20DESPORTOJosé PereiraÁRBITRO DE FUTEBOLAbril 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EUJosé Pereira, natural de Viseu, que actualmente tem 24anos de idade. Mas foi muito jovem, com apenas 16 anosde idade, que entrou no mundo da arbitragem, onde hojeem dia já esta no nível muito superior, participando emtodos internacionais. Já conta com uma carreira de 8anos e avizinha-se um futuro brilhante pela frente.
DESPORTO21JORGE MACIEIRALusitano Zurique - Quem é o José Pereira?José Pereira - Sou um jovem rapaz de 24anos que nasceu e cresceu em Herisau,cantão de Apenzeller, mas com as suasorigens na zona de Viseu. No meio de duasculturas tento tirar o melhor das duas partes,para mim. Estando envolvido em váriosprojectos, o que pessoalmente mais tempome ocupa de momento é a arbitragem.L.Z. - Em criança tinha jeito para jogarfutebol e/ou já mostrava apetência paraarbitrar?J.P. - Muito novo comecei a jogar futebolnas camadas jovens da equipa da minha vilaaqui na suíça. O talento não era muito, masa paixão pelo futebol era bem maior. A arbitragemsurgiu no decorrer do tempo e quepôs fim a minha actividade como jogador.L.Z. - Como surgiu e quando o José aomundo da arbitragem?J.P. - Tudo começa em um jogo que eu estavaa jogar como júnior B. Não gostei dodesempenho daquele árbitro que estavanaquele jogo. A minha frustração foi enormee logo ao fim do jogo dei a conhecerdirectamente ao árbitro. Mas como gostode desafios e queria ver e provar que conseguiafazer melhor, pouco tempo depoisme inscrevi para o curso de arbitragem.Ainda me lembro bem quando falei como meu treinador nas camadas jovens doHerisau, adorou a ideia e apoiou desde oprimeiro dia. Naquele tempo não imaginavao que me esperava, mas hoje olhopara trás e vejo que foi uma boa decisão.L.Z. - Qual a categoria que está nestemomento?J.P. - De momento desempenho 3 funçõespara a federação suíça de futebol: sou árbitroassistente na 1a Liga, onde estou a terminaro último ano da academia nacional,que potencia jovens talentos a passaremdas suas regiões para a federação nacional;como árbitro principal arbitro jogos na2ª liga regional; e depois ainda sou árbitrode futsal na Swiss Futsal Premier League.L.Z. - O José, por ser um árbitro jovem,sente que os jogadores têm mais oumenos respeito por ti do que por outrosárbitros mais velhos?J.P. - Comecei com 16 anos na arbitrageme quando passei a arbitrar jogos de seniorespor vezes notava que muitos jogadorestentavam coisas que, com árbitros maisvelhos, não faziam. Esses comportamentos,da parte dos jogadores, só me motivavama dar o meu melhor para mostrar queapesar de ser novo conseguia arbitrar ojogo sem problemas.L.Z. - Qual foi o jogo mais importanteque arbitrou?J.P. - No decorrer destes anos tive váriosjogos interessantes onde pude estar presente.A federação tenta constantementedar aos jovens talentos jogos que nos obrigamir aos nossos limites, para que a nossaaprendizagem e evolução seja maior.Em especial ficaram dois torneios internacionaisonde pude estar presente emAltstätten e Ruggell. Nestes torneios estavampresentes as camadas jovens devárias equipas como por exemplo Benfica,Leicester, Eintracht Frankfurt, SÁS.Internacional, etc., alguns dos jogadorespresentes nestes torneios hoje já jogamnas respectivas equipas principais.L.Z. - Qual o objectivo que tem traçadopara a sua carreira como arbitro?J.P. - No dia que entrei na arbitragem nuncapensei que iria alcançar tudo isto queconsegui até agora. O meu foco está emser árbitro assistente e no futsal. Tenhoque aproveitar todas as chances para daro meu máximo e demonstrar as minhas capacidadesda melhor maneira. Lutar muitoe ver ate onde posso chegar. Como é clarosonho em alcançar um patamar internacional,mas também sei tudo o que isso implicae que é impossível chegarem lá todos.L.Z. - Qual a visão como árbitro do actualfutebol na Suíça e mundial?J.P. - O profissionalismo do futebol é cadavez maior. Todos os envolvidos em campotêm que estar cada vez melhor preparadosfisicamente e psicologicamente.Arbitrei muitos jogos das camadas jovensaqui na suíça e vejo que há muito talento,tal como em Portugal também existe.Mas hoje em dia penso que só o talentonão chega para chegarem ao topo. Sócom muito trabalho e sacrifício é que osjovens talentos irão chegar ao topo dofutebol profissional. Pessoalmente gostode ver equipas que praticam um futeboldiferente do comum, treinadores queapostem em sistemas de jogos novos.L.Z. - As novas tecnologias (Var e Tecnologiada Linha de Golo) vieram melhoraro futebol ou tirar um pouco daessência do futebol?J.P. - O VAR muda o futebol e as emoçõesque envolve este desporto. Em primeiroestamos a falar de uma tecnologia queainda esta no início e que no decorrer dotempo com certeza que se ira adaptar emelhorar. Estas novas tecnologias entraramno futebol para corrigir erros óbviosem campo, vistos que qualquer arbitroquer arbitrar os seus jogos sem erros.Depois há outra coisa: há decisões quesão claras onde não há espaço de interpretaçãocomo por exemplo a tecnologiade linha de golo a bola entrou ou não. Poroutro lado, há decisões que são tomadasonde há uma certa interpretação, onde setem que fazer uma certa análise de váriosaspetos e aí nunca será possível agradara todos. Na minha visão todas as tecnologiasque ajudem a evitar erros óbvios egraves são uma mais-valia para o futebol.L.Z. - De tantos jogos que já arbitrou,tem alguma história para partilhar connosco?JP - Uma história especial é o meu primeirojogo na 5ª liga, como um jovem rapazde 17 anos. Nervoso pelo novo passo queestava a traçar junto de equipas seniores,consegui dirigir o jogo sem quaisquerproblemas e estava num óptimo caminhopara terminar o jogo. Até que ao minuto80, uns senhores vieram resolver uns assuntospessoais com um jogador em campo,e eu vi-me obrigado a terminar o jogonaqueles momentos, visto que não haviacondições para continuar aquele jogo. Omeu observador naquele jogo motivou-mee demonstrou-me claramente que aquilonão se tinha passado por causa de mim.Naquele momento vi que não está sempretudo nas nossas mãos, do outro lado motivou-mea dar ainda mais em cada jogo.Ainda pensei em desistir porque comopodem imaginar para um rapaz novo viveraquilo não é fácil, mas motivei-me e volteiainda mais forte e com mais vontade.L.Z. - Que conselho deixa a árbitrosmais jovens que agora iniciam a sua actividade?J.P.- A última opção é desistir. No decorrerde uma carreira haverá altos e baixos, oimportante é estar fixado nas coisas boase que brevemente haverá um próximo jogopara fazer tudo melhor. Dos jogos menosconseguidos o mais importante é ser auto-críticoe ver o que se poderá melhorarpara os próximos jogos. Mais importanteque qualquer avaliação pelo conselho dearbitragem, é manter a felicidade quandose esta a arbitrar. Posso dizer que terentrado tão cedo na arbitragem fez mecrescer e amadurecer muito mais rápido,e que foi e é uma grande escola de vida.L.Z. - Que mensagem deixa aos jogadores,treinadores, directores eadeptos como arbitro? Que conselhosdá para o melhor do futebol?J.P.- Todos trabalham para dar o seu melhornos dias dos jogos, por isso em primeirolugar: Respeito por todos que estãoenvolvidos neste desporto, tanto faz emque posto, porque todos são importantes.Penso que algo importante seria que todosos envolvidos no futebol procurassem ospróprios erros para depois poder opinarpelo dos outros e assim se evitaria muitosproblemas e escândalos. Emoções são umelemento do jogo, mas o mais importante ésaber, depois de um jogo, olhar para tudode uma maneira calma e objectiva.Abril 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU