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Gestão Hospitalar N.º 18 2019

Novo ciclo político Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais Qualidade e segurança do doente | As pessoas fazem a mudança Resistência a antimicrobianos | Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos: a estratégia seguida no CHEDV Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção da cobertura universal de saúde Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira, o ACES Estuário do Tejo e as escolas Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento em contexto intra-hospitalar Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise da possível integração no Serviço Nacional de Saúde Congresso EAHM 2019, Ghent APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares portugueses no âmbito do EAHM2019 Prémio Healthcare Excellence Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde Fórum do Medicamento A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação marcam a 11.a edição do Fórum do Medicamento Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal

Novo ciclo político
Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais
Qualidade e segurança do doente | As pessoas fazem a mudança
Resistência a antimicrobianos | Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos: a estratégia seguida no CHEDV
Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção da cobertura universal de saúde
Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas
Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira, o ACES Estuário do Tejo e as escolas
Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento em contexto intra-hospitalar
Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise da possível integração no Serviço Nacional de Saúde
Congresso EAHM 2019, Ghent
APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares portugueses no âmbito do EAHM2019
Prémio Healthcare Excellence
Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde
Fórum do Medicamento
A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação marcam a 11.a edição do Fórum do Medicamento
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal

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JULHO AGOSTO SETEMBRO <strong>2019</strong><br />

Edição Trimestral<br />

N<strong>º</strong> <strong>18</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />

RECURSOS HUMANOS<br />

Motivação<br />

dos profissionais<br />

SAÚDE<br />

Refundar<br />

os cuidados primários<br />

SAÚDE<br />

Segurança com<br />

medicamentos<br />

SNS<br />

Terapêuticas<br />

não convencionais<br />

COMEMORAÇÃO<br />

50 Anos<br />

de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong><br />

ENTREVISTA<br />

adelaide belo


GH OPhghgh<br />

GH SUMÁRIO<br />

julho agostO setEMBRO <strong>2019</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

PROPRIEDADE<br />

APAH − Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />

Av. do Brasil 53<br />

1749-002 Lisboa<br />

secretariado@apah.pt<br />

www.apah.pt<br />

DIRETOR<br />

Alexandre Lourenço<br />

DIRETORA-ADJUNTA<br />

Bárbara Sofia de Carvalho<br />

COORDENADORES<br />

Catarina Baptista, Miguel Lopes<br />

EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />

Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />

de Eventos, Ltda.<br />

Av. das Forças Armadas 4 - 8B<br />

1600 - 082 Lisboa<br />

Tel.: 217 957 045<br />

info@bleed.pt<br />

www.bleed.pt<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Sara Henriques<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

Gratuita<br />

PERIODICIDADE<br />

Trimestral<br />

DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />

16288/97<br />

ISSN N.<strong>º</strong><br />

0871–0767<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

IMPRESSÃO<br />

Grafisol, lda<br />

Rua das Maçarocas<br />

Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />

2710-056 Sintra<br />

Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />

do Acordo Ortográfico<br />

Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />

4<br />

6<br />

12<br />

14<br />

22<br />

26<br />

32<br />

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44<br />

50<br />

52<br />

54<br />

55<br />

56<br />

62<br />

64<br />

Editorial<br />

Novo ciclo político<br />

Alexandre Lourenço<br />

Recursos humanos<br />

Intervir no coração do SNS: motivação dos profissionais<br />

António Dias Alves, Daniela Maia, Fátima Neves<br />

Qualidade e segurança do doente<br />

As pessoas fazem a mudança<br />

Rui Cortes<br />

Resistência a antimicrobianos<br />

Infeções associadas a cuidados de saúde e resistência aos antimicrobianos:<br />

a estratégia seguida no CHEDV<br />

Luís Pedro Tavares, Miguel Paiva<br />

Cuidados de saúde primários<br />

Refundar os cuidados de saúde primários - um caminho na direção<br />

da cobertura universal de saúde<br />

Miguel Lemos<br />

Entrevista<br />

Adelaide Belo. cuidados integrados centrados nas pessoas<br />

Cuidados centrados no doente<br />

Otimização da gestão segura entre o Hospital Vila Franca de Xira,<br />

o ACES Estuário do Tejo e as escolas<br />

Patrícia Nascimento<br />

Segurança do doente<br />

Segurança do doente - eventos adversos relacionados com o medicamento<br />

em contexto intra-hospitalar<br />

Mavilde Vitorino, Paulo Sousa, Pedro Aguiar<br />

Terapêuticas Não Convencionais<br />

Efeitos da utilização das terapêuticas não convencionais e análise<br />

da possível integração no Serviço Nacional de Saúde<br />

Marta Bacelar<br />

Iniciativa APAH | Congresso EAHM<br />

APAH promove visita técnica a hospitais belgas de gestores hospitalares<br />

portugueses no âmbito do EAHM<strong>2019</strong><br />

Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence<br />

Prémio reconhece as melhores práticas de gestão em saúde<br />

Iniciativa APAH | Fórum do Medicamento<br />

A equidade, a efetividade e a sustentabilidade no acesso à inovação<br />

marcam a 11 .a edição do Fórum do Medicamento<br />

Cerimónia Comemorativa<br />

Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH<br />

50 Anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

em Portugal<br />

Informação Técnica e Comercial<br />

Monitores Médicos LG - tecnologia inteligente e design sofisticado<br />

APAH marca a agenda<br />

3


GH editorial<br />

Alexandre Lourenço<br />

Presidente da APAH<br />

Novo ciclo político<br />

Esta <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> é publicada no<br />

início de um novo ciclo político. Nos<br />

últimos meses a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

reuniu com os vários grupos parlamentares,<br />

tendo apresentado propostas concretas<br />

para o Serviço Nacional de Saúde, tendo algumas sido<br />

incorporadas nos programas eleitorais e no programa<br />

atual de Governo.<br />

Num momento em que vários sinais dão conta da desmotivação<br />

dos profissionais, exige-se que o novo Governo<br />

crie condições para aumentar a “alegria” do setor.<br />

António Dias Alves e colegas falam-nos deste problema<br />

e apresentam propostas concretas. Um artigo a não<br />

perder para iniciarmos uma discussão sobre o tema.<br />

Aos mais vários níveis, “As pessoas fazem a mudança”.<br />

É este o tema do artigo de Rui Cortes a propósito<br />

da segurança e qualidade nos cuidados de saúde. No<br />

mesmo tema, Mavilde Vitorino e colegas apresentam<br />

estudo sobre os eventos adversos relacionados com<br />

o medicamento (EArM) em Portugal. Neste estudo<br />

baseado nos dados dos doentes internados em hospitais<br />

públicos no período de 2013-2015, identificaram<br />

que 60 521 (cerca de 2% dos doentes) sofreram pelo<br />

menos um EArM, dos quais 28.5% (17 213) ocorreram<br />

no contexto intra-hospitalar. De acordo com<br />

a reflexão dos autores, facilmente se chega à conclusão<br />

da importância dos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

em criar uma nova cultura organizacional permitindolhe<br />

contribuir decisivamente para a criação de ambientes<br />

promotores de uma exigente cultura de segurança.<br />

Efetivamente, é através de uma persistente<br />

liderança institucional e estabilidade de equipas que<br />

se conseguem alcançar resultados. É esta a conclusão<br />

de Luís Pedro Tavares e Miguel Paiva com base nos<br />

resultados alcançados no combate à infeção hospitalar<br />

no Centro <strong>Hospitalar</strong> Entre Douro e Vouga.<br />

Nesta GH entrevistamos uma campeã do Serviço<br />

Nacional de Saúde. Com uma força e alegria contagiantes,<br />

a Dra. Adelaide Belo tem abraçado vários<br />

projetos ao longo da sua carreira profissional nos mais<br />

variados níveis do sistema de saúde. Dadas as funções<br />

atuais como Presidente da Associação Portuguesa de<br />

Integração de Cuidados, a conversa foca-se no papel<br />

desta associação no desenvolvimento de uma agenda<br />

para a integração de cuidados.<br />

Na linha da integração de cuidados, Patrícia Nascimento<br />

do Hospital de Vila Franca de Xira descreve<br />

o modelo de prestação de cuidados centrados nas<br />

crianças e jovens com diabetes tipo I, envolvendo<br />

os vários parceiros na comunidade e as famílias. Um<br />

modelo a seguir.<br />

Passados 40 anos da Declaração de Alma-Ata, e da<br />

recente Declaração de Astana, Miguel Lemos do<br />

ACES Arco Ribeirinho fala da necessidade de refundar<br />

os cuidados de saúde primários de forma a garantir<br />

um caminho na direção da cobertura universal<br />

de saúde. Na linha da integração de cuidados, fará<br />

sentido equacionar todo o modelo de prestação de<br />

cuidados de saúde.<br />

A Marta Bacelar vem apresentar outra dimensão na<br />

prestação de cuidados de saúde: as terapêuticas não<br />

convencionais. Num artigo que merecerá certamente<br />

futuro contraditório, a autora vem analisar e advogar<br />

a integração destas terapêuticas no SNS.<br />

Nesta GH damos conta ainda da substantiva presença<br />

da APAH no Congresso da European Association<br />

of Hospital Managers, onde foi possível visitar 6 modernos<br />

hospitais belgas.<br />

Esta é a vossa GH! Ã<br />

4


GH recursos humanos<br />

INTERVIR NO CORAÇÃO<br />

DO SNS: MOTIVAÇÃO<br />

DOS PROFISSIONAIS<br />

António Dias Alves<br />

Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />

Daniela Maia<br />

Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />

Fátima Neves<br />

Cirurgiã Cardiotorácica<br />

São evidentes as manifestações e os sinais<br />

de desmotivação de profissionais de saúde<br />

do SNS na área dos cuidados com consequências<br />

em: insatisfação, absentismo,<br />

greves e elevada rotação de profissionais,<br />

menor cooperação e desempenho; preferência por carreira<br />

em hospitais privados e pelo estrangeiro; e o mais<br />

importante, risco de um pior serviço ao doente.<br />

Esta desmotivação encontra fundamentação em causas<br />

objetivas: carreiras congeladas e pouco atrativas;<br />

insuficiência de profissionais, por não resolução completa<br />

de saídas definitivas e temporárias; desadequação<br />

das instalações e vetustez dos equipamentos,<br />

fruto de uma quase ausência de investimento nos<br />

últimos sete anos; lentidão de decisão, fruto da centralização<br />

e perda de autonomia da gestão hospitalar.<br />

Deve ainda referir-se o choque de realidades, face<br />

às condições vigentes nos novos hospitais privados<br />

(retribuição, instalações e equipamentos), e de expectativas,<br />

relativamente à pronta e total reposição<br />

da perda de regalias decidida no período da Troika.<br />

A desmotivação dos profissionais de saúde gera consequências<br />

negativas no desempenho, no clima e nos<br />

cuidados hospitalares e, a manter-se, pode conduzir<br />

à insustentabilidade futura do SNS ou, pelo menos,<br />

à erosão da qualidade e do seu caráter geral e universal.<br />

Por isso é crucial que os decisores políticos e os gestores<br />

assegurem a motivação dos profissionais. Esta<br />

é a razão deste texto.<br />

Condições básicas para motivação dos profissionais<br />

A gestão de pessoas em Unidades complexas e de<br />

produção variável, como são os hospitais, não pode<br />

ser centralizada, burocrática e em moldes rígidos, típicos<br />

da função pública (FP) tradicional. Para criar um<br />

ambiente de trabalho favorável à obtenção de melhores<br />

resultados, consideramos como requisitos essenciais<br />

o contrato individual de trabalho (CIT) para os<br />

profissionais e o reconhecimento do estatuto de Entidade<br />

Empresarial para os hospitais, com tudo o que<br />

justificou a sua transformação em EPE, incluindo a autonomia<br />

de gestão com responsabilização e prestação<br />

de contas.<br />

Na nossa opinião a gestão de pessoas será naturalmente<br />

local e o recrutamento efetuar-se-á no respeito<br />

pelos Princípios Gerais da Administração Pública,<br />

de acordo com a experiência e o mérito, e de modo<br />

a que complementem e se adequem aos já existentes<br />

nos Serviços. A gestão de pessoas supõe atenção<br />

personalizada, identificando-se os pontos fortes e fracos<br />

e atuando-se sistematicamente com vista ao desenvolvimento<br />

de cada profissional.<br />

Assim, no âmbito hospitalar consideramos que devem,<br />

à partida, existir três condições:<br />

1. Reposição da autonomia e flexibilidade previstas no<br />

estatuto dos hospitais EPE;<br />

2. Regime de CIT sem termo, para assegurar segurança<br />

e estabilidade aos profissionais bem como a flexibilidade<br />

que permita adaptação do hospital à sua pro-<br />

cura, dentro dos recursos existentes e de acordo com<br />

as boas práticas, garantir a possibilidade de progressão<br />

na carreira, independentemente do vínculo (CIT, FP),<br />

remuneração base adequada e incentivos em função<br />

dos resultados obtidos;<br />

3. Nas condições de trabalho deverá assegurar-se: recursos<br />

adequados ao trablho a executar - nomeadamente<br />

instalações e equipamentos, informação, pessoas,<br />

organização e gestão; ambiente seguro com promoção<br />

da melhoria de processos e de resultados.<br />

Como motivar os profissionais<br />

Seguindo McClelland et al, são indicados seis fatores<br />

principais que influenciam o ambiente organizacional:<br />

liberdade para os profissionais inovarem sem constrangimento<br />

burocrático; sentido de responsabilidade<br />

para com a Instituição; clareza da Missão e dos Valores;<br />

nível dos padrões fixados pelas pessoas; grau de<br />

certeza quanto à relação entre o desempenho e as recompensas;<br />

nível de comprometimento com finalidades<br />

comuns.<br />

Como o hospital é uma Organização de conhecimento,<br />

marcada pela complexidade de produção e alta diferenciação<br />

dos profissionais, fará sentido a aplicação<br />

das regras do processo justo de Kim e Mauborgne<br />

(HBR, 1997) ou seja: envolvimento dos profissionais<br />

nas decisões que os afetam, explicação aos afetados<br />

dos motivos e objetivos da mudança, clareza de expetativas<br />

expondo as novas regras, padrões de desempenho<br />

e suas consequências. O envolvimento de<br />

profissionais deve fazer-se de acordo com a “Shared<br />

Quality Agenda” (IHI, 2007) e “A CEO Checklist for<br />

High-Value Health Care” (IOM, 2012).<br />

Por outro lado, a finalidade do trabalho em meio hospitalar<br />

- salvar vidas e melhorar a saúde das pessoas,<br />

é motivadora em si mesma pelo que, conforme a valência<br />

na Teoria das Expetativas (Vroom, 1964), o papel<br />

da gestão fica facilitado.<br />

Em síntese, para criarmos um ambiente organizacional<br />

seguro, exigente e de responsabilidade que propicie<br />

a dedicação dos profissionais e favoreça uma<br />

cultura de melhoria, assente na transparência, no respeito,<br />

na confiança e na cooperação, são necessários<br />

os seis pontos que enumeramos de seguida: }<br />

6 7


GH recursos humanos<br />

“<br />

É ESSENCIAL DISPOR DE UMA BASE<br />

OBJETIVA PARA AVALIAÇÃO<br />

DO DESEMPENHO, CONSTITUÍDA<br />

POR SISTEMA DE MEDIÇÃO,<br />

COM INDICADORES E PADRÕES,<br />

E POR SISTEMA DE OBJETIVOS<br />

E METAS A ALCANÇAR<br />

NAS DIVERSAS DIMENSÕES.<br />

”<br />

Primeiro, aos profissionais deve ser atribuído um bom<br />

trabalho, estimulante e com significado, de acordo<br />

com as suas capacidades, com a necessária autonomia<br />

e responsabilidade. Sempre que possível deve assentar-se<br />

em equipas, nos cuidados, na gestão e nos<br />

esforços de melhoria, pois constituirão instrumento<br />

de desenvolvimento pessoal, tenderão a reduzir o erro<br />

e a gerar melhores soluções.<br />

Segundo, é essencial dispor de uma base objetiva<br />

para avaliação do desempenho, constituída por sistema<br />

de medição, com indicadores e padrões, e por<br />

sistema de objetivos e metas a alcançar nas diversas<br />

dimensões, ambos definidos com envolvimento profundo<br />

de profissionais. De modo semelhante, deve<br />

haver especificação que a promoção profissional requer<br />

obtenção sistemática de resultados acima da média<br />

e atuação de acordo com os valores e padrões de<br />

comportamento definidos.<br />

Terceiro, há que fazer a coisa certa do modo certo,<br />

isto é, de modo a aumentar o desempenho global do<br />

hospital e a motivar os profissionais:<br />

• Procedendo a ampla difusão de informação (gestores<br />

que informem, apoiem e encorajem), promovendo<br />

comunicação sem riscos de erros e outros<br />

problemas e encorajando a interação empática com<br />

os doentes, para melhores resultados e prevenção de<br />

re-hospitalização;<br />

• Promovendo a formação com vista ao desenvolvimento,<br />

para atualização e especialização técnica, maior<br />

conhecimento em gestão e nas técnicas e metodologias<br />

para a melhoria;<br />

• Solicitando sugestões de melhoria e, quando concretizadas<br />

com ganho significativo, recompensando<br />

e reconhecendo publicamente pois a melhoria requer<br />

o envolvimento contínuo das pessoas como produtores<br />

de ideias e mentores da sua concretização;<br />

• Reduzindo o absentismo através de programa avançado<br />

de promoção da saúde e bem-estar, num ambiente<br />

seguro, com prevenção e resposta adequada à violência<br />

e abuso no trabalho;<br />

• Conferindo mais responsabilidades a quem se destacar,<br />

ao serviço dos doentes e noutros resultados,<br />

e facilitando a adequação do horário às contingências<br />

familiares;<br />

• Promovendo a flexibilidade, a difusão de boas práticas<br />

e a aprendizagem na prestação de idêntico serviço:<br />

igual organização de espaços de trabalho e adoção<br />

do mesmo processo, equipas que garantam idêntico<br />

padrão de resposta face a variações temporárias da<br />

procura e do absentismo;<br />

• Reorganizando os cuidados em torno do doente,<br />

evitando a inapropriação, o fracionamento, as deslocações<br />

evitáveis e o tempo perdido pelos doentes e pelos<br />

profissionais.<br />

Quarto, perante um desempenho excelente é sempre<br />

devido o reconhecimento adequado; para Serviços<br />

será de atribuir verba a despender em formação<br />

externa ou em instalações e equipamentos.<br />

Quinto, para reforçar a orientação para a melhoria<br />

de resultados do hospital, faz sentido: dar liberdade<br />

e estimular os profissionais a procurarem novas formas<br />

e práticas (projetos) que minimizem o desperdício,<br />

simplifiquem os processos, reduzam a variabilidade<br />

não esperada e melhorem a experiência dos doentes;<br />

recompensar os profissionais que concretizem<br />

aqueles projetos; considerar a satisfação nas métricas<br />

de desempenho e reconhecer as melhores práticas.<br />

Sexto, por fim, mas muito importante, é necessário<br />

dispor de um sistema de incentivos dirigido sobretudo<br />

ao desempenho das equipas - e a cada profissional<br />

quando for fácil destrinçar e medir a contribuição<br />

individual. A produção adicional fora do horário de<br />

trabalho constitui outro fator de motivação.<br />

A exclusividade é desejável e viável<br />

A exclusividade - num contexto orientado para a motivação<br />

profissional - irá permitir a focalização do profissional<br />

numa instituição, com os ganhos de tempo<br />

e a economia de custos correspondentes, favorecer<br />

a realização plena das pessoas, minimizar os conflitos<br />

de interesse e assegurar boa qualidade em todos<br />

os hospitais, públicos e privados.<br />

Defende-se a exclusividade como opção para os profissionais<br />

que já estejam integrados em hospital e como<br />

regra para recrutamentos futuros. Poderá ser de<br />

aplicação progressiva, à medida que o orçamento<br />

o permita e de acordo com as prioridades do SNS,<br />

como sejam para acorrer a insuficiência grave de resposta<br />

por falta de recursos humanos, genérica, por<br />

exemplo em hospitais no interior, ou em determinados<br />

serviços, ou para promover novas formas de<br />

organização e atuação.<br />

A retribuição da exclusividade deverá incluir remuneração<br />

base, correspondente a horário semanal de 40<br />

horas, prémio fixo, produção adicional e incentivos<br />

conforme os resultados obtidos, por referência a objetivos<br />

estabelecidos, cuja definição prévia visa assegurar<br />

que o empenho, a produtividade e a qualidade<br />

do exercício do profissional justificam a manutenção<br />

do estatuto e da retribuição prevista.<br />

A maior remuneração da exclusividade encontra sustentação<br />

no valor acrescido que se obtém por:<br />

• Maior dedicação permite ganhos financeiros diretos,<br />

como sejam a redução de custos por menor rotação<br />

de profissionais (recrutamento, formação, entre<br />

outros), em horas extraordinárias, prestações de serviço<br />

e subcontratação externa, e indiretos, em maior<br />

atividade por encurtamento da curva de experiência<br />

e melhor coordenação e ajustamento mútuo em<br />

produção em equipa;<br />

• Maior compreensão, adesão e focalização nos objetivos<br />

do Serviço e da Equipa, com maior motivação para<br />

cumprir metas de atividade, reduzir o desperdício, melhorar<br />

a qualidade e os tempos de resposta aos doentes,<br />

e melhor ambiente para projetos de melhoria que<br />

geram ganhos na qualidade e na eficiência e permitem<br />

atingir níveis superiores de desempenho; }<br />

8 9


GH recursos humanos<br />

“<br />

A MOTIVAÇÃO DOS PROFISSIONAIS<br />

É DECISIVA EM QUALQUER<br />

ORGANIZAÇÃO DE SAÚDE,<br />

DEVENDO NOS HOSPITAIS<br />

DO SNS, SER CONSIDERADA<br />

COMO UMA DIMENSÃO CHAVE<br />

PARA O SUCESSOOU INSUCESSO.<br />

”<br />

• Dedicação plena e conhecimento profundo do hospital,<br />

dos seus líderes, dos seus valores e regras, que<br />

facilitam a definição e o cumprimento de práticas normalizadas<br />

(protocolos clínicos) e a redução de erros<br />

e omissões;<br />

• Trabalho mais esclarecido, produtivo e sinérgico<br />

nas três áreas de atividade hospitalar (assistência, ensino,<br />

investigação);<br />

• Maior tempo e experiência na instituição conduzem<br />

a investimento emocional, com melhor formação<br />

e desenvolvimento de todos os profissionais, transferência<br />

de conhecimentos entre gerações e grupos<br />

profissionais (criação de escola), alinhamento e assunção<br />

plena da cultura institucional, disponibilidade para<br />

assumir responsabilidades, sejam atividades operacionais<br />

comuns ao hospital (ex. SU), de gestão de Unidades<br />

ou direção técnica.<br />

Integração na gestão do hospital<br />

A sustentabilidade dos serviços hospitalares não se obtém<br />

reivindicando cada vez mais recursos, antes pela<br />

melhoria de processos e práticas com vista a maior<br />

qualidade, segurança e eficiência. Para isso os hospitais<br />

do SNS requerem um programa específico para<br />

garantir instalações e equipamentos adequados e suficientes,<br />

uma gestão profissional, próxima e promotora<br />

de boas decisões, e um enquadramento e ambiente<br />

organizacional motivadores para os profissionais.<br />

Sem excluir outras possibilidades, os novos Centros<br />

de Responsabilidade Integrados podem constituir um<br />

bom enquadramento para melhorar a motivação e valorização<br />

dos profissionais, possibilitando maior participação<br />

destes na definição e concretização da estratégia,<br />

do plano de ação anual, do contrato programa<br />

e do regulamento interno, enquanto instrumentos de<br />

gestão operacional previstos na legislação respetiva.<br />

Estes instrumentos, a maior proximidade da gestão<br />

à atividade clínica e a possibilidade de incentivos garantem<br />

maior prestação de contas, promovem a melhoria<br />

de processos e do desempenho, em qualidade e segurança,<br />

eficiência, tempo de resposta, e satisfação dos<br />

doentes e dos profissionais, ao mesmo tempo que permitem<br />

a redução de burocracias e a reposição de poderes<br />

da gestão operacional.<br />

É nossa convicção, à luz de experiências já realizadas<br />

entre nós e noutras latitudes, que a promoção da exclusividade<br />

e das outras medidas explicitadas neste<br />

texto permitirão cativar os profissionais para se dedicarem<br />

ao SNS, contribuirão para instilar uma cultura<br />

positiva, de responsabilidade e de prestação de contas,<br />

de respeito mútuo e de orientação para o doente<br />

e para criar um ambiente que suscite o orgulho de<br />

pertença, gerando:<br />

• Organização de conhecimento, de aprendizagem e<br />

desenvolvimento de pessoas, que congregue alta especialização<br />

e diferenciação, assegurando cuidados integrados<br />

com os restantes serviços de saúde num clima<br />

de respeito, de colaboração e de apoio à decisão;<br />

• Instituições sustentáveis, pela qualidade e economicidade<br />

dos Serviços, atualizadas sob o ponto de vista<br />

clínico e tecnológico, com informação adequada e comunicação<br />

aberta e franca, que propicie boas decisões<br />

dos líderes, dos profissionais e dos doentes;<br />

• Qualidade e segurança, com gestão que previna<br />

riscos, erros e desperdícios e que promova a melhoria<br />

contínua de resultados, incluindo a responsividade<br />

aos doentes;<br />

• Satisfação e comprometimento dos profissionais na<br />

simplificação de processos e na definição e padronização<br />

das melhores práticas clínicas.<br />

A motivação dos profissionais é decisiva em qualquer<br />

organização de saúde, devendo nos hospitais do SNS,<br />

ser considerada como uma dimensão chave para o sucesso<br />

ou insucesso e ser tratada prioritariamente na<br />

definição da política de saúde e na gestão das Organizações.<br />

A qualidade e a sustentabilidade futuras do<br />

SNS não lhe serão indiferentes. Ã<br />

Better Health,<br />

Brighter Future<br />

Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas.<br />

Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda<br />

proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua<br />

fundação em 1781.<br />

Hoje combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo<br />

desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se:<br />

encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar<br />

melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível,<br />

o mais rápido que conseguirmos.<br />

Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa,<br />

a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.<br />

PT/INI/0319/0010d<br />

10<br />

Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda.<br />

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GH Qualidade e segurança do doente<br />

"AS PESSOAS<br />

FAZEM A MUDANÇA"<br />

Rui Cortes<br />

Consultor e fundador da Lean Health Portugal<br />

“<br />

People Make Change” foi a frase do International<br />

Forum on Quality&Safety for<br />

Healthcare, que decorreu em Glasgow,<br />

na Escócia, na última semana de março<br />

passado. Sem as pessoas não podemos<br />

mudar a cultura dos sistemas e das organizações de<br />

saúde, esta foi sem dúvida a mensagem e aprendizagem<br />

principal deste evento em que todos os profissionais<br />

têm duas responsabilidades: “Do their Job, Improve<br />

Their Job”.<br />

São três os pilares em que as pessoas têm de assegurar<br />

as condições para que se possa implementar uma cultura<br />

de mudança e melhoria contínua, e que passam pelo:<br />

1. papel e postura das lideranças de topo, mas também<br />

intermédias;<br />

2. facto dos profissionais se sentirem como verdadeiros<br />

agentes da mudança, atribuindo, assim, um maior significado<br />

e prazer no seu trabalho; e<br />

3. envolvimento dos utentes como agentes de mudança<br />

e geradores de inovação nos cuidados de saúde.<br />

No que aos gestores de topo diz respeito, e tendo tido<br />

oportunidade de participar na sessão apenas dedicada a<br />

“CEOs”, fica evidente que as preocupações são as mesmas<br />

entre os vários países, onde a grande mensagem foi<br />

a de que o líder tem de partir do pressuposto que pode<br />

estar errado. Saber fazer as questões certas e apoiar os<br />

diversos profissionais, num ambiente de confiança, na<br />

procura das respostas a essas questões, é fator crítico de<br />

sucesso sendo um papel do qual não se pode demitir.<br />

A mudança precisa de uma clareza no propósito, apoiada<br />

pela coragem necessária; só assim podemos assegurar<br />

a primeira parte da “Trilogia de Juran”, acerca da<br />

Planificação da Qualidade. Este planeamento deve ser<br />

alinhado com os objetivos estratégicos da organização,<br />

ou então resultar da voz dos utentes no que diz respeito<br />

a fatores que condicionam os mesmos a terem uma<br />

experiência, nos serviços de saúde, com qualidade.<br />

É, no entanto, essencial, “os gestores de topo, terem o<br />

domínio sobre a psicologia da mudança, e sobre o facto<br />

de”, segundo Henry Timms, “estarmos a assistir ao<br />

chamado novo poder”, o que obriga a mudanças claras<br />

no estilo de liderança e nas estratégias usadas para assegurar<br />

o necessário envolvimento dos profissionais de<br />

saúde, para que se sintam como agentes de mudança.<br />

Um dos exemplos muito falado por vários presidentes<br />

de hospitais é a criação de um standard work em que,<br />

no mínimo, seja definido um dia por semana, sempre<br />

ao mesmo dia, sempre à mesma hora, em que os elementos<br />

do conselho de administração, durante uma<br />

ou duas horas, se dedicam exclusivamente a visitar os<br />

diversos serviços, a fim de conhecer os problemas,<br />

acompanhar e monitorar as melhorias, bem como desbloquear<br />

barreiras para as mesmas.<br />

Assim, o que se espera de um líder de topo não é quem<br />

resolva problemas, mas sim quem apoia e incentiva a<br />

resolução dos mesmos, que define objetivos claros,<br />

quem vai ao “terreno”, quem define qual o método de<br />

melhoria contínua a ser usado, quem cria uma cultura<br />

de transparência onde o erro é a melhor oportunidade<br />

de melhoria, seguindo a máxima de que “Confiem nas<br />

pessoas, ataquem os processos”. Ademais, um hospital<br />

que não identifica erros, não protege os seus doentes.<br />

Passando aos profissionais… são eles os verdadeiros<br />

agentes de mudança, numa cultura de transparência,<br />

suportados por líderes que assegurem uma visão clara<br />

e criem um ambiente seguro, levando, assim, a que os<br />

profissionais sintam o ímpeto da mudança. Para que tal<br />

aconteça, são essenciais os outros dois elementos da<br />

“Triologia de Juran”: o controlo de qualidade e a melhoria<br />

continua da qualidade.<br />

No que diz respeito ao controlo de qualidade, implica<br />

uma clara definição de quais os standards pretendidos<br />

em cada processo, de forma a que se possam listar os<br />

indicadores de processos e resultados, assentes em<br />

ferramentas de gestão visual, permitindo os huddles<br />

meetings diários, ou no mínimo semanais, e em que<br />

haja uma clara identificação de quais os problemas ou<br />

situações que têm de ser de imediato escaladas para<br />

a gestão de topo.<br />

Os huddles meetings, assentes na chamada “gestão diária”,<br />

são a ferramenta mais importante para assegurar<br />

uma verdadeira cultura de melhoria continua, em que,<br />

pela minha experiência, por vezes é condição suficiente<br />

para mudar resultados, mesmo sem haver qualquer<br />

alteração nos processos. Não obstante, tem-se revelado<br />

algo difícil implementar nos hospitais portugueses,<br />

o que nos impele a pensar sobre o que está a falhar na<br />

forma como está a ser apresentado, e não na culpabilização<br />

de quem resiste à sua implementação. Os huddles<br />

meetings são reuniões, em pé, de não mais de 15<br />

minutos, sempre à mesma hora e/ou no mesmo dia, no<br />

mesmo local, onde é feita uma monitoração dos quatro<br />

ou cinco indicadores que estão a ser acompanhados,<br />

e se definem medidas de implementação imediata ou<br />

se identificam pontos críticos que necessitam de recursos.<br />

São um primeiro passo para a gradual passagem<br />

de uma qualidade retrospetiva para uma qualidade em<br />

tempo real.<br />

Sem prejuízo do atual estado da arte em Portugal, o que<br />

ainda não referi no que diz respeito às pessoas fazerem<br />

a mudança, sendo indubitavelmente o aspeto mais importante,<br />

é que se assiste a uma gradual implementação<br />

desta prática, devendo adotar-se um verdadeiro trabalho<br />

de envolvimento, menos paternalista e determinista.<br />

Importa ainda referir os utentes e suas famílias, parte<br />

ativa e central nos processos de codesign e de cocriação,<br />

agora centrais no processo, não só no desenho de<br />

como deve ser construída a sua experiência no seu percurso<br />

nos cuidados de saúde, mas também na forma como<br />

esses desenhos são implementados e sustentados.<br />

Esta coprodução deve ser adaptada a cada local, uma<br />

vez que as iniquidades são muito grandes, inclusivamente<br />

dentro da mesma cidade. Não pode haver uma solução<br />

forçada para todos os locais, sem as devidas adaptações<br />

através do envolvimento dos utentes. A título de<br />

exemplo, refere-se o caso da diferença de 21 anos na<br />

esperança média de vida entre um extremo do metro<br />

de Londres e o outro extremo, o que deve ser tido em<br />

conta quando procuramos forçar soluções para realidades<br />

distintas, mesmo que pareçam estar ali ao lado.<br />

Para que todo este paradigma se torne uma realidade,<br />

impera (i) assegurar uma adequada e moderna capacitação<br />

de líderes, não só na metodologia de melhoria<br />

contínua, mas também na psicologia da mudança, (ii)<br />

bem como capacitar e envolver utentes e famílias em<br />

processos de cocriação e codesign.<br />

Sem esta capacitação alinhada e complementar, correse<br />

o risco claro de ser só uma das partes da equação<br />

a falar uma linguagem de mudança, criando ainda mais<br />

“silos” nas organizações em geral e no setor da saúde<br />

em particular.<br />

Desta forma estaremos em condições de assegurar<br />

melhores outcomes de saúde, beneficiar as experiências<br />

do doente e dos profissionais e aumentar o valor dos<br />

cuidados prestados.<br />

Juntando estes fatores, o Ministério da Saúde Escocês<br />

criou o conceito de Medicina Realística, que é composto<br />

por uma tomada de decisão partilhada, em detrimento<br />

de uma decisão assente na autonomia dos<br />

profissionais. Trata-se de uma abordagem personalizada<br />

nos processos de cuidados, onde se assegura uma<br />

redução do desperdício, principalmente em situações<br />

em que o doente seja lesado, reduzindo variações desnecessárias<br />

nos cuidados prestados e nos outcomes,<br />

assente numa melhor gestão de risco e onde todos<br />

possam ser “agentes de melhoria” e inovadores.<br />

Segundo os autores de Compassionomics, estamos ou<br />

inevitavelmente caminharemos para uma era além da<br />

empatia (quiçá compaixão), o que se revela crucial na<br />

saúde, onde, por exemplo, doentes terminais tendem<br />

a valorizar mais esse fator do que aspetos associados<br />

ao tratamento ou à sobrevida, preferindo, ao invés,<br />

poderem estar assintomáticos e passarem mais tempo<br />

com as suas famílias.<br />

A abordagem assente na compaixão remete para a<br />

questão “o que importa para si?”, evitando a decisão<br />

pelo doente ou pelo profissional sobre o que importa<br />

para ele, engrandecendo aspetos tão simples como<br />

a hora das marcações (um dos “pormenores” mais valorizados).<br />

Estas situações permitem reforçar as relações<br />

entre profissionais, gestores, comunidade e utentes,<br />

criando, assim, condições para um ambiente mais<br />

propício à mudança e assente em confiança e foco no<br />

bem-estar, quer de doentes quer dos profissionais.<br />

Resumindo, parafraseando Gary Kaplan, CEO do Virginia<br />

Mason Medical Centre, a qualidade nas organizações<br />

de saúde parte de uma clara visão que se concretiza<br />

com: “respeito pelas pessoas”, “envolvimento dos<br />

profissionais e das equipas”, “obsessão pela qualidade<br />

através da redução do desperdício” e uma cultura de<br />

inovação onde haja espaço para PDSA (Plan- Do-Study-Act),<br />

de forma a uma permanente procura de fazer<br />

melhor.<br />

Com efeito, fazendo bem à primeira e reduzindo desperdícios,<br />

bem como a variação nos processos, os custos<br />

são em si mesmo impactados no sentido decrescente.<br />

Em jeito de conclusão, as pessoas fazem as mudanças<br />

e os líderes têm de partir do pressuposto humilde que<br />

podem estar errados! Ã<br />

12 13


GH Resistência a antimicrobianos<br />

INFEÇÕES ASSOCIADAS<br />

A CUIDADOS DE SAÚDE<br />

E RESISTÊNCIA AOS<br />

ANTIMICROBIANOS<br />

A ESTRATÉGIA SEGUIDA NO CHEDV<br />

Figura1<br />

Luís Pedro Tavares<br />

Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna<br />

Coordenador do GCL do PPCIRA do CHEDV<br />

Enquadramento do problema<br />

As infeções associadas a cuidados de<br />

saúde (IACS) e o aumento da resistência<br />

dos microrganismos aos antimicrobianos<br />

(RAM), vem adquirindo<br />

uma importância crescente à escala mundial, que se<br />

traduz num forte impacto nos utentes (aumento da<br />

morbilidade e a mortalidade), nas unidades de saúde<br />

(prolongamento do tempo de internamento e reinternamentos)<br />

e na comunidade (absentismo laboral<br />

e aumento de custos em saúde).<br />

A Organização Mundial de Saúde estima que, em<br />

2050, a resistência aos antimicrobianos será responsável<br />

por 10 milhões de mortes (mais do que a soma<br />

da Diabetes e Cancro) - figura 1 - e uma queda do Produto<br />

Interno Bruto entre 2.8% e 3.5%.<br />

Portugal participou em todos os Inquéritos de Prevalência<br />

de Ponto (PPS) do European Centre for Disease<br />

Control (ECDC). Em 2012, o nosso país registava<br />

a maior taxa de Infeção <strong>Hospitalar</strong> (10.5%) e valores<br />

consideravelmente superiores à média europeia, no<br />

que respeita à Infeção do Local Cirúrgico (ILC), ao<br />

consumo de Fluoroquinolonas na comunidade e de<br />

Miguel Paiva<br />

Economista<br />

Presidente do Conselho de Administração do CHEDV<br />

Carbapenemos nos hospitais. A resistência do Acinetobacter<br />

baumannii aos Carbapenemos (79.2%),<br />

do Staphylococcus aureus à Meticilina (53.8%), da<br />

Klebsiella pneumoniae às Cefalosporinas de 3ª geração<br />

(38.7%), da Escherichia coli às Fluoroquinolonas<br />

(30%) e do Enterococcus faecium à Vancomicina<br />

(23.3%), eram motivo de grande preocupação.<br />

Em 2013, o Governo português criou o Programa<br />

de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências<br />

aos Antimicrobianos (PPCIRA), os Grupos de<br />

Coordenação Regional (GCR) e Local (GCL) - Despachos<br />

n.<strong>º</strong> 2902 e 15423, tendo-o considerado um<br />

dos 9 Programas Prioritários de Saúde. Neste ano,<br />

morreram 4.606 doentes com infeções hospitalares<br />

(a mortalidade rodoviária foi 637) e gastaram-se 45<br />

milhões de euros em antimicrobianos.<br />

Nos anos seguintes, diversas entidades públicas definiram<br />

e atualizaram políticas, indicadores e metas<br />

nesta área:<br />

• Direção Geral de Saúde (DGS)- Normas de Orientação<br />

Clínica (NOC) e Índice de Qualidade (IQ);<br />

• Entidade Reguladora da Saúde (ERS) - Dimensão<br />

Segurança do Doente;<br />

• Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS)<br />

e Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos<br />

de Saúde (INFARMED) - Benchmarking <strong>Hospitalar</strong><br />

(sepsis pós-operatória, consumo de antibióticos);<br />

• Rede de Informação e Observação em Saúde<br />

(RIOS) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo<br />

Jorge - Programas de Vigilância Epidemiológica (VE);<br />

• Plano Nacional para a Segurança do Doente<br />

2015/2020 (objetivo estratégico 9).<br />

Em 2016, registaram-se resultados positivos relativamente<br />

à adesão à Higiene das Mãos (+37.0%), às<br />

Pneumonias associadas ao Ventilador (-36.6%), Infeções<br />

da Corrente Sanguínea associadas a Cateter<br />

Venoso Central (- 45.0% a -57.1%), às Infeções do<br />

Local Cirúrgico (-13.5% para as cirurgias do colon/<br />

reto e -52.9% na Prótese do Joelho), ao consumo de<br />

Carbapenemos (-13.3%) e à taxa de Methicilin Resistant<br />

Staphylococcus aureus - MRSA (-20.1%).<br />

Em maio de 2017, a participação portuguesa no PPS<br />

(28 países), envolveu 93 unidades hospitalares e<br />

16.982 doentes. A percentagem de doentes internados<br />

sob antibioterapia foi um pouco menor (39.6%),<br />

e a taxa de Infeção <strong>Hospitalar</strong> foi significativamente<br />

menor (7,8%), que em 2012.<br />

Em 20<strong>18</strong>, terminaram os 3 anos do Desafio Gulbenkian<br />

"Stop Infeção <strong>Hospitalar</strong>!", que envolveu 19 hospitais<br />

do SNS, e um potencial investimento de 1.2 milhões<br />

de euros. Conseguiram-se reduções de 51 a 56%<br />

na incidência de infeções associadas a dispositivos (cateter<br />

vesical, cateter venoso central, tubo oro-traqueal/<br />

ventilador) e procedimentos cirúrgicos (próteses da<br />

anca e joelho, cirurgia de vesícula e cólon/reto).<br />

Contudo, no seu último relatório anual, o PPCIRA assume<br />

as dificuldades no controlo do crescimento da<br />

resistência da Klebsiella pneumoniae aos carbapenemos<br />

(2.1% em 2014 e 9.7% em 2017), na implementação<br />

do Programa de Apoio à Prescrição Antimicrobiana<br />

(PAPA) e na participação na Vigilância<br />

Epidemiológica da Infeção do Local Cirúrgico, em<br />

cerca de 1/3 das instituições de saúde. Considerou<br />

necessário reduzir a percentagem de profilaxia antibiótica<br />

cirúrgica administrada após 24 horas da cirurgia<br />

para 37,5%, e manter a taxa de consumo de<br />

carbapenemos em meio hospitalar e de quinolonas<br />

na comunidade, abaixo de 0,11 e 1.25 Doses Diárias<br />

Definidas (DDD) por 1.000 habitantes, respetivamente<br />

(médias europeias: 0.06 e 1.6). }<br />

Observatório Português dos Sistemas de Saúde, “Relatório<br />

Primavera 20<strong>18</strong>” (25 páginas dedicadas às IACS<br />

e às RAM).<br />

Direção Geral de Saúde, “A Saúde dos Portugueses<br />

2016” (13 páginas dedicadas ao PPCIRA).<br />

Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências<br />

aos Antimicrobianos, Relatórios anuais “PPCI-<br />

RA em números” 2014 a 2017; “Infeções e Resistências<br />

aos Antimicrobianos - Desafios e Estratégias. 20<strong>18</strong>”.<br />

14 15


GH Resistência a antimicrobianos<br />

Figura 2<br />

A realidade do Centro <strong>Hospitalar</strong> de Entre Douro<br />

e Vouga - os últimos 5 anos<br />

O CHEDV, criado na sequência da publicação do<br />

Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 27/2009, agrupa o Hospital São<br />

Sebastião (HSS, Santa Maria da Feira), o Hospital<br />

Distrital de São João da Madeira e o Hospital São<br />

Miguel (Oliveira de Azeméis), e é responsável pela<br />

prestação de cuidados de saúde a uma população<br />

que ronda os 340.000 habitantes.<br />

Ano 2013 Ano 20<strong>18</strong><br />

Lotação 384 381<br />

Episódios SU <strong>18</strong>0.252 210.426<br />

SUMC (HSS) 147 881 142 330<br />

Internamentos pelo SU 11.404 10.992<br />

Dias de Internamento 116.305 120 391<br />

Doentes saídos 21.289 <strong>18</strong>597<br />

Serviços médicos 6.590 7.317<br />

Serviços cirúrgicos 13.512 10.474<br />

Demora média 5,5 6,5<br />

Cirurgia Convencional 8.374 5.697<br />

Cirurgia Ambulatório 8.736 11.406<br />

Cirurgia Urgente 2.603 2.351<br />

ICMix 0,89 0,99<br />

O seu GCL-PPCIRA iniciou funções em 1 de março de<br />

2014, sendo o núcleo executivo composto por um<br />

internista (coordenador, 28 horas semanais) e duas<br />

enfermeiras especialistas (70 horas semanais).<br />

São seus colaboradores regulares 3 médicos (internista,<br />

cirurgião e pediatra), uma microbiologista e<br />

uma farmacêutica.<br />

O Despacho n.<strong>º</strong> 15423/2013, define com clareza<br />

as competências dos GCL, tendo constituído o suporte<br />

para a elaboração do regulamento interno e dos<br />

planos anuais do GCL do CHEDV. A informação que<br />

será apresentada neste artigo foi obtida a partir de<br />

dados extraídos do processo clínico (Medtrix EPR<br />

Health), das soluções de gestão do Laboratório<br />

(Appolo Confidentia ® ) e dos Serviços Farmacêuticos<br />

(GHAF ® ), do Gabinete de Informação para a <strong>Gestão</strong><br />

e do Serviço de Informática.<br />

Cumprindo uma estratégia que visa a transparência<br />

de informação e o envolvimento dos principais<br />

agentes que intervêm na prestação de cuidados, os<br />

resultados são disponibilizados trimestralmente às<br />

chefias (Direções de Serviço e Enfermeiros-Chefes),<br />

à Direção Clínica e à Direção de Enfermagem.<br />

Importa agora descrever de forma mais detalhada as<br />

estratégias adotadas aos vários níveis de intervenção.<br />

• Contextualização da Antibioterapia<br />

Uma das primeiras constatações que se fizeram<br />

prendeu-se com a variabilidade de critérios clínicos<br />

quanto às decisões de prescrição de antimicrobianos<br />

de uso sistémico.<br />

A atualização do Medtrix EPR-Health de setembro<br />

de 2014 contemplou uma alteração significativa relativamente<br />

aos antimicrobianos de uso sistémico. Todas<br />

as prescrições, passaram a necessitar de contextualização<br />

e a renovação de prescrição é necessária<br />

a cada 7 dias.<br />

• Programa de Apoio à Prescrição de Antimicrobianos<br />

(PAPA)<br />

O PAPA foi implementado em junho de 2014 (modelo<br />

back-end). São monitorizadas as prescrições de<br />

carbapenemos e quinolonas (com fundamentação<br />

no processo clínico), até às 96 horas. As auditorias e<br />

reports trimestrais são disponibilizados aos prescritores<br />

e chefias - no 1<strong>º</strong> trimestre de <strong>2019</strong>, a validação<br />

na 1<strong>º</strong> hora ocorreu em 20.2% das prescrições e, até<br />

às 4 horas, em 43.5% (figura 3).<br />

• Apoio à implementação e atualização de protocolos<br />

de antibioterapia dos diversos Serviços<br />

Em 2014, foram revistos todos os protocolos de profilaxia<br />

antibiótica cirúrgica dos Serviços de Oftalmologia,<br />

ORL, Urologia, Cirurgia, Ortopedia, Ginecologia e<br />

Obstetrícia, de acordo com as orientações da NOC<br />

31/2013. Desde então, foram atualizados 27 protocolos<br />

de antibioterapia terapêutica nos Serviços de<br />

Cirurgia, Ortopedia, Ginecologia/Obstetrícia e Medi-<br />

Figura 3<br />

Figura 4<br />

doentes CHEDV (DI) Prescrições (AB) doentes com AB (DAb) Ab/DI Dab/DI Ab/DAb<br />

T1 427 245 194 0,57 0,45 1,26<br />

médias<br />

S1 398 227 178 0,57 0,45 1,27<br />

cina Interna, tendo em consideração as atualizações<br />

das recomendações das sociedades científicas e a<br />

realidade da instituição, no que respeita a isolamentos<br />

microbiológicos e padrões locais de resistência.<br />

• Monitorização semanal da prescrição de antimicrobianos<br />

Desde julho de 2015 que é elaborado um report semanal.<br />

Em <strong>2019</strong>, 45% dos doentes internados têm<br />

prescrição de antibióticos e a profilaxia antibiótica<br />

em cirurgia é responsável por ¼ destas prescrições.<br />

Estes valores são sobreponíveis aos de período homólogo<br />

de anos prévios (figura 4).<br />

• Avaliação de risco na admissão de doentes, rastreios,<br />

alertas, precauções de isolamento e fluxo<br />

de informação entre serviços e instituições<br />

Os riscos de IACS aumentam consideravelmente<br />

com o grande movimento de doentes no hospital e<br />

a insuficiência de unidades de isolamento. O CHEDV<br />

dispõe de 31 unidades de isolamento (quarto individual<br />

com casa de banho), e 13 enfermarias de 2 camas<br />

(com casa de banho partilhada).<br />

A priorização de risco é efetuada na admissão - doente<br />

com risco acrescido para microrganismos epidemiologicamente<br />

sensíveis (MoES), presença de alertas<br />

e de doenças de declaração obrigatória (Despacho<br />

5681-A/2014) - e tem em conta as recomendações<br />

que constam da NOC 029/2012 e o Procedimento<br />

Interno “Prevenção da Transmissão da Infeção - Precauções<br />

Básicas e de acordo com a Via de Transmissão<br />

e Isolamento Protetor”.<br />

Figura 5<br />

O fluxo de informação entre serviços e instituições<br />

tem sido feito de forma sistemática desde 2014, utilizando<br />

instrumentos convencionais (passagem de turno,<br />

contacto telefónico, registo no processo) e através<br />

do envio de mails para os GCL das instituições<br />

de destino.<br />

• Monitorização semanal de MoES<br />

Desde agosto de 20<strong>18</strong> que é elaborado um report<br />

semanal. Os alertas permanecem ativos por 6 meses,<br />

exceto no caso das Enterobactérias produtoras de<br />

Carbapenemases (12 meses). No último report de<br />

maio de <strong>2019</strong>, dos 430 doentes com alertas ativos,<br />

estavam internados 7 em serviços cirúrgicos, 1 no<br />

Serviço de Medicina Intensiva Polivalente e 25 em<br />

enfermarias médicas de adultos. Existe grande variabilidade<br />

semanal relativamente a alguns MoES * (em<br />

particular, MRSA, ESBL e EPC), o que dificulta a alocução<br />

dos doentes e a operacionalização de áreas de<br />

coorte/precauções de isolamento de acordo com a<br />

via de transmissão (figura 5). }<br />

*MRSA, Enterobactérias produtoras de Carbapenemases ou Betalactamases<br />

de Espectro Alargado (EPC ou ESBL), Pseudomonas aeruginosa multirresistente,<br />

Acinetobacter baumannii, Clostridium difficile , Mycobacterium tuberculosis.<br />

16 17


GH Resistência a antimicrobianos<br />

• Monitorização trimestral dos resultados microbiológicos<br />

e das RAM<br />

Desde abril 2015 que os resultados são disponibilizados<br />

trimestralmente às chefias (Direções de Serviço<br />

e Enfermeiros-Chefes) e aos prescritores, de modo<br />

a que possam ir ajustando as suas práticas. Tem sido<br />

realçada a importância de manter a tendência dos últimos<br />

trimestres para a diminuição das taxas de MRSA e<br />

de Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL (figura 6).<br />

• Monitorização trimestral das infeções<br />

A contextualização da antibioterapia permite conhecer<br />

a tipologia das infeções (da comunidade e IACS<br />

hospitalares ou não), os órgãos/sistemas envolvidos<br />

e os serviços onde são tratadas, promover ações<br />

corretivas e sedimentar bons resultados.<br />

Tal como no primeiro trimestre de 20<strong>18</strong>, as infeções<br />

respiratórias representam mais de metade de todas<br />

as infeções e as urinárias quase ¼. Em <strong>2019</strong>, registou-se<br />

um aumento de infeções urinárias associadas<br />

a cuidados de saúde (hospitalares ou não) e uma<br />

diminuição significativa das infeções do local cirúrgico<br />

no Serviço de Cirurgia (figura 7).<br />

Figura 7<br />

Figura 6<br />

Figura 8<br />

• Cartas microbiológicas<br />

Desde 2006 que o Serviço de Patologia Clínica disponibiliza<br />

anualmente uma “carta microbiológica”,<br />

mas só a partir de 2014, se fez a sua discussão sistemática<br />

nos diversos serviços. Nos últimos anos, tem-<br />

-se registado um aumento significativo dos agentes<br />

mais frequentemente responsáveis por infeções urinárias<br />

(Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae) e uma<br />

franca diminuição da resistência nas bactérias Gram+<br />

(Staphylococcus aureus/Meticilina e Enterococcus faecium/Vancomicina)<br />

e nos Gram- não fermentadores<br />

(Pseudomonas aeruginosa/multirresistência e Acinetobacter<br />

baumannii/Carbapenemos) - figura 8.<br />

• Auditorias Internas<br />

A realização de auditorias internas periódicas e a divulgação<br />

dos seus resultados, é fundamental para se<br />

encontrarem oportunidades de melhoria. Para além<br />

das abaixo referidas, têm sido feitas outras auditorias<br />

periódicas, de acordo com as Normas de Orientação<br />

Clínica - NOCs - (p.e., profilaxia antibiótica em<br />

cirurgia) e Procedimentos Internos (p.e., higiene ambiental<br />

e consumo de solução antissética de base alcoólica).<br />

Em 20<strong>18</strong> realizaram-se as seguintes:<br />

Precauções Básicas de controlo de Infeção (NOC 029/<br />

2012): adequação de 92.3% (Processo) e 87.7% (Estrutura)<br />

- em 2014, 87.2% e 81.1%, respetivamente;<br />

Adesão à Higiene das Mãos (1<strong>º</strong> momento): cumprimento<br />

de 75.6% (em 2014, 80.6%);<br />

Qualidade de Limpeza Terminal (serviços de internamento):<br />

adequação de 86% (em 2014, 32%).<br />

• Programas de Vigilância Epidemiológica e Estudos<br />

de Prevalência (PPS)<br />

O CHEDV está integrado nos programas/plataformas<br />

de VE (HELICS - Hospitals in Europe Link for Infection<br />

Control through Surveillance) desde a fundação<br />

no caso das Infeções Nosocomiais da Corrente<br />

Sanguínea (2002) e das que ocorrem em Unidades<br />

de Cuidados Intensivos de adultos (2004) e de Recém-Nascidos<br />

(2007). Em 2013, aderiu ao programa<br />

de VE de MoES (NOC 04/2013) e, em 2015, ao da<br />

Infeção do Local Cirúrgico (plataforma europeia).<br />

O CHEDV participou nos PPS do ECDC em 2012 e<br />

2017 (taxas de infeção hospitalar de 7.4% e 7.0%, respetivamente)<br />

e, em 20<strong>18</strong>, no Global Point Prevalence<br />

Survey on Antimicrobial Consumption and Resistance,<br />

projeto ambicioso que monitoriza a nível mundial<br />

as taxas de prescrição de antimicrobianos em doentes<br />

hospitalizados (http://www.global-pps.com).<br />

• Formação<br />

A formação dos profissionais é considerada uma<br />

atividade nuclear do GCL, tendo sido intensificada<br />

a partir de 2016. Para lá da apresentação dos resultados<br />

e estratégias da instituição, são divulgadas<br />

as Orientações e NOCs da DGS relacionadas com<br />

Infeção e Uso de Antimicrobianos (30), os Feixes de<br />

Intervenção de Prevenção de Infeções associadas a<br />

cirurgias e dispositivos (4) e os documentos internos,<br />

relativos a Procedimentos (20), Planos e Política (7).<br />

Profissionais abrangidos em 2016: 700 (35%); em<br />

2017: 913 (45%); e, em 20<strong>18</strong>: 622 (29%).<br />

Horas de formação em 2016: 1.466; em 2017: 1.798,5;<br />

e, em 20<strong>18</strong>: 1.395,5.<br />

• Indicadores de Qualidade<br />

Em <strong>2019</strong>, o GCL propôs ao conselho de Administração<br />

a contratualização anual de Indicadores de<br />

Qualidade na área da infeção e antibioterapia (IQ<br />

de estrutura, de processos e de resultados), em cada<br />

serviço/unidade, tendo em consideração o seu histórico,<br />

objetivos e metas nacionais.<br />

• Eventos<br />

Desde 2015 que existe uma parceria entre o CHEDV<br />

e a Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha<br />

Portuguesa de Oliveira de Azeméis para a realização<br />

de Jornadas sobre IACS. Em 2017, em colaboração<br />

com a Associação Nacional de Controlo de Infeção,<br />

organizaram o 1<strong>º</strong> Congresso Internacional no âmbito<br />

das IACS (https://iacs.pt/), que contou com 550 inscritos,<br />

30 oradores, 8 nacionalidades e 5 grupos profissionais.<br />

Em 20<strong>18</strong>, o GCL-PPCIRA voltou a participar<br />

nas Comissões Organizadora e Científica deste evento,<br />

que teve cerca de 6 centenas de participantes.<br />

• Relatórios e Planos anuais<br />

Anualmente, são elaborados relatórios para a Comissão<br />

de Qualidade e Segurança, e entregues relatórios<br />

e planos ao Conselho de Administração, tendo<br />

por base análises SWOT.<br />

Resultados Alcançados<br />

O trabalho realizado ao longo destes anos, assente<br />

numa estratégia claramente definida e institucionalmente<br />

assumida, bem como na estabilidade da equipa<br />

de trabalho que a tem implementado tem permitido<br />

que a instituição registe uma evolução positiva<br />

no combate a este problema.<br />

Em 20<strong>18</strong>, no que respeita a resultados, os pontos<br />

fortes mais significativos foram:<br />

• MoES (fig. 9): MRSA, Enterococcus faecium resistente à<br />

Vancomicina (EVR), Pseudomonas aeruginosa multirresistente<br />

e Acinetobacter baumannii resistente ao Imipenemo.<br />

• Sepsis pós-operatória: A realização de auditorias<br />

e revisão de procedimentos, em consequência dos<br />

resultados preocupantes de 2017, teve forte reper- }<br />

<strong>18</strong> 19


GH Resistência a antimicrobianos<br />

Figura 10<br />

Figura 9<br />

http://benchmarking.acss.min-saude.pt/BH_SegurancaDashboard<br />

Figura 11<br />

http://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/farmacia-hospitalar/antibióticos<br />

1 DDD (Dose Diária definida) corresponde a um dia de tratamento de uma infeção moderada, com a posologia padrão.<br />

cussão nos de 20<strong>18</strong>, no qual a instituição alcançou o 2<strong>º</strong> melhor<br />

resultado de entre as unidades hospitalares do Grupo<br />

C, de acordo com os dados oficiais da ACSS (http://benchmarking.acss.min-saude.pt/BH_SegurancaDashboard).<br />

• Consumo de antibióticos: Em 20<strong>18</strong>, relativamente a<br />

2014, o CHEDV teve mais 4.292 dias de internamento<br />

e o consumo de antibióticos diminuiu 10% (5.919<br />

DDD), o de carbapenemos 30.6% (1.914 DDD) e<br />

o de quinolonas 49.0% (2.451 DDD) - fig. 10 e 11.<br />

Considerações finais<br />

Estes esperançosos resultados são a prova de que<br />

o combate à infecção hospitalar, nas diversas formas<br />

como ela se manifesta, não só deve ser assumida<br />

como um desígnio estratégico para todas as instituições<br />

hospitalares, como é possível e, se devidamente<br />

levada a cabo, produz resultados positivos, que<br />

se traduzem em ganhos em saúde para os doentes<br />

e poupança de recursos. Trata-se, contudo, de um<br />

trabalho que exige persistência, não só porque o<br />

sucesso implica o permanente alinhamento dos profissionais,<br />

mas também porque a própria natureza<br />

das ameaças dos agentes infeciosos assume permanentemente<br />

novas formas. Ã<br />

Figura 12<br />

Fontes de Informação no CHEDV<br />

20 21


GH Cuidados de saúde primários<br />

REFUNDAR OS CUIDADOS<br />

DE SAÚDE PRIMÁRIOS:<br />

UM CAMINHO NA DIREÇÃO<br />

DA COBERTURA UNIVERSAL<br />

DE SAÚDE<br />

Miguel Lemos<br />

Diretor Executivo do ACES Arco Ribeirinho<br />

O<br />

que foi feito: Alma-Ata<br />

Quando há 40 anos, mais propriamente<br />

em 1978, na Conferência Internacional<br />

sobre Cuidados de Saúde<br />

Primários, organizada pela Organização<br />

Mundial de Saúde (OMS) e Fundo das Nações<br />

Unidas para a Infância (UNICEF), numa cidade da<br />

antiga União Soviética, se materializou o documento<br />

que ficou conhecido com a Declaração de Alma-Ata<br />

(DAA), assistiu-se ao início formal do grande movimento<br />

dos cuidados de saúde primários (CSP) em toda a<br />

comunidade que integra a OMS.<br />

Nesse momento tinha ficado inscrito internacionalmente,<br />

que a saúde era o grande objetivo social a ser<br />

conquistado em todas as sociedades, exigindo a participação<br />

e o envolvimento de todos os setores da sociedade,<br />

num esforço comum para reduzir desigualdades<br />

sociais que estavam na base dos diferentes níveis de<br />

acesso, prestação e desenvolvimento tecnológico dos<br />

cuidados de saúde.<br />

Aí se evidenciou com clareza o impacto que as determinantes<br />

sociais tinham e, que continuariam a ter, na<br />

saúde das populações e dos indivíduos. Firmaram-se<br />

declarações, onde a perspetiva holística da saúde passou<br />

a assumir-se como um grande referencial para a<br />

construção de sistemas de saúde integrados, assente<br />

em visões comunitário-cêntricas e salutogénicas, onde<br />

a educação, a prevenção e a promoção da saúde se<br />

constituiriam como alicerces fundamentais das estratégias<br />

do desenvolvimento de políticas, programas e<br />

ações orientadas para a resposta a necessidades contínuas<br />

de saúde, tratava-se, portanto, de gerir e investir<br />

em saúde e nas pessoas. A este propósito, poder-se-á<br />

mesmo referir que a saúde pública (SP), enquanto área<br />

de especialidade da medicina, dedicada à “arte de prevenir<br />

a doença, prolongar a vida e promover a saúde<br />

por meio de esforços organizados da sociedade”, tal<br />

com definido por Sir Donald Acheson, em 1988, foi<br />

parte indissociável e central deste movimento fundacional<br />

dos CSP.<br />

Curiosamente, e no que diz respeito a Portugal, em<br />

1977, o Prof. Arnaldo Sampaio, ilustre médico de saúde<br />

pública que, à data, integrava o Comité Executivo da<br />

OMS teve a oportunidade de participar na organização<br />

preparatória da Conferência de Alma-Ata, que viria a<br />

realizar-se no ano seguinte, dando, deste modo, o seu<br />

contributo para aquele que viria a ser o momento de<br />

viragem nos CSP.<br />

O reforço da continuidade: A Carta de Ottawa<br />

Posteriormente, as sociedades foram assistindo ao desenvolvimento<br />

dos CSP, onde a matriz conceptual forjada<br />

na DAA, era mantida e reforçada, tal como veio a<br />

acontecer na 1ª Conferência Internacional sobre Promoção<br />

de Saúde, realizada na cidade de Ottawa, no<br />

Canadá, em 1986.<br />

Os 11 anos que mediaram a DAA e aquela que vi-<br />

ria a ser conhecida como a Carta de Ottawa para a<br />

Promoção da Saúde, ou simplesmente como a Carta<br />

e Ottawa (CO), foram determinantes no processo de<br />

consolidação do movimento dos CSP e da própria SP,<br />

que viu o conceito de promoção de saúde assumir-<br />

-se como o principal motor do seu desenvolvimento<br />

a nível mundial.<br />

Este momento foi crucial para disseminar e incorporar<br />

na sociedade o conceito de promoção de saúde,<br />

enquanto processo de capacitação que os indivíduos<br />

e as comunidades têm de possuir para controlarem<br />

de forma positiva a sua própria saúde. É um conceito<br />

que remete para a tomada de consciência social de<br />

que a saúde não é propriedade nem responsabilidade<br />

única das politicas de saúde e prestadores de cuidados,<br />

mas sim de cada um de nós em particular e da<br />

sociedade em geral.<br />

A CO veio introduzir uma conceção positiva da saúde,<br />

enquanto um recurso indispensável para a vida, que<br />

depende de outros recursos fundamentais, tais como<br />

a paz, a segurança, educação, habitação, alimentação,<br />

economia, ambiente, justiça e equidade, remetendo,<br />

deste modo, para o compromisso de que a sociedade<br />

tem de estabelecer, de forma a garantir a existência<br />

destas condições de recursos, indispensáveis para a saúde<br />

dos indivíduos.<br />

Este compromisso para a promoção da saúde veio reforçar<br />

o movimento em torno da SP e dos CSP, ao<br />

mesmo tempo que definiu as orientações para atingir<br />

a Saúde para Todos no ano 2000.<br />

Onde estamos 40 anos depois:<br />

A Declaração de Astana<br />

Passadas quatro décadas da DAA, apesar do desenvolvimento<br />

dos CSP, o desígnio da Saúde para Todos no<br />

ano 2000, está longe de estar cumprido. Se, por um<br />

lado, no inicio se assistiu a um movimento que estava<br />

fundado numa visão salutogénica e promotora de<br />

saúde, por outro, o desenvolvimento nestes últimos<br />

40 anos, foi preenchido com visões mais patogénicas<br />

e promotoras de doença que se foram instalando paulatinamente<br />

na consciência dos decisores e que foram<br />

influenciando políticas, programas e ações, que passaram<br />

a estar focalizadas na organização de sistemas prestadores<br />

de cuidados à doença, ao invés de cuidados<br />

à saúde, de saúde e para a saúde!<br />

Esta tendência de sobreposição do conceito de doença<br />

sobre a saúde, tem sido um fator de desaceleração<br />

na aplicação dos princípios fundacionais dos CSP e da<br />

SP, aos sistemas de saúde em geral. Tem sido também<br />

responsável pelo excesso de hospitalocêntrismo, que<br />

muito tem influenciado a politica, o financiamento e a<br />

“<br />

ESTE COMPROMISSO<br />

PARA A PROMOÇÃO<br />

DA SAÚDE VEIO REFORÇAR<br />

O MOVIMENTO EM TORNO<br />

DA SP E DOS CSP.<br />

”<br />

prestação de cuidados, centrando a perceção das populações<br />

no “admirável mundo novo” das tecnologias<br />

de diagnóstico e tratamento da doença, em detrimento<br />

da prevenção da doença e promoção da saúde.<br />

Este facto tem condicionado fortemente as atitudes<br />

sobre a saúde e a doença dos indivíduos, levando-os a<br />

práticas de consumo de cuidados mais secundários do<br />

que primários.<br />

A evidência de que os CSP precisavam de ser energizados<br />

e projetados para o futuro, foi consubstanciado<br />

na Declaração de Astana (DA) que emergiu da Conferência<br />

Global sobre CSP realizada na cidade de Astana,<br />

no Cazaquistão, em 25 e 26 de outubro de 20<strong>18</strong>, promovida<br />

mais uma vez pela OMS e UNICEF. Esta reunião<br />

internacional teve como principal objetivo analisar<br />

o percurso civilizacional dos CSP nos últimos 40 anos,<br />

identificando o que é necessário pôr em movimento,<br />

para que os mesmos se assumam como uma verdadeira<br />

força de desenvolvimento e transformação social, de<br />

forma a alcançar a cobertura universal de saúde.<br />

Nesta Conferência, foi divulgado pela revista Lancet o<br />

relatório “Alma-Ata 40 years: reflections from the Lancet<br />

Commission on Investing in Health”, que retrata o<br />

percurso dos CSP desde a DAA até aos nossos dias,<br />

identificando as razões, analisando factos epidemiológicos<br />

e sociais que atravessaram os CSP durante os<br />

últimos 40 anos.<br />

Este documento, veio evidenciar que o caminho para se<br />

atingir uma Cobertura Universal de Saúde, deve obrigatoriamente<br />

passar pela refundação/reforço/revitalização<br />

dos CSP a nível mundial. Esta ideia é suportada pela<br />

referência ao facto de que 80 a 90% das necessidades<br />

de saúde ao longo do ciclo de vida, podem ser satisfeitas<br />

pelos CSP, desde os cuidados de saúde mater- }<br />

22 23


GH Cuidados de saúde primários<br />

“<br />

ASSUMINDO COMO UM GRANDE<br />

REFERENCIAL A DECLARAÇÃO<br />

DE ASTANA, NÃO SERÃO PRECISOS<br />

OUTROS 40 ANOS PARA PODERMOS<br />

PERCEBER QUE O CAMINHO<br />

A FAZER, PASSA POR OLHAR PARA<br />

A SOCIEDADE SOB UMA PERSPETIVA<br />

MAIS SALUTOGÉNIA E POSITIVA.<br />

”<br />

noinfantis, prevenção de doenças através da vacinação,<br />

passando pela gestão da doença crónica e terminando<br />

nos cuidados paliativos.<br />

No entanto, e dado não terem sido cumpridos na<br />

integra os princípios da DAA, assiste-se atualmente a<br />

assimetrias sociais no acesso e na oferta de cuidados<br />

de saúde, que variam de forma abissal entre países de<br />

baixo e médio rendimento, que continuam a lutar contra<br />

doenças infecciosas e transmissíveis e os países de<br />

alto rendimento, onde a transição epidemiológica para<br />

as doenças crónicas é já há muito uma realidade. Esta<br />

discrepância existente ao nível da riqueza e pobreza<br />

entre países, tem naturalmente um impacto direto nos<br />

modelos de organização e funcionamento dos sistemas<br />

de saúde e desenvolvimento social das populações.<br />

Neste contexto, a DA constitui um ponto de viragem<br />

nas abordagens e compromissos que as nações têm de<br />

assumir, de forma a poderem alcançar uma Cobertura<br />

Universal de Saúde, que inevitavelmente passam pela<br />

existência de um verdadeiro sistema de saúde assente<br />

nos CSP, sem os quais as sociedades terão grande dificuldade<br />

em concretizar as metas anteriormente preconizadas<br />

na Saúde para Todos, em 2000, e os que<br />

constam dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável<br />

(ODS), definidos pela Organização das Nações<br />

Unidas (ONU) a atingir até 2030.<br />

A DA reúne, por isso, um conjunto de orientações e<br />

compromissos assentes em princípios universais de que<br />

todo o ser humano tem direito à cobertura universal<br />

de cuidados; de que o reforço dos CSP é a forma mais<br />

inclusiva, efetiva e eficiente de garantir um bom estado<br />

de saúde mental, físico e social, de forma a poderem ser<br />

alcançados os ODS; que apesar de todos os esforços<br />

ainda há necessidades de saúde por satisfazer e que,<br />

devido às iniquidades em saúde, às desigualdades sociais<br />

e à pobreza, continuam a morrer prematuramente pessoas<br />

e que a única forma de contrariar esta tendência<br />

é de colocar a saúde na agenda de todas os setores<br />

da sociedade e de reforçar os CSP, priorizando a sua<br />

intervenção nos sistemas de saúde.<br />

Trata-se, por isso, de recentralizar os CSP, posicionando-os<br />

na primeira linha de atuação e intervenção em<br />

saúde pública, tornando-os sustentáveis e dotados de<br />

estrutura, condições e recursos que viabilizem uma<br />

ação integrativa, de capacitação das comunidades e<br />

seus indivíduos nas áreas da saúde e literacia e que esteja<br />

devidamente alinhada com as politicas, estratégias<br />

e planos de saúde de cada sociedade.<br />

De forma sucinta, a DA identifica que o sucesso dos<br />

CSP passa pela:<br />

• Capacidade de gerar conhecimento, produzir investigação<br />

e ciência;<br />

• Existência de recursos humanos formados, capacitados,<br />

motivados, e devidamente reconhecidos e<br />

remunerados;<br />

• Utilização de tecnologia ao nível do tratamento, dispositivos<br />

de apoio e monitorização da saúde das populações,<br />

de informação, de educação, promotoras de<br />

acesso aos cuidados de saúde que sejam seguras, fiáveis,<br />

de qualidade e efetivas;<br />

• Garantia de um financiamento adequado aos contextos<br />

sociais da intervenção e proporcional ao retorno<br />

dos ganhos em saúde, que assegure a melhor alocação<br />

dos recursos em contextos onde a redução das ineficiências<br />

e iniquidades são evidentes.<br />

O que falta fazer: em direção ao futuro<br />

Assumindo como um grande referencial a Declaração<br />

de Astana, julgo que não serão precisos outros 40 anos<br />

para podermos perceber que o caminho a fazer, passa<br />

por olhar para a sociedade sob uma perspetiva mais<br />

salutogénia e positiva, centrando a atenção nas pessoas<br />

e suas necessidades e decidindo em função disto mesmo.<br />

É assumido que as dificuldades são muitas e difíceis,<br />

mas nunca devem constituir um obstáculo ou justificação<br />

para a inação, mas sim uma via para o desenvolvimento<br />

criativo de soluções que, mesmo não sendo<br />

realizadas no momento, possam fazer parte de<br />

uma mobilização de ações/vontades que no futuro<br />

possam ser concretizadas.<br />

A par da Declaração de Astana, a OMS, em <strong>2019</strong>, continua<br />

a reforçar a ideia da Cobertura Universal de Saúde<br />

iniciada no ano anterior, mas com um enfoque especial<br />

nos Cuidados de Saúde Primários, devendo, por isso,<br />

ser o mote para devolver à sociedade e aos decisores<br />

políticos a importância crucial de possuirmos cuidados<br />

de saúde primários acessíveis, equitativos e de qualidade.<br />

Neste sentido, e crendo que o caminho a seguir é este,<br />

devemos então refletir sobre o que queremos para o<br />

nosso sistema de saúde, partindo da proposta de análise<br />

de três pressupostos que condicionam e determinam<br />

a existência de uma verdadeira Cobertura Universal<br />

de Saúde:<br />

• As determinantes sociais da saúde:<br />

Em relação a este pressuposto, a atenção que deve ser<br />

dedicada pela sociedade em perceber que os fatores<br />

biológicos, estilos de vida, as condições socioeconómicas,<br />

culturais e ambientais dos indivíduos são determinantes<br />

para saúde e bem-estar das populações. Atuar<br />

sobre estas determinantes implica o envolvimento corajoso<br />

e persistente de todos os setores da sociedade<br />

e uma mudança na forma de integrar a saúde como<br />

elemento central em todas as políticas de uma nação.<br />

• A organização do modelo de prestação de cuidados<br />

de saúde primários:<br />

Neste item, e tendo como objetivo o reforço dos CSP,<br />

a proposta passa pelo reforço continuo das politicas de<br />

saúde de proximidade e literacia em curso, que devem<br />

ser acompanhadas de uma profunda alteração das estruturas/condições<br />

físicas, onde os cuidados de saúde<br />

primários são prestados.<br />

Em simultâneo, devemos assistir ao reforço e valorização<br />

dos recursos humanos através da implementação<br />

de ações concretas de desenvolvimento organizacional,<br />

que não se deve consubstanciar unicamente na perspetiva<br />

imediata e motivacional de se constituir uma<br />

Unidade de Saúde Familiar (USF), mas também pela<br />

capacidade de oferecer percursos profissionais aliciantes,<br />

formação adequada que resulte de diagnósticos<br />

internos e de necessidades identificadas pelos profissionais<br />

e utentes, incentivos ao desenvolvimento de estudos<br />

e investigação, à criação e utilização de tecnologia<br />

adaptada aos CSP (p.e. dispositivos de monitorização<br />

à distância de parâmetros vitais), ferramentas de gestão<br />

de informação de apoio à decisão disponíveis ontime<br />

e a implementação de modelos de avaliação e reconhecimento<br />

profissional baseados em desempenhos<br />

de qualidade.<br />

Também a reflexão sobre o modelo de gestão que se<br />

pretende para os CSP, deve fazer parte deste percurso<br />

de mudança. A perspetiva de um modelo de gestão<br />

que aponta para uma autonomia administrativa e financeira,<br />

permite antever maior flexibilidade na operação<br />

e gestão de processos que, no terreno dos CSP, obrigam<br />

muitas vezes a uma resposta célere. Esta possibilidade<br />

de alteração estatutária e de personalidade jurídica<br />

dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES),<br />

pode ser concretizada à imagem do que já acontece<br />

com o modelo de organização dos hospitais EPE.<br />

• A opção equilibrada do financiamento:<br />

Por último, não queria deixar de afirmar que a mudança<br />

nos CSP, resultará também, e sobretudo, do seu<br />

próprio modelo de financiamento. Não é despiciente<br />

reconhecer que, se queremos CSP mais robustos que<br />

sejam a base para a existência de uma Cobertura Universal<br />

de Saúde, então não podemos ter um sistema<br />

de saúde que investe somente cerca de 1% do total do<br />

seu orçamento para às áreas da prevenção da doença<br />

e promoção da saúde.<br />

Aqui, a opção passa essencialmente por escolher se<br />

queremos manter um sistema que tradicionalmente<br />

teima em financiar a doença (talvez de forma desproporcionada),<br />

o seu diagnóstico e tratamento ou, se por<br />

outro lado, queremos um sistema mais equilibrado que,<br />

não esquecendo a doença, financie de forma mais ativa<br />

e robusta a saúde, a prevenção, a promoção a literacia<br />

e a saúde pública em geral.<br />

É assumido que as dificuldades são muitas e difíceis,<br />

mas nunca devem constituir um obstáculo ou justificação<br />

para a inação, mas sim uma via para o desenvolvimento<br />

criativo de soluções que, mesmo que não<br />

sejam atingíveis de imediato, possam fazer parte da<br />

mobilização de ações e vontades que no futuro possam<br />

vir a ser concretizadas.<br />

Não é fácil reduzir desigualdades sociais, harmonizar<br />

sociedades capacitando os indivíduos de forma a permitir-lhes<br />

a possibilidade de escolhas livres e opções de<br />

vida saudáveis. Sabemos que muitas são as determinantes<br />

sociais de saúde que condicionam este desígnio,<br />

no entanto devemos analisar em conjunto o caminho<br />

trilhado, avaliar os impactos das politicas e intervenções<br />

no sistema de saúde e tentar perceber se estamos no<br />

caminho que desejamos que seja o melhor de todos! Ã<br />

WHO “Report of the International Conference on Primary Health Care,<br />

Alma-Ata - URSS, 6-12 September 1978”.<br />

WHO “Otawwa Chart For Health Promotion - First International Conference<br />

on Health Promotion, Ottawa, Canada, 17-21 November 1986”.<br />

Durham University and WHO Europe “Strengthening Public Health Capacity<br />

and Services in Europe - A Concept Paper - 2011”.<br />

WHO “Declaration of ASTANA - Global Conference on Primary Health<br />

Care, Astana-Kazakhstan, 25-26 October 20<strong>18</strong>”.<br />

Watkins, A David et al - The Lancet Commission - Alma-Ata at 40 years: reflections<br />

from the Lancet Commission on Investing in Health, Lancet 20<strong>18</strong>,<br />

Vol 392: 1434-1457.<br />

24 25


GH entrevista<br />

ADELAIDE BELO<br />

COORDENADORA DA EQUIPA DE PROJETO "GESTÃO DE CASO" DA UNIDADE<br />

LOCAL DE SAÚDE LITORAL ALENTEJANO E PRESIDENTE DA PAFIC "PORTUGUESE<br />

ASSOCIATION FOR INTEGRATED CARE "<br />

CUIDADOS INTEGRADOS<br />

CENTRADOS NAS PESSOAS<br />

Adelaide Belo é médica e tem uma vasta experiência na gestão de unidades hospitalares.<br />

Considerando que falta concretizar em Portugal um Plano Nacional de Integração<br />

de Cuidados, a responsável destaca que têm sido tomadas algumas medidas e que a APAH<br />

tem tido um papel muito importante na disseminação do conceito de Integração<br />

de Cuidados, enquadrando-o nos seus eventos e publicações.<br />

A<br />

expressão “integração de cuidados”<br />

tem sido sobejamente utilizada<br />

por vários setores atuantes<br />

na saúde, desde a academia, a gestão,<br />

o poder político, os reguladores<br />

e os próprios profissionais de saúde em todo<br />

o seu espectro de atuação. Afinal de que falamos<br />

quando referimos “integração de cuidados”? É gestão<br />

de doença, é transposição e comunicação entre<br />

níveis de cuidados, ou é efetivamente colocar<br />

o doente no centro do sistema?<br />

De facto, são multiplas as definições de “Integração<br />

de Cuidados”, dependendo de quem analisa, nomeadamente<br />

aqueles que referiram. No entanto, todas<br />

essas definições têm um denominador comum que<br />

é o de ultrapassar a atual fragmentação da prestação<br />

de cuidados, com uma nova abordagem que permita<br />

uma coordenação entre o continuum de cuidados ao<br />

longo da vida - da promoção da saude à prevenção da<br />

doença, passando pelo diagnóstico, tratamento, gestão<br />

da doença, reabilitação, cuidados continuados e cuidados<br />

paliativos. De início os conceitos estavam muito<br />

focados no doente e nos serviços de saúde e sociais.<br />

Mas tem havido uma evolução ao longo dos tempos,<br />

numa perspetiva cada vez mais abrangente e integradora.<br />

O documento da “WHO - global strategy on integrated<br />

people-centered health services - 2016/2026”<br />

vem reforçar a integração entre a prestação de cuidados<br />

informais (doente e cuidadores) e a prestação<br />

de cuidados formais (profissionais de saúde), alavancando<br />

o papel da família e da comunidade em geral,<br />

como cruciais na elaboração de políticas e serviços<br />

de saúde. Assim a definição da WHO de “cuidados<br />

integrados centrados nas pessoas” caracteriza-se por<br />

uma abordagem à reorganização da prestação de cuidados<br />

que incorpore as perspetivas do individuo, dos<br />

cuidadores informais, da família e da comunidade que<br />

os envolve, enquanto participantes e beneficiários de<br />

sistemas de saúde confiáveis, que são organizados<br />

de acordo com as verdadeiras necessidades das pessoas<br />

(e não para a doença em particular) e respeitam<br />

as suas preferências.<br />

Em 2016 a Organização Mundial da Saúde preconizou<br />

o European Framework for Action on Integrated<br />

Health Services Delivery (EFFA IHSD). No seu entender,<br />

como se posiciona Portugal no seio europeu<br />

face a estas orientações?<br />

Daquilo que temos conhecimento, a OMS pretende<br />

replicar por todo o espaço europeu as experiências }<br />

26<br />

27


GH entrevista<br />

de Integração de Cuidados que são casos de sucesso<br />

nalguns países. Nesta iniciativa, Portugal integrou o<br />

projeto dos “Internamentos Evitáveis”.<br />

Este trabalho decorreu com a coordenação da Escola<br />

Nacional de Saúde Pública e com a colaboração de<br />

um grupo de trabalho multidisciplinar de profissionais<br />

da área hospitalar e dos CSP , do qual resultou a elaboração<br />

de um conjunto de Recomendações para<br />

as “Ambulatory Care Sensitive Conditions”, posteriormente<br />

publicados para a área da Integração de<br />

Cuidados de Saúde.<br />

A este proposito, deixe-me salientar o alinhamento<br />

entre as iniciativas que entretanto foram implementadas<br />

e estão a decorrer no terreno, nomeadamente<br />

de “case management” e as orientações publicadas<br />

nesse documento e subscritas sob a égide da OMS.<br />

Nos EUA, prestadores como a Kaizer Permanente,<br />

a Veterans Health Administration e a Bend Memorial<br />

Clinic foram pioneiros na criação de programas de<br />

integração de cuidados. Considera algum exemplo<br />

internacional de integração de cuidados como um<br />

modelo? Consegue vê-lo a ser adotado em Portugal?<br />

A Kaiser Permanente é uma referência “permanente”<br />

para quem trabalhar em Integração de Cuidados.<br />

Pessoalmente, tenho uma grande admiração pela<br />

transformação conseguida pela Veterans Health Administration.<br />

Alguns de nós se recordarão que este<br />

sistema de saúde (idêntico ao nosso ADM) esteve em<br />

rutura financeira e para ser privatizado. Foi durante<br />

a administração Obama que sofreu uma mudança de<br />

estratégia na prestação de cuidados que permitiu que<br />

hoje seja um caso de sucesso, assumindo-se como<br />

“the largest integrated health care system in the United<br />

States”. A grande mudança assentou em: integração<br />

de cuidados (com cuidados de proximidade),<br />

“case management”, telesaúde (incluindo a telemonitorização)<br />

e sistemas de informação robustos.<br />

Certamente que o nosso sistema de Assistência na<br />

Doença aos Militares já estudou este caso de sucesso.<br />

Mas como modelo para nós basta olhar para o lado.<br />

Qualquer região de Espanha tem o seu Programa de<br />

Integração de Cuidados. Os mais conhecidos e citados<br />

internacionalmente são os da Catalunha e País<br />

Basco, mas Valência integrou um projeto europeu do<br />

ICARE4U, a Galiza teve novos desenvolvimentos, etc.<br />

Qualquer destes programas são adaptáveis para a nossa<br />

realidade, visto que a organização de base do sistema<br />

de saúde espanhol é muito idêntica à nossa.<br />

Que vantagens imediatas considera que esse modelo<br />

de integração de cuidados traria efetivamente<br />

para o doente e para o SNS? E quais são as principais<br />

barreiras para uma adoção desse modelo?<br />

O SNS (e todos os sistemas de saúde) tem enfrentado<br />

um aumento da procura, relacionado com a evolução<br />

da medicina, as expetativas dos utentes e o envelhecimento<br />

da população, com consequente aumento<br />

progressivo dos custos, pondo em causa a sua<br />

sustentabilidade. Os modelos de integração de cuidados<br />

centrados nas pessoas, devem ser entendidos como<br />

um meio e não um fim em si, para a gestão destes<br />

problemas. A literatura internacional, nomeadamente<br />

a WHO classifica os benefícios dos modelos<br />

de cuidados integrados em 3 grandes grupos:<br />

• Melhoria dos resultados em saúde: a coordenação<br />

holística da prestação de cuidados já provou ser mais<br />

efetiva, por exemplo na gestão das doenças crónicas,<br />

porque melhora a qualidade de vida dos doentes e famílias,<br />

assegura a melhoria no acesso aos cuidados,<br />

reduz hospitalizações e reinternamentos desnecessários<br />

e melhora a aderência aos tratamentos.<br />

• Melhoria na equidade: na medida em que promove<br />

o uso dos vários tipos de serviços, baseados nas verdadeiras<br />

necessidades dos utentes ao longo do seu<br />

percurso de vida. Desta forma contribuem para uma<br />

melhor distribuição dos resultados em saúde, com impactos<br />

a nível individual, mas também sociais e económicos<br />

em geral.<br />

• Custo-efetividade que resulta de uma melhor coordenação<br />

dos recursos. Esta coordenação leva à redução<br />

da duplicação de procedimentos e da sobre<br />

utilização dos serviços à diminuição dos tempos de<br />

espera e do desconforto dos doentes e famílias.<br />

Quanto às barreiras para a integração de cuidados<br />

centrados nas pessoas, sugiro a leitura de um artigo, de<br />

20<strong>18</strong>, publicado no IJIC 1 , que faz uma revisão da literatura<br />

e identifica vinte barreiras, arrumadas em seis<br />

grupos: 1) as barreiras administrativas e de regulação<br />

e neste contexto, o que acontece frequentemente<br />

é regulação a mais, que impede a existência da flexibilidade<br />

necessária para se implementarem soluções locais;<br />

2) as barreiras relacionadas com o financiamento -<br />

e todos sabemos que, por vezes, o financiamento dos<br />

CSP, dos cuidados hospitalares e da Segurança Social<br />

nem sempre estão alinhados. A criação das ULS<br />

tentou ultrapassar este problema, com o financiamento<br />

per capita, mas não deu o devido ênfase a outros<br />

pontos críticos de sucesso como toda a reorganização<br />

do trabalho e governação clínica. Mais recentemente<br />

o Departamento de Contratualização da<br />

ACSS lançou linhas de financiamento específicas - Os<br />

Programas de Incentivos à Integração de Cuidados<br />

(PIIC) - e integrou nos Contrato Programa indicadores<br />

de incentivo a essa prática, essencialmente na área<br />

das doenças crónicas, nomeadamente nos internamentos<br />

evitáveis e Utilizadores Frequentes do SU.<br />

Vamos acreditar que podem contribuir para derrubar<br />

barreiras para a reorganização dos serviços.<br />

Continuando a enumerar as barreiras para a integração<br />

de cuidados, destacamos ainda: 3) as resultantes<br />

da falta de coordenação quer intra, quer 4) inter<br />

instituições, diretamente relacionadas com a cultura<br />

organizacional tradicionalmente organizada em silos<br />

e 5) as barreiras relacionadas com o modo como<br />

prestamos os serviços e 6) a nossa prática clínica que<br />

continuam ambos muito virados para uma resposta<br />

reativa e episódica, focada na doença e sem incentivos<br />

ao trabalho em equipa e à partilha de informação.<br />

Não podemos esquecer ainda 7) a barreira dos Sistemas<br />

de Informação. Estes refletem a forma atual de organização<br />

dos serviços e portanto não facilitam a partilha<br />

de informação e sem isso fica muito difícil a integração<br />

de cuidados. Das experiências já publicadas<br />

noutros países é fator critico de sucesso a existência<br />

do Processo Clínico Eletrónico (único) do doente.<br />

“<br />

O SNS TEM ENFRENTADO<br />

UM AUMENTO DA PROCURA,<br />

RELACIONADO COM<br />

A EVOLUÇÃO DA MEDICINA,<br />

AS EXPETATIVAS DOS UTENTES<br />

E O ENVELHECIMENTO<br />

DA POPULAÇÃO.<br />

E a nível nacional, que bons exemplos considera que<br />

respondem a este desafio de prestação de cuidados?<br />

No I Encontro Nacional de Integração de Cuidados<br />

que realizámos em maio, recebemos <strong>18</strong> posters sobre<br />

projetos em curso de norte a sul do país, na área<br />

da integração de cuidados. Isto revela que, no terreno,<br />

se sente a necessidade de promover a inte-<br />

”<br />

gração de cuidados. A ACSS também promoveu a<br />

implementação de projetos nesta área, estando alguns<br />

a funcionar. Mas para ser mais concreta destaco<br />

a Unidade Local de Saúde de Matosinhos, a Unidade<br />

Local de Saúde do Litoral Alentejano e o Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Lisboa Ocidental, em conjunto com<br />

o ACES Lisboa Ocidental e Oeiras que, embora com<br />

respostas diferentes de <strong>Gestão</strong> de Caso (case management),<br />

têm no terreno programas de apoio ao<br />

doente crónico complexo.<br />

A <strong>Gestão</strong> de Caso consiste num processo colaborativo<br />

de trabalho que permite a integração entre vários<br />

níveis da prestação cuidados em torno das necessidades<br />

do doente crónico, com multiborbilidades. É focado<br />

no indivíduo e na família, baseado na comunidade<br />

e pro-ativo. As componentes base destes programas<br />

são: identificação proativa do caso, avaliação clínica, familiar,<br />

social e cultural do doente, a avaliação do cuidador,<br />

a elaboração de um Plano Individual de Cuidados<br />

partilhado e negociado. Aposta muito na capacitação<br />

do doente e cuidador e no ensino dos sinais de alerta<br />

de modo a reduzir as descompensações próprias do<br />

percurso das doenças crónicas. Outro ponto fulcral é<br />

a coordenação entre os vários níveis de cuidados que<br />

é feita por um elemento, o gestor de caso (case manager),<br />

que nos projetos referidos é um enfermeiro<br />

ou do hospital ou dos CSP e que é o pivot entre o<br />

doente/cuidador e os serviços que necessita: de saúde<br />

ou sociais, etc. ajudando-o a navegar no sistema.<br />

Os resultados já publicados destes três programas, que }<br />

28 29


GH entrevista<br />

comparam o percurso dos doentes envolvidos um ano<br />

antes e um ano depois da entrada no programa, são<br />

muito semelhantes entre si e alinhados com a literatura<br />

internacional. Apontam para uma redução da ordem<br />

dos 50/60% de idas ao Serviço de Urgência, de uma<br />

redução de cerca de 50% dos internamentos hospitalares,<br />

de uma redução da demora média dos que têm<br />

de ser internados, bem como de uma melhor adesão<br />

à terapêutica e de satisfação expressa do doente e família.<br />

A Unidade Local de Saude do Alto Minho tem<br />

um programa de integração de cuidados na área dos<br />

doentes com demências, que vale a pena seguir para<br />

ver os resultados. Isto vem confirmar que, mantendo<br />

os princípios base, e independentemente do modelo<br />

de integração de cuidados que se adote, as soluções<br />

têm de ser sempre encontradas localmente, tendo<br />

em conta o público-alvo, os recursos e as lideranças<br />

disponíveis e as parcerias que se conseguem fazer na<br />

comunidade. Todas têm em comum uma mudança de<br />

paradigma da resposta habitual dos serviços.<br />

Considera que há uma área de integração de cuidados<br />

que seja de urgente aplicação em Portugal?<br />

Consideramos que a área prioritaria é a do Doente<br />

Crónico Complexo, tendo em conta as alterações<br />

demográficas existentes, cuja tendência é de agravamento,<br />

e o peso que esse segmento da população<br />

tem na (in)capacidade de resposta dos serviços,<br />

desde a Saúde Pública, Cuidados de Saúde Primários,<br />

Cuidados <strong>Hospitalar</strong>es, Cuidados Continuados<br />

e Cuidados Paliativos e naturalmente os custos que<br />

acarretam para o SNS. Além disso, é uma área em<br />

que a integração de cuidados já deu provas de que é<br />

uma mais-valia, quer para os doentes e famílias, quer<br />

para as instituições. Não podemos deixar de lamentar<br />

a inexistência de ferramentas de Estratificação do<br />

Risco populacional implementadas em Portugal. Só<br />

será possível elaborar políticas quando se souber a<br />

dimensão do problema. Mais uma vez, todas as regiões<br />

espanholas que são referência internacional,<br />

têm a sua população estratificada e é a partir desse<br />

conhecimento que são elaborados os Planos de<br />

Integração de Cuidados. Os projetos existentes em<br />

Portugal tentaram ultrapassar esse problema, utilizando<br />

um indicador: os utilizadores frequentes do SU<br />

e nestes focaram-se nos doentes crónicos complexos.<br />

Estes projetos deviam ter o apoio da Tutela para<br />

escalarem, como aliás é a recomendação da Comissão<br />

Europeia no documento Call for Action “United<br />

towards Integrated Care”: ponto 3) “recognise the<br />

meaningful impact of regional and local integrated<br />

care iniciatives” e ponto 5) “invest in scaling-up successful<br />

integrated care projects and methodologies<br />

and support experience sharing on that matter”.<br />

É atualmente Presidente da PAFIC (Portuguese Association<br />

For Integrated Care), que organizou este ano<br />

o I Encontro Nacional de Integração de Cuidados.<br />

Pode partilhar com os leitores da RGH a missão<br />

e os objetivos desta entidade?<br />

A Portuguese Association for Integrated Care é uma<br />

associação nacional sem fins lucrativos, constituída<br />

por um conjunto multidisciplinar de investigadores,<br />

administradores hospitalares, médicos, enfermeiros,<br />

assistentes sociais, farmacêuticos e outros profissionais,<br />

unidos pela convicção que a Integração de Cuidados<br />

de Saúde é uma condição fundamental para<br />

a melhoria da qualidade dos cuidados prestados, bem<br />

como para a sustentabilidade do Sistema de Saúde.<br />

Tem por missão contribuir para a promoção, divulgação,<br />

implementação e desenvolvimento da Integração<br />

de Cuidados em Portugal. Pretende posicionar-<br />

-se como uma referência para as instituições de saúde,<br />

valorizando o conhecimento e experiência dos seus<br />

associados, sendo um elo de ligação com parceiros<br />

nacionais e internacionais. Foi criada em 2014, mas a<br />

atual direção só assumiu funções em Novembro de<br />

20<strong>18</strong>, constituida por mim, pela Vera Almeida e Cátia<br />

Gaspar. Vamos ter que substituir a Vera Almeida, por<br />

entretanto ter assumido um cargo de dirigente na função<br />

pública. Desafiámos o Carlos Russo, asssistente de<br />

MGF do ACES Lisboa Ocidental-Oeiras que aceitou,<br />

e temos a certeza que vai acrescentar valor à equipa.<br />

Considera que existe neste momento vontade política<br />

para a promoção e implementação de um “Programa<br />

Nacional de Integração de Cuidados”?<br />

Consideramos que as várias tutelas, ao longo do<br />

tempo têm intervido na área da integração de cuidados.<br />

Vejamos alguns exemplos: a criação das ULS, da<br />

RNCCI, a afetação de Fundos Comunitários a Programas<br />

de Integração de Cuidados, a inclusão nos Contrato<br />

Programa de linhas de financiamento e de indicadores<br />

de incentivo à integração de cuidados, o Sistema<br />

Integrado de <strong>Gestão</strong> do Acesso (SIGA), o SNS+<br />

Proximidade, a Hospitalização Domiciliária, etc. Portanto,<br />

não podemos dizer que as várias tutelas não<br />

pensaram na integração de cuidados. O que pessoalmente<br />

acho (e esta é mesmo uma opinião pessoal),<br />

é que se fizeram várias medidas pouco enquadradas.<br />

São como peças de um puzzle, mas falta a esquadria<br />

para as peças encaixarem, falta mesmo um Plano Nacional<br />

de Integração de Cuidados.<br />

A Direção da PAFIC teve contactos com os dois Secretários<br />

de Estado. O Secretáriode Estado Adjunto<br />

e da Saúde deu-nos a honra de encerrar o nosso I Encontro<br />

Nacional, e a Secretária de Estado teve a gentileza<br />

de nos receber. A perceção com que ficámos<br />

é que ambos estão cientes da importância da Integração<br />

de Cuidados como resposta aos desafios que<br />

o país enfrenta. Concomitantemente também temos<br />

a perceção que no terreno, quer as instituições quer<br />

as sociedades científicas, estão a ficar cada vez mais<br />

recetivas a uma mudança na organização da prestação<br />

de cuidados, pois convidam-nos para reuniões<br />

e procuram os profissionais que têm projetos a decorrer.<br />

Portanto, consideramos que há condições<br />

para que a Tutela avançe para um Plano Nacional de<br />

Integração de Cuidados.<br />

Como pode a PAFIC ajudar na definição desta<br />

agenda política? No seu entender, estamos a falar<br />

apenas do envolvimento do Ministério da Saúde, ou<br />

considera fundamental o envolvimento de outros<br />

atores e domínios políticos?<br />

A PAFIC pretende ser um espaço agregador de vários<br />

atores e domínios e fez questão que isso ficasse<br />

bem expresso no I Encontro Nacional que se realizou<br />

no passado mês de maio na Figueira da Foz. Tivemos<br />

o Alto Patrocínio da Presidência da República, contámos<br />

com a presença de Deputados de três partidos<br />

politicos (PS, PSD e CDU) e de representantes da<br />

ACSS e do Ministério da Saúde. Tivemos cerca de<br />

<strong>18</strong>0 participantes, naturalmente que a maioria foram<br />

profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos<br />

de diagnóstico, farmacêuticos, administradores hospitalares,<br />

etc, de norte a sul do país, bem como de representantes<br />

de sociedades científicas e da academia.<br />

Mas também esteve a sociedade civil com a presença<br />

de utentes do SNS, de associações sem fins lucrativos<br />

de apoio a doentes e cuidadores e de representantes<br />

das autarquias, a quem foi dado espaço para exprimirem<br />

as suas posições. A PAFIC tem parcerias com<br />

a Escola Nacional de Saúde Pública, com a Associação<br />

Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es e com<br />

o Fórum Saúde XXI. Pretende assim posicionar-se<br />

como um elo entre os vários setores intervenientes<br />

numa resposta coordenada à Integração de Cuidados<br />

centrados nas pessoas.<br />

Por último, como considera que os administradores<br />

hospitalares podem contribuir para que a integração<br />

de cuidados se torne uma realidade nas<br />

unidades de saúde portuguesas?<br />

Os administradores hospitalares enquanto gestores<br />

e elementos das equipas de saúde, são fundamentais<br />

para a conceção, implementação e monitorização de<br />

Programas de Integração de Cuidados. O papel que<br />

atualmente assumem nas instituições de saúde, quer na<br />

gestão intermédia, quer na gestão de topo, coloca-os<br />

numa posição priveligiada para poderem ser agentes<br />

de mudança. Podem e devem ser facilitadores, apoiando<br />

as equipas que queiram começar novos projetos,<br />

quer do ponto de vista teórico, quer do ponto de vista<br />

prático, encontrando soluções no terreno que alavanquem<br />

e consolidem projetos que integrem os diferentes<br />

niveis de cuidados. E têm ainda o papel de catalisadores,<br />

fomentando a integração de cuidados, mesmo<br />

em ambientes mais adversos. Por último, a APAH tem<br />

tido um papel muito importante na disseminação do<br />

conceito de Integração de Cuidados, enquadrando-o<br />

nos seus eventos e publicações. Ã<br />

1. Auschra, C., Barriers to the Integration of Care in Inter-Organisational<br />

Settings: a Literature Review. International Journal of Integrated Care,<br />

20<strong>18</strong>;<strong>18</strong>(1):5.1-14.<br />

30 31


GH Cuidados centrados no doente<br />

OTIMIZAÇÃO DA GESTÃO<br />

Hospital Vila Franca de Xira<br />

SEGURA ENTRE O HOSPITAL<br />

VILA FRANCA DE XIRA,<br />

O ACES ESTUÁRIO DO TEJO<br />

E AS ESCOLAS<br />

Contacto<br />

telefónico escola<br />

Sim<br />

Episódio inaugural<br />

ACES<br />

1<strong>º</strong> contacto mail<br />

ACES<br />

define<br />

enfermeiro<br />

responsável<br />

Médico<br />

de família?<br />

Não<br />

Follow up dia<br />

seguinte.<br />

Enf. consulta/<br />

internamento<br />

Na alta<br />

hospitalar<br />

Agudização<br />

Nota alta<br />

enviada<br />

por mail<br />

para o ACES<br />

Consulta<br />

Enviar informação ACES:<br />

• Falta de comparência<br />

• Hemoglobina glicada<br />

• Autonomia da família<br />

• Ajuste terapêutico<br />

• Outros<br />

Patrícia Nascimento<br />

Enfermeira Chefe de Pediatria<br />

do Hospital Vila Franca de Xira<br />

A<br />

Diabetes tipo 1 é uma das doenças<br />

crónicas mais frequentes em crianças<br />

e jovens em idade escolar. A capacitação<br />

da família/cuidador é um<br />

fator preponderante no sucesso do<br />

controlo metabólico, sendo por isso necessário formar<br />

e capacitar equipas multiprofissionais e intensificar programas<br />

de educação na gestão do regime terapêutico.<br />

O Programa Nacional de Controlo da Diabetes é um<br />

dos mais antigos programas nacionais de saúde pública.<br />

A Diabetes tipo 1 nas crianças e nos jovens em Portugal<br />

(Registo DOCE) atingia, em 2015, 3.327 indivíduos<br />

com idades entre 0-19 anos, o que corresponde a<br />

0,16% da população portuguesa neste escalão etário.<br />

A sua incidência tem aumentado cerca de 3% por ano<br />

(Orientação da DGS n.<strong>º</strong> 003/2012 de <strong>18</strong>/01/2012).<br />

Sendo uma das doenças crónicas com maior prevalência<br />

em idade escolar, a coordenação entre os diferentes<br />

níveis de cuidados de saúde configura-se essencial<br />

para a melhoria de todos os processos de assistência<br />

e acompanhamento. A educação para a saúde e para a<br />

autogestão da doença, providenciada por uma equipa<br />

multidisciplinar, altamente diferenciada, permite elevados<br />

padrões de qualidade nos cuidados, melhoria dos<br />

indicadores clínicos e laboratoriais, bem como diminuição<br />

da morbimortalidade.<br />

A criança é um indivíduo vulnerável e dependente de<br />

cuidados prestados por terceiros. Numa transição de<br />

saúde-doença, ou no âmbito da continuidade de cuidados,<br />

esta faixa etária necessita de cuidados de enfermagem<br />

articulados entre si, de modo a conferir à criança<br />

e família cuidados de qualidade. Este projeto surge da<br />

necessidade de melhoria da articulação entre o ACES<br />

Estuário do Tejo (ACES ET) e o Hospital Vila Franca<br />

de Xira (HVFX), auxiliando as famílias e cuidadores de<br />

crianças e jovens com DM inaugural na gestão das suas<br />

dúvidas e preocupações, bem como assegurando uma<br />

continuidade de cuidados. Permite ainda assegurar uma<br />

maior vigilância e mais fácil notificação de situações de<br />

risco e vulnerabilidade infantojuvenil, que careçam de<br />

intervenção imediata.<br />

Em 2016, integrado num projeto transversal ao hospital<br />

sobre transição segura hospital/comunidade, decidiu<br />

a equipa responsável pela saúde infantil e juvenil,<br />

desenvolver o projeto no âmbito da diabetes infantil.<br />

A consulta de diabetes infantil, com cerca de dois anos<br />

de existência, assumia grande potencialidade de desenvolvimento,<br />

contando já com uma equipa multidisciplinar<br />

dedicada (pediatra, enfermeira, assistente social,<br />

psicóloga e dietista). Desta forma, seria possível colocar<br />

em prática as orientações do Programa Nacional para<br />

a Diabetes: participar em projetos/programas de prevenção<br />

da doença e promoção da saúde; promover as<br />

boas práticas no tratamento da Diabetes Mellitus; reduzir<br />

a mortalidade prematura por diabetes ≤ 70 anos;<br />

reduzir as hospitalizações por complicações da diabetes<br />

Enf.<br />

Unidade<br />

Contacto Enf.<br />

Unidade Cuidados<br />

Comunidade<br />

Figura1: Fluxograma de referenciação.<br />

Enf. Chefe atribui<br />

gestor de caso<br />

Contacto pais<br />

durante<br />

internamento<br />

e diminuir o número de amputações major por pé diabético<br />

(DGS, 2017).<br />

A Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, em parceria<br />

com o HVFX e ACES ET, formou os profissionais<br />

sobre transição segura e metodologia de projeto, garantindo<br />

assim o apoio na elaboração dos fluxogramas<br />

de referenciação e elaboração de indicadores de processo<br />

e resultados.<br />

Sempre que uma criança/jovem é admitida no Hospital<br />

Vila Franca de Xira, com um episódio inaugural de Diabetes<br />

tipo I, é efetuada uma avaliação das necessidades<br />

individuais da criança/família. A enfermeira da consulta<br />

externa de pediatria, que passa a ser o profissional de<br />

referência neste processo, efetua a referenciação para o<br />

Centro de Saúde onde a criança está inscrita e o ACES<br />

Estuário do Tejo, na ausência de um enfermeiro de família,<br />

define um gestor de caso. É também efetuado o<br />

contacto com o diretor de turma/instituição escolar,<br />

para que a escola se possa preparar para o regresso da<br />

criança à comunidade.<br />

Durante o internamento é dada continuidade à capacitação<br />

da criança/cuidador com formação contínua e<br />

Informação de retorno<br />

do acompanhamento em<br />

Cuidados de Saúde Primários<br />

treino, visando a auto capacitação das famílias e jovens.<br />

Nesta altura, é realizada a reavaliação das necessidades<br />

de formação, através de um questionário específico de<br />

auto perceção e disponibilizada informação escrita.<br />

Ainda durante o internamento, o ACES ET efetua o primeiro<br />

contacto com a família e prepara o contexto escolar<br />

para o regresso da criança à comunidade.<br />

No momento da alta hospitalar, é efetuada a reavaliação<br />

das necessidades formativas e encaminhamento<br />

para o centro de saúde, através da carta de alta médica,<br />

de enfermagem e impresso de educação terapêutica.<br />

Foi elaborada uma lista de enfermeiros de referência<br />

do ACES ET, por unidade de saúde, de forma a garantir<br />

a eficácia da comunicação. A enfermeira de referência<br />

(da consulta externa) realiza o follow up telefónico no<br />

dia seguinte à alta hospitalar.<br />

Em cada consulta de vigilância de saúde, o plano terapêutico<br />

e os conhecimentos e dúvidas da criança/família<br />

são revistos pelo pediatra e nutricionista, sendo referenciado<br />

para áreas de especialidade quando necessário,<br />

nomeadamente para psicologia ou oftalmologia.<br />

Sempre que a criança/jovem vem à consulta é feita a }<br />

32 33


GH Cuidados centrados no doente<br />

N<strong>º</strong> de crianças com diagnóstico de diabetes 15<br />

mellitus tipo I<br />

N<strong>º</strong> de crianças referenciadas aos Cuidados 15<br />

de Saúde Primários<br />

Tempo médio de resposta da equipa 48h<br />

dos Cuidados de Saúde Primários<br />

após referenciação<br />

N<strong>º</strong> de crianças com plano de saúde 15<br />

individual elaborado<br />

N<strong>º</strong> de reinternamentos por agudização 5<br />

Hiperglicemia/HbA1c elevada<br />

N<strong>º</strong> de reinternamentos por agudização 1<br />

Hipoglicémia<br />

N<strong>º</strong> de crianças referenciadas ao HVFX 1<br />

por descontrolo metabólico<br />

N<strong>º</strong> de crianças com hemoglobina Glicada 7<br />

entre 6,5 e 7,5<br />

Taxa de adesão à consulta hospitalar 92,8%<br />

N<strong>º</strong> de crianças com parentalidade<br />

9<br />

comprometida<br />

N<strong>º</strong> de formações para a equipa de saúde 5<br />

(ACES + HVFX)<br />

N<strong>º</strong> de documentos divulgados 10<br />

N<strong>º</strong> de crianças com diabetes com adesão 14<br />

ao regime terapêutico eficaz<br />

N<strong>º</strong> de cuidadores com ganhos<br />

15<br />

de conhecimento<br />

N<strong>º</strong> de crianças/jovens com ganhos<br />

15<br />

de conhecimento<br />

Tabela 1: Resultados dos indicadores de avaliação.<br />

revisão dos conhecimentos da criança/família, do plano<br />

terapêutico individualizado pela pediatra e nutricionista<br />

e elaborado o encaminhamento para as áreas da especialidade<br />

(psicologia, oftalmologia).<br />

O canal de comunicação torna-se, assim, permanente<br />

entre a enfermeira responsável pela consulta, as crianças/jovens/famílias<br />

e os enfermeiros gestores de caso.<br />

Estão inseridas no projeto todas as crianças seguidas na<br />

consulta de diabetes infantil do Hospital Vila Franca de<br />

Xira. São referenciadas para os cuidados de saúde primários,<br />

todas as crianças admitidas no serviço de urgência<br />

por diabetes inaugural, mesmo que venham a ser seguidas<br />

noutras instituições hospitalares ou associações.<br />

Com a implementação deste fluxograma pretende-se:<br />

• A melhoria significativa da relação e canais de comunicação<br />

entre Hospital Vila Franca de Xira/ACES ET/<br />

/agrupamentos escolares;<br />

• A capacitação dos familiares cuidadores e profissionais<br />

da rede escolar;<br />

• O aumento da adesão ao regime terapêutico;<br />

• A diminuição de reinternamentos por descompensação<br />

metabólica;<br />

• Melhor controlo metabólico com consequente redução<br />

das complicações tardias;<br />

• A formação contínua dos profissionais envolvidos no<br />

projeto.<br />

São realizadas formações anuais conjuntas de forma a<br />

manter as equipas atualizadas, a uniformizar procedimentos<br />

e linguagem.<br />

O grupo de trabalho reúne semestralmente para avaliar<br />

as atividades desenvolvidas e implementar medidas de<br />

melhoria contínua.<br />

Em 2017, por proposta da UCFD, foi lançado um concurso<br />

para a elaboração da mascote da consulta de diabetes<br />

aos grupos escolares da área de influência do hospital<br />

e assim nasceu o “Herói Diabete”. Foram também<br />

efetuadas campanhas de sensibilização para hábitos de<br />

vida saudáveis junto da comunidade, no Dia Mundial da<br />

Saúde e também no Dia da Criança, em parceria com<br />

a autarquia local. Ainda neste ano, o projeto venceu o<br />

prémio Missão Sorriso do Continente, o que permitiu<br />

adquirir e distribuir às crianças envolvidas sensores de<br />

avaliação contínua da glicemia numa altura em que estes<br />

ainda não eram comparticipados.<br />

No primeiro semestre de 20<strong>18</strong>, foi aplicado um questionário<br />

de satisfação aos cuidadores, de onde emergiu<br />

a necessidade de melhorar o acompanhamento nas<br />

consultas de psicologia e a articulação com as escolas.<br />

Foram bastante valorizadas as dimensões sobre o apoio<br />

prestado no internamento e na consulta.<br />

De forma a dar resposta a estas necessidades, foi criado<br />

um grupo terapêutico multidisciplinar, com sessões quinzenais<br />

para oito adolescentes entre os 12 e os 16 anos.<br />

Pretende-se ainda otimizar o projeto, desenvolvendo as<br />

seguintes atividades:<br />

• Elaborar a revisão dos protocolos clínicos e compilar<br />

um manual de boas práticas;<br />

• Elaborar um projeto de transição para a consulta<br />

de adultos, com consultas médicas e de enfermagem<br />

conjuntas, uma vez que este ano temos o 1<strong>º</strong> jovem a<br />

completar <strong>18</strong> anos;<br />

• Reforçar a referenciação existente para a UCC com o<br />

preenchimento do anexo 5 do Programa Nacional de<br />

Saúde Escolar, aquando do episódio inaugural;<br />

• Intensificar o contacto precoce com a escola/família/criança;<br />

• Garantir que 100% das crianças/jovens dos 0 aos<br />

17 anos sejam acompanhadas no âmbito da Saúde<br />

Escolar UCC;<br />

• Garantir que 100% das crianças/jovens dos 0 aos 17<br />

anos tenham PSI elaborado;<br />

• Implementar monitorização semestral através dos sistemas<br />

de informação, articulada com novos episódios.<br />

O desenvolvimento deste projeto permitiu, conforme<br />

estratégia definida para o SNS, colocar o doente<br />

e o cuidador no centro dos cuidados de saúde, desenvolveu<br />

a articulação entre o Hospital Vila Franca<br />

de Xira e o ACES ET, facilitando o acesso aos cuidados<br />

de saúde prestados por ambas as partes. Exigiu a<br />

reorganização dos serviços, com clarificação das responsabilidades,<br />

otimizando os circuitos e criando um<br />

processo mais eficiente e ajustado às necessidades<br />

individuais de cada família.<br />

O projeto permite, na sua totalidade, a replicabilidade<br />

noutras unidades de saúde, uma vez que exige baixos<br />

custos de investimento e que os recursos necessários<br />

à sua implementação são fundamentalmente recursos<br />

humanos já existentes nas instituições. Ã<br />

Diabetes: Factos e Números - O Ano de 2014 - Relatório Anual do Observatório<br />

Nacional da Diabetes 11/2015.<br />

Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Controlo da Diabetes.<br />

https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes.aspx<br />

Direção-Geral da Saúde. Orientação Conjunta N<strong>º</strong>006/2016, de 23/11/2016.<br />

Orientação Conjunta da DGS e da Direção-Geral da Educação sobre crianças<br />

e jovens com Diabetes Mellitus Tipo 1 na Escola .<br />

http://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes/circulares<br />

Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Diabetes 2017.<br />

34


GH Segurança do doente<br />

SEGURANÇA DO DOENTE:<br />

EVENTOS ADVERSOS<br />

RELACIONADOS COM O<br />

MEDICAMENTO EM CONTEXTO<br />

INTRA HOSPITALAR<br />

Mavilde Vitorino<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

de Lisboa Ocidental<br />

Paulo Sousa<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade Nova de Lisboa<br />

Pedro Aguiar<br />

Centro de Investigação<br />

em Saúde Publica<br />

A<br />

segurança do doente é um enorme<br />

problema de saúde pública global.<br />

Anualmente estima-se que o risco<br />

de morrer devido a um acidente<br />

clínico evitável, ao receber cuidados<br />

de saúde, seja muito superior que morrer devido<br />

a um acidente de avião (1 em 300 vs 1 em 3 milhões).<br />

No entanto, as indústrias que identificam alto risco de<br />

morte, como a aviação, apresentam sistemas de segurança<br />

mais efetivos que as instituições de saúde 1 .<br />

Para sensibilizar para esta problemática a Organização<br />

Mundial de Saúde (OMS) em <strong>2019</strong> definiu o dia 17<br />

de Setembro como o dia internacional da segurança<br />

do doente e publicou o documento Patient safety fact<br />

file em que alerta para as dez principais causas responsáveis<br />

pela morte e incapacidade de milhões de<br />

doentes na prestação de cuidados de saúde.<br />

A OMS neste documento continua a identificar unsafe<br />

medication practices and errors (dosagens ou perfusões<br />

incorretas, indicações pouco claras, uso de abreviaturas<br />

e prescrições incorretas) como uma das principais<br />

causas de danos evitáveis nos sistemas de saúde ao ní-<br />

vel mundial. Os eventos adversos relacionados com<br />

o medicamento (EArMs) podem surgir devido a falha<br />

no sistema de medicação e/ou fatores humanos como<br />

cansaço, condições de trabalho inadequadas ou<br />

escassez de pessoal que afetam as práticas no circuito<br />

do medicamento (prescrição, armazenamento, preparação,<br />

dispensa, administração e monitorização) 1 .<br />

O EArM é uma lesão nociva e involuntária resultante<br />

da utilização de um medicamento e que ocorre em<br />

doses usadas no doente para profilaxia, diagnóstico,<br />

terapia ou modificação de funções fisiológicas 2 . Nesta<br />

definição está incluída a reação adversa ao medicamento<br />

(RAM) e a intoxicação acidental por medicamentos<br />

(IAM), desde que resultem em lesão.<br />

A ocorrência destes eventos, para além de terem um<br />

impacto significativo na mortalidade e morbilidade, estão<br />

também associados a um aumento dos custos em<br />

saúde 3,4 . Ao nível mundial os custos anuais foram estimados<br />

em 42 biliões de dólares 5 . Em resposta a este<br />

grave problema de saúde pública a OMS em 2017<br />

definiu Medication Without Harm como o terceiro desafio<br />

global na segurança do doente, com o objetivo<br />

de reduzir em 50% os danos evitáveis relacionados<br />

com a medicação até 2022 6 .<br />

Estudos internacionais evidenciam que entre 21.3%<br />

a 0.7% dos doentes hospitalizados apresentam EAr-<br />

Ms 7-10 . Em Portugal a evidência existente também<br />

aponta para uma elevada taxa de EArMs em hospitais.<br />

No estudo elaborado em 20<strong>18</strong> por Sousa et al. em<br />

nove centros hospitalares públicos de cuidados agudos,<br />

utilizando a metodologia de revisão do processo<br />

clínico, identificaram uma incidência de 12.5% de<br />

eventos adversos, dos quais 9.8% associados a erros<br />

de medicamentos 11 . De acordo com outros estudos<br />

realizados nos hospitais públicos portugueses, utilizando<br />

informação de tipo administrativo, 1.46% e 1.88%<br />

dos doentes internados apresentaram pelo menos um<br />

EArM 12,13 .<br />

Face aos estudos mencionados anteriormente constatamos<br />

que apresentaram uma elevada frequência<br />

de EArMs mas com significativa heterogeneidade. Esta<br />

diferença de resultados pode estar associada com<br />

a heterogeneidade da população em estudo, definição<br />

de EArM utilizada e metodologia de avaliação 9 .<br />

A metodologia de avaliação da frequência de EArMs<br />

tem sido apurada com o recurso a uma diversidade<br />

de fontes de dados incluindo a revisão de processos<br />

clínicos, a observação direta, os sistemas de notificação<br />

de incidentes, os sistemas baseados em dados administrativos,<br />

entre outros 15 . Estudos realizados com<br />

recurso aos dados administrativos apresentaram taxas<br />

mais elevadas de EArMs comparativamente aos sistemas<br />

notificação espontânea de incidentes e mais baixas<br />

relativamente à revisão do processo clínico 9,13,15,16 .<br />

A utilização de dados administrativos com base na<br />

International Classification of Diseases (ICD) como<br />

suporte para monitorizar os eventos adversos que<br />

ocorrem durante o internamento hospitalar (intra-<br />

-hospitalares), tem vindo a ganhar relevância na última<br />

década pelo facto de requererem menos recursos<br />

- económicos, humanos, entre outros - e estarem<br />

prontamente disponíveis 17 .<br />

No entanto, a análise dos eventos adversos, através<br />

dos dados administrativos, pode detetar eventos que<br />

ocorreram antes da admissão hospitalar. A aplicação<br />

da codificação com “presente na admissão” (PNA) }<br />

36 37


GH Segurança do doente<br />

possibilitou uma análise mais fidedigna dos eventos<br />

adversos ocorridos na fase intra-hospitalar, na medida<br />

em nos permite diferenciar os eventos presentes na<br />

data de admissão hospitalar com dos que foram adquiridos<br />

durante o internamento hospitalar.<br />

Os estudos realizados em Portugal, de âmbito nacional,<br />

com base em dados administrativos ainda não<br />

contemplavam o indicador PNA. Face a esta realidade,<br />

optamos por realizar um estudo com base em<br />

dados administrativos, com o objetivo de analisar os<br />

EArM que ocorreram no contexto intra-hospitalar<br />

Português, a sua associação com a mortalidade e a duração<br />

de internamento, no triénio 2013-2015, com a<br />

aplicação do indicador PNA.<br />

Eventos adversos relacionados com o medicamento<br />

em contexto intra-hospitalar português. Uma análise<br />

com base em dados administrativos<br />

Realizamos um estudo observacional retrospetivo recorrendo<br />

à base de dados de morbilidade hospitalar<br />

(BDMH). Esta base de dados agrega informação de<br />

todos os episódios de internamento e de ambulatório<br />

realizados nos hospitais do SNS, codificados de<br />

acordo com International Classification of Diseases, 9 th<br />

Revision, Clinical Modification (ICD-9-CM). A população<br />

foi constituída por todos os episódios de internamento<br />

em hospitais do SNS de Portugal continental<br />

no período de 01/01/2013 a 31/12/2015. A razão pela<br />

seleção deste período prendeu-se com o facto de o<br />

indicador PNA apenas ter sido introduzido em 2013<br />

na codificação clínica da BDMH e na data de realização<br />

deste estudo ainda existirem dados definitivos<br />

disponíveis posteriores a 2015.<br />

Os códigos que selecionamos para identificar os<br />

EArM intra-hospitalares foram:<br />

Categorias<br />

EArM<br />

Intoxicação acidental<br />

do medicamento (IAM)<br />

Reação adversa<br />

do medicamento (RAM)<br />

Códigos<br />

ICD-9-CM<br />

E850-<br />

858.9<br />

E930-<br />

949.9<br />

N<strong>º</strong> de<br />

códigos<br />

50<br />

171<br />

Aplicamos a variável codificada PNA para diferenciar<br />

os EArMs que já estavam presentes no momento da<br />

admissão hospitalar dos que foram adquiridos durante<br />

o internamento hospitalar.<br />

A análise estatística foi efetuada em duas fases. Numa<br />

primeira fase, com a população total em estudo, identificamos<br />

os episódios com pelo menos um EArM<br />

intra-hospitalar (EArM-I). Posteriormente, calculamos<br />

a frequência de EArMs-I associados à IAM e à RAM<br />

e identificamos as classes de medicamentos mais<br />

frequentemente associadas a estes eventos. Numa<br />

segunda fase, comparamos os episódios com EArMs-<br />

-I e uma amostra randomizada de igual número de<br />

episódios sem esse registo de eventos, relativamente<br />

às caraterísticas da população, mortalidade (regressão<br />

logística) e dias de internamento (regressão linear).<br />

Inicialmente foi feita uma análise bivariada com as variáveis<br />

idade, género, tipo de admissão (urgente vs<br />

programada), tipo de tratamento (cirúrgico vs médico),<br />

seis diagnósticos principais mais frequentes nos<br />

episódios com EArM-I, número de diagnósticos secundários<br />

e número de dias de internamento. As variáveis<br />

estatisticamente significativas (p


GH Segurança do doente<br />

“<br />

OS ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES DESEMPENHAM<br />

UM PAPEL FULCRAL<br />

NA INTRODUÇÃO<br />

DE UMA NOVA CULTURA<br />

ORGANIZACIONAL DADO<br />

QUE DEVEM SER DETENTORES<br />

DE UMA ELEVADA LITERACIA<br />

EM SEGURANÇA DO DOENTE.<br />

”<br />

estudos realizados identificaram uma elevada frequência<br />

de EArMs com um impacto significativo na<br />

morbilidade, mortalidade e custos em saúde.<br />

Em resposta a este desiderato têm sido emanadas ao<br />

longo das últimas décadas diferentes estratégias para<br />

reduzir os EArMs, desenvolvidas por instituições de<br />

âmbito internacional e nacional: por exemplo, sabemos<br />

da publicação de nova legislação, do lançamento<br />

de novos desafios junto dos diferentes intervenientes<br />

do setor da saúde, o desenvolvimento de novos<br />

projetos e programas que englobam o uso de novas<br />

tecnologias, da formação específica e da utilização de<br />

novas práticas profissionais. Apesar das múltiplas estratégias<br />

implementadas nas últimas décadas verificamos<br />

que, globalmente, não se tem obtido o sucesso<br />

pretendido, continuando os EArMs a ser considerados<br />

um problema de saúde pública pelas suas repercussões<br />

avassaladoras quer ao nível dos doentes<br />

quer ao nível dos sistemas de saúde 1 . Termos bem<br />

presente a noção de que nem todos os eventos identificados<br />

podem ser evitados mas sabemos que a sua<br />

frequência pode ser reduzida. Por exemplo, segundo<br />

a OMS existem intervenções específicas destinadas<br />

a corrigir potenciais fontes de erro. Destas salientamos<br />

a melhoria dos processos organizacionais internos,<br />

o uso das diferentes tecnologias e a construção/<br />

reforço de uma cultura organizacional mais segura,<br />

transparente e justa 1,6 .<br />

Apesar da cultura de segurança ser considerada um<br />

dos fatores chave para reduzir os eventos adversos<br />

(medicamentoso ou outro), verificamos que esta<br />

ainda não está enraizada nos diferentes e complexos<br />

desempenhos da atividade clínica. Para corroborar<br />

esta afirmação referimos os resultados da avaliação<br />

realizada pela DGS <strong>18</strong> , desenvolvida em 55 unidades<br />

hospitalares em Portugal no ano de 2014. Decorrente<br />

da sua leitura reforçamos a nossa convicção de que<br />

os profissionais de saúde e as instituições ainda não<br />

consideram a cultura de segurança do doente uma<br />

prioridade e a cultura de notificação e aprendizagem<br />

dos hospitais é fraca. Ainda sobre este ponto Faria 19<br />

refere que a “construção de uma verdadeira cultura<br />

de segurança não depende apenas da existência de<br />

um quadro legal adequado, mas de um esforço de<br />

natureza multidisciplinar e da criação de um ambiente<br />

de não-culpabilização dos profissionais de saúde, pois<br />

o risco é inerente ao sector de cuidados de saúde,<br />

subsistindo mesmo perante um pleno cumprimento<br />

das leges artis e das normas de segurança”.<br />

Para a prossecução desta cultura organizacional de<br />

segurança requerem-se mudanças estruturais no seio<br />

das organizações de saúde. Para que possam existir<br />

ruturas com o status quo instalado nas organizações<br />

de saúde entendemos que, antes de se definir a visão<br />

e as novas estratégias da organização, se devem selecionar<br />

em primeiro lugar as pessoas certas para os<br />

lugares certos, ou seja, que estas reúnam as competências<br />

certas - aptidões, conhecimentos e talento 21 .<br />

Isto significa que não dão só respostas ao como fazer<br />

mas, além destas, reúnem também competências individuais<br />

inatas como, por exemplo, o empenho ou<br />

motivação, o raciocínio crítico e a capacidade de relacionamento<br />

que, integradas com as anteriores, permitem<br />

levar à concretização dos objetivos traçados<br />

pela organização 20 .<br />

Segue-se posteriormente a definição da estratégia<br />

a adotar, através do uso dos instrumentos de gestão<br />

onde, de forma eficiente e eficaz, se pretende alocar<br />

os recursos adequados, definir a cultura organizacional<br />

pretendida, desenvolver os processos internos<br />

e externos à organização e introduzir racionalmente<br />

a tecnologia que responda aos objetivos inicialmente<br />

traçados. Sem a assunção efetiva destes pressupostos<br />

todos os outros processos de decisão são potencialmente<br />

redundantes.<br />

Sobre esta matéria sabemos que nas últimas décadas<br />

a evidência nos tem demonstrado que os habituais<br />

modelos utilizados suportados em ações gestionárias<br />

fragmentadas não têm sido de todo eficazes para<br />

redução dos EArMs intra-hospitalares e, consequentemente,<br />

não têm permitido aumentar a segurança<br />

do doente. Dado que as causas subjacentes às ocorrências<br />

dos EArMs intra-hospitalares são de natureza<br />

multifactorial, de uma forma geral, qualquer evento<br />

adverso que atinge o doente não decorre apenas de<br />

uma ação inapropriada de uma única pessoa, mas<br />

sim de uma combinação de fatores que resultam da<br />

falha do sistema. Uma vez mais a evidência apontanos<br />

para a necessidade de se implementar processos<br />

e procedimentos suportados num modelo holístico<br />

olhando para o todo organizacional. Existe por isso<br />

a convicção de que, ao introduzirmos uma cultura organizacional<br />

sistémica, o número de profissionais adequado,<br />

a cultura organizacional, os processos e a tecnologia<br />

devem assumir o mesmo grau de importância,<br />

devendo ser contemplados em simultâneo 6 .<br />

Razões suficientes para se refletirmos sobre a premência<br />

de se implementar uma nova abordagem holística<br />

na redução dos EArMs intra-hospitalares. Dado<br />

que existe a necessidade de se gerirem recursos de<br />

forma eficiente e eficaz, quase sempre muito escassos,<br />

depreendemos que este modelo integrado poderá<br />

ser implementado, de uma forma faseada, através da<br />

introdução de projetos/programas piloto. Uma estratégia<br />

possível seria a de começar por selecionar os serviços<br />

que apresentam um maior número de doentes<br />

com caraterísticas de risco para a ocorrência de EAr-<br />

Ms intra-hospitalares e de prescrições de classes de<br />

medicamentos mais associadas a estes eventos.<br />

De acordo com esta reflexão facilmente depreendemos<br />

que os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es desempenham<br />

um papel fulcral na introdução de uma nova<br />

cultura organizacional dado que devem ser detentores<br />

de uma elevada literacia em segurança do doente<br />

permitindo-lhe contribuir decisivamente para a criação<br />

de ambientes promotores de uma exigente cultura<br />

de segurança. Atores fundamentais no sistema<br />

de saúde os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es devem ter<br />

uma forte e efetiva participação através da utilização<br />

dos instrumentos poderosos de liderança onde a conjugação<br />

e articulação entre os interesses da organização<br />

interna e externa se apresentam como um desígnio<br />

fundamental. Suportados nestes princípios de<br />

liderança deverão implementar uma gestão integrada<br />

competente que permita desenvolver e fortalecer<br />

uma comunicação interna e externa eficaz, implementando<br />

medidas que sejam entendidas pela maioria<br />

como justas e equitativas, fomentando o trabalho }<br />

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40<br />

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GH Segurança do doente<br />

“<br />

O ESTUDO QUE REALIZÁMOS<br />

APRESENTOU RESULTADOS<br />

MUITO CONSISTENTES COM<br />

AS DEZENAS DE TRABALHOS<br />

PUBLICADOS NAS ÚLTIMAS<br />

DÉCADAS. AS ESTRATÉGIAS<br />

FORMULADAS PARA A REDUÇÃO<br />

DOS EARMS PARECEM SER<br />

CONSENSUAIS JUNTO<br />

DOS PERITOS.<br />

”<br />

em equipa, implementando as boas práticas baseadas<br />

na evidência, proporcionando formação profissional<br />

integrada de todos os profissionais de saúde, o respetivo<br />

reporting e todas as práticas que centralizem os<br />

cuidados de saúde no doente.<br />

Finalmente importa referir que o estudo que realizámos<br />

sobre esta temática apresentou resultados muito<br />

consistentes com as dezenas de trabalhos publicados<br />

nas últimas décadas. Curiosamente as estratégias<br />

formuladas para a redução dos EArMs parecem ser<br />

consensuais junto dos peritos. Assim sendo o que falta<br />

para fazermos diferente? O que falta fazer para se<br />

justificar a adotação de boas práticas gestionárias que<br />

venham possibilitar a implementação de uma política<br />

eficaz de segurança dos doentes contribuindo dessa<br />

forma para a redução de um número relevante de<br />

EArMs intra-hospitalares? Como refere Fragata “Não<br />

deixa de ser curioso o facto de as medidas tomadas<br />

para reduzir os erros nos sistemas de saúde, como<br />

o uso de diretrizes clínicas (guidelines) terapêuticas e<br />

tantas outras iniciativas, aparentemente boas, não terem<br />

conseguido ainda fazer da prestação de cuidados<br />

de saúde uma atividade segura, eficiente, uniformemente<br />

geradora de valor e satisfação” 21 . Ã<br />

1. WHO. (<strong>2019</strong>). “Patient Safety Fact File”. Patient Safety and Risk Management<br />

Service Delivery and Safety. Geneva: WHO.<br />

2. WHO. (2009). “Conceptual framework for the international classification<br />

for patient safety: version 1.1: final technical report”. Geneva: WHO.<br />

3. Poudel et al. (2017). “Burden of hospitalizations related to adverse drug<br />

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originating during the hospital stay, 2011: statistical brief #164”. In: Healthcare<br />

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for Healthcare Research and Quality.<br />

5. WHO. (2016). “Planning for the global Patient Safety Challenge on Medication<br />

Safety”. Geneva: WHO.<br />

6. WHO. (2017). “Medication without harm: global patient safety challenge”.<br />

Geneva: WHO.<br />

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events in inpatients: a systematic review and meta-analysis”. Eur J Clin Pharmacol.<br />

Dec 5;73(12):1539-49.<br />

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with inpatients’ length of stay: a propensity-matched cohort study”. Int J Clin<br />

Pract. Oct;71(10):e12990.<br />

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among adult inpatients: a meta-analysis of observational studies”. J Clin<br />

Pharm Ther. Dec;39(6):609-20.<br />

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incidence of adverse events in acute public hospitals in Portugal: a retrospective<br />

cohort study”. Int J Qual Heal Care. Mar 1;30(2):132-7.<br />

12. Scripcaru, G.; Mateus, C.; Nunes, C. (2017). “Adverse drug events: analysis<br />

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14. Rafter et al. (2015). “Adverse events in healthcare: learning from mistakes”.<br />

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16. Miguel et al. (2013). “Methodologies for the detection of adverse drug<br />

reactions : comparison of hospital databases, chart review and spontaneous<br />

reporting”. Pharmacoepidemiology and Drug Safety. 22: 1 98-102.<br />

17. Maass et al. (2015). “Are administrative data valid when measuring patient<br />

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19. Faria, P. (2010). “Perspetivas do Direito da Saúde em Segurança do<br />

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20. Serra, S. (2012). “A gestão do capital intelectual no sector da saúde. In:<br />

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de saúde em Portugal. Diário de Bordo.<br />

21. Fragata, J.; Martins, L. (2014). O Erro em Medicina. Almedina.<br />

42


GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS<br />

EFEITOS DA UTILIZAÇÃO<br />

DAS TERAPÊUTICAS NÃO<br />

CONVENCIONAIS E ANÁLISE<br />

DA POSSÍVEL INTEGRAÇÃO<br />

NO SERVIÇO NACIONAL<br />

DE SAÚDE<br />

Marta Bacelar<br />

Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />

A<br />

escassez de recursos (Barros,<br />

2017), o aumento da prevalência<br />

das doenças crónicas (Direção<br />

Geral da Saúde, 2015), o envelhecimento<br />

da população (o índice de<br />

envelhecimento em 1961 era de 27,5% e em 2015<br />

era de 143,9% (Pordata, 2016)) e o consequente incremento<br />

das despesas em saúde (a despesa total<br />

per capita em 1961 foi de 34,2€ e em 2015 foi de<br />

923,8€ (Pordata, 2017)), afiguram-se como fatores<br />

de pressão à sustentabilidade do Serviço Nacional de<br />

Saúde (SNS) Português.<br />

Os hospitais, como parte do sistema de saúde, devem<br />

concentrar-se em melhorar os resultados de<br />

saúde e, simultaneamente, responder às expectativas<br />

dos cidadãos (European Observatory on Health<br />

Care Systems, 2002). Impõe-se, assim, a necessidade<br />

da sua constante adaptação e a definição de novas<br />

estratégias para ultrapassar estes e outros desafios.<br />

É neste contexto, e na perspetiva de mudança do<br />

paradigma atual do SNS, que surgiu o estudo: “Efeitos<br />

da utilização das Terapêuticas Não Convencionais<br />

(TNC) e análise da possível integração no Serviço<br />

Nacional de Saúde”.<br />

Em Portugal, as TNC estão definidas como “Terapêuticas<br />

que partem de uma base filosófica diferente<br />

da medicina convencional e aplicam processos específicos<br />

de diagnóstico e terapêuticas próprias”. Em<br />

2003, foram inicialmente reconhecidas seis TNC:<br />

a Acupuntura, Fitoterapia, Homeopatia, Naturopatia,<br />

Osteopatia e Quiropráxia (Lei n.o 45/2003), tendo<br />

sido, em 2013, acrescida a Medicina Tradicional Chinesa<br />

(Lei n.o 71/2013).<br />

As TNC podem assumir um papel preponderante<br />

na prevenção e na consequente redução dos custos<br />

com o tratamento (Sierpina e Dalen, 2013). A introdução<br />

das TNC no SNS Português poderá ser um<br />

caminho para diminuir os custos de utilização de serviços<br />

de saúde e proporcionar formas complementares<br />

de tratamento. Efetivamente, existem TNC que<br />

têm demonstrado um potencial para reduzir a intensidade<br />

dos sintomas do cancro, melhorando o bem-<br />

-estar do doente, em que a grande maioria utiliza<br />

uma abordagem não farmacológica e que tem potencial<br />

de implementação, sendo ainda necessária, no<br />

entanto, mais investigação (Witt e Cardoso, 2016).<br />

Nas últimas décadas, a utilização das TNC a nível europeu<br />

tem vindo a aumentar, registando-se que mais<br />

de 70% dos cidadãos utilizam-nas ou já as utilizaram<br />

(Nissen et al., 2012). De facto, os cidadãos europeus<br />

utilizam as TNC para o tratamento de doenças<br />

crónicas (osteoarticulares, alérgicas, tratamento da dor,<br />

etc.), mas também para a promoção e manutenção<br />

da saúde, uma vez que tem aumentado a literacia em<br />

saúde, e consequentemente aumentado o self-empowerment,<br />

autocuidado e prevenção de doenças<br />

(Fischer et al., 2014).<br />

Enquadramento<br />

A OMS defende no documento “Estratégia para<br />

a Medicina Tradicional 2014-2023” (World Health<br />

Organization, 2013) como estratégico apoiar os estados<br />

membros a:<br />

1. Aproveitar o contributo potencial das TNC para<br />

a saúde, bem-estar e prestação dos cuidados de saúde<br />

centrados na pessoa e cobertura universal;<br />

2. Promover uma utilização segura e eficaz das TNC<br />

através da regulamentação, investigação e integração<br />

de produtos, práticas e profissionais de TNC no sistema<br />

de saúde.<br />

Muitos países já reconhecem a necessidade de desenvolver<br />

uma abordagem coesa e integradora de<br />

cuidados de saúde que permita aos governos, profissionais<br />

de saúde e a todos os que utilizam os serviços<br />

de saúde terem acesso às TNC de forma segura,<br />

respeitosa, custo-eficiente e eficaz.<br />

As doenças crónicas e os custos em saúde continuam<br />

a aumentar a nível mundial. O aumento previsto<br />

da carga global das doenças crónicas é uma das<br />

razões para o desenvolvimento e intensificação da }<br />

44 45


GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS<br />

“<br />

O PRESENTE ESTUDO,<br />

QUE ANALISOU A UTILIZAÇÃO<br />

DAS TNC E A SUA POSSÍVEL<br />

INTEGRAÇÃO NO SNS,<br />

POSICIONA-SE COMO<br />

UM NOVO TEMA NO ATUAL<br />

PANORAMA DA GESTÃO<br />

EM SAÚDE E DA ADMINISTRAÇÃO<br />

HOSPITALAR.<br />

”<br />

utilização partilhada das TNC e da medicina convencional<br />

(World Health Organization, 2014). De facto,<br />

as TNC são utilizadas não só para tratar doenças,<br />

especialmente doenças crónicas, mas também contribuem<br />

para a prevenção, promoção e manutenção<br />

da saúde, tendo já alguns governos comprovado que<br />

são rentáveis (World Health Organization, 2013).<br />

Também Stahl e al. defendem que as terapêuticas<br />

do corpo e da mente têm potencial para reduzir,<br />

substancialmente, a utilização dos cuidados de saúde<br />

a custos relativamente baixos e podem ser utilizadas<br />

como componentes chave no sistema de prestação<br />

de cuidados de saúde (Stahl et al., 2015).<br />

Esta evidência foi descrita numa revisão bibliográfica<br />

que analisou 338 avaliações económicas sobre<br />

as TNC, incluindo 114 avaliações completas, publicadas<br />

entre 2001 e 2010, cujas fontes de dados foram<br />

a PubMed, CINAHL, AMED, PsychInfo, Web of<br />

Science and EMBASE. As análises de custo-utilidade<br />

encontradas sobre as TNC foram de qualidade semelhante<br />

ou superior às publicadas sobre medicina<br />

convencional. Os estudos de maior qualidade indicam<br />

um potencial de custo-efetividade e até mesmo<br />

redução de custos em diversas TNC e populações<br />

(Barnes et al., 2012).<br />

Os EUA criaram, em 1988, o National Center for<br />

Complementary and Integrative Health (NCCIH),<br />

que é um dos National Institutes of Health (NIH),<br />

pertencente ao US Departament of Health and Human<br />

Services, cujo objetivo é “definir, através da investigação<br />

científica rigorosa, a utilidade e segurança<br />

das intervenções de saúde complementar e integrativa<br />

e o seu papel na melhoria da prestação dos<br />

cuidados.” Este Centro dispõe de um orçamento<br />

de 124,1 milhões de dólares e tem 74 profissionais.<br />

O NCCIH tem como objetivo estratégico determinar<br />

o que é promissor, o que ajuda e porquê, o que<br />

não funciona e o que é seguro (U.S. Department<br />

of Health & Human Services. National Institutes of<br />

Health. National Center for Complementary and Integrative<br />

Health, 2015).<br />

Em Portugal, um longo caminho tem sido percorrido<br />

desde 2003, com o objetivo de garantir a utilização,<br />

qualidade e segurança da utilização das TNC,<br />

como preconizado pela OMS (World Health Organization,<br />

2013).<br />

Assiste-se, no entanto, à iniquidade no acesso às TNC<br />

pelos cidadãos portugueses, pois, embora haja legislação<br />

e de terem sido emitidas, pela ACSS, cédulas<br />

profissionais aos terapeutas para poderem exercer as<br />

TNC, ainda não é possível que todos os cidadãos tenham<br />

acesso às TNC no SNS. Quem tem recursos financeiros<br />

pode adquirir estes serviços no setor privado.<br />

No entanto, quem tem somente acesso ao SNS,<br />

vê-se confrontado com a disponibilização de apenas<br />

algumas das sete TNC e em alguns hospitais, com a<br />

agravante dos tempos de espera nos hospitais onde<br />

existem estas valências (Jornal do Centro, 2016) e<br />

(Diário de Notícias, 2015). Nos casos de tratamento<br />

oncológico, que outras alternativas disponibilizam<br />

atualmente os hospitais além da quimioterapia, radioterapia<br />

e tratamentos farmacológicos? A possibilidade<br />

de usufruírem de outras terapêuticas que não as convencionais<br />

está praticamente negada aos utentes do<br />

SNS, e nos casos em que é possível a sua disponibilização,<br />

apenas é possível pelos profissionais médicos.<br />

Objetivos<br />

O presente estudo, que analisou a utilização das<br />

TNC e a sua possível integração no SNS, posiciona-se<br />

como um novo tema no atual panorama da<br />

gestão em saúde e da Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />

pretendendo ser uma mais-valia para esta área, em<br />

particular, e para o SNS, em geral.<br />

Metodologia<br />

O presente estudo incidiu sobre uma amostra de utilizadores<br />

dos dois espaços físicos da Associação Mama<br />

Help: o Mama Help localizado no Porto e o Mama<br />

Help/Saúde Estrutural localizado em Lisboa,<br />

tendo sido distribuídos 100 questionários no total.<br />

O Mama Help/Saúde Estrutural em Lisboa recebe<br />

doentes em tratamento da Fundação Champalimaud,<br />

de outras instituições privadas e alguns (raramente)<br />

do setor público. O Mama Help no Porto recebe<br />

também maioritariamente doentes de unidades<br />

privadas de saúde, proporcionando tratamentos individualizados<br />

e profissionalizados, centrados na pessoa,<br />

e disponibilizando diversas TNC concentradas<br />

num único espaço (Mama Help, 2015).<br />

Foram distribuídos dois questionários (um criado para<br />

o estudo e o SF12v2 ® ) aos utilizadores da Associação<br />

Mama Help, 24 no Porto e 76 em Lisboa. O QualityMetric<br />

Incorporated (EUA) foi contactado e disponibilizou<br />

o questionário SF12v2 ® e a aplicação informática,<br />

Scoring Software 5.0 , para o tratamento<br />

dos dados a recolher. Foi assinado um protocolo de<br />

utilização por ambas as partes. A análise estatística<br />

dos dados foi realizada através do software SPSS ®<br />

(Statistical Pachage for the Social Sciences), versão<br />

24.0, Microsoft Office Excel ® 2016 e Scoring Software<br />

5.0 .<br />

Resultados<br />

Constatou-se que 41% dos inquiridos tinha idade<br />

compreendida entre os <strong>18</strong> e os 49 anos, 70% tinha<br />

nível de habilitações literárias superiores e 74% era<br />

do sexo feminino, o que corrobora a literatura analisada,<br />

que carateriza os utilizadores das TNC como<br />

sendo mais jovens, mais educados, de nível socioeconómico<br />

mais elevado e mulheres.<br />

As TNC mais utilizadas são a Osteopatia e a Acupuntura,<br />

com 72% e 52% utilizadores, respetivamente,<br />

sendo a razão mais frequente para essa escolha<br />

o aumento da qualidade de vida, seguindo-se razões<br />

do foro psicológico, designadamente, a redução da<br />

ansiedade, stress e sintomas depressivos.<br />

Verificou-se que 22% dos inquiridos assumiram a decisão<br />

de utilizar as TNC, sem qualquer recomendação<br />

de outrem e 67% decidiram utilizar as TNC sem<br />

qualquer indicação de um profissional de saúde da<br />

medicina convencional ou das TNC, indiciando uma<br />

preponderância de self-empowerment e autocuidado<br />

(Fischer et al., 2014), igualmente preconizado no relatório<br />

“Um Futuro para a Saúde - todos temos um }<br />

46


GH TERAPÊUTICAS NÃO CONVENCIONAIS<br />

“<br />

PRECONIZA-SE QUE SEJAM<br />

TOMADAS TODAS<br />

AS DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS<br />

PARA QUE, A BREVE TRECHO,<br />

AS TNC PASSEM A INTEGRAR,<br />

EM PLENO, O SNS, DANDO<br />

CONTINUIDADE AO<br />

CAMINHO JÁ PERCORRIDO.<br />

”<br />

papel a desempenhar” (Crisp et al., 2014).<br />

Na avaliação da utilização das TNC e o seu impacto no<br />

bem-estar dos utilizadores, verificou-se que 96% dos<br />

inquiridos se sente melhor e muito melhor e que nenhum<br />

inquirido respondeu pior ou muito pior, o que<br />

reflete uma inequívoca melhoria do bem-estar decorrente<br />

da utilização das TNC e que consideram<br />

que estas devem ser integradas no SNS.<br />

Recomendações<br />

1. Criação do Instituto Nacional das TNC<br />

Dos dados recolhidos e analisados, verificou-se que<br />

67% dos inquiridos escolheram utilizar as TNC por<br />

sua própria vontade ou por recomendação de amigos<br />

e familiares. No entanto, nem sempre é fácil ter acesso<br />

a informação adequada, atualizada e com qualidade,<br />

pois mesmo que exista a possibilidade de pesquisa livre,<br />

é necessária uma orientação, sem a qual o problema<br />

de saúde pode ser agravado, ao invés de mitigado.<br />

Entende-se pertinente propor a criação de um Instituto<br />

em Portugal específico para as TNC, à semelhança<br />

do NCCIH nos E.U.A., sob a égide da Direção<br />

Geral da Saúde, cuja missão seja a promoção da investigação<br />

das TNC e o acompanhamento da sua utilização,<br />

para garantir o máximo de segurança aos cidadãos,<br />

evolução e inovação destas terapêuticas.<br />

2. Inclusão de questões sobre as TNC no Inquérito<br />

Nacional de Saúde<br />

À semelhança dos E.U.A. que utilizam o National<br />

Health Interview Survey (NHIS) e do Reino Unido<br />

que utiliza o inquérito nacional Omnibus para estimarem<br />

os níveis de utilização das TNC e a sua correlação<br />

com dados socio-económicos, considera-se<br />

que devem passar a ser integradas questões sobre<br />

as TNC no “Inquérito Nacional de Saúde Português”,<br />

cumprindo a “Estratégia para a Medicina Tradicional<br />

2014-2023” da OMS que defende a criação do perfil<br />

nacional das TNC em cada país.<br />

Estes dados permitirão explorar a relação da utilização<br />

das TNC com várias dimensões, como por exemplo<br />

com os comportamentos de saúde, género, as diferenças<br />

entre a medicina convencional em complementaridade<br />

com as TNC e aqueles que utilizam apenas<br />

as medicinas convencionais.<br />

3. Reconhecimento das despesas com a utilização<br />

das TNC como despesas de saúde<br />

Atualmente, as despesas com a utilização das TNC<br />

não são consideradas despesas de saúde e não podem<br />

ser deduzidas em sede de IRS. Já o Parlamento<br />

Europeu, na sua proposta de resolução de 1997, defendia<br />

que não há liberdade de acesso ao tratamento<br />

da escolha dos cidadãos se houver uma discriminação<br />

ao nível do reembolso das despesas de TNC.<br />

Conclusão<br />

Considera-se que devem ser desenvolvidos mais estudos<br />

sobre as TNC no SNS, que permitam não só<br />

analisar outras dimensões, como a redução do consumo<br />

de medicamentos, do recurso aos Meios Complementares<br />

de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT),<br />

da realização de intervenções cirúrgicas e outros cuidados<br />

de saúde. Estes devem ser assumidos por um<br />

Instituto em Portugal específico para as TNC a criar,<br />

à semelhança do que verifica em 73 países da OMS,<br />

cuja missão seja a promoção da investigação das TNC<br />

e o acompanhamento da sua utilização, salvaguardando<br />

a segurança dos cidadãos, bem como a evolução<br />

e inovação destas terapêuticas<br />

Atento o exposto, preconiza-se que sejam tomadas<br />

todas as diligências necessárias para que, a breve trecho,<br />

as TNC passem a integrar, em pleno, o SNS,<br />

dando continuidade ao caminho já percorrido. Considerando<br />

a evidência comprovada dos benefícios,<br />

seja em melhorias terapêuticas, seja na redução de<br />

custos, e dada a garantia verificada na qualidade e segurança<br />

dos utentes, este estudo confirma que as TNC<br />

constituem um fator preponderante num sistema de<br />

saúde. A expetativa para esta integração visa, sobretudo,<br />

uma melhoria significativa nos resultados obtidos<br />

no tratamento dos utentes, na redução dos custos<br />

em saúde e um incremento relevante na saúde,<br />

bem-estar e satisfação da população. Ã<br />

Barros, Pedro Pita - Economia da saúde. 3a ed. Lisboa : [s.n.]. ISBN<br />

9789724053745.<br />

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enquadramento base das terapêuticas não convencionais. [s.d.]).<br />

Lei N.o 71/2013 - D.R. Ia Série. 168 (2 de setembro) 5439-5442 - Regulamenta<br />

a Lei n.o 45/2003, de 22 de agosto, relativamente ao exercício profissional<br />

das atividades de aplicação de terapêuticas não convencionais. [s.d.]).<br />

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2014. Disponível em WWW:.<br />

48


GH Iniciativa APAH | Congresso eahm<br />

APAH PROMOVE VISITA TÉCNICA<br />

A HOSPITAIS BELGAS DE GESTORES<br />

HOSPITALARES PORTUGUESES<br />

NO ÂMBITO DO EAHM<strong>2019</strong><br />

Com o objetivo de promover a aquisição<br />

e ganho de competências assim<br />

como a disseminação de conhecimentos<br />

e o desenvolvimento de parcerias<br />

de colaboração, a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu<br />

a participação de uma delegação de gestores<br />

hospitalares portugueses ao 28.<strong>º</strong> Congresso da European<br />

Association of Hospital Managers (EAHM).<br />

A 28.ª edição do EAHM (EAHM<strong>2019</strong>) foi este ano<br />

dedicada ao tema “Innovative Healthcare Strategies”<br />

tendo a organização desde ano ficado a cargo da<br />

Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/<br />

ABDH). A APAH é um membro efetivo da EAHM,<br />

associação que reúne 28 associações de gestores<br />

hospitalares em 25 países europeus representando<br />

mais de 16.000 profissionais de gestão em hospitais<br />

públicos e privados na Europa. A APAH está igualmente<br />

representada no Board, no Executive Committe<br />

e na Sub-Comissão de Assuntos Europeus da EAHM.<br />

No ano passado a APAH organizou em Cascais, de<br />

26 a 28 de setembro, o 27.<strong>º</strong> Congresso da EAHM<br />

(EAHM20<strong>18</strong>) sob o tema "Redefining the Role of<br />

Hospitals - Innovating in Population Health". A iniciativa<br />

contou com a participação de mais de1100 delegados<br />

oriundos de 45 países do mundo e na qual<br />

participaram mais de 150 oradores convidados distribuídos<br />

por mais de 50 sessões científicas e formativas.<br />

Portugal sempre teve uma tradição de grande de presença<br />

na EAHM tendo já recebido por três vezes esta<br />

iniciativa: Espinho em 1984, Lisboa em 1999 e Cascais<br />

em 20<strong>18</strong>.<br />

A estrutura da edição <strong>2019</strong> do Congresso (EAHM<br />

<strong>2019</strong>) foi diferente da anterior e na base do evento estiveram<br />

visitas técnicas a seis novos hospitais belgas com<br />

o objetivo de partilharem a sua experiência e resultados<br />

nas seguintes áreas: big data e saúde digital; finanças<br />

e economia da saúde; edifícios inteligentes e logística:<br />

gestão, governação e ética em saúde; inovação<br />

e tecnologia e arquitetura curativa.<br />

As visitas técnicas incluíram os seguintes hospitais belgas:<br />

AZ Groeninge, AZ Delta Chirec, AZ Delta Roeselare,<br />

AZ Maria Middelares, AZ Zeno e o Antwerp<br />

University Hospital. São 6 hospitais modernos que<br />

trazem novidades na área da arquitetura hospitalar, da<br />

transformação digital, das condições de trabalho dos<br />

profissionais, da ética, da sustentabilidade e gestão financeira<br />

e da melhoria da eficiência e da organização<br />

com fluxos centrados no doente e suas famílias.<br />

O EAHM<strong>2019</strong> contou com a presença de cerca de<br />

três dezenas de administradores e gestores portugueses,<br />

de entre um total de quatro centenas de participantes,<br />

que se distribuíram pelas visitas aos 6 hospitais<br />

belgas. No decurso destas visitas a delegação portuguesa<br />

teve a oportunidade de contactar com a realidade<br />

do Sistema de Saúde Belga e dos modelos<br />

de gestão das suas instituições hospitalares. Dos vários<br />

momentos do Congresso destacam-se ainda<br />

os “EAHM Innovation Awards <strong>2019</strong>”, uma iniciativa<br />

que foi presidida por Alexandre Lourenço, Presidente<br />

da APAH, e que tem como objetivo promover a inovação<br />

nos hospitais e disseminar as melhores práticas.<br />

A delegação portuguesa ao EAHM<strong>2019</strong> contou com<br />

o apoio da SPMS, Roche, ViforPharma, Generis, Sanofi<br />

e Pfizer. Em 2020 o 29.<strong>º</strong> Congresso da EAHM será<br />

realizado de 30 de setembro a 2 de outubro, em Budapeste,<br />

e terá como temas principais em análise: 1) Tecnologias<br />

do futuro; 2) Hospitais “Go Green” e 3) “Doctor<br />

Who” Novos papéis nos cuidados de saúde. Ã<br />

50


GH Iniciativa APAH | PRÉMIO Healthcare Excellence<br />

PRÉMIO RECONHECE AS MELHORES<br />

PRÁTICAS DE GESTÃO EM SAÚDE<br />

A<br />

Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH),<br />

com o apoio da biofarmacêutica<br />

AbbVie, promove no próximo dia<br />

<strong>18</strong> de outubro, em Braga, a 6.ª edição<br />

do Prémio Healthcare Excellence que irá premiar<br />

as melhores iniciativas de gestão de serviços de<br />

saúde implementadas durante o ano de 20<strong>18</strong>.<br />

Os projetos candidatos ao Prémio Healthcare Excellence<br />

são a prova da qualidade das nossas Instituições<br />

de Saúde, são projetos inovadores que, com grande<br />

criatividade, procuram superar limites e revelam ser<br />

verdadeiros casos de sucesso.<br />

São, muitas vezes, ideias aparentemente simples para<br />

a resolução de problemas muitas vezes comuns às várias<br />

Instituições de Saúde, fáceis de adaptar, que exigem<br />

pouco ou nenhum investimento financeiro, mas<br />

que permitem simultaneamente contribuir para a sustentabilidade<br />

da Saúde em Portugal e assegurar ganhos<br />

com grande impacto e valor para a qualidade de<br />

vida dos doentes e das suas famílias.<br />

Este é o objetivo do Prémio Healthcare Excellence:<br />

premiar e distinguir a excelência, reconhecendo<br />

as boas práticas no domínio da melhoria do serviço<br />

aos utentes, promovendo a sua partilha como<br />

ponto de partida para a criação de um verdadeiro<br />

network colaborativo entre as várias Instituições de<br />

Saúde e incentivar a sua implementação pelo Sistema<br />

de Saúde Português.<br />

Na reunião final do Prémio serão apresentados os<br />

projetos finalistas e será distinguido o Vencedor da<br />

edição <strong>2019</strong>. Para além da qualidade da apresentação<br />

final dos projetos candidatos, a inovação e a replicabilidade<br />

em outras instituições de saúde são também<br />

critérios de avaliação. A decisão ficará a cargo do júri<br />

constituído por Margarida França, Presidente do Júri e<br />

Presidente do Conselho de Administração do Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Baixo Vouga; Dulce Salzedas, Jornalista da<br />

SIC; Maria José Costeira, Médica neonatologista do<br />

Hospital da Senhora da Oliveira de Guimarães e Ricardo<br />

Mestre, Vogal Executivo da Administração Central<br />

do Sistema de Saúde.<br />

Ao longo destes anos a adesão ao Prémio Healthcare<br />

Excellence tem sido crescente, com um número<br />

de projetos candidatos que evidenciam claramente a<br />

dinâmica e a qualidade do trabalho que todos os dias<br />

é desenvolvido nas Unidades de Saúde em Portugal.<br />

Em <strong>2019</strong>, foram recebidas 12 candidaturas, das quais<br />

6 serão apresentadas na reunião final. Entre os finalistas<br />

estão projetos do Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />

de Coimbra, Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />

de Lisboa Norte (Hospital Santa Maria), Hospital de<br />

Vila Franca de Xira, Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />

de Lisboa Central (Hospital Dona Estefânia) e da Associação<br />

de solidariedade social - Aldeias Humanitar.<br />

À semelhança da edição anterior a 6.ª Edição do Prémio<br />

Healthcare Excellence será emitida em livestream<br />

no Canal APAH “<strong>Gestão</strong> em Saúde” no You-<br />

Tube permitindo assim a participação de todos os interessados.<br />

Marque já na sua agenda. Ã<br />

Prémio Healthcare Excellence<br />

5 Edições | 5 Vencedores<br />

2014 - Centro <strong>Hospitalar</strong> de São João<br />

Inteligência Clínica<br />

2015 - Centro <strong>Hospitalar</strong> do Porto<br />

Implementação da metodologia Kaizen Diário, com<br />

as equipas naturais envolvidas na atividade do Bloco<br />

Operatório no Hospital de Santo António<br />

2016 - Hospital Vila Franca de Xira<br />

Capacitar para Melhor Cuidar - O cuidador no Projeto<br />

Vida Ativa<br />

2017 - Unidade Local de Saúde de Matosinhos<br />

Portal do Utente de Matosinhos<br />

20<strong>18</strong> - Instituto Nacional de Emergência Médica<br />

Via Verde Reanimação<br />

52


GH Iniciativa APAH | fórum do medicamento<br />

A EQUIDADE, A EFETIVIDADE<br />

E A SUSTENTABILIDADE NO ACESSO<br />

À INOVAÇÃO MARCAM A 11. A EDIÇÃO<br />

DO FÓRUM DO MEDICAMENTO<br />

HOMENAGEM AOS SÓCIOS<br />

DE HONRA E MÉRITO DA APAH<br />

GH cerimónia comemorativa<br />

A<br />

pressão para o aumento do investimento<br />

na área da saúde, agravada<br />

pelo progressivo envelhecimento<br />

da população e pela evolução tecnológica,<br />

nomeadamente o desenvolvimento<br />

de novos medicamentos e de meios de<br />

diagnóstico mais eficazes, a par com as expectativas<br />

mais exigentes da população, marcam profundamente<br />

as sociedades e os Sistemas de Saúde.<br />

Contudo, e face às restrições orçamentais, os Sistemas<br />

de Saúde dos países mais desenvolvidos têm experimentado<br />

uma grande variedade de reformas nos seus<br />

modelos de acesso e de financiamento, com o objetivo<br />

de reduzir a incerteza causada pela introdução, por<br />

exemplo, de novos medicamentos e o seu impacto na<br />

sustentabilidade económica e financeira privilegiando<br />

uma aposta em modelos baseados na partilha de risco,<br />

na medição do valor e na efetividade dos resultados.<br />

É sob o lema “Equidade, Efetividade e Sustentabilidade<br />

no acesso à inovação” que a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) realiza na<br />

manhã do próximo dia 15 de novembro de <strong>2019</strong> no<br />

Centro Cultural de Belém, sala Sophia de Mello Breyner,<br />

a 11.ª edição do Fórum do Medicamento.<br />

O Fórum do Medicamento é uma iniciativa anual da<br />

APAH, que conta com o apoio da AstraZeneca, e<br />

que visa contribuir para o conhecimento e para a par-<br />

tilha de boas práticas na área da gestão da tecnologia<br />

do medicamento.<br />

Na edição deste ano do Fórum do Medicamento faremos<br />

uma análise da equidade e efetividade no acesso<br />

aos medicamentos inovadores nos hospitais do<br />

Serviço Nacional de Saúde (SNS), contando para essa<br />

avaliação e discussão com a apresentação pública dos<br />

resultados do “Índex nacional do acesso ao medicamento<br />

hospitalar“. Esta é uma iniciativa da APAH e da<br />

Ordem dos Farmacêuticos que conta com o apoio<br />

científico da Faculdade de Farmácia da Universidade<br />

de Lisboa e que tem como objetivos estudar:<br />

1. O nível de acesso ao medicamento hospitalar e analisar<br />

os correspondentes modelos de gestão, mecanismos<br />

de criação de evidência e os sistemas de informação<br />

que lhe estão associados;<br />

2. Identificar as barreiras e problemas existentes associados<br />

à gestão do medicamento nas Unidades <strong>Hospitalar</strong>es<br />

do SNS.<br />

Também em análise na edição deste ano do Fórum<br />

do Medicamento estão os desafios do financiamento<br />

de tecnologias inovadoras e a necessidade de<br />

serem encontradas novas respostas face aos novos<br />

desafios que se colocam aos sistemas de saúde. Uma<br />

vez mais esta iniciativa trará até nós o estado da arte<br />

nacional e na Europa sobre estas temáticas e para<br />

perspetivar quer as implicações quer as alternativas<br />

para Portugal contaremos com as palestras de António<br />

Araújo, Presidente do Conselho Regional do<br />

Norte da Ordem dos Médicos, que nos apresentará<br />

os “Contributos para a construção de uma Via<br />

Verde do Pulmão” e com Wouter van Leeuwen,<br />

partner e Diretor da Boston Consulting Group, que<br />

nos falará do exemplo holandês para “A standartização,<br />

o benchmarking e o trabalho colaborativo como<br />

promotores da melhoria contínua”.<br />

À semelhança das edições anteriores o Fórum do Medicamento<br />

<strong>2019</strong> será também emitido em livestream<br />

no Canal APAH “<strong>Gestão</strong> em Saúde” no YouTube permitindo<br />

assim a participação de todos os interessados.<br />

Marque já na sua agenda. Ã<br />

Por ocasião da Comemoração dos 50 Anos da Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> em Portugal, a APAH presta homenagem às<br />

seguintes personalidade distinguindo-as como:<br />

S Ó C I O S d e H O N R A<br />

A n t ó n i o C o r r e i a d e C a m p o s<br />

A u g u s t o M a n t a s<br />

C o r i o l a n o F e r r e i r a<br />

D o n H o l l o w a y<br />

E d u a r d o C a e t a n o<br />

J o s é C a l d e i r a d a S i l v a<br />

SÓCIOS DE MÉRITO SÓCIOS DE HONRA<br />

António Correia de Campos<br />

Don C. Holloway Jr.<br />

António Menezes Duarte<br />

João Urbano<br />

Jorge Simões<br />

S Ó C I O S d e M É R I T O<br />

Margarida Bentes<br />

A n t ó n i o M e n e z e s D u a r t e<br />

E d u a r d o S á F e r r e i r a<br />

F á t i m a N o g u e i r a<br />

F e r n a n d a D i a s<br />

J o ã o U r b a n o<br />

J o ã o S a n t o s C a r d o s o<br />

J o r g e S i m õ e s<br />

J o r g e V a r a n d a José Nogueira da Rocha<br />

J o s é C a r l o s L o p e s M a r t i n s<br />

J o s é M e n e s e s C o r r e i a<br />

J o s é N o g u e i r a d a R o c h a<br />

J ú l i o R e i s<br />

M a n u e l D e l g a d o<br />

M a r g a r i d a B e n t e s<br />

R a u l M o r e n o<br />

V a s c o R e i s<br />

José Meneses Correia<br />

Augusto Mantas<br />

Eduardo Caetano<br />

Eduardo Sá Ferreira 1<br />

Maria de Fátima Nogueira<br />

Coriolano Ferreira<br />

José Caldeira da Silva<br />

Fernanda Dias<br />

João Santos Cardoso 2<br />

Jorge Varanda 3 José Carlos Lopes Martins 4<br />

Júlio Pereira dos Reis<br />

Manuel Delgado 5<br />

Raúl Moreno Rodrigues<br />

Vasco Reis<br />

1<br />

Presidente da APAH<br />

(1981-1984),<br />

2<br />

Presidente da APAH<br />

(1984-1987),<br />

3<br />

Presidente da APAH<br />

(1988-1992),<br />

4<br />

Presidente da APAH<br />

(1986-1989),<br />

5<br />

Presidente da APAH<br />

(1992-2008).<br />

www.apah.pt<br />

54<br />

55


GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

CERIMÓNIA COMEMORATIVA<br />

DOS 50 ANOS DA<br />

ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR<br />

EM PORTUGAL<br />

Foto de família.<br />

Abertura da Cerimónia: Alexandre Lourenço (Presidente da APAH), Marta Temido (Ministra da Saúde), João Pereira (Diretor da ENSP).<br />

Em Portugal, a Profissão de Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong>, então chamada de<br />

“provedor”, já vem expressa no “Regimento<br />

do Hospital de Todos os Santos”<br />

de 1504. Mas é com a revista<br />

“Hospitais Portugueses”, editada em 1948 por Coriolano<br />

Ferreira, que a criação da profissão é relançada.<br />

Nos anos subsequentes, a administração hospitalar<br />

vai alastrando pelos hospitais portugueses num<br />

contexto de controvérsia em que se discutia, com<br />

vários pretextos, a quem devia ser entregue o poder<br />

nos hospitais: médicos, e de entre estes, docentes<br />

universitários de Medicina, ou figuras de emanação<br />

política. Ao mesmo tempo, reforçando a argumentação<br />

favorável à profissionalização da administração<br />

hospitalar, e seguindo à distância o percurso dos Estados<br />

Unidos onde esta opção surgira no final da década<br />

de 20 do século passado, defendia-se a criação<br />

de uma formação específica.<br />

Em 1968, o Decreto-lei n.<strong>º</strong> 48.357 e o Decreto-lei n.<strong>º</strong><br />

48.358, ambos de 27 de abril, para além de estabelecerem<br />

que “os estabelecimentos e serviços hospitalares<br />

devem organizar-se e ser administrados em termos<br />

de gestão empresarial” (artigo 35.<strong>º</strong> do Decreto-Lei n.<strong>º</strong><br />

48.357) criam e regulamentam a carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>.<br />

Decorrido meio século de história, a APAH realizou no<br />

passado dia 24 de abril, pelas 14h30, no Salão Nobre da<br />

Escola Nacional de Saúde Pública, a Cerimónia Comemorativa<br />

dos "50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em<br />

Portugal", cuja Sessão de Abertura contou com a participação<br />

da Ministra da Saúde, Prof.ª Doutora Marta<br />

Temido, acompanhada pelo Prof. Doutor João Pereira,<br />

Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e por Alexandre<br />

Lourenço, Presidente da APAH.<br />

No decurso desta Cerimónia, foram vários os momentos<br />

de homenagem ao contributo dos Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es para a construção do Serviço Nacional de<br />

Saúde, começando pela exibição do vídeo de tributo<br />

à vida e obra do Professor Coriolano Ferreira, seguida<br />

de uma intervenção do Professor Nogueira da Rocha.<br />

Foi igualmente atribuído o Prémio Professor Coriolano<br />

Ferreira, que visa distinguir anualmente o melhor aluno<br />

do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

(CEAH) da Escola Nacional de Saúde Pública, e que<br />

nesta edição foi entregue à aluna Mavilde Vitorino.<br />

Respeitando o mote dado pelo Presidente da APAH,<br />

Alexandre Lourenço, no seu discurso inicial: “Foram várias<br />

as gerações de homens e de mulheres que ao longo<br />

do tempo contribuíram para a construção de melhores<br />

e mais eficientes serviços de saúde. Esta Cerimónia é<br />

sobre estas pessoas”, a Cerimónia prosseguiu com a homenagem<br />

e distinção entregue aos Sócios de Honra e<br />

Sócios de Mérito da APAH.<br />

A APAH distinguiu António Correia de Campos, Augusto<br />

Mantas, Coriolano Ferreira, Don Holloway, Eduardo<br />

Caetano e José Caldeira da Silva como Sócios de<br />

Honra; e distinguiu António Menezes Duarte, Eduardo<br />

Sá Ferreira, Fernanda Dias, João Urbano, João Santos<br />

Cardoso, Jorge Simões, Jorge Varanda, José Carlos Lopes<br />

Martins, José Meneses Correia, José Nogueira da<br />

Rocha, Júlio Reis, Maria de Fátima Nogueira, Manuel<br />

Delgado, Margarida Bentes, Raúl Moreno e Vasco Reis,<br />

como Sócios de Mérito.<br />

A Cerimónia terminou com a sessão de lançamento do<br />

livro “50 anos em 20 olhares. O percurso da Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> em Portugal”, que pretende ser uma<br />

reconstrução histórica dos principais marcos que diferenciaram<br />

esta carreira profissional, contada na primeira<br />

pessoa, através de um conjunto de entrevistas a<br />

grandes nomes da Administração <strong>Hospitalar</strong> cujo legado<br />

muito contribuiu para a desenvolvimento das<br />

Instituições de Saúde e do SNS, nas últimas cinco décadas.<br />

A apresentação contou com os comentários de<br />

anteriores Ministros da Saúde, Maria de Belém Roseira<br />

e Paulo Macedo. Ã<br />

56 57


GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

Lançamento Livro “50 anos em 20 Olhares”, Alexandre Lourenço, Paulo Macedo (ex. Ministro da Saúde), Maria de Belém Roseira (ex Ministra da Saúde), Carla Pedro<br />

(autora do livro). Na foto ao lado, Mavilde Vitorino, vencedora do Prémio Coriolano Ferreira <strong>2019</strong>, ladeada por Sílvia Lopes (ENSP) e Filomena Santos (IQVIA).<br />

Cerimónia de distinção aos Sócios de Honra da APAH.<br />

Cerimonia de distinção aos Sócios de Mérito da APAH.<br />

58 59


GH Iniciativas APAH<br />

60<br />

61


GH Informação técnica e comercial<br />

MONITORES MÉDICOS LG TECNOLOGIA<br />

INTELIGENTE E DESIGN SOFISTICADO<br />

Com uma vasta oferta de tecnologias e<br />

soluções para o mercado empresarial,<br />

a LG está rapidamente a tornar-se líder<br />

no mercado B2B. Os produtos da Empresa<br />

de Soluções Comerciais da LG<br />

incluem gamas de monitores LCD, ecrãs comerciais<br />

versáteis, infotainment auto e soluções telemáticas, sistemas<br />

avançados de som e sistemas de segurança melhorados<br />

digitalmente. A LG continuará a investir nestas<br />

áreas de produtos e soluções comerciais, estabelecendo<br />

novos padrões em tecnologia.<br />

A empresa salienta que a sua área comercial de monitores<br />

está a crescer mais rapidamente do que a média<br />

do mercado devido à mistura perfeita de tecnologia<br />

inteligente e design sofisticado. A LG dedicou muitos<br />

esforços à criação de monitores LCD amigos do<br />

ambiente com diminuição dos consumos energéticos<br />

e eliminando materiais prejudiciais, como o mercúrio.<br />

Na oferta para o segmento dos monitores, a marca<br />

destaca os monitores IPS que proporcionam imagens<br />

nítidas com alterações suaves nas cores, independentemente<br />

do ângulo de visualização. A qualidade de<br />

imagem do monitor cirúrgico da LG cumpre aos requisitos<br />

das salas de operações. Com o seu ecrã IPS<br />

com 8MP e 27", o monitor cirúrgico melhora a eficiência<br />

de trabalho, não só ao permitir uma observação<br />

mais detalhada, como também ao exibir múltiplas<br />

aplicações de imagiologia.<br />

É relevante destacar o facto de que, no campo da medicina,<br />

os monitores devem disponibilizar imagens<br />

precisas e de uma forma consistente, especialmente<br />

para as escalas de cinzas que podem até variar entre<br />

dois monitores do mesmo modelo. Para assegurar o<br />

sombreado mais consistente e preciso que é possível<br />

para imagens médicas, a LG mede e estabelece todas<br />

as escalas de cinza na linha de produção para produzir<br />

um monitor que cumpra com o DICOM Part 14.<br />

Um outro exemplo da fiabilidade das soluções da<br />

empresa expressa-se na certificação pelo Infarmed<br />

do Monitor de Revisão Clínica de 1,3 MP, que apresenta<br />

enorme fidelidade na reprodução de imagem<br />

e é adaptado às necessidades e requisitos dos equipamentos<br />

de diagnóstico médico.<br />

Este monitor médico cumpre com a Norma ISO22<br />

196 (medida anti-microbiana incorporada para inibir<br />

o crescimento de bactérias que possam afetar o in-<br />

vólucro deste produto). Tem tecnologia Flicker Safe,<br />

que reduz a cintilação no ecrã, minimizando o cansaço<br />

visual e a fadiga ocular. Ao combinar o Flicker Safe<br />

com a qualidade de imagem provada da tecnologia<br />

IPS, os utilizadores podem trabalhar confortavelmente<br />

ao longo do dia.<br />

A LG assegura também a sua alta durabilidade e o fato<br />

de ser anti riscos para proteger o ecrã durante um<br />

procedimento cirúrgico. O ecrã frontal do monitor cirúrgico<br />

da LG tem um nível de proteção IP35 e na parte<br />

de trás tem um nível IP32, protegendo-o contra<br />

água ou fluídos com os quais possa entrar em contacto<br />

durante uma operação. Além das proteções de<br />

impermeabilização, a sua superfície lisa permite a limpeza<br />

fácil do painel 8MP e dos botões de controlo.<br />

A destacar ainda o vidro de ligação ótico que reduz<br />

consideravelmente s reflexão interna entre o vidro<br />

exterior e o LCD para melhorar a precisão. Esta capacidade<br />

anti reflexiva melhorada permite um ecrã<br />

mais brilhante e acentuado para a mais alta qualidade<br />

de imagem. Ã<br />

A LG destaca as seguintes soluções<br />

diferenciadas para o universo hospitalar:<br />

Monitor de Revisão Clínica de 1,3 MP<br />

Estrutura de plástico com propriedades anti-bacterianas<br />

330 cd/m2 e NTSC de 72%<br />

Rápido tempo de resposta<br />

Estabilização de brilho<br />

Two-Way Pivot<br />

Monitor de Revisão Clínica de 8MP 4K<br />

Estrutura de plástico com propriedades anti-bacterianas<br />

350 cd/m2 e sRGB a99%<br />

Rápido tempo de resposta<br />

Estabilização de brilho<br />

Monitor de Diagnóstico IPS 3MP de 21,3"<br />

Ecrã IPS 3MP de 21.3”<br />

Sensor automático de luminosidade<br />

Calibração Automática e Remota<br />

Design Ergonómico<br />

Monitor Cirúrgico 27" IPS 8MP Premium<br />

UHD<br />

Ecrã IPS 8MP Premium UHD<br />

sRGB superior a 99%, sRGB a 115%<br />

Video Anti-Reflexo<br />

Dynamic Sync Mode e Tempo de Resposta Rápido<br />

IP35 & IP32 Resistente a Poeiras e Água<br />

62


MARCA A AGENDA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (julho - setembro <strong>2019</strong>):<br />

“3F - Financiamento, Fórmula para o Futuro” | Apresentação<br />

pública na Assembleia da República<br />

2 de julho de <strong>2019</strong>, Assembleia da República - Lisboa<br />

Apresentação pública das recomendações do projeto “3F - Financiamento,<br />

Fórmula para o Futuro” e do desenvolvimento dos<br />

Projetos Piloto FAROL e POLARIS a decorrer no IPO Porto e<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Trás-os-Montes e Alto Douro. Todos os conteúdos<br />

apresentados no âmbito desta apresentação pública estão<br />

disponíveis para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />

no Youtube. Mais informações em https://apah.pt/portfolio/3f/<br />

“AVC e Doenças Cardiovasculares” | Momentos Expresso<br />

3 de julho, Montes Claros - Lisboa<br />

A iniciativa contou com a participação de Delfim Rodrigues, Vice-Presidente<br />

da APAH, no painel de debate “Mudar a primeira<br />

causa de morte em Portugal - uma missão de todos” incluído no<br />

evento ‘AVC e Doenças Cardiovasculares’.<br />

Uma organização do Expresso com o apoio da Bayer Portugal que<br />

incluiu a apresentação das primeiras conclusões do estudo “Impacto<br />

económico da aterosclerose em Portugal” realizado pelo<br />

Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência.<br />

7.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em<br />

Saúde” | “O papel do Líder na implantação de projetos<br />

de gestão da experiência do paciente”<br />

30 de julho de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />

O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de<br />

Saúde” é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />

da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e<br />

promover a excelência na gestão da saúde através da discussão de<br />

temas relevantes para os gestores de saúde que exercem funções<br />

no Brasil e em Portugal. Esta edição foi dedica ao “O papel do líder<br />

na implantação de projetos de gestão da experiência do paciente”<br />

e teve como oradora Andréa Drumond, Presidente do Chapter de<br />

ACADEMIA<br />

Controlo de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> | Seminário PADIS<br />

1 e 2 de julho de <strong>2019</strong> - AESE Business School<br />

Esta formação inserida na Academia APAH foi assegurada pela<br />

AESE e teve como objetivo fortalecer a formação contínua dos<br />

profissionais de saúde que desempenham funções de gestão e<br />

Santa Catarina do CBEXs. Todos os conteúdos apresentados no<br />

âmbito deste webinar estão disponíveis para visualização no “Canal<br />

APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube.<br />

EAHM <strong>2019</strong> | Innovative Healthcare Strategies<br />

12 e 13 de setembro de <strong>2019</strong>, Ghent - Bélgica<br />

A edição 28.<strong>º</strong> do Congresso da European Association of Hospital<br />

Managers (EAHM) foi este ano dedicado ao tema “Innovative<br />

Healthcare Strategies” tendo a organização ficado a cargo da Belgian<br />

Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH). A iniciativa<br />

na qual participou uma delegação portuguesa, composta por<br />

35 gestores em saúde, contou igualmente com a moderação de<br />

Alexandre Lourenço, Presidente da APAH, na sessão “Innovation<br />

Awards <strong>2019</strong>”. Veja a reportagem nesta edição. Mais informações<br />

em: http://eahm<strong>2019</strong>.eu/venue/ghent-belgium<br />

ECCO <strong>2019</strong> | Cimeira Europeia do Cancro<br />

13 de setembro de <strong>2019</strong>, Bruxelas - Bélgica<br />

O Presidente da APAH, Alexandre Lourenço, participou como<br />

moderador da sessão “How does access to innovative cancer medicines<br />

fit in high quality cancer care and well-functioning health<br />

system as a whole?”.<br />

Mais informações em: https://www.eccosummit.eu<br />

19.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Instituto Português de<br />

Oncologia de Lisboa<br />

27 de setembro de <strong>2019</strong>, IPO Lisboa<br />

IPO Lisboa acolheu mais uma edição da iniciativa promovendo a<br />

conferência/debate “Medicina personalizada - O que mudou na<br />

prática clínica e na economia”. Todos os conteúdos apresentados<br />

no âmbito desta iniciativa estão disponíveis para visualização no<br />

“Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube.<br />

Para mais informações consulte https://apah.pt/portfolio/caminhodos-hospitais/<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes iniciativas formativas (julho - setembro <strong>2019</strong>):<br />

EVENTOS +<br />

Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2019</strong>:<br />

ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Prémio Healthcare Excellence | Reunião Final<br />

de eleição do Vencedor <strong>2019</strong><br />

Data: <strong>18</strong> de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Hotel Vila Galé Collection Braga<br />

Mais informações: ver artigo na presente edição e em https://<br />

apah.pt/portfolio/premio-healthcare-excellence/<br />

7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos<br />

de gestão centrados no cidadão e na comunidade<br />

Data: <strong>18</strong> e 19 de outubro de <strong>2019</strong><br />

que desejam aprofundar as suas competências na área de Controlo<br />

de custos hospitalares. A iniciativa contou com o apoio<br />

da ViforPharma. Conheça em detalhe o Programa do curso em<br />

https://apah.pt/noticia/academia-apah-seminario-padis-controlode-gestao-hospitalar/<br />

Local: Hotel Vila Galé Collection, Braga<br />

Mais informações em: http://www.apah.pt<br />

Novos Modelos de Contratação Pública<br />

| Que Futuro para a <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>?<br />

Data: 5 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: AESE Business School, Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/pec-events/novos-modelos-de-contratacao-publica-que-futuro-para-a-gestao-hospitalar/<br />

XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade<br />

e Sustentabilidade no Acesso à Inovação<br />

Data: 15 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: C. Cultural de Belém (Sala Sophia de Mello Breyner), Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forum<br />

-do-medicamento/<br />

CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Caminho dos Hospitais<br />

- Conferência/debate<br />

Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços<br />

Regionais de Saúde<br />

Data: Periodicidade trimestral<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />

Webinars Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />

Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />

Data: Periodicidade trimestral<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Webinars “Saúde Digital”<br />

Organização: Parceria APAH + SPMS<br />

Data: Periodicidade mensal<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde<br />

- Ciclo Conferências <strong>2019</strong><br />

Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos (SRNOM)<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracao-de-servicos-de-saude/<br />

APAH RECOMENDA em <strong>2019</strong><br />

Investir em saúde - Financiar anos de vida<br />

Organização: Janssen - Johnson & Johnson e Jornal de Negócios<br />

Data: 2 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Pavilhão do Conhecimento, Lisboa<br />

Mais informações em: https://cofinaeventos.com/conferenciainvestiremsaude/<br />

22 th European Health Forum<br />

Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)<br />

Data: 2 e 4 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Bad Hofgastein, Áustria<br />

SNS - O Futuro começa HOJE<br />

Organização: Fundação para a Saúde - SNS<br />

Data: 15 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa<br />

Prémio Pedro Pita Barros<br />

| Cerimónia de entrega do Prémio<br />

Organização: Associação Portuguesa de Economia da Saúde<br />

(APES)<br />

Data: 16 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Hotel Olissipo Oriente, Lisboa<br />

Mais informações em: http://apes.pt/atividades/premioppb-2<br />

16ª Conferência Nacional de Economia<br />

da Saúde (CNES)<br />

Organização: Associação Portuguesa de Economia da Saúde<br />

(APES)<br />

Data: 16 a <strong>18</strong> outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Hotel Olissipo Oriente, Lisboa<br />

Mais informações em: https://16cnes.apes.pt<br />

IHF Webinar | “Implementando um plano<br />

de longo prazo no NHS”<br />

Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />

Data: 16 de outubro de <strong>2019</strong> (13h00)<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações e inscrições em: https://zoom.us/webinar/<br />

register/2815695841614/WN_EwKjgOa8R_CmjBUOrqaaiw?-<br />

fbclid=IwAR2OT0ZvqpW-iQ-KAhRJKBMHGsmXh8In82_<br />

Fu4MFmgU0HuxqL9nlRjYr4HU<br />

Conferência AUA Hospitalização Domiciliária<br />

| Cerimónia de entrega de Prémios :: Hospital 2.0<br />

Organização: Angelini University Awards (AUA)<br />

Data: 17 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Local: Pavilhão do Conhecimento, Lisboa<br />

Mais informações e inscrições em https://aua.pt/pt/home-pt/<br />

C-Health Congress <strong>2019</strong> | Singularidade na Saúde<br />

Organização: IFE<br />

Data: 22 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Centro Cultural de Belém, Lisboa<br />

Mais informações e inscrições em: https://www.c-healthcongress.pt/<br />

43 rd World Hospital Congress | “People at the<br />

heart of health services in peace and crisis”<br />

Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />

Data: 7 a 9 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Muscat, Oman<br />

Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/<br />

INOFARMA: digital + healthcare<br />

Organização: INOFARMA<br />

Data: 14 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: NOVA SBE - Carcavelos<br />

Mais informações em: https://www.inofarma.org/<br />

13ª Edição do Prémio de Boas Práticas<br />

em Saúde® (PBPS)<br />

Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />

<strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />

Data: 21 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Edifício-sede da Polícia Judiciária, Lisboa<br />

Mais informações em http://www.apdh.pt/evento/2<br />

Conferência SNS no Feminino<br />

Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />

<strong>Hospitalar</strong> (APDH) e PWN Lisbon<br />

Data: 22 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Edifício-sede da Polícia Judiciária, Lisboa<br />

Mais informações em http://www.apdh.pt/evento/3<br />

Health Care Summit <strong>2019</strong><br />

| Bridging the inequality gap through innovation<br />

Organização: POLITICO<br />

Data: 21-22 de Novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Amsterdão, Holanda<br />

Mais informações em: https://diievents.dii.eu/annual-health-care-summit/<br />

EHMA Executive Workshop<br />

| “Reconfiguring and leading the value-based<br />

hospital”<br />

Organização: European Health Management Association<br />

Data: 11-12 de dezembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Bruxelas - Bélgica<br />

Mais informações em: https://ehma.org/executive-workshop/<br />

64 65


2 PESSOAS<br />

POR SEGUNDO<br />

120 PESSOAS<br />

POR MINUTO<br />

172.800 PESSOAS<br />

POR DIA<br />

Este é o número<br />

de vidas que<br />

são melhoradas<br />

através das nossas<br />

tecnologias médicas<br />

e terapêuticas.<br />

Através da nossa<br />

missão de aliviar a dor,<br />

restabelecer a saúde<br />

e prolongar a vida,<br />

ajudamos todos os<br />

anos a melhorar a vida<br />

de milhões de pessoas<br />

em todo o mundo.<br />

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www.medtronic.pt<br />

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