Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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ele, ver o modo como as outras pessoas se referem a ela deve
ter gerado alguma conclusão. Apesar de não ser entendida de
todo, a transexualidade da filha ganhou uma explicação religiosa:
no Espiritismo, considera-se que os espíritos não têm
sexo, portanto podem encarnar tanto em um corpo masculino
como feminino. Foi o que a tia de Patrícia disse ao pai. E isso
pode ter surtido algum efeito... “Talvez eu tenha o respeito do
meu pai, depois que ele me conheceu e viu quem eu realmente
sou”, Patrícia conta.
Desde que transicionou, sente-se mais forte e confiante.
“Sempre fui uma pessoa muito difícil de fazer amizade, talvez
por medo. Era uma coisa de insegurança, de não saber lidar.
Agora sou mais segura. Se tiver que entrar num bar de beira
de esquina para pedir um copo de água, eu entro. Antigamente,
nunca.” Apesar disso, tem poucas amigas trans, travestis
e gays. Acredita que uma das razões para isso é ter fugido do
estereótipo de que toda mulher trans tem que ser garota de
programa. “O próprio mundo gay não dá chance para conhecer
outras pessoas, julgam que é tudo a mesma coisa.”
Aos 29 anos, Patrícia já não dança mais. O teatro também
ficou de lado com a falta de tempo, mas persistiram a comunicação
e a habilidade de contar coisas. Histórias. Patrícia conta,
por exemplo, que às vezes pensa em ter filhos, adotar, formar
uma família. Mas vai depender muito de sua situação financeira.
Sobre a carreira, também não sabe dizer ainda. Talvez siga
na área de Arquivologia, curso que está quase finalizando, ou
talvez parta para algo a ver com linguagem e palavras. Não
sabe ainda. E essa é a graça da coisa.
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