Turismo & Negócios 177
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PÉ NA AREIA
Patrimônio natural
ano XXVII 2021 nº 177
da Mata Atlântica
em Japaratinga
turismo&negócios
CONTEÚDO
ano XXVII 2021 nº 177
ECONOMIA
GIRO DA NOTÍCIA
Rosa Helena Volk quer fortalecer
o turismo em Gramado-RS
Página 6
Página 16
12
ENTREVISTA
Luiz Sales: Turismo e as
consequências da pandemia
em 2021, 22 e 23
PARCERIA
Turismo gastronômico
no Litoral Norte de Alagoas
24
Página 8
JAPARATINGA
Reserva à beira-mar protege
patrimônio da Mata Atlântica
DESENVOLVIMENTO
Alagoas e governo federal
debatem turismo do Estado
Página 26
28
NEGÓCIOS
Turismo do azeite é a mais
nova aposta de Gramado
EXPEDIENTE
turismo&negócios
Conselho Editorial
Dêvis de Melo
(In Memoriam)
Valter Oliveira
Colaboradores
Claudio Bulgarelli
Douglas Apratto
Diretor/Editor
Antonio Noya
EM ON-LINE E
VIRTUAL PAPER
Eudes Cavalcante
Iracema Ferro
Marcio Vital
Nide Lins
Impressão
Grafmarques
Fone 82 2121.6161
TURISMO & NEGÓCIOS é uma revista bimestral editada
Noyatour Publicações e Promoções Ltda CNPJ
35.567.924/0001-59 Endereço Rua Clístenes de Miranda
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E-mail noyamcz@uol.com.br
A revista TURISMO & NEGÓCIOS circula em todo o
País, por meio de mala direta para órgãos oficiais de
turismo, companhias aéreas, operadoras turísticas,
agências de viagens, agências marítimas, hotéis, restaurantes,
locadoras, bancos, autoridades em geral e
jornalistas da imprensa especializada e, ainda, está
presente em grandes eventos.
Artigos assinados e conceitos emitidos por entrevistados
não representam necessariamente a opinião da
revista.
4 Revista Turismo & Negócios
COMEÇO DE CONVERSA
Luiz Henrique Miranda
Diretor de Relações
Públicas do Skal
São Paulo
“
Brasileiros que deixarão de
fazer viagens internacionais
no próximo verão, caso a
pandemia não se agrave,
poderão contribuir com
a geração de milhares de
empregos ao redescobrirem
as belezas naturais e
culturais do Brasil
“
O turismo é a riqueza
do século para o Brasil
Otavio Leite, ex-secretário
estadual de Turismo do Rio
de Janeiro, desde 27 de junho 2020,
publicou interessante artigo no jornal
O Globo, último dia 21 de novembro,
sob o título “Hora de investir no
Turismo interno - Com a pandemia,
brasileiros que deixarão de viajar
ao exterior podem aquecer mercado
nacional”.
Divulgado pelo skalega Arnaldo
Moreira, do Rio de Janeiro, e
compartilhado com todos os associados
do Skal São Paulo, pelo
presidente Walter Teixeira, além
de destacar o potencial econômico
do Turismo no país, o
artigo chama atenção para "um
mercado consumidor latente,
posto e real". Ou seja: brasileiros
que deixarão de fazer viagens
internacionais no próximo verão,
ou mesmo no próximo ano, e,
caso a pandemia não se agrave,
poderão contribuir com a geração
de milhares de empregos ao
redescobrirem as belezas naturais
e culturais do Brasil.
A mesma tese foi lançada
pelo skalega Eduardo Sanovicz,
presidente da Abear (Associação
Brasileira das Empresas Aéreas),
durante participação no Webinar,
com expoentes que comandaram
a Embratur, realizado pelo Movimento
Supera Turismo Brasil, em
27 de julho deste ano, com aval de
Jeanine Pires, Caio Luiz de Carvalho
e Vinícius Lummertz. Evento
que demonstra a força da união do
Turismo como vetor estratégico para
o desenvolvimento regenerativo e
global; capaz de superar até mesmo
radicalismos político-partidários e
ideológicos.
As restrições impostas pela
covid-19 também fizeram resgatar
a necessidade natural de todo ser
humano de interagir de maneira
presencial. Esperemos que a dor
gerada pela perda de vidas motive,
cada vez mais, o consumo consciente.
E oportunize, àqueles que
podem viajar, dar valor à valiosa
riqueza turística que o Brasil possui
e é mundialmente reconhecida.
Assim, ao superar o complexo de
cachorro vira-lata, conseguiremos,
de fato e por inegável direito, exercer
no presente Século XXI o decantado
papel de "país do futuro".
Afinal, com o emprego da robótica,
em tempos de inteligência artificial
e internet das coisas, na produção
industrial, após avanços já conquistados
no agronegócio brasileiro, cabe
ao setor de serviços ocupar a mão de
obra ociosa e incentivar o incremento
das viagens de lazer, intercâmbio,
eventos, incentivos e, até por razões
de marketing e responsabilidade
socioambiental, com o apoio decisivo
das corporações de todos os portes e
ramos de negócios.
Revista Turismo & Negócios
5
Divulgação
Tissot e volta a assumir a secretaria
de Turismo de Gramado. Ela, que já
trabalhou na Prefeitura de Gramado
como diretora da Área de Comunicação,
também foi diretora de Marketing
da Associação Brasileira de Dirigentes
de Turismo.
GIRO DA NOTÍCIA
Rosa Helena Volk
quer fortalecer o
turismo em Gramado-RS
"O turismo é o coração de nossa
cidade e fico honrada em poder
contribuir neste setor trabalhando
com muita transparência. Sabemos
de todos os desafios e estamos
preparados para fortalecer ainda
mais o nome de Gramado", destacou
Rosa Helena Volk.
Para o prefeito Nestor Tissot, a
secretaria segue com o potencial que
o turismo de Gramado exige. "Temos
certeza do excelente trabalho que
será desenvolvido pela Rosa Helena.
Conhecemos todo o seu profissiona-
Rosa Helena Volk, prefeito Nestor Tissot e vice-prefeito Luia Barbacovi
Com grande experiência no setor lismo e pulso firme dentro da administração
municipal. Os gramadenses
turístico, Rosa Helena Volk
aceitou o convite do prefeito Nestor só têm a ganhar com sua colaboração",
frisou.
Com a maior infraestrutura turística
do Rio Grande do Sul, Gramado
oferece a excelência de seus hotéis,
pousadas, restaurantes e cafés, além
de mais de 50 espaços de entretenimento
e lazer como parques e
museus. "É com o conjunto desses
elementos que a cidade se transformou
em um dos mais desejados
destinos de turismo do Brasil", reforçou
Volk.
O calendário de eventos de
Gramado contempla um ano inteiro
de espetáculos para os mais diversificados
públicos: Gramado Fantasia,
Gramado In Concert, Páscoa em
Gramado,Gramado Aleluia, Festa da
Colônia, Festival de Cinema, Festival
de Cultura e Gastronomia, Natal Luz e
Reveillon, dentre outros.
Maceió (AL) aparece
como destino
tendência para 2021
A valorização do turismo doméstico
é uma das tendências identificadas
no comportamento do turista pós-
-covid e, pensando nisso, o Ministério
do Turismo acaba de divulgar
uma lista com destinos tendência
para 2021. Nesse sentido, a capital
de Alagoas, Maceió (AL), figura como
um dos destinos mais buscados para
o ano. O levantamento foi realizado
tomando como base os principais sites
de pesquisa do setor, além de publicações
e dos destinos que se alinham à
demanda do novo turista.
“O levantamento reforça que estamos
no caminho certo para que a retomada
aconteça. O turismo doméstico
tem um enorme potencial que merece
ser conhecido pelos brasileiros e é com
esse foco que o Ministério do Turismo
vem trabalhando – oferecer melhor
infraestrutura, serviços cada vez mais
qualificados e seguindo os protocolos
de biossegurança”, comentou o ministro
Gilson Machado Neto.
No Nordeste, além de Maceió,
aparecem também João Pessoa (PB),
Ipojuca (PE), Fortaleza (CE), Natal (RN),
Porto Seguro (BA) e Salvador (BA).
De acordo com o Booking, 59% dos
entrevistados pretendem ir para um
destino de natureza próximo.
SELO
O selo “Turismo Responsável,
Limpo e Seguro”, do Ministério do
Turismo, identifica estabelecimentos
e guias de turismo que assumiram,
declaradamente, o compromisso em
adotar protocolos de biossegurança
para proteger turistas e trabalhadores
contra a Covid-19.
6 Revista Turismo & Negócios
Revista Turismo & Negócios
7
e as conseq
da pand
ENTREV
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO
Economia da Cultura e Desenv
Luiz Sales:
em 2021,
Luiz Sales é jornalista, especializado
em planejamento e gestão de cidades,
foi diretor da São Paulo Turismo. Desenvolveu
o projeto da “Fábrica de Samba”-
a Cidade do Samba da capital paulista.
Também coordenou as três edições do
“Censo do Samba Paulistano”. Hoje é
coordenador de Comunicação da Secretaria
de Turismo do Estado de São Paulo.
8 Revista Turismo & Negócios
ISTA
| Especialista em
olvimento Econômico
“
No mundo todas as perdas são calculadas
em trilhões de dólares – entre US$ 2,6
trilhões, no cenário otimista, e US$
5,5 trilhões no pessimista. No Brasil,
segundo a Fundação Getúlio Vargas,
as perdas são de R$ 161,3 bilhões
”
Turismo
uências
emia
22 e 23
Luiz Carlos Prestes Filho: Qual foi
o impacto da Covid-19 para o turismo
no mundo, no Brasil e, especificamente,
no Estado de São Paulo?
Luiz Sales: Foi e continuará sendo
forte, pois muitas empresas simplesmente
não conseguirão voltar ou
perderão muito de seu tamanho. No
mundo todo as perdas são calculadas
em trilhões de dólares – entre US$ 2,6
trilhões, no cenário pessimista, e US$
5,5 trilhões no otimista. No Brasil,
segundo a Fundação Getúlio Vargas,
as perdas são de R$ 161,3 bilhões.
Já no Estado de São Paulo, segundo
o Centro de Inteligência e Economia
do Turismo (CIET), da Secretaria de
Turismo do Estado, a perda, hoje, já
calculada em R$ 15 bilhões ou menos
16 milhões de viagens. Importante
considerar, contudo, que este cenário
no Estado e no Brasil pode piorar
em caso de novas ondas de contágio
e necessidade de interrupção das
viagens. O mais dramático, contudo,
é a perda de empregos. Entre 600 mil
e 1,4 milhão de postos de trabalho
poderão ser perdidos, o que tem um
impacto social ainda mais severo se
nos lembrarmos das pessoas que já
estavam sem um emprego formal
antes da crise.
Prestes Filho: A Secretaria de
Estado de Turismo de São Paulo tinha
alguma previsão para a situação que
se apresentou?
Sales: Nem a Secretaria de Turismo
de São Paulo nem ninguém no mundo. A
falta de uma liderança efetiva, a ausência
de um plano mínimo de contingência,
foram os primeiros sinais dessa crise.
Não havia quem estivesse preparado
na proporção necessária. Tanto que o
mundo todo foi afetado, com as exceções
já clássicas de um melhor desempenho
na reação, mas não na prevenção,
como a Nova Zelândia, o Vietnã ou
Cingapura. O comportamento da
pandemia, no entanto, foi um pouco
amenizado na medida em que as medidas
de restrição foram adotadas e mantidas
na velocidade e rigor necessários. A
Secretaria de Turismo, que tem por base
incentivar as viagens e atrair turistas
para o Estado, de uma hora para outra,
passou a criar materiais e desenhar estratégias
para que as visitas fossem adiadas
para um momento futuro que a cada
semana se prolongava.
Revista Turismo & Negócios
9
Prestes Filho: Quais são os principais
eventos turísticos que marcam a
atual gestão desta pasta? Como está
o planejamento para a retomada?
Sales: O principal programa e,
dentro dele, ações concretas, foi o
guarda chuva “SP Pra Todos” que, ao
longo de 2019, conseguiu fazer com
que o Estado ganhasse 700 novas
frequências aéreas, ativando aeroportos
de menor movimento ou até então sem
nenhum voo comercial, melhorando a
conectividade do Estado; e foi lançada
também uma campanha inédita de
promoção do Estado. Nas ações de
curto prazo para a retomada, somente
no primeiro semestre e em meio à
pandemia, a Secretaria repassou R$
79 milhões para obras de melhoria das
cidades turísticas do Estado. Em junho,
por exemplo, foi inaugurado o “Parque
Oriental”, às margens da represa
Billings em Ribeirão Pires, e o restauro
do Colégio São Luiz, em Bragança
Paulista, uma construção lindíssima do
final do século XVIII. Foram mantidos
os projetos estruturantes que, mesmo
na pandemia, não tiveram seu amadurecimento
interrompido, como o das
“Rotas Cênicas”, que visam tornar as
viagens rodoviárias mais agradáveis
e seguras; os Distritos Turísticos, com
uma legislação própria que permita e
incentive o desenvolvimento regional
de forma integrada e não individual,
cidade a cidade. Em especial, o projeto
“Politurismo”, que será um centro de
pesquisas e integração entre empresas
e a academia, em uma união público-
-privado, instalado em uma área física
de 22 mil metros quadrados, entre
três expoentes do turismo paulista: (1)
Centro de Feiras e Eventos Expo São
Paulo, (2) Jardim Botânico, uma das
mais belas reservas naturais da cidade,
(3) Zoológico, ponto de atração de
moradores e visitantes.
“
Não há dúvida de que o Rio de Janeiro é o
produto carnavalesco mais bem acabado e
simbólico do País. Isso não significa que o
carnaval de São Paulo não tenha elementos que
podem contribuir para a criação de um produto
mais bem acabado, variado, complementar.
Prestes Filho: Como é visualizado
o carnaval pela Secretaria de Estado
de Turismo? Existem programas e
projetos específicos?
Sales: É visto com um evento que
ganha cada vez mais em expressão e
importância e que, nos últimos anos,
não apenas teve um crescimento forte
na participação dos paulistas como
também passou a atrair cada vez mais
visitantes. Lembrando que, no interior
do Estado, há carnavais para todos os
gostos, como os das marchinhas em
São Luiz do Paraitinga, o das baladas
em Votuporanga e Ilha Solteira,
e também das escolas de samba, que
somente na capital são cerca de 90,
divididas em sete categorias. Com
este carnaval, das agremiações, historicamente
o Estado nunca foi muito
próximo, tendo um papel mais de
apoio, como na segurança pública
e eventual cessão de áreas, que de
incentivador direto nas escolas, o que
está mais vinculado à capital paulista.
Justiça seja feita, nos últimos anos, a
Prefeitura tem demonstrado uma atenção
inédita e uma compreensão real
”
sobre a importância das agremiações,
não apenas dos desfiles. Isso se reflete
no crescimento e ganho de qualidade
das apresentações.
Prestes Filho: O carnaval do Rio
de Janeiro e o carnaval de São Paulo,
juntos, poderiam estruturar projetos
para potencializar a festa nacionalmente?
Como? Através de quais
ações?
Sales: Penso que o primeiro passo
seja o entendimento da real importância
mútua. Não há dúvida de que
o Rio de Janeiro é o produto carnavalesco,
no quesito escola de samba,
mais bem acabado e simbólico do
País, constituindo uma imagem forte
e positiva do Brasil no exterior. Isso
não significa, contudo, que o carnaval
de São Paulo não tenha elementos
que podem contribuir para a criação
de um produto mais bem acabado,
variado, complementar. Dentro do
Brasil, já há esta dimensão. Fora,
enquanto o Rio vender seu carnaval
sozinho e São Paulo trabalhar o tema
apenas de forma esporádica, já que o
10 Revista Turismo & Negócios
evento é apenas mais um entre tantos,
os dois destinos perderão. No caso dos
desfiles das escolas de samba, ambos
têm uma capacidade limitada: 90 mil
lugares por noite no Rio, 30 mil em
São Paulo. Porém, ao longo do ano
São Paulo, capital, recebe cerca de
2,3 milhões de estrangeiros e perto
de 15 milhões de brasileiros de todos
os cantos. Se acrescentarmos o interior
paulista à conta, são mais de 45
milhões de viagens. Penso que este seja
um número considerável a ser trabalhado,
porém, sem disputa, o que nem
sempre é fácil de ser conseguido em
um segmento que tem suas vaidades e
interesses individuais.
Prestes Filho: O que você destacaria
nos Censos do Carnaval que
foram realizados por sua equipe?
Quais pontos estão bem atuais
para aqueles gestores que desejam
implementar políticas públicas
setoriais?
Sales: As três edições do Censo do
Samba em São Paulo foram feitas com
um objetivo inicial simples: entender
o que é esse universo. Dar contornos
mais concretos àquele sentimento de
importância que todos tinham, mas
que não era demonstrado e, portanto,
reconhecido. Hoje, mesmo passados já
seis anos da última edição, publicada
em 2014, ainda há elementos atuais,
como a inserção social e comunitária
das agremiações no mapa da cidade; a
importância estratégica da utilização de
áreas que, públicas, podem ser preservadas
e, ao mesmo tempo, cumprirem
uma função social; as escolas como
geradoras de diversos tipos de emprego
e, portanto, de renda. Os censos tiveram
essa função e foram bem recebidos
também por algumas escolas de samba
que passaram a utilizar aquelas informações
econômicas e sociais em seus
projetos de captação ou mesmo de
sensibilização.
Prestes Filho: Por que a Fiesp,
Associação Comercial de São Paulo,
e outras entidades empresariais
não conseguem visualizar o carnaval
como serviço fundamental para
o Estado? Por que estas entidades
não viabilizam programas e projetos
para o carnaval?
Sales: São vários “porquês” aí.
Primeiro, a falha interna: as agremiações,
as entidades historicamente,
porém menos hoje em dia, se apresentavam
de forma desproporcional à importância
que se atribuíam. Ou seja, suas
propostas eram eventualmente frágeis.
Isso mudou muito. Segundo, infelizmente
crônico no passado, havia um
empenho forte na captação de apoio,
mas não na entrega do prometido, o
que frustra o investidor, o apoiador.
Terceiro, a concorrência: o apoiador,
a entidade, tem um dinheiro e precisa
decidir onde colocar. Se a concorrência
trabalhar melhor, as escolas perderão.
Ou seja, a Associação Comercial e suas
empresas, a Fiesp e suas indústrias,
precisam querer apoiar as escolas, e o
farão na medida em que sentirem que
essa intenção terá o retorno, não necessariamente
que gostariam, mas que foi
proposto pelas escolas. Vou dar um
exemplo bem simples, fora do carnaval.
Há alguns anos, o Fundo Social de
Solidariedade do Estado procurou a São
Paulo Turismo (que tinha o relacionamento
com as escolas) para pensarmos
um projeto social. Em duas conversas
estava pronto: a Fiesp, por meio de três
empresas, iria contratar costureiras das
escolas que, entre março e junho estariam
disponíveis; a Receita Federal iria
doar tecidos que tinham sido apreendidos;
o Senac daria um curso de reciclagem,
com uma pequena bolsa, um
auxílio financeiro, para que as costureiras
das escolas aprendessem a usar
um equipamento mais moderno. Elas
foram contratadas, ganharam um salário,
produziram as roupas que foram
doadas para a campanha do agasalho
do Fundo Social. Simples assim. Note
que havia um propósito claro, objetivo
acordado. Foi um sucesso, ao ponto de
uma das escolas, que não tinha ateliê,
ganhar máquinas de costura de um
dos patrocinadores e, outra, manter
um relacionamento depois do patrocínio.
Dá para fazer, mas tem que haver
compromisso e entendimento dos dois
lados.
Prestes Filho: O mundo vai mudar
após a pandemia da Covd 19, São
Paulo vai mudar. Quais serão as
principais mudanças que você prevê
como gestor público?
Sales: Primeiro, entender que
teremos que conviver com as consequências
da pandemia ainda em 2021,
22. Há quem diga que só voltaremos
em 2023 aos mesmos resultados de
2019 no turismo. Será preciso pensar
também no elemento “segurança
sanitária” em tudo o que for feito a
partir de agora. Não por conta apenas
da covid-19, mas pela percepção de que
somos uma sociedade frágil que pode
ser atingida por outro tipo de pandemia.
Planejar pensando em “eventos
extremos”, como esse que estamos
vivendo, é um exercício necessário e
perigoso, pois alguns têm tendência de
pensar em soluções para problemas que
não existem. Assim, do ponto de vista
da gestão pública, independente se de
saúde, de transportes, de educação, de
cultura ou de turismo, está escancarada
a necessidade de olhar para a desigualdade
social como um elemento a ser
atacado se quisermos estar mais bem
preparados para qualquer situação.
Revista Turismo & Negócios
11
RÁPIDAS
Natura mantém cronograma de abertura
de Centro de Distribuição em Alagoas
A Natura, gigante de cosméticos que
iniciou ano passado a construção de um novo
Centro de Distribuição na cidade de Murici, em
Alagoas, não alterou seu cronograma de obras e
previsão de início da operação no Estado devido
ao recrudescimento da pandemia.
De acordo com a assessoria de imprensa do
grupo, a empresa mantém a previsão de iniciar
a operação do novo Centro de Distribuição em
Murici no primeiro trimestre do próximo ano.
A empresa informou que o novo Centro de
Distribuição deverá contar com cerca de 800
colaboradores contratados para trabalhar em
um dos três turnos de funcionamento.
Mesmo em ano de pandemia, a empresa
manteve a boa performance de vendas e subiu
uma posição no ranking das 25 marcas mais
valiosas do Brasil, segundo pesquisa da Interbrand,
chegando à quinta posição com valor de
marca estimado em R$ 9.728 bilhões.
CVC: Destino Alagoas é
o mais vendido de 2020
AGENDA A
O ano de 2020 foi de superação e grandes
conquistas para o turismo de Alagoas. Prova mais
recente disso é que o estado foi o líder de vendas
da CVC viagens no ano passado, deixando
para trás concorrentes históricos como Natal
(RN), Porto de Galinhas (PE) e Salvador (BA). A
informação foi compartilhada pela diretoria da
empresa em reunião com o secretário de Estado
do Desenvolvimento Econômico e Turismo,
Rafael Brito.
Alagoas também segue na liderança nas
vendas neste mês de janeiro. O ranking leva em
consideração as vendas de passagens aéreas e
pacotes de viagem com destino a capital Maceió.
Divulgação
Kaio Fragoso
PARCERIA
Turismo gastronômico no
Litoral Norte de Alagoas
Porto da Rua, em São Miguel dos Milagres, se destaca com
maior número de restaurantes e variedade em cardápios
Acapital da Rota Ecológica, como
vem sendo chamada nos últimos
10 anos, além de ser conhecida como
meta do turismo de atrações, com suas
belas piscinas naturais; meta do turismo
de luxo, com suas pousadas de charme;
meta dos grandes eventos, com suas
festas de Réveillon; meta das construtoras,
com seus vários condomínios
já prontos ou em construção; meta de
ambiciosos projetos; como o Orla dos
Milagres e novos hotéis que devem
surgir ainda esse ano, e meta do desejo
de pelo menos 5 em cada 10 brasileiros
que pretendem vir a Alagoas, segundo
plataformas de busca turística, é
também a nova meta do turismo gastronômico,
tendo no povoado de Porto da
Rua o maior número de restaurantes
reconhecidos e elogiados do litoral
Norte.
E o povoado de Porto da Rua se
transformou na meca do turismo
gastronômico, onde chefs renomados,
em visita a cidade, teceram elogios sobre
os novos restaurantes e sua apreciada
culinária.
Um dos mais antigos, que deu início
a essa fase, é o restaurante do Enildo, da
Chef Lúcia, super badalado com seus
pratos de frutos do mar bem pé na areia.
Outra chef local que faz bastante
sucesso é Romilda, do Favoritu’s, que
criou um prato para lá de delicioso, o
Camarão Milagrense, dentro do coco
verde. O Manzuá, do chef Veloso,
também ocupa lugar de destaque na
galeria dos locais.
Reprodção
Os novos restaurantes, super cobiçados,
de chefs e proprietários que vieram
de fora, mas escolheram morar, fazem
bastante sucesso e têm filas de espera
nos fins de semana. Começando pelo
Quintal, do chef Lucas.
Passa pela Companhia da Lagosta,
dentro da Pousada Villa Pantai. O Villa
Milagres, que conquistou uma legião de
fãs, em apenas um ano, com sua famosa
casquinha de carne de jaca. O Patrícia
Bistrot, com sua culinária bastante refinada.
O Iapois Restaurante, que lançou
as receitas da felicidade, o Restaurante
Milagreiro, que oferece uma massa dos
sonhos e o Milagres Beer, que além de
bar com música ao vivo, é restaurante
12 Revista Turismo & Negócios
de primeira qualidade, onde os pratos,
segundo dizem, alegram a gula e a
alma.
1º restaurante
Na sexta-feira, dia 15, Porto da Rua,
povoado de São Miguel dos Milagres,
que nos últimos meses se transformou
no novo point da gastronomia, ganha
Pratos típicos alagoanos e
derivados de produtos do
mar são as especialidades
no Litoral Norte alagoano
um movimento que ganha força em
diferentes contextos, as experiências.
Mais do que apenas servir comida, hoje,
trabalhar com gastronomia é pensar
em formas de impactar positivamente
o cliente, levando em conta sentidos
diferentes. Com um público mais
exigente e seletivo, a relação precisa ser
mais pessoal, íntima e ir muito mais
além. O desafio é vender, junto com a
gastronomia de qualidade, experiências
que aguçam sentidos além do paladar e
permitam que o consumidor crie memórias
positivas”.
Se o turismo de experiência já está
consolidado como uma nova forma
de conhecer lugares, a gastronomia de
experiência se fortalece com a proposta
de servir pratos de qualidade, levando
em conta a vivência do consumidor.
Essa é a proposta do Restaurante
Varanda, em Porto da Rua. Mais
informações no Instagram @varandamilagres.
seu primeiro restaurante conceito da
Rota Ecológica.
É que no balneário vai abrir o
Varanda, primeiro restaurante conceito
do Litoral Norte, oferecendo pratos
variados da cozinha brasileira e contemporânea,
que abriga tendências que
utilizam ingredientes de culinárias
diferentes e misturam sabores e técnicas
de cocção com o objetivo de dar asas à
imaginação.
Preparado por Jéssicka Albuquerque
e Paulo, os dois chefs do Varanda, o
cardápio é uma experiência gastronômica.
Segundo a chef Jéssicka, “nos últimos
anos, a gastronomia tem aderido a
Planejamento
Para os municípios de Barra de Santo
Antônio, Porto de Pedras e Passo de
Camaragibe – além da São Miguel dos
Milagres – a situação urbana tende a ter
grande melhora. É que o governador
Renan Filho assinou, na última semana,
convênio do Plano Diretor para esses
municípios.
Cerca de R$ 2 milhões serão investidos
pelo Governo de Alagoas nos planos
diretores por meio de recursos próprios,
através de quatro convênios.
A respeito do Plano Diretor, o
governador Renan Filho afirmou que
“será o instrumento fundamental para o
desenvolvimento das cidades”.
O plano viabilizará construção civil,
saneamento básico, preservação do
meio ambiente, promoção do desenvolvimento
sustentável, elaboração de
diagnóstico de impacto ambiental e de
trânsito, democratização de acessos.
Revista Turismo & Negócios
13
BIOSSEGURANÇA
Rossi & Zorzanello e Festuris Gramado
recebem certificações internacionais
Reconhecimento aumenta credibilidade de eventos e atividades junto ao mercado
empresa Rossi & Zorzanello e
A o Festuris Gramado receberam
recentemente três certificações internacionais
de biossegurança e turismo
responsável, validando a postura e os
protocolos adotados na realização dos
eventos e atividades em 2020. Ao obter
estes reconhecimentos, a empresa e a
feira de negócios aumentam a sua credibilidade
junto ao mercado e clientes.
Entre as certificações recebidas
pela Rossi & Zorzanello estão o Safe
Travels, oferecido pela World Travel
& Tourism Council (WTTC), e o Selo
Turismo Responsável, Limpo e Seguro,
concedido pelo Ministério do Turismo
do Brasil. Em novembro, o Festuris
Gramado havia recebido também a
certificação Covid Free, do IBES International,
se tornando a primeira feira de
negócios do Brasil com o selo.
“Sempre buscamos excelência
no trabalho que realizamos. E como
fomos os pioneiros na realização de
Marta Rossi destaca a preocupação em seguir todos os protocolos de segurança
eventos durante a pandemia, tivemos
uma preocupação muito grande em
atender da forma mais abrangente
possível e rigorosa todos os protocolos
exigidos em relação a segurança dos
participantes, o que nos transformou
em referência. Essa preocupação que
tivemos agora, sempre temos em tudo
que a gente faz”, avalia a CEO da Rossi
& Zorzanello, Marta Rossi.
14 Revista Turismo & Negócios
Revista Turismo & Negócios
15
16 Revista Turismo & Negócios
Jonathan Lins
ECONOMIA
Crescimento
do turismo
fomenta novos
empreendimentos
“pé na areia”
em Alagoas
De Norte a Sul do Estado,
novos beach clubs, bares de
praia e receptivos geram
empregos e oportunidades
Retomada do turismo em
Alagoas tem surpreendido
empresários e fomentado
novos investimentos
no setor
Revista Turismo & Negócios
17
Mesmo em um ano marcado
pela pandemia do novo coronavírus,
o turismo em Alagoas seguiu
crescendo, com destaque no mercado
nacional e expansão no internacional,
com novas conexões aéreas diretas
para a Europa. Em consequência, o
estado atraiu novos investimentos,
com destaque para os bares “pé na
areia”, como beach clubs e receptivos,
que foram inaugurados em praias de
Norte a Sul do litoral alagoano.
Depois de doze anos de existência do
Kanoa Beach Club, famoso bar da praia
de Ponta Verde, em Maceió, o grupo
resolveu investir em mais um empreendimento,
desta vez ainda maior, na
Praia do Francês, na vizinha Marechal
Deodoro. “Foi feito um estudo entre
os sócios e chegou-se à conclusão de
que no Francês vinha sendo feito um
trabalho bacana por parte da gestão
municipal em relação à infraestrutura,
saneamento básico, entre outros, o que
tornou a praia ainda mais atrativa. Mas
ainda faltava o que os sócios gostariam
de montar, um beach club com mais
estrutura e conforto”, conta Felipe
Carvalho, gerente executivo do Kanoa
Beach Club Praia do Francês.
Kanoa Beach Club tem grande procura por turistas e movimenta a economia da região ao gerar cerca de 70 empregos diretos
Feedback positivo
Mesmo ainda em soft open e em
plena pandemia, o Kanoa Beach Club
gera cerca de 70 empregos diretos e
tem chamado a atenção dos turistas,
oferecendo uma experiência com
maior estrutura de atendimento "pé
na areia", com ombrelones e cadeiras
exclusivas. “O feedback dos clientes
tem sido muito positivo. As pessoas
dizem que estavam precisando de algo,
como o nosso beach club, no Francês.
Neste final do ano, a cidade foi invadida
pelos turistas; o destino é muito
forte. As nossas expectativas foram
superadas. Alagoas está sendo muito
procurada, as pessoas estão viajando.
Claro que ainda há uma parcela de
público receosa, mas a expectativa
é positiva. Acredito que haverá um
aquecimento muito legal no primeiro
semestre”, estima Felipe Carvalho.
Experiência oferece maior e melhor estrutura de atendimento "pé na areia" aos clientes
18 Revista Turismo & Negócios
Revista Turismo & Negócios
19
Crescimento
Os beach clubs, bares de praia e
receptivos, já foram considerados um
gargalo na evolução do turismo em
Alagoas, já que o estado contava com
poucas unidades nesse segmento, que
é atrativo e ponto de apoio não só
para visitantes independentes, mas
também para excursões e cruzeiristas,
por exemplo. Quem também resolveu
investir nesta modalidade foi o
empresário de Maragogi, no litoral
Norte alagoano, Mauro Stoldoni. Ele
conta que o crescimento do destino foi
essencial para a decisão em investir. “O
principal fator foi o crescimento e o
aumento do fluxo turístico do destino
Maragogi. A retomada tem sido muito
positiva, o fluxo tem superado as
nossas expectativas dia a dia”, afirma.
Gerando mais de 40 empregos
diretos, o Casa da Praia Maragogi
está localizado na praia de Barra
Grande, uma das mais belas da cidade.
“Inicialmente fomos impactados pela
pandemia, mas, depois, com passar do
tempo e flexibilização das atividades, a
tendência só fez aumentar. O turismo
nacional, neste ano de 2021, trará bons
resultados”, acredita Mauro Stodolni.
20 Revista Turismo & Negócios
Efeitos positivos
Também no Litoral Norte, na paradisíaca
praia do Toque, em São Miguel
dos Milagres, o beach club Milagres do
Toque foi reestruturado durante o período
da pandemia. “Enquanto muitos
acreditavam no fim dos tempos devido
à Covid-19, que o turismo acabaria,
nós fomos justamente na vertente
contrária, aproveitamos o tempo da
paralisação e investimos pesado em
infraestrutura, paisagismo e marketing.
Contratamos excelentes colaboradores
que haviam sido demitidos devido
à pandemia e qualificamos o que já
tínhamos no quadro”, explica Diogo
Albuquerque, sócio proprietário.
Os investimentos feitos durante
o período mais rígido de quarentena
já surtiram efeito no crescimento do
fluxo do empreendimento. “Mudamos
o nosso conceito, passamos a ser um
beach club com música boa e pessoas
que estão procurando uma experiência
diferente do que elas já viveram
em outros locais. Nosso fluxo está
muito bom, nossos clientes são de toda
parte do mundo. Minha expectativa
para 2021, com a vacinação, é que
esse número melhore ainda mais”,
completa Diogo Albuquerque.
Para o secretário de Estado do
Desenvolvimento Econômico e
Turismo, Rafael Brito, os investimentos
feitos em 2020 pelos empresários
mostram que o turismo no estado,
apesar de ter enfrentado um dos piores
anos da história, vem colhendo frutos
e gerando oportunidades. “Fizemos
um trabalho intenso, com grande
investimento para criação e implementação
dos protocolos sanitários, que
nos rendeu o selo internacional Safe
Travels. Essas conquistas e os investimentos
em promoção do Destino
Alagoas, que colocou o estado nas
principais prateleiras do turismo no
mundo, deram confiança ao empresário
em investir e apostar no estado e,
com isso, seguimos gerando emprego
e renda, mesmo em um cenário tão
desafiador. Em 2021, seguiremos
crescendo. Há uma demanda reprimida
por viagens de lazer e diversão e,
certamente, estaremos nos destacando
no mercado nacional, liderando a
preferência do público e sendo um
dos mais visitados do país”, ressaltou
Rafael Brito.
Rafael Brito,
Secretário de
Estado do
Desenvolvimento
Econômico e
Turismo
de Alagoas
Revista Turismo & Negócios
21
AVENTURA
Fotos: Divulgação
Skyglass: Canela tem ponte
de vidro a 360m do chão
Com uma estrutura de 68 metros de comprimento, 35 deles de vão livre sobre
despenhadeiro, construção tem capacidade de receber até 130 pessoas
Fica no Brasil a maior plataforma
estaiada de vidro e aço do mundo: a
Skyglass. Localizada no Parque Vale da
Ferradura, em Canela, na Serra Gaúcha,
ela tem 35 metros e fica à frente até
mesmo do famoso Grand Canyon
Skywalk, no Arizona, Estados Unidos,
que tem "apenas" 21 metros de comprimento
em vão livre.
Única no mundo, a Skyglass é um
mirante com uma superfície de vidro
que avança sobre um penhasco de 360
metros em meio às montanhas no rio
Caí. Para apreciar a vista, o turista tem
duas opções: caminhar sobre as quatro
lâminas de vidro de 10 milímetros que
compõem a passarela; ou escolher uma
das cadeiras suspensas em um monotrilho
anexado à plataforma e dar uma
volta de cerca de 3 minutos em torno do
mirante.
Se escolher ir precipício adentro,
a sensação de aventura é garantida.
Você senta na cadeira, coloca o cinto
de segurança e espera o funcionário
dar o start. Lentamente, os assentos
deslocam-se rumo à imensidão do Vale
da Ferradura — que leva esse nome pelo
traçado do rio Caí, que navega em meio
às montanhas cobertas por mata nativa.
O panorama privilegiado da cascata
do Arroio Caçador, logo à direita do
mirante, nem abre espaço para o medo
ou vertigem.
A Skyglass tem 68 metros de
comprimento, 35 deles de vão livre
sobre o despenhadeiro. A construção
tem capacidade para até 130 pessoas.
No entanto, devido à covid-19 e os
protocolos sanitários, a quantidade
máxima permitida é de 25 visitantes por
vez.
Na plataforma é possível observar
pelo piso de vidro, sem barreiras visuais,
a profundeza do canyon, a imponência
das araucárias, os rochedos imensos. O
mirante balança um pouco em certos
momentos pela suspensão das cordas de
aço. Mas não é motivo para se preocupar:
tudo é calculado para garantir a
segurança.
O passeio foi pensando como uma
oportunidade para se desconectar,
aproveitar cada momento de experiência,
admirar a imensidão do canyon
e guardar tudo isso em nosso melhor
HD: a memória. Por isso, equipamentos
eletrônicos são proibidos no acesso à
Skyglass. Nada de smartphones, câmeras
fotográficas ou outros aparelhos
para garantir o registro no espaço da
superfície de vidro e durante o passeio
nas cadeiras suspensas.
O veto tem razão ecológica. Se um
celular ou câmera de vídeo cair do
penhasco e se quebrar, os elementos
utilizados em sua fabricação — como
ímãs, baterias, luzes de LED e placas de
circuito interno —, bem como metais
pesados usados na composição (arsênio,
bário, cádmio e chumbo), podem trazer
impactos ao meio ambiente.
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Revista Turismo & Negócios
23
JAPARATINGA
Reserva à beira-mar protege
patrimônio da Mata Atlântica
Recém-inaugurada, a Reserva da Bica se configura como nova opção de turismo
sustentável para quem visita o município localizado no Litoral Norte de Alagoas
Com a abertura para visitação
da recém-inaugurada Reserva
da Bica, o município de Japaratinga
ganhou mais um atrativo que incrementa
e diversifica a experiência turística
na região da Costa dos Corais. No
começo de feveeiro, 06, o Governo de
Alagoas visitou a unidade de conservação
situada no povoado Barreiras do
Boqueirão.
Encravada na franja verdejante que
emoldura a paisagem de uma das mais
aclamadas praias do Litoral Norte do
estado, o sítio possui 200 metros de
extensão à beira-mar e distende-se por
dois quilômetros vale adentro – da
cobertura total de 18 hectares (o equivalente
a 18 campos de futebol), cinco
são exclusivos para a área de proteção
ambiental que, em 2019, recebeu o
título de Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN).
Do alto de seus dois mirantes, um
deles a 70 metros de altitude, a vista
é de cartão-postal. A retina paralisa
diante do retrato estonteante – autêntico
paraíso tropical. Esqueça os
clichês: a mais suntuosa enseada das
praias de Japaratinga capricha em
mostrar que a vida vale a pena. É o
lugar certo, na hora certa. Sempre.
De início, ao percorrer uma trilha
leve e relativamente curta (entre 10
e 15 minutos de duração), o visitante
logo se depara com espécies da
chamada Mata Atlântica de Tabuleiro.
A cobertura vegetal recebe forragem
e floração de plantas e árvores como
cajueiro brabo, barbatimão, ouricuri,
araçá, mangabeira e murici, além de
orquídeas, bromélias e até um raro
exemplar de massaranduba, entre
muitas outras.
Se der sorte, o turista vai saborear
a mangaba fresquinha ou até arriscar
algo mais exótico, como a cajarana-de-
-macaco, cuja semente molhadinha e
felpuda equilibra doçura, acidez e leve
amargor como você talvez nunca tenha
experimentado.
Pouco adiante, a contemplação da
paisagem entorpece corpo e a alma no
Mirante das Falésias. Mais abaixo, no
Mirante das Tartarugas, a maré alta
pode trazer exemplares das cascudas
em busca de alimento no entorno dos
arrecifes.
De volta ao coração da reserva,
além de abundante variedade de pássa-
24 Revista Turismo & Negócios
Estrada emoldura a paisagem no Litoral Norte
Do alto dos dois mirantes da Reserva
da Bica, um deles a 70 metros de
altitude, a vista é de cartão-postal
Visitantes podem fazer uma trilha leve e
curta (cerca de 15 minutos)
Fotos: Felipe Brasil
ros, outras espécies de animais silvestres
já foram avistadas. Tem cotia, tatu,
raposa, gato-do-mato, tejo e papa-mel.
Num galho de araçá, os vincos talhados
denunciam a passagem recente
de um gato-do-mato, que utilizou a
árvore para afiar as garras.
Unidades de conservação
Como se percebe, a natureza viva e
preservada da Reserva da Bica remete
à ancestralidade de um lugar, mas,
como o acesso ao público teve início
no último dia 23 de dezembro, pode-se
dizer, sem trocadilho, que se trata de
localidade novinha em folha.
A ideia de separar um pedaço da
propriedade familiar em RPPN foi
da bióloga Flávia Moura, ativista
ambiental, pesquisadora e professora
da Universidade Federal de Alagoas
(Ufal). O pequeno pedaço do Éden não
poderia estar sob melhores cuidados.
“Transformar parte do sítio em
área de preservação é uma forma de
utilizá-lo sem degradá-lo”, explica
Flávia Moura. “Uma vez que os
impactos foram e vão sendo retirados,
espero que a área se torne cada
vez mais conservada. E que a gente
consiga sensibilizar mais pessoas que
promovam a preservação ao criar
unidades de conservação em suas
terras”, revela.
O antigo Sítio Bica, onde se encontra
a unidade de conservação, foi
adquirido por seu avô, no início dos
anos 1950. O local é histórico para a
cidade. Uma das nascentes que brota
de suas terras é o lendário vertedouro
Bica dos Homens, que no passado
servia de banho para a população.
Ao lado de Flávia, o estudante de
biologia Eládio Pereira responde pela
administração da reserva. Encantou-se
tanto com o lugar a ponto de morar
numa casa construída na área do sítio.
Ele confirma que há planos para aprimorar
a experiência para os visitantes.
Além de melhorias na acessibilidade,
os gestores pretendem instalar
área de camping, delimitar espaços
para a venda de itens produzidos por
artistas e artesãos da região, agregar
iniciativas de produção agroecológica
e firmar convênios com escolas para
realizar visitas educativas que combinam
informações da natureza com a
história e a cultura da região.
Do alto do mirante, ao fitar o
farol de Porto de Pedras e a foz do rio
Manguaba, que traça o limite com
o município vizinho, Flávia Moura
vislumbra um futuro próximo em
que a reserva entrará em definitivo
no roteiro do turismo sustentável de
Alagoas.
“Outro tipo de turismo, que não
seja de grande impacto, associado a
atividades tradicionalmente realizadas
pela população da região, como a
produção do doce de caju, o extrativismo
da mangaba de forma sustentável
e a utilização do ouricuri para
o artesanato”, exemplifica a bióloga,
em mais uma prova de que desfrutar
das belezas naturais do estado pode
ir além do mar e do sol, e incluir a
contemplação de ecossistemas aliada
a conhecimentos histórico-culturais
e à valorização da sustentabilidade
econômica local.
A Reserva da Bica funciona entre
quinta e segunda-feira, das 7h30 às
11h e das 14h às 17h (com entrada
permitida até as 16h30). O ingresso
custa R$ 10 por pessoa (crianças
menores de 12 anos não pagam) e o
valor é utilizado para fins de manutenção
da área verde. Para grupos maiores,
recomenda-se o agendamento via
whatsapp no número (82) 99415-7246
ou pelo perfil @reservadabica_ no
Instagram.
Revista Turismo & Negócios
25
DESENVOLVIMENTO
Alagoas e governo federal
debatem turismo do Estado
Durante o encontro, secretário Rafael Brito apresentou o case do hotel Vila Galé, da Barra
de Santo Antônio (Praia do Carro Quebrado), aos representantes do Governo Federal
secretário de Estado do Desenvolvimento
Econômico e Turismo, Rafael
O
Brito, recebeu uma comitiva do Governo
Federal para debater o fomento das ações
de desenvolvimento turístico em Alagoas.
Estiveram presentes no encontro o secretário
Especial de Desestatização, Desinvestimento
e Mercados do Ministério da
Economia, Diogo Mac Cord, e o secretário
Nacional de Atração de Investimentos,
Parcerias e Concessões do Ministério do
Turismo, Lucas Fiuza.
Acompanhado do secretário de
Estado da Fazenda, George Santoro,
Rafael Brito apresentou à equipe o case
do hotel Vila Galé, a fim de garantir que o
projeto seja replicado para outras regiões
através do conjunto de forças entre o
Estado e a União. Em alinhamento a esta
proposta, nesta quinta (14) e sexta-feira
(15), a comitiva federal realiza visita
técnicas em áreas do Litoral Norte e Sul
de Alagoas com potencial para receber
futuros investimentos de novos empreendimentos
turísticos.
“O trabalho conjunto dos governos
estadual e federal é fundamental neste
momento em que o potencial turístico de
Alagoas alcança um patamar de ainda
mais destaque nacional e internacional,
com cases de sucesso representativos,
a exemplo do hotel Vila Galé. A união
é estratégica e necessária, nossa meta
agora é garantir que projetos como este
possam ser levados para outras cidades
e regiões do estado e com o trabalho em
conjunto vamos seguir promovendo o
desenvolvimento de todo o setor, assegurando
desta forma emprego e renda para
a população”, salienta o secretário de
Desenvolvimento Econômico e Turismo,
Rafael Brito.
Jonathan Lins
A comitiva federal realiza visita
técnicas em áreas do Litoral
Norte e Sul com potencial
para receber investimentos
Mais participantes
Também participaram da reunião o
secretário Especial Adjunto de Desestatização,
Desinvestimento e Mercados do
Ministério da Economia, Pedro Capeluppi,
o secretário de Coordenação e
Governança do Patrimônio da União do
Ministério da Economia, Mauro Filho,
o diretor de Atração de Investimento
do Ministério do Turismo, João Ruettimann,
o assessor especial do Ministério
do Turismo, John Férrer, a Superintendente
de Patrimônio da União, Fabrícia
Costa, a diretora do Programa de Desestatização,
Desinvestimento e Mercados
do Ministério da Economia, Marília
Garcez, e o diretor do ICMBio, Marcos
Simanovic.
A equipe de Alagoas foi representada
também pelo gerente de Licenciamento
do Instituto do Meio Ambiente
de Alagoas (IMA/AL), Sergio Godoy, o
secretário executivo de Gestão Interna da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico
e Turismo (Sedetur), Ricardo Dória,
a secretária especial de Tesouro Especial
da Secretaria da Fazenda (Sefaz), Renata
Santos, o superintendente de Turismo da
Sedetur, Paulo Kugelmas e a assessora
especial da Sedetur Sandra Villanova.
26 Revista Turismo & Negócios
ROTEIRO
Piscinas naturais da praia de
Paripueira, a 20 quilômetros de
Maceió, são o portão de
entrada da Costa dos Corais
Ascom Prefeitura de Paripueira
Paripueira atrai cada vez
mais turistas estrangeiros
Conjunto de atrações turísticas traz muitos visitantes ao
município do Litoral Norte, que abre a Costa dos Corais
verão nas praias do Litoral Norte
O promete ser bem agiatdo. Nossa
primeira parada é em Paripueira, onde
a natureza foi exageradamente caprichosa,
cuidadosa e exigente na costa
do município, considerado como o
portão de entrada da Costa dos Corais.
Sua maior atração turística, a menos
de 1 km da praia, com mais de 6 km de
extensão, as piscinas naturais ostentam
uma fama que, turisticamente, já representa
o passo mais importante para o
segmento da região.
Mas a costa de Paripueira, entre a
foz do rio Sauassuy até na divisa com
Barra de Santo Antônio, na praia de
Tabuba, passando pelas belíssimas
praias de Costa Brava e Sonho Verde,
reúne um amplo conjunto de atrações
turísticas. Por assim dizer, Paripueira
é um município totalmente voltado
para o turismo, seja pelo seu conjunto
de belezas naturais como por sua
pouca distância de Maceió. E pode se
gabar de estar inserido dentro da área
que abriga a segunda maior reserva
de corais endêmicos do mundo, ou
seja, podem ser encontrados somente
no local. De Tamandaré, em Pernambuco,
com 15% até a Praia de Pratagy,
em Alagoas, com 85% do total, os
corais fazem parte de um rico ecossistema
que deve ser corretamente
explorado, mas obrigatoriamente
preservado.
Vistas do alto, em voos rasantes de
drones, elas formam talvez a mais bela
fotografia desse litoral. Mas o conjunto
de piscinas naturais de Paripueira, que
começou a ser corretamente explorado
através de ações empresariais nos
últimos anos com iniciativa do Receptivo
Mar & Cia, preservam toda a
exuberante natureza local e é mais um
quadro desse universo que compõe a
beleza de Alagoas. É um passo adiante
na conquista de um destino realmente
especial no Litoral Norte.
Preservação
Conhecer essa região é pensar no
firme propósito de que ela precisa
ser preservada. Nos últimos anos o
fluxo de turismo teve um considerável
aumento em função do forte apelo
paisagístico natural e da implantação
de programas de apoio ao desenvolvimento
do setor. Se de um lado o
turismo representa uma das principais
alternativas econômicas, é inegável que
resulta em impactos sobre o ambiente
e a cultura de algumas comunidades
que habitam a área. Iniciativas como
do Projeto Recifes Costeiros, que vem
afirmando na necessidade de implantar
um modelo de turismo sustentável,
será certamente abraçado pelo novo
secretário de Turismo de Paripueira,
Antônio Moura.
Revista Turismo & Negócios
27
NEGÓCIOS
Turismo do azeite é a mais
nova aposta de Gramado
Na Serra Gaúcha, Parque Olivas oferece degustação sensorial aos visitantes
Entre museus temáticos e eventos
de rua com cenografia caprichada,
Gramado viu nascer o primeiro
complexo turístico do Rio Grande do
Sul dedicado ao azeite de oliva da Serra
Gaúcha, o Parque Olivas de Gramado.
O local oferta turismo rural em
uma área preservada sobre um cânion
do Rio Caí com 12 mil oliveiras, cuja
primeira safra foi colhida, após um
longo preparo do terreno que levou oito
anos. A degustação Sensorial do Parque
Olivas foi criada em 2020 e é uma experiência
que começa com uma introdução
sobre a olivicultura e os benefícios
da dieta mediterrânea, e termina com
análise sensorial de reconhecimento de
um azeite de qualidade. Tudo isso acompanhado
de harmonização de pratos
com diferentes tipos de azeite, como as
infusões com limão-cravo e baunilha,
ervas da Provença e até canela.
Junto com a Serra da Mantiqueira,
região montanhosa entre São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais, o Rio
Grande do Sul é um dos principais polos
produtores de azeite de oliva extravirgem
no Brasil.
De acordo com o Instituto Brasileiro
de Olivicultura (IBRAOLIVA), dos
230 mil litros de azeite produzidos no
país, em 2019, o estado foi responsável
por 180 mil litros, graças a altitude da
região (os terroirs gramadenses estão a
mais de 800 metros do nível do mar),
estações bem definidas e equilíbrio entre
horas de sol e temperaturas baixas.
André Bertolucci, azeitólogo e sócio do Olivas de Gramado
Fotos: Cristiano Carniel
28 Revista Turismo & Negócios
Atração
Centro de Gramado, que atrai turistas
por seu clima e belezas naturais, e
que promete ganhá-los também por
sua produção de azeite .
O resultado, independente dos
processos de colheita e extração, são
notas específicas de sabor e aroma,
como tomate verde, alcachofra, avelã,
castanha e couve.
Com cerca de 1.200 tipos de olivas
no mundo, a produção de Gramado
conta com seis varietais para extração
(arbequina, picual, frantoio, koroneiki,
coratina e manzanilla), cuja floração
ocorre em setembro e a colheita
manual, na segunda quinzena de
março.
"A azeitona que gera o azeite não é
a mesma que você come, pois as varietais
para extração de azeite de oliva
contêm menos polpa e mais óleo",
explica André Bertolucci, azeitólogo e
sócio do Olivas de Gramado.
É BOM? Diferente do vinho,
"azeite bom é azeite novo", compara
o azeitólogo. "Conforme envelhece,
o azeite oxida e sofre alterações que
influenciam no paladar e no aroma".
Na hora de comprar um bom
Azeites de Olivas de Gramado
azeite, o recomendado é observar o
grau de acidez, que para ser um extravirgem
precisa ser de 0,1 a 0,8.
O sommelier sugere também azeites
que sejam produzidos no Hemisfério
Sul, como Brasil, Uruguai, Argentina
e Chile, pois o produto tem menos
intermediários até chegar na mesa do
cliente.
Para quem quiser iniciar no mundo
dos azeites, a dica é começar pelos
monovarietais, cujas informações
aparecem no rótulo.
Azeites e pimentas usadas nos pratos elaborados em Gramado
Revista Turismo & Negócios
29
OPINIÃO
Lauro Wanderley
Guimarães
Médico
“
Até que se precise de um
olhar empático, um ouvido
atento, uma consulta sem
pressa a preço de manicure e
um diagnóstico que ninguém
pensou, eu continuarei
trancado e enclausurado
sem voz e sem vez, olhando
as cicatrizes que a vida de
médico me causou
“
Sal Refinado
Sou um médico na ativa. Sou da
terceira idade , já salvei muitas vidas,
já perdi noites de sono tentando salvar
outras. Sou como o sal refinado pelo
tempo e experiência. Segundo Ciro
Gomes, não tenho valor, sou branco, fácil
de achar e barato.
Hoje, aos 65 e 10 meses, já não passo
as noites ao lado dos pacientes, junto
com bactérias multirresistentes, já não
sirvo para essa função tão desgastante.
Mas, na vida sempre tem um Mas, como
sal refinado, tenho a experiência vivida
pelas lutas nas noites insones, a paixão
pela arte da medicina arde em meu
coração e me faz buscar a atualização
permanente.
Atendo em consultório, muitas vezes
por uma remuneração que deixaria
indignada uma manicure. Mas (na vida
sempre tem um Mas), dou diagnósticos
difíceis para um jovem que ainda não
viveu o que vivi. Olho para minhas
cicatrizes de guerra pela vida, cabelos
brancos, noites mal dormidas, diabetes,
hipertensão. Sou grupo de risco,
fruto da idade e de muitas vezes não
ter me cuidado por amor ao próximo.
Imagino que perante a sociedade, as
autoridades, meus órgãos de classe,
terei reconhecimento. Afinal, me
dediquei tanto, quase não vi meus
filhos crescerem, quase não desfrutei
outro prazer que não fosse tentar
curar, ouvir o próximo e ajudar.
Mas não. Eu sou um velho
médico como aquele menino acorrentado
num tambor. Não estou
na linha de frente, não tenho uma
entidade de classe ( CRM,AMB, IU,
SINDICATO) Que se indigne com o
fato de eu mesmo grupo de risco, não
sou vacinado. Meus princípios inegociáveis,
não permitem que eu fure filas,
cometa ilicitudes, mesmo suspeitando,
com indignação, que doses de frascos de
vacina que foram abertos e não totalmente
usados, são jogados no lixo ( é
apenas a desconfiança de uma mente
frágil ao fazer cálculos. 5 doses ao dia
que sobraram X 20 dias úteis = 100 vidas
vacinadas).
Não, eu não tenho direito a cata-las
no lixo. Eu já faço parte do lixo humano
dos médicos aposentados que nos seus
consultórios apaixonadamente davam
um segundo diagnóstico, praticando
uma medicina sem pressa e atenta à arte
de ouvir. Um grupo de médicos invisíveis
que corrigiam a pressa dos diagnóstico
apressados das urgências. Não, Eu não
tenho direitos cidadãos. Não constou
em nenhuma lei de proteção indígena,
quilombola, ou tenho um sindicato que
faça reinvindicações de paralização e
gerem o pânico entre prefeitos, governadores
e secretários.
Até que se precise de um olhar empático,
um ouvido atento, uma consulta
sem pressa a preço de manicure e um
diagnóstico que ninguém pensou, eu
continuarei trancado e enclausurado sem
voz e sem vez, olhando as cicatrizes que a
vida de médico me causou. Sou invisível
até a hora em que percebam que o sal
refinado pelo estudo, experiência, amor
ao próximo, empatia e capacidade de em
alguns momentos, ver o que os outros
não veem, seja por um acaso necessário.
Até lá, se vivo eu estiver, ou a depressão
causada pelo descaso ou mesmo a
covid19 me levar, eu estarei aqui estudando,
trancado e triste por não poder
exercer a arte de salvar vidas. Nem as
sobras vacinas que imagino devam estar
indo pro lixo, eu mereço. Mas como
médico de raiz, continuarei amando a
humanidade e a medicina. Apesar dos
burocratas, apesar das classes sindicais
bem representadas, apesar dos bilhões
em dólares que a big farma lucra com
vacinas, apesar da falta de bom senso dos
gestores.
Sou cristão e jamais odiarei. Isso é
só um desabafo na passagem chamada
vida. Eu faria tudo de novo em nome da
arte de curar. A medicina é grande por si
mesma, mas, só é divina quando irmanada
à bondade. Lauro dos Guimarães
Wanderley Filho, CRM 2526-pb. Apenas
um velho sal refinado que políticos
chamam de médico.
30 Revista Turismo & Negócios
Revista Turismo & Negócios
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