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Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

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“Me traz um cabo de vassoura”, Sueli pediu. De mão em

mão, veio o cabo, que serviu como suporte de microfone.

Sueli o apoiou em uma cadeira. Tudo em seu lugar, começou

a tocar.

Os amigos apinhavam os bares e boates. A presença de

homossexuais incomodava alguns donos de estabelecimentos,

que muito frequentemente apareciam ao término das apresentações

de Sueli, dizendo: “Veja bem, eu gosto do seu trabalho,

mas não vou mais te contratar. Minha casa não é uma casa gay,

entendeu?”.

Como Sueli não queria parar de fazer música, resolveu

que não ia mais convidar os amigos caso fosse contratada para

tocar em estabelecimentos voltados para o público heterossexual.

Deu certo. Já nos bares GLS, a festa era liberada. Um

deles era o Fulanos e Florianos, bar e boate que abriu no início

da década de 1980 nas imediações da Praça dos Bombeiros, no

Centro de Florianópolis. Como o dono do bar viajava muito

para a Europa e os Estados Unidos, trazia do exterior as músicas

do momento. E o pessoal gostava.

Quem não tinha tanto poder aquisitivo frequentava mais

o Escova, que ficava na esquina da rua Fernando Machado

com a Saldanha Marinho, endereço onde posteriormente viria

a funcionar o Masmorra. O Escova era assim: escondido,

abarrotado, só se entrava nele se conhecesse a senha da vez.

Aqueles que forneciam o código certo podiam subir para a

pista, depois de um corredor e uma escada, onde rolava a festa

de gays, lésbicas, travestis e prostitutas. Não tinha ainda a

questão da exclusividade do público – isso só foi acontecer a

partir da metade da década, quando os donos de estabelecimentos

começaram a deixar de fora as lésbicas e as travestis.

Sueli tocou muito naqueles bares dos arredores da Praça

XV. Em 1985, montou uma banda só de mulheres chamada

Ponta do Coral, em protesto contra a especulação imobiliária

que já ameaçava naquela época a região de mesmo nome, na

Beira Mar de Florianópolis. A banda ganhou certa notorie-

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