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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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22 Adalgisa Borsato

reclamações das alunas quanto aos abusos do monsenhor.

Até o dia em que o médico desceu as escadas, sentou-se no sofá da

antessala, colocou as mãos no rosto e chorou copiosamente.

Subi correndo as escadas, entrei no quarto de Justina, tomei suas

mãos e percebi que ela ainda vivia. Me aproximei de sua face pálida e

coloquei o ouvido rente a seus lábios e ela murmurou:

O monsenhor não é um homem de Deus.

Depois, ela se calou para sempre.

Meus dias que seguiram na Casa foram para investigar os procedimentos

duvidosos do padre e do capelão. Com muito cuidado, seguia

os passos dos dois e, quando o monsenhor chamava alguma aluna em

sua sala, eu ia para o jardim e ficava espiando pela janela, discretamente.

Assustado, vi condutas reprováveis de assédio às meninas e, sem

pensar, teci um plano. Convidei a polícia e o governador para fazermos

um confronto inesperado na sala do padre.

Após abrirmos a porta com uma chave reserva, encontramos uma

aluna encostada na parede e o capelão tentando pular a janela. O seguramos

e começamos interrogar onde estaria o monsenhor. Ele, pálido,

apontou para a janela que dava para o jardim. Corremos e vimos o

padre já distante, saindo para a rua.

Analisei aquela situação: quando Justina apareceu grávida, tive momentos

de insensatez, maus pensamentos mesmo, imaginando quem

teria abusado dela.

Seria o jardineiro, o jornaleiro, algum soldado daquela guerra infame. Seria

seu próprio pai? Ou os padres? Porque a mulher tem sido desrespeitada há séculos,

por pessoas estranhas ou próximas.

Com as palavras de Justina, tudo ficou claro e evidente. Enquanto a

polícia prendia os padres, fui ao meu quarto para pegar meus pertences

e partir. Não conseguiria ficar na Casa depois do ocorrido com Justina.

Saí apressado e, ao chegar na primeira cidade, sentei-me num bar

para tomar café. Peguei emprestado um jornal. Abri. As fotos dos dois

padres estavam estampadas — eles eram, na verdade, dois carrascos

remanescentes de guerra. Disfarçados de autoridades eclesiásticas, continuaram

cometendo atrocidades desumanas (tal e qual eram).

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