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— E não gosta das cidades?
— Não. Prefiro viver nas florestas, ser livre, fazer o que quiser. Sou muito
esquisito.
Henrique olhava para ele achando-o extraordinário; tornou a perguntar:
— E não se importa em viver sem falar com ninguém?
— Não. Sempre gostei de falar pouco; e aqui falo com meus
companheiros. São excelentes porque não respondem e estão sempre
contentes.
Foram interrompidos por gritos estranhos vindos da floresta; Simão foi
olhar pela abertura da gruta enquanto o coração de Henrique deu um salto no
peito: não seria Eduardo? Devia ser Eduardo que descobrira o caminho da
caverna.
Não era. Era um bando de macacos trazendo um macaquinho doente para
Simão curar. Foi uma das coisas mais extraordinárias que Henrique viu naquela
ilha; todos os macacos ficaram à volta da gruta e com gestos e guinchos
mostravam o doente a Simão. O doente era um pouco maior que os outros e
estava com uma perna quebrada.
Simão examinou-o muito bem, depois fez duas talas de madeira fina e
colocou-as na perna do animal; em seguida deu uma bebida para o doente
tomar; ele bebeu o remédio fazendo caretas horríveis e cuspindo. A macacada
olhava em silêncio o trabalho de Simão; quando terminou, ele fez um gesto
dizendo que podiam ir embora. O bando dispersou-se num instante entre os
galhos das árvores; o doente foi coxeando atrás de todos. Henrique perguntou:
— O senhor também é médico deles?
— Faço o que posso, respondeu Simão. Curo aqueles que posso curar;
eles sabem disso, por isso vêm me contar tudo o que acontece e pedir socorro.
Tenho curado aves, veados, e outros bichos que aparecem. Uma vez também
estive doente, com muita febre, e todos eles vieram me visitar como se
quisessem fazer alguma coisa por mim. Os micos davam-me água para beber,
Boni trazia frutas, todos me trataram um pouquinho. A oncinha não me largava
dia e noite.