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Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

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pas largas, e amarrava o cabelo sob bonés. Tinha muito medo

de falar e interagir com pessoas. As únicas coisas que pareciam

fluir eram a dança e o teatro – participava de grupos artísticos

e, no final de semana, realizava trabalhos voluntários de dança

e teatro com crianças das comunidades de Florianópolis.

Deixou a escola por dois anos. Os rumos mudaram quando

participou de um concurso de Drag Queen na casa noturna

Mix Café, em Florianópolis. Terminou em segundo lugar e

começou a viajar o Brasil como a Drag Queen Aguillera.

Quando chegava o dia, Patrícia deixava de ser Aguillera

para se tornar uma figura andrógina, com um pouco de homem

e mulher ou nenhum dos dois. “Nunca me vi como menino”,

afirma Patrícia. “E quando estava de Drag, uma Drag

muito caricata, eu não me gostava.” Então, no final de 2010,

Patrícia chegou ao limite. Na fila do supermercado, uma

criança chamou a atenção da mãe, puxando a barra da blusa,

apontou para Patrícia e perguntou: “Mãe, porque aquela moça

tá vestida de homem?”

Não adiantava mais esconder. Patrícia ficou muito tempo

indecisa, considerando o estereótipo de que toda transexual

tem que fazer programa e que seria muito, muito mais difícil

conviver com o preconceito a partir dali. Pesou os pontos e

decidiu fazer a transição. “Achava que seria empecilho para

conseguir emprego, depois vi que não, que dificuldades existem,

mas conta mais a maneira como a pessoa se porta. As

pessoas acham que porque um determinado grupo faz, todo

mundo faz. Indiferente se é transexual, travesti ou gay. Eles

julgam que todo gay é afeminado, toda lésbica é agressiva...”,

diz Patrícia.

No Brasil, pelo menos 90% das travestis e transexuais

se prostituem, de acordo com dados da Associação Nacional

de Travestis e Transexuais (ANTRA). O número expressivo

reflete a dificuldade de travestis e transexuais conseguirem

emprego regular no mercado de trabalho. “As pessoas rotulam

muito sem realmente conhecer. Sem dar uma chance de

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