponibilização,<br />
apenas é possível pelos profissionais médicos.<br />
Objetivos<br />
O presente estudo, que analisou a utilização das<br />
TNC e a sua possível integração no SNS, posiciona-se<br />
como um novo tema no atual panorama da<br />
gestão em saúde e da Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />
pretendendo ser uma mais-valia para esta área, em<br />
particular, e para o SNS, em geral.<br />
Metodologia<br />
O presente estudo incidiu sobre uma amostra de utilizadores<br />
dos dois espaços físicos da Associação Mama<br />
Help: o Mama Help localizado no Porto e o Mama<br />
Help/Saúde Estrutural localizado em Lisboa,<br />
tendo sido distribuídos 100 questionários no total.<br />
O Mama Help/Saúde Estrutural em Lisboa recebe<br />
doentes em tratamento da Fundação Champalimaud,<br />
de outras instituições privadas e alguns (raramente)<br />
do setor público. O Mama Help no Porto recebe<br />
também maioritariamente doentes de unidades<br />
privadas de saúde, proporcionando tratamentos individualizados<br />
e profissionalizados, centrados na pessoa,<br />
e disponibilizando diversas TNC concentradas<br />
num único espaço (Mama Help, 2015).<br />
Foram distribuídos dois questionários (um criado para<br />
o estudo e o SF12v2 ® ) aos utilizadores da Associação<br />
Mama Help, 24 no Porto e 76 em Lisboa. O QualityMetric<br />
Incorporated (EUA) foi contactado e disponibilizou<br />
o questionário SF12v2 ® e a aplicação informática,<br />
Scoring Software 5.0 , para o tratamento<br />
dos dados a recolher. Foi assinado um protocolo de<br />
utilização por ambas as partes. A análise estatística<br />
dos dados foi realizada através do software SPSS ®<br />
(Statistical Pachage for the Social Sciences), versão<br />
24.0, Microsoft Office Excel ® 2016 e Scoring Software<br />
5.0 .<br />
Resultados<br />
Constatou-se que 41% dos inquiridos tinha idade<br />
compreendida entre os <strong>18</strong> e os 49 anos, 70% tinha<br />
nível de habilitações literárias superiores e 74% era<br />
do sexo feminino, o que corrobora a literatura analisada,<br />
que carateriza os utilizadores das TNC como<br />
sendo mais jovens, mais educados, de nível socioeconómico<br />
mais elevado e mulheres.<br />
As TNC mais utilizadas são a Osteopatia e a Acupuntura,<br />
com 72% e 52% utilizadores, respetivamente,<br />
sendo a razão mais frequente para essa escolha<br />
o aumento da qualidade de vida, seguindo-se razões<br />
do foro psicológico, designadamente, a redução da<br />
ansiedade, stress e sintomas depressivos.<br />
Verificou-se que 22% dos inquiridos assumiram a decisão<br />
de utilizar as TNC, sem qualquer recomendação<br />
de outrem e 67% decidiram utilizar as TNC sem<br />
qualquer indicação de um profissional de saúde da<br />
medicina convencional ou das TNC, indiciando uma<br />
preponderância de self-empowerment e autocuidado<br />
(Fischer et al., 2014), igualmente preconizado no relatório<br />
“Um Futuro para a Saúde - todos temos um }<br />
46
GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS<br />
“<br />
PRECONIZA-SE QUE SEJAM<br />
TOMADAS TODAS<br />
AS DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS<br />
PARA QUE, A BREVE TRECHO,<br />
AS TNC PASSEM A INTEGRAR,<br />
EM PLENO, O SNS, DANDO<br />
CONTINUIDADE AO<br />
CAMINHO JÁ PERCORRIDO.<br />
”<br />
papel a desempenhar” (Crisp et al., 2014).<br />
Na avaliação da utilização das TNC e o seu impacto no<br />
bem-estar dos utilizadores, verificou-se que 96% dos<br />
inquiridos se sente melhor e muito melhor e que nenhum<br />
inquirido respondeu pior ou muito pior, o que<br />
reflete uma inequívoca melhoria do bem-estar decorrente<br />
da utilização das TNC e que consideram<br />
que estas devem ser integradas no SNS.<br />
Recomendações<br />
1. Criação do Instituto Nacional das TNC<br />
Dos dados recolhidos e analisados, verificou-se que<br />
67% dos inquiridos escolheram utilizar as TNC por<br />
sua própria vontade ou por recomendação de amigos<br />
e familiares. No entanto, nem sempre é fácil ter acesso<br />
a informação adequada, atualizada e com qualidade,<br />
pois mesmo que exista a possibilidade de pesquisa livre,<br />
é necessária uma orientação, sem a qual o problema<br />
de saúde pode ser agravado, ao invés de mitigado.<br />
Entende-se pertinente propor a criação de um Instituto<br />
em Portugal específico para as TNC, à semelhança<br />
do NCCIH nos E.U.A., sob a égide da Direção<br />
Geral da Saúde, cuja missão seja a promoção da investigação<br />
das TNC e o acompanhamento da sua utilização,<br />
para garantir o máximo de segurança aos cidadãos,<br />
evolução e inovação destas terapêuticas.<br />
2. Inclusão de questões sobre as TNC no Inquérito<br />
Nacional de Saúde<br />
À semelhança dos E.U.A. que utilizam o National<br />
Health Interview Survey (NHIS) e do Reino Unido<br />
que utiliza o inquérito nacional Omnibus para estimarem<br />
os níveis de utilização das TNC e a sua correlação<br />
com dados socio-económicos, considera-se<br />
que devem passar a ser integradas questões sobre<br />
as TNC no “Inquérito Nacional de Saúde Português”,<br />
cumprindo a “Estratégia para a Medicina Tradicional<br />
2014-2023” da OMS que defende a criação do perfil<br />
nacional das TNC em cada país.<br />
Estes dados permitirão explorar a relação da utilização<br />
das TNC com várias dimensões, como por exemplo<br />
com os comportamentos de saúde, género, as diferenças<br />
entre a medicina convencional em complementaridade<br />
com as TNC e aqueles que utilizam apenas<br />
as medicinas convencionais.<br />
3. Reconhecimento das despesas com a utilização<br />
das TNC como despesas de saúde<br />
Atualmente, as despesas com a utilização das TNC<br />
não são consideradas despesas de saúde e não podem<br />
ser deduzidas em sede de IRS. Já o Parlamento<br />
Europeu, na sua proposta de resolução de 1997, defendia<br />
que não há liberdade de acesso ao tratamento<br />
da escolha dos cidadãos se houver uma discriminação<br />
ao nível do reembolso das despesas de TNC.<br />
Conclusão<br />
Considera-se que devem ser desenvolvidos mais estudos<br />
sobre as TNC no SNS, que permitam não só<br />
analisar outras dimensões, como a redução do consumo<br />
de medicamentos, do recurso aos Meios Complementares<br />
de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT),<br />
da realização de intervenções cirúrgicas e outros cuidados<br />
de saúde. Estes devem ser assumidos por um<br />
Instituto em Portugal específico para as TNC a criar,<br />
à semelhança do que verifica em 73 países da OMS,<br />
cuja missão seja a promoção da investigação das TNC<br />
e o acompanhamento da sua utilização, salvaguardando<br />
a segurança dos cidadãos, bem como a evolução<br />
e inovação destas terapêuticas<br />
Atento o exposto, preconiza-se que sejam tomadas<br />
todas as diligências necessárias para que, a breve trecho,<br />
as TNC passem a integrar, em pleno, o SNS,<br />
dando continuidade ao caminho já percorrido. Considerando<br />
a evidência comprovada dos benefícios,<br />
seja em melhorias terapêuticas, seja na redução de<br />
custos, e dada a garantia verificada na qualidade e segurança<br />
dos utentes, este estudo confirma que as TNC<br />
constituem um fator preponderante num sistema de<br />
saúde. A expetativa para esta integração visa, sobretudo,<br />
uma melhoria significativa nos resultados obtidos<br />
no tratamento dos utentes, na redução dos custos<br />
em saúde e um incremento relevante na saúde,<br />
bem-estar e satisfação da população. Ã<br />
Barros, Pedro Pita - Economia da saúde. 3a ed. Lisboa : [s.n.]. ISBN<br />
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48
GH Iniciativa APAH | Congresso eahm<br />
APAH PROMOVE VISITA TÉCNICA<br />
A HOSPITAIS BELGAS DE GESTORES<br />
HOSPITALARES PORTUGUESES<br />
NO ÂMBITO DO EAHM<strong>2019</strong><br />
Com o objetivo de promover a aquisição<br />
e ganho de competências assim<br />
como a disseminação de conhecimentos<br />
e o desenvolvimento de parcerias<br />
de colaboração, a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu<br />
a participação de uma delegação de gestores<br />
hospitalares portugueses ao 28.<strong>º</strong> Congresso da European<br />
Association of Hospital Managers (EAHM).<br />
A 28.ª edição do EAHM (EAHM<strong>2019</strong>) foi este ano<br />
dedicada ao tema “Innovative Healthcare Strategies”<br />
tendo a organização desde ano ficado a cargo da<br />
Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/<br />
ABDH). A APAH é um membro efetivo da EAHM,<br />
associação que reúne 28 associações de gestores<br />
hospitalares em 25 países europeus representando<br />
mais de 16.000 profissionais de gestão em hospitais<br />
públicos e privados na Europa. A APAH está igualmente<br />
representada no Board, no Executive Committe<br />
e na Sub-Comissão de Assuntos Europeus da EAHM.<br />
No ano passado a APAH organizou em Cascais, de<br />
26 a 28 de setembro, o 27.<strong>º</strong> Congresso da EAHM<br />
(EAHM20<strong>18</strong>) sob o tema "Redefining the Role of<br />
Hospitals - Innovating in Population Health". A iniciativa<br />
contou com a participação de mais de1100 delegados<br />
oriundos de 45 países do mundo e na qual<br />
participaram mais de 150 oradores convidados distribuídos<br />
por mais de 50 sessões científicas e formativas.<br />
Portugal sempre teve uma tradição de grande de presença<br />
na EAHM tendo já recebido por três vezes esta<br />
iniciativa: Espinho em 1984, Lisboa em 1999 e Cascais<br />
em 20<strong>18</strong>.<br />
A estrutura da edição <strong>2019</strong> do Congresso (EAHM<br />
<strong>2019</strong>) foi diferente da anterior e na base do evento estiveram<br />
visitas técnicas a seis novos hospitais belgas com<br />
o objetivo de partilharem a sua experiência e resultados<br />
nas seguintes áreas: big data e saúde digital; finanças<br />
e economia da saúde; edifícios inteligentes e logística:<br />
gestão, governação e ética em saúde; inovação<br />
e tecnologia e arquitetura curativa.<br />
As visitas técnicas incluíram os seguintes hospitais belgas:<br />
AZ Groeninge, AZ Delta Chirec, AZ Delta Roeselare,<br />
AZ Maria Middelares, AZ Zeno e o Antwerp<br />
University Hospital. São 6 hospitais modernos que<br />
trazem novidades na área da arquitetura hospitalar, da<br />
transformação digital, das condições de trabalho dos<br />
profissionais, da ética, da sustentabilidade e gestão financeira<br />
e da melhoria da eficiência e da organização<br />
com fluxos centrados no doente e suas famílias.<br />
O EAHM<strong>2019</strong> contou com a presença de cerca de<br />
três dezenas de administradores e gestores portugueses,<br />
de entre um total de quatro centenas de participantes,<br />
que se distribuíram pelas visitas aos 6 hospitais<br />
belgas. No decurso destas visitas a delegação portuguesa<br />
teve a oportunidade de contactar com a realidade<br />
do Sistema de Saúde Belga e dos modelos<br />
de gestão das suas instituições hospitalares. Dos vários<br />
momentos do Congresso destacam-se ainda<br />
os “EAHM Innovation Awards <strong>2019</strong>”, uma iniciativa<br />
que foi presidida por Alexandre Lourenço, Presidente<br />
da APAH, e que tem como objetivo promover a inovação<br />
nos hospitais e disseminar as melhores práticas.<br />
A delegação portuguesa ao EAHM<strong>2019</strong> contou com<br />
o apoio da SPMS, Roche, ViforPharma, Generis, Sanofi<br />
e Pfizer. Em 2020 o 29.<strong>º</strong> Congresso da EAHM será<br />
realizado de 30 de setembro a 2 de outubro, em Budapeste,<br />
e terá como temas principais em análise: 1) Tecnologias<br />
do futuro; 2) Hospitais “Go Green” e 3) “Doctor<br />
Who” Novos papéis nos cuidados de saúde. Ã<br />
50
GH Iniciativa APAH | PRÉMIO Healthcare Excellence<br />
PRÉMIO RECONHECE AS MELHORES<br />
PRÁTICAS DE GESTÃO EM SAÚDE<br />
A<br />
Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH),<br />
com o apoio da biofarmacêutica<br />
AbbVie, promove no próximo dia<br />
<strong>18</strong> de outubro, em Braga, a 6.ª edição<br />
do Prémio Healthcare Excellence que irá premiar<br />
as melhores iniciativas de gestão de serviços de<br />
saúde implementadas durante o ano de 20<strong>18</strong>.<br />
Os projetos candidatos ao Prémio Healthcare Excellence<br />
são a prova da qualidade das nossas Instituições<br />
de Saúde, são projetos inovadores que, com grande<br />
criatividade, procuram superar limites e revelam ser<br />
verdadeiros casos de sucesso.<br />
São, muitas vezes, ideias aparentemente simples para<br />
a resolução de problemas muitas vezes comuns às várias<br />
Instituições de Saúde, fáceis de adaptar, que exigem<br />
pouco ou nenhum investimento financeiro, mas<br />
que permitem simultaneamente contribuir para a sustentabilidade<br />
da Saúde em Portugal e assegurar ganhos<br />
com grande impacto e valor para a qualidade de<br />
vida dos doentes e das suas famílias.<br />
Este é o objetivo do Prémio Healthcare Excellence:<br />
premiar e distinguir a excelência, reconhecendo<br />
as boas práticas no domínio da melhoria do serviço<br />
aos utentes, promovendo a sua partilha como<br />
ponto de partida para a criação de um verdadeiro<br />
network colaborativo entre as várias Instituições de<br />
Saúde e incentivar a sua implementação pelo Sistema<br />
de Saúde Português.<br />
Na reunião final do Prémio serão apresentados os<br />
projetos finalistas e será distinguido o Vencedor da<br />
edição <strong>2019</strong>. Para além da qualidade da apresentação<br />
final dos projetos candidatos, a inovação e a replicabilidade<br />
em outras instituições de saúde são também<br />
critérios de avaliação. A decisão ficará a cargo do júri<br />
constituído por Margarida França, Presidente do Júri e<br />
Presidente do Conselho de Administração do Centro<br />
<strong>Hospitalar</strong> Baixo Vouga; Dulce Salzedas, Jornalista da<br />
SIC; Maria José Costeira, Médica neonatologista do<br />
Hospital da Senhora da Oliveira de Guimarães e Ricardo<br />
Mestre, Vogal Executivo da Administração Central<br />
do Sistema de Saúde.<br />
Ao longo destes anos a adesão ao Prémio Healthcare<br />
Excellence tem sido crescente, com um número<br />
de projetos candidatos que evidenciam claramente a<br />
dinâmica e a qualidade do trabalho que todos os dias<br />
é desenvolvido nas Unidades de Saúde em Portugal.<br />
Em <strong>2019</strong>, foram recebidas 12 candidaturas, das quais<br />
6 serão apresentadas na reunião final. Entre os finalistas<br />
estão projetos do Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />
de Coimbra, Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />
de Lisboa Norte (Hospital Santa Maria), Hospital de<br />
Vila Franca de Xira, Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />
de Lisboa Central (Hospital Dona Estefânia) e da Associação<br />
de solidariedade social - Aldeias Humanitar.<br />
À semelhança da edição anterior a 6.ª Edição do Prémio<br />
Healthcare Excellence será emitida em livestream<br />
no Canal APAH “<strong>Gestão</strong> em Saúde” no You-<br />
Tube permitindo assim a participação de todos os interessados.<br />
Marque já na sua agenda. Ã<br />
Prémio Healthcare Excellence<br />
5 Edições | 5 Vencedores<br />
2014 - Centro <strong>Hospitalar</strong> de São João<br />
Inteligência Clínica<br />
2015 - Centro <strong>Hospitalar</strong> do Porto<br />
Implementação da metodologia Kaizen Diário, com<br />
as equipas naturais envolvidas na atividade do Bloco<br />
Operatório no Hospital de Santo António<br />
2016 - Hospital Vila Franca de Xira<br />
Capacitar para Melhor Cuidar - O cuidador no Projeto<br />
Vida Ativa<br />
2017 - Unidade Local de Saúde de Matosinhos<br />
Portal do Utente de Matosinhos<br />
20<strong>18</strong> - Instituto Nacional de Emergência Médica<br />
Via Verde Reanimação<br />
52
GH Iniciativa APAH | fórum do medicamento<br />
A EQUIDADE, A EFETIVIDADE<br />
E A SUSTENTABILIDADE NO ACESSO<br />
À INOVAÇÃO MARCAM A 11. A EDIÇÃO<br />
DO FÓRUM DO MEDICAMENTO<br />
HOMENAGEM AOS SÓCIOS<br />
DE HONRA E MÉRITO DA APAH<br />
GH cerimónia comemorativa<br />
A<br />
pressão para o aumento do investimento<br />
na área da saúde, agravada<br />
pelo progressivo envelhecimento<br />
da população e pela evolução tecnológica,<br />
nomeadamente o desenvolvimento<br />
de novos medicamentos e de meios de<br />
diagnóstico mais eficazes, a par com as expectativas<br />
mais exigentes da população, marcam profundamente<br />
as sociedades e os Sistemas de Saúde.<br />
Contudo, e face às restrições orçamentais, os Sistemas<br />
de Saúde dos países mais desenvolvidos têm experimentado<br />
uma grande variedade de reformas nos seus<br />
modelos de acesso e de financiamento, com o objetivo<br />
de reduzir a incerteza causada pela introdução, por<br />
exemplo, de novos medicamentos e o seu impacto na<br />
sustentabilidade económica e financeira privilegiando<br />
uma aposta em modelos baseados na partilha de risco,<br />
na medição do valor e na efetividade dos resultados.<br />
É sob o lema “Equidade, Efetividade e Sustentabilidade<br />
no acesso à inovação” que a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) realiza na<br />
manhã do próximo dia 15 de novembro de <strong>2019</strong> no<br />
Centro Cultural de Belém, sala Sophia de Mello Breyner,<br />
a 11.ª edição do Fórum do Medicamento.<br />
O Fórum do Medicamento é uma iniciativa anual da<br />
APAH, que conta com o apoio da AstraZeneca, e<br />
que visa contribuir para o conhecimento e para a par-<br />
tilha de boas práticas na área da gestão da tecnologia<br />
do medicamento.<br />
Na edição deste ano do Fórum do Medicamento faremos<br />
uma análise da equidade e efetividade no acesso<br />
aos medicamentos inovadores nos hospitais do<br />
Serviço Nacional de Saúde (SNS), contando para essa<br />
avaliação e discussão com a apresentação pública dos<br />
resultados do “Índex nacional do acesso ao medicamento<br />
hospitalar“. Esta é uma iniciativa da APAH e da<br />
Ordem dos Farmacêuticos que conta com o apoio<br />
científico da Faculdade de Farmácia da Universidade<br />
de Lisboa e que tem como objetivos estudar:<br />
1. O nível de acesso ao medicamento hospitalar e analisar<br />
os correspondentes modelos de gestão, mecanismos<br />
de criação de evidência e os sistemas de informação<br />
que lhe estão associados;<br />
2. Identificar as barreiras e problemas existentes associados<br />
à gestão do medicamento nas Unidades <strong>Hospitalar</strong>es<br />
do SNS.<br />
Também em análise na edição deste ano do Fórum<br />
do Medicamento estão os desafios do financiamento<br />
de tecnologias inovadoras e a necessidade de<br />
serem encontradas novas respostas face aos novos<br />
desafios que se colocam aos sistemas de saúde. Uma<br />
vez mais esta iniciativa trará até nós o estado da arte<br />
nacional e na Europa sobre estas temáticas e para<br />
perspetivar quer as implicações quer as alternativas<br />
para Portugal contaremos com as palestras de António<br />
Araújo, Presidente do Conselho Regional do<br />
Norte da Ordem dos Médicos, que nos apresentará<br />
os “Contributos para a construção de uma Via<br />
Verde do Pulmão” e com Wouter van Leeuwen,<br />
partner e Diretor da Boston Consulting Group, que<br />
nos falará do exemplo holandês para “A standartização,<br />
o benchmarking e o trabalho colaborativo como<br />
promotores da melhoria contínua”.<br />
À semelhança das edições anteriores o Fórum do Medicamento<br />
<strong>2019</strong> será também emitido em livestream<br />
no Canal APAH “<strong>Gestão</strong> em Saúde” no YouTube permitindo<br />
assim a participação de todos os interessados.<br />
Marque já na sua agenda. Ã<br />
Por ocasião da Comemoração dos 50 Anos da Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> em Portugal, a APAH presta homenagem às<br />
seguintes personalidade distinguindo-as como:<br />
S Ó C I O S d e H O N R A<br />
A n t ó n i o C o r r e i a d e C a m p o s<br />
A u g u s t o M a n t a s<br />
C o r i o l a n o F e r r e i r a<br />
D o n H o l l o w a y<br />
E d u a r d o C a e t a n o<br />
J o s é C a l d e i r a d a S i l v a<br />
SÓCIOS DE MÉRITO SÓCIOS DE HONRA<br />
António Correia de Campos<br />
Don C. Holloway Jr.<br />
António Menezes Duarte<br />
João Urbano<br />
Jorge Simões<br />
S Ó C I O S d e M É R I T O<br />
Margarida Bentes<br />
A n t ó n i o M e n e z e s D u a r t e<br />
E d u a r d o S á F e r r e i r a<br />
F á t i m a N o g u e i r a<br />
F e r n a n d a D i a s<br />
J o ã o U r b a n o<br />
J o ã o S a n t o s C a r d o s o<br />
J o r g e S i m õ e s<br />
J o r g e V a r a n d a José Nogueira da Rocha<br />
J o s é C a r l o s L o p e s M a r t i n s<br />
J o s é M e n e s e s C o r r e i a<br />
J o s é N o g u e i r a d a R o c h a<br />
J ú l i o R e i s<br />
M a n u e l D e l g a d o<br />
M a r g a r i d a B e n t e s<br />
R a u l M o r e n o<br />
V a s c o R e i s<br />
José Meneses Correia<br />
Augusto Mantas<br />
Eduardo Caetano<br />
Eduardo Sá Ferreira 1<br />
Maria de Fátima Nogueira<br />
Coriolano Ferreira<br />
José Caldeira da Silva<br />
Fernanda Dias<br />
João Santos Cardoso 2<br />
Jorge Varanda 3 José Carlos Lopes Martins 4<br />
Júlio Pereira dos Reis<br />
Manuel Delgado 5<br />
Raúl Moreno Rodrigues<br />
Vasco Reis<br />
1<br />
Presidente da APAH<br />
(1981-1984),<br />
2<br />
Presidente da APAH<br />
(1984-1987),<br />
3<br />
Presidente da APAH<br />
(1988-1992),<br />
4<br />
Presidente da APAH<br />
(1986-1989),<br />
5<br />
Presidente da APAH<br />
(1992-2008).<br />
www.apah.pt<br />
54<br />
55
GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
CERIMÓNIA COMEMORATIVA<br />
DOS 50 ANOS DA<br />
ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR<br />
EM PORTUGAL<br />
Foto de família.<br />
Abertura da Cerimónia: Alexandre Lourenço (Presidente da APAH), Marta Temido (Ministra da Saúde), João Pereira (Diretor da ENSP).<br />
Em Portugal, a Profissão de Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong>, então chamada de<br />
“provedor”, já vem expressa no “Regimento<br />
do Hospital de Todos os Santos”<br />
de 1504. Mas é com a revista<br />
“Hospitais Portugueses”, editada em 1948 por Coriolano<br />
Ferreira, que a criação da profissão é relançada.<br />
Nos anos subsequentes, a administração hospitalar<br />
vai alastrando pelos hospitais portugueses num<br />
contexto de controvérsia em que se discutia, com<br />
vários pretextos, a quem devia ser entregue o poder<br />
nos hospitais: médicos, e de entre estes, docentes<br />
universitários de Medicina, ou figuras de emanação<br />
política. Ao mesmo tempo, reforçando a argumentação<br />
favorável à profissionalização da administração<br />
hospitalar, e seguindo à distância o percurso dos Estados<br />
Unidos onde esta opção surgira no final da década<br />
de 20 do século passado, defendia-se a criação<br />
de uma formação específica.<br />
Em 1968, o Decreto-lei n.<strong>º</strong> 48.357 e o Decreto-lei n.<strong>º</strong><br />
48.358, ambos de 27 de abril, para além de estabelecerem<br />
que “os estabelecimentos e serviços hospitalares<br />
devem organizar-se e ser administrados em termos<br />
de gestão empresarial” (artigo 35.<strong>º</strong> do Decreto-Lei n.<strong>º</strong><br />
48.357) criam e regulamentam a carreira de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>.<br />
Decorrido meio século de história, a APAH realizou no<br />
passado dia 24 de abril, pelas 14h30, no Salão Nobre da<br />
Escola Nacional de Saúde Pública, a Cerimónia Comemorativa<br />
dos "50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em<br />
Portugal", cuja Sessão de Abertura contou com a participação<br />
da Ministra da Saúde, Prof.ª Doutora Marta<br />
Temido, acompanhada pelo Prof. Doutor João Pereira,<br />
Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e por Alexandre<br />
Lourenço, Presidente da APAH.<br />
No decurso desta Cerimónia, foram vários os momentos<br />
de homenagem ao contributo dos Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es para a construção do Serviço Nacional de<br />
Saúde, começando pela exibição do vídeo de tributo<br />
à vida e obra do Professor Coriolano Ferreira, seguida<br />
de uma intervenção do Professor Nogueira da Rocha.<br />
Foi igualmente atribuído o Prémio Professor Coriolano<br />
Ferreira, que visa distinguir anualmente o melhor aluno<br />
do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
(CEAH) da Escola Nacional de Saúde Pública, e que<br />
nesta edição foi entregue à aluna Mavilde Vitorino.<br />
Respeitando o mote dado pelo Presidente da APAH,<br />
Alexandre Lourenço, no seu discurso inicial: “Foram várias<br />
as gerações de homens e de mulheres que ao longo<br />
do tempo contribuíram para a construção de melhores<br />
e mais eficientes serviços de saúde. Esta Cerimónia é<br />
sobre estas pessoas”, a Cerimónia prosseguiu com a homenagem<br />
e distinção entregue aos Sócios de Honra e<br />
Sócios de Mérito da APAH.<br />
A APAH distinguiu António Correia de Campos, Augusto<br />
Mantas, Coriolano Ferreira, Don Holloway, Eduardo<br />
Caetano e José Caldeira da Silva como Sócios de<br />
Honra; e distinguiu António Menezes Duarte, Eduardo<br />
Sá Ferreira, Fernanda Dias, João Urbano, João Santos<br />
Cardoso, Jorge Simões, Jorge Varanda, José Carlos Lopes<br />
Martins, José Meneses Correia, José Nogueira da<br />
Rocha, Júlio Reis, Maria de Fátima Nogueira, Manuel<br />
Delgado, Margarida Bentes, Raúl Moreno e Vasco Reis,<br />
como Sócios de Mérito.<br />
A Cerimónia terminou com a sessão de lançamento do<br />
livro “50 anos em 20 olhares. O percurso da Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong> em Portugal”, que pretende ser uma<br />
reconstrução histórica dos principais marcos que diferenciaram<br />
esta carreira profissional, contada na primeira<br />
pessoa, através de um conjunto de entrevistas a<br />
grandes nomes da Administração <strong>Hospitalar</strong> cujo legado<br />
muito contribuiu para a desenvolvimento das<br />
Instituições de Saúde e do SNS, nas últimas cinco décadas.<br />
A apresentação contou com os comentários de<br />
anteriores Ministros da Saúde, Maria de Belém Roseira<br />
e Paulo Macedo. Ã<br />
56 57
GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
Lançamento Livro “50 anos em 20 Olhares”, Alexandre Lourenço, Paulo Macedo (ex. Ministro da Saúde), Maria de Belém Roseira (ex Ministra da Saúde), Carla Pedro<br />
(autora do livro). Na foto ao lado, Mavilde Vitorino, vencedora do Prémio Coriolano Ferreira <strong>2019</strong>, ladeada por Sílvia Lopes (ENSP) e Filomena Santos (IQVIA).<br />
Cerimónia de distinção aos Sócios de Honra da APAH.<br />
Cerimonia de distinção aos Sócios de Mérito da APAH.<br />
58 59
GH Iniciativas APAH<br />
60<br />
61
GH Informação técnica e comercial<br />
MONITORES MÉDICOS LG TECNOLOGIA<br />
INTELIGENTE E DESIGN SOFISTICADO<br />
Com uma vasta oferta de tecnologias e<br />
soluções para o mercado empresarial,<br />
a LG está rapidamente a tornar-se líder<br />
no mercado B2B. Os produtos da Empresa<br />
de Soluções Comerciais da LG<br />
incluem gamas de monitores LCD, ecrãs comerciais<br />
versáteis, infotainment auto e soluções telemáticas, sistemas<br />
avançados de som e sistemas de segurança melhorados<br />
digitalmente. A LG continuará a investir nestas<br />
áreas de produtos e soluções comerciais, estabelecendo<br />
novos padrões em tecnologia.<br />
A empresa salienta que a sua área comercial de monitores<br />
está a crescer mais rapidamente do que a média<br />
do mercado devido à mistura perfeita de tecnologia<br />
inteligente e design sofisticado. A LG dedicou muitos<br />
esforços à criação de monitores LCD amigos do<br />
ambiente com diminuição dos consumos energéticos<br />
e eliminando materiais prejudiciais, como o mercúrio.<br />
Na oferta para o segmento dos monitores, a marca<br />
destaca os monitores IPS que proporcionam imagens<br />
nítidas com alterações suaves nas cores, independentemente<br />
do ângulo de visualização. A qualidade de<br />
imagem do monitor cirúrgico da LG cumpre aos requisitos<br />
das salas de operações. Com o seu ecrã IPS<br />
com 8MP e 27", o monitor cirúrgico melhora a eficiência<br />
de trabalho, não só ao permitir uma observação<br />
mais detalhada, como também ao exibir múltiplas<br />
aplicações de imagiologia.<br />
É relevante destacar o facto de que, no campo da medicina,<br />
os monitores devem disponibilizar imagens<br />
precisas e de uma forma consistente, especialmente<br />
para as escalas de cinzas que podem até variar entre<br />
dois monitores do mesmo modelo. Para assegurar o<br />
sombreado mais consistente e preciso que é possível<br />
para imagens médicas, a LG mede e estabelece todas<br />
as escalas de cinza na linha de produção para produzir<br />
um monitor que cumpra com o DICOM Part 14.<br />
Um outro exemplo da fiabilidade das soluções da<br />
empresa expressa-se na certificação pelo Infarmed<br />
do Monitor de Revisão Clínica de 1,3 MP, que apresenta<br />
enorme fidelidade na reprodução de imagem<br />
e é adaptado às necessidades e requisitos dos equipamentos<br />
de diagnóstico médico.<br />
Este monitor médico cumpre com a Norma ISO22<br />
196 (medida anti-microbiana incorporada para inibir<br />
o crescimento de bactérias que possam afetar o in-<br />
vólucro deste produto). Tem tecnologia Flicker Safe,<br />
que reduz a cintilação no ecrã, minimizando o cansaço<br />
visual e a fadiga ocular. Ao combinar o Flicker Safe<br />
com a qualidade de imagem provada da tecnologia<br />
IPS, os utilizadores podem trabalhar confortavelmente<br />
ao longo do dia.<br />
A LG assegura também a sua alta durabilidade e o fato<br />
de ser anti riscos para proteger o ecrã durante um<br />
procedimento cirúrgico. O ecrã frontal do monitor cirúrgico<br />
da LG tem um nível de proteção IP35 e na parte<br />
de trás tem um nível IP32, protegendo-o contra<br />
água ou fluídos com os quais possa entrar em contacto<br />
durante uma operação. Além das proteções de<br />
impermeabilização, a sua superfície lisa permite a limpeza<br />
fácil do painel 8MP e dos botões de controlo.<br />
A destacar ainda o vidro de ligação ótico que reduz<br />
consideravelmente s reflexão interna entre o vidro<br />
exterior e o LCD para melhorar a precisão. Esta capacidade<br />
anti reflexiva melhorada permite um ecrã<br />
mais brilhante e acentuado para a mais alta qualidade<br />
de imagem. Ã<br />
A LG destaca as seguintes soluções<br />
diferenciadas para o universo hospitalar:<br />
Monitor de Revisão Clínica de 1,3 MP<br />
Estrutura de plástico com propriedades anti-bacterianas<br />
330 cd/m2 e NTSC de 72%<br />
Rápido tempo de resposta<br />
Estabilização de brilho<br />
Two-Way Pivot<br />
Monitor de Revisão Clínica de 8MP 4K<br />
Estrutura de plástico com propriedades anti-bacterianas<br />
350 cd/m2 e sRGB a99%<br />
Rápido tempo de resposta<br />
Estabilização de brilho<br />
Monitor de Diagnóstico IPS 3MP de 21,3"<br />
Ecrã IPS 3MP de 21.3”<br />
Sensor automático de luminosidade<br />
Calibração Automática e Remota<br />
Design Ergonómico<br />
Monitor Cirúrgico 27" IPS 8MP Premium<br />
UHD<br />
Ecrã IPS 8MP Premium UHD<br />
sRGB superior a 99%, sRGB a 115%<br />
Video Anti-Reflexo<br />
Dynamic Sync Mode e Tempo de Resposta Rápido<br />
IP35 & IP32 Resistente a Poeiras e Água<br />
62
MARCA A AGENDA<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (julho - setembro <strong>2019</strong>):<br />
“3F - Financiamento, Fórmula para o Futuro” | Apresentação<br />
pública na Assembleia da República<br />
2 de julho de <strong>2019</strong>, Assembleia da República - Lisboa<br />
Apresentação pública das recomendações do projeto “3F - Financiamento,<br />
Fórmula para o Futuro” e do desenvolvimento dos<br />
Projetos Piloto FAROL e POLARIS a decorrer no IPO Porto e<br />
Centro <strong>Hospitalar</strong> Trás-os-Montes e Alto Douro. Todos os conteúdos<br />
apresentados no âmbito desta apresentação pública estão<br />
disponíveis para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />
no Youtube. Mais informações em https://apah.pt/portfolio/3f/<br />
“AVC e Doenças Cardiovasculares” | Momentos Expresso<br />
3 de julho, Montes Claros - Lisboa<br />
A iniciativa contou com a participação de Delfim Rodrigues, Vice-Presidente<br />
da APAH, no painel de debate “Mudar a primeira<br />
causa de morte em Portugal - uma missão de todos” incluído no<br />
evento ‘AVC e Doenças Cardiovasculares’.<br />
Uma organização do Expresso com o apoio da Bayer Portugal que<br />
incluiu a apresentação das primeiras conclusões do estudo “Impacto<br />
económico da aterosclerose em Portugal” realizado pelo<br />
Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência.<br />
7.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em<br />
Saúde” | “O papel do Líder na implantação de projetos<br />
de gestão da experiência do paciente”<br />
30 de julho de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />
O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de<br />
Saúde” é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />
da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e<br />
promover a excelência na gestão da saúde através da discussão de<br />
temas relevantes para os gestores de saúde que exercem funções<br />
no Brasil e em Portugal. Esta edição foi dedica ao “O papel do líder<br />
na implantação de projetos de gestão da experiência do paciente”<br />
e teve como oradora Andréa Drumond, Presidente do Chapter de<br />
ACADEMIA<br />
Controlo de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> | Seminário PADIS<br />
1 e 2 de julho de <strong>2019</strong> - AESE Business School<br />
Esta formação inserida na Academia APAH foi assegurada pela<br />
AESE e teve como objetivo fortalecer a formação contínua dos<br />
profissionais de saúde que desempenham funções de gestão e<br />
Santa Catarina do CBEXs. Todos os conteúdos apresentados no<br />
âmbito deste webinar estão disponíveis para visualização no “Canal<br />
APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube.<br />
EAHM <strong>2019</strong> | Innovative Healthcare Strategies<br />
12 e 13 de setembro de <strong>2019</strong>, Ghent - Bélgica<br />
A edição 28.<strong>º</strong> do Congresso da European Association of Hospital<br />
Managers (EAHM) foi este ano dedicado ao tema “Innovative<br />
Healthcare Strategies” tendo a organização ficado a cargo da Belgian<br />
Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH). A iniciativa<br />
na qual participou uma delegação portuguesa, composta por<br />
35 gestores em saúde, contou igualmente com a moderação de<br />
Alexandre Lourenço, Presidente da APAH, na sessão “Innovation<br />
Awards <strong>2019</strong>”. Veja a reportagem nesta edição. Mais informações<br />
em: http://eahm<strong>2019</strong>.eu/venue/ghent-belgium<br />
ECCO <strong>2019</strong> | Cimeira Europeia do Cancro<br />
13 de setembro de <strong>2019</strong>, Bruxelas - Bélgica<br />
O Presidente da APAH, Alexandre Lourenço, participou como<br />
moderador da sessão “How does access to innovative cancer medicines<br />
fit in high quality cancer care and well-functioning health<br />
system as a whole?”.<br />
Mais informações em: https://www.eccosummit.eu<br />
19.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Instituto Português de<br />
Oncologia de Lisboa<br />
27 de setembro de <strong>2019</strong>, IPO Lisboa<br />
IPO Lisboa acolheu mais uma edição da iniciativa promovendo a<br />
conferência/debate “Medicina personalizada - O que mudou na<br />
prática clínica e na economia”. Todos os conteúdos apresentados<br />
no âmbito desta iniciativa estão disponíveis para visualização no<br />
“Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube.<br />
Para mais informações consulte https://apah.pt/portfolio/caminhodos-hospitais/<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes iniciativas formativas (julho - setembro <strong>2019</strong>):<br />
EVENTOS +<br />
Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2019</strong>:<br />
ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Prémio Healthcare Excellence | Reunião Final<br />
de eleição do Vencedor <strong>2019</strong><br />
Data: <strong>18</strong> de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Hotel Vila Galé Collection Braga<br />
Mais informações: ver artigo na presente edição e em https://<br />
apah.pt/portfolio/premio-healthcare-excellence/<br />
7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos<br />
de gestão centrados no cidadão e na comunidade<br />
Data: <strong>18</strong> e 19 de outubro de <strong>2019</strong><br />
que desejam aprofundar as suas competências na área de Controlo<br />
de custos hospitalares. A iniciativa contou com o apoio<br />
da ViforPharma. Conheça em detalhe o Programa do curso em<br />
https://apah.pt/noticia/academia-apah-seminario-padis-controlode-gestao-hospitalar/<br />
Local: Hotel Vila Galé Collection, Braga<br />
Mais informações em: http://www.apah.pt<br />
Novos Modelos de Contratação Pública<br />
| Que Futuro para a <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>?<br />
Data: 5 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: AESE Business School, Lisboa<br />
Mais informações em: https://apah.pt/pec-events/novos-modelos-de-contratacao-publica-que-futuro-para-a-gestao-hospitalar/<br />
XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade<br />
e Sustentabilidade no Acesso à Inovação<br />
Data: 15 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: C. Cultural de Belém (Sala Sophia de Mello Breyner), Lisboa<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forum<br />
-do-medicamento/<br />
CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Caminho dos Hospitais<br />
- Conferência/debate<br />
Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços<br />
Regionais de Saúde<br />
Data: Periodicidade trimestral<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />
Webinars Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />
Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />
Data: Periodicidade trimestral<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Webinars “Saúde Digital”<br />
Organização: Parceria APAH + SPMS<br />
Data: Periodicidade mensal<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: www.apah.pt<br />
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde<br />
- Ciclo Conferências <strong>2019</strong><br />
Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />
dos Médicos (SRNOM)<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracao-de-servicos-de-saude/<br />
APAH RECOMENDA em <strong>2019</strong><br />
Investir em saúde - Financiar anos de vida<br />
Organização: Janssen - Johnson & Johnson e Jornal de Negócios<br />
Data: 2 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Pavilhão do Conhecimento, Lisboa<br />
Mais informações em: https://cofinaeventos.com/conferenciainvestiremsaude/<br />
22 th European Health Forum<br />
Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)<br />
Data: 2 e 4 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Bad Hofgastein, Áustria<br />
SNS - O Futuro começa HOJE<br />
Organização: Fundação para a Saúde - SNS<br />
Data: 15 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa<br />
Prémio Pedro Pita Barros<br />
| Cerimónia de entrega do Prémio<br />
Organização: Associação Portuguesa de Economia da Saúde<br />
(APES)<br />
Data: 16 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Hotel Olissipo Oriente, Lisboa<br />
Mais informações em: http://apes.pt/atividades/premioppb-2<br />
16ª Conferência Nacional de Economia<br />
da Saúde (CNES)<br />
Organização: Associação Portuguesa de Economia da Saúde<br />
(APES)<br />
Data: 16 a <strong>18</strong> outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Hotel Olissipo Oriente, Lisboa<br />
Mais informações em: https://16cnes.apes.pt<br />
IHF Webinar | “Implementando um plano<br />
de longo prazo no NHS”<br />
Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />
Data: 16 de outubro de <strong>2019</strong> (13h00)<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações e inscrições em: https://zoom.us/webinar/<br />
register/2815695841614/WN_EwKjgOa8R_CmjBUOrqaaiw?-<br />
fbclid=IwAR2OT0ZvqpW-iQ-KAhRJKBMHGsmXh8In82_<br />
Fu4MFmgU0HuxqL9nlRjYr4HU<br />
Conferência AUA Hospitalização Domiciliária<br />
| Cerimónia de entrega de Prémios :: Hospital 2.0<br />
Organização: Angelini University Awards (AUA)<br />
Data: 17 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Local: Pavilhão do Conhecimento, Lisboa<br />
Mais informações e inscrições em https://aua.pt/pt/home-pt/<br />
C-Health Congress <strong>2019</strong> | Singularidade na Saúde<br />
Organização: IFE<br />
Data: 22 de outubro de <strong>2019</strong><br />
Local: Centro Cultural de Belém, Lisboa<br />
Mais informações e inscrições em: https://www.c-healthcongress.pt/<br />
43 rd World Hospital Congress | “People at the<br />
heart of health services in peace and crisis”<br />
Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />
Data: 7 a 9 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Muscat, Oman<br />
Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/<br />
INOFARMA: digital + healthcare<br />
Organização: INOFARMA<br />
Data: 14 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: NOVA SBE - Carcavelos<br />
Mais informações em: https://www.inofarma.org/<br />
13ª Edição do Prémio de Boas Práticas<br />
em Saúde® (PBPS)<br />
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />
<strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />
Data: 21 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Edifício-sede da Polícia Judiciária, Lisboa<br />
Mais informações em http://www.apdh.pt/evento/2<br />
Conferência SNS no Feminino<br />
Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />
<strong>Hospitalar</strong> (APDH) e PWN Lisbon<br />
Data: 22 de novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Edifício-sede da Polícia Judiciária, Lisboa<br />
Mais informações em http://www.apdh.pt/evento/3<br />
Health Care Summit <strong>2019</strong><br />
| Bridging the inequality gap through innovation<br />
Organização: POLITICO<br />
Data: 21-22 de Novembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Amsterdão, Holanda<br />
Mais informações em: https://diievents.dii.eu/annual-health-care-summit/<br />
EHMA Executive Workshop<br />
| “Reconfiguring and leading the value-based<br />
hospital”<br />
Organização: European Health Management Association<br />
Data: 11-12 de dezembro de <strong>2019</strong><br />
Local: Bruxelas - Bélgica<br />
Mais informações em: https://ehma.org/executive-workshop/<br />
64 65
2 PESSOAS<br />
POR SEGUNDO<br />
120 PESSOAS<br />
POR MINUTO<br />
172.800 PESSOAS<br />
POR DIA<br />
Este é o número<br />
de vidas que<br />
são melhoradas<br />
através das nossas<br />
tecnologias médicas<br />
e terapêuticas.<br />
Através da nossa<br />
missão de aliviar a dor,<br />
restabelecer a saúde<br />
e prolongar a vida,<br />
ajudamos todos os<br />
anos a melhorar a vida<br />
de milhões de pessoas<br />
em todo o mundo.<br />
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www.medtronic.pt<br />
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