Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre
EQUITAÇÃO
M A G A Z I N E
2020 | N.º 143| MAIO/JUNHO | BIMESTRAL | CONT. PREÇO 5,00€ | DIRECTORA ANA FILIPE
Luís Sabino Gonçalves
Figura maior
do hipismo
EDITORIAL
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Os números
falam por si
E
stão
de volta os eventos
hípicos, as provas
equestres, está de volta
a Revista Equitação
às bancas!
É com agrado que vemos o recomeço
das competições e com um
bom número de participantes, fazendo
votos de que todas as regras da Direcção-Geral
de Saúde (DGS) estejam a ser
cumpridas para bem de todos, pois as consequências
de uma segunda vaga de Covid-
19 são inimagináveis, para o sector equestre
em particular e para o país (e mundo) em
geral.
Mas regressemos aos aspectos positivos. A
última edição da EQUITAÇÃO foi a primeira
em 25 anos de existência
da Revista em que
esta não foi dada à estampa
e apenas publicada
online. Os números
falam por si: em dois
meses ultrapassámos
as 120 mil visualizações!
Estamos a falar de quatro
vezes mais do que a
nossa tiragem em papel!
E os números vão
continuar a aumentar,
pois a edição vai manter-se
na plataforma digital
e disponível gratuitamente. São registos
que nos enchem de orgulho e aos quais se
juntam diversos telefonemas e e-mails de
leitores com pedidos para que essa edição
seja impressa, à posteriori, visto que a EQUI-
TAÇÃO é para muitos uma publicação de colecção.
directora Ana Filipe
Em d o i s m e s e s
a v e r s ã o digital
u l t r a p a s s o u
a s 120 m i l
v i s u a l i z a ç õ e s,
o u s e j a, q u a t r o
v e z e s m a i s d o q u e
a t i r a g e m e m papel
Aos números da Revista acrescem ainda os
do Portal Equitação, que só no mês de Maio
passou as 300 mil page views, e a ascensão
das Redes Sociais, onde já ultrapassámos a
fasquia dos 180 mil seguidores só no Facebook
e ao qual se juntou a conta de Instagram
(@revista_equitacao). Com
um crescimento exponencial em
poucas semanas e inúmeras marcas
a quererem associar-se para
diversas iniciativas, está a revelarse
um sucesso absoluto.
Não é a primeira vez que o faço,
mas considero que também não é
demais repeti-lo: a todos os que nos leêm e
seguem, obrigado por tornarem o nosso trabalho
tão gratificante! E, para todos vocês,
leitores que preferem ler em papel, e/ou leitores
das plataformas digitais, nesta edição
estaremos em ambos os formatos com uma
revista em que chamamos à capa um português
que, apesar de ainda ter muito para
dar, já inscreveu o seu nome na história do
hipismo nacional e internacional. Cavaleiro,
comerciante de cavalos,
professor, está também
ligado à criação e tem
até uma marca própria
de material equestre,
falo de Luís Sabino Gonçalves,
com quem conversámos,
na Quinta das
Varandas, no Cartaxo.
Aos poucos, também
nós vamos desconfinando
e percorremos vários
pontos do país para lhe
trazer diversas temáticas
que o vão deixar colado da primeira à última
página.
Não posso terminar este Editorial sem deixar
uma palavra aos recém eleitos Órgãos Sociais
da Associação Portuguesa de Criadores
do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL) e
da Associação Portuguesa de Atrelagem
(APA) para o triénio 2020-2022, presididos
respectivamente por João Grave e Vítor Amaral
Vergamota, pois ambos têm pela frente
enormes desafios, em virtude dos tempos
que vivemos mas, igualmente, a oportunidade
de um novo recomeço. m
EQUITAÇÃO 1 MAGAZINE
ÍNDICE
REVISTA BIMESTRAL | 2020 | N.º 143
01 Editorial
02 Índice
04 Imagem do mês
06 Dicas do Juiz
por Frederico Pinteus
08 Na Opinião de…
por Daniel Pinto
12 Entrevista
José Veiga Maltez
24 Treino
por José Miguel Cabedo
28 Tema de Capa
Luís Sabino Gonçalves
40 Editor’s Choice
Casaca Rack Equiline
42 Coaching
por Mariana Silva
44 Equitação Natural
por Sandra Dias
da Cunha
56 Tauromaquia
por Domingos
da Costa Xavier
58 Veterinária
por Joana Alpoim
Moreira e João Paulo
Marques
62 Nutrição
por Marta Cardoso
64 Crónica
por João Pedro
Gorjão Clara
18 Cavalos
Xiripiti
20 Criação
Coudelaria
Cunha e Costa
48 reportagem
Comercialização
Pós covid-19.
O que se aprendeu
e como reagir
66 Raides
por Mónica Mira
70 Histórias
por Rita Gorjão Clara
FOTO de capa Bárbara M. Da Costa/Equestrez
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Estatuto Editorial disponível em www.equitacao.com
Imagem do mês
7 de Junho de 2020, Centro Equestre Internacional
de Alfeizerão (CEIA): os irmãos Viktor e Vilgot Janson
preparam-se para iniciar a prova de 30cm, na companhia
dos pais e professores, devidamente protegidos com
máscara e viseira. A classe inseriu-se na Poule que
decorreu em simultâneo com o CSN-B, o primeiro
após o recomeço do calendário nacional de provas,
interrompido durante quase três meses devido
à pandemia mundial Covid-19.
foto Mariana Vivaldo
EQUITAÇÃO 4 MAGAZINE
EQUITAÇÃO 5 MAGAZINE
Dicas do Juiz
Transições
Entendo as transições como um dos exercícios mais completos das provas de Dressage.
Reconheço que esta afirmação pode causar estranheza a alguns leitores, todavia, as transições
revelam o equilíbrio, descontracção, impulsão, rectitude, capacidade de concentração, submissão,
ligeireza, etc; ou seja, as transições revelam-nos a verdadeira qualidade do ensino do cavalo.
A título de curiosidade, veja-se que a prova de Grande Prémio contém 26 transições das quais
cinco são avaliadas individualmente.
DEFINIÇÃO
A transição é uma mudança de andamento ou a variação do tempo
(velocidade do ritmo) dentro do mesmo andamento (ex: concentrado-largo-concentrado).
As transições devem ser executadas de forma bem definida, na letra
estipulada, mantendo a cedência (excepto no passo, onde esta não
existe) e a qualidade do andamento até ao momento da transição. As
transições devem ser executadas de forma fluída, sem hesitação ou
tensão, permanecendo o cavalo numa posição correcta.
Objectivo
As transições visam encorajar o cavalo a desenvolver a capacidade de
concentração, maior flexibilidade e movimento da linha de cima, melhorando,
consequentemente, o seu equilíbrio e ligeireza (self-carriage).
Erros comuns
Os erros que geralmente vemos associados às transições são: pouca
definição (especialmente no que se refere à concentração), não
execução das transições na letra (muito cedo ou muito tarde), per-
da de rectitude (geralmente garupa a dentro), perda de
regularidade ou até mesmo de ritmo (precipitação), contra-flexão
(geralmente na transição ao trote após o trabalho
de galope), tracção das rédeas (o que leva o cavalo
a baixar a nuca, colocar mais peso nas espáduas, abrir a
boca), resistências (essencialmente por falta de preparação
- meias-paragens), algumas passadas de passage/
passagê nas transições da paragem ao trote, entre outros…
Dicas
1) Visualização do exercício
Há alguns anos numa conversa informal com o criador e
cavaleiro Paulo Caetano, sobre este tema, o mesmo referiu
que: “(...) as transições são como o avião a descolar e
a aterrar. Deve descolar forte e aterrar suave”. Naturalmente
que não devemos simplificar em demasia o conceito,
mas creio que esta citação transmite uma boa ideia
visual daquilo que se pretende ver.
EQUITAÇÃO 6 MAGAZINE
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2) Conhecer o protocolo (exercícios combinados)
Apesar desta dica ser aplicável a todos os exercícios, o motivo
pelo qual sinto a necessidade de referir este aspecto é porque
em diversas provas a nota da transição inclui o andamento na
parede pequena (ex: na prova de Grande Prémio a transição
ocorre em “E” e o cavalo é avaliado até “F”; na prova St. George
a transição ocorre em “K” e o cavalo é avaliado até “F”) e nem
sempre os cavaleiros tem este aspecto em consideração.
3) O andamento antes da transição
A qualidade do andamento antes da transição é tido em consideração
na nota da transição.
Assim, se o cavalo apresentar um galope quase a decompor
antes da transição ao trote ou um passo quase por laterais na
transição ou trote (ou à passage) a nota da transição não
pode ser elevada. Tente manter a qualidade do andamento
até ao momento da transição.
TEXTO Frederico Pinteus
Juiz FEI3* e de Cavalos Novos
FOTOs Aurélio Grilo
4) Precisão
Se bem que as transições descendentes (ex: galope-paragem)
podem ter uma dificuldade acrescida, a generalidade
das transições ascendentes são menos difíceis (ex: paragem-trote),
pelo que se executadas correctamente permitem
alcançar uma boa nota, mesmo que o cavalo não tenha
muita qualidade. Por ex: na paragem inicial ou após o recuar,
evite que o cavalo dê 2/3 passos de passo antes de sair a
trote, pois isto levará a perda desnecessária de pontos.
Para finalizar, gostaria de sublinhar que é importante que os
cavaleiros dêem a devida atenção às transições, pois estas
fazem parte da maioria dos exercícios, na generalidade das
provas têm uma nota individual e, fundamentalmente, porque
revelam o treino do cavalo e o empenho com que o cavaleiro
está em prova. m
Nota: Esta análise
é feita à luz
do Regulamento
da Federação Equestre
Internacional (FEI),
tendo por objectivo
ajudar os praticantes
de Dressage a
“conservar” pontos que
estão essencialmente
relacionados com a
execução do exercício
e não com a qualidade
do cavalo.
EQUITAÇÃO 7 MAGAZINE
NA OPINIÃO DE...
CARTOLA OU TOQUE
NÃO DEVERIA ESTA SER UMA ESCOLHA INDIVIDUAL DE CADA CAVALEIRO ?
Fo t o :RPG
Fo t o :Ri ta Fe r n a n d e s ©Lu s i ta n o Wo r l d
EQUITAÇÃO 8 MAGAZINE
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Esta tem sido uma temática sobre a qual tenho reflectico bastante.
Se por um lado entendo as novas directivas da Federação Equestre
Internacional (FEI), por outro, corremos o risco de passar
a mensagem de que a Dressage pode ser perigosa.
Acredito que a segurança se atinge ao construir uma relação
com o nosso parceiro baseada na confiança e compreensão total,
muito mais do que por usar equipamento de protecção.
Ocavalo e o homem têm caminhado
lado a lado durante
toda a história da humanidade.
Desde a sua domesticação,
há mais de 10 000 anos, os cavalos e o
homem estão juntos, sendo esta simbiose
parte do caminho de evolução da raça humana.
A globalização viu o seu início nos dorsos dos
cavalos e os reis conquistaram os seus reinos
com estes nobres animais.
A nossa relação existe desde que há memória
e o cavalo viu a sua evolução desde alimento,
a uma ferramenta de trabalho,
a um companheiro que dá
ao homem liberdade e nos faz sentir
completos: é uma relação de
cumplicidade, amizade, parceria.
A Dressage, como disciplina Olímpica,
levou esta ligação a todo um
outro nível. Com o objectivo de
atingir uma harmonia total entre
TEXTO daniel pinto
homem e o cavalo é de uma beleza digna
de contemplação.»
O Grande Prémio, como nível mais alto deste
desporto, torna-se o expoente da harmonia
e parceria entre cavalo e cavaleiro.
Assistir a uma Freestyle de Grande Prémio,
é observar arte pura, em que cavalo e cavaleiro
dançam juntos.
Os cavaleiros preparam-se para uma prova
de Grande Prémio como se de uma gala se
tratasse: impregnado de tradição, este desporto
requer que os cavaleiros empreguem
traje formal de Dressage, que tenham um
aspecto altamente elegante. São
seguidas regras restritas do “dress
code”, incluindo a casaca de abas
de uma só cor, na qual são permitidos
discretos ornamentos como
uma gola de tonalidade diferente,
um bordado modesto ou ornamentos
em cristal, botas de ensino pretas
e uma cartola elegante.
A Dressage n ã o é a p e n a s u m d e s p o r t o:
é a e p í t o m e d e e l e g â n c i a e a r t e d a e q u i t a ç ã o
e m h a r m o n i a c o m o c a v a l o
cavalo e cavaleiro, em que dois corações
batem como um só, a Dressage não é apenas
um desporto: é a epítome de elegância
e arte da equitação em harmonia com o
cavalo.
Como um desporto competitivo, a Dressage
é definida pela FEI como “a expressão
máxima do treino do cavalo, onde é esperado
que cavalo e cavaleiro executem, de memória,
uma série de movimentos pré-determinados”.
Os cavaleiros de Dressage almejam um
completo conhecimento, comunicação
sem falhas e uma harmonia perfeita de
equilíbrio, em que o cavaleiro leva o cavalo
à sua manifestação máxima de movimentos.
No website da FEI pode ser lido: «Dressage
é a expressão máxima do treino do
cavalo e elegância. Frequentemente comparada
ao ballet, a intensa conexão entre o
Desde há alguns anos, a FEI tem vindo a
envolver-se numa campanha global para
promover o uso de dispositivos de protecção
para a cabeça - vulgo toque. Em Novembro
de 2019, foi aprovado o uso obrigatório
de toque para desportos equestres:
seguindo as novas regras, «os cavaleiros de
Dressage terão de usar o toque a todos os
momentos decorridos em eventos FEI, quer
dentro da carriére durante a sua prova, quer
fora da mesma, a partir do dia 1 de Janeiro
de 2021.» Esta nova regra retira das disciplinas
individuais o seu poder de regulamento
próprio, em que o uso de equipamento de
protecção, em contexto de prova, seria decidido
pelas mesmas. Deste modo, a nova
norma torna obrigatório o uso do toque
sempre que o cavaleiro esteja a montar em
locais pertencentes a uma organização FEI.
No entanto, esta regra permite que as dis-
EQUITAÇÃO 9 MAGAZINE
NA OPINIÃO DE...
ciplinas individuais decidam a possibilidade de os cavaleiros
retirarem o equipamento de protecção durante as
cerimónias de entrega de prémios e no momento em que
são tocados os hinos nacionais.
Numa notícia recente, o website britânico EuroDressage
ressalvou o facto de «a decisão ter vindo rodeada de criticismo
entre federações representantes de países com forte
cultura na Dressage. Especificamente, o facto de a Atrelagem
e o Volteio Artístico não serem abrangidos pela nova
regra é considerado “estranho”, de acordo com o delegado
holandês Maarten van der Heijden, Director e Secretário
Geral da Federação Equestre Holandesa (KNHS).»
Inicialmente proposta como
uma regra com início a partir
de 1 de Janeiro de 2021, a
Holanda requisitou um adiamento
de um ano, de modo
a “criar realmente uma boa
preparação para esta regra”,
citando van der Heijden.
Este tem sido um tópico sobre
o qual, pessoalmente,
tenho refletido bastante. Ao
ler este comunicado da FEI,
percebi de imediato as razões
que levaram à proposta
desta nova regra. No entanto,
simultaneamente,
senti que estamos a correr o
risco de passar uma mensagem
errada: a de que a Dressage,
como desporto, pode
ser perigosa.
Eu próprio sou 100% apologista
de que a segurança
deve vir primeiro. É da minha
responsabilidade como pai,
treinador e empregador, garantir
que os meus alunos,
entre eles o meu filho, estão sempre seguros! Assim, concordo
que as provas de Dressage deveriam exigir o uso
obrigatório do toque, até ao nível do Grande Prémio.
Enquanto preparamos cavalos jovens ou estamos no caminho
para conquistar a harmonia perfeita com o nosso
parceiro, devemos estar protegidos e utilizar equipamento
de protecção adequado. A meu ver, a segurança surge
pela relação de entendimento e confiança entre o cavalo
e o cavaleiro. Acredito que a segurança se atinge ao construir
uma relação com o nosso parceiro baseada na confiança
e compreensão total, muito mais do que por usar
equipamento de protecção. Ao nível do Grande Prémio, a
sintonia entre ambos os atletas atinge o seu expoente
máximo. Não penso que esta nova regra deva ser aplicada
a provas de Grande Prémio, como obrigatória. Deveria
ser dada aos cavaleiros a possibilidade de demonstrar o
nível máximo de comunicação entre si e o seu cavalo durante
a prova de Grande Prémio.
Ut i l i z a r u m t o q u e
d u r a n t e u m a Fr e e s t y l e
d e Gr a n d e Pr é m i o
é c o m o ir a u m a g a l a
d e Óp e r a d e
c a l ç õ e s e t é n i s
Eu próprio monto os meus cavalos jovens de toque. Não
obstante, irei sempre honrar os meus cavalos de Grande
Prémio com um traje de gala e esse traje inclui, incontornavelmente,
uma cartola.
A liberdade de expressão deve ser permitida aos cavaleiros
que, a este nível, mostram grande confiança e controlo
absoluto sobre as suas montadas, ao executar movimentos
de GP sincronizados na perfeição com as
batidas da música.
A este nível, a comunicação entre cavalo e cavaleiro não
deve ter qualquer falha e o desporto atinge o seu expoente
máximo, tornando-se muito mais que um desporto
- é uma arte.
Utilizar um toque durante
uma Freestyle de Grande
Prémio é, para mim, como ir
a uma gala de Ópera de calções
e ténis - chamem-me
antiquado, mas uma das
coisas que mais valorizo é a
história, tradição e honra
que sinto ao entrar na carriére
vestido com a minha casaca
de aba longa e cartola.
O argumento principal da FEI
assenta no facto de o Comité
Médico priorizar a mudança
de regras, promovendo o uso
de toque como o seu foco na
segurança dos atletas. No
entanto, não consigo recordar
nenhum acidente que tenha
ocorrido durante uma
prova de Grande Prémio.
Esta nova regra, que assenta
na promoção da segurança,
faz ainda menos sentido ao
permitir que as disciplinas
individuais decidam se os
seus cavaleiros podem ou não retirar os seus toques durante
as entregas de prémios e quando tocam os hinos
nacionais.
É, no mínimo, irónico! Durante a prova, o cavalo está no
seu nível máximo de concentração, uma performance
onde o silêncio é absoluto e cavalo e cavaleiro são julgados
como um só. Contudo, no preciso momento em que
temos vários cavalos juntos, o público celebra com o
aplausos e as voltas de honra levam a excitação ao máximo:
é aqui que as regras permitem aos cavaleiros a decisão
individual de retirar o toque.
Aqui fica a minha proposta, como cavaleiro de Dressage
que iniciou a sua carreira há 30 anos, dono de um grande
sentido de tradição: quando chegamos ao Grande Prémio,
deve ser permitido ao cavaleiro a liberdade de usar,
ou não, a sua cartola! No final de contas, é uma escolha
própria e uma liberdade poder expressar a nossa simbiose
com o cavalo. m
EQUITAÇÃO 10 MAGAZINE
Entrevista
Falar da Golegã é falar de José Veiga
Maltez. Com ligações familiares
ancestrais à terra, é uma figura
emblemática da história do município,
do qual já foi e voltou a ser autarca.
Homem de cavalos, na sua verdadeira
essência, no seu seio nasceu, das suas
tradições bebeu e é o seu ar que respira.
TEXTO ana filipe | fotos BÁRBARA M. DA COSTA/EQUESTREZ
Q
uinta do Salvador. Este é o cenário desta
entrevista, o mesmo que viu o jovem José
dar os primeiros passos, as primeiras quedas,
as primeiras voltas a cavalo (ou de
garrano, como veremos mais à frente).
Homem de personalidade e ideais fortes, ao conhecê-lo é
impossível ficar-lhe indiferente. Talvez por consequência do
seu carácter, é também um homem de paixões. O cavalo
está no topo delas e associado a quase todos os cargos que
ocupa. Mas como um diamante, também Veiga Maltez tem
muitas faces, algumas talvez não tão conhecidas do público
em geral, habituado a vê-lo durante a Feira da Golegã a distribuir
sorrisos e acenos.
Casado, pai de dois filhos e já avô, a EQUITAÇÃO conversou
com José Tavares Veiga Silva Maltez, numa entrevista intimista,
onde é abordado o passado, presente e futuro.
EQUITAÇÃO - É Presidente da Câmara Municipal da Golegã,
da Feira Nacional do Cavalo (por inerência de cargo),
da Associação Portuguesa de Criadores de Raças
Selectas (APCRS) e da Associação Nacional de Turismo
Equestre, sendo que também desempenhou funções de
Assistente da Cadeira de Geriatria da Faculdade de Medicina
de Lisboa. Este é José Veiga Maltez, a figura pública.
Mas quem é José Veiga Maltez, o Homem?
JOSÉ VEIGA MALTEZ - Como qualquer Homem, é fruto
das circunstâncias e de ser o que os outros o deixam ser!
Não é Político, mas sim, Médico-Autarca e que prefere que
sejam os outros a defini-lo, do que falar de si próprio, já que
não tem falsa humildade, nem falsa modéstia, quando os lê
ou os ouve!
Nasceu entre os cavalos, no seio de uma família de grande
tradição equestre e de uma Coudelaria ancestral. Ainda
se recorda das primeiras vezes que montou e do que
este animal lhe transmitia?
Recordo-me muito bem! Num garrano, que tinha o nome de
“Garoto”, o qual comecei a montar com 3 ou 4 anos, tendo
essa vivência me mostrado que, para uma criança, será
sempre melhor um cavalo velho ou de confiança, do que um
pónei ou um garrano. Mais tarde, com 10 anos foi-me “atri-
EQUITAÇÃO 12 MAGAZINE
O Homem, a Obra
e a sua Terra
José Veiga Maltez, o Médico-Autarca
EQUITAÇÃO 13 MAGAZINE
Entrevista
buída” uma égua, a “Salgadeira”, cujo nome se devia ao
ter nascido nos Salgados, em Vila Franca de Xira onde,
as éguas Veiga pastavam, sazonalmente, em tempo de
“transumância”.
Com quem aprendeu equitação e quais as suas referências
em termos equestres?
Com algum autodidatismo, mas sobretudo “ensinado” pelos
da Casa e a ver como se fazia. O meu Pai, durante uns tempos,
enviou um cavalo para a Póvoa de Santo Adrião, para o Picadeiro
de Mestre Nuno Oliveira, para que pudesse aprender algo
de jeito. Penso que não foi o momento certo, nem a idade certa.
Com nove anos, pouco absorvi e não poderia compreender
a “arte”, nem os conhecimentos do grande Mestre! Na verdade,
há um atavismo, que é a propriedade que têm os seres vivos,
de transmitirem caracteres seus aos descendentes, com
um intervalo de uma ou mais gerações, sendo a vulgar semelhança
com os Avós ou com os Tios. Comigo não foi só, a predisposição
e o “jeito” para montar a cavalo, mas, também noutras
funções. E entre elas, também o atavismo familiar, pelo
meu Bisavô, Manuel Tavares Veiga, que criou os célebres “Veiga”,
ter sido o primeiro Presidente da Câmara Municipal da Golegã,
da I República, em 1910, assim como, o meu Tio materno,
Carlos Veiga, que foi o último Presidente da Câmara da Golegã,
da II República, em 1974, e na III República, a partir de 1998, têlos
secundado no mesmo cargo, como Edil da Golegã.
Continua a montar com a regularidade que gostava?
A regularidade com que monto é totalmente irregular! É quando
me apetece, quando sinto essa vontade, mas, sobretudo,
por prazer, por lazer, aquando do convívio e da confraternização
com outros, seja num passeio marcado, numa Romaria ou
numa Feira!
Conte-nos um pouco da origem e da história da Coudelaria
Veiga Maltez.
A origem e a história da Coudelaria Veiga Maltez confunde-se
com a da Coudelaria Veiga, já que foi uma parte dessa Éguada,
que o meu irmão e eu recebemos, por via do nosso Tio-
Avó João Veiga, que a havia legado a sua Sobrinha, Maria
Mercedes Tavares Veiga Maltez, nossa Mãe, por herança de
seu Pai, o Eng. Manuel Tavares Veiga.
Herdou linhas ancestrais, isso tem sido uma vantagem ou
uma limitação no actual desenvolvimento da Coudelaria?
Felizmente, herdámos uma linhagem antiga, que é o pilar e a
base da nossa Coudelaria. Tem sido uma vantagem porque
sem uma boa base é sempre mais difícil seleccionar e criar
cavalos bons. Temos o caminho facilitado, porque já fazem
parte da nossa base, características morfológicas e funcionais
boas, que apenas temos de desenvolver e melhorar no
sentido do cavalo, que pretendemos criar. Por outro lado, poderemos
considerar alguma limitação, apenas pelo tempo
que demora, abrindo um pouco a outras linhagens dentro do
Lusitano, mas utilizando sempre como mães, as éguas, fruto
da nossa base inicial. Uma das maiores provas da consistência
da base de uma coudelaria, como a nossa, é quando ao
mesmo grupo de éguas largamos três cavalos diferentes e
não conseguimos “distinguir” nos poldros nascidos, qual foi o
padreador.
O que deve ter um Lusitano para ser o tal cavalo de sonho
que todos os criadores desejam?
Respeitando o Padrão da Raça, pelo qual se rege a nossa Associação,
cada criador é livre de sonhar com o cavalo que
gosta de criar. Assim, o cavalo dos meus sonhos, além de “corajoso”
e dócil, será um cavalo, com um certo tamanho, uma
EQUITAÇÃO 14 MAGAZINE
PUB
O que dizem
de José Veiga
Maltez...
“É altivo sem ser arrogante.
Bairrista sem ser tacanho. Vaidoso sem
ser pedante. Ergue-se todos os dias,
numa guerra sem tréguas, contra mentes
fechadas e horizontes limitados.
É hiperactivo, um autêntico tornado,
quando decide pôr mãos à obra.
Eléctrico. Electrizante”
(António Bastos, in O Mirante)
“(…) é bem o exemplo (raro!) do
modelo de Autarca por vocação,
longe das politiquices dos Partidos,
exercendo o cargo apenas por amor
à sua terra, empenhado na criação de
melhores condições para a sua gente
e na projecção da imagem da Golegã,
Concelho” (José Pinto,
in Jornal do Douro)
“Vi v o o u v i n d o a v o z
d a m i n h a c o n s c i ê n c i a,
e n s a i a n d o s e r i n d e p e n d e n t e
d a opinião d o s o u t r o s“
frente leve, boa cara, pescoço fino, orelha pequena, bom dorso,
boa ligação de rins, boa garupa, curvilhões baixos e com
membros fortes.
Temos vindo a assistir a cada vez melhores performances
e resultados de Lusitanos nos mais importantes concursos
de Dressage internacionais. Ainda assim, alguns defendem
que o futuro do Lusitano na alta competição passará
por uma maior abertura do livro genealógico. Sendo
criador de Lusitanos, mas também Presidente da APCRS,
qual a sua opinião sobre o assunto?
A abertura que refere do Livro Genealógico do Puro Sangue
Lusitano, é algo que exige um grande cuidado, que tem de ser
muito bem ponderado, equacionado e analisado, pelos responsáveis
e associados da Associação Portuguesa de Criadores
do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL). Não se deve
desvirtuar o que actualmente denominamos de Puro Sangue
Lusitano, mas nele “investir”! Paralelamente, com ele, deve
coexistir, para certos objectivos e vontades, o Cavalo Português
de Desporto, PSH (Portuguese Sport Horse), entre o
qual, se encontra o “Luso Sport”, denominação aprovada pela
APCRS para os produtos, a partir de uma determinada percentagem
de sangue Lusitano.
“Pela sua qualidade, profissão,
ascendência e dependência pessoal,
oferece garantias de não estar na política,
para se servir nem para enriquecer,
não querendo para si nem para os
seus qualquer privilégio, como é típico
daqueles, que entram no carrossel
das lides autárquicas, apenas para se
servirem das posições a que ascendem
ou para usufruto de honrarias e acesso
a bens, que de outro modo, nunca
poderiam alcançar”
(Pedro Barroso, Autor, Compositor
e Interprete)
“Numa breve conversa, que ambos
tivemos no velho Central, verificámos
como é importante estarem à frente
das Autarquias personalidades com
uma verdadeira preparação de base,
para saberem interpretar a mensagem
sociológica e cultural, que as populações
locais exprimem, procurando através
da sua gestão, depositar nas futuras
gerações esse legado histórico valorizado,
só assim dando carácter e sentido
às regiões”
(Alberto Tavares Barreto,
in Cavalos Veiga, Tradição e
Actualidade, Edições Inapa, Lisboa)
“É um Autarca com uma personalidade
única, carismática e diferenciada”
(Teresa Sena de Vasconcelos,
in Universidade Aberta, Lisboa)
Na sua opinião, que consequências pode a Covid-19 ter na
criação nacional, em geral?
As consequências, quer directas ou indirectas são óbvias, já
que as fronteiras encerraram não permitindo o afluxo de es-
EQUITAÇÃO 15 MAGAZINE
Entrevista
Licenciou-se em Medicina e exerceu
durante muitos anos. E, tanto quanto julgo saber, alguns
dos seus pacientes não gostaram nada de o perder
como médico. Houve um momento em que sentiu uma
espécie de apelo para dar o seu contributo à terra que o viu
nascer? Foi isso que o levou a entrar na vida política?
Sobretudo, o que me levou a entrar na vida autárquica, foi a
percepção que tinha da Golegã, Concelho, em 1997, se demarcar
dos outros, mas pela negativa, com um então presente
cinzento e um futuro pouco colorido, mostrando aos cidadãos,
naquele ano em que me candidatei, a necessidade de
uma disposição reformista, para combater o “status quo” da
terra dos meus bisavós, dos meus avós, dos meus pais e aonde
os meus filhos cresciam. Na verdade, ser Médico e Presitrangeiros,
com grande paixão pelo Lusitano, assim como, as
vicissitudes e agruras, com que os Criadores, dentro do país,
se confrontam e irão enfrentar.
Falamos de criação e da evolução dos cavalos, mas quanto
ao nível da equitação praticada pelos nossos cavaleiros
- e não falo só dos “profissionais” também me refiro
aos chamados “pica-pica” - montamos hoje melhor, com
mais qualidade e noções equestres, do que no passado?
Sem dúvida nenhuma! Sobretudo, imensa quantidade!! O
aumento da qualidade, deve-se a uma questão de melhoria
“educultural”, que era necessária e desejável!!! Não foi por
qualquer razão, que como Autarca da Capital do Cavalo, instituí
a Equitação, como Actividade de Enriquecimento Curricular
(AEC), para todos os alunos das escolas do concelho da
Golegã. Porque as “bases” são importantíssimas e a Equitação
começa pela vertente didáctico-pedagógica, sobretudo
num país, em que aquela integra a sua identidade e cultura,
devendo por tal, ser promovida e desenvolvida.
É também autor de diversas publicações. Escrever é outra
das suas paixões?
É na verdade uma paixão imensa, além da pintura, com a
qual, noutros tempos mais tempo lhe dispensava. Ambas,
tão só necessitam que usemos os sentidos, como a fotografia,
que muito ensaio. Todas requerem observação do que
existe à nossa volta! Para “escrever” também, é preciso
“olhar”! Olhar comportamentos, olhar detalhes. E não é difícil
ser atento, num mundo de muitos desatentos! Umas vezes,
olho para dentro, mergulho em mim mesmo, reflectindo,
outras, inspiro-me nos outros, nomeadamente, no que
dizem, no que falam, no que resmungam, no que gritam ou
sussurram!
Que outras actividades gosta de praticar? Com tantos
cargos, sobra tempo para as executar…?
Entre outras, como é do conhecimento
geral, sou “Motard” atravessando
fronteiras, com a minha Yamaha 600
Diversion. Como todos devem inferir,
há um sentimento, o qual não tenho,
que é aquela sensação de vazio e isolamento,
a que chamam de solidão,
já que o meu dia-a-dia é quase frenético,
pleno de pessoas à minha volta e
de assuntos para tratar, para resolver. Daí, necessitar de um
ou outro momento a sós, comigo próprio, enfim, solitário, esquivando-me,
isolando-me, sendo a minha “duas rodas” ideal,
para ser um “eremita” do séc. XXI, muito transitório e temporário,
restaurando-me psíquico-fisicamente, para as novas
“batalhas”!
Sabemos também que é um exímio bailarino. A que música
não resiste…?
Dizem! Na maioria das vezes, é tão só uma forma de expressar
o meu estado de espírito, em termos de lazer e de prazer.
Para dançar é preciso sentir, mexer o corpo com uma cadência
de movimentos e ritmos, criando uma harmonia. É uma
“Pa r a n ó s, a Fe i r a
[d a Go l e g ã] e s t á d e pé
e t u d o e s t a m o s a
f a z e r p a r a q u e o
e v e n t o a c o n t e ç a”
manifestação artística de igual modo, que a escrita e a pintura,
só que nela utilizamos o corpo, como instrumento criativo.
Há vários tipos de música, que me são mais agradáveis para
dançar ou “bailar”, mas com alguma facilidade me adapto ao
ritmo e à coreografia, que cada uma exige!
Qual o seu lema de vida?
Sinceramente, não tenho “lema”, tão só a intensidade que imprimo
à minha vida, já que muitos se limitam a “existirem”,
não a vivendo. Vivo ouvindo a voz da minha consciência, ensaiando
ser independente da opinião dos outros, apesar de
tentar ser consensual, convergente
e pelo equilíbrio, harmonia. Quem
me conhece e me rodeia, conhece
bem a minha liberdade de agir, assim
como, de expressar aquilo que
sinto, mesmo que me traga dissabores.
EQUITAÇÃO 16 MAGAZINE
Neste momento, não podemos ser “mais Papistas, que o
Papa”. Para nós, a Feira está de pé e tudo estamos a fazer
para que o evento aconteça. Os meses que se avizinham
serão indicadores do que se irá passar e das determinações
da Tutela da Saúde.
dente de Câmara são cargos e funções com alguma afinidade.
Ambos, lidam com as agruras e os factos negativos
das pessoas. Geralmente, ninguém vai ao consultório para
dizer que está bem, assim como, não vão ao Gabinete do
Presidente da Câmara, referir que está tudo óptimo!
A Feira do Cavalo é uma feira conhecida em todo o mundo,
que atrai milhares de visitantes. Contudo, quem a visita
em Novembro e se decide regressar em Maio para a
Expoégua, encontra uma feira menos popular. Sendo o
“pai” da Expoégua e estando esta a caminho da 22.ª edição
(o que não aconteceu este
ano devido à Covid-19), considera
que a feira de Maio já atingiu o
seu ponto máximo em termos organizativos
e programáticos ou
ainda há um caminho a percorrer,
e se sim, o que tem em mente?
A Expoégua nasceu, cresceu e atingiu
a sua maturidade, ao fim de
duas décadas, cumprindo o seu objectivo! Conseguimos o
que desejávamos, incitando a deferência dos criadores, pelas
mães do efectivo equino de todas as raças, criadas em
Portugal, os quais reconheceram este evento, que será sempre
melhorado e actualizado, como o ideal e o mais nobre
espaço, para as apresentar, as exaltar, para as premiar e para
as elevar!
Devido à pandemia e consequente estado de emergência
decretado em Portugal, a FNC viu-se obrigada a cancelar
a Expoégua. A sete meses da Feira Nacional/Internacional
do Cavalo, já é possível antever se esta se irá
realizar e em que moldes?
“Se r Mé d i c o
e Pr e s i d e n t e
d e Câ m a r a s ã o c a r g o s
e f u n ç õ e s c o m a l g u m a
a f i n i d a d e”
Há dois temas que são assunto recorrente pelo S. Martinho,
reporto-me ao traje com que se apresentam os cavaleiros
na feira e ao bem-estar do nobre animal. É possível
implementar mais medidas não só para fomentar o
uso do Traje Português de Equitação que de facto conferem
uma singularidade ao certame e, por outro, prosseguir
na adopção de mais decisões que visem o bem-estar
do cavalo?
Como é do conhecimento geral, temos vindo a implementar
definições e critérios para o período da Feira, que cada
vez mais visam o bem-estar animal, quer com a criação de
uma Comissão própria, que retira do Recinto da Feira e de
outros espaços públicos, equinos que apresentem sinais
clínicos de “sofrimento”, quer com a restrição horária de circulação
de animais e veículos de tracção animal, entre as
duas e as sete da manhã. Foram decisões bem conseguidas
e desejáveis, no sentido da prevenção do mal-estar animal.
Quanto ao Traje, a tradição da Feira de São Martinho é
a de uma Feira Franca, a que todos acorriam, acontecendo
no séc. XX, uma maior exigência na Apresentação e Concursos,
de um Traje condigno. Penso, que é um desrespeito
a forma e o modo como muitos se apresentam e fazem arrear
os seus cavalos. Prefiro interpretá-la como uma questão
educacional e cultural. Conseguimos já, que só as pessoas
trajadas correctamente, tenham acesso ao Picadeiro
Central, que é onde se focam os principais olhares e apreciações.
Progressivamente, tentaremos que na Manga
aconteça o mesmo. Trajarem bem, correctamente e se à
Portuguesa, ainda melhor!
Não querendo ser o arauto dos
seus feitos, mas é graças ao seu
trabalho que a Golegã passou a
ser reconhecida como a Capital
do Cavalo, encontrando-se dotada
de infraestruturas que fazem
jus ao nome (Picadeiro Público
Coberto, Centro de Alto Rendimento
de Portugal para Desportos
Equestres, Equuspolis…). Como aliás já referiu, a
Equitação foi introduzida como complemento curricular
das Escolas do Concelho da Golegã. Como gostava de
ser recordado no futuro?
Tão só, como alguém que contribuiu para pôr a Golegã, no
“mapa” a nível nacional e internacional, devolvendo-lhe a
sua memória, a sua história, ao mesmo tempo, que lhe foi
promovendo a qualidade de vida, exigida pelo séc. XXI,
numa simbiose, entre a sua identidade cultural e a modernidade,
desvanecendo a Golegã “velha”, preservando a “antiga”
e construindo a “nova”, usando o que foi transmitido de
geração em geração, para estímulo do presente e referência
para o futuro! m
EQUITAÇÃO 17 MAGAZINE
Cavalos
XIRIPITI
Um PSL (de ranking) mundial
Não é todos os dias que encontramos um cavalo no ranking mundial
da Federação Equestre Internacional (FEI) posicionado cinco vezes
e que tenha estado presente em três Campeonatos da Europa
e dois Jogos Equestres Mundiais em representação de duas nações.
Xiripiti é esse cavalo.
Foi no Monte de Vila Formosa, na Coudelaria
Torres Vaz Freire que Xiripiti
nasceu e onde Paulo Caetano o viu
pela primeira vez, era ele ainda um
poldro de 5 anos, e logo o impressionou pela
“precocidade com que fazia exercícios de grande
dificuldade mas, sobretudo, em termos de
andamentos. Era um cavalo com uma actividade
de posteriores, com um poder invulgar para a
raça nessa altura”, recorda o criador, cavaleiro e
treinador. Depois do desbate e ensino inicial realizado
por Rodrigo Torres, após a aquisição, foi
Maria Caetano, com a ajuda do pai, que prepararam
o jovem lusitano e o iniciaram em competição
a nível internacional, aos 7 anos, em S.
Jorge, e um ano depois, em Grande Prémio, num
começo que acabou por ser mais precoce do
que o esperado, devido à perda de Útil. Apesar
da inexperiência, logo nesse ano Xiripiti foi seleccionado
e integrou a equipa nacional no Europeu
de Roterdão. Depois disso, com Maria, fez
ainda mais dois Europeus, um Mundial e juntos
sagraram-se Campeões de Portugal em 2013 e
2014.
Com Coroado a ganhar cada vez maior relevo
na quadra da cavaleira, após algum tempo a
exercer funções de garanhão na casa da família
XIRIPITI
•Data de Nascimento:
29.05.2003
•Sexo: M
•Pelagem: Ruça
•Altura ao garrote: 1.63m
•Studbook: Lusitano
•Disciplina: Dressage
•Criador:
Coudelaria Torres Vaz Freire
•Proprietário: Paulo Caetano
•Descendência:
8 exemplares
QUALIFICADO
CRIADOR:
MANUEL MENDES
DA ASSUNÇÃO COIMBRA
REBOLEIRA
CRIADOR:
MARCOS TORRES
VAZ FREIRE
TEXTO ana filipe
(até porque é reprodutor recomendado de 4 estrelas
de Dressage e Modelo e Andamentos),
Xiripiti foi entregue a João Oliva, atleta brasileiro,
treinado também por Paulo Caetano.
Com 15 anos, já do outro lado do globo, Xiripiti
voltou a estar sob os holofotes de todo o mundo
ao entrar em pista para o Grande Prémio,
desta vez nos Jogos Equestres Mundiais de
Tryon, nos EUA.
No suadouro em vez da bandeira portuguesa
estava a brasileira, mas o coração do cavalo e a
vontade era a mesma.
Garanhão já com uma larga carreira, em 2019
passou ainda sob a sela de Roberto Brasil
(POR), Pedro Manuel Tavares de Almeida (BRA)
e Edneu José Senhorini (BRA), alguns dos quais
na tentativa de conquistar os mínimos para a
vaga olímpica individual. “É um cavalo de uma
enorme generosidade e aponto-lhe como principais
qualidades em termos mecânicos e físicos
a força e a actividade inusual de posteriores
e em termos psicológicos a coragem e a garra
dos bons lusitanos pois é um animal que em
pista nunca ficou indiferente a ninguém e isso é
uma característica muito bonita de qualquer
cavalo de dressage”, afirma o proprietário, que
tem dele três descendentes.m
HABIL
CRIADOR:
MANUEL TAVARES VEIGA
ZEBRA
CRIADOR:
MANUEL MENDES
DA ASSUNÇÃO COIMBRA
MOSCATEL
CRIADOR: ANA MARIA BRITO
ELIAS DE MOURA LUPI
IDEAL
CRIADOR: COUDELARIA
TORRES VAZ FREIRE
EQUITAÇÃO 18 MAGAZINE
Principais resultados:
Com Maria Caetano
• 2011 – Presença no Campeonato da Europa de Roterdão (HOL)
• 2013 – Campeão de Portugal
• 2013 – Presença no Campeonato da Europa de Herning (DIN)
• 2014 – Campeão de Portugal
• 2014 – Presença no Campeonato do Mundo da Normandia (FRA)
• 2015 – Presença no Campeonato da Europa de Aachen (ALE)
Com João Oliva
• 2018 - Presença no Campeonato do Mundo de Tryon (EUA)
EQUITAÇÃO 19 MAGAZINE
Coudelarias
Coudelaria
Cunha e Costa
Uma história escrita em família
EQUITAÇÃO 20 MAGAZINE
Às portas de Évora, é entre o Convento da Cartuxa
e o Convento de S. Bento de Castris, com o Aqueduto das Águas de Prata
bem perto, que encontramos a Coudelaria Cunha e Costa, um projecto familiar
dedicado à criação de cavalos Puro Sangue Lusitano (PSL).
TEXTO Ana Filipe | FOTOS Inês Parente
À
nossa espera estão Rui, Cristina, os filhos Pedro,
Inês e Catarina (e alguns companheiros de quatro
patas). Num cenário com tanta riqueza histórica e
beleza natural, os tons de azul e branco que pintam
a casa não nos deixam esquecer que estamos em pleno
Alentejo, onde os campos e o clima se têm mostrado ideais
para o crescimento do efectivo desta Coudelaria, que conta
com pouco mais de uma década de existência. Durante a semana
em Lisboa, devido à actividade profissional, é aqui que
o criador se refugia, sempre que pode, na companhia da mulher
e dos três filhos que, tal como o patriarca, partilham o gosto
pelos cavalos e pela vida de campo. O ferro da coudelaria,
por exemplo, foi desenhado por Inês. “Temos paixão pelo que
fazemos e vivemos intensamente os nascimentos e o desenvolvimento
destes animais. Os meus pais também gostam e
ajudam. Sem paixão nada gira e depois é o trabalho árduo. Já
diz o ditado: «Alcança quem não cansa»”, comenta Rui Esteves
da Costa.
A Coudelaria Cunha e Costa nasceu do sonho do casal, ambos
com ligações familiares ao meio rural e agrícola, ele na
Beira Baixa e ela no Algarve. O projecto foi criado em 2007,
“numa pequena Quinta em Alenquer comprada ao Alfredo
Coelho (um estudioso do cavalo lusitano e que escreveu vários
artigos sobre o assunto). Em 2013 vendemos essa Quinta
e estabelecemos o sonho no Alentejo. Escolhemos a vetusta
cidade de Évora. Bem situada entre Lisboa e Espanha, com
excelentes vias de comunicação. De uma centenária Quinta
em ruínas, erguemos a Quinta Flor do Convento”, explica Rui. A
localização não deixa dúvidas sobre a escolha do nome da
casa que tem visto crescer esta coudelaria, cujas primeiras
éguas foram adquiridas à Dressage Plus, “descendentes do
Peralta e do Vulcão dos Pinhais. Animais de estrutura e dimensão
que resultavam de uma selecção desportiva feita por
um criador brasileiro.” Desse primeiro núcleo restou apenas
Formosa do Convento: “a primeira reprodutora que correspondia
aos nossos objectivos de criação.” Todas as outras foram
vendidas, pois Rui “não estava satisfeito com o rumo que
tinha traçado” e, por isso, socorreu-se dos conselhos de “três
pessoas que respeito neste meio: Diogo Lima Mayer, Luís Pidwell
e Francisco Cancella de Abreu. A opinião foi unânime:
vender os animais e fixar-me em duas poldras filhas do Ciclone
e da Formosa do Convento de nome Luz do Convento e
Musa do Convento. A primeira ainda levei à Expoégua aos 3
anos e ficou em 3.º lugar. Mais tarde comprei duas éguas ao
Luís Silva, da Herdade das Silveiras, a Cigana e a Uva do ferro
Miguel Cintra; duas éguas pretas com estrutura, tamanho, excelentes
andamentos e pontuadas com 77 pts. Com os meus
produtos e com estas aquisições fizemos uma base de crescimento
com qualidade.” Fruto do contributo do garanhão
Guardião do Penedo (ferro Resina Antunes) “os produtos saí-
EQUITAÇÃO 21 MAGAZINE
Coudelarias
O garanhão
Hectare
da Cartuxa
Poeta do Convento
dos foram de excelente qualidade”, afirma. É por esta altura
que vemos a nossa conversa interrompida. Acaba de chegar
Dra. Cristina Cosinha, médica veterinária da Lusopecus que,
em plena época reprodutiva, veio ver as éguas. Integra a equipa
que presta apoio a esta coudelaria, também o Dr. Tomé
Fino, da Equimuralha, assim como, “no maneio, o Pedro Ricardo,
pessoa com muita experiência
e, no aconselhamento, o Eng.º
João Vinhas que me tem ajudado
desde o princípio”, explica o criador,
à medida que vamos entrando
em casa, em busca de ar mais
fresco, que o calor do final de
Maio não nos deixa esquecer que estamos em pleno Alentejo,
apesar do dia ainda não ir a meio!
“Cr i a r c a v a l o s
é u m a i l u s ã o c o n s t a n t e
d e f a z e r m a i s e m e l h o r”
Ru i Co s t a
A regra dos três Bs
É já “à fresca”, numa sala onde facilmente perdemos o olhar
entre quadros e esculturas equestres, que continuamos a conhecer
melhor a Coudelaria Cunha e Costa e onde Rui nos
confessa que o seu grande objectivo é fazer “o que designo a
regra dos três Bs: cavalos Bonitos, com Bons andamentos e
Boa cabeça. Bonitos no sentido de apelativos morfologicamente
e de constituição, Bons andamentos no sentido da
funcionalidade, do ritmo, do equilíbrio e da correcção e Boa
cabeça no sentido de ter animais dóceis, com nobreza e carácter.
Estes são os princípios e a base do nosso projecto familiar”.
Não tendo como desejo inicial a competição, a casa chegou
a ter um cavalo em Dressage. “Comprámos o Ciclone à
Sabine Rolfs. Filho do Napolitano, ferro Arsénio Cordeiro e descendente
do Novilheiro, um dos grandes cavalos da nossa
raça e que brilhou no desporto, mais precisamente nos Saltos
de Obstáculos, com John Withaker, sendo Campeão Inglês e
da Europa. Da parte da mãe, o Ciclone era todo linha Alter.
Depositei muitas ilusões nesse cavalo que estava entregue à
Jeannette Jenny e ao Jorge de Sousa e chegou ao nível de
Grande Prémio, tendo ganho vários
concursos e uma Taça de
Portugal. Infelizmente, um aguamento
pôs termo à sua vida. Na
criação cavalar a sorte também
conta. Pontuei-o como reprodutor
e usei-o, durante uns anos,
como garanhão numas éguas que tinha comprado entretanto.”
No ano passado, foi em terras espanholas que Rui encontrou
o garanhão que lhe pareceu ter “boas qualidades morfológicas
e de andamentos, presença e altura”. Falamos de
Hectare da Cartuxa (Ferro Fundação Eugénio de Almeida).
“Não temos apostado no seu desenvolvimento desportivo
mas, este ano, vamos inverter. Revelou-se um bom progenitor.
Estou satisfeito com os seus descendentes. Com o núcleo de
éguas referidas e com este garanhão, por agora vou seguir este
rumo. Criar cavalos é uma ilusão constante de fazer mais e
melhor.” Com isso em mente, o futuro da coudelaria, com um
efectivo de 13 animais, passa assim por “criar melhores estruturas
de apoio (nunca estamos satisfeitos), seleccionar, apurar
características e criar animais de encher o olho com futuro
promissor. Seleccionar é muito mais que simples cruzamentos.
Não tenho, ainda, muitos produtos mas estão todos a funcionar
e a causar prazer aos seus donos.”
EQUITAÇÃO 22 MAGAZINE
PUB
Luz do
Convento
Égua afilhada Musa
do Convento com
Quartzo do Convento
Ávido leitor e sedento de aprender cada vez mais sobre a raça,
Rui Esteves da Costa tem como referências o Eng.º Manuel Veiga,
o Eng.º Ruy de Andrade, Guilherme Borba, Sommer de Andrade
e Nuno Oliveira. “Com os seus escritos e ensinamentos
temos muito a aprender”, frisa o criador, para quem o cavalo
Lusitano é um “animal funcional em várias vertentes mas, vincadamente,
na sua montabilidade. É dos melhores para iniciar
cavaleiros e lhes causar prazer. Apostar no PSL só numa linha
de desporto acho muito difícil. Os cavalos do centro e norte da
Europa vão muito à frente nesta selecção. Existe, depois, todo
um mercado que prefere os Lusitanos pela sua docilidade, nobreza
e arte, que proporciona momentos inolvidáveis ao seu
cavaleiro. Se vão para o ensino, equitação de trabalho, escolas,
apresentações ou simples amadores já é indiferente. Têm é de
funcionar. O lusitano é um produto de excelência do mundo rural
português, tal como o vinho, o azeite e a cortiça. Tem uma
cabeça extraordinária. A Feira da Golegã só é possível com o
nosso cavalo: crianças, carros de bebé, uma multidão à volta
dos cavalos, tudo em tranquilidade. Com cavalos do centro ou
norte da Europa era impossível, andava tudo num virote. E depois
a ancestralidade: Xenofonte, Homero, Gregos, Romanos e
Árabes. A Península Ibérica era famosa pelos seus cavalos «filhos
do vento» e pela sua equitação que permitiu, por exemplo,
aos Lusitanos fazer frente aos exércitos romanos. Portugal devia
ter como símbolo o cavalo lusitano, o seu «ex libris», e não o
galo de Barcelos, que não tem sentido nenhum.” Bem português
é também o pão e o queijo alentejano e é na sua companhia
que concluímos esta agradável conversa, antes de nos fazermos
à estrada, deixando para trás esta encantadora família
e efectivo promissor. m
Sabia que…
Para além de criador de cavalos,
Rui Esteves da Costa é igualmente
produtor de ovinos, contando com
um rebanho com cerca de 70
ovelhas. Apesar de habituado aos
números, devido à sua actividade
profissional na área da Banca,
também as letras o seduzem.
Autor do romance “Soberano
Lusitano”, editado em 2012
(disponível no Clube Equitação
em http://www.equitacao.com/
clube ), Rui tem na forja mais
um romance e uma biografia
romanceada do rei D. Carlos.
EQUITAÇÃO 23 MAGAZINE
TREINO
A ARTE
DE BEM SALTAR
Diz um provérbio árabe que “O Paraíso na Terra é sobre o dorso dos cavalos”.
Não poderia estar mais de acordo! Para todos os que comigo concordam, escrevo
este artigo, que divido em duas partes: a primeira sobre a colocação em sela e,
a segunda, sobre a iniciação aos saltos, de cavaleiro e cavalo.
Comecemos então pela colocação
em sela. É evidente que sobre
“Equitação”, muito já se escreveu
e é por isso mesmo que, para escrever
este artigo, me socorri de alguns escritos
de diferentes autores. Sempre que souber
quem são, aqui o direi.
O assunto versado neste meu escrito é dirigido,
mais uma vez, aos que se iniciam nesta
arte do que aos sabichões que, alguns, mesmo
que nunca tenham montado a cavalo, se julgam
conhecedores de todos os segredos da picaria (General
Júlio de Oliveira in “Coisas e Loisas de Equitação”).
Comecei este artigo com um provérbio e, de facto, não
faltam ditos e outros provérbios interessantes e elucidativos,
alguns dos quais cabem bem neste início da
educação do cavaleiro. Assertivas são as declarações
do Coronel Eng.º Vasco Ramires, segundo o qual “um
homem nunca se zanga com um cavalo. Só se zanga
com outro homem.”; ou de Buffon (in História Natural),
para quem “a mais nobre conquista feita pelo homem
é a deste orgulhoso e fogoso animal, que comparte
com ele as fadigas da guerra e a glória dos combates.”
Algumas afirmações que se seguem são da minha autoria,
resultado da maneira como, durante grande parte
da minha vida, montei os meus cavalos, ou aqueles
que me eram distribuídos para trabalhar. Admito que
podem ser contestadas, e reconhecerei os erros que
porventura tenha cometido, se reconhecer que as sugestões
melhoram a minha maneira de montar, e tragam
benefícios para os cavalos.
Entendo que a Equitação é um Hino à descontracção.
Se não houver descontracção por parte do cavaleiro,
mais tarde ou mais cedo vai parar ao chão. É claro que
não é só por falta de descontracção que se vai parar ao
chão. Em Mafra, um dia fui passear para a Tapada com
o Napalm. Vamos sempre tentando pedir algo ao cavalo:
colocação, paragens, recuar, descida do pescoço,
etc. E foi numa extensão, a passo, que o Napalm colaborou
comigo: estendeu o pescoço com a cabeça, até
ao chão, e recuou um passo. Sem nada à frente, caí
que nem um prego e vi o Palácio Nacional de Mafra de
TEXTO
José Miguel Cabedo
fOTOS
Hugo Amorim
cabeça para baixo. O cavalo ficou ali parado
muito admirado com a minha aselhice – a passo.
Já viram as lutas japonesas? Um lutador só
consegue deitar o adversário por terra quando
o apanha contraído e, por isso, tenta agarrá-lo
pelas bandas do quimono. Um homem que
pesa 80kg (por exemplo) não vai ao chão com
facilidade se estiver absolutamente descontraído.
Vamos então estudar a descontracção a cavalo.
O ABC da Equitação já sabem: o cavalo tem quatro
patas, duas orelhas, etc. Partamos desse princípio. Vamos
então passar a DEFS: descontracção, equilíbrio, flexibilidade
e solidez. Olhando para o desenho que apresento
na Fig. 1 (que não é da minha autoria e que não me
lembro de quem é), vamos começar pela cabeça: esta
não deve estar aparafusada ao pescoço, mas também
não deve andar para cima e para baixo, como às vezes
vejo, e que não serve para nada, a não ser que queira dizer
ao cavalo que ele está a ir bem. Será? Deve olhar em
frente e manter o olhar paralelo ao chão.
Quanto aos ombros, além de deverem estar ligeiramente
para trás, têm no seu músculo deltóide de (forma da letra
do alfabeto grego – delta Δ), a grande base da descontracção.
Com os deltóides contraídos, eles levam para
cima e para baixo, os braços e por consequência as mãos,
nos andamentos do cavalo que estão a montar. Isso vai
incomodar fortemente a boca do animal já que as nossas
mãos pertencem à boca do cavalo e não a nós (!). O cavalo
acaba por ficar contraído e aí, decerto, prega com o
cavaleiro no chão, plantando nós, uma figueira (como dizemos
na cavalaria).
As mãos com os dedos cerrados segurando as rédeas,
polegares para cima e afastadas mais ou menos 25cm.
Os rins e costas flexíveis. O assento bem colocado, puxado
à frente na sela só deixa de estar em contacto com a
sela no trote levantado ou no galope para os saltos (como
preconizou o Capitão Frederico Caprilli em 1868 – 1907),
chamada posição à frente. (Fig. 2)
As pernas caem naturalmente e estão em contacto com
as abas da sela, com a parte plana das mesmas. Como
os loros devem estar sempre verticais quando o cavaleiro
EQUITAÇÃO 24 MAGAZINE
Dedos cerrados segurando
as rédeas, polegares para cima
1 A posição do cavaleiro
Músculo Deltóide
Cabeça direita, bem destacada
dos ombros
Ombros ligeiramente para trás
Rins e costas flexíveis
Cotovelos ligeiramente
dobrados
Pernas caindo naturalmente
Estribos calçados na parte mais
larga do pé
Calcanhares
descidos
Assento bem colocado puxado
à frente na sela
Pernas em contacto
com o cavalo
calça os estribos, a soleira dos estribos deve estar na parte
mais larga do pé, a posição do pé fica no sítio onde deve
estar para que a colocação em sela seja correcta. Mas… (há
sempre um “mas”) a articulação do pé tem de estar completamente
descontraída, e, para isso, dizemos “calcanhar
para baixo”. Se se apoiarem no bico do pé, a perna sobe e
mais uma vez a contracção aparece. O contacto com o cavalo
diminui e a solidez também. (Fig. 3)
Em suma: tudo o que escrevi pode resumir-se nos princípios
base da Educação do cavaleiro.
D – Descontracção – Só à vontade em cima do cavalo é
que conseguimos ter acção (ajudas) justas e precisas (Manual
de Monitor de Equitação do Coronel Neves Veloso e
Tenente-Coronel Almeida e Sousa).
E – Equilíbrio – Só com ligação ao movimento é que conseguimos
estar equilibrados. Mas também é preciso pensar
no equilíbrio do cavalo.
F – Flexibilidade – Relaxamento dos músculos como os
deltóides e articulação dos pés. Os rins e costas sempre
prontas a dar uma ajudinha de flexibilidade.
2
S – Solidez – A aderência ao cavalo não é aparafusar as
pernas ao arreio. Houve tempo em que se mandava apertar
bem os joelhos. Só que assim os joelhos sobem no arreio
e a solidez desaparece. Havia até um limitador na aba
do arreio, para o joelho não ir para a frente. É estarem
encostadas com a maior superfície possível – parte plana
das coxas, barriga das pernas justas e quietas, quer dizer,
3
sem parecerem um limpa pára-brisas dos carros, que actuam
quando chove. O segredo da solidez a cavalo reside
essencialmente na elasticidade do cavaleiro e em empregar
a força apenas quando e como é preciso. (F. Caprilli).
Iniciação aos saltos,
cavaleiro e cavalo
Entendo que o grande segredo de um bom percurso num
concurso de saltos, reside em o cavaleiro sentir a distância
ao salto e o sítio onde deve fazer a batida para saltar sem
faltas. Claro que tudo depende do tipo de obstáculos - vertical,
largo, vala de água, compostos.
É também evidente que temos de ter a montada equilibrada,
porque não será durante o percurso que vamos conseguir.
Acabaríamos por nos contrair e contrair o cavalo, fazendo
uma má prova.
O cavalo tem de estar descontraído quando vai saltar (Cor.
de Cavalaria Vasco Ramires).
Também é preciso ter em conta a raça do cavalo. Um PSI
tem uma passada bem maior que um Lusitano e mesmo
que saibamos falar com ele em inglês, ele, por birra, não vai
EQUITAÇÃO 25 MAGAZINE
TREINO
5 A passo
4
6 A trote
7 A galope
saltar se não o quiser fazer. O Lusitano, de passada mais
curta, chega, normalmente, bem ao salto. Pode não saltar
tanto como o PSI, mas cria menos problemas que este.
Para que se saiba, o recorde do mundo do salto em altura,
2,47 m, pertence, desde 1949, ao Huaso, um PSI, montado
pelo capitão chileno Alberto Larraguibel.
Então como vamos sentir a
“A Eq u i t a ç ã o é u m Hi n o
à d e s c o n t r a c ç ã o.
Se n ã o h o u v e r
d e s c o n t r a c ç ã o p o r p a r t e
d o c a v a l e i r o, m a i s t a r d e
o u m a i s c e d o v a i
p a r a r a o c h ã o.”
EQUITAÇÃO 26 MAGAZINE
distância ao salto para o cobrir
sem faltas? Como tenho
dito em artigos anteriores,
ainda não vi ninguém tropeçar
no passeio quando atravessa
uma rua, ou alarga o
passo ou o encurta ou o mantém,
se sente que, procedendo
assim, com uma das três
alternativas, não vai tropeçar.
Pondo no chão varas de saltos
em qualquer sítio vamos a pé e a passo, passar as varas
sem as pisar (Fig. 4). Feito isto, fazer o mesmo com o cavalo
montado e dando-lhe um jeitinho para ele não pisar
as varas, como fizemos a pé. Sentir é fundamental. Depois
pôr as varas paralelas à distância entre 0,70m a 0,80m, se
formos a passo; entre 1,40m e 1,60m se formos a trote e
entre 2,80m e 3,00 m se formos
a galope. (Fig. 5, 6 e 7)
Cria-se uma situação de fácil
e muito útil exercício ginástico
em que o factor dominante é
o equilíbrio, além da souplesse
(agilidade elástica) do cavalo
e do cavaleiro (in “A Equitação
Elementar” do Cor.
Joaquim Arnaut Pombeiro).
Quando se vai saltar devem
verificar se a soleira está bem
8 Salto de través
soldada ao resto do estribo. Em Cascais, na recepção de
um salto, perdi a soleira, e isso teve, como se imagina, consequências
desagradáveis.
A seguir, e com bom senso, vamos saltar saltos pequenos,
como nos diz Gudin de Vallerin, o princípio é nunca saltar
obstáculos grandes, antes de ter obtido franqueza e calma
nos obstáculos pequenos. Mesmo para um cavalo velho, o
trabalho sobre obstáculos de 1,20 m é suficiente (Chevalier
d’Orgeix). Aí sim, teremos um bom cavalo de obstáculos.
É essencial nunca esquecer o que nos ensinou o General
L’Hotte: “Os fins essenciais a atingir no ensino do cavalo
podem exprimir-se em três palavras: calmo, para diante e
direito. A ordem é invariável e não podemos obter o seguinte
enquanto não for alcançado o precedente.”
Há um exercício de grande utilidade, para um cavalo que
ajusta mal a sua trajectória ao obstáculo: é o salto de través
(Fig. 8). Lembre-se que um cavalo, normalmente,
muda de mão quando salta.
Vai fazer uma prova? Então, quando entrar em pista, faça-o
com um bom trote para ter a certeza de que o cavalo
está bem para diante.
Por esta altura iniciaram a carreira de cavaleira/o de obstáculos.
Que desfrutem do vosso cavalo, mas sem violências,
porque ele não merece isso. E tentem sempre ser os melhores
a chegar ao top das provas!
Boa sorte amigos!m
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esta experiência.
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EQUITAÇÃO 27 MAGAZINE
Tema de Capa
Luís Sabino Gonçalves
figura maior
do hipismo
Aos 55 anos, Luís Sabino Gonçalves dispensa apresentações. Referência do hipismo
português, inspiração para muitos jovens cavaleiros, já foi Campeão Nacional, venceu
diversos CSIO de Lisboa, levantou Taças das Nações e já nem sabe o número de vezes que
envergou a casaca da selecção nacional. Diz que perde a cabeça por um bom vinho tinto e
com um bom poldro. Tal como ambos, tem sabido envelhecer da melhor forma possível.
TEXTO Ana Filipe | FOTOS Bárbara M. da Costa/Equestrez
EQUITAÇÃO 28 MAGAZINE
Vai já longo o currículo deste cavaleiro que começou
por montar os lusitanos que o pai criava e a
andar no meio dos touros, tinha pouco mais de
seis anos. Aí ganhou muita da desenvoltura e bravura,
tão úteis na disciplina que escolheu como profissão e na
hora de se fazer aos saltos a passadas largas de varas colocadas
a 1.60m. Embora de cara séria em prova ou na hora de
reconhecer os percursos, o sorriso é uma das suas características.
Quem o conhece bem, diz ter dificuldade em apontarlhe
defeitos e define-o como prestável, sempre pronto a ajudar
o próximo. Ao longo dos anos conquistou alunos e, na era
das redes sociais, uma legião de fãs que ultrapassa os 12 mil
no Facebook e Instagram (sendo o cavaleiro português com
mais seguidores).
Quando a pandemia mundial foi decretada, Luís encontravase
no Médio Oriente, tendo regressado mais cedo a Portugal.
É precisamente por esse tema que iniciamos esta entrevista.
EQUITAÇÃO - Nos últimos anos, Janeiro é sinónimo de
uma temporada no Médio Oriente. Como tem sido esta
experiência e de que forma começar o ano civil nessa parte
do globo o tem ajudado para o resto da temporada?
LUÍS SABINO GONÇALVES - Há quatro anos, fui pela primeira
vez assistir a um concurso a Abu Dhabi, nos Emirados
Árabes Unidos (EAU), para ver e analisar a hipótese de, no
futuro, aí competir. Durante anos, de Novembro a Fevereiro,
costumava trabalhar bastante no Brasil, no negócio de cavalos
e a dar estágios. A importação de cavalos para o Brasil
tornou-se difícil, pelo aumento dos custos e dificuldades formais,
o que levou a uma enorme redução nas vendas. Percebi
que tinha de reagir e apostar noutro mercado com potencial.
Foi quando decidi arriscar e investir no Médio Oriente o que
acabou por ser uma boa aposta. O negócio de cavalos tem
vindo a aumentar e a Sabino Saddle tem crescido exponencialmente
de ano para ano, com vendas para os EAU, Síria,
EQUITAÇÃO 29 MAGAZINE
Tema de Capa
Arábia Saudita, Egipto, Jordânia, etc. No plano desportivo, os
concursos têm todos óptimas condições e bons prémios, os
organizadores e os cavaleiros criam um ambiente super amistoso
e quando chego a Vilamoura, para o circuito de Inverno,
já levo as montadas mais prontas a competir. Tenho conseguido
bons resultados que me ajudam a valorizar os cavalos,
a pagar as contas e a pontuar para o Ranking Mundial FEI, o
que me facilita a entrada nos concursos de 4* e 5* na Europa.
No passado, muitos cavaleiros europeus participavam nestes
concursos pelo facilitismo em pontuar para o Ranking, mas a
realidade mudou. Essas provas deixaram de ter uma média
de 30 conjuntos para passarem a ter mais de 60 e, na sua
grande maioria, competitivos.
A nível pessoal, como passo o ano a viajar, de segunda a
quarta-feira à procura de cavalos e de quinta-feira a domingo
em competições por toda a Europa, este mês e meio nos EAU
permite-me descansar, ter tempo para me preparar fisicamente
para a nova época e desfrutar de espectaculares programas
com os amigos locais que já lá tenho.
Na Europa, no início do ano são os circuitos de saltos de
obstáculos que marcam o calendário hípico. Com tantos
circuitos a decorrer em simultâneo, cada vez com melhores
condições para cavalos e cavaleiros, quais os critérios
que utiliza para escolher onde competir?
São sem dúvida a minha prioridade: a qualidade dos pisos, a
dimensão das pistas de competição e de aquecimento e as
boxes onde ficam instalados os cavalos. Em seguida procuro
concursos em lugares agradáveis, com uma organização sim-
pática e onde se encontrem a competir amigos meus, se possível.
Tudo isto dentro de um enquadramento de CSI de 3* a
5*, dependendo dos concursos onde consigo entrar em função
do Ranking e dos meus contactos pessoais.
E no que diz respeito aos concursos, como escolhe onde
marcar presença?
Depende dos objectivos a que me proponho para cada época.
Se for ano de Campeonato da Europa ou do Mundo, por
exemplo, faço a agenda de concursos para o meu cavalo
principal poder chegar no top da forma nesse fim-de-semana
e depois encaixo por prioridades cada um dos seguintes
cavalos nos concursos durante o ano. A minha vida pessoal e
profissional é completamente dependente da agenda de
concursos do meu cavalo principal.
Sabendo que a alta roda dos concursos decorre no centro
da Europa, nunca ponderou deixar o Cartaxo e radicar-se
num desses países?
Contando os dias todos do ano, passo praticamente nove
EQUITAÇÃO 30 MAGAZINE
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meses no estrangeiro. Mas, a vida não é só feita de resultados
desportivos e financeiros. Gosto muito de estar perto da minha
família, amigos e de viver em Portugal, embora não o tenha
conseguido fazer muito nos últimos anos. Para conciliar
tudo isto com os concursos no centro da Europa, faço um
programa de competições em que vou “subindo” com os cavalos
e fico um mês ou dois, depois “desço” quando há concursos
internacionais em Portugal e parto de novo para fora.
Os cavalos acabam por andar de concurso em concurso e
nos fins-de-semana de descanso ficam em boxes de cavaleiros
amigos perto do próximo evento. Não se justifica ter
mais uma estrutura, só para dar apoio à minha equipa de
competição. Por outro lado, não escondo que tenho o sonho
e objectivo de um dia poder vir a construir uma estrutura na
Holanda, mas só como negócio para rentabilizar o aluguer de
boxes e apartamentos para cavaleiros e tratadores.
“A m i n ha v i d a pessoal
e p r o f i s s i o n a l
é complet amente
d e p e n d e n t e d a a g e n d a
d e c o n c u r s o s d o m e u
c a v a l o p r i n c i p a l”
A quadra
para esta
temporada...
• Argan de Beliard:
SF, ruço, castrado, 10 anos,
filho de Mylord Carthago;
• Biloba des Chaînes:
SF, castanho, castrado, 9 anos,
filho de Winingmood;
• Apremier:
SF, castanho, castrado, 10 anos,
filho de Diamand de Semilly;
• Camino Império Egipcio:
BAV, ruço, castrado, 10 anos,
filho de Colman;
• Adiamood de L’Abbaye:
SF, castanho, castrado, 10 anos,
filho de Winingmood.
Como é o Luís num dia de prova? Gosta de ver os concorrentes
antes de si? Pratica algum tipo de alimentação especial?
Prefiro ver alguns cavaleiros antes para poder fazer uma melhor
leitura do percurso. Em algumas situações, quando reconhecemos
o percurso, nem sempre as passadas que pensamos
fazer em determinada linha são a melhor opção. O
bonito deste desporto é que não é nem previsível nem matemático,
está sempre tudo em aberto.
Tenho a tensão baixa e por isso toda a minha vida tive um ligeiro
conflito entre o que deveria comer para me sentir bem e
ter energia e, ao mesmo tempo, não engordar e não me sentir
cheio para competir. Tive a sorte de encontrar a equipa da
EQUITAÇÃO 31 MAGAZINE
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Tema de Capa
Sabino Saddle
Apesar do gosto pelo ensino,
actualmente o cavaleiro encontra-se
totalmente dedicado ao comércio
e competição. Como muitos
cavaleiros internacionais de
renome, desenvolveu uma linha
própria de material equestre ligada
aos obstáculos. A Sabino Saddle
nasceu, como o nome indica, com
uma sela, mas hoje em dia inclui
uma pequena gama de produtos
complementares como cabeçadas,
arreios, peitorais, entre outros
artigos, distribuídos na Europa,
Brasil e EAU.
Nordic Health, que me acompanha, através de consultas, testes
e análises e me fornece os suplementos indicados para
poder manter os níveis de energia desejados durante as competições
e poder ter uma melhor performance.
“Te n h o u m o b j e c t i v o
d e u m d i a p o d e r v i r a c o n s t r u i r
u m a e s t r u t u r a n a Ho l a n d a”
Diz o ditado que “a pressa é inimiga da perfeição”, mas nas
barrages, onde os vencedores se decidem à milésima de
segundo, não há tempo para pensar muito. O que lhe passa
pela cabeça antes de entrar em pista e durante um
jump-off?
Numa barrage é muito importante
traçar uma estratégia
em função do nosso
cavalo, do percurso e da
concorrência. Admitindo
que temos um cavalo com
experiência e que, embora seja quase sempre difícil ganhar
mas ainda assim possível, temos de entrar em pista bem focados
na execução do que planeamos, cheios de adrenalina
e, ao mesmo tempo, com um mental sereno, sem o cavalo se
aperceber de que queremos ir depressa. Assim que passamos
a linha de partida, temos de montar com todo o sentimento,
deixar fluir com alguma irresponsabilidade e sem
medo do risco para poder ganhar.
Na última década, o CSIO de Lisboa marcou a sua carreira
com quatro vitórias em seis anos. De que forma o encara
anualmente?
Julgo que participo sempre desde 1981, a primeira vez aos 16
anos. Ao longo de toda a minha carreira, foi um objectivo ten-
tar melhorar o resultado no Grande Prémio (GP) do CSIO de
Lisboa, até que um dia aconteceu ganhá-lo! Agora é um desafio
tentar bater o recorde de vitórias pelo mesmo cavaleiro
no GP, que tenho ideia de serem quatro, ganhas pelo Brigadeiro
Henrique Callado e por mim.
Estas vitórias no CSIO tiveram desfechos semelhantes: a
venda das montadas dias depois. Ainda que seja algo a
que já está habituado – e que faz parte da sua vida como
cavaleiro e empresário – em 2010, numa entrevista que
deu à EQUITAÇÃO TV, revelava
algum descontentamento
pelo facto de
não poder manter os cavalos
ganhadores, assim
como pelo facto de se um
se lesionar, não ter substituto à altura. Muito mudou na
sua vida desde então, em termos de apoios e patrocinadores,
mas a venda dos cavalos ganhadores continua a
ser uma constante. Como se lida com esta realidade de
ficar sem a principal montada?
É uma maneira de estar na vida como outra qualquer. Hoje
em dia, Graças a Deus, tenho um grupo de cavalos em que
posso vender um sem ficar momentaneamente “descalço”.
Durante toda a minha vida, o meu objectivo principal e o dos
meus proprietários/sócios, sempre foi a venda. Quando vendia,
sempre tive de ser rápido a encontrar outro do mesmo
nível ou melhor, e a torná-lo competitivo o mais rapidamente
possível. A sustentabilidade da minha organização e da minha
vida pessoal passa principalmente pelo comércio de ca-
EQUITAÇÃO 32 MAGAZINE
EQUITAÇÃO 33 MAGAZINE
Tema de Capa
valos. Adoraria guardá-los mais tempo mas como em todos
os negócios, eles vendem-se bem quando estão a ganhar e
aparece o cliente a querer comprar. Foi a vender que eu cresci
e por vender não desapareci.
De referir que tenho agora, pela primeira vez, uma proprietária/criadora
belga que está instalada na Normândia, a Isabel
Delferriere, do Haras du Coq, que me entregou um cavalo de
GP Internacional, o Apremier, cujo objectivo principal não é
vender.
De que forma a psicologia desportiva o tem ajudado a
lidar com este tipo de acontecimentos e, acima de tudo,
a melhorar o seu psíquico no que à competição diz respeito?
As conversas/sessões que tive com abordagens diferentes de
vários psicólogos com quem trabalhei, foram todas muito interessantes,
enriquecedoras e principalmente muito esclarecedoras.
Ajuda-nos muito a clarificar e trabalhar em cada
momento, diferentes atitudes, vários pensamentos e a eliminar
as diversas inseguranças que limitam o conseguir obter o
foco necessário para optimizar a concentração e permitir assim
atingir o resultado desejado.
Aconselho vivamente os jovens que se façam acompanhar
de um psicólogo/mental coach, desde que possível. Vivemos
num mundo cada vez mais competitivo, o desporto em geral
é também cada vez mais competitivo e exigente nos resultados,
não há espaço para desculpas, o resultado tem que ser
sim ou sim, e no final o atleta que aguenta melhor a pressão
e que é o mais consistente é aquele que continua.
O meu primeiro psicólogo foi o meu grande Amigo, Mentor e
quem me ensinou verdadeiramente a montar a cavalo, o meu
Mestre João Martins Abrantes que, já à época, me perguntava
antes de entrar em pista: “qual é o teu plano desde que entras
na pista até que sais, para que depois possamos analisar os
desvios que possam existir?” Por palavras dos mental coach
de hoje em dia, isto quer dizer: “visualiza o percurso e foca-te
no processo, depois analisamos”. Apesar de ter encontrado
ao longo da minha vida um equilíbrio para digerir as derrotas
e lidar sem euforia com as vitórias, embora de uma maneira
caseira, devo dizer que depois de ter trabalhado com psicólogos
do desporto, passei a analisar ainda melhor o que deveria
fazer para evitar os possíveis desvios ao meu plano.
EQUITAÇÃO 34 MAGAZINE
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Tema de Capa
Quando vai trabalhar cada
um dos seus cavalos, o que é
que procura e como planeia a
sessão de cada um?
Procuro sempre que cada cavalo
consiga trabalhar descontraído,
feliz e motivado. Para
conseguir tudo isto, vou variando
o programa e os lugares
onde os trabalho. Por exemplo,
no dia “A”, faço um passeio,
onde introduzo algum trote e
por vezes um pouco de galope
em terrenos variados, mais duros e menos duros, regulares e
irregulares, com e sem inclinação, etc. No dia “B” posso fazer
um trabalho mais técnico ao nível de dressage no picadeiro
coberto. No dia “C” incluo trabalho aeróbico em diferentes
amplitudes de passada de galope, intensidade e duração na
pista exterior. No dia “D” salto cavalettis e exercícios de varas
no chão, para repetir os gestos que faço em pista. No dia “E”
só trabalho à guia. No dia “F” salto um exercício específico
para trabalhar algum pormenor num determinado cavalo.
No dia “G”, posso soltá-los em liberdade, mesmo os cavalos
das provas grandes, para trotarem e galoparem.
Em época de concurso adapto a programação em função
da carga de esforço que têm tido, das viagens, da próxima
competição, etc.
Procuro trabalhar de uma maneira inteligente. Quero dizer,
olhando e analisando o físico de cada cavalo, estudando as
dificuldades técnicas que o físico e o carácter me causam
para as poder trabalhar, tudo isto levando em conta, a fase
técnica, física, nível de experiência e idade de cada um. Mas
sempre a treinar e a pensar na relação e no impacto que o
treino terá na competição. É
importantíssimo estarem sempre
relacionados.
Qual é para si a importância
do trabalho de varas e treino
no chão?
Este trabalho é cada vez mais
utilizado pelo mundo inteiro
porque permite trabalhar os
cavalos, repetindo os mesmos
gestos que necessitamos em
pista, limando algumas resistências,
mecanizando os bons movimentos para maximizar a
impulsão, activando músculos, melhorando o equilíbrio através
do recuo do seu centro de gravidade, permitindo ao cavalo
utilizar melhor o seu corpo e desempenho, sem o desgastar
fisicamente.
Depois dos resultados (individuais e por equipas) dos últimos
tempos, esperava uma representação nacional diferente
nos Jogos Olímpicos de Tóquio?
Todos tínhamos a ambição e desejo de participar por equipas
nos Jogos de Tóquio, embora estando bem conscientes da
realidade, que seria bastante difícil porque fazemos parte do
continente mais competitivo e com mais países a disputar
essas possíveis vagas. A Luciana Diniz conseguiu com mérito,
dedicação e sucesso a vaga individual. Estou convicto que vamos
estar bem representados individualmente.
Nos Jogos do Mediterrâneo, em 2018, foi quase como se
todas as estrelas se alinhassem, o que culminou na medalha
de ouro por equipas para Portugal. Na sua opinião po-
EQUITAÇÃO 36 MAGAZINE
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EQUITAÇÃO 37 MAGAZINE
Tema de Capa
demos sonhar com mais idas ao pódio em competições
internacionais (como selecção)?
Acredito que sim porque existe um grupo crescente de cavaleiros
com muita ambição, muita motivação, com uma mentalidade
e atitude cada vez mais competitiva e profissional.
Nos últimos anos, ao nível de 3*, passámos de participantes a
favoritos nas Taças das Nações onde aparecíamos, ao ponto
de ganharmos e ficarmos várias vezes em segundo lugar por
uma diferença mínima. Agora, temos de dar o salto qualitativo
para o nível de 5*, e aí sim, conseguirmos ter a possibilidade
de qualificar para os próximos Jogos Olímpicos.
Passando grande parte do ano fora do país, como é feita a
gestão da Equivarandas?
O meu irmão João gere a Quinta das Varandas integralmente
durante todo o ano, e a minha cunhada Carolina faz a gestão
completa e treino de todos os cavalos . A minha Mãe é a directora
financeira e o meu novo irmão Tiago Lopes, faz a gestão
dos patrocínios e da minha imagem nos social media.
Passando tantos dias fora ou em viagens, sobra tempo
para a vida pessoal e para o descanso?
Como eu costumo dizer, estou sempre de férias, porque adoro
o que faço. Com certeza que tenho momentos durante o
ano mais trabalhosos e menos simpáticos, mas faz parte.
Tento todos os anos marcar duas ou três semanas inteiras e
separadas, de férias sem cavalos, para poder estar mais tempo
com a minha mulher e por vezes também com amigos.
Em 2019 a selecção mudou de treinador. Sendo membro
assíduo da equipa, como vê a interrupção do trabalho que
vinha sendo feito por Antonis Petris e a mudança para Gilles
de Balanda? De que forma é que isso afectou os vossos
projectos competitivos?
A saída do Antonis Petris foi muito comentada e argumentada
mas na realidade foi o culminar de um choque entre duas
personalidades (Antonis
Petris/João Moura), que
“não se entenderam enquanto
juntos trabalharam.
O Antonis foi e é um
óptimo treinador, que era
bem aceite pela grande
maioria dos cavaleiros e
que devido ao sucedido
não continuou.
A mudança de treinador,
como tudo na vida, tem vantagens e desvantagens, mas tenho
a certeza que pelo conhecimento e experiência equestre
que o Gilles de Balanda tem, vai ser sem dúvida muito enriquecedor
e complementar ao que os cavaleiros trazem.
Em termos competitivos, pode existir um pequeno período
de adaptação à sua abordagem mas o Gilles vem seguramente
para melhorar e não para mudar os cavaleiros.
Com o futuro tão incerto o que espera do desenvolvimento
do hipismo nacional (sendo que tem, nos seus sobrinhos,
dois seguidores directos das suas passadas!) e internacional
para os próximos anos?
Vivemos uma época na qual é extremamente difícil projectar
o futuro, porque de um momento para o outro, podemos
ficar completamente condicionados por novas e potentes
variáveis, onde não
“Assim q u e p a s s a m o s
a l i n h a d e p a r t i d a, t e m o s d e
m o n t a r c o m t o d o o s e n t i m e n t o,
d e i x a r f l u i r c o m a l g u m a
i r r e s p o n s a b i l i d a d e e s e m m e d o
d o r i s c o p a r a p o d e r g a n h a r”
conhecemos o seu impacto
a curto, médio ou
longo prazo. Com este
panorama de incerteza, é
extremamente difícil para
as organizações, montarem
e promoverem qualquer
evento nacional ou
internacional. Infelizmente,
tenho conhecimento
de organizações nacionais e internacionais, que perderam os
principais patrocinadores, anulando assim a concretização
de vários eventos no futuro. Os meus sobrinhos, continuam a
estudar e a crescer mas sempre com muita paixão e envolvimento
pelo mundo dos cavalos. São os primeiros sinais de
uma possível continuidade da ligação da família ao mundo
hípico. Espero que tudo volte ao normal o mais rapidamente
possível e que o impacto da Covid-19 na economia global,
seja minimizado ao nível dos possíveis efeitos indesejados.
Tenho muito receio que a pandemia tenha provocado o fecho
de pequenas estruturas hípicas, que são muito importantes
para o desenvolvimento e crescimento da base da pirâmide
dos praticantes. m
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Herdade da Murteira, Mouriscas, ABT
Editor’s Choice
CASACA EQUILINE RACK
Nascida da paixão de dois
irmãos – Paolo e Renato
Marchetto – a marca
Equiline foi fundada há
três décadas e iniciou uma revolução
na indústria têxtil equestre italiana, ao
aliar inovação, conforto, estilo e tecidos
técnicos que garantem uma postura
adequada, máxima flexibilização de
movimentos e durabilidade, mesmo
com utilização quotidiana.
A casaca Rack não é excepção e foi
concebida com um tecido
revolucionário elástico e confortável,
que combina elegância e estilo
atlético, ao mesmo tempo que
potencia o óptimo desempenho,
sendo perfeita para suportar os dias
mais exigentes de competição.
Não é por acaso que é a casaca usada
pelos embaixadores da Equiline em
todo o mundo como os cavaleiros
olímpicos Nick Skelton ou Ben Maher.
Personalizável em fábrica, é dos
artigos mais comercializados da
marca e que nunca sai de moda! m
EQUITAÇÃO 40 MAGAZINE
EQUITAÇÃO 41 MAGAZINE
Coaching
Estratégias para
LIDAR COM
A INCERTEZA
Treinar a mente é um dos aspectos fundamentais no desporto para se alcançar
excelentes performances. Devem estar sempre em sintonia a componente
física, técnica e táctica com a mental.
Nos dias que correm, a incerteza é um dos aspectos
que tem estado bastante presente
na vida de cada um de nós. Não sabemos
quando tudo o que estamos a viver neste
momento vai passar. No caso dos atletas, também estão
neste momento sem saber quando
vão voltar à prática normal do desporto
que realizam. Existem também
pessoas que estão em casa e
viram os seus trabalhos suspensos,
não sabendo quando poderão retomar
a sua actividade profissional.
No fundo, vemos neste momento a nossa
liberdade condicionada por um
bem maior, a saúde de todos nós! Acredito que todos os
esforços quando são feitos por um bem maior, merecem
todo o nosso empenho, mesmo que isso possa causar
sofrimento no momento presente. Acredito que quando
tudo passar, vamos saborear as coisas com muito mais
sentido, muito mais amor.
No entanto, sabemos que as situações
de incerteza, por norma, causam
ansiedade, angústia, medo,
simplesmente porque as coisas saem
do nosso controlo. Nós gostamos de
ter controlo sobre tudo, porque isso dános
segurança, confiança e sentimo-nos
mais confortáveis. Quando as coisas
saem do nosso controlo, automaticamente
estamos fora da nossa zona de
conforto e isso deixa-nos claramente
desconfortáveis.
A forma como lidamos com o desconforto
da incerteza, depende de
nós, e isso vai fazer com que nos sintamos
mais tranquilos, mais confiantes
e positivos, mesmo no meio do
caos.
Que estratégias posso adoptar para
lidar com a incerteza? Aqui vos deixo
seis:
TEXTO Mariana Silva
Licenciada e Mestre
em Psicologia do Desporto
Email: marianasilva.mentalcoach
@gmail.com
Blog: treinomentalealtorendimento.
wordpress.com/
foto: Shutterstock
EQUITAÇÃO 42 MAGAZINE
1. Meditar: Respirar. Acolher. Aceitar. Deixar ir.
Buscar Respostas
A prática da meditação permite-nos aprender a lidar com
os nossos pensamentos, a acolhê-los, a aceitá-los, e a
deixá-los ir (desapegar). Esta é uma excelente atitude
para aprender a manter perante momentos de incerteza.
Começar por respirar, acalmando-se; a acolher aquilo que
vem, sem julgar; a aceitar que tudo faz parte, para lhe ensinar
algo maior e que não tem controlo sobre tudo; deixe
ir a sensação de que tem de ter controlo sobre todas as
coisas, assim como os pensamentos negativos, julgadores;
quando deixa ir, abre espaço para que possa procurar novas
respostas.
2. Concentrar-se naquilo que controla
(manter o foco no presente)
Nós apenas controlamos o momento presente. Nós controlamos
as acções e os pensamentos que temos agora.
Concentrar-se naquilo que controla, canaliza a energia
para aquilo que é verdadeiramente importante e pelo qual
pode fazer algo.
3. Praticar a gratidão (manter-se positivo)
A prática da gratidão é um exercício fantástico! Mesmo no
meio do caos, quando nada parece dar certo, aprender a
“parar” e a olhar para a nossa vida, para o nosso dia, e tomar
consciência daquilo que temos de positivo, é uma verdadeira
bênção! Quantos de nós param para agradecer e
valorizar tudo aquilo que têm? O conforto do lar, a sua família,
a sua saúde, o respirar, a comida, o sol, a natureza,
etc. Temos muitas coisas para agradecer! Só precisamos
olhar para isso.
4. Desenvolver autoconfiança
Nós temos medo do desconhecido, porque não nos sentimos
seguros ou capazes de lidar com ele. Por isso, um dos
aspectos fundamentais para superar esse receio é desenvolver
a nossa autoconfiança. Volte a atenção para si,
aprenda a reconhecer o potencial que possui e identifique
aquilo que precisa de desenvolver para que se possa tornar
mais confiante e mais forte.
5. Desenvolver autoconhecimento
Conhecermo-nos é algo muito importante. Quando nos
conhecemos verdadeiramente, sabemos lidar melhor com
os desafios que nos surgem no caminho. Quando nos conhecemos
sentimo-nos mais confiantes e mais seguros.
6. Manter um plano semanal
Manter um plano dos nossos dias, ajuda-nos a manter o
foco naquilo que é realmente importante e no que controlamos.
Convido-o a começar já a praticar algumas destas estratégias
e a perceber como se sente melhor ao longo dos dias.
Boas práticas!m
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EQUITAÇÃO 43 MAGAZINE
Equitação Natural
Elsa Sinclair ensinou uma
égua mustang a obedecer às
ajudas completamente sem
equipamento e documentou
tudo no filme Taming Wild
Experimente montar completamente
sem cabeçada, apenas com o neck ring,
uma argola à volta do pescoço,
no Sundance Ranch
TEXTO Sandra Dias da Cunha
FOTOS Bruno Barata, Freya Voigt von Munzert,
Waltraud Marsoner e Kevin Smith
EQUITAÇÃO 44 MAGAZINE
Como
controlar o
seu cavalo
Quem já teve aulas comigo sabe que o título deste artigo tem um sentido
irónico. Na minha opinião, o controlo absoluto do cavalo é impossível.
O cavalo é simplesmente mais forte do que nós em quase qualquer
situação e quando realmente quer fugir, não temos hipótese.
A maioria dos cavaleiros acredita que a embocadura é o que nos dá
controlo. Vamos analisar o assunto e descobrir alternativas.
É
arriscado falar sobre a
questão de usar ou não
embocadura. Parece
que cada um de nós
tem uma opinião forte, que defende
com entusiasmo. O seu treinador,
professor, os seus colegas de equitação são capazes
de achar um erro enorme tentar montar sem
embocadura. No mundo da competição há regras
para cumprir, normalmente não é permitido montar
como nos apetece. Por isso, nunca é uma escolha fácil
experimentar uma das alternativas ao bridão.
Nem estamos todos de acordo sobre o efeito do bridão.
Mas vamos ser honestos: quando escolhemos
um freio-bridão, em vez do bridão, e dizemos que
queremos um maior controlo sobre o cavalo, o que
realmente estamos a dizer é que queremos poder
exercer uma maior pressão física sobre a boca do
cavalo, para ele nos obedecer. E vamos ser ainda
mais honestos e brutos e chamar as coisas pelos
nomes: quando digo “exercer pressão física”,
o que realmente estou a dizer é “causar dor”.
“Mas”, dizem logo os defensores das embocaduras,
“o bridão é apenas tão duro quanto
as mãos do cavaleiro”. Não é verdade,
infelizmente. A pressão que fazemos
com as nossas mãos multiplica-se por um factor muito elevado
na boca do cavalo, principalmente porque a zona de
contacto é muito pequena e é uma zona de alta sensibilidade
no corpo do cavalo.
Não podemos esquecer o efeito psicológico. A conhecida
blogger americana Anna Blake escreve, “using a stronger bit
is like winning an argument, not because you’re right, but
because you’re holding a gun.” [usar um bridão mais forte é
como ganhar uma discussão, não porque temos razão, mas
porque empunhamos uma arma] . Quando vemos um cavaleiro
controlar o cavalo na perfeição quase sem tocar na
rédea, mas o cavalo tem um freio na boca, se calhar não
estamos a ver a violência a acontecer naquele momento.
Mas podemos ter a certeza de que o cavalo só anda assim
tão perfeito na mão, porque conhece a dor que o freio lhe
pode causar. É o equivalente a ter uma pistola a apontar
para a cabeça de alguém e dizer, “olha, ele faz tudo o que
quero e nem sequer lhe estou a tocar!”
Mesmo sem puxar as rédeas, mesmo sem contacto nenhum,
será que o bridão é agradável?
Imagine um passeio a cavalo onde o cavaleiro anda de rédeas
compridas. Se o bridão está bem adaptado ao cavalo
– e não podemos assumir que isso é óbvio – até pode ser
que o cavalo não sinta dor, mas ele sabe que está a passear
com uma peça de metal na boca que a qualquer momento
lhe pode causar dor. Gostaria de ir passear assim? Vamos
EQUITAÇÃO 45 MAGAZINE
Equitação Natural
tirar o efeito da dor: experimente dar um passeio com uma
colher de chá a atravessar a sua boca. Está à vontade? Ia
adorar o passeio?
Uma das questões importantes dessa discussão eterna é o
que pretendemos fazer com o cavalo. Se vou pedir muito,
vou precisar de meios fortes para o conseguir. Concursos de
nível elevado para as capacidades do cavalo e do cavaleiro,
passeios à beira-mar com pessoas que nem sabem montar,
percursos de saltos, corridas a galope, cavalos desbastados
em poucos dias... Podia continuar a lista, mas o problema
é sempre o mesmo: se queremos atingir objectivos
ambiciosos em pouco tempo e sem nos esforçarmos muito
para aprender técnicas sofisticadas, temos de usar meios
fortes. A fórmula é simples: objectivo alto + falta de conhecimento
= necessidade maior de (ter a possibilidade de)
causar dor. A solução é igualmente simples: se não quero
causar dor ao meu cavalo, posso reduzir os meus objectivos
e investir na minha formação, para não necessitar de dor.
Qualquer pessoa pode ter uma experiência muito enriquecedora
com um cavalo sem lhe causar dor, mas se calhar, é
só uma volta a passo com uma pessoa experiente a andar
ao lado do cavalo. Ou mesmo sem sequer montar!
Se quero evitar o desconforto do bridão ao meu cavalo,
posso adaptar os meus objectivos e aprender a usar o peso
do meu corpo e a minha voz para comunicar, para não ser
tão dependente das rédeas. E posso usar uma das muitas
formas alternativas de comunicar com a cabeça do cavalo.
Mas com cuidado: vários desses instrumentos exercem
muita pressão, ou mesmo dor, em outras zonas da cabeça
do cavalo!
Como treinar o meu cavalo
para aceitar as minhas
ajudas sem bridão?
A resposta é uma das que mais vezes me ouvem
dar: passo a passo. Escolha um dia e uma hora
em que possa estar a sós no picadeiro com o
seu cavalo. Um dia sem vento nem chuva,
Alfonso Aguilar a montar com o bosal, cabeçada típica da
equitação do estilo “Old California”. Alfonso dá cursos sobre a
equitação com bosal e escreveu um livro sobre o tema
sem pressão de tempo. Em vez de colocar o bridão na cabeça
do cavalo, use uma das cabeçadas sem bridão. Para
uma primeira experiência, o cabeção normal com rédeas
afixadas ao lado serve perfeitamente.
Experimente então andar ao lado do seu cavalo. Consegue
parar o cavalo com um ligeiro toque na rédea? Coloque-se
ao lado do cavalo e experimente se um toque na rédea o
faz virar a cabeça para si. São simples exercícios de trabalho
no chão, tal como os americanos os praticam ao desbastar
um cavalo. É prática muito comum, hoje em dia, começar
o ensino do cavalo apenas com o cabeção e usar o
Passeio junto ao mar
sem embocadura com
hackamore mecânica
pela Adventure Riding
em Aljezur
EQUITAÇÃO 46 MAGAZINE
Também é possível
montar apenas com
um cabeção, por
exemplo um de cordas,
como nessa foto
Mesmo com as
cabeçadas alternativas
mais simples, como
o sidepull, podemos
conseguir um cavalo
bem colocado
O princípio m a i s impor tante
d e m o n t a r s e m b r i d ã o é
e n s i n a r o c a v a l o a r e s p o n d e r
a a j u d a s m u it o f i n a s
bridão muito mais tarde. Actualmente, não penso duas vezes
sobre o assunto. Já não tenho bridões em uso há muito
tempo.
Qualquer cavalo que me chega para treino é simplesmente
montado com o sidepull, depois de uns dias para se habituar
ao sítio novo e de algumas sessões de treino do chão,
claro. Mas, realmente, já não sinto grande diferença. Mesmo
cavalos menos experientes conseguem aprender em poucas
sessões a usar uma cabeçada sem bridão. O princípio
mais importante de montar sem bridão é ensinar o cavalo a
responder a ajudas muito finas. Se o cavalo pára porque eu
expiro e me sento fundo, não preciso de puxar as rédeas. Se
o cavalo vira porque sentiu que olhei para o lado esquerdo,
não preciso de puxar a rédea. Se o leitor tiver dúvidas sobre
como comunicar de forma fina com o seu cavalo, pode procurar
um dos meus artigos anteriores chamado “Como falar
com o seu cavalo.” m
Tipos de cabeçada sem bridão
• O bosal é a cabeçada sem bridão mais antiga e tem a sua origem no
estilo de equitação da Califórnia. Usa uma focinheira de diâmetro fixo,
que faz pressão na face do cavalo. Através do nó no queixo do cavalo,
o cavaleiro pode dar um pré-sinal. O objectivo do bosal é atingir o nível
mais alto da equitação com o mínimo de ajudas. É particularmente adequado
para cavalos jovens e para cavalos que precisam ser corrigidos.
• Tal como no bosal, o hackamore mecânico usa pressão no nariz do
cavalo, mas, para além disso, pode ter uma corrente que pressiona atrás
do queixo e exerce pressão na nuca do cavalo. Enquanto o hackamore
não facilita uma ajuda clara lateral para a direcção, permite efectivamente
um sinal vertical claro para desacelerar ou parar. Dependendo
do tamanho dos cambas, o efeito de alavanca na face do cavalo pode
ser bastante forte. É usado com frequência nos concursos de Saltos de
Obstáculos.
• O sidepull é um design moderno inspirado no bosal, embora funcione
de forma diferente, sem alavanca. Tem uma focinheira com anéis laterais
que prendem as rédeas em ambos os lados da cabeça, permitindo
que uma pressão muito directa seja aplicada de um lado para o outro.
A focinheira é feita de couro, couro crú ou corda. Embora a severidade
possa ser aumentada usando uma corda mais dura ou mais fina, o sidepull
carece da sofisticação do bosal. A principal vantagem de um sidepull
sobre o bosal é que ele dá comandos laterais directos mais fortes e é um
pouco mais fácil de usar para um cavaleiro não sofisticado.
• O neck ring ajuda o cavalo a relaxar o pescoço, andar mais livremente,
aumentar o passo e melhorar o equilíbrio. O cavaleiro aprende
a montar sem depender das rédeas. Feito de corda de lasso revestido
de plástico, é firme, mas ajustável para qualquer tamanho. Não é fácil
montar apenas com neck ring, mas é uma experiência fantástica tentar.
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To d o s o s c a v a l o s d e Pia
e Da n i e l s ã o n a c i o n a i s
e v ê m d e s i t u a ç õ e s d e a b u s o
EQUITAÇÃO 47 MAGAZINE
REPORTAGEM
Poldros do Monte da Tramagueira
Comercialização
Pós Covid-19
O que se aprendeu e como reagir
EQUITAÇÃO 48 MAGAZINE
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COUDELARIA
VEIGA TEIXEIRA
Com início em 1880, é uma das mais antigas
coudelarias de Puro Sangue Lusitano
em Portugal, sendo o atual proprietário
a 6.ª geração dos seus criadores.
Os cavalos são conhecidos pelo seu
excelente carácter: são extremamente
dóceis, não abdicando da força e agilidade,
tendo sido já exportados para
toda a Europa, Brasil e Estados Unidos.
O mundo mudou e a pandemia trouxe consigo novos desafios
e, consequentemente, novas realidades. O teletrabalho
manteve-se para muitos, mesmo após o desconfinamento;
as reuniões presenciais tornaram-se obsoletas, e são agora feitas
recorrendo a plataformas digitais; as compras online subiram
a pique durante a quarentena, tornando-se numa opção cada vez
mais primordial pelos consumidores mundiais. Mas conseguirá
o sector equestre sobreviver ao (tão desejado) distanciamento
social? E se houver uma segunda vaga?
TEXTO Ana Filipe | JOSÉ COSTA | MARTA CLEMENTE
Telefone: 243 660 041
e-mail: aveigateixeira54@gmail.com
facebook.com/pg/coudelariaveigateixeira
Localização: Coruche
EQUITAÇÃO 49 MAGAZINE
REPORTAGEM
Joana Gaspar está
habituada a vender
cavalos à distância.
Lidador (na foto) partiu
para a Alemanha
durante a quarentena
Fo t o : Ca r o l i n a Du a r t e /Eq u e s t r e z
Se lhe parece estranho comprar um cavalo sem o ver
ao vivo, sem lhe tocar e sem o montar, saiba que
esta é já uma realidade em diversos países da Europa
e muitos são os cavaleiros que procuram os produtos
nacionais. Joana Gaspar dirige o Páteo Lusitano na
Malveira, onde é equitadora e se dedica ao comércio de cavalos.
Durante a quarentena vendeu quatro animais para a Alemanha,
Noruega, Suécia e Itália, três Lusitanos e um cruzado
Nenhuma das compradoras
os viu presencialmente e um
dos exemplares já se encontra
na nova casa, tendo seguido
viagem durante o período
em que vigorava o
estado de emergência.
“Sempre que coloco um cavalo
à venda tenho uma apresentação do mesmo, com boas
fotografias, informações detalhadas e vídeo, e promovo-o no
nosso website (agora em remodelação) e nas redes sociais.
Quando somos contactados enviamos tudo o que nos pedem,
incluindo vídeos dos cavalos soltos, no maneio, no paddock,
ou mesmo imagens a entrarem e saírem das roulotes”.
Para o cliente ter a máxima percepção do cavalo, apenas são
editados os vídeos dos animais montados. “Não deixamos de
exibir qualquer detalhe, pois o cliente confia no nosso trabalho
e é preciso mostrar exactamente como se o estivesse a
ver ao vivo. O objectivo é que fique satisfeito e feliz, pois ao
vendermos um cavalo ganhamos um novo amigo!”. Neste
Ca v a l o s d e d e s p o r t o,
d e v a l o r e s e l e v a d o s, d e i x a m
d ú v i d a s a o s c o m p r a d o r e s
e m investir s e m e x p e r i m e n t a r
tipo de transacção, os cavalos são acompanhados por exames/relatórios
veterinários e é feito um contrato de compra e
venda, com informações detalhadas do animal, como o
nome, pelagem, número de microchip, até aos pormenores
relativos ao nível do ensino. Joana esclarece que a pandemia
trouxe “mais procura”, sendo este modelo de negócio já uma
rotina. Após a venda, é mantido contacto com os novos proprietários,
sendo comuns as publicações nas redes sociais a
recomendar o serviço: “Não
há melhor publicidade do
que um cliente satisfeito!”
comenta a jovem empresária
que, em pouco mais de
um ano, criou uma estrutura
comercial que inclui aulas de
equitação, estágios, desbaste
e ensino de cavalos. Habituada a exportar para países
como a Alemanha, Suécia, Finlândia, Suíça, Áustria ou Inglaterra
está também a Coudelaria Monte da Tramagueira, uma
casa dedicada exclusivamente à criação de cavalos Puro
Sangue Lusitano. À semelhança de Joana Gaspar, também
José Filipe Guerreiro Santos costuma promover os seus produtos
nas redes sociais e transaccionou animais durante a
quarentena. “Vendi dois poldros a clientes que já conheciam
a coudelaria e que têm confiança em nós. Claro que, antes do
negócio, enviei vídeos e fotografias mostrando uma série de
características dos cavalos, mas tratou-se sobretudo de uma
relação de confiança. Tenho também nesta altura já apala-
EQUITAÇÃO 50 MAGAZINE
vrado uma série de reservas de cavalos e poldros para o próximo
ano. Mesmo em quarentena, várias pessoas quiseram
visitar a coudelaria.”Apesar de, neste momento, as fronteiras
já estarem a reabrir, o espectro de um novo encerramento,
consequência de uma segunda vaga da pandemia, continua
a pairar. A confirmar-se esse cenário, “a comercialização de
cavalos será complexa principalmente quanto aos que precisam
ser experimentados”, comenta o criador que acredita
que até se podem vender alguns cavalos devido a uma relação
de proximidade, confiança
e profissionalismo, quando
se conhecem os envolvidos
mas, quando se trata de cavalos
de desporto, de nível superior, José Filipe não tem dúvidas:
“a compra de um cavalo de valores elevados deixa as pessoas
com dúvidas em partir para um investimento sem experimentar
o animal. Se me perguntar se há alternativas, digo-lhe
que sim. Existem possíveis caminhos para se montar um negócio
muito profissional e credível na base da confiança que
dê segurança aos clientes.” E que caminhos ou modelos de
negócio são esses? “É necessário criar uma relação forte do
ponto de vista promocional e comercial com os clientes. Tenho
cimentado essa relação ao longo dos tempos, pois não é
possível fazê-lo em meia dúzia de meses. De qualquer forma,
as novas tecnologias podem dar uma ajuda para colocar cavalos
à venda através de vídeos bem feitos, juntamente com
exames veterinários efectuados por profissionais credíveis ou
opiniões e testagem por parte de cavaleiros de mérito e reco-
“Na d a v a i s e r c o m o a n t e s”
Do r a Si l v a
nhecidos. Este negócio tem sobretudo de passar por uma
relação de confiança entre quem vende e quem compra.”
Confiança parece ser mesmo a palavra a reter, pois curiosamente
ou não, foi também utilizada por Pedro Escudeiro, da
empresa de distribuição de viaturas para transporte de cavalos
ATM Horsetrucks para nos explicar como têm “rolado” estes
dias em que se viram impedidos de estar presentes em
feiras e concursos, no contacto directo com o público. “Somos
uma empresa que privilegia as relações pessoais, temos um
excelente vínculo com os nossos
clientes em toda a Europa e são
eles que nos recomendam, pois
acreditam em nós. Todos os produtos
são entregues de forma muito profissional e com elevada
qualidade de transporte e isso acrescenta credibilidade
e confiança. As fronteiras nunca estiveram fechadas para o
transporte de mercadorias e, por isso, nunca sentimos dificuldades
nesse sentido. Também como o nosso produto está
exposto ao ar livre, os clientes não deixaram de nos visitar.
Funcionamos com entregas a longo prazo e embora na Europa
tenhamos baixado um pouco o volume de encomendas,
com o arranque dos concursos, esperamos restabelecer os
valores.” E se realidade voltar a “pregar uma partida”, Pedro
Escudeiro garante que estão preparados para reagir, pois a
marca já é sobejamente conhecida. A maior dificuldade poderá
advir se as construtoras de veículos, como a Renault e a
Fiat, fecharem as fábricas por tempo indeterminado, o que
levará a atrasos nos prazos de entregas.
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EQUITAÇÃO 51 MAGAZINE
Fo t o : Nu n o Pr a g a n a
REPORTAGEM
K. Libra da Gandarinha,
Campeã Nacional
do Critério de Cavalos
Novos de 4 anos em
2019, montada por
António Vozone
Marina e António Frutuoso
de Melo têm aproveitado
os últimos meses para
dar continuidade ao trabalho
diário dos cavalos
A união faz a força
Montra dos seus exemplares, para muitos criadores de cavalos
de desporto de Saltos de Obstáculos, são os concursos.
Sem provas, não há visibilidade.
A EQUITAÇÃO conversou com Dora Silva, criadora e proprietária
da Quinta da Gandarinha, uma coudelaria localizada
em Fermentões (Aveiro), assente na criação de cavalos de
raça KWPN mas que, nos últimos anos, por uma questão estratégica,
“em que almejamos uma participação num futuro
Campeonato do Mundo de Cavalos Novos”, tem registado os
últimos poldros no Portuguese Sport Horse (PSH). A criadora
não tem dúvidas de que “esta pandemia veio afectar de
forma devastadora toda a economia e certamente nada vai
ser como antes. As grandes casas de criação de cavalos têm
feito uma forte aposta nas vendas online e através de leilões,
mas também porque já têm uma imagem bastante consolidada
no mercado a nível internacional, o que não se passa
com os criadores nacionais. Seria o momento certo para os
criadores se unirem e, quem sabe, apostarem numa imagem
mais forte do PSH. É uma ideia…” Uma ideia partilhada por
António Frutuoso de Melo, cavaleiro, também ele criador, em
exclusivo desta raça nacional, que é da opinião de que “seria
muito produtivo os criadores registarem os seus produtos
nesse studbook, até para um maior controlo das éguas mães
e dos garanhões. A notoriedade da criação nacional fora de
Co n f i a n ç a e n t r e
q u e m v e n d e e c o m p r a p a r e c e
s e r a p r i n c i p a l c h a v e
p a r a o sucesso
Portugal deveria ser via PSH e não através de outros studbooks
que acabam por ter os registos nos seus livros mesmo
que sejam criados cá.”
Na Quinta de S. Francisco, casa do Sobreiro Velho Sociedade
Agrícola Lda, a quarentena permitiu que fosse feita uma reorganização
do modelo negócio, clarificadas dúvidas e postas
em prática novas ideias. “Em caso de nova paragem, vejo
com bastante preocupação o facto de a competição ter de
ser novamente suspensa, pois prejudicará não só o negócio
da compra e venda, mas também todo o desenvolvimento
da prática equestre. Há muitos clubes que estão a recuperar
lentamente desta catástrofe e se houver uma nova vaga de
Covid-19 ou outra pandemia qualquer, temo que encerrem”,
comenta António. Juntamente com Marina Frutuoso de
Melo, o casal tem aproveitado para dar continuidade ao trabalho
diário dos cavalos, bem como às tarefas e programação
em relação à criação e não apostado tanto num modelo
de negócio que passe pela exposição mediática dos animais.
Na verdade, uma estratégia não muito diferente da que está
a ser seguida na Gandarinha, como explica Dora Silva: “No
que concerne à comercialização dos nossos cavalos propriamente
dita, não estamos muito preocupados em desenvolver
uma política de «push» sobre o mercado mas sim pelo
estímulo do «pull». Quero com isto dizer que o potencial
cliente deverá estar ciente que quer mesmo um Gandarinha
EQUITAÇÃO 52 MAGAZINE
pelas suas características intrínsecas (equilíbrio, doçura, finura
e performance). Esta teoria parecia utópica até há bem
pouco tempo, mas começa a fazer sentido pelo feedback
dos proprietários.”
Unânime entre estes dois criadores é a ideia de que Portugal,
ao contrário do que se passa no centro e norte da Europa,
não está ainda preparado para leilões de venda de cavalos
online. E nos Lusitanos, o mesmo defende José Filipe Guerreiro
Santos. “A experiência portuguesa não é favorável aos
leilões online, nem aos físicos, pois é necessário um público
fidelizado e habituado a este tipo de compra. Por isso acho
arriscado massificar-se ou pensar-se nesta questão dos leilões
sem ter uma experiência credível e sólida. Não poderemos,
contudo, descartar esta forma de venda e acreditar que
no futuro, com os pés bem assentes no chão, venha a ser
uma realidade. Para tal, deveremos recorrer a pessoas já habituadas
e com larga experiência no ramo, para nos auxiliar
na organização e credibilizar os leilões.”
Medidas ao “clic”
A Celeris, marca de calçado equestre famosa pelas botas
personalizadas, com atelier em Felgueiras, foi uma das primeiras
empresas do concelho a encerrar por iniciativa própria
quando começaram a surgir os primeiros casos de Covid-19
no norte do país. Assim durante três semanas, mas a
Celeris não parou, como explica Hugo Moreira: “Durante esse
tempo o nosso departamento comercial a nível internacional,
ou seja, os nossos agentes e responsáveis, incluindo eu,
não parámos as vendas, mas passámos a utilizar plataformas
como o Zoom e o Skype para conversar com os clientes
e mostrar os produtos. Dos que já eram nossos clientes tínhamos
as medidas em base de dados, aos novos tivemos
de tirar por videochamada.”
Mas como se tiram medidas à distância? “Nestes casos
quem o fazia era o próprio cliente com o nosso acompanhamento,
ou seja, dávamos uma formação explicando como
obter todos os dados necessários, no pé, na perna, se a fita
métrica estava no local certo, se estava devidamente ajustada,
etc…”. Apesar da Celeris ter tido uma quebra nas vendas,
como muitas outras empresas, “encontrámos soluções para
o que aparentava vir a ser um descalabro. Este é um serviço
que no futuro vamos disponibilizar na nossa página web e
aproveitamos para pensar uma nova estratégia sobre como
os nossos clientes se podem aproximar da marca.”
Com as feiras canceladas, à semelhança do que aconteceu
com a ATM, também a Celeris deixou de ter nestes eventos
uma solução de apresentação de produtos. Ainda assim, a
marca encontra-se representada por agentes em todos os
países da Europa e, nos extracomunitários, na Rússia, Japão,
Hong Kong e EUA, que ajudam na divulgação. Para uma
maior comunicação entre todos, durante este período de
confinamento “realizámos por três vezes, nos diferentes países,
um evento a que chamámos «Discover Celeris» em que
seleccionámos alguns agentes e clientes e abrimos uma sala
online para conversar sobre a marca: como foi criada, que
modelos existem, etc.”, recorda o gestor. A melhoria do
PUB
EQUITAÇÃO 53 MAGAZINE
Hugo Moreira
da Celeris no atelier,
onde REPORTAGEM
o computador
passou a ser uma
ferramenta de
trabalho
indispensável
do dia-a-dia
website vai ser a próxima
grande aposta da marca
como estratégia de reacção
à nova realidade, assim
como o serviço pós-venda.
“Temos de nos aproximar
dos clientes de modo a que
se sintam mais confortáveis.
Foi também isso que a
Celeris aprendeu durante esta fase”, afirma Hugo Moreira.
Um novo amanhã
Apesar de alguns receios e incertezas quanto ao futuro, os
entrevistados demonstram, em geral, um sentimento de
positivismo, até porque, os eventos hípicos tiveram início
no mês de Junho (com excepção do Horseball), o que
veio trazer uma “lufada de ar fresco” a toda a comunidade
hípica. “Estou bastante optimista” afirma Pedro Escudeiro.
“Assim que os concursos retomarem a regularidade,
“Pa s s á m o s a u t i l i z a r
a s v á r i a s p l a t a f o r m a s p a r a
c o n v e r s a r c o m o s c l i e n t e s
e m o s t r a r o s p r o d u t o s”
Hu g o Mo r e i r a
tudo voltará a ser como era, muito embora tenhamos de
nos adaptar às circunstâncias.” Um pouco mais cauteloso,
António Frutuoso de Melo encara o futuro “com esperança
mas ao mesmo tempo com preocupação. Este vírus
está longe de estar controlado e se as pessoas não se
mentalizarem que temos de continuar com todos os cuidados,
podemos ter de recuar, o que seria uma pena, pois
fomos um país exemplar no cumprimento do confinamento
durante o estado de emergência.” José Filipe Guerreiro
Santos, que se define como um “optimista por natureza”
diz não duvidar do “potencial da raça Lusitana” e,
por isso, em termos de criação, “a resposta para os cépticos
e críticos é que cada vez estamos a fazer melhores
cavalos Lusitanos. Se virmos vídeos e nos lembrarmos
dos cavalos que tínhamos há duas ou três décadas, percebemos
que hoje são muito melhores. A funcionalidade
é cada vez mais comprovada, estamos com um maior número
de animais, nomeadamente no Ensino, onde são
cada vez melhor pontuados, para não referir outras modalidades.
O futuro do cavalo Lusitano é muito promissor e
risonho desde que consigamos manter-nos de uma forma
muito profissional e séria. Isso é um facto fundamental que
vejo nos clientes que nos
procuram. Eles querem acima
de tudo seriedade.
Existe um problema de excesso
de intermediários do
cavalo Lusitano que não
têm qualquer preparação
ou conhecimento para realizar
este trabalho. É cada
vez mais premente que consigamos transmitir segurança
ao cliente do Lusitano. Se não o conseguirmos fazer irão
continuar os negócios duvidosos. Acredito que o futuro é
risonho, mas não escondo que se esta crise se prolongar
por muito mais tempo possa criar restrições grandes ao
negócio de cavalos.”
Sejam cavalos, botas, ou viaturas, comercializar é possível:
online, no “passa a palavra”, expondo, ou resguardando.
O importante é continuar a trabalhar e a manter a
qualidade. m
A ATM garante estar
preparada para reagir
caso haja uma nova
quarentena
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Tauromaquia
Que Cultura…?
O que se está passando é tão grave que merece ser devidamente equacionado.
Dá que pensar… A Festa de Toiros está legalmente afecta ao Ministério da Cultura
e é oficialmente reconhecida como património cultural (com toda a justiça, que o
passado já não se apaga…); mas que tem feito a “Cultura” oficial pela Festa de Toiros?
Ao momento, uma Ministra da Cultura com
gostos de vida que fogem à norma comum
de viver, declara-se abertamente contra uma
área que devia em seu todo defender, dado
que a tauromaquia é, na realidade e legalmente, património
cultural. Como é que é???
A primeira coisa que os eleitos cinicamente fazem
é que se dispõem a servir todos os eleitores
de todas as facções do país. Tal declaração de
intenções devia corresponder à verdade intrínseca,
que nos levasse a acreditar na sua verdade,
mas é triste que não corresponda à realidade,
como por desgraça é patente. É urgente
mudar a “agente” por alguém que assuma a
responsabilidade das promessas
genéricas do programa
eleitoral que divulgaram
e prometeram
honrar. Basta!!!
Mas, importa que se recorde
que a coisa táurica não
TEXTO
DOMINGOS XAVIER
Po r t u g a l f o i o p r i m e i r o
d o s p a í s e s a l e g a l i z a r a
t a u r o m a q u i a n o l u g a r q u e
l h e p e r t e n c e: a Cu l t u r a!
se esgota com o Ministério que a tutela. Curiosamente,
no universo taurino, Portugal foi o primeiro dos países a
legalizar a tauromaquia no lugar que lhe pertence: a Cultura!
Seguiram-se-lhe a França e só depois Espanha, em
que bizarramente ainda hoje Comissários da Polícia, na
sua maioria, dirigem as corridas. É facto, com a
grave consequência dos critérios espúrios e quase
irracionais de atribuição de troféus. Com a lei
colada à sola dos sapatos, esquecem a vontade
dos povos que enchem as Praças pagando na
bilheteira o seu acesso ao desfrute da “Festa”.
Que saudades dos tempos em que os taurinos,
com valor, eram premiados com orelhas, rabo e
pata. Sei bem que as arenas não devem ser confundidas
com “dessolladeros”,
mas a actual falta de
respeito pela arte e pelo
valor, em nome do que
pensam os “animalistas”
(gente que engana a indústria
da “pet food” e por
EQUITAÇÃO 56 MAGAZINE
ela é subsidiada), não nos tem levado a lado nenhum. Desde
que a economia de troféus se instalou, a Festa decresceu,
as rivalidades diminuíram pela falta de expressão e as
faenas reduziram-se a estatísticas. É bom que se recorde
que “Cañabate” um dia afirmou que em Sevilha até o silêncio
(por respeito) é um prémio.
Nos tempos que correm, importa que se abandonem os
pensares das tutelas, coutadas
pequeninas e se pensem
medidas de fomento.
Seria da maior utilidade
que se promovessem as
garraiadas com zero de impostos
e diminuição das
“folhas de Praça”, que se
dessem festivais sem as
exigências do fisco e confessemos
do fundo de assistência
dos toureiros, à
margem do que “pensou” Diamantino Viseu, que se bem o
criou (com a utilidade conhecida – hoje um bandarilheiro
por ter filhos licenciados e assistência na saúde, ao invés de
penhorar trajes de tourear em fim de temporada), também
teve de “forma inconsequente” um evidente estrangulamento
da Festa.
Alguém imagina que um festival pague mais ao “fundo”,
do que impostos, mesmo beneficente?
Vã o s é c u l o s q u e a Fe s t a
d e To i r o s é u m a m a n i f e s t a ç ã o
d e m a s s a s n o l u s o t o r r ã o.
A c o r r i d a d e t o i r o s
t r a n s p o r t a o c a m p o à u r b e,
s e n d o assim u m f a c t o r
d e Cu l t u r a e c o e s ã o
Temos, em tempos de crise, que provar que os inimigos da
Festa de Toiros não somos nós os taurinos assumidos. Para
que vos não canse e finalizando, toda a “Cultura” reclama
subsídios e quase fazem o pino para provar a sua extrema
necessidade. Está certo! Que seria o mundo sem Cultura?
Verdade, verdadinha é que o mundo do toiro só reclama
liberdade. Cultura é liberdade! Mais, Cultura em toda a verdade
da sua existência é
adaptação às circunstâncias
e ao meio ambiente.
Vamos lá reflectir. Por definição
a Política é a arte da
condução dos interesses
da “Res publica”. Certo?
Por assim ser, o que dos
tempos da “Lex Romana”
ninguém se atreve a contestar,
não podemos deixar
que a política se transforme
tão só na “arte manhosa” de ganhar eleições. Vão séculos
que a Festa de Toiros é uma manifestação de massas
no luso torrão.
A corrida de toiros transporta o campo à urbe, sendo assim
um factor de Cultura e coesão. Vamos, portanto, respeitar
o respeitável e rir a bom rir das tais vozes de burro que jamais
chegarão ao céu, por muito que o burro cenicamente
se ponha de costas a coçar-se e espernear! m
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EQUITAÇÃO 57 MAGAZINE
VETERINÁRIA
Avaliação
do Arreio
Aspectos práticos
(1.ª parte)
No artigo anterior debruçámo-nos sobre a necessidade
da avaliação regular do arreio em termos de compatibilidade
de cada conjunto cavalo/arreio e sobre algumas situações
em que essa avaliação está particularmente indicada -
nomeadamente em caso de compra de um cavalo ou arreio
novo, se há sinais de dor à palpação do dorso ou desconforto
ao colocar o arreio, em caso de assimetrias ou atrofias
musculares, marcas de suor assimétricas, desvios do arreio
ou simplesmente quebra de Performance!
EQUITAÇÃO 58 MAGAZINE
Neste artigo e no próximo vamos referir numa
perspectiva prática 10 parâmetros objectivos
a verificar durante o processo de avaliação.
1 - Posicionamento do Arreio
Um erro frequente (especialmente na disciplina de saltos
de obstáculos) é a colocação do arreio demasiado
à frente, sobre o garrote e as espáduas, limitando a liberdade
de movimentos das espáduas o que pode resultar
em andamentos mais curtos, além de originar
que o arreio fique inclinado para trás, “a subir”, alterando
o equilíbrio e a distribuição do peso do cavaleiro
(Fig. 1a e 1b).
Para evitar este problema e determinar o correcto posicionamento
do arreio, este deve colocar-se (sem qualquer
protector de dorso ou suadouro) propositadamente
um pouco à frente da sua posição ideal, já em
cima do garrote, e fazer pressão sobre a arcada da frente
à medida que deixamos o arreio deslizar para trás até
à sua posição ideal (Fig. 2).
Podemos repetir este processo várias vezes até confirmar
a posição em que a sela deixa de “deslizar”, e será
esse o local adequado. Na prática, a estrutura rígida do
arreio (correspondente ao vaso no seu interior) deve
assentar logo atrás da escápula (a base óssea da espádua),
apenas com poucos centímetros de margem para
permitir a rotação da espádua quando o cavalo avança
o membro (Fig. 3).
2 - Comprimento do Arreio
O arreio não deve apoiar atrás da última costela (Fig.
4), o que pode acontecer se o seu comprimento não for
adequado à conformação do cavalo (ou se for colocado
demasiado para trás, o que é menos frequente).
3 – Equilíbrio do Arreio
O centro do arreio (na zona do assento ou “coxim”)
deve ficar paralelo ao chão quando colocado sobre o
dorso, para que o peso do cavaleiro também fique centrado
a meio do arreio, distribuindo-se com pressão
uniforme ao longo de toda a superfície de contacto do
arreio com o dorso (Fig. 5).
Dependendo do modelo, a arcada de trás (ou “patilha”)
deve ficar um pouco mais alta que a arcada da frente,
nunca mais baixa.
TEXTO Joana Alpoim Moreira
TEXTO João Paulo Marques
4 - Espaço entre o garrote
e o arreio
Deve existir espaço livre suficiente em torno do garrote,
não só por cima mas também dos lados (Fig. 6). Para
um garrote normal, essa distância deve ser de cerca de
dois a três dedos quando o cavaleiro está montado. Se
esse espaço for superior a três dedos, provavelmente o
vaso é demasiado estreito para o seu cavalo.
5 - Largura e ângulo do vaso
A largura e o ângulo do vaso (Fig. 7) devem ser adequados
às espáduas do cavalo (Fig. 8). Num cavalo
EQUITAÇÃO 59 MAGAZINE
VETERINÁRIA
1 A 1 B
Arreio colocado
demasiado para
a frente
Mesmo arreio colocado
ligeiramente mais para
trás, mais equilibrado
Fo t o : equilibriumproducts.c o m
2
Fo t o : n at u r a l h o r s e m a n s a d d l e s.c o m
Fo t o :sy n e r g i st s a d d l e.c o m
4
Fo t o : equilibriumproducts.c o m
Colocação do arreio à frente da sua
posição normal, deixando-o deslizar
para trás até à sua posição ideal
3
A estrutura rígida do arreio (vaso)
deve assentar logo atrás da escápula,
com uma pequena margem para
permitir a rotação da espádua
quando o cavalo avança o membro
O arreio não deve apoiar para trás
da última costela
À esquerda: ilustração de vasos
com o mesmo angulo e larguras
diferentes, e o inverso à direita
5 6 7
Fo t o : s c h l e e s e.c o m
Ilustração do equilíbrio do arreio
Deve existir espaço
suficiente entre
o garrote e a arcada
do arreio
Um dos métodos de
avaliação do ângulo das
espáduas
Caso extremo (mas real!),
ilustrando a ausência de
qualquer espaço livre entre
o garrote e o arreio
Exemplo de arreio desequilibrado com o vaso muito
estreito, em que a adição de protectores de dorso
ainda agravou a situação
8 9 10
EQUITAÇÃO 60 MAGAZINE
c o m u m a r r e i o c o m o v a s o
m u i t o e s t r e i t o o u u m â n g u l o
d o v a s o m u i t o f e c h a d o,
o e s p a ç o e n t r e o g a r r o t e
e a a r c a d a d a f r e n t e v a i s e r
e x a g e r a d o e o a r r e i o
t e r á t e n d ê n c i a p a r a f i c a r
i n c l i n a d o p a r a t r á s
com um garrote mediano, um arreio com um vaso muito
largo ou com um ângulo muito aberto (na parte da frente
do arreio) vai fazer com que não haja espaço suficiente
entre a ponta do garrote e a arcada da frente (Fig. 9) especialmente
depois de apertar a cilha e com o peso do
cavaleiro, podendo causar “assentaduras” em casos extremos.
Esse arreio terá tendência para ficar mais baixo à
frente e descair um pouco para cima das espáduas, aumentando
a pressão nessa zona.
Essa situação pode ser parcialmente compensada aumentando
a espessura dos materiais (com um protector
de dorso aberto à frente em forma de “U”, por exemplo)
aplicados entre o dorso e a parte inferior do arreio (pai-
néis) – mas só dos lados e não na linha central directamente
sobre o garrote! - ou mesmo mandando aumentar
o enchimento dos próprios painéis nessa zona.
Pelo contrário, com um arreio com o vaso muito estreito
ou um ângulo do vaso muito fechado, o espaço entre o
garrote e a arcada da frente vai ser exagerado e o arreio
terá tendência para ficar inclinado para trás (ou seja, fica
com a frente muito levantada), deslocando também o
centro de gravidade do cavaleiro para trás e aumentando
a pressão no dorso por baixo da parte de trás do arreio.
Essa situação não pode ser corrigida aumentando a espessura
dos protectores de dorso, o que ainda agravaria
mais o problema (Fig. 10).
Naturalmente que um Puro Sangue Inglês necessita geralmente
de um arreio com um vaso mais estreito ou um
ângulo mais fechado, enquanto que um warmblood provavelmente
irá necessitar de um vaso mais largo ou um
ângulo mais aberto.
No próximo artigo terminaremos este assunto abordando
mais cinco parâmetros objectivos a ter em conta na
avaliação do arreio. m
J. P. M.
Email: jpaulomarques@hotmail.com
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EQUITAÇÃO 61 MAGAZINE
nutrição
Cuidados a ter com a
alimentação
do poldro
TEXTO | Marta Cardoso
(Médica Veterinária)
A alimentação do poldro é um factor
fundamental para o seu desenvolvimento e
para a prevenção de doenças. Só com uma
alimentação equilibrada se poderá assegurar
que o crescimento e desenvolvimento do
poldro correspondem ao potencial genético
que o mesmo apresenta.
EQUITAÇÃO 62 MAGAZINE
A
alimentação do poldro inicia-se no útero (alimentação
do feto), sendo importante para o
mesmo que a égua tenha um regime equilibrado
ao longo de toda a gestação, e que as necessidades
nutricionais, acrescidas, sobretudo no último trimestre,
sejam respeitadas.
Após o nascimento, o poldro recém-nascido desempenha
actividades que consomem energia. Sendo as suas reservas
energéticas endógenas limitadas, é através do colostro
(nome designado à primeira secreção mamária da égua)
que obterá os nutrientes necessários ao desempenho dessas
actividades. O colostro é, assim, o primeiro alimento do
poldro e a sua ingestão precoce é essencial do ponto de vista
nutricional, imunológico e intestinal (efeito laxante).
Até cerca dos três meses de idade, as necessidades nutricionais
do poldro lactante são supridas pelo leite materno, cuja
composição varia ao longo da lactação, período a partir do
qual o poldro deverá complementar a ingestão de leite com
pastagem e/ou alimento composto específico. Esta suplementação
do poldro lactante, com alimento composto específico
fornecido selectivamente ao poldro (através da utilização
de comedouros selectivos
O c o l o s t r o é o p r i m e i r o
aliment o d o p o l d r o
e a s u a i n g e s t ã o p r e c o c e
é e s s e n c i a l d o p o n t o
d e v i s t a n u t r i c i o n a l,
i m u n o l ó g i c o e i n t e s t i n a l
ou áreas dedicadas à alimentação
dos poldros), é designada por creep
feeding. Esta prática promove
uma habituação ao alimento sólido,
promovendo a autonomia alimentar
do poldro e reduzindo os
efeitos do stress do desmame. De
referir apenas que a introdução da
prática de creep feeding deverá ser
feita a partir das oito semanas de forma gradual (como
qualquer processo de introdução alimentar), e que a quantidade
de alimento composto específico fornecido deverá
variar de acordo com a idade, raça e composição do alimento
(por exemplo: para um poldro com idade inferior a
quatro meses, a quantidade de alimento composto fornecida
deverá variar entre 0.5-1.0 Kg por cada 100 Kg de PV
do poldro).
De uma forma geral, o desmame traduz-se numa diminuição
na taxa de crescimento do poldro. Para a prevenir, deve
garantir-se que o poldro ingere uma quantidade de matéria
seca suficiente para cumprir com as necessidades nutricionais
que apresenta. A monitorização do plano alimentar e
do crescimento, nesta fase, deverá ser rigorosa, não sendo
desejável também a sobrealimentação.
Relativamente aos órfãos, a importância da ingestão de colostro
nas primeiras horas de vida mantém-se, podendo,
posteriormente, transitar para aleitamento artificial através
de biberão ou balde (recorrendo às fórmulas comerciais específicas
para poldros) ou tentar-se a amamentação por
mãe adoptiva (caso se tenha disponível uma égua que tenha
perdido o seu poldro à nascença). Nos poldros órfãos
não adoptados, pode disponibilizar-se alimento sólido a
partir das duas semanas (recorrendo a um alimento composto
específico e a feno de boa qualidade), de forma a
complementar ao leite de substituição. O desmame deverá
ocorrer entre as 14 e as 16 semanas.
Após o desmame, o maneio alimentar do poldro deverá ser
igualmente cuidadoso. Entre os doze e os quinze meses de
idade, o poldro atingirá cerca de 90% da altura ao garrote,
95% do crescimento ósseo e cerca de 70% do peso em
adulto. O restante crescimento ocorrerá posteriormente de
forma gradual, verificando-se diferenças significativas no
tempo de crescimento remanescente em função da raça.
Uma alimentação adequada, que evite períodos de stress,
continua a ser essencial, sendo a regularidade do crescimento
preferencial a picos de crescimento. As deficiências,
excessos ou desequilíbrios nutricionais têm sido associadas
a doenças ortopédicas de desenvolvimento (DOD), sendo
como tal indesejáveis. Na escolha do alimento, deve privilegiar-se
uma componente forrageira
de boa qualidade (feno ou
pastagem) e um alimento composto
específico para poldros,
com boa digestibilidade e que
privilegie um aporte adequado de
lisina, de vitaminas, de macrominerais
(como o cálcio e o fósforo)
e microminerais (como o zinco, o
cobre), necessários para um correcto
desenvolvimento ósseo e articular.
A reter:
• A ingestão precoce de colostro (idealmente primeiras oito
horas após o parto) é essencial para o sucesso da transferência
de imunidade passiva;
• Observar o poldro a mamar com a regularidade adequa
da é um indicador de bem-estar e saúde do poldro;
• A composição do leite varia ao longo da lactação (sendo a
quantidade, o teor de gordura e de proteína superiores na
fase inicial da lactação), considerando-se a partir dos três
meses insuficiente por si só para suprir as necessidades do
poldro;
•A prática de creep feeding a partir das oito semanas de idade
contribui para a redução do stress do desmame;
• Após o desmame, o plano alimentar deverá ser adequado,
promovendo um crescimento regular;
• Deficiências, excessos ou desequilíbrios nutricionais são indesejáveis,
predispondo ao aparecimento de doenças ortopédicas
de desenvolvimento. m
EQUITAÇÃO 63 MAGAZINE
CRÓNICA
Fig.1 - D. Carlos em
Vila Viçosa. Em segundo
plano está o cavalo ruço,
com a sela que el-Rei usava
A sela usada por
dos no extremo das perneiras. Uma protecção
adicional ao cavalo através de uma manta
grosseira dobrada várias vezes e colocado por
baixo do selim. Neste conjunto estão presentes
a almofadinha para proteger o cavalo do
roçar do rabicho, o rabicho, a manta, os alforges,
os loros, os estribos e o coldre da espingarda.
Arreio de utilização rural também para
a caça.
A descrição refere todas as partes da sela, em que a
“protecção adicional ao cavalo” é o que denominamos
de “suadouro”, (que não está nesta fotografia) e tem
um adereço que nunca tinha visto nas selas daquele
mesmo modelo.
Esta sela era usada nas regiões rurais do país e os Campinos
denominavam-na de Almatrixa (Fig. 3), por proel-Rei
D. Carlos
Numa crónica anterior escrevi sobre uma fotografia de el-Rei D. Carlos
montado no Bolero. Agora pretendo escrever sobre a sela, a mesma que se vê nesta
outra fotografia (Fig.1) bem conhecida de todos.
TEXTO
João Pedro Gorjão Clara
E
sta sela d’el-Rei D. Carlos (Fig. 2)
está hoje no Museu dos Coches
com esta descrição:
Inv. : A 0128 Título: Sela à vaqueiro
de arreio de montada à alentejana de D. Carlos
I (rural/caça)) Denominação: Sela à vaqueiro
(rural) Instituição / Proprietário: Museu
Nacional dos Coches Super-Categoria: Arte
Categoria: Meios de transporte Subcategoria:
Arreios Equestres Outras denominações: Selim N.º(s)
Inventário anteriores: 2117
Descrição: Selim de couro forrado de pele de borrego
com argolas por onde se suspende o coldre da espingarda
e aberturas para a passagem dos loros. O peso
da sela é repartido por uma vasta área do dorso do cavalo,
as abas do selim foram alargadas, os estribos fixa-
EQUITAÇÃO 64 MAGAZINE
Fig.2 - Sela que está
representada na
fotografia anterior
Fig.3 - Albardão sem a pele
de borrego que deixa ver a
almofada (almatrixa que deu
o nome ao albardão) que
reforçava a comodidade do
assento, com a farinheira
enrolada no garrote e a manta
enrolada na garupa
Fig.4 -Almofadinha,
da sela de D. Carlos,
que colocada atrás da sela,
assenta sobre a garupa
do cavalo
Fig.5 - A almofadinha
com a rabicheira que a
atravessa ao meio e com
duas tiras de cabedal com
fivelas que apertavam a manta
Fig.6 - A manta apertada por correias,
sobre a almofadinha
A s e l a u s a d a
n o c a m p o p o r
D. Ca r l o s e r a
u m a l b a r d ã o,
t a m b é m c h a m a d a
Alm atrix a
vável corruptela da palavra árabe “almadraquexa” (ver
crónica da Equitação n.º 103).
Os campinos deixaram de usar a almatrixa quando a redução
do efectivo cavalar do exército colocou à venda as
selas militares modelos de 1873 e de 1914. Ao adaptarem
estas selas militares colocaram-lhes por cima a pele de
borrego e fizeram-lhe outras alterações, que persistiram
até aos nossos dias.
Mas voltando atrás. O que nunca vimos nas selas daquele
modelo foi a almofada presa ao bordo posterior da
sela que assenta sobre a garupa (Fig. 4).
Esta almofadinha, no meu entender, não servia “para
proteger o cavalo do roçar do rabicho”. A almofadinha,
protegia a manta lobeira, fixada com duas correias com
fivela, do suor do cavalo. (Fig. 5)
Neste modelo de sela para usar no campo, colocava-se à
frente, sobre o garrote, “a farinheira”, (uns panos enrolados
com múltiplas utilidades quando o campino se apeava)
e atrás, sobre a garupa, a manta grossa, para proteger
da humidade e do frio da noite (Fig. 3).
No número da Revista Equitação em que mostrei D. Carlos
montado no Bolero, observam-se aqueles dois atavios
e percebe-se a presença da almofadinha (seta vermelha),
e sobre ela a manta lobeira apertada por correias
com fivela (seta amarela) (Fig.6).
Como conclusão: a sela usada no campo por D. Carlos
era um albardão, também chamada Almatrixa, singela e
igual à que os trabalhadores do campo utilizavam no trabalho
diário, com a particularidade de apresentar, ocasionalmente,
uma pequena almofada na garupa que servia
para proteger a manta do suor do cavalo.
Agradeço à Senhora Dra. Rita Dargent, Conservadora
do Museu Nacional dos Coches, a simpatia, a amabilidade
e a disponibilidade na informação e à Direcção
do Museu pela autorização da divulgação das imagens
que me permitiram escrever esta crónica. m
EQUITAÇÃO 65 MAGAZINE
Raides
Riscos de intoxicação
por plantas
em cavalos de endurance
TEXTO Mónica Mira
Pastagem altamente contaminada
com soagem (Echium plantagineum)
no Alentejo esta Primavera
EQUITAÇÃO 66 MAGAZINE
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Ao contrário de outras modalidades em que os cavalos permanecem
estabulados a maior parte do tempo, na resistência equestre
está convencionado que os cavalos devem permanecer no exterior.
Os paddocks e, em particular, as cercas em que são colocados, têm
na sua maioria algum tipo de pastagem espontânea, na qual podem
existir plantas tóxicas. Por outro lado, as modificações climáticas,
o aumento de infestantes nas pastagens e ausência de variedades
forrageiras para cavalos, particularmente em regiões desfavorecidas
em termos meteorológicos, como Portugal, torna difícil conseguir
feno livre de plantas tóxicas.
Estando a modalidade situada sobretudo na região
entre Alcochete, Sines e Elvas, com grande
representatividade na região de Évora, com este
artigo pretendemos alertar para a toxicidade de
determinadas plantas que, por desconhecimento geral, são
frequentemente negligenciadas nas pastagens. Particularmente
preocupantes são a soagem (Echium plantagineum),
na Primavera, e a tasneirinha, ou senécio (Senecium vulgaris
e Senecium jacobea), no final do Verão e Outono. Menos comum
também, o tornassol (Heliotropium europeum). Tóxicas
tanto para equídeos como para ruminantes, estas plantas
contêm em comum componentes alcalóides pirrozilídicos
que causam dano hepático.
Uma intoxicação silenciosa
Estas plantas contêm substâncias tóxicas que causam uma
intoxicação do tipo cumulativo e não agudo. São intoxicações
não de carácter fulminante, mas sim insidioso, passando por
isso despercebidas. O que isto significa é que o tecido hepático
vai sendo substituído por áreas de fibrose, ou seja, áreas
que perdem a sua capacidade funcional. No dia-a-dia, esta
perda de funcionalidade não tem qualquer manifestação clínica
ou, se existir, será inespecífica, como por exemplo, perda
de condição corporal, na presença de apetite ou episódios de
cólica ligeira recorrente. Só quando há cerca de 80% de tecido
hepático afectado é que a sintomatologia se torna mais
óbvia, com perda de peso associada a anorexia, icterícia e sintomas
neurológicos associados à presença de amónia no
sangue. Normalmente transformada em ureia para ser eliminada
pelos rins, a amónia atravessa a barreira hemato-encefálica,
sendo particularmente tóxica para o cérebro, causando
apatia profunda com headpressing (encosto da cabeça a
uma parede ou outro elemento sólido), episódios de agressividade
e por fim recumbência.
Papel do fígado no esforço
físico e consequências para
os cavalos de competição
Órgão indispensável para a vida, com múltiplas funções, o fígado
fica especialmente sobrecarregado no esforço físico
EQUITAÇÃO 67 MAGAZINE
Raides
quando há um aceleramento inerente do
metabolismo e a consequente produção
de subprodutos que necessitam de ser
transformados para ser eliminados. Nos
cavalos de resistência equestre, os danos
hepáticos poder-se-ão traduzir apenas na
perda de rendimento desportivo. Sobretudo
no contexto de competição em que os
cavalos têm que dar o máximo, podem
surgir manifestações inespecíficas como,
por exemplo, má recuperação cardíaca,
anorexia e membranas mucosas congestionadas
(tóxicas), com tempo de replecção
capilar aumentado.
Diagnóstico
O diagnóstico ante-mortem faz-se pela
monitorização das enzimas hepáticas no
sangue (GGT, AST, FA e SDH) e níveis de
bilirrubina. A confirmação faz-se por biópsia
ecoguiada do fígado e histopatologia.
Os cavalos
conseguem mesmo
triar as plantas
tóxicas?
Nem todos. Deve-se partir do pressuposto
que em circunstâncias particulares, tais
como mudanças de ambiente, pastagens
sobre-pastoreadas, pisoteadas ou muito
contaminadas, qualquer cavalo pode ingerir
plantas tóxicas, seja por tédio ou por
falta de alternativa. Mesmo em paddocks
sem pastagem, há relatos de cavalos que
ingeriram plantas tóxicas nas orlas e por
debaixo do cercado.
Heliotropium
Senecio
Vulgaris
Senecio
jacobea
A problemática
dos fenos
O mais perigoso são os fenos oriundos de pastagens contaminadas
e/ou espontâneas. Isto porque, nesta situação, os
cavalos acabam por perder completamente a capacidade de
distinguir as plantas tóxicas. É, por isso, imperativo que, nos
cavalos de competição, a origem do feno seja conhecida ou
certificada. Em último recurso, pode-se recorrer à identificação
das plantas no feno, um processo moroso, normalmente
realizado por conhecedores de botânica e que necessitam da
presença de folha, já que só os caules não permitem a distinção
das plantas.
Gestão das pastagens
Mais do que eliminar as plantas das pastagens,
a não ser que estejamos a falar de pequenos
paddocks em que é exequível a
monda, é mais sustentável delinear estratégias
que, antecipadamente, evitem o seu desenvolvimento.
Essas estratégias passam por cultivar gramíneas
que compitam com as plantas infestantes
e, por isso, impeçam o seu desenvolvimento.
Um aspecto curioso é a recomendação
de não manipular plantas tóxicas à frente dos
cavalos, uma vez que quando manipuladas
pelo Homem, os cavalos identificam-nas
como benignas. Portanto, a monda deve ser
feita longe da vista dos cavalos. Finalmente,
em pastagens contaminadas, o fornecimento
de bom feno em quantidade suficiente pode
ser um elemento dissuasor para a ingestão
destas plantas.
Há tratamento para
os cavalos afectados?
Se os insultos forem pequenos não há tratamento
específico. Deve-se apenas proceder a
uma alimentação com menos proteína, para
não sobrecarregar o fígado e para que haja
menor produção de amónia, esperando assim
que o fígado recupere, já que é o órgão
com maior capacidade de regeneração do organismo.
Animais com sintomatologia explícita
de doença hepática têm mau prognóstico.
Resumindo...
Em suma, é fundamental assumir que os cavalos
podem ingerir as plantas tóxicas de
uma pastagem e que isso pode ter consequências
no seu rendimento desportivo. É
também crucial certificar-se da origem do feno e que estes não
se encontrem contaminados, sob pena de os seus cavalos não
atingirem os resultados esperados. m
Bibliografia: F.Clamote, P.V.Araújo, J.D.Almeida, D.T.Holyoak, M.Porto, J.Lourenço,
A.Carapeto, A.J.Pereira, et al. (2020). Senecio vulgaris L. - mapa de distribuição.
Flora-On: Flora de Portugal Interactiva, Sociedade Portuguesa de Botânica.
http://www.flora-on.pt/#wSenecio+vulgaris.
https://equipedia.ifce.fr/elevage-et-entretien/alimentation/intoxicationalimentaire/intoxications-vegetales-equides.html
https://jb.utad.pt/flora
Vídeos: Primenko, Nathalie. Les intoxications à l’herbage
https://www.youtube.com/watch?v=HxDGOb-j6BA. IFCE
Cault, Gilbert. Intoxications vegetales du printemps chez les equides
https://www.youtube.com/watch?v=tDbpr_zRMQI
Cault, Gilbert Intoxications végétales d’automne chez les équidés
https://www.youtube.com/watch?v=nLVZtN5zmbw
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histórias
Bafejado
um cavalo com uma ferida na quartela
Atarefada, corria de um lado para o outro para acabar as malas! Mesmo escrevendo
um papel com todas as coisas que quero levar, com bastantes dias de antecedência,
acabo sempre por me lembrar de levar outras coisas, também elas necessárias, o que
implica que, para fechar as malas, seja sempre uma correria!
ACarminho já voltou ao CAR, pois já
está a ter aulas presenciais. Eu e o
Francisco resolvemos ir ter com ela a
Lisboa durante três dias para eles poderem
ir às consultas que tinham sido adiadas
durante o estado de emergência. Como estava
em teletrabalho, tive de levar o computador e a
última corrida foi porque me tinha esquecido
dele…
Quando o estava a colocar na mochila o meu telefone
começou a tocar, mas eu já estava tão atrasada
que resolvi não atender, pensei para mim mesma que devolveria
a chamada assim que entrasse no carro e me pusesse
a caminho de Lisboa.
Finalmente com a bagageira cheia para três dias (eu sei,
são só duas noites, mas nós nunca sabemos que temperatura
vai estar, o que vamos fazer, enfim, nunca sabemos
o que levar! Pelo menos eu gosto de viajar bem prevenida)
lá nos pusemos os dois a caminho. Tinha pensado telefonar
e assim como pensei,
TEXTO
rita gorjão clara
médica veterinária
fiz!
Do outro lado do Bluetooth
ouviu-se a voz de
uma amiga minha. A sua
voz agradável, mas com
timbres de ansiedade,
não se demorou muito na
introdução da conversa e
passou imediatamente aos “finalmentes”. O seu cavalo
tinha uma pequena ferida na quartela, dever-se-ia ter aleijado
nalgum sítio, disse ela, mas o que a preocupa mais
era o facto de o cavalo estar cheio de “remelas” amarelas.
Disse-lhe que infelizmente não o poderia ir ver pois ia a
caminho de Lisboa, mas que se ela quisesse poderíamos
fazer uma “teleconsulta”, ela enviava-me as fotografias e
eu logo decidiria se poderia ser medicado por mim à distância,
se poderia esperar por sábado para o ver, ou se teríamos
de chamar outro colega para o puder acudir de
imediato.
Desliguei descansada, que as fotografias chegariam dentro
de pouco tempo, assim que ele voltasse a ter “remelas”
pois estas tinham habilmente desaparecido com a limpeza
exímia realizada pela dona.
As horas foram-se passando e a verdade é que nunca
mais me lembrei do cavalo. No meu subconsciente ela tinha
ficado de enviar as fotografias, por isso, o
meu consciente ficou em stand by à espera das
mesmas, para poder voltar ao assunto.
No sábado, por volta das 16h, o telefone voltou
a tocar! Era ela outra vez. Nunca mais me tinha
lembrado do cavalo!
Com a voz extremamente ansiosa, explicou-me
que os olhos não voltaram a ter remelas, mas
que a ferida pequenina da mão, tinha ficado negra,
grande, e a mão já estava inchada até ao
joelho. Pedi-lhe que me enviasse uma foto por WhatsApp
“ASAP”.
Quando recebi a foto achei a ferida muito feia. Parecia ter
no centro um fundo de necrose bem negra e à volta reacção
inflamatória grave, com sinais de infecção e edema
até ao joelho. Pelo que via, e pelas dores que ele demonstrava
ter, segundo o que a minha amiga dizia, calculei que
tivesse sido uma picada de algum bicho venenoso.
Claro que poderia ser uma “ferida de Verão” ou inclusivamente
arestins, mas para
“...i n c l i n e i-m e l o g o
p a r a u m a p i c a d a d e a l g u m b i c h o
«p e ç o n h e n t o». Se m h e s i t a r,
r e s o l v i m e t e r-m e n o c a r r o e ir
f a z e r-l h e u m a visita.”
ter uma evolução tão rápida
e com um foco de
necrose tão exuberante,
inclinei-me logo para
uma picada de algum bicho
“peçonhento”. Sem
hesitar, resolvi meter-me
no carro e ir fazer-lhe uma
visita. Durante o percurso, observava alegremente o horizonte,
de janela aberta, pois o carro com que tenho substituído
o meu acidentado, não tem ar condicionado. Sentia
a brisa escaldante do meio da tarde, brisa essa que
fazia ondular as searas, ainda numa mistura de tons, que
não tinham ainda atingido o seu tom dourado quando dizem
que estão prontas para a ceifa. No meio delas, e em
grandes quantidades, papoilas vermelhas, lindas, davam
um toque idílico à imagem, mas, de repente, comecei a
sentir o carro a fugir para a direita, tinha um furo!
Chateada, antes de tentar resolver o problema, telefonei
de imediato à minha amiga e disse-lhe que deveria chamar
outro colega, pois não sabia quando estaria despachada
e o caso já tinha quatro dias…
Chateada também ela, e bastante contrariada, lá chamou
um colega meu! Ficou combinado que me telefonaria
para irmos falando, mas, mais uma vez, o tempo foi pas-
EQUITAÇÃO 70 MAGAZINE
Na q u a r t a-f e i r a s e g u i n t e
e n v i a r a m-m e n o v a f o t o
d o resultado d e q u a t r o d i a s
d e tratame nto, u h m, voltei
a t o r c e r o n a r i z…
sando e nada de telefonema. Finalmente, e depois de muitas
peripécias, já era noite cerrada quando cheguei a casa.
Liguei-lhe para saber como estava o «Bafejado», e disseme
que o meu colega o tinha medicado como se fossem
arestins… Torci um bocadinho o nariz, mas como o meu colega
o deixou medicado com medicamentos que também
dariam para combater o efeito da picada de um bicho venenoso,
disse-lhe que aguardaríamos para ver! Tinha era que
me ir dando notícias! Na verdade só não me meti a caminho,
porque eles moram a quilómetros de minha casa!
Na quarta-feira seguinte enviaram-me nova foto do resultado
de quatro dias de tratamento, uhm, voltei a torcer o nariz…
Quase de certeza que não eram, só, arestins, se é que
tinham sido arestins alguma vez!!!! Mas como não vi presencialmente,
não queria colocar o meu colega em cheque!
Enfim, agora enquanto vos escrevo, aguardo uma chamada
para o ir ver!
Não sei como vai acabar a história. Mas prometo acabá-la
no próximo artigo!!! m
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