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29HORAS - Agosto 2020

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FOTO DIVULGAÇÃO<br />

TECNOLOGIA<br />

O “senhor” dos anéis<br />

Com seu enorme formato circular, acelerador de partículas Sirius<br />

consolida Campinas como capital da ciência nacional e produz as<br />

primeiras imagens em 3D de uma das principais proteínas do coronavírus<br />

POR KIKE MARTINS DA COSTA<br />

CAMPINAS É UM DOS PRINCIPAIS POLOS tecnológicos<br />

do país. Cerca de 15% de toda<br />

produção científica nacional é originária<br />

da cidade, que concentra centenas de entidades<br />

de pesquisa e empresas do setor<br />

de tecnologia. E a grande estrela dessa<br />

constelação é Sirius, um acelerador de<br />

partículas no formato de um gigantesco<br />

anel, do tamanho do estádio de futebol,<br />

com 518 m de circunferência, 15 m de<br />

altura e 68 mil m 2 de área construída.<br />

O nome Sirius é uma referência à estrela<br />

mais brilhante do céu noturno, e tem tudo<br />

a ver com o principal “produto” desse<br />

moderno laboratório: a geração de luz<br />

síncotron. Quando circulam pela estrutura,<br />

os feixes de elétrons formam raios de luz<br />

que ajudam na análise da estrutura de<br />

materiais orgânicos e inorgânicos, como<br />

rochas e células vivas, ao serem observados<br />

em um poderoso microscópio. As pesquisas<br />

feitas ali estão no limite do que a física<br />

permite e alcançam escalas mínimas, no<br />

nível das partículas elementares (átomos,<br />

moléculas e outros nanocomponentes).<br />

O projeto brasileiro tem a luz mais<br />

brilhante do mundo, de qualidade incomparável,<br />

e um zoom único. Apenas<br />

em Lund, na Suécia, existe outro equipamento<br />

tão potente. Por meio dos campos<br />

magnéticos, os elétrons são impulsionados<br />

até atingirem a velocidade de 1 bilhão de<br />

km/h. Os feixes de luz síncotron produzidos<br />

têm diâmetro 35 vezes menor do que<br />

o de um fio de cabelo.<br />

Na prática, aceleradores são usados<br />

para diversas aplicações na indústria e<br />

nas áreas de Física, Biologia, Medicina,<br />

Ciência dos Materiais e Química, entre<br />

outras. Na Saúde, permite um maior<br />

entendimento sobre bactérias e unidades<br />

intracelulares de organismos, etapa vital<br />

na fabricação de novos medicamentos e<br />

no combate de doenças como o câncer e o<br />

Mal de Alzheimer. Em julho, por exemplo,<br />

uma equipe do Sirius gerou imagens em<br />

3D das estruturas da 3CL, uma das principais<br />

proteínas do coronavírus e, com<br />

isso, cientistas terão novos elementos para<br />

descobrir como bloquear a replicação do<br />

Sars-CoV-2 dentro do corpo humano e<br />

encontrar a cura da Covid-19.<br />

Na área de Energia, o Sirius pode colaborar<br />

na criação de novas técnicas de<br />

exploração de petróleo e gás e no desenvolvimento<br />

de novos materiais, mais leves<br />

e eficientes, para a produção de baterias<br />

e para a geração de energia solar. Já na<br />

Agricultura, as pesquisas desenvolvidas<br />

ali auxiliam nas análises de solo e na<br />

descoberta de fertilizantes mais eficientes<br />

e ecológicos.<br />

Situado às margens da SP-340 (rodovia<br />

Adhemar de Barros), o Sirius integra o<br />

campus do Centro Nacional de Pesquisa<br />

em Energia e Materiais (CNPEM) e custou<br />

R$ 1,8 bilhão para ser construído. As<br />

obras começaram em 2012 e o início<br />

das operações deste marco da ciência<br />

e da pesquisa brasileira aconteceu em<br />

novembro de 2019.

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