EQUITAÇÃO 143
Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre
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NA OPINIÃO DE...<br />
ciplinas individuais decidam a possibilidade de os cavaleiros<br />
retirarem o equipamento de protecção durante as<br />
cerimónias de entrega de prémios e no momento em que<br />
são tocados os hinos nacionais.<br />
Numa notícia recente, o website britânico EuroDressage<br />
ressalvou o facto de «a decisão ter vindo rodeada de criticismo<br />
entre federações representantes de países com forte<br />
cultura na Dressage. Especificamente, o facto de a Atrelagem<br />
e o Volteio Artístico não serem abrangidos pela nova<br />
regra é considerado “estranho”, de acordo com o delegado<br />
holandês Maarten van der Heijden, Director e Secretário<br />
Geral da Federação Equestre Holandesa (KNHS).»<br />
Inicialmente proposta como<br />
uma regra com início a partir<br />
de 1 de Janeiro de 2021, a<br />
Holanda requisitou um adiamento<br />
de um ano, de modo<br />
a “criar realmente uma boa<br />
preparação para esta regra”,<br />
citando van der Heijden.<br />
Este tem sido um tópico sobre<br />
o qual, pessoalmente,<br />
tenho refletido bastante. Ao<br />
ler este comunicado da FEI,<br />
percebi de imediato as razões<br />
que levaram à proposta<br />
desta nova regra. No entanto,<br />
simultaneamente,<br />
senti que estamos a correr o<br />
risco de passar uma mensagem<br />
errada: a de que a Dressage,<br />
como desporto, pode<br />
ser perigosa.<br />
Eu próprio sou 100% apologista<br />
de que a segurança<br />
deve vir primeiro. É da minha<br />
responsabilidade como pai,<br />
treinador e empregador, garantir<br />
que os meus alunos,<br />
entre eles o meu filho, estão sempre seguros! Assim, concordo<br />
que as provas de Dressage deveriam exigir o uso<br />
obrigatório do toque, até ao nível do Grande Prémio.<br />
Enquanto preparamos cavalos jovens ou estamos no caminho<br />
para conquistar a harmonia perfeita com o nosso<br />
parceiro, devemos estar protegidos e utilizar equipamento<br />
de protecção adequado. A meu ver, a segurança surge<br />
pela relação de entendimento e confiança entre o cavalo<br />
e o cavaleiro. Acredito que a segurança se atinge ao construir<br />
uma relação com o nosso parceiro baseada na confiança<br />
e compreensão total, muito mais do que por usar<br />
equipamento de protecção. Ao nível do Grande Prémio, a<br />
sintonia entre ambos os atletas atinge o seu expoente<br />
máximo. Não penso que esta nova regra deva ser aplicada<br />
a provas de Grande Prémio, como obrigatória. Deveria<br />
ser dada aos cavaleiros a possibilidade de demonstrar o<br />
nível máximo de comunicação entre si e o seu cavalo durante<br />
a prova de Grande Prémio.<br />
Ut i l i z a r u m t o q u e<br />
d u r a n t e u m a Fr e e s t y l e<br />
d e Gr a n d e Pr é m i o<br />
é c o m o ir a u m a g a l a<br />
d e Óp e r a d e<br />
c a l ç õ e s e t é n i s<br />
Eu próprio monto os meus cavalos jovens de toque. Não<br />
obstante, irei sempre honrar os meus cavalos de Grande<br />
Prémio com um traje de gala e esse traje inclui, incontornavelmente,<br />
uma cartola.<br />
A liberdade de expressão deve ser permitida aos cavaleiros<br />
que, a este nível, mostram grande confiança e controlo<br />
absoluto sobre as suas montadas, ao executar movimentos<br />
de GP sincronizados na perfeição com as<br />
batidas da música.<br />
A este nível, a comunicação entre cavalo e cavaleiro não<br />
deve ter qualquer falha e o desporto atinge o seu expoente<br />
máximo, tornando-se muito mais que um desporto<br />
- é uma arte.<br />
Utilizar um toque durante<br />
uma Freestyle de Grande<br />
Prémio é, para mim, como ir<br />
a uma gala de Ópera de calções<br />
e ténis - chamem-me<br />
antiquado, mas uma das<br />
coisas que mais valorizo é a<br />
história, tradição e honra<br />
que sinto ao entrar na carriére<br />
vestido com a minha casaca<br />
de aba longa e cartola.<br />
O argumento principal da FEI<br />
assenta no facto de o Comité<br />
Médico priorizar a mudança<br />
de regras, promovendo o uso<br />
de toque como o seu foco na<br />
segurança dos atletas. No<br />
entanto, não consigo recordar<br />
nenhum acidente que tenha<br />
ocorrido durante uma<br />
prova de Grande Prémio.<br />
Esta nova regra, que assenta<br />
na promoção da segurança,<br />
faz ainda menos sentido ao<br />
permitir que as disciplinas<br />
individuais decidam se os<br />
seus cavaleiros podem ou não retirar os seus toques durante<br />
as entregas de prémios e quando tocam os hinos<br />
nacionais.<br />
É, no mínimo, irónico! Durante a prova, o cavalo está no<br />
seu nível máximo de concentração, uma performance<br />
onde o silêncio é absoluto e cavalo e cavaleiro são julgados<br />
como um só. Contudo, no preciso momento em que<br />
temos vários cavalos juntos, o público celebra com o<br />
aplausos e as voltas de honra levam a excitação ao máximo:<br />
é aqui que as regras permitem aos cavaleiros a decisão<br />
individual de retirar o toque.<br />
Aqui fica a minha proposta, como cavaleiro de Dressage<br />
que iniciou a sua carreira há 30 anos, dono de um grande<br />
sentido de tradição: quando chegamos ao Grande Prémio,<br />
deve ser permitido ao cavaleiro a liberdade de usar,<br />
ou não, a sua cartola! No final de contas, é uma escolha<br />
própria e uma liberdade poder expressar a nossa simbiose<br />
com o cavalo. m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 10 MAGAZINE