Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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no Brasil – como pessoas com transtornos de identidade de
gênero.
Algumas pessoas trans não-binárias de fato relatam sentir
disforia, que para a psiquiatria é o humor que inclui tristeza,
angústia e pessimismo, geralmente relacionados com perda
de interesse e prazer em realizar atividades cotidianas. Nesse
caso, todavia, a disforia está ligada a um sentimento diferente:
é como se o corpo não “encaixasse” bem com a forma como
o indivíduo se percebe. Para algumas pessoas trans, essa sensação
pode durar a vida inteira. É com o intuito de sanar esse
desencontro que muitas se hormonizam e realizam cirurgias
de redesignação sexual.
Lana passou por um processo semelhante, mas ao contrário
do que esperava, a disforia só aumentou com a hormonização.
Foram seis meses de auto-medicação, período em que já
começaram a aparecer os primeiros efeitos dos hormônios no
corpo. Lana acha muito difícil explicar a sensação. “É muito
sutil”, afirma. Sentia a Tensão Pré-Menstrual (TPM) todos os
meses, porque o remédio funcionava por ciclos. Os pelos pararam
de aparecer e as glândulas mamárias cresceram. A parte
mais complicada para Lana foi a diminuição drástica da libido,
da força e da disposição física. “Quando você se deprime,
você se deprime mesmo. Chegou a um ponto que comecei a
pensar ‘por que estou fazendo isso?’”
Assim que parou de se medicar, sentiu-se melhor com o
seu corpo. “Porque eu acho que eu comecei a construir uma
outra relação com a minha feminilidade, com o que eu entendo
que é ser trans. Isso ajuda muito a viver esse corpo que
eu tenho agora.” Algumas amigas de Lana, que apostaram na
auto-medicação, não tiveram o mesmo resultado. A falta de
informação dos médicos torna a situação ainda mais problemática:
“Não tem médico que vá entender o fato de eu ser
uma pessoa não-binária. Nunca vai aprovar, nunca vai receitar
nada”.
Mesmo sem a aplicação de hormônios, cirurgia de rede-
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