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OPINIÃO
2021, ano decisivo
para um futuro mais verde
O Brasil tem a chance de se tornar
um farol a iluminar o horizonte
dessa caminhada global
Paulo Hartung (*)
não é um lugar
para onde estamos
indo, mas um
‘Ofuturo
lugar que estamos
construindo.’ Nos dias que se sucedem
neste 2021, a máxima de
Saint-Exupéry deve ser observada
com preciosa atenção: a significativa
agenda ambiental que mobiliza
o planeta este ano tem o
condão de firmar as bases de um
novo futuro, para as atuais e as
próximas gerações.
Não podemos mais negligenciar
discussões e decisões sobre a
sustentabilidade do planeta. A
covid-19, que, tragicamente, tem
sido muito dura e vem ceifando
milhares de vidas, é também fruto
do descontrole na relação entre
humano e natureza. Temos de agir
e aproveitar as oportunidades para
acelerar uma retomada verde.
Joe Biden convocou a Cúpula do
Clima para o próximo dia 22, com
o objetivo de ampliar políticas de
combate ao desmatamento e redução
de emissões de dióxido de
carbono (CO 2 ). Também haverá
duas Conferências da ONU. A
COP-15 da Convenção da Diversidade
Biológica, que negociará o
novo Marco Global de Biodiversidade.
Já a COP-26 sobre Mudança
Climática será a chance
para, enfim, aprovar o artigo 6.º
do Acordo de Paris, que estabelece
e regula um mercado global
de carbono.
Nacionalmente, Belém (PA) será
a sede do Fórum Mundial da Bioeconomia,
pela primeira vez realizado
fora da Finlândia. Voltar os
olhos para o Brasil pode nos dar
a chance de protagonizar as discussões
e estimular a estruturação
de uma economia de baixo
carbono.
Para ingressar numa nova economia
não podemos mais nos basear
nos velhos conceitos que
nos guiaram até aqui. O meio ambiente
sempre foi pensado sob o
olhar de comando e controle, mas
chegou o momento de enxergar
além e criar estímulos, como o
pagamento por serviços ambientais
(PSA).
Devemos monetizar a floresta em
pé. Essa é uma chance inigualável
para o Brasil, que possui a maior
floresta tropical e a maior biodiversidade
do mundo. Preservando a
Floresta Amazônica e com um
comércio regulado de crédito de
carbono, há estimativas de que
poderíamos ter ganhos de até
US$ 10 bilhões por ano. Montante
que poderia ser um alento para os
25 milhões de brasileiros que
vivem na região e sofrem com a
falta de infraestrutura, como saneamento
básico, serviços de
saúde e de telecomunicações,
entre outros.
Tem de se dar o devido valor ao
cuidado com os recursos hídricos,
lembrando que concentramos
12% da água doce do planeta.
A matriz energética brasileira
é uma referência, com cerca de
45% de geração limpa, mas com
campo para avançar a partir, também,
da energia eólica, solar e da
biomassa.
Na seara da bioeconomia, não
precisamos inventar a roda. Podemos
dar escala a experiências
de sucesso País afora. Na Amazônia,
entre outros exemplos, o
açaí movimenta cerca de US$ 1
bilhão por ano, a castanha e o
cacau proporcionam sustento às
comunidades, com espaço para
avançar.
É preciso que iniciemos de fato a
travessia rumo a um outro tempo.
Outras regiões também produzem
casos bem-sucedidos. O
Brasil destaca-se como o segundo
maior produtor de etanol
do mundo, até exportando tecnologia.
O setor de árvores cultivadas
trabalha há anos com os
dois pés na bioeconomia. Enquanto
planta, colhe e replanta
árvores para fins industriais em
9 milhões de hectares, destina
outros 5,9 milhões de hectares à
conservação, entre áreas de preservação
permanente, de reserva
particular do patrimônio
natural e reserva legal. Juntas,
essas florestas removem e/ou
estocam 4,48 bilhões de toneladas
de CO 2 equivalente.
Nossas potencialidades estão
postas à mesa. Precisamos
transformá-las em oportunidades
reais para ingressar nesta
nova era da economia verde,
que será marcada pelo mercado
de carbono e outros mecanismos
igualmente transformadores
de nossa relação com a
natureza.
Política ambiental é tema de Estado,
e não de um governo específico
ou de um partido. Trabalhar
desde já com planejamento é
cuidar da sociedade, proteger o
meio ambiente e beneficiar até
mesmo nossa competitividade
internacional, que tem no comércio
exterior um dos motores da
economia brasileira. São nossas
atitudes que farão o mundo confiar
novamente no País e valorizar
os produtos “made in Brazil”, em
vez de criar barreiras comerciais.
Para isso temos uma lição de
casa a fazer. Como prioridade,
combater as ilegalidades, especialmente
na Amazônia. Desmatamento,
queimadas, garimpo e
grilagem de terras devem ser
coibidos. Em segundo lugar, implementar,
de fato, o Código Florestal.
Essa lei é moderna, pensada
juntamente com a sociedade
civil, e dispõe sobre PSA
em seu artigo 41. Não é exagero
imaginar que seu modelo possa
ser exportado, apresentando-se
como uma legislação de referência
para o mundo.
O Brasil tem em suas mãos a
chance de se tornar um dos faróis
a iluminar o horizonte da caminhada
verde do planeta. Até
2050 o mundo terá 9,7 bilhões
de pessoas, que necessitarão de
mais alimentos, mais roupas,
mais moradias, mais infraestrutura
e, sobretudo, uma vida mais
sustentável. É preciso que iniciemos
de fato a travessia rumo a
um outro tempo, “atribuindo um
novo sentido à existência de
cada um e, também, do planeta”,
como preconizou o saudoso
geógrafo Milton Santos
(*) Presidente executivo do
IBÁ; foi governador do Estado
do Espírito Santo
2
Jornal Paraná
2020/21
Paraná repete números
da safra anterior
Foram 34,79 milhões de toneladas de cana, 2,636 milhões
de toneladas de açúcar e 1,235 bilhão de litros de etanol
Asafra de cana-de-açúcar
2020/21 no Paraná
fechou no último
31 de março com números
pouco maiores do que
os do período 2019/20. No
acumulado do ano foram esmagadas
34.790.081 toneladas,
1,7 a mais comparando
com as 34.213.950 toneladas
registradas no mesmo período
do ano safra anterior.
“As usinas que voltaram a colher
cana-de-açúcar antes do
início oficial da safra atual conseguiram
esmagar um bom
volume da matéria prima, processando
cerca de 1,5 milhão
de toneladas de cana em menos
de um mês”, afirma o presidente
da Alcopar, Miguel
Tranin.
No acumulado, a produção de
açúcar totalizou 2,636 milhões
de toneladas, 31,2% a mais do
que o total produzido na safra
2019/20, quando chegou-se a
2,009 milhões de toneladas. Já
a de etanol somou 1,235 bilhão
de litros, 23,4% a menos
do que na safra anterior (1,612
bilhão/l), sendo 518,277 milhões
de litros de anidro (7,1%
a manos) e 716,566 milhões
de hidratado (32% a menos).
A quantidade de Açúcares Totais
Recuperáveis (ATR) por tonelada
de cana, também no
acumulado da safra 2020/21
ficou 1,4% abaixo do valor observado
na safra 2019/20, totalizando
140,32 kg de ATR/t
de cana, contra 142,26 kg ATR
observados na safra passada.
Como tradicionalmente ocorre
no Estado, o mix de produção
voltou a ser mais açucareiro,
invertendo o processo
ocorrido no último ano. Na
safra 2020/21, em média
56,44% da matéria prima
foram destinados para a produção
de açúcar, contra
43,14% na safra 2019/20, e
43,56% transformados em
etanol, contra 56,86% no período
anterior.
Até o dia 1 de abril, onze indústrias
sucroenergéticas tinham
retomado a moagem de canade-açúcar
no Paraná, devendo
as demais iniciarem os trabalhos
até o final do mês.
Tranin diz que ainda é cedo
para se estimar a produção
final para a safra 2021/22 iniciada
no último dia 1 de abril,
mas ele acredita que deve se
repetir os mesmos números
do período anterior. O presidente
da Alcopar comenta que
as lavouras de cana-de-açúcar
no Paraná dependem de um
bom volume de chuvas no período
ideal de desenvolvimento
vegetativo, que vai de novembro
a março, para obter boas
produtividades nos canaviais,
mas, o período este ano foi caracterizado
por estiagens recorrentes
em toda região produtora
de cana-de-açúcar no
Estado, com exceção do mês
de janeiro.
“As usinas investiram na renovação
dos canaviais e esta só
não foi maior por conta das estiagens
que impossibilitaram o
plantio, mas o clima adverso
anulou qualquer efeito positivo
que pudesse haver”, finaliza.
4
Jornal Paraná
Centro-Sul esmaga 605,46 milhões de toneladas
A região Centro-Sul do Brasil
concluiu a safra 2020/21 com
605,46 milhões de toneladas
de cana-de-açúcar processadas,
crescimento de 2,56%
sobre as 590,36 milhões de
toneladas registradas na temporada
2019/20.
Segundo Antonio de Pádua
Rodrigues, diretor técnico da
União da Indústria da Cana-de-
Açúcar (Unica), “essa expansão
da moagem, simultânea a
melhora da qualidade da matéria-prima,
refletiu na maior disponibilidade
de produto, com
avanço de 7,11% na produção
de açúcar e etanol frente ao
ciclo passado.”
De fato, a qualidade da matéria-prima
atingiu 144,72 kg de
Açúcares Totais Recuperáveis
(ATR) por tonelada de canade-açúcar
no atual ciclo, contra
138,57 kg na safra
2019/2020 (+4,44%). Esse
crescimento, alinhado com a
maior moagem, resultou em
um incremento de 7,11% na
quantidade global de produtos
disponíveis, que somou 87,62
milhões de toneladas de ATR.
“Em oferta total de produto,
essa é a maior safra da história
do setor”, concluiu Rodrigues
Dados preliminares apurados
pelo Centro de Tecnologia Canavieira
(CTC) indicam que a
produtividade da lavoura colhida
na safra 2020/21 atingiu
77,9 toneladas de cana-deaçúcar,
ante 76,1 toneladas verificadas
no ciclo 2019/2020
(crescimento de 2,3%). A estimativa
de área colhida no Centro-Sul
na safra 2020/21 totalizou
7,77 milhões de hectares,
contra 7,76 milhões estimados
para o ciclo 2019/20.
A despeito da grande incerteza
derivada da crise sanitária provocada
pelo Covid-19, a expansão
da produção e o
abastecimento dos mercados
de açúcar e etanol não foram
prejudicadas.
O mix de produção da safra
2020/21 representou 46,07%
do total de matéria-prima processada
para a fabricação de
açúcar. Com isso, a fabricação
da commodity alcançou 38,46
milhões de toneladas, acréscimo
de 43,73% em relação à
produção de 26,76 milhões de
toneladas do ciclo anterior.
Por outro lado, como resultado
das medidas de restrição a
mobilidade e menor demanda
por combustíveis, observou-se
um recuo na produção de etanol
na safra 2020/21. A produção
total do biocombustível
alcançou 30,37 bilhões de litros,
recuo de 8,7% em relação
à safra 2019/2020. Deste total,
9,69 bilhões de litros foram de
etanol anidro (-2,65%) e 20,68
bilhões de litros de etanol hidratado
(-11,31%). Apesar da
queda, o volume produzido
ainda é o terceiro maior registrado
na história do setor.
Rodrigues esclarece que, “do
ATR total processado na safra,
46,1% foram destinados à produção
de açúcar, 18,0% à fabricação
de etanol anidro e
35,9% à produção de etanol hidratado”.
Apesar da produção
recorde de açúcar, a maior parcela
da cana foi direcionada
para a fabricação do biocombustível,
concluiu.
O etanol proveniente do milho
alcançou 2,57 bilhões de litros
de produção no atual ciclo, registrando
avanço de 58,13%
em relação à safra 2019/20. A
participação do etanol de milho
na fabricação total de biocombustível
no Centro-Sul totalizou
8,45%.
“A safra 2020/2021 pôs à
prova mais uma vez a resiliência
do setor perante adversidades
e reforçou o comprometimento
que temos com a sociedade
e nossos colaboradores.
Doamos 1 milhão de litros de
álcool 70 para as secretarias
de saúde de nove estados e reorganizamos
processos seguindo
protocolos de sanidade
para manter o abastecimento
da população ao mesmo
tempo que preservamos a
saúde dos colaboradores”,
ressalta Evandro Gussi, presidente
da Unica.
“Nesse período também incorporamos
uma nova operação
à rotina, a de emissão de
CBIOs, honrando nossos compromissos
de descarbonização.
Contribuímos, assim, para
que o primeiro ano do Renova-
Bio fosse bem-sucedido, estabelecendo
bases sólidas e
confiabilidade para essa que é
umas das maiores políticas de
descarbonização dos transportes
do mundo”, complementa.
Jornal Paraná 5
ARTIGO
Maioridade do carro flex e
responsabilidade ambiental
Em 2000 registravam-se em São Paulo 60 microgramas de partículas
por metro cúbico de ar; hoje, são 19, abaixo do índice de 20
recomendado pela OMS, apesar de a frota ter crescido 80%
Por João Guilherme
Sabino Ometto (*)
Há dezoito anos, em
24 de março de
2003, era apresentado
o automóvel flex,
uma revolucionária tecnologia
brasileira que, pela primeira vez
no mundo, possibilitava o
abastecimento de um veículo
com etanol, gasolina ou a mistura
de ambos em qualquer
proporção. Hoje, mais de 85%
da frota nacional conta com
esse tipo de motor, cuja contribuição
é imensa para a redução
das emissões de poluentes
locais e de gases de
efeito estufa, com benefícios
significativos para a saúde e a
luta contra as mudanças climáticas.
O carro flex atinge sua maioridade
sendo responsável. Sim,
ambientalmente responsável,
como se pode comprovar com
clareza nos índices de poluição
da capital paulista nas últimas
duas décadas. Dados sobre o
consumo de combustíveis divulgados
pela Agência Nacional
de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) mostram
que em 2020, considerando o
anidro misturado à gasolina, e
o hidratado utilizado nos motores,
o etanol substituiu 47% de
toda a gasolina consumida no
Brasil; em São Paulo, a substituição
foi de 64%. Estes índices,
inigualados em todo o
mundo, são resultado da opção
dos consumidores propiciada
pela tecnologia do carro flex.
O impacto positivo é inconteste.
Dentre outras qualidades
ambientais e à saúde, o etanol
gera emissão zero de material
particulado. O resultado é que,
segundo especialistas do Conselho
Superior do Agronegócio
da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP),
em 2000 registravam-se na capital
paulista 60 microgramas
de partículas por metro cúbico
de ar; hoje, são 19, abaixo do
índice de 20 recomendado pela
Organização Mundial de Saúde
(OMS). Cabe salientar que,
nesses 20 anos, a frota existente
no município cresceu
80%. Fica muito claro como o
etanol, somado à disruptiva
tecnologia criada pela engenharia
automotiva desenvolvida
no Brasil, contribui de modo
significativo para que tenhamos
um ar muito mais limpo, o que
6
Jornal Paraná
ceiro na eletrificação, através
dos híbridos flex – uma realidade
já presente em nosso
País. E no futuro também na
célula a combustível usando
etanol. A eletrificação, com etanol,
gera emissões menores
ainda. Na avaliação do ciclo de
vida (ACV), os híbridos a etanol
emitem apenas 29 gramas de
CO 2 por km, e a célula a combustível
usando etanol emite 27
gramas por km. Outra grande
vantagem desta rota de eletrificação
é que o etanol utiliza a infraestrutura
de distribuição já
existente. Estudo da Empresa
de Planejamento Energético
(EPE) indica que seriam necessários
investimentos de
210 a 300 bilhões de dólares
para criar uma rede de recarga
de baterias (smart-grid) no
Brasil.
é de especial importância nesses
tempos de pandemia causada
pelo Covid-19.
A resposta do País à época do
encarecimento do petróleo provocado
pelos conflitos no
Oriente Médio, em especial a
Segunda Guerra do Golfo Pérsico
em 2003, tornou-se de
modo paulatino uma solução
de caráter ecológico. Essa história,
a rigor, havia começado
muito antes, há 46 anos, quando,
em novembro de 1975, foi
criado o Programa Nacional do
Álcool (Proálcool), também
como alternativa à majoração
do combustível fóssil no mercado
global.
Começamos a produzir veículos
motivos a álcool, tecnologia
também genuinamente nossa, e
a construir uma infraestrutura
nacional de abastecimento com
a multiplicação de usinas produtoras,
em especial no Sudeste e
Centro-Oeste, e uma rede nacional
de postos de distribuição.
Hoje, temos mais de 42 mil pontos
de abastecimento em todo o
território, onde se pode abastecer
os veículos com etanol.
A história do Proálcool, do
carro a álcool, dos emblemáticos
18 anos do flex, a base nacional
de fabricação dos veículos,
de produção e distribuição
dessa moderna, limpa e renovável
fonte de energia para
transporte não tem apenas
grande valor histórico, e não se
constitui somente em referência
de um processo dinâmico
que gerou desenvolvimento, investimentos,
empregos e renda.
Representa, agora, o alicerce
de uma nova frente de combate
ao aquecimento da Terra.
Para se entender melhor essa
questão, é importante conhecer
algo até agora pouco difundido:
na comparação entre o
carro a etanol brasileiro e o elétrico
a bateria, considerando a
avaliação do ciclo de vida desde
a produção da energia até o
seu uso pelo consumidor final,
o nível de emissão de gases
causadores do efeito estufa é
muito menor para a motorização
usando etanol.
Isso porque, para se aferir o
grau efetivo de emissão gerada
por um veículo, é necessário
considerar o ciclo completo de
emissões totais. Aí está a vantagem
da motorização usando
o etanol, pois, é quase neutro
em emissões de gases do
efeito estufa, e com novas tecnologias
sendo aplicadas na
produção tende em breve a se
tornar neutro, ou até gerar
emissão negativa, em grande
medida porque sua fonte é renovável
e os canaviais sequestram
carbono da atmosfera
durante a fase de crescimento
da lavoura.
As comparações são conclusivas:
um carro movido a gasolina
sem adição de etanol emite
145 gramas de dióxido de carbono
(CO2) por quilômetro rodado;
o automóvel elétrico a
bateria utilizado atualmente na
Europa emite 92 gramas; e um
carro movido 100% a etanol
emite somente 58 gramas.
Além disso, a baixa emissão do
etanol é propiciada com uma
tecnologia acessível ao consumidor.
Agora, estamos dando mais
um passo relevante, pois o etanol
pode ser usado como par-
No futuro, diferentes rotas de
motorização irão conviver no
mercado. Mas, a sinergia entre
a indústria automobilística e
o setor sucroenergético brasileiro,
que possibilitou todos os
avanços até agora verificados
desde o carro a álcool, segue
decisiva para que o etanol e a
tecnologia a ele agregada sejam
amplamente utilizados como
solução correta, escalável
e replicável para a mobilidade
sustentável do planeta.
(*) Engenheiro (Escola de Engenharia
de São Carlos –
EESC/USP), empresário e
membro da Academia Nacional
de Agricultura (ANA), foto
abaixo.
Jornal Paraná 7
FALECIMENTO
Vander Campos perde
a luta para a Covid-19
Negociador nato, sempre defendeu
com unhas e dentes os direitos
dos trabalhadores da indústria
química e farmacêutica
Osetor sucroenergético
do Paraná lamentou
profundamente o
falecimento, vítima
de Covid-19, no último dia 20
de março, de Vander de Oliveira
Campos, que era diretor
da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Indústria Química
- CNTQ; Secretário Regional
da Federação dos Trabalhadores
nas Indústrias do Estado
do Paraná-Fetiep e presidente
do Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias Químicas
e Farmacêuticas de Colorado/PR.
Vander começou a trabalhar no
setor sucroenergético em
1979, na Usina Alto Alegre de
Colorado, como encarregado
de balança. Em 1987 fundou
a Associação dos Funcionários
da Indústria Química e Farmacêutica
de Colorado e Região.
Em 1991 a associação se tornou
Sindicato e 1994 foi reconhecido
como tal.
Como sindicalista, Vander lutou
muito pela classe dos trabalhadores,
defendendo os direitos
desses sem deixar de
manter uma boa relação entre
os sindicatos patronal e de empregados.
Dono de uma boa
conversa, era um negociador
nato, segundo amigos, exercendo
um papel fundamental
em muitas das conquistas dos
trabalhadores da categoria química.
“Perdemos um grande companheiro
que vai deixar saudade
e um enorme vazio”,
afirma o presidente da Alcopar,
Miguel Tranin. Vander deixa esposa
Nelci com quem teve três
filhos: Janaína, Michele e Michel
(in memorian).
Toda a diretoria do Sindicato e
associados lamentam também
a perca de “um grande homem,
tanto na área profissional, como
ser humano”. “Vander sempre
defendeu a família e a amizade
sincera e respeitosa com palavras
de otimismo e esperança
de um mundo melhor, sempre
respeitando os pensamentos diversos
com seu jeito tranquilo
de expor sua opinião”, apontou
o Sindicato em nota.
O sindicalista era também
pastor evangélico, tendo se
formado em Teologia, além de
se especializar em leis trabalhistas.
Vander sempre organizava
o torneio de futebol e a
festa anual do trabalhador do
Sindicato de Colorado para
mais de 3 mil pessoas e estava
ainda ligado a organização
do Canito, tradicional
evento esportivo do setor sucroenergético.
Foi vereador por dois mandatos
em Colorado, de 1993 a
2000, e em paralelo coordenou
a Secretaria de Trabalho do Paraná
no município, de 1994 a
1996. No período, desenvolveu
projetos de financiamento para
micro e pequenos empresas,
fomentando a economia de
Colorado e região.
8
Jornal Paraná
DOIS
PONTOS
Energia alternativa
Açúcar
Para limitar o aumento da temperatura
média global a 2°C, a
participação das energias renováveis
na oferta energética
primária precisa crescer cerca
de 65% até 2050. Para que
isso aconteça, estima-se um
investimento total de US$ 25
trilhões em renováveis nos
próximos 30 anos. Isso significa
que os investimentos
anuais ainda precisam triplicar
de valor, mas a megatendência
está ativa e nada ou ninguém
à vista parece ser capaz de
pará-la.
A temporada global 2020/21
de açúcar, que vai de outubro
a setembro, deve terminar
com déficit de 3,2 milhões de
toneladas, de acordo com a
consultoria StoneX. Trata-se
de um aumento ante a safra
2019/20, quando o déficit foi
de 2,5 milhões de toneladas,
mas queda de 100 mil toneladas
na comparação com a estimativa
anterior, publicada em
janeiro. Ainda que a demanda
tenda a continuar firme, o
avanço na produção em alguns
players fez a consultoria
reduzir para 3,2 milhões de toneladas
as expectativas em relação
ao déficit global de
açúcar.
CBios
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis publicou as metas para
as compras de créditos de descarbonização
(CBios) por distribuidoras de combustíveis
em 2021, apontando que a Distribuidora
(BRDT3) terá o maior objetivo individual
entre as empresas do setor. O objetivo total
de comercialização de CBios para o ano
será de 24,86 milhões de títulos. Maior comercializadora
de combustíveis do Brasil, a
BR Distribuidora será responsável pela compra
de 6,55 milhões de CBios neste ano, o
equivalente a 26,3% do total. A Ipiranga terá
a segunda maior meta, de 4,71 milhões de
títulos, ou cerca de 19% do total e a Raízen
Combustíveis, joint venture de Shell e
Cosan, terá como objetivo a compra de mais
de 4,3 milhões de CBios, entre outras.
Copersucar
A brasileira Copersucar comprou
50% de participação da
Cargill na Alvean, joint venture
entre as duas empresas que lidera
o mercado de açúcar.
Com o acordo, a Copersucar
deverá ser a única dona da Alvean,
que detém cerca de 20%
do comércio global de açúcar.
A operação está sujeita à aprovação
do Cade, a autoridade
concorrencial brasileira.
Semente de cana
A Atvos, segunda maior produtora
de etanol do país,
concluiu, em Nova Alvorada
do Sul, no Mato Grosso do
Sul, o plantio de cinco novos
hectares de cana-de-açúcar
cultivados com a semente
artificial Emerald, desenvolvida
pela Syngenta. No início
da safra 2020/21, foram
colhidos em Mirante do Paranapanema,
interior de São
Paulo, os primeiros três hectares
dessa fase piloto de
utilização da tecnologia que
encapsula células vegetativas,
protegendo-as de riscos
físicos e ambientais.
Resultado
Os CBios fazem parte do programa
RenovaBio, que visa retirar
milhões de toneladas de
dióxido de carbono da atmosfera
e dar impulso ao setor de
RenovaBio
biocombustíveis, contribuindo
com metas estabelecidas em
2015 pelo Acordo de Paris. Os
créditos são emitidos por produtores
de etanol e biodiesel, e
as metas projetadas para um
horizonte de dez anos avançam
gradualmente, ano a ano,
até atingirem 90,67 milhões de
títulos em 2030.
O desenvolvimento do teste
com a semente artificial de
cana foi positivo, com falhas
inferiores a 3%. Com a
semente artificial, a Atvos
estima que, além de simplificar
o processo de plantio,
futuramente, mais de 800
mil toneladas de cana que
seriam plantadas, sejam
destinadas à produção de
etanol e energia, contribuindo
para aumentar a
produtividade das unidades.
Estima-se ainda uma redução
de custos com um número
menor de equipamentos
mobilizados no plantio
mecanizado, como colhedoras
e transbordos.
10
Jornal Paraná
Raízen a gigante global produtora
de etanol em conjunto
com a Shell, pretende construir
mais três usinas de etanol
celulósico com produção
de 300 milhões de litros adicionais
de álcool de segunda
geração. O etanol celulósico
Etanol 2G
é feito a partir do bagaço e
da palha da cana. Em Piracicaba
(SP), o grupo já possui
uma usina produtora desse
tipo de combustível, que tem
sua demanda internacional
aquecida em razão do sequestro
de carbono gerado
Sustentabilidade
Usinas brasileiras já fixaram
preços de açúcar da safra
2021/22 para 85,75% da
exportação projetada na
temporada, alta de cerca
de cinco pontos percentuais
ante o levantamento
realizado no mês anterior,
estimou a Archer Consulting,
com base em dados
Fixação
até 28 de fevereiro. Usinas
têm aproveitado as condições
favoráveis de mercado
e adiantado como nunca o
travamento de negócios para
a safra atual. Na mesma
época do ano passado,
usinas tinham fixado cerca
de 64,7% da safra 2020/
21.
Estudo conduzido na Escola
Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz” da Universidade
de São Paulo (Esalq-USP) discute
formas sustentáveis de
cultivar cana-de-açúcar para a
produção de bioenergia. A
pesquisa foi coordenada pelo
professor Maurício Roberto
A agenda ambiental do novo
presidente dos Estados Unidos,
Joe Biden, deve abrir
oportunidades para o setor de
etanol no Brasil, que vê a possibilidade
de um forte aumento
de demanda pelo produto
na maior economia global.
Biden deve lançar novas
metas de redução de CO 2 e
prometeu rever políticas do
ex-presidente Donald Trump
na área de energia. Existe
ainda a expectativa que o governo
dos EUA invista para
possibilitar o aumento da mistura
de etanol na gasolina.
Cherubin, da Esalq-USP, e tem
apoio da FAPESP no âmbito
do Programa FAPESP de Pesquisa
em Bioenergia. Os resultados
foram publicados em artigo
na revista científica Land,
com o título “Land Use and
Management Effects on Sustainable
Sugarcane-Derived
Fertilizantes
Agenda ambiental
Bioenergy”. Segundo os autores,
a bioenergia derivada da
cana é uma opção sustentável
para enfrentar as mudanças
climáticas e, ao mesmo tempo,
fornece outros serviços
ecossistêmicos essenciais e
promove o desenvolvimento
socioeconômico.
O governo federal vai elaborar
uma política para
ampliar a produção nacional
de fertilizantes agrícolas
e, com isso, reduzir a
dependência da importação
do produto, de fósforo
e potássio, principalmente.
Atualmente, o país importa
mais de 80% dos fertilizantes
utilizados no agronegócio.
Uma das iniciativas
em estudo é a liberação
da exploração das reservas
de potássio na
Amazônia e também de recursos
minerais em terras
indígenas.
Jornal Paraná
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