Jornal Construindo - Ed. 24
Novembro de 2019
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A Igreja em
Sínodo
Nestes dias 6 a 27 de outubro reúnem-se
com o Santo Padre o Papa Francisco em
Roma, bispos da Região Pan-amazônica
com outros convidados, sacerdotes,
religiosos, leigos e “amigos da casa
comum”. A Igreja em sínodo, isto é “fazendo unida o
Caminho”, busca discernimento, sob a ação do Espírito
Santo para o futuro da evangelização na Amazônia
(realidade geográfica e humana que abrange diversos
países da América do Sul).
Retomamos do Papa Francisco suas palavras na
abertura dos trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo
dos Bispos para a Região Pan-amazônica sobre
o tema: “Novos caminhos para a Igreja e para uma
ecologia integral” (7 de outubro de 2019): “O Sínodo
para a Amazônia, podemos dizer que tem quatro dimensões:
a dimensão pastoral, a dimensão cultural,
a dimensão social e a dimensão ecológica. A primeira,
a dimensão pastoral, é aquela que é essencial, aquela
que compreende tudo. Nós a afrontamos com um
coração cristão e olhamos para a realidade da Amazônia
com olhos de discípulos para compreendê-la
e interpretá-la com olhos de discípulos, porque não
existe hermenêutica neutra, hermenêutica assética,
são sempre condicionadas de uma opção prévia, a
nossa opção é aquela de discípulos. E também com
olhos de missionários, porque o amor que o Espírito
Santo colocou em nós nos impulsiona ao anúncio de
Jesus Cristo; um anúncio — o sabemos todos — que
não se confunde com proselitismo. Nós procuramos
nos confrontar com a realidade da Amazônia com este
coração pastoral, com olhos de discípulos e de missionários,
porque aquilo que nos apressa é o anúncio
do Senhor.”
E por isto mesmo, se coloca diante do homem
que vive na Amazônia, com uma precisa atitude: “E
além disso nos aproximamos dos povos amazônicos
em ponta de pé, respeitando a sua história, as suas
culturas, e seu estilo de bom viver no sentido etimológico
da palavra, não no sentido social que muitas
vezes atribuímos a eles, porque os povos têm uma
própria identidade, todos os povos têm uma sua
sabedoria, uma consciência de si, os povos têm um
modo de sentir, um modo de ver a realidade, uma
história, uma hermenêutica e tendem a ser protagonistas
de sua história com estas coisas, com estas
qualidades. E nós nos aproximamos estranhos a
colonizações ideológicas que destroem ou reduzem
as especificidades dos povos. As colonizações ideológicas
são hoje muito difusas. E nos aproximamos
sem ânsia imprenditorial de propor a eles programos
pré confeccionados, de “disciplinar” os povos amazônicos,
de disciplinar a sua história, a sua cultura; ou
seja, aquela ânsia de “domesticar” os povos originários.
Quando a Igreja se esqueceu disto, isto é de se
aproximar de um povo, não se inculturou; e chegou
de fato a desprezar certos povos. E quantos erros dos
quais hoje nos arrependemos.
Não vimos aqui para inventar programas de
desenvolvimento social ou de guarda de culturas, de
tipo de museu, ou de ações pastorais com o estilo não
contemplativo com o qual se estão levando em frente
as ações de sinal oposto: desflorestamento, uniformação,
desfrutamento. Fazem também programas
que não respeitam a poesia – me permito dize-lo -, a
realidade dos povos que é soberana. Devemos também
nos guardar da mundanidade no modo de exigir
pontos de vista, mudanças na organização. A mundanidade
se infiltra sempre e nos faz nos distanciar da
poesia dos povos.”
E diante disto, Papa Francisco recorda a missão
da Igreja e seu modo de agir, conforme a ação divina
que nela se realiza: “Vimos para contemplar, para
compreender, para servir os povos. E o fazemos percorrendo
um caminho sinodal, o fazemos em sínodo,
não em mesas redondas, não em conferências e ulteriores
discussões: nós o fazemos em sínodo, porque
um sínodo não é um parlamento, não é um parlatório,
não é demostrar que há mais poder nas mídias
e que não mais poder na rede, para impor qualquer
ideia ou qualquer plano. Isto configuraria uma Igreja
congregacionista, se entendemos procuramos por
meio de sondagem o que tem maioria. Ou uma Igreja
sensacionalista longe, distante da nossa Santa Mãe
Igreja católica, ou como amava dizer Santo Inácio: “a
nossa Santa Mãe Igreja hierárquica”. Sínodo é caminhar
junto sob a inspiração e guia do Espírito Santo. O
Espírito Santo é o autor principal do sínodo. Por favor,
não o expulsemos desta sala. Foram feitas consultas,
discutiu-se nas Conferências episcopais, no Conselho
pré-sinodal, foi elaborado um Instrumentum Labores
que, como sabeis, é um texto-mártir, destinado a ser
destruído, porque é o ponto de partida para aquilo
que o Espírito fará em nós. E agora caminhamos sob
a guia do Espírito Santo. Agora devemos consentir
ao Espírito Santo que se exprima nesta assembleia,
que se exprima entre nós, que se exprima conosco,
através de nós, que se exprima “apesar” de nós, não
obstante as nossas resistências, que é normal que
existam, porque a vida do cristão é assim.
Portanto, qual será o nosso trabalho aqui, para
assegurar que esta presença do Espírito Santo seja
fecunda? Antes de tudo, rezar. Irmãos e irmãs, eu
vos peço que rezem muito. Refletir, dialogar, escutar
com humildade, sabendo que eu não sou tudo.
E falar com coragem, com parresía, também se me
envergonharei fazê-lo, direi o que sinto, discernirei, e
tudo isto aqui dentro, guardando a fraternidade que
deve existir aqui dentro, para favorecer esta atitude
de reflexão, oração, discernimento, de escuta com
humildade, e falar com coragem. …
Enfim, estar no sínodo significa encorajar-se
para entrar em um processo. Não é ocupar um espaço
dentro da sala. Entrar em um processo. E os processos
eclesiais têm uma necessidade: devem ser protegidos,
cuidados como uma criança, acompanhados no
início, cuidados com delicadeza. Têm necessidade do
calor da comunidade; têm necessidade do calor da
Mãe Igreja. É assim que um processo eclesial cresce.
Por isto a atitude de respeito, de cuidar do clima fraterno,
a atmosfera de intimidade é importante. Trata-
-se de não se colocar tudo fora, assim como vem. …
mas de delicadeza e prudência na comunicação que
faremos …”
Estas palavras dão o sentido de tudo o que se
faz no processo sinodal que deverá colher das orientações
do próprio Espírito de Deus que age em sua
Igreja as luzes e forças para novos caminhos da ação
evangelizadora da Igreja na Amazônia e de uma proposta
de ecologia que seja integral, humana, iluminada
pelo Evangelho.
Mais ainda, nesta experiência eclesial de sínodo,
o caminhar juntos, grande luz se apresenta para
tantos outros níveis da vida e ação eclesial em todo
o mundo. Como caminhar juntos, em sinodalidade,
também nas Conferências Episcopais, nas Igrejas
particulares, nas paróquias e comunidades eclesiais,
em todos os âmbitos da convivência eclesial, que para
serem verdadeiros, sempre deverão ser guiados na
universal comunhão da Igreja, pela unidade que vem
da presença do Espírito Santo, o Amor de Deus, que
age em seu povo.
Rezemos e nos unamos à Igreja em sínodo. Peçamos
a presença atuante do Espírito do Senhor, prometido
à Sua Igreja: “Eis que estou convosco todos os
dias, até o fim dos tempos”. (Mt 28,20)
Esperamos colher os frutos da presença do Espírito
que fala à Igreja: “Quem tem ouvidos, ouça o que
o Espírito diz às igrejas.” (Apc 2,7.11.17.29; 3,6.13.22.)
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza
FONTE: Página da Arquidiocese de Fortaleza.