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ADVIR40

A Revista Advir (edição 40) é uma publicação da Associação de Docentes da UERJ.

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Advir - Além dessa questão a que você chama

de devastação social, o período recente agravado

por essas reformas no trabalho, a gente ainda

tem um contexto, no último ano da década,

da pandemia. Então a pandemia parece que vem

para selar essa devastação social que você coloca.

Aí eu queria já emendar uma outra questão,

porque agora, em 2020, você publicou um outro

livro, um e-book, pela Boitempo, intitulado

Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado, que trata

desse período específico que a gente está atravessando,

da pandemia, que você tem chamado

Eu até digo

provocativamente

no livro que há

afinidades

eletivas e

destrutivas

entre Temer

e Bolsonaro

de “capitalismo pandêmico”, “capitalismo virótico”. Então como você

vê a atual situação da classe trabalhadora, já tão agravada nesse período

recente, agravada ainda mais agora nesse contexto da pandemia?

Como você vê isso agora e no futuro pós-pandemia?

Ricardo Antunes - A primeira ideia que eu apresento no ebook

Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado, e é muito importante reafirmála,

é a de que não foi a pandemia quem criou a tragédia econômica de,

digamos assim, de derrelição, de desmonte, de corrosão do trabalho.

Ela é anterior! Inclusive a proposta da previdência é anterior à

pandemia, a última medida mais devastadora desse ciclo Temer/

Bolsonaro. Eu até digo provocativamente no livro que há afinidades

eletivas e destrutivas entre Temer e Bolsonaro. Aliás, Bolsonaro cada

vez mais se parece com o pior do passado brasileiro, com o mais nefasto.

Não tem nada de diferente, como todos nós já sabíamos, e o que ele

tem de diferente vai no sentido ditatorial, autocrático, já falamos disso

aqui. Mas não foi a pandemia que criou a tragédia social brasileira. Em

fevereiro de 2020, nós já tínhamos um nível alto de informalidade,

altíssimo, em torno de 40%, vamos arredondar pra cima. Como é que

pode uma classe trabalhadora com 40% na sua informalidade? Como é

que pode uma classe trabalhadora que tinha níveis já altos de desemprego?

Onze, doze, treze milhões, se formos pegar o período de dezembro

até agora, e já estamos chegando a 14 milhões. Antes da

pandemia, nós já tínhamos níveis alto de desemprego, subemprego e

desemprego por desalento. O que a pandemia fez, Amanda, foi

descortinar, desnudar e exasperar, ou seja, intensificar esse processo

de destruição social. Por quê? Desde 1973, eu mostro isso no Sentidos

do trabalho e no Privilégio da servidão, para pegar dois textos que marcam

e tratam de uma problemática assemelhada. Desde 1973, nós

adentramos num período de crise estrutural do capital, nasceu ali, e

essa crise estrutural foi desenhada por um tripé, uma trípode muito

destrutiva: neoliberalismo, hegemonia do capital financeiro e o mundo

maquínico informacional digital, que passou a funcionar tal qual

Advir • dezembro de 2020 • 33

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