Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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o assunto, devia aprender e estudar um pouco mais”, ele diz.
Quando ingressou na cena Drag Queen, ele mesmo tinha
preconceito com algumas coisas. Existia ainda a ideia de que
todas as travestis e transexuais necessariamente faziam programa.
Com o tempo, viu que não era bem assim. “Tem Drag
Queens e travestis que fazem programa, tem as que não fazem.
Eu nunca fiz. Tem trans que trabalha em salão de beleza,
mas é uma diferente da outra. Eu aprendi que as coisas podem
ser diferentes.”
Sobem as cortinas. Cassandra Vlabatski está com um
vestido longo e decotado, de cor indefinível sob o foco de
todos os holofotes, e sapatos de salto alto brancos. A peruca
é de uma cabeleira castanha avermelhada, que chega na altura
do ombro. A música, uma baladinha com piano, ganha força
junto com as palmas do público. A expressão de Cassandra é
de sofrimento. Vai dublando a música de uma forma até bem
comportada, mas no refrão pesca um cigarro do decote. A
plateia urra em resposta.
Cassandra acende o cigarro, traga uma, duas, três vezes.
Depois de alguns instantes, perde o interesse. Apaga-o no
palco, com a sola do sapato. Lá de trás do palco tira um saquinho
repleto de pó branco. A plateia parece estar ciente de
onde isso vai parar. Cassandra esvazia o conteúdo do saco no
chão, ajoelha-se e mete a cara nele. Atira o pó branco para
cima com as mãos, feito uma criança que se diverte na piscina.
Depois disso, fica de pé, envolta em uma nuvem branca
de pó, e caminha pelo palco. Poucos percebem de onde
ela tira a seringa. Fingindo estar cada vez mais entorpecida,
Cassandra aplica a agulha de mentirinha. Esfrega o nariz, remexe-se
sobre os sapatos de salto alto. Termina a canção com
um sorriso discreto, que talvez não fizesse parte dos planos.
A plateia faz tanto barulho que é preciso cobrir os ouvidos.
Gritam seu nome. Outros tantos assobiam. Em resposta, ela
apenas sorri. Cumpriu o seu trabalho da noite.
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