Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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coisa na tua cabeça”, ele conta. Os efeitos colaterais são piores
para as travestis e transexuais que injetam hormônios sem
acompanhamento médico. “Muitas trans não têm dinheiro
para médico, aí conseguem o hormônio no mercado ilegal. É
mais barato, mas a dosagem não é a mesma, então tem efeitos
colaterais fortíssimos. Câncer no fígado, por exemplo.”
Apesar da complexidade da transição, Israel tem os pais a
seu favor. Vê isso como algo muito importante para qualquer
pessoa gay, lésbica ou trans que queira se assumir. “Se um pai
ou mãe percebe que a criança é assim, tem que oferecer apoio.
Eu já tentei suicídio. Meus pais sabiam, mas não tiveram a
sabedoria de conversar comigo e dizer que aquilo era normal.
Então se tu tens um filho gay, apoia ele, ajuda ele. Tem que
ter uma proteção em cima dele.” Contudo, não é o que Israel
vê acontecer nas famílias, em especial com as crianças transgêneras.
Conhece um caso em que os pais da criança fingem
que não percebem o que está acontecendo. “E se você tenta
ajudar, eles respondem que estás amaldiçoando o filho deles.”
Maldição mesmo é viver do jeito que não quer. Israel
conta os dias para o nascimento de Caroline e o começo de
uma nova fase. Tem o apoio do namorado, com quem mora
junto faz três anos, e dos pais. Até a parte religiosa da família
já está aceitando a questão de um jeito diferente. “A gente
tem muito essa coisa de pensar nos outros. Como os outros
vão me ver? O que eles vão achar de mim?”, Israel diz. “Mas
a vida já é uma coisa complicada de início. Aí se tu vem com
uma autenticidade, com algo que é só teu, isso gera bastante
conflito.”
Embora tenha deixado a religião para trás, Israel tem o
costume de sempre agradecer a Deus depois de superar qualquer
desafio. “As pessoas acham que por a gente ser Drag
Queen, gay, lésbica ou trans, não pode agradecer a Deus, não
pode acreditar em Deus. Mas eu acredito.” No fundo, sente
que muito do preconceito com o diferente tem a ver com
curiosidade e desejo reprimidos pela religião. “Eu sempre fui
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