05.03.2020 Views

Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

no Brasil – como pessoas com transtornos de identidade de

gênero.

Algumas pessoas trans não-binárias de fato relatam sentir

disforia, que para a psiquiatria é o humor que inclui tristeza,

angústia e pessimismo, geralmente relacionados com perda

de interesse e prazer em realizar atividades cotidianas. Nesse

caso, todavia, a disforia está ligada a um sentimento diferente:

é como se o corpo não “encaixasse” bem com a forma como

o indivíduo se percebe. Para algumas pessoas trans, essa sensação

pode durar a vida inteira. É com o intuito de sanar esse

desencontro que muitas se hormonizam e realizam cirurgias

de redesignação sexual.

Lana passou por um processo semelhante, mas ao contrário

do que esperava, a disforia só aumentou com a hormonização.

Foram seis meses de auto-medicação, período em que já

começaram a aparecer os primeiros efeitos dos hormônios no

corpo. Lana acha muito difícil explicar a sensação. “É muito

sutil”, afirma. Sentia a Tensão Pré-Menstrual (TPM) todos os

meses, porque o remédio funcionava por ciclos. Os pelos pararam

de aparecer e as glândulas mamárias cresceram. A parte

mais complicada para Lana foi a diminuição drástica da libido,

da força e da disposição física. “Quando você se deprime,

você se deprime mesmo. Chegou a um ponto que comecei a

pensar ‘por que estou fazendo isso?’”

Assim que parou de se medicar, sentiu-se melhor com o

seu corpo. “Porque eu acho que eu comecei a construir uma

outra relação com a minha feminilidade, com o que eu entendo

que é ser trans. Isso ajuda muito a viver esse corpo que

eu tenho agora.” Algumas amigas de Lana, que apostaram na

auto-medicação, não tiveram o mesmo resultado. A falta de

informação dos médicos torna a situação ainda mais problemática:

“Não tem médico que vá entender o fato de eu ser

uma pessoa não-binária. Nunca vai aprovar, nunca vai receitar

nada”.

Mesmo sem a aplicação de hormônios, cirurgia de rede-

62

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!