Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
tão eu estou aqui me identificando, dizendo quem eu sou”.
E Patrícia faz isso com frequência. A mãe, por exemplo,
até hoje não consegue chamá-la pelo nome social – e nem vai
tentar. Evangélica, tem dificuldade de aceitar algumas coisas.
A princípio, brigaram bastante, mas Patrícia assumiu outra
postura: “Como a gente mora em cidades diferentes, eu vou
aceitar que me chame como quiser. Tô deixando assim, sabe?
Ela faz do jeito que ela consegue, e isso não tem influenciado
muito pra mim”.
Já o pai parece se esforçar mais com a questão do nome.
Ainda não a chama de Patrícia, mas também não usa o nome
de registro. Com a família de sua atual esposa, não existem
dúvidas: é Patrícia, e ponto final. Na família do pai, quase todos
os primos, tios e tias utilizam o nome social para se referirem
a Patrícia. Quase todos. Quando não acontece, logo se
corrigem. “Mas acho que é a maneira que eu me imponho, no
final. Eu tenho que tomar meu ponto de referência”, explica
Patrícia. A família vai lidando com as diferenças a seu tempo.
Com o namorado de Patrícia foi assim, aos poucos.
Quando a conheceu, já pelo nome de Patrícia, o namorado
não sabia que ela era uma mulher trans. Nem imaginava.
Natural de São Paulo, veio para Florianópolis a estudo.
A família dele não aceita muito bem a situação, mas a dela
respeita bastante o casal. Tanto é que, no casamento da irmã
de Patrícia – filha do pai em seu novo casamento –, Patrícia foi
acompanhada do namorado. O pai até o cumprimentou, mas
com expressão de desconforto. Antes disso, já tinha proibido
o namorado de ir na comemoração de dia dos pais. Patrícia insistiu.
Nessas horas, é muito importante que a família inteira
respeite seu nome social. “Por mais que meu namorado saiba
meu nome, ele me conheceu como Patrícia. Seria desconfortável
pra ele ver alguém me chamando por outro nome.”
O progresso de Patrícia com o pai é gradual e delicado.
Depois daquele primeiro reencontro, no Centro de Florianópolis,
vieram outros, sempre em tom bastante formal. E, para
57