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RCIA - ED. 73 - AGOSTO 2011

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artigo

Eu me lembro

* Luiz Carlos Bedran

Agosto, mês do desgosto. Pode já tê-lo sido para o País, como na intensa

comoção popular que se deu por ocasião do suicídio de Getúlio

Vargas ou então na estabanada e estranha renúncia de Jânio Quadros,

que se disse vítima das “forças ocultas” (segundo consta, etílicas), mas

não se pode dizer que esse mês, para a nossa cidade, é ou tenha sido

aziago. Ao contrário, ele o é e sempre foi o da alegria pelo aniversário de

Araraquara. Uma jovem cidade que não tem nem dois séculos, de um

país que tem pouco mais de 500 anos.

Então, parodiando Fellini em “Amarcord” (“io me recordo”, no dialeto

da Emília Romagna, onde nasceu, em Rimini), eu me lembro de Araraquara

há meio século. Uma cidade pequena, de não mais de 60.000 habitantes,

delimitada pelos quatro bairros principais: Vila Xavier, Carmo,

São Geraldo e Melhado.

Na Vila, então, que não ia muito mais além do Largo da Igreja do Santo

Antônio (e que ainda era de terra batida), havia sua gangue, tradicional

rival da gangue do Carmo. E o limite era o pontilhão da Estação.

Lá havia três sujeitos briguentos e um tanto esquisitos. Pareciam -

dos quatro - os verdadeiros cavaleiros do Apocalipse. Costumavam imponentemente

descer a Vila até o centro da cidade, a cavalo (vejam só!)

todos paramentados de preto, com chapéus de cowboy. Só faltavam os

revólveres. Procurando e provocando briga, claro. E ai de quem tentasse

enfrentá-los! Um deles era meu antigo colega do então Grupo Escolar

da Vila Xavier. Anos mais tarde, constrangedoramente, encontrei-o dentro

das grades. Um triste fim.

Eu também me lembro dos desfiles obrigatórios dos colégios estaduais

e particulares no dia 22 de Agosto. Para uns, uma agitação só; para

muitos outros, ter de levantar cedo, em pleno feriado, uma aporrinhação.

E apesar de se ser obrigado a ter de marchar ao som da poderosa e

barulhenta fanfarra do IEBA, depois compensava ao ver desfilar as meninas

do Colégio Progresso e do São Bento. Um colírio! Onde elas se escondiam

durante todo ano? Um mistério. E as balizas então! Que curvas!

E os abnegados professores de Educação Física (Júlio Mazzei, Horácio

Serafim, Eulália Schiavon, Conceição Fortes, entre outros) faziam de tudo

para que seus disciplinados alunos fossem vistos e admirados, com

seus uniformes impecáveis, pelos orgulhosos pais que, depois, iam tomar

sorvete no Kawakami da Av. São Paulo.

Eu me recordo dos cines Paratodos e Odeon, que, tal como o Cine

Paradiso, aquele filme de Giuseppe Tornatore, era a própria magia do cinema.

Os seriados dominicais, o escurinho do cinema, os faroestes, as

brigas dos mocinhos contra os bandidos (e sem deixar cair os chapéus!).

À noite, o então chamado “footing” na Rua Três, na saída do cinema,

coisa engraçada, nem parece que tenha existido, de tão bizarro hoje esse

costume inglês do século 19. Os moços parados, embaixo das árvores

(que ainda existiam na Rua São Bento) vendo as moças desfilar.

Assim como nas quermesses. E depois...

Bem, depois, pouco consigo recordar, uma vez que “nec plus ultra”,

não dá para ir mais além, por pudor e por respeito. E assim então, religiosamente,

tento seguir Santo Agostinho: “sedis animi est in memoria”: “a

sede da alma está na memória”...

* Luiz Carlos Bedran é sociólogo, jornalista

e colaborador da Revista Comércio & Indústria

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46 | COMÉRCIO INDÚSTRIA | AGOSTO 2011

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