ESPECIAL GARIMPO
POPULAÇÃO DE MANICA DESAFIA
O PERIGO EM BUSCA DO OURO
BANCO CENTRAL
OS PONTOS FORTES E FRACOS DA
GESTÃO DE POLÍTICA MONETÁRIA
INOVAÇÃO
COMO AS MEGA-CIDADES AFRICANAS
LIDAM COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
LÁ FORA
COVID-19 DESEMPREGOU 13 MILHÕES
DE MULHERES NA AMÉRICA LATINA
MOÇAMBIQUE
AS PROFISSÕES
EDIÇÃO MARÇO - ABRIL
15/03 a 15/04 • Ano 04 • Nº 35
2021 • Preço 250MZN
DO FUTURO
A E&M analisa a rápida evolução no tipo de competências
que a revolução tecnológica exige do capital humano
no País e no mundo
SUMÁRIO
6 OBSERVAÇÃO
RD CONGO
A imagem de um país que enfrenta uma crise
humanitária grave: ataques, covid-19 e ébola
8 RADAR
Panorama Economia, Banca, Finanças,
Infra-estruturas, Investimento, País
12 ESPECIAL GARIMPO
Ouro
Garimpeiros ignoram o perigo dos túneis precários
numa actividade inglória, que os mantém pobres
57 ÓCIO
58 Escape À descoberta das várias faces e fascínios da cidade
de Maputo 60 Gourmet Como a indústria da restauração se
está a reinventar perante a pandemia 61 Adega A nova linha
de vinhos que, mesmo sem álcool, tem mais adeptos 63 Arte
“Liturgia do Silêncio”, a obra inspirada nos momentos de
introspecção de Salvador Muchidão 64 Ao volante A Honda
lançou o Legend, o primeiro veículo com autonomia de nível 3
20 NAÇÃO
PROFISSÕES DO FUTURO
20 Revolução tecnológica Especialistas avisam que é
preciso investir em infra-estruturas e mudar o ensino
30 Entrevista Jorge Ferrão fala do caminho a ser
trilhado pela academia para não perder o barco da
digitalização
34 Futuro da África Muitas pesquisas prevêem uma
rápida evolução do trabalho apesar da elevada pobreza
38 MERCADO E FINANÇAS
44
Política monetária
Especialistas divergem quanto à eficácia das medidas
de gestão do Banco Central em tempos de crise
ESPECIAL INOVAÇÃO
Tecnologia
As grandes tendências da Inovação em
Moçambique, no continente africano e no mundo
54
LÁ FORA
América Latina
Relatórios de organizações multilaterais falam de 13 milhões
de mulheres que ficaram sem emprego devido à pandemia
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020
3
EDITORIAL
As profissões do futuro
e as que vão acabar
Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado
arevolução tecnológica já está a impor mudanças estruturais
no mercado de trabalho e com tendência a acelerar com
o tempo. O que está em voga, hoje, vai muito além da velha
questão de os homens serem substituídos pelas máquinas,
que, por muito tempo, alimentou temores de um crescimento
exponencial do exército de desempregados pelo mundo. Sem
significar que tal temor não faça sentido, a grande preocupação da actualidade
está em preparar o caminho para conferir outro tipo de competências
ao capital humano, competências estas que estão completamente fora
dos padrões tradicionais de formação já instituídos.
Hoje, o mundo anda a duas velocidades: a dos países desenvolvidos, onde a
disponibilidade de infra-estrutura tecnológica já possibilita a visualização
do futuro das profissões, e a dos países pobres que, mesmo sem recursos
para fazerem tanto por essa migração, são forçados a criar mecanismos
de avanço para não sucumbirem num mundo que será cada vez mais dominado
por processos produtivos muito mais rápidos e eficientes.
Nesta edição, o prezado leitor tem a possibilidade de fazer o update das
profissões que começam a entrar em cena, das que terão de ser esquecidas,
das que vão evoluir e das que se vão ajustar aos tempos da 4ª Revolução
Industrial. Tem também a possibilidade de conhecer mais a fundo o
que, de facto, está a mudar à escala global e o que deve ou deveria acontecer
em Moçambique – país que enfrenta uma série de obstáculos que vão
desde o elevado índice de analfabetismo até ao relativamente fraco investimento
em infra-estrutura tecnológica – para causar a disrupção que se
pretende a este nível. Académicos, especialistas em tecnologia e em Recursos
Humanos ajudam a desvendar os mistérios e a traçar cenários em torno
do futuro do trabalho… ou será do trabalho do futuro?
É igualmente tema de relevo desta edição a postura do Banco de Moçambique
na condução da política monetária, mesmo a propósito dos questionamentos
que os entendidos em ciência económica e empresários têm levantado
acerca da eficácia das suas intervenções.
Trata-se de um assunto oportuno, na medida em que é abordado a propósito
da última revisão em alta da taxa de juro de política, denominada por
taxa MIMO, em Janeiro último, e que terá servido como barril de pólvora
para desencadear novas críticas e acesos debates.
No artigo “Especial” que habitualmente trazemos com assuntos “fora da caixa”,
a E&M leva o leitor uma viagem pelas minas de ouro da província de
Manica, onde irá percorrer os corredores por onde se move o garimpo ilegal,
prática que ignora todos os riscos associados, mata, não alivia os elevados
índices de pobreza, mas, mesmo assim, não desencoraja as populações
de ali permanecerem. O perigo vai coabitando com a pobreza mesmo perante
o olhar inconformado das autoridades.
MÊS ANO • Nº 01
15 MARÇO | 15 ABRIL 2021 • Nº 35
propriedade Executive Mocambique
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velit Gudo, et Salim magnis Cripton enis necatin Valá, Sérgio nam Nicolini fuga.
Henet ADMINISTRAÇÃO, exceatem seque REDACÇÃO cus, sum nis nam
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4
www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
OBSERVAÇÃO
RDC, 2021
UM PAÍS, TRÊS
INIMIGOS LETAIS
Corre o mundo a notícia do assassinato
de Luca Attanasio, embaixador italiano
na República Democrática do Congo
(RDC), num ataque terrorista durante
uma missão do Programa Alimentar
Mundial. Mas este incidente é apenas
uma das várias questões que alertam
a comunidade internacional sobre a
gravidade da instabilidade naquele país,
há muito visto como um dos territórios
menos habitáveis do mundo. Além da já
conhecida instabilidade, a convergência
de grupos terroristas que protagonizam
prolongados conflitos militares e que
fazem, todos os dias, dezenas de mortes
e milhares de deslocados, os congoleses
também estão expostos, obviamente, aos
efeitos da pandemia do novo coronavírus,
o segundo inimigo, embora de âmbito
global. Na RDC, o vírus já tinha matado
mais de 700 pessoas em pouco mais de
26 mil casos em meados de Março.
Mas os maus ventos que sopram em
direcção àquela nação da África Central
não dão tréguas: ressuscitaram o vírus
do ébola, que tinha sido erradicado em
Novembro do ano passado e que, em
concorrência com o coronavírus, vai
matando e adicionando pressão ao já
frágil sector da saúde, tendo
levado a OMS a elevar a incidência do
ébola para o nível de emergência sanitária
internacional.
Se o acesso à vacina do covid-19 é uma
batalha difícil, imagine-se a busca pela
solução de duas epidemias! Sem contar
que todos estes problemas trazem
resultados catastróficos ao nível da
estabilidade macroeconómica hoje
testemunhados pela RDC.
6
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
7
RADAR
BANCO MUNDIAL DIZ QUE 2021 SERÁ
DE “RECESSÃO”
O Banco Mundial considera que a economia moçambicana
deve continuar em recessão este ano, caindo 0,8%
do PIB, depois de no ano passado ter sofrido uma queda
de 1,3%, e depois apresentar uma forte recuperação
apenas a partir do próximo ano.
“A economia de Moçambique deve continuar a recuperar
gradualmente, mas continua a haver riscos substanciais
devido à incerteza sobre o rumo da pandemia
do covid-19”, lê-se na mais recente análise do Banco
Mundial à economia moçambicana, divulgada em
Washington.
Nesta 6ª edição do relatório, designado por “World Bank
Mozambique Economic Update: Setting the Stage for
Recovery”, aponta-se que a pandemia que atingiu a
economia de Moçambique terá retrocedido substancialmente
os esforços de recuperação da crise da dívida
e dos efeitos dos ciclones tropicais de 2019. Refere-se
também que a queda do PIB real em 1,3% no ano passado
está bastante longe da estimativa pré-covid de 4,3%,
o que se terá verificado devido à redução da procura
agregada das medidas de bloqueio necessárias para
conter o vírus que “perturbaram as cadeias de abastecimento”.
No entanto, o relatório observa que as perdas
de postos de trabalho e o encerramento de empresas,
embora significativas, “foram comparativamente
mais baixas do que noutros países de contexto económico
similar”.
“Apesar dos esforços concertados para conter a sua
propagação e mitigar os seus efeitos, a covid-19 continua
a afectar negativamente as famílias e empresas,
atrasando o progresso do País em direcção aos Objectivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, observou
Idah Pswarayi-Riddihough, Directora do Banco Mundial
para Moçambique, Madagáscar, Ilhas Maurícias,
Seicheles, Comores.
ECONOMIA
Financiamento. A Société Générale,
instituição financeira
que opera há cinco anos
no mercado moçambicano
e a Proparco - uma agência
francesa de desenvolvimento,
rubricaram, a 16 de Março,
um acordo de partilha de
risco para o financiamento
das Micro Pequenas e Médias
Empresas (MPME) nacionais,
tendo como prioridade
as do ramo do agro-negócio
e o empreendedorismo
feminino.
O valor envolvido é de três
milhões de euros (equivalentes
a mais de 260 milhões de
meticais ao câmbio actual).
O risco será também partilhado
pela União Europeia,
pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
e pelo Grupo
de Estados de África, Caraíbas
e Pacífico (ACP).
Taxas de juro. O economista-
-chefe do Standard Bank -
Moçambique, Fáusio Mussá,
considera que o Banco Central
poderá preparar outro
aumento da taxa de política
monetária (taxa MIMO),
caso as pressões inflacionárias
se mantenham. Trata-
-se de uma notícia desagradável
para o sector privado
que, mesmo protestando,
ainda procura refazer-se
da última subida desta taxa
em Janeiro passado, em 300
pontos base, para 13,25%.
Comentando os resultados
do mais recente inquérito do
Standard Bank, denominado
Purchasing Managers’ Index
(PMI), Fáusio Mussá
lembrou que, segundo a última
publicação do Instituto
Nacional de Estatística, a inflação
anual aumentou para
4,1% em Janeiro, face aos
3,5% de Dezembro.
“Os temporais e chuvas intensas
ocorridos em certas
regiões do País desde o início
do ano poderão afectar
negativamente a produção
de alimentos e, por esta
via, gerarão uma pressão
adicional sobre a inflação”,
afirmou.
Negócios. A empresa Nacala
Logistics fechou o ano de
2020 com um prejuízo de 31
milhões de dólares, no resultado
líquido. O resultado
financeiro foi demasiadamente
afectado pela redução
das receitas resultantes
do baixo volume de transporte
e manuseio de carvão
e de carga geral no Corredor
de Nacala. O Relatório de
Produção e Financeiro do 4º
trimestre de 2020 indica que
o transporte de carga geral
diminuiu em cerca de 40%,
enquanto o transporte e embarque
de carvão teve um
decréscimo de cerca de 20%
em relação ao ano anterior.
No mesmo período, a Nacala
Logistics registou um resultado
operacional de 84 milhões
de dólares, menos 27%,
em relação a igual período
de 2019.
Dívida privada. O Instituto Financeiro
Internacional (IFI),
que representa os credores
privados, considera que
Moçambique está entre os
países que mais provavelmente
poderão aderir ao
Enquadramento Comum do
G20 para reestruturar a dívida
privada.
“Os países que já participaram
na Iniciativa de Suspensão
do Serviço da Dívida
(DSSI) e têm necessidades
elevadas em termos de
serviço da dívida são os que
mais provavelmente poderão
aderir ao Enquadramento
Comum” para o trata-
8
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
mento da dívida para além
da DSSI, lê-se numa nota de
análise escrita pelo departamento
de estudos económicos
do fórum que juntou
os credores privados a nível
mundial.
EXTRACTIVAS
Conteúdo local. A LAM (Linhas
Aéreas de Moçambique)
assinou um acordo com
a petrolífera francesa Total
para prestar transporte na
rota Maputo-Pemba-Afungi,
anunciou recentemente
a companhia.
O contrato de três anos, cuja
efectividade teve início a 1
de Março, reflecte o princípio
de valorização do conteúdo
local e, com base no
mesmo, a LAM dedica à TO-
TAL uma aeronave do modelo
Bombardier Q400. O
entendimento entre as duas
empresas ocorreu depois
de uma série de auditorias
que a multinacional fez à
companhia aérea para aferir
o grau de cumprimento
dos requisitos exigidos aos
operadores de voos para
projectos desta natureza.
Carvão. As principais minas
de carvão de Moçambique
perderam um terço da produção
e mais de metade das
receitas de venda, agravando
o prejuízo em 2020, face
ao ano anterior, segundo dados
divulgados pela empresa
brasileira Vale em Maputo.
A produção total do ano “situa-se
em 5,9 milhões de toneladas,
reflectindo os impactos
da pandemia do covid-19”
após uma produção de 8,8 milhões
de toneladas em 2019,
lê-se em comunicado.
Segundo os resultados financeiros
da Vale relativos
a 2020, a receita líquida de
vendas de carvão caiu 54%,
de mil milhões de dólares em
2019 para 473 milhões de dólares.
O prejuízo do segmento
de carvão agravou-se em
74%, de 533 milhões de dólares
em 2019 para 931 milhões
de dólares em 2020.
Estas perdas afectam em
grande medida as exportações
do País.
Exxon Mobil. A petrolífera
norte-americana Exxon Mobil
adiou, pelo terceiro ano
consecutivo, a Decisão Final
de Investimento (DFI) sobre o
projecto de exploração de gás
natural em Moçambique, colocando
em dúvida o investimento
de 30 mil milhões de
dólares.
De acordo com a agência de
informação Bloomberg, que
cita o vice-presidente da empresa,
Neil Chapman, durante
uma conversa com analistas,
não há previsão sobre quando
será tomada a DFI, já que a
petrolífera precisa de garantir
o fornecimento de energia
por parte da fábrica vizinha,
operada pela francesa Total.
Recursos minerais. Os produtos
minerais extraídos em
Moçambique passarão a
ostentar, a partir do próximo
mês de Abril, um certificado
de origem para a sua
exportação.
Para o efeito, o Governo vai
lançar em breve a embalagem
e o respectivo certificado.
“Já temos a embalagem
e o certificado aprovados,
sendo que o seu lançamento
é uma questão
de datas”, garantiu Castro
Elias, secretário executivo
do processo Kimberley (um
procedimento internacional
para a certificação de
origem de alguns produtos
para evitar fluxos financeiros
ilícitos com destaque para
o diamante).
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
OPINIÃO
A disrupção pelo e-commerce
Bruno Dias • Partner – Business Consulting EY
Omercado e-commerce apresentava fortes taxas
de crescimento em vários relatórios de
analistas elaborados no período pré-pandemia,
muitos deles apontando taxas anuais de
crescimento composto superiores a 30% no
período entre 2019 a 2024.
Este facto foi acelerado pela pandemia e a penetração do
comércio electrónico registou um crescimento súbito e extremamente
rápido em 2020. A título de exemplo, nos EUA,
em apenas 8 semanas, foi registado +11% de crescimento
absoluto do comércio electrónico, elevando a penetração
das vendas de e-commerce até 27% em comparação com o
total das vendas no retalho tradicional.
Espera-se que um crescimento tão significativo das vendas
de e-commerce tenha um impacto duradouro mesmo após
o fim da pandemia, uma vez que irá mudar os hábitos de
consumo e, consequentemente, o comportamento dos consumidores.
Mesmo que se tenha feito compras tradicionalmente
em lojas de retalho físico, um novo hábito está a ser
formado de compras de e-commerce e, uma vez ultrapassado
o obstáculo inicial da “barreira digital”, as contas online
e os meios de pagamento ficam configurados bastando
clicar num botão para fazer compras repetidas, 24*7 e sem
ter de esperar na fila carregando sacos e desfrutando de
conveniência. A migração de consumidores cada vez mais
para os canais digitais está para ficar.
Em Moçambique é de salientar a elevada taxa de crescimento
de utilizadores de internet – 25,5% no último ano.
Este crescimento, aliado à crescente bancarização, actua
positivamente na penetração do e-commerce e tenderá a
elevar os actuais 9,5% da população que faz compras e/ou
paga contas online para mais próximo da média mundial
que se situa nos 29%.
As plataformas de e-commerce têm evoluído de arquitecturas
básicas, que permitem navegar catálogos de produtos,
executar self-service, manter contas personalizadas
e ter uma experiência unificada em vários canais, para
novos paradigmas de interacção e novos modelos de experiência
do consumidor.
De facto, a experiência do cliente é neste momento a prioridade,
transversalmente a marcas, produtos e canais. A
utilização da inteligência artificial neste desígnio é uma
realidade permitindo o conhecimento de padrões de comportamento
e necessidades do consumidor e o match optimizado
da oferta com a procura.
A tecnologia dá poder aos consumidores uma vez que faculta
maior transparência nos preços. Isto força os retalhistas
a uma maior competição pelo preço, com consequente
impacto nas margens. Aqueles retalhistas que não são
competitivos no preço no online arriscam-se a ter fortes
impactos nas vendas.
A emergência de novos modelos de negócio e canais que
melhor se encaixam nas necessidades dos consumidores
têm-nos feito divergir dos conceitos tradicionais. Esta mudança
tem pressionado o retalho físico e muitos players
têm optado pelo fecho de lojas.
Um movimento interessante que se tem visto recentemente
são parcerias e aquisições para ocupar um espectro
maior na cadeia de valor. Por exemplo, a Walmart associou-se
à Instacart para fornecer entregas mais rápidas
A emergência de novos modelos negócio e canais que melhor se encaixam nas necessidades
dos consumidores têm-nos feito divergir dos conceitos tradicionais. Esta mudança tem
pressionado bastante o retalho físico e muitos players têm optado pelo encerramento de lojas
10
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
A fusão da Walmart com a Instacart é um exemplo de eficiência no serviço ao cliente
aos seus clientes e a competir com a divisão Whole Foods da
Amazon que faz entregas no mesmo dia. O retalhista tradicional
aliou-se assim a um operador logístico numa lógica
“win-win” no online.
Outro movimento observado prende-se com o facto dos disruptores
teram transformado produtos em serviços que
podem atender às maiores necessidades dos consumidores.
Todos temos a experiência de entrar em lojas de centros
comerciais onde a roupa está espalhada, tornando muito
difícil montar uma combinação adequada de artigos. Este
tipo de ambiente oferece muito pouco valor aos consumidores,
uma vez que é difícil e frustrante de navegar.
Em contraste, a stylist digital “Stitch Fix“ reúne combinações
de roupas na sua plataforma online, emparelhadas
por algoritmos e dados do cliente para prever que roupa
vão querer usar.
Com base em combinações de cores, padrões e têxteis favoritos
dos consumidores, novos produtos são então sugeridos
para aprovação de designers humanos. Como resultado
deste processo, os clientes economizam tempo na selecção
de uma roupa e têm maior agilidade e eficácia na escolha.
Enquanto alguns retalhistas têm conseguido aumentar
a sua penetração online, outros têm tido dificuldades por
um conjunto de razões, como cadeias de distribuição e sistemas
de IT não adaptados às novas realidades digitais e
dificuldade na adaptação do modelo de negócio aos novos
paradigmas.
Um exemplo de sucesso é o Walmart cujo preço por acção
caiu 10% inicialmente, em Outubro de 2015, quando a sua
gestão anunciou uma mudança de paradigma para modelos
de negócio digitais numa perpectiva de desenvolvimento
do negócio de longo prazo. Os investidores que decidiram
permanecer com acções foram compensados já que estas
aumentaram 138% até Agosto de 2020. Durantes este período,
a Walmart viu algumas das suas decisões mais ousadas
de mudança de paradigma darem frutos.
O retalho está, assim, numa encruzilhada e os retalhistas
tradicionais estão sob pressão de disruptores que conseguem
satisfazer as necessidades dos consumidores de forma
rápida e eficiente.
Pense bem – imagino que queira estar do lado dos disruptores
nesta nova realidade.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
11
ESPECIAL
GARIMPO DESCONTROLADO: O ELO MAIS
FRACO DOS MINÉRIOS MOÇAMBICANOS
Há garimpeiros de todas as idades que aceitam trabalhar em túneis precários. Dizem não ter alternativas para se sustentar
a si e às famílias. Veteranos dizem que há formas de minimizar os riscos, mas as mortes sucedem-se
Texto André Catueira * Serviço especial da agência Lusa para a Economia & Mercado • Fotografia André Catueira
achuva cai forte e ainda
não passaram três dias
desde o último acidente
mortal com um garimpeiro
em Fenda, distrito de
Manica, no centro de Moçambique.
“Não ouvem nada quando a
gente fala em prevenção. Quando dizemos
para não trabalharem em zonas
perigosas”, queixa-se Manuel Pedro, 69
anos, o garimpeiro mais velho daquela
zona de extracção ilegal de ouro. “Eles
entram, a maioria de noite, sozinhos,
com alavanca, pá e um saco. Vão para
garimpar sozinhos” explica, sem aprofundar
mais detalhes sobre o mais recente
infortúnio. Uma morte a coberto
de uma actividade informal e ilegal e
que por isso não vai constar de estatísticas,
nem aparecer nas notícias. A época
ciclónica tem sido muito activa, os riscos
aumentam, mas nem isso demove os
garimpeiros, que dizem não ter outra
forma de sustentar as famílias. Mesmo
quando encaram a morte. Para as empresas
que operam no sector, eles são
vistos como um risco para a segurança
dos terrenos, promovendo a erosão.
São também apontados como um risco
para transacções financeiras ilícitas,
dada a informalidade em que vivem.
Mas entre umas análises e outras, o garimpo
está no terreno. Nem a forte precipitação
da actual época das chuvas
o tem parado. Porque é que persiste?
Manuel Pedro, o escavador mais antigo
de Fenda, trabalha na mineração há 33
anos e gaba-se de ter sustentado “muitos
filhos” graças à venda de ouro, numa
área com um grande contraste entre a
intensidade da exploração e a pobreza
que caracteriza a região. Hoje, diz que
tem ensinado aos jovens formas de “ter
cuidado” no garimpo. Mas os acidentes
são inevitáveis. “Já assisti a muitos acidentes.
Nem dá para contar. Foram vários
e eu a ver mortos entre amigos, encarregados
do garimpo ou outros colegas”,
relata Belito Paulino, 29 anos, há
dois no garimpo em Fenda. O risco é
grande, mas “se ficar em casa não tenho
como sustentar a família. Por isso,
arrisco”. É difícil perceber como se pode
ter cuidado perante a paisagem caó-
12
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
GARIMPO
em grupos, pequenos ou maiores. Tudo
escorado por tábuas, pás, pedras e uma
boa dose de instinto. Tira-se a terra para
o exterior, peneira-se para procurar
ouro. Ou remexe-se o leito do rio
com um prato ou outra base, sacode-
-se a água e outras areias para tentar
encontrar o mineral no fundo. São condições
impiedosas, garantem, daquelas
que “provocam febres”. Este revirar
a terra com ferramentas manuais
em busca de prosperidade é frequente
em Moçambique, em muitas regiões de
abundância de minerais e nas imediações
de unidades de extracção de ouro,
turmalinas, rubis ou outros recursos.
As condições precárias de segurança
tornam a actividade mineira artesanal
arriscada em vários túneis, alguns com
60 metros de comprimento, sustentados
por estacas de plantas nativas e galhos
de restos de eucaliptos coloniais. Ao largo
da agitação das escavações, um representante
de compradores estrangeiros
tem a sua banca com uma pequena
balança electrónica onde pesa e
avalia as pequenas partículas de ouro
recolhidas por cada grupo – outros vão
até à sede de distrito vendê-las, depois
de se abastecerem com alguns bens essenciais.
Essas trocas estão à distância
de uma caminhada desde os campos de
extracção. Entramos numa área de alojamento.
Um bairro de lata onde tudo é
precário e impróprio - mas onde uma
mesa de ‘snooker’ atrai os garimpeiros.
nível mundial é outra: o ouro subiu até
2011, depois recuou, e teve nova subida
a partir de 2019 para atingir máximos
históricos durante a pandemia de covid-19,
em 2020, superando os 2000 dólares
por onça (cada onça equivale a 31
gramas) – cerca de dez vezes mais do
que valia no início do século. A fatia de
leão do dinheiro que se ganha com o ouro
parece não ficar por estas paragens.
O governo de Moçambique desenvolveu,
em 2017, um programa-piloto de
cooperativas minerais de pequena escala,
numa tentativa de organizar o garimpo
artesanal que é feito junto das zonas
de extracção. O projecto encontrou
resistência em muitas áreas de extracção
artesanal ilegal, mas noutros locais
o cenário é diferente.
Oito quilómetros a norte de Fenda, percorrendo
uma estrada lamacenta, chegamos
a Munhena, onde os garimpeiros
se associaram há 21 anos. Hoje são quase
200 a operar numa área legalizada
de 200 hectares. “Estamos a trabalhar
em grupos de dez pessoas” que não fazem
mais do que “20 a 25 gramas” de ouro
por semana, por grupo. “Mas quando
estávamos bem organizados, com maquinaria”,
cada grupo tirava “800 gramas
por semana”, explica Noé Bernardo,
o secretário da associação. A maquinaria
pertencia a um sócio sul-africano,
entre 2006 e 2012, mas que se retirou,
queixando-se das taxas que tinha de
pagar. Seja como for, Noé acredita que a
“Já assisti a muitos acidentes. Nem dá para contar. Foram
vários e eu a ver mortos e feridos entre pessoas próximas:
amigos, familiares, encarregados do garimpo ou colegas”
tica que se vislumbra nestas terras do
distrito de Manica. Eram ‘machambas’,
hortas, cujos proprietários foram cedendo
a pouco e pouco a grupos interessados
em abrir poços e túneis. Em troca,
dão uma parte das receitas do minério
ao dono do terreno. Tudo em modo informal,
à margem da lei, mas perfeitamente
legítimo aos olhos de quem precisa
de um ganha-pão. E assim surgem
terras de Fenda onde já não se vêem
hortas. Mais parece uma paisagem
lunar, cravada de crateras, buracos
fundos de onde entram e saem baldes
presos por cordas. Entram e saem pessoas
da cor da argila. Tudo fervilha de
vida, sem sorrisos e sem parar, como na
rotina de um formigueiro. Trabalham
Muitos moram por ali, outros montam
cabanas no mato. Mas é no bairro de lata
que trocam pequenas partículas de
ouro por farinha, peixe seco salgado ou
“boss”, uma bebida espirituosa tão artesanal
como o garimpo. Hoje dá para trocar
cinco copos de farinha por ‘um ponto’,
que corresponde a 300 meticais, sendo
que dez pontos equivalem a um grama
de ouro. Depois de se abastecerem,
os garimpeiros enviam o resto da receita
para a família, que geralmente vive
noutras paragens. A “ajuda” para a família
é a expressão que mais se ouve
entre os testemunhos. Os homens que
reviram a terra queixam-se de uma
queda, que já dura há muito, do preço local
do ouro, mas a verdade da cotação a
organização é o caminho a seguir. Muitos
garimpeiros são vítimas da sazonalidade
das oportunidades. Empurrados
para uma actividade arriscada porque
as mais básicas necessidades o impõem.
Constância Caruru, 28 anos, largou o comércio
informal numa banca. O garimpo
é hoje o seu único ‘ganha-pão’, relata,
sacudindo os ombros quando confrontada
com a sucessão de notícias de
acidentes mortais com garimpeiros em
Moçambique. “Quais são as alternativas?”,
contrapõe. “Já estou aqui há uma
semana. Ganhei coragem de vir para o
garimpo para sustentar os meus filhos,
porque ficando em casa não tinha como
sustentar a família”, diz Constância, falando
em shona, a língua local. Já hou-
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
13
ESPECIAL
MORTES, UM RETRATO CRUEL
Muitos acidentes e mortes de
garimpeiros não chegam a ser
registados, dada a forma fortuita
como a actividade é feita em muitos
locais. Noutros há registos que
mostram a cruel realidade do garimpo
artesanal. As mais recentes mortes
de garimpeiros em Moçambique
aconteceram a 17 e 20 de Janeiro no
norte do País, numa mina ilegal da
área de concessão da Montepuez
Ruby Mining (MRM), em Cabo
Delgado. A mineradora alerta para
os perigos da exploração ilegal e
refere que o problema matou pelo
menos 25 pessoas em 2020 na
sua área de concessão, na maioria
homens jovens de outros países ou
de aldeias distantes. “As práticas
inseguras por parte dos mineiros
ilegais, que são normalmente
supervisionados ou coagidos por
sindicatos de contrabando ilegal de
pedras preciosas, financiados por
comerciantes estrangeiros que operam
na região, continuam a resultar na
perda desnecessária de vidas”, alertou
a empresa.
“O homem que faz o garimpo é apenas o elo mais fraco de
toda uma cadeia. O ouro acaba nas mãos de homens de fato
e gravata, metidos em actividades pouco recomendáveis”
ve épocas em que vendia refrescos e
bolos, mas, “com a chuva, o negócio não
tem dado lucro. Por aqui a agricultura
é negligenciada, e as poucas plantações
nos antigos e férteis campos agrícolas,
emprestados agora para o garimpo,
têm o milho esquálido por falta de
húmus. Muitos jovens justificam a entrada
para o garimpo com esta pobreza
que se reflecte na produção agrícola.
Faltam oportunidades de emprego e
de outras actividades e agora até no garimpo
receiam que a entrada massiva
de operadores chineses lhes possa tirar
o pão. “Eles querem os mesmos lugares
onde estão a trabalhar os garimpeiros
e nem estradas estão a arranjar. Só
estão a levar produtos”, desabafa, Isac
Watimanarero, 35 anos. Mesmo sendo
garimpeiro ilegal, isso não o impede de
pedir uma intervenção das autoridades
face à chegada de estrangeiros.
Trama Daniel, garimpeiro há sete anos,
trabalha assustado em túneis que po-
dem ser invadidos a qualquer altura
por máquinas que roncam ao lado,
pertencentes a uma empresa chinesa.
O futuro de muitos garimpeiros e seus
filhos, dizem eles, “está comprometido”.
Além do ouro, também a bauxite é muito
explorada na região, tanto por empresas
nacionais como estrangeiras.
Uma ameaça às empresas e ao sector
O garimpo ilegal, visto como uma necessidade
para sustentar famílias pelos
garimpeiros, é também encarado
como um problema pelas empresas
licenciadas. Como exemplo, a Mozambique
Mining Resources (MMC) - uma
“joint-venture” entre investidores moçambicanos
e chineses - extrai ouro na
única mina subterrânea activa do País
com galerias entre 120 e 160 metros de
profundidade em Tete e onde é normal
encontrar “intrusos”. “Os garimpeiros
eram e são uma forte ameaça à nossa
actividade. Além de terem faro para
o ouro, porque têm excelentes conhecimentos
de geologia – são mesmo
`geólogos empíricos´ –, usam técnicas
nocivas ao ambiente”, disse à Lusa o director-geral
da MMC, Dingane Mamadhusen,
durante uma visita à mina em
Outubro de 2020. Pouco tempo depois
de a companhia ter iniciado actividade,
em finais de 2018, teve de interromper
porque a montanha que cobre uma
das galerias ameaçava ruir, devido à
erosão provocada pela mineração ilegal.
A segurança na mina é apertada:
uma força combinada da polícia moçambicana
e de uma empresa privada
garantem a protecção das instalações
para impedir que o precioso minério
chegue a mãos impróprias.
O garimpo sem regras implica outros
riscos: se o ouro passar de mão em
mão, a partir de garimpeiros ilegais,
pode acabar por financiar actividades
ilícitas, incluindo o terrorismo. “O homem
de tronco nu e ensopado que faz
o garimpo é apenas o elo mais fraco
de toda uma cadeia. O ouro acaba nas
mãos de homens de fato e gravata que
andam metidos em actividades pouco
recomendáveis”, afirma o diretor-geral
do MCC.
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NÚMEROS EM CONTA
COMO OS MAIS RICOS FICARAM... MAIS RICOS
EM 2020. E QUEM SÃO?
mais de 567 mil milhões de dólares foram acumulados pelas
dez pessoas mais ricas do mundo em menos de um ano. E
que ano, o de 2020. Para colocar o valor em perspectiva, isso é
mais do que sete vezes a riqueza acumulada pelos dez maiores
empresários no período de tempo anterior e 37 vezes a riqueza
anual produzida em Moçambique se a estimarmos em 15 mil
milhões de dólares, valor do PIB.
E basta um exemplo do que falamos: Elon Musk, da Tesla, testemunhou
um aumento da sua riqueza de, pelo menos, 500%
no último ano. Já Jeff Bezos, da Amazon, ganhou uns ‘interessantes’
68,6 mil milhões de dólares a mais.
Com dados da Forbes Real-Time Billionaires List, verificamos
como a riqueza de vários grupos uber-affluent mudou desde o
início da pandemia.
A fortuna de Bezos tem crescido quase
70% desde Março de 2020. Após
26 anos, o CEO da Amazon anunciou
que se tornaria presidente executivo.
Elon Musk testemunhou a sua riqueza
crescer mais de cinco vezes no último
ano. Em 2020, Tesla relatou o seu
primeiro ano lucrativo.
Com uma participação de 33% na L’Oréal,
cujas acções saltaram 25% em 2020, a
fortuna da mulher mais rica do mundo
aumentou 14 mil milhões.
Aos 39 anos, Yang Huiyan detém uma
participação de 57% na imobiliária
Country Garden Holding na China.
Zhong Shanshan viu a sua riqueza
crescer mais de 15 mil milhões depois
da sua empresa de água engarrafada
Nongfu Spring se ter tornado pública.
Anteriormente o mais rico da China,
Jack Ma desapareceu durante três
meses após o IPO do Grupo Ant ter
sido bloqueado pelos reguladores.
O mais rico da Índia atraiu financiamento
do Facebook (5,7 mil milhões)
e da Google (4,5 mil milhões) para
criar a rede móvel da Jio Platforms.
Gautam Adani controla o maior porto
da Índia.
16
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Durante o covid-19, a riqueza
do CEO do Facebook disparou
com as acções a subirem 70%.
Depois de passar pela Google,
fundou a Pinduoduo, uma
plataforma de comércio
electrónico em rápido crescimento.
Sábio de Omaha, Warren tem
90 anos de idade.
Petr Kellner, nascido na República
Checa, 56 anos, dirige
o grupo de investimento PPF
que opera em 25 países a nível
mundial.
O magnata do petróleo Jerry
Jones é o proprietário dos
Dallas Cowboys. A equipa da
NFL vale 5,7 mil milhões.
Arthur Blank, cofundador da
Home Depot, é proprietário
das Falcões de Atlanta da
NFL.
Três dos dez mais
ricos do mundo (excluindo
os Estados
Unidos e a China)
são de França.
Fonte Visual Capitalist
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OPINIÃO
A importância dos derivativos no mercado
Sérgio Maciel • Head of Trading Absa Bank Mozambique - CIB Markets
Quando o banco de moçambique, surpreendentemente,
decidiu, através do aviso nº. 5/GBM/2019
de 22 de Março, proibir transacções com recurso
a taxa de câmbio à prazo, fê-lo com a
nítida convicção de que havia necessidade de
regulamentar este mercado, definir regras
claras de actuação para os vários intervenientes e fazedores
de preço e ainda pôr balizas na precificação destes
instrumentos. De certa forma estavam certos. Não há mercado
que funcione sem regras, sem controlo e sem clareza.
Por parte do regulador, havia ainda a crença de que estas
operações estariam a criar pressão adicional ao nosso
metical, acelerando a desvalorização da moeda, pois as
mesmas estavam a ocorrer num mercado a prazo que dificilmente
se conseguia distinguir do mercado à vista. Portanto,
a clara falta de transparência foi o motivo principal
desta decisão que, na altura, criou grande insatisfação por
parte dos agentes financeiros e do sector privado, que estavam
habituados a ter estas soluções para cobertura dos
seus riscos cambiais. A revolta prendia-se ao facto de o
banco central estar a limitar o desenvolvimento do mercado
e deixando as empresas à mercê da volatilidade da
moeda. Essa ausência de regulamentação apropriada deu
origem a que as diversas variáveis usadas para estipular
a taxa de câmbio futura fossem feitas ao bel-prazer de
cada operador, muitos ignorando as regras internacionais
de conduta de mercado e precificação destes instrumentos,
que constituem a bíblia de qualquer mercado financeiro.
Com a recente aprovação do Aviso nº. 1/GBM/2021 de 4 de Fevereiro,
sobre os derivativos financeiros, é oportuno colocar
sob os holofotes os impactos destes instrumentos no mercado
financeiro moçambicano. Os derivativos são negociados
sob a forma de um contrato, no qual estão especificados as
moedas envolvidas, os montantes, os prazos de liquidação e
forma de cotação do activo sobre os quais se efectua a respectiva
negociação. Assim, seja qual for a tendência dos preços
no mercado à vista, os intervenientes têm a garantia de
que na data futura terão o preço acordado previamente. Os
derivativos classificam-se em contratos Futuros, Opções de
compra e venda, operações de Swaps, entre outros, tendo
cada um dos instrumentos as suas características e especificidades.
Como todos os mercados, o dos derivativos, também
será constituído por normativos e de certeza algumas intervenções
do regulador que, de certa forma, determinarão
o modo pelo qual os intervenientes poderão se comportar,
ficando por saber se o mercado de derivativos terá um controlo
rígido tal e qual é imposto no mercado à vista. Se não
houver diferenças regulatórias entre eles, provavelmente
não teremos o mesmo cenário vivido em 2019, que obrigou
o banco central a cancelar transacções com recurso a taxa
de câmbio a prazo. Portanto, a acção do banco central vai ser
relevante, não só do ponto de supervisão e fiscalização, mas
sobretudo no seu papel de interveniente no mercado.
Não tenho dúvidas de que estes instrumentos representam
uma tema complexo, com muito ainda por ser estudado. Mas,
também, tenho a certeza que os derivativos vão de certa
maneira proteger os nossos agentes económicos contra as
variações adversas na moeda e na taxa de juro, vão permitir
a transferência dos riscos oriundos dessas flutuações e,
ao mesmo tempo, vão permitir que todos os intervenientes
tenham um fluxo de liquidez mais previsível e, consequentemente,
com um melhor planeamento de gestão de tesouraria.
Paralelamente, veremos ainda um aumento considerável
do número de negócios, resultando, assim, numa maior
liquidez no mercado. Não menos importante vai ser o facto
de o nosso mercado passar a dispor de mais instrumentos
financeiros para oferecer aos seus clientes, sobretudo para
as grandes empresas e investidores que nos sectores de
mineração, petróleo e gás, agrícola, entre outros, já estavam
habituados a ter estes instrumentos para sua gestão.
Por fim, uma boa nova que este normativo traz é a necessidade
de uniformização dos contratos entre as partes e ainda
o facto de podermos recorrer às regras e princípios da
Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA, na
sigla em inglês), o que vai promover a confiança dos investidores,
sobretudo os externos, pelo facto de reconhecermos
os padrões legais internacionalmente aceites, o que criará
um ambiente de investimento mais atraente. No entanto, há
necessidade de cada instituição participante no mercado
reforçar competências e conhecimentos para interpretar
e aplicar as normas internacionais do mercado financeiro,
pois acredito que, à medida que vamos desenvolvendo, aplicaremos
outros master agreements que estão em uso nos
mercados internacionais.
Inovações financeiras como os derivativos impulsionarão o desenvolvimento do nosso mercado,
vão garantir maior eficiência, integridade, segurança, transparência e solidez do mercado
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NAÇÃO
20
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PROFISSÕES DO FUTURO
QUANDO O TRABALHO DO FUTURO
É O FUTURO DO TRABALHO. E JÁ CHEGOU
Em breve, se perguntarmos a uma criança o que quer ser quando crescer, a resposta não será,
provavelmente, a que nos habituámos a ouvir. Não só porque muitas profissões deixarão de existir,
mas porque as que resistirem à revolução tecnológica em curso serão executadas de maneira diferente,
exigirão outro tipo de competências e, por isso, terão outra designação. O mundo já se move nesta
direcção, uns mais rápidos que os outros. E em Moçambique, até onde já conseguimos chegar?
o
mundo atravessa mais uma revolução, a tecnológica,
que poderá custar o fim de um grande
número de empregos. Dados de diferentes
organizações internacionais das áreas de trabalho
e comércio, como o Fórum Económico
Mundial e a UNCTAD, apontam para a destruição
de mais de 47% dos empregos na indústria no mundo,
sobretudo como consequência da robótica e da inteligência
artificial. Igualmente, as áreas de segurança cibernética
já têm um défice de mais de 1,5 milhões de peritos, todos
substituídos pelas novas tecnologias. Só a robótica tem
substituído a presença humana na indústria automóvel,
aviação civil e em outras indústrias de força de trabalho
intensiva. Por conseguinte, a inteligência artificial, a
informatização e a robótica podem substituir, em breve,
milhares de postos de trabalho que dependem do ser humano
de forma directa.
Alguns relatórios sobre o futuro das profissões prevêem
que 85% dos empregos até 2030 ainda nem sequer foram
inventados, pelo que, o facto de Moçambique ter de seguir
as tendências digitais e tecnológicas actuais, fará com que
fique ainda mais na periferia do mundo. A combinação das
ciências, matemáticas e engenharias, mesmo sem produzirem
bens ou serviços directos, serão a base para que se
atinjam níveis de desenvolvimento económico e humano
mais competitivos. “Precisaremos todos de assumir o alerta
sobre as mudanças na estrutura económica de forma mais
séria e ousada. Os recentes dados do censo de 2017 atesta
bem a tipologia da população que mais sofrerá os efeitos
dos ajustes das futuras profissões. Estes jovens, nunca co-
Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock & D.R.
mo agora, estiveram tão carentes de empregos. O campo e
a agricultura, ainda tipificada pelos baixos níveis de rendimento
e produtividade, não asseguram a continuidade
dos jovens nas regiões rurais e, consequentemente, serão
forçados à migração para as periferias das cidades”, descreve
o Reitor da Universidade Pedagógica, Jorge Ferrão,
numa breve abordagem do panorama do futuro do trabalho
no País.
Mas de que profissões estamos a falar?
Há uma fileira gigante de profissões novas que vão trazer
o futuro, como data cientists, data analists, data quality controler,
data arquitect, etc., tudo ligado ao que podemos chamar de
′nova moeda‛ – a data.
Ou seja, as profissões do futuro são as que estão muito mais
próximas de manipular esta moeda. Por outro lado, as profissões
que vão desaparecer são as que estão agarradas
aos factores tradicionais de produção. Na área de serviços,
tudo o que tem que ver a com a interacção, isto é, profissões
que envolvam assistência ou atendimento ao cliente e
que exijam grande exposição física com parceiros de negócio
vão sofrer um arraso gigante, também acelerado pela
pandemia do novo coronavírus.
Há que não perder de vista o conjunto de profissões em
que a inteligência artificial e a internet das coisas não
chega, como tomar conta de idosos ou o trabalho de personal
trainer, dactilógrafo, atendimento ao cliente,
impressor offset e funcionário de gráfica, etc., até que se
transformem em virtuais, já que são profissões do futuro
aquelas que têm menos interacção física entre as pessoas.
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21
NAÇÃO
Há uma fileira gigante de profissões novas que
vão trazer o futuro, como data cientists, data
analists, data quality controler, data arquitect...
Em termos concretos, a lista mais consensual, no mundo, de
algumas profissões do futuro inclui Desenvolvedores de
softwares, Gestor de Conteúdos, Creators (Digital Influencers),
Assessor de creators (profissionais que cuidam das carreiras
de influenciadores digitais), Professor online, Coaching
(profissional que ajuda outras pessoas a evoluírem em diversas
áreas de suas vidas), Marketeer Digital, Engenheiro
Ambiental, Designer 3D, Especialista em Energias Renováveis,
Desenvolvedor Web, Piloto de Drone, etc. A infografia
das páginas 24 e 25 traz alguns detalhes destas e de outras
profissões, ainda que muito aquém do grande volume das
que já se projectam.
Já temos alguns… mas muito pucos!
Há moçambicanos que já estão no futuro. São escassos ainda,
mas existem. A E&M falou com dois. Em comum, o facto
serem autodidactas. Ou seja, foi por curiosidade e esforço
próprio que migraram para o futuro. Não foram inspirados
pela escola. O primeiro é Guidione Machava, desenvolvedor
de softwares. Ele prefere chamar software designer, ou
seja, o profissional que planeia estruturas digitais que depois
são implementadas pelos engenheiros digitais para
diferentes finalidades da actividade empresarial, tal como
faz o arquitecto, que prepara as estruturas físicas que são
implementadas pelos engenheiros de construção civil.
Economista de formação, Guidione é co-fundador de uma
empresa que desenvolve sistemas informáticos, a Moz Devs.
Foi lá onde descobriu que o que fazia tinha um nome e
uma estrutura de organização de trabalho fora do comum.
Então, decidiu seguir e estudou. Felizmente, a disponibilidade
de internet possibilitou a auto-formação.
Guidione, que presta serviços a qualquer empresa que se
queira digitalizar, considera que os jovens têm pouca orientação
para as profissões do futuro por falta de divulgação
das competências deste género de trabalho. “É cansativo
ter de descobrir e perseguir uma profissão por iniciativa
própria. O sistema de educação tem de ser revisto para resolver
o desfasamento entre o que o mercado quer e o que
a indústria nos prepara para fazer”, sugeriu.
Outro é Simião Júnior. É digital marketing manager, tarefa
que inclui uma série de utilidades como desenhar e executar
todo o digital marketing incluindo marketing database,
e-mail, SEM (Search Engine Marketing), social media e campanhas
de display advertising; desenhar, construir e manter a
presença de uma organização nas redes sociais; mensurar
e reportar a performance de todas as campanhas do digital,
etc. Para transitar para o futuro “tive a oportunidade de
fazer parte de uma das comunidades de jovens do mundo
(AIESEC) que permite que os jovens universitários possam
fazer intercâmbios nacionais e internacionais. Ingressei
como coordenador de RH mas queria mais e decidi aplicar-me,
tendo chegado à posição de team leader da mesma
área”, conta o jovem de 23 anos, que diz ter descoberto uma
paixão pelo mundo digital.
Simião Júnior trabalha, hoje, como digital marketing manager
de marcas em áreas como a banca e investimento, Oil & Gas,
energia, mineração, etc. Um dos obstáculos que este jovem
aponta no contexto interno é a relutância das organizações
em migrar para o ambiente digital. “Ainda é muito difícil
convencer um cliente a ir para o digital. Acredito que
umas das coisas que podemos fazer é incutir na cabeça das
pessoas a importância que esta área tem”, concluiu.
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PROFISSÕES DO FUTURO
Mudança muito lenta
João Gomes, partner da Jason Moçambique, tem feito vários
estudos que abordam questões da área do trabalho, skills,
e tecnologia, e confirma que o movimento está só a começar,
e de forma tímida. Ou seja, há pouquíssimas empresas
e pessoas que já têm noção do que está a acontecer, muito
menos as que estão a investir na migração para o trabalho
do futuro. Estas poucas resumem-se apenas nas entidades
que dão suporte a todas as redes de pagamentos, assim como
as empresas de telefonia móvel e o sistema financeiro.
Mas todos estes “estão numa fronteira muito distante da robotização,
embora haja informação suficiente para tentar
trazer o futuro para agora”, explicou o responsável.
Esta linha é partilhada por outros especialistas. Para Samuel
Maputso, Director de Capital Humano do BancABC,
com participação em várias iniciativas como o Fórum dos
Recursos Humanos de Moçambique, “olhando para os resultados
das pesquisas feitas fora, arrisco-me a dizer que se
estivermos a ganhar alguma consciência da mudança, que
será inevitável, ainda estamos tímidos. Quando converso
com a maior parte dos meus colegas dos Recursos Humanos
(RH) não sinto grande nível de consciência em relação
a este tema. Já falámos sobre o assunto em algumas conferências,
mas ainda estamos numa fase de curiosidade com
alguma descrença”. Também Paulo Santos, líder da Heading,
empresa que estabelece a ponte entre quem procura
e quem oferece mão-de-obra qualificada, entende que “do
lado dos nossos (seus) clientes, ainda não há sinais de que tenham
começado a equacionar essa nova lógica no perfil dos
Recursos Humanos, mas vai começar a acontecer e terá de
ser liderada por pessoas mais autónomas, com maior capacidade
de decisão, de auto-motivanção e perfis que vão ser
cada vez mais adaptadas às novas tecnologias”, observou.
Já a Contact, uma das mais destacadas empresas de recrutamento
do mercado, mesmo sem ser específica, assume
ser “racional afirmarmos que já começa a haver algumas
profissões que estão a cair em desuso em Moçambique por
conta das novas exigências do mercado forçadas pelo avanço
tecnológico e, recentemente, pela pandemia do covid-19”.
Pobreza e o risco de “ver o comboio passar”
João Gomes deu grande ênfase às características socioeconómicas
do País ao prever o futuro do trabalho. Para o
especialista, uma questão fundamental a ter em consideração
é que o processo de transição para as novas profissões
será selectivo.
As pessoas que terão maior facilidade de mudar de carreira
não são as que estarão, necessariamente, em busca de
trabalho, e sim as profissional e economicamente bem-sucedidas
e que, com bons salários, buscarão novas carreiras
por estarem emocionalmente esgotadas de fazerem as
mesmas coisas.
NAÇÃO
AS 13 PROFISSÕES QUE SERÃO IMPULSIONADAS PELO AMBIENTE DIGITAL
Um relatório do Center for the Future of Work, estabelecido pela Cognizant Technology Solutions – uma das maiores empresas de
tecnologia de informação do mundo –, é mais específico em apostar em profissões do futuro. Da maior parte delas nunca se ouviu falar.
Algumas até já existem, mas conhecerão um upgrade que as transformará profundamente. Outras estão a surgir por aqui. Conheça-as.
1
DETECTIVE
DE DADOS
O que faz?
Investiga mistérios em Big Data. “O que
estão os nossos dados a contar-nos? Que
segredos contêm?”, questionam os autores
da pesquisa sobre o assunto.
O que é preciso?
Saber sobre finanças, matemática e data
science, sem ser necessário ser um cientista
de dados. Conhecimentos de leis são uma
vantagem.
2
FACILITADOR
DE TI
O que faz?
Explora tendências digitais e cria uma
plataforma self-service automatizada
para que os usuários construam os seus
próprios ambientes colaborativos, incluindo
assistentes virtuais.
O que é preciso?
Ter formação em TI, ciências da
computação, engenharia, ciências naturais
ou administração de empresas. Habilidades
de comunicação e liderança também são
necessárias.
3
OFICIAL DE ÉTICA DE
SOURCING
O que faz?
Investiga, acompanha, negoceia acordos
de bens e serviços para garantir que gastos
indirectos da empresa (em energia e
relações sociais) estejam alinhados com os
padrões de ética dos seus stakeholders.
O que é preciso?
Ter experiência com ética em ambientes
corporativos, habilidades interpessoais e
de comunicação, capacidade de trabalhar
em grupo. Conhecimentos de negócios, leis,
gestão pública ou filosofia são diferenciais.
13
OFICIAL DE
DIVERSIDADE GENÉTICA
O que faz?
Facilita a lucratividade e a produtividade da
organização e, ao mesmo tempo, cria um
ambiente de inclusão genética, operando de
acordo com as leis e guias relacionados com
a força de trabalho geneticamente aprimorada.
O que é preciso?
Na última das profissões do futuro, é
necessário um grau avançado de estudos em
biologia ou genómica, anos de experiência
com igualdade genética ou similares.
Habilidades interpessoais, de gestão e de
comunicação também são essenciais.
12
CONTROLADOR DE
ESTRADAS
O que faz?
Monitora, regula, planeia e manipula
espaços aéreos e estradas, programando
plataformas automatizadas de Inteligência
Artificial usadas para gerenciar espaços de
carros e drones autónomos.
O que é preciso?
Aptidão para o trabalho é mais importante
que qualificações ou experiências anteriores.
É preciso ter habilidades de comunicação,
tomada de decisão, organização e resolução
de problemas. Saber trabalhar sob pressão
também é essencial
11
ANALISTA DE QUANTUM
MACHINE LEARNING
O que faz?
Pesquisa e desenvolve soluções de ponta
que aumentam a velocidade e performance
de algoritmos e sistemas, ao integrar as duas
disciplinas.
O que é preciso?
Ter um perfil criativo e uma pós-graduação
na área, além de anos de experiência com
machine learning, computação quântica ou
data science.
24
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PROFISSÕES DO FUTURO
4
GESTOR DE NEGÓCIOS
DE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL
O que faz?
Na quarta das profissões do futuro, o
profissional define, desenvolve e implementa
programas eficazes para acelerar vendas e
negócios de inteligência artificial.
O que é preciso?
Ter experiência com vendas e
desenvolvimento de negócios em grandes
organizações, além de experiência
corporativa com plataformas de Inteligência
Artificial, machine learning e computação
em nuvem.
10
CHIEF TRUST OFFICER
O que faz?
Trabalha com equipas de relações públicas
e finanças para construir relações de
confiança no sector financeiro e encorajar
transparência e responsabilidade no
mercado de criptmoedas.
O que é preciso?
Ter anos de experiência relevante com
criptomoedas, blockchain e/ou bolsa de
valores, mestrado na área, conhecimentos
regulatórios e perfil analítico.
5
MESTRE DE EDGE
COMPUTING
O que faz?
Cria, mantém e protege o ambiente de
edge computing ou computação na “borda”
(trata-se do limite da rede de computação
em nuvem, perto da fonte de dados).
O que é preciso?
Doutoramento na área ou em áreas
relacionadas, experiência com segurança
e protocolo de internet das coisas, entre
outros assuntos. Capacidade de arquitectar
e projectar ambientes de computação em
nuvem ou edge computing.
9
GERENTE DE EQUIPA
HUMANOS-MÁQUINAS
O que faz?
Desenvolve um sistema de interacção para
que seres humanos e máquinas conversem
melhor, o que aprimora essa equipa híbrida.
O que é preciso?
Ter formação em psicologia ou neurociência
e qualificação posterior em ciência da
computação, engenharia ou recursos
humanos. É preciso ter experiência em áreas
relacionadas, como machine learning ou
interação entre humanos e robots.
6
WALKER/TALKER
O que faz?
Profissional autónomo. Passa tempo com
clientes idosos através de uma plataforma
online para escutá-los e conversar com eles.
A sua principal tarefa é ‘prestar atenção’.
O que é preciso?
Qualquer background será considerado. É
preciso ter mobilidade para visitar clientes
em casa quando for necessário.
7
CONSELHEIRO DE
COMPROMISSO DE SAÚDE
O que faz?
Trabalha remotamente para oferecer
coaching individual e conselhos de bemestar
e saúde para usuários de pulseiras
inteligentes, que monitoram as suas
actividades e sinais físicos.
O que é preciso?
Ter experiência com nutrição ou educação
física e credenciais (obtidas em cursos
online) em modalidades desportivas
como CrossFit ou Ioga. Saber lidar com
ambientes culturalmente diversos também
é necessário.
8
ANALISTA DE
CYBERCIDADE
O que faz?
Garante a segurança e funcionalidade da
cidade ao assegurar o fluxo saudável de
dados (ambientais, populacionais, etc.) pelo
sistema.
O que é preciso?
Ter qualificações em engenharia digital,
conhecimentos sobre circuitos electrónicos
e metodologias de startup enxuta e
experiência com impressão 3-D. É preciso
saber ler e interpretar dados em analytics.
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25
NAÇÃO
O outro pólo é o de pessoas sem poder de transitar para o
futuro, nomeadamente as mulheres e todas as pessoas de
baixo rendimento e de fraco nível de qualificação escolar,
pelo que o tema do género acabará por estar em voga neste
processo, já que trazer a mulher para as profissões do
futuro será um enorme desafio.
“Outra questão é: quais são as profissões que conseguirão
fazer a transição para o futuro (lembrar que algumas vão
se transformar e outras vão nascer naturalmente por
estarem ao pé da moeda do futuro)? Estes vão enfrentar
um problema dramático. É que só agora, com a questão do
trabalho remoto, se nota que a maioria das pessoas não domina
os fundamentos da tecnologia, não sabem nada e nem
sabem usar os canais digitais para dizerem o pouco que sabem”,
lamentou.
E Jorge Ferrão acrescenta: “Uma educação digital intermediária
permitirá nivelar as competências e fazer que
avancemos como país e não como um espaço fragmentado
e numa tentativa de ′salve-se quem puder‛”.
Males pelas aldeias
Toda a sociedade tem um papel neste processo. Desde o Estado
à academia, passando pelo sector privado. A experiência
internacional já o provou. No caso de Moçambique, a iniciativa
privada é que tem estado na vanguarda, basta olhar
para a rápida proliferação de ideias que resultam em startups
inovadoras de grande alcance no processo produtivo.
O papel da academia e das empresas
Com ′muita estrada‛ na área da academia, o Reitor da UP,
Jorge Ferrão, considera que as universidades, públicas ou
privadas, terão de passar por um processo de migração digital,
que levará tempo, mas será irreversível. Recorrendo
aos dados do censo de 2017, Ferrão utilizou estatísticas para
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PROFISSÕES DO FUTURO
do mundo actual e das tecnologias. Muitos programas desenvolvidos
pelas universidades estão desactualizados e
demoram muito tempo a serem actualizados, mas as empresas
apresentam melhor capacidade de se adaptarem
à nova realidade, podendo fazê-lo de um dia para o outro
quando são desafiadas. O responsável defende que terá de
ser um esforço conjunto, em que as empresas procurarão
fazer o seu papel na formação do seu quadro de profissionais
do futuro e as instituições de ensino vão ter de fazer
o mesmo, sendo que o próprio cidadão também tem a responsabilidade
de desenvolver a consciência disso já que,
hoje em dia, há uma imensidão de cursos online, até gratuitos,
que necessitam apenas de iniciativa por parte de quem
procura esses conhecimentos.
Samuel Maputso acrescenta que as universidades têm de
reorganizar os seus currículos tendo em conta as profissões
do futuro e atribui às empresas 60% da responsabilidade
neste domínio. Ou seja, será necessário harmonizar os
métodos de formação das empresas e das universidades a
partir do próprio desenho de cursos.
… O Papel dos Recursos Humanos
“O ponto de partida é a reconfiguração dos profissionais dos
RH”, sugere Samuel Maputso, e acrescenta: “o que se observa
é que a maior parte dos directores de RH nas empresas
moçambicanas foi formada há muito tempo e não está preparada
para lidar com as exigências da tecnologia nos dias
que correm. Nas empresas, a maior parte dos processos de
RH é manual e onde existe alguma automatização os processos
estão desintegrados, sem ligação coerente entre si.
Os processos nesta área ainda são dominados por esta geração
de profissionais de RH sem Data and Analitic skills”.
“As universidades têm de reorganizar os seus
currículos tendo em conta as profissões do futuro
e as empresas têm 60% de responsabilidade...”
mostrar o quanto Moçambique está pressionado pela nova
realidade: tem uma baixa percentagem de cidadãos com
acesso a computador, apenas 8,9%; de acesso a internet,
com 13,4%; de acesso à telefonia móvel, com 53,2% (o indicador
menos mau). Mesmo assim, Jorge Ferrão acredita que
“o uso de tecnologia móvel ganhou corpo nos últimos anos,
pelo que as plataformas criarão novas oportunidades, sobretudo
para os jovens e mulheres e para uma população
que se manteve excluída de modelos formais de emprego
em décadas recentes”.
Também Paulo Santos, da Heading, vê um sistema de ensino
que tem levado algum tempo a adaptar-se à realidade
A responsabilidade do Estado
É consensual, entre todos os intervenientes, a necessidade
de criar a ′auto-estrada‛ que são os meios necessários para
facilitar a migração para as profissões do futuro. “Em
Moçambique, há gente a fazer trabalho sério. Por exemplo,
o INCM ao nível da regulação faz um bom trabalho. Mas
precisamos de investimentos em infra-estruturas e o que
está a acontecer é que estas estão a ser resultado do investimento
privado, como acontece no caso das companhias
privadas de telefonia móvel e da banca. Para que as profissões
do futuro encontrem terreno fértil era importante
que se começasse a intervir no ensino primário, a qualificar
as pessoas para usarem ferramentas tecnológicas,
depois criar uma rede de infra-estruturas de Norte a Sul
do País e que se ramifiquem e facilitem a acção do sector
privado”, defende João Gomes.
O medo de formar... e depois perder
Entretanto, a era tecnológica reserva outros desafios que
não estão a ser muito equacionados. É que as competências
do futuro são tecnicamente transferíveis. E o problema da
transferibilidade é que ela não pára. Ou seja, as empresas
podem investir em RH que podem sair porque a velocidade
de circulação fica muito mais rápida com a tecnologia.
São competências que permitem que as pessoas sejam nómadas
digitais e passam a não trabalhar apenas para a
organização que as formou. Assim, os investidores ficam
desmotivados em investir na formação de capital humano.
“Este é um dos problemas do futuro”, alerta João Gomes”.
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OPINIÃO
“Jobar” no Futuro
João Gomes • Partner @ JASON Moçambique
vem este artigo - “Jobar”, expressão Moçambicana
que significa “trabalhar” - a propósito de um
estudo 1 partilhado por um bom amigo, o qual
referia que até 2030 cerca de 100 milhões de
trabalhadores (principalmente jovens, mulheres,
migrantes e indiferenciados) ficarão sem
emprego, se não fizerem a transição para empregos que
apelido do, e com FUTURO!
A boa notícia 2 é que a Quarta Revolução Industrial criará,
no mesmo período, 133 milhões de novos empregos.
É clássica a pergunta: o que queres ser quando fores
grande?
Menos clássicas, porque ainda inesperadas, são as respostas
do género:
- “Eu quero ser cientista de dados”, diz o Faizal.
- “Eu vou ser programadora de cobots bio-médicos”, diz a Yara.
- “E eu vou ser designer de drones industriais”, atalha o Wilson.
- “Eu vou ser Youtuber”, diz a Ayana convictamente.
O que podemos dizer HOJE ao Faizal, à Yara, ao Wilson e à Ayana
sobre o Trabalho do, e com FUTURO? E aos 100 milhões de trabalhadores
que até 2030 ficarão sem emprego, se não fizerem a necessária
transição?
Neste artigo convido-vos a fazermos um exercício de antecipação
no qual veremos sucessivamente:
1) Quais são os padrões do trabalho do, e com FUTURO
que estão a emergir, que apresentam potencial para
perdurar e que, entretanto, foram bastante acelerados
pela ocorrência da pandemia do COVID19.
2) E, bem assim, como nos podemos preparar HOJE, para
não ficarmos…sem trabalho, e sem futuro!
1) Destaco 5 padrões emergentes do Trabalho do, e com
FUTURO!
Padrão 1 - Aumento do trabalho sem contacto físico:
Trabalhos que hoje requerem frequente interacção e exposição
com o público em viagem, de negócios, e efectuados
cara-a-cara estão a ser descontinuados. De acordo
com a revista Economist 3 50% dos hotéis de negócio irão
desaparecer. Por exemplo, serão negativamente impactadas
profissões nos sectores da hotelaria de negócio, da
restauração, em centros de congressos, em aeroportos,
entre outros.
Padrão 2 - Aumento da hibridização do trabalho: Trabalhos
que hoje não requerem frequente interacção e exposição
com os clientes, que são intermitentemente efectuados
cara-a-cara, e que se baseiam em ferramentas de IT, estão
a optar por entregar de forma rotativa, quer em modo
presencial, quer remotamente (modelo híbrido). De acordo
com o já citado estudo, 1/3 das economias avançadas já se
encontra neste estádio. Por exemplo, serão negativamente
impactadas profissões nos sectores legal, contabilístico, na
administração pública, entre outros.
Padrão 3 - Aumento da desmaterialização do posto de trabalho:
Trabalhos que hoje requerem frequente interacção
e exposição com o público, e são efectuados “on-site” estão a
migrar para a arena electrónica. Prevê-se o encerramento,
até 2024, de 50% das lojas físicas de cadeias globais que
entretanto aderiram ao e-commerce. Por exemplo, serão negativamente
impactadas profissões em lojas de retalho e
de conveniência, em serviços financeiros, entre outros.
Padrão 4 - Aumento exponencial da datificação (Big Data):
Consequência do Padrão 3, yottabites 4 de dados são acumulados
diariamente, a par da servicificação das economias
(já aqui escrevemos sobre este tema “Servicificar, um passo
de Gigante”) fazendo emergir um novo factor de produção,
a par da terra, do capital e do trabalho: Data. E à volta
deste novo “factor de produção”, perfila-se uma lista longa
de “novos operários”: por exemplo, cientistas de dados; business
intelligence analysts; especialistas em IoT (Internet das
Coisas), entre outros.
Padrão 5 – Cobotização do trabalho em ambiente industrial:
noutra arena na qual não é requerida frequente interacção
e exposição com o público, e sem possibilidade de
Trabalhos que hoje requerem frequente interacção e exposição com o público em viagem,
de negócios, e efectuados cara-a-cara estão a ser descontinuados. De acordo com a
revista britânica Economist, metade das unidades hoteleitas de negócio irão desaparecer
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O futuro vai impor uma ruptura no padrão de competências profissionais e passar a exigir habilidades ligadas aos novos meios tecnológicos
hibridização do trabalho (não é possível levar a fábrica
para casa!) emerge, como um dos traços distintivos do trabalho
do, e com Futuro, a coexistência, a colaboração e
a cooperação entre Humanos e Robots Sensíveis (cobotização)
5 . Por exemplo, muitas das tarefas repetitivas e arriscadas
já estão a ser realizadas pelos cobots abrindo, deste
modo, espaço para os Humanos realizarem tarefas mais
criativas e intelectualmente desafiantes.
2) Ora, já que trabalhar de sol a sol (tal como o fizeram os
nossos antepassados na Revolução 1.0: Agrícola); ou trabalhar
das 9h00 às 17h00 (tal como ocorreu nas Revolução
2.0: Industrial e na Revolução 3.0: da Informação)
não parece ser suficiente, como nos podemos preparar
antecipadamente para a Revolução 4.0: da Automação
e Inteligência Artificial e assim evitarmos ficar
sem trabalho, e sem futuro?
Pessoalmente tenho seguido muito de perto, e convido vivamente
o meu caro leitor@ a analisar um dos mais profundos
estudos feitos no sentido de capturar aquelas que
são as competências críticas para o Trabalho do, e com Futuro
6 . Apesar da já provecta idade do estudo (realizado em
2020), o SCANS Report mantém-se absolutamente actual. E
são oito as competências críticas que deverão equipar as
nossas mochilas de modo a acelerarmos a transição e que
se desmultiplicam em 36 sub-competências, organizadas
em dois grupos (Fundacionais [Ser]; e do Posto de Trabalho
[Saber e Saber-Fazer]). Permito-me apenas destacar o grupo
de competências críticas para o Posto de Trabalho do
Futuro:
- Gestão de Recursos: identificar, organizar, planear e alocar
Recursos Escassos.
- Gestão Interpessoal: trabalhar com os Outros.
- Gestão da Informação: adquirir e utilizar a Informação.
- Gestão da Tecnologia: trabalhar com uma variedade de
Tecnologias.
Em conclusão
Preparar o Faizal, a Yara, o Wilson e a Ayana para o Trabalho
do, e com Futuro é um imperativo para HOJE.
Até 2030, 100 milhões de trabalhadores pertencentes a grupos
frágeis (jovens, mulheres, indiferenciados, migrantes)
ficarão sem emprego e terão de transitar para a economia
da Revolução 4.0: da Automação e Inteligência Artificial.
Trazer o Futuro para Hoje implica que sejamos capazes de
perceber os padrões emergentes que desconfigurarão/
reconfigurarão o trabalho, a saber: trabalho sem contacto
físico, híbrido entre presencial e remoto, desmaterializado,
datificado e cobotizado. Asseguremos a prontidão e preparemo-nos,
equipando as nossas mochilas com as oito competências
críticas para o Trabalho do, e com Futuro.
Pois que Jobar é preciso, hoje, e no Futuro.
1
The Future of Work after COVID-19 - Makinsey Global Institut.
2
Jobs of Tomorrow – Mapping Opportunity in the New Economy – World Economic Forum - http://www3.weforum.org/
docs/WEF_Jobs_of_Tomorrow_2020.pdf.
3
Visão do Futuro - The Economist.
4
O yottabyte é uma unidade de medida da área da informática, equivale a 10 elevado a 24 bytes.
5
Para mais detalhes sobre o tema dos Cobots conferir https://www.youtube.com/watch?v=IQyj9OkdbSg
6
Skills and Tasks for Jobs “A SCANS Report for America 2000”. https://wdr.doleta.gov/opr/FULLTEXT/1999_35.pdf
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NAÇÃO
“VAMOS AJUSTAR OS ORÇAMENTOS
E MUDAR A BASE DE APRENDIZAGEM”
O Reitor da Universidade Pedagógica e antigo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano,
Jorge Ferrão, tem publicado reflexões sobre as profissões do futuro e sabe onde estão os pontos
críticos da transformação. Defende mudanças na academia e na postura de toda a sociedade
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
não haverá volta a dar
que não inclua encarar a
educação de uma forma
diferente da actual, com
novos investimentos em
tecnologia e colocando
os jovens na vanguarda do processo
de mudança. Jorge Ferrão é uma das
figuras de consenso para falar dos
processos e modelos de formação de
pessoas em Moçambique, e está convencido
de que é possível acelerar a
migração para as profissões do futuro,
mas avisa que não nos será barato.
A 4ª Revolução Industrial está a
mudar a forma de estar da sociedade
global. No trabalho, com a evolução
tecnológica, assiste-se ao surgimento
de profissões que eram há
pouco tempo impensáveis. Que posição
atribui a Moçambique no contexto
global em relação a esta nova
tendência?
O impacto das sociedades de conhecimento
coloca as competências tecnológicas
e digitais como os activos mais
importantes. Seguir as novas tecnologias
e os efeitos da revolução científica
e tecnológica evitará que sejamos
marginalizados e esquecidos pelo tempo.
Os nexos que se estabelecem sobre
as profissões do futuro e a 4ª Revolução
Científica e Tecnológica assumem, na
contemporaneidade, proporções que
se estendem muito para lá de visões
futuristas ou profecias. A segunda metade
do século XXI aponta para cenários
verdadeiramente desafiadores,
e que obrigarão as sociedades a um
posicionamento geoestratégico. A Inteligência
Artificial e a robótica associadas
à tecnologia 5G e 6G vão, em definitivo,
alterar o mundo e teremos de
nos preparar para entrar para esse
mercado de trabalho tão competitivo.
Um pouco pelo mundo, novas profissões
têm ganhado espaço. Muito brevemente,
serão os postos de trabalho
mais disponíveis, com salários mais
competitivos e preferenciais.
As competências necessárias para estas
novas funções podem ser radicalmente
diferentes daquelas que vão desaparecer
e das quais os investimentos
actuais deverão ser realizados.
Se, por um lado, não existem dúvidas
sobre determinadas profissões tradicionais
e, até as mais regulamentadas,
como economia, veterinária, direito,
engenharias, medicinas, etc., por
outro observam-se novas e inovadoras
categorias, tais como segurança
cibernética, técnicos de impressoras
3D, gestores de nuvens (icloud), produtores
de blogs e até pilotos de drones.
Há muito que se fala da necessidade
de melhorar a qualidade de formação
de pessoas em Moçambique,
a todos os níveis, desde o primário
ao superior. Mas o País tem uma
longa estrada por percorrer para
ser capaz de formar os chamados
profissionais do futuro. Por onde
começar?
Estas profissões do futuro impõem novos
desafios às instituições de ensino
Admitamos que os progressos e as reformas curriculares nas instituições
de ensino em Moçambique registaram mudanças significativas, porém,
estas têm acontecido de uma forma lenta, hesitante e pouco ousada
e às universidades, em particular.
Evidentemente que as universidades
precisam de se reajustar e definir
cursos que priorizem competências
para as áreas tecnológicas e, em consonância
com os novos empregos que
serão gerados, com requisitos muito
mais exigentes, terão de manter a
sua função de investigação e docência
que, na prática, são a sua essência. Porém,
sem optarem apenas pelo modelo
de diplomas, como se tem verificado
em diferentes situações. Será um
risco fatal, porém, se vivermos alterando
cursos a cada instante, quer pelo
surgimento de uma nova indústria,
quer por um novo recurso. Formar capital
humano exige algum tempo e a
garantia de que estaremos a prover
uma base de raciocínio e questionamento.
Esse é o nosso papel. Ensinar a
pensar, a ter opções e a questionar. Isto
representa mais de 75% do futuro trabalho
profissional.
Que modelos de formação há no
mundo que melhor podem servir a
Moçambique e provocar uma mudança
efectiva?
Os modelos de formação não são standards.
Eles respondem à demanda nacional
e a capacidades locais. Portanto,
não nos serve de nada copiar, copiar
e repetir aquilo que os outros já fizeram.
O surgimento da indústria de gás
e petróleo já obrigou a criação de novos
cursos e formação técnico-profissional.
Ainda assim, teremos de aprender
destas tecnologias e aperfeiçoar
a formação que provemos aos nossos
graduados.
A 4ª Revolução Industrial é impulsionada
por três categorias distintas: a física,
a digital e a biológica. Na categoria
física terá os veículos autónomos e
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www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
ENTREVISTA
as impressões em 3D. Recentemente, o
Hospital Central de Maputo recebeu
uma impressão e estão já a produzir
viseiras para reduzir os riscos de infecção
pela covid-19. A Robótica avançada
e outros materiais essenciais que
a tecnologia 5G e 6G vão disponibilizar
farão algum tipo de trabalho que apenas
os robots poderão realizar, devido
à natureza do mesmo. Na área digital
teremos a internet das coisas, a
relação entre as coisas, serviços e pessoas
através de redes digitais. Na categoria
biológica teremos inovações
no campo da biologia, particularmente
na genética. Teremos, igualmente, a
biologia sintética, que consiste em modificar
organismos já existentes, alterando
a sua resistência às adversidades
e capacidade de regeneração
em quantidades nunca antes verificadas.
Um pouco por todos os países, incluindo
o nosso, já observamos estas
mudanças.
De Moçambique, que exemplos práticos
pode citar?
Veja na cidade do Maputo a quantidade
de técnicos reparando telefones celulares.
Isto acontece em cada esquina
e mercado. Igualmente, observe os
clientes usando plataformas digitais
para as transacções financeiras. O M-
-pesa, M-kesh, e-mola e etc., são uma
prova evidente de que os clientes da
banca convencional já foram, de forma
irreversível, superados por estes
novos usuários e a inclusão financeira
será inevitável. Os dados do último
censo provam que a banca comercial
só responde por 6,7% da população,
sendo 4,5% homens e 2,2% mulheres,
contra um total de 52,2% de cidadãos
moçambicanos já integrados
nas diferentes plataformas financeiras
anteriormente mencionadas. Diga-se
de passagem, que estes têm sido
os melhores exemplos da revolução
digital no nosso país, pois facilitaram
a banca e ampliaram vários serviços
financeiros.
Sem perder de vista o facto de estarmos
num País com orçamento
deficitário, nota-se que a disrupção
que se pretende tem, neste aspecto,
um dos maiores obstáculos. É uma
equação difícil…
Ao longo de anos, a formação foi feita
com os mesmos recursos e com os
apoios da comunidade internacional.
Somos signatários do Acordo de Dakar
e temos de ter a consciência que devemos
pautar pela inclusão e não pela
exclusão. Mas a questão que coloca
tem um sentido mais restrito. Teremos
como embarcar para um novo modelo
de formação, sobretudo, desfrutamos
das tecnologias 5G e 6G? Então, a
resposta tem de ser: vamos ajustar os
orçamentos e transformar a base de
aprendizagem.
Deixar que os jovens possam ter acesso
a tecnologias fará deles pessoas
responsáveis pela disrupção no sistema.
Temos de acreditar mais nos jovens
e dar-lhes mais oportunidades.
O ensino superior técnico-profissional,
nos últimos anos, não recebeu novos
ingressos. Este ano, a perspectiva
será de receberem um pouco menos
que 300 jovens em cada sub-sector e
isso será irrisório para essa disrupção
que almejamos.
No nível superior também já se
vem discutindo a transformação
dos modelos de formação introduzindo
rigor na pesquisa científica,
mas a mudança parece lenta…
Admitamos que os progressos e as reformas
curriculares nas instituições
de ensino registaram mudanças significativas.
Porém, estas têm acontecido
de uma forma lenta, hesitante e pouco
ousada. As crises globais de educação,
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
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NAÇÃO
“Muitas das universidades moçambicanas ainda formam nos
modelos convencionais. Os grandes desafios assentam na mudança
e na sua adaptação a um ensino mais prático e programático”
com níveis de aprendizagem também
sofridos e a redução nos orçamentos
para o ensino, explicam, em parte,
a lentidão das instituições de ensino
se ajustarem de forma mais rápida e
progressiva às mudanças. No entanto,
a incapacidade financeira dos Estados
e o controlo que exercem sobre a autonomia
das instituições de ensino não
facilitará que este ajuste aconteça como
seria de prever e desejar.
Muitas das nossas universidades ainda
formam nos modelos convencionais.
Os grandes desafios assentam
na mudança e na sua adaptação a um
ensino mais prático e programático.
Uma formação para aquisição de competências
digitais e tecnológicas, mas,
igualmente, humanas.
Dentro da própria academia, o trabalho
também está a sofrer transformações
profundas, muito por
força da pandemia…
O covid-19 tem impactado de formas
diferentes nas várias esferas da economia,
educação e até na nossa postura
familiar e profissional. Vivemos
apavorados e sem certezas do futuro.
Isto aconteceu no mundo com muito
mais vigor do que em Moçambique.
Na academia e na educação, de forma
geral, poderemos concluir que de-
pois de anos de crescimento significativo,
tanto no acesso como no ingresso,
nos diferentes subsistemas de educação,
hoje, vivemos uma era de muitas
incertezas. Verifique que, em pelo menos
160 países do mundo, o sector da
Educação paralisou as suas escolas e
universidades e foi estimado em cerca
de 1,6 biliões, o número de estudantes
que ficou sem a possibilidade de seguir
com as suas lições, como estavam
habituados. A acrescer este número,
tivemos outros seis milhões de professores
que ficaram impossibilitados
de dar a sua contribuição. Em Moçambique,
foram mais de sete milhões de
alunos, de 13 850 escolas paralisadas e
um total de 140 000 professores.
O que vai acontecer?
Afirmar que estamos a reverter este
quadro seria demasiado pomposo.
Afirmar, também, que o ensino à distância
passará a ser o modelo único
não corresponde à verdade. Por um
lado, porque não temos essa educação
visual, por outro, pelo facto de nem todos
terem essa disponibilidade tecnológica.
Mas há ainda um elemento que
não pode ser negligenciado: o custo
das transacções da internet. Em Moçambique
são excessivamente caras e
proibitivas.
Dizer que ocorrem mudanças e que
elas vão pautar-se pela exclusão seria
criminal e irresponsável da nossa
parte.
O que tem de acontecer a curto prazo
é investirmos para que os equipamentos
digitais possam ser montados
ou fabricados no País. As operadoras
precisam de entender que o lucro se
faz com escala, e quantos mais estiverem
a usar os seus serviços, menores
serão os preços e os resultados da facturação
duplicarão.
Mas existem já instituições preocupadas
em alterar o cenário. Da preocupação
até à concretização dos sonhos
vai um longo e árduo caminho e muita
responsabilidade social e corporativa.
Olhando para Moçambique de hoje
e para a velocidade com que o mundo
caminha rumo à 4ª Revolução Industrial,
o que nos reserva o futuro
enquanto país?
Entre os fantasmas do passado e as incertezas
do amanhã, precisamos de
contar com os nossos recursos e saber
dar espaço e oportunidades para
as vozes que melhor conhecem e
entendem.
Precisaremos de hierarquias flexíveis
a todos os níveis, sobretudo nas
posições políticas. Estas lideranças
permitirão outra forma de fazer política,
mobilizar eleitores, etc. Na economia,
elas serão responsáveis pelas novas
estratégias para atrair e reter os
talentos competentes.
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www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
NAÇÃO
ÁFRICA, UM CAMPO DE BATALHA ENTRE
A DIFICULDADE E A OPORTUNIDADE
A experiência africana com rápida disseminação de meios tecnológicos e startups confere vantagens
que animam os analistas, mesmo com a prevalência de problemas estruturais ao nível das economias
Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock
l
á fora, nos países desenvolvidos,
a velocidade de mudança
é brutal. As profissões que
mais cresceram – e que já se
previa que crescessem, mas
que foram aceleradas pela
pandemia do novo coronavírus – são
as ′datificadas‛. Os gráficos das pessoas
que estão a ficar fora do mercado de
trabalho indicam que são as que não
estão no contexto tecnológico e que exigem
exposição física.
João Gomes, partner da Jason Moçambique,
não avança números
definitivos, mas observa que o mercado
evoluiu de tal modo que “nas
principais cidades dos Estados Unidos,
por exemplo, o metro quadrado de
escritórios, que há poucos anos era extremamente
caro, já está barato. Isto
porque os escritórios foram literalmente
abandonados e estão vazios.
Isto significa que o elemento físico do
trabalho está a desaparecer”. Esta é
uma lógica comum às economias mais
desenvolvidas e capazes de prover infra-estrutura
tecnológica que permite
a transição (digital) para o trabalho do
futuro. E em África, como estamos?
A pobreza como trampolim
“Fazer das fraquezas forças”. Eis um
lugar comum que encontra, no actual
contexto, um lugar bem particular,
premissa que fica literalmente subentendida
no relatório do Banco Mundial
sobre “O Futuro do Trabalho em África”,
desenvolvido em meados de 2019
por Mark Dutz, Jieun Choi e Zainab Usman.
Ou seja, não obstante o facto de
quase todos os países africanos atravessarem
verdadeiros “desertos” que
os separam deste novo mundo digital,
há condições, e aliás “boas condições”,
para os poder ultrapassar. Será? Vejamos:
No documento, os especialistas
começam por descrever as condições
do continente, obviamente desfavoráveis
à possibilidade de sonhar com
progressos rápidos rumo ao trabalho
do futuro. Caracterizam a África
Subsaariana por uma diversidade de
factores limitativos e, até, impeditivos
da adopção das tecnologias digitais:
Níveis baixos de capital humano para
uma população jovem e em rápido
crescimento; mais de 60% da força de
trabalho composta por adultos mal
equipados; sector informal particularmente
vasto e distinto do de outras regiões
em desenvolvimento em termos
de dimensão e composição; sistemas
de protecção social insuficientes e ineficazes,
com oito em cada dez africanos
sem cobertura por qualquer rede de
segurança social.
Tudo isto, num cenário de disrupção
repentina provocado pela pandemia,
a que se juntam os choques climáticos,
a aceleração da integração económica
e as transições demográficas, criará
necessidades acrescidas de protecção
social.
E o contexto não fica selado sem referir
a fraca rede de infra-estrutura de
34
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
PROFISSÕES DO FUTURO
PREÇO DE INTERNET É FACTOR CRÍTICO
Estudo feito em 2020 mostra que a África Subsaariana está entre as regiões
onde a internet é cara, o que dificulta investimento em iniciativas inovadoras
Preço médio de 1GB/USD
14,71
7,85
7,19 6,91
3,42 3,24 3,13
2,28
2,81
2,06
América
do Norte
Austrália Caribe África Europa
subsaariana Oriental
América
Central
Europa
Ocidental
Ásia Bálticos África do
Norte
suporte tecnológico, que coloca grande
parte do continente entre as zonas do
mundo com a internet mais cara e de
menor qualidade (ver infografia).
…Todo o mérito?
É questionável que, com todos os travões
ao desenvolvimento sobejamente
conhecidos, África possa estar em
condições de dar passos visíveis no
uso dos meios tecnológicos no trabalho,
como sugerem os especialistas do
Banco Mundial, que acreditam num
“futuro do trabalho brilhante”. Como
chegar a este (quase) milagre?
Argumentam que, como a África tem
um menor sector transformador do
que outras regiões, a automação não
é susceptível de deslocar muitos trabalhadores
durante os próximos anos;
a maioria das economias africanas
ainda tem baixos níveis de procura
de produtos que são comuns noutras
partes do mundo, como televisores e
frigoríficos. Por isso, a reduções dos
ÁFRICA TEM INTERNET CARA...
Analisados caso a caso, os países africanos
estão entre os que enfrentam custos altos
de internet (não é o caso de Moçambique).
Cinco estão no ‘Top 10’ de um total de 228
Preço médio de 1GB/USD
MOÇAMBIQUE
CHIPRE
BOTSUANA
YEMEN
Preço médio de 1GB/USD
(Em Megabites/segundo)v
Só dois país africano, a Somália (apesar de
muito pobre) e a Nigéria estão com o custo
de internet que os coloca entre os países
que estão em vantagem neste contexto
Preço médio de 1GB/USD
VELOCIDADE DA INTERNET TAMBÉM CONCORRE NA COMPETITIVIDADE
A qualidade da internet é outra vantagem a ter em conta na corrida às profissões do
futuro. Mais um desafio para África, que carece de mais investimentos neste domínio
RAPIDEZ DA BANDA LARGA…
170,99
Singapura Islândia
Hong
Kong
Coreia
do Sul
Roménia
… OUTROS GOZAM DE VANTAGENS
3,33 23,33 0,09 0,46
13,56 27,22 0,11 0,50
23,87 27,41 0,21
15,98 28,26 0,43
17,75 28,75 0,46
155,25
CHAD
BENIN
MALÁUI
S. TOMÉ E PRÍNCIPE
141,43
117,62
FONTE Cable.co.uk, empresa britânica vocacionada em estudos de internet de banda larga,
109,26
ÍNDIA
ISRAEL
QUIRQUISTÃO
ITÁLIA
… E DA INTERNET MÓVEL
(Em Megabites/segundo)
62,7
Noruega
59,81
Qatar
58,57
CAZAQUISTÃO
SOMÁLIA
SRI LANKA
AUSTRÁLIA BERMUDA
UCRÂNIA NIGÉRIA
FEDERAÇÃO RUSSA
Islândia Singapura
0,51
0,52
2,22
54,94 54,18
Emirados
Árabes
FONTE Site Speedtest (realiza pesquisas periódicas sobre a conexão de dados no mundo)
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
35
NAÇÃO
As cidades mais importantes da África já receberam investimentos
tecnológicos substanciais, incluindo maior acesso à banda larga móvel
conexões de fibra ótica e ampliação do fornecimento de energia elétrica
preços decorrentes da adopção das
tecnologias são mais susceptíveis de
ajudar as empresas a crescer, criar
mais empregos e produzir produtos
mais acessíveis, na medida em que
possam ser feitos por africanos. Por
fim, as tecnologias concebidas para
satisfazer as necessidades produtivas
dos trabalhadores africanos com uma
educação limitada têm o potencial para
os ajudar a aprender mais e a ganhar
mais.
O Banco Mundial também faz menção
a um estudo recente que mostrou que,
na sequência da chegada da internet
mais rápida à África Subsaariana no
final dos anos 2000 e início dos anos
2010, o aumento da taxa de emprego
foi semelhante para os trabalhadores
com apenas o ensino primário e para os
que tinham um nível de ensino secundário
e superior. “Esta é uma descoberta
optimista”, refere o Banco Mundial.
Optimista é, também, o Fórum Económico
Mundial
Outra pesquisa, a do Fórum Económico
Mundial, aponta África como potencial
beneficiário da 4ª Revolução Industrial.
“As cidades mais importantes
da África já receberam investimentos
tecnológicos substanciais, incluindo
maior acesso à banda larga móvel,
conexões de fibra óptica nas residências
e ampliação do fornecimento de
energia eléctrica. Isso, combinado com
a rápida disseminação dos smartphones
e tablets de baixo custo, permitiu
que milhões de africanos se conectassem
pela primeira vez… E, conforme a
4ª Revolução Industrial se desenrola, a
África está preparada para desenvolver
novos padrões de trabalho”.avança
a organização.
Também introduz o conceito de “trabalho
flexível” (que se executa virtualmente)
como um modelo perfeito
para um continente com uma população
geograficamente diversa e pronta
para trabalhar, uma rede de comunicação
móvel sólida e carência de
infrae-strutura para sustentar os padrões
de trabalho urbano. “Porquê insistir
em grandes escritórios centrais
e trajectos longos se há uma maneira
de aproveitar os talentos do outro lado
do continente? Como alternativa, a
solução pode ser um quadro de colaboradores
distribuído e virtual, com
empresas que integram freelancers
virtuais”, sugere o Fórum Económico
Mundia, sublinhando que “isso já está
a acontecer. Um relatório sobre as
tendências de profissões em África,
nos últimos cinco anos, mostra que o
número de empreendedores aumentou
20%. E o trabalho em plataformas
on-line está a aumentar, permitindo
que muitos desses empreendedores
lancem startups inovadoras que solucionam
problemas do mundo real e
criam empregos”.
Projecções globais são ambiciosas
O tema sobre trabalho futuro carece
de estatísticas actualizadas, mas as
disponíveis podem ajudar, de alguma
forma, a perceber a dimensão do fenómeno.
O relatório com o título “The Future
of Jobs”, publicado em Setembro
de 2018 pelo Fórum Económico Mundial,
dizia que até 2025 as máquinas
desempenharão mais funções do que
os seres humanos no mundo do trabalho.
Porém, não há motivo para alarme,
já que a mesma revolução tecnológica
que colocará os robots em tarefas,
que antes pertenciam a pessoas, criará
58 milhões de novos empregos.
Hoje, com a pandemia do novo coronavírus,
estes números seguramente
carecem de actualização, mas não
deixam dúvidas sobre a grande mudança
que o mundo está prestes a
testemunhar.
36
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
MERCADO E FINANÇAS
BANCO CENTRAL.
HERÓI OU VILÃO
DA ESTABILIDADE?
A recente subida das taxas directoras levou o
Banco Central ao “banco dos réus” onde se expõem
os méritos e fragilidades das suas políticas. Uns
condenam, outros ilibam. De que lado está a razão?
o
banco de moçambique tem estado debaixo de
′fogo cruzado‛ depois da crise de 2016 que se
seguiu à descoberta das dívidas que viriam
a ser declaradas soberanas. Com a responsabilidade
de estabilizar o valor do metical e
das taxas de juro, manter a inflação baixa e
estável, entre outros, as suas intervenções nem sempre
geraram consenso entre os bem-entendidos em economia
enquanto ciência. A principal queixa é a de que o Banco
Central é excessivamente perseguidor da inflação baixa,
que até deixa escapar do seu controlo outras variáveis como
as taxas de câmbio e de juro do mercado.
Em finais de Fevereiro passado, a postura do banco regulador
voltaria a estar no centro de um debate sob o lema
“Política Monetária em Moçambique no Contexto de Crise”,
no qual participaram economistas nacionais de renome.
O pretexto para a realização do debate não foi revelado,
mas não será demasiado ousado imaginar, e até afirmar,
que se prende com o mais recente aumento da taxa de juro
de política, a taxa MIMO, em 300 pontos base, de 10,25% para
13,25%. Embora devidamente justificada pelo Banco de
Moçambique, a medida está a gerar protestos do empresariado,
que verá a sua dívida no sector financeiro a aumentar
num cenário de abrandamento da actividade económica
imposto pela pandemia. A maior parte dos economistas
também acredita haver erros na postura do Banco de Moçambique
(BM), mas há quem defenda haver sobriedade
na forma como este escolhe e mexe nos instrumentos de
gestão da política monetária. Comecemos mesmo por aqui.
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
BM pode estar no bom caminho
O economista Fáusio Mussá, especialista na leitura dos indicadores
macroeconómicos e suas tendências, recorre à
experiência das crises anteriores para concordar com o
agravamento das taxas de juro, medida que considera que
pode contribuir para ajustar a inflação. Como?
Lembra que, em 2016, quando o País vivia a crise das dívidas
ocultas, “o BM elevou de imediato as taxas de juro porque
se antecipava um choque da balança de pagamentos
em resposta à redução do apoio externo. Embora a medida
tenha levado à redução do crescimento económico, houve
uma diminuição substancial das importações de modo
que, em 2017, a balança de pagamentos se estabilizou, traduzindo-se
numa relativa estabilidade cambial e da inflação.
Em resultado disso, a taxa MIMO baixou de 21,75% em
2017 para 10,25% em 2020. Ou seja, o Banco Central adoptou
uma política monetária menos restritiva em resposta
a uma situação em que as pressões à economia quase que
se tinham dissipado e era possível viver num ambiente de
inflação mais ou menos previsível”, explicou o economista.
E acrescentou: “acredito que desta vez o BM está a olhar
para algumas dinâmicas próprias da economia moçambicana.
Por exemplo, sempre que há uma depreciação cambial
(como aconteceu nos últimos meses), há um aumento
da inflação, e quando o metical recupera a inflação também
baixa”, argumentou. Ou seja, o BM procura, no fim das
contas, travar a escalada do nível geral de preços limitan-
38
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
POLÍTICA MONETÁRIA
JUROS, A ORIGEM DA CRÍTICA
O primeiro agravamento que o Banco Central efectua na taxa MIMO
acaba por desencadear debates acesos sobre a eficácia da medida
Em %
21,75
15,75
15
14,25
13,25
11,25 10,25
13,25
Abr
2017
Jun
2018
Ago
2018
Dez
2018
Jun
2019
Abr
2020
Jun
2020
Jan
2021
RESERVAS ACUMULADAS. QUE PAPEL?
O aumento das Reservas Internacionais vai deixando dúvidas quanto
aos seus efeitos: afinal, vai travar a inflação ou depreciar o metical?
Em milhões USD
3921
3900
4000
3912
3893
4081
Fev
2020
Mai
2020
Jul
2020
Set
2020
Nov
2020
Jan
2021
BAIXA INFLAÇÃO. QUAL É A ESSÊNCIA?
A inflação média anual segue baixa desde 2020, o que para alguns
economistas não justifica que se tenha agravado a taxa MIMO. Será?
Em %
3,02
2,75
2,98
3,2
3,27
3,52
2,19
Mai
2020
Ago
2020
Set
2020
Out
2020
Nov
2020
Dez
2020
Jan
2021
FONTE Banco de Moçambique e INE
do a quantidade de dinheiro no sistema (política restritiva).
Mussá explicou ainda que, no ano passado, a inflação se
manteve baixa apesar da depreciação cambial, o que se
explica pelo facto de o preço do petróleo se ter mantido baixo
evitando o agravamento do custo dos combustíveis em
Moçambique, além do facto de o Governo ter tomado um
conjunto de medidas para aliviar o aumento do custo de alimentos
e electricidade, levando a que o ano fechasse com
uma inflação anual de 3,5%.
“Em Janeiro deste ano, a inflação subiu para 4,1% e, olhando
para os vários elementos que compõem o Índice de Preços
ao Consumidor, o preço do cabaz dos alimentos aumentou
mais de 9%, o que pode estar a indicar que brevemente
pode registar uma subida acima de um dígito, constituindo
uma preocupação para o Banco Central e eu posso compreender,
por isso, a razão do aumento das taxas de juro”,
reiterou, revelando estar alinhado com os princípios do BM.
O outro lado… o dos erros do BM
Afinal, a postura do regulador é questionável! A maioria
dos economistas faz um levantamento infindável de imprecisões
na sua política. Tal como os empresários, este grupo
de economistas não encontra fundamento válido para
que o BM tenha agravado a taxa MIMO em 300 pontos base,
e acaba por colocar em causa os resultados que se pretendem,
não só em relação à variação das taxas de juro, como
sobre todos os instrumentos que o BM mexe no exercício
das suas competências.
A (in)utilidade da taxa MIMO
O economista Roberto Tibana, pesquisador com larga experiência
em assuntos de política monetária, é das vozes que
criticam o BM. Tibana começa por questionar a utilidade da
taxa MIMO enquanto instrumento com mérito para emitir
sinais à economia. “Tenho dúvidas sobre isso, embora
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
39
MERCADO E FINANÇA
“A acumulação das Reservas Internacionais
pode ser resultado de uma postura mais
cautelosa por parte do BM”, Fáusio Mussá
esteja ainda a fazer um trabalho de casa para verificar este
aspecto”, disse Tibana, para quem há pelo menos um instrumento
que tem sido muito sério no conjunto dos instrumentos
de política monetária, e que alimenta a sua dúvida:
a taxa de Reservas Obrigatórias (RO), actualmente fixada
em cerca de 37%. Segundo o economista, o papel das RO
é o de diminuir a quantidade de dinheiro que os bancos comerciais
podem dar por empréstimo (ou seja, os bancos são
obrigados a reservar 37% dos depósitos diários de clientes
no Banco Central) o que, para Roberto Tibana, “é extremamente
duro para a economia, já que Moçambique é um dos
países que tem a taxa de Reservas Obrigatórias mais altas
em África e no mundo. Dos pouquíssimos países que usam
este instrumento com tanta violência”.
Segundo o economista, mais do que a taxa MIMO, “as RO são
o instrumento de política que tem impacto mais directo na
capacidade de os bancos comerciais oferecerem crédito à
economia porque estes têm de mobilizar grandes volumes
de depósitos a uma certa taxa de juros de depósitos (junto
ao Banco Central). E quanto menos puderem emprestar
o volume de crédito que mobilizam, maior é a taxa de juro
que têm de aplicar para com os seus clientes para compensar
os custos”, observou o economista, sublinhando que
o instrumento que obriga os bancos comerciais a praticarem
certo nível de taxas de juro do mercado é a taxa de
Reservas Obrigatórias e não a taxa MIMO. Tibana suspeita
ser esta contradição que está na origem da lentidão na redução
das taxas de retalho quando o BM reduz a taxa MI-
MO e outros sinais da política monetária.
Regras contraditórias
Tratava-se, na verdade, de um webinar moderado pelo
economista João Mosca, conhecido pela sua postura crítica
sobre como os decisores, sejam quais forem, têm estado
a conduzir os destinos do País. Por um instante, Mosca
não se conformou em apenas passar a palavra e tomou-
-a ele próprio.
Na sua intervenção, o economista revelou haver fortes incongruências
na utilização dos instrumentos da política
monetária. “Por exemplo, ao mesmo tempo que se elevam
as taxas de juro, faz-se depreciar a moeda nacional sabendo-se
que uma parte significativa da inflação é provocada
pelas importações, sobretudo de bens alimentares. Por um
lado, procura-se travar a inflação através do aumento das
taxas de juro e, por outro, faz-se deslizar o câmbio provocando
inflação”, observou.
João Mosca também considera discutível tentar travar a
inflação ao nível em que está actualmente (baixa), numa
economia em recessão. Ou seja, o Banco Central faz exactamente
o contrário do que a teoria económica recomenda,
e que defende que, em situação de recessão, a política monetária
deve ser expansiva, e vice-versa. “Deixar subir a
inflação até ao nível de 8% a 10% em situação de crise não
me parece tão grave, mesmo por se tratar de uma inflação
localizada em alguns sectores da economia sobre os quais
é possível aplicar medidas monetárias que façam reduzir
a inflação quando se restabelecer a estabilidade económica”,
concluiu.
Interpretação distorcida dos fenómenos
Incidindo sobre a relação entre a política monetária e a
dinâmica da exploração da indústria extractiva, a economista
Inocência Mapisse começou por lembrar que, apesar
do desempenho negativo do sector extractivo no ano
passado, verificaram-se alguns eventos positivos, nomeadamente
a retoma das perfurações de pesquisa em
mar pela ENI, após uma paralisação de oito meses – a Decisão
Final de Investimento (DFI) para o projecto da Sasol
em Inhambane avaliado em 760 milhões de dólares.
A economista entende que tais eventos seriam a oportunidade
que o BM deveria aproveitar para cortar a taxa
MIMO, e não para fazer o contrário. Ou seja, poder-se-
40
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
RESERVAS, O OUTRO PONTO DA DISCÓRDIA
No ano passado, o Banco Central foi acumulando Reservas
Internacionais e neste momento estão ao nível de 4 mil
milhões de dólares, um máximo histórico. Enquanto
Fáusio Mussá defende que a acumulação das Reservas
Internacionais pode ser resultado de uma postura mais
cautelosa na gestão da política monetária por parte do BM
(face aos riscos impostos pelo covid-19, a insegurança e
o aumento do preço das commodities), Roberto Tibana
entende que os manuais de política cambial ensinam que
ao acumular reservas internacionais retira-se a quantidade
de moeda estrangeira que se oferece à economia e, por
isso, cria-se uma situação de aumento das taxas de cambio
de moeda nacional. “A política de Reservas Internacionais é,
provavelmente, um dos factores que está a levar a uma mais
acelerada depreciação do metical”, indicou, para depois
questionar: “quais são os parâmetros tomados em conta
para determinar o nível de Reservas Internacionais? Temos,
antes, de ver a capacidade de importação por salvaguardar
com esta política, lembrando que a necessidade de
importações das PME é muito menor do que as dos grandes
projectos”, explicou. Tibana defende que é preciso tentar
perceber se não haverá espaço para aprimorar a gestão das
reservas internacionais.
-ia entender que, por exemplo, com a DFI a economia terá
maior disponibilidade de divisas que podem reduzir a
procura de divisas e, consequentemente, o seu repasse para
a inflação. Mas ocorre o contrário: por exemplo, o Banco
Central refere que uma das razões para o aumento da taxa
MIMO é a contenção da inflação, sem se dar conta que os
eventos do sector extractivo (já citados) podem ajudar a conter
a inflação sem ser necessário aumentar as taxas de juro.
Além disso, avançou a economista, o BM acaba por ser contraditório
quando assume que é preciso trazer instrumentos
para garantir bom ambiente de negócios numa altura
em que ele mesmo decide aumentar as taxas de juro de política
monetária. “Assim, estamos a caminhar para uma situação
em que não se está a proteger o ambiente de negócios,
de um modo geral, e não se está a dotar o sector privado
de capacidade para responder a demanda do sector extractivo”,
criticou Inocência Mapisse.
Nem os resultados geram consenso!
Também interveio Roque Magaia, economista da Confederação
das Associações Económicas (CTA), a defender que eso
Banco Central tem tomado medidas imprevisíveis, mesmo
sendo gestor de instrumentos que sinalizam o mercado,
acabando por agredir os agentes económicos. Por exemplo,
no caso da taxa MIMO, os sinais emitidos pelas perspectivas
de uma inflação baixa e estável não faziam antever
um agravamento na dimensão de 300 pontos base.
Em resposta, Fáusio Mussá, reiterando haver mérito do BM,
informou que a decisão do Banco de Moçambique já começou
a produzir pelo menos um efeito do ponto de vista cambial:
na última quinzena de Fevereiro, o Standard Bank recebeu
várias chamadas de investidores externos que, ao
se aperceberem que as taxas de juro da dívida moçambicana
se tornaram atractivas, fizeram aplicações nesta dívida.
E a entrada de divisas na compra da dívida melhorou
a liquidez levando à apreciação da moeda.
Mas Tibana rebateu: “As políticas do Banco Central acomodam
a indisciplina fiscal, pelo elevado grau de desconexão
com as do Ministério das Finanças”.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
41
OPINIÃO
Depois do aumento das taxa de juro,
o metical começa a dar sinais de retoma
Líria Nhavotso • Directora da Tesouraria e Mercado de Capitais do Banco BIG
no final do passado mês de janeiro, o Banco de
Moçambique (BdM) surpreendeu o mercado
com a decisão de subida das principais taxas de
referência em 300 pontos base (pb), alterando
a estratégia de política monetária que vinha
a ser implementada desde meados de 2017.
Recuando uns anos, desde finais de 2016, o BdM tem vindo a
implementar um conjunto de alterações e reformas, com o
intuito de modernizar os instrumentos de política monetária
utilizados para atingir os seus objectivos primários, de preservação
do valor da moeda nacional e o controlo da inflação.
No quadro destas reformas, foi adoptada, em Abril de 2017,
uma taxa de juro de política monetária (MIMO), que serve
de referência para os empréstimos no mercado interbancário.
A introdução da MIMO, para além de sinalizar ao mercado,
de forma clara, a política monetária do Banco Central,
promove também uma maior transparência no processo de
fixação das taxas de juros de mercado. A MIMO “nasceu” a
21,75% e desde então, com a estabilização do câmbio, o BdM
foi reduzindo esta taxa de forma progressiva e controlada,
acompanhando a queda da inflação, e contribuindo assim
para os esforços de retoma do crescimento económico do País.
Esta tendência de descida da MIMO atingiu o seu nível mais
baixo em Junho de 2020, na sequência das medidas tomadas
para combater os efeitos da pandemia, com o CPMO a reduzir
esta taxa em 150 pb em Abril e 100 pb em Junho, passando de
12,75% para 10,25%.
O ano de 2020 ficará certamente na memória de todos. Nesta
altura, há sensivelmente dois anos, Moçambique era atingido
por um dos maiores desastres naturais ocorridos recentemente
em África, e, numa altura em que o País se preparava
para uma retoma económica, começavam a conhecer-se
as consequências reais de uma pandemia que rapidamente
se alastrou por todo o Mundo. O abrandamento severo e generalizado
da actividade económica, como consequência das
medidas de contenção para mitigar a propagação da pandemia
da Covid-19, motivou a adopção de políticas monetárias
expansionistas por praticamente todos os bancos centrais a
nível global, quer através de cortes nas suas taxas directoras
quer através de intervenções directas no mercado de capitais.
Estas medidas foram acompanhadas por pacotes de estímulos
e alívios fiscais por parte dos Governos, com o objectivo
de assegurar a sobrevivência das empresas e dos empregos,
e estimular economias que começavam a entrar em recessões
profundas. Moçambique não foi excepção e o Banco de
Moçambique optou por cortar as suas taxas de juro de referência,
criando um estímulo monetário e tentando evitar a
deterioração das condições do sistema financeiro...
Contudo, estas medidas tiveram alguns impactos colaterais,
sendo de destacar a evolução do Metical, que encerrou 2020
com fortes desvalorizações contra as principais moedas internacionais.
Com efeito, este movimento foi semelhante ao
de outras economias emergentes, motivado pela descida da
procura e do preço das commodities, e o efeito adicional em
Moçambique de redução da entrada de divisas resultante de
um menor fluxo de investimento estrangeiro.
Esta desvalorização significativa da moeda nacional, com
principal incidência na segunda metade do ano passado, rapidamente
se reflectiu numa tendência de subida dos preços,
principalmente nos bens importados. Segundo o INE, a inflação
homóloga, em Fevereiro, já atingiu os 5,1%, com os preços
dos alimentos e bebidas não alcoólicas a observarem uma variação
homóloga de 11,5%. Com esta sequência de eventos, e
procurando mitigar os efeitos nefastos da desvalorização nos
preços, bem como acautelar os riscos e incertezas associados
com a propagação da pandemia, dos desastres naturais e a
instabilidade militar no norte do País, o Banco de Moçambique
tomou uma decisão arrojada de subida das taxas de juro.
Com esta decisão, o Banco de Moçambique tornou-se o primeiro
Banco Central, a nível mundial, a aumentar as taxas de juro
desde a eclosão da pandemia. Esta medida, em conjunto com
uma gestão flexível das reservas internacionais, teve um impacto
quase imediato no Metical, que começa a mostrar sinais
de recuperação face às principais moedas internacionais. É
expectável que o Banco Central mantenha uma postura restritiva,
com a manutenção das taxas aos níveis actuais, podendo
ainda decidir novos aumentos, caso necessário, de modo a
controlar e alcançar os objectivos de inflação.
Para mitigar os efeitos nefastos da desvalorização nos preços, acautelar os riscos associados
com a pandemia, etc., o Banco Central tomou a decisão arrojada de subida das taxas de juro
42
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17
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EspecialInovação
46 CLIMA
África é dos pontos do mundo
mais expostos aos efeitos das
mudanças climáticas, que
se sobrepõem ao deficiente
saneamento do meio. Conheça
interessantes iniciativas
inovadoras em curso para
tentar resolver a situação.
51 53
PERTENCE
A iniciativa que indica onde
buscar finanças para investir
52 OPINIÃO
Um olhar sobre a importância
do design nos negócios
PANORAMA
As notícias da inovação em
Moçambique, África e no Mundo
HEALTH-TECHS
46
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Os desafios das Megacidades
de África
Face às Mudanças
Climáticas
Com sérios problemas de saneamento do meio, as cidades africanas têm se
debatido com enormes dificuldades de os solucionar. Afinal, quando foram
projectadas não se equacionavam eventos que hoje experimentam, desde a
pressão populacional até às mudaças climáticas
TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA D.R.
Com os seus 24 milhões de habitantes,
Lagos, na Nigéria, é
uma das grandes mega-cidades
de África. E as projecções
mais recentes indicam que essa
população irá continuar a crescer até
ao final deste século. Se a gestão urbana já
hoje é considerada caótica e disfuncional
ao extremo, os especialistas temem que a
contínua pressão demográfica que se perspectiva
venha a tornar a cidade ingovernável.
A não ser que medidas radicais venham
a ser implementadas.
Durante a epóca das chuvas, a cidade fica
praticamente intransitável. Isso deve-
-se, em grande parte, à incapacidade para
lidar, de forma eficiente, com as 10 mil
toneladas de lixo produzidas todos os dias
Um exemplo do tipo de projectos que estão a ser
avaliados... designa-se “arquitectura flutuante”
e que acabam por impedir o escoamento
das águas inundando vastas zonas de Lagos.
Este problema crónico pode vir a agravar-se
substancialmente com o processo
da mudança climática em curso. Embora
os estudos indiquem que as chuvas tenderão
a ser menos frequentes nas próximas
décadas, a sua intensidade, porém, será
muito mais elevada e violenta. Para complicar
ainda mais a situação, os mesmos
estudos sublinham que, se o aquecimento
global for além dos dois graus centígrados,
a subida das águas costeiras ultrapassará,
em 2100, os 90 centímetros inundando
partes da cidade de forma definitiva
(uma situação que ameaça igualmente,
entre outras, cidades como Accra, no Gana,
Durban, na África do Sul, Luanda, em
Angola, e Maputo, em Moçambique).
Antecipando a possibilidade de um cenário
deste tipo se materializar, as autoridades
têm vindo a considerar vários tipos
de soluções cujo foco se centra sobretudo
em encontrar formas de mitigar o impacto
das mudanças climáticas e adaptar
o território à nova realidade em perspectiva.
Um exemplo do tipo de projectos
que estão a ser avaliados enquadra-
-se no que se pode designar de “arquitectura
flutuante”e tem tomado, como ponto
de partida, o bairro de Makoko. Conhecido
como a “Veneza de África”, o Makoko
é uma gigantesca e labiríntica favela flutuante
cujas habitações assentam em palafitas,
sendo que a circulação se faz usando
canoas. Foi no Makoko que, há alguns
anos, o arquitecto Kunlé Adeyemi concebeu
o protótipo de uma “escola flutuante”
(The Makoko Floating School) cujo design,
original e inovador, se tornou rapidamente
num modelo de referência enquanto solução
para outras cidades costeiras. Réplicas
foram testadas inclusive em cidades europeias
como Veneza (Itália) e Brugges (Bélgica).
E, mais recentemente, em Cabo Verde,
no Mindelo, Kunlé Adeyemi concebeu,
no âmbito da iniciativa African Water Cities
Project, desenvolvida pelo seu atelier
de arquitectura, uma estrutura flutuante
semelhante à projectada no Makoko. Apesar
de a “escola flutuante” do Makoko ter
sido afectada gravemente pelos temporais
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AGRITECHS
de 2016, obrigando a uma revisão do modelo,
o conceito está a servir de base para
imaginar outras aplicações similares. E
levou a que, na sua esteira, as autoridades
tenham dado prioridade à dinamização de
projectos de circulação fluvial enquanto
alternativa à rodoviária. Nos últimos anos
foram criadas 42 “linhas urbanas” de embarcações
ligando várias zonas da cidade.
Mas, para além desta iniciativa municipal,
as autoridades incentivaram também
os privados a intervir. Assim, por exemplo,
em 2019, a Uber arrancou com um serviço,
o Uber Boats, constituído por embarcações
velozes, que permitem um acesso rápido
a vários pontos de Lagos.
Outras iniciativas – desde o combate à erosão
e a construção de protecções costeiras
ao desenvolvimento de apps, como a
Flood Mobile App, que dá informação em
tempo real sobre a iminência de possíveis
inundações – fazem parte de um conjunto
alargado de projectos que procuram não
apenas evitar que Lagos se “afunde”, mas
que sejam capazes de dotar a cidade de estratégias
de resiliência face à mudança climática
e abram caminho a modelos de desenvolvimento
sustentável.
A maior transformação do
século XXI
O caso de Lagos ilustra bem os grandes
desafios que se colocam ao continente
africano. De acordo com o Banco Mundial,
a urbanização será “a transformação
mais importante que o continente africano
passará neste século”, estimando que,
até 2040, mais de metade da população viverá
em cidades. Uma das consequências
desta evolução é que mais nove mega-cidades
irão surgir (cada uma com mais de
dez milhões de habitantes). Por seu turno,
as maiores cidades continuarão a crescer
prevendo-se que as três maiores serão
Kinshasa, com 35 milhões de habitantes,
Lagos, com 32 milhões e o Cairo com
24 milhões.
Esta realidade coloca desafios de uma escala
sem precedentes e obrigará todos os
actores envolvidos (governos, investidores,
planeadores urbanos, designers, arquitectos,
etc.) a encontrar não só respostas
aos problemas já existentes como a encontrar
soluções inovadoras que levem em
conta as mudanças climáticas. De acordo
com o Fórum Económico Mundial, África
precisará de investir, até 2050, entre 130
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a 170 biliões de dólares anualmente para
resolver as suas necessidades básicas em
termos de infra-estruturas. Só assim será
possível garantir aos 1,3 biliões de cidadãos,
que viverão em zonas urbanas, condições
mínimas de dignidade (recorde-se
que, de acordo com dados recentes, 60%
da população urbana no continente vive
ainda em favelas sem condições mínimas
de salubridade e acesso a água potável).
Mas a intervenção ao nível das infra-estruturas
não dispensa, desde já, uma ponderação
sobre o efeito das mudanças climáticas
de modo a que esta intervenção esteja
em linha com as necessidades de resiliência
e sustentabilidade indispensáveis.
Nesta perspectiva, as múltiplas iniciativas
actualmente em curso podem ser divididas,
genericamente, entre aquelas que estão
apostadas em intervir no contexto das
mega-cidades existentes e as que procuram
desenvolver, de raiz, novos espaços
urbanos. No que toca a este último tipo
de opção, um dos casos mais referidos é o
da “eco-cidade” de Zenata, em Marrocos,
que deverá estar operacional em 2023. No
mesmo sentido, o projecto Future Cities
Africa - criado no âmbito do programa Cities
Alliance que junta, entre outras entidades,
a agência das Nações Unidas, UNOPS,
a multinacional Arup, especializada em
consultoria urbana estratégica, e o Departamento
para o Desenvolvimento Internacional,
do Reino Unido – tem estado a estudar
o desenvolvimento de “cidades secundárias
estratégicas e regionais” em vários
países africanos (Gana, Etiópia, Uganda,
etc.) que funcionem como modelos de
zonas urbanas resilientes e sustentáveis.
Em contraste com intervenções deste tipo,
o Instituto de Arquitectura Experimental
da Bauhaus Universitat Weimer tem vindo
a trabalhar com o Instituto Etíope de Construção
de Edifícios e Desenvolvimento de
Cidades sobre o problema da hiperurbanização
da capital etíope e procurado um
outro ângulo de abordagem.
O programa em desenvolvimento passa,
para já, pela construção de três protótipos
residenciais em Addis Ababa. Em vez
de seguir os modelos dominantes na Europa
e no Norte Global, estes protótipos procuram
tirar proveito dos métodos de construção
indígenas, de tecnologias de construção
e uso de materiais tradicionais para
criar estruturas espaciais social e ambien-
retêm o calor, elevam a temperatura nas cidades
e reduzem o lençol freático. O tratamento
dos resíduos urbanos é outro dos
grandes problemas. A falta de gestão eficaz
dos resíduos, na maioria das cidades,
ajuda a gerar emissões de gases de efeito
estufa nos aterros existentes. Com a crescente
urbanização, o volume de lixo aumentará
e as emissões de gases de efeito
de estufa também. Apesar deste quadro, e
independemente da urgência na adopção
de soluções estruturantes, um relatório
da FAO sublinhava, recentemente, a necessidade,
por exemplo, de apoiar a horticultura
urbana e periurbana como forma
de contribuír para “criar cidades mais
verdes na África”.
Para além de sublinhar a importância desta
tradição “local” no que toca à “segurança
alimentar” das populações (sobretudo
tendo em atenção as futuras “pandemias
climáticas” que se perspectivam), “a horticultura
cria cinturões verdes, que protegem
áreas frágeis, contêm a expansão urbana
e aumentam a resiliência à mudança
climática”. E refere também que “ao reduzir
a necessidade de transportar produtos das
áreas rurais, gera poupança de combustível
e menos poluição do ar”.
O relatório da FAO faz um levantamento
exaustivo da situação no continente mostrando
como a “agricultura urbana”, que
tem uma expressão significativa em todos
os países do continente, pode constituír
uma “base” relevante para fazer mitigar
muitos problemas ambientais. Esta abordagem
está, de algum modo, em linha com os
A falta de gestão eficaz dos resíduos ajuda a gerar
emissões de gases de efeito estufa
talmente robustas, abertas e flexíveis. Embora
projectado para Addis Abeba, onde
80% da população urbana vive em favelas,
o exercício arquitectónico tem um desígnio
mais amplo: o de dar corpo a uma tipologia
de construção que sirva de referência
para todo o continente e tenha como linha
mestra a recuperação de um saber-fazer
e de um tipo de materiais, que podem
vir a demonstrar ser mais apropriados às
necessidades do continente.
Cidades Inteligentes e Cidades
Ecológicas
Um grande números de cidades africanas
tem configurações “ecologicamente incorrectas”
que comprometem a sua resiliência
à mudança do clima. A falta de vegetação
e o uso de materiais de construção que
que defendem, em alternativa às “cidades
inteligentes” (smart cities), modelos de “cidades
ecológicas” que se inspiram no modo
de funcionamento da natureza e apostam
na utilização da vegetação como elemento
principal (fachadas verdes, jardins de chuvas,
hortas urbanas, etc.). Os benefícios são
claros: regulação hídrica e drenagem urbana,
melhoria do conforto térmico e do microclima
urbano, aumento da biodiversidade,
sequestro de CO2 e outros poluentes,
etc. Mas, como notam vários especialistas,
os dois tipos de abordagens (cidades inteligentes/cidades
ecológicas) não são concorrentes,
mas sim complementares. Face
ao desafio monumental que as mudanças
climáticas implicam haverá, acima de tudo,
de fazer as melhores escolhas perante cada
contexto específico.
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anking
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pertence
Fazer Negócio
Facilitando Finanças
a Outros Negócios
A Pertence é uma solução digital que pretende divulgar e agregar várias
iniciativas tecnológicas ao mercado para despertar o interesse dos
investidores em apostar nelas
TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva
Há pouco tempo, Moçambique
era um país onde falar
de fintech ou start-up
não era tão comum quanto
acontece actualmente, visto
que o sucesso das iniciativas de investimentos
não dependia, essencialmente, de
meios tecnológicos. Hoje, a inovação tecnológica
e o empreendedorismo fazem o
par perfeito que cria condições para uma
resposta efectiva à necessidade de conferir
eficiência aos processos produtivos. Trata-
-se de uma tendência que veio a ser acelerada
pela pandemia do covid-19, que ocasionou
um aumento sem precedentes da
procura por serviços financeiros online.
A oportunidade de negócio neste campo,
também cresceu e conta com um número
cada vez maior de operadores. Mas, nesta
edição, vamos falar da Pertence, uma empresa
moçambicana provedora de soluções
digitais e que pretende impulsionar o
mercado das fintech.
Com apenas um ano no mercado, o projecto
veio dar resposta a uma forma alternativa
de financiamento às outras soluções
tecnológicas que estejam em fase
inicial. “A Pertence é uma plataforma online
e digital de financiamento colectivo,
um financiamento em que qualquer pessoa
ou empresa pode comparticipar financeiramente
para apoiar o seu projecto. Como?
De várias maneiras, mas a principal
é a participação no capital da empresa ou
do projecto em causa através de empréstimos
de várias pessoas”, explicaram os co-
-fundadores da Pertence, Yara Melo e Ian
Zaqueu. “Queremos impulsionar as várias
formas de apoio às start-ups de modo a
permitir a diversificação do financiamento
para além das formas tradicionais”, argumentaram.
Como solução digital, os gestores contam
que o aspecto inovador deste projecto está
no uso da internet e de uma plataforma
para que várias empresas ou iniciativas estejam
expostas aos potenciais investidores.
Por exemplo, “através de uma aplicação
no telefone podemos expor os nossos
projectos e encontrar investidores. Queremos,
essencialmente, explorar muito mais
esta área digital no País”.
Mas porquê o nome “Pertence”? É por
transmitir um sentimento de inclusão e
de pertença. “Queremos que todos se sintam
parte deste processo de transformação
económica do País, e que todos possam,
quer por via de projectos ou de investimentos,
pertencer a esta nova era”, explicaram
os gestores.
A avaliar pela sua forma de actuação, a
plataforma Pertence pode confundir-se
um pouco com uma bolsa de valores. Porém,
os seus co-fundadores asseguram ser
longe disso, embora reconheçam algumas
similaridades. Estando ainda em fase de
amadurecimento, o projecto conta com o
apoio do Banco de Moçambique através
de uma iniciativa que esta instituição presta
às fintech no seu Sandbox. Ainda assim,
as aspirações para esta start-up são grandes,
e uma delas passa por torná-la num
negócio rentável dentro de quatro anos.
“A Pertence é uma fintech e start-up que
funciona na base do volume de transacções,
então quanto maior for o volume
de transacção, maior será a nossa comissão.
Estamos agora numa fase embrionária,
mas dentro de três a quatro anos prevemos
ganhar algum lucro”, reiteram.
A iniciativa já conta com três projectos,
sendo um da área do comércio, outro
da agricultura e o último voltado para
a área social.
BEMPRESA
Pertence
FUNDADORES
Yara Melo e Ian Zaqueu
ANO DE FUNDAÇÃO
2020
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panorama
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Infra-estruturas
Manica testa tecnologia japonesa na reparação
de estradas
O Centro de Formação Profissional de Estradas
de Chimoio (CFE), na província de
Manica, está a melhorar algumas vias de
acesso de terra batida por meio de uma
tecnologia japonesa denominada Do-
-Nou, no distrito de Vandúzi. As vias em
melhoramento ficaram esburacadas e
com grandes fendas em consequência das
chuvas intensas que têm estado a cair desde
finais do ano passado. Segundo David
Charles, chefe do Departamento Pedagógico
do CFE e engenheiro responsável pelo
programa, o trabalho prático de manutenção
das referidas estradas seguiu-se a
uma formação envolvendo 50 jovens do
distrito de Vandúzi durante duas semanas.
No entanto, David Charles disse que a tecnologia
Do-Nou, após a sua aprovação,
poderá ser usada pela primeira vez no País
e por meio do seu impacto o Governo poderá
definir outras vias intransitáveis a serem
intervencionadas.
Saúde
Gana usa drones para entregar vacinas para Covid-19
“Mesh” é o nome da plataforma apresentada
pela multinacional de tecnologia
norte-americana e vai proporcionar o
primeiro ‘mergulho’ na “realidade mista”,
ou seja, uma tecnologia entre a realidade
aumentada e a virtual.
A realidade aumentada pressupõe elementos
físicos como, por exemplo, a reprodução
digital de uma pessoa, enquanto
a virtual supõe a criação de um
ambiente totalmente artificial.
A Zipline, uma startup com sede em São
Francisco (EUA), encontrou uma solução
para facilitar a distribuição de vacinas
contra o covid-19 nos países menos
desenvolvidos e em zonas mais remotas.
O objectivo da parceria entre o Governo
do Gana e a Zipline, anunciada no dia
26 de Fevereiro – dois dias após a chegada
das vacinas a Accra (capital do Gana),
é melhorar a agilidade e o acesso das vacinas
por meio da entrega sob demanda,
mesmo nas mais difíceis áreas de alcance
naquele país.
Até ao momento, a Zipline Gana distribuiu
mais de um milhão de doses de vacinas,
muitas em partes do país que são
difíceis de alcançar por terra. Ao fornecer
entrega por meio de drones, o Governo
não só é capaz de alcançar mais pessoas,
como também de o fazer com eficiência.
Computação
Microsoft apresenta primeira versão de reuniões com
hologramas
Deste modo, a empresa fundada por Bill
Gates disse que vai ser possível uma pessoa
participar numa reunião virtual e
conseguir ver os participantes como se
estivessem lado a lado, ainda que estejam
em diferentes regiões do planeta.
A plataforma vai estar disponível nos dispositivos
de realidade aumentada da Microsoft
e também em computadores, tablets,
smartphones e óculos de realidade
virtual, entre outros.
Ambiente
Niassa quer produzir
plástico biodegradável
hologramas
Estão a ser testadas diferentes variedades
de semente de rícino na localidade
de Titimane, distrito de Cuamba,
no Niassa, para apurar o nível de adaptabilidade
dos solos e clima desta região
para a produção de um novo tipo
de plástico biodegradável, um produto
considerado ambientalmente saudável
feito a partir do óleo extraído da
semente de rícino.
Judite Massengele, governadora do
Niassa, visitou recentemente aquela
região do distrito de Cuamba e, na
ocasião, disse que, caso os ensaios das
diferentes variedades de rícino produzam
resultados positivos, a província
avançará para uma produção em regime
comercial. Niassa tem, de resto,
uma longa tradição de produção desta
planta, mas o seu uso tem-se resumido
a fins cosméticos, algo que poderá
mudar se os resultados dos ensaios
concluírem a sua efectividade em regiões
com temperaturas elevadas.
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LÁ FORA
COVID DESEMPREGA 13
MILHÕES DE MULHERES
NA AMÉRICA LATINA
O dia internacional da mulher, assinalado a 8 de Março, foi um bom pretexto
para que instituições multilaterais como a OIT e a ONU divulgassem dados
sobre os quais vale a pena reflectir para empreender mudanças efectivas
a
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
crise
económica que
decorre da pandemia
do covid-19 agravou as
disparidades de género
na força de trabalho e
gerou um retrocesso de
pelo menos uma década na América
Latina e no Caribe, onde 13 milhões
de mulheres perderam os seus empregos,
de acordo com o último Panorama
Laboral da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), divulgado
recentemente. A taxa de participação
da mão-de-obra feminina em 2020 sofreu
uma queda histórica de 5,4 pontos
percentuais, para 46,4%, o que significa
que 12 milhões de mulheres deixaram
a força de trabalho na América
Latina e no Caribe devido à perda
dos seus empregos. De acordo com os
dados da OIT, uma taxa tão baixa de
participação feminina no mercado de
trabalho não é registada há mais de
15 anos. Além disso, a taxa de desemprego
regional das mulheres subiu de
10,3% para 12,1%, acima da taxa de desemprego
global, que aumentou para
10,6%, o que significa que aproximadamente
1,1 milhão de mulheres ficaram
desempregadas (totalizando 13,1
milhões). O declínio na taxa de participação
da força de trabalho feminina
reflecte a percentagem de mulheres
que ficaram sem emprego por causa
da pandemia, mas não está à procura
de novo trabalho por não haver em-
pregos ou porque tiveram de atender
a outras responsabilidades familiares.
Já o aumento da taxa de desemprego
representa a percentagem de mulheres
que estão à procura de trabalho,
mas não conseguem encontrá-lo. Estes
13,1 milhões de mulheres que perderam
emprego somam-se a cerca de
12 milhões que já eram afectadas pelo
desemprego antes da pandemia.
Desemprego chega a 25 milhões
Cerca de 25 milhões de mulheres estão
desempregadas ou fora da força de
trabalho neste momento, diz o relatório
da OIT. “Esta crise sem precedentes
agravou as disparidades de género nos
mercados de trabalho da região, empurrando
milhões de mulheres para
fora da força de trabalho e revertendo
ganhos anteriores”, disse o director da
OIT para a América Latina e o Caribe,
Vinícius Pinheiro. “Retrocedemos mais
de uma década num ano, e agora precisamos
de recuperar esses empregos
e pisar no acelerador da igualdade de
género”, acrescentou. Pinheiro salientou
que “neste Dia Internacional da Mulher
(8 de março), é crucial reafirmar o
compromisso de recuperar o terreno
perdido durante o desastre económico
e social nos nossos países”.
Trabalhos em serviço e comércio
O grave impacto da pandemia no trabalho
feminino deve-se ao facto de as
“Retrocedemos mais de uma década num ano, e agora
precisamos de recuperar esses empregos e acelerador a
igualdade de género... é crucial refirmarmos compromissos”
mulheres estarem empregadas principalmente
nos sectores económicos
mais afectados pelas restrições estabelecidas
para evitar a propagação
da pandemia. De acordo com o Panorama
Laboral do Trabalho da OIT para
a América Latina e o Caribe, a retracção
no universo de empregos em 2020
foi particularmente significativa nos
sectores de serviços como a hotelaria
(-17,6%) e comércio (-12%).
Outro factor que tem afectado e pode
condicionar as perspectivas de recuperação
de empregos das mulheres é
a dificuldade de conciliar o trabalho
remunerado com as obrigações em
casa. “A tudo isso deve ser acrescentado
o aumento do teletrabalho e do
trabalho em casa num contexto de encerramento
ou suspensão dos espaços
de cuidados associados às medidas de
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AMERICA LATINA
confinamento e distanciamento social”,
disse a especialista regional de emprego
da OIT, Roxana Maurizio.
A organização propôs políticas sociolaborais
relevantes para evitar que
a crise regional se torne permanente
e para evitar a retirada da força de
trabalho feminina da região. “É necessário
apoiar, ainda mais fortemente,
um processo que garanta às mulheres
maiores oportunidades de emprego
de qualidade, treinamento e acesso a
novas tecnologias, redução de lacunas
e pleno cumprimento dos direitos trabalhistas”,
disse Maurizio.
ONU não ficou indiferente
Ciente do papel das empresas para
o crescimento das economias e para
o desenvolvimento humano, a ONU
Mulheres e o Pacto Global criaram os
Princípios de Empoderamento das Mulheres.
Os Princípios são um conjunto
de considerações que ajudam a comunidade
empresarial a incorporar, nos
seus negócios, valores e práticas que
visem a equidade de género e equiparação
salarial, nomeadamente no estabelecimento
de liderança corporativa
sensível à igualdade do género, no
mais alto nível; tratar todas as mulheres
e homens de forma justa no trabalho,
respeitando e apoiando os direitos
humanos e a não-discriminação;
garantir a saúde, segurança e bem-
-estar de todas as mulheres e homens
que trabalham na empresa; promover
a educação, capacitação e desenvolvimento
profissional para as mulheres;
apoiar o empreendedorismo
feminino e promover políticas de empoderamento
das mulheres através
das cadeias de suprimentos e marketing;
promover a igualdade de género
através de iniciativas voltadas para
a comunidade e ao activismo social e;
medir, documentar e publicar os progressos
da empresa na promoção da
igualdade de género.
“Queremos construir um mundo de
trabalho distinto para as mulheres”,
concluiu Phumzile Mlambo-Ngcuka,
subsecretária geral das Nações Unidas
e diretora executiva da ONU
Mulheres.
No mundo, de acordo com a ONU, é necessária
uma mudança significativa
na educação de meninas. Estima ainda
que se a igualdade de género avançasse
seria capaz de impulsionar progressos
assinaláveis, adicionando 12
mil milhões de dólares no PIB mundial
de agora até 2025”.
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55
ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
58
Nesta edição
vamos
conhecer as
várias faces da
cidade capital,
Maputo
e
g
Como a
60
pandemia
poderá inspirar
mudanças na
indústria de
restauração
61
As variedades
dos vinhos
sem álcool,
que ganham
cada vez mais
adeptos pelo
mundo
O encontro com a diversidade
CIDADE
DAS
ACÁCIAS
e
MAPUTO, A CIDADE
os meus lugares de maputo
não são os novos malls à beira-mar
nem os centros co-
DA SERENDIPIDADE
merciais com luzes violetas.
Ainda gosto de ir à Baixa da
cidade, ao Mercado Central
na Avenida 25 de Setembro.
As cores são vibrantes e a
atmosfera é sempre alegre.
Legumes, frutas, peixe, carne,
quinquilharia e mechas
para cabelo e uma enorme
secção de artesanato. Dou
sempre um salto à Casa Elefante,
mesmo em frente ao
bazar, para apreciar as últimas
capulanas.
Também gosto de ir ao
mercado Janete, ao fundo
da Avenida Mao Tse Tung,
porque oferece uma enorme
variedade de produtos
frescos e uma grande secção
de vestuário e calçado
em segunda mão. Dali vou
à FEIMA, o espaço dedicado
ao artesanato no Parque
que, tal como o país, resulta
de múltiplos relacionamentos
culturais. Malangatana,
Chissano, Bertina Lopes, Shikani,
e tantos outros, continuam
símbolos imortais e
fontes de inspiração.
Actualmente, a arte em
Moçambique vive um momento
de transição com artistas
a explorarem outras
expressões e direcções na
arte contemporânea: diversidade
e complexidade dos
estilos e sons presentes, resultantes
da mistura de influências
tanto tradicionais
como globais, enquanto o
sentido de colaboração que
parece estar em constante
crescimento, finalmente,
está a ajudar a mostrar os
meandros da cena fora da
cidade. Mostrar-vos-ia toda
co em Maputo, em 1989, na
antiga Câmara Municipal,
por iniciativa de Malangatana.
No espaço atrás do museu,
encontramos os escultores
Makonde que fazem algumas
das máscaras mais
invulgares e apelativas de
África: toda a cabeça é esculpida
e não apenas o rosto.
E enquanto a maioria das
máscaras africanas são abstractas,
o requinte da talha
Makonde permite-lhes uma
qualidade quase realista.
Daríamos um salto ao Núcleo
de Arte, que mantém
o espírito de oficina de arte
e de espaço expositivo. Foi
aqui que começou Gonçalo
Mabunda, o escultor mundialmente
conhecido com as
suas cadeiras e crucifixos
feitos de armas. As suas esculturas
dos Continuadores, onde a beleza dos murais de Naguib
há muito deixaram
posso comer a rica e variada
comida moçambicana –
que não é feita apenas de
camarão grelhado! Se eu
fosse vosso guia, falar-vos-
-ia da arte de Moçambique
e outros artistas em
vários pontos da cidade e
iríamos juntos visitar as exposições
de arte. Em primeiro
lugar, o Museu Nacional
de Arte, que abriu ao públide
integrar apenas as armas.
Mas não resiste a uma
AK47! Abriu as portas da
sua residência e, juntamente
com o fotógrafo Mauro
Pinto, criou o projecto “Karl
58
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Marx 1834”, para mostrar
as mais diversificadas manifestações
artísticas da
cidade de Maputo. Depois
iríamos até à Universidade
Eduardo Mondlane para
visitar a sua colecção de
arte nacional. Passaríamos
pela Mediateca do BCI e
depois iríamos até à Kulungwana
- Associação para o
Desenvolvimento Cultural
que, entre outras actividades,
possui um espaço-
-galeria com um programa
regular de exposições.
Certamente há algo na Fundação
Fernando Leite Couto
que, semanalmente, além
dos encontros com jovens
escritores, organiza exposições
de todas as expressões
artísticas, pintura, escultura,
fotografia, traçando a
agenda cultural da capital
moçambicana.
Depois seria a volta à 16Neto,
um espaço único de trabalho
conjunto, criativo e cultural.
No dia seguinte, convidar-
-vos-ia para uma caminhada
matinal no “calçadão” da
Marginal porque, ainda que
Maputo seja uma cidade que
oferece um vasto leque de
actividades, instalações e
espaços para praticar diversas
disciplinas, eu gosto
do “calçadão” até ao novo
Mercado do Peixe e de ver
a ilha da Xefina ao fundo. Faríamos
o roteiro de três horas
a pé no bairro histórico
da Mafalala, onde moraram
grandes personalidades da
História do País: Samora Machel,
Noémia de Sousa, José
Craveirinha, Eusébio… e comeríamos
pão com badjias.
Desafiava-vos ainda a comer
deliciosos gulabos na
loja do Templo Hindú, da
Avenida Guerra Popular, e
depois convidar-vos-ia para
tomar um copo no Dhow ou
no Hotel Cardoso para apreciar
o pôr-de-sol de Maputo
que, apesar de todas as tentativas,
é sempre mais “alto”
do que os novos edifícios que
querem chegar até ao céu.
TEXTO CRISTIANA PEREIRA
FOTOGRAFIA D.R.
GOSTO DE IR À BAIXA DA CIDADE DE MAPUTO, AO MERCADO
CENTRAL, NA AVENIDA 25 DE SETEMBRO. AS CORES SÃO MAIS
VIBRANTES E A ATMOSFERA É SEMPRE MUITO ALEGRE
ROTEIRO
COMO IR
Através da Linhas Aéreas de
Moçambique (LAM) que voa
para Maputo a partir de Lisboa,
Dar-es-Salaam, Nairobi e
Joanesburgo.
ONDE COMER
A Figtree Guesthouse, no
coração da Sommerschield,
é um bed&breakfast elegante
e acolhedor. O Polana Serena
Hotel, na Avenida Julius Nyerere
1380, é o hotel mais antigo da
capital moçambicana.
ONDE COMER
O Campo di Mare, na Marginal,
tem uma maravilhosa varanda
que se debruça sobre a baía
e serve massas frescas feitas
à mão, salada de caranguejo,
carpaccio de polvo, etc. O
Zambi, na Avenida 10 de
Novembro, é considerado um
dos melhores restaurantes de
Maputo. Com grande história e
tradição, serve atum e mariscos
e uma picanha superlativa,
entre outros pratos da rica
ementa. O Lugar e Meio, na
Avenida Francisco Orlando
Magumbwe, serve falafel, o
atum braseado, etc.
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59
DIVERSOS
RESTAURANTES
NO MUNDO ESTÃO
AGORA A REUNIR-SE
COM UM ESPÍRITO
DE LUTA CONTRA
O COVID-19
RESTAURANTES
g
com a crise instaurada pelo
coronavírus, todos os tipos
de restaurantes tiveram
de fechar abruptamente as
suas salas de jantar e abrir
rapidamente novas formas
de fazer negócios para sobreviver,
proteger os seus
empregados e servir as rápidas
mudanças de necessidades
dos seus clientes.
Ver a indústria da restauração
a cair em tempos de
pandemia é difícil de controlar,
considerando que, antes
desta realidade, a indústria
de 899 mil milhões de dólares
em receitas contribuiu
com 4% para o PIB dos Estados
Unidos. Os consumidores
gastavam normalmente
perto de 50% do seu orçamento
alimentar mensal
em restaurantes até que o
covid-19 os forçou a quebrar
o hábito.
A empresa norte-americana
de recolocação, designada
por Challenger, Gray &
Christmas (voltada para a
reintegração de profissionais
que, por alguma razão,
NA RESTAURAÇÃO,
saem do mercado de trabalho),
relatou que mais de 600 O NOVO NORMAL CHEGARÁ MAIS RÁPIDO!
postos de trabalho na indústria
alimentar foram cortados
ser atempado e reactivo
dar prioridade à saúde
devido à pandemia, e Sempre que alterar os Estabeleça medidas de se-
outros 7,4 milhões poderão seus serviços de restauração,
gurança e mencione-as com
em breve ser cortados ou
menus ou horários, regularidade para aliviar
severamente afectados. mantenha os seus clientes os receios dos clientes.
Diversos restaurantes no informados.
As mensagens de espírito
mundo estão agora a reunir-se
Actualize o seu website, os de serviço devem ser infor-
rapidamente com um meios de comunicação social madas de igual modo, como
espírito de luta contra o covid-19,
e os directórios. Assegure- a entrega sem contacto ou o
a mudar completa-
-se que as suas linhas tele-
pagamento. .
mente os seus negócios para
acomodar a recepção e a e treine rapidamente o seu fónicas estejam disponíveis
concentração nos melhores
entrega. Alguns estabelecimentos
pessoal para realizar, sem clientes
voltaram-se para os problemas, novos processos Pesquise e descubra quem
serviços de entrega de alimentos
para manter os seus clien-
são os seus melhores clien-
como Caviar, Door- tes satisfeitos. Agora é o tes e depois ligue para eles
Dash e Seamless para ajudar
momento de inovar. Conhe-
regularmente. Modele no-
a satisfazer a procura. ça e sirva os seus clientes vos públicos a partir dos
Mas o que devem os investidores
e comunidades onde eles se seus próprios clientes para
fazer para man-
encontram agora. Considere alargar o seu alcance para
ter a sua marca e fortificá- apresentar ofertas especiais
obter o maior ganho.
-la? Especialistas em publicidade
de refeições e kits de Reequipe o seu negócio e
digital recomendam refeições para que os clientes
oriente as suas acções com
concentração nas seguintes
possam preparar em base nas necessidades dos
(três) áreas:
casa.
seus clientes.
60
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
A SCHATZI IMPORTA A SÉRIE EINS-ZWEI-ZERO DE VINHOS
SEM ÁLCOOL DE LEITZ, UM EXCELENTE E INOVADOR
ESPECIALISTA EM RIESLING EM RHEINGAU, ALEMANHA
VINHO SEM ÁLCOOL
AINDA É VINHO? É.
E O CONSUMO ESTÁ A AUMENTAR
os vinhos sem álcool preenchem
uma necessidade para os sóbrios, seguidores
de uma determinada religião
ou ocasionalmente abstinentes,
e há uma nova geração de vinhos
sem álcool que é promissora.
No entanto, é difícil de imaginar vinho
sem o álcool. Porque é parte integrante
da sua textura, sabor e complexidade,
apesar de o interesse pelo
vinho sem álcool ter vindo a crescer
rapidamente nos últimos dois anos.
Segundo dados da consultora Nielsen
global Media, as vendas a retalho de
vinhos sem álcool nos Estados Unidos
dispararam durante o ano que terminou
em 20 de Fevereiro, subindo
34% ao longo dessas 52 semanas após
se terem mantido relativamente estáveis
de 2016 a 2019.
As vendas anuais, no valor aproximado
de 36 milhões de dólares ao longo
do último ano, são apenas uma pequena
fracção de toda a categoria de vinhos,
que registou mais de 21 mil milhões
de dólares nesse período. Apenas
sete marcas de vinhos sem álcool
tiveram mais de $1 milhão de dólares
em vendas, pode ler-se na pesquisa.
Isto não é muito, comparado com outras
categorias de bebidas não alcoólicas,
como a cerveja e a sidra, que
oferecem uma selecção muito maior
do que o vinho.
Mas o interesse cresceu suficientemente
rápido no último ano para que
alguns no comércio do vinho vejam
agora uma oportunidade excitante.
“É a categoria de crescimento mais
rápido na nossa carteira neste momento”,
disse Kevin Pike, proprietário
da Schatzi Wines, um pequeno
importador e distribuidor em Milão.
“Sobe 1 000 por cento e cresce todos
os dias”.
A Schatzi importa a série Eins-Zwei-
-Zero de vinhos sem álcool de Leitz,
um excelente e inovador especialista
em riesling na região de Rheingau,
na Alemanha. Vende agora três variedades:
um riesling, um espumante
riesling e um espumante rosé. Os
dois espumantes também vêm em latas
de 250 mililitros, e o Sr. Pike disse
que espera adicionar um pinot noir
sem álcool no próximo ano.
Outro importador, Victor O. Schwartz
da VOS Selections, traz um chardonnay
sem álcool da Thomson & Scott,
um comerciante mais conhecido por
vender o Skinny Prosecco. As garrafas
destinam-se a uma dieta consciente,
e o Sr. Schwartz disse que a
resposta aos vinhos tem sido óptima.
Um bom sumo de uva pode ser maravilhoso,
mas não passa disso. O vinho
não alcoólico é produzido pela primeira
vez ao fazer vinho. A levedura
fermenta todo ou quase todo o açúcar
da uva em álcool. Depois, o álcool
é retirado. O resultado não é mais intoxicante
do que o sumo de uva, mas
geralmente não é tão doce e é fundamentalmente
alterado.
Qual é o apelo? Não é difícil de entender
que, num mundo pandémico, os
cuidados com a saúde tenham emergido.
Mas as razões práticas são, no
entanto, tão importantes como qualquer
outra motivada por tendências
sociais. “Estou a pensar em pessoas
que estão em forma e acordam super
cedo para correr ou fazer exercício,
pessoas que querem festejar
mas são o motorista designado, pessoas
que querem tirar uma noite
de folga da sua garrafa habitual, ou
que têm de trabalhar depois do jantar”,
disse Schwartz. “Todas estas pessoas
gostam de beber vinho e não
querem desistir disso, mas estão felizes
por não terem álcool a interferir
nestas alturas com as suas vidas ocupadas
e activas”.
EINS-ZWEI-ZERO
SPARKLING RIESLING
O álcool do vinho ferve
a 28°C, preservando os
aromas e as características
“enológicas”: citrinos de
laranja, ruibarbo e estragão.
O CO2 nesta versão
espumante do Riesling faz
com que pareça mais seco
do que é, uma vez que o
limão e outras especiarias
encontram-se ainda mais
fortes! Este borbulhante
sem álcool é perfeito para
as férias, ou para qualquer
dia, na realidade.
PERFIL
Citrinos cor-de-laranja,
ruibarbo e estragão
ÁLCOOL
Zero
PREÇO
10$
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
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LITURGIA
DO SILÊNCIO
AUTOR
Salvador
Muchidão
Editora
Oleba
O SILÊNCIO PREGADO
as madrugadas ganhavam
vida e o silêncio protagonizava
desafios poéticos convidando
o jovem escritor, Salvador
Muchidão, a deixar-
-se embalar pela calmaria
daquele período do dia em
que o sono se recusava a dele
se aproximar.
Em resposta ao convite poético,
Muchidão não viu outra
alternativa senão escrever…
e escreveu… até dar vida
à “Liturgia do Silêncio”,
uma obra que reúne mais
de 50 poemas que, de uma
forma ensurdecedora, mostram
a vivência do homem
por meio de diferentes temáticas
onde o sujeito poético
dialoga com quatro entidades:
Deus, a natureza,
a mulher amada e a figura
materna.
“Liturgia é um conjunto de
procedimentos pré-definidos
para a celebração de um
culto religioso. É um momento
de contacto com o divino e,
ao escolher o título “Liturgia
do Silêncio”, quero fazer alu-
EM RITUAL POÉTICO
são ao momento em que estamos
connosco mesmos fazendo
grandes reflexões da
nossa vida no silêncio da noite
ou durante a madrugada”,
disse.
De “imortal” à “indiferença”,
a cada página, “vivências”
são partilhadas. Exemplo
claro é o poema que deu
título à obra, que fora escrito
após o episódio de 29 de
Julho de 2019, quando um homem
cansado de acumular
silêncios e procurando ser
entendido sem sequer dizer
uma palavra subiu ao topo
da estátua da Praça dos Trabalhadores,
localizada na
baixa da Cidade de Maputo,
acabando por preocupar
a quem por lá passava, pois
temia-se que este cometesse
suicídio.
“Aquele jovem concentrou
uma multidão sem dizer
uma palavra. Ele pregou em
silêncio e despertou a cons-
ciência sobre a atenção para
os problemas da juventude.
Foi uma verdadeira liturgia
do silêncio”, acrescentou.
Lançada a 12 de Fevereiro
na cidade de Quelimane, terra
natal de Salvador Murchidão,
“Liturgia do Silêncio”
é a primeira obra do escritor
de 27 anos, que fez do isolamento
de 2020 o momento
ideal para deixar o silêncio
falar através da arte que
nele habita.
“O ano de 2020 foi um ano em
que tive um crescimento literário
significativo. Aprendi
a ter um grau de escrita
mais exigente e procurei
(e ainda procuro) aprender
de escritores conceituados”,
concluiu.
Com a “Liturgia o Silêncio”, os
amantes da literatura em
versos podem ouvir o silêncio
por meio de estrofes que
embalam a quem se deixa
contagiar pela magia da
poesia.
“LITURGIA DO SILÊNCIO” É A PRIMEIRA
OBRA DO ESCRITOR DE 27 ANOS
TEXTO YANA DE ALMEIDA
FOTOGRAFIA MARIANO SILVA
www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
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HONDA
LEGEND
Tem um
sistema
“Traffic Jam
Pilot”, que
é capaz de
controlar a
travagem e
aceleração
v
HONDA LANÇA O LEGEND,
a honda apresentou no início
de Março, no Japão, um
Sedan Legend que integra
condução autónoma parcial.
A marca nipónica torna-se,
assim, no primeiro
fabricante automóvel a comercializar
(apenas em leasing)
um veículo equipado
com tecnologia de automação
de nível 3. Segundo a
agência Reuters, apesar de
arrecadar o título de ter sido
a primeira a lançar um
modelo com este tipo de tecnologia,
a Honda vai lançar
o Legend com um número limitado
de apenas 100 unidades
no Japão, e cada um destes
veículos custará 11 milhões
de ienes, ou seja, mais
O PRIMEIRO AUTÓNOMO
DE NÍVEL 3
de 85 mil euros. O Legend
está equipado com o sistema
“Traffic Jam Pilot”, que
tem a capacidade de controlar
a aceleração, a travagem
e o volante mediante
determinadas condições.
Em comunicado, a Honda diz
que, com o sistema activado,
o condutor pode mesmo
ver um filme ou utilizar outras
funcionalidades do sistema
para ajudar a mitigar
o stress numa situação de
trânsito intenso. Um grande
passo para eliminar os acidentes
induzidos por erro
humano, segundo afirmou
Yoichi Sugimoto, engenheiro
da Honda. Em condições
muito específicas, com cruise
control adaptativo (ACC)
ligado e sistemas de seguimento
de baixa velocidade
e manutenção (LKAS) também
em funcionamento, o
Legend pode mesmo assumir
o controlo da direcção
e é capaz de ligar o pisca
e mudar de faixa, embora
ainda precise da confirmação
do condutor de que o pode
fazer em segurança.
O LEGEND ESTÁ EQUIPADO COM O SISTEMA “TRAFFIC JAM PILOT”,
QUE TEM A CAPACIDADE DE CONTROLAR A ACELERAÇÃO, A
TRAVAGEM E O VOLANTE MEDIANTE DETERMINADAS CONDIÇÕES
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