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S U M Á R I O
JUNHO
05
10
17
29
52
ENTREVISTA
EM CHAMADA COM TERRY COSTA
ENTREVISTA
DEPUTADA CATARINA CABECEIRAS
ENTREVISTA
ARQUITETO NUNO COSTA
REPORTAGEM
IMPACTO DO COVID-19 NO SETOR DE
TURISMO
OPINIÃO
RÚBEN CARREIRO
57
24
58
60
62
DESTAQUE
FRASES DO MÊS
CRÓNICA
RICARDO SILVA
CRÓNICA
ORDEM DOS ENFERMEIROS DOS
AÇORES
CRÓNICA
ANTÓNIO VENTURA
A INsularidade e o Clima
IMPACTO DO COVID-19
Balanço da pandemia
na Poesia Regional
nos açores durante o
39 NOS FESTIVAIS DE VERÃO 44 53
mês de Maio
E D I T O R I A L
GATO ESCALDADO DE ÁGUA
FRIA TEM MEDO
O ditado popular, por tantos
conhecido, nunca fez mais
sentido do que hoje em dia no
panorama regional, nacional
e mundial que se vive. Os
Açores, desde o dia 05 de junho,
passaram a ser uma Região
COVID-FREE. A primeira
de Portugal, embora muitos
não acreditassem nesse feito.
A continuidade territorial,
tão aclamada pela República,
impediu que o fôssemos mais
cedo, mas tal como dizia Vasco
Cordeiro, não é este o tempo de
discutir reformas na autonomia
nem de andar com guerrilhas. É
tempo de pensar no futuro das
empresas, no motor da economia
açoriana. É tempo de pensar
no comportamento daqueles
a quem lhes foi pedido que
ficassem em casa e cumprissem
as normas da DRS e DGS
durante alguns meses. Depois
de termos sido bem sucedidos
nesse aspeto, agora pedem-nos
para retomarmos à normalidade,
mas “gato escaldado de água fria
tem medo”. Não que possamos
generalizar, mas ainda são
muitos aqueles que receiam
o contacto social, os jantares
em restaurantes, o convívio
com os amigos. E porquê?
Porque o medo é a arma mais
perigosa de todas as guerras.
Sem ser preciso qualquer tipo
de material de guerrilha, os
açorianos cumpriram, e muito
bem, tudo o que lhes foi pedido,
com essa “arma” apontada
às suas cabeças – o medo de
vivermos cenários parecidos
àqueles que se conhecem em
todos os meios de comunicação
04 NOJUN20
social internacionais – Estados
Unidos, Brasil, Espanha, Itália.
Uns pecaram por não escutar
quando era tempo para isso.
Outros porque não conseguiram
responder da melhor forma à
situação. Na nossa situação,
respondemos e muito bem.
Todavia, como é que vamos
responder agora aos turistas
que vão regressar no dia 15 de
junho? Mais uma vez – gato
escaldado de água fria tem
medo. Não que tenhamos
repulsa por essas pessoas – claro
que não, é graças a elas que o
motor da economia, que é o
turismo, consegue funcionar.
Mas o medo impera sempre,
por muito mais que não se
queira. Também, graças a
termos sido a primeira Região
em Portugal COVID-FREE,
começou a discussão da não
utilização da máscara social.
Podemos estar a viver o
“paraíso” na próxima semana,
mas o vírus é silencioso. Não
avisa quando e de onde vem,
apesar de o executivo açoriano
já ter preparado um conjunto de
normas que visem o controlo das
pessoas que chegam do exterior,
não significasse isso deitar por
terra todo o esforço e trabalho
feito até então. O Governo
Regional sabe, e bem, que esta
não é ainda a altura de baixar
as armas a este vírus. É altura
sim de mostrarmos a resiliência
arquipelágica destas ilhas tão
distante, mas tão unidas. Não
dizemos não ao turismo, desde
que isso nunca ponha em causa
a vida de quem vem e a vida e
os esforços por quem cá está.
CLAUDIA CARVALHO
DIRETORA ADJUNTA
FICHA TÉCNICA:
ISSN 2183-4768
PROPRIETÁRIO ASSOCIAÇÃO AGENDA DE NOVIDADES
NIF 510570356
SEDE DE REDAÇÃO RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,
9500-093 PONTA DELGADA
SEDE DO EDITOR RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,
9500-093 PONTA DELGADA
DIRETOR/EDITOR RUI MANUEL ÁVILA DE SIMAS CP3325A
DIRETORA ADJUNTA CLÁUDIA CARVALHO TPE-288A
REDAÇÃO CHEFE REDAÇÃO RUI SANTOS TPE-288 A,
CLÁUDIA CARVALHO TPE-288 A, SARA BORGES, ANA SOFIA
MASSA, ANA SOFIA CORDEIRO
REVISÃO ANA SOFIA MASSA
PAGINAÇÃO MÁRIO CORRÊA
CAPTAÇÃO E EDIÇÃO DE IMAGEM RODRIGO RAPOSO E
MIGUEL CÂMARA
DEPARTAMENTO DE MARKETING, COMUNICAÇÃO E IMAGEM
CILA SIMAS E RAQUEL AMARAL
PUBLICIDADE TERESA BENEVIDES E RAQUEL AMARAL
MULTIMÉDIA RODRIGO RAPOSO
INFORMÁTICA JOÃO BOTELHO
RELAÇÕES PÚBLICAS CILA SIMAS
Nº REGISTO ERC 126 641
COLABORADORES ANTÓNIO VENTURA, JOÃO CASTRO,
RICARDO SILVA
CONTACTOS MARKETING@AGENDADENOVIDADES.COM
ESTATUTO EDITORIAL:
A NO É UMA REVISTA DE ÂMBITO REGIONAL (NÃO FICANDO
EXCLUÍDOS OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA E
COMUNIDADES PORTUGUESAS ESPALHADAS PELO MUNDO).
A NO DISPONIBILIZA INFORMAÇÃO INDEPENDENTE E
PLURALISTA RELACIONADA COM A POLÍTICA, CULTURA
E SOCIEDADE NUM CONTEXTO REGIONAL, NACIONAL E
INTERNACIONAL.
A NO É UMA REVISTA AUTÓNOMA, SEM QUALQUER
DEPENDÊNCIA DE NATUREZA POLÍTICA, IDEOLÓGICA E
ECONÓMICA, ORIENTADA POR CRITÉRIOS DE RIGOR, ISENÇÃO,
TRANSPARÊNCIA E HONESTIDADE.
A NO É PRODUZIDA POR UMA EQUIPA QUE SE COMPROMETE
A RESPEITAR OS DIREITOS E DEVERES PREVISTOS NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA; NA LEI DE
IMPRENSA E NO CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS.
A NO VISA COMBATER A ILITERACIA, INCENTIVAR O GOSTO
PELA LEITURA E PELA ESCRITA, MAS ACIMA DE TUDO,
PROMOVER A CIDADANIA E O CONHECIMENTO.
A NO REGE-SE PELO CUMPRIMENTO RIGOROSO DAS NORMAS
ÉTICAS E DEONTOLÓGICAS DO JORNALISMO E PELOS
PRINCÍPIOS DE INDEPENDÊNCIA E PLURALISMO.
Terry Costa
FUNDADOR DA MIRATECARTS
ANA MASSA
NOJUN20 05
E N T R E V I S T A
Terry Costa, foto por Nuno Fonseca
ENTREVISTA
EM VÍDEO NA
VERSÃO DIGITAL
06 NOJUN20
E N T R E V I S T A
Você nasceu em Oakville, no Canadá, mas
cresceu na ilha do Pico. No entanto, acabou por
regressar ao Canadá para estudar e formar-se
como encenador. Como é que nasceu o seu gosto
pela arte, pelo teatro, pela dança?
Eu nasci no Canadá, em Oakville, mas com apenas
de 2 anos de idade os meus pais voltaram para a
ilha do Pico. Então, tenho a minha infância aqui
na ilha do Pico, onde vivi dos 2 aos 14 anos. Foi
aqui que tudo começou em termos das artes. Eu
fazia teatro com as irmãs de caridade, fazia parte
da igreja, das cantorias. Comecei a aprender
música com 4 anos de idade. Aos 6 anos já tocava
o bandolim. As artes sempre estiveram comigo e
os meus pais sempre me incentivaram, por isso a
cultura artística e as artes sempre zeram parte da
minha infância. Aos 14 anos, fui para o liceu no
Canadá, onde tinha nascido, em Oakville. Quando
cheguei ao ponto de ir para a universidade, eu
escolhi o teatro como os meus estudos principais
através da dramaturgia e através de aulas de teatro
para ser ator e encenador. Foi assim que tudo
começou na minha vida. Depois tive a minha
carreira no Canadá como ator e encenador durante
20 anos e depois a minha crise de meia idade foi
voltar ao Pico e claro começar a MiratecArts.
Você já foi ator, encenador, já iniciou vários
protocolos com festivais e apresentou vários
artistas. Você faz um pouco de tudo. Considerase
uma pessoa multifacetada?
Eu sou literalmente uma pessoa multidisciplinar.
Eu sempre gostei de todas as facetas artísticas e
quando comecei a ter aquele cheirinho para a
encenação, não só da criação artística, mas mesmo
encenar para os palcos, ou seja, teatro, dança,
música, eu percebi que seria muito melhor saber
um pouco mais sobre as várias artes em termos
de ir para as artes plásticas, para trabalhar nos
cenários dos espetáculos, em aprender o porquê
de certo artista se expressar daquela forma e assim
foi para mim muito mais cativante para ser um
encenador.
Em 2002, fundou o Mirateca Arts, no qual
apresentou inúmeros projetos de entretenimento
no Canadá e nos EUA. No entanto, em 2012,
decidir morar no Pico e dedicar-se à cultural
regional, nascendo daí o MiratecArts. Porquê
esta mudança? Foi um chamamento?
Terry Costa por Helder Gonçalves
NOJUN20 07
E N T R E V I S T A
Quando eu fui de Toronto para Vancouver, eu
conheci uma pessoa que foi muito importante
na minha vida. Um senhor advogado, lusodescendente,
que tinha ido para o Canadá
quando era bebé e ele é que me incentivou
para pesquisar mais sobre as minhas raízes,
porque quando eu fui para o Canadá, com
14 anos, a última coisa que eu queria era
fazer parte de algo português, porque tinha
sido as minhas raízes, o meu tempo de
criança e eu fui para o Canadá e precisava
de aprender o inglês. Por isso eu nunca z
parte da chamada comunidade portuguesa
no Canadá até muito mais tarde na minha
vida. Quando z aquela mudança de Toronto
para Vancouver e encontrei esse senhor
advogado e começámos a conversar sobre o
que era a cultura portuguesa, aí eu comecei
a criar algo que tinha a ver com as minhas
raízes, mas na sociedade canadiana. Criámos
vários projetos, desde o mês da Herança
Portuguesa, que era basicamente um festival,
no qual apresentávamos a arte de Portugal,
e a comunidade lá, especialmente açoriana,
é muito pequena, comparando com Toronto
ou mesmo em Fall River. Não estávamos
rodeados de portugueses e criar algo em
português foi muito graticante e isso fezme
trazer cada vez mais às minhas raízes, no
lugar de em vez só ir visitar os meus pais, lá de
vez em quando, a minha família nos Açores,
lá de vez em quando. Decidi então começar
a estudar, começar a pesquisar desde a arte
popular aos próprios artistas contemporâneos
portugueses. Quando eu vinha ao Pico
sentia-me sempre um bocadinho mais feliz e
então decidi que precisava de uma mudança
na minha vida um bocadinho mais radical.
Sabia que não era nas artes, porque as artes
foi sempre o que eu z. É o que eu sei fazer
e então pensei mesmo que o Pico seria um
bom local para uma terceira parte da minha
vida. Em Vancouver, eu tinha começado a
empresa Mirateca Arts para ter um cheirinho
da ilha do Pico e do local onde eu fui criado
e então quando cheguei aqui gostava de
continuar esse nome ou um nome muito
parecido. Devido às legalidades não se podia
usar Mirateca sozinha porque é mesmo
um local da freguesia da Candelária, na
Madalena. Então, juntei as palavras, Mirateca e Arts, ou
seja, MiratecArts. Em 2012, fundámos a associação e nos
primeiros meses aqui nos Açores, eu percorri as várias
ilhas e encontrei mais de 4 mil pessoas, de município a
município, e muitos tinham algum interesse cultural e
artístico. Quando criámos a MiractecArts foi com a ideia
de apresentar aquilo que não se estava a apresentar ou
criar programas que englobassem pessoas que queriam
participar e foi aí que nasceu o DiscoverAzores.org, uma
plataforma para descobrir os Açores com arte e artistas,
em que qualquer talento, qualquer pessoa criativa podese
juntar por si própria e criar uma página promocional e
daí saiu, também, o Azores Fringe Festival.
08 NOJUN20
E N T R E V I S T A
O Azores Fringe Festival vai já na sua 8.ª edição.
Como surgiu esta ideia inicialmente? Este ano,
apesar de a pandemia afetar por completo os
festivais, você não quis desistir e levou o festival
para o formato digital. Este foi um processo
difícil?
O Fringe é um festival internacional de artes,
que faz parte de um movimento internacional de
quase 300 festivais, no qual os Açores também
estão. A ideia do Fringe é que qualquer pessoa
pode participar logo que tenha a possibilidade e
assim ca um festival aberto. Nos últimos 7 anos
já acolhemos mais de 1900 artistas de 64 países.
O Fringe, neste momento, já faz parte da nossa
sociedade açoriana para muitas pessoas e é muito
importante que exista, de qualquer forma, porque
é uma plataforma aberta e as pessoas podem
participar com aquilo que têm, com aquilo que
conseguem, por isso foi muito importante não
cancelar, como muitos têm ultimamente devido
à pandemia e às restrições e então o que tivemos
de fazer foi colocar na gaveta muitos dos projetos
que estavam a ser dinamizados, produzidos,
desenvolvidos e falar com esses artistas todos que
queriam participar se levássemos o Fringe para
a Internet. Claro que já no passado, tínhamos
programação na Internet, uns 5% da programação.
Não era assim ainda muito visível. Este ano,
embora 100% seja apresentado na internet, temos
uma secção, aqui na ilha do Pico, em que os artistas
podem ir à nossa sede da MiratecArts. É um
espaço ao ar livre de 24 mil metros quadrados, no
qual podem fazer algo naquele espaço em que claro
lmamos e apresentamos via vídeo na internet. A
maioria da programação tem de ser feita através
das plataformas online, o que quer dizer que
conversas podem acontecer, mas claro através de
plataformas em que conseguimos juntar pessoas
de várias ilhas, de várias localidades. Há alguma
performance, mas muito pouco porque a verdade
é que a performance tem de ser mesmo sentida ao
vivo. Essa é a única forma de a performance ser
mesmo apresentada.
NOJUN20 09
Catarina Cabeceiras
Deputada do CDS-PP/Açores na Assembleia Legislativa da Região
Autónoma dos Açores (ALRAA)
CLÁUDIA CARVALHO
RUI SANTOS
O que a fez ingressar pela vida
política? Quais eram as suas
expectativas?
Quando este desao me foi colocado
e decidi aceitar, -lo na perspetiva
principalmente de dar o meu
contributo e ajudar a minha ilha, a
Ilha de S. Jorge. Ser uma voz ativa que
revindicasse, propusesse, questionasse
aqueles que são os anseios de todos
os Jorgenses, numa perspetiva de
melhorar a nossa ilha e a vida de todos
aqueles que cá vivem, pois a verdade
é que a política está presente na vida
diária de todos nós de alguma forma.
É natural de São Jorge, pelo que
representa a sua ilha durante toda
a sua atividade política. Como é
viver e atuar de acordo com essa
responsabilidade?
É algo que assumi sempre e encarei
com grande responsabilidade, e após
sermos eleitos e as pessoas terem
conado em nós, é realmente uma
grande responsabilidade e tenho
trabalhado todos os dias e dado o meu
melhor para que os Jorgenses não
se sintam defraudados, e se revejam
no meu trabalho. Tenho trabalhado
sempre na base da proximidade, pois
acredito que só faz sentido assim,
considero que as pessoas têm de ser o
centro da nossa atividade.
Muitas pessoas não se reveem na
política nem nos políticos, e como tal
o que tenho tentado é numa atividade
presente, centrada na minha ilha e
mantendo um contato próximo com
todos, para que vejam a em mim a
sua voz na Assembleia Legislativa
Regional.
Acha que o CDS-PP/A tem
conseguido dar voz aos cidadãos
jorgenses? Se sim, de que forma?
Sim, considero que sim muitas vezes
sentimos que camos esquecidos em
determinados assuntos, e demasiadas
vezes o discurso político de quem nos
governa ou a legislação ou normas
em vigor são muito diferentes da
prática. Por exemplo, no caso da saúde
agora em tempo de pandemia que na
prática muitos doentes oncológicos
caram com os seus tratamentos
suspensos, sem realizarem as
suas terapêuticas sistêmicas com
quimioterapia e radioterapia, quando
existia uma circular normativa que
dizia que estavam criadas medidas
para estes doentes manterem os seus
tratamentos, em que eu perante estas
preocupações de muitos Jorgenses
questionei o Governo, ou perante a
falta de consultas de especialidade
10 NOJUN20
E N T R E V I S T A
na ilha, que é uma matéria
que por diversas vezes tenho
revindicado.
Tenho tentado, sempre que
há algo que não está bem, que
há algo que urge mudar ou
melhorar, dar voz aos Jorgenses,
na ânsia de superar as
diculdades, de conseguir para
a nossa ilha melhores condições
nas mais diversas áreas.
Mas durante este meu percurso,
não me restrinjo à crítica pela
crítica, tanto crítico como
elogio o que está bem, quero
sempre é o melhor para S. Jorge!
Porquê representar o CDS-
PP/A e não outro partido
político?
Confesso que nunca fui ligada à
política, nem a nenhum partido
político, surgiu este desao
no CDS-PP, pela mão do Luis
Silveira, primeiro para chefe
de Gabinete e depois como
candidata a Deputada Regional.
E aceitei primeiramente ser
chefe de gabinete dele, pois
era um novo desao, já tinha
tido outros convites que tinha
sempre recusado e achei que era
algo desaante para mim e para
a minha vida prossional, mais
tarde quando surge o convite
para Deputada Regional, que
eu não estava nada à espera,
até porque a minha experiência
política era quase nula, e
também confesso que nunca
imaginei sequer ter algum jeito
para tal, o que me fez aceitar foi
sem dúvida o gosto que tenho
em ajudar as pessoas e a minha
terra. E foi assim, que surgiu o
CDS na minha vida!
Desde o início das suas
funções como deputada,
qual considera ter sido a
intervenção que destacasse ou
a proposta que tenha levado a
cabo que a tenha feito sentir-se
orgulhosa enquanto pessoa e
deputada?
Todas as intervenções ou
propostas que apresentamos,
que defendemos, que
acreditamos ser o melhor ou
revindicamos o que não está
bem é sempre desaador e que
nos preenche na nossa atividade
enquanto representante
daqueles que nos elegeram.
As intervenções no âmbito do
Plano e Orçamento para mim
são sempre muito importantes e
gosto particularmente de fazer,
primeiro pela oportunidade
que temos que fazer uma
intervenção mais global, em
NOJUN20 11
E N T R E V I S T A
que tento sempre dar uma visão
nas diferentes áreas na Ilha de
S. Jorge, e revindicar aquilo que
ainda esperamos ou nos faz
falta, mas também na perspetiva
de podermos dar o nosso
contributo para aquilo que irá
acontecer ou poderia acontecer
na nossa ilha, dependendo
se as propostas forem ou não
aprovadas, por exemplo foi
com grande satisfação que
no orçamento para 2020
vi aprovada a proposta de
alteração para a ampliação da
marina das Velas, pois é sem
dúvida uma necessidade, e com
grande frustração a rejeição
da proposta da intervenção
na melhoria na estrada
Transversal, que é algo que
tenho sempre revindicado, pois
é uma via de grande uxo de
viaturas, que faz a ligação da
zona sul e norte da ilha e que
precisa urgentemente de ser
melhorada.
Das últimas iniciativas que
apresentei, o Projeto de
Resolução para ser criado
um apoio aos trabalhadores
independentes no primeiro
ano de atividade, agora em
tempos de COVID-19, e que foi
aprovado no primeiro plenário
do mês de maio, deixou-me
particularmente satisfeita
porque sei que era uma lacuna
que na altura ainda existia
nos apoios que estavam a ser
atribuídos e assim consegui
ajudar algumas pessoas que
estavam e algumas ainda estão
a passar por uma situação mais
difícil.
Os trabalhos parlamentares,
por força de natureza maior,
tiveram de ser reajustados ao
panorama atual que se vive
no Mundo e na Região. Dessa
feita, o plenário e as comissões
passaram a ser realizados por
videoconferência. Como é que
foi, para si e para o partido, a
adaptação a esta realidade?
Esta adaptação à nova realidade
12 NOJUN20
E N T R E V I S T A
setor de grande importância na Região como é
o da Agricultura? Como deve se adaptar o setor
para minimizar as consequências da pandemia?
A agricultura apesar de ser um setor fundamental
na nossa economia, apesar do trabalho incansável,
resiliência e capacidade de superação dos nossos
agricultores, a verdade é que ao longo dos anos
os agricultores deparam-se consecutivamente
com constrangimentos à sua atividade, ora são as
condições meteorológicas, ora são os problemas no
escoamento dos seus produtos, ora é porque lhes é
incentivado a melhorar e aumentar as produções,
ora lhes são impostos limites à produção… mas
mesmo assim os nossos agricultores têm feito um
trabalho notável. Todo este cenário de exceção veio
mais uma vez demonstrar a importância deste tão
importante setor, os agricultores nunca pararam.
Para além do sentimento de conança generalizado
que é necessário que as pessoas sintam e condições
de segurança que têm de ser criadas, por forma a
existir um estímulo ao consumo e de uma forma
direta e indireta dos produtos agrícolas e pecuários,
pois a verdade é que neste cenário existiu uma
retração na procura de determinados produtos.
Também é necessário, e já foram implementadas
algumas medidas, mas são necessárias mais medidas
no sentido de apoiar os agricultores que neste
momento estão a passar por mais diculdades.
No caso particular de S. Jorge, existe alguma
apreensão no caso do setor leiteiro, considerando
que foram impostos limites às entregas de leite,
foi relativamente fácil, até porque já anteriormente
muitas eram as vezes que recorria à videoconferência
no âmbito do trabalho das comissões parlamentares
que tenho integrado e também porque no trabalho do
Grupo Parlamentar também já estávamos habituados
a recorrer aos meios telemáticos para desenvolvermos
o nosso trabalho, encurtando assim a distância física
entre S. Jorge e a Terceira.
Claro, que realizar o plenário online foi uma
novidade, de início foi um pouco estranho até,
porque existe toda uma dinâmica própria do registo
presencial, mas, como em tudo, é o hábito e foi uma
adaptação rápida e fácil, até porque todas as novas
tecnologias que existem atualmente diminuem as
distâncias e cada vez mais fazem parte da nossa vida.
Considerando a sua formação em Engenharia
Agrícola e a sua prossão como Técnica Superior
no Serviço de Desenvolvimento Agrícola, de que
forma é que esta nova realidade está a afetar um
NOJUN20 13
E N T R E V I S T A
dado as diculdades de escoar o queijo, ou os
nossos produtores de carne já estão a vender a um
preço mais baixo o seu produto, o kg por carcaça
de vaca desceu de 2€/kg para 1€ - 1,40€ e o novilho
de 3,15€/kg para 2,90€/kg.
É importante cada vez mais promover a
diversicação agrícola, foi já neste sentido que
apresentámos a iniciativa em abril de 2019,
aprovada por unanimidade, quanto ao Apoio
à recuperação, produção e comercialização do
inhame e do café em S. Jorge.
A médio-prazo, tudo dependerá muito da “nova
normalidade” que venha a ser criada em matéria
de relações comerciais, nacionais e internacionais,
ao longo das cadeias de abastecimento alimentar.
Considero ser importante dar mais peso às
chamadas cadeias curtas de distribuição, fomentar
o consumo de produtos regionais a nível nacional
e regional.
Têm de ser implementadas medidas de forma a
existir efetivamente uma distribuição equitativa
do valor acrescentado, os produtores precisam
de outra estabilidade, pois não há nenhuma
atividade, nenhum produtor que resista a toda esta
imprevisibilidade e inconstância, precisamos de
um setor cada vez mais competitivo, precisamos
de uma posição rme no processo negocial em
curso quer a nível nacional, quer a nível da União
Europeia no âmbito da política agrícola comum,
do quadro plurianual 2021-2027 ou do POSEI.
É sabido que nem a Região ou qualquer outra
do Mundo estariam preparadas para uma
pandemia que conseguiu isolar as pessoas nas
suas casas, conseguiu fazer parar, de certa forma,
a economia, conseguiu alterar o nosso modo de
estar e agir na sociedade. A Região Autónoma
dos Açores agiu bem e atempadamente na
resolução de todos os entraves que surgiram?
Pois é verdade, toda esta pandemia fez com que
praticamente o Mundo casse em suspenso e a
Região, como é natural, não foi exceção. Fez-nos
mergulhar no que parecia um lme de cção
cientíca, sem que estivéssemos preparados para
isso, levando-nos a questionar os nossos hábitos,
as nossas prioridades e a nossa quota-parte de
responsabilidade no processo.
A verdade é que tudo isto foi algo novo para o
qual nenhum Governo estava preparado, como
é natural existem decisões e formas de trabalhar
que considero acertadas e outras que podiam
ter sido implementadas de outra forma. O
importante agora é preparar e capacitar o nosso
Sistema Regional de Saúde para futuros cenários
de crescimento da epidemia por forma a garantir,
tendo por base a experiência já adquirida,
a proteção da saúde das nossas populações,
necessário que tenhamos a capacidade de testar
em massa para responder ecazmente à deteção
precoce da contaminação, pois, em consequência,
diminuiremos a incerteza da propagação e
aumentaremos a conança das populações no
processo de desconnamento e das medidas
desenvolvidas, como foi armado pelo nosso líder
do Grupo Parlamentar Artur Lima. Também e
para além das questões relacionadas com a saúde
pública, precisamos de saúde da economia e das
nossas famílias.
14 NOJUN20
E N T R E V I S T A
Têm sido criadas alterações legislativas para
ajudarem quem trabalha nos mais diferentes
registos, nos mais diversos locais e setores de
atividade, mas a verdade é que existem ainda
algumas lacunas que são necessárias colmatar, até
porque é isso que os Açorianos esperam de nós
poder político, de quem cria, de quem implementa
e executa os apoios, quer porque o Estado e o
Governo devem proteger as pessoas, acrescido ao
facto de que, no caso em particular dos açorianos,
este têm consecutivamente ouvido por parte do
Governo o bem que estão as contas na Região,
contas públicas sólidas e equilibradas, que temos
uma estrutura nanceira estável e como tal, por
maioria de razão é natural, que os Açorianos
principalmente aqueles que perderam rendimento
esperem que o Governo agora diga presente! que
seja isso que os Açorianos estão à espera para que
todos os que perderam rendimento tenham apoio
para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham.
É preciso que os apoios dados na generalidade
às famílias e empresas neste tempo de pandemia
sejam efetivos, ágeis e o menos burocrático
possível, porque muitas vezes a lentidão dos
processos e pagamentos contrasta com a celeridade
anunciada por quem governa.
De forma é que o CDS-PP/A contribuiu para
minorar as consequências desta pandemia?
Nós, Grupo Parlamentar, durante este tempo
de pandemia e nesta nova realidade temos
desenvolvido um trabalho de grande empenho,
com a apresentação de inúmeras iniciativas
com vista a mitigar todos estes danos colaterais
resultantes da pandemia, quer na área da saúde,
quer para apoiar as famílias e as empresas. Destaco
algumas das iniciativas que vimos aprovadas, como
a priorização da realização de testes de despistagem
da COVID-19 no universo dos utentes dos lares
de idosos existentes na Região, bem como nos
casos de novas admissões, nos casos em que os
utentes transitam dos cuidados hospitalares,
assim como a todos os prossionais em funções
naquelas instituições; a promoção de mecanismos
de compensação para gerentes e sócios-gerentes de
microempresas em situação de crise empresarial
no âmbito da pandemia da COVID-19 ou a criação
de apoio aos trabalhadores independentes no
primeiro ano de atividade no âmbito da pandemia
da COVID-19.
Tempos exigentes pedem o melhor de cada um
de nós, e como tal e no prosseguimento de um
trabalho de proximidade que importa continuar
a desenvolver, agora, por maioria de razão, mais
do que nunca, apresentamos várias iniciativas no
âmbito da COVID-19. Tenho consciência que por
mais que façamos nunca será o suciente para fazer
face ao que muitas pessoas, famílias e empresas
estão a passar, mas acredito que todos juntos
poderemos diminuir os danos colaterais causados
por esta pandemia.
NOJUN20 15
Pub
NUNO COSTA
Arquiteto
CLÁUDIA CARVALHO
Gostaríamos que nos falasse um
pouco mais sobre si, sobre o seu
percurso pessoal e académico até aos
dias de hoje.
Nasci em 1980. Apesar de ser natural
de S. José, como a maioria dos
Micaelenses, passei a minha infância
e juventude na Vila de Capelas,
localidade onde ainda hoje vivo.
Iniciei o meu percurso escolar aos 4
anos. Frequentei o ensino pré-escolar
na Casa das Irmãs, um colégio de
Freiras, e, após completar o ensino
básico, fui estudar para o Liceu
Antero de Quental. Aos 18 anos fui
estudar para Lisboa, onde me formei
em Arquitetura pela Faculdade de
Arquitetura da Universidade Técnica
de Lisboa. Contrariamente aos dias
de hoje, naquela altura só haviam 4
universidades públicas que ofereciam
o curso de Arquitetura - Universidade
Técnica de Lisboa, Universidade do
Porto, Universidade de Coimbra e
Universidade do Minho -, e as notas
mínimas de acesso eram bastante
mais elevadas! Os cursos eram de seis
anos, cinco curriculares, acrescidos de
mais um de estágio prossional. Mas,
foram anos muito marcantes, pelo
crescimento pessoal e intelectual. Uma
experiência que recomendo a qualquer
pessoa.
Todavia, desde criança que ambicionava
tirar Arquitetura. Inicialmente, queria
ser professor, mas, pouco tempo
depois, queria ser arquiteto. Hoje,
tenho o privilégio de conciliar as duas
prossões, com oportunidades que
surgiram naturalmente ao longo da
vida.
O gosto pela arquitetura talvez se deve
ao meu pai e ao meu avô paterno.
O meu avô foi responsável pela
construção de várias escolas primárias
do “Plano dos Centenários”, e o meu
pai, além de muitas casas particulares,
trabalhou na recuperação de várias
igrejas, a Matriz das Capelas, a Igreja
da Conceição, a Ermida dos Aitos
nos Fenais da Luz, entre outras.
Neste contexto, sempre ouvi falar
em construções, obras, arquitetos e
engenheiros. Como gostava de desenho
NOJUN20 17
E N T R E V I S T A
e, em particular, de geometria descritiva,
enveredei pela arquitetura.
No entanto, Em 2004, sob a orientação
do arquiteto Kol de Carvalho z o estágio
académico e o de admissão à Ordem dos
Arquitetos, tendo integrado o quadro da
Consulmar-Açores. Trabalhei sobretudo em
projetos de obras públicas, espalhados pelas
9 ilhas dos Açores. Não só como colaborador,
mas também coautor. Tive a oportunidade
de scalizar algumas obras e trabalhar em
concursos de arquitetura internacionais. Hoje,
graças a estas experiências, estou habilitado
a projetos e coordenar obras de classe 5 ou
superior.
Porém, em 2010, decidi abraçar outros projetos,
exercendo a Arquitetura sob a minha própria
responsabilidade. Ao longo destes anos, tenho
vindo a desenvolver várias atividades, tais como
formador e professor em escolas do ensino
prossional e regular, perito qualicado em
Certicação Energética e perito avaliador de
imoveis. No âmbito das avaliações, atualmente
colaboro como perito avaliador local da
Autoridade Tributária, em Ponta Delgada e
Ribeira Grande, e faço parte da Lista Ocial
do Círculo Judicial dos Açores, da DGAD -
Direção Geral da Administração da Justiça,
além de estar registado na CMVM – Comissão
do Mercado de Valores Imobiliários.
Ao nível da formação, ao longo destes 16 anos
de trabalho, frequentei vários cursos de cariz
prossional e seminários. Destaco o Seminário
Internacional de Arquitetura, realizado na ilha
do Pico, que contou com a participação de
Eduardo Souto Moura, Aires Mateus, Manuel
Graça Dias e Anne Lacaton. Recentemente,
em 2019, concluí o Mestrado em Património,
Museologia e Desenvolvimento, na Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
dos Açores, com a dissertação “Eduardo Read
Teixeira (1914-1992), um Arquiteto Moderno
nos Açores”. Um estudo extremamente
graticante, que me permitiu aprofundar
conhecimentos sobre a História dos Açores, não
só no que se refere à Arquitetura, mas também
sobre questões de foro social, político e cultural,
relevantes para a formação do que são hoje os
Açores. A partir dos ascendentes familiares
de Read Teixeira e dos seus projetos, foi possível
correlacionar instituições e personalidades que marcam
a história dos Açores.
No decurso da frequência no mestrado, em 2017, fui
convidado pela Professora Doutora Isabel Soares de
Albergaria para dar uma aula-aberta subordinada
ao tema “Aspetos da Arquitetura Moderna e
Contemporânea local” na Universidade dos Açores,
aquando da visita dos alunos e docentes do Curso de
Arquitetura do ISCTE – Instituto Universitário de
Lisboa à Universidade dos Açores. Na sequência desta
aula, colaboro como professor assistente convidado
na Universidade dos Açores, no curso de Arquitetura
(preparatórios), que acumulo, recentemente, com a
cadeira de Património Histórico-cultural do curso de
Turismo.
A NO Revista sabe que é candidato à Presidência
18 NOJUN20
E N T R E V I S T A
do Conselho Diretivo Regional da Ordem dos
Arquitetos dos Açores. Sendo eleito, como será
assumir tamanha responsabilidade?
Ao longo da minha vida prossional colaborei com
várias entidades e participei em diversas reuniões
de trabalho com presidentes de Câmaras, diretores
regionais e de nanças, arquitetos, engenheiros, entre
outros. Fui membro convidado do grupo de trabalho
referente à vertente comportamento térmico de
edifícios, para transposição da Diretiva 2012/31/EU,
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de maio
de 2010 (reformulação), com alteração ao Decreto
Legislativo Regional (DLR) n.º 16/2009/A, de 13 de
outubro, da Direção Regional de Energia, serviço da
Secretaria Regional do Ambiente e do Mar da Região
Autónoma dos Açores, por “reconhecimento de
conhecimentos e competência técnica”. Também fui
membro do CROP – Conselho Regional das Obras
Públicas da Secretaria Regional da Ciência, Tecnologia
e Equipamentos, na qualidade de representante da
Delegação dos Açores da Ordem dos Arquitetos,
em 2011. Paralelamente, e em diferentes contextos
prossionais, já desempenhei funções que implicaram
presidir a reuniões de trabalho.
Penso que essa experiência será útil para o desao
que representa liderar ou encabeçar a Secção Regional
dos Açores, e que constitui uma responsabilidade
acrescida, pois, além de experiência prossional na
área e conhecimento sobre legislação e outros aspetos
relevantes da prossão, requer disponibilidade,
competência e transparência.
Há que estar consciente que a Secção Regional dos
Açores, enquanto parte integrante da Ordem dos
Arquitetos - associação prossional de direito público
com reconhecida autonomia pela Constituição da
República Portuguesa, terá que, no domínio da sua
autonomia administrativa, nanceira e patrimonial,
assegurar a salvaguarda do interesse público e dos
direitos fundamentais dos cidadãos. Por um lado,
na defesa, valorização e promoção da paisagem,
do ambiente, do património edicado e do direito
à Arquitetura, recursos que são indissociáveis à
qualidade de Vida pela sua função social e cultural,
e, por outro lado, no autorregular e dignicar a
prossão de Arquiteto, enquanto prossional detentor
de conhecimento cientíco e cujo exercício exige
independência técnica.
Isto signica que quem ganhar as eleições terá que
representar a Ordem e os seus membros na Região
NOJUN20 19
E N T R E V I S T A
Autónoma dos Açores, perante os órgãos nacionais
da Ordem, o Governo Regional dos Açores,
as Autarquias, as organizações congéneres e
demais organismos regionais e locais, primando
pelo respeito e cumprimento do Estatuto, dos
regulamentos e das orientações estabelecidas pelos
órgãos nacionais competentes. Simultaneamente,
terá que implementar, coordenar e diligenciar
esforços para a concretização de uma série de
iniciativas e matérias respeitantes à prossão.
Resumidamente, há a necessidade de se intervir
junto dos poderes existentes, dos arquitetos
membros da Secção Regional dos Açores e da
sociedade, no geral, em múltiplas matérias,
designadamente: Planeamento, Gestão e
Ordenamento do Território, com uma visão
global dos Açores, da ilha e intermunicipal;
Reabilitação Urbana, face à pressão turística
e ambiental; a famosa plataforma digital que
simplica, uniformiza e agiliza procedimentos
administrativos, prometida desde 2007, por força
do RJUE (lei n.º 60/2007, de 4 de setembro), e
cuja portaria nunca chegou; na implementação
de ações de formação e de sensibilização dirigidas
à comunidade; na oferta formativa contínua e de
acesso à prossão, que potencie os interesses da
classe; na autorregulação do cumprimento dos
preceitos estatutários e deveres deontológicos; e
no âmbito de uma série de iniciativas de âmbito
cultural, ao nível a comunicação e premiação, para
valorização da prossão e da Arquitetura.
Se fosse há uns anos atrás, não me sentiria
preparado para assumir esta responsabilidade. Mas
neste momento, com o conhecimento, experiência
e maturidade que tenho aceitei este desao de
me candidatar a presidente do Conselho Diretivo
da Secção Regional dos Açores, integrando a
lista C, cujo candidato à presidência da Ordem
dos Arquitetos é Gonçalo Byrne, prossional
que dispensa qualquer apresentação. Mas
também o aceitei, porque sei que tenho o apoio
do Igor Espínola de França, candidato à mesa
da Assembleia Regional, do João Monjardino,
candidato ao Conselho de Disciplina, e de
toda a equipa que abraça este projeto comigo,
composta por Arquitetos presentes em diversas
ilhas do arquipélago, que trabalham no setor
público e privado (autarquias, direções regionais
e empresários) e no ensino superior, além de
integrarem diferentes associações públicas, e que,
20 NOJUN20
E N T R E V I S T A
na sua maioria, contam com mais de 15 anos
de serviço. Sinto-me conante e estou disposto
a contribuir para a dignicação da prossão de
Arquiteto, a defesa do direito à Arquitetura e a
salvaguarda do nosso Património e Identidade.
Vivemos tempos muito diferentes graças à
pandemia COVID-19, que veio condicionar
o modo de estar, fazer e viver de muitas
atividades na nossa sociedade. De que forma
é que o panorama atual tem condicionado a
Arquitetura, nomeadamente com o avanço e
criação de novos projetos?
Ao longo da história, a Arquitetura sempre foi
capaz de dar resposta a diferentes adversidades
e necessidades impostas pela sociedade, sejam
elas naturais ou de outra natureza. Assim, foi
no passado, como fruto do conhecimento, dos
avanços tecnológicos e das imposições próprias
das dinâmicas das sociedades e, desta vez,
certamente que não será diferente pelo que
temos de encarar o atual momento como uma
oportunidade.
A nível global, por um período de tempo, os
aviões caram em terra, as cidades pararam,
os carros caram estacionados nos parques ou
garagens, as pessoas connadas às suas casas,
que, por sua vez, muitas viraram escritórios, e
a natureza respirou. Ou seja, nesse período de
tempo camos reféns de toda a nossa criação
e estrutura socio-administrativa, vivendo um
momento de profunda reexão a diferentes níveis,
que se espera que propicie alterações também em
diferentes setores da nossa sociedade. Há muitas
aprendizagens a reter sobre as nossas prioridades
diárias e na forma como tudo se tem desenrolado.
A mobilidade, os espaços públicos, os
equipamentos, os locais de trabalho e as nossas
habitações sofrerão certamente alterações. Há
que repensar a forma de ocupar e habitar estes
espaços e equacionar novos modelos para melhor
responder às necessidades ambientais, mais
ecológicos e menos dependentes dos combustíveis
fósseis. Neste sentido, temos que reestruturar
as redes de transportes, requalicar os espaços
públicos, valorizar os espaços verdes, rever as
densidades populacionais, reabilitar o edicado
existente, repensar zonamentos, entre outros.
Há também que privilegiar o arrendamento de
longa duração para fazer face à deserticação dos
centros urbanos e encontrar um maior equilíbrio
no porque habitacional dos centros urbanos,
que nos últimos anos foram sobretudo ocupados
por turistas. Agora, estão mais desertos do que
NOJUN20 21
E N T R E V I S T A
nunca, com todas a consequências económicas em
diversos setores.
Assim, e para melhor responder à questão, há
dois campos de ação que temos que ponderar:
por um lado, à escala da cidade, e estamos a
falar de planeamento urbano, e, por outro lado,
à escala do edifício propriamente dito. Se alguns
dos instrumentos de planeamento, gestão e
ordenamento do território já se apresentavam
obsoletos antes desta crise, com interpretações
dúbias, contraditórias e de difícil interpretação
e graus de rigor e pormenor díspares, com a
crise, acentuou-se a necessidade da sua revisão e
restruturação de forma concertada, revendo a rede
de transportes, os afastamentos e alinhamentos,
os zonamentos, os espaços públicos e as respetivas
ocupações, para melhoria da qualidade do ar
e de vida dos seus habitantes. Só com um bom
planeamento, é que se consegue garantir a
qualidade desejada aos edifícios propriamente
ditos, com o devido enquadramento e com
condições de habitabilidade condignas, ao nível da
qualidade dos espaços e salubridade.
Há um outro aspeto de que não nos podemos
esquecer, que foi acentuado por esta crise,
e que se prende com as políticas europeias,
nomeadamente no âmbito do ambiente e das
alterações climáticas. Esta é uma oportunidade que
acentua a necessidade de se rever as políticas ou
estratégias de planeamento, gestão e ordenamento
do território, bem como de implementar um
Plano de Reabilitação Urbana na Região. Criar um
Plano de Reabilitação Urbana tornou-se relevante
e inegável, face às pressões a que as cidades, vilas
e aglomerados urbanos estão sujeitos. Há que
valorizar o edicado existente, estabelecer critérios
que qualiquem as intervenções e potenciam o
nosso património, criar mecanismos que permitam
controlar as pressões imobiliárias, turísticas e
ambientais, e desenvolver políticas que incentivem
a reabilitação e revitalização das áreas urbanas.
Prevê-se um aumento da precariedade da
prossão nesta região?
22 NOJUN20
E N T R E V I S T A
Tudo depende da forma como nós, sociedade,
encaramos o problema. Digo sociedade, porque
todos temos responsabilidades na construção do
nosso território, consequentemente das nossas
cidades e edicado. E digo da forma como
encaramos o problema, porque depende da
capacidade de resposta e vontades em resolver
situações que se arrastam há alguns anos, e que
a atual crise veio provar a necessidade de se
intervir nestas matérias. O planeamento, gestão e
ordenamento do território e reabilitação urbana
são precisamente duas áreas em que, se houver
vontades e investimentos, certamente que não
estaremos numa fase de precaridade, mas sim de
oportunidade.
Em contrapartida, e não podemos ignorar, é
notório que nos últimos anos houve um volume
de trabalho signicativo na construção e
diversicação da oferta turística, com a reabilitação
de edifícios existentes e construção de novos
edifícios, incluindo o aparecimento de novas
tipologias turísticas. Independentemente da falta
de planeamento que se assistiu, com boas e más
intervenções, viveram-se bons momentos nos
Açores. Apesar da crise económica de 2008, a
vinda das low-cost para os Açores e o investimento
e aposta do Governo Regional no setor turístico,
visível principalmente na divulgação dos Açores,
na aposta nos centros interpretativos, ligados aos
ecossistemas e habitats naturais da Região, nas
energias renováveis e, recentemente, na valorização
e premiação do nosso património subaquático,
impulsionaram uma maior procura pelos serviços
do arquiteto. No entanto, armar-se que vamos
entrar numa fase de precaridade creio que é
exagerado dizer-se, até porque não há estudos na
região que apontem nesse sentido, apesar de ser
espectável haver alguma receção na procura pelos
serviços do Arquiteto, embora os Açores sejam uma
região promissora ao nível do turismo.
Porém, importa referir que o referido investimento
do Governo Regional pecou essencialmente por se
ter cingido ao património natural. Está na altura de
se apostar no património cultural edicado, pelo
NOJUN20 23
E N T R E V I S T A
que os próximos tempos podem ser promissores.
Mas há um outro aspeto importante que não
podemos ignorar: a precariedade faz-se sentir
por dois motivos distintos: primeiro, a falta de
ética e concorrência desleal que se verica e,
segundo, a ausência de valores de referência ou
tabela de honorários. Sobre o primeiro, devido à
proximidade que a Secção proporciona, será mais
facil identicar e aplicar medidas, preventivas ou
sancionatórias. Há que privilegiar as primeiras,
mas não podemos esquecer as segundas. No que
se refere aos honorários, a situação é bem mais
complexa, pois a autoridade da concorrência não
permite a existência de uma tabela ou valores de
referência. Mas este é um assunto delicado, que
nos preocupa e motiva ao estudo e procura de
soluções, mas que carece de apoio jurídico, pelo
que prero não o desenvolver, por agora.
Nesta situação, qual é o papel da Ordem dos
Arquitetos?
A função da Ordem dos Arquiteto é clara, e
independente dos tempos de crise ou bonança:
intervir, por um lado, na defesa, valorização
e promoção da paisagem, do ambiente, do
património edicado e do direito à Arquitetura,
recursos que são indissociáveis à qualidade
de Vida pela sua função social e cultural, e,
por outro lado, no autorregular e dignicar a
prossão de Arquiteto, enquanto prossional
detentor de conhecimento cientíco e cujo
exercício exige independência técnica. Terá que
ter sempre presente o assegurar a salvaguarda
do interesse público e dos direitos fundamentais
dos cidadãos, enquanto associação prossional
de direito público com reconhecida autonomia
pela Constituição da República Portuguesa. Por
inerência, a Secção Regional dos Açores terá que
ter presente os mesmos princípios, no âmbito das
suas competências.
É claro que perante a situação que vivemos e
atual “estado da arte”, há que diligenciar esforços
para implementar várias medidas já referidas
anteriormente. Além do que diz respeito às
24 NOJUN20
E N T R E V I S T A
políticas de Planeamento, Gestão e Ordenamento
do Território e à criação de um Plano de
Reabilitação Urbana, há três aspetos importantes
a destacar: primeiro, sobre o desmaterializar e
uniformizar os procedimentos administrativos,
com a concretização de uma plataforma digital
comum nas Autarquias dos Açores, ferramenta
que benecia Arquitetos, Autarquias e Munícipes,
permitindo mais ecácia e transparência, e que a
crise mostrou ser uma necessidade urgente, ainda
para mais num território disperso por 9 ilhas. A
este propósito há que referir que conversamos com
o Dr. Álamo de Meneses, Presidente da Câmara
Municipal de Angra do Heroísmo, o Eng. Bruno
Pacheco, Diretor Regional da Ciência e Tecnologia,
e a Dra. Cristina Calisto, Presidente da AMRAA
- Associação de Municípios da Região Autónoma
dos Açores. Nessas conversas, que disponibilizamos
em vídeo, concluímos haver uma congregação
de vontades para trabalhar e implementar
uma plataforma eletrónica universal nas 19
autarquias dos Açores, e conrmamos estarem
disponíveis os meios nanceiros necessários à
sua implementação. Desta forma, a lista C pode
fazer com que os Açores sejam pioneiros em
Portugal na utilização de uma plataforma digital
única para todo o território; segundo, há que
informar e sensibilizar a sociedade, no geral,
sobre a importância da realização de um projeto,
como uma mais valia que acrescenta valor à
obra e reduz derrapagens em obras, e não como
o cumprimento de uma burocracia, bem como,
informar sobre a importância da presença do
Diretor de Obra na coordenação e condução das
obras; e, nalmente, há que fazer cumprir códigos
éticos e legislação técnica e administrativa. Sobre
este terceiro item, temos dois caminhos a seguir:
por um lado, sensibilizar todos os intervenientes
para o cumprimento das boas práticas, e por outro
lado, o menos amigável, aplicar o preconizado na
legislação e no código deontológico.
Na sua opinião, que impacto económico poderá
existir caso o setor que “congelado” por tempo
indeterminado?
Conforme referi anteriormente, é expectável um
NOJUN20 25
E N T R E V I S T A
abrandamento no setor, principalmente por
parte da iniciativa privada, mas não que “que
congelado por tempo indeterminado”. Será
demasiado demagógico fazer-se uma armação
desta natureza. Não há estudos cientícos que
apontem neste sentido e as notícias na região até
colocam os Açores numa posição privilegiada à
escala europeia.
Agora, se me perguntar sobre a encomenda
pública, esta sim, está “congelada” faz bastante
tempo. Assistimos a adjudicações diretas com
critérios poucos claros e à falta de concursos de
conceção na Região. É mais um dos assuntos
que requer uma atenção particular por parte de
quem ganhar estas eleições.
Como é que a Arquitetura terá de se
reinventar para os nossos tempos que se
aproximam?
Temos que ter a consciência que a Cultura
de determinada sociedade só existe por
aproximação e diferenciação na relação com
outras Culturas. Por oposição à globalização
temos vindo precisamente a privilegiar as
identidades de cada povo, implicitamente
ligado a determinada localidade ou cidade.
Neste sentido, há que olhar para os Açores
como um só território composto por 9 ilhas,
com aspetos que as aproximam e também
que as diferenciam. Cada ilha tem a sua
própria paisagem e geomorfologia, bem como
apresentam intervenções com características
e especicidades próprias, a nível tipológico,
de sistemas e componentes construtivas, com
diferentes escalas, relações formais e formas de
apropriação do espaço.
No mundo global que nos inserimos,
a Arquitetura tem que privilegiar estas
especicadas locais e, ao mesmo tempo,
encontrar soluções que respondem às exigências
atuais de salubridade e ambientais.
No contexto atual, da crise pandémica,
a Arquitetura terá que simultaneamente
encontrar novas soluções para as novas
exigências. A título de exemplo, a habitação
passou, em muitos casos, a ser, além da própria
habitação, o local de trabalho, a escola e, ao
mesmo tempo, o parque urbano (no sentido de
espaço de lazer). Há que reinventá-las de modo
a dar uma melhor resposta às nossas exigências
26 NOJUN20
E N T R E V I S T A
quotidianas, garantindo as condições físicas e
psíquicas necessárias ao ser humano. Referi-me à
habitação, como poderia falar de hospitais, escolas,
restaurantes ou outros estabelecimentos onde há
novas exigências sanitárias e de circulação que
implicam alterações na ocupação e usufruto do
espaço. A pensar no futuro, temos que conceber
edifícios com espaços que permitem facilmente ser
adaptáveis a novas situações e usos.
Mas em todo este processo de reinvenção da
arquitetura, não nos podemos esquecer das nossas
especicidades, sob pena de perdermos a nossa
identidade, um fator essencial à sustentabilidade
dos Açores.
NOJUN20 27
Pub
R E P O R T A G E M
Açores: o futuro do turismo
numa época de incerteza
SARA BORGES
Com o surgimento e consequente alastramento da
pandemia do covid-19, o quotidiano de milhões
de pessoas, em todo o mundo, foi suspenso
inesperadamente e de uma forma absolutamente
inédita. Vários foram os setores da sociedade que
viram a sua atividade ser reduzida ao mínimo ou
até mesmo estagnar, como é o caso do setor do
turismo. Nos últimos anos, este setor tem sido uma
importante alavanca da economia e do emprego
nos Açores e no presente momento enfrenta um
enorme desao que, não só poderá prolongar-se
por vários anos, como também se mantém uma
incerteza sobre o seu modo de funcionamento no
futuro.
Neste sentido observou-se, tanto a nível nacional
como regional, a organização de um conjunto de
web conferências para debater o futuro deste setor.
No âmbito regional, realçam-se as iniciativas da
Associação de Turismo Sustentável do Faial (ATSF)
que promoveu um ciclo de webinars, de entre
os quais “Turismo nos Açores: Caminhos para o
Futuro” e “Turismo nos Açores: Uma perspetiva
das empresas", como também o Publituris que
promoveu uma web conferência “Açores: Preparar
o futuro”. Estas conferências, cujo objetivo reside
na partilha de ideias e possíveis soluções para a
recuperação do turismo nos Açores, contaram com
a presença de alguns dos principais representantes
do setor na Região, como também com a
participação da Secretária Regional da Energia,
Ambiente e Turismo, Marta Guerreiro.
A retoma deste setor está intrinsecamente ancorada
com o panorama da saúde pública, surgindo dessa
forma um grande obstáculo em fazer perspetivas
realistas sobre o que vai suceder nos próximos
tempos. A única certeza que os diversos players da
Região têm sobre este setor é que o ano de 2020 é
de perda. Assim, se o turismo em algumas crises
foi um meio de arranque de saída delas, neste caso
e pelas caraterísticas que esta crise tem, poderá ser
dos setores que terá mais diculdade em arrancar.
Segundo Marta Guerreiro, “é um setor de pessoas
e para pessoas, e, portanto, as questões da saúde
pública são naturalmente imprescindíveis e têm
de estar devidamente asseguradas”. Deste modo,
ao longo dos últimos três meses denotamos, num
primeiro momento, a importância e o foco nas
questões de saúde, paralelamente, surgem diversas
NOJUN20 29
R E P O R T A G E M
medidas, sejam de âmbito nacional e/ou regional,
com o objetivo de apoiar as empresas de modo a
manterem-se os postos de trabalho, e por último
uma reabertura gradual dos Açores, permitindo um
processo de promoção e divulgação turística do nosso
arquipélago.
Em relação às medidas de apoio às empresas,
Rodrigo Rodrigues, presidente da Câmara de
Comércio e Indústria dos Açores (CCIA), refere que
as medidas que foram criadas a nível regional são
um complemento, são um extra ao que foi criado
a nível nacional e arma que essas medidas são
muito positivas no sentido em que complementam
as medidas nacionais. No entanto, defende que
nos próximos meses e atendendo à situação
epidemiológica, o turismo vai carecer de mais apoios,
em especíco as empresas vão necessitar esses
apoios para que consigam vencer o desao que foi
lançado pelo próprio Estado e pelo próprio Governo
Regional, que é a manutenção dos níveis de emprego
e a preservação da capacidade produtiva para que
numa fase de recomeço seja permitido avançar com
alguma rapidez para a atividade, e isto só se consegue
mantendo o nível de emprego e mantendo a estrutura
empresarial intata, refere o Presidente da CCIA.
Para Rodrigo Rodrigues, este desao aumenta quando
relacionamos com as expetativas baixas deste verão,
como também do inverno. Assim, arma que “vai
ser um inverno dicílimo o de 2020/21 e depois
temos então as expectativas de que a época média/
alta de 2021 se tudo correr bem, não só cá, como
também nós nossos mercados principais, da Europa
e da América do Norte, se tudo correr bem então
teremos a expetativa que no verão de 2021 traga
uxos turísticos, não acredito que sejam exatamente
iguais aos que foram, mas que possam retomar uma
atividade com alguma normalidade, mas isto estão a
falar de um meado de tempo de mais um ano, quando
é que as empresas do turismo voltem à sua atividade
“normalizada” com níveis de faturação que permitam
cumprir todas as suas responsabilidades sem qualquer
tipo de apoios extras, isto estamos a falar de um ano”.
Nota-se que nos Açores, até ao presente momento,
não se registou despedimentos coletivos, nem a taxa
de desemprego aumentou, isto traduz na perceção
de Rodrigo Rodrigues, no facto dos empresários da
Região terem aceitado o desao imposto. Contudo,
refere que, passado o período do layoff, este cenário
possa mudar. Assim, defende o prolongamento
do layoff, acreditando que este mecanismo deverá
ser prorrogado pelo menos para os próximos seis
30 NOJUN20
R E P O R T A G E M
meses, “o que já seria uma ajuda importante à tal
batalha de asseguramos o emprego até ao nal
do ano como nos tem sido pedido”. Esta lógica de
prolongamento do layoff é reconhecida por outros
players do setor do turismo, mas como maior
incidência temporal, como é o caso de Carlos
Morais, presidente da Associação de Turismo dos
Açores (ATA), que defende que este suplemento
devia ser prorrogado até 31 de março, “ porque
nestas empresas não conseguem estar dezembro,
subsídio de férias, subsídio de natal, o que é que
vão faturar em janeiro, em fevereiro e março, penso
que irão começar a faturar e ver alguma luz ao
fundo do túnel principalmente a partir de abril de
2021 que é quando a Páscoa irá começar”.
Por outro lado, Rodrigo Rodrigues defende
a criação de uma linha de crédito regional
totalmente bonicada. Neste momento, as linhas
de crédito que existem são a nível nacional.
Portanto, acredita que com uma linha regional, que
protegesse de uma forma eciente as pequenas,
médias empresas e microempresas, que têm
mais diculdade a aceder a uma linha de crédito
nacional. Para o Presidente da CCIA, o turismo
reiniciar-se-á de forma diferente em cada ilha,
tendo em conta o contexto epidemiológico.
No entanto, chama a atenção para a pressa de
reabrirmos o nosso destino a todos os mercados
e de uma forma muito rápida, armando que isto
pode ter um efeito boomerang e que a médio prazo
NOJUN20 31
R E P O R T A G E M
seja prejudicial para a Região.
Neste sentido, Marta Guerreiro recorda que a
primeira reunião com os empresários do setor
do turismo aconteceu na semana de 11 de março,
e, portanto, as medidas que foram criadas foram
fruto de um trabalho que foi desenvolvido em
parceira com os privados. Esta é uma crise que
atravessa fronteiras, sendo assim, a Secretária
Regional menciona que “há necessidade de
uma resposta que seja global com um envelope
nanceiro que permita dar nota de uma
responsabilidade coletiva nesta matéria com
ferramentas para o setor que permitam responder
àquelas necessidades e com uma preocupação
muito concreta relativamente a regiões e países
mais dependentes do setor do turismo, onde nós
estamos naturalmente incluídos”. Referindo-se
inclusivamente a questão do transporte aéreo, este
deve merecer de facto uma atenção especial, e
isto vai precisamente ao encontro de uma grande
necessidade do arquipélago naturalmente.
Assim, é importante reter duas grandes ideias.
Primeiro, a necessidade de uma avaliação atenta
e permanente que vai ditando a ação a tomar em
cada momento e as soluções necessárias que vão
sendo idealizadas e produzidas. Por outro lado,
surge a necessidade de haver solidariedade a nível
da União Europeia relativamente a estas matérias
por ser algo que atravessa todos e, de acordo com
Marta Guerreiro, “há regiões mais sensíveis e nós
contamos como umas dessas que naturalmente
justica o apoio nanceiro diferenciado”.
Desta forma, podemos armar que o mês de maio
foi um período para nos habituarmos a viver
em sociedade outra vez, sendo que já estávamos
privados há quase um mês e meio. Portanto, foi
um tempo de nos habituar a utilizar normas e boas
práticas no nosso dia a dia, de forma a que seja
possível, após a internalização dessas novas formas
de viver em sociedade, abrirmos a Região ao
turismo, devendo a sua abertura de ser sequencial.
Sendo assim, a questão que se segue é como será
realizada essa abertura e qual a expetativa em
relação aos mercados. De acordo com Carlos
Morais, presidente da ATA, na segunda semana
de março a comissão executiva encontrava-se
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R E P O R T A G E M
a delinear um projeto sobre o que poderiam
fazer com base nas informações que iam saindo
em termos europeus e em termos americanos e
admite que não acredita que haja uxos turísticos
signicativos no mês de julho e no mês de agosto,
“o que eu vejo no dia a dia são as reversas a
cancelar nos meses de junho, julho e agosto e será
que haverá muita coisa para setembro e outubro”.
No entanto, em relação às expetativas de futuro
em termos de viagens e quais os mercados que
poderiam reagir e colmatar algumas situações
sobressai, num primeiro momento, o mercado
açoriano. Assim, estão a desenvolver-se campanhas
de modo a estimular o mercado interno,
permitindo às pessoas conhecer melhor, ou aquele
que ainda não conhece ter a oportunidade de
conhecer, outras ilhas do arquipélago dos Açores.
Seguidamente, surge o mercado nacional, esta
segunda fase terá lugar em meados do verão.
Contudo, é importante ter em conta que este
mercado vai ser muito solicitado por outras
regiões, o que implica uma divulgação e promoção
turística dos Açores muito bem elaborada. E por
último, a mercados externos, mas tendo sempre em
conta a situação epidemiológica dos outros países,
de acordo com Carlos Morais “mês de julho será
um mês de teste em termos de mercado”.
São vários os países que perante a atual conjuntura
estão a apostar no seu turismo interno, e, de
modo a fomentá-lo, implementaram um conjunto
de medidas como a disponibilidade de subsídio
de mobilidade, a vouchers entre outros. Assim,
questiona-se se no contexto regional poderá vir
a ser aplicado medidas semelhantes de forma a
fomentar o turismo inter-ilhas. Carlos Morais
refere que está a ser elaborado uma restruturação
da campanha de turismo e em termos de mercado
regional a ATA irá estimular o próprio mercado
através das agências de viagens, desenvolvendo
um apoio aos operadores quer aos regionais,
quer aos nacionais. Em relação à criação de um
subsídio de mobilidade, este, na sua perspetiva,
poderia ser uma forma de comparticipar e ajudar
as companhias áreas, como também uma maneira
de estimular o turismo interno. Em relação ao
voucher e uma vez que nós temos uma companhia
NOJUN20 33
R E P O R T A G E M
área regional, o presidente da ATA acredita que
poderá ser uma forma de estimular o mercado
e que terá de passar por tarifas apelativas que a
SATA criará dentro da Região, como também pode
ser alargado para a Madeira e para o Continente,
que poderá passar por tarifas mais económicas
em conjunto com as agências de viagens. Neste
sentido, as agências de viagens têm de ser parceiras
neste processo de realização de pacotes, como
também terá que ter um papel importante na
promoção e no chamar os próprios clientes no
desenvolvimento desses segmentos.
Assim Catarina Cymbron, Delegada Regional da
Associação Portuguesa das Agências de Viagens
e Turismo, declara que os meses de março, abril
e maio são fundamentais para a venda de clientes
habituais para o verão, em especíco no que diz
respeito aos grupos e a cruzeiros, e revela que neste
momento não se registaram vendas para esta altura
e que o que existe de momento está marcado para
junho. Refere que estes por enquanto não estão
cancelados porque “os operadores não querem
perder os clientes e o cliente não quer cancelar e
estão a aguentar para saber o que está a passar,
tanto no país do destino para onde vão, no caso
dos Açores, como o país de origem deles”. Por este
motivo, realça a importância de haver informações
claras por parte do Governo, desde a ocorrência de
voos, aos procedimentos que terão de ser adotados
por quem quiser vir aos Açores, pois há operadores
que estão a pedir informações concretas.
Tendo em conta a grande rivalidade que irá
existir entre os diversos destinos turísticos
com a diminuição dos uxos turísticos que irá
haver neste ano, e até mesmo para o próximo, é
importante pensar de que forma os Açores podem
posicionar-se, e o que podem oferecer de distinto
em relação aos concorrentes, de modo a captar a
atenção e interesse dos indivíduos. Neste sentido,
Catarina Cymbron, acredita que os Açores “têm
tudo para vencer este desao”, o facto de os Açores
serem constituídos por ilhas pequenas com pouca
população, com abundância de espaços abertos e
com atividades ligadas à natureza, como também
o facto de as pessoas, nesse momento, preferirem
espaços abertos a cidades que dicultam o
distanciamento, tudo isto faz com que os Açores
estejam num lugar de destaque.
De um modo geral, esta noção sobre os Açores
é partilhada e divulgada por todos os players
do setor como também pelo próprio Governo
Regional. Segundo Marta Guerreiro, o percurso
que a região tem vindo a fazer neste setor é
“vincadamente um turismo singular associado à
natureza, oposto ao turismo de massas, onde os
nossos turistas conseguem ter experiências mais
autênticas e individuais, e isto acontece porque
acreditamos que este era de facto o futuro do
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R E P O R T A G E M
turismo nos Açores, pelas nossas caraterísticas,
pelo aquilo que temos para oferecer, mas vem
encaixar perfeitamente também naquelas que são
as pretensões e algumas inseguranças de quem
hoje decide as suas férias porque quer evitar
destinos mais massicados, empreendimentos
de grandes dimensões e quer estar mais consigo,
com a sua família com a qual está a viajar em
segurança”. Por outro lado, a Secretária Regional
destaca o facto de os Açores terem sido, há
quatro meses, reconhecidos com a certicação da
sustentabilidade, o que na presente conjuntura se
apresenta como um bom elo de ligação e promoção
em termos de futuro.
Em relação à questão do preço, neste aspeto
surgem discursos diferentes. Para a Secretária
Regional, as soluções que surgiram têm de
ser soluções concertadas entre as entidades
públicas e com os privados. Assim, a abertura
aos mercados externos não deve comprometer
o posicionamento da Região, nem deve haver
baixas de preços, “a questão do preço não pode ser
de facto uma solução e esta é uma preocupação
grande, é preferível nós complementarmos
serviços, adicionarmos oferta, mas nunca baixar
esse nível porque isto depois deixa um rasto que
é difícil resolver e compromete o trabalho que
temos vindo a desenvolver”. Inclusive se tivermos
em conta o tipo de pessoas que dispõem de
meios e possibilidade para férias nesse momento,
pertencem a um segmento de valor, e de acordo
com Marta Guerreiro “é neste segmento que
nós temos de nos posicionar com as questões da
sustentabilidade, da natureza, e as questões da
segurança sempre ao de cima, e esse de facto é o
grande desao”. Por outro lado, temos Rodrigo
Rodrigues que num fase intermédia arma que “é
muito fácil dizer-se que não se pode baixar preços,
mas quando a oferta for, e isso vai acontecer nos
próximos meses, 3 a 4 vezes superior à procura
isto é uma lei da economia que não vale a pena
nós contrariarmos”. Portanto, prevê que quando
a oferta for superior à procura, irá se observar
uma tendência de os preços baixarem. Contudo,
arma que “não deve é ser uma arma de venda
do destino, isso é outra coisa”. Assim, defende que
os Açores não devem baixar o preço do destino
para competir com outros destinos, mas refere
que dentro do destino Açores a concorrência entre
as várias empresas pode fazer com que haja uma
diminuição dos preços.
Do ponto de vista das empresas do setor do
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R E P O R T A G E M
turismo, observamos uma incerteza sobre o futuro.
Neste sentido, Carlos Picanço, diretor comercial e
de marketing do futurismo, refere que o turismo
acontece em sociedade, que não se desenvolve
de outra forma. Realçando assim, o papel do
turismo na sociedade e a sua evolução ao longo
do tempo, admitindo o facto de “estarmos numa
sociedade emocional em que as pessoas procuram
experiências, e nós temos tentado desenvolver um
trabalho à volta disto”. Desta forma, as empresas
estão a redenir, a planicar novos formatos de
trabalho, tendo uma gestão nanceira de “olho
vivo”, como também a apostar na capacidade dos
colaboradores e o papel que têm de ter nesta fase,
uma atividade ativa e autónoma, com o intuito de
maximizar as vendas. Segundo Carlos Picanço,
“temos é de vender defendendo o valor dos nossos
produtos para assegurar o preço e vamos ter de
ter aqui uma versatilidade e rapidez tremenda na
oferta e na comunicação”.
Denota-se também nos empresários a preocupação
com a situação epidemiológica em outros países,
em especíco os EUA. Este é o caso de Luís Nunes,
CEO da InovTravel. Este empresário refere que
o continente americano representa mais de 60%
da sua faturação e demonstra preocupação com a
possibilidade de não haver voos entre os EUA e a
Europa, pelo facto de a Europa poder decretar não
aceitar visitantes de países que não têm a pandemia
controlada. Sendo assim, menciona a tendência
para a elaboração de protocolos com países que
têm a pandemia controlada, como também o
investimento em outros mercados com destinos
seguros. No entanto, chama a atenção para a
falsa noção de se pensar que, após a abertura aos
mercados internacionais, será, paralelamente,
possível manter zero casos de infeção, sendo
assim arma ser ”uma ilusão que ao abrirmos os
voos que isto se irá manter dessa forma, por isso
temos nós próprios de gerir as nossas expetativas
em relação ao número de infetados da região
e redenir o objetivo, não para termos zero
infetados, mas para que seja gerável, do ponto de
vista da capacidade hospitalar, receber esses casos”.
Romão Braz, vice-presidente do Conselho de
Administração da Finançor, à qual pertence
a marca hoteleira Azores Hotels & Leisure,
considera que a economia da Região está ansiosa
e desesperada pela reabertura do turismo. Para o
empresário é essencial, “considerando as questões
de saúde, abrirmos e dizermos aos operadores e
aos turistas que são bem-vindos aos Açores. Julgo
que é obrigatório isto ser declarado”. Salientando
que, além do mercado doméstico, é importante
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R E P O R T A G E M
conseguir-se “retomar algumas ligações com
os EUA, Canadá, Alemanha, Holanda, Bélgica,
Suíça”. A diferença, explica o empresário, está
entre a operação de 2020 ser “um ano mau ou
horrível”. “Se conseguíssemos ter julho a 30% [de
taxa de ocupação] e agosto, setembro e outubro
a 40% ou 50%, no nal do ano teríamos uma
quebra de 65% a 70%. Este é hoje o cenário
otimista para os hoteleiros. Se tal não acontecer,
vamos ter uma quebra de 80%. Estou muito
preocupado não só com os hotéis, mas com os
rent-a-car, com os restaurantes, com as empresas
de animação turística que estão a faturar zero
nestes meses depois de um longo e penoso
inverno”, explicou o empresário.
Assim, no setor empresarial destinado ao
turismo observamos que não há ilusões em
relação ao ano de 2021 e 2022, há a necessidade
de analisar cada empresa. Destaca-se que no
verão do ano passado 65% das dormidas nos
Açores foram de turistas estrangeiros com a
Alemanha em primeiro lugar, EUA em segundo,
a França em terceiro e Espanha em quarto. Deste
modo, sem essas pessoas o verão que se aproxima
é claramente negro. Acrescenta-se também
um outro ponto que importa salientar, sendo
este a média de idades dos clientes que visitam
os Açores, a grande maioria tem uma idade mais
avançada, são os tais grupos de risco que também
estão com menos apetência para viajar se não
sentirem segurança no local de destino.
Desta forma, os empresários realçam a diculdade,
e até em certos casos a impossibilidade, de
manterem determinados empreendimentos abertos,
eventualmente aqueles que vão conseguir manter o
quadro de pessoal são os que vão conseguir arranjar
novas fontes de receita ou que terão a capacidade
de aumentar o preço. Neste último caso, Luís Nunes
menciona as empresas de animação turística como
sendo aquelas que conseguem mais facilmente
justicar preços mais elevados atendendo à
necessidade de terem custos acrescidos para manter
a segurança das pessoas.
Em relação à certicação safe and clean, para
este empresário, o ideal é que seja uma marca
reconhecida com maior dimensão possível. Assim,
esse selo nacional faz todo o sentido havendo um
benefício ao utilizarmos um selo que já está a ser
comunicado internacionalmente. Refere que este
é o momento oportuno para pensarmos na Marca
Açores, segundo Luís Nunes, “é uma marca que
em conceito faz todo o sentido, mas na prática a
execução tem cado aquém das expetativas”, pois,
nos próximos meses, os empresários relatam que
vão ter de lucrar o mesmo, mas com o uxo turístico
muito reduzido, e que isto só é possível de uma
determinada forma, criando valor ou perceção de
valor, esta perceção vem com a marca. Portanto, há a
necessidade de conseguir explicar às pessoas porque
é que os Açores são diferentes e porque é que são
mais caros. Esta tarefa é difícil, mas neste momento
está em causa a sobrevivência de determinadas
empresas e, consequentemente, de postos de
trabalho.
NOJUN20 37
R E P O R T A G E M
No atual contexto epidemiológico na Região, há
apenas dois casos positivos na ilha de São Miguel
e oito ilhas sem casos positivos ativos. Para além
das questões de segurança, que coloca em primeiro
lugar, porque nesta fase são determinantes
para quem decide viajar, os Açores têm um
posicionamento que os coloca em vanguarda nas
preocupações em quem hoje procura férias. Neste
sentido, o dia 29 de maio é marcado pela retoma
das ligações inter-ilhas, seja a nível aéreo como
marítimo. Segundo Luís Rodrigues, Presidente do
Conselho de Administração do Grupo SATA, “o
plano é de evoluir gradualmente, à medida que
vamos aprendendo e percebendo vamos abrindo
e aumentando a operação”. Assim, no nal do mês
de maio a mensagem transmitida é que os turistas
são bem-vindos, de acordo com Marta Guerreiro
“a região está preparada para os receber, nós
tivemos um momento em que comunicamos que
estávamos em pausa, que nós estávamos a proteger
para proteger também quem vem e neste momento
estamos em condições de receber os nossos
turistas”.
Assim, as palavras-chave na retoma do turismo
nos Açores são conança e segurança, seja para
quem tem como destino a região ou para quem cá
habita, sendo esta a mensagem que foi reiterada
pelos vários agentes do setor. De acordo com
Marta Guerreiro, “o turismo só é bom para os
Açores se for bom para os Açorianos”. Assim,
numa altura em que o setor atravessa uma crise à
escala mundial, os Açores procuram promover o
destino num mercado que procura experiências
que garantam a máxima segurança.
38 NOJUN20
C R Í T I C A L I T E R Á R I A
A Insularidade e o Clima
na Poesia Regional
ANA MASSA
Em tempos, Vitorino Nemésio (1901-1978), na
sua perspetiva da realidade açoriana, armava que
“para os açorianos a geograa é tão importante
como a história”. É certo que a prosa açoriana
reetiu frequentemente, desde sempre, o
simbolismo do espaço insular. Tal não se aplica
apenas a Nemésio, mas também, por exemplo, a
Raúl Brandão, em As Ilhas Desconhecidas (1926) e
muitos outros autores. No entanto, pretendo focarme
somente na poesia açoriana que certamente
transborda de simbolismo relativamente ao tema
da insularidade e do clima em particular.
Comecemos, por exemplo, com Roberto de
Mesquita (1871-1923), natural da ilha das Flores,
considerado um dos poetas simbolistas açorianos
mais aclamados, até mesmo aos olhos de Vitorino
Nemésio. Na sua antologia Almas Cativas, é-nos
apresentado o conceito Spleen que provoca tédio,
aborrecimento, uma certa falta de propósito e
que, no contexto insular, vem ao de cima graças
ao nosso clima tão sui generis. Neste pequeno
excerto, Mesquita fala-nos dos efeitos do spleen,
do efeito que o exterior provoca no interior, de um
sentimento de opressão que chega a ser “mortal”.
Dezembro, dia pluvioso. Vem
Deste céu de burel um spleen mortal
Onde as almas se atolam como alguém
Que caísse num vasto lodaçal.
Olho em torno de mim: as cousas mesmas
Têm um ar de ‘desgosto sem remédio…
E as horas vão, morosas como lesmas,
Rastejando por sobre o nosso tédio.
O véu cinzento e denso que se espalha
Lá por fora, empanando as perspectivas.
Dir-se-á também que as almas amortalha
E afoga as suas vibrações mais vivas.
[…]
NOJUN20 39
C R Í T I C A L I T E R Á R I A
Em Vitorino, “Azorean Torpor” (um sentimento de
mal-estar associado tipicamente à açorianidade)
é outra referência ao clima insular, sendo que
demonstra uma série de impressões que, ltradas
pelo sentimento açoriano, permitem a Vitorino
descrever um espaço que não é os Açores, mas sim
Lisboa. O sentimento expresso neste poema é o
mesmo que o sujeito poético sente nos Açores, um
sentimento de desconforto. O sujeito comparase
a “gaivotas sem céu” por, tal como elas, não se
encontrar no seu meio natural. Embora todos estes
sentimentos negativos estejam sempre associados à
ilha, isto claramente não signica que o ilhéu não
sente falta dela.
Onde a vaga retumba eram as obras do porto:
Roldanas, guinchos, cais, pedras esverdeadas
E, na areia da draga, ao sol, um peixe morto
Que vê passar na praia as damas enjoadas.
A cidade? Esqueci. Um poeta é sempre absorto;
De mais a mais – talvez paragens abandonadas.
O que é certo é que entrei um dia naquele porto
Em que as próprias marés parecem arrestadas.
Porque a mais leve luz que se embeba na Barra
Embacia os pers dos cais e dos navios
Em frente à linha do horizonte que se perde.
E um desconsolo, um não-partir paira nos pios
Das gaivotas sem céu que o vento empluma e agarra
Estilhaçando o arisco mar de vidro verde.
Quase todos os melhores poetas açorianos escreveram algo sobre a fusão entre mar e terra. Martins Garcia
(1941-2002), picoense, em “Signo Insulado”, vai longe com a sua metáfora de viver numa ilha. A ilha é nada
mais do que um cosmos que emerge do mar e o mar é errância, é o símbolo da vida, o caos onde nasce o
cosmos. Deixo apenas as últimas duas quadras:
40 NOJUN20
C R Í T I C A L I T E R Á R I A
o mar está por fora da ilha
o mar é quanto não cabe na ilha
o mar é quanto não cabe no poço
no fundo do mar morreu uma ilha
enlouquecer é morrer numa ilha
na ilha morta no fundo do mar
no poço secura por dentro da ilha
no fundo do poço correcto lugar
Urbano Bettencourt (1949), também picoense, no poema “Roberto Mesquita Corpo Insulado”, fala-nos de
como a ilha é mais fechada do que a circunferência, de como se assemelha a uma prisão da qual só apetece
sair e há, de facto, quem o consiga: os emigrantes; empurrados pelos “ventos de oeste”, ventos que empurram
para a América. Os que cam, celebram a partida, na ilusão de, um dia, poderem também partir.
NOJUN20 41
C R Í T I C A L I T E R Á R I A
quantos os graus de inquietude norte trezentos
e sessenta talvez mais que a circunferência
fechado o certo a rede aperta as suas malhas
suas grades
os dominantes ventos de oeste norteiam
a sustentação secular do corpo os arquidogmas
a derivação nal das rotas e sorteiam
os braços e os passos entre as notas
e a lava:
lavados de cinzentos celebramos
a partida e nos partimos de cansaço
contra a rocha em saldo a soldo levados
no rasto das baleias como bichos
como botes
E depois:
aqui o homem ergue
uma ilha e olha
as palavras cercadas de sal
até onde o olhar se afoga.
Estes são apenas meros exemplos de expressões literárias da omnipresença do espaço geográco e do clima
na existência insular e da inuência desses fatores na psicologia do açoriano. Sendo este um tema de muito
“pano para mangas”, queria deixar algumas menções honrosas a outros poetas, todos eles ironicamente
terceirenses, como por exemplo Marcolino Candeias (1952-2016) e o poema “Crepúsculo na Ilha”, Santos
Barros (1946-1983), Emanuel Jorge Botelho (1950) e Vasco Pereira da Costa (1948), autor de um curioso
livro intitulado Ilhíada.
42 NOJUN20
Pub
R E P O R T A G E M
O impacto do COVID-19 nos
festivais de verão
SOFIA CORDEIRO
A Câmara Municipal da Ribeira Grande, no dia 5 de maio de
2020, promoveu a terceira webinar sobre a temática dos festivais
de verão que “servem precisamente nesta altura que estamos mais
connados em casa de irmos passando algumas informações úteis
de alguns temas particulares”. O debate foi moderado por Alexandre
Gaudêncio, Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande,
tendo como participantes Patrícia Leite, da RFM Beach Power,
Ricardo Freitas, do Meo Monte Verde Festival, e Filipe Tavares, do
Azores Burning Summer.
O primeiro orador foi Filipe Tavares que arma que “a saúde e a
proteção das pessoas é o principal e, portanto, neste contexto, nós
também fomos apanhados na pandemia e por circunstâncias que
nunca tínhamos imaginado, apesar de todos os anos contarmos
com o ‘vai chover, não vai chover, vai correr bem.’ Este ano é tudo
diferente e é diferente para todo o mundo”.
Filipe Tavares faz um ponto de situação sobre os festivais em
especíco, sublinhando que “é preciso lembrar que nós somos
a cultura e os agente culturais foram os primeiros a sair e serão
provavelmente os últimos a entrar e também lembrar que no dia
26 de março foi publicado um decreto-lei que previa ou sugeria
o adiamento ou o cancelamento de todos os eventos previstos de
todo o período compreendido entre o primeiro dia do estado de
emergência até ao nal de agosto, ou seja, 90 dias a seguir ao termino
do estado de emergência. Esta medida também teve como objetivo
a proteção dos consumidores do ponto de vista das pessoas que já
zeram a aquisição dos seus bilhetes poderem recuperar o dinheiro
investido. No dia 28 de abril, o Governo da República reuniu com
diversos organizadores dos maiores festivais de Portugal para ouvir
as suas preocupações e as suas sugestões e o que cou patente nesta
reunião foi que a Ministra referiu que haverá uma diferenciação
consoante o tipo de eventos. O evento interior não é um evento ao ar
livre em termos de segurança, de som. São realidades completamente
diferentes. Uma sala fechada de um festival aberto que se calhar
44 NOJUN20
R E P O R T A G E M
tem outra capacidade que também pode vir a
ser reduzida. Assumiu também que é possível
atualizar o diploma que está em vigor consoante
a realidade da COVID-19 em Portugal, ou seja,
na altura em que nós estamos a prever o nosso
evento, a realidade pode ser péssima como muito
boa, bastante favorável. Portanto, eles conseguem
fazer as alterações às medidas de proteção e de
segurança conforme a situação do momento e
remeter também a decisão sobre a realização dos
festivais, porque essa pergunta é concreta para o
conselho de ministros que se realiza na próxima
quinta-feira e estamos bastante expectantes e
também bastante conscientes do que isto implica
e volto a referir que em primeiro lugar está a
saúde e a proteção da nossa população (…) eu,
por exemplo, já estou a trabalhar desde janeiro de
2019 a edição do Burning Summer de 2020 quando
ainda nem tinha feito o de 2019, portanto para as
pessoas também perceberem que o trabalho de um
festival é muito antecipado para conseguirmos os
melhores valores(…).
De seguida, Ricardo Freitas apoia-se na introdução
de Filipe para referir que o “MEO Monte Verde foi
um festival que nasceu em 2012 e que começou
com uma brincadeira de amigos e foi crescendo ao
longo dos anos em oito edições (...) atingiu uma
dimensão que muitos consideram o maior festival
de música da região. As coisas culminaram, nós
estávamos num momento muito feliz do festival.
“É PRECISO LEMBRAR QUE NÓS SOMOS
A CULTURA E OS AGENTE CULTURAIS
FORAM OS PRIMEIROS A SAIR E SERÃO
PROVAVELMENTE OS ÚLTIMOS A ENTRAR”
NOJUN20 45
R E P O R T A G E M
Conseguimos fechar aqui um acordo com uma
das principais marcas a nível nacional e o que é
verdade é que de um momento para o outro as
coisas mudaram de uma forma radical. A nossa
atividade, a nossa subsistência é produzir eventos,
portanto não é difícil de imaginar que nós nesta
fase estamos aqui uma situação bastante dramática,
digamos assim, porque toda a nossa atividade a
nível de receitas está a ser altamente impactada.
Em termos de receitas já tivemos que cancelar
dois dos nossos principais eventos, ou seja, em
termos de receitas houve impacto direto que isso
a nível de acordo tanto de fornecedores como de
artistas é uma das questões principais aqui do
MEO Monte Verde. A nível de bilhetes, parámos
de vender bilhetes completamente, pois as pessoas,
como é natural, não estão, nesta fase, com a cabeça
em estar a comprar bilhetes para eventos. As
medidas que tomámos e ao m ao cabo aquilo que
podemos fazer nesta fase é olhar para as nossas
despesas xas e tentar minimizá-las o máximo
possível. Nós, por exemplo, nesta fase aderimos
ao layoff, ou seja, nós temos a atividade muito
reduzida, por exemplo, a nível de novos espaços
de escritórios, uma vez que estamos todos a
trabalhar de casa, estamos a considerar abandonálos
nos próximos tempos, porque será também
uma forma de conseguirmos poupar aqui alguma
coisa, sendo que é uma despesa xa que temos
todos os meses. Estamos a aguardar aqui de certa
forma como todos os eventos e relativamente a
todos os presentes como já foi dito que na próxima
quinta-feira irão existir algumas novidades, iremos
perceber qual é que é o caminho que os festivais
de verão podem tomar, da nossa parte sendo
que é certo que até ao nal de agosto não poderá
acontecer nada, a perspetiva que nós temos é que,
havendo a possibilidade e naturalmente de acordo
com todas as normas que haverão de ser denidas
que podem implicar o nível do número de pessoas
num evento restrito, da permanência dentro do
recinto um conjunto de coisas que haverão de ser
denidas, a nossa ideia passa por adiar o festival e,
neste momento, é isto que temos em mente para o
primeiro m de semana de setembro. Até quintafeira
não poderemos garantir isso e depois então
perceber se é possível ou não. Do lado do MEO
Monte Verde o nosso interesse é assim que possível
fazermos alguma coisa porque ao m ao cabo esta
é a nossa subsistência e nesta fase não temos como
46 NOJUN20
R E P O R T A G E M
fazê-lo de outra forma”.
Passando a palavra para Patrícia Leite, a mesma
arma rever-se na “mesma pele”, dizendo que
também “estamos em layoff, a cultura para nós não
é um plano B esta é a nossa subsistência e estamos
a aguardar com alguma seriedade por aquilo
que vai ser decidido na próxima semana, porque
realmente a RFM Beach Power nós já estamos a
trabalhar neste festival já há mais de um ano, já
tínhamos coisas fechadas e pagas da nossa parte
e está a ser um bocado complicado no sentido de
podermos reaver o dinheiro o que acaba por ser
nanceiramente para uma empresa que vive desta
atividade vem colocar em causa a sua subsistência
(…) já sofremos com esta pandemia, já tivemos
um evento cancelado e estamos a aguardar
também na próxima quinta-feira. A nossa decisão
passa por não cancelar, mas sim adiar o RFM
Beach Power, porque queremos que o evento se
realize com a máxima segurança, mas também
sabemos da importância que o RFM Beach Power
tem a par do evento não só para a Ribeira Grande,
mas também para a região, porque é preciso não
esquecer e falo especicamente do RFM Beach
Power, porque é aquele que conheço por dentro e
por fora é um evento que eleva o nome da Ribeira
Grande e tudo aqui à volta. Portanto, a nível
nacional. (…) tudo aquilo que anda à volta do
negócio dos eventos nomeadamente relacionado
com o turismo e tudo aquilo que afeta diretamente
este setor”. A Dj justica a sua decisão no “sentido
de comunidade é bom para os ribeiragrandenses e
é muito bom esta aposta que a Ribeira Grande faz,
porque dá um sentimento de pertença bastante
grande a todos aqueles que vivem no concelho da
Ribeira Grande. O evento realiza-se numa zona
muito bonita na cidade para quem não vive cá,
vê as imagens que nós partilhamos com um areal
brutal e um sunset espetacular único no país, a
meu ver. A verdade é que isto nos traz turismo,
por isso é que nós somos a favor do adiamento
destes eventos porque os três eventos são
diferentes, cada um deles traz a sua importância
de uma forma bastante distinta que atrai bastantes
pessoas para o concelho e projetam o nome da
Ribeira Grande além-fronteiras”.
NOJUN20 47
R E P O R T A G E M
Alexandre Gaudêncio pergunta aos oradores quais
serão, a partir de agora, as soluções para o futuro,
armando que “traçando um cenário mais negro
e olhando o que vai acontecer na próxima quinta
onde pode ser decretado que efetivamente este
ano não deve acontecer este tipo de junção ou este
tipo de aglomeração de pessoas a que nós estamos
habituados nos vossos festivais, que alternativas
vocês acham que as autarquias, nomeadamente o
poder político ou público quer as autarquias locais
quer os governos, podem fazer para ajudar neste
caso os artistas?”.
Filipe Tavares, em nome do Azores Burning
Summer, adianta que “tal como os meus colegas
também partilhamos uma enorme vontade de fazer
este evento em setembro que é, neste momento, o
problema de todos os organizadores da região. Os
eventos que já foram cancelados estão cancelados,
mas há uma série de festivais na região que ainda
não assumiram este cancelamento, porque todos
nós temos compromissos e ser nós a assumirmos
sem ter uma base legal que nos proteja dessa
desistência é muito complicado. Portanto, as
pessoas que consideram que já devíamos ter
cancelado têm que também perceber que nós já
investimos um ano inteiro ou mais de trabalho,
pagamos ordenados às pessoas, (…) portanto, o
segundo ou o terceiro dia do festival é o momento
em que nós conseguimos recuperar algum desse
investimento para além do risco de mau tempo
de não haver receita de bilheteira de uma série de
coisas que nós já conhecemos”. Sobre a questão
do impacto do cancelamento, o organizador
arma que “é importante perceber que em termos
económicos os festivais representam cerca de 5%
do produto interno bruto (PIB) do país, da região.
Na Europa. até nem somos o país que investe
mais em cultura, mas que essa contribuição para
o PIB anda na média de 7%, portanto é bastante
signicativo. A suspensão da atividade cultural
obviamente que terá um impacto enorme na
nossa economia e diretamente em empresas que
estão relacionadas, agentes, artistas, produtores,
organizadores, técnicos e também um impacto
indireto”. Filipe Tavares realça que “o nosso festival
Azores Burning Summer, em concreto, deixa de
75% a 80% do orçamento do investimento na
região, portanto dentro da sustentabilidade que
nós promovemos esta é uma medida crucial e é
algo que nós temos muito orgulho em fazer que é
deixar dinheiro nas empresas e em trabalhadores
da região e efetivamente o que estamos a pagar
48 NOJUN20
R E P O R T A G E M
fora, os artistas que vêm de fora, e às
vezes temos que pagar companhias
aéreas, as viagens, (…)”. Mostra
também que metade dos serviços da
região estariam ocupados só com o
impacto do festival nomeadamente
“hotéis, restaurantes, alojamentos
locais, rent-a-car, diversos tipos de
serviços que estão relacionados com
os eventos direto ou indiretamente
que também são afetados por isso, há
uma série de reservas, por exemplo,
no nossa festival vamos trazer à volta
de 50 a 60 pessoas para cá e que vão
car hospedadas e que já contrataram
serviços e que infelizmente se não
avançarmos com o festival vão ter que
cair”.
O organizador é a favor de que “temos
sempre que analisar a nossa situação.
Estamos a falar no caso concreto dos
Açores e algo poderá ser diferente
do continente. Novamente, relembro
que nós vivemos em ilhas e temos
que perceber qual vai ser a aposta
do Governo Regional dos Açores
em termos de contenção. É tudo um
processo dinâmico, a cada dia temos
uma série de informações, amanhã
o estado pode piorar como pode
melhorar. Estamos todos expectantes e
no mesmo barco. O que não queremos
é dar a esperança aos fornecedores
e depois de repente ter de cancelálo
quando já metemos ainda mais
dinheiro. Em termos de medidas,
vejo a possibilidade de se ir a um festival ao ar
livre de máscaras, mas depois entram as questões
do ar, como é que bebes, como vais conseguir
consumir uma bebida com máscara, uma série de
constrangimentos que temos de analisar. Percebo
que, também, há a hipótese de limitar o número
de pessoas consoante a dimensão do recinto. A
segurança nos bares, nas casas de banho, no palco,
no backstage, ou seja, toda a circulação no recinto
vai ter de ser repensada”.
Ricardo Freitas, quando questionado pelos
espetadores da webinar sobre o cancelamento dos
transportes marítimos, responde que “por si só não
coloca em causa a viabilidade do festival. Não deixa
de ser um grupo importante do nosso público e
dos fãs do MEO Monte Verde (…) obviamente
que é uma pena essa situação, no entanto, se
realmente com a ocorrência do festival temos de
ver alternativas, relativamente aos transportes
aéreos, (…) mas não deixa de ter algum impacto
que gostaríamos de ter todas as pessoas de todas
as ilhas no nosso evento”. Foi também questionado
sobre a questão da quarentena dos passageiros
que vêm do exterior da região, armando que já
NOJUN20 49
R E P O R T A G E M
tinha pensado no assunto e que “é inevitável que
se a quarentena se mantiver não é possível trazer
artistas… até poderá ser possível num caso ou no
outro e independentemente das característica dos
eventos, às vezes artistas que existe uma relação
mais de amizade, pessoal, mas agora no nosso caso
concreto é quase impossível conseguir trazer estes
artistas e eles terem que car 14 dias, duas semanas
fechados num hotel, porque os artistas chegam no
próprio dia ou no dia antes”.
Para a organizadora do RFM Beach Power “o
festival não se consegue por de pé de um dia para
o outro. É um trabalho como vocês já disseram de
ano e temos de ter algum tipo de garantias e datas
para que isto possa acontecer”, mas a organizadora
“por muito preocupada que eu esteja com a
situação atual nós também temos de pensar que
o setor da cultura e da criatividade também tem
aqui uma excelente oportunidade para se adaptar
àquilo que estamos a viver e o que é facto eu
também acredito que com as outras organizações
aqui presentes também tenham a capacidade de
se adaptar para que num pior contexto possamos
continuar a exercer a nossa atividade que não pode
parar. Nós já tivemos aqui esta conversa e acho que
foi o Filipe que mencionou tudo aquilo de bom e
de positivo que trazem os eventos, mas acima de
tudo a saúde mental de todos (…)”. Patrícia leite
apela ainda para não esquecer que “se o COVID
também passou de forma mais ligeira para todos
aqueles que estão em casa, deve-se ao setor
cultural, porque foi o que se chegou à frente para
animar as pessoas. Nós assistimos a manifestações
culturais de forma completamente gratuita, as
pessoas dispuseram-se a fazer muito daquilo que
os outros não zeram, por isso é muito necessário
que todos os setores não esqueçam a importância
do setor cultural para o bem estar da população
e para a economia é muito importante que nós
consigamos continuar a exercer a atividade”,
esclarece ainda que “precisamos da ajuda das
entidades governamentais, das autarquias.
Fundamental será exercer nos próximos tempos
eventos sempre com supervisão da direção
50 NOJUN20
R E P O R T A G E M
regional da saúde”.
Para terminar, o autarca refere a importância que
têm os festivais na cidade e da sua preocupação à
volta do assunto. O presidente acrescentou que no
ano passado os “três festivais aqui representados
signicaram para a economia mais de três milhões
e meio de euros”. Também evidencia que a
“câmara municipal tem um parecer fundamental
para que estes eventos se realizem, mas também
nós sabemos o reverso da medalha e o impacto
que isso tem não só a nível económico, (…)”.
Alexandre Gaudêncio reconhece que “a projeção
que nós conseguimos alcançar além fronteiras
fruto do vosso trabalho e da vossa organização,
(…) todos os anos temos partilhado desta visão da
preocupação que temos tipo principalmente nos
festivais e falo aqui mais diretamente para o Monte
Verde que é trazer bandas locais, projetos locais sei
que também é uma preocupação do Filipe, o RFM
com uma preocupação de projetar DJ’s locais e
nós aqui quer em São Miguel e na Ribeira Grande
(…) e isso para dizer que há aqui uma dimensão
económica que não havendo este tipo de festival a
própria economia local vai se reetir”.
Pode-se concluir que todos os organizadores
partilham da mesma preocupação quanto ao
futuro da sua organização e dos seus eventos.
Verica-se que existem muitas diculdades a
nível monetário, devido à complexidade e ao
planeamento muito antecipado da organização
destes eventos. Também se pode observar
que a realização deste tipo de eventos move a
economia local e regional devido a outros serviços
necessários.
Os organizadores também falam e tentam
demonstrar a importância que o setor da cultura
tem não só na região e na sua economia, como
também na projeção dos Açores para o mundo.
NOJUN20 51
O P I N I Ã O
A IMPORTÂNCIA DO
MARKETING DIGITAL NA
Rúben Carreiro
CEO da empresa Seven Studio
NOVA REALIDADE COVID19
Perante o cenário de que vivemos nos dias de hoje
em que o distanciamento social è algo
bem vinculado nas nossas vidas tanto particulares
como prossionais a tecnologia torna-se
fundamental para a conexão entre empresas e os
seus clientes.
O Marketing Digital já à muito tempo que está
presente na vida dos empresários açorianos.
Mas, será que a maioria das empresas açorianas
estavam preparadas para esta nova realidade digital
em menos de 24 horas?
Nem todas, ou melhor, a grande maioria não
investiu no online, principalmente aquelas que
atuam em vendas físicas e de forma tradicional
”porta aberta à espera que alguém passe e entre”.
Sendo o digital essencial no decorrer dos dias de
hoje entre o contacto de empresas e os clientes
é um erro tremendo pensarmos que apenas por
termos a porta aberta vamos ter sucesso de venda.
O Marketing Digital agora mais do que nunca é
essencial no futuro das empresas açorianas e isso
revela o aumento de procura por esses serviços
entre as empresas de Marketing Digital, Design,
Vídeo e Fotograa.
Nós na Seven Studio por exemplo optamos
por criar pacotes empresariais com todas essas
variedades criando parcerias nesse mercado de
forma a conseguirmos facilitar a vida dos nossos
clientes onde apenas aderindo a um pacote
consegue entrar no mundo online de forma rápida,
objetiva e ecaz.
O contacto presencial também é muito importante,
mas, por agora, a máxima que impera é o
distanciamento social.
Use e abuse das tecnologias, dene estratégias
com a empresa de Marketing com quem trabalha,
atingindo o seu cliente ou potencial cliente de
forma ecaz.
Vivemos numa nova realidade e isso não é motivo
para cruzar os braços à espera que passe mas sim
de evoluirmos com o tempo e suas circunstâncias.
52 NOJUN20
R E P O R T A G E M
Balanço da situação de
pandemia nos Açores
durante o mês de maio
RUI SANTOS
Para além dos dados do COVID-19 no mês de
maio na Região, são referidos os acontecimentos
relacionados com a pandemia que marcaram os
Açores durante esse período.
O primeiro dia do mês começou com a informação
da Autoridade de Saúde Regional (ARS) sobre
o diagnóstico de quatro novos casos positivos
de COVID-19 na ilha de São Miguel, depois de
um período de oito dias, desde 22 de abril, sem
surgimento de novos casos.
Estes quatro novos casos reportavam-se a
três indivíduos do sexo feminino, com idades
compreendidas entre 85 e 97 anos, e um indivíduo
do sexo masculino, de 92 anos de idade, todos
institucionalizados na Estrutura Residencial para
Idosos da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste.
Neste mesmo dia, Tiago Lopes, Diretor Regional
da Saúde (DRS), anunciou a extinção de mais uma
cadeia de transmissão na ilha Terceira.
Ainda a 01 de maio, na sequência da monitorização
à situação da pandemia de COVID-19 nos Açores,
o Governo Regional procedeu à prorrogação de
algumas das medidas, nomeadamente no concelho
do Nordeste, incluindo a prorrogação das cercas
sanitárias. Foi decidido prorrogar, neste concelho,
a declaração do estado de calamidade pública das
00h00 do dia 04 de maio até às 00h00 do dia 18 de
maio.
No dia 02 de maio surgiu um novo caso positivo
na região, um indivíduo do sexo feminino, com 87
anos, institucionalizado no Lar de Idosos da Santa
Casa da Misericórdia do Nordeste.
A 05 de maio, após dois dias sem casos
diagnosticados, surgiu um novo caso positivo
referente a um indivíduo do sexo masculino de 23
anos, auxiliar no Lar de Nordeste que, segundo a
Autoridade Regional de Saúde, já se encontrava em
alojamento local de quarentena.
Este dia cou marcado pelo maior número de
casos recuperados num só dia, 11 recuperações,
passando o total de recuperados de 53 desde o
dia 03 de maio para 64 no dia 05, e os 76 casos
positivos ativos do dia anterior para 66.
Foi, também, decidido encerrar o Lar do Nordeste.
Tiago Lopes referiu que “o encerramento do
Lar do Nordeste acontece agora, porque agora é
que é o momento” e explicou que, ao contrário
do que aconteceu em situações semelhantes no
contexto nacional, que a ARS desde o início
decidiu separar os casos positivos e os negativos,
mantendo os utentes do Lar em espaços
diferentes. Neste sentido, “não fomos a reboque de
ninguém e tivemos a nossa própria metodologia”,
acrescentando que o Lar de Nordeste “é uma
estrutura residencial para idosos e não uma
unidade de saúde”, sendo que a transferência de
utentes se realizou para que “a recuperação fosse
acompanhada com as condições necessárias”.
No momento estava a ser criada uma enfermaria
COVID-19 no concelho da Povoação para
acompanhar os casos recuperados, com o intuito
de manter separados os utentes infetados dos
NOJUN20 53
R E P O R T A G E M
utentes recuperados e também dos indivíduos que
permaneciam sem apresentar sintomas do vírus.
De acordo com o DRS, “estamos a fazer claramente
a separação entre todos não havendo partilha de
espaços e prossionais”.
Assim, a ilha de São Miguel passou a ter duas
enfermarias COVID-19, na Povoação para os
utentes recuperados e no Centro de Saúde de
Nordeste para os utentes negativos que estavam
institucionalizados no Lar de Nordeste.
À data de 07 de maio, Tiago Lopes chamou a
atenção para mais sete casos recuperados neste dia,
elevando o número para 71, permitindo, a partir
daí, registar nos Açores um maior número de casos
recuperados do que de casos positivos ativos, que
no momento se encontrava nos 58.
O Hospital da Horta (HH), devido à recuperação
de um indivíduo, cou sem utentes internados
pela COVID-19 e o concelho da Madalena do
Pico deixou de ter casos positivos ativos. O DRS
informou também que o risco de transmissão na
Região reduziu para 0,39% e o máximo que foi
Grafico Com base nos dados da Autoridade Regional de Saúde
registado desde o início da pandemia foi de 1,7%.
No dia 08 de maio, o Governo Regional deixou de
suportar as despesas das pessoas não residentes
que se deslocassem ao arquipélago.
Segundo Tiago Lopes passou-se a registar em
todas as ilhas mais casos recuperados do que casos
positivos ativos.
No dia seguinte, 09 de maio, O DRS anunciou
as circulares, produzidas e emitidas pela
Direção Regional da Saúde, no âmbito das
datas, procedimentos e medidas a adotar para
se dar início ao desconnamento de alguns
estabelecimentos comerciais e instituições
sociais, com critérios diferenciados por ilhas. O
Diretor Regional lembrou ainda que a denição
de caso suspeito foi alterada na Região: “a partir
de determinada altura, a nossa denição de caso
suspeito passou a presença de sinais ou sintomas
de infeção respiratória”.
A 10 de maio, após quatro dias sem novos casos
positivos, surgiu um novo caso diagnosticado
na ilha de São Miguel, um indivíduo do sexo
masculino, de 35 anos de idade, com origem numa
viagem ao território nacional no nal de abril,
54 NOJUN20
R E P O R T A G E M
Grafico Com base nos dados da Autoridade Regional de Saúde
tendo cumprido a sua quarentena no domicílio, a
par de dois outros casos que estavam a bordo do
mesmo avião.
Para além de um novo caso positivo, surgiram
cinco recuperações e deu-se como terminada a
segunda cadeia de transmissão da ilha Terceira,
restando três cadeias de transmissão ativas, uma no
Pico e duas em São Miguel.
O dia 11 contou com seis recuperações, passando
de 83 do dia anterior para 89 e mais um óbito de
um indivíduo do sexo masculino de 92 anos de
idade que residia no lar do Nordeste. Foi o último
óbito do mês, perfazendo o total de 16 óbitos desde
o início da pandemia.
Com as recuperações deste dia, tanto o concelho
do Nordeste (14 recuperados e 13 ativos) como o
concelho da Povoação (cinco recuperados e três
ativos) passaram a ter mais casos recuperados do
que casos ativos.
As exceções à quarentena em unidade hoteleira
geraram alguma polémica. Em relação às mesmas,
Tiago Lopes explicou que, segundo resolução do
Conselho de Governo, “são casos de força maior”,
que por sua vez são causas “avaliadas e aferidas
casuisticamente” e que o DRS englobou em
motivos “da área da saúde, do foro judicial, do foro
laboral”, como também exceções de “casos de vida
ou de morte”, como “o acompanhamento de um
funeral de algum familiar”.
A partir do dia 12 de maio as conferências de
imprensa diárias da ARS a expor a situação
pandémica da Região passaram a ser realizadas
duas vezes por semana, à terça e sexta feira, quando
havia até à data 38 casos ativos na Região, 30 na
ilha de São Miguel, três no Pico, um em São Jorge,
dois no Faial e dois na Graciosa, 91 recuperados e
16 óbitos.
No dia 15 de maio Tiago Lopes explicou que o
aumento dos casos suspeitos se deveu aos rastreios
realizados à comunidade escolar (docentes, não
docentes, estudantes) com vista a iniciar as aulas
presenciais.
Andreia Cardoso, Secretária Regional da
Solidariedade Social, apresentou o calendário de
reabertura das respostas sociais dos Açores com
datas diferenciadas entre as ilhas, conforme a
situação de pandemia que cada uma atravessava.
A 18 de maio surge um novo caso positivo,
no âmbito do rastreio organizado às unidades
escolares, quando a Região já estava com sete dias
NOJUN20 55
R E P O R T A G E M
consecutivos sem surgimento de novo caso.
No dia 19, Tiago Lopes disse que este novo caso
correspondia a uma funcionária de uma escola
da ilha de São Miguel, identicada através do
rastreio. No entanto, após a realização de um
segundo teste, este obteve resultado negativo.
O diretor acrescentou que foram adotadas as
medidas preventivas adequadas e que seria feito
um novo teste nas 48 horas seguintes.
Ainda no mesmo dia, o Hospital do Santo
Espírito da ilha Terceira deixou de ter casos
positivos ativos de COVID-19, restando apenas
quatro utentes internados na Região, passando a
ser o Hospital do Divino Espírito Santo o único
com internamentos por COVID-19.
22 de maio foi o dia em que foi realizado o maior
número e análises desde o início da pandemia na
Região, registando-se 943.
Relativamente às escolas, à data haviam sido
testadas 4495 pessoas, 3323 tiveram resultado
negativo, 1171 aguardavam resultado ou colheita
e um caso positivo ativo, que surgiu no dia 18,
que Tiago Lopes continuou a considerar como
positivo “independentemente de ter feito outros
testes”.
No dia 24, a ARS comunicou que, no momento,
não haviam casos positivos ativos internados
nas unidades de saúde da Região. Entre os
recuperados registaram-se três casos de utentes
da Estrutura Residencial para Idosos da Santa
Casa da Misericórdia de Nordeste, com idades
compreendidas entre os 95 e 97 anos, não
remanescendo, à data, qualquer caso positivo
entre os utentes da estrutura.
A 26 de maio a cadeia primária de Ponta Delgada
passou a estar extinta.
A 28 foram registadas duas recuperações, sendo
uma delas de um indivíduo do Pico, o que tornou
a ilha na oitava do arquipélago sem registo de
casos positivos ativos por infeção de SARS-
CoV-2, restando apenas dois casos positivos
ativos na ilha de São Miguel.
No dia 29 de maio, Tiago Lopes armou que
“estamos na altura certa para levantar algumas
restrições, nomeadamente na circulação interilhas”.
No mesmo dia o Governo Regional dos Açores,
através de Berto Messias, Secretário Regional
Adjunto da Presidência para Assuntos Parlamentares,
no Palácio dos Capitães Generais, em Angra do
Heroísmo, divulgou uma Declaração sobre as
medidas de desconnamento a implementar no mês
de junho na Região, dado que a monitorização feita
à evolução da pandemia nos Açores permitiu ao
Governo Regional concluir que o número de casos
positivos recuperados na Região tinha registado um
crescimento contínuo e, à data, havia apenas dois
casos positivos na ilha de São Miguel e as cadeias de
transmissão na Região encontravam-se “praticamente
extintas”, à exceção de uma, que já estava restrita e
sem disseminação, em São Miguel.
56 NOJUN20
o CDS-PP/Açores “apoiou, sem exceção, todas
as medidas que o Governo Regional tomou para
combater a pandemia, mas agora temos uma
nova batalha em mãos: é preciso pôr a economia
a funcionar. Não há saúde sem economia nem
economia sem saúde”.
Artur Lima, Líder do CDS-PP/Açores
“É TEMPO DE SUBSTITUIR MEDO POR CONFIANÇA. QUERO FELICITAR
O ESFORÇO DOS EMPRESÁRIOS E PRODUTORES REGIONAIS, QUE,
ATRAVÉS DA SUA CULTURA DE CORAGEM E CONFIANÇA, CONTRARIAM
UM CLIMA DE INCERTEZA, GARANTINDO TODAS AS CAUTELAS
DE PROTEÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA, OS NOSSOS EMPRESÁRIOS
TRANSMITEM AOS CONSUMIDORES OS SINAIS DE CONFIANÇA
NECESSÁRIOS PARA A INADIÁVEL RETOMA DA VIDA ECONÓMICA E
SOCIAL DOS AÇORES”.
JOSÉ MANUEL BOLIEIRO, PRESIDENTE DO PSD/AÇORES
“Estamos na altura certa para levantar
algumas restrições, nomeadamente na
circulação inter-ilhas”.
Tiago Lopes, Diretor Regional da Saúde e Autoridade Regional de Saúde
“O Turismo só é bom para os
Açores se for bom para os
açorianos”.
MARTA GUERREIRO, SECRETÁRIA REGIONAL DA ENERGIA, AMBIENTE E TURISMO
NOJUN20 57
C R Ó N I C A
Por Ricardo Silva
Vitorino Nemésio, Se Bem Me Lembro…
Dê-me conta que ainda nesta coluna não tinha uma presença
açoriana! Começar por uma das maiores não é tarefa fácil, mas o
que se pretende também não é nenhum assomo de academismo
sobre o trabalho literário de Vitorino Nemésio, mas tão somente
a partilha de uma leitura. A partir de um de um pequeno livro
organizado por Joana Morais Varela onde a mesma seleciona um
conjunto de textos de diversas obras do grande escritor açoriano
dado à estampa, pela editora Contexto, em 2001, com um
propósito de assinalar o centenário do nascimento de Vitorino
Nemésio, o ensaio “Gaspar Frutuoso” é de uma vivacidade
assinalável! Identicado o visado e do qual Vitorino Nemésio
pretende obter, com o seu estudo, uma ideia mais próxima e
real, sobre tão proeminente gura da cultura açoriana. Tem
um começo soberbo: “Este Gaspar Frutuoso, clérigo de missa,
bacharel salmantino na Sagrada Teologia, prior que foi das
Matrizes da Lagoa e da Ribeira Grande na ilha de S.Miguel, é
uma das vidas que trago atravessadas, e que levarei por imitar
à terra que me há-de comer.” Num parágrafo de grande beleza
sintética, tanto que é dito sobre Gaspar Frutuoso! Que estudou
em Salamanca, Bacharel em Teologia, prior de vida na Lagoa
e na Matriz da Ribeira Grande, é vida que Vitorino Nemésio
admira até à sua morte e que nunca chegará a imitar, na sua
perspetiva. Imagina-o nas suas missas matutinas e na sua vida de
pároco: “ Mas era padre e cura de almas; os seus costumes não
andaram longe do calendário litúrgico e do ramerrão paroquial”,
interrogando-se, e é verdade, que ele - Gaspar Frutuoso - que
tanto escreveu não tenha dito nada acerca de si até ao dia que “ a
terra, que o comeu, cispou o segredo das suas ocupações miúdas
na sua pedra tumular.”
Numa imagem sempre muito imaginada de Gaspar Frutuoso,
numa das suas missas em que a descrição do espaço e do tempo
é magnica, alerta para as preocupações do padre e do cronista.
Não é certamente o latim, que o sabe, ou a sonolência das suas
madrugadoras paroquianas, mas sim a sua Crónica – que o
58 NOJUN20
C R Ó N I C A
domina - em que desembocou as suas Saudades
da Terra. Frutuoso é cronista e quer fazê-lo bem!
A dimensão do seu esforço é atlântica. Arrolar e
inventariar tudo o que sabe e que lhe zeram chegar
sobre os Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde,
criando um verdadeiro mapa do tesouro sobre
famílias, lugares, geologia, geograa, fauna , ora,
catástrofes, topograa, fomes, pestes, etc. é algo,
que mesmo hoje, achamos tão grande, tão grande,
quanto difícil na persistência e na diculdade
de recolher tanta informação. No vagar diário
encontrou uma força de inspiração divina para
décadas de registos.
Foram os registos de Frutuoso que tiraram da
névoa os arquipélagos atlânticos dando-lhes os
primeiros traços de História num contexto de
valor Renascentista e de ideal humanista. Que
tarefa prodigiosa, funda e profunda, e assim sendo
como não poderia estar ele de fronte carregada na
missa imaginada por Nemésio. Foram seis livros de
Crónica de “ letrinha orida, caligrafada, nítida…”
no dizer do nosso armativo ilhéu, vaticinando que
terá sido um belo destino para um micaelense com
Artes de Salamanca que no meio de alguma sorte,
e de vontade própria também, teve um carreira
eclesiástica tépida ( na segunda metade da sua
vida), mas que lhe permitiu construir uma obra
fundamental para nós Açorianos, como para outros
atlânticos povos, inscrevendo o nosso nascimento
numa História mais clara e percetível na linha do
tempo.
Um texto pequeno, mas de uma beleza imensa que
se sente tanto quanto o número de vezes que se
queira ler!
De Frutuoso pouco dissemos ainda. Nascido
em Ponta Delgada em 1522 sendo estudante em
Salamanca, já como um homem maduro, e vigário
na Lagoa e em Bragança antes de chegar à Ribeira
Grande. É provavelmente aqui que começa as suas
Saudades da Terra como primeira parte de uma
trilogia composta por mais duas, Saudades do Céu
e História das Ilhas. Da última não chegou até nós
nenhum documento comprovativo da sua existência
e da penúltima só o manuscrito de alguns capítulos
e o Índice da obra que dá uma ideia do Plano global.
Tal como Vitorino Nemésio se interroga sobre
o prodígio do saber e da qualidade da escrita do
nosso pioneiro da historiograa insular, também
nos podemos deliciar com um excerto do Capítulo
XLVI, do seu Livro Quarto das Saudades da
Terra naquilo que intitula como “Da Descrição
da Vila da Ribeira Grande e Coisas Dela”. Citase:
“ A vila da Ribeira Grande, nobre com seus
moradores, rica em suas terras, bem assombrada
com seus campos e fértil com seus frutos, está
situada de aquém e de além de uma grande
ribeira, de que ela tomou o nome, quase no meio
da ilha, em uma grande baía da banda do norte,
ao pé de uma serra muito fresca ( que, por estar
perto da sua planície, está uma realçando a outra,
fazendo-a juntamente mais graciosa que outras
muitas vilas)”(…). A descrição prossegue, mas
esta entrada, este início é tão ajustado à localização
da atual cidade da Ribeira Grande quanto belo na
verdade do seu conteúdo e na graciosidade da sua
forma! Como ribeiragrandense não posso deixar
de sentir a vibração das palavras desta Descrição, a
sua total adequação a uma paisagem que ainda hoje
testemunha as palavras de Frutuoso.
São textos, um e outro, que merecem ser lidos
pelos sentimentos (e conhecimentos também) que
nos transmitem, salvaguardando as dimensões
e o propósito da procura em cada um, mas só se
pode reconhecer a interrogação e a admiração de
Vitorino Nemésio se se ler Gaspar Frutuoso. Um e
outro unem-se na comunhão estética da palavra.
A leitura de ambos vale a pena!
NOJUN20 59
C R Ó N I C A
Esquecidos
amanhã?
Pedro Soares - Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção
Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros
Os Heróis de hoje são as bestas de ontem e os
esquecidos de amanhã. Os Enfermeiros, com todo
o prossionalismo, espírito de missão, coragem e
sacrifício pessoal, são um exemplo no combate ao
Covid-19.
Se hoje os Açores são um caso de sucesso na
contenção dos danos do novo coronavírus, se foi
possível “aplanar” a curva das infeções, limitar
a mortalidade e gerir com folga os recursos do
Sistema Regional de Saúde, é bom que todos, e
cada um de nós, se convença de que todos estes
resultados são voláteis. É crucial que a atitude e
a maturidade que os Açorianos revelaram nestes
últimos 3 meses se mantenham. Não é o Governo
Regional que tem a chave para o sucesso da fase de
abertura que agora acontece, são as pessoas.
Se a Região levou muito a sério a ameaça do vírus
e o conteve, terá de ser capaz, agora, de se manter
alerta para gerir o seu potencial de destruição.
Vencemos a primeira batalha, mas a guerra é longa
e dura.
Esta pandemia, que assola o mundo inteiro,
veio colocar a descoberto toda a entrega dos
Enfermeiros Açorianos, dos Enfermeiros. Hoje,
presenteados com o título “heróis da linha da
frente”, os Enfermeiros estiveram presentes em
todas as etapas do combate, mesmo, por vezes,
perdendo a luta, e como é difícil aceitar perder
uma luta, anal são gente que cuida de gente, e por
vezes, precisam ser cuidados.
Exerceram as suas funções, dia após dia, por vezes
sem os equipamentos de proteção adequados
que não chegavam em quantidade e qualidade,
sem serem testados, turno após turno, chegando
inclusive a mais de 12 turnos seguidos, sempre
com o machado do medo sobre as suas cabeças,
chegando mesmo a terem de se afastar dos seus,
para também os proteger.
Quantas vezes um simples obrigado teve todo o
valor do mundo? E receberam da comunidade
esse gesto, aliás, receberam muitos gestos de
agradecimento por parte da sociedade, tendo
muitas das vezes sido estes o alento para continuar.
Mas, não passou muito tempo desde que os
“heróis” da atualidade eram chamados de “bestas”,
“criminosos”, “selvagens”, quando simplesmente
reivindicavam melhores condições de vida, como
foi exemplo o descongelamento da carreira,
ordenados correspondentes aos seus níveis de
especialização, estatuto de prossão de risco e
melhores condições no próprio sistema de saúde.
Apesar de tudo isto, os Enfermeiros nunca, em
tempo algum, abandonaram as populações,
mesmo quando o coração batia a medo, os olhos
emanavam esperança. Sempre foi assim, desde
o primeiro minuto da vida de todos nós, até ao
último momento sentido.
Tenta-se voltar à normalidade, esquecer de certa
forma esta pausa na vida de todos nós, mas aquilo
que foi uma “pausa” para muitos, para outros foi
um combate duríssimo, que deixará marcas para
sempre em muitos prossionais, em especial para
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esta prossão que para alguns não conta como uma
prossão de risco. São necessárias mais provas?
Há enfermeiros completamente esgotados, física
e emocionalmente. E o que podemos fazer por
eles? Não será provavelmente aplicar descontos
indiscriminadamente àqueles que, por terem
contraído o vírus e terem que levar a cabo uma
quarentena, caram sem trabalhar, assim como não
será manter direitos diferentes para enfermeiros
nas mesmas equipas, nas mesmas funções. Urge
aprender com este vendaval que nos assolou,
entender que temos muito para corrigir.
É necessário percebermos que o número de
enfermeiros nos Açores é muito limitado, a
sua reorganização, cálculo de dotações seguras
e xação tem de ser uma realidade pensada
seriamente, está em causa um dos pilares
fundamentais de segurança e atendimento na
saúde, a Enfermagem.
Os exemplos de situações a corrigir continuam. Por
exemplo, continua a haver um estágio prossional
para enfermeiros que não faz outra coisa que
não seja aproveitamento de mão de obra barata e
temporária. Devemos mesmo ser um case study
sobre este assunto, visto que Portugal Continental
e Madeira já aboliram a sua versão do Estagiar
L para enfermeiros, mas os Açores não. Os
enfermeiros neste programa têm de ser absorvidos
pelas Instituições e tratados com dignidade
prossional.
Depois temos as estruturas residenciais para
idosos, onde, em algumas situações, os enfermeiros
estão a receber ordenado base abaixo do valor que
qualquer enfermeiro deveria receber, ou os rácios
enfermeiro/utente que não são respeitados.
De salientar, ainda, que a 1 de Abril de 2019 foi
noticiado que os Enfermeiros nos Açores iriam ver
recuperado de forma integral o tempo de serviço, o
que até à data de hoje ainda não se vericou.
E a lista continua, mas mesmo assim, os
Enfermeiros Açorianos disseram presente e
contribuíram de forma decisiva e assertiva para
que, nos Açores, pudéssemos passar por este agelo
com menores diculdades.
Não tarda e estaremos a sair desta anormalidade
em que se tornou o nosso dia-a-dia e
regressaremos ao normal que éramos. Quero, no
entanto, acreditar que o povo Açoriano é um povo
de memória e que os Enfermeiros que hoje foram
“heróis” serão apoiados amanhã, junto de quem
dita as leis, e que por uma vez se faça justiça a estes
prossionais.
Os Enfermeiros sabem hoje que podem contar
com a sua Ordem prossional nesta caminhada,
sabem que ninguém ca sozinho e que será uma
luta intransigente pelo bem dos Enfermeiros e das
nossas populações das nove ilhas.
Ontem intitularam-nos “bestas”, hoje chamam-nos
“heróis”, amanhã não podemos ser “esquecidos”.
Todos são, apenas, dos melhores prossionais do
mundo, e que todos os dias se levantam para ir
cumprir a missão que escolheram nas suas vidas,
orgulhosamente enfermeiros.
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C R Ó N I C A
Brexit, PAC e
António Ventura
Deputado pelo PSD Açores
na Assembleia da republica
POSEI
O Reino Unido deixou a União Europeia a 31 de
janeiro. Agora, segue-se o período de transição
para uma negociação futura de vários âmbitos, que
termina a 31 de dezembro deste ano.
Dentro de várias questões, que esta situação
levanta na UE, importa saber o que isto signica
para a futura Política Agrícola Comum (PAC).
Uma política fundamental para a existência da UE.
Ora, o Reino Unido participa no orçamento
comunitário com 9 300 milhões de euros, dos
quais, 38% é absorvido pela PAC. Quer isso dizer
que a perda de fundos na PAC seria de 3 600
milhões de euros.
Se adicionarmos a esta perda de fundos, os temas
da COVID-19, da segurança e da migração,
onde é necessário aumentar o nanciamento
comunitários, então rapidamente percebemos que
Portugal terá de se munir de bons argumentos e
encontrar os melhores parceiros para não perder
fundos comunitários para a agricultura depois de
2021.
É um facto que a PAC está cada vez mais
desajustada da realidade, necessitando de novas
abordagens políticas e novos conceitos de
competitividade, protecionismo e especicidade,
baseados em aspetos sociais, económicos e de
valorização das populações e seus territórios.
Na PAC reformulada, urge existir um novo
reconhecimento do agricultor enquanto produtor
de alimentos e do seu papel social e guardião do
ambiente.
Para além desta base, e entre outras situações,
sou da opinião que devemos evoluir para a
implementação de sistemas de proteção ao
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rendimento ao agricultor (incluindo preços
mínimos), o estabelecimento de uma nova
denição de competitividade, protecionismo,
especicidade, diferenciação e identidade para a
agroruralidade.
Acresce, ainda, a urgência no melhoramento
do posicionamento dos agricultores na cadeia
alimentar e nos mercados, o aprofundar da
monitorização dos preços e assegurar uma
agricultura sem prejuízo nos acordos comerciais
multilaterais e bilaterais. Acordos com muita
“hipocrisia”, porque se exige cá dentro normas
sanitárias, de bem-estar-animal e padrões
éticos, sociais e ambientais, que não se exige nas
importações. Repare-se o caso do MERCOSUL.
Nestas temáticas tão importantes para o futuro de
Portugal, que envolvem a agricultura, o território,
o ambiente, a alimentação, a saúde e a demograa,
não podemos chegar tarde. Isto signica que
devemos estar sempre em permanente negociação.
No caso dos Açores e da Madeira, é de todo
conveniente que os Governos Regionais atuem por
ação própria, na abrangência setorial e na dotação
nanceira do Programa de Opções Especicas
para o Afastamento e a Insularidade nas Regiões
Ultraperiféricas (POSEI), que tudo indica que
irá sofrer uma diminuição de verbas. O drama
que vivemos provocado pela COVID-19, cria
argumentos contra a descida das dotações deste
programa.
Este programa precisa estar “blindado” a qualquer
tentativa de decréscimo de fundos, pelo contrário,
cada vez mais se verica que a dotação nanceira
deste programa está aquém das necessidades
agrorurais dos respetivos territórios.
Nos Açores, o POSEI precisa de um reforço de 10
milhões de euros, para evitar os chamados rateios
nas ajudas aos agricultores e que, em algumas
medidas, atingem os 30% do valor anunciado.
Este reforço ganha importância, tendo em
conta a premência em melhorar a nossa autosustentabilidade
alimentar. Uma questão de
soberania regional e de saúde pública.
O amanhã da PAC é um amanhã que diz respeito a
todos nós, porque sem alimentos ninguém vive.
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MONITORIZAÇÃO DA MOSCA-
DA-AZEITONA (BACTROCERA
OLEAE GMELIN), NOS POMARES
DE OLIVEIRAS DO PORTO
MARTINS - ILHA TERCEIRA
Na Região Autónoma dos Açores existe a cultura
de oliveira, embora esta não faça parte das
estatísticas. A Terceira e o Pico são as duas Ilhas do
Arquipélago onde a cultura da oliveira apresenta
uma produção relevante, mesmo sendo esta
cultivada em pequenas áreas (Lopes et al., 2009a;
2009b).
A cultura da oliveira na Ilha Terceira apresenta
alguns problemas tossanitários, sendo
semelhantes aos que aparecem com grande
importância a nível nacional. Os principais
problemas são as pragas como: a mosca-daazeitona
(Bactrocera oleae Gmelin.), a traça-daoliveira
(Prays oleae Bern.), a cochonilha-negra
(Saissetia oleae Oliv.) e uma nova praga, que surgiu
em 2008, o algodão-da-oliveira (Euphyllura olivina
Costa) (Bento, 1997).
A estimativa do risco para esta praga-chave
é realizada normalmente com o auxílio de
armadilhas quer do tipo Delta (Jackson) com
uma feromona sexual especíca, que capturam
os machos adultos da mosca-da-azeitona, quer
outras armadilhas denominadas de “copomosqueiro”
com atrativo alimentar especialmente
vocacionadas para a captura das fêmeas.
Normalmente a observação destes dispositivos
é realizada quinzenalmente, registando-se as
capturas, dos adultos, obtidas em folha construída
para esse efeito (Bento, 1997).
Com este estudo pretendeu-se identicar os
períodos de presença dos adultos da moscada-azeitona,
tentando perceber em que altura
é que esta praga registou os maiores níveis
populacionais; comparar olivais com tratamentos
e sem tratamentos tossanitários de forma a
perceber se existiam diferenças signicativas
entre eles; avaliar o verdadeiro impacto desta
praga na cultura através da determinação da
percentagem de frutos afetados pela mosca-daazeitona
e vericar se existia alguma relação entre
a intensidade da população dos adultos da moscada-azeitona,
os prejuízos provocados por esta
praga e a altitude dos olivais.
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MONITORIZAÇÃO DOS ADULTOS DA MOSCA-DA-AZEITONA
A monitorização dos adultos da mosca-daazeitona
foi realizada em sete olivais na zona de
produção do Porto Martins, entre os meses de
julho a outubro de 2011. A monitorização dos
adultos de mosca-da-azeitona foi realizada através
de armadilhas denominadas de “copo mosqueiro”
com uma solução de difosfato de amónio (em
cristais diluídos em água a 5%), atrativo alimentar
para machos e sobretudo para fêmeas desta praga.
Estas armadilhas foram colocadas aleatoriamente
nas parcelas, cando em média uma armadilha
por cada 3 árvores. A sua observação foi realizada
quinzenalmente, registando-se as capturas dos
adultos, de 5 armadilhas, escolhidas aleatoriamente
em cada olival.
Para vericar se existiram diferenças signicativas
entre os olivais, quando comparados com um olival
de controlo (olival sem tratamentos), realizou-se
uma análise estatística. Na realização de qualquer
análise estatística, é fundamental conhecer a
distribuição dos dados a analisar.
RESULTADOS
Na evolução populacional dos adultos da moscada-azeitona,
foram identicados dois picos, um
de menor abundância populacional em agosto e
outro de maior intensidade em outubro. Embora
em setembro também tenha ocorrido um pico de
grande abundância populacional, este registou
sempre valores inferiores aos dois picos atrás
mencionados.
O mês de outubro apresentou o pico de maior
abundância populacional da mosca-da-azeitona,
porque nesta altura a azeitona já apresenta uma
completa maturação, o que a torna mais suscetível
ao ataque de B. oleae, por outro lado agosto
mostrou o segundo pico de maior abundância
populacional da praga, pois a azeitona ainda está
verde e a começar no seu processo de maturação
O mês de julho apresentou o pico de menor
abundância populacional de B. oleae, porque
é nessa altura que a mosca-da-azeitona está
impossibilitada de realizar posturas devido às
reduzidas dimensões do fruto.
AVALIAÇÃO DOS PREJUÍZOS CAUSADOS PELA MOSCA-DA-AZEITONA
Na avaliação dos prejuízos provocados pela mosca-da-azeitona o olival não tratado apresentou uma maior
percentagem de prejuízos provocados por esta praga quando comparado com todos os olivais tratados.
O olival não tratado apresentou 90% de prejuízos nos frutos provocados por B. oleae, quando comparado
com os olivais tratados que apresentaram percentagens entre 8-20% de prejuízos. Outros autores também já
descreveram prejuízos semelhantes causados pela mosca-da-azeitona (Athar, 2005; Meneses, 2012).
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CONCLUSÕES
Ao avaliar os períodos de maior incidência
dos adultos da mosca-da-azeitona observou-se
que entre os meses de agosto e outubro, foram
registados os maiores indicies populacionais de
B. oleae, evidenciando assim este período como
o de maior preocupação e atenção por parte dos
produtores, onde deve incidir a aplicação de
medidas limitadoras, do aumento da densidade
populacional dos adultos desta praga.
Quando comparados os olivais com tratamentos
com o olival controlo, vericou-se a existência
de diferenças signicativas entre a maioria dos
olivais tratados, quando confrontados com o olival
controlo.
Os maiores prejuízos causados pela B. oleae foram
registados no olival de controlo, sem tratamentos,
apresentando um nível de prejuízos de 90%, que
quando comparado com os olivais tratados que
apresentaram prejuízos entre os 8 e os 20%.
Foi possível ainda neste trabalho, a obtenção
de uma correlação positiva entre a abundância
populacional da praga e os prejuízos provocados
pela mesma, para um nível de conança de 95%.
Isto poderá permitir armar que, quanto maior a
abundância populacional dos adultos da moscada-azeitona,
maior serão os prejuízos causados por
B. oleae, independentemente da altitude.
Angra do heroísmo, maio de 2020
Eng. ª Agrónoma Carla Menezes
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