Revista TOP100 2019
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ENTREVISTA <strong>TOP100</strong><br />
O veículo elétrico tem 1% das peças móveis de um automóvel<br />
com motor de combustão interna. Não há filtros, óleos,<br />
velas, injetores, bielas e cambotas. Nada<br />
C<br />
O<br />
horizonte eletrificado do mundo<br />
automóvel está a obrigar os<br />
grandes construtores mundiais<br />
a mudanças estruturais nas<br />
suas linhas de produção e a investir<br />
fortunas para não passarem ao lado da<br />
revolução – já em marcha. No caso do mercado<br />
de pós-venda, porém, o futuro, ainda<br />
que distante, parece ainda mais carregado<br />
de ameaçadoras nuvens. Henrique Sánchez,<br />
um dos fundadores e presidente da Associação<br />
dos Utilizadores de Veículos Elétricos<br />
(UVE), acredita que este tipo de modelos são<br />
o “pesadelo do aftermarket”. Porquê? Desde<br />
logo, porque são veículos que fazem centenas<br />
de milhar de quilómetros sem terem um<br />
único problema. Um elétrico tem apenas 1%<br />
das peças móveis de um veículo com motor<br />
de combustão interna. Não há filtros, óleos,<br />
velas, injetores, bielas e cambotas. Nada”, começa<br />
por explicar. “O motor elétrico não tem<br />
peças a fazer fricção umas nas outras. Não há<br />
necessidade de sistemas de arrefecimento de<br />
água ou de ar. É muito mais eficaz e não tem<br />
problemas”, defende. “O que torna o veículo<br />
elétrico mais caro, no momento da sua aquisição?<br />
A bateria. São caras e os grandes construtores<br />
de automóveis não as produzem.<br />
Fabricam motores de combustão interna,<br />
processo onde dominam toda a cadeia. Mas<br />
têm de recorrer aos fabricantes de baterias,<br />
da mesma maneira como buscam tecnologia<br />
em empresas da especialidade. A questão é<br />
que não há baterias suficientes”, acrescenta.<br />
Indústria contra-ataca<br />
O presidente da UVE é da opinião de que a<br />
indústria automóvel, no seu todo, está consciente<br />
da mudança de paradigma. E estará<br />
a tentar reagir. “Muitos presidentes e CEO<br />
de marcas de automóveis e de empresas de<br />
aftermarket têm demonstrado essa preocupação.<br />
Normalmente, são anti-mobilidade<br />
elétrica. Porque sabem que é o fim do modelo<br />
de negócio como tinham até agora. Claro que<br />
haverá outros modelos. Mas, como em todas<br />
as revoluções, esta implicará uma enorme<br />
perda de postos de trabalho”, refere. Por outras<br />
palavras, terá de existir uma forte e empenhada<br />
capacidade de adaptação de todos.<br />
Prova disso, é a aposta dos construtores germânicos<br />
em redes de postos de carregamentos<br />
de veículos elétricos, como, por exemplo,<br />
a ChargeNow, da BMW – inaugurada, no<br />
nosso país, no verão passado. Uma rede que,<br />
em breve, poderá alargar-se a outra marcas<br />
alemãs. O que se segue? “Não será necessário<br />
sequer um contrato com a EDP ou com a<br />
Galp, por exemplo, para carregar o veículo<br />
elétrico. Poderá fazer-se numa destas redes”,<br />
esclarece Henrique Sánchez. “Esta é uma<br />
mudança radical. Estão a adaptar-se, a marcar<br />
posição na comercialização da eletricidade.<br />
Ainda no outro dia ouvi um responsável<br />
de um grande fabricante afirmar que a marca<br />
já tinha apresentado o seu último motor de<br />
combustão interna. Ele está consciente. Os<br />
motores que existirem passarão a equipar os<br />
híbridos plug-in. Mas não haverá mais investimento<br />
nos motores tradicionais, porque,<br />
sempre que uma marca desenvolve um motor,<br />
gasta milhões de euros e demora anos até<br />
colocá-lo dentro do carro e a comercializá-lo.<br />
Quando o conseguisse, dentro de quatro ou<br />
cinco anos, já não valeria a pena”, afirma.<br />
Estado sólido das baterias<br />
O pós-venda automóvel também está a ajustar-se<br />
a uma nova realidade. Com as suas armas<br />
e conhecimento. Mas todo o processo<br />
demora o seu tempo. O tecido empresarial<br />
está a formar-se em baterias e veículos elétricos,<br />
cientes de que será para aí que a indústria<br />
caminhará, cada vez mais. “Formar<br />
técnicos especializados é essencial”, reforça<br />
Henrique Sánchez, sublinhando, neste<br />
contexto, a rede Evolution, criada de raiz e<br />
100% dedicada a estes modelos, dispondo,<br />
até ao momento, de três oficinas, distribuídas<br />
pelo Prior Velho, Batalha e Feijó.<br />
“O problema não é tanto em relação aos travões<br />
ou direção. Isso qualquer oficina resolve.<br />
Em caso de avaria ou falha da bateria, isso<br />
sim, será importante saber o que fazer”, diz.<br />
Sucede que não existem assim tantos problemas<br />
com baterias. “As baterias dos elétricos<br />
não fazem contacto. Funcionam por indução.<br />
Não avariam. Por isso, têm uma garantia<br />
de oito anos e 160 mil quilómetros. No caso<br />
da Tesla, por exemplo, a quilometragem é ilimitada<br />
e nem sequer estabelecem um plano<br />
de revisões. Convidam os clientes a aparecer<br />
quando quiserem”, sublinha.<br />
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