Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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como ofensa. “Não, eu não te quero porque eu não te quero.”
As notícias dos jornais começaram a falar discretamente
sobre a homossexualidade. Em 12 de julho de 1986, o Diário
Catarinense registrou o fechamento definitivo do bar Peculiar
e Arte, porque vinha atraindo um número cada vez maior de
clientes de “má-reputação”. A reportagem traz o pronunciamento
de um vizinho do bar, que dá o tom: “A nocividade é
maior, em decorrência de serem certos frequentadores do Bar
Peculiar e Arte de má reputação (homossexuais, lésbicas, rufiões
e outros exemplares dessa fauna anômala) os quais, não
se satisfazendo com as orgias no interior do Bar, saem à rua
aos gritos e assoadas resultando em alterações mais adequadas
aos centros de libertinagem a que estão afeitos”.
Mas qualquer discrição desaparecia dos jornais nos tempos
de carnaval. Era aí que a Florianópolis fazia jus ao apelido
de “Capital Gay” do país, lotando as ruas de travestis, gays e
lésbicas nos blocos de sujos e nos festejos noturnos do centro
da cidade. Parte dessa tradição começou ainda na década de
1970, com o carnaval dos boêmios, artistas, jornalistas, gays,
lésbicas e travestis na Avenida Hercílio Luz, em frente ao bar
do Roma. Daí para todo o trecho da Alfândega e da Praça
XV, as ruas eram uma festa. Cada noite de carnaval marcava
um público de 10 mil pessoas, acotovelando-se para assistir
os blocos de todo tipo, sujos ou organizados, as escolas de
samba e os grupos carnavalescos que passavam nas ruas do
entorno da Praça XV.
O bar Roma, próximo ao Masmorra, delimitou uma linha
imaginária no carnaval de Florianópolis: ali, junto às caixas
de som, concentravam-se os gays, lésbicas e travestis que
queriam fazer festa longe da multidão mais preconceituosa. A
turma de Guilhermina aproveitou o carnaval naquele trecho
até a Prefeitura de Florianópolis resolver financiar e organizar
o carnaval do Roma, providenciando palcos e som com banda
ao vivo. A partir de 1993, com a criação do Pop Gay, a curtição
do carnaval cedeu espaço para o turismo LGBT.
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