Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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por ter se assumido como trans. “As pessoas se apegam a uma
imagem de você, e quando você muda o nome, as pessoas
precisam construir uma imagem toda nova. Tem pessoas que
mudaram totalmente o jeito de me tratar quando me assumi
como trans.”
Por preconceito, desinformação ou descuido, o mais frequente
é que considerem Lana como um homem homossexual.
“Muitas vezes o que as pessoas chamam de lesbofobia e
homofobia é simplesmente transfobia”, ela explica. Percebeu
isso certo dia, quando vivenciou uma cena incomum na rua.
Um casal de homens, que caminhava de mãos dadas, entrou
em um veículo. O carro deu a partida, acelerou, e quando passou
por Lana, veio da janela o grito: “Morre, viado”. O casal
homossexual se endereçava a ela. “Eu achei que fosse conseguir
apoio e solidariedade com aquelas pessoas, e foi bem o
contrário. Recebi isso.”
*
A festa segue madrugada adentro. Amigos de todos
os cantos se reencontram para colocar os assuntos em dia,
abrem-se cervejas aqui, gargalhadas trovejam lá, e a música
abafa o burburinho das conversas. Perto do círculo de amigos
está um recém-formado casal homossexual, de mãos dadas,
ostentando alianças novas e reluzentes. Um dos namorados
se adianta: “Este aqui é o meu companheiro”. Não demora,
alguém lança a pergunta indiscreta: “E quem é o homem da
relação?”
Este tipo de questionamento se baseia na ideia de que
sempre vai haver um “homem” e uma “mulher” nas relações
entre as pessoas – ou, indo mais além, alguém que assuma o
papel social de submissão e outro que assuma o papel de dominação.
A isso, dá-se o nome de “relação heterossexual”. E
essa linha de raciocínio é falha porque não engloba as relações
entre as pessoas que fujam da norma – que é o caso de Lana.
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