ECONOMIA INOVAÇÃO TECNOLOGIA INCLUSIVA O T@ablet comunitário, uma inovação moçambicana, utiliza a tecnologia para levar a escola à comunidade rural mais remota. As enormes janelas digitais de um contentor que vai a todo o lado disponibilizam informação e conhecimento através de aulas, animações e videoconferências LUÍS FARIA 44 | Exame Moçambique
A criatividade prática dos inovadores africanos está a tornar-se a sua imagem de marca internacional. Dayn Amade, o moçambicano que criou o tablet comunitário, já tem o seu invento patenteado. Onde as distâncias são grandes , como em África, é muito difícil a inclusão das comunidades rurais na sociedade da informação e do conhecimento. Dayn Amade encontrou uma solução imaginativa e simples para reduzir o fosso que afasta as comunidades mais remotas da aprendizagem, convicto da ideia de que esta é indispensável num mundo digitalizado, assente no conhecimento e na informação, e em que se vive uma verdadeira revolução da economia, com a aplicação das novas tecnologias aos diferentes sectores de actividade. Não há qualquer tipo de dúvida de que a sociedade perde qualidade com a iliteracia. A solução do T@ablet Comunitário para levar literacia às comunidades mais remotas consiste, fisicamente, num atrelado (trolley), onde assenta um contentor cuja janelas são alta tecnologia. Pode ser transportado para todos os lados e por todos os caminhos e utiliza as fontes de energia mais adequadas, em custo e autonomia. As unidades do projecto são alimentadas a energia solar, que substituiu o diesel que as fazia mover inicialmente. O que pode fazer pelas populações a alta tecnologia instalada num contentor com cada vez maior mobilidade, dada a autonomia ganha com a adopção de energia solar e muito versátil movimentação, podendo ser levado tanto por animais de tracção como por unidades motorizadas? Quase tudo. Desde a literacia financeira à área da saúde. Face à contingência pandémica o T@ablet Comunitário já fez chegar, na província de Maputo, a centenas de pessoas informação sobre o combate à COVID-19. Aquela que pode ser classificada como a primeira escola digital contém um LCD “touchscreen” de 100 polegadas, quatro monitores tácteis, webcams, um sistema de impressão dos mais variados tipos de cartões e ainda um frigorífico para remédios e vacinas. O projecto tem recorrido muito a animação para comunicar os diferentes temas e tem também disponibilizado aos seus auditórios videoconferências. Nas diferentes campanhas do tablet comunitário foram já envolvidas cerca de 2,4 milhões de pessoas, revela Dayn Amade em entrevista que publicamos nesta edição. Em campo desde 2015, as unidades do T@ablet Comunitário já desenvolveram diferentes campanhas, desde a educação financeira à contracepção e HIV-SIDA. Aulas e conferências por vídeo envolveram, na campanha de educação financeira, 22 distritos, 43 escolas e a participação de 1 370 estudantes. Na campanha virada para a contracepção e o HIV, após as aulas e as conferências efectuadas por vídeo os estudantes eram convidados a testar o respectivo nível de conhecimento através de um “Quiz” (basicamente um questionário destinado a exercitar a mente) instalado no Tablet Comunitário. A campanha envolveu 18 distritos, 54 locais públicos, 89 escolas e 7 242 jovens. O T@ablet comunitário e o T@ablet Comunitário TV foram ainda o suporte da campanha de educação cívica realizada pelo STAE - Secretariado Técnico de Administração Eleitoral. O projecto utiliza a “gamification technology”, actualmente muito empregue no ensino e que promove o maior envolvimento dos alunos, recorrendo à lógica dos jogos. Tal permite obter retorno das acções realizadas, possibilitando aos parceiros informações sobre quem captou e não captou as informações transmitidas, o que é que foi apreendido e o modo como o comportamento das pessoas pode ser afectado pelas novas informações. Face à emergência da pandemia, o Tablet Comunitário, com o apoio da organização para o desenvolvimento industrial das Nações Unidas (UNIDO) e do “Global Environment Facility” – fundo global para o ambiente (GEF), está a conduzir campanhas digitais de combate à propagação do vírus junto de comunidades que, de outro modo, seriam excluídas da informação digital. “A necessidade de medidas inovadoras para fazer chegar às comunidades a mensagem de como prevenir a propagação da pandemia não CRIAÇÃO MOÇAMBICANA O Tablet Comunitário foi criado pelo empresário moçambicano Dayn Amade, movido pela ambição de reduzir a exclusão digital em África. O grande objectivo do projecto é capacitar as pessoas que vivem em comunidades rurais através da educação. Dayn Amade lidera a Kamaleon Eventos Tecnológicos, uma empresa moçambicana composta e criada por jovens moçambicanos. Com direitos de design registados no UK Intellectual Property Office – o Tablet Comunitário fez-se ao caminho primeira vez em 2015. Tem como parceiras organizações governamentais e não governamentais como a Universidade Eduardo Mondlane, o CNE, o STAE, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, o Ministério de Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico e Profissional, o FSDMo. e o PSI Moçambique. Tem contado ainda no desenvolvimento das suas campanhas com o envolvimento de personalidades destacadas, como é o caso de Graça Machel. pode ser subestimada em tempos como aqueles que vivemos. Recorrendo à energia solar, podemos disponibilizar informação digital em formato vídeo, o que torna muito mais fácil às comunidades rurais compreenderem a mensagem relativa à COVID-19”, acentua Dayn Amade, citado pela UNIDO. Foi a UNIDO que apoiou o projecto com 10 kits solares, permitindo que a iniciativa transitasse do diesel para a energia solar. Os kits solares consistem em cinco painéis solares de 250 watts, um inversor híbrido de 3 KW, quatro baterias 200AH e acessórios. Todas as dez tablets comunitárias foram convertidas à energia solar, existindo já a ideia, com implementação atrasada pela pandemia, de produzir um terminal comunitário anfíbio.b agosto/setembro 2020 | 45