Banda Final
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Revista Mariana Histórica e Cultural
A Revista Mariana Histórica e Cultural é uma publicação eletrônica criada pelo
professor Cristiano Casimiro dos Santos em parceria com Associação
Memória, Artes, Comunicação e Cultura – AMACULT de Mariana. O periódico
mensal tem por objetivo divulgar matérias, artigos, ensaios, entrevistas e
resenhas sobre a cultura e história da cidade de Mariana.
A Revista mostra a cultura de uma forma leve e traz histórias e curiosidades
da cidade de Mariana. A revista é um passo importante para a divulgação e
pesquisa de conteúdos sobre a cidade. Esperamos que as matérias publicadas
possam contribuir para a formação de uma consciência de preservação e
que incentivem pesquisas.
Neste mês de Mariana Terra das Bandas em parceria com a MASTERIX
Sistemas está disponibilizando na rede mundial de computadores o site:
www.marianahistoricaecultural.com.br. A finalidade desta plataforma é
permitir ao público o acesso virtual e gratuito às informações sobre cultura,
história e turismo de Mariana.
A revista eletrônica, a edição e impressa e a plataforma de pesquisa (site) não
receberam nenhum recurso ou apoio dos governos municipal, estadual
ou federal.
Assim, agradeço, imensamente, a todos que colaboram com esta publicação.
A revista impressa destinarou 100 unidades para a AMAR BANDAS -
Associação Marianense de Bandas.
Cristiano Casimiro dos Santos
Revista Mariana histórica e Cultural
AGRADECIMENTOS
As Corporações Musicais de
Mariana
Bruna Santos
Cássio Sales
César do Carmo
Eliete da Silva Lopes
Fábio Júlio
Fernando Marques de Souza
Flávio Brigoline Neme
George César da Silva
Gislaine Padula
José Eduardo Liboreiro
Josinéia Godinho
Luciano Laje Torres Alves
Márcio Eustáquio de Souza Lima
Rhelman Urzedo de Queiroz
Sandra Aparecida dos Reis
Sinésio Silva Cunha
Vitor Gomes
AMARBANDAS
PESQUISA
Arquivo Casa Setecentistas de Mariana
Arquivo do Museu da Música de Mariana
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana
Arquivo Eclesiástico – Arquidiocese de Mariana
Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal
ORGANIZAÇÃO
Diagramação e Arte: Cristiano Casimiro dos Santos
Revisão: Thália Gonçalves e Sandra Aparecida dos Reis
Fotografias: Photocarmo : César do Carmo, Fábio Júlio, Vitor Gomes
Arquivo Márcio Lima, Avelarsports, Márcio Eustáquio de Souza
Lima e Cristiano Casimiro dos Santos.
Capa: Cristiano Casimiro dos Santos
Tiragem: 1.000 exemplares
Gráfica: Gráfica Ed Del Rey Ind. comércio Eireli
Rua Geraldo Antonio de Oliveira, 88
Bairro Inconfidentes - Contagem/MG
Fone: (31) 3369-9400
CNPJ : 19.295.088/0001-44
marianahistoricaecultural@gmail.com
Índice:
02
06
08
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
Editorial
Sociedade Musical São Caetano
Corporação Musical São Sebastião de Bandeirantes
Nossos Maestros: Fructuoso Matos Couto
Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus
Sociedade Musical Nossa Senhora da Conceição
Nossos Maestros: Jorge Marques
Sociedade Musical São Sebastião Cláudio Manoel
Sociedade Musical Santa Cecília
Nossos Maestros: Aníbal Walter
Sociedade Musical XV de Novembro
Sociedade Musical São Sebastião de Passagem de Mariana
Nossos Maestros: Geraldo Elias Martins - Seu Gegê
Sociedade Musical Oito de Dezembro de Cachoeira do Brumado
Sociedade Musical São Vicente de Paulo
Sociedade Musical 16 de Julho
Infográco: Organização de uma Banda
Ophicleide - Construção da Memória Musical Marianense
Acervo: Márcio Lima
Foto: Cristiano Casimiro
Editorial Mariana a terra das Bandas
As tradicionais bandas de música destacam-se
no cenário cultural brasileiro constituindo
uma das práticas musicais mais
expressivas, desde a transição entre o
Brasil colônia ao período Imperial. Assim
tais grupos se tornaram marcos referenciais
da identidade cultural brasileira, atuantes
em distintas regiões do país, não deixando
de apresentar suas preciosas particularidades,
frente àmultiplicidade em que são
encontradas por todo o país.
Minas Gerais é o estado brasileiro no qual
se concentra o maior número de bandas em
funcionamento, contando com aproximadamente
800 grupos civis, nos quais atuam
cerca de 30 mil músicos, segundo dados da
Funarte.
As bandas de música mineiras perpetuamse
no decorrer do tempo e são um registro
vivo, um rico lugar de memória onde é
possível estudar as transformações pelas
quais a escuta musical brasileira passou.
Tais conjuntos instrumentais fizeram-se
presentes de maneira essencial em muitas
festividades, fossem religiosas, civis ou
domésticas. Sempre expressam o sentimento
de cada comunidade através de
diversos gêneros musicais, entrecruzando
no entretenimento as culturas do escrito;
popular; nacionalista; militar e religiosa.
Percebe-se que, qualquer que seja o repertório
adotado, a maioria das bandas não
deixa de prestigiar as obras compostas
pelos mestres músicos locais. De fato, tratase
de importantes mediadores que lançam
mão de seus próprios conjuntos, dotados
em sua bagagem musical de elementos que
exprimem aspectos singulares da cultura
local e do imaginário sociocultural de suas
comunidades.
Mariana, sede do bispado, foi a primeira vila,
primeira e única cidade da Capitania das
Minas Gerais no período colonial. A opulência
econômica refletiu em muitos aspectos
da constituição identitária dos moradores da
sede e dos arredores, dentre tais aspectos,
as artes e, de maneira muito expressiva, a
música. Somaram-se as condições favoráveis
para que aqui, muitos sujeitos fizessem
uso da música como mecanismo de poder
frente a seus respectivos grupos sociais,
tendo, na maioria dos casos, a catequese
como fio condutor. As habilidades técnicas
da execução musical primorosa, tanto da
composição, quanto na interpretação, se
demonstram por meio dos documentos em
papel ainda remanescentes de sua prática.
Mas, afinal, que fatores contribuíram para
que Mariana chegasse ao presente sendo
um dos municípios com o maior número de
corporações musicais do Brasil?
Tendo sempre sido um espaço de organização
social privilegiado no quesito urbanização,
vale ressaltar o processo inverso que
acometeu a trajetória demográfica marianense.
A cidade foi, inicialmente, urbana,
para só a partir do esgotamento do ouro se
ruralizar, como alternativa de diversificação
da economia, chegandoà efetiva retomada
da mineração no século XXI. No decorrer de
quase 200 anos dissolveram-se, inclusive,
as demarcações de terra que primeiro se
associavam às da própria arquidiocese.
Com isso, a paisagem sonora desse contexto
que se somava em mais de 150 paróquias,
chega à atual conjuntura políticogeográfica,
em que remanescem dez
distritos e dois subdistritos.
Etapas subsequentes estenderam a continuidade
da diversificação econômica que,
na primeira metade do século XIX, ocorreu
de maneira gradual. Em sua decorrência
intensificaram-se as marcas da urbanização
nas localidades menores do entorno. O trem
chegava a Mariana e, junto dele, as novidades
vindas do progresso, incluindo-se
música impressa e os instrumentos para
fazê-la soar. Nos distritos de Mariana ainda é
possível identificar edificações cujos traços
das fachadas remetem ao ecletismo do
começo do século XX, momento em que a
sociedade recebia, por meio dos vagões, um
novo fazer tecnológico; tarefas cotidianas
passavam a ser realizadas por ferramentas
mecanizadas e dotadas de mais recursos.
As agremiações tornaram-se marcas do
desenvolvimento urbano nos centros mais
adiantados. Os trabalhadores reivindicavam
seus direitos, organizavam-se os primeiros
partidos políticos e sindicatos. A paisagem
citadina recebia os coretos e as sociedades
musicais. Nesta região a presença de guarnições
militares viabilizou um referencial de
performance, uma vez que as bandas
militares, por terem profissionais com
dedicação quase exclusiva, soavam com
uma qualidade muito desejável.
Em Mariana, grupos musicais civis seguiram
à risca a composição visual dos militares.
Aqui conjuntos ainda foram idealizados por
mestres que incorporaram a tradição musical
vindas do século XVIII. Trata-se do amplo
e significativo repertório de música religiosa
mineira, criada predominantemente por
compositores que seriam, no seu período de
vida, chamados de mulatos, como Joaquim
Emerico Lobo de Mesquita, Francisco
Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto e
Inácio Parreiras Neves, João de Deus de
Castro Lobo, dentre outros, responsáveis
pela mais significativa criação obras musicais
da virada do século XVIII para o XIX. Tal
produção reforçou, comprovadamente, o
caráter tradicional do fazer musical nessas
corporações.
Como em nenhuma outra cidade do Brasil,
as Bandas de Música se proliferaram e
atravessaram dezenas de anos recriando
suas representações. Mariana possui hoje
11 corporações musicais em atividade, das
quais, conheceremos um pouco nas páginas
que se seguem.
Vítor Sérgio Gomes
Músico, pesquisador e professor
no Museu da Música de Mariana
Foto: Cristiano Casimiro
Foto e arte: Cristiano Casimiro
A BANDA
O Maestro levanta a batuta
Em um movimento ritmado.
A Música invade a rua, a praça e o sobrado
A moça corre para a janela, fecha os olhos,
suspira e lembra do namorado.
A criança, espoleta, no colo da mãe
move os braços, um para cada lado.
O caminho transforma-se em uma passarela
salpicada de seixo rolado.
O velho, de terno e chapéu, na esquina
assovia a melodia do dobrado.
A meninada, de pé descalço, corre pela ladeira
em um ritmo alucinado.
Sim, é a BANDA!
O compasso da harmonia
mistura presente e passado,
despertando nossa cidade e
trazendo alegria para um coração calado.
Professor Cristiano Casimiro
1836
Sociedade Musical São Caetano
Fotos Márcio Lima / Cristiano Casimiro /
Sociedade Musical São Caetano
O povoado de São Caetano surgiu em meados de
1697, com a chegada a região, do bandeirante
Paulista Salvador Fernandes Furtado de
Mendonça. Em 1703, o bandeirante se instalou
com sua a família às margens do Ribeirão do
Carmo, e edificou uma Capela particular dedicada
a Nossa Senhora de Loreto. Com o passar dos
anos, o número de moradores que habitavam em
torno da capela cresceu, dando origem ao povoado,
então denominado de São Caetano do Rio do
Carmo.
O povoado cresceu, e por volta de 1843, foi
elevado a categoria de distrito. Um século depois,
em 1943 o antigo arraial, passou a se chamar
Monsenhor Horta em homenagem ao antigo
sacerdote da Arquidiocese de Mariana,
Monsenhor José Silvério Horta.
Em 07 de Abril de 1836, foi criada no distrito a
Sociedade Musical São Caetano, considerada a
quarta banda de música mais antiga com Brasil, e
a terceira do Estado, com 182 anos de fundação,
de acordo com registros fornecidos pela
Fundação Nacional de Artes - FUNARTE.
Em meados da década de 90, foram descobertas
inúmeras partituras e registros da banda de
música. Os documentos foram encontrados em
um Sobrado, localizado na Praça Luiz Macedo,
antiga sede da Casa Paroquial. Os arquivos
mostram 172 anos de história ininterrupta da
Corporação Musical São Caetano. Revelando
várias gerações de músicos e compositores, que
deixaram seu talento registrado das partituras
que compõem seu acervo. Atualmente, todo este
acervo pertence ao Museu da Música de Mariana.
Ouça a Sociedade Musical São Caetano - Usando QR Code
[ 07 ]
1870
Corporação Musical São Sebastião - Bandeirantes
Fotos Márcio Lima
Corporação Musical de São Sebastião
(Bandeirantes)
A Sociedade Musical São Sebastião foi fundada
em 1870, no antigo arraial de São Sebastião, de
acordo com documentos encontrados pelos
membros da Banda. O Povoado, fundado as
margens do Ribeirão do Carmo, atualmente
conhecido como Distrito de Bandeirantes.
A Corporação ao longo dos 148 anos de existência
passou por períodos de pouca ou nenhuma
atividade. Nesse intervalo, diversos instrumentos
e partituras, salvos por administradores e antigos
músicos, foram preservados no mais perfeito
estado, mantendo viva a memória da Sociedade
musical.
No ano de 1930, grande parte do seu acervo foi
destruído em um incêndio. Entretanto, na década
de 1950 a corporação voltou à ativa participando
de diversas festividades locais e fora do distrito,
entre elas festa de São Sebastião.
Em 1978, em razão do falecimento do então
Maestro da Banda e diante da ausência de outro
nome da comunidade que pudesse assumir a
regência, a banda ficou inativa até 1991. Neste
ano, graças aos esforços da professora D. Marta,
que veio morar no distrito, e do maestro Geraldo
Elias (seu Gêgê), antigo regente da união XV de
Novembro, a banda voltou à atividade.
Hoje uma nova geração compõe a banda. Os 25
músicos que se encontram semanalmente para
aprender e ensaiar um repertório variado, que
inclui antigas composições de músicos marianenses.
Ouça a Corporação Musical São Sebastião de Bandeirantes -Usando QR Code
[ 09 ]
Fructuoso Matos Couto
Contribuições para a Memória da Música Marianense
Foto: Vitor Gomes
Mariana, como a primeira vila, cidade e capital de Minas Gerais,
foi no século XVIII uma das maiores produtoras de ouro para o
império Português. Em decorrência de uma herança cultural
diversa, preservou-se uma quantidade substancial de manifestações
musicais e documentos que dão mostra da importância das
práticas para os diversos segmentos deste grupo social a partir
da segunda metade do século XVIII.
Por serem os documentos musicais (partes cavadas que trazem
notação do que se deve tocar nos instrumentos, partituras, livros
de canto gregoriano) material catalisador das interações, a
circunscrição espacial de proveniência e atuação dos sujeitos
não corresponde às delimitações político geográficas, fazendo
com que os arquivos provenientes de maestros e instituições,
hoje sob os cuidados do Museu da Música de Mariana, tenham
grande amplitude, havendo material vindo, inclusive, de outro
continente, o que torna o patrimônio arquivístico acondicionado
em Mariana tão diverso, e um dos mais relevantes para os
estudos musicais do universo latino americano.
O estudo desses documentos traz à tona práticas do escrito
musical que destacam o copista como um sujeito se ocupa do
registro musical, cumprindo um papel fundamental no
quadrilátero compor, registrar, interpretar, ouvir.
Um exemplo destes é o Copista Fructuoso Matos Couto, nascido
em 1798, filho de Joaquina Allves de Oliveira, “crioula forra”
conforme mencionado em seu Termo de Sacramento, sob a
custódia do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Os
mestres de música e outros ofícios do século XVIII e XIX teriam
desenvolvido uma concepção própria de aulas públicas que
permaneceram correntes até o final do século XIX. Não
cobrariam pelas aulas, mas, em troca, seus aprendizes
cantariam nas missas e em comemorações em que o mestre
fosse empregado, conforme no informa o pesquisador Curt
Lange em suas publicações.
Foi comum que os copistas de música se responsabilizassem por
outras ocupações que demandassem habilidades da escrita
como foi o caso de Emilio Soares de Gouvêa Horta Junior (1839-
1907) muito atuante em Itabira do Mato Dentro ( Hoje Itabira),
Leôncio Francisco das Chagas (1848 -1912) atuante em Lamim e
Itaverava e Frutuoso Matos Couto (1797-c.1857), do Inficionado
de Santa Rita, Mariana, nomes muito presentes no acervo do
Museu da Música que além de músicos foram professores do
primário, escritores, e no caso do próprio Frutuoso Matos Couto,
conforme mencionado no campo ocupação das listas
nominativas do século XIX,
mencionado no trabalho Cópia Musical e
Contexto Social na Música Mineira do
Século XIX, escrito por Francisco de Assis
Gonzaga da Silva para os anais no VI
Encontro de Musicologia Histórica,
Frutuoso Matos Couto foi Escrivão de paz
da presidência da Junta Qualificadora da
subdelegacia de Mariana.
Dispomos como “fonte tridimensional”, da
sua possível “batuta”, que, na verdade,
parece-se muito com uma palmatória ou
férula. Foi comum que o objeto fosse
usado para cumprir o castigo na organização
escolar. Esse caso demonstra que a
aprendizagem da música e de outras
disciplinas, como as primeiras letras,
podem ter se mesclado, tornando-se
quase indissociáveis à percepção do
presente.
Em manuscrito com caneta esferográfica
azul, na parte circular maior do objeto,
vêm os dizeres “Pertencia a Frutuoso
Matos Couto, Maestro em Santa Rita
Durão 24-7-1877”.
Tendo em vista os gêneros e formas
musicais que esses mestres copiavam, é
possível que incorporou-se, naquelas
comunidades incluindo-se as escolas, a
prática interpretativa da música sacra,
afrodescendente, marcial e de salão.
Ressaltam-se em alguns casos até certa
irreverência de Frutuoso Matos Couto. Em
um detalhe da cópia feita em 1823, do
“Memento” (uma composição fúnebre) de
Manoel Dias de Oliveira, Frutuoso Matos
Couto insere o seguinte texto como título:
“Memento para defuntorum que tiver
dinheiro e vela; e ele, sizudinho, a disfrutar
as boas gargantas que este executar”.
Como a maioria dos músicos da época, o
mestre de música obtinha uma boa parte
de sua renda com a música para enterros
e casamentos. Ao final, o copista ainda
ressalta: “para as lambanças e uso de
Frutuoso de Matos Couto, seu legítimo
dono”. Este documento encontra-se sob
os auspícios do Arquivo Histórico
Monsenhor Horta, recolhido ao ICHS da
UFOP pelo saudoso Professor José
Arnaldo de Aguiar Lima.
As contribuições dos manuscritos de
Frutuoso Matos Couto para a construção
da memória da música são imensuráveis e
dão a dimensão das práticas de repertório
em Mariana nesse período, basta ouvir
notar que realizou cópias de elaboradas
obras de importantes autores como
Manuel Dias de Oliveira, (c.1735-1813);
José Maurício Nunes Garcia (1767 -1830);
Francisco Manuel da Silva (1795-1895);
Joaquim de Paula Souza (c.1760-1842);
Florêncio José Ferreira Coutinho (c.1750)
e José Joaquim Emerico Lobo de
Mesquita (1742-1805).
Documento do Museu da Música de Mariana - Foto Vitor Gomes
[ 11 ]
1890
Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus
Fotos Cristiano Casimiro / Acervo Corporação Musical
Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus
Fundada no dia 20 de junho de 1890, no distrito de
Padre Viegas, a centenária Corporação é caracterizada
principalmente pela presença expressiva de
músicos compositores. Teve entre seus fundadores
o senhor Antônio Batista de Macedo e o Senhor
Pedro Paulo de São Romão, musico , compositor e
Primeiro Maestro da Banda.
A Corporação tem por finalidade básica administrar o
ensino gradativo e gratuito da música entre seus
associados. Tocar em solenidades civis e religiosas
fazendo retretas em praças públicas, para diversão
popular.
Ao longo dos anos os membros da corporação
puderam exercitar seu talento nos ensaios e nas
apresentações, deixando um legado de belas composições
e arranjos.
Essas canções foram produzidas especialmente
para acompanhar as tradicionais festividades do
distrito. Em entre elas, destaca-se a Marcha Festiva
de Nossa Senhora do Rosário, em homenagem à
padroeira do Distrito. A música é uma composição do
antigo regente da corporação, Mestre Jovelino, mais
conhecido como Sô Jôve. Mestre Jovelino permaneceu
na corporação musical por mais de trinta anos.
A atual sede da Banda foi reformada e reinaugurada
em 19 de junho de 2005.
A Corporação Musical comemora seu aniversário no
mês de junho, durante a Festa do Sagrado Coração
de Jesus, Patrono da Banda e que lhe deu o nome.
Nessa comemoração, além das festividades religiosas,
faz-se a retreta e a já famosa apresentação “A
Banda na Sacada”, desde do ano de 2005.
Atualmente dos 26 músicos da Banda, 50% têm
menos de 25 anos de idade, 15% tem entre 25 e 50
anos, os demais, 35% , possuem mais de 50 anos.
Conforme a necessidade, a renovação é feita através
de ensino gratuito da música na própria Banda,
dando, assim, oportunidade para adolescentes e
jovens ingressarem nessa centenária Corporação
Musical.
O senhor Jovelino Marciano Gonçalves ficou no
cargo de Maestro da Banda por 36 anos, até o dia
10/01/1993. Foi sucedido pelo Senhor Geraldo de
Jesus Gomes, que permaneceu até 2001, quando
assumiu o cargo o músico Afonso Júlio Jales, atual
Maestro. Atual Diretoria eleita para o Biênio 2017-
2019, foi e empossada em 22 de fevereiro de 2017,
sendo a atual presidente Aline Gonçalves Jales.
Ouça a Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus- Usando QR Code
[ 11 ]
1890
Sociedade Musical Nossa Senhora da Conceição
Fotos Márcio Limal
Sociedade Musical Nossa Senhora da Conceição
Furquim
No ano de 1890, um pequeno grupo de admiradores
de música reuniu-se em torno do mestre Antônio
Marcos Pinheiro para fundar a Corporação Musical
Nossa Senhora da Conceição do distrito. Os primeiros
ensaios e reuniões aconteceram num dos cômodos
da residência do Senhor Antônio Pinheiro.
Seguindo a tradição, ainda hoje músicos mais velhos
continuam repassando o seu conhecimento aos
instrumentistas iniciantes, com o objetivo de renovar
permanentemente o quadro, mantendo assim a
vitalidade da sociedade musical.
Oficialmente registrada em maio de 1949 a corporação
passou por maus momentos no final do século
XX, chegando quase a ser extinta. No ano de 2002,
uma reformulação geral no estatuto de a eleição de
uma nova diretoria criou uma sociedade musical
renovada e bastante atuante na região.
Durante mais de um século de existência a Sociedade
Musical Nossa Senhora da Conceição teve à frente
vários Regentes que contribuíram significativamente
para a manutenção da arte musical na banda. E hoje
recebem a eterna gratidão de todos os integrantes da
Banda.
Há 70 anos à frente da Corporação, o carismático,
competente e respeitado o Maestro Senhor Ataliba
Dutra, mesmo já tendo completado seus 94 anos de
idade, não mede esforços para ensaiar o grupo nos
finais de semana. Porém, devido à idade avançada, é
acompanhado pelos Maestros auxiliares Altair José
Nunes e Max Gonçalves. Estes por sua vez, contam
com a colaboração do Maestro D'Paula, que auxilia na
aplicação de aulas de música para os iniciantes e nos
demais afazeres da banda.
O Músico mais idoso da banda, é o senhor Ataliba
Dutra, com 94 anos de idade e seguido pelo Senhor
Geraldo Pereira (Lalado), 78 anos. A atual presidente
da banda é Talyta Helena Dutra Lisboa e o Vice -
presidente, Miraceibel Rosa.
A Banda tem atualmente um quadro com 28 integrantes,
e mantém uma Escolinha de Música com mais 22
alunos, entre crianças, jovens e adultos. A Sociedade
Musical Nossa Senhora da Conceição acredita que
muito em breve estará superando suas expectativas.
O projeto da “Escolinha Musical” veio de encontro as
necessidade da banda em manter viva sua tradição e
história, além de promover a valorização social através
da música.
Ouça a Sociedade Musical Nossa Senhora da Conceição - Usando QR Code [ 15 ]
Maestro
Jorge Marques
Foto acervo da Família Marques
asceu em mariana em 12 de feverei-
Nro de 1895. Filho do Capitão Miguel
Antônio da Silva e Dona Maria da
Conceição Marques da Silva.
De família católica, logo cedo já freqüentava
o catecismo das Irmãs vicentinas do colégio
Providência, onde iniciou suas atividades
musicais cantando no coral Pequenos
Cantores da Liga do Menino Jesus. As
primeiras letras aprendeu nas aulas do
Professor Torquato Bicalho. Dedicado e
inteligente fez o curso de humanidades (
hoje equivalente ao ensino fundamental 2)
mantido e, em Mariana, pelo Cônego
Bernardino, onde aprendeu as primeiras
lições de canto gregoriano, então liturgia
musical da época, latim, grego, francês e
outras matérias. Depois deste período,
ingressou no Seminário Nossa Senhora da
Boa Morte, onde continuou seus estudos.
Apesar de ser um homem de muita fé, não
prosseguiu no seminário. O lado artístico e
musical levaram a estudar música com o
famoso musicista Antônio Miguel de Souza,
com quem aprendeu e aperfeiçoou em teoria
musical e música clássica.
Adaptou clássicos de compositores famosos
como LaFrance, Donizzeti , Carlos
Gomes e outros gênios da musica para
instrumentos de sopro, pois os originais
eram para instrumentos de corda. Assim, as
corporações musicais de Mariana , principalmente
a União XV de Novembro, poderiam
executar essas obras.
Tornou-se maestro da União XV de
Novembro, corporação musical de seu
coração, dando a banda toda sua capacidade
artística e intelectual.
Ao lado do seu talento musical, Jorge
Marques, cultivava a literatura e a poesia,
bem como o canto profano e sacro, regendo
pequeno corais que atuavam em festa
cívicas e religiosas na cidade.
Foi fundado os Grêmio Literários: Cláudio
Manoel da Costa e Frei santa Rita Durão ,
entidade que difundiram as obras literárias e
poéticas deste dois ilustres marianenses.
Neste ambiente tornou-se um excelente
dramaturgo e artista cômico, interpretando
os principais papeis.
Escrevia, dirigia e fazia arranjos musicais
para diversas pescas. Musicou e dirigiu a
peça de Teatro de Revista chamada “Revista
Mariana”, escrita por Dr Gomes Freire de
Andrade.
A arte teatral de Mariana, no inicio do século
XX, teve Jorge Marques com um dos maiores
incentivadores, criou vários grupos
teatral como: Clube dos Coiós, Trupe União
VX, Trupe Jorge Marques que apresentavam
nas casa e no Cine Teatro Municipal.
As encenações religiosas eram realizadas
em praça pública, nas igrejas e nos adros
das igrejas. As encenações da Vida da
Virgem Maria Igreja de São Francisco eram
tão concorridas que havias duas ou três
apresentações em um mesmo dia.
Casou-se em 1918, com a professora Maria
de Souza Chaves Marques. Em 1920
mudou-se para a cidade de Ituiutaba, no
triângulo mineiro, sua profissão de Coletor
Federal, sendo designado para trabalho na
nova fronteira agrícola de Minas. Sua paixão
pela musica e pelas bandas continuou na
nova cidade, compôs em 1920 a hino da
cidade ( partitura original se encontra no
museu da música de Mariana).
Jorge Marques foi um dos pioneiros, em
Mariana, das comunicações radiofônicas,
tendo instalado a primeira emissora de
radioamador de Mariana nos anos 20 do
século passado. Como ainda não existiam
fábricas de rádios até então, mas a curiosidade
na comunicação a distância era crescente,
Jorge Marques montou seus próprios
equipamentos e antenas de forma caseira,
com peças compradas no Rio de Janeiro, e
que chegavam de trem a Mariana. Ele
comunicava com todos os recantos do
Brasil, semanalmente. O prefixo do
Radioamador Jorge Marques era PY4-GX.
(foto)
Regressou a Mariana em 1921 e a união Xv
de Novembro, sua segunda paixão, escreveu
centenas de músicas para bandas e
inúmeras peças teatrais. Viveu intensamente
para as ARTES. Viveu em mariana até
1962, quando por problemas de saúde na
família , foi obrigado, a muda-se para Belo
Horizonte, onde faleceu em1973.
[ 17 ]
Sociedade Musical São Sebastião
1891
Sociedade Musical São Sebastião - Cláudio Manoel
Fotos Márcio Lima e Acervo Corporação Musical
Sociedade Musical São Sebastião
Cláudio Manoel
A corporação musical São Sebastião de Cláudio
Manoel, foi fundada em 20 de janeiro de 1891,
aproximadamente. Neste período, o povoado ainda
se chamava Lavras Velhas. A localidade foi criada
pela Lei Provincial de 14 de Setembro de 1889. O
funcionando da Banda foi precário, não possuía
sede própria, consequentemente sua existência foi
breve, não havendo muitas informações sobre essa
época. Em setembro de 1923, através da lei
estadual nº 843,O então chamado Distrito de Boa
Vista, teve seu nome mudado para Cláudio Manoel,
em homenagem ao Inconfidente Mineiro.
Segundo consta, foi um conhecido músico da
região, o senhor José Maracatu que ensinou grande
parte dos membros da corporação. Neste período o
distrito, ainda chamava Lavras velhas. Conforme
relatos orais da comunidade local, a Escola de
Musica e a Corporação funcionaram de forma bem
rudimentar precária e sem sede desde nos anos
seguintes, fato não confirmado pelos documentos
arquivados.
Em 20 de Maio de 1919, pessoas da comunidade
resolveram organizar a Corporação Musical
novamente, fazendo uma eleição. Em 1925 foi
doado um lote por D. Maria André para nele ser
construída a casa sede da corporação musical de
São Sebastião. O Senhor Antônio Epifânio Pereira
doou todo o material de construção, e junto com
amigos conseguiu donativos para realizar as obras
de acabamento da casa. No mesmo ano, a diretoria
adquiriu instrumentos, alguns dos quais
permanecem até hoje. A corporação teve seus
períodos de glória, e também de fracasso. Por essa
razão quase acabou e passou por um período de
inatividade. Em 18 de fevereiro de 1976 voltou a ser
organizada novamente.
Ainda hoje, no distrito, jovens aprendizes veem na
banda a única possibilidade de lazer e divertimento.
Seguindo os mais antigos membros, que mantém
vivo os ensinamentos do primeiro grande mestre
local. A Corporação Musical São Sebastião de
Cláudio Manoel tem no seu quadro músicos de
excelente qualidade e representamuito bem toda a
tradição cultural das terras das Lavras Velhas.
Ouça a Corporação São Sebastião de Cláudio Manoel - Usando QR Code [ 19 ]
1898
Sociedade Musical Santa Cecília
Fotos Márcio Lima e Acervo Corporação Musical
Sociedade Musical Santa Cecília
O núcleo de fundadores da Associação União
Musical Santa Cecília, que posteriormente passou
a se chamar Sociedade Musical Santa Cecília de
Passagem de Mariana, foi formado por um grupo
de amigos que tiveram as primeiras aulas de
música com o mestre Francisco Cavalcante, em
1898. Neste mesmo ano a corporação musical foi
oficialmente instalada no mês de fevereiro. A
compra de instrumentos só foi possível com a
ajuda do Senhor Sabino Ugo, que emprestou o
dinheiro para aquisição.
A chegada dos primeiros instrumentos aconteceu
no dia 15 de fevereiro de 1900. Neste dia foi também
modificado o nome da Corporação para
Sociedade Musical Santa Cecília, em homenagem
a Santa Padroeira dos Músicos. Em 22 de novembro
de 1900, iniciaram-se as festividades em
homenagem à Padroeira. No domingo 25 de
novembro, a Sociedade Musical Santa Cecília fez
sua apresentação com esplendor e pompa. Seu
Primeiro presidente foi o Senhor Ugo Sabino, e o
primeiro Maestro, o Tenente Modesto Victorino de
Miranda.
Em 1905, a banda já havia saldado sua divida pelos
instrumentos. Era hora de ter sua sede. Alugou-se
uma sala anexa a uma casa, que mais tarde foi
comprada pela banda graças às festas, quermesses,
leilões, bingos, rifas, sorteios realizados para
aquisição da sede própria.
Em 1906, foi criado primeiro estatuto, fixando em
50 o numero máximo de sócios e a obrigatoriedade
de conhecimento musical. Em 1929, a Sociedade
decidiu vincular o seu nome oficialmente à festa da
em homenagem a Santa Cecília. Para isto comprou
uma belíssima imagem, deste então, é cultuada
com tríduo e procissão e acompanhada pela
banda.
Sem se descuidar da sua função principal, o exercício
da arte por meio da música, a banda também
desempenhou durante toda a sua existência um
papel muito importante na comunidade, amparando
e protegendo seus membros, como é tradicional
nesse tipo de sociedade musical.
Hoje, a filosofia da Banda Santa Cecília é tentar
retribuir ao máximo todo o carinho, consideração e
atenção que o povo de Passagem e de Mariana
tem com a banda, oferecendo ,principalmente,
musica de boa qualidade.
Ouça a Sociedade Musical Santa Cecília - Usando QR Code
[ 21 ]
MAESTRO
ANIBAL PEDRO WALTER
Foto: acervo da família Walter
Nascido em Mariana em 18 de janeiro
de 1907, Anibal Pedro Walter era
filho de Augusto Walter e de Antônia
de Lisboa Walter. Quando menino foi
aprendiz de alfaiate, tornando-se um exímio
profissional da moda ao confeccionar
ternos da época requintados para os
padrões de elegância masculina.
Ingressou no Coro da Sé, ainda criança,
conviveu com Dom Silvério Gomes
Pimenta, sábio Bispo de Mariana e responsável
pela implantação da Congregação
Marista no Brasil. Manteve estreita amizade
com o memorável Monsenhor Horta, vizinho
de sua casa na Rua do Rosário.
Filho de pais pobres, teve uma vida marcada
por dificuldades. Quando da construção
de sua casa chegou a carregar pedras para
sua base: fato que comentava com emoção.
Prestou concurso para o Cartório do 2º
Oficio da Comarca de Mariana, exercendo a
função até a sua aposentadoria
Era muito inteligente e autodidata. Apenas
com a formação do Externato Marianense,
dirigido pelo Cônego Francisco Vieira
Braga, adquiriu sua formação humanística,
que lhe deu amplas possibilidades de
vencer na vida.
Era um devoto ardoroso de Nossa Senhora
do Carmo. Então sendo dos primeiros
presidentes da Irmandade. Foi também
presidente da Campanha Nacional dos
Educandários Gratuitos (C.N.E.G), tendo
atuação ativa no início da construção do
prédio do Ginásio “D. Frei Manoel da Cruz”,
atualmente o campus da Universidade
Federal de Ouro Preto - Instituto de
Ciências Sociais Aplicada. Interlocutor
assíduo dos padres e seminaristas, constantemente
recebia convites para assistir às
apresentações e concertos da Orquestra
Cantorum do Seminário Maior São José,
sob a regência do Padre Maia.
Aníbal Walter destacou-se, especialmente,
na Música. Segundo o musicólogo Paulo
Castanha: Aníbal Walter foi apontado como
um dos primeiros arquivistas musicais do
A E A M ( A r q u i v o E c l e s i á s t i c o d a
Arquidiocese de Mariana), sendo transcritas
a dedicatória e as anotações de seu
Tantum ergo, inicialmente executado em
1935 por seu pai, Augusto Walter, na Igreja
do Rosário.
Foi regente do Coral 16 de Julho, fundado
nos anos 60 por Cônego Vicente Diláscio,
bem como marcou presença na Sociedade
Musical União XV de Novembro.
Como estudioso da história da música, nos
Concertos Sinfônicos, em especial nas
sessões da Academia Marianense de
Letras, falava sobre a vida e obra dos
grandes imortais da música como
Beethoven, Chopin, Bach, Strauss, Carlos
Gomes e outros. Em 28 de outubro de 1973,
recebeu da Academia Marianense a medalha
do Mérito Cultural: a mais alta distinção
daquela casa. In memorian recebeu a
Medalha do Mérito Legislativo do Estado de
Minas Gerais. No 80º aniversário da Banda
União XV de Novembro, também in memorian,
foi agraciado com a Medalha de honra
do mérito.
Os arquivos das Bandas Marciais de Minas
Gerais são enriquecidos com as suas
magistrais composições sinfônicas. Dentre
tantas, destaca-se a valsa Lourdinha,
composta no nascimento de sua filha Maria
de Lourdes Walter. Era com essa valsa que
a Banda conquistava o primeiro lugar nos
concursos. Algumas peças de sua autoria:
16 de julho – dobrado; Crepúsculo da
Mocidade – valsa; Stella Maris – valsa; 12
Saudades de meu irmão – valsa; Soluços
por ti – valsa; Baliza – dobrado; Vagabundo
– samba; Jandira – samba; Sinos de minha
terra – dobrado; Expedicionário – dobrado;
Solitário - dobrado (composto por ocasião
do falecimento de sua esposa Dãosinha);
Augusto Nhonhô – dobrado; Meu destino –
dobrado; Mascote – dobrado; entre outros.
Aníbal Pedro Walter, transferiu a regência a
da União XV de Novembro para seu filho
Álvaro Augusto Walter.
[ 23 ]
1901
Sociedade Musical União XV de Novembro
Fotos Márcio Lima / Cristiano Casimiro / Acervo Corporação Musical
Sociedade Musical União XV de Novembro
No contexto da proclamação da República, nasceu
em Mariana, no ano de 1901, a Sociedade
Musical União XV de Novembro, por iniciativa do
Dr. Gomes Freire de Andrade: liderança política
local. Na tarde do dia 15 de novembro de 1901, no
seu solar, reuniram-se os poucos músicos da
época, para discutirem as possibilidades da
formação de uma Banda de Música.
Os primeiros instrumentos musicais foram adquiridos
da banda que pertencera ao Partido
Conservador no tempo da Monarquia e o seu
primeiro professor de música, Antônio Miguel de
Souza, veio da corporação musical do 31º
Batalhão do Exército Nacional. Iniciaram-se, em
agosto de 1901, os ensaios preparatórios da nova
agremiação, cujo sustentáculo estava menos nos
recursos materiais do que na boa vontade e
perseverança de seus componentes. Cedida
pelos herdeiros de Manoel Pereira Bernardino,
uma sala de sua residência, à Rua Direita, ali se
fizeram ouvir as primeiras clarinadas, que aguçavam
curiosidade da vizinhança. A primeira apresentação,
três meses após a sua criação, aconteceu
na porta da casa do seu principal fundador, o
Dr. Gomes Freire de Andrade.
Junto com a Sociedade Musical União XV de
Novembro, foi fundado, também, o jornal Rio do
Carmo, desaparecido em 1903 e renascido em
1905 com o nome O Germinal. A Banda e o jornal,
com os mesmos objetivos, caminhavam em
parceria, sintonizados com a propaganda republicana.
No jornal eram publicados os artigos em
defesa dos ideais da República e noticiadas as
principais ações, inclusive todos os eventos em
que havia a presença da Banda da União
Aos poucos a Banda foi aumentando a freqüência
das suas apresentações. Em retretas e passeatas,
alvoradas e homenagens a personalidades ilustres,
a Banda da União estava presente em todas
as comemorações cívicas, sociais e religiosas da
cidade. Hoje, centenária, procura com auxílio da
comunidade local e do poder público, aprimorar
cada vez mais as suas apresentações.
Firmada como tradição da cidade, a Sociedade
Musical União XV de Novembro ou a “Furiosa”,
apelido dado carinhosamente pela população
marianenses. Possui seu toque, hoje completamente
desvinculado da participação políticopartidária,
a Banda faz parte do Patrimônio
Histórico e Cultural da cidade de Mariana.
Ouça a União XV de Novembro - Usando QR Code
[ 25 ]
1910
Sociedade Musical São Sebastião - Passagem de Mariana
Fotos Márcio Lima e Mestro Daltro de Paula Novais
Sociedade Musical São Sebastião
Passagem de Mariana
A Sociedade Musical São Sebastião de Passagem de
Mariana foi fundada em 20 de janeiro de 1910. Nos
primeiros registros constam denominação Banda de
Música Operária. Cuja história está ligada à atuação
Pré-sindicalista da Junta Beneficente Operária. Esta
organização tinha o caráter filantrópico e se alastrou
pelo Brasil inteiro, sendo extinta pelo Estado Novo,
durante o governo de Getúlio Vargas.
Chamada Banda de Música Operaria durante 20
anos, o grupo filantrópico foi extinto. A banda recebeu
então o nome de seu Padroeiro, passando a chamarse
Sociedade Musical São Sebastião.
A Sociedade Musical São Sebastião de Passagem
tem sua história ligada ao trabalho na mina de ouro
localizada em Passagem de Mariana. A ideia de
criação de mais uma sociedade musical no distrito
surgiu dentro da Sociedade Beneficente Operária,
uma associação de trabalhadores de caráter assistencialista
promotora de festas e bailes, nos quais era
sempre necessária a presença de uma banda.
Fundada oficialmente em 1910, tornou-se autônoma
com a extinção da Junta Operária. Os músicos da
Banda São Sebastião, certa vez foram apelidados
de Pinto Cascudo, por causa de um antigo uniforme,
todo amarelo. Foram também os responsáveis pela
compra dos primeiros instrumentos. Os Sócios,
conjuntamente a comunidade, também ajudaram a
reconstruir a sede da Banda, localizada onde no
passado onde funcionou a junta operária.
Com 108 anos de existência, a Sociedade Musical
São Sebastião é composta por 75 músicos, com
quase toda sua totalidade na escola musical da
banda. Além de apresentações em eventos civis e
religiosos por Minas Gerais e pelo Brasil, anualmente
a banda realiza o Concerto de Inverno, no Cine teatro
de Mariana (Teatro – Sesi). Idealizado pelo maestro
Daltro de Paula Novais, o Concerto de Inverno foi
criado para divulgar e apresentar ao público a qualidade
musical da Sociedade Musical São Sebastião
de Passagem de Mariana.
Ouça a Sociedade Musical São Sebastião de Passagem - Usando QR Code [ 27 ]
MAESTRO
GERALDO ELIAS
Seu Gegê
eraldo Elias Martins, conhecido por
G“Seu Gegê”, apelido dadao pela
família na infãncia, nasceu em 16
de maio 1929 em de São Gonçalo do Ubá (
hoje cidade de Acaiaca). Filho de um
imigrante sírio e uma brasileira. João Elias
e Carmelita Martins.
A comunidade Sírio-Libanesa na região era
muito grande e quando se reuniam sempre
havia festa. A saudade da terra natal fazia
os parentes paternos de “seu Gegê” organizarem
festas com boa comida e muita
música. Foi neste ambiente que o menino
cresceu e teve contato primário com a
musica.
Aos 10 anos, entrou para o Seminário
Nossa Senhora da Boa Morte, onde estudou
por 05 anos. Como ele mesmo dizia:
” Eu resolvi que esse negócio de padre,
para mim, não ia dar certo não.” No
Seminário participou do Coral Dom
Helvécio fundado pelo Padre Lazaro. No
coral aprendeu canto e melhor sua percepção
auditiva par música.
Depois de ter saindo do Seminário, voltou
para Acaiaca e começou a trabalhar no
comércio da família. Trabalhou em farmácia
depois como ajuda do pai, montou seu
próprio comércio. Neste período a fascinação
pela musica já era grande, junto com os
irmãos que já gostavam de música, montaram
um conjunto chamado“ Independente
Jazz” para fazer bailes e tocar em festas.
Casou-se, aos 21 anos, com Lívia
Magalhães em 1951. Em 1968 passou no
concurso para o Cartório do 3º.Ofício e
transferiu-se para Mariana.
Em Mariana, logo se aproximou doss
músicos locais e entrou para União XV de
Novembro em 1969. O primeiro instrumento
na banda foi clarinete, sob a regência do
maestro Álvaro Walter.
Foi musico da Banda por uns 6 anos, com a
transferência de Álvaro Walter para
Uberaba, a batuta de Maestro passou para
Seu Gegê, pelo compromisso e a dedicação
à música.
Sua gestão com maestro da Banda XV de
Novembro transformou a banda. A sistematização
da escolinha de musica, o intercambio
de músicos, o trabalho junto ao poder
público e iniciativa privada garantiram a
modernização da União XV de Novembro ,
sem perder sua identidade e tradição.
Para o Maestro Gegê: “... para banda
sobreviver é preciso de uma escolinha de
música. A banda é a formação da juventude.
O que tenho hoje e que passo para os
meninos e meninas é a formação que
recebi.A nossa preocupação na banda não
é ensinar música,è ensinar a juventude
uma maneira de se comportar na sociedade.
Acho meu trabalho muito gratificante
por isso.”
O estudo contínuo de música era uma das
suas marcas, sempre se atualizando,
participando ou ministrando cursos.
Em 1982 , em visita de férias ao filhos que
moravam em Carajás – PA, sabendo que
Gegê era maestro de banda, um grupo de
funcionários da empresa Vale convidou
para monta uma banda em Carajas. Em
pouco tempo a Banda estava montada e
desfilando pelas ruas da cidade.
Em 1991, junto com a professora D. Marta,
Seu Gegê revitalizou a Corporação Musical
de São Sebastião de Bandeirantes, pois a
Banda estava inativa a vários anos.
Lívio, filho do maestro, adquiriu um programa
de computação para escrever partituras,
após algumas dicas, Seu Gegê já
estava dominado todos comandos digitais.
Dos manuscritos para o computador,
rapidamente ele já estava se conectando a
outras Bandas via internet, compartilhando
as partituras de músicas.
Uma das primeiras peças a serem digitalizas
foi a Valsa Lívia de 1987. Composta
para sua esposa. Ele guardou a música em
segredo durante anos, A valsa foi tocada
pela primeira vez como surpresa para Dona
Lívia pela Banda de Passagem de Mariana,
causando um frisson em todos por ser
inédita e linda.
Geraldo Elias, Maestro “Gegê”, foi um
musico ímpar e um maestro que ensinou,
para muitos, a melhor lição : viver uma vida
digna.
[ 29 ]
1914
Sociedade Musical 08 de Dezembro
Fotos: Alana Lopes e Cristiano Ccasimiro
Sociedade Musical 08 de Dezembro
Cachoeira do Brumado é conhecida como a terra do
artesanato. O distrito possui um grande legado
histórico e turístico, sobretudo no artesanato de
pedra Sabão e na exuberância natural, que
extrapolam os limites do município de Mariana. Os
artigos, confeccionados em Pedra-sabão, Madeira,
Pita e sisal, são conhecidos e comercialização em
todo o Brasil.
Mas cachoeira é também a terra de uma das mais
importantes Corporações Musicais de Mariana, a
Banda 08 de Dezembro.A Sociedade Musical surgiu
do objetivo de ensinar a arte musical para os
membros da comunidade do distrito de Cachoeira do
Brumado.Foi fundada, no ano de 1914, e desde
então passou a ter expressiva participação nas
solenidades cívicas e religiosas da região. Com
mais de um século de funcionamento ininterrupto,
um dos momentos de maior destaque da sua
trajetória ocorreu durante a década de 1950, quando
alguns de seus músicos, orgulhosamente,
receberam o convite para tocar na Guarda Civil do
Estado de Minas Gerais.
Atualmente, conta com cerca de 40 integrantes, na
sua maioria, jovens dedicados ao aprendizado
musical e as apresentações realizadas dentro e fora
do município de Mariana.
A Sociedade Musical Oito de Dezembro promove no
distrito de Cachoeira do Brumado um Pré - Carnaval,
um Concerto em homenagem às Mães, em
homenagem aos Pais e um Concerto de Natal,
proporcionando momentos de cultura, lazer e
entretenimento à comunidade.
Ouça a Sociedade Musical 08 de Dezembro - Usando QR Code
[ 31 ]
2002
Sociedade Musical São Vicente de Paulo
Fotos Márcio Lima / Cristiano Casimiro / Acervo Corporação Musical
Sociedade Musical São Vicente de Paulo
A sociedade Musical São Vicente de Paulo, foi
fundada no início do século XXI, em abril de
2002. Atualmente, possui em seus quadros
músicos jovens e adolescentes, dedicados ao
aprendizado da música de Banda, ensaiando
tanto dobrados tradicionais como canções
populares para serem tocadas nas apresentações.
Uma das propostas de atuação da sociedade
musical, conforme definição do seu
regente é ensinar música, transmitir-la aos
jovens e adolescentes. Partilhando valores
morais e éticos, que sempre acompanharam as
sociedades musicais durante os séculos de
tradição no ensinamento das notas musicais.
Atualmente possui 45 músicos, entre eles,
instrumentistas vindos de distritos ou de outras
cidades vizinhas que iniciaram o seu aprendizado
em outras bandas, e foram bem acolhidos na
Sociedade Musical São Vicente de Paulo.
A renovação da arte musical através das novas
gerações e uma da Banda São Vicente de
Paulo, hoje é a Banda em Mariana que possui o
maior número de crianças e jovens.
Ouça a Sociedade Musical São Vicente de Paulo - Usando QR Code
[ 33 ]
Fotos Márcio Lima e Acervo Corporação Musical
2002
Sociedade Musical 16 de Julho
Sociedade Musical 16 de Julho
A mais jovem das sociedades musicais
Marianense, foi fundada em julho de 2002.
Recebeu este nome, em homenagem à cidade
e, de acordo com seus componentes, ao Dia do
Estado de Minas Gerais, também comemorado
nesta data.
Desde a sua criação, a Sociedade Musical 16 de
Julho tem o claro objetivo de preencher seus
quadros com aprendizes e músicos jovens.
Oferecendo assim, uma formação que busca
recuperar os antigos valores por meio do amor à
música, e dos laços de solidariedade e amizade
determinados pela convivência em grupo.
Hoje, a Sociedade Musical 16 de julho, conta
com 32 músicos e 40 aprendizes. Em 2006,
ampliou a sua atuação, atingindo uma faixa
etária ainda menor com a fundação da
Orquestra Mirim de Flauta da Sociedade
Musical 16 de Julho. Atendendo crianças entre
oito a doze anos de idade, com aulas teóricas e
práticas.
Ouça a Sociedade Musical 16 de Julho - Usando QR Code
[ 34 ]
INFOGRÁFICO
BANDA
AFormação básica consiste em: Flautim, flauta,
clarinete, saxofone (os saxofones alto e tenor são
os mais comuns. No entanto, para maior equilíbrio
sonoro, é ideal a presença de saxofone soprano e barítono),
trompete, trombone, tuba, bombardino, sousafone e
percussão.
A percussão de uma banda pode ser composta desde a
formação básica com caixa, pratos, bumbo, surdo,
triangulo até algo mais grandioso, como tímpanos,
xilofone e marimba.
Para uma boa sonoridade de equalização, uma Banda de
música convém destacar seguindo uma certa regra, para
que não haja instrumentos de mais ou de menos quanto
ao equilíbrio sonoro.
A disposição dos instrumentos podem variar dependendo
de alguns fatores como: quantidade de instrumentos,
quantidade de músicos e variações feitas pelo regente.
Baixo
Maestro / Regente
Percursão
Trombones
Pistons
Bombardino
e Sax Horn
Saxofones
Clarinetes
e Flautas
Arte: Cristiano Casimiro e Sidione Viana
Trombone
Caixa e Bumbo
Souzafone
Saxofone
Clarinete e Flauta
Bombardino
Piston
[ 37 ]
Oficleide
Foto: Vitor Gomes
O
Ophicleide na Construção
da Memória Musical
Marianense
A construção da memória musical se de
maneira significativa, por meio dos documentos
gerados nas atividades desenvolvidas
pelas instituições, pessoas ou famílias.
Esses registros passam a ser uma rica
fonte de produção do conhecimento, em
especial quando recebem o devido tratamento.
O som é um meio de realização,
portanto sempre é necessário um intérprete
que lidará com alguma referência à
informação musical quer seja de sua
própria criação, quer seja da oralidade, da
notação ou do registro em áudio.
O patrimônio arquivístico musical, conceito
que vem sendo trabalhado por musicólogos
brasileiros a partir dos trabalhos do
Musicólogo e Professor Paulo Castagna,
André Guerra Cotta, dentre outros, referese
a documentos em diferentes suportes,
desde os manuscritos e impressos em
papel, até as diversas mídias, como fitas
k7, vinis, cds e os próprios instrumentos
musicais utilizados pelos músicos. Por
meio desta instigante materialidade, tornase
possível acessar algo abstrato e de
difícil apreensão no escopo psicológico
humano, as mentalidades, as sensibilidades,
os comportamentos.
O músico é, por natureza, um mediador
dessas sensíveis camadas que compõem
a afetividade humana, conjugando-as por
meio das representações dos sons, outros
sujeitos, ouvintes, podem se perceber e se
apreender nessas representações.
O espaço urbano da cidade de Mariana é
um manancial composto pela escuta de
múltiplos focos de produção musical,
dentre eles, 11 corporações musicais,
algumas centenárias. Essas Bandas de
Música representam espaços de interação
social onde se entrecruza a expressão de
uma prática coletiva, da qual emergem
personagens, gestos, vestuário, imagens e
repertórios. O passado sempre traz à tona
novos conhecimentos.
O oficleide é um raro instrumento que
esteve presente em inúmeras formações
musicais, em diversas partes do mundo.
Foi tão notável a difusão de sua utilização
que no âmbito da música de concerto,
integrou o trabalho de compositores como
Hector Berlioz, que em especial, deu
grandes contribuições ao complexo processo
de expansão da orquestra, primeiramente
inserindo dois oficleides em sua
formação e, posteriormente, tendo escrito e
realizado, como regente, um concerto em
que o instrumento seria bastante evidente.
Na região mineradora central, no entorno
de Mariana, o instrumento chega a partir de
1850. Trazido pela forte tradição musical
que tem como vertente a acentuada execução
da música sacra, alinhada com o que
se passava na Europa. Esteve presente
nas celebrações, integrando as orquestras
que acompanhavam os coros das igrejas,
sendo frequentes nos arquivos históricos
as transcrições manuscritas de suas partes
cavadas para várias obras.
Nas corporações musicais, por meio das
tradições militares, têm-se notícias de seu
uso como valiosa alternativa de timbre para
realizar as linhas dos baixos e do contraponto,
devido à sua tessitura grave, até a
década de 1940.
[ 39 ]
O Oficleide é uma palavra originária do
grego e significa “serpente com chaves”. O
ramo da musicologia que estuda os instrumentos
musicais e as demandas sociais
para sua construção, bem como seus
materiais, é conhecida como organologia.
Estudos demonstram que o oficleide se
desenvolveu de outro instrumento corrente
no período da renascença chamado de
serpentone ou serpentão. Vale salientar
que este inquietante nome para o instrumento
musical, teria em sua forma de “S”,
prioritariamente, satisfazer as propriedades
acústicas ao invés de imitar o réptil. Era
fabricado principalmente em madeira e
couro, materiais que possibilitariam a
flexibilidade propícia ao formato de S.
Na física acústica há uma condição muito
precisa que caracteriza o formato da
maioria dos instrumentos musicais, tanto
maior espessura e espaço de vibração,
mais grave serão as notas emitidas. Com o
desenvolvimento da polifonia a demanda
por instrumentos mais graves/baixos e
mais agudos/altos acentuou-se, tornando
mais engenhosas as adaptações e criações
dos instrumentos para atender às
experimentações sonoras que se propunham
aos ouvidos do século XIX. Aos
Luthiers (artífices construtores de instrumentos
musicais) caberia equilibrar as
demandas acústicas e a interface ergonômica
ao corpo humano.
Possivelmente o raciocínio para o instrumento
de sopro grave pretérito ao serpentão
fosse reto, mais próximo aos maiores
tubos do órgão, o que não viabilizaria
condições de execução adequadas à
proporções humanas dos membros, para
tanto, o uso da curvatura como forma de
manter todo o espaço percorrido pela
frequência fundamental do instrumento, e o
posicionamento estratégico dos furos para
mudança entre notas, colocando-os ao
alcance dos dedosO som nesse instrumento
seria obtido através da vibração dos
lábios, captada por bocais esculpidos em
madeira. O Serpentão possui, no decorrer
Século XIX - França: Uma pintura, anônima,
localizada no Musée des Civilizations de l'Europe
et de la Méditerranée (Paris), retrata um homem
tocando o Serpentão.
do seu corpo, alguns orifícios para serem
fechados com os dedos, reproduzindo as
várias outras notas, num mecanismo
semelhante ao da Flauta-doce.
Há esparsa lista iconográfica que demonstra
a presença do serpentão na prática da
música sacra europeia, isso porque seu
inventor, Canon Edmé Guillaume, quando
o fez, em 1590, em Auxerre, na França,
tinha o objetivo de fortalecer o som dos
coros no cantochão. Mesmo com a documentação
sobre a música sacra brasileira
no século XVI sendo lacunar, não há ainda
fontes que demonstrem a comprovada
utilização deste instrumento nos grupos da
região, mas dadas as aproximações entre
a prática da música sacra europeia ao que
se passou no Brasil, é possível que o
instrumento tenha existido por aqui, uma
vez que o Cantochão é também a forma
musical corrente mais antiga grafada a
chegar em Mariana a partir de 1745, com a
instalação da catedral da Sé.
Segundo o The New Langwill Index, Jean
Hilaire Asté é conhecido como o inventor da
família "oficleide". Em comparação à
construção do serpentão, no lugar do couro
e da madeira, o metal (latão, cobre ou
outro) passou a ser incorporado na montagem
do Oficleide, seguindo a tendência das
técnicas construtivas desenvolvidas
naquele período, aplicadas em instrumentos
de metais que propiciassem uma maior
pressão sonora.
Embora houvesse certa sobrecarga no
peso em decorrência do metal, o sistema
de chaves do novo instrumento funcionou
muito bem para vedação dos furos tornando-se
um valioso recurso para aumentar a
agilidade na troca de notas e intensidade do
som.
Com montagem em escala, a partir dos
modos de produção industriais da época,
foram produzidos basicamente três modelos
de instrumentos, o oficleide Alto, com a
afinação em mi bemol e dois oficleides
Baixos um em dó, outro em si bemol.
Outro aspecto importante da construção do
instrumento foi o desenvolvimento do
conjunto de chaves, na tentativa de sanar
as dificuldades técnicas que surgiram à
medida que os compositores foram expandindo
o repertório para o instrumento.
Desta maneira, são encontrados oficleides
que vão de 9 a 11 chaves numa laboriosa
digitação que seria transferiria, posteriormente,
ao seu substituto, o saxofone.
Família dos oficleides, da esquerda para direita – oficleide Baixo em Bb (Si bemos),
oficleide Baixo em C (Dó) e oficleide Alto em Eb (Mi bemol). Banda Euterpe
Cachoeirense - Cachoeira do Campo – MG.
[ 41 ]
Nas bandas de música oficleide poderia
assumir inúmeros papéis. Segundo relato
dos músicos mais idosos que integram as
corporações da região, era mais comum
que fossem empunhados pelos mais
experientes, principalmente os maestros
que possuiriam a destreza necessária para
realizar a complexa digitação da música
transcrita para as linhas de acompanhamento,
contraponto e os solos. Por todas
essas questões, o instrumento seria indispensável
para uma banda de música
daquele período, tendo se tornado um
instrumento muito popular em todo o Brasil.
O oficleide pertencente à família dos
metais, a mesma dos trompetes, trombones,
trompas e etc, foi usado com grande
versatilidade para realizar tanto as linhas
das melodias principais, quanto dos contrapontos.
Em meio as práticas musicais procedentes
de espaços tão diversos, os oficleidistas
protagonizaram a hibridização de gêneros
musicais dando sua contribuição para o
surgimento de uma das mais importantes
linguagens interpretativas do âmbito
popular e urbano das Américas, o Choro ou
Chorinho.
A descontinuidade do oficleide se dá por
uma série de fatores. O primeiro é o fato de
terem sido desenvolvidos instrumentos
mais ergonômicos e com mecanismos de
transição das notas mais sofisticados,
contribuindo para a melhoria da afinação,
dentre eles a Tuba. O oficleide, possui uma
infinidade de problemas com relação à
afinação, carecendo de muitos estudos
para minimizar esses problemas por parte
do instrumentista.
Aos poucos o instrumento vai perdendo
lugar, inclusive, nas bancadas das bandas,
se tornando mais associado aos espaços
onde se realiza a música popular urbana.
Em terras brasileiras, mesmo nesses
espaços onde a música seria realizada com
maior liberdade interpretativa e linguagem
própria, o oficleide foi substituído pelo
violão de sete cordas, que logo se incumbiu
da execução dos contracantos graves da
seção hamonizadora dos conjuntros de
pau e corda, junto do violão de seis cordas
e o cavaco.
Horondino José da Silva, conhecido como
Dino 7 Cordas, relatou em entrevista que,
certa vez, em uma conversa, descobriu
que os contrapontos executados pelo
genial Pixinguinha no seu saxofone, eram
linhas melódicas concatenadas para o
acompanhamento de grande funcionalidade
se transpostas para o violão de sete
cordas. Diante desta escuta, Dino passa a
se apropriar, no seu violão, das formas de
raciocínio harmônico de Pixinguinha
consagrando-se como um dos mais importantes
violonistas brasileiros de todos os
tempos, revolucionando a maneira de se
tocar violão de sete cordas no país.
Interessante pontuar que o mesmo Alfredo
da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, bebeu
na fonte de um dos mais importantes
oficleidistas do Brasil. Irineu de Almeida,
além de ser um importante compositor
brasileiro, e um exímio instrumentista,
gravou junto à Casa Faulhaber uma série
de composições de sua autoria, tonandose
atualmente, o único registro fonográfico
do oficleide Solo deste período no Brasil.
O silêncio e o ostracismo são os capítulos
posteriores à trajetória do oficleide. Nos
acervos das bandas centenárias não é
incomum que personagens importantes
para aqueles grupos, atuantes em gerações
anteriores, apareçam em fotos antigas,
expostas nas sedes das corporações,
segurando o instrumento. Mesmo assim os
exemplares do instrumento, de maneira
geral, são encontrados em mal estado de
conservação.
Evidências apontam que uma pesquisa
mais consistente apuraria um amplo significado
social do instrumento. No acervo do
Museu da Música de Mariana há dois
oficleide que ficam em exposição e que
estiveram, até o ano de 2017, inutilizados
em sua função primária, tocar.
Wesley Procópio
Músico e pesquisador.
Foto: Vitor Gomes
O conjunto de Câmara do Museu da Música
de Mariana é um grupo que busca realizar a
mediação de fontes musicais ao público em
geral. Vem desenvolvendo o trabalho de
pesquisa com as fontes documentais que
tem como suporte o papel, ou tridimensionais,
como os instrumentos.
Uma das ações deste grupo de pesquisa
tem sido o estudo do oficleide, buscando o
restauro de um dos exemplares que ficam
em exposição, criando as condições apropriadas
para a recuperação do seu uso. A
etapa relacionada aos reparos e retífica do
instrumento ficaram a cargo de um dos
grandes especialistas em instrumentos de
sopro do Estado de Minas Gerais, o Luthier
Wagner Lopes, que hoje vive na cidade de
Nova Lima.
O Luthier, que deu início à trajetória realizando
intervenções em seu próprio instrumento,
mais tarde se especializou no
reparo e manutenção de sopros, tornandose
a renomada assistência Casa Tenor,
especializada e autorizada Yamaha, premiada
por três anos consecutivos. Wagner
afirma que no decorrer de 15 anos de
profissão ainda não havia trabalhado em
um oficleide. Foi uma oportunidade ter
contato com a técnica construtiva antiga e
que deu origem ao seu próprio instrumento.
Wagner Lopes é bacharel em música com
habilitação em saxofone, formado pela
Universidade do Estado de Minas Gerais.
Como as partes componentes do instrumento
já são todas descontinuadas, o
especialista afirma ter sido necessário
fabricar, artesanalmente, as peças necessárias
à retomada do funcionamento do
equipamento, dentre elas, as sapatilhas,
que são anéis, antigamente feitos em couro
para a vedação dos orifícios.
Wesley Procópio, músico e pesquisador,
integra a equipe que tem se incumbido de
realizar a pesquisa que tem como ponto de
partida métodos antigos e traduzidos,
principalmente, do francês. Tem como meta
inicial identificar os recursos necessários
para realizar uma digitação funcional no
instrumento, tornando possível a execução
de peças contemporâneas ao seu uso e de
peças atuais.
As primeiras dificuldades encontradas
giram em torno da afinação e temperamento
adequado à uma percepção tonal dos
dias atuais, naturalmente, o oficleide tem
origem em uma época em que a “curva de
entoação” dos instrumentos partia de
outras referências. A grande maioria dos
instrumentos feitos no século XIX tinham
como diapasão a frequência 452 Hertz,
destoando dos padrões correntes na
atualidade, sendo o mais usual deles, 440
Hertz.
O Oficleide restaurado para a pesquisa
mencionada é um Gautrot Brevete, de 11
chaves, fabricado, provavelmente, em
1870. Esse instrumento em específico não
possui uma digitação padrão para determinadas
notas em sua escala, e os problemas
com a afinação são encontrados também
em outros aspectos. O instrumentista que
se propõe o desafio de executá-lo precisa
lançar mão de técnicas de respiração,
embocadura e estar disposto a desenvolver
suas próprias configurações das chaves
para alcançar determinadas notas e efeitos
recorrentes no repertório. Um dos aspectos
mais incríveis é que oficleide não possuía
um padrão de confecção seguido pelos
seus fabricantes, o que torna cada instrumento
único. O pesquisador precisa ser,
quase que em tempo integral o mais observador
e criativo possível para desenvolver o
que o instrumento precisa para soar em um
mundo muito distinto ao que conheceu.
Wesley dos Santos Procópio
Sidione Eduardo Viana
Vítor Sérgio Gomes
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