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SUMÁRIO
JANEIRO
2021
05
ENTREVISTA
À MESA COM MIGUEL SOUSA LIMA
ENTREVISTA
A EXPERIÊNCIA DOS JOVENS NO PARLAMENTO
24
AÇORIANO
122
REPORTAGEM
24
58 RESILIÊNCIA FINANCEIRA E OPERACIONAL 128
REPORTAGEM
72 OS LIVROS EM TEMPO DE PANDEMIA
138
REPORTAGEM
85 ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
140
104
REPORTAGEM
O CRESCIMENTO DOS CENTROS DE SERVIÇOS
PARTILHADOS EM PORTUGAL
110
ESTUDO
MÁ VISÃO DUPLICA A PROBABILIDADE DE SOFRER DE
DEPRESSÃO
CRÓNICA
COVID19 #FICAREMCASA
CRÓNICA
LEITURAS DESALINHADAS
DESTAQUE
FRASES DO MÊS
Sátira Política
a experiência dos jovens
RESILIÊNCIA FINANCEIRA
OS LIVROS EM TEMPO
no parlamento açoriano 24
E OPERACIONAL 58
DE PANDEMIA
72
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NODEZ20
EDITORIAL
Se se pudesse escolher uma
palavra para ilustrar o ano
de 2020, escolheríamos
precisamente esta – desafiante,
a todos os níveis. Mais uma
reflexão sobre a pandemia
poderá parecer um pouco cliché,
mas queira-se ou não, a verdade
é que já vivemos com este vírus
há quase um ano. O primeiro
caso de COVID-19 foi reportado
no dia 31 de dezembro de 2019
em Wuhan e ninguém esperaria
uma epidemia à escala mundial,
que nos obrigasse a todos a ficar
em casa, a esperar que os dias
melhorassem e que os números
diminuíssem.
No dia 02 de fevereiro de
2020, aterrou na Região um
voo proveniente de Hong
Kong, apesar de nenhum dos
passageiros ser oriundo do
epicentro do vírus começaramse
a manifestar os primeiros
sinais de preocupação, embora
na altura o executivo tivesse
dado a garantia de que não
existisse qualquer perigo para a
saúde pública.
No dia 15 de março, surge o
primeiro caso de COVID-19 na
Região. Até então, tem sido uma
batalha diária de vários agentes
envolvidos, com a adoção de
medidas adequadas à situação
pandémica na Região. A
mudança de Governo Regional,
pelo que se pôde observar, não
foi fator desorientador para as
entidades envolvidas no que
respeita a manter o que estava
bem feito e a desenvolver novas
medidas de forma a mitigar a
pandemia.
Os profissionais de saúde,
felizmente, veem agora uma
“luz ao fundo do túnel” com
DESAFIANTE
a chegada da vacina, sem
descurar a responsabilidade de
cada um de nós que tem e deve
continuar a ser feita diariamente,
sob o prejuízo de esgotarmos
a capacidade de resposta do
Sistema Regional de Saúde e de
vivermos tempos difíceis no que
respeita a recuperação da região
pós-COVID.
Impensável seria também não
referir, pelo menos no espetro
político regional, a mudança de
uma Região que se governava
há 24 anos pelo poder socialista.
Apesar de terem conseguido
maior número de votos nas
urnas no passado dia 25 de
outubro, a reedição da Aliança
Democrática fez com que o
PSD voltasse ao poder volvidos
todos estes anos, assumindo a
responsabilidade e reconhecendo
as fragilidades que marcarão
os próximos tempos no
que respeita à recuperação
económica da Região pós-
COVID, mas também na
resolução de problemas crónicos
no nosso arquipélago, como
é o caso do abandono escolar
precoce, a precariedade no
acesso dos jovens ao mercado
de trabalho, mas também o igual
acesso aos cuidados de saúde
em toda e cada uma das nove
ilhas, o subfinanciamento do
SRS ou até mesmo o número
de beneficiários do Rendimento
Social de Inserção, a que o
executivo já se propôs diminuir,
com a criação de condições de
desenvolvimento económico
e de promoção da inclusão
social, laboral, de competências
pessoais, sociais e profissionais
que permitam quebrar o ciclo de
pobreza na Região.
FICHA TÉCNICA:
ISSN 2183-4768
PROPRIETÁRIO ASSOCIAÇÃO AGENDA DE NOVIDADES
NIF 510570356
SEDE DE REDAÇÃO RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,
9500-093 PONTA DELGADA
SEDE DO EDITOR RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,
9500-093 PONTA DELGADA
DIRETOR/EDITOR RUI MANUEL ÁVILA DE SIMAS CP3325A
DIRETORA ADJUNTA CLÁUDIA CARVALHO TPE-288A
REDAÇÃO CHEFE REDAÇÃO RUI SANTOS TPE-288 A,
CLÁUDIA CARVALHO TPE-288 A, SARA BORGES, ANA SOFIA
MASSA, ANA SOFIA CORDEIRO
REVISÃO ANA SOFIA MASSA
PAGINAÇÃO MÁRIO CORRÊA, RAQUEL AMARAL E CARINA
COELHO
CAPTAÇÃO E EDIÇÃO DE IMAGEM RODRIGO RAPOSO E
MIGUEL CÂMARA
DEPARTAMENTO DE MARKETING, COMUNICAÇÃO E IMAGEM
CILA SIMAS E RAQUEL AMARAL
PUBLICIDADE RAQUEL AMARAL E TÂNIA MACHADO
MULTIMÉDIA RODRIGO RAPOSO, RAFAEL ARAÚJO E MÁRIO
CORRÊA
INFORMÁTICA JOÃO BOTELHO
RELAÇÕES PÚBLICAS CILA SIMAS
Nº REGISTO ERC 126 641
COLABORADORES ANTÓNIO VENTURA, JOÃO CASTRO,
RICARDO SILVA
CONTACTOS MARKETING@AGENDADENOVIDADES.COM
ESTATUTO EDITORIAL:
A NO É UMA REVISTA DE ÂMBITO REGIONAL (NÃO FICANDO
EXCLUÍDOS OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA E
COMUNIDADES PORTUGUESAS ESPALHADAS PELO MUNDO).
A NO DISPONIBILIZA INFORMAÇÃO INDEPENDENTE E
PLURALISTA RELACIONADA COM A POLÍTICA, CULTURA
E SOCIEDADE NUM CONTEXTO REGIONAL, NACIONAL E
INTERNACIONAL.
A NO É UMA REVISTA AUTÓNOMA, SEM QUALQUER
DEPENDÊNCIA DE NATUREZA POLÍTICA, IDEOLÓGICA E
ECONÓMICA, ORIENTADA POR CRITÉRIOS DE RIGOR, ISENÇÃO,
TRANSPARÊNCIA E HONESTIDADE.
A NO É PRODUZIDA POR UMA EQUIPA QUE SE COMPROMETE
A RESPEITAR OS DIREITOS E DEVERES PREVISTOS NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA; NA LEI DE
IMPRENSA E NO CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS.
A NO VISA COMBATER A ILITERACIA, INCENTIVAR O GOSTO
PELA LEITURA E PELA ESCRITA, MAS ACIMA DE TUDO,
PROMOVER A CIDADANIA E O CONHECIMENTO.
A NO REGE-SE PELO CUMPRIMENTO RIGOROSO DAS NORMAS
ÉTICAS E DEONTOLÓGICAS DO JORNALISMO E PELOS
PRINCÍPIOS DE INDEPENDÊNCIA E PLURALISMO.
À MESA COM
Miguel Sousa Lima
fundador da Clínica de São Gonçalo
04 NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
Sejam bem-vindos ao “À Mesa Com”
aqui no Restaurante da Associação
Agrícola, nesta primeira revista do
ano e naquela que vai ser a nossa
primeira entrevista do ano. Estamos
com o Doutor Miguel Sousa Lima,
ele que é proprietário da Clínica de
São Gonçalo, a clínica que faz sorrisos
a muitos de nós açorianos e não só.
Vamos tentar que o ano de 2021 seja
com mais sorrisos. Doutor Miguel,
muito obrigada por ter vindo. Eu
gostaria de começar a entrevista com
uma pergunta muito básica. Como é
que foi a sua infância para vir dar a
este objetivo que foi ser dentista?
Bom, isso é uma pergunta super
interessante. Acho que a infância é
realmente a parte mais importante.
Há alguns anos atrás eu vi o Nabeiro
falar e dizer “paguem muitos cursos
aos vossos filhos, mas principalmente
viajem mais”, ou seja, os cursos
são importantes, mas viajar muito
é muito importante também. Eu,
felizmente, tive desde o meu avô que
foi uma pessoa que viajava imenso,
ao meu pai e o meu pai fazia comigo
o mesmo e eu tento fazer isso com os
meus filhos. Acho que isto permite
ter uma visão global do planeta onde
estamos inseridos e vemos muitas
oportunidades e acho que a minha
infância foi uma infância muito feliz,
muito na rua ao contrário do que hoje
em dia acontece. Não tínhamos nada
dessas coisas dos tablets e tal. Tinha
dez anos quando tivemos aqueles
primeiros spectrum 48k, aquelas
cassetes horrorosas que levava muito
tempo a abrir. Eu acho que foi um
privilégio nascer nos Açores e vir
viver neste paraíso.
E como é que surgiu depois a carreira
ENTREVISTA EM
VÍDEO NA VERSÃO
DIGITAL
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
de dentista? Normalmente no décimo
ano é que se faz aquela escolha da
área científica ou de humanidades.
Quando é que surgiu o gosto? Foi
antes?
Não. Isto é uma coisa engraçada. O
meu pai é veterinário e eu estava até
a pensar ir para veterinária e por
acaso naquele ano nós tínhamos o
contingente Açores e toda a gente
quis ir para veterinária e eu acabei
por entrar em dentária quando devia
era entrar em veterinária, mas os
três anos são básicos e são iguais. Eu
sempre tive essa coisa engraçada que
eu sempre gostei de muita coisa e na
realidade não gostava de nada em
concreto. Por isso fui para a área de
ciências porque achava que dava mais
hipóteses de escolher várias áreas. Na
realidade, eu acho que até engenharia
agrónoma eu gostava de ter tirado.
Eu adoro plantas e faço imensas
experiências com isso, portanto
eu acho que hoje em dia se me
perguntarem ou um jovem perguntarme
“o que é que devo fazer?” eu acho
que deves escolher um nicho de
mercado, focares-te neste nicho de
mercado, fazendo uma coisa que tu
realmente gostes, sejas cozinheiro,
dentista, qualquer curso, mas o que
importa é fazer uma coisa que se goste
e isso é a parte mais importante.
Miguel, depois de tirar o curso
de medicina dentária, depois da
especialização surgiram novos
projetos. Queria que me contasses um
bocadinho dessa transição. Depois
de terminar o curso, o que é que
aconteceu ao Miguel?
Quando eu acabei o curso o que
aconteceu ao Miguel é que ele não
conhecia quase ninguém dentista. A
minha família não tinha nada a ver
com dentária. O meu pai não tinha
quase nenhum conhecimento. Então,
o Miguel pegou num “currículozinho”
e foi bater à porta desde Lisboa entre
Santarém até Sesimbra numa área
gigantesca a entregar currículos e a
ver qual era a tentativa de ter algum
sucesso. Claro, consegui algum biscate
aqui e outro ali, um consultório ali
e acolá. Entretanto, eu acabei com
uma média suficientemente boa
e fui convidado a ser professor na
Faculdade, porque nós acabámos
os cursos, mas quando saímos não
tínhamos experiência nenhuma.
Então, eu optei por duas coisas:
uma, fazer uma pós-graduação em
cirurgia e implantologia e aproveitei
para ir para a área da endodontia e
desvitalizações. Na faculdade, ser
professor…na realidade eu fui para lá
para aprender do que propriamente
ensinar. Foi uma experiência incrível
quando depois disto fui fazer esta
especialização só que, entretanto,
o meu pai disse “vais fazer uma
especialização em implantologia,
mas achas que alguma vez vais
trabalhar nos Açores?”. Era um tema
interessante naquela altura e eu disse
“é uma cosia que eu gosto realmente
e eu vou especializar-me” e fi-lo e não
estou nada arrependido.
Depois surge também a clínica de
São Gonçalo. Este novo projeto que
já tem anos, mas que a cada ano que
passa é mais um sucesso a arrecadar.
Conte-nos um bocadinho da história
da Clínica de São Gonçalo e de como
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
surgiu este projeto e de como foi uma
inovação na altura.
Naquela altura aconteceu uma coisa
muita engraçada, porque eu estava
na tal parceria com a faculdade de
Yorba Linda e a Faculdade de Lisboa,
medicina dentária de Lisboa, a fazer
a pós-graduação em implantologia
quando se dá o 11 de setembro e os
estudantes estrangeiros são obrigados
a não entrar nos Estados Unidos da
América. Só que naquela altura eu já
tinha a clínica e o meu pai já estava
a montar, arranjou-me o espaço
e estava a montar a clínica cá. Eu
lembro-me perfeitamente de pensar
às vezes “e se eu tivesse estado mais
nos Estados Unidos? Como é que teria
sido a minha vida?”. Às vezes é aquele
tipo de questões que se pergunta.
Na altura, venho para a clínica com
muita vontade de tecnologia. Sempre
adorei tecnologia, adoro tecnologia,
continuo a adorar tudo o que é
tecnologia, continuo a adorar tudo
o que é gadgets e isso tudo é o meu
problema. Agora que estamos no
Natal é uma chatice, mas quis fazer
uma clínica exatamente especializada
em tecnologia, principalmente uma
clínica que pudesse transformar
sorrisos e em que isso transforma
a vida das pessoas. Na altura ainda
não tinha bem a noção, porque não
conhecia bem como é que era aqui a
população nos Açores, como é que
eram as coisas e isso são coisas que se
vão construindo, digamos assim.
Miguel, quando abriste a clínica
depois de teres visto o que era a
realidade açoriana, achas que, no
teu entender, a clínica veio fazer a
diferença naquilo que é inovação,
porque há muitas pessoas que pensam
que as clínicas dentárias são para
arranjar um dente, para pôr um pivot
mas é muito mais para além disso e,
hoje em dia, há muito mais para saber
além do pôr o dente e tirar o dente.
Bom, isso é uma coisa muito
interessante. O que é que as pessoas
esperam de um dentista, não é? De
uma forma geral, as pessoas esperam
não ter dor. Isso é o que as pessoas
esperam. Tudo o resto que tu podes
dar como opção à pessoa vem por
acréscimo. Queres fazer um implante,
queres fazer uma ponte, queres fazer
uma prótese removível… Eu acho
que é muito importante a relação
médico-paciente. Eu acho que isto
é fundamental, esta qualidade nos
médicos e perceber o que é que as
pessoas precisam. Se dizes que a
minha clínica foi cá revolucionária,
na realidade quando eu cá cheguei já
havia umas clínicas bastante boas até,
sinceramente, com colegas que faziam
muitas coisas espetaculares. Neste
sentido, eu não cheguei chegando e
era aqui a grande novidade, não. O
que eu acho é que até àquela altura
havia pouco. O meu pai pensava
“vais fazer implantes nos Açores”,
porque realmente eu comecei a fazer
implantes nos Açores há quase 20
anos e naquela altura eu próprio
não tinha noção da capacidade que
nós poderíamos ter. Isso é outra das
coisas, nós temos nos portugueses
e não só, nos açorianos, mais ainda,
aquela desculpa de “nós somos
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
pequenos demais”. Portugal está na
ultraperiferia Europeia, os Açores estão
no meio do mar. Ainda no outro dia eu
vi uma entrevista até que o meu irmão
dava para o Observador que dizia “o mar
pode ser visto com os olhos fechados ou
como uma oportunidade de expandirmos”.
Foi assim que Portugal descobriu o
mundo inteiro e eu acho que isto é muito
importante. Por exemplo, a tecnologia
que desenvolvi, desenvolvi porque estava
aqui nos Açores, porque se eu estivesse em
Lisboa, provavelmente com milhares de
laboratórios ao meu lado, eu não tinha essa
necessidade de ser criativo e de ir buscar
outras coisas.
Tu tentaste apetrechar a clínica de
utensílios ou de, não sei muito bem como
se chama aqueles aparelhos todos, que
trouxeram inovação, ou seja, trouxeram
aquela necessidade. Começou também a
ser colocado nas pessoas que só se vai ao
dentista porque se tem uma dor. Vai-se ao
dentista porque faz parte da saúde. É nessa
questão que eu queria que falasses um
pouco. É que, no fundo, tu quiseste passar
isso, a tua clínica quis passar isto para o
cliente, o paciente.
Sim, exato. Essa do cliente, paciente é
engraçado. Eu costumo dizer que o cliente é
da porta do gabinete para fora e o paciente
é da porta do gabinete para dentro. Era uma
piada que tínhamos com um gestor de há
uns anos atrás. A saúde não se desassocia.
Não há saúde oral, eu não gosto muito
do termo saúde oral, porque acho que a
saúde é uma coisa global e que está tudo
interligado. Portanto, para termos uma
pequena noção, a maior parte dos setores
de uma pessoa estão na boca, nos dentes.
Ao mesmo tempo os olhos também são um
dos próprios setores principais. Posso ter
uma dor na coluna porque a tua oclusão
não está correta, está tudo interligado e é
esta multidisciplinaridade, hoje em dia, da
medicina que eu acho que é fantástica. Hoje
em dia, trabalhamos com equipas desde
cirurgiões capilares, cirurgiões plásticos,
especializados em faces por exemplo. É tudo
isto, esta equipa. Aconteceu que naquela
altura um colega meu muito conhecido
que era o Miguel Stanley lançou a tour ‘Eu
preciso de ajuda em Portugal’. O Miguel
Stanley foi talvez das pessoas que mais
fizeram pela medicina dentária em Portugal.
Outro termo que acho muito mau é dizerem
que a cirurgia dentária é o parente pobre
da medicina. Eu não concordo nada com
isso quando eu acho que nós devemos estar
na vanguarda. O Miguel fê-lo através da
televisão, fê-lo porque tem uma capacidade
extraordinária de comunicação e aquele
programa é que mudou muito. Naquela altura
o que eu fiz e aí acho que fui oportunista, vi
oportunidade, não é? Foi ver os programas
num bom sentido, foi ver o que é que as
pessoas procuravam e tentar canalizar isto
para cá, para o nosso mercado e para a nossa
realidade e foi isso que fizemos que era não
só as pessoas tiravam as dores dos dentes às
pessoas, mas sim a capacidade de restituir
àquela pessoa as capacidades de função e não
só estética. Repara, um sorriso é uma coisa
super importante, pois não só a tua imagem é
importante para uma entrevista de emprego,
para arranjar um companheiro, é tanta coisa
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
que podemos fazer, é a tua própria
autoestima, influencia a vários níveis,
até psicológico, digamos assim.
Miguel, eu sei que andaste um pouco
pelo mundo desde a juventude, mas
também a nível profissional. Eu
gostava que me falasses de uma ou
duas experiências que tiveste nesse
mundo da medicina dentária em
qualquer parte do mundo.
Se eu tiver que definir países onde
eu estive que mais me fascinaram,
um deles foi Cuba. Fiz lá um estágio
de meses em cirurgia no hospital
Joaquín Albarrán. Para mim,
foi uma experiência muito boa,
porquê? Porque os médicos lá são
extraordinários, fazem omoletes sem
ovos. Eu aprendi a desenrascar-me,
literalmente, lá e dar valor àquilo
que nós temos. Nós, por definição,
queixamo-nos todos os dias daquilo
que nós temos, mas chegar a um
país no qual as pessoas vivem
miseravelmente, onde tu não sabes
que o teu professor, um médico
cirurgião na altura, um cirurgião,
com experiência fantástica, com 50
e tal anos, e tu perguntares se ele vai
querer o resto da tua pasta de dentes
porque lá uma pasta de dentes é
um mês de ordenado. Sim, porque
uma pasta de dentes equivale a um
mês de ordenado deles, então fazte
pensar um bocado na vida. Eu
acho que Cuba foi fascinante. Eu,
por exemplo, tinha estado lá com
os meus pais de férias antes e, como
qualquer turista tonto, pedia para
cantarem o Che Guevara e aquelas
piadas todas e depois apercebi-me do
terror que aquelas pessoas viviam e
à porta fechada dentro de um bloco
operatório falava-se de coisas que não
se falava na comunicação social e não
apareciam em lado nenhum. Essa,
por exemplo, foi uma das grandes
experiências que tive. Posso dizerte
que outro país que me fascinou e
onde eu tive também na faculdade
de Telavive, foi Israel. Aquilo tornanos,
a nós, o berço talvez de muitas
religiões, para quem tem religião ou
não, mas independentemente das
nossas crenças religiosas é um país
fantástico e aí está outro bom exemplo
do que é um país ultraperiférico
planetário, rodeado de países que os
odeiam de morte e é uma das maiores
potências em medicina dentária, em
implantologia por exemplo. Outro
país a que também dedico uma das
maiores experiências que tive foi na
Tunísia a dar uma palestra. É isso a
importância de um jornalismo de
qualidade e não aquele jornalismo
sensacionalista. Quando me
convidaram e disseram “vais dar uma
palestra para a Tunísia?” eu pensei
assim “eu vou falar para os tunisinos”.
Eu lembro-me perfeitamente de estar
a voar de Paris para Tunes e pensar
assim: “Deixa-me beber aqui o último
copo de vinho porque eu vou chegar
lá e nada. Não, qual quê, chego lá e
malta super festiva, coisas diferentes,
ENTREVISTA
ENTREVISTA
obviamente. Os homens dançam com
homens, as mulheres não dançam
muito, são coisas assim, mas super
festivos, foi super engraçado, uma
grande experiência. No final, a única
coisa que eu estranhei foi na entrega
dos diplomas. Eu na minha vida só
tinha beijado dois homens, o meu
irmão e o meu pai e agora tinha que
beijar todos os homens e as mulheres
um aperto de mão e aquilo foi um
bocado estranho a entrega dos
diplomas no final, era cada um mais
barbudo do que o outro, mas acho que
são essas coisas que nos enriquecem
culturalmente e passamos a ter uma
perceção do mundo diferente. Se
todos viajássemos mais, acho que
havia muito menos guerras.
Olha, eu sei que tens uma grande
paixão pelos Estados Unidos. Eu
sei que o teu irmão esteve há pouco
tempo nos Estados Unidos e tu
poderias também estar nos Estados
Unidos, mas escolheste os Açores.
É, é um facto. Eu adoro os Estados
Unidos. Para já eu acho que nós
Açorianos estamos entre os dois
mundos. Há bocadinho falávamos e
eu comentava exatamente isso, eu às
duas por três senti que estava tanto
a ir para os Estados Unidos, que
estava quase mais perto dos Estados
Unidos do que realmente do nosso
país, de Portugal. Eu acho que nós
nos Açores temos essa ambiguidade
entre os dois mundos, não é? Vivemos
aqui no meio da banheira e é sempre
aquele pensamento muito nos Estados
Unidos em relação à Europa. O que
eu gosto nos Estados Unidos é que é
uma terra de oportunidades, todos
nós sabemos, mas o que eu mais
gosto nos Estados Unidos é o facto de
ser valorizada a meritocracia. Uma
sociedade baseada onde as pessoas
trabalham em mérito e onde falhar
faz parte do processo. Uma das coisas
que eu acho piada nos Americanos é
que eles falham imenso enquanto que
aqui é visto como quase um insucesso,
apontar o dedo e falar dessas pessoas
porque falharam seja a nível pessoal,
seja a nível profissional. Lá não, falhar
faz parte do processo e quantas mais
vezes falhares mais probabilidade tens
e quanto mais rapidamente superares
esse obstáculo, mais oportunidade
tens de ter sucesso. Eu adoro
realmente os Estados Unidos por
isso mesmo, por essa cultura que eles
têm do empreendedorismo e ligada à
meritocracia. É claro que a coisa que
eu mais gosto nos Estados Unidos
são as minhas duas sobrinhas que
são Americanas, essa é a parte que eu
gosto mais.
Miguel, novos projetos. O que é que
está escondido ou o que é que está
neste momento na forja para sair?
Olha, não vos posso revelar já. Eu
tenho estado em conversações,
porque ainda não fechamos, não
chegamos a acordo ainda com o
hospital, provavelmente quando essa
entrevista for para o ar já temos uma
resposta em relação a isto, mas eu
sinceramente acho que o hospital
privado dos Açores poderá ser um
grande fenómeno que poderá vir a
acontecer nesta região. Por vários
motivos, por causa do turismo
médico, das nossas comunidades ou
mesmo essa diáspora que existe nos
Estados Unidos. É uma oportunidade
para eles virem cá. Sim, porque nos
Estados Unidos a medicina dentária, a
medicina geral é estupidamente cara.
Porquê? Porque estás a pagar pelos
processos todos. Mais de metade do
salário de um médico é para pagar
os processos judicias que existem,
portanto é ridiculamente caro. Ou
seja, uma coisa que aqui pode custar
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
500 euros, lá custa 5 mil dólares e o
material é mais ou menos o mesmo e a
gente acha “os americanos consolamse
e estão a ganhar muito dinheiro”.
Não, não estão, infelizmente, quem
está a ganhar dinheiro com isto são as
seguradoras.
Por exemplo, já agora que levantaste
isto, muitos dos teus clientes da
Clínica de São Gonçalo são das
nossas comunidades. Muitos dos
nossos leitores que ouvem e leem
essa entrevista serão com certeza ou
terão alguém conhecido que frequenta
a tua clínica. Como é que vês este
fenómeno de vir tanta gente aqui para
o meio do oceano e se calhar não são
só açorianos, são também ligados
ao continente e americanos mesmo.
Porquê este fenómeno? O serviço é
melhor?
Há vários fatores que podem explicar
isso. Um é exatamente esse, é o fator
preço, não há dúvida que entra na
equação claramente. É a tal história
nos Estados Unidos de que as coisas
se tornam muito caras exatamente
por causa dos seguros que os médicos
têm de pagar. Além disso acontece
que nós em Portugal, talvez as pessoas
não saibam, mas Portugal é um dos
países mais desenvolvidos em medica
dentária do planeta e devemos isso aos
brasileiros porque foram os brasileiros
que vieram para Portugal numa
altura em que a medicina dentária era
uma muito arcaica e os portugueses
tiveram de se adaptar com um dos
povos mais desenvolvidos do mundo
em estética não só dentária, mas
também na cirurgia plástica. Não é
à toa que temos grandes exemplos
de grandes clínicas que se fizeram
em Portugal e que se espalharam um
pouco por todo o globo. Eu também
tive o privilégio de ter a sorte de
nos Açores termos a RTP Açores
que é um programa que passa na
RTP Internacional que é a Consulta
Externa e passa em prime time nos
Estados Unidos. Isso significa que
ao fim de muitos anos, hoje em
dia, temos cerca de 30% dos nossos
clientes da Clínica de São Gonçalo,
tirando este ano atípico do covid,
obviamente, mas 30% são americanos
ou luso-descendentes ou até já
pessoas que casaram com americanos
e que já vinham cá. Estou aqui a
lembrar-me diretamente de um caso
em concreto do Eduardo Schumann,
mas de outros que nos procuraram e
isso é muito gratificante.
Mas uma das coisas que se costuma
dizer da medicina dentária, não
estou a falar das outras medicinas,
em específico, a medicina dentária
está muito mais desenvolvida na
Europa do que propriamente nos
Estados Unidos e tu és um dos rostos
principalmente de Portugal senão
do top 10 a nível da Europa. Com
este reconhecimento, como é esta
sensação?
Eu posso dizer que acima de tudo
é realmente muito gratificante. É
muito gratificante pela causa, pelo teu
empenho, porque eu acho que quando
tens o privilégio de o teu trabalho
virar o teu hobby e conseguires com
isto alcançar isso, porque realmente
isso em termos monetários não dá
nada, mas dá-te muito mais, é muito
mais overwhelming, é aquilo que te
vai realizar completamente e eu acho
que enche completamente e depois
tens o privilégio de conhecer pessoas
de todo o lado, poderes viajar para
todo o lado, explicares o teu ponto de
vista. Eu começo e acabo sempre as
minhas palestras com uma cauda de
uma baleia a dar, eu já tive pessoas
que vieram viajar, estou a lembrarme
da Cláudia Cordati, uma médica
dentista de San Diego que veio aqui
aos Açores porque ouviu falar disto
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
e que isto era parecido com o Havai
porque eu lhe tinha mostrado, e são
essas coisas que eu acho que são
fantásticas e teres amigos no planeta
todo. Hoje em dia, às vezes, tenho
chatices é com os jogos de futebol, às
vezes é difícil porque eu gosto tanto
de alguns países.
Mas explica aqui aos nossos, explica
aqui a quem está a ler e a ouvir-nos, o
que é que é isso da AIC?
O AIC é um centro de formação
global de uma marca coreana já há
uns anos valentes. Para começar, eu
adoro a Ásia e adoro a mentalidade
coreana, porquê? Porque os coreanos
são “brincar é brincar e trabalhar
é trabalhar”, mas quando eu digo
trabalhar lá é trabalhar. Nós achamos
que o norte da Europa, achamos que
os alemães são assim, mas os alemães
ao pé dos coreanos são pouco e isso é
interessante, nós vemos a perspetiva
do workaholic, lá é mesmo levado
ao mais amplo sentido da palavra e
são muito focados. Não é à toa que
a Coreia é um país do tamanho de
Portugal, que tem por aí 700 km lés
a lés do tamanho de Portugal. É um
país que tem a Samsung, se a gente for
ver tem a terceira maior empresa do
mundo de implantologia e o que faz
é para uniformizar os cursos a nível
planetário, forma diretores de cursos
europeus como no caso somos 12 e
depois esses diretores de curso dão
as palestras. Fizemos um centro de
formação que estamos a construir que
era para termos montado este ano. Eu
estava em França a fazer o centro de
formação em Paris quando aconteceu
esta história, quando rebentou o covid
e eu tive só tempo de voltar para
trás, mas ao mesmo tempo o covid
foi outra grande abertura porque
eu passei a dar grande parte das
palestras online e então nós podemos
aproveitar as coisas piores que nos
acontecem para tentar ver o que
podemos aprender com isto e isso foi
uma das coisas que aprendi.
Miguel, eu gostaria que deixasses
uma mensagem como médico para
os nossos leitores, pela primeira
revista de 2021, como médico de
sorrisos porque passas também
a ser conhecido assim, uma
mensagem para todos eles a respeito
precisamente daquilo que é a saúde
oral que tu não gostas que se trate
assim, mas dá-lhe outro nome.
A minha mensagem para todos é
que este ano esperemos todos nós
que 2021 seja um ano onde haja
mais sorrisos do que em 2020. Foi
um ano caracterizado por função
da pandemia da covid, por termos
visto e termos equacionado muitas
coisas, inclusive o que estamos aqui
a fazer, se estamos no caminho certo.
Acho que foi fantástico, para mim foi
um ano fantástico, aqueles meses de
clausura fizeram muita introspeção
sobre mim mesmo, sobre o que eu
pretendia para a minha vida. Acho
que todos nós podemos ter ganho
muito com isso.
Do negativo tirar o positivo?
Eu acho que isto é a mensagem. É
claro que eu espero que 2021 seja um
ano que a gente possa rir bastante e
que as vacinas tenham muito sucesso
e vamos todos ter esperança que esta
coisa vai melhorar.
020 NODEZ20 021
NODEZ20
PUB
PUB
GRUPO
9600-549 Ribeira Grande
geral@grupoideal.pt
022 NODEZ20 023
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
AEXPERIÊNCIA
JOVENS
DOS
PARLAMENTO NO
AÇORIANO
POR CLÁUDIA CARVALHO
Em virtude das eleições do passado
dia 25 de outubro de 2020, foram
eleitos três jovens para o parlamento
açoriano de três partidos – PS,
PSD e PPM. Os deputados foram
eleitos pelos círculos eleitorais de
São Miguel e Flores e têm idades
compreendidas entre os 28 e os
31. Todos prometem defender os
interesses dos jovens açorianos
perante os desafios que enfrentam
no que respeita ao acesso ao
emprego e na definição de melhores
políticas para a juventude. A NO
entrevistou, assim, os três jovens
que desempenham funções durante
a próxima legislatura.
024 NODEZ20 025
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
FLÁVIO
SOARES
Deputado do PSD/A e Presidente da JSD
Sou um jovem, de 31
anos, que se orgulha de
ter agora a oportunidade
de servir os Açores na
Assembleia Legislativa.
Nasci na Feteira Pequena,
no Nordeste, mas resido
em Ponta Delgada há
cerca de 10 anos.
“
FALE-NOS
SOBRE SI – DO
SEU PERCURSO
PESSOAL,
ACADÉMICO E
PROFISSIONAL.
Depois de concluir o curso de
Técnico de Gestão de Equipamentos
Informáticos na Escola Profissional
de Nordeste, decidi vir para
Ponta Delgada para ter mais
oportunidades de emprego, mas
nunca abandonei o meu concelho.
Fui, durante cerca de 10 anos,
colaborador da Fundação Gaspar
Frutuoso, destacado no Instituto
de Investigação em Vulcanologia
e Avaliação de Riscos (IVAR) da
Universidade dos Açores onde
pratiquei atividades relacionadas
com a operação e manutenção da
Estação Internacional de Infrassons,
integrada nas Nações Unidas e
instalada na ilha Graciosa.
Durante todos estes anos de
experiência, tive a oportunidade de
participar em diversos Workshops
e Formações Internacionais
relacionados com a minha atividade
e ainda tive a oportunidade de ser
autor e coautor de várias publicações
e apresentações científicas quer
a nível nacional, quer a nível
internacional.
Sou Presidente da JSD Açores desde
2017, estando já a terminar o meu
segundo e último mandato.
026 NODEZ20 NODEZ20 027
ENTREVISTA
ENTREVISTA
Quem me conhece sabe que venho de uma família humilde e
trabalhadora, onde sempre foi imposto que é preciso trabalhar
para se conseguir alcançar os nossos objetivos e onde o
respeito pelos outros, independentemente de tudo, deve estar
sempre em primeiro lugar. Nada se consegue sem trabalho e
tem sido essa a minha lei de vida. Trabalhar para conseguir
alcançar objetivos.
Desde muito cedo envolvi-me na minha comunidade, quer em
atividades religiosas, quer em atividades culturais e sociais.
Lutei e trabalhei pela vida e isso faz de mim uma pessoa com
enorme orgulho no percurso sério e dedicado que mantive até
aos dias de hoje e quero continuar a ter com o novo desafio
que vou enfrentar nos próximos quatro anos.
O interesse
pelo campo
político
começou a
manifestar-se
desde novo?
Se sim, porquê?
Sempre me interessei pela política,
gostava de acompanhar os debates
da Assembleia da República e de
ouvir alguns comentadores sobre
a atualidade política. Apenas
com 22 anos de idade me envolvi
na Juventude Social Democrata
porque sentia que devia e queria
contribuir para o desenvolvimento
da minha região. Toda a restante
responsabilidade foi surgindo aos
poucos, sem me aperceber do que
estava acontecendo. Hoje tenho a
responsabilidade de ser deputado
regional, mas sem amarras aos
cargos, apenas e só comprometido
em melhorar a qualidade de vida de
todos os Açorianos, em especial os
mais jovens.
028 NODEZ20 029
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
QUANDO E
PORQUE É QUE
SE TORNOU
MEMBRO
INTEGRANTE
DA JUVENTUDE
SOCIAL
DEMOCRATA
DOS AÇORES?
Tudo começou em 2012 quando
decidi integrar o PSD Açores e, por
via disso, a JSD Açores. Acabei por
ficar a conhecer melhor o projeto,
os objetivos e algumas das suas
propostas. Durante todo esse ano,
ano em que se realizaram eleições
regionais, participei em iniciativas
de campanha e acompanhei, por
diversas vezes, algumas ações, isto
sem estar em qualquer órgão da JSD
Açores. Depois, inesperadamente,
ingressei os órgãos da JSD
Nordeste. Longe de mim pensar
que algum dia seria presidente da
JSD Açores. Não foi esse o meu
objetivo inicial. Queria apenas
contribuir com alguma coisa, por
mais insignificante que fosse, mas na
verdade tudo me foi surgindo e fui
adaptando-me às realidades.
É,
ATUALMENTE,
O PRESIDENTE
DA JSD/
AÇORES.
SENTE QUE
O FACTO DE
JÁ ESTAR
INTIMAMENTE
LIGADO À
ÁREA FOI
UM FATOR
FACILITADOR
PARA SI NO
PANORAMA
POLÍTICO
REGIONAL?
Naturalmente que sim, o facto de
ser presidente de uma estrutura
regional dá uma visão e uma
perspetiva diferente das coisas. Tudo
isto fez com que conhecesse pessoas
de todas as ilhas e com capacidades
impressionantes. Isso naturalmente
fez com que tivesse uma projeção
regional que de outra forma não
seria possível. É preciso que os
políticos regionais assumam uma
visão regional, mas diferenciada
para cada ilha. Não podemos
continuar a achar que as medidas
que são implementadas em Santa
Maria terão o mesmo impacto que
aquelas que serão implementadas
na Terceira. Isto nos trará um
desenvolvimento efetivo para todos.
030 NODEZ20 031
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
O QUE É QUE
O LEVOU A
ACEITAR O
CONVITE DO
PARTIDO
SOCIAL
DEMOCRATA
PARA
INTEGRAR
A LISTA ÀS
ELEIÇÕES
REGIONAIS?
QUAIS ERAM
AS SUAS
EXPECTATIVAS?
Como já referi anteriormente,
aceitei todos os desafios ao longo
destes anos com o propósito de
servir e de contribuir ativamente
para o desenvolvimento de cada
uma das nossas ilhas e foi isto que
me fez aceitar o desafio proposto
de integrar a lista candidata à
Assembleia Legislativa da Região
Autónoma dos Açores por São
Miguel. Fui indicado pela concelhia
de Nordeste e isto trouxe-me outras
responsabilidades acrescidas.
Não podia virar as costas a uma
responsabilidade destas, de poder
servir o meu concelho natal, a
minha ilha e a nossa Região. O
Nordeste merece ter um deputado
que o represente e que o possa
defender e ser a sua voz. Este é
um dos meus compromissos.
O Nordeste é
um concelho
abandonado
pelos governos
socialistas, que não
cumpriram os seus
compromissos,
alguns deles com
mais de 20 anos.
No entanto, como
presidente da JSD
Açores, considero
que a juventude
deve ter alguém que
os represente. Não
podemos afirmar
que contamos
com a juventude e
depois não incluir os
jovens, em lugares
de destaque, nas
respetivas listas.
A JSD merece e
deve ter alguém
que a represente
no Parlamento
Regional. Não
baixarei os braços
para defender
os interesses da
juventude.
032 NODEZ20 033
NODEZ20
ENTREVISTA
A ÁREA DOS
JOVENS É DE
ESPECIAL
INTERESSE
PARA SI,
SOBRETUDO
PELO CARGO
QUE OCUPA
ENQUANTO
PRESDIDENTE
DA JSD/A. O
QUE PODEM OS
AÇORIANOS,
EM ESPECIAL
OS JOVENS,
ESPERAR DE
SI DURANTE
OS PRÓXIMOS
QUATRO ANOS?
Acredito que poderei dar um
contributo muito grande em
melhorar a qualidade de vida dos
jovens e não só. Não podemos
admitir que as políticas públicas
para a juventude sejam apenas o
cartão Interjovem ou os programas
de estágio. Temos de ir mais longe e
é nisto que acredito que posso dar o
meu contributo, como, aliás, tenho
dado enquanto presidente da JSD
Açores, como referiu.
Os Açores passaram de uma
região a um passo de consolidar o
seu crescimento a uma região de
instabilidade e incerteza, fruto de
sucessivas governações que apenas
visaram a manutenção no poder dos
mesmos de sempre.
Hoje, são os jovens os mais
prejudicados com as opções do
passado recente.
As políticas de juventude devem ser
abrangentes e integrar a conceção
do jovem e do seu projeto de
vida, passando, primeiro, por um
momento de auscultação sem filtros.
Qualquer governo deverá fazer
sua prioridade o bem-estar da sua
população, dependendo deste todo
o sucesso das suas medidas.
A juventude açoriana pode contar
comigo para que, com determinação
e empenho, as poder defender e
apresentar as melhores medidas
e aquelas que vão ao encontro da
resolução dos seus problemas.
Acredito que poderei dar um forte
contributo nesse aspeto e espero não
desiludir.
034 NODEZ20
NODEZ20
ENTREVISTA
HÁ ALGUMA
MENSAGEM
QUE QUEIRA
DEIXAR AOS
NOSSOS
LEITORES?
Para terminar, e de uma forma
muito resumida, penso ser
importante que todos os açorianos
possam dar uma oportunidade a
este governo regional. A alternância
democrática é muito importante
para o próprio espírito livre de cada
um mas, e acima de tudo, para que
não se crie vícios, que num passado
muito recente se veio a confirmar
que se criaram. Estou certo de que
este Governo vai dar o seu melhor
para satisfazer os interesses de
todos os Açorianos e que vão, de
alguma forma, contribuir para
o desenvolvimento de cada uma
das nossas nove ilhas. Os Açores
precisavam desta mudança e vamos
poder confirmar isto mesmo nos
próximos tempos. Os Açorianos só
têm a ganhar com esta mudança,
não a desperdicemos.
036 NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
GUSTAVO
ALVES
Deputado do PPM/A
Sou o Gustavo Alves, 28 anos,
natural de Ponta Delgada,
freguesia virada a norte na Ilha
das Flores. Conheci, e conheço,
nesta freguesia e ilha, gente
muito diligente, trabalhadora,
que respeita o outro, que
tem sentido de interajuda e
responsabilidade. Atravessam
a ilha só para ir dar uma
“mãozinha” e nada pedir em
troca. Serão pagos um dia com
a sorte e saúde. Faço parte desse
tipo de pessoa... Aquele que, por
outro lado, é ingénuo e a vida
vai ensinando a amadurecer, não
fosse o tempo o melhor professor
e curandeiro.
““
FALE-NOS
SOBRE SI – DO
SEU PERCURSO
PESSOAL,
ACADÉMICO E
PROFISSIONAL.
Durante o meu percurso de
adolescente viajei diversas vezes,
como outros colegas de turma,
para outras ilhas, em actividades
escolares ou desportivas, e também
em férias com a família. Conheci
então outras realidades para além
da vivida na Ilha das Flores e,
sendo um pouco reguila, nunca me
conformei com a diferença do nível
de vida de uma ilha para a outra,
ou mesmo com cidades de Portugal
Continental. Vendo um enorme
potencial em imensas áreas nas
Flores, sempre fui muito sonhador
e criativo nas possíveis soluções
para certos problemas. Mas, como
outros, nunca passei disso. Muito
por falta de capital, local para
começar algo, acesso a ferramentas,
coragem para arriscar e ir contra
todos os que dizem que não vai
dar certo. Ao fim e ao cabo, eu e
outros sonhadores nunca tiveram
uma rampa de lançamento para o
empreendedorismo jovem, logo o
dinheiro no bolso não podia crescer.
038 NODEZ20 NODEZ20 039
ENTREVISTA
ENTREVISTA
Entretanto, estava sem rumo
no ensino secundário e um
amigo aconselhou-me o curso
profissional de Contramestre da
Marinha Mercante. Assim o fiz e
fui marinheiro durante uns anos.
Viajei pela Europa, absorvi coisas
lindas e ideias práticas que se
adoptam nesses países. Contudo,
enjoava muito e tinha grandes
ideias para regressar à ilha mãe e
fazer o meu primeiro negócio. A
pandemia ajudou a deixar os navios,
pois metade da frota para quem
prestava serviços entrou em layup,
acção de encostar os navios em
portos com taxas baixas, desligar
praticamente tudo a bordo, reduzir
ao máximo a tripulação e esperar
por melhores preços de mercado
para reactivar os navios. Regressei
a casa, estive desempregado uns
meses e encontrei trabalho no café
restaurante “O Porto Velho” até às
recentes eleições regionais.
QUANDO É
QUE SURGIU
O INTERESSE
PELO CAMPO
POLÍTICO?
Sempre que pensava na
possibilidade de me envolver na
política passava sempre por me
candidatar a uma junta de freguesia,
mas só quando tivesse um negócio
montado e estivesse com a vida
estável, dedicando-me ao máximo
no governo da freguesia e servidão
das pessoas, esperando assim a
confiança da maioria do eleitorado.
Previa isso acontecer daqui a uma
década… e eis que recebo o convite
do líder regional do PPM, Paulo
Estevão, para integrar uma lista às
eleições regionais.
040 NODEZ20 041
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
O QUE É QUE
O LEVOU A
ACEITAR O
CONVITE DO
PPM PARA
INTEGRAR
A LISTA ÀS
ELEIÇÕES
REGIONAIS?
QUAIS ERAM
AS SUAS
EXPECTATIVAS?
Quando recebi o convite pensei
logo nas dificuldades todas que iria
encontrar. Não sendo muito letrado
e com alguns conflitos no cérebro
e defeitos que me atribuo, como
seria encarar a hipótese de ser uma
das vozes do povo no Parlamento
Açoriano! Mas pelo contrário,
sinto que, sendo próximo das
pessoas e sabendo ouvi-las, posso
ajudar o povo a desenvolver as suas
aptidões, aumentar a oferta local e
consequente aumento de receita.
Pensei seriamente no assunto.
As pessoas a quem partilhei o
assunto, na generalidade, tinham
muitas dúvidas de eu conseguir
ser eleito. Seriam precisos muitos
votos, o partido é pequeno e era
um risco para o futuro: se quisesse
concorrer para algo público, seja
emprego ou apoios, o sentimento
é que iriam-me cortar em tudo; se
tivesse algum negócio, que iria ter
várias inspecções à porta só para
vingança. Isto era a realidade vivida
e era a realidade que tinha que ser
combatida. Ser chamado para tal,
para mim é uma honra e avancei
com a convicção de que seria eleito.
O PPM
CONSEGUIU,
PELA PRIMEIRA
VEZ, FORMAR
UM GRUPO
PARLAMENTAR.
COMO É
QUE SERÁ
ACOMPANHAR
O DEPUTADO
PAULO
ESTÊVÃO
PARA ESTES
PRÓXIMOS
QUATRO
ANOS?
Entrar para o Parlamento, pela
primeira vez, ao lado do Paulo
Estêvão, para mim é um prestígio
enorme. Vou aprender muita coisa
com ele e pedir muita ajuda para
elevarmos estas duas pequenas ilhas
esquecidas há anos. As Flores estão
a perder população há décadas, não
há quase outra hipótese de emprego
sem ser nos serviços públicos. A
habitação é um problema actual que
se não se fizer nada a curtíssimo
prazo, estamos a expulsar jovens
desta terra. A saúde está cada vez
pior, “só quem passa é que sabe”,
como diz muita gente, a educação
está esquecida e desvalorizada…
Portanto, o Paulo conseguiu um
Grupo Parlamentar que lhe vai
arranjar mais uns cabelos brancos,
pois a herança nas Flores não é das
mais sustentáveis e planeadas. Assim
como pelos Açores fora… vai dar
trabalho!
042 NODEZ20 043
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
EM OUTUBRO, ANTES
DE TER SIDO ELEITO,
GARANTIU QUE TERIA
“UM FORTE EMPENHO”
PARA “ACOMPANHAR
PORMENORIZADA-
MENTE AS OBRAS DE
RECONSTRUÇÃO
DO PORTO DAS
LAJES”. MANTÉM A
MESMA FIRMEZA
DESTA AÇÃO
FISCALIZADORA
DA SUA PARTE
ENQUANTO DEPUTADO
AGORA QUE O PPM É
PARTE INTEGRANTE
DO EXECUTIVO?
Sem dúvida alguma, mas agora com
responsabilidades acrescidas para
com essa e qualquer obra pública.
O dinheiro dos contribuintes ou da
Europa, tem que ser bem empregue
e gerido com o máximo de controlo.
O Porto Comercial das Flores, que
chamei e é chamado erradamente
de Porto das Lajes, é fundamental
para a ilha e precisamos da sua
reconstrução. Mas não queremos
uma reconstrução feita às pressas e
com falhas irremediáveis. Queremos
algo bem pensado e com perspetiva
para o futuro e que seja bastante
operacional. Por isso apercebo-me
logo à partida que o projecto no
seu todo deveria ser mais discutido.
Quero salientar que, entretanto,
é essencial estudar um navio que
tenha as melhores características
para suportar a ilha, e até outras,
mesmo com o porto assim neste
estado. Faltava visão aos anteriores
governantes. Aos novos, vou
partilhar umas ideias e sei que vão
ser mais tidas em conta que no
passado.
O QUE É
QUE OS
FLORENTINOS
PODEM
ESPERAR
DO SEU
CONTRIBUTO
NO QUE
RESPEITA A
DEFENDER OS
INTERESSES
DA SUA ILHA?
Os florentinos podem esperar muito
empenho e dedicação no que toca a
defender os interesses da ilha. Para
isso também peço, aos florentinos
e a todos os açorianos, que quando
encontrarem algum problema ou
situação difícil, primeiro devem
reportar/reclamar no sítio certo,
conforme o tipo de problema.
Ninguém pode resolver nada se não
se apresentar queixa ou reclamação.
Parece ser da nossa cultura não
reclamar formalmente, pensando
sempre que não dá em nada. E peço
também que compreendam que
os deputados não sabem de tudo
o que se passa em todo o lado. A
população tem de alertar. A falar é
que nos entendemos.
044 NODEZ20 045
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
A ÁREA DOS
JOVENS É DE
ESPECIAL
INTERESSE
PARA SI,
SOBRETUDO
PORQUE É O
DEPUTADO
MAIS NOVO NO
PARLAMENTO
AÇORIANO. QUE
CONTRIBUTO É
QUE OS JOVENS
AÇORIANOS
PODEM
ESPERAR DE
SI?
Aos jovens açorianos posso dizer
que, sendo eu igual a eles, passo por
situações semelhantes às deles. Vou
me esforçar muito para transmitir
esperança e ideias de que é possível
viver nos Açores com uma excelente
qualidade de vida. Para isso temos
de ser muito trabalhadores, como
os nossos antepassados, e temos de
viver em comunidade, não deixando
morrer a nossa cultura e identidade.
Portanto, da minha parte, espero
criar soluções para que os jovens
descubram os seus melhores
atributos, que não abandonem o
ensino e incentivá-los a trabalhar
muito. A única solução em tudo será
sempre muito trabalho.
HÁ ALGUMA
MENSAGEM
QUE QUEIRA
DEIXAR AOS
NOSSOS
LEITORES?
Aos leitores quero apelar ao cuidado
com a alimentação e o stresse, pois
estão a aparecer cada vez mais
doenças em pessoas cada vez mais
novas e maioritariamente derivam
disso. É uma grande preocupação
minha. “Nós somos o que
comemos” e “Que o teu alimento
seja o teu medicamento” são velhas
máximas que devemos seguir.
Bebam água várias vezes ao dia.
Sejam ativos. Sejam felizes.
047
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
VÍLSON
PONTE
Deputado do PS/A
FALE-NOS
SOBRE SI – DO
SEU PERCURSO
PESSOAL,
ACADÉMICO E
PROFISSIONAL.
Comecei a trabalhar na Direção
Regional de Apoio ao Investimento
e à Competitividade como técnico
analista nas operações de gestão de
projetos de investimento apoiados
por fundos comunitários, o que me
deu a oportunidade de conhecer os
desafios e o tecido económico da
região. Conhecimento esse que se
articula na construção da posição
e ação política que trago para as
funções que hoje desempenho.
Atualmente, a nível político,
sou Presidente da Juventude
Socialista dos Açores, Deputado na
Assembleia Legislativa Regional,
eleito pelo PS no círculo eleitoral de
São Miguel, e integro a Comissão de
Política Geral como membro efetivo.
Sou um jovem como qualquer
outro, com experiências e
horizontes próprios da idade.
Nasci e vivo em Ponta Delgada.
Fiz a licenciatura em Economia
e depois o Mestrado em Ciências
Económicas e Empresariais, com
especialização em Finanças, na
Universidade dos Açores.
“
048 NODEZ20 049
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
O INTERESSE
PELO CAMPO
POLÍTICO
COMEÇOU A
MANIFESTAR-
SE DESDE
NOVO? SE SIM,
PORQUÊ?
O que despertou a minha ação e
intervenção política foi um conjunto
de momentos que aguçaram o
meu interesse político, mas não me
recordo precisamente do momento
em que se deu o clique. Desde
novo, olho para a política como
uma forma de corrigir situações
de injustiça na sociedade, em que
nós coletivamente nos organizamos
para dar resposta às necessidades
de todos e não só de alguns. Para
mim, estar na política implica um
compromisso em ajudar os outros
e transformar a sociedade para que
as coisas sejam diferentes nas várias
dimensões da nossa vida. A minha
missão é contribuir, como puder,
para isso. Mas, há uma perceção de
que a política é isto ou aquilo.
Temos de desmitificar, de uma vez
por todas, e falar sobre aquilo que
tem impedido muitos jovens, de
encontrar na política um canal para
a resposta aos seus anseios e aos
seus problemas, e para a afirmação
das suas ideias e dos seus projetos.
A política precisa dos políticos e dos
partidos. Não achar que é assim é
destruir os mais básicos valores da
democracia e incentivar o regresso
dos regimes anteriores aos do 25 de
abril.
QUANDO E
PORQUE É QUE
SE TORNOU
MEMBRO
INTEGRANTE
DA JUVENTUDE
SOCIALISTA
DOS AÇORES?
Inscrevi-me na Juventude Socialista
por iniciativa própria. Não houve
nenhuma influência da família e
amigos na minha militância. Fui
sem saber no que poderia dar, mas
o que mais me interessava era poder
dar o meu contributo com novas
ideias, novas visões e novos projetos,
com muita vontade e convicção de
incluir um olhar atento às dinâmicas
políticas, sociais e económicas
em que achei que poderia fazer
a diferença, através da ideia do
socialismo democrático.
050 NODEZ20
051
ENTREVISTA
ENTREVISTA
É,
ATUALMENTE,
O PRESIDENTE
DA JS/AÇORES.
SENTE QUE
O FACTO DE
JÁ ESTAR
INTIMAMENTE
LIGADO À ÁREA
FOI UM FATOR
FACILITADOR
PARA SI NO
QUE RESPEITA
À SUA
ENVOLVÊNCIA
NO PANORAMA
POLÍTICO
REGIONAL?
Há diferentes formas de se fazer
política. A ligação à militância
política permite-nos aprender como
fazer política e também formar
valores e conhecer outras pessoas
das mais diferentes naturezas,
quer sociais, quer culturais, quer
regionais, que estão empenhadas
por mudar e melhorar as coisas. A
atividade política é uma atividade
muito exigente porque procurar
representar as pessoas exige de nós
o maior empenho para concretizar
uma sociedade diferente e, portanto,
estar ligado a uma juventude
partidária possibilita também ter
esse impacto real nas pessoas e na
sociedade.
O QUE É QUE
O LEVOU A
ACEITAR O
CONVITE DO
PARTIDO
SOCIALISTA
PARA
INTEGRAR
A LISTA ÀS
ELEIÇÕES
REGIONAIS?
Desde logo, foi um absoluto
privilégio abraçar o projeto que
sempre deu sentido à minha
participação política e com o qual
me sinto honrado por servir os
Açorianos e defender os Açores
nesta legislatura. Por outro lado,
o facto de ser jovem permite-me
estar mais próximo de uma geração
que precisa de ser representada.
Nós temos grandes desafios como
geração e, por isso, poder pensar e
agarrar nestes desafios e ter uma voz
no Parlamento Regional a dizer e
a propor soluções é algo único que
preenche as minhas expetativas e
que me enche de responsabilidade e
de motivação.
053
NODEZ20
ENTREVISTA
NO DEBATE DO
PROGRAMA
DO GOVERNO,
TECEU
ALGUMAS
CRÍTICAS
DURANTE O
SEU DISCURSO
AO EXECUTIVO,
COM ESPECIAL
DESTAQUE À
JUVENTUDE.
O QUE É QUE
FALTA NO
PROGRAMA
DO GOVERNO
EM RELAÇÃO
A ESTE GRUPO
DA NOSSA
SOCIEDADE?
Tanta coisa. O teor do Programa
está ao nível da indigitação,
formação e composição deste
Governo. Está, portanto, ferido no
essencial porque não apresenta um
caminho ou ideia construtiva que
possa concretizar a visão panfletária
que o Programa explora. E ainda
está ferido por esquecer respostas
claras, concretas e urgentes a uma
geração que quando consegue
arranjar emprego, muitas vezes é
um emprego sem estabilidade, a
uma geração que vê oportunidades
vedadas no campo da habitação.
Mas, na minha opinião, falta
respostas ao mercado de trabalho,
como por exemplo diminuir e
combater a precariedade – regra
geral do emprego jovem de hoje – o
que atrasa a realização pessoal e o
sustento de uma vida autónoma a
muitos jovens.
Agora ainda mais notório devido
à dimensão da crise que estamos
a atravessar, sendo necessário um
conjunto de soluções que têm de
ser tomadas já. Além disso, não foi
vista como prioridade a melhoria
das condições que os programas
de estágios oferecem aos jovens,
aliás desconsidera-a por completo
e destaca o aumento dos benefícios
para as empresas na contratação de
estagiários, também é importante,
é certo. E, portanto, não há um
Programa que tenha mecanismos
de apoio à criação de emprego
de qualidade e que seja, de facto,
algo direcionado aos jovens e que
consiga também criar emprego para
as pessoas que foram afetadas pela
pandemia.
054 NODEZ20 055
NODEZ20
ENTREVISTA
ENTREVISTA
O PS É O MAIOR
PARTIDO DA
OPOSIÇÃO NO
PARLAMENTO
AÇORIANO. O
QUE É QUE OS
AÇORIANOS
PODEM
ESPERAR DA
BANCADA
SOCIALISTA E,
EM ESPECIAL,
DE SI, NO QUE
RESPEITA AO
CONTRIBUTO
PARA A
CONSTRUÇÃO
DE POLÍTICAS E
MEDIDAS PARA
A SOCIEDADE
AÇORIANA?
No Parlamento Açoriano, o PS não
é o maior partido da oposição. O
PS é o maior partido no Parlamento
e nos Açores porque ganhou
as eleições, ganhou com mais
mandatos e mais votos. O PS é,
e continuará a ser, o Partido dos
Açores. Os Açorianos podem contar
com o PS – como sempre contaram
– para um diálogo construtivo e
sustentável, com todos os partidos,
no sentido de trabalhar para propor
e arranjar soluções concretas que
possam melhorar o seu projeto de
vida. Quero ser no parlamento uma
voz que leve as causas e os desafios
da nossa geração para a discussão
política, que é hoje confrontada com
o regresso da crise económica e
social, o acelerar da crise climática e
a crise da democracia. Isso significa
não só fazer com que estas sejam
ouvidas, como também concretizar
soluções que possam dar resposta às
necessidades das pessoas.
HÁ ALGUMA
MENSAGEM
QUE QUEIRA
DEIXAR AOS
NOSSOS
LEITORES?
Este momento difícil que estamos
e vamos continuar a atravessar e
os desafios com que agora somos
confrontados convoca-nos para um
grau de urgência que exige uma
ação imediata e clara. E, para isso,
os Açorianos e os Jovens Açorianos
podem contar com as nossas
respostas em várias frentes, em
torno de uma forte defesa das causas
de uma geração que, tal como já
referi, precisa de ser representada.
Temos uma palavra e uma visão de
futuro a dizer sobre as mais variadas
causas da nossa sociedade, para
todos os problemas e todas as idades
para que ninguém fique para trás.
056 NODEZ20 057
NODEZ20
REPORTAGEM
SARA BORGES
RESILIÊNCIA
FINANCEIRA E
OPERACIONAL
O PAPEL DOS CFO’S
NAS EMPRESAS PORTUGUESAS
As pequenas e médias empresas
(PME), por outras palavras,
empresas com menos de 250
pessoas empregadas, são
frequentemente referidas como
a espinha dorsal da economia
europeia, proporcionando empregos
e oportunidades de crescimento.
No entanto, após as restrições
provocadas pela pandemia do
coronavírus, estas também podem
estar entre as empresas mais
afetadas pela desaceleração da
atividade económica.
059
NODEZ20
REPORTAGEM
Em 2017, a esmagadora maioria (98,9%) das
empresas na economia empresarial não financeira
da União Europeia pertencia a empresas com menos
de 49 pessoas empregadas (pequenas empresas),
seguidas das médias empresas (50-249 pessoas
ocupadas) com 0,9% dos totais empreendimentos.
Em contrapartida, apenas 0,2% de todas as empresas
tinham 250 ou mais pessoas ocupadas e foram,
portanto, classificadas como grandes empresas,
segundo revelam os dados divulgados pelo Eurostat.
Em 2017, havia 22,2 milhões de PME na economia
empresarial não financeira da UE, contribuindo com
mais de metade do valor acrescentado no total (56%,
3,5 mil milhões de EUR).
As PMEs empregavam 83,9 milhões de pessoas em
2017, representando 67% do total de empregados.
Mais da metade deles estavam empregados em
três atividades económicas: setor de comércio
distributivo (20,7 milhões de pessoas, 27% das
pequenas empresas e 19% das médias empresas),
manufatura (15,8 milhões de pessoas, 14% e 33%) e
construção (10,2 milhões, 14% e 7%).
Entre os Estados-Membros da UE com dados
disponíveis, a percentagem de pessoas empregadas
por pequenas empresas era mais elevada em
Portugal, onde as pequenas empresas empregavam
61% de todos os trabalhadores, seguida de perto
por Espanha (58%), Letónia e Estónia (ambas 57%)
bem como a Eslováquia (56%). As empresas de
média dimensão empregavam as percentagens mais
elevadas de pessoas no Luxemburgo (25%), seguidas
de perto pela Lituânia (23%), Estónia e Letónia
(ambos com 22%).
Desta forma, a pandemia criou
e continuará a criar enormes
constrangimentos às empresas.
Neste contexto, muita da pressão
é colocada nos ombros dos Chief
Financial Officers (CFO’s), como
que desafios irão encontrar
nas empresas e como podem
liderar numa fase de disrupção e
transformação dos seus negócios
e operações?
Foi neste sentido que o Jornal
Económico, em parceria com
a EY, promoveu o webinar
“CFO – Resiliência Financeira
e Operacional” que contou
com a presença de Isabel Faria,
Associate Partner e Head of Risk
& Operations da EY, Luís Pedro
Mendes, Audit Partner e Head
of Capital Markets da EY, Nuno
Nogueira da Silva, Associate
Partner e Head of Turnaround
and Restructuring Strategy da EY
e Paula Catarino, Administradora
e CFO do Grupo Progelcone.
É expectável registar-se em
2021 uma quebra económica
ainda mais vigorosa e de um
impacto ainda mais negativo
no desempenho das empresas
sobretudo se tivermos em conta
o final da moratória legal já em
setembro e que irá implicar um
esforço adicional de tesouraria
por parte das empresas e que
levaram muitas a terem que
desenvolver processos de
restruturação. Desta forma,
com o fecho abrupto de um
espectro muito alargado do tecido
empresarial, ficou em evidência
muitas das fragilidades das
empresas portuguesas, sobretudo
ao nível dos seus processos de
gestão de tesouraria.
061
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Segundo Nuno Nogueira da Silva, Associate
Partner e Head of Turnaround and
Restructuring Strategy da EY, nenhuma
empresa estava preparada para uma situação
dessas, realçando a estrutura do tecido
empresarial português, caracterizado
sobretudo por empresas de pequena e média
dimensão, das quais uma fatia relevante são
microempresas. Estas são empresas que apesar
de serem muito importantes para a nossa
economia e face à sua dimensão e escassez
natural de recursos que estas empresas têm,
obviamente que fazem a sua gestão numa
base diária e por isso mesmo não estavam
preparadas para o impacto inicial desta
pandemia. Não dispondo de planos de
tesouraria tiveram uma dificuldade acrescida.
No entanto, as empresas de grande dimensão,
que até dispunham destas ferramentas, foram
igualmente afetadas. A grande diferença é que
por terem estes mecanismos implementados,
tiveram uma capacidade de resposta e de reação
mais rápida e adequada e com isso conseguiram
ter tempo para estudar diferentes cenários e
em função destes cenários definir estratégias
de negociações com os seus principais
stockeholders, com os seus principais credores.
Em relação aos apoios prestados pelo Estado,
Nuno Nogueira da Silva refere que foram
instrumentos muito importantes para aliviar a
tesouraria das empresas, mas que, no entanto,
acabaram por criar um efeito anestésico e
acabar por esconder algumas debilidades que
até já traziam antes da pandemia. Este tipo
de empresas tem uma gestão muito focada no
imediato, no curto prazo e neste momento estão
a desconsiderar o efeito dos apoios do Estado,
como é o caso da moratória que irá cessar em
2021.
Por outro lado, Paula Catarino, Administradora
e CFO do Grupo Progelcone (uma empresa
que atua no setor alimentar) dá a conhecer
o percurso que a empresa percorreu neste
período de pandemia. Deste modo, menciona
que nos primeiros tempos verificou-se
uma espécie de negação e acrescenta que a
partir de março verificou-se um corte total
de recebimentos e pagamentos. No que diz
respeito à tesouraria, afirma que “tivemos de
reagir pois houve uma consciência coletiva que
o dinheiro tinha de girar na economia e foi isso
que lentamente aconteceu.
062 NODEZ20 063
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Os clientes começaram timidamente a pagar,
nós também não podíamos falhar com
os fornecedores, mas principalmente não
podíamos falhar com o Estado”, acrescentando
que as cadeias de restauração “são uma grande
parte do nosso negócio, com capital humano
muito intensivo, ficaram bastante assustadas
e esse é um grande problema, bem como a
questão das rendas que ao longo do tempo
foram negociando. O que nos pediram a
nós foi o que pedimos aos nossos clientes,
compreensão no prazo dos pagamentos e foi
isso que aconteceu”.
Quando questionada sobre o modo como se gere a tesouraria
nesses tempos de incerteza, a CFO do Grupo Progelcone
respondeu “com cautela”. Refere que a moratória do crédito é
“uma medida extremamente importante” para as empresas.
Contudo, realça um aspeto importante, afirma que “não nos
podemos esquecer que vamos ter a fatura no futuro e vamos ter
de juntar à nossa dívida os juros que temos de capitalizar e vamos
atempadamente e preventivamente fazer cenários para conseguir
resolver esses compromissos”.
Em contraposição ao cenário de negação proferido por Paula
Catarino, Isabel Faria, Associate Partner e Head of Risk &
Operations da EY, a mesma refere que há dois momentos de
reação. Uma reação imediata, que se foca no facto de as empresas
terem de tomar decisões num curto prazo e há uma reação
mais contínua no tempo, de médio prazo, onde as empresas são
obrigadas a uma reflexão maior e mais profunda e a um repensar
das operações mais abrangente.
Num primeiro momento de reação, as
empresas viraram-se para os seus planos de
continuidade de negócio, para os seus planos
de crise, as que os tinham porque quem não
tinha teve de tomar um conjunto de medidas
mais a doc e muitas vezes com mais custos, mas
a maior parte das empresas acabou por formar
equipas de gestão de crise com maior ou menor
grau de formalismo, mas que obrigaram a criar
uma série de procedimentos novos e a repensar
práticas de trabalho.
064 NODEZ20 065
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Com o avançar da situação
pandémica deixou de se poder pensar
tanto no curto prazo e acabou por
se olhar mais no foco da resiliência
da cadeia de valor. Começámos
a assistir às empresas a olharem
para os seus processos de negócio,
a documentá-los, a identificarem
instâncias de risco mais críticas. Tudo
isto foi muito importante porque ao
identificarem-nas têm também de
identificar quais são os controlos e
as ações de mitigação que servem
para dar resposta a esses riscos. É este
aumento de uma consciência, de uma
maior necessidade de monitorização
e controlo e ainda da eficiência
operacional que ajuda muito à reflexão
que as empresas têm de fazer numa
situação de conjuntura económica
como a que vivemos agora.
Para Isabel Faria, olhar para os
processos internos tornou-se
imperativo. No entanto há diferenças
entre processos produtivos e processos
de suporte ou de BackOffice. Quando
falamos de processos produtivos a
tendência atual é olhá-los do ponto
de vista das boas práticas de lead
management e nomeadamente da
metodologia 5S. Quando olhamos
numa perspetiva de processos de
suporte, o foco é o emagrecimento dos
custos e se primeiramente as empresas
perguntavam onde vamos cortar,
gradualmente assistimos à pergunta
onde e como vamos otimizar. O que
estamos a ver é as empresas a procurar
restruturar processos como os
processos financeiros, os processos de
compra, recursos humanos, portanto,
procurar aspetos que tornem mais
eficientes os seus próprios processos.
Assim, com a incerteza causada pela pandemia e
todos os riscos que acarreta consigo é certo que
tal traduzir-se-á em obstáculos no processo de
encerramento de contas e no relato financeiro
anual das Empresas. Luís Pedro Mendes, Audit
Partner e Head of Capital Markets da EY, refere
que a pandemia acaba por ter um impacto brutal
na vida das pessoas, das empresas e da economia
como um todo. Nessa medida a questão do
encerramento de contas e do relato financeiro não
é indiferente.
066 NODEZ20 067
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Há desafios acrescidos que
a pandemia traz nestes dois
processos, eu diria que desde logo
há um desafio operacional. Deste
modo, começa por referir que a
maior parte das empresas continua
a ter os seus colaboradores em
trabalho remoto e isto é uma
disrupção muito grande no
processo de encerramento de
contas. Assim, essa disrupção
traz um desafio acrescido nas
atividades de encerramento de
contas daqueles que preparam as
demonstrações financeiras e que
as fazem, mas também na vertente
dos CFO’s que os supervisionam,
da supervisão que fazem dessas
atividades. Também realça o facto
de que o risco de cibersegurança
aumentou significativamente
devido ao trabalho em casa que
obriga a ter acesso remoto às
ferramentas do escritório.
Seguidamente, menciona um
desafio técnico, fazendo um
enquadramento temporal,
Luís Pedro Mendes refere que
“o primeiro caso em Portugal
acontece no dia 2 de março,
a pandemia é declarada pela
OMS no dia 11, portanto no
que se refere às contas de 2019
a pandemia foi tratada como
um evento subsequente não
ajustado, sem reflexo direto
naquilo que são os números de
2019, a não ser a divulgação que
estávamos diante de um evento
que tinha uma incerteza e que
as estimativas desses impactos
eram muito difíceis de apurar.
Ora bem, em 2020 estamos em
plena pandemia de Covid-19
já não se qualifica como evento
não ajustável. Será preciso que as
empresas reflitam isso”. Declara
que os apoios governamentais
que têm que ser refletidos, há
reestruturações e medidas que
se tomaram a nível da proteção
do balanço e que muitas delas
têm que ser acauteladas e,
portanto, os colaboradores e os
preparadores das demonstrações
financeiras precisam de ter isso
em consideração.
Contudo, defende que o grande
desafio consiste na incerteza, “eu
diria em suma que a pandemia
traz aqui uma relevância
acrescida ao relato financeiro.
Quanto mais transparente for o
relato mais confiança terão os
utilizadores das demonstrações
financeiras e obviamente todo o
mercado de capitais”.
Nuno Nogueira da Silva prevê
que quando cessarem os
mecanismos de apoios dispostos
pelo Governo, que com toda a
certeza não irá coincidir com
o fim da crise económica, que
as restrições de liquidez das
empresas por essa altura se
venham a agravar e tenham
maiores dificuldades para fazer
face ao seu serviço de dívida e
maiores dificuldades em honrar
as suas responsabilidades
perante outros credores.
068 NODEZ20 069
NODEZ20
REPORTAGEM
PUB
E a isto acrescenta-se o facto
de Portugal ser dos países mais
endividados e um dos que apresentam
uma maior proporção de moratórias
face ao crédito total concedido, o CFO
refere “não tenho grandes dúvidas
que 2021 e 2022 vão ser marcados
por este agravamento desta crise
económica, que infelizmente logo
sucederá, se nada for feito, a um
agravamento da crise social”. Deste
modo, defende que a melhor forma
de as empresas se preparem para esse
momento é ganhando consciência
da dura realidade que o fim destes
apoios do Estado chegará um dia.
Como também se tornarem cientes
que chegará o dia em que terão de
iniciar o reembolso daquelas linhas de
crédito que, entretanto, foram obtidas
e que hoje ainda beneficiam dos seus
períodos de carência. Posto isto, refere
que o segundo passo incide num
período de reflexão das empresas,
efetuando um diagnóstico interno
ou por outras palavras uma revisão
independente do plano de negócios
que, aliado ao plano de continuidade,
permitirão às empresas perceber
em que condições poderão operar
no futuro. E será com base neste
diagnóstico, com base na dimensão
dos problemas de cada empresa iniciar
os seus processos de reestruturação,
sejam eles de ordem financeira ou de
ordem operacional.
E, portanto, face a estas perspetivas
para 2021, em particular entre abril e
outubro do próximo ano, as empresas
vão ver as suas responsabilidades
crescer e por isso considero que
devem já começar a preparar esse
momento.
Antevendo uma conjuntura
económica difícil para a maioria das
empresas em 2021, Isabel Faria elenca
um conjunto de lições que devem ser
aprendidas em 2020. Deste modo,
a primeira lição é que as medidas
de curto prazo têm contrapartidas.
Portanto, se há algo que esta
conjuntura económica difícil mostra
é a necessidade de haver medidas
adaptáveis, ágeis e quem diz medidas
diz processos operacionais ágeis.
Uma segunda lição é que os planos de
continuidade de negócio e os planos
de crise não devem ficar fechados até à
próxima pandemia ou até ao próximo
fator de risco externo que apareça,
porque podem aparecer a qualquer
momento. Uma outra lição aprendida
é devermos acompanhar muito
aproximadamente as tendências que
impactam a excelência operacional.
Alguns exemplos são a mudança de
paradigma de produção, da produção
em massa para a customização
em massa ditada pela alteração do
perfil dos clientes, dos próprios
consumidores que querem produtos
diferentes e serviços diferentes.
071
NODEZ20
REPORTAGEM
ANA MASSA
OS LIVROS
EM TEMPO DE
PANDEMIA
Entre 17 e 20 de dezembro, o afamado
evento cultural “Arquipélago de Escritores”
passou este ano para o formato digital,
atendendo à conjuntura atual. Dos variados
painéis que decorreram ao longo deste
período, destaco o do dia 18 de dezembro,
intitulado “Livros em Tempo de Pandemia”,
cujo painel foi composto por Rita Fazenda,
editora no Grupo LeYa e moderadora desta
conversa, Carlos Alberto Machado, editor
da Companhia das Ilhas e proprietário de
uma nova livraria sediada na ilha do Pico,
e Paula Quadros, proprietária da livraria In
Folio, em Angra do Heroísmo.
072 NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Rita Fazenda começou por
afirmar que “mais do que
nunca os livros sofreram com
o cenário que nós estamos a
viver no mundo e para quem
não sabe além do turismo e da
restauração, o setor dos livros
foi o que mais sofreu em termos
de quebra de vendas com a
pandemia”. De facto, os livros
desceram à volta de 70%, entre
abril e agosto, e só agora é que
estão a recuperar. A moderadora
questionou aos convidados como
é o dia a dia de um livreiro nos
Açores, ao que Carlos Machado
afirmou que a sua experiência
enquanto livreiro ainda é muito
curta, atendendo a que abriu
a sua livraria no dia 12 de
novembro. “A verdade é que o
livro e a leitura são atividades
minoritárias e eu acho que era
importante termos consciência
disso porque isto tem uma série
de implicações de natureza
filosófica, política, económica,
por aí fora. É na verdade uma
atividade minoritária. Há
poucos leitores, compram-se
poucos livros e por um lado o
livro não faz parte do dia a dia
das pessoas. O livro enquanto
objeto de prazer, objeto de
conhecimento, objeto de troca,
de partilha, esquecemos isso. Eu
trabalho, sempre trabalhei para
que essas pequenas minorias
não desapareçam, dando o meu
pequeno contributo para isso
e se crescerem um bocadinho
essas minorias ficamos contentes
e somos todos um bocadinho
menos infelizes”.
Relativamente à livraria, Carlos
clarifica que a sua montra “está
exatamente em frente à saída das
caixas registadoras do supermercado
que é uma coisa que nunca me
passou pela cabeça e é curioso ver
aquele vai-vem das pessoas que
nesta época natalícia vêm com os
cestos de compras, já com muitas
prendas embrulhadas e vão passando
sorrateiramente à porta da livraria
e nós ficamos sempre naquela
expetativa do entra, não entra, mas
a verdade é que não podemos dizer
que estamos insatisfeitos, apesar
deste panorama que não é simpático
para ninguém. Aproximam-se
pessoas que nós pensamos que não
têm hábitos de leitura e acabam por
entrar e perguntar qualquer coisa,
gente mais nova, gente com gostos
muitos específicos, da fauna açoriana,
ou flora, tem sido uma experiência
gratificante”.
074 NODEZ20 075
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Paula Quadros, por sua vez, afirma que o
seu dia a dia na livraria não se diferencia do
seu dia a dia em casa, “porque o livreiro no
nosso país não tem vias especiais sequer de
acesso aos livros. Portanto, a maior parte
das editoras, ao contrário daquilo que se
faz noutros países nem sequer manda uma
newsletter específica para os livreiros para
saber aquilo que é publicado. Portanto, a
primeira dificuldade que há aqui, tirando
aquelas tais de falta de compradores… O que
é estranho é que há grande dificuldade em
saber o que é que se publica em Portugal”.
A proprietária da In Folio também se queixa do processo de
distribuição dos livros e do respetivo transporte, confirmando
que “para chegar cá um livro, em média, é um mês. Agora,
quando me pedem um livro é extremamente complicado dizer
à pessoa que ou pagam um porte de correio que é mais caro
do que o livro ou, se tudo correr bem, o livro demorará em
média um mês a chegar. Portanto, as dificuldades do livreiro
e eu penso que o sítio mais difícil para ser livreiro no nosso
país é nos Açores, porque em Lisboa é fácil, deve ser pegar
no telefone e os livros no dia, no máximo, estão na livraria,
aqui não. Portanto, é essa luta, a parte mais desagradável é
conseguir ter os livros”.
Relativamente ao mercado do livro, Rita Fazenda
esclarece um pouco este processo: “Os livros são
editados e depois são distribuídos ou pelas próprias
editoras ou por distribuidoras especialistas na
distribuição de livros e, de facto, os livros têm tiragens
baixas, o número de exemplares que se imprimem dos
livros e depois é complicado responder aos pedidos
das grandes cadeias e dos livreiros independentes que
é o caso do Carlos e da Paula”.
076 NODEZ20 077
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
A editora percebe que estas situações
dos livreiros independentes são muito
complicadas de gerir e que “realmente
com as tiragens que se fazem em Portugal
às vezes é quase impossível e depois o que
acaba por acontecer é que estas grandes
cadeias não vendem os livros, devolvem e
provavelmente os pequenos ficam sempre
um bocadinho engolidos pela roda”.
Assim, “perde-se um bocadinho a parte
mais bonita que é precisamente isto, que
é conseguir o leitor pedir o livro e uma
semana depois ter o livro e vocês, em cima
disso, ainda estão à mercê da distribuição,
ou seja, da questão dos envios que no vosso
caso teria de ser por avião ou barco e vão
sempre ficar muito condicionados por
isto. De facto, deveria existir uma série de
medidas que ajudasse nesse sentido”.
No que concerne à seleção
de livros na livraria, Carlos
esclarece que esta questão dos
“grandes grupos, da distribuição,
nós enquanto editores fazemos
distribuição direta, mas é uma
carga de trabalho absolutamente
incrível, nós somos os melhores
clientes dos correios dos CTT
das Lajes do Pico. Seremos talvez
na ilha aqueles que mais vezes
vão buscar livros aos transitários.
Eu estou farto de explicar isto às
pessoas e pensam que eu estou a
exagerar, mas é um martírio. Nós
temos a política de que lá entra
aquilo que a gente gosta, embora
façamos a encomenda de qualquer
livro que um cliente queira, não
importa o quê, desde que exista no
mercado e que a gente possa ter
acesso a ele. No entanto, só entra
na livraria aquilo que nós achamos
que não é lixo, aquilo que não
conspurca, aquilo que acrescenta
alguma coisa”.
Paula acrescenta ainda que
acredita plenamente que a venda
de livros não irá aumentar pois
“nada e ninguém no nosso país
consegue fazer uma política
cultural com pés e cabeça, uma
política de livro só se pode
alicerçar se no nosso país houver
uma política cultural com a
vertente educativa, porque é
preciso transmitir a cultura, depois
aprende-se e depois a cultura cria e
é nesta política que o livro se pode
integrar e é assim que poderiam
passar a haver mais pessoas com o
gosto pelo livro”.
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NODEZ20
REPORTAGEM
No que concerne o papel do livreiro
neste panorama de fomentar e cativar os
leitores, Carlos afirma que os livreiros
tiveram um papel fundamental para “que
isto não fosse por um plano inclinado
abaixo até um ponto sem retorno, mas
podem-se contar nos dedos de uma mão
os verdadeiros livreiros que existem em
Portugal”, afirmando que infelizmente
muita gente se acomoda pelo livro que
é anunciado na televisão ou que saiu
numa revista cor de rosa. “Eu preciso de
sobreviver”, segundo Carlos, é uma frase
“absolutamente terrível e tem levado a
que as livrarias se encham de lixo, que
os livros tenham circulação em livraria
num máximo de uma semana, um mês
e depois desaparece. Ou seja, não há
livrarias de fundo, há livrarias com espaço
para os livros que saíram durante uns bons
anos para trás e que se mantém em livraria
que é uma coisa completamente diferente,
é o mesmo que irmos ao supermercado
e só ter uma zona de batatas e outra de
margarinas e de resto não ter mais nada
lá. Os supermercados têm de tudo e as
livrarias também deviam ter de tudo o que
se passa no mercado livreiro durante uns
bons 10 anos”.
No que concerne aos programas regionais
da área da cultura, Carlos afirma que
“são muito bonitos e toda a gente está
de acordo com eles, mas não dizem
nada. Basicamente são declarações de
princípios para parecer bem. Na área do
livro é terrível, o que se resolve é subsidiar
as edições para ficarem de consciência
tranquila. Dou-vos um exemplo: a
Companhia das Ilhas, em parceria com
a Imprensa Nacional, está a editar a obra
completa de Vitorino Nemésio.
Toda a gente acha nos Açores que Vitorino
Nemésio é o grande escritor açoriano, para
além de Antero de Quental, mas não se
mexe uma palha para divulgar a obra deste
autor de renome nacional. Não há desculpa
para que isto aconteça assim desta maneira,
mas acontece e os níveis de leitura às vezes
veem-se por aqui”. Assim, a política de que
o orador há pouco falava consistiria em
algo que pusesse “o livro na ordem do dia.
Quando houve alguém que seja capaz de
fazer isto, as coisas mudam um bocadinho”.
081
NODEZ20
REPORTAGEM
A proprietária da In Folio
interveio neste momento para
contrapor que “não é o livro
que tem de estar no centro, o
que tem de estar é a leitura,
porque eu estou convencida
que se vendem mais livros
do que aqueles que se leem.
Muitos dos livros que eu vendo
não sei se eles são lidos. O
problema é que há muita gente
com um padrão de instrução
elevado que não sabe ler, que é
funcionalmente analfabeto”.
Para terminar, Rita Fazenda
conclui que para se fomentar o
gosto pela leitura não é “obrigar
as pessoas a ler determinadas
coisas que vamos conseguir
fazer isso e para isso temos de
começar muito cedo com livros
infantis e criando estes hábitos
de leitura nas crianças para que
eles percebam que os livros de
facto são um objeto maravilhoso
e que lhes vai trazer tanto e isso
claro que pode começar por uma
política governamental que ajude
de alguma forma para que em
algumas fases da vida a que isso
aconteça mas que de facto eu
acho que aqui falhou qualquer
coisa enquanto povo. Eu sou de
uma geração em que o meu gosto
começou pelo meu pai, uma
pessoa que também fomentava
a questão de comprar livros e
de me passar este gosto e o meu
tornar de editora surgiu com
uma professora na secundária
que me deixou este bichinho.
Portanto, eu acho que todas as
peças são fundamentais. Nesse
aspeto, os livreiros tiveram um
papel fundamental e não só,
os bibliotecários. Na minha
geração, também as bibliotecas
eram uma fonte inestimável de
conhecimento e os bibliotecários
vibravam com os livros e eram
eles que nos tocavam de alguma
forma. Isto para dizer que eu
acho que ninguém se deve
desresponsabilizar por isto,
editores, livreiros, inclusive
distribuidores. Isto é um esforço
conjunto. A leitura não é só um
passatempo, mas sim uma forma
de passar conhecimento e crescer
como pessoas”.
083
NODEZ20
PUB
REPORTAGEM
REPORTAGEM
“
ATÉ QUE
A MORTE
NOS SEPARE
POR SOFIA CORDEIRO
”
O Núcleo
da Amnistia
Internacional
de São Miguel,
em parceria
com a livraria
Letras Lavadas,
promoveu no dia
25 de novembro o
webinar “Até que
a violência nos
separe” através
da rede social
Facebook.
084 NODEZ20 085
NODEZ20
REPORTAGEM
A amnistia é uma comunidade global de ativistas e
defensores dos direitos humanos e a visão que move a
amnistia é a de um mundo em que cada pessoa possa
usufruir de todos os direitos consagrados na declaração
Universal dos direitos humanos independentemente de
quem seja e onde esteja.
A missão do Núcleo é integrar e envolver a comunidade
na luta pela defesa dos direitos humanos e em concreto
pelos direitos humanos das vítimas de violência
doméstica.
Este evento pretendeu assinalar o Dia da Eliminação
da Violência Contra a Mulher, que contou com um
painel de convidadas que dedicam a sua ação diária a
estas temáticas. O painel contou com a participação de
Malvina Sousa, autora do livro “Até que a violência nos
separe”, Maria José Raposo, Presidente da Umar Açores,
Raquel Rebelo, gestora do Gabinete de Apoio à Vítima
de Ponta Delgada – Apav
Açores e Piedade Lalanda,
Professora Coordenadora
da UAc.ESS – Escola
Superior de Saúde da
Universidade dos Açores. A
moderadora deste webinar
foi Florbela Carmo, Membro
do Núcleo da Amnistia
Internacional de São Miguel.
Para abordar este tema
aproveitou-se o livro de
Malvina Sousa, “Até que
a morte nos separe”,
recentemente publicado
pela livraria Letras Lavadas
na qual existe uma
provocação subjacente no
título derivada da célebre
expressão matrimonial.
A autora revela que quis
mostrar que “há aqui um
arrancar e uma vontade
de revelar que esta ideia
que está subjacente na
nossa cultura que depois
de casados a morte é que
pode separar, não tem de
ser respeitado se os direitos
humanos, se o respeito, se
os direitos básicos não são
respeitados.
086 NODEZ20 087
NODEZ20
REPORTAGEM
E, portanto,
a partir daí há esta
provocação de dizer
às pessoas que isto é um
juramento que é feito, mas que não
tem de ser levado até ao final se não
correr bem.”
Por outra razão, Malvina também
aponta que agarrou no título “não só
para chamar a atenção da temática e
para revelar algo daquilo que o livro
tinha, mas também para chamar a
atenção destes outros aspetos e para
demonstrar que também a nossa
cultura está subjacente no título do
livro que é mostrar que apesar de toda
a cultura, de todos os preconceitos que
estão por trás de tudo isto podemos ir
contra se as coisas não estão a correr
bem.
Por outro lado, também é importante mencionar que se a
frase diz assim ‘até que a morte nos separe’ e a violência
é precisamente um alerta e uma chamada de atenção
para que nós não devemos deixar chegar até aí, porque
nós sabemos que hoje em dia é cada vez mais uma realidade
e foi neste sentido que o título foi escolhido”.
A autora foi questionada se foi difícil dissociar a mulher na
produção da obra, na qual a autora respondeu que “não
falaria tanto da mulher, diria mais na pessoa”, mas que “sem
dúvida que sendo mulher esta é uma temática que nos
atinge essencialmente, mas é preciso realçar isso que a
violência não é só contra as mulheres aliás isto está
presente no livro, mas será difícil, porque na minha vida é
difícil dissociar a pessoa que eu sou de tudo aquilo que eu
faço e, portanto, a pessoa que eu sou está presente neste
livro por diversos motivos como está presente em outras
coisas que eu já escrevi, está presente no livro não só a partir
das personagens não só através da temática que acho que é
importante e que nós devemos falar muito acerca dela e não
taparmos os olhos como tem sido muitas vezes”.
Malvina Sousa divulga que “a pessoa que eu sou está também
presente nas falas das personagens, nos costumes, na
forma como é vista a sociedade e ao longo de toda a obra e
sobretudo nas mensagens que são transmitidas.
088 NODEZ20 089
NODEZ20
REPORTAGEM
Esta obra apesar de ter como pano de fundo a violência é para
mim uma obra que fala sobretudo de relações e emoções e é
precisamente por isso que eu acho que nós somos emoções
e são elas que mexem connosco e por isso é que eu sinto que
estou tão presente aí na obra e há personagens que têm de facto
características minhas”.
Maria José Raposo afirma que a definição de violência doméstica
se confunde com a de violência conjugal especialmente nos
mais jovens. A presidente explica que “a palavra doméstica vai
da partilha daquele homem e daquela mulher e estamos a falar
de casais heterossexuais como também de casais gays ou
lésbicas a que se aplica a mesma lei e, portanto, tem a ver com
a conjugalidade e não só ocorre no espaço de casa, o espaço
de casa é o espaço privilegiado para o agressor porque à partida
é um espaço que ninguém está a observar e quando existem
crianças, estas podem estar a observar de forma direta ou
indireta, mas à partida o agressor sente que está no seu espaço
e é aí que ocorre a maior parte da vitimização para com estas
mulheres”.
P
ortanto, a violência doméstica
abarca vários tipos de violência:
física, psicológica, verbal, sexual,
económica e a financeira.
A violência também é, muitas
vezes, perpetuada na fase da
separação e é nesta altura
que as mulheres têm um risco
acrescido perante aquele
agressor e acontece quando
aquela mulher é mãe, aquele
homem é pai e têm de “negociar”
entre si a partilha daquela
criança.
A presidente também explica
como se distingue a violência
no namoro. Ocorre numa fase
mais jovem e à partida aquele
homem e aquela mulher não
coabitam, mas passam “imensas
horas na casa um do outro, mas
não estamos agora a falar na
violência no namoro, mas sim de
uma violência doméstica, onde
ambos estão numa intimidade
entre si”.
Atualmente, na época de
confinamento, o apoio à
vítima tem sido “ligeiramente
diferente de modo a que não as
puséssemos em maior risco e
maior perigo e, muitas vezes,
tivemos de o fazer utilizando as
redes sociais, mas, sobretudo,
090 NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
para a maior parte das
mulheres a grande
ferramenta deste contacto
foi pelo telemóvel, porque
as vítimas estavam mais
coagidas, ‘mais vigiadas’,
mais controladas nos
seus espaços, nos
seus quereres e nas
suas vontades, porque
obrigatoriamente tiveram
de passar mais tempo
junto do seu pseudo
agressor”.
Maria José Raposo
denota que os números
“desceram fortemente”
devido ao confinamento,
porque a vítima tinha
“pouca mobilidade e
também percebemos
que houve mais ajuda
familiar, sentimos que
as famílias foram mais
unidas entre si, os tios
foram mais próximos da
vítima e, muitas vezes,
numa situação normal, a
vítima, antes da pandemia,
estava sozinha durante
a pandemia, esta vítima
teve mais apoio familiar,
mas que obrigou aqui uma
monitorização da nossa
parte muito maior a vítimas
que estamos extramente
preocupadas com a sua
segurança”.
As associações notaram que os
números de pedidos de ajuda durante
o confinamento tinham diminuído
exatamente porque viviam mais com o
agressor e assim que o confinamento
acabou os efeitos são emocionais,
sobretudo, “pela ausência de
privacidade, estar uma pessoa limitada
às rotinas, porque, infelizmente, o
confinamento para as vítimas resultou
numa obrigatoriedade de movimentos,
cálculo de liberdade de movimentos”, e,
por isso, uma das estratégias da APAV
é aproveitar “movimentos como ir às
compras se conseguissem sozinhas ou
mesmo passear algum animal ou outra
rotina de forma individual refletir sobre
aquilo que se tem passado, porque para
muitas pessoas isso já era suficiente
ter estes momentos a sós, felizmente,
posso falar por algumas vítimas que
não devem ter tido estes momentos,
porque é muito importante refletir pelo
que se passou e arranjar algumas
estratégias de coping para lidar com
estas situações.”
Também foi avaliado o impacto pósconfinamento
e “um alegado agressor
que está habituado a 24 horas no
confinamento com a vítima e depois
se vê sem ela, as repercussões nesta
mesma vítima depois do confinamento
foram graves, porque este alegado
agressor, supostamente, tornou-se uma
pessoa mais controladora, novamente a
falta de liberdade de movimentos.
092 NODEZ20 093
NODEZ20
Portanto, eu analisaria esta questão tanto a nível do confinamento
como o pós-confinamento e na questão do controlo e falta de
liberdade”.
O Gabinete de Apoio à Vítima indica que o nível familiar é outro dos
impactos sentidos, nomeadamente, “a falta do controlo exercido
e podemos ver a questão do isolamento de outras pessoas. Se
uma pessoa tem de estar mais disponível para o alegado agressor
implicitamente estará menos disponível para outras pessoas o
que vai causando aqui também isolamento para a vítima e que
depois tem consequências nefastas na sua parte emocional,
nomeadamente, a falta de convivência social, porque depois poderá
desencadear aqui uns sentimentos de desânimo, tristeza, a própria
falta de atividade social também poderá cada vez mais causar alguns
impactos em outras esferas, porque se a pessoa se torna mais
isolada vai também de alguma forma estar menos a par de algumas
questões que lhe são importantes e, portanto, vai sempre minando
aqui a própria autoestima da vítima”.
Piedade Lalanda fala sobre as várias condicionantes da violência:
as relações conjugais ou as relações afetivas ou familiares ou as
relações de género sejam elas no grupo de família, trabalho ou
sociedade em geral. “A relação principal nas estatísticas da violência
doméstica é a relação de conjugalidade ou ex-conjugalidade que
representa 60% dos agressores e, portanto, que eram cônjuge ou
ex-cônjuge como também já foi aqui dito a questão do namoro e
também uma relação que já representa 16% que é a relação paisfilhos
em que o agressor é o filho e essa também é uma
situação que pode ser de risco”. A violência não acontece
num grupo definido, “porque é transversal e é transversal
até também em termos de classe social mesmo que
encontremos uma percentagem mais significativa de vítimas
e de agressor com baixo nível sócio-escolar ou de baixa
escolaridade”. Também são encontradas vítimas com ensino
superior “só que há uma grande diferença entre as classes
sociais em matéria de denúncia, em visibilidade destas
situações de violência doméstica e de certeza que há uma
‘maior vergonha’ na denúncia nas classes sociais mais
elevadas, porque isso, muitas vezes, mexe com prestígio,
situações sociais de relevo e mexe até com estatutos de
poder que são mais difíceis, nomeadamente há casos
mediáticos nas revistas que há pessoas que tiveram a
coragem de mostrar ao quadro social a situação em que foi
vítima”.
Um outro aspeto é a questão socioeconómica e que “há
um aspeto interessante que na caracterização das vítimas
a maioria é empregada e poderíamos pensar que estamos
perante mulheres inativas, domésticas, mais vulneráveis
com menos rendimentos, mas a realidade não é essa. Há
muitas mulheres que são empregadas e têm o seu próprio
rendimento”.
REPORTAGEM
A professora afirma que “o
problema maior não está tanto a
este nível, mas na qualidade da
relação e aí entra a dimensão
cultural que é o padrão de
homens e mulheres que ainda
perdura da imagem do chefe de
família no fundo uma relação
hierárquica entre homens e
mulheres dentro da própria
família. E isto é que destrói, é
o lastro favorável para entrar a
violência, ou seja, no contexto
em que não há uma democracia
familiar e nós infelizmente
ainda temos no nosso
contexto cultural esta ideia
de que o homem, porque
‘veste calças’, como se
dizia no passado, tem mais
poder e esta ideia não está
só na cabeça dos homens
também está na cabeça das
mulheres e, por isso, o mais
difícil de desconstruir na violência
doméstica são estes estereótipos
que as mulheres alimentam e
quando elas alimentam no sentido
que ‘naturalizam’ e consideram
‘expectável’ ” que a vítima ache
que é motivo da reação violenta
qualquer atitude por parte dele “é
porque ela tem interiorizado este
modelo e isto remete-nos para
uma direção muito importante
dos tais grupos de risco que
são as famílias que ainda agora
educam os seus filhos em modelos
desiguais, portanto enquanto
esta desigualdade de género fizer
parte dos padrões do modelo
de referência da educação nós
estamos a alimentar ou estamos a
dificultar, se quisermos, o combate
aos comportamentos violentos”.
A investigadora continua que
“há muito a fazer nos modelos
educativos pedagógicos, há muito
a fazer na questão do namoro,
na prevenção da violência nas
relações de namoro, aliás um dia
disse um estudante do secundário
que a propósito do comportamento
violento dizia “não é normal, mas é
habitual”, ou seja, eles reconhecem
que o comportamento violento
destrói o outro, mas também
reconhecem que isto faz parte da
sua linguagem e esta naturalização
da sua linguagem violenta é algo
que tem de ser desconstruído”.
Há trabalho a fazer “a nível da
educação como ao nível da família,
da escola, trabalho, política, da
sociedade e do sistema judicial,
nós temos que, infelizmente, e
as estatísticas demonstram que
sempre que não se condenam
os agressores e a taxa de
coordenação é muito, muito baixa
desde logo o número de processos
096 NODEZ20 097
NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
de acusações é 16% da quantidade dos
inquéritos que são feitos ao nível da
violência doméstica e depois há muitas
penas suspensas. Em Portugal esta baixa
coordenação dos agressores leva a uma
baixa denúncia, quanto menos agressores
forem condenados, menos as vítimas acham
que vale a pena denunciar e isto também
é uma área de intervenção que
se tem de trabalhar muito para
dar visibilidade e aumentar
a consciência crítica das
pessoas que são vítimas de
violência doméstica, elas
têm de ter a consciência
que não é normal ser
vítima, elas não têm o
direito de se sujeitarem a
estes quadros de violência
não é um destino, nem é
uma fatalidade e foi dito
aqui no princípio pela
Malvina, é um compromisso
que se estabelece na
relação conjugal seja formal
ou não formal, mas essa
violência conjugal não pode
destruir a dignidade de
nenhum dos membros que
constrói aquela relação”.
E para se perceber se
há algum tipo de violência
a “nosso redor” o grande sinal de alerta
“é a rutura do contacto da vítima com
o mundo. Isto é uma estratégia do
próprio agressor que vai minando e
controlando sobretudo o mundo normal o
contacto da pessoa com os amigos, com
a família, com os colegas e vai criando um
ser omnipresente e omnipotente, o único
que tem a palavra, a verdade e o único que
tem o caminho certo e a vítima ao mesmo
tempo que vai deixando de contar com as
outras pessoas e de pedir ajuda”, “mas
para se aceitar a ajuda é preciso se
reconhecer que se tem de ser ajudado,
por isso é que as pessoas, às vezes,
nos dizem como é que é possível
uma vítima levar tantos anos
até pedir ajuda, porque
no fundo a agressão
vai triturando essa
capacidade de contar
com os outros e ela vai
se tornando dependente
do próprio agressor, ela
própria vai justificando os
comportamentos dele e vaise
tornar dependente das
armas”.
A professora realça o
papel das associações
intervenientes, afirmando
que “é interessante ver
aqui como a APAV e a
UMAR têm de inventar,
criar estratégias para
devolver às vítimas a
capacidade para se
libertarem, porque as
estratégias normais dos
contactos diários com
as pessoas, com as
098 NODEZ20 099
NODEZ20
amigas eventualmente com a família estão minadas
e nós vemos, às vezes, pessoas que já não nos dizem grandes
conversas ao telefone ou que nos mandam SMS muito secos
que já não têm conteúdo, porque estão demasiado cercadas
num mundo que não é saudável e isto é um sinal de alerta,
alguém que nós conhecemos e que vai perdendo a capacidade
de contacto e isto é um processo lento, há uma fase em que
a pessoa reage, revolta-se, mas à medida que o tempo vai
passando vai perdendo as forças e vai perdendo a razão para
lutar e vai-se submetendo e vai-se esquecendo de si própria até
na sua imagem, na sua aparência, na sua maneira de arranjar
para se vestir para sair ou cuidar da sua cara e vai dando mais
razões ao agressor para ser eventualmente mal tratada. Eu
acho que isso é o grande sinal de alerta, é a perda do contacto
com o mundo e o ter de encontrar estratégias para se tirar
desse mundo”.
Por outro lado, um outro sinal de alerta “tem a ver com essa
incapacidade de se distanciar de si própria. Quando alguém
não consegue ver o sítio onde está e as coisas que está a
viver está muito mais vulnerável e muito mais fragilizada, tem
de sair para poder olhar para si própria e para se ver. Não são
só aquelas imagens que aparecem nas campanhas com os
olhos negros ou com ferida, não! As pancadas muitas vezes
são interiores, são humilhações, é a violência verbal, é o
desrespeito pelas suas escolhas, por aquilo que ela gosta ou
quer ser, por aquilo que ela acha que está certo e é um triturar
permanente daquilo que é a pessoa, é que é a grande marca
aquela que é mais difícil de se ver, mas é aquela que a pessoa
tem de se distanciar para se
reconhecer (…) e isso é preciso
olhar, saber interpretar os sinais
de mudança no comportamento
da vítima para poder ajudar
e pegar no fio da meada e
começar a fazer com que esta
pessoa saia desse mundo e
possa verbalizar”.
Os procedimentos para pedir
ajuda às instituições vai
depender de como é que aquela
mulher se encontra naquele
preciso momento. No período
de confinamento “foram elas
próprias que minimizavam essa
violência, porque elas estavam
centradas no seu papel de mães
em apoiar, em arranjar os meios
de comunicação para que os
filhos pudessem ter a escola em
casa nas devidas condições.
Muitas destas mulheres
tiveram que cuidar de outros
familiares, nomeadamente mães
e pais dependentes e havia o
minimizar desta violência, ou
seja, “ela amanhã vai passar,
ela amanhã vai-se resolver” e
o que é que estas mulheres
fizeram? Fizeram o exercício
imenso de não se olharem para
si enquanto mulheres, mas se
olharem para si enquanto
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NODEZ20
mães, filhas, enquanto
cuidadoras, enquanto
trabalhadoras, porque neste
curto espaço de casa elas
também correspondiam ao
seu trabalho, em teletrabalho
e, portanto, houve este
minimizar”.
“E no primeiro atendimento,
nós vamos fazer com que
esta mulher perceba que tem
direitos, não tem só deveres
e que é uma pessoa como
outra qualquer e aí vamos
perceber a dimensão da
violência, vamos perceber
se ela continua a estar
segura naquele espaço
ou não e vamos delinear
um plano para esta mulher
sempre conversando com ela
chamando a atenção que ela
pode conversar com as nossas
juristas, desabafar com as
nossas psicólogas e conversar
com a nossa assistente social
e à maneira que ela nos
procura através das redes
sociais, do telemóvel, através
do telefone, um atendimento
presencial como ela quiser”.
A diretora da UMAR esclarece
que primeiro é preciso “ouvir,
ouvir e ouvir e nunca comentar
e nunca responder de maneira
a colocar dúvidas na cabeça
daquela vítima, porque ela é
que sabe da sua vida, mas
posso te acompanhar à APAV.
E
muitas vezes aquela mulher está
debilitada de maneira que vai omitir
muitos factos importantes na denúncia
e à conversa connosco vai fazendo
uma resenha histórica e vamos tentar
meter na cabeça que quando ela for
apresentar aquela denúncia tenha os
factos todos, porque são aqueles factos,
o dia, a hora, o momento como começou
que vão permitir ao Ministério Público
fazer o seu trabalho condignamente”. No
mesmo sentido, “quanto mais informação
ela tiver, mais concertada será a sua
decisão, não vale a pena num ato
irrefletido ir fazer uma queixa e depois
omitir informações, mais vale reestruturar
esta narrativa (…) e só o facto de
expor a outra pessoa ajuda a construir
este discurso e até nós organizações
podemos ajudar nesta denúncia. Se esta
vítima está de tal forma debilitada a nível
emocional e consequentemente cognitivo
isto também acontece depois a nível do
discurso, havendo alguns desfasamentos
que, às vezes, são consequências da
própria vitimização, nós podemos ajudar
depois a nível do processo-crime os
resultados são melhores e sobretudo
respeitar o timing da vítima. Às vezes
há vítimas que não estão preparadas
para tomar certos procedimentos
logo e já e nós vamos trabalhando ao
nível de psicoeducação e algumas
estão fragilizadas ao ponto de se auto
culpabilizarem pela violência e nós
tentamos sensibilizar”.
0102 NODEZ20 0103
NODEZ20
REPORTAGEM
RUI SANTOS
O CRESCIMENTO
DOS CENTROS
DE SERVIÇOS
PARTILHADOS
EM PORTUGAL
Numa talk do Jornal Económico, Tiago Henriques,
Manager da Shared Services Centres, explicou o
crescimento destes centros em Portugal. Segundo o
mesmo, os centros de serviços partilhados tiveram
origem no final da década de 80 nos Estados Unidos
da América “junto de grandes conglomerados
de empresas organizacionais que pressionados
pelo custo entendem centralizar em algumas
geografias, e às vezes só numa, as suas atividades
mais transacionais”, o principal objetivo desses
centros é wa redução de custos, “mas também a
uniformização de processos com todos os ganhos
que advêm disso”, referiu, lembrando que ao “longo
do tempo os conceitos foram evoluindo, mas na sua
origem é este o conceito”.
0104 NODEZ20
REPORTAGEM
REPORTAGEM
Em Portugal estes centros têm evoluído “de
uma forma muito positiva”, sendo que nos
últimos quatro anos “os estudos que temos
indicam que estas estruturas cresceram na casa
dos 44%. Aquilo que nos apercebemos é que
estas tarefas de carácter mais transacional,
pagamentos ou recebimentos, portanto tarefas
muito administrativas, vão progredindo para
funções que se encostam cada vez mais ao
core business das empresas”. Para Tiago
Henriques, aquilo que faz os investidores
procurarem Portugal e que os que já estão
continuem a olhar para o país “é de facto o
valor acrescentado que os portugueses são
capazes de trazer a estes centros e a estas
empresas”.
“Há uma parte dos colaboradores das
organizações que não são portugueses e o
Turismo nos últimos anos, com indicadores
menos positivos agora pelo momento que
estamos a viver, mas de facto isto fez com
que quem não estava em Portugal olhasse
para Portugal como um sítio onde podia ter
as suas famílias e podia desenvolver as suas
carreiras”, explicou, acrescentando que, para
quem investe, “olhar para o talento de Portugal
é um facto incontornável, é algo que faz no
limite decidir por Portugal”, afirmou.
Não sendo o país “mais barato do mundo,
porque os nossos recursos humanos não
são os mais baratos”, no entanto estes “são
considerados os melhores”.
O Manager da Shared Services Centres diz que, nos últimos anos,
“pela pressão do imobiliário junto, principalmente, das grandes
metrópoles são onde estes investidores tendem a querer investir
mais, pelas redes de transporte que servem as grandes metrópoles
são outro dos grandes pontos de interesse”. Entre outros aspetos
igualmente “muito importantes”, Tiago Henriques destacou
também o facto de os portugueses tenderem a dominar idiomas
“muito importantes” como o espanhol e o inglês, algo positivo para
os centros de serviços partilhados caso procurem estruturas que
atravessam fronteiras, “isto traz logo pontos consideráveis para
Portugal”, acrescendo a isso “a reputação das nossas pessoas e os
bons exemplos de quem já cá está que tende a continuar a investir,
em vez de retirar operações, como acontece em outras geografias,
a tendência de quem está em Portugal é continuar a investir em
funções que trazem muito valor às empresas”.
0106 NODEZ20 0107
NODEZ20
REPORTAGEM
Tiago Henriques diz que não há um padrão
nem perfil para os projetos procurados pelos
investidores em Portugal, e que os mesmos
“procuram é olhar para processos mais
refinados, mais alargados, imagine: passamos
de áreas que se chamavam account payable
ou receivable para purchase to pay ou order
to cash, tal e qual como os nomes indicam
são scopes muito mais alargados”. Também
existem outros exemplos como a tecnologia
“com imensos projetos a entrar em Portugal,
projetos gigantescos na área da engenharia,
nomeadamente mais a norte do país. Daí
a minha resposta não há um padrão, mas
definitivamente procuram o conhecimento
português e a capacidade de adaptação do
povo português também”, explicou.
Em relação à pandemia, essas estruturas
estão a reagir “particularmente bem, mas é
surpreendente ver como essas empresas se
organizaram tão rapidamente para conseguir
ultrapassar este momento mais difícil”,
também pelo facto de existirem determinadas
tarefas “que não têm que ser desenvolvidas
no escritório, aquelas tarefas que já estão
implementadas e já estão muito automatizadas
não carecem de trabalho em grupo”. No
entanto, Tiago Henriques confessou que
“alguns clientes reportam alguma dificuldade
principalmente naqueles projetos que exigem
conhecimentos multidisciplinares, imagine:
estamos a desenvolver uma ferramenta para
automatizar um processo e isto obriga a que as
equipas desenhem, mas depois, em conjunto,
criem as ferramentas, quem parametriza
e quem desenvolve, e é essa a grande
dificuldade, é conseguir transformar ideias em
ações e aí”, podendo ser, do seu ponto de vista,
“a área onde estas empresas estão a ter mais
dificuldades”. Contudo, “parece que continua
a haver interesse em investir em Portugal.
Existem alguns processos para 2021 e 2022”,
avançou, reforçando a ideia de que “quem cá
está continua a olhar para Portugal como um
país onde pode continuar a introduzir tarefas e
muitas vezes a retirá-las dos seus headquarters
o que são ótimas notícias para Portugal”.
0109
NODEZ20
ESTUDO
ESTUDO
MÁ VISÃO
DUPLICA A PROBABILIDADE DE
SOFRER DE DEPRESSÃO
PORTUGUESES
PREFEREM
COMPRAR
ONLINE
A associação de má visão com uma
maior probabilidade de sofrer de
depressão é um dos resultados de
um estudo recentemente publicado
em que se avaliaram dificuldades
de visão reportadas pelos próprios
indivíduos em 30 países europeus,
incluindo Portugal. Este estudo foi
realizado com o apoio do programa
de investigação Eurovisão da União
Europeia Horizonte 2020 e foi
publicado na Acta Ophthalmologica,
com a autoria de vários investigadores
internacionais de optometria e
oftalmologia.
A má visão contribui para impedir o
desenvolvimento de todo o potencial
das crianças, para a limitação de
produtividade nos adultos e perda de
autonomia na terceira idade. Também
conduz ao isolamento, à sensação
de insegurança e impotência e à
degradação da autoconfiança. Como
tal, contribui para os comportamentos
depressivos de uma forma muito
marcada.
Estes resultados enfatizam a
necessidade de uma abordagem
abrangente, de resposta eficaz
integrada, na comunidade e de
proximidade. Os cuidados para
a saúde da visão são os cuidados
de especialidade mais frequentes
nos seres humanos e devem ser
assegurados desde o nascimento e ao
longo de toda a extensão da vida.
Cerca de 5 milhões de portugueses
sofrem de erro refrativo, e ainda
assim, o Estado Português ainda
não implementou as recomendações
da Organização Mundial de Saúde
sobre a integração e planeamento da
força de trabalho dos cuidados para
a saúde da visão desde os cuidados
primários aos cuidados hospitalares e
de reabilitação. Estas recomendações
foram recentemente reforçadas pela
OMS para o rastreio da retinopatia
diabética no dia 14 de Novembro,
onde mais uma vez se reforça o papel
fundamental que os Optometristas
devem desempenhar na prestação
de cuidados primários para a saúde
da visão. Até lá, cada vez mais
portuguesas e portugueses irão ver
pior o seu presente e futuro.
Em 2020, 30% dos portugueses
admite fazer as suas compras de Natal
exclusivamente online (6,1% em
2019). A conclusão é de um estudo
realizado pelo Instituto Português de
Administração de Marketing (IPAM)
sobre os hábitos dos portugueses face
às compras de Natal que, este ano,
aponta para alterações acentuadas no
comportamento do consumidor.
Ainda assim, os portugueses preveem
gastar, em média, 374 euros nas
compras de Natal, um valor não
muito diferente quando comparado
com os 385 euros de 2019.
“Quando analisada a variação dos
valores gastos ao longo dos anos em
compras de Natal, verifica-se uma
oscilação significativa. Em 2009,
os portugueses previam gastar 490
euros, mas 11 anos depois, este valor
diminuiu consideravelmente, fruto da
conjuntura socioeconómica”, afirma
Mafalda Ferreira, docente do IPAM
e coordenadora deste estudo. “Como
resultado da pandemia e provável
crise económica dos próximos
tempos, estes resultados não surgem
como estranhos, nomeadamente,
no caso do aumento acentuado das
compras exclusivamente online. Os
portugueses estão com sentimentos
negativos face ao consumo, que se
acentuaram nesta época natalícia, e
estes valores são um reflexo disso”,
acrescenta a responsável.
Para compreender a situação
financeira das famílias, o IPAM
procurou também saber se os
portugueses iriam receber subsídio
de Natal e concluiu que 28% dos
inquiridos não o receberá nesta
altura, o que terá um impacto
negativo no comportamento face
ao consumo nesta quadra. Dos que
recebem subsídio de Natal, 15,6%
prevê despender entre 51% a 75%
desta quantia extra em compras; 5,8%
0110 NODEZ20 0111
NODEZ20
ESTUDO
vai gastar a totalidade do subsídio;
enquanto 8% pretende poupar este
valor.
Procurando analisar a situação
de 2020 relativamente ao quadro
do ano anterior, foi solicitado aos
inquiridos que comparassem o valor
que preveem gastar este ano, com o
valor gasto em 2019, sendo que 17%
refere que em 2020 irá gastar um valor
inferior ao de 2019. De destacar que
75% dos inquiridos responde que irá
gastar o mesmo que no ano anterior, o
que remete, apesar de tudo, para uma
estabilidade no comportamento do
consumidor em 2020. Os inquiridos
que vão gastar um valor inferior
referem que irão efetuar cortes nas
compras para amigos e familiares.
Quanto aos destinatários dos
presentes de Natal, as crianças são
privilegiadas nos agregados familiares
com filhos (55% dos inquiridos),
em 100% dos casos analisados neste
estudo. De referir ainda que, em 75%
dos casos, é mencionada a intenção de
compra de presentes para o cônjuge e,
em 62%, para os pais, irmãos e outros
familiares. Apenas 30% dos inquiridos
refere a intenção de comprar prendas
para amigos.
Relativamente aos produtos a
comprar, para as crianças até aos
12 anos as prendas preferidas serão
brinquedos (48%), seguidas de roupas
e sapatos (20%) e livros (8%). Para os
adolescentes (entre os 12 e os 18 anos)
as escolhas recaem na roupa/sapatos
(32,1%), jogos eletrónicos (16%)
e acessórios (8%). Para os adultos,
a opção mais escolhida para os
presentes de natal são roupa/sapatos
(30%), seguida de acessórios (21%) e
livros (16%).
Quanto ao local para a realização de
compras, o número de inquiridos que
opta pelos centros comerciais (20%)
é superior ao de quem escolhe os
centros comerciais e comércio de rua
(10%), sendo que a pandemia trouxe
uma alteração profunda dos locais
de compra, com 30% dos inquiridos
a afirmar que fará exclusivamente
compras online.
O estudo do IPAM verificou ainda
que 63% dos inquiridos efetua as suas
compras durante o mês de dezembro
e que, quem compra antecipadamente,
fá-lo para evitar a concentração
de pessoas e garantir a entrega dos
produtos comprados online.
Este estudo do IPAM que caracteriza
o comportamento dos consumidores
face às compras de Natal é realizado
pelo 12.º ano consecutivo, o que
possibilita uma análise detalhada das
principais alterações nos hábitos de
consumo. Num ano atípico como
2020, de acordo com esta análise, a
perceção da população portuguesa
sobre o Natal é, sobretudo, negativa,
não sendo de admirar que a situação
pandémica tenha impactado os
hábitos de consumo, dando origem
aos resultados mais distintos dos
últimos 10 anos.
0112 NODEZ20 0113
NODEZ20
ESTUDO
CÉLULAS MESENQUIMAIS DO
TECIDO DO CORDÃO UMBILICAL
DEMONSTRAM BENEFÍCIOS
NO TRATAMENTO DA ARTRITE
REUMATOIDE
De acordo com investigações
recentes sobre o efeito das células
mesenquimais derivadas do cordão
umbilical no tratamento da artrite
reumatoide, pode concluir-se que
existe um potencial terapêutico
destas células, nomeadamente antiinflamatório.
A redução da inflamação
ocorre devido a uma capacidade
imunomodelatória/imunossupressora
das células mesenquimais.
A artrite reumatoide está clinicamente
definida como uma doença crónica,
inflamatória e autoimune que se
caracteriza pela inflamação das
articulações e que pode conduzir
à destruição do tecido articular
e periarticular. O conhecimento
adquirido por vários cientistas a nível
mundial sobre o potencial terapêutico
das células estaminais, tem levado
ao aparecimento de vários ensaios
clínicos recentes sobre esta temática.
Em 2018, investigadores do
departamento de reumatologia de
vários hospitais de Seoul em conjunto
com os institutos de medicina
regenerativa e centros de investigação
da Coreia do Sul avaliaram 11 doentes
com artrite reumatoide. Destes, 78%
são mulheres com uma idade média
de 57 anos e com uma duração média
da doença de 9 anos e meio. Após 24h
da infusão das células mesenquimais
provenientes do cordão umbilical,
observou-se diminuição significativa
de várias citocinas pro-inflamatórias
(IL-1β, IL-6, IL-8, e TNF-α). Tal
facto comprova a capacidade
imunomodulatória destas células.
Este estudo abriu a possibilidade de
explorar o tratamento e a melhoria de
doenças imunomediadas, incluindo
doenças autoimunes, como a artrite
reumatoide .
Mais recentemente, em 2019, foi
realizado outro ensaio clínico com
o propósito de estudar o efeito da
infusão das células mesenquimais
provenientes do cordão umbilical
nesta patologia com um período de
seguimento mais alargado (3 anos).
Sessenta e quatro doentes (87%
mulheres) com idades compreendidas
entre 18-64 anos foram submetidos
a uma infusão intravenosa com
células mesenquimais do tecido
do cordão umbilical. Após o
primeiro e terceiro ano da infusão,
os doentes foram avaliados em três
categorias: Marcadores inflamatórios
sistémicos, Segurança e Eficácia.
Após três anos, os marcadores
inflamatórios sistémicos reduziram
significativamente, realçando a
capacidade destas células diminuírem
o ambiente inflamatório evidenciando
a eficácia do uso destas células como
terapia 2 .
Para além disso, as células
mesenquimais do tecido do cordão
umbilical apresentam uma capacidade
de proliferação e diferenciação
únicas, assim como a aptidão de,
depois de estarem na corrente
sanguínea, se dirigirem para o
local inflamado exercendo os seus
efeitos benéficos (homing). Esta
capacidade de “homing”, associada
à vantagem de terem propriedades
hipoimunogénicas, ou seja, de não
reagirem à infusão de células como
0114 NODEZ20 0115
NODEZ20
ESTUDO
com 68 anos que foi diagnosticado
com artrite reumatoide desde os seus
53 anos de idade. Na figura C e D
está, respetivamente, representado
o antes e um ano depois da infusão
com células mesenquimais do tecido
do cordão umbilical numa doente
com 33 anos com artrite reumatoide
desde os seus 29 anos de idade com
queixas de muitas dores. Como se
pode observar em ambas as situações,
os doentes não conseguem esticar
os dedos devido à inflamação
existente nas junções articulares.
No entanto, após o tratamento
existe uma melhoria substancial
permitindo um maior movimento
dos membros, sublinhando a eficácia
desta terapêutica. Para além disso,
os efeitos terapêuticos das células
mesenquimais mantêm-se durante o
período de acompanhamento, sempre
com resultados clínicos estáveis,
melhorando de forma substancial a
qualidade de vida dos doentes com
artrite reumatoide 2 .
um agente estranho que possa
despoletar resposta imunológica,
permitem realizar tratamentos
com células do próprio indivíduo
(autólogos) ou de outros indivíduos
(alogénicos), possibilitando a
utilização destas células como um alvo
terapêutico muito eficaz e seguro.
Um e três anos após o tratamento,
todos os valores das análises
sanguíneas de rotina mantiveram-se
sem alterações comparativamente
com a fase anterior ao tratamento.
As funções hepática e renal
também não sofreram alterações,
demonstrando que o tratamento
com células mesenquimais do tecido
do cordão umbilical é seguro. O
cálculo do desenvolvimento da artrite
reumatoide (score DAS28) diminuiu
significativamente um ano depois do
tratamento, continuando a diminuir
até ao terceiro ano. O mesmo
resultado foi observado na avaliação
da capacidade funcional dos doentes
(Health Assessment Questionnaire).
Este questionário avalia de 0 a 3 as
capacidades quotidianas do indivíduo,
desde conseguir vestir-se até abrir
torneiras, frascos, subir escadas, entre
outros .
A eficácia deste tratamento é real
e pode ser também observada
naturalmente por qualquer pessoa.
Na figura ilustrada em baixo estão
retratadas as mãos de um paciente
antes (figura A) e após três anos do
tratamento com células mesenquimais
derivadas do tecido cordão umbilical
(figura B). Trata-se de um paciente
Figura retirada do artigo Wang L,et al. (2019) Drug
design, Development and Therapy 2
De forma a estudar e desenvolver
um tratamento mais potente contra
a artrite reumatoide, a utilização das
células mesenquimais do cordão
umbilical também tem surgido em
combinação com outras terapias. Este
ano, um outro ensaio clínico realizado
com 63 doentes, demonstrou que a
aplicação das células mesenquimais
do cordão umbilical com interferão-γ
aumenta significativamente a taxa de
resposta em 93,3% (American College
of Rheumatology 20 response rates)
ao terceiro mês de acompanhamento.
Ou seja, considerando a resposta à
doença, a terapia combinada com
as células mesenquimais do cordão
umbilical leva a uma melhoria
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NODEZ20
ESTUDO
PUB
substancial dos doentes com artrite
reumatoide quando comparada com
uma terapia sem o uso das células
mesenquimais. Assim, estes autores
sugeriram esta terapia combinada
como uma nova estratégia clínica para
o tratamento da artrite reumatoide
dado que se observou uma sinergia na
eficácia do tratamento sem quaisquer
efeitos colaterais durante um período
observacional de 1 ano .
Andreia Gomes, responsável
pela Unidade de Investigação &
Desenvolvimento da BebéVida,
afirma “É necessário salientar que
em todos estes estudos e os critérios
de segurança destas infusões
durante e após o tratamento foram
continuamente avaliados, concluindo
que esta terapêutica é segura e não é
tóxica, uma vez que todos os sinais
vitais e clinicamente relevantes se
mantiveram estáveis”.
“A eficácia de um tratamento é
um fator determinante para a cura
de certas doenças, como a artrite
reumatoide, bem como o aumento
da qualidade de vida dos doentes. No
entanto, a avaliação da segurança da
aplicação destas células é a principal
prioridade”, reforça Andreia Gomes.
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ESTUDO
Questões culturais e socioeconómicas impedem
igualdade de género no acesso a cuidados e prevenção
da deficiência visual e/ou cegueira evitável
A prevalência de deficiência visual
e cegueira é superior nas mulheres
do que nos homens. Esta diferença
acentua-se com a idade e na sua
maioria não é devido a fatores
intrínsecos das causas, mas sim a
fatores culturais e socioeconómicos.
Esta é uma das conclusões que se
retira dos estudos recentemente
publicados na The Lancet Global
Health pelo grupo internacional
de peritos sobre a perda de visão,
Vision Loss Expert Group (VLEG)
e do Instituto de Avaliação e
Métricas em Saúde da Universidade
de Washington, que conta com
dois investigadores Optometristas
portugueses, sobre o peso global das
causas e prevalência da deficiência
visual. Os estudos, Causes of
blindness and vision impairment in
2020 and trends over 30 years, and
prevalence of avoidable blindness in
relation to VISION 2020: the Right
to Sight: an analysis for the Global
Burden of Disease Study; e Trends in
prevalence of blindness and distance
and near vision impairment over
30 years: an analysis for the Global
Burden of Disease Study analisam
com uma profundidade, dimensão e
detalhe nunca antes atingido, o peso
e relevância das diferentes causas
de deficiência visual e cegueira no
mundo, incluindo Portugal.
As limitações no acesso a cuidados
para a saúde da visão e as
dificuldades económicas de acesso
aos tratamentos, inclusive óculos e/
ou lentes de contacto, representam
um estrangulamento no orçamento
individual e familiar no momento
de decidir e procurar soluções
para as dificuldades de visão. Por
diferentes contextos culturais e
socioeconómicos, é menos provável
as meninas/mulheres verem a sua
deficiência visual avaliada e tratada,
resultando numa maior prevalência
de deficiência visual e/ou cegueira
evitável em todas as causas no
sexo feminino, com exceção do
glaucoma. Esta deficiência visual e/
ou cegueira resulta na limitação de
desenvolvimento de todo o potencial
das meninas e na perda de autonomia
e capacidade produtiva das mulheres,
traduzindo-se em consequências
fundamentais na sua independência e
autonomia. Este desequilíbrio é ainda
mais evidente com o aumento da
idade.
Vera Carneiro e Raúl Alberto de
Sousa, Optometristas e Colaboradores
do IHME/Global Burden Disease
enfatizam a importância da boa visão
na promoção da igualdade de género,
no desenvolvimento individual e
da sociedade. Assegurar boa visão
é assegurar o acesso à igualdade de
oportunidades.
É esta uma das mais valias da
implementação das recomendações
da Organização Mundial de Saúde
sobre a integração e planeamento da
força de trabalho dos cuidados para
a saúde da visão, desde os cuidados
primários aos cuidados hospitalares e
de reabilitação. Cerca de 5 milhões de
portugueses sofrem de erro refrativo,
a maior causa de deficiência visual
evitável.
As/os Optometristas são as/os
especialistas com formação mais
aprofundada e detalhada para
diagnosticar e tratar o erro refrativo.
Desempenham um papel fundamental
na prestação de cuidados primários
para a saúde da visão de acordo com
as recomendações da Organização
Mundial de Saúde, com as quais o
Estado Português se comprometeu
e ainda estão por implementar.
Até lá, cada vez mais portuguesas
e portugueses irão ver pior o seu
presente e futuro.
Os artigos completos podem ser
consultados na Lancet Global Health
(https://www.thelancet.com/journals/
langlo/home).
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NODEZ20
CRÓNICA
CRÓNICA
Enfermeira Filipa
Durante umas semanas vivi, pelo
menos, duas experiências que não
esquecerei. A primeira ser uma jovem
infetada com COVID-19, experiência
que, segundo os dados que são
divulgados diariamente pela Direção
Regional de Saúde (DRS), partilho
com milhares de pessoas. A segunda o
meu contato com o Serviço Regional
de Saúde do lado de quem o utiliza.
Tenho que ressalvar que esta foi,
e ainda é, a minha experiência. E
não querendo generalizar o que
vivi, no fundo, tenho imaginado
que se o fizesse, e aplicando toda a
minha experiência a todas as pessoas
infetadas na Região Autónoma dos
COVID19
#Ficaremcasa
Açores, o caso não seria apenas
alarmante mas gravíssimo. Bom, no
mínimo, revestido de imprecisões e
confusão.
Sou enfermeira, tenho 35 anos. Sou
continental mas resido na ilha de
São Miguel há 15 anos. Não tenho
antecedentes de saúde, não sou
fumadora e, devido à minha atividade
profissional, mantive e mantenho-me
informada sobre as atualizações das
informações relativas à pandemia.
Escrevo este artigo como cidadã e não
como enfermeira, embora as duas
sejam absolutamente indissociáveis.
Sem saber bem por onde começar,
vou fazê-lo relembrando o dia D
(do diagnóstico). Quando recebi o
telefonema da Delegação de Saúde de
Ponta Delgada, custou-me a acreditar
nas palavras que estava a ouvir. Se eu
não tinha sintomas, não sentia nada
de diferente como poderia eu ter
contraído o vírus SARS-CoV-2?
Não esperem “pontadas” ao respirar
ou, mesmo, falta de ar. Se estão em
casa também não esperem ficar
especialmente cansados. Na minha
experiência tal não aconteceu. Não
sei, até hoje, onde contraí o novo
coronavírus. Provavelmente nunca
irei saber.
Bem, voltando ao dia D, foi neste
dia que começou uma das maiores
aventuras da minha vida, daquelas
que deixam lições e marcas que são
difíceis de apagar. Aqui começou o
meu confronto com a realidade que
nos falam nos órgãos de comunicação
social.
Diagnóstico estabelecido, era hora
de me isolar no domicílio do meu
namorado (com quem tinha estado
sem restrições até aquela hora).
Dúvidas eram muitas, incertezas
cada vez mais e algum receio do que
estaria para vir, devo confessar. Sem
direito a grandes questões durante
o telefonema, foi-me dito que a
equipa da Delegação de Saúde de
Ponta Delgada estaria ao meu dispor
para tornar a experiência menos
penosa. A informação era curta e
clara: 14 dias isolamento, com direito
a efetuar o primeiro “teste de cura”
no final dos mesmos, sendo que só
seria considerada recuperada com
dois testes negativos com intervalo
de 24 a 48 horas entre cada um. O
meu coabitante, como sempre foi
“amavelmente” tratado, ficaria em
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CRÓNICA
isolamento profilático durante o
mesmo tempo e só seria “libertado”
após os meus dois testes negativos.
O que se seguiu foram dias de
contatos diários pelos elementos da
linha de vigilância ativa, exceto ao
domingo porque o vírus também
é filho de Deus. Fui contatada nos
dias preconizados sem exceção.
As vozes que me contatavam do
outro lado eram sempre simpáticas
e afáveis. Mas era só isso. Todas as
dúvidas teriam de ser colocadas
via e-mail. A equipa de médicos da
Delegação de Saúde responderia
quando tivesse disponibilidade.
Portanto, a história de que estariam
ao dispor para qualquer dúvida era
daquelas bonitas de livro mas que na
realidade não acontecem. Informações
contraditórias dos diferentes
elementos da equipa, contatos
recorrentes para marcação de testes
que já tinham sido efetuados e falhas
na comunicação foram constantes.
Como não tinha essa informação
registada? Não há comunicação?
Pedi a mim mesma muitas vezes que
me acalmasse. A verdade é que não
havia muito que pudesse fazer. A
culpa também não seria da senhora
do outro lado do telefone. Mas com
certeza também não seria minha.
Seria de quem?
Eu aí percebi muitas coisas. A
desorganização de um sistema que
eu achava ser organizado e rigoroso.
Percebi o caos do Serviço Regional
de Saúde. Um caos diferente do da
televisão.
É grave a evidente falta de
compromisso com o doente, que
está em casa à espera das chamadas
prometidas e do acompanhamento
que merece. Eu tive muita sorte com
os sintomas, mas e quem não teve?
Então, porque me disseram que
existia um sistema organizado? Não
percebo e preocupo-me. Não me
preocupo apenas com esta situação
em concreto, preocupo-me com tudo
o que eu vi falhar até aqui, e que
acumulado é triste de se ver.
Cada caso é um caso e o meu é
diferente. Não tenho sintomas graves,
nem legítimos. Será que faço parte
daqueles números oficiais da DRS?
Li religiosamente os comunicados
emitidos diariamente pela entidade
supra mencionada: em nenhum deles
constavam dados que coincidissem
com o meu caso. De certeza que sim,
eles é que estão na linha da frente,
tal como eu estou, desta pandemia,
só temos que confiar... Senão íamos
confiar em quem?
Os dias passaram. A rotina é óbvia.
O tempo sobra. Organizei os quartos,
a casa e as ideias. Apanhei sol, fiz
exercício físico, reforcei o sistema
imunitário. A uma certa altura do
meu isolamento acho que venderia a
alma ao diabo por um teste negativo
se isso fosse garantia de liberdade.
Teria eu cometido um crime ao
contrair SARS-CoV-2? Mentalmente
ouvi muitas vezes a frase dos filmes:
“Tem o direito de permanecer
calada e tudo o que disser pode ser
usado contra si.” Estava em prisão
domiciliária, com direito a receber
um telefonema por dia. Senti uma
sensação de total abandono pela
DRS. E eu que estou ao serviço do
Serviço Regional de Saúde, sem nunca
lhe falhar, há onze anos. A palavra
ingratidão inundou-me o pensamento
muitas vezes.
Enquanto isso, a ciência, o mundo e a
vida, aconteciam fora daquelas quatro
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NODEZ20
CRÓNICA
PUB
paredes.
Vi, já em casa, os critérios de cura
serem alterados em todo o mundo,
em Portugal Continental e na Região
Autónoma da Madeira… Exceto
nos Açores. Seria o clima da nossa
Região Autónoma tão diferente que
o vírus se comportaria de forma
diferente também? Ironia à parte,
estávamos atrasados e desatualizados
sobre os avanços da ciência mundial.
Consultei, porque tempo não me
faltou, toda a literatura atualizada
sobre a pandemia. As regras foram
atualizadas pela DGS dia 14 de
Outubro, na nossa Região foi
atualizada dia 12 de Novembro. Um
mês depois. Sem justificação. Tudo
isto foi, no mínimo e sem querer ferir
suscetibilidades, despropositado e
revestido de incompetência.
Se existe rigor para encerrar
estabelecimentos, Escolas e para
impor cercas a concelhos, também
nós devemos exigir rigor nos
processos e planos de combate ao
vírus, bem como no empenho e
organização de toda a comunidade
médica. Aproveitando a deixa, o
aconselhamento e atendimento
médico deixou muito a desejar.
A tão apregoada empatia, o tão
exaltado rigor científicos nunca
existiram por parte do médico que
me contatou duas vezes. Atrevo-me
a dizer, correndo os devidos riscos,
que foi frio, incompreensivo e com
desconhecimento de todos os avanços
e atualizações relativas a pandemia.
Acima de qualquer decisão, sempre
deve haver o entendimento de que o
tempo de cada um é diferente. Com a
saúde não se brinca.
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NODEZ20
CRÓNICA
CRÓNICA
Por Ricardo Silva
Benjamin Ferencz, Palavras que Tocam a Alma,
As extraordinárias lições de vida do último
procurador dos Julgamentos de Nuremberga,
Lua de Papel, 2020.
Terá sido, sem dúvida, uma entrevista publicada
na revista Visão, já neste Outono findo, que
me chamou a atenção para este homem e o seu
pensamento. Portador de uma história de vida
notável pela sua mensagem que sempre quis
transmitir ao mundo, Benjamin Ferencz não é,
contudo, um homem qualquer nem vulgar. Tem
uma marca profunda no Direito Internacional
e na Cultura da Lei Internacional como
imperativo da resolução das dissensões entre os
homens. Rejeitou sempre a pulsão da guerra, o
rufar dos tambores, as marchas pela glória sobre
o outro e o erguer de bandeiras sobre as cinzas,
invocando a regra, o acordo e o tratado como
primado da legalidade e de uma construção
societária diferente. É um exemplo neste
caminho que trilhou a partir da sua história
pessoal e da II Guerra Mundial onde teve um
papel de relevo, contra todas as previsões. O
caminho que trilhou, cheio de dificuldades,
adversidades de diversa ordem, mas onde como
ele diz os “milagres” foram acontecendo em
nome da Humanidade.
Em inglês “Parting Words”, foi publicado em
Portugal, em setembro de 2020, num
título comercial, quase evangélico,
dando a ideia que estamos perante um
livro de autoajuda de cariz espiritual.
Sendo um resumo de uma série de
conversas entre este e a jornalista
Nadia Khomami, do The Guardian,
é convertido em nove lições de vida
de quem tem autoridade para o fazer.
Depois de um artigo bem sucedido
no seu jornal, conseguiu converter
em livro as longas conversas com a
personalidade fascinante de Ferencz,
um seu novo amigo, depois de ter
levado algum tempo para o convencer
neste sentido.
Numa escrita muito acessível,
dialogante, de citação constante na
voz passiva e de quando em vez na
ativa, somos levados à experiência
centenária deste advogado ao serviço
de causas humanitárias. Fala-se
da importância do sonho na vida
de cada um e de sabermos ir atrás
dos nossos, sem querermos imitar
ninguém; não são precisos grandes
sonhos, megalómanos ou absurdos
até, mas mesmo aqueles simples e
ao nosso alcance terão de ter sempre
a dedicação e a crença no objetivo
que prosseguimos. Num segundo
momento aborda a importância
da educação como oportunidade
transformadora da vida. Aproveitar
constantemente os momentos onde
a aprendizagem se pode cultivar
seja pela leitura, filmes, passeios,
viagens ou pela música, todas estas
são atividades que se justapõem
à parte mais académica e formal,
indispensável ao crescimento de cada
um. Ter o sentido da descoberta,
mas também desprovermo-nos da
comparação imobilizadora com os
outros na medida que os seus sucessos
não nos podem retirar o prazer dos
nossos. A boa educação conduz-nos à
sensibilidade de encontrar alegria em
cada dia nas variantes mais simples,
porque sendo ela uma emoção temos
de a procurar para poder sentila.
O livro prossegue com o relato
interessante de várias experiências da
vida de tão eminente narrador, onde
se encontra inspiração e aprendizagem
em cada uma. O
0128 NODEZ20 0129
NODEZ20
ter iniciativa própria e encontrar no
medo um meio de ponderação não é
negativo, mas não pode ser inibidor
do que se pretende fazer ou atingir;
entender que na vida o caminho não é
uma reta e que tem as suas – por vezes
grandes – adversidades, procurando
na persistência e na luta a força para
a superação dos obstáculos; a opção
clara por fazer o Bem, como valor
supremo da Humanidade, encontrou
nele, como judeu, uma força para
combater o sentimento de vingança
nos julgamentos de Nuremberga,
onde foi, aos 27 anos, procurador
público como defensor dos Direitos
Humanos altamente atingidos pelo
regime nazi. Na declaração de abertura
do julgamento disse isso mesmo. “A
vingança não é o nosso objetivo”,
consciente que não queria transformarse
naquilo que combatia e odiava, e que
o nazismo levou a situações extremas
de paranoia em termos daquilo que
conhecemos do Holocausto.
Este pequeno, mas grande homem
viria a ser um dos grandes fundadores
do Tribunal Internacional de Haia
contra os crimes da humanidade,
infelizmente ainda não reconhecido
por muitos países; liderou esforços
para indemnizações justas da
Alemanha Ocidental a Israel; recebeu
inúmeros prémios e condecorações,
entre eles a Medalha da Liberdade
(em 2014), tendo-a recebido no ano
anterior Nelson Mandela, para se ter a
dimensão da distinção. Recebeu cinco
condecorações de guerra do Pentágono
devido ao seu desempenho e empenho,
sobretudo, pela responsabilidade
histórica, de formular uma acusação
consistente contra os horrores do
nazismo em Nuremberga.
Fazer isto quando se é jovem só pode
abrir um prenúncio positivo sobre
a dimensão humana de alguém que
foi aprofundando o pensamento em
volta da Justiça como valor da criação
humana e como meio de regulação do
bom convívio entre os homens.
De fácil leitura, o livro é a tradução
sintética de uma vida, já centenária,
que arranjou sempre em torno de si as
forças de superação das dificuldades.
Aconselho a leitura àqueles que gostam
de recolher experiências fundadas
na vida dos seus semelhantes, para
poderem aprofundar o sentido da Alma
humana. Verão que sentirão o toque
das suas palavras.
Pode ser o primeiro desafio de 2021,
acreditando na vinda de um tempo
diferente e melhor para todos nós!
A leitura vale a pena!
JOÃO F. CASTRO
PROFESSOR MESTRADO EM GESTÃO PORTUÁRIA
joaocastro@sapo.pt
Passaram 5 anos desde que, em 2015,
a Organização das Nações Unidas
(ONU), na cimeira de Paris, definiu
a agenda 2030, com 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável,
enquanto visão comum para a
Humanidade na gestão do planeta.
Um esforço coletivo, de 195 países,
para conter a subida da temperatura
da Terra em 1,5ºC. Quando falamos
de Oceanos, destaca-se a inclusão
do ODS nº 14: proteger a vida
marinha, que propõe uma utilização
sustentável dos mares e recursos
marinhos, nomeadamente: proteger
10% das águas marinhas através de
áreas protegidas ou outras medidas
de conservação eficazes; acabar com
a sobrepesca e a pesca ilegal, não
reportada e não regulamentada e as
práticas de pesca destrutivas; proibir
certas formas de subsídios à pesca;
Política Comum de
Pescas - um desafio!
proporcionar o acesso dos pescadores
artesanais de pequena escala aos
recursos marinhos e aos mercados.
A União Europeia (UE) tem
manifestado intenção de promover
uma utilização sustentável dos
oceanos e proteger os ecossistemas
marinhos, num reconhecimento
da sua importância económica
(representando cerca de 500 milhões
de euros de VAB e 6,1 milhões de
empregos), social (visto que 22 EM
têm faixa costeira e grande parte
da população beneficia de serviços
marítimos e de lazer) e ambiental
(enquanto sistema de controlo do
clima e regulador das concentrações
de CO2, à escala global). Os
diferentes Estados-Membros
(EM) têm subscrito vários acordos
internacionais para a proteção de
espécies e habitats
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NODEZ20
CRÓNICA
CRÓNICA
marinhos onde se incluem as
convenções: sobre o Direito do Mar;
a Diversidade Biológica; as Espécies
Migradoras pertencentes à Fauna
Selvagem (Convenção de Bona); e
a Conservação da Vida Selvagem
e dos Habitats Naturais da Europa
(Convenção de Berna).
O Tratado sobre o Funcionamento
da União Europeia (TFUE)
considera que a UE integra nas suas
políticas a proteção do ambiente
e o desenvolvimento sustentável
(TFUE, artigos 7º e 11º), exercendo
competência exclusiva em matéria de
conservação dos recursos biológicos
do mar (TFUE, artigo 3º), no âmbito
da Política Comum das Pescas
(PCP), bem como de partilha de
competências e responsabilidade pelas
políticas ambientais, em diretivas
como: a Diretiva-Quadro Estratégia
Marinha (DQEM - 2008/56/CE - JO
L 164 de 25.6.2008); e as Diretivas
Aves (Diretiva 2009/147/CE - JO L
20 de 26.1.2010) e Habitats (Diretiva
92/43/CEE).
marinhos.
As pescas da UE são reguladas pela
Política Comum das Pescas (PCP -
Regulamento (UE) nº 1380/2013 - JO
L 354 de 28.12.2013) com o objetivo
da sustentabilidade ambiental,
reduzindo os impactos negativos no
ecossistema marinho (PCP, artigo
2º). Tinha como objetivo assegurar
que, até 2020, a taxa de pesca não
excederia o "rendimento máximo
sustentável" (PCP, artigo 2º, nº 1 e 2),
garantindo a existência de unidades
populacionais de peixes produtivos
nos ecossistemas marinhos.
Os relatórios apontam para uma
degradação geral do ambiente
marinho, contudo, os mares da
macaronésia parecem apresentar
um estado favorável, relativamente
à sua biodiversidade, sobretudo em
comparação com a situação do mar
Mediterrâneo, mar Céltico ou mar
do Norte. Para as pescas dos Açores
este pode ser um contexto favorável,
sobretudo quando consideramos a
sua seletividade, sem a utilização de
arrastões (proibidos nos Açores), que
provocam danos físicos no fundo
marinho, sobrepesca nos recursos
demersais e elevado volume de
capturas acessórias.
Este é um contexto que poderá
merecer afinamento na abordagem da
próxima Política Comum de Pescas,
quando Portugal prepara, a partir
de 1 janeiro de 2021, o exercício da
presidência do conselho da União
Europeia.
Bom Ano 2021
Fonte: TCE, com base no documento técnico Delineation of the MSFD Article 4 marine regions and subregions
Em 2020, a Agência Europeia do
Ambiente (AEA - Relatório nº
17/2019) comunicou que a perda de
biodiversidade marinha nos mares
da Europa não tinha sido travada,
existindo uma elevada proporção de
avaliações das espécies e dos habitats
marinhos que revelavam um estado
de conservação desfavorável ou
desconhecido. Indica a pesca como
uma das principais pressões sobre
o ambiente marinho, nos mares da
Europa, face à extração de recursos
e aos danos que provoca nos fundos
0132 NODEZ20 0133
NODEZ20
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Paulo Filipe Silva Borges
Licenciado em Geologia
Mestre em Geociências,
ramo do Ambiente e
Ordenamento
A importância dos poços
no abastecimento de
água às populações
na Graciosa
De meados até finais do século XIX, assistiu-se nas ilhas
do arquipélago dos Açores a um forte investimento
público em infraestruturas. Deste investimento são
exemplos a construção de pontes, infraestruturas
portuárias, repavimento de estradas e criação de
espaços de lazer comunitários, os então chamados
Passeios Públicos. Mas, provavelmente os vestígios mais
notórios atualmente desse investimento público serão os
chafarizes, fontanários públicos e arquinhas, construídos
ou renovados a partir da década de 50 do século XX.
Procurando a Administração Pública da época dar
resposta à necessidade de fornecer água em proximidade
das populações, que anteriormente teriam de se deslocar
a grandes distâncias para obter água, e em conjugação
com as cisternas e poços privados assegurou, à época,
uma melhora qualitativa das condições de vida das
populações. Estes chafarizes, tal como algumas outras
infraestruturas da época, são muitas vezes identificáveis
pela cartela em pedra com a inscrição em relevo “O.P.”,
Obras Públicas, seguida da data de construção.
A utilização destes equipamentos de fornecimento de
água verificou-se até meados do século XX, nos centros
urbanos Açoreanos, quando se criou a rede de água
canalizada doméstica. Nos povoados rurais, a utilização
de chafarizes e cisternas continuou até, pelo menos,
à década de 90 do século XX, e, nos povoados mais
remotos até ao século XXI. Atualmente, a maioria dos
chafarizes das Obras Públicas do século XIX encontramse
desativados, estando os poucos que ainda têm água
como elemento decorativo das
povoações ou servindo de bebedouro
para os gados (Borges, 2020)
Os poços são construções tubulares
verticais de pouca profundidade e
de grande diâmetro. Estas estruturas
perfuram o nível não saturado de
água, atingindo o nível freático,
possibilitando a captação de água
subterrânea.
Foram identificados 17 Furos,
23 nascentes e seis poços na ilha
Graciosa, sendo cinco destes poços
localizados na Plataforma NW, e
um poço de maré junto à costa E da
No Arquipélago dos Açores existem
dois tipos de poços, os poços
que captam águas de aquíferos
suspensos e os que captam águas de
aquíferos basais, sendo estes últimos
denominados de “poços de maré”.
Estes poços, do tipo de “poço de
maré”, têm oscilações do nível freático
por influências da ação das marés.
ilha. Dos cinco poços inventariados
na Plataforma NW, dois foram
soterrados, restando poucos vestígios
locais (Borges, 2019).
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Os poços localizados na Plataforma
NW apresentam características muito
semelhantes, sendo construídos
com materiais da mesma tipologia
(rochas basálticas), mas com graus
de conservação diferentes. Não há
afloramentos que possibilitem a
caracterização geológica no local,
sendo identificadas apenas as rochas
basálticas (s.l.) com elevada alteração
superficial, no entanto, destaca-se a
caracterização dos solos da plataforma
com uma qualidade excecional.
Em profundidade existe grande
complexidade estratigráfica dos
materiais entre basaltos e piroclastos.
paleossolo que, dada a sua extensão
e baixa permeabilidade, constitui um
importante elemento na hidrogeologia
da ilha. Este paleossolo possivelmente
é o elemento crucial para a existência
destes poços e da água que nele
aparece. Esta estrutura hidrogeológica
surge, portanto, no subdomínio I-2
inclui o Unidade de Vitória do CV de
Vitória-Vulcão Central nos grupos de
litologias piroclásticas ou basálticas,
formando aquíferos não confinadas
ou livres, devido à sua alta porosidade
e permeabilidade e ao grau de
fracturação e vesiculação das escoadas
basálticas.
Num dos poços é possível identificar
uma tubagem no seu interior que
atinge a superfície associada ao
instrumento. Este instrumento é uma
bomba manual de água da empresa
Oliva, utilizada antigamente para
bombear a água do poço de forma
mais prática do que o balde e corda.
Assim, com este elemento mostra-se
a importância que este poço teria na
satisfação das necessidades de água,
por ser o único equipado com bomba,
revelando também que o facto dos
antigos o terem escolhido para colocar
este equipamento, pela importância
que teria para o abastecimento de
água, mesmo que esteja indicado que
as águas estariam “quinadas”.
Em termos hidrogeológicos, estes
poços localizam-se no domínio I,
que se divide nos subdomínios I-1 e
I-2, separados parcialmente por um
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“Governaremos com o dinheiro que
tivermos. Não vamos é fingir que temos o
dinheiro que não temos”
José Manuel Bolieiro, Presidente do Governo Regional
“RABO DE PEIXE É UM EXEMPLO DE
CIVISMO E CIDADANIA PARA O PAÍS”
Artur Lima, Vice-Presidente do Governo Regional dos Açores
“É necessário enfrentar os problemas
financeiros da SATA e é imperativo a
sua profunda reestruturação”,
JOAQUIM BASTOS E SILVA, SECRETÁRIO REGIONAL DAS FINANÇAS, PLANEAMENTO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
“Não é ajustado apresentar um novo Programa
de Governo, construído e baseado em velhas
soluções para as crises económicas”
FRANCISCO CÉSAR, DEPUTADO DO PS/AÇORES
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