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amigos, pipoca & filminho.

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O REALISMO FANTÁSTICO DE

Quando descobrimos o que acontece com Mia Weber (Wedler), uma jovem de 15 anos que passa a lidar

com transformações bizarras em seu corpo, de imediato associamos essa metamorfose física as transições

emocionais - e também palpáveis - comuns da adolescência. Os hormônios se afloram, o

BLUE

corpo

MY

muda,

MIND

as

sensações de deslocamento, de não compatibilidade dentro de um meio específico torna-se genérica. Em seu

realismo fantástico, Lisa Bruhlmann, que assina a direção e o roteiro deste Blue my Mind, até poderia

explorar melhor essas subcamadas dramáticas tão complexas desenvolvendo, quem sabe, um suspense mais

focado no psicológico e no esquizofrênico do que no real. Mas também há méritos em sua abordagem

sombria e que flerta muito bem com o terror e o cinema B. Talvez apenas com uma dosagem equivocada de

sutileza.

Mia é recém chegada a uma nova cidade, a uma nova escola. Sua relação com os pais é complicada,

sabemos pouco a respeito deles. Ao tentar se adaptar, fazer novos amigos, a garota acaba conhecendo

Gianna (Zoe Pastelle Holthuizen) e os membros de sua "gangue" - tentando inserir-se no grupo, a jovem

logo está partilhando das experiencias comuns dos jovens que se rebelam por motivo algum ou que só

buscam se divertir. Ela sai com pessoas que não tem interesse. Bebe, fuma, furta cosméticos no shopping.

A medida então que Mia se transforma, seus excessos acentuam-se, o convívio com os pais torna-se mais

conturbado - seu segredo, cada vez mais nocivo.

Blue My Mind, primeiro longa de Bruhlmann (que concebeu-o como trabalho de fim de curso e teve sua

estréia na competição Novos Diretores do Festival de San Sebastian na Espanha) traz uma narrativa

que consegue nos prender mesmo que o seu desfecho seja previsível. O bom ritmo empregado aqui, somandose

as boas atuações e uma direção de arte inteligente - embora ostensiva - são os grandes responsáveis

por isso. Sentimos empatia pela protagonista, somos tomados pelo medo que ela sente.Banhado em tons

variados de azul (desde a tinta nas paredes, a estação de metrô, as roupas ou o menor dos detalhes) as

composições de seus planos tornam diversas de suas capturas passagens que poderiam ser emolduradas -

sua fotografia é elegante, a trilha sonora tem um papel importante também. Mas fica, no fim, ainda a

sensação de que toda a sua abordagem poderia ter seguido um outro caminho, que pudesse explorar de

forma mais efetiva, e, desta forma, com maior sutileza, as complicações de uma protagonista que só faz

emergir em dores profundas.✦

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