PME Magazine - Edição 19 - Janeiro 2021
Vanda de Jesus, diretora executiva do Portugal Digital, é a figura de capa da edição de janeiro da PME Magazine. Leia na íntegra aqui.
Vanda de Jesus, diretora executiva do Portugal Digital, é a figura de capa da edição de janeiro da PME Magazine. Leia na íntegra aqui.
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JANEIRO 2021 | TRIMESTRAL | EDIÇÃO 19
EDIÇÃO ANO VI
ASSINE EM:
PMEMAGAZINE.SAPO.PT/ASSINATURA/
DIRETORA: MAFALDA MARQUES
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
VANDA DE JESUS
POR UM PORTUGAL
MAIS DIGITAL
ERGOVISÃO
HÁ 18 ANOS A CUIDAR DOS
OLHOS DOS PORTUGUESES
PAISAGINDO BIO
DO BIOLÓGICO NASCE UM
NEGÓCIO DE TISANAS MEDICINAIS
MANICÓMIO
QUANDO A SAÚDE MENTAL
E A ARTE SE JUNTAM
a
FIGURA DE DESTAQUE
a
A luz ao fundo do túnel
Editorial
Índice
p4 | BREVES
p6 | CASOS DE SUCESSO
Dezoito anos de vida da Ergovisão
p8 | Padaria Portuguesa e a ascenção para as 60 lojas abertas
p10| INVESTIMENTO
Sandra Laranjeiro dos Santos e o Processo Extraordinário
de Viabilização de Empresas
p12| CCIP e a aposta nas missões internacionais
p14| INTERNACIONAL
Salsa cresce no mercado externo
p16| Hilti Portugal e a união em tempos de pandemia
p18| Portugal Exportador agora em versão digital
p20| AMBIENTE
EGF e o futuro não reciclável do planeta
p22| RH
Filipe Lacerda e os desafios do recrutamento tecnológico
p24| João Range assume liderança da MELOM
p26| FIGURA DE DESTAQUE
Vanda de Jesus lidrera o Portugal Digital
p34| RESPONSABILIDADE SOCIAL
Manicómio e a ‘cura’ da saúde mental através da arte
p36| EMPREENDEDORISMO
Paisagindo Bio e a aposta no mercado das tisanas
p38| Made of Lisboa e a comunidade empreendedora
da capital
p40| MEDIR PARA GERIR
Susana Ferreira e a importância de aprender
p41| MARKETING
João Pedro Calixto e o marketing dos chatbots
p42| Valor do Tempo e a revitalização das marcas
portuguesas
p44| TECNOLOGIA
Inventors e a nova geração de inventores do país
p46| INCoDe.2030 e o incentivo à literacia digital
p47| AGENDA
Building the Future a caminho
p48| FORA D'HORAS
Turismo em barricas de vinho na Quinta da Pacheca
p50| OPINIÃO
Paulo Mateus Pinto e a ‘alavanca’ do e-commerce
Ficha técnica
DIRETORA: Mafalda Marques
EDITORA: Ana Rita Justo
REDAÇÃO: Sofia Neves
VÍDEO E FOTOGRAFIA: NortFilmes e João Filipe Aguiar
DESIGN GRÁFICO: José Gregório Luís
DIGITAL MANAGERS: Carmen Alcobio e Fábio Jesuíno
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Filipe Lacerda, João Pedro Calixto, Maria Inês Jorge,
Marta Leite, Paulo Mateus Pinto, Sandra Laranjeiro dos Santos e Susana Ferreira
ESTATUTO EDITORIAL (leia na íntegra em pmemagazine.sapo.pt)
DIREÇÃO COMERCIAL: Daniel Marques
EMAIL: publicidade@pmemagazine.com
PROPRIEDADE: Massive Media Lda.
NIPC: 510 676 855
MORADA SEDE ENTIDADE PROPRIETÁRIA/EDITOR:
LisboaBiz - Av. Engenheiro Arantes e Oliveira, n.3 R/C | 1900-221 Lisboa
REDAÇÃO: LisboaBiz - Av. Engenheiro Arantes e Oliveira, n.3 R/C | 1900-221 Lisboa
TELEFONE: 211 934 140
EMAIL: info@pmemagazine.com
N. DE REGISTO NA ERC: 126819
EDIÇÃO N.º: 19
DEPÓSITO LEGAL N.º: 427738/17
ISSN: 2184-0903
TIRAGEM: 1000 exemplares
IMPRESSÃO: Sprint
Zona Industrial Segulim, Rua José Pereira, Lote 3ª
1685-635 Famões, Odivelas
DISTRIBUIÇÃO: por assinatura anual
PERIODICIDADE: Trimestral
Depois de um 2020 cheio de desafios,
eis que – sem saber bem como
– chegamos a 2021, um ano de
grandes promessas e de tentar reerguer
a economia. Com a vacinação
para a Covid-19 em curso, surge
uma nova esperança de normalidade.
Para Portugal, as previsões de
crescimento da economia oscilam
entre as mais modestas, dos 1,7% previstos pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, e as
mais otimistas do Fundo Monetário Internacional, de 6,5%.
Sabemos, contudo, que a vida das empresas não será fácil
neste primeiro semestre, que muitas continuarão com a sua
operação em suspenso, na esperança de que a vacina faça a
sua parte na imunidade de grupo, para que a economia possa
depois fazer a sua e trazer mais emprego e mais qualidade de
vida a todos. No meio do caos, se algo houve que a pandemia
trouxe de bom foi a aceleração da transição digital no país,
aceleração essa materializada no Plano governamental de
Ação para a Transição Digital, liderado por Vanda de Jesus,
que em junho assumiu a direção executiva da missão Portugal
Digital. É ela a voz da esperança nesta primeira edição
de 2021. Apostar na formação e capacitação de pessoas, ao
mesmo tempo que se faz o upgrade digital das empresas e dos
serviços do Estado são os principais objetivos desta missão,
que damos agora a conhecer. Casos de sucesso não faltam,
com o balanço dos 18 anos da Ergovisão, uma rede de óticas
nascida em Viseu, e também da Padaria Portuguesa. A internacionalização
da Salsa e a aposta da Hilti Portugal também
surgem em destaque, numa edição em que o ambiente volta
a estar na mira com a campanha liderada pela EGF e em que
a responsabilidade social assume uma nova dimensão com o
Manicómio. Casos de empreendedorismo como o da Paisagindo
Bio e a importância da reinvenção das marcas portuguesas
pelas mãos do grupo Valor do Tempo mostram que
muito bons projetos continuam a alimentar o país. Fazemos
votos de um 2021 cheio de bons projetos, que resultam em
cinco anos de PME Magazine a acompanhar a evolução das
empresas no país.
Boas leituras e bons negócios!
ColorADD
na PME Magazine
A PME Magazine conta com 14 grandes secções,
que servem de guia estrutural para as temáticas
abordadas. De forma a tornar a revista mais inclusiva,
foi integrado nas secções o sistema de
identificação de cores ColorADD. Assim, cada
secção conta com uma cor diferente, identificada
com um símbolo que permite a pessoas
daltónicas identificarem as cores que estão a
ver.
Desenvolvido com base nas três cores primárias,
representadas através de símbolos gráficos,
o código ColorADD assenta num processo
de associação lógica que permite ao daltónico,
através do conceito da adição das cores, relacionar
os símbolos e facilmente identificar toda
a paleta de cores. O branco e o preto surgem
para orientar as cores para as tonalidades claras
e escuras.
Azul
Vermelho
ANA RITA JUSTO | EDITORA
Verde
Roxo
Amarelo
Castanho
Laranja
Tons Claros
Tons Escuros
Branco
Cinza
Claro
Preto
Cinza
Escuro
3
o
Breves
INFLUENCIADORES CHEGAM À PME MAGAZINE
Mafalda Teixeira e Jorge Kapinha protagonizam primeira entrevista
Com vista a mostrar mais sobre o marketing de influência
das marcas, a PME Magazine lança em 2021
uma rubrica mensal exclusiva no site com entrevistas
a 12 influenciadores portugueses. A primeira grande
entrevista será publicada já em janeiro e foi feita aos
considerados “reis do TikTok”: Jorge Kapinha e Mafalda
Teixeira. Marcas como a Galp, EDP e Licor Beirão,
entre outras, escolheram este casal de influenciadores
pela diversão que contagiam a sua comunidade de seguidores.
Acompanhe mais no nosso site.
NOS DISTINGUIDA NO COMBATE
ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Distinguida pelo programa Alterações Climáticas do
CDP - Disclosure, Insight, Action, com a classificação
A-, a NOS ultrapassa a média europeia no parâmetro
da gestão de riscos e de integração do tema das alterações
climáticas na estratégia e planeamento de negócio.
O grupo de telecomunicações atingiu, também,
a pontuação máxima nas iniciativas de monitorização e
redução de emissões carbónicas.
INCM LANÇA CARTÕES BIODEGRADÁVEIS
Empresa foi a única a ser avaliada em Portugal
Novos cartões serão distribuídos nacional e internacionalmente
IKEA ACABA COM O LEGADO
DO CATÁLOGO EM PAPEL
Produzidos a partir de PVC degradável ou de PETG
reciclado, os novos cartões produzidos pela Imprensa
Nacional – Casa da Moeda (INCM), quando em fim do
ciclo de vida, podem ser colocados em aterros específicos
sem risco de libertação de gases tóxicos para o
ambiente. O objetivo é a substituição de todos os cartões
de identificação pessoal, empresarial ou bancários
por outros de material mais sustentável.
Impresso pela primeira vez em 1951, o catálogo em papel
da IKEA, que chegou a movimentar 200 milhões de
cópias em mais de 50 mercados de todo o mundo, vai
agora tornar-se “mais digital e acessível”. A empresa
anunciou que vai concentrar-se na divulgação online
dos seus produtos, pelo que o valor anteriormente gasto
na impressão do catálogo terá agora como destino o
departamento de marketing digital.
4
A última edição em papel será a de 2021
MOSTRAMOS-LHE COMO FOI
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
A PME Magazine apresentou a sua última edição de 2020 em outubro e, mesmo em contexto de pandemia,
conseguiu adaptar-se à situação vivida, com um evento híbrido, a partir da Nova SBE de Carcavelos. Paulo
Mateus Pinto, CEO da La Redoute Portugal, deu uma palestra, na qual focou a importância do comércio eletrónico
para as PME Portuguesas. Pela primeira vez foi solicitado um valor simbólico para a reserva dos bilhetes
presenciais, que reverteram a favor da associação Dress For Success Lisboa. Foram disponibilizados “Safe Kits
PME Magazine” para que todas as normas de segurança fossem cumpridas. Aqui ficam as fotos.
5
e
CASOS DE SUCESSO
ERGOVISÃO ADAPTA-SE À NOVA REALIDADE
Marta Leite
Ergovisão
A Ergovisão nasceu em Viseu e comemorou
18 anos em novembro, um ano atípico, mas
a enfrentar a pandemia nos olhos e com novos
projetos no horizonte.
Com origem em 1984, em Viseu, mas crescendo até à
marca que é hoje, a Ergovisão é um grupo ótico português
especializado na venda de produtos óticos e prestação de
serviços de saúde visual. Apesar de todas as dificuldades
que a pandemia trouxe, a empresa foi capaz de contornar
os desafios e não deixou de lançar novos projetos e reinventar-se
neste contexto. Em 2020, atingiu a maioridade
orgulhosa não só do seu trabalho e da resiliência das suas
equipas, mas também da confiança que as suas pessoas
depositam na organização.
Equipas da clínica Dr. Ergo fazem consultas remotas e ao domicílio
“Se a nossa empresa estiver bem, as nossas pessoas
estarão bem”, começa por dizer Pedro Figueiredo, diretor
de marketing do grupo, que, apesar do ano atípico,
não queria deixar de motivar os colaboradores e mostrar
que a empresa não pára e o caminho é em frente.
O grupo Ergovisão conta já com 59 lojas distribuídas
por 17 distritos, com 150 colaboradores nos quadros da
empresa. Conta, ainda, com a rede de clínicas Dr. Ergo,
com 17 clínicas em Portugal, sendo que 16 delas são
contíguas a lojas Ergovisão, exceto a da cidade de Viseu.
Um dos seus projetos mais recentes é a Unióticas, um
projeto que agrega várias lojas, contando já com 15
aderentes. Nos últimos anos, a empresa apercebeu-se
que há várias óticas que se identificam com a sua forma
de trabalhar, contudo não querem abdicar da sua imagem
corporativa. Assim, a Ergovisão possibilitou a certos
negócios estarem associados ao grupo, sem perderem
a sua identidade.
“A Unióticas é uma adesão sem ligação à parte da imagem
corporativa da Ergovisão”, explica Pedro Figueiredo,
adiantando que a ideia é "flexibilizar a perspetiva de
que [outras óticas] podem estar associadas a um grupo
forte com condições interessantes e com ferramentas de
gestão do negócio também elas muito poderosas, mas
sem perder a sua identidade.”
“A pandemia veio acelerar este projeto porque nós também
queríamos contribuir para que o próprio mercado estivesse
melhor”, acrescenta. A Unióticas abraçou, assim,
um conjunto de óticas, possibilitando-lhes sobreviver
nos tempos que correm porque, explica o responsável:
“Se o mercado cair a pique, nós também vamos cair”.
6
Loja Ergovisão em Leiria, uma das 59 lojas do grupo
Tal como em muitas outras empresas, a pandemia
não deu tréguas à Ergovisão. Houve uma quebra
de faturação de mais de um milhão de euros em
2020 face a 2019 nas lojas Ergovisão, isto é, lojas
de gestão direta do grupo, tendo sido necessário recorrer
ao regime de lay-off simplificado. Contudo, o grupo continua
a crescer e o número de lojas a aumentar, sobretudo
com a inclusão de novas lojas com o projeto Unióticas.
No geral, o grupo fechou o ano de 2020 a faturar dois
milhões a mais do que no ano anterior.
Com a empresa a funcionar a meio gás no início do ano
de 2020 (com apenas 10% dos colaboradores em regime
presencial), a Ergovisão e os seus franqueados
conseguiram adaptar-se à nova realidade e, em junho,
já estava 100% da equipa a trabalhar presencialmente.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Pedro Figueiredo confessa: “No meio de tanta incerteza,
aquilo que me preocupa mais é nós - e toda a
gente - mantermos a sanidade mental, continuarmos
a acreditar, a fazer planos para o futuro, a desenhar
ideias para o próximo ano e a definir estratégias de
investimento com aquilo que está a acontecer à data
de hoje. Este é o maior desafio do mundo”.
CONSULTAS REMOTAS DURANTE A PANDEMIA
Assente na trilogia “moda, saúde e tecnologia”, a Ergovisão
sempre teve nos seus consultórios e lojas equipamentos
que estão à frente no mercado. Foi, por isso, mais
fácil a adaptação a esta nova realidade em que vivemos,
com consultas remotas e outras técnicas de atendimento
e tratamento ótico tais como a Virtual Try-On (VTO), ferramenta
que permite aos clientes experimentar os óculos
virtualmente e está disponível no site da empresa. Outro
exemplo são os tablets usados em loja para recolher consentimentos
dos clientes e fazer videochamadas internas.
Coleção Ascensão surge
em parceria com a Associação
Portuguesa de Leucemias
e Linfomas
ao profissional estar em isolamento, se necessário, sem
deixar de trabalhar, estando ainda a ser desenvolvida
uma ferramenta que permita ao especialista manusear o
equipamento do consultório à distância.
PREVENÇÃO EM ESCOLAS E LARES
Em paralelo com as novas formas de trabalhar, a Ergovisão
tem-se reinventado na área da prevenção. Assim,
a empresa de Viseu está a planear lançar uma iniciativa
de prevenção visual nas escolas e lares que consiste em
webinares para formar educadores e cuidadores neste
sentido. O objetivo é que estes profissionais estejam
sensíveis a qualquer potencial problema ocular. Para o
efeito, serão criados canais de contacto com os especialistas
da clínica Dr. Ergo, parte do grupo Ergovisão, e,
no caso de ser necessário uma consulta presencial, pode
haver equipas a deslocarem-se às escolas e lares para
fazerem avaliações às crianças e idosos.
Outro projeto no qual a empresa decidiu apostar é o Oftalmed,
um plano de saúde ocular lançado pela empresa,
com o propósito de oferecer condições de saúde visual
mais acessíveis a todos os portugueses, desde consultas,
a cirurgias, passando pelos produtos óticos.
Como parte da política de responsabilidade social, foi
relançada este ano a coleção Ascenção, designada em
homenagem a uma colaboradora da empresa que faleceu
vítima de um linfoma, numa parceria com a Associação
Portuguesa de Leucemias e Linfomas. Esta coleção é
feita à mão em Portugal, na mesma fábrica onde serão
produzidas as novas fardas da equipa. O design das
fardas foi desenvolvido pelo estilista Luís Buchinho e a
iniciativa tem como objetivo motivar os colaboradores
depois de um ano atípico.
“Pegámos nesses tablets e só tivemos de criar contas
– o hardware já lá estava”, esclarece o diretor de marketing.
As consultas foram as que mais pararam com o
confinamento. A Ergovisão rapidamente se reformulou e
permitiu aos clientes consultas através de videochamada,
disponibilizando uma equipa multidisciplinar para fazer
o devido seguimento do cliente.
Pedro Figueiredo,
diretor de marketing
da Ergovisão.
A proatividade da marca reflete-se também no novo
projeto que está a ser desenvolvido com a Zeiss, marca
de lentes oftálmicas e equipamentos tecnológicos. O
projeto consiste em fazer consultas remotas para o profissional,
isto é, o paciente teria sempre de se deslocar a
um consultório da Ergovisão, mas seria atendido virtualmente
pelo profissional que o acompanha. Isto permite
7
e
CASOS DE SUCESSO
DE UMA PADARIA PARA UM IMPÉRIO DE 62 LOJAS
Maria Inês Jorge
Padaria Portuguesa
A Padaria Portuguesa comemorou dez anos de atividade no passado mês de novembro. Falámos com
Nuno Carvalho, sócio-gerente da marca, para perceber como foi a passagem de uma pequena loja
no Areeiro para mais de 60 espaços abertos em toda a região de Lisboa e os recentes desafios enfrentados
devido à pandemia.
Nascido e criado numa fábrica em Samora Correia, corria
o ano de 2010, o projeto veio tornar-se conhecido pelo
tradicional pão de Deus e pelos menus económicos que
tantos clientes chamaram à abertura do primeiro espaço
na Avenida João XXI, no Areeiro, em Lisboa.
Dez anos depois da inauguração, uma ida à Padaria
Portuguesa transformou-se numa moda para muitos
dos que caminham pelas ruas da capital. Em entrevista
à PME Magazine, Nuno Carvalho, um dos responsáveis
pela criação da empresa, refere que “a
Padaria Portuguesa está totalmente enraizada no dia-
-a-dia dos portugueses” e que isso é motivo de orgulho.
Sempre com o foco no bem-estar do cliente, este tem
sido um projeto de contínuo esforço e empenho por
parte de todos os que, diariamente, contribuem para a
evolução da marca, que conta já com 62 lojas na Área
Metropolitana de Lisboa, sendo uma delas em Almada.
“O crescimento da Padaria
Portuguesa é resultado de
uma visão estratégica clara
e belissimamente executada por
uma equipa de profissionais muito
valiosos que todos os dias se
empenham para que o negócio
aconteça”, salienta Nuno Carvalho.
É também pelo cliente que a gerência da Padaria Portuguesa
aposta na renovação e decoração de cada um
dos espaços abertos ao público. Em 2016, o desafio
foi apresentado à artista contemporânea Joana Astolfi,
autora da loja no Príncipe Real, cuja inauguração teve
direito à visita inesperada do Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa.
INOVAÇÃO TROUXE O LAB
Dois anos mais tarde, e caminhando para a abertura da
60.ª loja, a Padaria Portuguesa decidiu “celebrar esse
acontecimento de forma especial” e investir num projeto
inovador, que mantivesse o pão como figura central.
“O pão teria de ser o rei e, muito importante, decidimos
partilhar com os nossos clientes o investimento diário
que fazemos em inovação – estava na altura de mostrar
aos nossos clientes a equipa que pensa inovação”, afirma
Nuno Carvalho. Foi assim que surgiu o LAB, no Saldanha,
em Lisboa, considerado pelo sócio-gerente como “uma
página em branco” na história da marca, não só por se
assemelhar a um verdadeiro laboratório com paredes
brancas – destacando-se da decoração alaranjada das
restantes lojas –, mas por ser um local de criação de
novos produtos.
8
O responsável sublinha,
ainda, que todo o sucesso
alcançado ao longo dos últimos
dez anos se deve ao
“empenho e esforço de tanta
gente”, que tem sido amplamente
aceite por todos
os clientes. “É para eles que
trabalhamos diariamente”,
exulta.
Nuno Carvalho,
sócio-gerente
da Padaria Portuguesa
O LAB, no Saldanha, aposta na criação de novos produtos
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Era neste espaço que muitos clientes marcavam presença
nos workshops promovidos pela empresa. Com o mote
“Seja Cientista Por Um Dia”, estas experiências davam a
oportunidade aos clientes de experimentarem as receitas
mais populares da Padaria Portuguesa. No entanto, por
motivos de precaução, e em cumprimento das medidas
decretadas pelo Governo português para o combate
à pandemia, todos os workshops foram suspensos.
Durante muito tempo, o “laboratório” da marca foi a
fábrica em Marvila, passando depois para a Avenida
Duque de Ávila. Agora, é do LAB, um espaço amplo,
onde o cliente pode assistir ao fabrico dos produtos, que
passam a sair diariamente todas as novidades especiais
para as lojas da cidade. Aqui, os clientes têm um papel
de destaque enquanto “provadores oficiais” das mais
recentes criações de padaria, pastelaria e refeições da
Padaria Portuguesa.
São estas criações a grande aposta da empresa. Ao
longo do ano de 2020, a marca proporcionou ao público
semanas temáticas, com as montras de cada loja da
grande Lisboa a apresentarem iguarias do Algarve, doçaria
tradicional alentejana ou até sobremesas com uma
decoração especial de Halloween.
De destacar também o lançamento de pequenas sobremesas
temporárias, que só podem ser encontradas
à venda durante poucos dias – como por exemplo, os
macarons, o pão de ló de chocolate, o bolo de bolacha,
os brigadeiros ou o red velvet.
MERCEARIAS PARA COMBATER A PANDEMIA
Por outro lado, devido ao novo coronavírus, também a
Padaria Portuguesa teve de se reinventar e pensar em
estratégias mais eficientes que conseguissem compensar
as perdas significativas no negócio.
Como resposta à diminuição do número de clientes nas
padarias, em resultado da crise pandémica que se instalou,
a marca transformou alguns dos seus espaços junto a
bairros habitacionais, adicionando-lhes a função de mercearia.
Nestas lojas, os clientes podem comprar produtos
básicos, como fiambre, queijo, leite ou atum em lata, seja
presencialmente ou através de encomenda por telefone,
medida que ajudou à redução do número de deslocações
dos clientes a grandes superfícies comerciais.
Os profissionais de saúde foram também contemplados
nas novas ideias da empresa para o combate à Covid-19.
A Padaria Portuguesa passou a oferecer o menu de pequeno-almoço
a todos os que apresentassem uma identificação
profissional em qualquer uma das lojas da marca.
Segundo Nuno Carvalho, tem sido a união entre todos
os colaboradores e responsáveis o mote para ultrapassar
as dificuldades acrescidas na manutenção e gestão do
negócio. Ainda assim, o sócio-gerente mostra-se confiante
de que “esta crise vai passar” e que o importante
é manter a visão positiva de que o que foi aprendido até
agora vai facilitar o desafio da época pós-crise. Para isso,
o responsável sublinha a importância do trabalho de toda
a equipa da Padaria Portuguesa, que “tem mostrado uma
agilidade e resiliência extraordinárias”.
O pão é a figura central em todas as lojas da marca
Quanto ao futuro, Nuno Carvalho acredita que a Padaria
Portuguesa vai “continuar a ser a mesma família unida”,
sempre com o foco no bem-estar do cliente e na apresentação
de boas opções alimentares a preços acessíveis.
“O resto é consequência destes princípios”, conclui o
responsável.
9
p
INVESTIMENTO
PROCESSO EXTRAORDINÁRIO DE VIABILIZAÇÃO
DE EMPRESAS: NOVIDADE OU NÃO?
Sandra Laranjeiro dos Santos, LS Advogados, RL
LS Advogados, RL
A pandemia Covid-19 trouxe a Portugal (e não só) uma
febre legislativa com medidas que são aprovadas em
catadupa, apregoando-se com cada uma delas o simplificar
os processos (de que foi exemplo máximo o lay-off
simplificado) e a urgência na tramitação dos mesmos.
Assim, o Processo Extraordinário de Viabilização de
Empresas (PEVE) – é mais uma dessas medidas, anunciadas
em julho, aquando da apresentação do Programa
de Estabilização Económica e Social (PEES), mas apenas
aprovada na sua redação final em 3 de novembro, com
publicação no Diário da República no passado dia 27 de
novembro e que será aplicável às empresas entre o período
de 28 de novembro de 2020 e 31 de dezembro de
2021. Comecemos por desmistificar: é o PEVE uma verdadeira
novidade e revolução no quadro dos mecanismos
legais ao dispor das empresas em dificuldades?
Arriscamo-nos a dizer que não, pois embora de facto se
trate de (mais) um mecanismo legal para as empresas em
dificuldades, não comporta em si mesmo uma verdadeira
revolução no sistema, não sendo uma completa novação
face ao regime da revitalização (PER) ou da recuperação
extrajudicial (RERE). Em nossa modesta opinião,
poderiam até estes instrumentos já existentes ter sido
melhorados ao invés de se criar mais uma figura legal que
se quer urgente, até mais urgente que as insolvências ou
os PER (o PEVE passa a ter prioridade sobre os demais
mecanismos legais que correm termos nos Tribunais de
Comércio).
O PEVE estabelece um regime excecional e temporário
para as empresas afetadas pela crise económica decorrente
da Pandemia Covid-19, que se encontrem em
situação económica difícil ou em situação de insolvência
iminente ou atual, mas que ainda sejam suscetíveis
de viabilização.
Sandra Laranjeiro dos Santos, LS Advogados, SP RL
O PEVE pode ser utilizado por qualquer empresa que, não
tendo pendente PER ou processo especial para acordo
de pagamento, à data da apresentação do requerimento,
reúna as seguintes condições:
• Em 31 de dezembro de 2019 tenha registado um ativo
superior ao passivo.
Ou:
• No caso das micro ou pequenas empresas, que não
tenham, em 31 de dezembro de 2019, um ativo superior
ao passivo, tenham recebido um auxílio de
emergência no âmbito do quadro temporário relativo
a medidas de auxílio estatal em apoio da economia
no atual contexto da pandemia Covid-19 e o mesmo
não tenha sido reembolsado nos termos legais; ou
estejam abrangidas por um plano de reestruturação
no quadro das medidas de auxílio estatal.
O PEVE inicia-se com a apresentação pela empresa, no
tribunal competente para declarar a sua insolvência:
10
1. De uma declaração escrita e assinada pelo órgão de
administração da empresa que ateste que a situação
em que se encontra é devida à pandemia da doença
Covid-19 e que reúne as condições necessárias para
a sua viabilização,
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
ações para cobrança de dívidas contra a empresa que
se apresenta a PEVE e, até ao trânsito em julgado da
sentença de homologação ou de não homologação do
acordo de viabilização que esta apresentou, a suspensão
das ações em curso com idêntica finalidade, extinguindo-se
as mesmas logo que seja homologado o acordo
de viabilização, salvo quando este preveja a sua continuação
ou quando os créditos em causa naquelas ações
não estejam abrangidos pelo acordo.
2. Cópia dos documentos sobre a sua atividade nos
últimos três anos (mapa de pessoal, declarações
fiscais, entre outros – ou seja, a mesma documentação
que apresentaria num processo de insolvência);
3. Relação por ordem alfabética de todos os credores,
incluindo condicionais, com indicação dos respetivos
domicílios, dos montantes dos seus créditos, datas
de vencimento, natureza e garantias de que beneficiem
e da eventual existência de relações especiais,
subscrita e datada, há não mais de 30 dias, pelo órgão
de administração da empresa e por contabilista
certificado ou por revisor oficial de contas, sempre
que a revisão de contas seja legalmente exigida;
4. Acordo de viabilização, assinado pela empresa e por
credores que representem pelo menos uma das seguintes
maiorias de votos: um terço do total dos créditos
relacionados com direito de voto, contidos na
lista de créditos, ou recolha o voto favorável de mais
de dois terços da totalidade dos votos emitidos e
mais de metade dos votos emitidos correspondentes
a créditos não subordinados, não se considerando
como tal as abstenções, ou recolha do voto favorável
de credores cujos créditos representem mais
de metade da totalidade dos créditos relacionados
com direito de voto e mais de metade destes votos
correspondentes a créditos não subordinados, não
se considerando como tal as abstenções – tal qual
é requerido no âmbito do PER.
Analisado o acordo de viabilização, cabe ao juiz homologá-lo
e nomear de imediato, por despacho, o
administrador judicial provisório (a mesma figura que
já existe no PER), cabendo a este o ónus de informar a
Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), o Instituto da
Segurança Social e o Instituto de Gestão Financeira da
Segurança Social, da pendência do PEVE – enquanto no
PER são os tribunais que promovem estas notificações.
A remuneração do administrador judicial provisório é aqui
fixada pelo juiz na sentença, mas de valor substancialmente
inferior ao que se conhece para os PER, dado que
o legislador ditou a bitola de uma remuneração entre os
300,00 euros e os 3.000,00 euros.
Quanto aos efeitos do decretamento do PEVE eles são
em tudo similares aos do PER, de que destacamos em
especial a impossibilidade de instauração de quaisquer
Se há novidades a registar é a determinação, quanto aos
créditos tributários e da segurança social, da fixação do
regime legal de redução dos mesmos, com a aprovação
do acordo de viabilização apresentado, apenas e só no
que diz respeito à redução da taxa de juros de mora, nos
seguintes montantes: 25% em planos prestacionais de
73 até 150 prestações mensais; 50% em planos prestacionais
de 37 até 72 prestações mensais; 75% em planos
prestacionais até 36 prestações mensais; totalidade de
juros de mora vencidos, desde que a dívida se mostre
paga nos 30 dias seguintes à homologação do acordo e
a proibição de suspensão até à prolação da sentença de
homologação ou de não homologação, do referido acordo
de viabilização, da prestação dos seguintes serviços
públicos essenciais:
a) Serviço de fornecimento de água;
b) Serviço de fornecimento de energia elétrica;
c) Serviço de fornecimento de gás natural e gases
de petróleo liquefeitos canalizados;
d) Serviço de comunicações eletrónicas;
e) Serviços postais;
f) Serviço de recolha e tratamento de águas residuais;
g) Serviços de gestão de resíduos sólidos urbanos.
No demais, todo o regime do PEVE bebe as mesmas
fórmulas (mágicas, ou não) do PER, do regime da insolvência
e recuperação de empresas e do RERE, ficando,
também aqui, a administração da empresa impedida de
praticar atos de especial relevo, sem que previamente
obtenha autorização para a realização da operação pretendida
por parte do administrador judicial provisório,
que dispõe de cinco dias para se pronunciar sobre os
pedidos que lhe forem remetidos, considerando-se o
silêncio do administrador judicial provisório como recusa
de autorização para a realização do negócio pretendido.
Esperemos que sendo uma novidade (ou não?) este
seja mais um mecanismo legal usado em prol do tecido
empresarial português que se quer forte e rapidamente
restabelecido da crise pandémica.
11
p
INVESTIMENTO
CCIP À FRENTE NO INVESTIMENTO
DAS EMPRESAS ALÉM-FRONTEIRAS
Mafalda Marques e Maria Inês Jorge
CCIP
A Câmara de Comércio e Indústria de Portugal (CCIP) aposta em missões empresariais de promoção de
indústrias Amxxxxxxxxxxxxxxx
portuguesas nos mercados internacionais. Em entrevista à PME Magazine, Pedro Magalhães,
diretor de comércio internacional da CCIP, faz o balanço de 2020, um ano atípico para o crescimento
e exportação das empresas portuguesas, e fala das expectativas para 2021.
Com missões nos Emirados Árabes Unidos e no Cazaquistão,
a Câmara de Comércio e Indústria de Portugal
(CCIP) entrou em 2020 a acompanhar empresas de
vários setores e a fazer a ponte entre as agendas das
indústrias nacionais e potenciais importadores, distribuidores,
clientes finais e novos parceiros de negócio.
Cada missão tem em vista a criação de uma nova relação
laboral entre Portugal e um determinado mercado internacional,
com a CCIP a organizar reuniões de negócios
que respondam às necessidades individuais das empresas
e à procura do mercado no qual pretendem entrar.
Pedro Magalhães, diretor de comércio internacional da
CCIP, refere que todo o processo de internacionalização
“envolve um trabalho prévio com as empresas para
perceber em detalhe aquilo que elas procuram ao nível
de contactos e aquilo que existe ao nível da oferta local,
para haver um matching ideal”.
AÇÕES VIRTUAIS PARA
NÃO PARAR INVESTIMENTO
Com a chegada da pandemia e do confinamento,
os serviços da CCIP foram forçosamente adaptados.
De março a setembro, todas as ações de preparação
de agendas e reuniões presenciais – que
implicavam a deslocação aos mercados – foram
suspensas, passando a acontecer de forma virtual.
“Fizemos vários webinars sobre outros mercados, bootcamps
sobre internacionalização totalmente online. Passámos
tudo para o digital, para conseguir responder às necessidades
das empresas que continuavam à procura de
contactos a nível internacional, mas estavam impedidos
de fazer as suas deslocações”, explica Pedro Magalhães.
A partir de setembro, principalmente nos meses de novembro
e dezembro, as missões presenciais foram retomadas,
uma vez que as empresas acreditam ser este
o modelo mais indicado para concretizar negócios e
explorar novos mercados. “Sou um defensor das duas
vertentes. Acho que é possível fazer algumas coisas de
forma virtual, mas nada substitui o contacto físico com
as pessoas”, comenta.
12
Pedro Magalhães, diretor de comércio internacional da CCIP
Para o responsável, “é impensável haver uma ligação
contratual, ou uma relação que se crie com um cliente, se
as coisas forem todas feitas de forma virtual”. O diretor
salienta a falta de condições técnicas na maioria dos mercados
e a importância do contacto pessoal e da visita às
instalações locais para que seja criada uma “noção mais
precisa daquilo que é o mercado e uma relação com um
potencial cliente importador ou distribuidor”.
Pedro Magalhães mostra-se, no entanto, confiante de
que a incerteza deixada pela pandemia transformou o
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Médio Oriente; em março à América Latina e em abril à
zona da Eurásia. Os destinos escolhidos têm apresentado
um crescimento económico significativo e, em missões
anteriores, trouxeram bons resultados a empresas portuguesas,
como o caso do México, de Marrocos, da Rússia,
da Costa do Marfim e da Coreia do Sul.
pensamento das empresas que, embora não descartem
totalmente o formato virtual, também pretendem recuperar
na totalidade as missões presenciais.
“A alternativa virtual foi muito boa para o tempo que vivemos.
Mas creio que o futuro e, pelo que tenho visto pelas
empresas, muitas delas querem voltar a viajar, querem
voltar presencialmente, e depois fazer um modelo híbrido
– em vez de se deslocarem dez vezes por ano, passam a
deslocar-se cinco, por exemplo”, explica.
PLANO "AMBICIOSO” PARA 2021
No que respeita a 2021, a CCIP pretende que as missões
anteriormente realizadas de forma presencial em Portugal,
na sua maioria em Lisboa, passem a ser virtuais e
substituídas por seminários temáticos sobre os mercados,
webinars, programas de export mentoring, entre outras
iniciativas. Também prevista está a visita a Portugal
de potenciais compradores, importadores, retalhistas e
distribuidores internacionais, dos setores alimentar e de
bebidas, têxtil e de vinhos.
“Tendo em conta as enormes incertezas que nos reserva
2021, preparámos um plano ambicioso e que procura
responder às necessidades das empresas exportadoras
nacionais, que pretendem alavancar os seus negócios a
nível internacional”, refere Pedro Magalhães.
“As empresas estão
muito esperançosas que
todo o tema das vacinas e todas
as impossibilidades de deslocação
se levantem e que 2021 seja
um ano de crescimento. Embora
não seja um crescimento louco,
será uma recuperação
e um ano melhor do que 2020,
seguramente”, destaca.
Quanto às 45 missões empresariais internacionais previstas,
estas irão manter-se num registo misto – virtual
e presencial –, sendo cada mês do ano associado a um
mercado diferente. Planeados estão já janeiro, como
o mês de África; em fevereiro será dado destaque ao
Será também dada continuidade aos seminários “Meet-the-Market”,
desta vez em formato online e gratuito,
que aprofundam a realidade económica e comercial de
um determinado país, e às iniciativas online one-to-one,
cujas sessões individuais e personalizadas juntam empresas
e representantes locais dos diversos mercados.
A CCIP vai, ainda, promover ações de formação para a internacionalização
das empresas, assim como um serviço
de consultoria individual e de mentoring para as indústrias
portuguesas que pretendam iniciar a sua expansão nos
mercados internacionais.
“Procuramos pegar em cada empresa e trabalhá-la de
forma customizada”, afirma Pedro Magalhães, salientando
ser esse o fator que marca a diferença, uma vez
que “o foco é conseguir reuniões que deem negócio”.
O processo de preparação de uma missão empresarial
pode levar entre 30 e 45 dias, tempo em que a CCIP
trabalha como intermediária entre o consultor local e a
empresa cliente, “para garantir que o processo é uniforme”.
Pedro Magalhães explica: “Focamo-nos em trazer
às empresas uma agenda muito concreta, em que elas já
sabem quem vão ver - as empresas portuguesas validam
todas estas reuniões antes de se deslocarem ao mercado.
É um trabalho que demora mês ou mês e meio a preparar,
a juntar contactos, a empresa portuguesa valida e depois
inicia-se o processo de marcação das reuniões”.
Uma missão empresarial internacional pode durar entre
cinco e sete dias. No total, os custos de cada missão podem
rondar entre os três e os quatro mil euros, incluindo
as deslocações ao país de destino, alojamento, seguro
e agendamento de reuniões. O responsável revela que a
CCIP vai ainda lançar a quarta edição do Barómetro para
a Internacionalização, um inquérito realizado a mais de
750 indústrias portuguesas que resume o “estado da
arte das empresas sobre a internacionalização, as suas
perspetivas para o futuro e sobre o impacto que teve a
pandemia em 2020”.
Antecipando os resultados do inquérito, Pedro Magalhães
afirma que, em 2020, o setor da metalomecânica
foi o maior exportador a nível nacional, seguindo-se a
indústria alimentar que, embora seja um setor sem índices
elevados de exportação, tem vindo a aumentar o
seu volume de negócios. Em terceiro lugar surge o setor
dos vinhos, cujo consumo aumentou exponencialmente
durante o período de confinamento, e o setor das tecnologias
da informação. Por último surgem as empresas da
área farmacêutica, têxtil e calçado, turismo, restauração
e hotelaria, que sofreram reduções ao longo de 2020.
13
r
INTERNACIONAL
SALSA: DE VILA NOVA
DE FAMALICÃO PARA O MUNDO
Sofia Neves
Salsa
A marca portuguesa Salsa nasceu em 1994, em Vila Nova de Famalicão. Ao longo destes 26 anos, tem vindo a
crescer, tendo iniciado o seu processo de internacionalização em 2002, caminhada essa que deu a conhecer à
PME Magazine.
A Salsa pretende ser, segundo o responsável, “a marca
de jeans que melhor veste no mundo, atenta às tendências,
com a inovação e a tecnologia ao serviço da qualidade
e do fit do produto final”. É vontade da marca, adianta
Hugo Martins, que “o jeanswear seja mais o estilo de vida,
a forma de estar, do que apenas a peça de roupa que
escolhemos vestir” e que os clientes, que são “a principal
força motora de tudo”, sintam, por isso, a autenticidade,
a paixão e o trabalho manual detalhado que definem esta
empresa portuguesa e os seus produtos.
LÁ FORA DESDE 2002
Atualmente, a Salsa tem 100 lojas físicas, 57 das
quais em Portugal e as restantes em Espanha, França
e Luxemburgo. No entanto, a sua presença internacional
conta com mais de 30 países na lista, com lojas franchisadas,
lojas multimarca, department stores, e ainda com
uma loja online e com marketplaces.
“A internacionalização foi um passo natural para a Salsa”,
confessa.
Espanha foi o primeiro mercado internacional da Salsa
A Salsa, que começou por ser uma pequena lavandaria
em Vila Nova de Famalicão, existe em Portugal desde
1994. Dedicada à venda de jeans, esta empresa é “uma
marca ícone do jeanswear nacional e internacional”,
segundo revela Hugo Martins, chief digital officer
da marca.
A empresa, que não perdeu os traços que a definem
desde o primeiro dia, é marcada por vários fatores:
“O profundo conhecimento da indústria têxtil, muito forte
na zona, a busca constante pelo desenvolvimento de um
produto único, usando a tecnologia da melhor forma,
sempre em prol do cliente, e a paixão pelo detalhe, que
até hoje confere aos jeans Salsa o je ne sais quoi que os
torna indubitavelmente especiais”.
14
Depois de a marca ter a presença e a notoriedade consolidadas
em Portugal, começou o processo de internacionalização,
com entrada no mercado espanhol, em
2002, “pela lógica de proximidade – não só geográfica,
mas também cultural”. Os mercados que se seguiram,
por serem locais onde a empresa via o seu produto ser
uma necessidade, para um público disponível e onde o
risco fosse ponderado, “porque o processo de levar uma
marca além-fronteiras é complexo e implica um comprometimento
a médio-longo prazo”.
Hugo Martins explica que quando a Salsa entra em novos
mercados, que são estudados e analisados previamente,
as equipas devem ter um equilíbrio entre aquilo que é a
marca e o seu expertise e os novos locais, “pelo entendimento
e sensibilidade para um conjunto de questões
que, à primeira vista, podem não ser sequer questões
para as equipas que desenvolvem produto, conteúdos e
materiais a muitos quilómetros de distância”.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
A Salsa é uma marca ícone do jeanswear nacional e internacional
“O que procuramos é aportar valor ao nosso parceiro, não
só através do produto, que por si só já é uma mais-valia,
mas também através das condições que lhe oferecemos
- suporte, comunicação, acompanhamento - é um processo
360°”, reforça.
Hugo Martins é chief digital officer na Salsa
Muitas vezes, os parceiros locais são um fator fulcral no
processo de internacionalização, pois “têm um grande
know how sobre o setor naquela zona”, adianta, e são os
olhos e ouvidos da marca, bem como quem permite uma
adaptação constante. Apresenta como exemplo as lojas
no Médio Oriente, em que “há uma diferença cultural
enorme e uma necessidade de adaptação, planeamento
e reação mais evidente”.
Hugo Martins explica: “Neste caso em particular, e porque
falamos de lojas franchisadas, contamos com parceiros
locais que têm um grande know how sobre o setor naquela
zona e que são os nossos olhos e ouvidos, permitindo-nos
essa adaptação constante”. Além disso, várias
equipas visitam recorrentemente as lojas, para formar
colaboradores e receber feedback, de forma a perceber
o que pode ser melhorado.
A comunicação, que “é um fator fulcral na sua generalidade”,
é crucial também na internacionalização, sendo
necessário um cuidado especial para alcançar eficazmente
o público.
Não é possível replicar o que é feito em Portugal, sendo
necessário “rever, ajustar e pensar naquele mercado em
particular, nas suas especificidades”, esclarece Hugo
Martins, acrescentando que é necessária disponibilidade
“para perceber qual o desafio que está do outro lado”.
UM FUTURO OTIMISTA
Atualmente, a Salsa continua a avaliar e a estudar a entrada
noutros mercados, e está a testar dois novos modelos
de expansão em mercados europeus.
“Agora, e cada vez mais, tentamos
também chegar a novos clientes,
dar-lhes a conhecer o nosso
produto e convidá-los a visitar
uma das nossas lojas – física
ou online - e a experimentar”, diz.
Olhando para o futuro, Hugo Martins refere: “Tendo
em conta a forma como 2020 se tem vindo a desenrolar
e todos os ensinamentos que fomos recolhendo ao longo
do caminho, diria que o futuro é otimista”.
Tendo como objetivo “ser o player líder no denimwear
europeu”, a Salsa prevê que 2021 seja um ano de bom
crescimento, partindo de um patamar de penetração das
vendas online muito mais elevado do que o esperado
no início de 2020, ano que “definiu o momento em que
as lojas digitais atingiram um nível de maturidade e de
confiança por parte dos consumidores que lhes permite
ser, daqui em diante, uma opção válida no processo de
compra de muito mais consumidores”, conclui.
15
r
INTERNACIONAL
“É IMPORTANTE COMPREENDER O IMPACTO
DESTA SEGUNDA VAGA”
Ana Rita Justo
Hilti Portugal
Francesco Bandini
A Hilti Portugal é uma das filiais do grupo Hilti, neste momento mais focada no desenvolvimento
de talentos para serem potenciados noutras geografias onde a multinacional atua. Diretor-geral desde
janeiro de 2019, o italiano Francesco Bandini falou à PME Magazine sobre os desafios do mercado
português e da adaptação aos tempos de pandemia e da decisão de não recorrer ao lay-off em prol
bem-estar dos colaboradores.
Hilti Portugal é uma empresa que tem todas as funções:
desde engenharia, a vendas, marketing, a parte digital,
os canais de apoio ao cliente e a nossa rede de lojas para
profissionais em todo o país. A estrutura é idêntica à de
uma empresa com cinco mil pessoas noutro país, a única
coisa que não temos é a parte de reparação e logística.
Hilti Portugal não cessou atividade durante a pandemia
PME Magazine – Que peso tem a operação em Portugal
dentro do grupo Hilti e qual o posicionamento estratégico
no mercado português?
Francesco Bandini – A operação portuguesa é muito
importante para o grupo Hilti, pelo papel que temos de
desenvolvimento de talentos pelo grupo. Ainda que a
operação portuguesa seja uma parte pequena de uma
multinacional como a Hilti, nos últimos 15 anos, a Hilti
Portugal encontrou este papel que é reconhecido em
todo o grupo de um lugar onde podemos desenvolver
talentos portugueses para funções globais em diferentes
partes do mundo. Neste momento, temos nove pessoas
em funções muito elevadas, executivos na nossa sede
central no Liechtenstein, na América Latina, no Reino
Unido e na África do Sul. Se tiver de dizer qual é o papel
mais visível dentro do grupo Hilti da Hilti Portugal é este.
Em termos de faturação, representamos menos de 5%.
PME Mag. – Quantos trabalhadores têm?
F. B. – Temos 105. Esta é uma empresa completa, a única
coisa que não temos, em comparação com uma organização
maior, como a Hilti Itália, é a parte de logística e
reparações, que partilhamos com Espanha. De resto, a
16
PME Mag. – A operação no mercado português é mais
vincada no Norte do que no resto do país?
F. B. – A empresa nasceu e tem sede no Porto, é onde,
até há cinco, seis anos, a maioria das grandes empresas
da construção estavam. Já há alguns anos que estamos
a tentar balançar esta presença mais para Lisboa. Em
termos de faturação, no geral, o Norte representa mais
5% do que o Sul, porque, nos últimos anos, Lisboa e o
Algarve tiveram muitas obras relevantes. Se há 15 anos
o Norte representava 70% faturação da empresa agora é
no mínimo 55% no Norte e 45% no Sul.
PME Mag. – Como vê o mercado português atualmente?
F. B. – É uma pergunta à qual é um pouco difícil de responder.
Hoje, posso dar uma resposta e em duas semanas
esta resposta pode ser completamente diferente.
Trata-se de um mercado muito dinâmico, porque está
ligado a uma pandemia, por isso temos fatores externos,
aquilo que são as dinâmicas do setor da construção,
do nosso mercado, dos nossos clientes, que são muito
disruptivas, não se podem controlar e têm um impacto
semana após semana, como por exemplo as últimas
medidas [do Governo]*. Seguramente, na primeira parte
de 2020, considerando as dinâmicas económicas de
Portugal, o setor da construção foi um dos que conseguiu
continuar a trabalhar, especialmente em comparação
com setores como o do turismo e aviação. Continuámos
a trabalhar. Agora, é importante compreender qual vai
ser o impacto desta segunda vaga, porque muitas das
medidas que o Estado implementou e que cada empresa
implementou para ajudar à liquidez, para manter a qualidade
do trabalho, temos de compreender durante quanto
mais tempo serão precisas – quanto tempo é que esta
segunda vaga vai durar e qual a duração do seu impacto.
Os próximos dois a três meses serão muito importantes
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
nas nossas pessoas. As plataformas digitais tornaram-se
numa ferramenta diária para todos. Fazemos formação
remota e reuniões com clientes, tudo para também servir
o nosso papel social de reduzir o contágio, porque temos
o dever de ser uma parte responsável da sociedade, enquanto
empresa. Portanto, tentámos ao máximo reduzir
estas situações de contágio e continuar a fazer o nosso
trabalho. Em agosto, voltámos em turnos para a sede,
mas com as últimas medidas do Governo tivemos de
voltar a mandar as pessoas para casa. Vai ter, mais uma
vez, um impacto emocional muito grande, agora que
estávamos a recriar um pouco este sentido de unidade,
mas são as regras e nós cumprimos.
Francesco Bandini,
diretor-geral
da Hilti Portugal
para responder sobre como será 2021. A nossa estratégia
ajuda-nos. Temos a estratégia muito bem focada nos
clientes com maior potencial, em criar fortes parcerias
com clientes relevantes. Pensamos que isto vai dar-nos
uma ajuda com a concorrência e com o nosso mercado.
Nos próximos meses, o mercado vai ser extremamente
dinâmico e a dinâmica desta segunda vaga vai determinar
se vamos voltar a níveis pré-crise ou se estamos a
começar uma crise.
PME Mag. – Como foi a adaptação à pandemia? Recorreram
ao lay-off?
F. B. – Adaptámo-nos tendo como muito claras as nossas
prioridades, especialmente, numa altura como esta, em
pandemia, é importante termos claros os pilares da nossa
estratégia. O primeiro ponto para nós são as pessoas. O
nosso primeiro reajuste foi assegurar a saúde das nossas
pessoas, porque fazemos um trabalho de contacto com
os nossos clientes – e a saúde dos nossos parceiros.
Tivemos de reajustar a forma de trabalhar para garantir
que vamos continuar a fazer o nosso negócio, mantendo
este altíssimo nível de saúde. Até agora, a Hilti Portugal
não teve nenhuma pessoa que testasse positivo à Covid-19.
Também o trabalho nas obras sempre continuou.
Tivemos de definir as nossas prioridades e por isso decidimos
também não aplicar o lay-off, porque o impacto
nas pessoas, do ponto de vista financeiro, era demasiado
alto. Somos uma empresa pequena do mundo Hilti e, até
por isso, o conceito de equipa, de unidade, de estarmos
juntos aqui ainda é mais importante. E o maior impacto
que tivemos, na minha opinião, e que se traduz também
no negócio, é que a força desta pequena e média empresa
é verdadeiramente a relação que temos entre nós.
E, tendo todos de ir trabalhar para casa, claramente esta
parte foi completamente perdida. A grande diferença que
temos da concorrência, além da tecnologia, sem dúvida,
é esta equipa, unida e forte, como aparece no mercado
em Portugal. Com a quebra de faturação, decidindo não
aplicar o lay-off, precisámos de ajustar os restantes
custos indiretos que normalmente temos e tivemos de
cortar atividades que normalmente faziam parte da nossa
empresa, porque não queríamos um impacto económico
PME Mag. – Que quebra na faturação tiveram em
2020?
F. B. – Obviamente, sem recorrermos ao lay-off, tivemos
meses com quebras de 35%. Contudo, sou uma pessoa
muito positiva e estamos a fazer um ótimo trabalho, fizemos
também investimentos digitais que vão ajudar-nos
nesta altura mais complexa. A minha esperança é de
fecharmos o ano no positivo.
PME Mag. – Estão a pensar expandir a operação?
F. B. – A nossa prioridade neste momento é não despedir
ninguém. Este é o plano para 2021, por isso não
estou confiante em fazermos investimentos adicionais.
É preciso compreender com mais calma e começar a ver
dinâmicas mais contínuas, porque tudo muda a cada
mês. E antes de fazermos investimentos adicionais, faz
sentido esperar pelo fim do primeiro trimestre. Contudo,
conseguir passar uma crise como esta, que do ponto de
vista económico é uma das piores dos últimos 40 anos,
sem despedimentos já foi seguramente um ótimo resultado.
Acho que, para quem está a gerir uma empresa, os
primeiros sete meses do ano foram muito difíceis, não
foi só na Hilti Portugal. Agora temos o capítulo número
dois e psicologicamente esta vai ser uma fase ainda mais
difícil, não só para nós, gestores, como para as nossas
pessoas. Precisamos de utilizar todas as nossas energias,
porque esta segunda vaga vai ser ainda mais pesada para
as pessoas. A batalha não acabou, só acabou a primeira
e agora está a começar a segunda.
PME Mag. – Como tem sido a sua experiência no mercado
português?
F. B. – Adoro Portugal e adoro os portugueses. Claramente,
a pandemia da Covid-19 mudou um pouco
[a experiência], mas estou muito feliz, do ponto de vista
pessoal e profissional, cá. É um mercado muito interessante
e a Hilti Portugal tem muitos talentos e tem muito
este sentido de equipa, de coração, que é muito forte. É
uma experiência e uma oportunidade incrível. Trabalhei
em África, na América Latina, na Ásia e também em diferentes
países da Europa. Somos todos muito diferentes,
mas se há país semelhante a Itália é Portugal, sem
dúvida, muito mais até do que Espanha, por isso foi uma
transição muito fácil.
* A entrevista foi realizada em novembro de 2020.
17
r
INTERNACIONAL
PORTUGAL EXPORTADOR ADERE AO DIGITAL
Mafalda Marques
Fundação AIP
Numa versão 100% digital (em virtude da situação pandémica no país), a 15.ª edição do Portugal Exportador
contou com mais de 1400 participantes e manteve a toada de ser uma plataforma que ajuda milhares
de empresas e empresários a chegar a novos mercados e a iniciar os seus processos de exportação.
Em modo diferente, para os mesmos objetivos.
com a presença do comendador Jorge Rocha de Matos,
presidente da Fundação AIP, António Ramalho, presidente
do Novo Banco, João Dias, administrador da AICEP
Portugal Global e ainda de Augusto Santos Silva, ministro
de Estado e dos Negócios Estrangeiros, destacou-se a
importância de um evento como o Portugal Exportador
numa altura em que também o setor das exportações
enfrenta sérios problemas, devido à crise pandémica.
Portugal exportador migrou para o digital devido à pandemia
Com nove workshops, nove cafés temáticos, oito
web-buyers e 12 embaixadas disponíveis para reunião
B2B, 85 oradores nacionais e internacionais, o Portugal
Exportador 2020 atingiu números que demonstram o sucesso
desta iniciativa. O evento contabilizou, num único
dia, no passado mês de novembro, 1.425 participantes
nas diversas sessões online, num total de 500 reuniões
entre eles e 3.748 trocas de mensagens, o que revela o
nível de interação e a possibilidade de negócios efetiva
que poderá ter nascido no seio do evento. Participaram
ativamente empresas dos mais variados setores, com
destaque para os setores dos transportes e logística, alimentar,
turismo, banca e seguros. Na sessão de abertura,
18
No atual contexto atípico, que forçou a transição de um
evento híbrido para um evento 100% digital, como referiu
o presidente da Fundação AIP, Jorge Rocha de Matos,
“o Portugal Exportador tem apoiado e motivado as
empresas que estão a iniciar os seus processos e também
aquelas que pretendem aprofundar e diversificar
mercados”, tudo isto num só dia e, como acentuou,
“este ano, em qualquer lugar do globo”.
Com a introdução da app FIL – Smart Events, que oferece
a oportunidade de expositores, oradores e participantes
de “acederem a uma plataforma de produtos e serviços
e identificarem potenciais parceiros”, entre outras funcionalidades,
as empresas participantes tiveram a possibilidade
de interagirem, aumentando as suas redes de
contactos e concretizarem negócios não só no decorrer
do evento, mas fora dele, dado que a plataforma irá manter-se
ativa, disponibilizando também em live streaming
os diversos conteúdos dos workshops e cafés temáticos.
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AMBIENTE
POUPAR O PLANETA: O PAPEL DAS EMPRESAS
Sofia Neves
EGF
A EGF e as suas concessionárias, que tratam o lixo em Portugal, lançaram a iniciativa “O Futuro não é
reciclável”, a maior campanha de sensibilização ambiental de sempre em Portugal. Tendo como mote a
campanha, são dadas a conhecer algumas ações simples que permitem às empresas poupar o planeta.
A EGF foi a responsável pela iniciativa “O Futuro não é
reciclável”, que teve início no dia 7 de outubro e término
a 30 de novembro. Aquela que foi a maior campanha de
sensibilização ambiental alguma vez feita em Portugal
serviu como apelo à prevenção, à reutilização e à reciclagem
e surgiu de uma candidatura por parte da EGF
e das suas 11 concessionárias a fundos europeus, que
cofinanciaram em 85% o investimento de 1.061.732 euros.
A iniciativa traduziu-se em várias ações realizadas ao
longo dos quase dois meses, que procuraram, por um
lado, alcançar aqueles que já se encontravam sensibilizados,
de forma a serem embaixadores da causa, e,
acima de tudo, aqueles que se encontravam indiferentes
ou se preocupavam pouco com a reciclagem.
Ana Loureiro, diretora de comunicação da EGF e responsável
pela iniciativa, apresentou as várias ações com que
contaram, começando por falar do anúncio televisivo, que
teve como realizador Rúben Alves, realizador do filme “A
gaiola dourada”, o que permitiu dar “toda uma questão
mais cinéfila” ao anúncio. O anúncio “muito cinematográfico”
contou com a participação dos colaboradores, que,
além de serem atores no filme, realizaram depois vídeos
de esclarecimento de dúvidas aos cidadãos.
A iniciativa foi ainda abordada em vários meios e em
diferentes programas com grande audiência, e contou
com a atriz Ana Varela, o humorista António Raminhos e
o cantor Toy como embaixadores da causa. O artista português
Xico Gaivota, por sua vez, participou na iniciativa,
criando uma obra de arte através de materiais recicláveis
recolhidos em algumas praias.
Além disso, a causa contou com a parceria dos 174 municípios
que são servidos pela EGF, o que representa cerca
de 60% do país, que assentava na divulgação da iniciativa
nos mupis das paragens de autocarro, nos suportes
digitais e nos websites.
Tendo em atenção as questões da inclusão, e apesar
de ser necessária humildade, por não ser possível “ir
a todo o lado”, a responsável destacou algumas ações
inclusivas promovidas, como o áudio de descrição do
anúncio, a legendagem de todos os filmes e a ordenação
dos ecopontos.
20
Ana Loureiro, responsável pela iniciativa “O Futuro do planeta não é reciclável”
“Portanto, garantir aqui algumas iniciativas que também
cheguem às pessoas com algumas limitações e tentarmos
ser o mais abrangentes possível”, esclareceu. Em
resposta à campanha, surgiram dúvidas e reclamações
através de todas as vias, como mensagens, e-mails,
contactos pessoais e telefónicos.
“Normalmente, digo que os resultados são bons quando
temos muitas pessoas a contactarem-nos”, afirma a
responsável. No entanto, e apesar de ser notável que a
campanha permitiu alcançar as pessoas, a responsável
salienta que só mais tarde será possível “ver o que é
que isso vai dar em termos de resultados em toneladas
e perceber se de facto as pessoas estão sensibilizadas
para reciclar mais”.
COMO PODEM AS EMPRESAS POUPAR
O PLANETA?
Quando questionada sobre aquilo que as empresas podem
fazer para serem mais sustentáveis, Ana Loureiro
começa por afirmar que “é uma questão de atitude”, dando
alguns exemplos de pequenos gestos que podem ser
realizados pelas empresas, de forma a ajudar o ambiente.
“Há o caso dos copos de café, que é muito polémico: a
maior parte dos copos de cartão que as pessoas estão
a utilizar para beber o café nas empresas não são recicláveis”,
começa por exemplificar. Considerando que a
melhor atitude é ter chávenas para beber café, esclarece
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
EGF atua no tratamento e valorização de resíduos em Portugal
A EGF recolhe anualmente cerca de 3,3 milhões de toneladas
de resíduos urbanos
depois que “entre o plástico e o papel, mais vale o plástico,
porque a maior parte dos copos de café que são em
papel estão envernizados e têm uma película plástica”.
Assim, os copos de café em papel tornam-se impossíveis
de reciclar. Outro exemplo é o das águas: “Quantas
empresas não têm montões de garrafas de plástico que
usam nas reuniões?”.
Algumas soluções que apresenta passam pela utilização
de aparelhos que filtram a água, apesar de admitir que
pode haver quem não aprecie o sabor da água, pela utilização
de garrafões, que podem ser reutilizados, pelo
uso de jarros, ou pelo uso da água da torneira, que é “em
A EGF é uma empresa europeia do setor ambiental
e líder no tratamento e na valorização de
resíduos em Portugal. A empresa é responsável
pelo tratamento e pela valorização de resíduos,
através de 11 empresas concessionárias, que,
anualmente, processam cerca de 3,3 milhões de
toneladas de resíduos urbanos.
todo o lado uma água de qualidade”. “Portanto, poupam
dinheiro e também poupam o ambiente”, esclarece Ana
Loureiro, acrescentando que aquilo que parecem ações
básicas podem fazer toda a diferença. Finalmente, a
reciclagem tem um papel crucial. “Reciclar todas as embalagens
usadas é uma das muitas coisas que se pode
fazer – esta é simples, é fácil, é só, em vez de colocarmos
no lixo comum, colocarmos todas as coisas no ecoponto
certo”, afirma a responsável, acrescentando a importância
de prevenção de resíduos.
As pequenas e médias empresas “são aquelas que realmente
utilizam o contentor e são cidadãos como os outros”.
“Nós temos um slogan que diz: ‘Temos que reciclar
tudo, sempre e em todo o lado’”, explica a responsável,
que afirma que “também na empresa devem utilizar os
ecopontos da forma correta tal como qualquer cidadão”.
Por outro lado, no caso de grandes empresas, que têm
uma legislação própria, “se eles fizerem uma boa avaliação
dos resíduos que produzem, muito provavelmente
também poupam dinheiro com isso”.
A responsável explica que “as empresas que têm contratos
e que utilizam os serviços privados de recolha,
muitas delas não têm esses contratos adaptados para
a reciclagem”, pelo que quem realiza a recolha do lixo
“põe tudo à mistura”. No entanto, é possível ter benefícios
quando praticada a reciclagem por parte das empresas,
sendo possível, inclusive, receber dinheiro por isso.
“Eles têm mesmo é de rever os contratos que têm para
garantir que não só poupam dinheiro, mas que também
estão a ajudar o ambiente”, conclui a responsável.
21
q
RH
RECRUTAMENTO TECNOLÓGICO: DESAFIOS
E TENDÊNCIAS PARA O FUTURO
Filipe Lacerda, CEO da Human IT
D. R.
O mundo do recrutamento tecnológico assume-se, cada
vez mais, como uma área de grande impacto nas organizações.
Apesar da crise económica causada pela
pandemia da Covid-19, existem alguns setores que
contrariam a tendência de downsizing e que continuam
a crescer e a contratar mão-de-obra em larga escala.
É o caso do recrutamento de profissionais das áreas
tecnológicas. De acordo com as previsões da consultora
norte-americana International Data Corporation (IDC), o
emprego em setores tecnológicos irá manter uma taxa de
crescimento durante o período compreendido entre 2019
e 2023. Estamos a referir valores a rondar os 62 milhões
de empregos no último ano, o que equivale a uma taxa
de crescimento anual de 3,8%.
É um facto, Portugal está na moda. Os últimos anos
têm provado que somos cada vez mais procurados por
tecnológicas internacionais, não só devido à nossa qualidade
enquanto profissionais, como também devido às
excelentes soft skills que nos vêm definindo ao longo do
tempo. Portugal prima pelo seu know-how técnico, pela
inequívoca capacidade linguística em idiomas estrangeiros,
pela proximidade cultural, pela eventual proximidade
geográfica e pelos custos laborais competitivos.
Se tentarmos analisar mais detalhadamente o mercado
em questão, apercebemo-nos de que o mundo do recrutamento
tecnológico apresenta já necessidades que
se sobrepõem à mão-de-obra existente. É algo que, há
uns anos, seria impensável.
Vejamos: esta curva exponencial pode-se explicar por
vários fatores. Portugal tem vindo a apostar, nos últimos
anos, em políticas macroeconómicas no que toca
à atração de empresas internacionais e de centros de
Investigação e desenvolvimento. É, indiscutivelmente,
algo positivo e é muito importante enaltecer o salto que
demos nos últimos anos. Não obstante, é precisamente
neste momento que temos de fazer uma escolha: queremos
continuar no mercado e lutar por custos laborais
atrativos, havendo um grande risco de deslocalização
quando surgir um país mais barato? Ou aspiramos a
assumir uma estratégia de competir por valor, adotando
alguma resiliência às modas dos custos laborais competitivos?
O mundo é, cada vez mais, tecnológico e,
este momento, assume ainda mais importância. Quando
22
Filipe Lacerda, CEO da Human IT
olhamos em frente, para o futuro, vemos um universo
ainda mais tecnológico do que aquele em que vivemos
nos dias de hoje.
Portugal é um país com uma área de 92.212 quilómetros
quadrados e uma população atual de 10,3 milhões de
habitantes. Somos um país relativamente pequeno comparando
com o resto da Europa. Desse modo, se estamos
já num patamar em que a curva de procura é maior do que
a curva de oferta no que toca à procura de profissionais
de IT, é fulcral começarmos a adotar novas estratégias,
de forma a compensar esta disparidade.
Segundo a Comissão Europeia, em 2020, estima-se que
cerca de 15 mil vagas fiquem por preencher, caso não
sejam adotadas as políticas necessárias para inverter a
situação. O setor privado tem tentado compensar esta diferença
que existe no mercado, através do recrutamento
de profissionais na América do Sul ou na Europa de Leste.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE),
passou para um total de 120 mil trabalhadores. O número
de tecnológicas americanas a recrutar remotamente em
Portugal tem aumentado dia após dia.
No entanto, trata-se de uma estratégia que apenas será
viável a curto prazo e que acabará por ter duas consequências
distintas: por um lado, e de forma positiva, a
diferença na curva de oferta e procura será compensada,
o que conduz a um equilíbrio saudável no mercado. Em
contrapartida, os desempregados e os profissionais que
estão em áreas pouco procuradas continuam estagnados
e em patamares abaixo do resto do mercado.
Devemos adotar uma estratégia macroeconómica com
uma aposta forte no âmbito da educação. É importante
migrar profissionais de áreas com poucas saídas profissionais
para o setor da tecnologia, onde a necessidade
é exponencial. Com o crescimento contante deste ramo,
ano após ano, esta necessidade tornar-se-á ainda mais
evidente.
O mundo do recrutamento tecnológico enfrentará vários
desafios e novas tendências nos próximos anos. Recrutar
os melhores talentos implica ser-se mais rápido, mais
eficiente, mais digital e ter um grande foco na experiência
do candidato. Existem áreas muito especializadas onde a
dificuldade aumenta progressivamente, como é o caso
dos senior software architects, funções relacionadas
com security, outsystems developers, data scientists,
product leads, entre outras.
A análise deste mercado leva-nos a concluir
que mais de 90% destes profissionais
possuem contratos sem termo.
Como são escassos, estes profissionais
exigem salários acima da média.
Voltando ao ponto da estratégia macroeconómica
adotada, a cada tecnológica
e multinacional que se instalar
no nosso país, o patamar salarial médio
subirá em consequência. O que nos leva
a concluir que os maiores prejudicados
serão as pequenas e médias empresas
com origem portuguesa que, para serem
competitivas, terão de pagar valores provavelmente
incomportáveis.
É impossível não abordar o tema do teletrabalho
nos dias em que vivemos atualmente.
O mundo do trabalho remoto existia antes da
pandemia nos bater à porta. Porém, ganhou
uma nova dimensão nos últimos meses, essencialmente
devido à necessidade urgente
de o implementar, muitas vezes em tempo recorde.
Em Portugal, o número de pessoas que
trabalham a partir de casa duplicou nos últimos
quatro anos. No final do ano passado, de acordo
O interior do país tem, aqui, uma oportunidade única! As
zonas do país que sofreram uma quebra evidente na sua
densidade populacional podem ver no trabalho remoto
uma possibilidade para atrair pessoas para a região.
Porque não apostar em cidades remote friendly? Se analisarmos
um pouco o nosso fluxo migratório interno, as
pessoas do interior do país sempre procuraram o litoral
em busca de novas oportunidades e de melhores condições
de vida. Todavia, neste momento, com o aumento
do custo de vida nas grandes cidades, mais profissionais
tendem a voltar para o interior, onde conseguem trabalhar
remotamente e com custos de vida bem mais baixos.
A retenção do talento assume cada vez mais importância
no planeta. É indubitável que existe uma enorme facilidade
em mudar de emprego no setor tecnológico e uma
enorme dificuldade em contratar profissionais de IT.
Neste sentido, é crucial haver maior foco nas políticas de
retenção do talento por parte das empresas, que deverão
adaptar-se às novas preferências laborais por parte
das gerações que estão a emergir. Desde trabalhar em
escritórios modernos e tecnológicos a trabalhar com culturas
assentes em liberdade e autonomia, salientando a
importância das políticas
de trabalho remoto.
Neste contexto, repleto
de incertezas e complexidade,
prevê-se que os
próximos anos serão muito
desafiantes para as organizações,
no que diz respeito
à contratação de talento
tecnológico. As empresas
necessitam de reformular
as suas estratégias de recrutamento,
as suas condições
laborais e até mesmo os seus processos
de trabalho.
23
BI
q
Maria Inês Jorge
Divulgação
João Range nomeado diretor-geral
da MELOM
A MELOM, líder em remodelação de imóveis em Portugal, elegeu
João Range como novo diretor-geral. O responsável iniciou
funções na área da gestão da rede franqueada no sul do país,
passando pela coordenação regional sul das operações e, mais
tarde, pela direção operacional a nível nacional.
“Somos a marca mais forte do mercado neste setor, construída
em bases muito sólidas, pelo que o desafio de superação é gigantesco,
mas a vontade é ainda maior”, afirma João Range. Com
um profundo conhecimento do negócio, o novo diretor vai agora
dar continuidade ao setor das obras em casa, com um conceito
pioneiro no país.
João Range vai dirigir os destinos da marca em Portugal
Katharina Rath
é a nova chefe
de RH da DB Schenker
Sílvia Gonçalves lidera
desenvolvimento
de pessoas na INCM
Boyden nomeia novo
head of leadership
consulting
O Conselho Fiscal da Schenker AG
elegeu a especialista em RH para o
conselho de administração de recursos
humanos da DB Schenker, empresa
líder em gestão e logística da
cadeia de abastecimento. Katharina
Rath detém uma vasta experiência
internacional na gestão dos recursos
humanos, tendo ocupado variados
cargos na Continental Automotive
Technologies durante quase 20 anos.
24
Com o olhar sempre posto na inovação,
onde as pessoas têm um papel
cada vez mais ativo, a Imprensa
Nacional - Casa da Moeda (INCM)
escolheu Sílvia Gonçalves para nova
diretora de desenvolvimento de pessoas.
A responsável vai ficar à frente
do desenvolvimento de competências
e gestão de talento, das relações
laborais e payroll, e ainda de um subsistema
de saúde próprio da INCM.
A Boyden Portugal, empresa global
de referência em consultoria de
liderança, com atividade em cerca
de 40 países, elegeu João Guedes
Vaz como líder mundial dos serviços
de leadership consulting. Especialista
em liderança e transformação
organizacional, o responsável inicia
funções com o objetivo de expandir
o sucesso do negócio dos clientes da
Boyden por todo o mundo.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Ana Paula Sardinha
é a nova country manager
da CHEP Portugal
A CHEP, empresa de soluções logísticas
para a cadeia de abastecimento,
passa a contar com Ana Paula Sardinha
no cargo de country manager em
Portugal. Com mais de 20 anos de experiência
no mercado de bens de consumo,
e membro da CHEP desde 1997,
a anterior líder das equipas comercial e
de retalho da empresa vai agora ficar à
frente das operações da CHEP a nível
nacional.
Nuno Mendonça
lidera Audi
em Portugal
Após 20 anos de experiência no setor
automóvel, Nuno Mendonça ingressa
na SIVA, empresa representante de diversas
marcas em Portugal, para ocupar
o cargo de diretor-geral da Audi no país.
Depois de quatro anos como diretor
de vendas e marketing da Mercedes-
-Benz, o novo responsável da Audi vem
agora reforçar a posição competitiva da
marca alemã no mercado português, ao
dinamizar a rede de concessionários.
Mateo Lecocq
à frente da Avon
no mercado ibérico
A multinacional de produtos de beleza
e cuidados pessoais seleccionou
o especialista em marketing Mateo
Lecocq como novo general manager
para Portugal e Espanha. Com a mudança
de estratégia da empresa, resultado
da sua aquisição por parte da
Natura&Co, o responsável irá trabalhar
em prol da digitalização da Avon, tornando-a
mais competitiva e alinhada
com as necessidades dos clientes.
25
a
FIGURA DE DESTAQUE
Vanda
Jesus
de
26
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Ana Rita Justo
João Filipe Aguiar
Vanda de Jesus é a cara do Portugal Digital, programa lançado pelo Governo para ser o motor de transformação
do país. Em entrevista à PME Magazine, a diretora executiva traça um balanço do Plano de Ação para a Transição
Digital e do que esperar desta missão, nomeadamente junto das empresas e da capacitação de pessoas.
“
SOMOS
UM TESTBED
DA EUROPA
E TEMOS
DE APROVEITAR
ISSO
PME Magazine – Que balanço faz do Plano de Ação
para a Transição Digital até agora?
Vanda de Jesus – O balanço é, para já, superpositivo,
apesar dos tempos em que vivemos. O Plano de Ação
para a Transição Digital foi apresentado publicamente,
dia 5 de março, e foi aprovado depois em abril. Eu assumi
as funções da estrutura de missão do Portugal Digital
em junho. Portanto, neste momento, acabei por estar
a montar também a equipa e temos estado a trabalhar
na execução daquilo que é o plano e que temos aqui em
background que tem três pilares: focado nas pessoas,
nas empresas e no Estado. Ou seja, a nossa grande
preocupação – e, por isso, o pilar um não é pilar um por
acaso – centrar a aposta na capacitação e no preparar
as pessoas para aquilo que é a nova era digital é absolutamente
crítico. Sentimos, e aliás um dos números mais
importantes que temos mencionado e que me preocupa
bastante e que foi uma das minhas motivações para vir
para esta missão, é que 22% da nossa população não
tem acesso à internet e, portanto, não está incluída
digitalmente. Estes números já baixaram para
19% com a pandemia, mas estamos a falar de
que todas estas pessoas, normalmente com
mais de 45 anos, não têm a possibilidade,
primeiro, de terem uma vida social hoje em
dia, que tão dependente está do digital, mas
também um trabalho, empregabilidade na área do digital
com as transformações que vamos ter no mercado de trabalho.
No que diz respeito ao pilar um, temos um conjunto
de medidas que acompanham o ciclo de aprendizagem
ao longo da vida em que acreditamos fortemente: desde a
escola, com o projeto “Escola digital”, ao projeto “Jovem
mais digital”, de repensar as ofertas formativas na área
digital; o projeto “Upskill”, que começou a formar 450
profissionais altamente qualificados numa parceria única
entre empresas, politécnicos e o próprio IEFP, que está a
apoiar a iniciativa. Estamos a fazer um programa de nove
meses, em que durante seis meses os profissionais estão
em formação num dos politécnicos ou no ISCTE, no caso
de Lisboa, e depois nos últimos três meses vão para as
empresas – on the job – e as empresas comprometeram-
-se a fazer o recrutamento destas pessoas, em março, e o
salário acordado para recrutamento à saída que são 1200
euros. Isto foi um projeto, de facto, muito interessante
porque trouxe público, privado, as várias entidades e
que já está em curso neste momento, com cerca de 450
pessoas. Estamos agora a preparar um projeto que vai
mitigar aquele primeiro problema, o “Eu sou digital”, que
é então para a inclusão de cerca de um milhão de adultos,
normalmente com mais de 45 anos, que estão infoexcluídos,
digitalmente, e o trabalho aí é fazer em todo o
país através de um grupo de 30 mil voluntários, durante
três anos, 1500 centros distribuídos pelo país para chegarmos
a este um milhão de pessoas. Isto é aquilo que
estamos a fazer ao nível da capacitação. Temos também
uma parte muito importante – e que liga muito também
ao tema das pequenas e médias empresas – que é o
“Emprego mais digital”, para população ativa e para trabalhar
a empregabilidade futura. Um estudo da CIP com
a McKinsey referiu o impacto que
vai ter a automatização da força
de trabalho e de como os empregos
vão mudar e vamos ter
cerca de 800 mil pessoas que
vão ter de mudar de funções
nos próximos anos. Portanto,
vamos ter de trabalhar isso já
e aproveitar este momento
para fazer esse
shot formativo.
27
a
FIGURA DE DESTAQUE
"Criámos este programa
do “Emprego mais digital”,
ao qual a CIP já aderiu e foi
a primeira, e que tem como grande
objetivo fazer essa formação digital
para a empregabilidade futura,
mesmo para pessoas que
já estão a trabalhar, mas para
a transformação do seu local
de trabalho."
Vanda de Jesus assumiu direção do Portugal Digital em junho de 2020
Ao nível do pilar dois, das empresas, temos um conjunto
de projetos também já a prepararem-se, aliás, uma coisa
que ressalvo destes últimos meses que vivemos foi
claramente a aceleração de tudo o que são as medidas
do programa. Como disse, apesar de o programa ter sido
apresentado na semana antes do confinamento, tudo o
que estava no programa está agora a ser implementado
com muito mais velocidade pela sua necessidade. Por
exemplo, o teletrabalho já era uma coisa que estava no
plano e que Portugal foi um dos pioneiros a trabalhar
neste tema, mas agora foi acelerado. No caso do teletrabalho
sou uma verdadeira crédula de que nada vai
voltar ao que era e tenho estado muito interessada em
ver que todos os estudos apontam e que é das primeiras
áreas em que empregados e empresas concordam. Ou
seja, estamos a falar, dos números que tenho visto, que
pelo menos 50% a 60% das pessoas vão de facto no futuro
28
trabalhar remotamente pelo menos dois a três dias por
semana, claro que para as funções em que isso faça sentido.
Isto vai ter um impacto enorme nas empresas, nas
formas de trabalhar e nos modelos de negócio, porque
as pessoas vão trabalhar a partir de casa e todo o seu
enquadramento na relação com a entidade e mesmo
as ferramentas de colaboração têm de ser alteradas e
depois os próprios serviços, de um conjunto de empresas.
Aí, estamos a fazer uma grande aposta na parte do
comércio digital e temos projetos mais estruturantes,
como as zonas livres tecnológicas, que são áreas em que
estamos a preparar um enquadramento legal para criar
sandboxes regulatórias para permitir a inovação, também
os digital inovation hubs que serão áreas de colaboração
para trazer a ciência, para as empresas fazerem a inovação
que seja produtiva e que depois se relaciona com
uma outra medida que vamos pôr em prática, que são
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
já anunciadas para a contratação e temos também a
estratégia de cloud, que vai permitir desbloquear um
conjunto de processos e de inovação no Estado, nomeadamente
através da possibilidade de aceder a este
tipo de serviços.
os laboratórios e os testbeds, para que rapidamente se
possa evitar aquilo que é o vale da morte das empresas e
entrar rapidamente numa inovação produtiva. Por último,
no pilar três, na transformação digital do Estado, estamos
a fazer já um conjunto de iniciativas muito interessantes,
por exemplo, na simplificação da contratação de serviços
de IT. Foi aprovado na Assembleia da República o
diploma que tem algumas das medidas da simplificação
PME Mag. – O capital humano acaba por ser a base
para todo o plano.
V. J. – Há uma matriz direta entre os pilares e os três
motores da nossa economia, que são as pessoas, as
empresas e o Estado. E como em tudo, sou uma pessoa
de pessoas, sem as pessoas não vamos conseguir fazer
nenhuma transformação nos outros. Portanto, sim, isso
é uma grande aposta e uma das coisas que tenho sentido
também neste trabalho é a importância das lideranças e
acho que os momentos que também vivemos, se alguma
coisa positiva trouxeram, foi os líderes perceberem
que têm de fazer uma alteração muito profunda naquilo
que é o seu mindset, na sua forma de trabalhar, na
forma de pensar as organizações, muito orientadas ao
propósito, com muito mais flexibilidade, a importância
da empatia, mesmo não sendo física. Acho que tudo
isso esta pandemia e estes momentos que estamos a
viver aceleraram. Depois, também há muitos estudos
que referem que estamos a ganhar cerca de 10 anos na
aceleração da transição digital. Acredito – e acho que aí
temos que ser cuidadosos, apesar de ser uma positiva
e normalmente só vejo o lado bom das coisas, mas aí
temos de ter um cuidado. Também vi números recentes
num estudo da ACEPI [Associação Economia Digital], e
apesar de termos tido um crescimento fabuloso, que aliás
nem podia ser de outra forma no comércio eletrónico e na
evolução, estamos a falar de passarmos de 40% a 60%
das empresas que estão agora online e que começaram
a ter uma oferta online durante este período, que são
números realmente muito interessantes tendo em conta
o momento atual. Por outro lado, neste mesmo estudo,
apenas 25% delas dizem que há uma integração já entre
uma loja física e uma loja digital. Ou seja, não podemos
também iludir-nos de que o facto de estarmos em teletrabalho
e de estarmos a fazer alguma venda online faz
com que toda a cadeia de valor e toda a transformação
digital, de processos de negócio, de impacto na distribuição
e também na criação de novos produtos, fica feita,
porque há aí ainda muito trabalho a fazer, nomeadamente
voltando ao tema também das lideranças. Uma coisa que
ganhámos aí foram mesmo os 10 anos. Sinto que, mesmo
para as minhas funções agora na estrutura de missão,
a minha vida foi facilitada naquilo que tem que ver com
“o vender”, com a importância de fazermos esta transformação.
Outra coisa que temos que ter cuidado é que
não vamos estar sozinhos, o resto do mundo está a viver
o mesmo e, portanto, o resto dos países da Europa.
A possibilidade de nos diferenciarmos é também enorme,
mas temos de aproveitar.
PME Mag. – Faz, também, sentido repensar o plano
curricular nas escolas?
V. J. – Isso é claramente uma área que tem que ver com
o seu master, o Ministério da Educação, e eles têm tra-
29
a Figura de destaque
temos tudo online, a segurança das pessoas, dos conteúdos
e, acima de tudo, estamos a falar de crianças,
tem de ser também acautelada e por isso é um projeto
bastante integrado e que tem todas essas vertentes já
consideradas.
“STARTUPS DIGITALIZADAS CRESCERAM”
Combate à infoexclusão é a prioridade
balhado muito nesta área, com a inclusão da disciplina
das T.I.C., que agora já é obrigatória em todo o currículo.
Estamos a trabalhar com o Ministério da Educação num
projeto ambicioso que decorrerá durante todo este ano
que é a “Escola digital”. O que queremos garantir é que
estes computadores vão chegar às escolas durante este
ano [n. d. r. 2020*], mas no âmbito de um programa muito
amplo daquilo que é uma escola digital. Está a ser trabalhado
pelo Ministério da Educação um amplo programa
de formação dos professores, estão a ser trabalhados
os conteúdos digitais, que também têm evoluído muitíssimo
em parceria com as empresas que fazem esses
conteúdos e, mais uma vez, a nossa experiência de viver
em teletrabalho e telescola durante este período também
acelerou um conjunto de dinâmicas e os próprios professores
e alunos de preparação para este mundo. Isto
permite ter já o teste de realidades híbridas. Vamos pensar:
se não tivessem sido estas condições dificilmente,
em algum momento, estaríamos a forçar evoluirmos para
um cenário destes. Acho que isto traz competências, quer
aos professores, quer aos alunos, muito diferenciadoras.
Claro que depois não poderemos fazer isto sem garantir
o tema da segurança, porque a partir do momento que
30
V. J. – As medidas que têm sido anunciadas pelas várias
áreas, quer através do ministro da Economia, como
também da Segurança Social, área financeira, têm sido
no sentido de apoiar, porque, neste momento, temos
de proteger o emprego e temos de proteger realmente
as empresas e as áreas que estão a atravessar uma
maior crise, nomeadamente a restauração, o turismo
e também áreas importantes como o entretenimento.
Com o ecossistema das startups, por exemplo, que
também acompanhamos muito proximamente, há uma
grande correlação entre a maturidade digital de uma
empresa com a sua capacidade de resiliência perante
uma crise. E, por isso, um estudo que fizemos na área das
startups provou que muitas delas, as mais digitalizadas,
cresceram e tiveram um aumento de atividade, porquê?
Porque foram as mais imunes àquilo que estava a acontecer.
Claro que há setores da economia em que isso não
é possível, ainda assim, com inovação, com resiliência é
possível repensar modelos. Por exemplo, para a área do
turismo, estamos a assistir a um conjunto de destinos –
e nós podemos ser um deles – que podem vir a receber
os nómadas digitais, que são pessoas que trabalham a
partir de qualquer país do mundo, nomeadamente com
sol e com boas condições. Sabemos que temos normalmente
todas essas atratividades e podemo-nos preparar
e preparar também as nossas estruturas, nomeadamente
no turismo, para essa transformação. Outro exemplo é
como a restauração se adaptou e até criou linhas diferentes
para a entrega de comida confecionada – também
no estudo da ACEPI há inclusivamente um aumento da
preferência por produtos portugueses, mesmo online,
eu própria comprava muito mais em sites internacionais
e, ao mesmo tempo pela segurança da proximidade e
da entrega, mas também por comprarmos localmente,
também houve essa tendência.
"Esta pandemia veio
trazer aproximação e a possibilidade
de descentralizar o que está
excessivamente centralizado
em Lisboa, ou nas grandes cidades
de Lisboa e Porto e em termos outro
protagonismo para as cidades."
Ou seja, quer no programa do “Upskill” de que falei,
tivemos a formação em todas as áreas e, portanto, criar
aqui empresas que estão a ir para o interior. Temos, por
exemplo, o conceito, e estamos a trabalhar com algumas
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
31
a FIGURA DE DESTAQUE
empresas, de adotar uma cidade e começar a trabalhar
nessa cidade, trabalhando quer as competências quer a
parte de economia e criando ali uma dinâmica que seja
muito mais integrante com o ecossistema e, neste momento,
as pessoas poderão trabalhar a partir de qualquer
lugar e depois se for preciso ir aos grandes centros de
forma mais indireta. Há, de facto, um conjunto de medidas
que vão além dos apoios financeiros do Estado que
podem vir das próprias pessoas, das próprias empresas,
com essa capacidade de se reinventarem. O que sugiro
é que se preparem para ficarmos mais imunes e tudo
aquilo que fizermos nesse sentido vai tornar-nos num
país – pessoas, empresas e Estado – mais forte.
“NÃO ESTÁ TUDO FEITO”
PME Mag. – O que é que ainda está por fazer na digitalização
das empresas?
V. J. – Como tenho vindo a explicar, penso que a primeira
coisa que temos que trabalhar e aproveitar este
momento é o tema do mindset das pessoas, mas principalmente
dos líderes. Não sentir que já está tudo feito
porque já demos passos importantes, nomeadamente no
teletrabalho, percebermos que uma coisa é a alteração
dos processos ou da eficácia de alguns processos e a
forma como as equipas trabalham e colaboram, que eu
acho que evoluímos muito neste período pelas circunstâncias,
mas apostar na inovação de produtos e serviços
e nomeadamente de modelos produtivos e, para
algumas áreas de negócio, a integração de cadeias de
valor e trabalhar de forma integrada para resolver aquilo
de que falei há pouco de apenas 25% das empresas
terem esta integração de loja física com loja digital. Aí
há bastantes coisas por fazer no trabalho que estamos
a fazer, nomeadamente nos digital inovation hubs, na
criação destes testbeds, para que as empresas possam
mais rapidamente testar a inovação e ela rapidamente
ir para produção e apoiá-las nesse sentido. Isso é uma
coisa que temos de fazer colaborativamente. Para não
falar daquilo que acho que é óbvio, que é para mim uma
grande paixão, que é o tema da capacitação. O que
temos que fazer em grandes números para preparar o
nosso talento, o nosso capital humano para as competências
necessárias no futuro é muito grande. E, aí,
também digo que cada pessoa tem a sua responsabilidade
no seu percurso e, portanto, não deve depender
só da escola, da universidade, do seu empregador, mas
ela própria pode ser dona do seu destino, hoje mais do
que nunca, daquilo que é a definição do seu percurso e
daquilo que é a sua aprendizagem. Há muitos conteúdos
online, gratuitos, há muitos conteúdos fáceis de aceder
e, portanto, as pessoas podem ser muito mais donas
do seu destino hoje do que eram dantes. E acho que às
vezes nós responsabilizamos muito o empregador e as
outras entidades e não agarramos essa oportunidade.
Nós vamos ter naquilo que vai ser a plataforma do Portugal
Digital, uma “Academia Portugal Digital” que espero
que também possa vir a ajudar a identificar o estado de
maturidade de cada pessoa e ajudar a definir perfis para
o futuro, para apoiar nessa transição.
32
PME Mag. – Quando é que vão lançar a academia
Portugal Digital?
V. J. – Será no primeiro semestre de 2021.
PME Mag. – Esta mudança do mindset faz mais sentido
ainda no que toca às PME?
V. J. – Sim. No último estudo que vi, empresas altamente
digitalizadas são apenas uma em cada cinco na Europa.
Isto é válido para cerca de 60% das grandes empresas
e 90% das PME. Ou seja, temos 60% que ainda não são
e 90% das PME, portanto o trabalho a fazer ao nível das
PME é bastante superior. Mas mais uma vez, sou uma
crente e uma positiva, e mudar uma organização mais
pequena depende de muito menos pessoas. Portanto,
se motivarmos – e por isso ser aqui uma das primeiras
entrevistas que dou à PME Magazine, porque acho sinceramente
que é onde podemos ter impacto – se conseguirmos
mobilizar aquilo que é um povo por natureza
descobridor, com vontade de aprender, de inovar, de
diferenciar, naquilo que é a sua base e nas coisas que
temos boas, porque temos imensos produtos muito bons.
Temos a nossa agricultura, que pode ser automatizada,
temos os nossos sistemas de saúde que também podem
ser mais digitalizados, temos o nosso turismo que é uma
pérola da Europa... Se pegarmos naquilo que temos de
fantástico e conseguirmos transpor isso para o mercado,
podemos crescer a uma velocidade muito maior
que todos os outros países e eu tenho isto como uma
convicção forte e que o papel do digital é absolutamente
crítico para conseguir.
PME Mag. – Que investimentos é que têm previstos
para estes apoios?
V. J. – Em sede de Plano de Recuperação e Resiliência
estamos a falar de um investimento na ordem dos 2,5
mil milhões de euros na área da transição digital, que é
ampliada em quase 4 mil milhões de euros quando falamos
inclusivamente nas outras áreas. Porque temos,
no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, três
grandes apostas: a recuperação e a resiliência, que são
apostas mais de infraestruturas, o plano para a alteração
climática e depois a transição digital. Estas são as três
grandes apostas. A transição digital é tão transversal que
inclusivamente estes investimentos, além da transição
digital, estendem-se também às outras áreas e, portanto,
o investimento total de todo o PRR para a área digital é de
cerca de 31%. Aliás, aumentámos o target da Comissão Europeia,
que era cerca de 24% a 25%. Sendo uma aposta da
Comissão Europeia, quer ao nível do PRR, mas também ao
nível do quadro plurianual de investimentos – o novo quadro
comunitário – que inclusivamente está já a preparar um
Digital Europe Program com um grande investimento, haverá
digital inovation hubs europeus e poderá haver alguns
nacionais, com investimento misto, portanto, é uma aposta
de facto muito grande e que, mais uma vez, não podemos
desperdiçar e, para isso, temos de nos preparar. Estes
investimentos deverão ocorrer em meados do próximo ano
[2021], mas as empresas e o Estado têm de preparar-se,
exatamente para acionarem e terem muito claros os seus
planos para fazer a sua transformação digital.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
“DAR APOIO ÀS EMPRESAS”
PME Mag. – Quais são os setores que precisam de mais
atenção na transição para o digital?
V. J. – Todos aqueles que têm menos intensidade tecnológica
e aqueles que, por efeitos da pandemia, estão
mais expostos. Em alguns casos há uma coincidência, por
exemplo, restauração, hotelaria, entretenimento e também
têm uma coincidência setores que nós quase intrinsecamente
diríamos que precisariam e que não poderiam
viver sem interação física, que o digital é acessório. Mas
na realidade não o é e, aliás, prova disso é que podemos
chegar a esses serviços de outra forma que não a física,
com todos os exemplos que já disse. Portanto, diria que
esses serão aqueles em que vamos estar mais focados,
porque são aqueles que precisam de uma maior ajuda.
Ainda assim, em todos os outros ainda temos de fazer
uma grande aposta porque temos de conseguir evoluir
nas duas áreas, quer nas empresas que sejam farol para
o resto do mundo e da Europa, porque temos empresas
muito boas e que podem ser farol. Queremos transformar
Portugal numa forte atração de investimento
internacional, nomeadamente na área da tecnologia
e, sempre que possível, não só em Lisboa, mas também
aproveitar esta atração de investimento. Estamos a trabalhar
em parceria com a Coesão [Territorial], nomeadamente
uma medida que foi lançada e que deu um grande
apoio às empresas do interior para fazer esta aposta, o
“Mais coeso digital” – e que inclusivamente esgotou a
primeira leva de pedidos. Portanto, diria que a nossa
aposta é dar apoio às empresas do interior, também para
se localizarem para o interior, e aos setores mais fragilizados
e menos tecnológicos, mas nunca esquecendo que
não é na mesma dimensão porque o esforço é diferente,
é mais de concertação e de garantir que temos mais organização
como país. E aí, outra coisa que tenho sentido
em comparação com outros países europeus, e mesmo
na forma como somos vistos na Europa, é que o facto de
sermos pequenos, como em tantas outras coisas, somos
um próprio testbed da Europa para testar coisas e temos
de aproveitar isso. Acho que é o momento certo.
Vanda Jesus é diretora executiva do Portugal
Digital. Começou a sua carreira em consultoria e
trabalhou em entidades públicas, associações,
tecnológicas e startups, tendo exercido funções
nas áreas de marketing, vendas e transformação
digital.
É membro do Conselho Estratégico da COTEC,
do Conselho Consultivo da APDC e integra o
conselho editorial da revista Human Resources.
É licenciada em Gestão pelo ISCTE e tem uma
pós-graduação em E-Business pelo ISEG/IDEFE.
Ao longo dos seus 20 anos de carreira, foi diretora
de projeto na UMIC - Agência para a Sociedade
do Conhecimento, onde foi responsável pelo Programa
Nacional de Compras Públicas Eletrónicas
e foi também diretora de feiras e de iniciativas de
terceiros na FIL. Adicionalmente, foi diretora executiva
da APDC, onde coordenou o lançamento de
várias plataformas digitais.
Passou também pela startup Viatecla, onde foi
chief business development officer. Fez parte do
conselho executivo do projeto MUDA - Movimento
pela Utilização Digital Ativa. Foi diretora de marketing
e comunicação da Microsoft Portugal e foi
responsável pelo lançamento da iniciativa Building
the Future – Ativar Portugal.
PME Mag. – Disse que o propósito do Portugal Digital é
acelerar Portugal e não deixar ninguém para trás. Esse
objetivo está a ser cumprido?
V. J. – É aquilo que me motiva a acordar todos os dias.
Penso nisso todos os dias em cada medida que fazemos,
seja ao nível socioeconómico, seja ao nível de
género, do trazer mais mulheres para a tecnologia,
que é uma coisa que também me motiva imenso. Mas
isto é toda a diversidade, porque outra coisa que tenho
aprendido na minha vida é que a diversidade de culturas,
de backgrounds faz com que realmente sejamos
muito mais fortes e acho que também isso em Portugal
temos de forma única. Recebemos muito bem os outros,
incorporamos bem novas culturas e o digital não
é diferente, muito pelo contrário, mas garantindo que
mantemos o nosso core e a nossa essência.
PME Mag. – O que é preciso para liderar um Portugal
Digital?
V. J. – Resiliência, acreditar que todos os dias movemos
um bocadinho mais e que todas as pessoas e que todas
as organizações têm algo para dar. Temos de tentar e
conseguir extrair esse algo da melhor forma possível. Todos
os projetos do Plano de Ação para a Transição Digital
estarão em curso durante 2021, alguns deles concluídos
inclusivamente, portanto podem esperar talvez uma
segunda fase do plano e muitos deles são plurianuais,
nomeadamente o projeto “Upskill”, ou o “Emprego mais
digital”, vão continuar ao longo dos três anos.
*Nota: A entrevista foi feita em novembro de 2020
33
i
RESPONSABILIDADE SOCIAL
TRATAR A MENTE ATRAVÉS DA ARTE
Ana Rita Justo
Manicómio
Depois de 20 anos a tratar a saúde mental dos doentes do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, através
da arte, Sandro Resende e José Azevedo decidem dar o salto para “dar dignidade” aos artistas que
lhes foram aparecendo pelo caminho. Assim nasce, em 2018, o Manicómio, uma casa que vive da arte
de pessoas com saúde mental, profissionalizando e dando humanidade ao seu trabalho.
Provar que a saúde mental também pode dar prestígio
à arte e fazer dela algo ímpar foi o que levou Sandro
Resende e José Azevedo a criarem, no final de 2018, o
Manicómio. A experiência de mais de 20 anos a intervir
diretamente com doentes do Hospital Júlio de Matos no
desenvolvimento de trabalhos de artes plásticas disse-
-lhes que era possível e hoje o projeto já dá emprego a
15 artistas e funciona a partir do Beato, em Lisboa, num
espaço partilhado com uma equipa da Mercedes-Benz.
“Durante 20 anos, fizemos várias exposições, sempre
juntando artistas profissionais com artistas do Júlio de
Matos [JM]. O Manicómio era algo que queríamos abrir
já há algum tempo. Como já tínhamos 20 anos disto e as
pessoas no mercado já nos conheciam, demorámos seis
meses até abrir o espaço. O primeiro desafio era sair do
JM, porque o espaço, apesar de estar todo intervencionado,
continua a ter muito estigma envolvido e era preciso
sair disso e limar outras coisas, como os horários”,
começa por explicar o fundador Sandro Resende. No
Manicómio não existem horários, cada artista é livre de
trabalhar no horário que entender. Além disso, os artistas
recebem uma bolsa financeira para que, adianta o responsável,
“tenham uma sobrevivência condigna e não
tenham de ir à procura de um trabalho que não é aquilo
que eles queiram fazer”.
Com uma equipa técnica de sete pessoas, o grande objetivo
do Manicómio é dar dignidade a quem ali trabalha,
por isso, conhecer os artistas e tratá-los como pessoas
era essencial na filosofia que queria ser imposta pelos
fundadores.
“Ao valorizarmos a pessoa
e o artista, estamos já a trabalhar
saúde mental sem nunca estarmos
a tocar nela diretamente”, advoga.
Manicómio é ‘casa’ para 15 artistas com saúde mental
34
“Conseguirmos dar, acima de tudo, dignidade humana e
social. Aqui os direitos humanos são muito importantes
e perdem-se muito na relação entre médico e paciente
e na saúde mental é mais gritante. Aqui, lutamos muito
para que os direitos humanos sejam respeitados e para
que estas pessoas sejam vistas como pessoas”, continua.
RECRUTAMENTO SEM “PATERNALISMOS"
O recrutamento é feito tendo em conta o portefólio de
cada artista e com “zero paternalismos”, sublinha o
fundador. Se este for bom, é feita uma primeira reunião
para conhecer o artista e uma reunião posterior com a
psicóloga do Manicómio. Todos os artistas ganham uma
percentagem de 70% das obras que vendem, ficando
30% para o Manicómio. Contudo, no atual contexto de
pandemia, o ganho para o artista é de 100%.
“A qualidade de vida aumentou imenso em termos de
saúde e a qualidade de vida financeira também. Há
pessoas que já compraram casa, muitos vieram do RSI
[n. d. r. Rendimento Social de Inserção] e neste momento
têm 1000 a 2000 euros de rendimento mensal”, conta.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Além disso, o Manicómio tem apostado em colocar os
seus artistas a trabalhar diretamente com marcas. Neste
caso, junta-se aos seus rendimentos os royalties ganhos
com vendas das marcas envolvidas e são já várias as que
quiseram contar com o trabalho destes artistas. A escolha
é feita sempre por marcas que queiram ter uma relação de
ganho mútuo. “A marca só investe se nós acrescentarmos
valor à marca e se eles ganharem dinheiro connosco. Se
não, é caridade, é ajuda, e isso não entra muito bem na
nossa filosofia”, advoga.
Aqui destacam-se a marca de chocolates Arcadia, a
marca portuguesa de ténis Diverge, para a qual foi feito
o design para uns sneakers, a Herdade Malhadinha Nova,
a marca portuguesa de joias Elements, entre outras.
“Procuramos sempre marcas muito familiares, muito
preocupadas com o ambiente, que tenham muitos anos
de existência, ou que estejam a começar mas que tenham
uma filosofia muito parecida com a nossa.”
EXPOSIÇÕES PARA COMBATER A PANDEMIA
A pandemia fez fechar o espaço do Manicómio, mas nem
por isso os artistas deixaram de trabalhar em casa, com
foco em algumas exposições que continuaram a acontecer,
uma delas no Museu Bordalo Pinheiro, com peças
de escultura da artista Anabela Soares, e outras em Faro,
no Fundão e também em Évora. Nesta luta contra o isolamento,
Sandro Resende sublinha a resiliência destes artistas:
“São pessoas que já passaram por muito, a doença
mental tem muito sofrimento. A Covid-19 para eles é só
mais uma. São uns lutadores e sobreviventes à séria”.
Em tempos de Covid-19, artistas lucram 100% de tudo o que vendem
Além disso, o Manicómio providencia consultas de psicologia
e terapia familiar a um preço reduzido, “para ser
acessível a todos”, explica o responsável. “Nestas consultas
perde-se o lado ditatorial do consultório, quem
decide onde quer ter a consulta é o próprio doente – pode
ser no jardim, ou no café – e o médico é uma ferramenta
que os vai ajudar a ter ferramentas”, adianta, revelando
que ainda não houve “nenhuma descompensação” dos
artistas nos dois anos de existência do Manicómio.
Para este ano, está prevista a criação da primeira agência
de design e comunicação em que a equipa do design
será toda composta por pessoas com doença mental.
Na mira está também a criação de uma revista e da rádio
Manicómio, bem como a abertura de uma loja em Lisboa.
“Acima de tudo, queremos que haja esta dignidade financeira,
porque na saúde mental a taxa de desempego
é muito grande e, parecendo que não, se tudo correr bem,
no fim do próximo ano teremos cerca de 30 pessoas a
ganhar ordenado”, observa.
Anabela Soares expôs obras de escultura no Museu Bordalo Pinheiro
Os fundadores do Manicómio estão também a trabalhar
em conjunto com o Ministério do Trabalho, Solidariedade
e da Segurança Social no sentido de criar-se um
subsídio para pessoas com doença mental que possa
ser acumulado com outros rendimentos provenientes da
atividade artística.
35
h
empreendedorismo
A PRODUÇÃO BIOLÓGICA
DE TISANAS MEDICINAIS
Sofia Neves
Paisagindo Bio
A Paisagindo Bio surgiu de uma exploração agrícola
cujo foco era a exportação. Identificando a
oportunidade de vender para o mercado nacional
tisanas com propriedades medicinais, decidiram
arriscar, com sucesso.
Ângelo Carreto é cofundador da Paisagindo Bio
A Paisagindo Bio nasceu em 2018 como marca de tisanas,
depois de, desde 2013, ter-se iniciado na produção
biológica de plantas aromáticas e medicinais. Situada
no Alentejo, com três hectares e cinco colaboradores
efetivos (apesar de serem depois contratadas equipas
que realizam a parte agrícola, como as colheitas e a limpeza),
esta empresa exportava inicialmente produtos a
granel para o estrangeiro, até dar conta de que o produto
que vendia podia ser adaptado para Portugal e para os
portugueses.
Ângelo Carreto, cofundador e um dos responsáveis da
Paisagindo Bio, explica: “Começámos a tentar criar as
nossas infusões, fizemos umas misturas novas que são as
blends e as tisanas, tudo apostando sempre em produtos
de grande qualidade a granel”.
O responsável refere que a empresa apostou em plantas
aromáticas que fossem de grande sabor e de grande
aroma para a criação de tisanas medicinais, que, “conjugando
uma receita com várias plantas para o mesmo
fim”, funcionavam como bebidas digestivas, detox e
drenantes.
Foi assim que nasceu a marca.
36
"Sabíamos que poderia haver
mercado, mas também havia
muita concorrência. Fizemos parte
de um nicho de mercado onde
há uma fileira extensa com
produtores que fazem produtos
de extrema qualidade, tal e qual
como nós, e que têm a sua
marca também."
Criámos a nossa marca sem grandes pretensões porque
não sabíamos como é que ia ser a aceitação por parte do
público”, esclarece o cofundadorAtualmente, a Paisagindo
Bio conta com oito tisanas musicais (tisanas medicinais
cujos nomes são inspirados em títulos musicais
conhecidos e cujo nome esteja associado à propriedade
medicinal) e três blends (limão, maçã e laranja), que
surgiram do aproveitamento de árvores de fruto que já
se encontravam na exploração, cuja fruta não podia ser
vendida e é por isso desidratada.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Além disso, a marca tem uma série de infusões, plantas
produzidas na exploração, mas que são maioritariamente
para exportação, pois, apesar de a empresa ter o foco no
mercado português, continua a exportar, sobretudo para
o mercado francês, para um cliente que funciona como
um “broker que vai depois para toda a Europa”.
A Paisagindo Bio pretende, por isso, produzir “tisanas
que sejam de sabor extraordinário, saudáveis, com propriedades
medicinais e de forma artesanal”.
“Criamos receitas únicas que são receitas nossas, personalizadas,
com plantas escolhidas de acordo com o
nosso conhecimento de botânica e de biológica, e criamos
embalagens com receitas únicas personalizadas
com um sabor e com aroma com produtos de excelente
qualidade”, afirma Ângelo Carreto.
"Criamos receitas únicas
que são receitas nossas,
personalizadas, com plantas
escolhidas de acordo
com o nosso conhecimento
de botânica e de biológica”,
diz Ângelo Carreto
CRESCIMENTO ORGÂNICO ATRAVÉS DE UMA
PARCERIA
Relativamente ao crescimento da marca, Ângelo Carreto
explica: “Foi tudo muito orgânico, ou seja, quando lançámos
as embalagens criámos, ao fim de algum tempo, uma
página de Facebook e fomos colocando algumas coisas
lá, algumas publicações aqui sobre o nosso dia-a-dia
da empresa”.
Mais tarde, aventuraram-se no Instagram, onde conheceram
a instagrammer Mafalda Sena, a quem enviaram
uma caixa com os produtos da marca.
“Seguíamos a Mafalda, achávamos piada às coisas que ela
fazia e àquela força de vontade que ela tem”, esclarece.
Depois de enviada a caixa, a instagrammer fez uma publicação
sobre as tisanas da marca. “Para nós era um pequeno
mundinho que se abria”, confessa. Criada a ponte,
Mafalda Sena e a marca criaram uma tisana em conjunto.
A influenciadora explica à PME Magazine: “Houve um
convite por parte da marca para dar nome a uma das suas
plantas preferidas - Hibisco – e escrever na embalagem
algo como: ‘O preferido de Senasaudáveis’”. A proposta
foi recusada pela instagrammer, que achava que isso não
iria vender mais ou ser uma mais-valia e foi feita uma
contraproposta: criar uma tisana para ajudar as pessoas
a drenar – a “Drain you”.
Mafalda Sena dá a cara pela tisana “Drain you”
“Foi aceite, arriscaram e deu certo”, conta. Ângelo Carreto
relembra: “Começámos a falar nisto em janeiro ou
fevereiro de 2019, fomos fazendo testes, a Mafalda
enviou-nos uma receita que ela também já fazia, fomos
apurando as receitas, criando aqui umas coisas com o
nosso conhecimento também de botânica e de plantas
medicinais, fomos tentando, fomos dando a provar e,
pronto, em junho lançámos a “Drain you”, que foi o ponto
de viragem da nossa divulgação”. Lançada com poucas
expectativas, o stock de 600 embalagens daquela tisana
esgotou em dois dias, com uma grande aceitação por
parte do público.
“Vender o primeiro pack não é fácil, mas que as pessoas
gostem e voltem a comprar era aquilo que não sabíamos
se ia acontecer… Ficámos muito surpreendidos e muito
contentes quando, ao fim da primeira semana, recebemos
logo comentários, feedback positivo de pessoas que
estavam a experimentar e que sentiam efeitos na parte
de retenção de líquidos”, sublinha.
“São as próprias pessoas que nos
ajudam na divulgação”
Mafalda Sena afirma que o feedback tem sido muito positivo:
“O objetivo das tisanas é verificado por todos, isso
traz confiança e os seguidores tornam-se consumidores
fixos”. Os próprios clientes “passam a palavra”, revela.
A Paisagindo Bio continua focada na produção e venda
de tisanas com propriedades medicinais, sabor e aroma
de qualidade, mas com um olhar diferente para o futuro.
“A nossa ideia é chegar a mais mercados”, conclui Ângelo,
referindo-se a uma perspetiva nacional e, na Europa,
numa perspetiva de exportação.
37
h
empreendedorismo
MADE OF LISBOA: A PLATAFORMA
DAS STARTUPS LISBOETAS
Marta Leite
Made of Lisboa
A Made of Lisboa agrega todos os empreendedores, startups e empresas que estão a começar, na cidade
de Lisboa. Criada em 2016, esta plataforma já conta com mais de mil empresas que fazem parte da sua
comunidade.
“Com o aparecimento de tantas startups, incubadoras
e coworks, tornou-se necessário criar
um espaço que pudesse juntar toda a comunidade
no mesmo lugar.”, explica Fernando
Jardim, community manager da Made
of Lisboa.
As pequenas e médias empresas (PME) representam
mais de 90% do tecido empresarial em Portugal, o
que tornou ainda mais urgente a criação deste projeto.
Além disso, o registo nesta plataforma é totalmente
voluntário, tornando-a mais fidedigna.
Equipa Made of Lisboa, com Vanda Dinis, Marco Brandão, João Pedro
Martins, Cláudia Parente, Fernando Jardim e Isabel Advirta
A Made of Lisboa veio criar uma rede de contactos entre
todas as startups e novas empresas, agilizando o processo
de estar ao corrente do que se passa no mercado.
O propósito é criar, ou reforçar, laços entre os intervenientes
nas áreas de negócio de empreendedorismo e
inovação, bem como informá-los. A plataforma é desenvolvida
pela direção municipal de economia e inovação
da Câmara Municipal de Lisboa, que atua como
federadora dos membros e dinamiza as iniciativas, procurando
parceiros estratégicos e promovendo esta rede
de contactos.
Com foco no networking, a Made of Lisboa disponibiliza informação
sobre quem faz parte da comunidade de startups
na capital portuguesa, qual o papel de cada uma delas nas
áreas de empreendedorismo e inovação e os eventos que
acontecem. A plataforma digital oferece, ainda, uma série
de informação sobre vários tópicos, tais como um mapa
do ecossistema empreendedor de Lisboa, um diretório
com locais, pessoas e empresas e, até, um glossário. A
ideia surgiu em 2016, em resposta à explosão do ecossistema
empreendedor na cidade e conta já com mais de
mil empresas na comunidade. Houve a necessidade de se
criar uma entidade que representasse esta comunidade
de forma segura e fiável – algo que até à data não existia.
38
Embora seja um conceito recente no mercado português,
têm surgido cada vez mais startups. Ainda assim,
a falta de incentivos ao acesso a capital de risco, as
escassas soluções tecnológicas e a carência de apoio
estatal são algumas das falhas apontadas por Fernando
Jardim. Apesar das dificuldades que a pandemia
trouxe, a Made of Lisboa conseguiu não só organizar
mais de cem eventos (presenciais e virtuais) mas também
lançar o projeto “Digitaliza Já!” que “ajuda as PME
no processo de digitalização do seu negócio”, informa,
por seu turno, João Martins, project manager. Esta iniciativa
tem como propósitos a transformação digital
das PME e a educação dos respetivos responsáveis e
equipas. Por ser um serviço à comunidade empreendedora
da capital, a Made of Lisboa “trabalha com múltiplos
parceiros de acordo com iniciativas estratégicas
definidas pelo município para reforçar o crescimento”
da comunidade, esclarece João Martins. Assim, o projeto
conta já com um conjunto de parceiros, entre eles a
Google, o Olx, e a Airbnb.
Para fazer parte desta comunidade basta que se tenha o
número de identificação fiscal na Área Metropolitana de
Lisboa, ter uma presença online (seja através de site ou
redes sociais) e demonstrar potencial de inovação. Esta
presença online não tem de ser perfeita, pois a tarefa da
Made of Lisboa é precisamente potenciá-la e, por isso,
serve apenas para mostrar a pegada digital. Portanto, se
é alfacinha e pretende abrir a sua startup, prepara-se para
abraçar o desconhecido e traga consigo persistência, criatividade,
talento e vontade de fazer sempre mais e melhor.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
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p
MEDIR PARA GERIR
ESCOLHER APRENDER
Susana Ferreira, diretora de marketing e comunicação
da Nova SBE Executive Education
Nova SBE
considerado uma surpresa. E que, por isso, a melhor
estratégia para estar preparado para o futuro, é estar
preparado para aprender, desaprender e reaprender
constantemente e de forma evolutiva. Nunca a frase, “não
é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas
o que melhor se adapta às mudanças”, atribuída a Charles
Darwin, fez tanto sentido.
De acordo com os especialistas, cerca de 40% do que os
estudantes universitários aprendem hoje, será obsoleto
no espaço de uma década e os empregos que ocuparão
nessa altura ainda não existem hoje. O relatório sobre o
futuro do emprego do World Economic Forum realça que
as 10 funções com mais procura atualmente não existiam
há 10 anos.
No entanto, ainda que a curiosidade e o desejo (e necessidade)
de aprender caracterizem a nossa infância, à
medida que crescemos, vamos perdendo essas características.
Depois da entrada no mercado de trabalho, e ao
longo do seu percurso profissional, a maioria das pessoas
tende a ficar-se pelo que sabe e prefere evitar contextos
ou situações que as empurre para fora da sua zona de
conforto e as leve a aprender algo novo.
Os especialistas em mudança organizacional concordam
que um dos maiores riscos para o sucesso dos processos
de transformação é a resistência das pessoas à mudança
e à necessidade de reverem os seus mapas mentais.
Susana Ferreira, diretora de marketing e comunicação
da Nova SBE Executive Education
O mundo não vai voltar ao normal. Num ano marcado
pela pandemia e pela crise provocada pela Covid-19,
esta talvez tenha sido uma das frases que mais se popularizou.
De todo o lado recebemos mensagens que
nos diziam que para combater o avanço da pandemia
tínhamos de alterar os nossos hábitos, a forma como
nos relacionamos, como vivemos em sociedade, como
trabalhamos. No fundo, tínhamos de reaprender todo um
sistema de códigos, comportamentos e competências.
Mas será que alguma vez pudemos dar-nos ao luxo de
escolher não aprender, não evoluir, não crescer? Mesmo
antes da pandemia, já os rápidos avanços tecnológicos,
a crescente interdependência económica e a constante
instabilidade política se cruzavam para tornar o futuro
cada vez mais nebuloso. A incerteza tornou-se numa
certeza tão constante que gerou acrónimos como VUCA
ou TUNA (Turbulent, Uncertain, Novel e Ambiguous). Se
2020 nos ensinou alguma coisa, foi que nada deve ser
40
A complexidade do contexto em que habitamos exige
que tenhamos a capacidade de compreender e progredir
em situações indefinidas, num estado permanente
de adaptação – continuamente a desaprender regras
e códigos antigos e a reaprender novos. Requer que
tenhamos a coragem de questionar pressupostos e a
forma “como sempre foi feito”, desafiar paradigmas, e
estarmos dispostos a desenvolver novos hábitos, métodos
e competências relevantes para o nosso trabalho,
indústria, carreira ou para a nossa vida. E, num mundo
onde a mudança é exponencialmente mais rápida, a agilidade
com que efetuamos esse processo de desaprendizagem
e reaprendizagem (learning agility) é, por isso,
a competência-chave para a proficiência na mudança e
o sucesso futuro quer de pessoas, quer de organizações.
À medida que a economia global evolui, a competição por
novas funções e novas posições no xadrez do mercado
empresarial atingirá novos níveis e serão aqueles que
proativamente trabalharam para expandir e diversificar
o seu leque de capacidades, aprendendo novas competências,
que estarão melhor posicionados para tirar o
melhor partido da (esperada) retoma. A aprendizagem
não é um dado adquirido, mas sim uma escolha de cada
indivíduo e organização. E, num mundo que muda todos
os dias, então a melhor escolha possível é aprender
continuamente.
o
Marketing
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
O MUNDO PÓS-PANDEMIA E OS ESTUDOS
DE MERCADOS DIGITAIS
João Pedro Calixto, CEO da On The Go Survey Chatbot
On The Go Survey Chatbot
Nos últimos 10 anos, testemunhámos grandes mudanças
proporcionadas pela tecnologia nos mais variados setores
da indústria. O uso diário de ferramentas, dispositivos
e serviços digitais tem mudado o nosso comportamento,
valores e expectativas em relação aos negócios e às marcas.
Muito antes de a pandemia trazer desafios económicos
e de transformação digital acelerada que exigiram
mudanças profundas nas empresas, já vivíamos numa era
que se transforma diariamente de maneira acelerada há
algum tempo. Nesse sentido, o universo do marketing
vive desafios enormes. Modelos tradicionais são substituídos
pelo “novo” constantemente. A “inovação”, palavra
tão querida pelos profissionais de marketing, tornou-se
a regra, e não apenas a bem-vinda exceção.
A era digital também tem causado uma revolução na
comunicação e na linguagem. Impactando diretamente a
forma como escrevemos, falamos e comunicamos. Novos
códigos de comunicação, abreviações, gírias foram incorporados,
tornando as conversas cada vez mais ricas, ao
mesmo tempo mais complexas, na medida em que se misturam
às palavras, emojis, gifs, memes, áudios e vídeos.
Essa nova lógica de comunicação afeta diretamente o
universo dos estudos de mercado – um dos eixos centrais
do marketing. Todos os dias, milhares de decisões de
negócio são tomadas com base em dados comportamentais
do consumidor coletados a partir de pesquisas.
Mas, na era do “consumidor ao centro”, a maioria dos
inquéritos digitais ainda carece de uma abordagem mais
natural. Cadastros, formulários e questionários, ainda
são os principais formatos utilizados, porém, não estão
em sintonia com a nova dinâmica e disponibilidade das
pessoas por serem rígidos e pouco amigáveis.
Por mais que o setor apresente novas ferramentas e
caminhos para se tornar mais ágil e acessível, a sensação
que fica é que a experiência dos respondentes
foi esquecida nesse processo. Entretanto, uma vez que
entendemos que a qualidade dos dados depende das
formas de recolha, para gerarmos dados verdadeiramente
focados no ser humano precisamos de ser capazes de
tratar consumidores como pessoas, e não apenas como
números ou respostas. Realizar pesquisas com chatbots
nos ambientes de mensagem é um exemplo de inovação
e adaptação a esse novo contexto mais humanizado e
centrado em experiências positivas. Desde 2016, a On
The Go está focada em trazer os estudos de mercado para
dentro das plataformas de mensagem como o WhatsApp
e o Facebook Messenger.
João Pedro Calixto, CEO da On The Go Survey Chatbot
Os “bots entrevistadores” operam nesses ambientes onde
as pessoas estão e são desenhados para simular uma
conversa entre entrevistador e entrevistado, despindo-
-se de qualquer caráter intrusivo, artificial e até mesmo
da sua tradicional formalidade. Simples, ágil, natural, tal
como uma conversa entre amigos.
Ao longo destes anos, temos visto alguns benefícios
em trabalhar com uma ferramenta construída com foco
nos inquiridos. Além de aumentar as taxas de resposta
completas, os inquéritos com chatbots melhoram consideravelmente
a experiência daqueles que respondem
à pesquisa. A ferramenta ainda possibilita agregar aos
questionários frases, áudios, imagens e respostas em
vídeos, incorpora-se assim à recolha digital um caráter
etnográfico e autoconduzido, uma nova camada de
conhecimento qualitativo em escala para projetos de
pesquisa de mercado.
Como afirmámos no começo do artigo, a tecnologia
tem um efeito profundo e perene de transformação nas
pessoas e nas empresas. Para o momento que atravessamos,
mais do que nunca a adoção de novas ferramentas
e abordagens digitais será fundamental para promover
a recuperação rápida das indústrias. Nesse sentido,
a pesquisa de mercado digital deve tornar-se protagonista,
como uma grande aliada para marcas e negócios
que desejam manter-se próximos dos seus consumidores
e desenvolver as suas estratégias de marketing com
coerência, eficiência e, claro, foco nas pessoas.
41
o
Marketing
AS HISTÓRIAS QUE DÃO VALOR
AO PATRIMÓNIO PORTUGUÊS
Sofia Neves
Grupo O Valor do Tempo
No grupo O Valor do Tempo, o património português
é revalorizado. As preciosidades portuguesas
têm a oportunidade de brilhar, com a
comunicação como sendo um fator fulcral para que
se possam contar histórias.
Sónia Felgueiras,
responsável
de comunicação do grupo
O Valor do Tempo
O mundo é o target do grupo O Valor do Tempo.
O grupo surgiu em 1996, através da recolha de espólio
para o Museu do Pão, que viria a abrir em 2002, sendo o
maior museu dedicado ao pão em todo o mundo. Desde
então, o grupo tem vindo a criar e a adquirir marcas que
permitam valorizar o património português, oferecendo
experiências que provoquem emoções às pessoas. Sónia
Felgueiras, responsável de comunicação, explica, em
entrevista, que o objetivo é ir buscar pérolas e preciosidades
portuguesas, que não são muito valorizadas e
fazer com que estas “estrelas de Portugal” brilhem “como
verdadeiros ícones que são, em espaços que lhes prestam
a devida homenagem”. Numa “busca incessante”, O
Valor do Tempo tem marcas criadas e marcas compradas
que aparecem de forma orgânica. “Estamos atentos ao
mercado”, afirma a responsável, explicando que quando
há uma marca que tenha património português que não
está a ser valorizada, “surge a oportunidade”.
COMUNICAR HISTÓRIAS
“Somos uma empresa convencional, sobretudo porque
temos marcas com tanto património e valor histórico,
que aquilo que fazemos na nossa comunicação é contar
histórias das nossas marcas”, esclarece Sónia Felgueiras.
A responsável considera como target do grupo o mundo.
São “todas as pessoas que se interessem pela história
de Portugal, pelos produtos portugueses”, com des-
42
taque para os portugueses interessados no património
português, e para os “verdadeiros fãs” estrangeiros.
A comunicação feita varia sempre consoante a marca
em questão, sendo necessário investigar o passado da
marca ou do património e considerar aquilo que existe já
no caso das marcas pré-existentes.
A Brasileira, café do Chiado que se juntou ao leque de marcas
de O Valor do Tempo em 2020, serve como exemplo.
“Aquilo que fizemos foi trazer ao de cima a história de
A Brasileira”, afirma, explicando que foi feita pesquisa relativamente
aos 115 anos daquele histórico café lisboeta.
De forma depois a “dignificar a história” do espaço, foi
criado um website, que ainda não existia, “para mostrar
ao mundo o quão rica é a história daquele espaço”. Foram
criados marcadores de livros com pequenas histórias e
factos sobre o local, a serem entregues aos clientes; foi
dado a conhecer mais sobre o café a algumas revistas,
jornais, blogs e plataformas online. “Somos ativos sobretudo
na forma como contamos as histórias porque,
na verdade, elas já existem”, esclarece Sónia Felgueiras.
Além disso, as marcas do grupo contam com redes sociais.
No entanto, estas ainda não refletem a experiência
offline. A vertente online pretende “prolongar a experiência”
dos clientes que deixam de ter a possibilidade
de estar nos espaços, mantendo uma relação com eles.
Relativamente ao futuro, a responsável afirma: “Acreditamos
que estamos no caminho certo porque é convicção do
grupo, desde início, a aposta na origem e autenticidade”.
Considerando que o caminho a percorrer ainda é longo,
por haver muitos produtos que podem ser mais valorizados,
Sónia Felgueiras conclui: “Este continua a ser o
caminho que vale a pena percorrer”.
Ao Museu do Pão, a primeira marca
do grupo, viriam a juntar-se a Casa
Portuguesa do Pastel de Bacalhau,
a conserveira Comur, o Museu da
Cerveja, a Silva & Feijóo, a Confeitaria
Peixinho, dedicada aos ovos
moles, em Aveiro, a Casa Pereira da
Conceição, uma casa de chá e café, e,
finalmente, A Brasileira, café icónico
lisboeta.
Superbran
sapo.pt
Os Portugueses, mais uma vez, elegeram o SAPO
como uma Superbrand 2020.
Obrigado por considerarem o SAPO como uma Marca de Excelência.
Este reconhecimento reforça o SAPO como Líder Digital na divulgação
de conteúdos, ao longo dos seus 25 anos de existência.
o
tecnologia
A NOVA GERAÇÃO DE INVENTORES ESTÁ A CAMINHO
Ana Rita Justo
The Inventors
Corria o ano de 2016 quando Manuel Câmara e José Malaquias decidiram avançar para a criação
de uma startup de educação que desse um novo rumo à tecnologia nas escolas. Assim nasce o projeto
The Inventors, que já chega a 170 escolas e a mais de 2500 alunos.
Desmistificar a tecnologia e fazer projetos inovadores são os grandes
objetivos da startup
Manuel Câmara e José Malaquias, fundadores da The Inventors
A The Inventors nasceu com o objetivo de inspirar uma
nova geração de inventores. Desenvolve experiências e
programas educativos nas áreas das engenharias, artes
e criatividade e chega neste momento a 170 escolas privadas
e a mais de 2500 alunos por todo o país.
Tudo começou quando Manuel Câmara, que trabalhava
numa startup tecnológica, foi convidado para dar uma
atividade extracurricular numa escola, em 2015. Mais
tarde conheceu José Malaquias e juntos começaram a
pensar criar uma startup na área da educação. No final de
2015 deixam os seus empregos fixos e fundam, então, já
em 2016, a The Inventors.
“À medida que os anos passaram, fomos ganhando mais
escolas e passámos de 10 para 25, depois para 70, depois
para 110, depois para 150 colégios. "Neste momento,
44
temos quase metade dos colégios privados em Portugal
com as nossas aulas. E a piada é que todos os anos
temos de reinventar-nos”, confessa Manuel Câmara.
Atualmente, a The Inventors conta já com 16 trabalhadores
a full-time e 80 monitores em regime de part-time.
“O nosso objetivo é mostrar às crianças que são capazes
de criar o que quer que seja. Desde guitarras elétricas,
a pequenos sintetizadores, circuitos elétricos, filmes de
animação ou fazer modelos 3D”, sublinha. “Tentamos
transmitir e incutir às crianças uma visão diferente da
tecnologia e da forma como podemos usar a tecnologia,
da forma como conseguimos cativar e de se conseguir
apreender aquilo que anda à nossa volta”, conta, por seu
turno, José Malaquias, outro dos fundadores do projeto.
"Neste momento, temos quase
metade dos colégios privados
em Portugal com as nossas aulas.
E a piada é que todos os anos
temos de reinventar-nos”,
confessa Manuel Câmara.
Os programas extracurriculares da The Inventors destinam-se
ao pré-escolar, aos primeiro e segundo ciclos
de ensino. Contudo, há já algumas escolas que incluíram
estes programas nos seus planos curriculares. A abor-
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
dagem às escolas públicas acaba por ser menos ágil,
daí não estar para já a ser posta em prática. O feedback,
esse, tem sido dos mais positivos. “Há miúdos que pegam
nas nossas coisas, colocam nas prateleiras dos seus
quartos e fazem manutenção delas ao longo do tempo.
Há miúdos que chegam a casa, telefonam aos avós a
contar, eufóricos, aquilo que fizeram connosco”, reforça
José Malaquias.
PORTUGAL E MAIS ALÉM
Além disso, a The Inventors também já participou em
algumas experiências pontuais internacionais, nomeadamente
em eventos na Bulgária, Itália, e já montou aulas
para países como o Reino Unido e a Holanda. “Isto deu
para perceber que aquilo que fazemos tanto é válido
para cá como para qualquer lado do mundo”, adianta
José Malaquias.
A pandemia levou a que as atividades em escola ficassem
suspensas e em poucos dias a The Inventors pôs no ar
uma plataforma online para continuar as atividades com
as crianças a partir das suas casas.
“Hoje, olhamos para a plataforma como uma ferramenta
que no futuro nos vai dar um suporte importante e que
vai ajudar-nos a desenvolver o nosso negócio online”,
advoga AF_anuncio_revista.pdf José Malaquias. 1 29/09/2020 10:07:01 Manuel Câmara junta que esta
plataforma “servirá para treinar monitores em todo o
mundo, para treinar professores de escolas e para permitir
ter um canal diretamente para as famílias em casa”.
Com a paragem da atividade presencial, a The Inventors
viu-se forçada a recorrer aos apoios do Estado, entre eles
o lay-off simplificado. Agora começa a recuperar e está
já com cerca de 50% da atividade que tinha no início do
ano letivo 2019/2020. “Estamos a recuperar um bocadinho
relativamente ao negócio. Mas continuamos com
necessidade das ajudas normais que existam”, reforça
José Malaquias.
RECONHECIMENTO E ACELERAÇÃO
No meio dos desafios, a boa notícia é que o projeto foi nomeado
para o programa de aceleração IMPACT EdTech,
um programa cofinanciado pela Comissão Europeia que
ajuda startups a transformar as suas ideias.
“Além do prémio monetário, vamos ter um programa em
que vamos colaborar com escolas em vários pontos da
Europa, vamos ter acesso a mentores de outros países
da Europa que nos vão ajudar a perceber como é que
funcionam os sistemas de ensino e como é que podemos
adequar-nos a isso”, diz Manuel Câmara, sublinhando
a importância do “reconhecimento de estar entre as
melhores soluções que existem neste momento para a
educação virada para o futuro”.
45
o
tecnologia
PROGRAMA GOVERNAMENTAL
INCENTIVA À LITERACIA DIGITAL
Maria Inês Jorge
Divulgação
Com o objetivo de reforçar as competências
digitais dos cidadãos, empresas e instituições
nacionais, o programa INCoDe.2030 veio responder
aos desafios da senda tecnológica e melhorar
a literacia digital no mercado de trabalho.
contribuir para a inclusão social e, ao mesmo tempo, para
a literacia digital, através do acesso de toda a população
aos serviços digitais, do incremento da capacidade analítica
no contexto “big data", da utilização intensiva das
tecnologias no processo de educação ao longo da vida,
entre outras iniciativas de aprendizagem. Na página oficial
do programa estão também disponíveis kits gratuitos,
desenvolvidos por parceiros da iniciativa, cujos temas
envolvem a segurança ou a programação. Estes kits destinam-se
a pais e educadores que pretendam apoiar os
mais jovens na descoberta por novas áreas de interesse,
pelo que incluem cursos online, recursos educativos e
acesso a plataformas onde é possível obter os respetivos
certificados de conclusão dos cursos.
Para o concurso de 2020, o programa INCoDe.2030,
coordenado por Nuno Feixa Rodrigues, também diretor
da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), elegeu
projetos que tivessem por base o desenvolvimento de
ferramentas de apoio a doentes e unidades clínicas
no decorrer da pandemia de Covid-19. No total, estes
projetos receberam três milhões de euros para investir
em programas de inteligência artificial que pudessem
igualmente contribuir para investigação futura de novas
pandemias que, eventualmente, venham a surgir.
Nuno Feixa Rodrigues, coordenador do INCoDe.2030
Criada pelo Governo português, a Iniciativa Nacional
Competências Digitais e.2030 – INCoDe.2030, nascida
em 2017, representa uma ação integrada de política
pública que visa o reforço das competências digitais, de
forma transversal, a toda a sociedade portuguesa, num
programa projetado até ao ano 2030. Com uma sociedade
cada vez mais dependente de tecnologias digitais,
sejam elas dispositivos eletrónicos ou plataformas online,
também os setores de atividade sentiram a necessidade
de se reinventar e adaptar à nova realidade tecnológica.
Muito embora Portugal não esteja longe da média europeia
no que toca ao nível de literacia digital, é necessário
reforçar as competências dos cidadãos relativamente à
utilização da internet.
Num esforço conjunto entre as entidades governativas
e a sociedade civil, o INCoDe.2030 visa investir na qualificação
da população jovem e, por outro, requalificar
os recursos humanos de empresas e instituições portuguesas.
Para isso, pretende-se que este programa venha
46
As últimas iniciativas a serem premiadas com o selo “uma
ação INCoDe.2030” foram “O Futuro chegou: Aprende
Programação e Robótica”, “Hórus – Formação de mediadores
digitais”, “Jornadas Pedagógicas Transformação
Digital & Educação Século XXI”, “Projeto PAPTICe”,
“Projeto 3D (Modelação 3D e Realidade Virtual)” e o
“Curso Pós-Graduação: Desenvolvimento de soluções
informáticas 300 horas”.
Sendo uma iniciativa interministerial, o INCoDe.2030
reúne as áreas governativas da Modernização Administrativa,
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, da
Educação, do Trabalho, do Planeamento e das Infraestruturas
e da Economia, com o objetivo de dar destaque
às ações sociais que se candidatem ao programa. Podem
efetuar a sua candidatura, através de um formulário
disponível na página oficial do programa, todos os indivíduos,
organizações e entidades públicas e privadas,
cujas iniciativas contribuam para a capacitação das competências
digitais em Portugal. Para isso, é necessário
que todos os candidatos ao programa trabalhem em prol
da inclusão e da literacia digitais, enquanto promovem a
educação das gerações mais jovens e a qualificação da
população ativa.
f
Agenda
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Marta Leite
Divulgação
10 E 12
UXLX MASTERS
Online
FEVEREIRO
A UXLx Masters é um evento online de
partilha de conhecimento e experiência
por vários especialistas da indústria de
user experience (UX). Pode escolher
entre 12 palestras que têm como objetivo
ajudar a melhorar as práticas no
trabalho e habilidades interpessoais.
Pode ver o que os outros estão a fazer,
entrar em contacto com eles e criar
networking com pessoas da área.
28 A 26
BUILDING
THE FUTURE
Online
JANEIR0
O Building the future é o evento
de transformação digital que reune
tecnologia, liderança e educação.
Este ano será totalmente
online e conta com especialistas
internacionais que darão palestras,
havendo ainda sessões
práticas para aprofundar o conhecimento
nesta área.
Mais em:
https://buildingthefuture.pt/pt
Mais em:
https://masters.ux-lx.com/
3 A 7
MARÇO
BTL TRAVEL MARKET
Feira Internacional de Lisboa e Online
25 A 27
FEVEREIRO
WOW – WOMEN OF WISDOM
Riviera Hotel Carcavelos e Online
Esta conferência é direcionada para todas
as mulheres fortes e independentes.
O objetivo é reunir mulheres de todo
o mundo para partilharem os seus sonhos
e objetivos profissionais. Desde
o negócio tradicional ao e-commerce,
este evento é dedicado às mulheres empreendedoras
que tenham, ou não, o seu
próprio negócio.
Mais em:
http://wowconference.net/
A Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) é uma
feira internacional que pretende potenciar
networking e promover os melhores negócios
no setor do turismo. Um encontro não
só para profissionais da área, mas também
para o público em geral, com workshops,
apresentações de destinos, provas gastronómicas
e música. Este ano será em formato
híbrido, com ações presenciais e online.
Mais em:
https://btl.fil.pt/
47
f
fora d'horas
CONHEÇA A ESTADIA EM BARRICAS
DE VINHO NA QUINTA DA PACHECA
Mafalda Marques
Quinta da Pacheca
A Quinta da Pacheca, em Lamego, é uma quinta secular ligada à produção vinícola. O seu grande negócio
é a produção de vinhos do Porto, licorosos e de mesa, mas o The Wine House Hotel já chamou a atenção
internacional pelas dez suites em forma de barricas, no meio das vinhas do Douro.
Vinho premiado da Quinta da Pacheca
Contexto natural Wine Barrels na Quinta da Pacheca
Mais do que uma quinta produtora de vinhos, a Quinta
da Pacheca é uma experiência vinícola. No meio dos 57
hectares de vinhedos que se estendem até ao rio Douro,
está uma casa senhorial, outrora da família Serpa Pimentel,
mas que já alcançou fama internacional por proporcionar
uma estadia, no mínimo, original. As dez suites
em barricas de vinho, os Wine Barrels, são uma arrojada
proposta de estadia em pipos gigantes, num projeto da
autoria do arquiteto Henrique Pinto. Localizados no topo
da propriedade, permitem uma vista deslumbrante sobre
a vinha, num silêncio e vista inexplicáveis.
48
A lista de espera para pernoitar nos Wine Barrels é de
meses e Sandra Dias, diretora-geral adjunta, explica o
fenómeno: “O serviço que prestamos é de exclusividade,
um serviço de luxo, onde a privacidade e o isolamento na
natureza são diferenciadores”. Uma suite climatizada em
madeira, com wi-fi, minibar, wc e um terraço privativo
para a vinha, faz desta proposta a sugestão ideal para
qualquer altura do ano.
Provas e cursos de vinhos, passeios, eventos, workshops
de cozinha e turismo ‘à la carte’, incluindo passeios de
barco, de comboio, de helicóptero ou pedestres, são
algumas das atividades do The Wine House Hotel da
Quinta da Pacheca. Válido para grupos e empresas.
A loja de vinhos numa casa de madeira tem um enquadramento
natural, onde é possível degustar todo o
portefólio de vinhos, incluindo os Reserva, Vintage, ou
outros produtos que a quinta coloca no mercado, como
doces ou azeite.
JANEIRO 2021
PMEMAGAZINE.SAPO.PT
Vista aérea da Quinta da Pacheca
Deck exterior dos Wine Barrels
Certificada com o selo Clean & Safe do Turismo de
Portugal, a Quinta da Pacheca investiu num túnel de
ozonização de água que desinfeta os visitantes sem
recurso a químicos, uma decisão de peso financeiro
para proteger o enquadramento natural do Douro.
O conforto, a natureza e a exclusividade são o chamariz
desta experiência, onde o vinho tem o papel principal.
A não perder.
Piscina exterior dos Wine Barrels
Morada: Rua do Relógio do Sol, 261, 5100-424 Lamego
Telefone: (+351) 254 331 229
Email: reservas@quintadapacheca.com
49
x
OPINIÃO
#ECOMMERCEPORTUGAL
UMA ALAVANCA PARA 2021
Paulo Mateus Pinto, CEO da La Redoute Portugal
João Filipe Aguiar
Paulo Mateus Pinto foi figura
de capa da PME Magazine
em outubro de 2020
50
No final de 2019, 51% dos
portugueses tinham feito
pelo menos uma compra
online. O ano de 2020 perspetivava
um crescimento do
e-commerce em linha com
os anos anteriores, contudo,
o aparecimento de um
vírus veio mudar totalmente a
nossa realidade. De um momento
para o outro, a casa
passou a ser o centro do
nosso universo: a nossa habitação,
o nosso escritório,
a escola dos nossos filhos,
o nosso ginásio, o nosso restaurante e o nosso centro
comercial. O mundo digital passa a ser encarado como
a solução capaz de colmatar as consequências de um
confinamento obrigatório. Um crescimento abrupto do
consumo digital que, ainda assim, não diminuiu o gap em
relação à média europeia. De acordo com um estudo da
IDC/ACEPI, estima-se que, no final de 2020, Portugal
tenha ficado nos 57% versus os 75% na média europeia.
Na verdade, trata-se de um rácio comparável ao ano de
2010. A partir de 2021 é primordial que este atraso comece
a diminuir mais rapidamente. No entanto, para atingir
esse patamar são necessárias profundas mudanças nas
empresas e muitas foram “empurradas” para o adiado
processo de digitalização.
"O atraso na digitalização
explica porque muitos setores
se viram obrigados a adaptar
a sua organização de um dia para
o outro, de forma a dar resposta
às novas necessidades
provocadas pela pandemia"
Passou a ser notório, em todas as estradas e ruas do
nosso país, o crescimento do tráfego de carrinhas de
transportes e motas de entregas rápidas. Esta opção
de consumo traz igualmente uma necessidade de exigência
onde a experiência de compra online será fundamental
para que as lojas portuguesas atraiam mais
consumidores. É importante que o conteúdo, a transparência
das informações, os métodos de entrega e o
carrinho de compras sejam intuitivos, eficientes e simples.
Os meios de pagamento devem evoluir para soluções de
pagamento fixas e gratuitas que hoje requerem um controlo
do Banco de Portugal, que o entende como crédito
quando o marketing o vê como um meio de pagamento
que facilita a vida do cliente. Comprar online, sim. Comprar
em websites .pt, também. Segundo estudos disponíveis, a
maioria das pessoas que efetuava compras online até ao
início da pandemia recorria a websites fora de Portugal. Segundo
o “Ecommerce report”, estudo feito pelos CTT entre
julho e setembro, cerca de 85% dos consumidores online
portugueses prevê, agora, privilegiar websites em Portugal.
Neste contexto, a campanha #ECOMMERCEPORTUGAL,
lançada pela ACEPI com o apoio de parceiros como o
Continente, a Decathlon, a DPD, o El Corte Inglés, a
FNAC, a La Redoute, a Worten e a Unicre, visa incentivar
as compras em websites .pt mas demonstra igualmente
uma união à volta de uma preocupação que consiste em
acreditar que o comércio online tem um enorme potencial
e que os comerciantes portugueses devem aproveitá-lo
em seu benefício. Até porque os pure players online utilizam
o comércio de rua como um perfeito complemento
ao seu modelo digital.
A estratégia omnicanal consolida e reforça a necessidade
de procurar dar aos consumidores uma experiência única
independentemente do canal utilizado. O investimento
realizado pela La Redoute numa loja de rua traduz o
quanto o digital pode conviver com o comércio físico.
A La Redoute evoluiu de um modelo tradicional de venda
por catálogo para um puro player de e-commerce. Esta
transformação assumiu diversas perspetivas e teve consequências
também ao nível da oferta de produto. Hoje,
a nossa aposta na vida em família levou-nos a evoluir e
a alargar a oferta em torno da casa, com a decoração,
o mobiliário e a roupa de cama a ganharem terreno.
A maturidade comercial e evolução contínua levam-nos
ao estágio final da nossa estratégia omnicanal. A abertura
de um showroom de 400 metros quadrados no centro de
Lisboa visa mostrar a evolução da oferta e a qualidade
das nossas marcas. Desta forma tentamos enriquecer a
experiência do cliente, diminuindo o risco e aumentando
a perceção de qualidade através do toque. Ainda assim,
promovemos uma experiência física em prol de uma
compra online. Por sermos a primeira marca totalmente
digital a abrir um ponto de venda físico em Portugal,
continuamos reconhecidos como uma força motriz da
pedagogia do comércio eletrónico no nosso país.
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