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FOTO DIVULGAÇÃO<br />
TECNOLOGIA<br />
O “senhor” dos anéis<br />
Com seu enorme formato circular, acelerador de partículas Sirius<br />
consolida Campinas como capital da ciência nacional e produz as<br />
primeiras imagens em 3D de uma das principais proteínas do coronavírus<br />
POR KIKE MARTINS DA COSTA<br />
CAMPINAS É UM DOS PRINCIPAIS POLOS tecnológicos<br />
do país. Cerca de 15% de toda<br />
produção científica nacional é originária<br />
da cidade, que concentra centenas de entidades<br />
de pesquisa e empresas do setor<br />
de tecnologia. E a grande estrela dessa<br />
constelação é Sirius, um acelerador de<br />
partículas no formato de um gigantesco<br />
anel, do tamanho do estádio de futebol,<br />
com 518 m de circunferência, 15 m de<br />
altura e 68 mil m 2 de área construída.<br />
O nome Sirius é uma referência à estrela<br />
mais brilhante do céu noturno, e tem tudo<br />
a ver com o principal “produto” desse<br />
moderno laboratório: a geração de luz<br />
síncotron. Quando circulam pela estrutura,<br />
os feixes de elétrons formam raios de luz<br />
que ajudam na análise da estrutura de<br />
materiais orgânicos e inorgânicos, como<br />
rochas e células vivas, ao serem observados<br />
em um poderoso microscópio. As pesquisas<br />
feitas ali estão no limite do que a física<br />
permite e alcançam escalas mínimas, no<br />
nível das partículas elementares (átomos,<br />
moléculas e outros nanocomponentes).<br />
O projeto brasileiro tem a luz mais<br />
brilhante do mundo, de qualidade incomparável,<br />
e um zoom único. Apenas<br />
em Lund, na Suécia, existe outro equipamento<br />
tão potente. Por meio dos campos<br />
magnéticos, os elétrons são impulsionados<br />
até atingirem a velocidade de 1 bilhão de<br />
km/h. Os feixes de luz síncotron produzidos<br />
têm diâmetro 35 vezes menor do que<br />
o de um fio de cabelo.<br />
Na prática, aceleradores são usados<br />
para diversas aplicações na indústria e<br />
nas áreas de Física, Biologia, Medicina,<br />
Ciência dos Materiais e Química, entre<br />
outras. Na Saúde, permite um maior<br />
entendimento sobre bactérias e unidades<br />
intracelulares de organismos, etapa vital<br />
na fabricação de novos medicamentos e<br />
no combate de doenças como o câncer e o<br />
Mal de Alzheimer. Em julho, por exemplo,<br />
uma equipe do Sirius gerou imagens em<br />
3D das estruturas da 3CL, uma das principais<br />
proteínas do coronavírus e, com<br />
isso, cientistas terão novos elementos para<br />
descobrir como bloquear a replicação do<br />
Sars-CoV-2 dentro do corpo humano e<br />
encontrar a cura da Covid-19.<br />
Na área de Energia, o Sirius pode colaborar<br />
na criação de novas técnicas de<br />
exploração de petróleo e gás e no desenvolvimento<br />
de novos materiais, mais leves<br />
e eficientes, para a produção de baterias<br />
e para a geração de energia solar. Já na<br />
Agricultura, as pesquisas desenvolvidas<br />
ali auxiliam nas análises de solo e na<br />
descoberta de fertilizantes mais eficientes<br />
e ecológicos.<br />
Situado às margens da SP-340 (rodovia<br />
Adhemar de Barros), o Sirius integra o<br />
campus do Centro Nacional de Pesquisa<br />
em Energia e Materiais (CNPEM) e custou<br />
R$ 1,8 bilhão para ser construído. As<br />
obras começaram em 2012 e o início<br />
das operações deste marco da ciência<br />
e da pesquisa brasileira aconteceu em<br />
novembro de 2019.