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SCMedia News | Revista | Novembro 2020

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Nov’ <strong>2020</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

16<br />

Sonae MC<br />

Antecipar o<br />

inesperado<br />

A resiliência da<br />

Coca-Cola<br />

The golden circle no<br />

procurement<br />

Feliz aniversário,<br />

Gigaliner<br />

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Leroy Merlin<br />

Agilizar operações<br />

e optimizar fluxos


Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

editorial<br />

Da incógnita dos dias<br />

“Projectar um avião não é nada. Construi-lo é alguma coisa. Fazê-lo voar é tudo.”<br />

Otto Lilienthal<br />

A pandemia pode até ter tomado conta<br />

do mundo e do nosso dia-a-dia, mas há que<br />

reconhecer que no meio de tantas coisas com<br />

que não contávamos, até não nos temos saído<br />

nada mal. E, mais importante, há mudanças<br />

que aconteceram entretanto e que nos podem<br />

ajudar a pensar e desenhar um futuro melhor.<br />

Seja com mais flexibilidade no trabalho, seja<br />

tirando mais partido do potencial de toda a<br />

tecnologia que temos ao nosso alcance, seja<br />

com maior sentido da responsabilidade de<br />

todos e de cada um nessa palavra grande e<br />

complicada que é a sustentabilidade, seja<br />

porque, com todas as contradições e da forma<br />

mais dura, parece que percebemos que, afinal,<br />

isto anda MESMO tudo ligado.<br />

Claro que a pandemia não está a tratar<br />

todos por igual, já o sabemos. Uns perdem,<br />

e muito, outros ganham, bastante também;<br />

e outros há que não perdem tempo e<br />

prosseguem os investimentos delineados e até<br />

antecipam outros.<br />

Nesta edição contamos-lhes algumas<br />

histórias felizes e exemplares disso mesmo:<br />

investimentos e melhorias nas cadeias de<br />

abastecimento. É que, com mais ou menos<br />

restrições, o mundo não pára. Por isso,<br />

Leroy Merlin, Sonae MC, Coca-Cola, Parfois,<br />

Henkel, Profarin ou o gigaliner da Volkswagen<br />

Autoeuropa um ano depois são apenas alguns<br />

exemplos de empresas que continuam a<br />

apostar na modernização das suas cadeias de<br />

abastecimento para responder de forma ágil<br />

e atempada ao mercado e aos clientes, de<br />

preferência com uma visão sustentável.<br />

Há quem diga que a palavra de <strong>2020</strong> é<br />

pandemia. Coronavírus ou confinamento,<br />

para outros. Layoff, para alguns. Vacina para<br />

muitos. Pela parte que nos toca, mais do que<br />

“incerteza” é “incógnita” a palavra que domina<br />

os nossos dias. Foi ela que nos obrigou ao<br />

distanciamento e ao trabalho remoto, que<br />

nos levou a desmarcar entrevistas, a adiar<br />

conferências, a planear à semana e até ao<br />

dia, contra todas as regras de gestão, mas em<br />

consonância com as de saúde pública.<br />

E é com incógnita que olhamos para 2021,<br />

ano que está aí à porta, mas no qual temos a<br />

certeza que queremos entrar. Nem poderia ser<br />

de outro modo. Em tempos de incógnita, o que<br />

se faz?<br />

Só talvez perguntar o que ficará de todas<br />

estas aprendizagens e olhar para a frente com<br />

confiança. Por isso, venha connosco conhecer<br />

os temas, as empresas e as pessoas que este<br />

mês nos ajudaram a olhar para o futuro. De<br />

forma positiva e com uma convicção: tudo<br />

passa. E isto que estamos a viver também.


4<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

#14 #26 #42<br />

índice<br />

procurement<br />

The golden circle 34<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Volume de negócios das empresas<br />

diminui devido à COVID-19 6<br />

logística<br />

Leroy Merlin: Agilizar operações e<br />

optimizar fluxos 8<br />

HENKEL tem novo centro<br />

logístico automatizado 14<br />

Sonae MC: antecipar o inesperado 17<br />

A resiliência da Coca-Cola 23<br />

Prémios ELA: SMILE distinguido<br />

pela excelência logística 26<br />

IMBS: O panorama<br />

do sector logístico 30<br />

Inovação no processo<br />

de procurement 38<br />

Transparência das compras<br />

públicas na China 42<br />

intralogística<br />

Supply chain autónoma: desafios,<br />

benefícios e fatores de sucesso 46<br />

Parfois reforça aposta logística 50<br />

tecnologias<br />

Janela Única Alfandegária 52<br />

As fábricas inteligentes já não<br />

são do futuro, são do presente 56<br />

A gestão documental nos<br />

transportes e logística 61


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

transportes<br />

Feliz aniversário, Gigaliner 66<br />

Parceria MGC Transitários/Efacec<br />

leva luz ao Ruanda 68<br />

carreira<br />

#64 #68<br />

Profarin migra para SAP S/4Hana<br />

com a Milestone 64<br />

Recrutamento especializado em supply chain 70<br />

O futuro e os resultados estarão<br />

do lado dos audazes 74<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Sara Monte e Freitas - Stocks:<br />

uma nova realidade 76<br />

o mundo é redondo<br />

TED Ideas worth spreading 2005,<br />

“O paradoxo da escolha” 78<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Circulação & Eventos _<br />

Inês Ferreira<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

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Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao novo Acordo Ortográfico


6 novembro <strong>2020</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

COVID-19<br />

Volume de negócios<br />

das empresas diminui devido<br />

à COVID-19<br />

200 empresas responderam ao inquérito da<br />

Associação Têxtil e Vestuário de Portugal<br />

(ATP) sobre o impacto da COVID-19 nas<br />

suas actividades, as expectativas e medidas.<br />

A grande maioria das organizações são de<br />

pequenas (38%) ou médias (35%) dimensões,<br />

com um volume de negócios até aos 50<br />

milhões de euros.<br />

O inquérito mostra que cerca de 30% das<br />

empresas espera uma redução até metade do<br />

seu volume de negócios no último trimestre,<br />

enquanto 29% apontam que essa redução irá<br />

até aos 25%. Por sua vez, 17% estimam perdas<br />

superiores a 50%, e menos de 19% dizem não<br />

sentir qualquer redução.<br />

Em termos homólogos, as expectativas<br />

para o primeiro trimestre de 2021 alinham-se<br />

no mesmo registo, com 26% das empresas a<br />

apontarem perdas até 50% e 29% a estimarem<br />

que não ultrapassarão os 25% do volume de<br />

negócios. 17% espera manter o volume de<br />

negócios idêntico ao mesmo período do ano<br />

corrente.<br />

Quanto ao impacto do emprego no final do<br />

presente ano, a grande maioria (63%) afirma<br />

que não teve qualquer redução, apontando<br />

apenas 10% das empresas reduções entre<br />

um quarto e metade do pessoal. 3% referem<br />

uma redução superior a 50% no número de<br />

funcionários. •


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8 <strong>Novembro</strong> <strong>2020</strong><br />

logística<br />

Leroy Merlin<br />

Texto: Dora Assis<br />

Fotos: Daniela Moço<br />

Leroy Merlin: Agilizar<br />

operações e optimizar<br />

A fusão de duas insígnias, como aconteceu<br />

com as lojas Aki e Leroy Merlin, nunca é tarefa<br />

fácil. Com a integração já em velocidade de<br />

cruzeiro, os desafios são muitos, bem como os<br />

projectos em curso com impacto na cadeia de<br />

abastecimento visando uma gestão eficiente,<br />

tanto na lógica B2B como B2C. O projecto que<br />

envolve as Smartboxes da Rotom Portugal é<br />

um deles e foi o pretexto para ficarmos a saber<br />

mais sobre o que está a mudar na supply chain<br />

do retalhista.<br />

fluxos<br />

Em Portugal, Leroy Merlin e Aki, apesar de<br />

insígnias do mesmo grupo, actuavam de<br />

forma independente, sendo que ao universo<br />

do DYI, decoração e jardim a Leroy Merlin<br />

acrescentava o segmento da construção.<br />

Ainda que actuassem no mesmo mercado, as<br />

suas estratégias eram diferentes e bastante


SCM Supply Chain Magazine<br />

9<br />

complementares. Também ao nível dos<br />

formatos de loja as diferenças existiam. A<br />

primeira com grandes superfícies localizadas<br />

preferencialmente nas zonas limítrofes de<br />

grandes centros urbanos e a segunda com<br />

lojas de pequena e média dimensão e mais<br />

próximas do centro.<br />

Por isso, todo o processo de fusão foi<br />

acompanhado da necessidade de optimização<br />

de processos, aproveitamento dos recursos<br />

existentes, melhoria da capacidade de<br />

resposta, numa lógica de complementaridade.<br />

No fundo, unificar as operações e responder ao<br />

desafio do multiformato, bem como ao plano<br />

de expansão delineado.<br />

Estamos com José Miranda, director de<br />

operações de supply chain da Leroy Merlin, e<br />

o movimento de empilhadores e porta-paletes<br />

é grande à medida que vamos avançando pelo<br />

centro logístico. E o ritmo e velocidade das<br />

operações também. Equipamentos e soluções<br />

para jardim; portas; materiais para pintura;<br />

que vão do balde de tinta ao rolo ou à trincha;<br />

mas também produtos mais pequenos como<br />

equipamentos de iluminação ou lâmpadas…<br />

são apenas alguns exemplos do que se vê por<br />

ali, ainda em movimento ou já devidamente<br />

acondicionados em Smartboxes e na sua<br />

localização de saída para a respectiva loja.<br />

Gerir a mudança<br />

O responsável de supply chain da Leroy Merlin<br />

chama João Miranda para se juntar à conversa,<br />

explicando que o João era director de loja Aki<br />

e foi uma peça fundamental para a mudança<br />

acontecer, fruto do conhecimento profundo da<br />

realidade Aki e dando um contributo precioso<br />

para a logística da cadeia de distribuição<br />

passar para a nova realidade.<br />

A verdade é que como salienta José<br />

Miranda há uma diferença enorme. “Desde<br />

gestos administrativos, à percepção da loja,<br />

passando pela forma como as lojas estavam<br />

estruturadas e organizadas. É outro mindset”,<br />

diz-nos. “Eram lojas muitos enxutas em<br />

que o próprio funcionário que estava na<br />

caixa poderia fazer também reposição ou<br />

recepcionar as mercadorias. A estratégia da<br />

Leroy Merlin é diferente, vai mais pela venda,<br />

pela primeira linha. Ou seja, foi necessário<br />

uma mudança de chip. Estamos a falar de<br />

pessoas que recebiam caixas, e hoje recebem<br />

paletes com madeiras, com aquecimentos…”.<br />

Há cerca de um ano atrás, a Leroy Merlin<br />

e a Rotom Portugal estabeleceram uma<br />

parceria para a utilização nas operações de<br />

movimentação e transporte do retalhista de<br />

Smartboxes. Miguel Correia, managing partner<br />

da Rotom Portugal começa por dizer que esta<br />

parceria é bastante “exemplificativa do que<br />

fazemos actualmente: vamos às empresas,<br />

observamos os processos relacionados<br />

com equipamentos para a logística e<br />

armazenamento, fazemos propostas de<br />

produtos, os clientes podem aceitar ou não, e<br />

esta “consultadoria” é gratuita”.<br />

Na verdade, no caso da Leroy Merlin, a<br />

parceria aconteceu pela necessidade de<br />

optimizar camiões e servir as lojas com mais<br />

picking e mais unidades, ao invés dos grandes<br />

volumes. “A utilização das boxes permite-nos<br />

acondicionar mercadorias que em paletes iria<br />

ser difícil”, explica João Miranda, que esteve<br />

envolvido no projecto desde o início. “Além da<br />

optimização do espaço no transporte, também<br />

se revelam úteis na logística inversa pois o<br />

retorno faz-se a custos muito interessantes,<br />

além, claro, de um aspecto fundamental: o<br />

correcto acondicionamento das mercadorias<br />

no transporte e distribuição”, acrescenta José<br />

Miranda.


10 novembro <strong>Novembro</strong> <strong>2020</strong><br />

Facilidade de manuseamento<br />

Quanto à aceitação deste tipo de soluções no<br />

mercado, o responsável da Rotom Portugal<br />

sublinha que “de entre outros aspectos, as<br />

caixas são um produto muito solicitado pela<br />

facilidade de manuseamento”. É que um<br />

trabalhador consegue montar e desmontar<br />

sozinho a box e, por outro lado, “há também<br />

o aspecto da logística inversa, mencionado<br />

pelo José Miranda, e do aforro que permitem<br />

no transporte, por serem rebatíveis, além de<br />

robustas e com uma boa capacidade de carga”.<br />

A eleição dos meios de carga correctos é<br />

essencial para a segurança no transporte, seja<br />

uma palete em madeira, um roll container<br />

ou uma caixa como as Smartbox. Por isso,<br />

Miguel Correia esclarece que “a Rotom,<br />

com as suas soluções sustentáveis, ajuda<br />

a melhorar a cadeia de abastecimento e<br />

a economizar custos, nomeadamente ao<br />

retornar embalagens vazias dos destinatários,<br />

ajudamos as empresas a tornar o seu<br />

processo logístico mais sustentável. Por outro<br />

lado, como podemos fazer a manutenção<br />

destes equipamentos, aumentamos a sua<br />

durabilidade, reduzindo custos operacionais e<br />

beneficiando o meio ambiente. É que muitos<br />

dos nossos meios de carga são reutilizáveis”.<br />

Actualmente são 300 as boxes que estão<br />

ao serviço desta operação de picking by<br />

line da Leroy Merlin. No seu já perfeito<br />

“Leroy Merlinês”, João Miranda conta que<br />

“é uma operação que veio responder às<br />

necessidades das lojas proxi e MSB”, as proxi<br />

são as lojas ex-Aki, e as MSB designam as<br />

médias superfícies de bricolage, ou seja, lojas<br />

intermédias entre os dois formatos, como é<br />

por exemplo o caso de Oeiras. Detalhando<br />

este projecto, João Miranda explica que com<br />

esta solução conseguem responder melhor<br />

“à necessidade que existia pelo facto de<br />

algumas lojas não atingirem o porte franco,<br />

ou seja, pelo baixo valor da encomenda não<br />

terem capacidade de absorver encomendas<br />

directas de fornecedores. Por outro lado, isto<br />

tinha implicações na taxa de ruptura pois<br />

teríamos que deixar baixar muito os stocks<br />

para poder conseguir chegar ao mínimo<br />

do porte franco, fazer a encomenda ao<br />

fornecedor e, consequentemente, aumentar<br />

o prazo de entrega. Com esta solução, faz-se<br />

uma encomenda única ao fornecedor, que é<br />

recepcionada por nós e que depois através<br />

da nossa aplicação interna se desmultiplica o<br />

total de uma encomenda pelas necessidades<br />

das várias lojas, de acordo com a informação<br />

fornecida pelo nosso RAP (sistema de<br />

reaprovisionamento automático) que, como<br />

o próprio nome indica, não tem intervenção<br />

humana”.


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

José Miranda aproveita para acrescentar<br />

que “basicamente foi criada uma loja virtual<br />

– é um passo intermédio, numa fase em que<br />

está também a ser implementado o portal<br />

colaborativo da Generix que é o ERP de<br />

loja - que vai consolidar as necessidades de<br />

todas as lojas, disparar as encomendas para<br />

os fornecedores e, quando estas chegam<br />

ao centro logístico, a aplicação o que faz<br />

é “beber” essa informação, passá-la para o<br />

WMS e fazer a redistribuição dos artigos por<br />

loja em função daquela que foi a encomenda<br />

inicial da loja. Este é o esqueleto do processo,<br />

por assim dizer.” E o grande objectivo é que<br />

o artigo chegue à loja na menor unidade<br />

de manipulação possível. De preferência à<br />

unidade ou caixa única e, claro, em perfeitas<br />

condições.<br />

Soluções win-win<br />

O responsável da Rotom Portugal sublinha<br />

que têm um enorme leque de soluções para<br />

aluguer que são utilizados durante os picos<br />

de produção, e “especialmente durante a<br />

COVID-19, com muitos pedidos do DIY e do<br />

ecommerce, nomeadamente em Smartboxes<br />

como estas, mas também roll containers<br />

ou racks para armazenamento temporário.<br />

A nossa missão é facilitar às empresas os<br />

meios de carga necessários para melhorar<br />

a sua cadeia de abastecimento tornando-a<br />

mais sustentável. É fantástico encontrar uma<br />

solução win-win para o meio ambiente e para<br />

o cliente”.<br />

As caixas da Rotom casam na perfeição<br />

com as necessidades desta operação de<br />

picking by line da Leroy Merlin, já que<br />

possibilitam a movimentação de produtos e<br />

mercadorias bastante sensíveis ou delicados<br />

numa envolvente que permite a necessária<br />

segurança e integridade dos mesmos.<br />

“Neste picking by line, o que vemos ali<br />

não é nem mais nem menos do que as<br />

necessidades dos departamentos de loja.<br />

Quando a encomenda sai do centro logístico<br />

tem como destino um dado departamento<br />

de uma determinada loja e os pedidos vão<br />

preparados para entrarem directamente<br />

no linear. Com estas caixas, os produtos<br />

viajam em segurança, é uma embalagem de<br />

transporte que tem portabilidade para chegar<br />

até ao linear e que no regresso ao centro<br />

logístico, como são rebatíveis, permitem<br />

maiores economias no transporte”, esclarece o<br />

responsável de operações de supply chain.<br />

“Por outro lado, isto possibilita-nos uma<br />

melhoria considerável no serviço e qualidade<br />

de entrega à loja. Os abastecimentos às lojas<br />

são diários, embora nem sempre para os<br />

mesmos departamentos”, complementa João<br />

Miranda.<br />

São aproximadamente 31 as pessoas<br />

adstritas a esta operação de picking by line,<br />

embora possam existir oscilações. “Em média,<br />

recebemos por dia 1.700 paletes e expedimos<br />

1.700 paletes. É uma operação de trânsito<br />

puro e duro, com conferência de tudo o que<br />

são pedidos dos clientes e em que tudo o<br />

que se vê em loja passa por aqui. A primeira<br />

recepção e conferência é feita por nós mas<br />

na chegada à loja eles dão entrada da viagem<br />

e recebem o pedido do cliente, que pode ter<br />

entrega, ou não”, esclarece José Miranda.<br />

A nossa missão é facilitar às<br />

empresas os meios de carga<br />

necessários para melhorar a sua<br />

cadeia de abastecimento tornando-<br />

-a mais sustentável<br />

Miguel Correia, Rotom


12 <strong>Novembro</strong> <strong>2020</strong><br />

Sempre a crescer<br />

Na cadeia de abastecimento da Leroy Merlin,<br />

plataformas regionais, como a de Lisboa,<br />

podem trabalhar 30 milhões de euros ao<br />

ano. Têm quatro plataformas regionais,<br />

querem chegar às oito. Para Março está<br />

prevista a abertura de uma em Palmela, que<br />

vai servir Setúbal, Évora, Almada, Moita e<br />

Montijo e depois esperam abrir as outras<br />

três. Com Palmela ficam mais próximos<br />

do cliente, do agregado populacional e da<br />

loja, “o que nos permitirá stockar alguns<br />

artigos que consideramos “filet mignon” no<br />

contexto regional, mas também alguns slow<br />

movers, como tractores, geradores, termo-<br />

-acumuladores de elevado preço, que a loja<br />

não tem que ter em stock, mas apenas em<br />

exposição”, esclarece o responsável de supply<br />

chain.<br />

A tudo o que já estava a acontecer há que<br />

juntar a explosão do comércio electrónico,<br />

que no caso da Leroy Merlin foi exponencial.<br />

“A plataforma de Lisboa pode expedir 800<br />

encomendas por dia, a dar apoio às lojas,<br />

sem qualquer problema. Ou seja, todos os<br />

pedidos que as lojas da região recebem até<br />

ao meio-dia são preparados e enviados para<br />

aqui e o que nós fazemos é embalar, facturar<br />

e expedir. Tudo o resto é feito pelas lojas”.<br />

Mas no novo centro de distribuição será<br />

diferente e já contarão com um espaço criado<br />

e preparado de raiz para responder também<br />

às necessidades crescentes do online. A sua<br />

abertura está planeada para 2021 e serão<br />

aproximadamente 100.000 m2 em Castanheira<br />

do Ribatejo.<br />

O crescimento das operações Leroy Merlin é<br />

enorme e os projectos que estão a decorrer em<br />

simultâneo são mais do que muitos: o WMS,<br />

o last mile, a integração de fornecedores<br />

dentro da plataforma de gestão de pedidos,<br />

o novo centro de distribuição… tudo para<br />

que a gestão eficiente de toda a cadeia de<br />

abastecimento B2B e B2C seja uma realidade.<br />

Dimensionando a operação, José Miranda<br />

olha à volta e diz: “para terem uma ideia, há<br />

um ano movimentávamos aqui 200 paletes/<br />

dia, tínhamos 30 fornecedores e agora temos<br />

perto de 300”. José Miranda tem já uma longa<br />

carreira no sector mas, falando do desafio que<br />

tem em mãos, é com um brilhozinho nos olhos<br />

que nos confidencia: “isto é um mundo!”. •<br />

Na cadeia de abastecimento da Leroy Merlin, plataformas<br />

regionais, como a de Lisboa, podem trabalhar 30 milhões de<br />

euros ao ano. Têm 4 plataformas regionais, querem chegar às 8.


13


14 novembro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

Rumo à Indústria 4.0<br />

Texto: Dora Assis<br />

Fotos: Henkel<br />

Unidade de Laundry & Home Care<br />

da Henkel tem novo centro<br />

logístico automatizado<br />

A Henkel inaugurou um novo<br />

armazém automatizado de última<br />

geração na Península Ibérica,<br />

especificamente nas suas instalações<br />

em Montornés del Vallés, Barcelona.<br />

A automação e a sustentabilidade<br />

são os eixos-chave para a optimização<br />

dos processos logísticos desta<br />

nova unidade que irão melhorar a<br />

competitividade da empresa.<br />

O<br />

novo armazém de última geração para a<br />

unidade de negócio de Laundry & Home<br />

Care, representa um investimento de 22<br />

milhões de euros e este centro de referência<br />

da Henkel torna-se o hub logístico para o Sul<br />

da Europa para a unidade de negócio da qual<br />

fazem parte marcas como Persil, Vernel e<br />

Sonasol, entre outras.<br />

Esta expansão das instalações aumentará<br />

a competitividade da Henkel ao melhorar<br />

os prazos de entrega daquelas marcas ao


mercado, graças à implementação das mais<br />

recentes tecnologias da Indústria 4.0 para<br />

automação dos processos, e dará resposta<br />

ao aumento da produção, que triplicou<br />

após a implementação de uma nova linha<br />

de embalagens neste mesmo centro, em<br />

2018, bem como do aumento da procura das<br />

exportações para os demais países do Sul da<br />

Europa.<br />

O novo armazém de 24.000 metros<br />

quadrados, cuja construção teve início em<br />

2019, contou com um investimento de 22<br />

milhões de euros e prevê-se que venha a<br />

armazenar mais de 500 produtos diferentes.<br />

É composto por três áreas distintas, cada<br />

uma destinada a realizar tarefas logísticas<br />

específicas, o que proporcionará um alto<br />

desempenho, flexibilidade e versatilidade.<br />

Personalizar soluções<br />

A primeira área é totalmente automatizada<br />

com capacidade para 21.000 paletes, e<br />

a segunda é uma área convencional com<br />

capacidade para armazenar 14.000 paletes,<br />

o que permitirá gerir mais de um milhão<br />

de paletes por ano de forma eficiente e<br />

monitorizada. A terceira zona, destinada a<br />

tarefas de picking e co-packing, satisfaz a<br />

necessidade de disponibilizar soluções cada<br />

vez mais personalizadas aos clientes, uma<br />

tendência que está a crescer, e tem capacidade<br />

para movimentar mais de sete milhões de<br />

unidades de produtos por ano. Tudo isto a par<br />

do actual armazém que a Henkel construiu<br />

em 1994, que foi um dos primeiros armazéns<br />

automatizados da Península Ibérica e que<br />

continuará a operar.<br />

O desenvolvimento deste novo centro<br />

logístico é um claro exemplo do compromisso<br />

da Henkel com o modelo da Indústria 4.0,<br />

baseado na digitalização, na robotização e<br />

O armazém, de 24.000 m², contou<br />

com um investimento de 22 milhões<br />

de euros e prevê-se que venha a<br />

armazenar mais de 500 produtos<br />

diferentes<br />

na implementação de tecnologia de ponta<br />

na área da logística, que permitirá agilizar os<br />

processos e melhorar ainda mais o time-to-<br />

-market.<br />

Especificamente, a área automatizada é<br />

dividida em cinco blocos, cada um dos quais<br />

possui um transelevador com 38 ciclos duplos<br />

por hora, além de possuir duas passadeiras<br />

para carga e descarga automática dos<br />

lançadores da área de produção. A eficiência é<br />

a chave desse projecto graças à digitalização<br />

através da aplicação de um software de<br />

gestão inovador que irá diminuir o consumo de<br />

energia ao reduzir as ineficiências, enquanto<br />

aumenta a capacidade de armazenamento<br />

e a segurança dos equipamentos através do<br />

novo sistema de transporte para lançadores<br />

automáticos. Também a carga e a descarga<br />

de paletes dos camiões serão feitas<br />

automaticamente.<br />

Esta modernização acontece após a Henkel<br />

ter expandido a capacidade de produção<br />

de detergentes com uma nova linha de<br />

embalagens de alta velocidade e depois da<br />

construção de um novo hub europeu para a<br />

indústria aeroespacial.<br />

É um centro de referência, com mais de<br />

50 anos de actividade, que produz mais de<br />

200 mil toneladas por ano de detergentes,<br />

detergentes líquidos e adesivos, emprega mais<br />

de 500 pessoas e exporta para mais de 60<br />

países.


16<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

Melhorar a sustentabilidade<br />

Além disso, este novo centro logístico<br />

representa um salto qualitativo em termos de<br />

sustentabilidade, um dos pilares estratégicos<br />

da Henkel, que tem uma visão abrangente do<br />

processo logístico e que assenta em melhorar<br />

a rede de armazéns, optimizar o transporte e<br />

expandir o transporte intermodal da rodovia<br />

para o comboio.<br />

Carlos Ribas, Head of Supply Operations<br />

Cluster Western Europe, explicou que<br />

“ao construir um novo centro, na Henkel<br />

integramos os nossos objectivos relacionados<br />

com a eficiência e as energias renováveis já<br />

na fase de projecto. Isto está de acordo com<br />

o nosso propósito de nos tornarmos uma<br />

empresa positiva para o clima até 2040,<br />

reduzindo as emissões de CO2 para ajudar a<br />

limitar o aquecimento global. Assim, no novo<br />

armazém, fizemos um esforço significativo<br />

para reduzir a pegada de carbono em 90% e<br />

melhorar a sustentabilidade”.<br />

Isto tem sido possível graças à<br />

implementação de um novo modelo<br />

logístico centralizado – que já não requer a<br />

subcontratação de vários armazéns externos<br />

que implicam um maior número de viagens<br />

e maiores distâncias –, à instalação de 80<br />

painéis solares que alimentam os carregadores<br />

das baterias da maquinaria necessária,<br />

uma iluminação interior 100% LED e a<br />

uma iluminação exterior que só acende ao<br />

anoitecer. •<br />

No novo armazém, fizemos um esforço<br />

significativo para reduzir a pegada<br />

de carbono em 90% e melhorar a<br />

sustentabilidade<br />

Carlos Ribas,<br />

Head of Supply Operations Cluster<br />

Western Europe


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

logística<br />

Sonae MC: Antecipar<br />

o inesperado<br />

A maior dificuldade é<br />

“conseguir antecipar todos os<br />

movimentos de compra”<br />

Quase a terminar o dia 12 de <strong>Novembro</strong>, quinta-feira, António Costa anunciou novas<br />

medidas para os dois seguintes fins-de-semana (14 e 15 / 20 e 21 de <strong>Novembro</strong>), que<br />

envolviam o fecho de espaços comerciais entre as 13 horas dos respectivos dias e as 8<br />

horas do dia seguinte nos concelhos de risco. O inesperado anúncio teve um forte impacto<br />

nas empresas, pois todo o planeamento para os dias seguintes teve de ser repensado e<br />

envolveu tentar antecipar a movimentação das pessoas para as lojas.


18<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Sonae MC<br />

Ana Lúcia Barbosa, supply chain director -<br />

Fresh Food da Sonae MC, contou-nos que<br />

assim que foram conhecidas as medidas<br />

houve uma comunicação por parte da empresa<br />

a confirmar o fecho das lojas abrangidas a<br />

partir das 13 horas, o que corresponde a cerca<br />

de 80% das lojas do grupo. “A equipa reuniu-se<br />

de imediato, nessa mesma noite, numa óptica<br />

de avaliar impactos, principais dificuldades e<br />

soluções”, comenta a responsável.<br />

A preparação começou ainda no próprio<br />

dia, e esperavam “uma sexta-feira acima do<br />

normal”, com uma grande movimentação<br />

de pessoas nas lojas, “um fim-de-semana<br />

afectado negativamente” e “um arranque<br />

de semana muito elevado”, novamente com<br />

grandes movimentações em loja devido à falta<br />

de procura do fim-de-semana, esperando-se<br />

um aumento na procura dos frescos, explica<br />

Ana Lúcia Barbosa.<br />

“As nossas previsões apontavam para uma<br />

necessidade diferente, para dar resposta a<br />

uma compra de acordo com a sazonalidade<br />

criada pelas mesmas. O desafio que tínhamos<br />

pela frente era ajustar esta nova previsão<br />

apenas às lojas impactadas”, conta.<br />

“A procura foi realmente muito elevada na<br />

sexta-feira, afectada pela limitação do fecho<br />

às 13h no fim-de-semana, e o arranque de<br />

semana foi mais forte que o normal. Durante<br />

a semana levou-nos a um acompanhamento<br />

mais intenso do que ia acontecendo, de<br />

forma a que pudéssemos ir ajustando a oferta<br />

à procura, mantendo a máxima frescura“,<br />

comenta ainda a responsável.<br />

A principal preocupação era a de<br />

“garantir a continuidade das premissas<br />

fundamentais que trabalhamos<br />

diariamente”:<br />

- Resposta ágil ao cliente, pois o dia<br />

1 seguinte seria afectado positivamente<br />

em vendas, para quem antecipasse<br />

compras;<br />

- Máxima frescura e qualidade,<br />

2 garantindo que os produtos tinham<br />

apenas a cobertura necessária para as<br />

vendas do dia, obrigando a recálculo de<br />

necessidades nessa noite e alteração a<br />

planos de produção e entregas;<br />

3- Evitar o desperdício alimentar, sendo<br />

produtos frescos e tendo uma elevada<br />

perecibilidade era crítico reagir aos stocks<br />

já em loja (considerado para um volume de<br />

fim-de-semana) e solucionar a montante<br />

o equilíbrio das matérias-primas, evitando<br />

overstock.


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

“A maior urgência e a solução táctica<br />

adoptada foi perceber quais as lojas<br />

abrangidas pelos concelhos afectados, que<br />

stock e que necessidades havia em cada uma<br />

dessas lojas, e reagir de imediato na nova<br />

previsão da procura, antecipando e garantindo<br />

as premissas enumeradas”, acrescenta Ana<br />

Lúcia Barbosa.<br />

Um dos grandes impactos sentidos foi<br />

no caso particular da carne, “onde a Sonae<br />

MC conta com um centro de processamento<br />

próprio, cuja gestão da cadeia de<br />

abastecimento é feita pela mesma equipa end-<br />

-to-end”, envolvendo desde os fornecedores<br />

de matéria-prima até à gestão de stocks<br />

central das lojas, o que lhes permitiu ter “uma<br />

maior visibilidade por toda a cadeia e por<br />

conseguinte uma direcção de onde deveríamos<br />

actuar de forma mais incisiva”.<br />

A maior urgência e a solução<br />

táctica adoptada foi perceber<br />

quais as lojas abrangidas pelos<br />

concelhos afectados, que stock e<br />

que necessidades havia em cada uma<br />

dessas lojas, e reagir de imediato<br />

na nova previsão da procura,<br />

antecipando e garantindo as<br />

premissas enumeradas<br />

Ana Lúcia Barbosa<br />

“Em termos práticos, para conseguirmos<br />

uma resposta célere com frescura, o produto<br />

que estava em loja na quinta-feira tinha<br />

de garantir as vendas desse dia e de sexta,<br />

quando temos um anúncio desta dimensão<br />

de medidas, a procura torna-se exponencial e<br />

aquilo que era uma cobertura ideal de stocks<br />

passa a gerar ruptura”, explica a responsável,<br />

acrescentando que os impactos sentidos no<br />

centro de processamento foram semelhantes,<br />

visto que já tinham comprado a matéria-<br />

-prima para o fim-de-semana, “garantindo uma<br />

produção just in time na sexta para a frescura<br />

máxima”.


20 novembro <strong>2020</strong><br />

Ao nível dos fornecedores de matérias-<br />

-primas foi necessário fazerem um ajuste<br />

nas compras, que por serem nacionais,<br />

conseguiram obter uma resposta positiva<br />

em 24 horas, bem como rever todo o plano<br />

produtivo, mudando algumas das matérias-<br />

-primas para outros produtos finais, de forma a<br />

garantir um maior volume de resposta.<br />

“Foi necessário reagir, loja a loja, para<br />

ajustar as novas quantidades ao que era a<br />

procura esperada”, explica Ana Lúcia Barbosa,<br />

“utilizando para isso uma priorização de<br />

entregas, um reajuste de encomendas e uma<br />

preparação extra de entrega”.<br />

Relativamente à segunda semana, as<br />

medidas foram semelhantes, mas com<br />

ligeiras alterações no que tocou à procura,<br />

com ajuda de uma análise ao sentido na<br />

primeira semana. “Houve uma mudança no<br />

padrão de compra, as pessoas procuraram<br />

mais os frescos durante a semana, deram<br />

prioridade às lojas de conveniência e o peso<br />

dos produtos embalados aumentou. Estes<br />

novos indicadores permitiram reajustar para<br />

a 2ª semana”, explicou a responsável. Ainda<br />

durante este segundo fim-de-semana houve<br />

o anúncio de um aumento das medidas para<br />

os próximos fins-de-semana, com a notícia<br />

de novas proibições de circulação entre<br />

concelhos, englobando já os feriados de dia 1<br />

e 8 de Dezembro. “Este sim, terá uma gestão<br />

diferente. Estas novas medidas englobam<br />

quatro dias de impacto, ao invés de dois”,<br />

comenta.


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

“Com este movimento ágil, conseguimos<br />

garantir que não houvesse o que mais se<br />

poderia temer nesta área, pelo desbalancear<br />

da procura – rupturas e/ou desperdício<br />

alimentar”, afirma a responsável.<br />

Confrontada sobre quais seriam agora as<br />

maiores dificuldades a superar, Ana Lúcia<br />

Barbosa considera que é “conseguir antecipar<br />

todos os movimentos de compra”, e perceber<br />

“se o cliente vai optar por comprar na semana<br />

ou no fim-de-semana, se prefere comprar com<br />

mais frequência e menos quantidade ou se<br />

prefere ir poucas vezes ao espaço comercial<br />

e comprar mais, se prefere a conveniência ou<br />

o hiper, se vai haver deslocações do litoral<br />

para o interior, se há concelhos com medidas<br />

restritivas que levem a uma alteração mais<br />

profunda da procura e se eventualmente<br />

teremos alterações à própria tipologia de<br />

produtos que o consumidor procura – menores<br />

porções, artigos de confecção mais rápida,<br />

etc.”.<br />

“Estas novas medidas, mais apertadas,<br />

vieram trazer uma ainda maior volatilidade<br />

da procura desafiando os nossos eixos<br />

fundamentais de máxima frescura e<br />

qualidade”, acrescentou a responsável.<br />

Sobre esta imprevisibilidade, Ana Lúcia<br />

Barbosa sentiu que “tivemos todos de<br />

aprender a ser mais flexíveis, adaptar as<br />

ferramentas de análise e ter os processos<br />

ainda mais ágeis”, procurando antecipar todas<br />

as necessidades, e responder o mais depressa<br />

possível mesmo quando estas não são<br />

previsíveis, pois “todos os dias temos novas<br />

informações, o panorama altera e para darmos<br />

resposta à expectativa do cliente, temos de<br />

nos adaptar”.<br />

A responsável defende que para além da<br />

boa gestão é necessário um outro factor<br />

diferenciador: as pessoas. “Só é possível<br />

conseguir esta rápida resposta com uma<br />

estrutura bem organizada, com as nossas<br />

pessoas, uma equipa muito focada e<br />

disponível e um alinhamento máximo de toda<br />

a cadeia, caso contrário seremos lentos a<br />

reagir e perdemos a escolha do cliente”.<br />

Foi necessário reagir,<br />

loja a loja, para ajustar as<br />

novas quantidades ao que era a<br />

procura esperada<br />

Ana Lúcia Barbosa


22<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

A experiência de<br />

enfrentar o inesperado<br />

Mantendo-se optimista, conta esta experiência<br />

como tendo tido também um impacto positivo<br />

nas operações: “se olharmos hoje para<br />

trás, esta pandemia tornou-nos melhores<br />

profissionais. Conseguimos hoje antecipar<br />

movimentos de compra, porque estamos<br />

mais alerta, mais focados, cada hora conta”.<br />

Destaca ainda a grande partilha de informação<br />

ao longo de toda a cadeia para a ajustar e<br />

corrigir erros, e “em 24 horas, ou menos, temos<br />

de reagir, principalmente num mercado tão<br />

sensível e dinâmico como o dos frescos”.<br />

“Acredito mesmo que saímos todos desta<br />

situação mais fortes e melhores, enquanto<br />

profissionais e pessoas”, defende Ana Lúcia<br />

Barbosa, “sabemos gerir melhor, com menos<br />

tempo de reacção, mas com uma maior<br />

assertividade. Fomos refinando o nosso<br />

talento”.<br />

Considera que o mais importante que retira<br />

de <strong>2020</strong>, a nível profissional, foi “a excelente<br />

resposta e espírito de equipa que houve<br />

em cada momento. Todos os movimentos<br />

efectuados tinham muitos impactos, teve de<br />

haver um envolvimento grande da equipa,<br />

era preciso estar alerta a cada momento, e a<br />

resposta foi simplesmente fantástica. Só assim<br />

foi possível ir conseguindo ultrapassar cada<br />

obstáculo, cada desafio”.<br />

No final, “este momento permitiu-nos avaliar<br />

que se não tivéssemos um alinhamento tão<br />

bem estruturado, os processos tão ágeis e<br />

um suporte grande de toda a companhia,<br />

teria sido muito mais complicado e com<br />

consequências para os nossos clientes”,<br />

conclui a responsável. •<br />

Acredito mesmo que saímos<br />

todos desta situação<br />

mais fortes e melhores,<br />

enquanto profissionais e<br />

pessoas<br />

Ana Lúcia Barbosa


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

logística<br />

Coca-Cola<br />

Texto: Ana Paiva<br />

A resiliência da Coca-Cola<br />

Existe a ideia de que nada abala as grandes empresas, como a Coca-Cola European Partners. A<br />

pandemia de coronavírus revelou-se a excepção à regra e, das empresas pequenas às maiores,<br />

infelizmente, ninguém está imune ao risco. A diferença está na forma como lidam com ele e como<br />

tentam minimizá-lo. Em Portugal, a Coca-Cola adaptou-se às necessidades, apesar da grande<br />

incerteza, e mantém-se activa nos projectos delineados na era pré-COVID-19.<br />

As equipas de serviço ao cliente e de supply<br />

chain da Coca-Cola European Partners<br />

(CCEP) têm demonstrado uma capacidade<br />

extraordinária de adaptação e excelência em<br />

servir os seus clientes, embora continuem<br />

a operar com um grande nível de incerteza<br />

devido à pandemia de COVID-19.<br />

Ainda assim, geraram-se impactos<br />

significativos nas actividades da empresa,<br />

sendo o canal capilar, a nível global, um<br />

dos mais afectados nas vendas, devido<br />

às restrições implementadas na área da<br />

restauração, como conta Celso Castanheira,<br />

gestor de logística e transportes Portugal<br />

na CCEP. “Tivemos de nos ajustar<br />

transversalmente para ir ao encontro dos<br />

nossos clientes”, afirma. Desta forma,<br />

analisaram as regras e os requisitos logísticos


24 novembro <strong>2020</strong><br />

dos clientes deste canal, articularam com<br />

as restantes áreas os planos de entrega nos<br />

destinos que se mantinham abertos para<br />

take-away, e obtiveram sinergias com outros<br />

clientes nas operações de outsourcing.<br />

“Mantivemos um equilíbrio”, confessa o<br />

responsável.<br />

Apesar de a pandemia ter assolado muitas<br />

empresas, a vida continua e a Coca-Cola<br />

manteve-se activa nos seus projectos de<br />

obtenção de sinergias que têm impacto na<br />

sustentabilidade da cadeia de abastecimento<br />

da empresa, como é o caso do aumento de<br />

peso (kgs de produto acabado) nos carros e<br />

diminuição do número de viagens. Este passo<br />

significa uma redução de 2% por viagem,<br />

ou seja, em cada 10 viagens poupam uma. É<br />

também de referir o transporte de logística<br />

inversa de vidro retornável empilhado a duas<br />

alturas onde a redução é de - 50% em modelo<br />

Business Unit Ibéria (BU). Por último, Celso<br />

Castanheira destaca a utilização de carros<br />

denominados ‘Jumbos’, em que se gera uma<br />

poupança de 11% em alguns deles.<br />

Zero Waste World<br />

O projecto de colaboração desenvolvido entre<br />

a CHEP e a Coca-Cola European Partners<br />

(CCEP), o ‘Zero Waste World’ tem como<br />

objectivo tornar a cadeia de abastecimento<br />

mais sustentável e eficiente. Este programa<br />

foca-se em três áreas: eliminar o desperdício<br />

físico, repensando a existência de embalagens<br />

de uso único e causas do produto estragado;<br />

erradicar os quilómetros de transporte em<br />

vazio através da optimização de cargas e<br />

soluções de transporte colaborativo; e suprimir<br />

ineficiências, desde a análise avançada e<br />

visibilidade da cadeia de abastecimento, à<br />

optimização e controlo dos processos.<br />

Celso Castanheira revela ainda que estão<br />

a desenvolver mais projectos, sendo um<br />

deles o pick-up de paletes das instalações<br />

da CHEP para evitar viagens em vazio. Esta<br />

é uma parceria entre a CCEP, a CHEP e ainda<br />

parceiros de Transporte CCEP.<br />

Desde que a Coca-Cola começou a trabalhar<br />

com a CHEP já conseguiram alcançar algumas


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

poupanças, como: 5.926.405 decímetros<br />

cúbicos de madeira, equivalente a 5.726<br />

árvores poupadas; diminuição de emissões<br />

em 7.193.882 quilos, correspondente a 164<br />

voltas ao mundo em camião; e uma redução de<br />

resíduos em 657.334 quilos, equivalente a 155<br />

camiões de resíduo.<br />

Quanto a investimentos, Celso Castanheira<br />

revela que este ano, e de acordo com o<br />

contexto actual, serão apenas a nível de<br />

formações online para os colaboradores que<br />

se encontram em tele trabalho, nas áreas<br />

de segurança PRL, e também “na busca de<br />

eficiências logísticas com fóruns cada vez<br />

mais adequados às equipas da linha da frente<br />

que têm um peso muito importante para nós”,<br />

referindo também o investimento a nível de<br />

[investimentos] na busca de<br />

eficiências logísticas com fóruns<br />

cada vez mais adequados às equipas<br />

da linha da frente que têm um peso<br />

muito importante para nós<br />

Celso Castanheira<br />

instalações, que foi o ponto-chave deste ano<br />

para o bem-estar de todos os trabalhadores<br />

em Portugal, na fábrica Azeitão, desde<br />

escritórios, balneários, refeitório e espaços<br />

comuns de lazer. •<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

Red is<br />

making<br />

things<br />

easier<br />

Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />

encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />

A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />

seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />

informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

A pallet is red, red is a pallet


26<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

Prémios ELA


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

Texto: Dora Assis<br />

Projecto<br />

SMILE<br />

distinguido<br />

pela<br />

excelência<br />

logística<br />

Depois de ter sido, em 2019, finalista<br />

do German Logistics Award, a Loxxess<br />

AG ganhou agora o Prémio Europeu<br />

de Logística da Associação Europeia<br />

de Logística (ELA). O projecto chamase<br />

“SMILE” e assenta num conceito<br />

logístico que o operador desenvolveu<br />

como resposta para superar os desafios<br />

logísticos associados ao e-commerce.<br />

O<br />

projecto com o nome de SMILE, representa<br />

uma solução inovadora desenvolvida<br />

pela Loxxess para dominar os desafios<br />

logísticos do e-commerce e lidar com a<br />

crescente complexidade da gestão destes<br />

projectos logísticos.<br />

O conceito foi desenvolvido em<br />

2019, tratando-se de um elemento do<br />

desenvolvimento do canal de vendas online de<br />

uma conhecida “drugstore” alemã, para quem<br />

a Loxxess trabalha desde 2017.<br />

Com a integração da interactividade entre<br />

o homem, a inteligência artificial e soluções<br />

de automação, o SMILE é uma aproximação<br />

ao desenvolvimento e implementação de<br />

soluções inovadoras conceptuais no segmento<br />

de contract logistics. O conceito permitiu que<br />

a equipa de projecto da Loxxess respondesse<br />

com sucesso aos complexos desafios<br />

colocados pela dinâmica do crescimento do<br />

volume, combinado com a complexidade<br />

da estrutura de uma gama de produtos<br />

heterogénea.<br />

A flexibilidade e a agilidade eram as<br />

principais prioridades na procura de soluções,<br />

juntamente com a optimização dos tempos de<br />

espera, sem comprometer a individualidade e<br />

a qualidade dos requisitos dos clientes.


28 novembro <strong>2020</strong><br />

A flexibilidade e a agilidade<br />

eram as principais prioridades<br />

na procura de soluções,<br />

juntamente com a optimização<br />

dos tempos de espera<br />

Poupar tempo e distâncias<br />

O software de optimização do armazém LOS,<br />

da Heureka Business Solutions, teve um papel-<br />

-chave. O software que se baseia em dados em<br />

tempo real, permite a optimização baseada<br />

em procedimentos algorítmicos. Ao construir<br />

um digital twin, as ordens são combinadas<br />

por simulação para optimizar o percurso<br />

de picking. Isto poupa tempo e distâncias a<br />

percorrer. No planeamento da armazenagem,<br />

os métodos preditivos são utilizados para<br />

arrumar os artigos de uma maneira que<br />

permita optimizar a densidade do picking. Os<br />

aspectos ergonómicos também foram tidos em<br />

consideração.<br />

No entanto, no centro de interacção do LOS<br />

e do WMS temos um sistema de monitorização<br />

em tempo real e de “gestão de excepções”. A<br />

APP desenvolvida especificamente para esta<br />

solução torna possível reagir aos desvios. Isto<br />

transforma o controlo “ex-post” num controlo<br />

em tempo real, o que melhora de forma<br />

significativa o serviço, qualidade e eficiência.<br />

Mg2+ vence<br />

“Melhor Apresentação”<br />

Quem também brilhou este ano na entrega<br />

dos prémios ELA foi a Interlog, com o projecto<br />

Mg2+, que era um dos seis finalistas. O<br />

projecto foi considerado como um inovador<br />

processo de pooling EDI que visa reduzir o<br />

número de camiões na estrada e os índices de<br />

emissão de CO2.<br />

Num evento digital em que as boas práticas<br />

logísticas internacionais brilharam, o Mg2+<br />

foi representado por Christophe Joveniaux,<br />

director-geral da Interlog e Julia Sharko,<br />

directora de operações. A característica<br />

principal do Mg2+ é tratar-se de um projecto<br />

colaborativo que envolve quatro fabricantes<br />

concorrentes: Carambar&Co., Cémoi, Ferrero<br />

e Mondelez, sendo coordenado pelo Interlog<br />

Group em colaboração com a FM Logistic. O<br />

objectivo principal deste projecto, que reuniu<br />

estes quatro protagonistas da indústria de<br />

grande consumo, é a redução do número de<br />

camiões nas estradas e, consequentemente, os<br />

níveis de emissões gasosas.


SCM Supply Chain Magazine<br />

29<br />

A Interlog tornou possível esta colaboração<br />

entre concorrentes ao desenvolver para o<br />

efeito um módulo dedicado no seu TMS,<br />

assim como um “daily pooling” em função do<br />

número de paletes em cada pedido de clientes<br />

do fabricante, sendo o objectivo alcançar um<br />

camião completo.<br />

Ao serem agora distinguidos com a melhor<br />

apresentação na cerimónia de entrega<br />

dos prémios, a Interlog entende que este<br />

reconhecimento mostra o esforço de um<br />

trabalho de equipa que permitiu à empresa<br />

alcançar os objectivos de um projecto<br />

verdadeiramente colaborativo.<br />

De salientar que entre os projectos<br />

finalistas, Portugal também estava<br />

representado com o Projecto dos CTT “‘Order<br />

Now’– Automação no Processo de Logística<br />

como Resposta ao E-commerce”. •<br />

No planeamento da armazenagem,<br />

os métodos preditivos são<br />

utilizados para arrumar os<br />

artigos de uma maneira que permita<br />

optimizar a densidade do picking<br />

CONNOSCO


30<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

IMBS<br />

O panorama<br />

do sector<br />

logístico<br />

A IMBS, empresa de consultoria que actua<br />

em vários segmentos de mercado, nas<br />

áreas da indústria e serviços, mostra-nos a<br />

sua percepção sobre o mercado da supply<br />

chain e compras, nomeadamente quais<br />

as oportunidades que encontra neste<br />

sector, bem como o impacto da pandemia,<br />

os desafios gerados e a importância da<br />

tecnologia para o sucesso do mesmo.<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: IMBS<br />

Gestão de encomendas, expedição,<br />

distribuição, frota, gestão de contratos,<br />

outsourcing e gestão de procurement.<br />

Estes são alguns dos processos aos quais a<br />

IMBS presta apoio e soluções, nas áreas de<br />

supply chain e compras.<br />

Hugo Marujo, managing partner da<br />

empresa, explica que, sendo o processo de<br />

supply chain bastante abrangente e com<br />

uma necessidade de visão completa, desde o<br />

momento da encomenda até à recepção, são<br />

vários os desafios que podem não só impedir<br />

a excelência do processo, mas também<br />

comprometer a qualidade e nível de serviço<br />

prestado ao cliente. Entre estes desafios<br />

podem apontar-se “como oportunidades<br />

recorrentes o ajuste da roteirização e do


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

processo logístico, a organização dos postos<br />

de trabalho, a ocupação da carga, o ajuste<br />

do Material Requirement Planning (MRP),<br />

a integração entre o MRP e o Capacity<br />

Requirement Plan (CRP), deslocações e o<br />

dimensionamento de recursos humanos,<br />

materiais ou equipamentos”, aponta.<br />

De forma a optimizar todos estes processos<br />

e atingir a excelência no lead time, eficácia<br />

e qualidade, o responsável afirma que é<br />

necessário ter em consideração uma gestão<br />

estratégica. Ainda assim, para alcançar<br />

estes objectivos, a IMBS não recorre a uma<br />

solução imediata, mas rege-se, sim, pela<br />

melhoria contínua. “O objectivo desta filosofia<br />

lean passa por melhorar o desempenho<br />

das organizações seguindo três factores<br />

preponderantes: a eliminação de todos os<br />

desperdícios presentes nos processos, o<br />

aproveitamento máximo do capital humano e<br />

das suas capacidades, e a melhoria dos fluxos<br />

de valor”, refere Hugo Marujo.<br />

Além disto, trabalham ainda o potencial<br />

da transformação digital aproveitando<br />

muitas vezes os dados gerados pelo ERP da<br />

empresa convertendo-os em informações que<br />

permitam uma gestão eficiente e sustentada.<br />

O managing partner acrescenta que<br />

“desenvolvemos ferramentas analíticas fáceis<br />

de utilizar, como o Business Intelligence,<br />

elaboramos aplicações empresariais low-code<br />

que podem detectar problemas de forma<br />

automática e utilizamos o Robot Process<br />

Automation na optimização dos fluxos e<br />

eliminação de tarefas repetitivas e de pouco<br />

valor”.<br />

Estes são alguns exemplos que a IMBS<br />

considera preponderantes para o sucesso<br />

e optimização das áreas da supply chain e<br />

compras.<br />

O objectivo da filosofia lean<br />

passa por melhorar o desempenho<br />

das organizações seguindo<br />

três factores preponderantes:<br />

a eliminação de todos os<br />

desperdícios presentes nos<br />

processos, o aproveitamento<br />

máximo do capital humano e das<br />

suas capacidades, e a melhoria dos<br />

fluxos de valor<br />

Hugo Marujo<br />

“Uma cultura<br />

baseada em dados”<br />

A pandemia COVID-19 fez-se sentir em<br />

todos os sectores de actividade do mundo,<br />

tanto pela positiva como pela negativa. A<br />

parte logística também foi afectada, pois<br />

muitas empresas tiveram de “repensar as<br />

suas opções de atendimento e métodos de<br />

entrega, adaptando todo o planeamento e<br />

operações, de forma a conseguirem lidar com<br />

esse impacto da melhor forma, respeitando<br />

as normas de segurança e higiene para os<br />

trabalhadores e para os clientes”, explica Hugo<br />

Marujo.<br />

O que a IMBS sente em relação a este tópico<br />

é que, desde repensar e reorganizar os locais<br />

de trabalho, para garantir a segurança mas<br />

também a retoma da actividade, até à falta<br />

de capacidade de resposta face à procura<br />

online, de uma forma geral, existiu e continua<br />

a existir a necessidade de repensar os modelos<br />

tradicionais, adoptando modelos ligados à<br />

tecnologia para lidar com o tal ‘novo normal’.


32<br />

é necessário um esforço<br />

colaborativo que envolva as<br />

equipas e a forma como estas<br />

compartilham e tomam decisões:<br />

uma cultura baseada em dados<br />

Hugo Marujo<br />

Desta forma pode-se garantir agilidade face<br />

aos desafios imprevisíveis do mercado actual.<br />

Em algumas empresas, o sector da<br />

logística teve, e ainda tem, de enfrentar<br />

desafios impulsionados pelo coronavírus,<br />

como as variações exponenciais de volumes<br />

movimentados, queda do nível de serviço<br />

dos fornecedores, necessidade do aumento<br />

do número de colaboradores como plano<br />

de contingência ou acelerar a tomada de<br />

decisões. Algumas conseguiram superar, mas,<br />

entretanto, outros desafios foram surgindo. A<br />

realidade é que muitas tiveram de trabalhar<br />

como nunca e outras viram-se obrigadas a<br />

parar, sem forma de se conseguirem adaptar<br />

ou reinventar. Assim, Hugo Marujo acredita<br />

que ‘reinventar’ é a palavra-chave. “O que<br />

se pode esperar do futuro é incerto, mas<br />

se há algo que esta pandemia veio mostrar<br />

é que precisamos de ser mais eficientes,<br />

ágeis, abertos à transformação digital e à<br />

flexibilidade da operação, de forma positiva e<br />

bem pensada, para conseguirmos mantermonos<br />

competitivos e, mais que isso, para<br />

conseguirmos sobreviver”, afirma.<br />

Apesar das desvantagens que a pandemia<br />

trouxe às empresas, o managing partner<br />

afirma que, após a primeira fase da pandemia,<br />

começou a surgir uma maior adesão à<br />

tecnologia por parte de várias organizações,<br />

“ao reverem prioridades e com a constante<br />

necessidade da mudança, as empresas<br />

necessitam cada vez mais de informações em<br />

tempo real e coerentes, que lhes permitam<br />

tomar decisões eficientes e sustentadas”.<br />

Existem tecnologias já adoptadas por este<br />

sector que se mostram como uma mais-valia,<br />

pois permitem uma clara optimização de<br />

processos e redução de custos, como é o caso<br />

da visualização de dados com ferramentas de<br />

Business Intelligence, da automatização de<br />

processos com Robot Process Automation e o<br />

controlo através de aplicações low-code.<br />

“A importância da tecnologia para o<br />

sector é imensa e pode transformar não<br />

só a rentabilidade e agilidade da empresa,<br />

como também a própria cultura e ambiente,<br />

passando actividades rotineiras e morosas<br />

para processos ágeis através de diferentes<br />

tecnologias. A motivação dos profissionais<br />

envolvidos vai melhorar, fazendo com<br />

que estes se foquem em actividades com<br />

verdadeiro valor”, refere Hugo Marujo,<br />

acrescentando que, muitas vezes, se acredita<br />

que para optimizar processos é apenas<br />

necessário comprar e instalar novas máquinas<br />

ou tecnologias, mas, para que exista uma<br />

verdadeira mudança “é necessário um esforço<br />

colaborativo que envolva as equipas e a forma<br />

como estas compartilham e tomam decisões:<br />

uma cultura baseada em dados”. •


34 novembro <strong>2020</strong><br />

Texto:<br />

Pedro Hugo Rocha, Global Procurement Director<br />

Center of Excellence, Campari Group<br />

procurement<br />

Why, How e What<br />

(Golden Circle)<br />

The<br />

Golden<br />

Circle<br />

Conceitos simples são intuitivos e eficazes.<br />

Continua a surpreender-me a forma como<br />

um conceito tão simples como o Golden<br />

Circle, apresentado por Simon Sinek em<br />

2010, continua a inspirar tantas pessoas e<br />

organizações em todo o mundo. A TED Talk<br />

do Simon Sinek é provavelmente uma das<br />

mais vistas de sempre.<br />

Não sei se o leitor já experimentou. Para<br />

mim, o Golden Circle é um conceito muito<br />

eficaz quando precisamos de organizar<br />

ideias, criar uma estratégia a explicá-la às<br />

pessoas para inspirar e motivar. Na verdade,<br />

estou mesmo convencido que conseguimos<br />

explicar uma estratégia usando o Golden<br />

Circle, portanto, precisamos de uma página<br />

para explicar a estratégia que queremos<br />

implementar (o resto pode ir para “backup<br />

slides”). Se não conseguimos explicar<br />

a estratégia com uma página contendo o<br />

Golden Circle, provavelmente estamos a<br />

complicar.


35<br />

Pedro Hugo Rocha<br />

Why Porque é que a nossa<br />

organização existe? Qual é o propósito, a<br />

causa, a nossa contribuição? No fundo, porque<br />

é que precisamos de uma estratégia e que<br />

contribuição pretendemos dar?<br />

How Como é que vamos alcançar<br />

o propósito? Este ponto é o que muitas<br />

pessoas chamam de estratégia ou de<br />

plano estratégico. Contém as opções que<br />

avaliamos, as escolhas que fazemos, os<br />

percursos que pretendemos percorrer, e<br />

igualmente importante, os percursos que não<br />

pretendemos percorrer.<br />

What Quais são os resultados<br />

visíveis gerados na execução da estratégia?<br />

Conseguimos demonstrar que os resultados<br />

da execução são a face visível do Why, do<br />

propósito?<br />

Golden Circle aplicado<br />

ao Procurement<br />

Com alguma ousadia, vou aplicar o Golden<br />

Circle ao Procurement. Vai ajudar-me a<br />

reflectir sobre a evolução do Procurement.<br />

O que era o Golden Circle há 20 anos? O<br />

que é agora? Mudou com a pandemia? Vai<br />

mudar muito no futuro? Essencialmente,<br />

quero compreender o que é verdadeiramente<br />

importante no Procurement e, com a<br />

necessidade do reset criada pelo Covid-19,<br />

quero perceber o que poderá reforçar, agora<br />

e no futuro, a relevância do Procurement<br />

dentro das organizações.<br />

Aqui vai a minha interpretação do Golden<br />

Circle aplicado ao Procurement:<br />

O Why do Procurement Qual é o<br />

propósito do Procurement na empresa? Qual<br />

é a relevância do Procurement dentro da<br />

empresa e qual a sua missão? Ofereço aqui<br />

uma tagline, mas pode ser outra, desde que<br />

esteja alinhada com a missão da empresa:<br />

“encontrar soluções de fornecimento para<br />

satisfazer as necessidades da empresa,<br />

fazendo-o de forma responsável, sustentável<br />

e inovadora, e assegurando os preços mais<br />

competitivos.”<br />

O How do Procurement Como vamos<br />

alcançar o propósito? É neste ponto que<br />

desenvolvemos as nossas estratégias de<br />

categorias e de fornecedores, e os nossos<br />

projectos de criação de valor; é também neste<br />

ponto que desenvolvemos todos os processos<br />

e sistemas que nos permitem executar com<br />

eficácia e eficiência. Para executarmos bem,<br />

precisamos de excelentes profissionais, de<br />

uma escolha adequada de fornecedores com<br />

as capacidades necessárias, e precisamos de<br />

ferramentas para automatizar, simplificar e<br />

dar visibilidade.


36<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

O What do Procurement O<br />

que fazemos comprova aquilo em que<br />

acreditamos, ou seja, deve estar alinhado com<br />

o nosso propósito. Quais são os resultados<br />

visíveis dos planos que executamos? Neste<br />

ponto, devemos conseguir demonstrar que<br />

os resultados das nossas iniciativas no<br />

Procurement estão directamente ligados<br />

com o propósito, e mais genericamente, com<br />

as prioridades da empresa. Normalmente,<br />

conseguimos demonstrar os resultados<br />

visíveis que entregamos através de<br />

indicadores de desempenho (KPI’s).<br />

É inquestionável que a pandemia criou<br />

muita incerteza. Paradoxalmente, acho<br />

que também trouxe clareza de propósito.<br />

Defendo que 2/3 do nosso foco deve ir para o<br />

Why+What, e 1/3 deve ir para o How.<br />

Um Why muito claro inspira, dá foco e<br />

assegura que o Procurement está sempre<br />

ligado às prioridades do negócio. Gosto de<br />

reforçar este ponto porque é fundamental<br />

como ponto de partida para provar a<br />

relevância do Procurement dentro da<br />

empresa. O What é a entrega de resultados<br />

do Procurement em benefício da empresa,<br />

é a nossa contribuição. Isto é materializado<br />

através dos projectos e iniciativas que o<br />

Procurement conduz, que resultam em<br />

resultados para a empresa. Se fizermos bem o<br />

nosso trabalho de casa, as nossas iniciativas<br />

estarão alinhadas com o propósito, e o<br />

propósito estará alinhado com as prioridades<br />

da empresa.<br />

1/3 do foco vai para o How. Na minha<br />

opinião, não devemos passar demasiado<br />

tempo a rever e actualizar estratégias e<br />

planos. Devemos evitar “overdoses” de<br />

planeamento com fraca execução. Temos que<br />

garantir que executamos bem e de forma<br />

Devemos evitar “overdoses”<br />

de planeamento com fraca<br />

execução. Temos que garantir<br />

que executamos bem e de forma<br />

consistente (o What).<br />

consistente (o What). Este ponto é importante<br />

porque assegura que o Procurement ganha<br />

credibilidade dentro da empresa e conquista<br />

a confiança dos seus clientes internos.<br />

Faço outra reflexão sobre o How. Às vezes,<br />

é neste ponto que o Procurement se fecha<br />

muito sobre si mesmo, perdendo o foco no<br />

que é essencial. Estratégias para categorias,<br />

para fornecedores, ferramentas Source-<br />

-To-Contract e Purchase-To-Pay, tudo isto<br />

são coisas que nem sempre são relevantes<br />

para as outras funções da empresa. Vejo<br />

estes elementos como alavancas que o<br />

Procurement tem à disposição para entregar<br />

resultados para o negócio. Na verdade, o<br />

que os clientes internos e a gestão de topo<br />

esperam do Procurement é o What, isto é,<br />

eles querem que o Procurement contribua,<br />

através das suas iniciativas e resultados, para<br />

que a empresa alcance os seus objectivos<br />

estratégicos, tácticos e operacionais.


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

Em resumo<br />

Em retrospectiva, e olhando para o futuro,<br />

parece-me que o Why e o What não mudam<br />

muito. Na verdade, têm sido consistentes ao<br />

longo dos anos. O propósito do Procurement<br />

é encontrar soluções de fornecimento para<br />

satisfazer as necessidades da empresa,<br />

fazendo-o de forma responsável, sustentável<br />

e inovadora, e procurando assegurar os<br />

preços mais competitivos. O What é a<br />

execução e os resultados que o Procurement<br />

entrega ao negócio, é a face visível do Why.<br />

Os Whats podem mudar de acordo com as<br />

prioridades da empresa, mas o Why será<br />

sempre bastante consistente ao longo do<br />

tempo.<br />

No universo do Procurement, as mudanças<br />

têm acontecido ao nível do How. Com a<br />

evolução da função, os profissionais de<br />

Procurement têm encontrado formas cada<br />

vez mais eficazes e eficientes de executar,<br />

utilizando várias alavancas: mais ferramentas<br />

tecnológicas e digitais, maior acesso a<br />

talento, maior escolha de fornecedores<br />

capazes, etc. De certa forma, a toolbox do<br />

Procurement cresceu bastante ao longo<br />

dos anos e a tecnologia facilitou esse<br />

crescimento.<br />

No entanto, a pandemia veio mostrar<br />

que, em tempos de crise, o que a empresa<br />

realmente espera do Procurement é clareza<br />

no Why (o propósito) e entrega dos Whats<br />

(os resultados visíveis e as soluções de<br />

fornecimento das necessidades da empresa). •


38 novembro <strong>2020</strong><br />

procurement<br />

Texto: Dora Assis<br />

Sociedade Central de<br />

Cervejas e Bebidas e<br />

Nova cultura agrícola<br />

Inovação no<br />

processo de<br />

Procurement<br />

A Sociedade Central de Cervejas<br />

e Bebidas e a Agri Marketplace<br />

criaram uma parceria que poderá<br />

vir a dar os seus frutos ou, neste<br />

caso, cevada. A plataforma<br />

digital irá executar o processo de<br />

procurement da produção de cevada<br />

dística, na região do Vale do Sado<br />

cuja aquisição estará a cargo da<br />

Sociedade Central de Cervejas e<br />

Bebidas, criando assim um processo<br />

de procurement inovador.<br />

Em 2019, a Sociedade Central de<br />

Cervejas e Bebidas em conjunto com a<br />

start-up portuguesa Agri Marketplace,<br />

uma plataforma digital global que faz a<br />

ligação entre agricultores e organizações<br />

de produtores aos seus clientes agroindustriais,<br />

destinada à comercialização<br />

online de produtos agrícolas e a facilitar o<br />

contacto entre a procura e a oferta, criaram<br />

um projecto que pretende potenciar a<br />

inovação na cadeia de valor e promover a<br />

agricultura nacional: a criação de uma nova<br />

fileira de produção de cevada dística em<br />

Alcácer do Sal.<br />

A iniciativa passa pelo cultivo de cevada<br />

dística pelos produtores de arroz da<br />

região do Vale do Sado, com a garantia de<br />

aquisição dessa produção pela Sociedade


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

a criação da nova fileira de cevada em Alcácer do Sal é uma oportunidade<br />

para os produtores agrícolas da região mitigarem efeitos da situação<br />

de crise dos últimos anos, através de rendimento alternativo e,<br />

simultaneamente, uma diversificação agrícola a longo prazo, através da<br />

implementação de uma cultura de sequeiro<br />

Sociedade Central de Cervejas e Bebidas


40<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

Para a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas este é mais um exemplo<br />

da abordagem do seu programa de sustentabilidade que define<br />

compromissos ao longo de toda a cadeia de valor – “da cevada até ao<br />

bar” -, privilegiando a aquisição de matérias-primas de fornecedores<br />

nacionais, reduzindo assim o volume da quota de cevada importada<br />

(importação que resulta da indisponibilidade no mercado nacional de<br />

todas as necessidades do sector para a produção das suas cervejas)<br />

Central de Cervejas e Bebidas. O projecto<br />

nasce como resposta à escassez de água<br />

na zona do Vale do Sado, consequência<br />

das obras a decorrer nos canais da rega,<br />

que tiveram um forte impacto negativo na<br />

produção do arroz.<br />

Com esta iniciativa, a Sociedade Central<br />

de Cervejas e Bebidas procura inovar, inovar-<br />

-se e incentivar a produção e aquisição<br />

nacional e, consequentemente, diminuir a<br />

importação, contribuindo activamente para<br />

o desenvolvimento económico e social das<br />

respectivas comunidades.<br />

Segundo os responsáveis da Sociedade<br />

Central de Cervejas e Bebidas “a criação<br />

desta nova fileira de cevada em Alcácer do<br />

Sal é também uma oportunidade para os<br />

produtores agrícolas desta região mitigarem<br />

efeitos da situação de crise dos últimos<br />

anos, através de rendimento alternativo e,<br />

simultaneamente, uma diversificação agrícola<br />

a longo prazo, através da implementação<br />

de uma cultura de sequeiro”. Além disso, é<br />

ainda possível dinamizar outras entidades da


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

região, como o Agrupamento de Produtores<br />

de Arroz do Vale do Sado (APARROZ), através<br />

da sua prestação de serviços de beneficiação<br />

e armazenamento do cereal.<br />

Esta iniciativa representa uma verdadeira<br />

inovação agrícola, com a execução de<br />

um processo de procurement altamente<br />

personalizado efectuado pela Agri<br />

Marketplace na região do Vale do Sado e que<br />

resultou numa área total de 100 hectares<br />

de produção de cevada em Alcácer do Sal,<br />

distribuídos por três produtores agrícolas e<br />

com uma estimativa de produção anual total<br />

de 300 toneladas de cevada dística.<br />

Para a Sociedade Central de Cervejas<br />

e Bebidas este é mais um exemplo<br />

da abordagem do seu programa de<br />

sustentabilidade que define compromissos ao<br />

longo de toda a cadeia de valor – “da cevada<br />

até ao bar” -, privilegiando a aquisição de<br />

matérias-primas de fornecedores nacionais,<br />

reduzindo assim o volume da quota de<br />

cevada importada (importação que resulta<br />

da indisponibilidade no mercado nacional<br />

de todas as necessidades do sector para a<br />

produção das suas cervejas).<br />

A expectativa é que a iniciativa possa<br />

repetir-se no próximo ano e expandir-se<br />

geograficamente, para que mais produtores<br />

tenham acesso a esta oportunidade de<br />

rendimento e de exploração de uma nova<br />

cultura agrícola. •


42<br />

nOVEMBRO <strong>2020</strong><br />

Texto: Adaptado por Fábio Santos<br />

A<br />

globalização<br />

de um<br />

sistema de<br />

compras<br />

públicas de<br />

um país<br />

O governo chinês está a criar um sistema de<br />

compras públicas aberto e transparente e a<br />

tentar integrar-se no mercado das compras<br />

públicas internacionais. Com mais de 7 mil<br />

fornecedores registados no Nível Básico<br />

da Organização das Nações Unidas (ONU),<br />

a China tornou-se o segundo maior em<br />

termos de fornecedores. Zhang Shaogang,<br />

vice-presidente do Conselho de Promoção<br />

do Comércio Internacional da China (CCPIT),<br />

aponta que há um grande potencial de<br />

participação nas oportunidades de compra<br />

da ONU.<br />

procurement<br />

Transparência das<br />

compras públicas na<br />

China<br />

“O<br />

engajamento no enorme mercado<br />

de compras públicas internacionais<br />

ajudará as empresas a fazerem pleno<br />

uso dos mercados e recursos nacionais e<br />

internacionais e fortalecerá a cooperação<br />

com países, regiões e organizações<br />

internacionais”, defendeu Zhang Shaogang<br />

durante o seu discurso num fórum na Feira<br />

Internacional de Comércio de Serviços da


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

China (CIFTIS).<br />

O vice-presidente do CCPIT pediu uma<br />

melhor introdução às regras e processos<br />

de modo a incentivar as empresas a fazer<br />

parte do public procurement internacional,<br />

como a ONU, estabelecendo plataformas<br />

para as empresas chinesas comunicarem<br />

com organizações internacionais para<br />

a cooperação e fazerem esforços para<br />

aumentarem a sua transparência, a sua<br />

abertura e a terem um impacto internacional<br />

nas compras públicas.<br />

Através do site do National Bureau<br />

of Statistics (NBS) podemos aceder a<br />

informações actualizadas sobre o estado de<br />

diversos sectores, avaliar as suas evoluções<br />

- tanto mensal como anualmente -, entre<br />

outros dados importantes.


44 novembro <strong>2020</strong><br />

Nova Rota da Seda<br />

Nos últimos anos o comércio digital da China<br />

com países ao longo da Nova Rota da Seda<br />

tem tido um forte impulso para a China, à<br />

medida que o sector continua a apresentar<br />

um enorme potencial, de acordo com o<br />

relatório do estudo conjunto realizado pelas<br />

Editora da Indústria Electrónica, Academia<br />

Chinesa de Internet Industrial e Instituto<br />

Chinês de Electrónica.<br />

O estudo analisou o comércio digital da<br />

China com mais de 30 países ao longo da<br />

Nova Rota da Seda, e de forma a avaliar o<br />

desenvolvimento e o potencial das trocas<br />

com estes países, teve em consideração<br />

seis índices: vínculos comerciais digitais,<br />

potencial, base, meio ambiente, riscos e<br />

níveis.<br />

Sete dos países que integram o top 10 são<br />

asiáticos, e cinco deles integram a ASEAN<br />

(Associação de Nações do Sudeste Asiático).<br />

No caso da Índia, Israel, Irão e Sérvia, os<br />

índices têm-se mantido em crescimento por<br />

cinco anos consecutivos, e Singapura e a<br />

Turquia registaram um crescimento anual de<br />

19 e de 11%, respectivamente, em 2018.<br />

Através do site do National<br />

Bureau of Statistics (NBS)<br />

podemos aceder a informações<br />

actualizadas sobre o estado de<br />

diversos sectores, avaliar as<br />

suas evoluções - tanto mensal<br />

como anualmente -, entre outros<br />

dados importantes.<br />

Índice de preços ao<br />

consumidor<br />

O NBS apresentou o crescimento do Índice de<br />

Preços ao Consumidor da China (CPI, na sigla<br />

inglesa), o principal indicador da inflação,<br />

tendo os valores obtidos sido de 2,4% em<br />

Agosto, uma ligeira descida face aos 2,7%<br />

verificados em Julho.<br />

O crescimento do CPI foi-se moderando<br />

enquanto o preço da comida aumentava<br />

devagar. Enquanto isso, os preços dos<br />

produtos não-alimentares, apenas<br />

aumentaram em Agosto, com o incremento<br />

das viagens, influenciadas pelas férias de<br />

Verão. O aumento verificado foi de apenas<br />

0.1% face ao mês anterior, mas foi a primeira<br />

vez que ficou positivo após o surto de<br />

COVID-19.<br />

O NBS também relatou que o Índice de<br />

Preço do Produtor (PPI, na sigla inglesa), que<br />

mede os preços de fabrico, caiu dois pontos<br />

percentuais em Agosto, face ao ano anterior.<br />

Em Julho a queda foi de 2.4%. •


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46 novembro nOVEMBRO <strong>2020</strong><br />

intralogística<br />

Beiersdorf e LPR<br />

Supply Chain<br />

Management<br />

Supply chain<br />

autónoma:<br />

desafios,<br />

benefícios<br />

e fatores de<br />

sucesso<br />

O supply chain management enfrenta uma<br />

pressão considerável e é um alvo importante<br />

para a transformação. Essa pressão resulta<br />

de níveis crescentes de complexidade,<br />

expectativas mais altas por parte do cliente,<br />

um ambiente mais volátil (COVID-19, guerras<br />

comerciais, Brexit), dificuldade em gerir<br />

custos e falta de visibilidade.<br />

Jörg Junghanns, Capgemini


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

Texto:<br />

Jörg Junghanns, Vice President Europe, Digital Supply<br />

Chain Business Services, Capgemini<br />

Ilustrações: Capgemini<br />

Qualquer que seja o cenário, os supply<br />

chain managers procuram normalmente<br />

processos mais eficazes e autónomos nas<br />

cadeias de abastecimento, com melhores<br />

níveis de serviço, previsão eficaz da procura e<br />

otimização da capacidade de resposta.<br />

Uma “cadeia de abastecimentos autónoma”<br />

é aquela que opera sem intervenção humana,<br />

aproveitando a automação inteligente para<br />

entregar benefícios significativos à cadeia de<br />

valor de uma organização.<br />

Em primeiro lugar, a automação ajuda a<br />

reduzir custos, combinando economia de FTE<br />

e menores custos de tratamento de exceções,<br />

juntamente com ganhos de produtividade e<br />

qualidade. Em segundo lugar, os produtos são<br />

entregues com mais rapidez e a experiência<br />

do cliente torna-se mais transparente e<br />

contínua desde o pedido até à entrega. A<br />

satisfação do cliente aumenta à medida que<br />

os enfadonhos telefonemas necessários para<br />

localizar produtos ou reclamações sobre erros<br />

de entrega ou de faturação são eliminados.<br />

Finalmente, como as organizações são<br />

capazes de processar mais, mais rápido e<br />

com menos incidências, criam valor para os<br />

clientes e beneficiam de ganhos em termos de<br />

capacidade que, eventualmente, também terão<br />

efeitos na receita.<br />

No entanto, a automação pode fazer muito<br />

mais do que simplesmente cortar custos<br />

e há muitas maneiras de a implementar<br />

em escala sem depender de mudanças de<br />

infraestruturas/regulamentação (como drones)<br />

- por exemplo, alavancando em escala uma<br />

força de trabalho digitalmente aumentada.<br />

Muito também depende da qualidade dos<br />

dados da cadeia de abastecimento. As<br />

empresas precisam dominar a informação,<br />

os dados: a autonomia não pode ser<br />

desencadeada se a informação e os dados<br />

não estiverem prontamente disponíveis,<br />

atualizados em tempo real e sejam<br />

consistentes e completos.<br />

A supply chain e a logística não se referem<br />

tanto à movimentação de mercadorias físicas;<br />

há décadas que é sobre mover informação.<br />

Um pouco de automação aqui e ali não<br />

tornará a sua supply chain autónoma. Requer<br />

integração e consolidação antes de se alcançar<br />

a autonomia.<br />

Rumo a uma cadeia de<br />

abastecimento autónoma<br />

O primeiro passo é reunir na equipa as<br />

skills e competências adequada. Avançar<br />

rapidamente e sem ter em atenção o factor<br />

humano vai gerar confusão e diminuir o<br />

desempenho da cadeia de abastecimento. Não<br />

menos importante é definir uma cultura de<br />

melhoria contínua e inovação constante, por<br />

exemplo, alavancando um grupo de trabalho<br />

digitalmente aumentado em escala.<br />

Com a abordagem correcta, a autonomia<br />

acontecerá por etapas e não como uma<br />

espécie de “big bang”. É uma viagem.<br />

Concentre-se primeiro nas áreas de elevado<br />

impacto, possibilite ganhos rápidos e comece<br />

com protótipos. Para tal, quem gere a supply<br />

chain deve identificar áreas de excelência que<br />

mais facilmente podem tornar-se “touchless” e<br />

nas quais se pode impulsionar a autonomia da<br />

cadeia de abastecimento.


48 novembro <strong>2020</strong><br />

O desafio de automatizar<br />

As cadeias de abastecimento já não são<br />

simples “cadeias”. Agora têm fluxos de<br />

talentos, financeiros e físicos que se<br />

entrelaçam como numa espiral semelhante<br />

ao ADN, resultando num ecossistema de alta<br />

complexidade, que muitas vezes é agravado<br />

pelo baixo nível de transparência causado por<br />

processos manuais. Além disso, muitas cadeias<br />

de abastecimento não deram ainda o passo<br />

para a digitalização, pelo que ainda há muito<br />

trabalho de casa a fazer antes de se poder<br />

avançar e introduzir a digitalização para apoiar<br />

as supply chain autónomas.<br />

Alguns dos obstáculos típicos que as<br />

organizações enfrentam ao tentar criar uma<br />

cadeia de abastecimentos mais autónoma<br />

incluem:<br />

• A falta de visibilidade e transparência<br />

devido a fluxos de processos desactualizados<br />

e sistemas de informação que não<br />

comunicam entre si, muitas vezes exigindo<br />

troca de informação por e-mail.<br />

• Falta de agilidade para agir com base<br />

em insights devido à baixa velocidade de<br />

informação e rigidez de processos, o que<br />

impacta na resiliência geral da cadeia de<br />

abastecimento.<br />

• Dificuldade em encontrar os talentos<br />

certos numa indústria muito competitiva<br />

com novas tecnologias, o que torna os perfis<br />

típicos da supply chain menos relevantes e<br />

os “novos perfis digitais” caros para treinar e<br />

difíceis de reter.<br />

• Não centralização e consolidação leva<br />

a custos elevados, baixa produtividade e<br />

cenários tecnológicos desarticulados entre si.<br />

• A falta de uma abordagem de<br />

transformação holística e de “governance”<br />

adequada dificulta o alargamento da<br />

estratégia a toda a organização.<br />

A cadeia de abastecimento<br />

autónoma em acção<br />

A Capgemini tem vindo a ajudar alguns<br />

clientes a projetar e gerir as suas supply<br />

chains seguindo boas práticas que combinam<br />

as competências ideais, combinação de<br />

localização e processos apoiados em<br />

automação inteligente, análise e plataformas<br />

mundialmente reconhecidas. No fundo,<br />

temos vindo a ajudar os nossos clientes a<br />

transformar os seus processos e a geri-los nos<br />

nossos centros de entrega para maximizar a<br />

produtividade.<br />

Por exemplo, uma empresa multinacional<br />

da área de FMCG havia maximizado as<br />

suas capacidades de previsão recorrendo a<br />

módulos de forecasting integrados no seu<br />

ERP padrão. Aproveitámos a nossa estrutura<br />

de planeamento da procura alimentada por<br />

automação inteligente e combinámo-la com<br />

as melhores plataformas de machine learning.<br />

Isto levou a um aumento significativo na<br />

precisão da previsão e a uma redução de mais<br />

de 25% nos custos de planeamento. Este<br />

cliente está num processo de transformação<br />

para implementar uma função de touchless<br />

planning.


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

Um outro caso é o de uma empresa<br />

internacional, fabricante de produtos<br />

químicos, que estava a desenvolver<br />

internamente operações de fulfillment,<br />

com um elevado custo operacional e baixa<br />

produtividade. Com a automação inteligente<br />

transformámos as operações do cliente e<br />

criámos uma equipa lean, com uma localização<br />

próxima e boa relação custo-benefício. Isto<br />

levou à criação de um fluxo de compra/<br />

venda contactless, que verifica se todas as<br />

informações necessárias estão corretas e, ou<br />

faz um levantamento das exceções, ou conduz<br />

a informação para uma fase posterior do<br />

processo e aí aciona a entrega das mercadorias<br />

necessárias.<br />

Fatores-chave para o êxito<br />

da implementação<br />

Avançar para uma supply chain autónoma é<br />

um ponto fundamental da transformação<br />

digital e não apenas mais uma tecnologia, pelo<br />

que é muito importante que a empresa esteja<br />

preparada para abraçar mudanças e disrupções<br />

crescentes e operar de forma ágil e dinâmica.<br />

Para garantir o valor do negócio, você<br />

também precisa de uma metodologia<br />

consistente e holística. O Digital Global<br />

Enterprise Model (D-GEM) da Capgemini é<br />

uma plataforma que engloba as ferramentas e<br />

técnicas para remodelar e otimizar processos,<br />

permitindo que conduza operações sem<br />

atrito e avance para a implementação de uma<br />

empresa também ela “frictionless”.<br />

Além de tecnologias fundamentais, como<br />

automação de processos robóticos (RPA),<br />

o machine learning tem um potencial<br />

considerável para ajudar, por exemplo, no<br />

planeamento da procura, aumentando a<br />

precisão da informação e ajudando na tomada<br />

de decisões. Já há tecnologias que podem<br />

reconhecer e interpretar o texto de um e-mail<br />

e responder, sendo possível enviar de modo<br />

automático todas as informações necessárias;<br />

por exemplo, para o processamento<br />

de pedidos, preencher os pedidos<br />

automaticamente, com o pedido validado face<br />

ao stock e com a prioridade de entrega de<br />

acordo com as regras da empresa - e tudo sem<br />

intervenção humana. Isto é apenas o começo.<br />

A inteligência artificial e o blockchain ainda<br />

têm um longo caminho a percorrer para atingir<br />

o seu potencial.<br />

O nível de autonomia na resposta da supply<br />

chain também pode ser melhorado através do<br />

recurso a análises como forma de monitorizar<br />

e prever potenciais exceções e problemas,<br />

automatizando a sua mitigação ou propondo<br />

as próximas ações para quem decide na supply<br />

chain.<br />

Isto é apenas o princípio. As organizações<br />

que aproveitarem o potencial das novas<br />

tecnologias para implementar uma supply<br />

chain autónoma em escala serão as que vão<br />

posicionar-se na linha da frente. •


50<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

intralogística<br />

Beiersdorf e LPR<br />

Novo sistema de<br />

separação<br />

Texto: Dora Assis<br />

Fotos: Parfois<br />

Parfois reforça resposta<br />

logística<br />

De forma a dar resposta às necessidades e à rapidez exigida<br />

pela estratégia comercial da Parfois, a marca apostou num<br />

novo sistema de separação no centro de distribuição do Porto.<br />

Através deste investimento, a empresa pretende ainda reforçar<br />

a sua rede de distribuição e abastecimento de produtos.


SCM Supply Chain Magazine<br />

51<br />

O<br />

novo sistema de triagem, localizado no<br />

centro de distribuição de 45.000 metros<br />

quadrados do Porto, foi instalado numa<br />

área de 4.000 metros quadrados. A infraestrutura<br />

é um dos centros logísticos da<br />

Parfois e é responsável pelo fornecimento<br />

de produtos a mais de 1.000 lojas da marca,<br />

localizadas em 72 países em todo o mundo.<br />

Os principais objectivos do projecto<br />

visaram melhorar a ergonomia e a qualidade<br />

do trabalho dos colaboradores; aumentar<br />

a execução e a capacidade de expedição a<br />

partir do principal centro de distribuição<br />

da retalhista, para permitir o crescimento<br />

da empresa e a estratégia de expansão do<br />

negócio para os próximos anos; e criar uma<br />

solução que complemente e equilibre a<br />

tecnologia actual.<br />

a nova tecnologia disponibiliza um<br />

sistema de separação altamente<br />

eficaz para o abastecimento de<br />

produtos, centrado na eficiência<br />

de alto nível, com uma capacidade<br />

de triagem de até 7.200 unidades/<br />

hora, a retalhista pode alcançar<br />

uma capacidade máxima de<br />

separação de 21.600 unidades/<br />

hora<br />

Assim, a nova tecnologia disponibiliza um<br />

sistema de separação altamente eficaz para<br />

o abastecimento de produtos, centrado na<br />

eficiência de alto nível que as operações<br />

requerem, com uma capacidade de triagem de<br />

até 7.200 unidades/hora, sendo que através<br />

da combinação de sistemas, a retalhista<br />

pode alcançar uma capacidade máxima de<br />

separação de 21.600 unidades/hora.<br />

Destacam-se como principais melhorias mais<br />

25% de aumento de produtividade face ao<br />

sistema actual, optimização da área ocupada<br />

tendo em conta o espaço actualmente<br />

disponível no centro de distribuição, consumo<br />

eco-eficiente em termos de energia e<br />

iluminação e a capacidade de separação de<br />

artigos devolvidos (logística inversa) de lojas<br />

e clientes.<br />

A execução do projecto foi concluída<br />

em Agosto de <strong>2020</strong> após algumas etapas,<br />

incluindo o desenvolvimento do conceito,<br />

a concepção dos detalhes e, por fim, a sua<br />

implementação. O desenvolvimento do<br />

projecto contou com diferentes parceiros de<br />

logística e intralogística, como a TGW Ibérica<br />

Sistemas Logísticos, a Equinox MHE e a<br />

Logistics Project Management.<br />

A rede logística e de distribuição da<br />

Parfois é então composta por seis centros<br />

de distribuição, quatro deles situados em<br />

Portugal, responsáveis pelo fornecimento do<br />

produto, logística inversa e fornecimento de<br />

mobiliário para as suas lojas físicas e online. •


52 <strong>Novembro</strong> <strong>2020</strong><br />

Tecnologias<br />

Janela Única<br />

Alfandegária<br />

Texto: Fábio Santos<br />

JANela Única com vista<br />

para além-fronteiras<br />

A Comissão Europeia propôs uma nova iniciativa que visa agilizar os<br />

processos digitais de controlo fronteiriço não-alfandegários às mercadorias<br />

que entram ou saem da União Europeia (UE), uma janela única, que visa<br />

permitir às empresas e comerciantes inserir dados num único portal de um<br />

Estado membro individual, reduzindo essa repetição, bem como tempo e<br />

custos.


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

Anualmente, a União Aduaneira facilita a<br />

troca de bens no valor de cerca de 3,5<br />

biliões de euros, pelo que é necessário um<br />

desembaraço aduaneiro e controles eficientes<br />

de modo a que o comércio flua sem problemas.<br />

Através da Janela Única, as alfândegas<br />

passarão a contar com uma solução digital<br />

voltada para o futuro que permite a rápida e<br />

eficiente troca de dados electrónicos entre<br />

autoridades governamentais.<br />

Segundo explica a Comissão Europeia<br />

através de um comunicado, com a sua<br />

implementação também será possível que<br />

as empresas cumpram as formalidades<br />

fronteiriças num único portal, num<br />

determinado Estado-Membro. Por sua vez,<br />

as alfândegas passam apenas a verificar<br />

automaticamente se as mercadorias cumprem<br />

os requisitos da UE, bem como as formalidades<br />

necessárias.<br />

Um processo complexo e<br />

demorado<br />

Actualmente, as formalidades requeridas pelas<br />

fronteiras externas à UE envolvem amiúde o<br />

envio de informação para várias autoridades<br />

e de diferentes áreas políticas, como a saúde<br />

e segurança, ambiente, agricultura, pescas,<br />

património cultural, e fiscalização do mercado<br />

e conformidade dos produtos, sendo que<br />

cada uma tem procedimentos diferentes nos<br />

seus portais. “Isto é um processo demorado e<br />

que consome tempo para os comerciantes, e<br />

reduz a capacidade de as autoridades agirem<br />

em conjunto no combate aos riscos”, pode-se<br />

ainda ler no comunicado da União Europeia,<br />

Com a solução apresentada pela<br />

Comissão Europeia, as empresas<br />

passam a publicar a informação<br />

no portal comum, ao qual as<br />

entidades aduaneiras e as<br />

restantes autoridades também<br />

passam a ter acesso<br />

“esta proposta é o primeiro passo na criação<br />

de um quadro digital para uma cooperação<br />

reforçada entre todas as autoridades de<br />

fronteira, através de uma janela única”.<br />

Com a solução apresentada pela Comissão<br />

Europeia, as empresas passam a publicar<br />

a informação no portal comum, ao qual<br />

as entidades aduaneiras e as restantes<br />

autoridades também passam a ter acesso,<br />

permitindo assim uma abordagem totalmente<br />

coordenada para o desalfandegamento e<br />

uma visão mais transparente ao nível das<br />

mercadorias que entram e saem da UE.<br />

A substituição dos diversos portais<br />

existentes fica a cabo dos Estados-Membros,<br />

que deverão criar os seus portais nacionais<br />

de Janela Única como alternativa aos actuais,<br />

sendo estes ligados por um framework digital<br />

da UE, que a Comissão terá a responsabilidade<br />

de implementar, facilitando o processo<br />

através do acesso comum por parte das<br />

autoridades. A UE defende que deste modo<br />

será criada “uma abordagem muito mais<br />

simplificada, coordenada e holística para o<br />

desalfandegamento de mercadorias na União<br />

Europeia”.


54<br />

novembro <strong>Novembro</strong> <strong>2020</strong><br />

Este é um projecto ambicioso<br />

que implicará um investimento<br />

importante a nível da UE e<br />

dos Estados-Membros, com<br />

implementação gradual ao<br />

longo da próxima década<br />

“Este é um projecto ambicioso que implicará<br />

um investimento importante a nível da UE e<br />

dos Estados-Membros, com implementação<br />

gradual ao longo da próxima década”, podese<br />

ainda ler no comunicado, sendo que<br />

os Estados-Membros terão de investir na<br />

transformação das suas legislações, processos<br />

e sistemas informáticos nacionais. A Comissão<br />

Europeia reforça no comunicado que estará<br />

disponível para auxiliar os países neste<br />

sentido com o programa de apoio financeiro<br />

Recovery and Resilience Facility.<br />

História do projecto<br />

O projecto-piloto teve início em 2012 e entrou<br />

em produção em 2014, estando operacional<br />

em nove Estados-Membros (República Checa,<br />

Irlanda, Eslovénia, Letónia, Bulgária, Polónia,<br />

Chipre, Estónia e Portugal).<br />

“O primeiro passo foi permitir a validação<br />

automática de documentos comprovativos<br />

(ou seja, certificados e licenças) para a<br />

declaração aduaneira, utilizando a solução<br />

EU Customs SW Initiative disponibilizada pela<br />

infra-estrutura da DG TAXUD da Comissão<br />

Europeia”, explica o comunicado, sendo que<br />

“a aceitação e verificação automatizadas de<br />

certificados pelas alfândegas já oferecem<br />

vantagens tanto para os operadores<br />

económicos como para as administrações<br />

públicas”.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Em Dezembro de 2016 foi criado o Grupo<br />

de Projectos Alfândega <strong>2020</strong>, um grupo de<br />

trabalho para estudar uma possível estrutura<br />

para desenvolver o ambiente da Janela Única<br />

da UE para as alfândegas e os seus aspectos<br />

jurídicos. Este grupo tinha como objectivo<br />

“abordar a visão global do ambiente da Janela<br />

Única da UE para as alfândegas, incluindo<br />

a cobertura para a aceitação e verificação<br />

automatizada de certificados que suportam<br />

a declaração aduaneira, a base jurídica<br />

necessária, bem como o Plano de Acção para<br />

estabelecer esse ambiente”.<br />

O business case para o novo projecto<br />

“Janela Única Alfandegária da UE: Troca de<br />

Certificados” (EU CSW-CERTEX) foi aprovado<br />

pelos Estados-Membros e pela Comissão,<br />

no início de 2017, foram aprimoradas várias<br />

funcionalidades, adicionados certificados, e<br />

ambicionam ainda mais.<br />

“A próxima fase do projecto abrangerá a<br />

interconexão com o sistema de Licenciamento<br />

ODS2 da DG CLIMA, permitindo a troca de<br />

informações sobre as Licenças de Substâncias<br />

Destruidoras do Ozónio (ODS) e Gases de<br />

Efeito Estufa Fluorados (FGAS)”, refere ainda<br />

o comunicado, que referia ainda que até ao<br />

final do ano estaria prevista a habilitação da<br />

interligação ODS, e o próximo para o fluxo do<br />

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56<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

Tecnologias<br />

Bosch Industry<br />

Consulting<br />

Texto: Ana Paiva<br />

As fábricas inteligentes<br />

já não são do futuro,<br />

são do presente<br />

Em 2019, a Bosch lançou em Portugal o Bosch Industry Consulting, um serviço de<br />

consultoria e industrialização de projectos com o objectivo de auxiliar as empresas<br />

no processo de transformação digital, bem como no consequente aumento de<br />

competitividade nas áreas da logística e indústria. Tiago Sacchetti, responsável por este<br />

serviço em Portugal e Espanha, refere o papel da Bosch Industry Consulting, o panorama<br />

da transformação digital em Portugal, e ainda os desafios que se impõem para o futuro.


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

O<br />

trabalho da Bosch Industry Consulting<br />

passa por ajudar as empresas ou fábricas<br />

na transformação digital do processo<br />

de produção e logística desde a definição<br />

da orientação estratégica inicial até ao<br />

planeamento e implementação das melhores<br />

soluções, direccionando as empresas para a<br />

criação das fábricas inteligentes.<br />

Os clientes deste serviço de consultoria<br />

actuam em vários mercados, mas, segundo<br />

Tiago Sacchetti, “a mobilidade e os bens de<br />

consumo são predominantes”. Ainda assim, as<br />

metodologias da empresa são desenvolvidas,<br />

testadas e melhoradas em fábricas que<br />

produzem tipicamente produtos discretos, ou<br />

seja, dos quais se vendem unidades separáveis<br />

em oposição, por exemplo, à produção de<br />

energia. “Há também algumas excepções<br />

e, no caso específico da definição de uma<br />

visão de fábrica inteligente, as ferramentas<br />

e metodologias que permitem definir uma<br />

cadeia de valor digitalizada e o consequente<br />

programa de transformação, não dependem<br />

significativamente do tipo de produção pelo<br />

que também temos clientes de indústrias não<br />

discretas com quem trabalhamos”, refere.<br />

O processo adoptado pela Bosch Industry<br />

Consulting inicia-se com a definição do desfio<br />

ou problema, que levará à elaboração de uma<br />

proposta de trabalho detalhada. Esta fase<br />

inclui, muitas vezes, uma análise ‘in loco’ das<br />

operações de forma a melhor poder quantificar<br />

o impacto da mudança que irão propor. Após<br />

um acordo entre as partes relativamente a<br />

objectivos, conteúdo e valor da proposta,<br />

iniciam os trabalhos nas instalações do<br />

cliente. A partir daí seguem-se todas as fases<br />

e processos de um projecto, dependendo da<br />

sua complexidade e dimensão, como conta o<br />

responsável.<br />

(Os clientes deste serviço de<br />

consultoria actuam em vários<br />

mercados mas) a mobilidade e os<br />

bens de consumo são predominantes<br />

Tiago Sacchetti<br />

Passo estratégico<br />

Actualmente já existem muitas empresas a<br />

trabalhar na transformação inteligente das<br />

suas unidades de produção a nível global.<br />

Os países mais industrializados são os que<br />

avançam mais rapidamente, como é o caso<br />

da Alemanha e da China. Se analisarmos a<br />

selecção de fábricas inteligentes pelo World<br />

Economic Forum verifica-se que cinco são<br />

europeias, três são chinesas, (em que uma<br />

é a da Bosch, em Wuxi), e a outra é norteamericana.<br />

Relativamente a Portugal, já existe a<br />

consciencialização, “o que é um bom passo,<br />

mas neste momento falta-nos claramente<br />

velocidade de transformação”, confessa Tiago<br />

Sacchetti. O custo da conectividade industrial<br />

é, por norma, uma barreira no momento<br />

de investir devido ao seu custo elevado<br />

quando comparado com o seu baixo valor<br />

tangível. “Sabemos que essa conectividade<br />

será a base de todos os benefícios da fábrica<br />

inteligente, mas se continuarmos a apresentar<br />

este argumento como um acto de fé, iremos<br />

continuar a ter dúvidas e a adiar decisões”,<br />

afirma. Para que as empresas industriais<br />

possam tomar estas decisões de forma<br />

consciente, a Bosch Industry Consulting<br />

oferece um programa rápido de definição de


58<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

visão de operações digitais onde determina<br />

o estado de maturidade operacional, mapeia<br />

os pontos de dados relevantes e define<br />

um roadmap e subprojectos adequado às<br />

especificidades de cada fábrica.<br />

Esta urgência de adoptar a transformação<br />

digital como um objectivo estratégico advém<br />

de uma lição aprendida recentemente,<br />

conta o responsável “de facto a Indústria<br />

4.0 foi inicialmente apresentada como uma<br />

oportunidade, mas o que se verifica é que<br />

é um factor de disrupção tão grande que<br />

causa uma clivagem no mercado entre quem<br />

realmente transformou as operações, e<br />

beneficia de benefícios proporcionais, e os<br />

outros que defenderam o negócio de forma<br />

tradicional e vêem uma erosão crescente das<br />

vendas e dos resultados económicos”.<br />

As pessoas são chave porque<br />

além de participarem no<br />

desenho e execução da fábrica<br />

inteligente, são elas, no final, as<br />

responsáveis pelos processos e<br />

as beneficiárias da melhoria na<br />

competitividade da empresa<br />

Tiago Sacchetti<br />

O caminho para o sucesso<br />

Tiago Sacchetti conta que existe um<br />

denominador comum no passado de<br />

algumas organizações que passa por várias<br />

iniciativas de indústria 4.0, muitas vezes<br />

“avulsas e avaliadas de forma isolada, cuja<br />

execução se prolonga por largos meses (até<br />

anos) sem nunca realmente se colherem os<br />

benefícios esperados”. É o que denominam<br />

de “o purgatório dos projectos-piloto”. O<br />

responsável explica que este é um problema


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

típico na execução da indústria 4.0, uma vez<br />

que o valor das soluções se multiplica apenas<br />

quando se conectam sistemas. Avaliar cada um<br />

dos projectos de forma isolada leva a tomar<br />

decisões negativas. Outro dos problemas<br />

habituais é a conexão directa entre a origem<br />

do dado e a sua aplicação, “de facto, existem<br />

vários sistemas no mercado que se propõem<br />

abarcar a cadeia de valor do dado desde a sua<br />

fonte até à sua utilização. À primeira vista<br />

pode parecer interessante ter uma solução<br />

completa, mas o que verificamos nas fábricas<br />

mais inteligentes é que o mesmo dado é,<br />

muitas vezes, útil para uma grande variedade<br />

de aplicações. É exactamente por isto que,<br />

normalmente, desenhamos modelos de<br />

operação em que os dados são identificados,<br />

tratados e disponibilizados por sistemas<br />

autónomos”, explica. A definição de uma visão<br />

de operações digitais é, por norma, a acção<br />

que quebra a sequência de projectos-piloto, e<br />

esta visão inclui tanto o modelo de fluxo de<br />

materiais e informação como também define<br />

os componentes-chave da arquitectura dos<br />

sistemas. “A fábrica inteligente não existirá<br />

sem este último componente, pelo que é<br />

necessário desenvolver competências neste<br />

campo”, refere.<br />

O responsável considera que a transparência<br />

e as pessoas são factores críticos para alcançar<br />

o sucesso: “a importância da transparência<br />

multiplica-se numa fábrica inteligente porque<br />

ninguém irá admitir que não se consiga<br />

perceber a causa de uma determinada decisão<br />

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60 novembro <strong>2020</strong><br />

quando a isso somamos a visualização<br />

dos desvios entre o planeado e o<br />

expedido, ou a possibilidade de simular<br />

o estado do armazém dentro de<br />

quatro horas, um dia ou uma semana<br />

incluindo a identificação dos picos de<br />

capacidade nas operações de picking<br />

de acordo com o plano de produção,<br />

aí já começamos a transformar<br />

informação em conhecimento e a<br />

potenciar melhores decisões<br />

Tiago Sacchetti<br />

automática (especialmente se provocar um<br />

problema). As pessoas são chave porque<br />

além de participarem no desenho e execução<br />

da fábrica inteligente, são elas, no final, as<br />

responsáveis pelos processos e as beneficiárias<br />

da melhoria na competitividade da empresa”.<br />

Quanto à logística, tem beneficiado do<br />

desenvolvimento tecnológico, especialmente<br />

da Internet of Things (IoT) e Tiago Sacchetti<br />

acredita que continuaremos a ver muita<br />

inovação nesta área, sempre com o foco<br />

em tornar as cadeias de fornecimento mais<br />

resilientes, eficientes e adaptáveis, e que<br />

não podemos deixar de estar atentos ao<br />

efeito disruptivo da inteligência artificial no<br />

planeamento de produção e de automação de<br />

transportes.<br />

Com a tecnologia actual, não é difícil<br />

imaginar um gestor de operações logísticas a<br />

visualizar num mapa, todos os materiais que<br />

se dirigem para a fábrica, mas “quando a isso<br />

somamos a visualização dos desvios entre o<br />

planeado e o expedido, ou a possibilidade de<br />

simular o estado do armazém dentro de quatro<br />

horas, um dia ou uma semana, incluindo<br />

a identificação dos picos de capacidade<br />

nas operações de picking de acordo com<br />

o plano de produção, aí já começamos a<br />

transformar informação em conhecimento<br />

e a potenciar melhores decisões”, explica o<br />

responsável pela Bosch Industry Consulting.<br />

A conexão dos sistemas logísticos com os<br />

vários sistemas, dentro e fora da organização<br />

é, provavelmente, o campo com o potencial<br />

de gerar maiores benefícios. Tiago Sacchetti<br />

termina com a questão “imaginamos o ERP<br />

a criar um pedido ao departamento de<br />

compras indirectas para negociar um possível<br />

transporte aéreo para daqui a duas semanas,<br />

pois espera-se um nevão forte nos Pirenéus<br />

numa altura em que os motoristas espanhóis<br />

se preparam para convocar uma greve?”.•


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

Tecnologias<br />

A importância da<br />

digitalização<br />

A gestão<br />

documental<br />

no sector dos<br />

transportes e<br />

logística<br />

O cenário com o qual nos deparamos<br />

atualmente trouxe inúmeros desafios<br />

a todos, em especial às organizações<br />

que, de um dia para o outro, e<br />

devido à pandemia provocada pela<br />

COVID-19, viram-se obrigadas a<br />

estabelecer um Plano B para dar<br />

continuidade aos seus negócios e<br />

disponibilizar novas ferramentas de<br />

trabalho aos seus colaboradores.<br />

Texto: Nuno Igrejas,<br />

SMB Branch Director, Ricoh Portugal<br />

Nos tempos que vivemos, é impossível as<br />

organizações “fugirem” da digitalização.<br />

Aliás, esta condição tornou-se um ponto<br />

fulcral para dar continuidade aos negócios,<br />

principalmente agora com a diretiva de o<br />

teletrabalho ser obrigatório. Quer tenham<br />

sido impelidas ou não a “abraçar” as novas<br />

tecnologias, a digitalização oferece inúmeras<br />

vantagens às empresas.<br />

As organizações devem permanecer flexíveis<br />

para se adaptarem a um cenário competitivo<br />

em mudança contínua. É essencial o acesso<br />

rápido aos dados e a capacidade de convertêlos<br />

em envolvimento tangível com os seus<br />

clientes. Analisaremos então como se encontra<br />

este setor no que toca à digitalização:


62 NOvembro <strong>2020</strong><br />

Um setor sob pressão<br />

Nuno Igrejas<br />

O setor de Transportes e Logística enfrenta na<br />

sua operação diária um conjunto de desafios,<br />

desde a pressão crescente nos preços, exercida<br />

pelos fornecedores, às taxas de portagens,<br />

passando pelo preço dos combustíveis.<br />

Assim, o sucesso de uma empresa neste setor<br />

depende mais do que nunca da rentabilidade<br />

e flexibilidade dos processos de negócio e da<br />

robustez do serviço ao cliente.<br />

Sustentabilidade tecnológica<br />

Só a adaptação a novas tecnologias<br />

inteligentes e modernas pode levar uma<br />

organização a ser mais rentável e, se possível,<br />

oferecer outros serviços inovadores e<br />

diferenciadores. Na base estão os documentos.<br />

Por um lado, existe o papel convencional,<br />

como as guias de remessa, os comprovativos<br />

das guias de remessa e os programas<br />

de distribuição; por outro lado, existem<br />

arquivos eletrónicos, como por exemplo,<br />

toda a correspondência eletrónica. Assim, as<br />

únicas empresas capazes de se manterem<br />

a longo prazo face às pressões do mercado<br />

competitivo são as que dispõem de um<br />

sistema integrado de gestão documental.<br />

A ineficiência dos processos<br />

tradicionais<br />

Muitas empresas neste setor fazem de<br />

tudo para se manterem atualizadas com os<br />

desenvolvimentos mais recentes. Todavia,<br />

ainda assistimos a guias de remessa e/<br />

ou transporte serem copiadas várias vezes<br />

e entregues em mão ao departamento de<br />

administração, fazendo com que a emissão de<br />

faturas seja atrasada por dias ou até semanas.<br />

O atendimento ao cliente também é afetado,<br />

uma vez que depois de lida a correspondência<br />

eletrónica pelo cliente, parte dela é excluída<br />

ou apenas impressa e arquivada de tempos em<br />

tempos, existindo diferentes metodologias de<br />

arquivamento, dependendo do departamento.<br />

Como resultado, pode levar dias para se<br />

responder a perguntas sobre a localização de<br />

uma guia de remessa ou fatura. Com a gestão<br />

de documentos todas estas questões podem<br />

ser ultrapassadas: com um único clique, cada<br />

colaborador autorizado pode aceder a todos<br />

os documentos em segundos a qualquer<br />

momento e desde qualquer lugar.<br />

Emissão de faturas lenta<br />

Embora atualmente uma transportadora<br />

entregue a sua carga bastante rápido, a<br />

emissão das faturas nos escritórios costuma<br />

ser muito tardia. Uma vez recebida a guia de<br />

remessa assinada pelo cliente, a mesma é<br />

copiada várias vezes e classificada e toda a<br />

documentação é enviada ao departamento de<br />

contabilidade por correio interno. Emite-se a<br />

fatura de acordo com as condições do cliente e<br />

devolve-se ao responsável também por correio<br />

interno. Uma vez recebida, é verificada antes<br />

do envio. Enquanto o processamento ocorre,<br />

o que geralmente leva vários dias, a empresa<br />

de logística continua a arcar com os custos<br />

incorridos durante o transporte.


SCM Supply Chain Magazine<br />

63<br />

Dos documentos ao Valor<br />

Desta forma, quanto mais atualizados forem<br />

os processos de uma empresa, mais vantagens<br />

terá em relação à concorrência. Assim, as<br />

únicas empresas capazes de se manterem a<br />

longo prazo perante a pressão do mercado<br />

competitivo são aquelas que melhor se<br />

adequam à nova realidade através da adoção<br />

de sistemas de gestão documental. Esta<br />

situação traz inúmeras vantagens desde a<br />

integração total com aplicações de terceiros,<br />

a capacidade da organização em garantir uma<br />

maior fidelidade dos clientes graças a um<br />

atendimento competente e rápido e ainda<br />

a motivação dos colaboradores que passam<br />

a perder menos tempo com as tarefas de<br />

processamento e de pesquisa de documentos.<br />

Tendo em conta as vantagens da<br />

digitalização das organizações na era digital<br />

em que vivemos, a RICOH com uma solução<br />

como o DocuWare disponibiliza um conjunto<br />

de ferramentas que permite às empresas:<br />

Com um software de gestão<br />

de conteúdos empresariais,<br />

uma organização de qualquer<br />

tamanho e de qualquer setor pode<br />

transformar os seus documentos<br />

num capital valioso<br />

Com um software de gestão de conteúdos<br />

empresariais, uma organização de qualquer<br />

tamanho e de qualquer setor pode transformar<br />

os seus documentos num capital valioso. O<br />

sistema de gestão de documentos automatiza<br />

processos de negócios e fluxos de trabalho,<br />

fazendo a gestão digital de documentos,<br />

qualquer que seja o formato e a fonte. Com<br />

uma única operação de pesquisa, a qualquer<br />

momento e desde qualquer lugar, é possível<br />

aceder de imediato a todos os documentos<br />

relacionados a uma empresa ou a um projeto. •<br />

• Um processo mais ágil na hora de faturar,<br />

obtendo-se uma liquidez mais rapidamente;<br />

• Uma integração completa e simples<br />

através de softwares de ERP e logística;<br />

• Captura e registo de dados sem erros e<br />

com melhor qualidade;<br />

• Relações mais fortes com os clientes<br />

através de um atendimento mais rápido e<br />

informado;<br />

• Fluxos de trabalho contínuos para um<br />

aumento da produtividade e competitividade;<br />

• Aumento da segurança jurídica graças à<br />

possibilidade da monitorização dos processos<br />

ao longo devários anos;<br />

• Espaço de armazenamento menor que<br />

permite reduzir despesas;<br />

• Assinatura eletrónica presencial ou<br />

remota.


64 novembro <strong>2020</strong><br />

Tecnologias<br />

Transformação digital<br />

Texto: Dora Assis<br />

Fotos: Profarin<br />

PROFARIN MIGRA PARA SAP S/4HANA<br />

COM A MILESTONE<br />

A Profarin, operador logístico especializado<br />

em produtos farmacêuticos, tomou a decisão<br />

de migrar os seus sistemas SAP para SAP<br />

S/4HANA. A Milestone foi a consultora na área<br />

de tecnologias de informação seleccionada<br />

para acompanhar o operador logístico<br />

português neste seu passo estratégico. O<br />

projecto de migração teve início em Janeiro de<br />

<strong>2020</strong> e o go-live aconteceu durante o mês de<br />

<strong>Novembro</strong>.<br />

A<br />

Profarin é um operador logístico<br />

especializado em produtos farmacêuticos,<br />

destinados a distribuição para farmácias,<br />

grossistas farmacêuticos e hospitais. A<br />

presença há mais de 30 anos no sector de<br />

distribuição farmacêutica, operando produtos<br />

de várias multinacionais de grande prestígio<br />

e exigência, conferem-lhe a experiência<br />

necessária para oferecer aos laboratórios<br />

serviços integrados de logística, optimizados<br />

às suas necessidades.


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Neste passo tecnológico estratégico do<br />

operador logístico, aos desafios inerentes<br />

a desenvolvimentos desta dimensão e<br />

complexidade, que neste caso implicou o<br />

envolvimento de 18 pessoas da Milestone e<br />

da Profarin, surgiram também as dificuldades<br />

impostas pela pandemia, que fizeram com<br />

que o projecto fosse, na sua maior parte,<br />

implementado remotamente.<br />

Transição sem sobressaltos<br />

Esta iniciativa é já um caso de sucesso,<br />

permitindo que a Profarin usufrua<br />

actualmente das vantagens do sistema SAP<br />

mais recente, com base de dados in-memory<br />

(HANA), optimizando a sua performance ao<br />

nível dos seus processos. Esta nova solução<br />

disponibiliza ainda um sistema que permite<br />

o desenvolvimento de futuras soluções de<br />

mobilidade.<br />

De acordo com Isabel Cajada, directora<br />

de operações do prestador de serviços<br />

logísticos para o sector farmacêutico, “a<br />

evolução tecnológica sempre foi uma aposta<br />

da Profarin, quer ao nível do ERP quer da<br />

robotização das instalações. A escolha do<br />

parceiro certo é preponderante para tornar<br />

os projectos disruptivos em casos de sucesso.<br />

A preparação e o acompanhamento próximo,<br />

mesmo à distância, foram fundamentais para<br />

garantir uma transição sem sobressaltos para<br />

S/4HANA.”<br />

Por seu turno, Nuno Almeida, administrador<br />

da Milestone, reforça que “os clientes que<br />

adoptam o SAP S/4HANA para realizar as<br />

suas transformações digitais precisam de<br />

um parceiro com capacidade para apoiar a<br />

inovação dos seus negócios e processos. A<br />

Milestone conta com uma equipa técnica e<br />

funcional experiente, qualificada e certificada<br />

para orientar e acompanhar a Profarin nesta<br />

transformação.”<br />

Inteligência digital<br />

do negócio<br />

Desde o lançamento do SAP S/4HANA, a<br />

Milestone tem investido na qualificação da<br />

sua equipa, criando a estrutura necessária<br />

para a realização de projectos de grande<br />

dimensão como é o caso da Profarin. Para<br />

além de suporte para a definição da solução<br />

de implementação e/ou migração, a Milestone<br />

conta também com competências para o<br />

aconselhamento naquilo que se refere à infra-<br />

-estrutura necessária para o SAP S/4HANA,<br />

seja em cloud – pública, privada ou híbrida –<br />

ou on premise.<br />

O SAP S/4HANA é o sistema ERP de próxima<br />

geração, que permite transformar empresas<br />

em negócios digitais inteligentes, com<br />

base nas melhores práticas e na automação<br />

habilitada pela inteligência artificial. •


66 novembro <strong>2020</strong><br />

transporte<br />

Gigaliner poupou 70<br />

toneladas de CO2<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Feliz Aniversário, Gigaliner<br />

O Gigaliner da Volkswagen Autoeuropa celebrou, em Setembro, um ano. Quando<br />

foi inaugurado esperava-se uma redução significativa das emissões de CO2, bem<br />

como dos camiões na estrada, e ainda uma poupança de custos logísticos. Após<br />

um ano, procurámos saber quais os ganhos que se obtiveram, os desafios que se<br />

impõem e o que podemos esperar deste modelo de transporte em 2021.<br />

Em Setembro de 2019, a Volkswagen<br />

Autoeuropa apresentava o novo Gigaliner:<br />

um camião de três eixos unido a um semireboque<br />

e a um dolly, que iria poupar até 70<br />

toneladas de CO2 por ano. Esperava-se que<br />

reduzisse em 30% as emissões na rota deste<br />

equipamento, bem como entre 30 a 40% de<br />

camiões semanais na mesma. Por último,<br />

pretendia-se ainda uma poupança de 5% em<br />

custos logísticos.<br />

Dinora Guerreiro, directora da cadeia de<br />

abastecimentos e transportes da Volkswagen<br />

Autoeuropa, revela que, de facto, este<br />

transporte oferece à empresa uma redução<br />

da pegada ambiental a cada viagem que<br />

percorre, “actualmente, com cerca de 17<br />

viagens semanais, o Gigaliner permitiu, no seu<br />

primeiro ano de utilização, uma redução de<br />

emissões em cerca de 70 toneladas de CO2”.<br />

Por sua vez, também originou um impacto<br />

positivo no que diz respeito à diminuição de<br />

custos, pois prescindiram de três transportes<br />

realizados por camião mega.<br />

Um dos objectivos para o Gigaliner na<br />

altura da sua apresentação era estender esta<br />

solução a outros fornecedores portugueses


SCM Supply Chain Magazine<br />

67<br />

e até espanhóis. Afirmando que a empresa<br />

procura promover o conceito ‘além-fronteiras’,<br />

após o estudo do desenvolvimento do mesmo<br />

em Portugal, Dinora Guerreiro explica que “o<br />

impacto ambiental e económico extrapolado<br />

para os nossos fornecedores espanhóis, a<br />

cerca de 1.000 quilómetros da fábrica, é uma<br />

aposta relevante dentro da estratégia de<br />

transportes da fábrica. Por forma a alcançar<br />

este objectivo, a Volkswagen Autoeuropa tem<br />

procurado fazer algumas diligências junto<br />

das entidades governamentais no sentido<br />

de agilizar o processo legal, em torno desta<br />

solução logística inovadora: um Gigaliner<br />

Ibérico”.<br />

actualmente, com cerca<br />

de 17 viagens semanais, o<br />

Gigaliner permitiu, no seu<br />

primeiro ano de utilização,<br />

uma redução de emissões em<br />

cerca de 70 toneladas de CO2<br />

Dinora Guerreiro<br />

Soluções win-win<br />

precisam-se<br />

equipamentos na sua frota, o qual também<br />

colmata parcialmente alguma escassez de<br />

motoristas”, revela a directora da cadeia de<br />

abastecimento e de transportes da empresa.<br />

Através da extensão do conceito, acreditam<br />

que o impacto ambiental e económico poderá<br />

ser um benchmark para outras empresas<br />

dentro e fora do grupo Volkswagen.<br />

No que diz respeito a desafios, existindo<br />

interesse em promover esta solução de<br />

transporte, é necessário ultrapassar os<br />

actuais constrangimentos legais que não<br />

permitem a passagem entre países, pois<br />

aqueles “que promoverem esta iniciativa<br />

estarão a dar um passo positivo na estratégia<br />

europeia de redução de camiões na estrada”,<br />

explica Dinora Guerreiro. Acrescenta que,<br />

em paralelo, é importante as empresas de<br />

transporte continuarem a apostar nestes<br />

e noutros equipamentos que promovam<br />

soluções win-win entre cliente e fornecedor,<br />

e a disponibilidade de equipamentos e de<br />

trajectos adequados para os mesmos são<br />

desafios que, a médio prazo, têm de ser<br />

avaliados e ultrapassados pelas partes<br />

interessadas.<br />

Aumentar ganhos, superar desafios e<br />

concretizar objectivos, é assim que se aguarda<br />

o 2021 do Gigaliner, tendo sempre como foco<br />

a sustentabilidade ambiental e a optimização<br />

logística. •<br />

Após um ano de actividade, os objectivos<br />

mantêm-se e os desafios aumentam. Daqui<br />

a um ano, esperam alcançar o principal<br />

objectivo que é complementar o conceito<br />

actual do Gigaliner com a sua utilização alémfronteiras,<br />

e será possível “com o suporte<br />

de empresas de transporte que actualmente<br />

apostam na disponibilidade destes


68 NOVEMBRO <strong>2020</strong><br />

transporte<br />

MGC Transitários<br />

Parceria<br />

MGC Transitários/Efacec<br />

leva luz ao Ruanda<br />

Em 2017, a Efacec venceu o concurso internacional lançado pela República do<br />

Ruanda para a instalação de três subestações de alta tensão no Ruanda, com vista<br />

à electrificação total do país em 2023. Com as construções, o país atingiu o nível de<br />

tensão de 220kV pela primeira vez.


SCM Supply Chain Magazine<br />

69<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Efacec<br />

A<br />

MGC Transitários teve a seu cargo o<br />

complexo processo logístico da operação,<br />

e Gonçalo Ribeiro, sales manager &<br />

business developer da empresa, conta que “a<br />

MGC foi responsável por todas as entregas<br />

do projecto, tanto pela via marítima como<br />

pela via aérea”. A operação aconteceu nas<br />

condições DAP e envolveu 13 transportes<br />

aéreos, totalizando 57 toneladas de carga,<br />

e cerca de 200 contentores, dos quais três<br />

quartos foram xtrades de vários países como<br />

Itália, Alemanha, Holanda, Índia ou China.<br />

Apesar de terem movimentado estruturas<br />

com mais de 15 metros de comprimento,<br />

aponta que os maiores desafios que<br />

encontraram foram ao nível burocrático.<br />

“Durante a primeira fase pandémica existiam<br />

cerca de 2.000 camiões na fronteira entre<br />

a Tanzânia e o Ruanda sem autorização de<br />

entrada no país, devido ao lockdown imposto<br />

pelo Ruanda que só permitia circular camiões<br />

de origem ruandesa”, conta Gonçalo Ribeiro,<br />

tendo sido necessário contratar uma grua<br />

que se dirigiu à fronteira e transbordou<br />

contentores e tubos de 15 metros de<br />

comprimento de camiões da Tanzânia para<br />

camiões do Ruanda, conseguindo fazê-lo em<br />

24 horas.<br />

Durante a primeira fase pandémica,<br />

existiam cerca de 2.000 camiões<br />

na fronteira entre a Tanzânia<br />

e o Ruanda sem autorização<br />

de entrada no país, devido ao<br />

Lockdown imposto pelo Ruanda que<br />

só permitia circular camiões de<br />

origem ruandesa<br />

Gonçalo Ribeiro<br />

“Todos os transportes marítimos foram<br />

efectuados até ao Porto de Dar Es Salam<br />

sendo que o transporte terrestre dos<br />

contentores teve que cruzar toda a Tanzânia”,<br />

comenta ainda o responsável, ficando a mais<br />

de 1.500 quilómetros do porto marítimo, o<br />

que, devido às infra-estruturas de que o país<br />

dispunha, representava uma viagem de cerca<br />

de sete dias.<br />

“Este é um projecto que nos enche de<br />

orgulho, pois apesar de todos os desafios<br />

que encontrámos contribuímos para deixar o<br />

mundo um lugar melhor, onde cerca de mais<br />

6 milhões têm hoje acesso a electricidade”,<br />

conclui Gonçalo Ribeiro. •


70 novembro <strong>2020</strong><br />

carreira<br />

Recrutamento<br />

especializado<br />

Texto: Dora Assis<br />

“UMA ÚNICA FUNÇÃO PODE IMPLICAR<br />

REQUISITOS COMPLETAMENTE<br />

DIFERENTES”<br />

Hugo Gonçalves, fundador da RSDG Human Capital, investiu numa empresa especializada<br />

no recrutamento e selecção de profissionais, que traça e identifica os perfis dos<br />

profissionais mais detalhada e especificamente para a área da logística e supply chain.<br />

Espera, assim, preencher uma lacuna que achou que existia no mercado.<br />

Numa actividade transversal como a<br />

logística, e com tantas vertentes tão<br />

distintas e com diferentes especificidades<br />

entre si, um cargo como director de logística<br />

pode ir desde, por exemplo, logística<br />

farmacêutica, alimentar, não perecíveis,<br />

peças metálicas ou até transportes (e mesmo<br />

esses podem ser rodoviários, ferroviários,<br />

marítimos, fluviais…). O termo é abrangente,<br />

o que torna um desafio para os recrutadores<br />

perceberem o que realmente necessitam, e se<br />

os profissionais em questão têm a experiência<br />

necessária para preencher os requisitos da<br />

empresa. É normal que os directores de<br />

logística da área automóvel não estejam<br />

familiarizados com as questões de logística de<br />

frio, para citarmos apenas um exemplo.<br />

É pelo conhecimento profundo do mundo da<br />

supply chain e das suas especificidades que a<br />

RSDG Human Capital se quer diferenciar.


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Quando nasceu e como surgiu a ideia de<br />

criar uma empresa de recrutamento e selecção<br />

especializada em logística e supply chain?<br />

Hugo Gonçalves – A ideia de criar um projecto<br />

é na realidade bastante antiga e há muito<br />

tempo que estava na nossa mente. A área<br />

claramente teria de ser a nossa área de eleição<br />

– a logística – mas o quê apenas surgiu em<br />

Julho passado.<br />

Durante o nosso percurso profissional<br />

tivemos necessidade de recrutar pessoas<br />

para as nossas equipas, esta necessidade<br />

levou a que por vezes fosse necessário<br />

recorrer a parceiros externos para conseguir<br />

seleccionar a pessoa certa. Foram então<br />

contactados alguns dos grandes players no<br />

mercado nacional da área de recrutamento e<br />

selecção. Apesar de alguns terem consultores<br />

especializados em logística, nem sempre<br />

era fácil conseguir os candidatos com a<br />

experiência e capacidades que se pretendia.<br />

Dada a especificidade da área é importante<br />

conhecê-la por dentro. Um supervisor de<br />

armazém, por exemplo, tem requisitos<br />

completamente diferentes dependendo<br />

da empresa e da sua área de actuação. É<br />

um armazém que abastece uma linha de<br />

montagem? É um armazém que recepciona<br />

e expede mercadoria? É um armazém<br />

de frio? Carrega, descarrega e manuseia<br />

mercadoria perigosa? É automatizado?<br />

Funciona como plataforma de cross docking?<br />

Uma única função pode implicar requisitos<br />

completamente diferentes e que necessitam<br />

de uma boa definição nas capacidades<br />

necessárias à função. É aqui que nós surgimos,<br />

dada a experiência que temos das várias<br />

empresas e funções por onde passámos,<br />

vamos poder dar todo o suporte para<br />

conseguir mais rapidamente e assertivamente<br />

chegar ao candidato certo.<br />

A vossa actividade está centrada numa<br />

região ou actuam a nível nacional?<br />

> Nós estamos onde as empresas precisarem<br />

de nós. Como profissionais da logística<br />

ninguém mais do que nós saberá como estar<br />

no local acordado à hora combinada!<br />

Hoje em dia existem várias formas de<br />

contacto, quer presencialmente quer<br />

virtualmente e isso está cada vez mais<br />

facilitado. A situação actual veio vincar isso<br />

mesmo e levou a que todos o percebessem de<br />

forma clara.<br />

No início, o contacto até pode ser à distância<br />

utilizando para o efeito as várias ferramentas<br />

disponíveis, mas com o avançar do processo<br />

e na fase final de entrevista claramente<br />

teremos de ter um contacto pessoal quer com<br />

os nossos clientes (as empresas) quer com os<br />

candidatos seleccionados.<br />

Não queremos fazer aquilo que<br />

desconhecemos, não queremos<br />

fazer recrutamento generalizado,<br />

queremos fazer recrutamento<br />

especializado para a área da<br />

logística e supply chain<br />

Hugo Gonalçves,


72<br />

novembro <strong>2020</strong><br />

Este é um sector de actividade onde<br />

predominam alguns “gigantes” multinacionais.<br />

Como procuram distinguir-se e fazer a<br />

diferença?<br />

> A RSDG Human Capital posiciona-se num<br />

segmento onde efectivamente existem<br />

algumas empresas de referência nacional e<br />

internacional. Por terem uma presença tão<br />

vincada ditam algumas das regras e modelos<br />

que acabam por ser adoptados pelo mercado.<br />

Fazer a diferença – é esta a génese da nossa<br />

existência. Pelo que conseguimos apurar, em<br />

Portugal não existe nenhuma empresa de<br />

recrutamento especializada apenas numa área<br />

de actuação, quer seja a logística ou outra.<br />

Aqui já começa a diferença. Não queremos<br />

fazer aquilo que desconhecemos, não<br />

queremos fazer recrutamento generalizado,<br />

queremos fazer recrutamento especializado<br />

para a área da logística e supply chain.<br />

O nosso objectivo é criar uma relação<br />

com as empresas com as quais estamos a<br />

trabalhar, queremos em conjunto não só com<br />

o departamento de Recursos Humanos mas<br />

também com o responsável da área para<br />

onde estamos a recrutar, criar uma relação de<br />

confiança. Queremos ir ao terreno e perceber<br />

qual é a área de actuação, que tarefas<br />

necessitam de suporte, que tipo de produtos<br />

ou serviços disponibilizam, que expectativas<br />

têm para a posição em aberto. Com a nossa<br />

experiência perspectivamos ajudar a definir<br />

o perfil da pessoa necessária no caso da<br />

empresa assim desejar. Assim, iremos<br />

conseguir direccionar a nossa pesquisa de uma<br />

forma mais objectiva e concreta de maneira a<br />

atingir os objectivos globais. Adicionalmente,<br />

há que referir que para nós o processo<br />

não termina com a selecção do candidato,<br />

queremos fazer um acompanhamento próximo<br />

durante o período de integração e acompanhar<br />

ambas as partes para saber se fomos bem<br />

sucedidos. Queremos saber se o seleccionado<br />

sente que a posição era a que ambicionava<br />

e se a empresa está satisfeita com o perfil<br />

escolhido. Só assim podemos seguir em frente<br />

com a confiança de dever cumprido.<br />

Que impacto tem tido a pandemia no<br />

recrutamento e selecção e que mudanças<br />

considera que a mesma pode trazer em termos<br />

de trabalho ao mundo da logística e supply<br />

chain?<br />

> Como qualquer outro factor que traga<br />

disrupção e como qualquer disrupção traz<br />

mudanças também esta pandemia vai fazer a<br />

sua parte.<br />

Uma das grandes mudanças que já se<br />

verifica na área do recrutamento e selecção é<br />

a forma de fazer esse recrutamento. Antes da<br />

pandemia já havia empresas numa fase inicial<br />

do processo a fazer entrevistas utilizando<br />

várias plataformas de comunicação como o<br />

“Teams” ou o “Zoom”. Com a pandemia esta<br />

ficou mais generalizada e está a tornar-se<br />

uma forma prática para ambos os lados,<br />

essencialmente na fase inicial para conhecer e<br />

avaliar os potenciais candidatos. Por um lado,<br />

se esta opção pode permitir até avaliar mais<br />

candidatos (devido à facilidade de o fazer)<br />

que com o processo anterior poderiam não<br />

ser considerados pode, no entanto, levar a<br />

uma menor percepção do candidato, pois um<br />

contacto pessoal mostra sempre mais. Daqui<br />

nasce a necessidade de haver uma adaptação<br />

dos recrutadores para conseguirem retirar uma<br />

maior informação possível destes primeiros<br />

contactos remotos. Terão de aprender novas<br />

técnicas e definir novas tácticas e formas<br />

de conseguir perceber se será, ou não, um<br />

candidato válido. Está aqui um novo desafio!


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

Há neste momento uma forte pressão nas cadeias logísticas e os profissionais<br />

desta área estão a ser muito requisitados e necessários em todos os domínios<br />

A área da logística e supply chain como se<br />

tem presenciado nos últimos meses tem sido<br />

uma das mais pressionadas e requisitadas<br />

– duma forma diferente que a área dos<br />

cuidados médicos – mas com uma importância<br />

extrema na sobrevivência e continuidade da<br />

vida na terra. O facto de as pessoas não se<br />

poderem deslocar leva a que cada vez mais<br />

tudo tenha de chegar às pessoas. Há neste<br />

momento uma forte pressão nas cadeias<br />

logísticas e os profissionais desta área estão<br />

a ser muito requisitados e necessários em<br />

todos os domínios. Acreditamos que será uma<br />

fase de crescimento nos próximos tempos,<br />

pois há um aumento das necessidades de<br />

movimentação de mercadorias, preparação<br />

das mesmas, novos pontos de armazenagem,<br />

deslocalização de fornecedores e criação<br />

de novos e diferentes fluxos logísticos, é<br />

necessário também pessoas capazes de criar,<br />

garantir e gerir todas estas novas alterações<br />

que subitamente passaram a necessitar destes<br />

profissionais.<br />

Em conclusão, pensamos que o futuro será<br />

promissor e desafiante e que cada vez mais<br />

precisaremos de pessoas capazes e com<br />

capacidade de adaptação e de resposta a este<br />

mundo que corre a uma velocidade que, por<br />

vezes, parece ser mais rápida que as nossas<br />

próprias possibilidades de o acompanhar. •<br />

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74 novembro <strong>2020</strong><br />

carreira<br />

Os tempos da<br />

incerteza<br />

O futuro e os<br />

resultados<br />

estarão do<br />

lado dos<br />

audazes<br />

Diz-nos o nosso histórico que, os últimos<br />

três meses do ano, são meses com muita<br />

atividade de marketing e promocional,<br />

são meses de pico de vendas e com uma<br />

dinâmica incrível na grande maioria dos<br />

espaços comerciais. Existem mesmo<br />

empresas que efetuam cerca de 90% dos<br />

seus resultados no último trimestre de cada<br />

ano. Mas e quando o histórico já não conta e<br />

a única certeza que temos é a incerteza?


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

Fátima Costa<br />

Texto: Fátima Costa<br />

Direcção de Outsourcing, Adecco Portugal<br />

Sabemos que todos os dias existem novas<br />

medidas restritivas, que inviabilizam<br />

o plano de ontem. Sabemos que o<br />

online ainda não chega a todos e que o<br />

presencial deixou de ser sexy. Sabemos que<br />

planeamento a curto/médio prazo, deixou de<br />

ter aplicabilidade.<br />

E mais que tudo, sabemos que temos de<br />

ter a habilidade extrema de uma rápida<br />

capacidade de adaptação enquanto sociedade,<br />

enquanto empresa e enquanto indivíduos.<br />

Assistimos a uma constante mudança de<br />

paradigma da forma como geríamos o nosso<br />

dia-a-dia, a forma de conviver, de fazer<br />

compras, de nos deslocarmos, até as nossas<br />

prioridades estão a ser alteradas, pelo que<br />

o panorama do mercado de trabalho está<br />

também ele altamente volátil e em constante<br />

mutação.<br />

Ainda há um mês, os preparativos para as<br />

campanhas de Natal e para a Black Friday,<br />

que envolvem a contratação de centenas<br />

de repositores, promotores, assistentes e<br />

operadores, estavam a decorrer com alguma<br />

normalidade e a apontar para um arranque<br />

de último trimestre quase que normal –<br />

com exceção de algumas empresas que no<br />

início da pandemia redirecionaram os seus<br />

investimentos de marketing para outros canais<br />

ou reintegraram esses valores para colmatar<br />

algumas das suas quebras de faturação –<br />

agora assistimos a um travar a fundo de tudo<br />

o que estava desenhado, adjudicado e a ser<br />

preparado para sair para o terreno!<br />

A nuvem de incerteza adensou-se<br />

novamente e com ela a neblina que não<br />

nos permite planear o amanhã. No entanto,<br />

continuamos a encontrar soluções que<br />

permitem às empresas ultrapassar obstáculos<br />

e desbravar este terreno desconhecido, porque<br />

é nestas alturas que nos devemos unir e<br />

reinventar.<br />

Verdade, porém, que apesar de toda a<br />

incerteza e mudança, haverá seguramente<br />

Natal na casa das famílias, em <strong>2020</strong>. Acredito<br />

que as famílias vão fazer jantar de Natal,<br />

enfeitar a árvore e haverá prendas dentro do<br />

sapatinho de cada um. Pelo que o futuro e os<br />

resultados estarão do lado dos audazes que<br />

apesar do receio, vão em frente e investem,<br />

inovam e estão presentes junto do consumidor<br />

nesta fase tão desafiante. •<br />

temos de ter a habilidade<br />

extrema de uma rápida<br />

capacidade de adaptação<br />

enquanto sociedade, enquanto<br />

empresa e enquanto indivíduos


76<br />

diário de bordo<br />

Sara Monte e Freitas<br />

Partner da Expense Reduction Analysts<br />

STOCKS: UMA<br />

NOVA REALIDADE<br />

Até sermos assolados por esta<br />

desconcertante pandemia, e, não<br />

tenhamos ilusões, sê-lo-emos por<br />

muito mais tempo, havia um conjunto<br />

de verdades absolutas e universais na<br />

logística, sobretudo no que se refere à<br />

gestão de stocks. Será que ainda fazem<br />

sentido enquanto a pandemia durar? E<br />

no pós pandemia, voltaremos a tê-las a<br />

guiar as provisões logísticas? Confesso<br />

que duvido.<br />

De entre os lugares comuns, constava que<br />

gerir stocks é garantir a confiabilidade<br />

da empresa e do produto. Um bom<br />

planeamento de stocks ajuda a conseguir<br />

boas margens de lucro. Stocks em falta ou<br />

excesso são tempo e dinheiro desperdiçados.<br />

Acompanhar prazos de validade, bem como o<br />

estado de conservação dos produtos, é vital.<br />

De entre muitas outras que poderia elencar,<br />

e que o leitor bem conhece, estas são algumas<br />

das velhas máximas de uma excelência na<br />

gestão de stocks e da supply chain. Em duas<br />

palavras bem simples: tudo mudou.<br />

A crise sanitária trouxe o desconhecido.<br />

Cenários que nunca qualquer organização<br />

ousou prever. Reagiu-se, e reage-se ainda<br />

hoje, a tatear a forma que se pensa ser a<br />

mais acertada. Vieram medos acrescidos.<br />

Parar produções, e não as vendas, foi a opção<br />

tomada por muitas empresas. Uma decisão<br />

contranatura, ao arrepio dos procedimentos de<br />

toda uma vida, em que tentar que os fluxos de<br />

entrada fossem idênticos aos de saída sempre<br />

foi o fito. Hoje, temos de ter excessos.<br />

Agora, para além da sazonalidade, da época<br />

do ano em que se está, dos períodos de férias,<br />

das épocas festivas, temos mais um titã da<br />

logística, maior e superior a todos, ao qual<br />

acresce o fato de os hábitos de consumo<br />

estarem absolutamente alterados. Mais uma<br />

variável a considerar e tatear neste complexo<br />

xadrez que se cria a cada dia que passa.


77<br />

A mais-valia dos stocks<br />

A imprevisibilidade de uma pandemia, que<br />

fecha e abre restaurantes, que fecha e abre<br />

superfícies comerciais, que condiciona a<br />

grande distribuição, que traz novos hábitos<br />

ao consumidor, que trouxe um papel<br />

preponderante ao comércio de proximidade,<br />

fez com que prever o amanhã logístico seja<br />

quase um absoluto exercício de adivinhação.<br />

E o amanhã, meus companheiros de<br />

logística, fez impender um peso gigantesco<br />

nas nossas produções, nas nossas operações,<br />

nas nossas pessoas.<br />

Agora, ainda mais que antes do Coronavírus,<br />

se uma produção parar, e se não tiver stocks<br />

de sobrevivência, morre. Morre enquanto<br />

produto, morre porque não está disponível<br />

na prateleira do mini, super ou hipermercado,<br />

e, portanto, morre nas vendas. Morrer pode<br />

ser considerada uma palavra forte, mas na<br />

realidade que vivemos, uma marca que não<br />

esteja disponível na prateleira (e pode ser uma<br />

prateleira virtual) não se compra e, portanto,<br />

não existe, sendo o seu espaço ocupado de<br />

imediato por outra.<br />

No cenário que vivemos e continuaremos a<br />

viver, porque nunca sabemos com os mesmos<br />

índices de previsibilidade que caraterizavam<br />

a era pré-pandemia, quanto e quando se vai<br />

vender, é obrigatório ter produção em excesso<br />

para garantir que o produto está no maior<br />

número de locais possível e gera o máximo de<br />

vendas possível.<br />

Ao contrário do passado, inventário ou<br />

stocks parados são uma mais-valia para<br />

as marcas e não dinheiro desperdiçado.<br />

Aguardam a janela da oportunidade, para<br />

vender o máximo e garantir zero ruturas,<br />

dada a previsibilidade do mercado ser muito<br />

volátil, fazendo com que não desapareçam do<br />

carrinho de compras do consumidor. •<br />

«Agora, ainda mais que antes do Coronavírus, se uma produção parar, e se não tiver<br />

stocks de sobrevivência, morre»


78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“O paradoxo da escolha”<br />

Barry Shwartz, 15 milhões de visualizações, 2005<br />

Existe um dogma oficial nas civilizações modernas ocidentais, tão entranhado em nós que nem o questionamos,<br />

de que, para maximizar o bem-estar de todos na sociedade, se tem de maximizar a liberdade de cada um, o que<br />

por sua vez se consegue maximizando a escolha individual.<br />

O leque de escolha é bom, por oposição a ausência de escolha, mas é mau quando se torna excessivo,<br />

defende Barry Schwartz. Por outras palavras, os limites são essenciais. No mundo em que vivemos, menos é<br />

definitivamente mais.<br />

Barry Schwartz fala-nos da epifania que<br />

teve quando foi comprar calças de ganga<br />

recentemente, as quais antigamente eram dum<br />

tipo único, muito desconfortáveis até serem<br />

usadas e lavadas algumas dezenas de vezes.<br />

Agora é possível sair duma loja com umas calças<br />

totalmente ajustadas, mas com um sentimento<br />

desagradável de que alguma coisa podia ser<br />

melhor.<br />

Basta ir a um supermercado na Europa ou nos<br />

Estados Unidos para nos sentirmos rodeados de<br />

escolha, por exemplo só nas dezenas de tipos de<br />

molhos para salada disponíveis. Implicitamente,<br />

tudo o que nos rodeia veicula a ideia de que a<br />

nossa autonomia se apoia na multitude de opções<br />

que são postas à nossa disposição, sejam sobre a<br />

nossa saúde, finanças ou trabalho. Mas será que<br />

isto nos torna mais felizes? Na realidade, tornanos<br />

miseráveis, segundo Barry Schwartz, por<br />

quatro razões principais.<br />

Primeiro, como a investigação científica, mas<br />

também o senso comum muitas vezes mostra,<br />

o excesso de opções pode paralisar-nos, em vez<br />

de nos libertar. Quanto mais temos por onde<br />

escolher menos sabemos pelo que optar, ficamos<br />

submersos nos critérios que devemos ter em<br />

conta e mais tempo temos de despender para<br />

obter um resultado reflectido. Segundo, seja<br />

qual for a opção escolhida, menos satisfeitos<br />

ficamos, porque há mais de que temos de abdicar,<br />

é o chamado custo de oportunidade que subtrai<br />

da nossa satisfação. Terceiro, há um escalar das<br />

expectativas. Quando alguém diz “antigamente<br />

é que era bom”, o que normalmente está a dizer<br />

é que antes, num passado não muito longínquo,<br />

havia mais surpresas agradáveis porque o<br />

dia-a-dia era bem mais limitado. O segredo da<br />

felicidade é manter as expectativas baixas. Por<br />

fim, com tantas escolhas à nossa disposição,<br />

a responsabilidade do que nos acontece é só<br />

nossa. Já não podemos culpar o universo, não há<br />

desculpa para o falhanço, e isso torna-se muito<br />

deprimente. O paradoxo é que estamos muito<br />

melhor do que antes, mas sentimo-nos muito pior.<br />

No fim, a má redistribuição da escolha no<br />

mundo equivale à má redistribuição da riqueza.<br />

Se todos tivéssemos alguma escolha, mas não<br />

demasiada, todos seriamos mais felizes.<br />

Barry Shwartz é um psicólogo americano, professor<br />

de Teoria Social e Acção Social no Swarthmore<br />

College, publicando frequentemente editoriais no<br />

The New York Times, em que aplica a sua pesquisa a<br />

eventos correntes.


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