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MERCADO
no ano, mesmo considerando a queda das quantidades
embarcadas de café solúvel.
Qualidade superior
As expressivas quantidades enviadas ao exterior
poderiam ser erroneamente classificadas como produto
apenas commodity. Porém, os embarques dos
chamados cafés diferenciados, de qualidade superior,
registram negócios crescentes que contribuem
para revalorização da imagem do café brasileiro perante
seus principais compradores.
Assim, as exportações dos cafés arábicas diferenciados
(gourmet, mole e outros – certificados, orgânicos)
somaram 7,88 milhões de sacas (segundo
melhor resultado da década), recebendo em média
US$ 163,60/sc.
Aos preços médios atuais, na hipótese de queda
de 13 milhões de sacas na produção de arábica
na safra 2021/22 (produção de 36 milhões de sacas),
representa mais de R$ 900 milhões de receita
que deixarão de fluir para os cinturões produtores,
ou seja, aproximadamente R$ 3 mil/mês para cada
estabelecimento produtivo.
No Brasil, janeiro de 2021 demonstrou agravamento
ainda maior dos efeitos da pandemia e
outros países. As festividades do final do ano e o
incipiente início da vacinação conduziu ao relaxamento
das medidas protetivas para evitar a contaminação,
agravando a disseminação da virose.
Paralelamente, no Brasil, os menos favorecidos
deixarão de ser beneficiados pelo auxílio emergencial.
Crescerá o desespero de milhões de pessoas
que sobreviveram, em 2020, devido a essa política.
Herança da última safra
No que tange o agronegócio café, a safra 2020/21
recebeu herança da temporada anterior (excelente safra,
colhida em 2020, associada a cotações relativamente
remuneradoras), traduzindo-se em melhor
condição financeira das explorações agropecuárias
e, pelo menos no primeiro trimestre do ano,
manutenção de pujantes embarques. A corrente
safra, entretanto, será de ciclo de baixa, acentuada
devido à prolongada estiagem associada a altas
temperaturas médias, ocorrida ao longo das duas
primeiras floradas.
O clima seco contribuiu, ainda, para o aumento
do número de talhões podados, visando o revigoramento
das lavouras estressadas tanto pela elevada
produtividade anterior como pelo estresse
ocasionado pela adversidade climática.
Associado a esses condicionantes, os cafeicultores
perdem competitividade em decorrência do
aumento do custo de produção (diesel; fertilizantes
e defensivos) e elevação do salário mínimo, que
terão que ser suportados pela minguada safra.
Ainda que o mercado exiba reação altista nos
próximos meses, com custos crescentes e escassez
de produto, dificilmente teremos cafeicultores fechando
a safra com as contas no azul.
Alternativas
A mobilização das lideranças do agronegócio
café tende a buscar formas de mitigar baixa oferta
de produto prenunciada: postergar os pagamentos
dos créditos concedidos; estender as carências;
subvencionar ainda mais o seguro; renegociar as
operações barter; transferir mais sobras aos cafeicultores
por parte de suas cooperativas; renegociar
as tabelas de preços com os fornecedores, repassando
com menor margem aos associados e, finalmente,
reduzir os custos dos serviços prestados
(análises de solo e sensorial, por exemplo).
A safra comercial 2021/22 poderá compensar
a baixa disponibilidade do produto com preços em
alta. Essa é uma hipótese que tem maior chance de
se concretizar, na medida em que nossos concorrentes
perderam fatia de mercado e o mundo passou
a depender mais do café brasileiro.
Relatos recentes de exportadores testemunham
o interesse dos importadores por embarques para
imediato processamento industrial. O avanço das
vendas externas brasileiras não ampliará os estoques
existentes, que devem evoluir para baixa histórica.
Com a confirmação de safra minguada, os
preços tendem a reagir, porém, arriscar um patamar
para as cotações futuras é, dos terrenos, o mais pantanoso.
Novo nicho de mercado
O bule de café voltou a ser utensílio de uso diário,
frequentando sem intervalos o cotidiano. Os
métodos de preparação da bebida ganharam suas
vídeo-aulas pelas redes digitais. A praticidade das
cápsulas em sistemas de distribuição ecommerce foi
impulsionada, assim como os cafés especiais e os
clubes de assinatura de cafés que compartilharam
dessa mesma ferramenta comercial.
Confinados em home office, ampliaram-se as horas
dedicadas aos expedientes laborais. As jornadas
mais extensas têm como contrapartida maior fadiga,
exigindo doses generosas de estimulante. Retidos
pela quarentena, os intervalos para o café nunca
foram tão necessários. Provavelmente, o hábito
de coar seu café permanecerá após a superação
da pandemia.
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