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MERCADO
do esperado em função da bienalidade para o ano
de 2021, deixando muitos cafeicultores em condições
extremamente desafiadoras, dado o baixo volume
de café que colherão.
Ainda dentro da esfera climática, há outros fatores
que também são preocupantes e que podem
trazer sérios prejuízos para o cafeicultor, tais como
chuvas inesperadas durante a colheita, chuvas de
granizo e geadas.
Escassez de mão de obra: tanto a colheita como
o processamento do café requerem mão de obra
em todas as etapas. Na América do Sul, em alguns
casos, o custo desta mão de obra chega a 50%,
ou até mais da atividade. Com o desenvolvimento
econômico e a urbanização, este tipo de mão de
obra tende a se tornar cada vez mais escasso e caro.
Países produtores subdesenvolvidos ou emergentes,
na medida em que se desenvolvem, tendem
a oferecer outras alternativas de trabalho, com menor
desgaste e maior remuneração.
No caso específico do Brasil, este desafio vem
se tornando maior ano a ano, pois trata-se de um
país emergente em pleno progresso e, na medida
em que se desenvolve, mais escassa se torna a disponibilidade
deste tipo de serviço, que pode até
ser substituído pela mecanização, mas somente em
parte e não por completo.
Volatilidade
A volatidade sempre existiu e continuará existindo.
É também um desafio para cafeicultores, no
entanto, não tão desafiador quanto os dois citados
anteriormente, uma vez que o mercado já propõe
diversas ferramentas a serem utilizadas, de modo
a minimizar o risco das oscilações e melhorar os
resultados do cafeicultor.
Atualmente, o café é a segunda commodity de
maior volatilidade em suas cotações, ficando atrás
apenas do petróleo. Por essa razão, o café é considerado
um ativo de risco. A alta volatilidade das
cotações do café se deve ao fato de que o café não
é meramente uma commodity agrícola, mas uma
commodity financeira, por permitir a alavancagem
de grandes posições em bolsas, com pouca disponibilidade
de recursos.
Isso porque os custos operacionais são baixos e
necessita-se de capital apenas para a margem de garantia
e ajustes diários das posições.
Enquanto commodity agrícola, fatores fundamentais
(oferta, demanda e estoques) são os que impactam
nas cotações. Mas, enquanto commodity
financeira, diversos outros fatores impactam, haja
vista a participação de diversos fundos de investimento
e especuladores que operam com o objetivo
de ganho de capital.
Deste modo, mesmo quando não há novidades
fundamentais, outros fatores seguem influenciando
o dia a dia das cotações. Fatores técnicos, cambiais,
econômicos, políticos, desempenho de outras
commodities e mercados, são exemplos nítidos
que, da mesma forma, afetam os preços.
Isso ocorre porque, com base nestas referências,
os fundos que operam nas principais bolsas
de café do mundo despertam seu apetite ou sua
aversão ao risco frente a cenários de estabilidade
ou instabilidade, direcionando seus investimentos
para ativos de risco (como o café), ou ativos de menor
risco.
Se, por um lado, esta participação de fundos
nas bolsas de café aumenta sua liquidez, por outro,
intensifica a oscilação de suas cotações.
Estratégias
O cafeicultor, para superar os desafios da cafeicultura
e obter êxito na atividade, deve se basear
em três pilares básicos:
Utilizar das tecnologias que o Brasil dispõe
para alcançar maiores produtividades, a custo menor
e com qualidade maior. Mesmo no Brasil, temos
cafeicultores que ainda são adeptos de tecnologias
defasadas e que devem buscar a renovação de
suas lavouras, com novas cultivares e espaçamentos
que, atrelados a determinadas técnicas de manejo,
permitem melhor desempenho a custos reduzidos.
Ter um nível de gestão que permita ao cafeicultor,
ao menos, saber seu custo de produção, pois
sem esta informação não é possível tomar as decisões
mais assertivas, seja em relação às suas lavouras
cafeeiras ou à comercialização de seus cafés.
Utilizar ferramentas de mercado futuro disponíveis
no mercado, para fazer o hedge do preço
de seu produto, garantir ao menos uma parte de seu
lucro e minimizar o risco inerente às oscilações do
mercado cafeeiro. Se hoje o produtor consegue travar
uma parte de suas próximas três safras a um preço
superior ao seu custo de produção, garantindo
parte de seu lucro, por que não fazer? Afinal, um
pouco de lucro não faz mal a ninguém!
Autor:
João Marcelo Oliveira de Aguiar
Superintendente Executivo e Analista de Mercado da Fundação Procafé; professor de
Gestão de Riscos e Estratégias de Mercado – Pós-Graduação em Cafeicultura - Uniube/
Procafé e Q. Grader licenciado pelo Coffee Quality Institute
joaomarcelo@fundacaoprocafe.com.br
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