Baleia #2
atualizada com nota em março/2021
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texto
curatorial
Por Luisa Günther
Desconheço-me, mas tenho algumas
certezas. Sei que conquisto pouco
quando escrevo na primeira pessoa do
singular. Por isso, sei que sou sonhos:
sou-somos. Somos a oportunidade imemorial.
Somos a presença dos que já estiveram vivos.
Somos os esquecimentos que já não precisam
mais existir. Somos a saudade que arde peito
e dilacera alma. Somos o alarde e a balbúrdia.
Somos o óbvio que evitas enxergar. Somos
juntas para alcançar o que nos compete.
Somos tempo para dar vazão ao que virá.
Somos muitas pela resistência. Somos quase
adeptas da resiliência. Somos o estardalhaço
espontâneo das estrelas. Somos dimensões
encorpadas de plenitude. Somos encantos e
assombrações. Somos as vozes silenciadas
das tradições. Somos o pulso que reverbera as
entranhas. Somos a bagaceira que acomoda
o delírio. Somos a erva daninha e a horta
medicinal. Somos a dor e a cura. Somos o
amor que destila o temporal. Somos os bons
pensamentos que alcançam o coração. Somos
o bem e o mal, irmanadas. Somos a felicidade
ancestral. Somos o mais além. Somos aquilo
que julgas, e o oposto também. Por isso, somos
acúmulos e hesitações. Simultaneamente.
Sinceramente. Suavemente. Somos nossas
“heranças deslembradas”. Sejamos juntas.
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