Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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Como bissexual, Lana se interessa por pessoas de mais de
um gênero. Durante muito tempo de sua vida, viu-se obrigada
a cumprir papéis que não apreciava nas relações afetivas, em
especial quando ainda se identificava como homem. “Na hora
de transar com a pessoa, eu tinha momentos muito loucos.
Até no momento da penetração, tinha a sensação de não saber
quem estava penetrando quem. Essas sensações meio delirantes
que a gente tem, mas que têm muito a ver com as relações
que a gente cria”, ela explica. “Eu não queria ter relações heterossexuais
com as pessoas, e isso passava muito por não me
identificar como homem.”
Para Lana, um relacionamento tem mais a ver com se
atrair por uma pessoa com quem haja alguma identificação.
Mas nem sempre foi assim. “Se você se relaciona com uma
pessoa, dividindo a cama com ela, mas quem você mais admira
no mundo está fora dessa cama, se toda a sua energia se
concentra em uma pessoa de fora, isso cria uma relação muito
violenta.” Acontece que, com muita frequência, Lana percebe
as pessoas perdendo o interesse nela depois que se assume
como trans.
Por se atrair principalmente por mulheres, Lana acaba
pertencendo a um limbo: para as mulheres heterossexuais,
Lana é “bicha”; para as mulheres lésbicas, não é “uma mulher
de verdade”. E não é mesmo, mas esse argumento não parece
se aplicar às pessoas trans não-binárias AFAB (do inglês Assigned
Female At Birth, ou seja, assignadas mulheres ao nascer).
“Eu sou sempre o amigo viado das pessoas. Normalmente,
quando fico com alguém, é com pessoas bissexuais.” E mesmo
assim, os estranhamentos existem.
É aí que entra a solidão. Implacável e contínua. Lana tenta
lidar com isso da melhor maneira. Escreve, dança, toca violão.
Mas todo mundo gosta de afeto. E Lana também é gente,
só que ninguém vê.
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