Revista LesB Out! - Ed. 01
Bem-vindas à Revista LesB Out! Assim como o site, ela é feita por mulheres LGBTQIA+ para mulheres LGBTQIA+. Aproveitem!
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Assim como o site, ela é feita por mulheres LGBTQIA+ para mulheres LGBTQIA+.
Aproveitem!
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LesB
!
OUT
agosto_ed. 01
Afinal, quem é Morango?
Por Bruna Fentanes
Entrevista com a psicóloga
Bárbara Dalcanale Menêses
Por Carol Moreno
Representatividade feminina
LGBTQIA+ nos quadrinhos
através do tempo
Por Monica Teixeira
RED:
´
inicio, meio e fim
Por Karolen Passos
Editorial
Obrigada por sonharem comigo,
Por muitos dias questionei a mim mesma sobre
como deveria começar este editorial. Pensa comigo:
primeira revista completamente supervisionada por
mim, um projeto independente... Como explicar o
que nos trouxe até aqui? Eis a resposta: Seja honesta.
Conte aquilo que sente. É a melhor forma de começar.
Meu nome é Karolen Passos. Sou a co-criadora e
editora-chefe do site LesB Out!. Em 2018, dei início a
este projeto que se tornou parte do meu dia a dia.
Não esperava que estaríamos aqui, três anos depois,
firmes e fortes, que dirá lançando uma extensão do
nosso site. O LesB Out! nasceu da vontade de criar
conteúdo relacionado à cultura pop, voltado para o
público feminino LGBTQIA+, que fosse produzido
por quem entende realmente o que é ser uma mulher
LGBTQIA+.
Durante esse período de 1095 dias, muitas pessoas
passaram pelo LesB Out!, algumas por uns meses,
outras ficaram até mais de um ano e sou eternamente
grata a cada uma delas que acreditaram neste produto.
Pouco antes da pandemia, um novo grupo se
juntou à equipe antiga e não sei se foi a pandemia, se
foi puramente afinidade, mas nos aproximamos
como nunca. Reuniões aconteceram, debates, conversas
e assim nos consolidamos como um time.
Pensada lá em 2018, quando o site ainda era um
bebê, a ideia ressurgiu. “E se a gente fizer essa revista
agora?”, indaguei à Bruna, que, como sempre, disse
que deveríamos – como se ela negasse qualquer projeto
que invento repentinamente. E o sonho de uma, se
tornou de duas e foi completamente abraçado por
mais oito, tornando-se, assim, um sonho de dez pessoas.
A Revista LesB Out! deixou de ser somente um
pensamento para se concretizar nisso que vocês estão
recebendo hoje.
Cada detalhe, cada matéria, cada palavra foi minuciosamente
escolhida para que pudéssemos entregar o
melhor com os recursos que possuímos. Cada pessoa
que escreveu para este projeto entende o que é crescer
como uma mulher LGBTQIA+ com pouca ou quase
nenhuma representatividade. Cada pessoa entende o
que é abrir uma revista e não se enxergar nela, não se
enxergar nos testes sobre sua crush, não se enxergar
nas matérias totalmente voltadas para um público
heterossexual, não se enxergar nas palavras cruzadas e
nas descrições sobre o signo x encontrar o seu amor
no dia y. Entendemos vocês, pois somos vocês.
A nossa matéria principal foi pensada com bastante
cuidado. Precisávamos de algo que tivesse um significado
em nossas vidas, algo que representasse uma
ruptura nesse longo percurso de falta de representatividade.
Sabemos que fora do Brasil, os passos estão
mais avançados, mas por aqui, ainda estamos no
começo. “RED”, a websérie criada por Germana Belo
e Viv Schiller, significa uma quebra no ciclo vicioso
de recebermos migalhas quando o assunto é representatividade
feminina LGBTQIA+ e produções nacionais.
“RED” plantou uma semente e inspirou outros
roteiristas, produtores, artistas a ocupar esses espaços
e nos entregar produções audiovisuais com esta representatividade
tão buscada por nós mulheres LGBT-
QIA+.
Dito isso, gostaria de encerrar dizendo que o LesB
Out! não é meu, nunca foi. Este projeto, este site, este
veículo de comunicação é de quem permite que ele
possa existir: nossas colaboradoras e cada um de vocês
que confia, acredita e sonha esse sonho junto comigo.
Equipe:
Editora-chefe: Karolen Passos.
Diretora de arte: Bruna Fentanes.
Colaboradoras: Bruna Fentanes, Carol Moreno, Carol Souto, França Louise,
Grasielly Sousa, Karolen Passos, Maria Izabelly Lopes, Melissa Marques, Monica
Teixeira e Roberta Valentim.
Revisão: Cíntia Novais e Helena Yang
Fale com a gente:
Envie seus comentários, dúvidas ou sugestões para revista@lesbout.com.br.
Queremos que você faça a Revista LesB Out! junto com a gente! Combinado?
REVISTA LESB OUT! - edição n° 01, ano 1. (2021)
Revista do site LesB Out! - www.lesbout.com.br
Karolen Passos
Editora-chefe
sumario
´
04
Mulheres LGBTQIA+ pela história
Beijo em “Big Shot: Treinador de Elite”
e a evolução da representatividade
LGBTQIA+ na Disney
08
12
Afinal, quem é Morango?
Cassandra Rios - A mulher que a história
apagou 18
20
Crônica | O patrimônio imaterial do Recife:
a gaia - No Centro do Recife, contei uma
história incomum sobre traição e justiça
RED: início, meio e fim 22
32
Quiz | Qual personagem LGBTQIA+
feminino você seria?
Entrevista com a psicóloga Bárbara
Dalcanale Menêses 34
38
9 curiosidades sobre Carol Biazin
Educação, representatividade e imaginação:
uma relação necessária 42
44
Representatividade feminina LGBTQIA+
nos quadrinhos através do tempo
Contos | A culpa é do Lewis Carroll 49
50
Os signos na parada LGBTQIA+
Palavras cruzadas 52
4
Mulheres LGBTQIA+
pela história
Não é segredo para ninguém que
pessoas LGBTQIA+ estão espalhadas
por todos os momentos históricos que
estudamos, por mais que, muitas
vezes, suas sexualidades sejam apagadas.
Por isso, escrevi esta lista de
mulheres que talvez você não soubesse
que eram (supostamente) sáficas.
1
Eleanor Roosevelt (1884 - 1962)
Apesar de nenhuma confirmação, há muitas evidências de que
a ex-primeira-dama dos Estados Unidos tenha sido bissexual ou
lésbica. Conhecida por ter a “permissão” de seu marido a ter
amantes, teve um longo relacionamento com a repórter Lorena
Hickock. Após a sua morte, diversas cartas trocadas entre as
duas foram encontradas, incluindo uma que diz: “Eu quero
colocar meus braços ao seu redor. Eu anseio te abraçar… Seu anel me
conforta. Eu olho para ele e penso ‘ela realmente me ama, ou eu não o
estaria usando’”.
2
Marilyn Monroe (1926 - 1962)
É isso mesmo, o maior símbolo sexual feminino
do mundo, na verdade, era uma mulher sáfica -
e que se satisfazia muito mais em relações sexuais
com outras mulheres do que com homens.
Tabloides, colegas de trabalho, amigos e fãs
alegam que a atriz teve relações sexuais e românticas
com grandes nomes das telonas como:
Joan Crawford, Judy Garland, Brigitte
Bardot, entre outras. Segundo pessoas próximas,
Monroe sentia mais prazer em suas
relações com outras mulheres e nunca teve
orgasmos com homens. Além de se sentir
mais confortável e livre, um dos motivos para
essa “preferência” era o medo que Marilyn
tinha de engravidar, por ter um histórico de
esquizofrenia na família, e sua endometriose,
que fazia com que relações sexuais com o
sexo oposto fosse extremamente desconfortável.
5
3
Marie Antoinette (1755 - 1793)
A conhecida rainha da França, que foi destinada à guilhotina,
pode ter sido lésbica. Na época, panfletos, que hoje seriam as
revistas de fofoca, sobre suas orgias no palácio de Versailles e
histórias sobre seus romances com outras mulheres eram espalhados
por toda parte. Tais publicações exageravam muito ao
falar de Antoinette para fazer sua impopularidade na monarquia
crescer. Por este motivo, é difícil afirmar qualquer coisa
sobre sua sexualidade, mas é impossível negar o impacto que a
antiga rainha teve em sua sociedade e atualmente. Os rumores
sobre sua homossexualidade serviram para que ela se tornasse
um símbolo do amor entre mulheres.
4
Willa Cather (1873 - 1947)
Antes de morrer, a escritora (“Minha Antônia”) queimou
grande parte de suas cartas pessoais e proibiu a publicação
de todas as que sobraram. Quando seu sobrinho faleceu
em 2011, estudiosos finalmente puderam revelar o conteúdo
e publicar as famosas cartas que revelavam sua
homossexualidade. Já em seu trabalho, quando o assunto
é ter indícios de sua sexualidade presentes, pesquisadores
dividem opiniões. Enquanto alguns afirmam
que seus textos eram extremamente heteronormativos,
outros dizem que, apesar de serem descritos como casais
heterossexuais, na sua essência pode-se perceber claramente suas
“preferências sexuais”.
5
Greta Garbo
(1905 - 1990)
A bissexualidade de Garbo nunca
foi segredo para a comunidade
hollywoodiana, e nem mesmo
para o público, se formos sinceras.
Sendo considerada uma das maiores
e mais lindas atrizes da época,
sempre preferiu deixar sua vida
amorosa como um mistério, mas
nunca gostou de mentir sobre
isso. Nunca se casou, dizendo
inclusive que a palavra “esposa”
era feia e, assim como Marilyn, é
conhecida por ter tido relações
com grandes nomes da época
como: Marlene Dietrich, Billie
Holiday e Tallulah Bankhead.
6
6
Lorraine Hansberry
(1930 - 1965)
Apesar de ter vivido toda sua vida no armário, a
renomada escritora e roteirista nunca deixou de
usar seu talento em apoio ao movimento. Publicou
diversas cartas anônimas na revista lésbica
“The Ladder”, se identificando como uma “lésbica
em um casamento heterossexual”, e um
ensaio, em 1961, chamado “Sobre a homofobia, o
empobrecimento intelectual das mulheres e a declaração
de direitos homossexuais” quando estava se
separando de seu marido. Após sua morte,
diversos escritos de Hanberry foram encontrados,
incluindo listas nas quais colocou
“minha homossexualidade”, tanto na categoria
“eu gosto” como na “eu odeio”, e outras
sobre lésbicas, pessoas brancas e seu trabalho
mais famoso “A Raisin in the Sun” como
coisas que a entediavam.
7
Jane Addams (1860 - 1935)
Ela foi uma das pioneiras do movimento sufragista nos Estados
Unidos. Também foi ativista, assistente social e escritora, e é
conhecida por ter se envolvido com diversas mulheres durante
sua vida. Sua relação mais significativa foi com a filantropa
Mary Rozet Smith. O casal passou 40 anos juntos e escreviam
cartas constantemente quando estavam separadas. “Sinto sua
falta desesperadamente e sou sua até a morte”, escreveu em uma
delas para Smith.
8
Florence Nightingale (1820 - 1910)
Fundadora da enfermagem moderna, ela era conhecida
por odiar basicamente tudo o que era esperado de uma
mulher, inclusive as mulheres que seguiam essas expectativas
e por isso tinha uma relação extremamente conturbada
com sua família. Teve relações íntimas com familiares,
como sua tia Mai, que se mudou com ela quando
Florence estava doente e continuou com ela por três
anos, até ser chamada de volta pra casa e ser substituída
por Hilary, uma prima que a amava e também só foi
embora após sua família a obrigar a voltar para casa.
9
Katharine Hepburn (1907 - 2003)
Provavelmente a atriz mais renomada da história, ela também escondia sua sexualidade. Seu longo casamento
com Spencer Tracy era baseado muito mais em uma amizade do que num romance e, segundo Scotty
Bowers, um cafetão de Hollywood, a atriz tinha um contrato com seu estúdio que a proibia de ser abertamente
bissexual. Conhecida por seu estilo mais “masculino”, Hepburn se interessava por ambos os sexos, mas
tinha uma preferência por mulheres. Apesar de se envolver com diversas mulheres durante sua vida, segundo
a conta de Bowers, 150 mulheres; acabou tendo uma relação de 49 anos com uma mulher chamada Barbara.
10
Josephine Baker (1906 - 1975)
O começo da vida da dançarina, ativista e espiã não foi nada
fácil. Trabalhando como empregada doméstica, foi abusada
sexualmente no ambiente de trabalho e, aos treze anos, se
casou. O casamento não durou muito e Baker, com a influência
de sua “amante” Clara Smith, entrou para a companhia de
dança de Bob Russell. Aos 15 anos se casou novamente com
William Baker, mas suas relações com mulheres continuaram.
Segundo Maude Russell, o ambiente da companhia para as
dançarinas negras era hostil e hipersexualizado, e elas tinham
relações mais que amigáveis umas com as outras, mas sem usar
termos como “lésbicas” ou ‘bissexuais”, visto que esses termos
não eram aceitos na época.
Além destas, muitas outras mulheres LGBTQIA+, famosas ou não, vieram antes de nós e conquistaram coisas
extraordinárias que nos acompanham até hoje. Devemos sempre lembrar do caminho que percorremos para
chegar até aqui, e agradecer pela existência daquelas que lutaram pelo nosso direito de amar livremente.
Melissa Marques
Melissa é estudante de jornalismo. Paulistana e apaixonada por musicais desde pequena,
encontrou nas artes um refúgio pra ser ela mesma.
8
Beijo em “Big Shot: Treinador
~
de Elite” e a evolucao da
representatividade LGBTQIA+
na Disney
Sexta-feira, 4 de junho de 2021, primeiros
dias do mês do Orgulho LGBTQIA+. Dia
de comemorar um pequeno passo. "Big
Shot: Treinador de Elite", uma das novas
séries originais da Disney Plus, apresentou no oitavo
episódio um beijo entre duas meninas. O primeiro
beijo entre pessoas do mesmo sexo em uma série
original do serviço de streaming de uma das maiores
empresas de entretenimento do mundo. Uma
empresa que ainda caminha lentamente, mas
parece finalmente estar com as portas abertas.
"Big Shot: Treinador de Elite" acompanha um grupo
de meninas de um time de basquete do colégio.
Mouse (Tisha Custodio), uma das atletas do time,
já demonstrava interesse em Harper (Darcy Rose
Byrnes) desde o segundo episódio da série. Mas
isso sempre ficou em segundo plano, sem nenhum
tipo de desenvolvimento além de gay panic.
Assim como basicamente qualquer pessoa viva
neste mundo, cresci assistindo animações da
Disney. A empresa faz parte das nossas vidas e está
cada vez mais presente. Na falta de personagens
LGBTQIA+, criamos eles na nossa cabeça. Qualquer
demonstração de algo que possa gerar questionamento
da sexualidade de alguém é motivo para
agregarmos ele à nossa comunidade, desde Elsa em
"Frozen" até Ryan em "High School Musical". Nenhum
oficialmente gay, mas que ganharam grande visibilidade
pela necessidade de se reconhecer em alguém.
Felizmente deixaram de ignorar nossa existência,
estamos cada vez mais presentes nas produções da
empresa. Entre coadjuvantes e melhores amigos
dos personagens principais, estamos começando a
marcar presença. A primeira vez que um personagem
falou “eu sou gay” foi na série "Andi Mack", da
Disney Channel. Na animação "Star vs. As Forças do
Mal" tivemos o primeiro beijo, algo no meio da
multidão, com personagens sem nome, sem grande
importância para a cena, mas que marcou um
momento. Pequenos passos.
O serviço de streaming abriu espaço para novas
histórias e explorar novas realidades. "High School
Musical: The Musical: The Series", "Diário de uma
Futura Presidente" e agora "Big Shot: Treinador de Elite”
estão aqui para mostrar essas mudanças, as três com
´
Linha do
Tempo
2014
Boa Sorte, Charlie!
(Disney Channel/It's a Laugh Productions)
Em 2014, a Disney Channel apresentou
pela primeira vez um casal formado por
pessoas do mesmo sexo em uma produção
do canal. O momento aconteceu na
quarta temporada de “Boa Sorte, Charlie!”.
No episódio, o público é apresentado
às mães de um amigo de Charlie.
2016
Gravity Falls
(Disney Channel/Disney Television Animation)
Alex Hirsch, criador de “Gravity Falls” já
comentou algumas vezes que foi impedido
pela Disney de adicionar personagens
explicitamente LGBTQIA+. Porém, no
último episódio do desenho, ele conseguiu
chegar o mais próximo disso. Os
personagens Xerife Blubs e Oficial
Durland declararam "Estamos loucos de
poder!… E de amor", confirmando um
relacionamento amoroso entre os dois.
2017
Star vs. As Forças do Mal
(Disney XD/Disney Channel/Disney Television Animation)
“Star vs. As Forças do Mal” apresentou o
primeiro beijo entre duas pessoas do
mesmo sexo. Na segunda temporada da
animação, os personagens vão a um
show, em dado momento, casais da
plateia começam a se beijar, incluindo
casais formados por dois homens.
Dois homens se beijando. Divulgação: Disney.
2019
Andi Mack
(Disney Channel)
Cyrus Goodman (Joshua Rush) foi o
primeiro personagem da Disney Channel
a afirmar “Eu sou gay”. O episódio foi
ao ar em 2019. Ao longo da série
também foi possível acompanhar Cyrus
se apaixonando por um outro menino.
Cyrus Goodmand. Divulgação: Disney.
2020
A Casa Coruja
(Disney Channel/Disney Television Animation)
Em agosto de 2020, após a exibição do
episódio Medo do Baile Encantado, a
criadora de “A Casa da Coruja”, Dana
Terrace, confirmou no Twitter a bissexualidade
da personagem Luz. Com a
confirmação, Luz se tornou a primeira
protagonista bissexual da Disney. Na
mesma época, Dana confirmou
também que Amity foi criada com a
intenção de ser lésbica.
2021
High School Musical:
The Musical: The Series
(Disney+/Disney Channel)
Big Shot
(Disney+/ABC Signature)
O mês do orgulho LGBTQIA+ de 2021
rendeu momentos históricos para a
Disney. Na primeira sexta-feira do mês, a
série “Big Shot: Treinador de Elite” apresentou
o primeiro beijo entre duas
meninas em uma produção da Disney
Plus. Na semana seguinte, tivemos o tão
esperado beijo entre Carlos e Seb, de
HSMTMTS.
9
representação LGBTQIA+. Não apenas com personagens
secundários, mas como protagonistas cultivando
relacionamentos, interesses amorosos,
mostrando uma vida assim como qualquer outro
personagem.
Carlos (Frankie A. Rodriguez) e Seb (Joe Serafini),
o casal queridíssimo de “HSMTMTS”, mantêm
um relacionamento desde a primeira temporada da
série. A presença de personagens LGBTQIA+ no
universo de "High School Musical" é algo extremamente
significativo. Mas por mais que eles existam,
o desenvolvimento deles ainda fica em segundo
plano, em pequenos momentos, sem ganhar tanto
destaque. Eles são reconhecidos como um casal,
mas tudo de forma muito sutil.
Em "Big Shot: Treinador de Elite" conseguimos um
passo além. O mínimo que esperamos de um casal
é a demonstração de afeto através do beijo. Isso
acontece com todos os casais, todos os casais formados
por um homem e uma mulher. Bom, mas "Big
Shot: Treinador de Elite" abriu a possibilidade. O
beijo entre Mouse e Harper é algo simbólico, é o
reconhecimento de milhões de pessoas que cresceram
com a Disney e finalmente conseguem se ver
em uma produção dela.
Luz e Amity da “A Casa Coruja”.
Divulgação: Disney.
Mas apesar de aplaudir o estúdio por fazer o mínimo, também precisamos questionar as ações da empresa.
Quando o Disney Plus foi anunciado, uma das primeiras produções originais seria a série "Love, Victor", um
spin-off do universo do grande sucesso "Com Amor, Simon". Porém, a série, que acompanha um adolescente gay,
foi transferida para a Hulu com a desculpa de que o novo serviço de streaming tem foco em conteúdo familiar
e a série seria mais adulta. Após o lançamento da primeira temporada, é difícil defender essa ideia de que a
série não se encaixa no conteúdo da Disney Plus, deixando o questionamento do verdadeiro motivo da mudança.
Criadores lutam para adicionar personagens LGBTQIA+ nas produções já há bastante tempo. Se em live
action o assunto ainda é delicado, imagina em animações. "A Casa Coruja" conseguiu algo inédito: a presença
de uma protagonista bissexual, além de uma outra personagem lésbica e com intenções claras da formação de
um casal no futuro.
Dana Terrace, criadora da "A Casa Coruja", e Alex Hirsch, criador de "Gravity Falls", já comentaram algumas
vezes sobre a conduta da Disney Channel em relação a personagens LGBTQIA+ em desenhos. Em uma conversa
no Twitter, os dois falaram sobre as restrições impostas pela empresa, Alex declarou: "Quando eu estava fazendo
Gravity Falls, a Disney me proibiu de adicionar representação explícita de personagens queer. Aparentemente 'o lugar
mais feliz da Terra' significa o lugar mais hétero”.
Com as barreiras impostas, o que recebemos muitas vezes são subtextos, pequenos detalhes jogados propositalmente
para que a comunidade LGBTQIA+ consiga se reconhecer naqueles personagens, mesmo que esses
personagens continuem presos no armário.
Amber Leigh, uma revisora de história de “As Enroladas Aventuras da Rapunzel”, revelou no Twitter, após o
encerramento da animação, que a personagem Cassandra (Eden Espinosa) foi criada com elementos gays. "Em
certo ponto havia uma aliança subentendida com todas as artistas em apenas jogar todos os looks sáficos para a Cass.
Mesmo sem poder declarar explicitamente que ela é gay, você saberá".
Mas, felizmente, eles [criadores] continuaram
lutando e estão ajudando a derrubar
barreiras. "A Casa Coruja" chega agora
com a segunda temporada e promete
trazer grandes passos no relacionamento
entre Luz (Sarah-Nicole Robles) e Amity
(Mae Whitman). Porém, continuamos
com a Disney dando um passo para frente
e três para trás. Apesar da conquista, a
animação já tem data para acabar, e acontecerá
antes do planejado pela criadora,
com apenas três temporadas. Mais uma
pequena conquista, mas que infelizmente
terá vida curta.
A evolução é lenta. A Disney ainda tem
uma longa caminhada. Mas as portas
estão abertas. O beijo de "Big Shot: Treinador
de Elite" é uma luz no fim do túnel. Eu
realmente quero permanecer com o
pensamento positivo e acreditar que esse
é apenas o primeiro passo para um futuro
ainda mais diverso e representativo na
maior empresa de entretenimento do
mundo. Que as portas continuem abertas.
Mouse e Harper se beijando. Divulgação: Disney.
Grasielly Sousa
10
Jornalista nascida no Rio de Janeiro e atualmente morando em Fortaleza. Cresceu assistindo
filmes da Sessão da Tarde, Dragon Ball e Xena: A Princesa Guerreira. Constantemente
falando coisas aleatórias sobre cinema, televisão e música.
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12
Angélica Martins nunca acreditou em
padrões de gênero. Na sua infância, as
noções de feminino e masculino eram
bem limitantes: rosa era menina, azul
era menino. Jogar bola, vestir camisa larga e bermuda
estava fora de cogitação para ela. Angélica, no entanto,
nunca achou que viver dentro de uma caixa era sua
única opção. Ela entendia que era diferente, afinal,
gostava de brincadeiras inusitadas, roupas masculinas
e até mesmo de algumas amigas. Amigas essas, que no
fundo, ela sabia que desenvolvia um sentimento especial,
do tipo que não se via na TV.
Quem não cabe nos padrões heteronormativos
entende a dificuldade que é para uma pessoa se reconhecer
como LGBTQIA+, principalmente quando
não se tem exemplos. Para Angélica, o sentimento de
(des)pertencimento da heterossexualidade chegou na
adolescência. Quando tinha uns 14 ou 15 anos,
alguns diriam ser o auge da descoberta, ela começou a
fazer amigos LGBTs e com isso, começou a frequentar
as salas de bate-papo do UOL e não só sua ficha caiu
do que realmente era/sentia, como também conseguiu
um novo apelido: Morango.
Uma nova mulher surgiu. Conversar com outras
mulheres fez muita diferença. Ter referência e saber
que não está sozinha muda uma vida. Apesar de ter
sido no bate-papo UOL que Angélica se sentiu à
vontade para ser ela mesma pela primeira vez, foi
quando tinha 16 ou 17 anos que conquistou o grande
marco da sua vida como uma mulher lésbica: sua
primeira parada LGBTQIA+. Hoje, Angélica consegue
lembrar perfeitamente daquele momento,
quando estava lá em Uberlândia, sua cidade natal:
“Você realmente se sente parte de um grande movimento.
Foi muito marcante esse momento.”.
^
Big Brother Brasil e sua vivencia como primeira
mulher abertamente lesbica do programa
O momento que Angélica resolveu se inscrever no
Reality Show da Rede Globo não foi um dos melhores
para ela. Financeiramente: quebrada. Emocionalmente:
Instável. Ela tinha acabado de se assumir como
lésbica para sua família, e seu pai não aceitou muito
bem a notícia, chegou a dizer que era “doença e não
admitia de forma alguma”, o que tornou impossível para
eles se relacionarem. “Foi um momento muito punk. Não
sabia o que esperar, não sabia nada.” Angélica relembra.
Naquele ano, em 2010, tinham sido mais de 400
mil inscritos no Big Brother Brasil e para Angélica ter
sido selecionada de primeira, foi como “ganhar na
loteria”. Ela, que sempre foi uma mulher muito pé no
chão, se inscreveu com o sentimento de “pode dar certo
ou pode não dar. Se der, e depois que der, eu vejo o que vai
ser da minha vida.”. Mas uma coisa ela tinha certeza: se
entrasse no programa, iria dar 100% de si e se jogar de
´
Afinal,
´
quem E M
13
orango?
Reprodução: Instagram de Angélica Martins
cabeça. E foi isso que ela fez.
O BBB 10 tinha sido o ano com mais pessoas LGB-
TQIA+, até 2021. Na edição daquele ano, Morango e
mais dois participantes, Serginho e Dicesar, faziam
parte do grupo chamado “coloridos”. Naquela época,
a organização do programa era feita de forma diferente,
e os integrantes do jogo eram divididos em tribos:
“cabeças”, “sarados”, “coloridos”, “belos” e “ligados”.
Essa divisão incomodou um pouco, Angélica pensava
assim “Ué, a gente não é belo, não é cabeça e não é sarado?
A gente é só colorido?” Mas, apesar dessas nomenclaturas
não serem uma das melhores coisas, ao sair do
programa, ela percebeu que a leitura das pessoas tinha
sido diferente. O público ressignificou de forma
positiva. “Lá, inicialmente eu não gostei desse rótulo, como
se a gente fosse só LGBTs, que a gente não pudesse ser outra
coisa. Li como algo limitante, mas eu vi que aqui fora as
pessoas tiveram uma interpretação diferente e levaram isso
para o lado bom do humor, da diversão, da visibilidade.
Então, ok assim. Não me incomodou.”.
Mesmo que não tenha saído vencedora do jogo e
com mais de R$ 1 milhão no bolso, a experiência do
programa foi muito positiva para ela, principalmente
para sua família. Para o pai e a filha, que estavam há
mais de um ano sem se falar, o Big Brother Brasil se
tornou um divisor de águas. O programa abriu o coração
do pai para que deixasse que aquele sentimento
errado sobre a filha fosse embora para sempre. “Ele
mudou muito a forma de pensar, principalmente pelas
histórias que ele conheceu, de pessoas que foram conversar
com ele e dizer que minha participação no programa tinha
ajudado a elas se entender, a conversarem com suas
famílias... Então, isso mudou meu pai em 45 dias. Para
mim, esse foi meu grande prêmio.”.
Seu pai foi seu maior prêmio e as pessoas que a
acompanharam, torceram por ela, transmitiram seu
carinho, e fizeram e ainda fazem parte desse processo.
“Conhecer todas essas histórias assim, milhares de cartas
escritas à mão, recebi milhares de e-mails, e recebo várias
mensagens diariamente nas minhas redes sociais. Isso não
tem preço, porque a gente sabe... A gente que é LGBT sabe,
o quanto muda a vida da gente, a gente se aceitar, se sentir
parte de uma comunidade, de não se sentir sozinho no
mundo. Então, nossa... Esse foi o meu maior prêmio. E não,
não era uma coisa que eu tinha imaginado.”.
^
“TO na Porta”, pandemia e afins
1 de janeiro de 2020. Um pouco antes da pandemia,
um novo projeto: “Tô na Porta”. Um meio de
botar os sentimentos para fora e tudo que precisava
era de papel e caneta. No início, Angélica conseguia
produzir de três a quatro poemas por dia, até que... o
bloqueio criativo veio. Chegou na forma que ninguém
esperava: em formato de pandemia.
“A pandemia me pegou de jeito, porque a princípio esta-
“
14
va todo mundo assim ‘o que tá acontecendo? Por quanto
tempo vai durar isso?’”. Assim como boa parte da população,
para Angélica, a pandemia foi um momento
muito assustador e atrelado ao medo e angústia, ela
perdia trabalho atrás de trabalho. “Foi um período de
bloqueio, eu não consegui escrever pro “Tô na Porta”, não
conseguia escrever uma linha do meu livro e meu trabalho
no UOL, que durante muito tempo foi o único fixo que eu
tinha, era um custo... Eu tinha que escrever um texto por
semana... Eu tenho né. E cara, eu levava horas e parecia
que eu estava amarrada. Foi muito complicado.”
O bloqueio durou em torno de 3 a 4 meses, até o
momento que ela percebeu que não poderia continuar
dessa forma. Se imaginar sem saída, no fundo do
“
A gewe que é LGBT sfe, o
quawo muda a vida da gewe, a
gewe se aceiar, se sewir parte
de uma comunidade, de não se
sewir sozinho no mundo. Ewão,
nossa... Esse foi o meu maior
prêmio. E não, não era uma
coisa que eu tinha imaginado.
poço, não era algo que fazia parte do seu dia a dia.
Angélica começou a se forçar a escrever para sua
página, o “Tô na Porta”, e ainda começou a lançar
vídeos no próprio Instagram porque queria ajudar as
pessoas, passar informações sobre aquilo que conhece.
Daí começou sua série de vídeos no IGTV, sobre
sexualidade, técnicas de comunicação, relacionamentos
e muitos outros conteúdos.
Assim como qualquer projeto novo, Angélica sentiu
um friozinho na barriga, porque ambos eram coisas
novas, e de uma forma ou de outra, era um pedaço
dela que estava sendo exposto. Mas o retorno das
pessoas, cada dia mais positivo, motivou-a a continuar.
“Comecei a receber muitas mensagens de pessoas dizendo
assim ‘vi o vídeo tal seu e me deu força para esquecer minha
ex’ ou ‘vi o vídeo seu falando como foi mudar de
cidade, porque que você fez essa escolha de mudar para
praia, que você seguiu seu sonho e isso me deu vontade de
fazer a mesma coisa, seguir meu sonho’. E cara, isso não tem
preço”. A partir desse momento, a vida foi caminhando
ao normal. Voltou a escrever, sem o sacrifício de
antes, para sua coluna na Universa, escrever para o
“Tô na Porta”, e principalmente, os trabalhos começaram
a chegar novamente.
Angélica relembra que nesse período de bloqueio,
o que a ajudou foi aceitar a dor, o medo, a aflição e
entender que era um momento difícil, não só para
ela, mas para todas as pessoas. Então, ela fez um trato
consigo mesma: “vou ficar na bad até tal dia, uma
semana, um mês, que seja, o tempo que for necessário, mas
depois acabou”. E pronto, assim, percebeu que tinha
15
Reprodução: Instagram de Angélica Martins
a obrigação consigo mesma de acordar para vida, de se
movimentar. Da mesma forma que a dificuldade de
escrever chegou, sua capacidade de transformar
palavras em sentimentos retornou. Inesperadamente.
“Então assim, ‘ah, meu Deus do céu’, quero escrever pro “Tô
na Porta” e não tenho ideia? Fico ali com a caneta e papel
na mão e vou anotando. Tenho quatro cadernos espalhados
pela casa, caneta espalhada por tudo quanto é lugar
também para não perder as ideias. E quando não consigo
produzir, fico ali de papel na mão até que vira alguma coisa.
E é mais ou menos assim que acontece.”
O “Tô na Porta”, para Angélica, não é só uma
página de poemas, de cantadas, poesias, o que seja.
Para ela, o que tem mais de especial no seu projeto, é
escrever à mão. “Minha letrinha é horrível e taí outra coisa
que coloquei para julgamento (risos). Sem medo de ser feliz.”
E o mais engraçado de tudo: dependendo do seu emocional,
o formato ou tamanho de letra muda também,
e as pessoas que a acompanham começaram a perceber.
Quando a página completou um ano, Angélica
resolveu fazer algo comemorativo e lançou um livreto,
estilo moleskine, e no final de 2021, pretende lançar
sua segunda edição. Dessa vez vai ser diferente e com
a participação de alguns seguidores. “Estou trabalhando
nisso. Está bem legal e bem bonitinho”.
`
Jornalista A Atriz: suas inumeras facetas
Apesar de se considerar uma pessoa tímida, Angélica
sempre gostou muito de comunicação. Na adoles-
´
16
cência, participou de alguns clubes de teatro, fez
cursos livres, e até mesmo prestou um exame na banca
do Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos
de Diversões do Estado de São Paulo) e
passou. Tirou o registro como atriz aos 17 anos, mas
só oficializou os documentos aos 19.
Angélica ainda chegou a cursar Publicidade e
Propaganda, mas sua verdadeira paixão estava no
Jornalismo. Entrevistar pessoas e escrever sobre determinados
assuntos fazia os seus olhos brilharem.
Então, enquanto a comunicação possibilitava a ela o
poder de transitar em diversos mundos, atuar a possibilitava
viver diversos personagens. Ativa no mercado
de comunicação há mais de 10 anos, atualmente, ela
escreve para o site Universa sobre feminismo, resistência
LGBTQIA+, diversidade, comportamento, sexo e
outros.
Aos 36 anos de idade, Angélica decidiu que precisava
se dedicar a novos sonhos. Encerrou sua carreira
de DJ, mudou para uma cidadezinha de 50 mil habitantes
e direcionou seus talentos a outros projetos.
Uma das coisas que mais possui sua atenção atualmente
é o livro autobiográfico que está escrevendo:
“Já tenho muita coisa escrita, de muitas memórias e muitas
histórias. Não vai ser só uma biografia para as pessoas
conhecerem mais da minha vida, vai ser uma biografia que
pretende mostrar alguns caminhos, para as pessoas que tem
interesse nas áreas de comunicação, jornalismo, influência
digital, carreira artística, que foi parte da minha vida durante
muito tempo e é de certa forma até hoje.” Provavelmente,
devido a atrasos inesperados, seu exemplar só deve
ser concluído no ano que vem.
Nos últimos tempos, começou a participar como
atriz em projetos audiovisuais. No final do ano passado,
lançou a websérie “Conto de Natal” e no primeiro
semestre de 2021, lançou o trailer do seu curta-metragem,
“Alex”, em parceria com Giul Abreu. As atrizes
começaram as gravações do curta com o mínimo de
recurso possível, sem roteiro, sem produção e somente
com um celular. Quando elas se encontraram, colocaram
em um papelzinho a estrutura do que de fato
seria a história, o que consideravam importante ou
não, mas o principal: se tratava de uma história de
amor tendo a tecnologia como pano de fundo. Assim
surgiu o novo projeto das duas, um curta com 80% de
improviso. Angélica ainda destaca (aos risos): “Foi um
trabalho muito legal, muito inédito e não tinha feito nada
nesse sentido até então. E estou louca para fazer mais...
Gostei muito.”
Infelizmente, “Alex” ainda não tem data de estreia
e ainda não foi revelado a plataforma que o curta será
exibido. Além desse projeto, Angélica afirmou que
tem outro trabalho engatilhado, que já está na fase de
edição e tem uma pegada bem mais erótica. Para ela,
não existem produções nesse sentido no Brasil e por
isso, está investindo cada vez mais nesse espaço.
only fans: o poder do julgamento
“Eu não deixo de ser Angélica, eu não deixo de ser a
Morango, por ter uma conta no Only Fans”
Julgamento é uma coisa que acontece todos os dias.
Às vezes, seu primeiro pensamento ao conhecer uma
pessoa nova é composto de julgamento. Julgar o modo
de vestir, julgar a forma de falar, julgar o lugar de onde
veio. O que mais existe nesse mundo são diferentes
maneiras de julgar o próximo. Para Angélica, a
opinião dos outros não impacta diretamente sua vida
e esse é um dos motivos pelos quais ela não se importa
com a forma que as pessoas reagem ao saber que ela
tem uma conta no Only Fans.
Mas afinal, o que é o Only Fans? É simplesmente
uma plataforma em que as pessoas podem criar conteúdo
exclusivo e receber dinheiro por isso. Um sonho
de muita gente, né? Ganhar para postar nas redes
sociais. O aplicativo, que existe desde 2011, é composto
em sua maioria por artistas e produz bastante
conteúdo voltado para o público adulto. Morango
tem uma conta lá e atualmente tem uma média de 60
assinantes por mês, consumindo seus posts e apoiando
seu trabalho.
Da mesma forma que seus outros projetos, como o
“Tô na Porta”, IGTV, produtos audiovisuais, o Only
Fans foi uma novidade na sua vida e gerou um frio na
barriga. Estar na plataforma gerou e ainda gera muito
julgamento das pessoas, inclusive daqueles que deveriam
apoiá-la. “É muito doido porque existe esse julgamento.
Existem várias vertentes femininas e algumas feministas,
algumas delas inclusive, são contra qualquer tipo de produção
de conteúdo erótico.” Mas mesmo com tantas pessoas
apontando o dedo, ela não desistiu.
Para Angélica, conteúdo pornográfico ou erótico
não é uma coisa limitante. Há um campo vasto de
atuação, e as pessoas devem, além de reconhecer que
existem muitos problemas na produção de conteúdo
erótico e criticá-los, considerar que nem tudo é uma
coisa só. “No Only fans, por exemplo, todas as pessoas que
abrem uma conta é que determinam o que vai ser publicado
lá, qual o limite dela, o que ela vai aceitar, o que ela não vai
aceitar.”
Morango entende que a plataforma a deixa livre e
nos meses que está produzindo conteúdo para seus
assinantes, nunca se sentiu pressionada para fazer algo
que não quisesse. Mas assim como diversas outras
plataformas que possibilitam esse tipo de empoderamento
e liberdade para as pessoas, especialmente as
mulheres, ela reconhece que existe a crítica, o boato e
principalmente, o julgamento.
Para as mulheres que querem se aventurar no Only
Reprodução: Instagram de Angélica Martins
Fans, o conselho de
Angélica é: “Pensem bem.
Assim como qualquer outro
tipo de atividade, pensem
bem. Mas a partir do
momento que você decidiu
fazer, você determinou
como é que vai ser o seu
trabalho, divulgue o seu
trabalho. Não importa se
você vai vender bolo de
pote, se você vai vender
brigadeiro, você tem que
estruturar como é que você
vai fazer aquilo. Como é
que vai ser a embalagem, e
a sua divulgação.”
Críticas existem em
qualquer lugar e para ela
não foi diferente. Seja
no Only Fans, ou em
qualquer outra plataforma,
pessoas irão julgar o
seu comportamento,
mas a única coisa que
resta a você é se deixar
afetar ou seguir em
frente. E para Angélica
Morango, ser o que ela
é, é o que a torna especial.
Porque mesmo que
não faça nada, ou
mesmo que esteja se
movimentando todos os
dias, sempre vai existir o
julgamento da outra
pessoa. Mas ela escolheu,
apenas e simplesmente,
viver.
“
É muio doido porque exime esse julgamewo. Eximem várias
vertewes femininas e ggumas feminimas, ggumas delas inclusive,
são cowra qugquer tipo de produção de coweúdo erótico.
Entrevista por:
Karolen Passos
Melissa Marques
Bruna Fentanes
Baiana, designer e estudante de jornalismo. Acredita que
vive em seu próprio conto de fadas e se divide entre suas
duas obsessões: livros de romance e séries teen.
“
18
“
Foto: Vânia Toledo
Qupo escrevo, não me assemelho a
ninguém, nem a mim mesma.
“
CASSANDRA RIOS
A mulher que a historia apagou
Estamos vivendo tempos em que existem
diversas autoras de livros LGBTQIA+: obras
que são baixadas, compradas e transformadas
em obras audiovisuais. Existe também
uma mulher que foi primordial para abrir
caminho para esse tipo de literatura no
Brasil, mas foi "desaparecida" da história
literária do país.
Cassandra Rios, pseudônimo de Odette
Peréz Rios (03/10/1932 – 08/03/2002), foi
a precursora em falar a respeito de erotismo,
prazer feminino e relacionamento entre
mulheres, e, por conta disso, Cassandra se
viu silenciada pelo governo ditatorial.
Em 1948, com seu primeiro livro, “A
volúpia do pecado”, que foi financiado pela
própria mãe, Cassandra havia se tornado a
primeira autora de romances voltados para o
público LGBTQIA+ feminino. O sucesso foi
imenso.
Ela, que já escrevia alguns contos para o
jornal “O Tempo”, se tornou a escritora, editora
e distribuidora de seus livros. “A volúpia do
pecado” teve diversas tiragens até 1962. Foi aí
que a autora caiu no radar dos militares,
tendo como consequência, durante o período
da Ditatura Militar (1964 – 1985), seus
livros censurados e proibidos. Foram cerca
de 30.
pseudônimos para continuar a publicar. A censura não a impediu de continuar a escrever, pelo contrário, fez
com que vendesse mais e mais, chegando a superar nomes como Érico Veríssimo e Clarice Lispector. A autora
chegou a vender um milhão de exemplares no ano de 1970.
Ela se tornou também a primeira mulher escritora nacional a viver somente do lucro de seus livros. No
entanto, nos anos 1970, a perseguição às suas obras se tornava cada vez mais intensa e isso fez com que Cassandra
se tornasse uma reclusa. Ela falava que, apesar de tudo, a ditadura foi sua maior propagandista. Toda polêmica
em torno de suas obras, o título de escritora maldita fizeram fama. Em 1977, escreveu sua primeira autobiografia:
“Censura – minha luta, meu amor”. Apesar de tudo isso, no final da década, Cassandra se viu em uma
situação financeira difícil e se desfez de diversos dos seus bens, como a Livraria Cassandra Rios (também
conhecida posteriormente por Dracma e Drugstore e ficava localizada na Galeria do Rock no centro de São
Paulo).
Algumas de suas obras foram adaptadas para outras plataformas, como teatro e o cinema. Nas telas, “Ariella”
(1980), baseado no romance “A paranóica” (1952), foi o mais conhecido. Além deste, mais dois romances
foram adaptados, sendo eles “Tessa, a gata” (1982) e “A mulher serpente e a flor” (1983).
Na década de 1980, a escritora apresentou um programa nas rádios Bandeirantes e São Paulo. Em 1986,
chegou a se candidatar à deputada estadual, porém não foi eleita. Ela continuou a escrever, inclusive deu
início a uma segunda autobiografia.
´
19
A década de 1990 foi marcada por muita
reclusão e a descoberta de sua saúde frágil, o
que fez Cassandra retornar para a fé (era
frequentadora da Igreja Messiânica e acreditava
na cura pelo Johrei). Sendo assim, recusava-se
a usar remédios alopáticos e acreditava
na cura pela Luz Divina. Sua segunda
autobiografia, “Mezzamaro, Flores e Cassis”,
publicada em 2000, mostra toda a dimensão
trágica e dos sentimentos dela em relação à
doença que a consumia, um tumor, mais
precisamente, um câncer colorretal. Devido
a isto, ela se tornou completamente reclusa, e
dizia que as pessoas não queriam estar em
torno de uma moribunda.
Apesar de toda a escrita transgressora e
quebradora de tabus, Cassandra se considerava
uma pessoa conservadora e muito fechada
quanto a relacionamentos. Não dizia que
era lésbica, apesar de suas escritas e boatos de
mulheres próximas, e chegou a ser casada
com um amigo gay somente para que os dois
pudessem viver em liberdade de suas famílias
conservadoras. Ela disse que era celibatária
devido a uma promessa feita à mãe e não teve
filhos.
Cassandra faleceu em 2002, na época, teve
ajuda da então Dep. Luiza Erundina, para se
estabelecer em um bom hospital.
Odette buscou na mitologia grega o nome
de Cassandra, e as referências a esta aparece
em diversas obras. Há quem diga que sua
bibliografia chega aos mais de 40 livros publicados,
mas alguns foram perdidos devido a
todo veto e censura.
Foto: Reprodução via G1
“
Ela se torno também
a primeira mulher
escriora nacsg a
viver somewe do lucro
de seus livros.
“
França Louise
Fã incondicional de Grey’s Anatomy. Mora em SP mas ama viajar. Viciada em livros de
fantasia e romances policiais, espera um dia poder ter tempo de colocar a suas leituras e
séries em dia.
Foto: Reprodução via Fantasmas Solitários
Foto: Reprodução via Documentos Revelados
20
O patrimônio imaterial do Recife: a gaia
No Centro do Recife, contei uma história incomum
sobre traição e justiça
Numa segunda-feira, um sol estonteante cegava o Recife e a bolsa desta estudante de Psicologia,
feita de couro falsiê — daquele bastante borrachudo — não aguentou e começou a se desfigurar.
Foi pelas ruas paralelas à Conde da Boa Vista, numa barraca onde sempre ajeitam
minhas descosturas, que conheci a justiceira social do amor. Baixinha, branca e com a testa
vermelha queimada de sol, com uma pochete rosa e um boné da Cyclone na cabeça, Maria
falava com as duas costureiras. A mais nova estava sentada num balde virado, fechando um
buraco numa chuteira verde neon. A outra, que entendi ser a sua mãe, era uma idosa negra e
com um longo cabelo grisalho. De camiseta rosa, começou a ajeitar minha bolsa deitada num
papelão estirado na rua suja.
“A minha vizinha só vai sentir a besteira que fez quando levar bala”, resmungou a velha. Me
abaixei para escutar melhor e ela repetiu o resmungo. A mais nova riu. Eu olhei — mal dava
pra ver seus olhos escondidos pelo boné e pelo fundo de garrafa — e ela apontou para Maria.
Aguardando sua sandália ficar pronta, Maria olha para mim e dispara à amiga: “Que nada,
eu gosto dela, ela gosta de mim e é essa safadeza mermo. Eu gosto de ficar com ela e ela gosta
de mim”. A costureira mais nova, com agulha entre os dentes, alerta: “Toda vez é isso, mas
agora tu vais se lascar. Tanta mulé no mundo e tu vai ficar logo com uma que some do nada?
Tá pedindo pra sofrer, mulé”.
Com as sobrancelhas franzidas, Maria levanta e tenta parecer maior: “Que nada! Tenho
medo de sofrer, não. E tu sabe que eu só gosto assim!”. A sapateira mais nova provoca: “A bicha
volta daqui num sei quantos dias, num dá noticia e não deixa nem um número de celular pra
ligar. Tu aguenta esse rojão?”. A mais velha, apontando a agulha para Maria, disparou rindo,
com ares de profeta: “Tu vai é levar uma gaia do tamanho do mundo, safada! Todo mundo lá
perto de casa sabe que ela some assim pra botar ponta em tu.”
Ainda perplexa com a situação, pela coisificação de
uma mulher que não conheço, perguntei quem seria
essa. A sapateira mais nova me disse que se trata da
mulher mais safada do Coque.
“Oxe, deixa ela! E escuta essa, visse? Ontem
eu fui subir a favela e a ex tava lá, no bar de
Toninho. Ficou me olhando, e eu ainda
subi pra ficar com a ex mulé dela”, contou
Maria, quase dando pulos e se projetando
para frente. Nesse momento, questionei o
porquê de ela se envolver logo com uma
mulher que vive traindo-a e sumindo. Até
uma estudante de classe média sabe que “talarica
morre cedo”.
“Eu num gosto de sair com muita mulé, não sou
raparigueira, meu negócio é mulé safada. E outra: eu
gosto de botar gaia em gente perigosa. Se eu vejo que a mulher
é trouxa, eu não faço nada. Agora, se a mulher é traficante,
matadora, se bate nas boysinha ou essas besteiras, eu vou
mermo! É pra ela sentir na gaia o mal que faz ao povo”,
afirmou Maria, com toda a pompa de justiceira social.
Uma velha manca, com a pele vermelha queimada de
sol, se aproxima da conversa e dá um tapa nas costas da
justiceira social incomum. “Eita, gota, Maria, fiquei
sabendo que tu vai morrer!”, disparou a senhora,
cega do olho direito, gargalhando com seus cabelos
grisalhos. Maria fitou o nada por alguns segundos,
com olhar sem expressão. Não demorou para que
21
brincasse com a idosa: “Vamo comigo resolver o problema?”.
Minha bolsa ficou pronta. Olhei a costura e a velha avisou-me
que devia só R$ 3. Dei uma nota de R$ 10 e ela perguntou a mais nova se ela
tinha troco. Com a negativa, deu um assobio grande e chamou alguém identificado como ‘Neguinho’.
Neguinho se aproximou com sua bike e, ao contrário do que pensei, não era jovem.
Era um idoso que chegou com a camisa de botão aberta e mostrando sua pança redonda com
o umbigo para fora. Antes de pegar a nota da costureira para trocar o dinheiro, disparou para
Maria:
“Ei, mermã, tu tá metida a corajosa agora, né? Fiquei sabendo que tu tá marcada pra levar
bala! Se eu fosse tu, só voltava pra casa quando a corna voltar pro presídio”.
“Meu irmão, quando ela voltar pro presídio, eu vou mandar é áudio falando que vou casar
com a mulé dela”, respondeu Maria. Todos riram e a costureira mais nova disparou: “Manda
logo um vídeo! É bom que tua cara fica gravada”. Peguei meu troco,
minha bolsa e, mesmo perplexa e curiosa pela possibilidade da morte
desta “justiceira” incomum que acabara de conhecer, apenas agradeci
o serviço.
Quando dei as costas, Maria me provocou, rindo: “Ei, tu que é
grande, me dá teu número pra gente resolver essa parada!”. Escutei a
gargalhada geral, respondi que “sou ruim de briga” e desejei-lhe
apenas boa sorte.
Não sei qual foi o destino da justiceira social incomum, mas, desde
então, passei a escutar com mais atenção o Bandeira 2 e ler o Aqui PE,
esperando não encontrar seu nome no subtítulo de uma manchete
que anuncie “crime passional”.
*Esta crônica é baseada em diálogos reais. Para preservá-los, os
nomes dos personagens foram alterados.
Maria Izabelly Lopes
Izabelly Lopes é estudante de Psicologia e quando ninguém está
olhando, escreve e compartilha seus questionamentos e descobertas.
Nas horas vagas finge que é adulta, mas é obcecada por clichês
adolescentes, filmes cults e música pop. É recifense por destino,
mas sonha em sair por aí abraçando o mundo.
Foto: Divulgação
22
RED:
inicio, meio e fim
´
Oano era 2014, tudo era “mato” – e tão
“mato” que nem “Carmilla”, uma das
webséries LGBTQIA+ mais conhecidas,
tinha lançado. Em setembro, o mundo
conhecia a história criada por Germana Belo e Viv
Schiller, com direção de Fernando Belo, através da
plataforma Vimeo. “RED” nos apresentava Mel (Luciana
Bollina) e Liz (Ana Paula Lima), que contracenam
durante as gravações de um filme e levam o relacionamento
para a vida real.
Com uma narrativa delicada e uma direção que
acompanha em perfeito uníssono – ou como já disse
anteriormente, com finesse à la Olivier Assayas –, a
produção não só conquistou o público brasileiro
como também o internacional. Foi indicada a diversos
prêmios, inclusive tendo vencido alguns deles
como o NYC Web Festival, na categoria Melhor Websérie
de Língua Estrangeira, e o Rio WebFest, de Melhor
Atriz Dramática para Bollina.
“RED” não seria tão boa somente com narrativa e
direção: Luciana e Ana Paula conseguem ter uma
química singular, tornando impossível ao espectador
não acreditar no relacionamento que elas protagonizam
em cena. E claro, além dos nomes principais, a
série é composta por personagens que ganham vida
através das atuações de atrizes como Monique Vaillé
(Anna), Elisa Riqueza (Gaia), Gaby Haviaras (Rafa),
Bella Carrijo (Victoria), entre outras. E parece que
todos ali foram escolhidos a dedo, porque funcionam
numa sincronia difícil de não se ver cativado.
Durante seis anos, a produção nos fez sorrir, chorar,
refletir, passar raiva e torcer pelo final feliz que todos
almejamos alcançar. Assim como tudo na vida, a
história de Mel e Liz – ou #Meliz – se aproximava do
fim (ou seria apenas o começo?) e em janeiro de 2020
foi anunciado que a sexta temporada seria a final. Era
isso. “Red”, que tanto fez pelo público feminino LGB-
TQIA+ e para os artistas que por ela foram inspirados
a contar suas próprias tramas, encerraria sua jornada.
Aqueles personagens que nos conquistaram, as trilhas
sonoras inesquecíveis, a narrativa perculiar de Germana
e Viv, a direção refinada de Fernando, a arte tão
cuidadosa nos detalhes, nos deram adeus definitivo
no dia 22 de março de 2021, quando foi ao ar o
último episódio da sexta temporada com o tão esperado
casamento #Meliz. O gosto agridoce ficou na boca:
23
amargo pelo fato de saber que não teríamos mais
aquela narrativa para acompanhar e doce por ter feito
parte de algo tão primordial, único e importante que
foi e sempre será “RED”.
Conversamos com o elenco, com as roteiristas e o
diretor sobre o furacão que foi esta websérie, e trazemos
para vocês abaixo:
Germana Belo e Viv Schiller (Roteiristas)
Karolen Passos: Como foi que surgiu a ideia para criar
RED? E por que a escolha do nome RED?
Viv Schiller: Falando por mim, a ideia surgiu da
vontade de contar uma história que eu gostaria de
assistir e que fosse uma produção nacional com narrativa
independente, sem as restrições que costumávamos
ver na TV e nos filmes nacionais.
Germana Belo: RED é o nome do curta-metragem
em que Mel e Liz trabalham durante a primeira
temporada. A ideia de RED surgiu do nome "Scarlet"
(ou "escarlate") dado à personagem do curta, já que
escarlate é um tom de vermelho. Nós achávamos que
a simbologia da cor - que significa paixão, sensualidade,
feminilidade, entre outras coisas - tinha tudo a ver
com nossa temática, então, acreditávamos que seria
um bom título para a série também. Além disso, como
já pensávamos na série como um conteúdo voltado
para um público global, imaginávamos que a palavra
em inglês ajudaria a comunicar o título a mais pessoas.
KP: De todas as cenas construídas ao longo dessas seis
temporadas, existe alguma, em particular, que tenha sido
algo que você sempre quis ver em alguma produção nacional?
VS: O casamento de Mel e Liz foi uma cena que
queria muito ver acontecer e que foi pensada para ser
realizada desde o início.
GB: Não uma em particular, mas, no geral, todas as
cenas que retratam, de forma menos ou mais explicita,
a sexualidade e afetividade lésbica/bissexual feminina
de maneira natural. Além disso, o que “RED”
trouxe e que, até hoje, infelizmente, não é tão comum,
é o protagonismo dessas mulheres, histórias em que
elas estão no centro da narrativa.
KP: “RED” foi e continua sendo muito significante na vida
de muitas mulheres LGBTQIA+, afinal, foi a primeira
websérie nacional voltada para este público. Entretanto,
“RED” não só tem um fandom brasileiro como também de
diversos outros países. Ela foi feita com essa intenção de se
24
globalizar? E vocês esperavam por tanto sucesso?
GB: Como falei anteriormente, sim. Desde o início,
nossa intenção foi criar um conteúdo de nicho,
porém, voltado para um público global. Nós sabíamos
que existia essa demanda e que a distribuição
pela internet possibilitaria o acesso de pessoas em
qualquer parte do mundo. Nós tínhamos a expectativa
de que haveria interesse, mas não imaginávamos
que o projeto teria todo esse impacto e alcance.
VS: Eu sempre considerava que minha missão
estaria cumprida ao tocar ao menos um coração
com essa história. Hoje, tocamos milhares. É absolutamente
lindo ver pessoas de outras nacionalidades
se encantando com Mel e Liz (e todas as demais
personagens).
KP: Depois de “RED”, muitas webséries com temática
LGBTQIA+ feminina surgiram, e muitos dos roteiristas,
produtores e diretores comentam que “RED” os inspiraram.
Como vocês se sentem sabendo que a sua websérie
abriu portas também para esses artistas?
VS: O mais interessante foi ver que “RED” inspirou
criações para além da temática LGBT+, mobilizando
pessoas a criarem suas próprias histórias para a
web. Guardo com carinho cada experiência compartilhada
com essas pessoas que hoje são criadores
reconhecidos no meio digital. Saúdo todos eles pela
coragem, pelo talento e pela vontade de fazer acontecer.
O mercado de audiovisual independente no
Brasil não é fácil.
GB: Fico muito feliz de saber que “RED” inspirou e
encorajou outros criadores a realizarem suas
próprias produções de maneira independente. É
muito bom saber que, de alguma maneira, contribuímos
para que essas outras histórias fossem contadas.
KP: Qual personagem era o mais divertido de construir as
cenas?
VS: Eu adoro comédia. Eu sou apaixonada por
personagens que carregam em si uma dose de
humor ácido. Eu gostava muito de escrever as histórias
da Anna, personagem da Monique Vaillé.
Monique é uma amiga querida e uma atriz maravilhosa.
Felizmente ela aceitou o convite para ser a
Ana. Sou grata pelo talento e pela dedicação dela.
GB: Acho que a Anna era nosso maior alívio
cômico, então, diria ela.
Reprodução: via instagram Germana Belo
KP: Você se identifica mais com algum personagem?
VS: Não acho que tenho identificação com algum
personagem. Eu tenho carinho por todos eles, em especial
pela Liz e pela Scarlet.
GB: Eu me identifico com a Liz no sentido de ser uma
pessoa introspectiva. Não que eu me identifique mais
com a personagem no todo, mas com essa característica
em especial.
Fernando Belo (Diretor)
KP: O que você sentiu quando leu o primeiro script de
“RED”?
25
Reprodução: via instagram Red Brasil
set de filmagem, fazer direção de fotografia, editar. Aquele
começo em que tudo era uma folha em branco para gente fazer
o que quisesse foi muito legal.
Fernando Belo: Não quando li o primeiro
roteiro de “RED”, mas quando conversei
sobre “RED” pela primeira vez com a
Germana, fiquei empolgado com a perspectiva
de trabalhar num projeto nosso, com a
liberdade de criação que um trabalho independente
permite, ajudando a dar visibilidade
a narrativas com pouco espaço na mídia
e de ampliar as minhas possibilidades artísticas.
“RED” foi a minha primeira vez como
diretor e produtor audiovisual e foi uma
grande escola nesse sentido, quase uma
faculdade mesmo, onde eu aprendi na prática
do dia-a-dia do projeto como liderar um
KP: Existe alguma cena, dessas seis temporadas, que tenha sido mais
difícil de realizar? Se sim, qual ou quais?
FB: Para mim a cena do casamento do final da série foi a mais
difícil, sem sombra de dúvidas. Foi um dia de gravação complicado,
com vários detalhes de direção e produção que eu tinha
que cuidar ao mesmo tempo. Como era uma diária cara para
produção, a gente tinha poucas horas para gravar um monte
de cena. O elenco quase todo estava lá, era o último dia de
gravação e todo mundo já estava cansado, até faltou gás para
fazer almoço para todo mundo. Quando gravamos as cenas
finais do dia, a tarde estava acabando e estávamos perdendo
luz, e eu só tive tempo de gravar dois takes da cena que faltava
para terminar o dia antes de anoitecer e não conseguirmos
gravar mais nada. Assim que a diária acabou, eu me deitei no
sofá da locação e quase dormi ali mesmo. Mas valeu à pena
26
porque o resultado ficou muito bonito.
e não projeta no outro preconceitos.
KP: “RED” trabalha bastante com planos detalhes, isso foi
uma decisão sua ou em conjunto com as roteiristas? E por
que essa decisão de trabalhar bastante em cima desses
planos?
FB: O trabalho de direção e de fotografia eu fazia
sozinho mesmo, pensando como o trabalho de
câmera podia ajudar a contar a história criada pelas
roteiristas. A composição dos planos e quadros era
feita pensando em criar uma relação de intimidade do
público com a história, com o universo interior das
personagens, com seus pensamentos, emoções. A
ideia era sempre ampliar a história contando com
imagens o que as palavras não revelavam.
KP: Com qual personagem você gostaria de passar um
tempo conversando?
FB: Eu ia gostar muito de sentar para falar besteira e
tomar um chopp com a Anna.
Ana Paula Lima (Liz)
KP: Quando você leu pela primeira vez o script de “RED”,
o que você sentiu? Você se identificou de primeira com a Liz?
Ana Paula Lima: Senti que era uma história interessante
e importante a ser contada. Não me identifiquei
de imediato com a Liz porque somos muito diferentes,
mas logo que li, senti que aquela seria a minha personagem,
talvez porque as características da Liz eram
algo que me foi apresentado em outros trabalhos. Mas
ao longo da série, fomos nos encontrando e ela foi
muito mais do que eu poderia imaginar, no final, ela
me escolheu (risos), me apaixonei pela Liz.
KP: Se você pudesse conhecer a Liz, conversar com ela, para
onde a levaria e o que falaria?
KP: Se você pudesse interpretar qualquer outro personagem
de “RED”, quem você escolheria e por qual motivo?
APL: Escolheria a Anna, acho a personagem divertida,
leve, um contraponto essencial na história. A
Monique arrasou como Ana, sempre fiquei com
vontade de ver mais da personagem e de ter mais
cenas juntas.
Gaby Haviaras (Rafa) e
Bella Carrijo (Victoria)
KP: Rafa é uma personagem que demonstra ser bem resolvida
com quem ela é e mesmo nos momentos que admite ter
alguma espécie de sentimento pela ex (Liz), ela demonstra
compreender bem isso e lidar bem também. Como foi ler o
script e encontrar essa personagem?
Gaby Haviaras: Quando li a Rafa pela primeira vez foi
um presente. De partida ela já me parecia ser bem
resolvida com este amor "de Liz". Além disso, me
encorajava a construir uma personagem que também
fosse bem resolvida nas outras áreas da vida, o texto
dava muito esta informação, e a segurança que a Liz
depositava nela. Para conhecer uma personagem, não
se lê apenas o que ela fala sobre ela e suas relações,
mas também o que as outras personagens falam sobre
ela. Então ler o que Liz descrevia da Rafa e falas da
Mel, a ajudaram a apontar este lugar de uma mulher
segura de seus propósitos e desejos.
KP: Victoria, assim como a Rafa, parece ter uma vida
equilibrada, entretanto, diferente da citada acima, seus
sentimentos pela Mel, por vezes, parecem ficar no caminho,
até mesmo impedindo-a de enxergar outras pessoas ao seu
redor. Como foi interpretá-la e encontrar essa personagem?
APL: Eu a levaria para uma ilha deserta e descobriria
todos os seus segredos (risos).
KP: “RED” foi e continua sendo muito significante na vida
de muitas mulheres LGBTQIA+, afinal, foi a primeira
websérie nacional voltada para este público. Como você se
sente sabendo que tantas mulheres LGBTQIA+ foram
inspiradas pela Liz?
APL: Sinto-me feliz em saber que a personagem inspirou
muitas mulheres a serem elas mesmas. Encorajou-
-as a se amarem e se aceitarem. Sinto a Liz uma
mulher muito livre, mesmo com todas as suas confusões
internas, ela não tem medo da sua sexualidade e
Bella Carrijo: Como entrei num trabalho que já
estava rolando, com as engrenagens funcionando – e
funcionando bem – foi tranquilo chegar junto e seguir
no fluxo. Tive alguns encontros com o Fernando para
entender sobre a direção, e com a Germana para
entender as expectativas que ela tinha dessa personagem.
Mas o gostoso foi ver que tínhamos muitos
encontros em relação à Vic! Depois de falarmos sobre
esses caminhos e possibilidades, embarquei na pesquisa
pessoal e fui para o set. Lembro que minha primeira
cena foi com a Lu, e era o reencontro entre a Mel e
a Vic, que voltava da França depois de anos. Eu não
conhecia a Lu, foi nosso primeiro contato - e já numa
cena com muitas emoções envolvidas. Mas como ela é
27
uma atriz que, além de talentosa, é super disponível,
e ainda fomos guiadas pela direção tão preciosa e
segura do Fernando, foi uma delícia fazer. Nesse
momento eu terminei de entender tons e cores que
ia usar e com que pinceladas ia construir essa personagem.
KP: De todas as cenas que você realizou, existe alguma na
qual tenha uma memória especial, seja ela engraçada ou
emocionante...? E existe alguma cena que tenha sido mais
difícil de conseguir realizar?
GH: Tem uma cena bem linda na última temporada,
quando a Liz está almoçando com a Rafa em casa, e a
Rafa diz para ela encarar o amor que ela tem pela
Mel. Há ali, para mim, uma troca de carinho, encorajamento,
cumplicidade, confiança e lembro que eu e
Ana nos emocionamos também. É como alguém que
você confia muito te dá a mão e diz: vai lá, vá ser feliz,
você merece e qualquer coisa estou aqui. E na gravação
da cena do casamento nos emocionamos muito
no set, pela primeira vez o elenco todo reunido, foi
lindo.
BC: Nossa equipe no set sempre foi uma delícia,
todos super unidos! Claro que tem cenas mais
difíceis que precisam da concentração de todos, mas
o set sempre foi muito leve. Era sempre gostoso sair
de casa para gravar e encontrar todo mundo. De
memória especial, eu guardo duas: uma foi o poema
em francês, que fiquei super preocupada, treinando
para falar perfeito (risos)! Pedi a uma amiga atriz, que
mora há anos em Paris para gravar a referência do
texto… Ouvi mil vezes! E a outra foi a cena em que o
Fernando pediu para eu levar um trecho de um livro
que tivesse a ver com a personagem para gente fazer
um IGTV. Estava lendo “Duas Iguais”, um livro maravilhoso
da Cíntia Moscovich, que também tem temática
lésbica, e encontrei ali não só um, como vários
textos que faziam sentido para nossa cena. E falar
aquela história ali foi super emocionante, e bateu tão
forte que hoje estou produzindo a adaptação desse
livro para fazer no cinema.
Reprodução: via instagram Red Brasil
Reprodução: via instagram Red Brasil
KP: O final da série deixa a dúvida se Rafa e Victoria
terminaram juntas, como um casal romântico ou apenas
amigas. Qual você gostaria que fosse o futuro dessas duas?
GH: Eu acho que grandes amigas. Penso que a Rafa
não sentiu muita confiança em se jogar nessa possibilidade
de construir algo com a Victoria pois era uma
amizade muito entrelaçada, Mel, Liz... tudo muito
confuso. E a Victoria deixava bem claro ainda seu
brilho nos olhos pela Mel, então creio que se sentiu
Reprodução: via instagram Red Brasil
mais a vontade de fazer uma grande amizade.
BC: A Gaby é minha irmã na vida, nos conhecemos
na companhia de teatro da qual fazemos parte até
hoje (Cia de Teatro Íntimo, que está celebrando seus
16 anos). E com o tempo, o café do backstage acabou
se esticando paras nossas casas e entrando para nossas
vidas. Tem um espetáculo que fazemos juntas,
“ADÉLIA”, que estreou em 2010, foram mais de 100
apresentações em várias turnês pelo país… Então são
muitas viagens, muitos cafés, bolo e histórias juntas, e
encontrar minha amiga de vida no audiovisual, nessa
série linda, foi maravilhoso. Sobre Rafa e Vic juntas…
A gente sonhou muito com isso (risos)! Colocamos
muita pilha na Germana!
KP: Se você pudesse dar um conselho para a Rafa, qual
seria esse?
GH: Liz já tem um lugar de amor no seu coração, ela
já ocupa este espaço. Mas fechar este ciclo é importante
para que você abra espaço para um novo amor.
KP: E para a Victoria, qual seria?
BC: Dar conselho quando o assunto é coração é bem
delicado… Sentimento é sentimento, a gente não
escolhe sentir ou não, a gente sente. E ela tentou,
lutou até o fim pelo amor da sua vida. Enquanto
considerou que existia alguma chance ela marcou
presença, sem desrespeitar a relação de amizade que
elas sempre nutriram. Meu conselho seria fazer exatamente
o que ela fez! Ir até onde você acha que tem
que ir e seguir o coração, se respeitando e entendendo
os limites do amor-próprio e, claro, respeitando
também os limites que o outro te apresenta.
Monique Vaille (Anna) e Elisa Riqueza (Gaia)
´
KP: Anna é uma personagem que nos entrega momentos
divertidos. Por diversas vezes, saímos de cenas sérias e nos
deparamos com Anna protagonizando um momento que
provoca risadas na gente que está assistindo. Como foi
interpretá-la?
Monique Vaillé: Foi uma delícia! Anna é divertida,
alegre e está sempre disposta a curtir com suas amigas.
KP: Assim como Anna, Gaia é uma personagem que nos
entrega momentos divertidos. Como foi interpretá-la?
28
Elisa Riqueza: Quando recebi o convite para participar
de “RED”, e recebi o roteiro e primeiras cenas, já
percebi que Gaia era uma personagem bem alegre e
muito amiga da Mel, que passa por tantas coisas pesadas
ao longo da série, mas Gaia era um contraponto
de leveza e foi muito maravilhoso fazer! Eu seria
amiga da Gaia! E durante as filmagens toda a equipe
envolvida também era muito divertida, então eram
momentos de muita alegria sempre.
KP: Se você pudesse dar um conselho para a Anna, qual
seria?
MV: Não tenha medo de afeto. Acho que a Anna
passou as cinco temporadas morrendo de medo de se
apaixonar por alguém. Ela fugiu o quanto pode de se
envolver e acho que por medo.
KP: Depois dessas seis temporadas, você acredita que Gaia
seria a favor de Meliz terminando juntas, Mel ficando com
a Victoria ou Mel ficando sozinha?
ER: Ah sim, acho que Gaia seria Meliz total. Acho
que ela foi percebendo ao longo das temporadas que
o amor é transformador e isso a deixou mais tranquila.
Na verdade, a Gaia sempre teve medo de ver a
amiga sofrendo novamente, era proteção total, afinal
Gaia é uma amiga fiel como um cão e Mel já tinha
vivido experiências bem ruins no passado. Mel no
começo da série estava casada e vivendo um relacionamento
de paz e amor, pelo menos para uma das
partes, mas como na vida não temos controle de
nada, tudo mudou e Gaia achou isso uma maluquice
da parte de Mel. Era uma mistura de: "Ela só pode
estar maluca!" com " E lá vamos nós sofrer de novo".
todos
KP: Qual é a sensação de fazer parte de um projeto que
tanto significa na vida de mulheres LGBTQIA+?
BC: É muito difícil contar histórias do universo LGB-
TQIA+ num país como o Brasil, onde a gente tem
tantos casos de homofobia, e ainda temos tantas
pessoas com tanto preconceito… Foi uma honra absoluta
poder dar vida a uma personagem desse universo
que sempre foi tão reprimido e estigmatizado, numa
história tão especial. Fizemos uma história de amor,
que fala de pessoas que existem, e não tratamos o
universo com estigma, acho que esse é o grande
trunfo da série. Sempre falo que do público de “RED”
vieram os melhores e mais carinhosos retornos na
minha história profissional. E poder falar para quem
tem sede de ouvir, poder contar histórias para um
público que tem tanta carência de ver suas histórias
visibilizadas (embora isso já esteja mudando) foi
muito especial!
GH: Muita responsabilidade, junto com um orgulho
29
imenso de contar esta história. Quando o projeto
começou, nós estávamos num momento de lutas
diferente de hoje. Na nossa profissão não se discutia
muito "lugar de fala" na escalação de atores/personagens.
Homens héteros eram escalados para fazer
mulheres trans, só pautados em estereótipos, por
exemplo. A meu ver, demos um passo à frente nestas
questões, pois hoje se alguém fizer esta escalação será
duramente questionado, pois temos ótimas atrizes
trans para contar qualquer história. Lembro de levantar
este assunto com as outras atrizes e direção: "uma
mulher hétero interpretando uma lésbica, não estou
tirando lugar de uma atriz lésbica?". Confesso que
fiquei muito na dúvida se deveria estar ali contando
esta história. Hoje, se viesse um convite de qualquer
personagem que eu não tenha o lugar de fala, creio
que tenderia a não aceitar. Mas como a condução
deste roteiro, direção e história são humanizadas,
simplesmente falam de amor e vida real, longe de
estereótipos impostos pelo audiovisual, me senti
confiante em defender a história da Rafa.
MV: Quando começamos há mais de seis anos fomos
a primeira websérie e eu não sabia o que de fato ia ser.
Só tinha assistido “The L Word” (que por sinal
AMOOOO!). Hoje vejo que mais e mais séries estão
surgindo e isso é maravilhoso e muito necessário.
Hoje além de consumirmos conteúdo LGBTQIA+,
queremos um elenco representativo, uma equipe
técnica representativa e muito mais. Foi uma delícia
fazer parte deste projeto!
ER: Sabe, quando a gente joga uma pedrinha no lago
e formam várias ondas, infinitas, até mesmo quando
você não está mais vendo elas estão se propagando.
Então, o meu sentimento é um pouco assim. Confesso
que não fazia ideia do quanto a série iria impactar
a vida das mulheres, talvez por desconhecer o poder
da internet, mas fiquei de fato maravilhada com tudo
que aconteceu. E eu me sinto muito honrada em fazer
parte desse projeto. Foi um presente do universo,
porque vivemos em um país onde tudo é muito
difícil. Fazer arte é difícil, viver de arte mais ainda, a
arte para mim é revolucionária e poder usar a arte
para tocar a vida das pessoas, quem sabe transformar
se não for a vida, que seja o dia, de qualquer pessoa, é
a minha busca diária. O nosso país é preconceituoso
demais, cheio de tabus e a arte ajuda a evidenciar
questões necessárias para serem discutidas e tratadas
em nossa sociedade. Então, fazer parte de “RED” é
uma sensação de estar contribuindo um pouco para
essa transformação através da arte, um privilégio né?
KP: Como foi dizer adeus para “RED”?
Reprodução: via instagram Red Brasil
VS: Não estive no último dia de filmagem, então meu
adeus teve que ser simbólico, sem abraço na equipe.
Mas não foi difícil. Sensação de dever cumprido.
GB: Diria que foi agridoce, de início, mas tranquilo;
com um sentimento de satisfação de termos criado
um projeto muito bacana, que foi importante para
muita gente, e com um sentimento de dever cumprido.
FB: Foi muito louco porque foi um trabalho ao qual
me dediquei intensamente por seis anos. Como eu
ficava responsável pela direção, pela produção, e pela
edição do projeto e de todas as milhares de tarefas
que vivem dentro dessas duas funções - contratar
equipe e elenco, administrar o orçamento, planejar
filmagens, montar os episódios depois de gravados,
escolher cada uma das músicas e resolver pepinos sem
fim - todos os dias da minha vida ao longo desses anos
todos eu trabalhei para o projeto de alguma maneira.
Então agora é uma mistura de satisfação em abrir
espaço para novas possibilidades com a saudade de
algo que eu fiz com muito amor e dedicação. Mas,
acima de tudo, tem uma sensação de dever cumprido
muito forte, porque o público da série sempre deixa
muito claro para gente o quanto “RED” foi e é importante
na vida delas.
APL: Foi MELIZ, com todas as suas dores e amores.
GH: A gravação do casamento foi linda de viver, ali se
congelou um momento de saudade. Eu digo "adeus"
Reprodução: via instagram Red Brasil
para um trabalho que fecha um ciclo, mas não preciso
dizer adeus para essa história linda que sempre posso
rever e contar que fiz parte dela. “RED” e Rafa vivem
em mim.
BC: Sem dúvida alguma esse projeto fica marcado e
segue vivo no coração, mas “dizer adeus” é muito
definitivo… Eu acho que vale sonhar que a gente volta
um dia… Olha “Friends” aí depois de tantos anos
(risos)!
MV: Foi de boas (risos). Agradeço imensamente a
minha amiga Vívian Schiller pelo convite para fazer
parte de “RED”. Só ampliou em mim o orgulho que
tenho em amar quem eu amo. Quero ver mais e mais
histórias de amor entre mulheres. Amo!
ER: Acho que conseguimos tratar conteúdos importantes
de forma muito delicada, sensível e finalizar de
uma forma muito linda. Sabe aquela sensação boa de
dever cumprido e saudade de algo muito bom? Me
sinto assim.
KP: Descreva “RED” em apenas uma palavra.
VS: Amor.
GB: Pioneira.
APL: Representatividade.
MV: Orgulho.
ER: Amor.
GH: SUCESSO!
BC: Bolha de sabão. Vou explicar para dar o sentido
exato que me veio… Pensei numa bolha de sabão
dessas que a gente faz quando criança com detergente
e água, e que refletem milhares de arco-íris na sua
borda transparente e delicada. Elas são como o
momento presente, duram segundos, ou milésimos
de segundo… E atuar é isso, é estar nesse presente,
sentir, sentidos. E as bolhas são esses instantes, e são
lindas, hipnotizam quando suportam sua existência
por um pouco mais de tempo, deslizando suavemente
no ar, marcando o seu existir. A bolha como um
pequeno mundo de delicadeza que se alimenta de
poesia e reflete a vida ao redor. Isso é “RED”. Um
presente para todos que participaram e para todos
que assistiram.
Ao longo de seis temporadas, “RED” conseguiu
debater temas importantes, trazer representatividade
a um público que recebia migalhas das produções
brasileiras quando o assunto eram mulheres LGBT-
QIA+, inspirar outros artistas a criar suas próprias
produções representando mulheres LGBTQIA+, e
nos fazer compreender que nossas histórias são
válidas e merecem ser contadas.
“RED” é um fenômeno e daqui alguns anos chamaremos
de clássico.
31
QueM E VOCE
SET? NO
´
^
KP: Quem era o mais sério no set?
VS: Acho que ninguém. (risos)
KP: Quem mais gostava de pregar
peças no set?
ER: Hum, olha Ana Paula é uma
figura, eu conheço a Ana desde o
tempo da CAL, estudamos juntas,
somo amigas e tal, então sei do
potencial (risos).
KP: Quem era o mais concentrado no
set?
GB: Acredito que o Fernando, porque
sempre foi o que acumulou mais funções
no set.
KP: Quem era o mais dorminhoco do
set?
MV: Olha não me lembro de ninguém
(risos).
KP: Quem era o mais bagunceiro do
set?
APL: Guilherme Logullo, quando ele
chegava a risada era garantida, ele
tem um astral maravilhoso que
transbordava no set.
KP: Quem chorava com mais facilidade
no set?
GH: Chorava? Chorar com facilidade
não me lembro muito não. O que era
mais difícil era parar de rir e se
divertir, pois tínhamos que nos
concentrar para cenas sérias.
KP: Quem mais gostava de contar
histórias no set?
BC: Fernando! E falando com sotaque
nordestino, então, só história boa
para fazer a gente fazer abdominal
de tanto rir! Lu e Gaby também
arrasam nas histórias! Esse set era
uma maravilha, corria para chegar
logo e não queria ir embora quando
acabava!
Karolen Passos
Karolen Passos é a co-criadora do LesB Out!. Jornalista, marketeira, mestranda sofredora
e crítica há mais de dez anos, ela já escreveu para diversos sites e hoje é uma das
colaboradoras do CinePOP. Fã de séries desde Gilmore Girls, a carioca têm mais de 50
títulos interminados na grade atual de séries e uma coleção crescente de quadrinhos
(será se já leu tudo?). Hoje mora na Bahia e é mãe de três gatos: Bruce Wayne, o BAT-
-CAT, Alex Karev, o hiperativo e Meredith Grey, a antissocial.
Qual personagem LGBTQIA+
feminino você seria?
Por Maria Izfeqy Lopes
32
1. Qual seu estilo de música favorito?
a) Indie
b) Rock
c) Pop
d) Eclética
e) Sertanejo
4. Você gosta de mulheres mais velhas?
a) Sim
b) Não
c) Tanto faz
d) “Se você for a Honeymaren...”
e) “Panela velha é que faz comida boa”
2. Onde seria o encontro perfeito?
a) Um piquenique
b) Em um parque de diversões
c) Em qualquer lugar que tenha comida
d) Na praia
e) Em casa vendo Netflix
3. Qual dessas comidas você prefere?
a) Salada
b) Pizza
c) Hambúrger e batata frita
d) Sorvete
e) Japonesa
5. Quem é você no carnaval de The L Word?
a) Gigi: a mais gostosa do grupo, que sabe
disso e seduz até quem não quer ser seduzida
b) Bette: a que chega no bloquinho sem
pretensão de nada, mas no final do rolê é a
que tá rebolando a raba até o chão
c) Shane: sai de casa com o pensamento de
que vai beijar todas as bocas no bloquinho e
faz isso mesmo
d) Dani: a mais paquerada do grupinho,
mas que ignora todas as investidas dizendo
que não está “disponível”
e) Alice: a clássica que só vai beber e reclamar
do calor
33
RESPOSTAS
+A
Celia (Os sete maridos de Evelyn Hugo)
Companheira e ingênua, você parece muito com
Celia. Muitas vezes se viu em situações que duvidou
de si mesma e da sua capacidade, mas, apesar
disso, nunca desistiu de amar quem estava
amando e de permanecer ao lado dessa pessoa.
Jamie (Mansão Bly Manor)
Assim como Jamie você ama organizar seu jardim
e gosta de viver cercada por plantas e gatos. No
amor, você é a que nunca vai desistir e sempre
acreditar no melhor das pessoas, mesmo que isso
leve a vida inteira.
+B
Catra (She-Ra)
Que Catra é uma personagem incompreendida a
gente já sabe, mas também sabemos o quanto é
convicta dos seus sentimentos e das suas atitudes
(mesmo que as vezes não sejam as melhores), ela
não tem medo de errar e de se arriscar. Assim
como, você também não tem medo do que pode
acontecer com sua vida a partir de uma decisão
difícil. Isso só mostra o quanto você vive intensamente,
afinal, YOLO, né?
Lexa (The 100)
Compreensiva e resiliente, assim como Lexa,
você enfrentou batalhas que achou que não seria
capaz, provando a si mesma que quando decide ir
em frente com algo é somente isso que importa.
+C
Arizona Robbins (Grey’s Anatomy)
Assim como um “um homem na tempestade”
você tem em comum com Arizona a perseverança
de querer fazer tudo dar certo, mesmo que você
erre bastante fazendo isso. Com simpatia e UM
SUPER SORRIGO MÁGICO você chega longe.
Alex Danvers (Supergirl)
Assim como Alex, você já passou POUCAS E
BOAS nessa vida, mas sempre acreditando que as
coisas uma hora iriam ficar bem, já que você foi
criada pra passar por todas as situações ruins de
cabeça erguida. Afinal, fazer coisas corajosas,
exige muita audácia.
+D
Elsa (Frozen)
A rainha de Arendelle é alguém que durante
muito tempo não seguiu seus sonhos. Assim
como Elsa, você é sonhadora e quer conquistar o
mundo, já encontrou muitas pedras no caminho,
mas apesar de tudo isso nunca deixa de acreditar
que o melhor vai chegar e que tudo vai ficar bem.
+E
Nicole Haught (Wynonna Earp)
Corajosa e extrovertida, você é uma pessoa que
consegue enxergar otimismo em tudo, mesmo
quando as coisas não estão indo bem. Assim
como Nicole, você nunca foge de uma boa briga
e sempre está disposta a proteger quem ama.
34
Foto: Denise Maher
Entrevista com a Psicóloga
Bárbara Dalcanale Menêses
Cada vez mais as questões da Saúde Mental estão
sendo vistas com a importância que merecem, saindo
da concepção errônea de loucura. Isso abre espaço
para que se possa discutir as especificidades das populações
que, por suas diferentes vivências apresentam
demandas específicas que necessitam de apoio.
Para entender melhor sobre a Saúde Mental da
população LGBQTIA+ nós conversamos com a psicóloga,
sexóloga e palestrante Bárbara Dalcanale Menêses,
especialista em sexualidade, relacionamento
humano e diversidade, e que, entre várias ações,
trabalha no Centro de Referência LGBT da cidade de
Campinas/SP, primeiro serviço público focado em
atender à população LGBTQIA+ do país.
Carol Moreno: Esse momento de pandemia tá mudando
muito o cotidiano das pessoas. Quais as demandas que mais
chegam em você da população LGBTQIA+ nessa situação?
Bárbara Menêses: Primeiro, eu sempre começo falando
que eu uso a terminologia LGBT+ só para facilitar
a comunicação e para respeitar o que foi tirado em
em conferência nacional em 2010, que é a sigla oficial
e a sigla do CR. Então em momento algum quero que
as pessoas LGBTQIA+ se sintam excluídes da sigla.
Olha, eu acho que chegou muito a questão da ansiedade,
da incerteza, de como seria depois, de como as
pessoas iriam se organizar socialmente, financeiramente,
muitas pessoas perderam emprego. Então
assim, no começo da pandemia vinha muito uma
angústia de como vai ser, de quanto tempo vai durar,
uma incerteza muito grande. Hoje eu vejo que as
pessoas estão um pouco mais com um desespero
muito grande em sair, retomar a vida social, e outras
pessoas um pouco deprimidas. A pandemia mexeu
muito nessa questão de saúde [mental] com as pessoas,
e em específico a população LGBT+ é uma grupo
que teve que ficar trancada em casa com seus agressores,
que são, muitas vezes, seus responsáveis e que
fazem violência psicológica o tempo todo.
E, inclusive, hoje tenho vários pacientes que resolveram
contar para família, na fase da pandemia, que são
LGBT+. Esse é um movimento interessante, mas essas
pessoas vão ter que dar conta do pós, que é todo um
35
um processo de sofrimento, angústia, de não entender,
de agressividade, então é bastante complicado.
CM: E você notou uma diferença das demandas de agora
para as que apareciam antes da pandemia?
BM: As pessoas estão com uma ansiedade muito
maior, isso com certeza. As demandas da população
LGBT+ são sempre muito focadas, muito ligadas. A
demanda que a população em geral traz de ansiedade,
relacionamento, de projetos de vida, a população
LGBT+ tem um plus de violência muito grande, de
um ataque de quem a pessoa é, pelo que a pessoa se
identifica. Essa questão da violência perpassa a vida
das pessoas LGBT+ o tempo todo, seja violência
psicológica, física, moral, patrimonial, “piadinhas”.
Essa questão que o tempo todo alguém está tirando o
sarro, discriminando, com risadinha, com falas muito
pesadas ou então com agressão física mesmo. Então é
muito comum vir nos atendimentos essas demandas,
assim, de discriminação no trabalho, em casa, de
vizinho que xinga, de ameaças, então é muito sério.
CM: E quais você nota que são as especificidades dessas
demandas pras mulheres LGBTQIA+?
BM: As mulheres LGBT+ têm algumas questões, por
exemplo, na saúde. Uma mulher lésbica, bissexual, ou
mais especificamente uma mulher em relacionamento
homoafetivo, nas questões de saúde enfrenta o fato
de o ginecologista não perguntar com quem ela se
relaciona afetivamente, sexualmente, ele pressupõe
que ela tem uma relação heteroafetiva. Também tem o
desconhecimento, já vi várias meninas lésbicas falando
que não precisa fazer papanicolau, por exemplo,
que é um exame de câncer de colo de útero, porque
elas não se relacionam com homem, e isso não é
verdadeiro, então elas precisam, sim, fazer papanicolau,
é um exame que não tem a ver com ser hétero ou
homoafetivo, tem a ver com ter útero.
E em outro quesito, já da violência, temos muitos
mitos em relação à mulher lésbica, de que, desculpa o
palavreado, ela é lésbica porque é mal-amada ou “mal
comida”. E assim a gente entra em um universo
muito perigoso no imaginário dos homens de que
essas mulheres podem ser estupradas, tem até o nome
de “estupro corretivo”, porque acham que essa
mulher tem que ser “convertida, curada”, e que ela
precisa “virar mulher”. Outra questão de violência é
de quando uma mulher estava em um relacionamento
heteroafetivo e entra em um relacionamento
homoafetivo. Isso gera muito conflito, muita violência,
às vezes a questão de guarda dos filhos, deste
ex-parceiro tentar tirar dela os filhos pelo relacionamento
em que ela está.
Tem também a questão da bissexualidade, que ainda
não é entendida. As pessoas acham que não existem
pessoas bissexuais, que é uma fase de transição, uma
confusão, uma pessoa homossexual enrustida que
não tem coragem de se assumir, ou uma pessoa
“gulosa”, que quer tudo para ela.
CM: A gente nota que as questões LGBTQIA+ sempre
foram muito patologizadas. Como você nota que é a visão
da psicologia para essas questões hoje em dia?
BM: O Conselho de Psicologia já há alguns anos tem
uma gestão muito aberta para essa questão da diversidade,
tanto o Conselho Federal quanto os regionais.
eu tenho a impressão que existem militâncias muito
presentes, com ações muito afirmativas em relação a
essa questão da despatologização. Infelizmente essa
não é a realidade dos psicólogos que estão na ponta,
tem muito psicólogo que não entende, não aceita, e
pior, o que para mim é mais grave, que mistura
religião com sua atuação profissional, e a gente não
pode misturar religião e psicologia.
Tem a questão do CID [Classificação Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde] e do DSM
[Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais]
que estou bem esperançosa. Então, não apenas tirar a
transexualidade da classificação de transtornos mentais,
o que é necessário e pesa muito, mas sim constar
como uma questão de saúde a ser cuidada, e acho que
entra como incongruência de gênero no DSM; no
CID, se não me engano, entra como disforia de
gênero. É uma questão que realmente se encontra
entre a identidade de gênero e o corpo, para que a
população receba acompanhamentos específicos
quanto à hormonioterapia ou cirurgias, caso deseje.
Um exemplo é a gestação, que está no CID e não é
uma doença, mas um período em que a pessoa precisa
de uma atenção especial, da saúde, principalmente,
fazer o pré-natal, o parto, todas essas questões,
então a gente precisa ter uma atenção específica da
saúde com um conjunto de características específicas
daquela situação. E a transexualidade não é diferente.
CM: Você poderia explicar um pouco de onde vem essa
questão da Cura Gay e o que seria ela?
BM: Essa cura gay vem lá de trás, toda a questão da
homossexualidade e desse preconceito vem de cunho
religioso, lá de traz, quando o cristianismo precisava
popular o mundo. Os homens iam para guerra e as
mulheres ficavam em casa com suas famílias, e a
36
a população ia diminuindo. Assim, eles precisavam
procriar e aumentar as famílias, então, todo sexo que
não fosse para procriação era pecado. Então as pessoas
questionavam, “como é que fica, eu casei na igreja, vou
transar apenas duas vezes na vida, não está legal pra mim”.
A igreja então resolveu abrir uma exceção para os
héteros. Já o homossexual, como não conseguia
procriar na época em um relacionamento homo,
ficou proibido, porque era um sexo puramente por
prazer. Mas nem todos acreditavam no que a igreja
pregava, então ela começou a não dar mais conta
dessa questão, se aliou com a ciência e, de pecado,
passou a ser doença.
E aí a ciência começou a tomar conta disso e passou
a ser uma questão de perversão, de uma atração
fetichista que poderia ser revertida. Iniciaram-se as
buscas por técnicas e alternativas para curar essa questão,
como, por exemplo, dar choque no pênis de
homens no momento que tinham excitação, enquanto
eles eram expostos a vídeos pornográficos homossexuais.
Esses homens começaram a ficar sem libido
para transar com outras pessoas, mas não deixaram
de sentir tesão por homens, eles só ficaram aversivos
a sexo e ereção. Fizeram também várias pesquisas com
mulheres lésbicas, para entender se elas tinham mais
hormônios masculinos do que feminino. Foram
feitas várias tentativas de reversão, tentativas de cura
dessa “doença”, porque até então era uma doença e
estava no CID como tal.
Em 1973, mais ou menos, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) e a Associação Americana de
Psiquiatria começaram a questionar tudo isso. Eles
repensaram essa questão e em 1985 já foi modificado
no CID, mostrando que não, o homossexual não é
alguém que tenha uma doença, é simplesmente uma
forma da pessoa se relacionar. Claro que aconteceram
revoltas mundiais que chamaram a atenção para essa
questão, como a própria revolta de Stonewall em
1969.
No Brasil, o Conselho de Psicologia soltou a resolução
001/99, que proibe a reversão, cura, tratamento e
inclusive falas e discursos que digam que a homossexualidade
é uma doença, relacionada a fetiche ou
algo nesse sentido.
Só que ainda tem psicólogos que alegam que precisa
ser revertido, curado, pois isso traz sofrimento, e
pessoas gays e lésbicas são pessoas que sofrem muito
e que precisam reverter isso, curando essa homossexualidade.
A nossa fala, de defesa, é: esse sofrimento,
dor e depressão não vêm pelo simples fato de eu amar
outra mulher ou homem, e sim por saber toda a carga
de preconceito social que eu vou receber.
CM: Qual você nota que é o maior apoio que a população
LGBTQIA+ necessita?
Foto: Denise Maher
BM: Para mim, são três principais apoios, o principal
que a gente precisa ter é familiar. Nosso núcleo familiar
é o primeiro contato que a gente tem, você nasce
ali dentro daquela família, então eu vejo, claramente,
que as pessoas LGBT+ que têm apoio familiar, uma
família que apoia e aceita essa pessoa, a pessoa vai ter
uma sensação de empoderamento muito maior para
enfrentar as coisas de fora.
Um segundo apoio fundamental é a educação, principalmente
escola primária, que vai formar todas as
pessoas. E essa escola não está pronta para receber
pessoas LGBT+, questões básicas, como que banheiro
essa mulher trans vai usar, “Se ela é uma mulher, ela
vai usar banheiro feminino, tá tudo certo”. A escola deveria
ser um ambiente de proteção para essas pessoas,
principalmente quando elas não têm isso em casa,
deveria ser considerado algo fundamental, e a escola
não dá conta.
E acho que um terceiro, talvez, seja a gente pensar
numa psicologia mais acessível, menos preconceituosa,
isso para mim é chover no molhado, mas uma
psicologia mais humana.
As pessoas ainda acham que psicólogo é médico de
louco, acham que psicologia é uma coisa cara, que
não precisa, eu tenho meus amigos para conversar,
tenho a mesa de bar pra conversar. A gente não
37
consegue levar a psicologia para os espaços, para
periferia, para outros lugares que não sejam só o
ambiente da clínica, que é tão fundamental na vida
das pessoas que elas consigam organizar suas vidas,
não só em questões ligadas à sexualidade, mas como
um todo.
CM: A pergunta vai por um sentido bastante diferente,
mas tem muito a ver com nosso site, como você vê a representação
na mídia como um todo da população LGBT-
QIA+ hoje?
BM: Eu acho a representação da mídia muito pequena
ainda, muito baixa, ainda se tem na mídia uma
forma razoavelmente caricata de se mostrar a questão
LGBT+. Acho que a gente tem avançado, e tem
mudado um pouco, antigamente a gente tinha coisas
muito bizarras, os estigmas eram muito caricaturados,
a gente tinha muito o Gay como um carnavalesco,
“afetado”, extremamente caricatura. Hoje isso está
mudando, mas acho que a gente tem muito ainda
que avançar.
CM: Pra finalizar mesmo, você tem alguma mensagem
positiva para deixar ao nosso público?
BM: Eu diria que a gente precisa exercitar nossa
empatia e nosso respeito, para que a gente possa
realmente se respeitar como ser humano, acho que
seja uma mensagem positiva no sentido de quanto a
diversidade é bonita.
Para que a gente possa olhar para a beleza da diversidade,
que a gente possa olhar pra beleza de sermos
diferentes, de termos nossas individualidades, nossa
sexualidade, nossa religião, nosso time de futebol,
nossa crença, nossos valores, nosso cabelo, nossa
roupa, nosso corpo, nossos piercings, da gente poder
ver a beleza da diversidade que é o ser humano.
Ainda bem que a gente vive numa sociedade diversa,
porque seria muito chato ter que encaixar todo
mundo em duas caixinhas, homem ou mulher, ou
pior ainda, numa caixinha só, heterossexuais, então
que a gente possa, cada vez mais, se respeitar e ver
beleza na diversidade.
Foto: Denise Maher
Carol Moreno
Carol Moreno é estudante de psicologia, bissexual e do interior de São Paulo. Ama
todos os filmes, séries e webseries com personagens LGBTQIA+, espera um dia conseguir
assistir tudo que coloca na sua listinha.
Reprodução: Via Instagram de Carol Biazin.
38
9 curiosidades sobre
carol biazin
39
Os programas musicais brasileiros têm descoberto
diversos talentos espalhados pelo país. Vão
ganhando visibilidade com o passar das etapas
aqueles que desenvolvem apresentações interessantes,
chamam atenção com suas vozes marcantes
e seus trabalhos nas redes. Carol Biazin é um
dos nomes que ganharam destaque dentro desses
realities.
Se você ainda não conhece a cantora, se liga
nessas dez curiosidades que a gente preparou!
1 Quem é Carol Biazin?
Caroline dos Reis Biazin, conhecida somente
por Carol Biazin, é cantora e compositora. A
paranaense de Campo Mourão nasceu no dia 22
de abril de 1997, e recentemente completou 24
anos. Começou a cantar por volta dos oito anos
de idade e nunca mais parou, desde cedo se apresentou
em bares e casamentos, sempre acompanhada
por seus pais.
2 Quando se tornou conhecida?
Carol ficou conhecida depois de sua incrível
passagem no The Voice Brasil em 2017, ela cantou
“Daddy Lessons”, da Beyoncé, nas audições às
cegas fazendo os quatros jurados virarem as cadeiras,
sendo eles Ivete Sangalo, Michel Teló, Lulu
Santos e Carlinhos Brown. Ela acabou escolhendo
o time da Ivete, chegou até a final do programa
e ganhou bastante destaque nas redes por sua
voz marcante e suas grandes performances. Antes
de sua entrada, ela se inscreveu três vezes, foi
somente na quarta que foi classificada para se
apresentar em rede nacional.
3 O que rolou antes do The Voice?
Anteriormente Biazin já tinha se inscrito em
um programa de TV, foi no X Factor Brasil que
tentou uma vaga primeiramente. Um ano antes
do The Voice, ela passou nas audições e foi até a
fase de grupos, mas foi eliminada quando esqueceu
a letra da música “A Amizade” do grupo Fundo
de Quintal. Receber um “não” naquela época
mexeu bastante com ela, depois disso iniciou na
faculdade de Música, que largou por não conseguir
conciliar com a carreira pós-The Voice.
Final The Voice Brasil
amanheceu sem voz. Naquele dia ela deveria apresentar
as músicas “Million Reasons”, da Lady
Gaga, e sua canção autoral “Não vai”. No desespero
do momento, comprou de tudo para tentar
melhorar sua situação, ficou bem quieta ao longo
do dia preservando sua voz e, com ajuda de
profissionais, conseguiu executar suas performances
na final.
5
Financiamento Coletivo
Para a realização do seu primeiro EP chamado
"S", foi criado um financiamento coletivo, com o
formato “Tudo ou nada”, caso a meta não fosse
atingida, o dinheiro seria devolvido aos contribuintes.
Neste caso, a meta era arrecadar 50 mil
reais em até 60 dias, ela não só conseguiu bater o
valor estabelecido, como ultrapassou o mesmo,
chegando a 90 mil no encerramento do financiamento.
6
Romance
Foi no The Voice que ela conheceu a DAY, sua
namorada há 3 anos. O romance se desenvolveu
um pouco depois do fim do programa, foi
quando Carol se entendeu como uma mulher
lésbica. Devido ao cenário com poucas referências,
ela entende a importância que seu trabalho
reflete na vida de outras mulheres LGBTQIA +,
por isso é sempre engajada nas pautas da comunidade
e leva representatividade em seus clipes e
letras.
7
Composições para outros artistas
Conhece aquela expressão “Fulano faz absolutamente
tudo”? Então, esta é Carol Biazin. Além
de cantar e tocar, ela compõe para si e para outros
artistas. Suas letras entraram como participação
nas músicas de cantores como Anitta, Vitão,
Rouge e DAY. Após a experiência do programa,
ela foi se encontrando aos poucos nos gêneros
Pop e R&B para realizar suas composições.
8
Live beneficente
No Dia Mundial de Combate à Poliomielite, de
2020, ela realizou uma live com intuito de arrecadar
doações em prol da causa. Com uma banda
formada somente por mulheres, ela se apresentou
na plataforma YouTube. Além de muita música
boa, a live levou também informações importantes
ao público sobre a doença.
“Tentação” e o sucesso
4 Seu último lançamento foi a música “Tentação”,
em parceria com Luísa Sonza, uma das faixas do
No dia da final do programa, devido ao nervosismo
de um momento tão importante, Carol
álbum “Beijo de Judas”, que foi composta por
Carol.
9
40
Reprodução: Via Instagram de Carol Biazin.
A música foi considerada a melhor estreia da cantora,
batendo mais de dois milhões de visualizações no
YouTube em 48 horas. Além disso, ela ganhou muitarepercussão
nas redes sociais e nas plataformas.
Com seu primeiro álbum, Carol Biazin vem se
tornando uma artista com bastante destaque, trazendo
para suas músicas participações de cantores importantes
no meio musical e também levando seu nome
para as composições de outros.
Luísa Sonza e Carol
Biazin. Divulgação da
música “Tentação”.
Foto: Reprodução via Estrelando.
Carol Souto
Carol é capixaba, estudante de jornalismo e viciada por ficções seriadas. Assiste um
pouco de tudo, mas o que ela não dispensa é um bom drama.
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LesB Out!
Casal dourado! Se dessa vez Rapinoe não ficou com o título,
ela pode assistir de perto e toda orgulhosa, a noiva Sue Bird
repetir o feito das ultimas QUATRO OLIMPÍADAS e levar o
ouro do Basquete Feminino pra casa #Tokyo2020
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9
4
1
42
Educação,
representatividade e
imaginação:
uma relação necessária
0
3
Quando falamos da relação das crianças
com as figuras homoafetivas em
desenhos animados, precisamos
pensar em uma construção de infância:
a criança é participante e ativa
de seu tempo e de sua cultura, ou seja, a criança
está sempre em um processo de interpretação e
reinterpretação do que assiste e vive. Esse conceito
vem para quebrar qualquer senso comum que
trate as crianças como puras imitadoras.
Considerando os conceitos que Philippe Ariès
e Manuel Jacinto Sarmento trazem sobre a infância
ser uma construção histórico-social, precisamos
então refletir sobre como as nossas ações
enquanto adultos, criando e recriando essa fase
da vida ao longo de gerações, vêm fazendo com
que ela se transforme. É importante ressaltar que,
por isso, todos os tipos de filtros e censuras são
criados PARA a criança. Elas não têm qualquer
preconceito embutido, mas aprendem ao longo
da vida, das observações e reinterpretações dos
adultos próximos e dos produtos midiáticos que
consomem.
Quando lutamos por representatividade LGBT-
QIA+ em todos os lugares, inclusive nos desenhos
infantis, estamos falando exatamente sobre a
criação de um universo em que a criança possa
ver e interpretar essas relações como normais e
comuns no cotidiano, na tentativa de quebrar o
ciclo de uma sociedade homofóbica, afinal, por
mais que o senso comum traga questões como
“influências ruins”, precisamos saber sempre que
a relação das crianças com as mídias e com os
desenhos animados é uma relação de troca.
Como Martín-Barbero traz, as crianças filtram as
informações e as reinterpretam de seus modos,
baseadas em outras informações que elas já filtraram
antes e assim por diante. É o que acontece
por exemplo com os desenhos que as crianças
assistem.
Eles hoje fazem parte integrante das brincadeiras
em todos os ambientes, mas não é um fator de
influência. Os desenhos animados são uma
forma diferente de estímulo à imaginação. O
43
mundo imaginário em que os mais novos estão inseridos
é de fato um universo inteiro e bem complexo
que nós adultos não alcançamos, por isso acabamos
jogando nossos preconceitos e “achismos”. Como
uma importante (e relativamente nova) fonte de
quebra de paradigmas e preconceitos, novos personagens
vêm sendo criados em desenhos e em mídias
consumidas por crianças.
Diante disso, surgem então questionamentos por
parte das próprias crianças sobre as novidades que
elas vêm assistindo, e o lugar em que elas mais
buscam respostas, além de dentro de casa, é a escola.
Como o primeiro ambiente que a criança conhece
para além de seu núcleo familiar, é o lugar em que ela
reconhece a existência de diferentes culturas. É
importante que a nova geração de professores esteja
pronta para debater os assuntos que, por muito
tempo, foram excluídos do currículo escolar por não
serem considerados importantes o suficiente para
serem abordados na escola ou, até mesmo, por
preconceito. Hoje podemos mudar a ideia do currículo
como a narrativa de uma história única, ou seja,
um instrumento que retrata apenas o que é de interesse
de quem o produz. Enquanto uma importante
figura na sala de aula e no desenvolvimento das crianças,
o professor precisa botar em prática esse currículo
de uma forma diferenciada e direcionada à quebra de
preconceitos e estereótipos ruins.
É preciso, então, passar a pensar no trabalho de
desconstrução com conteúdos que a criança já traz de
casa, e muitos desses conteúdos vêm dos desenhos
animados. Hoje temos personagens abertamente
LGBTQIA+, como a Luna Loud (“The Loud House”),
Marceline e Princesa Jujuba (“A Hora da Aventura”),
Garnet e Pérola (“Steven Universo”), Amity Blight
(“The Owl House”), entre outras, e essa representação
existir é uma grande ferramenta que os profissionais
da educação têm para ajudar a construir um conhecimento
menos preconceituoso e estereotipado.
Outro importante fator no crescimento da criação
de personagens abertamente LGBTQIA+ é a identificação.
Crianças precisam se sentir validadas, tanto ou
mais quanto nós adultos, e isso não pode ser diferente
com crianças LGBTQIA+. Elas olham para os desenhos
e criam todo o seu próprio universo em que elas
são quem querem ser, enquanto expressam sentimentos
reais. Não se ver identificada em lugar algum é
frustrante, pois é “por intermédio desse fenômeno de
identificação com o ídolo, que o sujeito adquire uma pertença
a um determinado grupo”, como disse Enrique
Pichon-Rivière, no texto “Os ídolos”. Por isso, é tão
complexo crescer sem referências e “espelhos”.
Nossa geração cresceu em meio a tantos tabus
quebrados, mas a homossexualidade nunca foi um
deles, sentimos na pele o que a falta de representatividade
pode causar, por isso é preciso sempre lembrar
que a identificação é o que permite que os seres
humanos e, principalmente, as crianças se sintam
parte de alguma coisa, além de, claro, ajudar na construção
da própria identidade que precisa ser estabelecida
em uma relação real para que as crianças possam
idealizar quem querem e podem ser.
Assistir hoje a personagens LGBTQIA+ na TV é ter
nas mãos as ferramentas para que possamos ajudar a
criar em nossas crianças uma consciência crítica de
sociedade que fuja de estereótipos e preconceitos
pré-existentes das gerações passadas, para que possamos
mostrar que elas são válidas com todos os seus
sentimentos e que as outras pessoas também são.
Luna Loud
Nickelodeon
Garnet
e Pérola
Cartoon Network
Marceline e
Jujuba
Cartoon Network
Amity
Disney Plus
Referências utilizadas na construção desta matéria:
BARBOSA, Analedy. MAGALHÃES, Maria. A concepção de infância na
visão de Philippe Ariès e sua relação com as políticas públicas para a
infância. 2013.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Comunicação e mediação cultural. São
Paulo. 2000.
PICHON-RIVIERE, Enrique. “Os ídolos”, in Psicologia da vida cotidiana.
2002.
SARMENTO, Manuel Jacinto. “As culturas da infância nas encruzilhadas
da segunda modernidade”, in Sarmento, Manuel J. e Cerisara, Beatriz,
Crianças e Miúdos – Perspectivas sociopedagógicas da infância e
educação.
Monica Teixeira
Monica Teixeira é estudante de Pedagogia muito apaixonada pelo universo literário.
Amante de séries de médico, viciada em tudo que envolve super-herois e não perde um
episódio de Legends Of Tomorrow. Ela vive na Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro.
44
REPRESENTATIVIDADE FEMININA
LGBTQIA+ NOS QUADRINHOS
ATRAveS DO TEMPO
´
As histórias em quadrinhos foram criadas há mais
de 80 anos e foram palco e influência de muitas transformações
sociais ao longo desse tempo. Inicialmente
criada com intenção de ser apenas entretenimento,
hoje vemos nessa forma literária uma grande importância.
Trazendo entre outras coisas conflitos sociais
de grande importância, as histórias em quadrinhos
hoje trazem para o público LGBTQIA+ uma crescente
representatividade que nem sempre foi real.
Quando se trata de mulheres sáficas e transexuais essa
história é ainda mais complexa. Sendo, a princípio,
um universo extremamente machista, aos poucos vem
se transbordando em mais representatividade com a
criação e recriação de personagens mulheres fortes,
além da canonização LGBTQIA+ de algumas delas.
Seguindo uma linha do tempo de criação dessas
personagens temos:
Mulher-Gato (DC Comics)
A personagem teve sua primeira aparição em
“Batman #1”, em 1940, com o nome de “A Gata”,
uma ladra de joias bem conhecida em Gotham City.
Foi reconstruída algumas vezes no universo dos
quadrinhos até a versão que conhecemos hoje. Sua
bissexualidade, ainda pouco explorada, foi revelada
em 2015 na edição “Catwoman #39” em que ela beija
Eiko Hasigawa, uma personagem que estava fazendo
parceria com ela na história.
Mulher-Maravilha (DC Comics)
Conhecida também como Diana Prince, foi criada
pelo psicólogo e professor William Moulton Marston,
em 1941. A personagem veio em uma tentativa
de transformar a visão que a sociedade tinha da
mulher e do desempenho de seus papeis. Sua bissexualidade
por muito tempo ficou implícita devido à sua
origem ser em Themyscira, uma ilha que é povoada
somente por mulheres, e logo depois por sua paixão
avassaladora pelo piloto Steve Trevor. Apesar disso,
sua bissexualidade ainda não foi explorada da forma
que os leitores e espectadores LGBTQIA+ gostariam
de ver.
Batwoman (DC Comics)
Criada em 1956 para entrar como interesse romântico
principal do Batman (isso porque ele já tinha se
relacionado com a Mulher-Gato antes), Batwoman foi
um instrumento utilizado para quebrar os rumores de
que Batman e Robin tinham uma relação romântica.
Anos mais tarde, depois de ter ficado sumida por um
tempo, a personagem reapareceu ganhando destaque
em 2006 com uma nova configuração em sua história
e sendo a primeira personagem feminina abertamente
LGBTQIA+ no universo dos quadrinhos.
Hera Venenosa (DC Comics)
Criada em 1966, a personagem foi introduzida
como vilã no universo do Batman e até hoje é uma
das mais famosas no mundo dos quadrinhos. Hera se
transformou no ser que é hoje com alguns poderes de
fauna, imunidade e a produção de veneno por causa
de experimentos a que foi submetida durante a faculdade.
A partir disso ela se tornou uma pessoa mais
fechada e sombria. Mais tarde, ela e Arlequina se
conheceram, e Hera foi uma peça fundamental na
transformação de vida da segunda. As duas passaram
de amigas a amantes e hoje vivem o romance abertamente
nos quadrinhos e na série animada “Harley
Quinn”.
Valkyrie (Marvel Comics)
Com sua primeira aparição em 1970 e também
conhecida como Brunnhilde, a personagem é de
origem nórdica e se tornou uma heroína após ter
passado um tempo aprisionada por um feitiço. Asgardiana,
assim como Thor, possui superpoderes, o que
1940
1941
1956
1966
1970
Linha
do
Tempo
Mulher-Gato
(DC Comics)
Mulher-Maravilha
(DC Comics)
Batwoman
(DC Comics)
Hera Venenosa
(DC Comics)
Valkyrie
(Marvel Comics)
45
faz com que ela possa lutar contra os vilões mais
fortes. A personagem considerada bissexual ganhou
sua adaptação para o cinema interpretada por Tessa
Thompson, que lutou e ainda luta para que a sexualidade
da personagem seja mais bem explorada, principalmente
no âmbito cinematográfico, no qual
ganhou um grande destaque nos últimos anos.
Mulher-Maravilha. Divulgação: DC Comics.
Batwoman. Divulgação: DC Comics.
Valkyrie baseada na atriz Tessa Thompson.
Divulgação: DC Comics.
Icemaiden (DC Comics)
É uma super-heroína bissexual que teve sua primeira
aparição nos quadrinhos em 1977. Como o próprio
nome já dá a entender, o poder da personagem vem
do gelo. Poder esse que ela ganhou ainda criança
devido a um experimento.
Madame Xanadu (DC Comics)
Com sua primeira aparição nos quadrinhos em
1978, a personagem é uma cartomante bissexual que
atua como uma vidente heroína. Por causa de seus
poderes e sua imortalidade, ela é sempre convocada
para ajudar outros que também trabalham com
magia. Madame Xanadu ganhará uma adaptação para
TV pelo HBO MAX.
Erin Shvaughn (DC Comics)
É uma super-heroína transexual que integrava em
algumas edições os quadrinhos da “Legião de Super-Heróis”.
Teve uma primeira aparição em 1978. A personagem
teve seu arco recriado e a DC Comics apagou
sua história enquanto transexual.
Mística (Marvel Comics)
Uma das personagens mais conhecidas do universo
“X-Men”, Mística é uma anti-heroína que possui características
bem peculiares. Apresentada pela primeira
vez em 1978, enquanto uma metamorfa, não é muito
difícil de imaginar que a personagem nunca foi heterossexual.
Só que essa confirmação só aparece mais
tarde em seu relacionamento de anos com Sina.
Gata Negra (Marvel Comics)
Uma vilã recorrente nas histórias do Homem-Aranha,
1977
1978
1978
1978
1979
Icemaiden
(DC Comics)
Madame Xanadu
(DC Comics)
Erin Shvaughn
(DC Comics)
Mística
(Marvel Comics)
Gata Negra
(Marvel Comics)
a Gata Negra teve sua primeira aparição em 1979
como uma grande sedutora e com habilidades de luta
e de roubo, além de um poder peculiar: o da má sorte.
A personagem se relacionou com Peter Parker e, mais
recentemente, em 2020, foi confirmada a sua bissexualidade,
apesar de ter sido especulada por anos.
Karma (Marvel Comics)
Criada em 1980, a personagem faz parte do grupo
“Novos Mutantes”. Karma traz representatividade por
sua história enquanto vietnamita, carregando para os
quadrinhos uma visão sobre a Guerra do Vietnã
enquanto vivia lá. Além disso, a personagem tem
superpoderes, como o de possuir mentes, e é considerada
a líder dos “Novos Mutantes” em alguns momentos.
Durante toda sua história é possível observar que
Karma é abertamente lésbica e, em 2009, sua sexualidade
foi explicitamente assumida.
46
Sina (Marvel Comics)
Com sua primeira aparição em 1981, a vilã teve seus
primeiros sinais enquanto mutante aos 13 anos começando
a prever o futuro; um pouco mais tarde esse
poder custou a sua visão. Junto com Mística viveu
uma vida de crimes e romance que, muitas vezes, foi
citada nos quadrinhos de forma bem sutil.
Maggie Sawyer (DC Comics)
Com sua primeira aparição em 1987 nos quadrinhos
do “Superman”, Maggie faz parte da Unidade de
Crimes Especiais. A personagem se assumiu lésbica
após o divórcio com um homem com quem teve uma
filha. Logo após isso, ela se mudou para Metrópolis e
começou um relacionamento com uma mulher.
Harley Quinn (DC Comics)
Harley Quinn ou Arlequina, como preferir, teve seu
primeiro aparecimento na série animada do
“Batman”, em 1992, com a intenção de ser apenas
interesse amoroso e capacho do vilão Coringa. A
personagem conquistou um público tão grande que,
em 1994, ganhou seu próprio arco nos quadrinhos.
Harley Quinn. Divu
Sendo uma médica psiquiatra que foi completamente
seduzida, manipulada e machucada pelo Coringa, a
história vira de cabeça para baixo quando ela conhece
Hera Venenosa, que é quem a salva do fundo do poço
do relacionamento tóxico com o vilão.
Renee Montoya (DC Comics)
A personagem foi criada em 1992 e é uma policial
detetive na cidade de Gotham. Com uma história de
vida difícil e de muitas frustrações, Montoya abandonou
a vida de detetive e mais tarde acabou se tornando
uma vigilante. Sua sexualidade não era exatamente
um problema para os escritores, mas ela só foi revelada
como lésbica em 2003.
Coágula (DC Comics)
Com sua primeira aparição em 1993, a personagem
é uma das primeiras personagens transexuais nos
1980
1981
1987
1992
1992
Karma
(Marvel Comics)
Sina
(Marvel Comics)
Maggie Sawyer
(DC Comics)
Harley Quinn
(DC Comics)
Renee Montoya
(DC Comics)
47
história de vida complexa, com pais vilões, e se torna
uma fugitiva, pois não consegue encarar a verdade
que, assim como seus pais, ela também é uma alienígena.
Mais tarde, Karolina se apaixona por uma de
suas melhores amigas, Nico Minoru.
Nico Minoru (Marvel Comics)
Com sua primeira aparição em “Fugitivos”, em 2003,
Nico é filha de vilões mágicos e decide levar sua vida
sozinha. Em sua jornada descobre que possui poderes
parecidos com os dos pais. Ela é bissexual e durante
sua trajetória acaba se envolvendo com sua melhor
amiga, Karolina Dean.
Scandal Savage (DC Comics)
É uma vilã lésbica, filha do conhecido Vandal
Savage, e teve sua primeira aparição em 2005. Foi
criada no Brasil, por sua mãe, porém foi fortemente
treinada por Savage durante a infância. Apesar de
extremamente forte e resistente, ela não herdou a
imortalidade do pai.
lgação: DC Comics.
quadrinhos e recebe os poderes durante seu trabalho
de prostituta, quando se relaciona com um personagem
radioativo. Seus poderes consistem em coagular
líquidos e dissolver sólidos. Ela tenta se envolver com
a “Liga da Justiça”, mas é ignorada e acaba se envolvendo
com a “Doom Patrol”.
Lord Fanny (DC Comics)
Personagem transexual e brasileira, ela é uma super-
-heroína que teve sua primeira aparição em 1994,
sendo protagonista da equipe “Os Invisíveis”. Com
uma história bastante difícil, a personagem faz parte
da gama obscura dos heróis da DC Comics. Teve seu
arco encerrado nos anos 2000.
Karolina Dean (Marvel Comics)
Com sua primeira aparição em 2003, a personagem
lésbica faz parte do grupo “Fugitivos”. Carrega uma
America Chavez (Marvel Comics)
A mais recente personagem assumindo o manto de
Miss América, America Chavez chega nos quadrinhos
da Marvel repleta de representatividade. Ela é uma
personagem latina, além de ser abertamente lésbica
em sua história. Foi criada em 2011 e faz parte da
gama de super-heróis recentes que estão nascendo.
Importante destacar que ela tem uma série de quadrinhos
solo, faz algumas aparições, como em “Marvels
Rising”, e foi escalada para estar no filme “Doctor Strange
in the Multiverse of Madness”.
É importante ressaltar que as personagens estão
sendo, em sua maioria, reconstruídas fora dos
padrões antes estereotipados. As adaptações para o
cinema, TV e as animações também têm sido instrumento
forte na questão de mostrar melhor a representatividade.
O grande responsável por muitos anos de
personagens escondendo sua sexualidade, ou apenas
sendo feitas insinuações a respeito disso, foi o Código
1993
1994
2003
2003
2005
2011
Coágula
DC Comics)
Lord Fanny
DC Comics)
Karolina Dean
(Marvel Comics)
Nico Minoru
(Marvel Comics)
Scandal Savage
(DC Comics)
America Chavez
(Marvel Comics)
48
de Ética dos quadrinhos, uma forma sutil de dizer censura. Atualmente nenhuma empresa trabalha mais com
esse selo, mas a abolição total dessa censura ainda é muito recente. Por isso, as primeiras confirmações de
personagens LGBTQIA+ são recentes. Existiam muitos problemas em representar essas sexualidades abertamente
nos quadrinhos.
Uma outra crítica é em relação às personagens transexuais. Todas são representadas de forma estereotipada
como se a única forma de existirem fosse através da prostituição. As vidas dessas personagens não eram exploradas
para além disso. A transexualidade não é trabalhada nos quadrinhos, pois os arcos das personagens que
existiam foram encerrados.
Podemos observar uma tendência
de crescimento da representatividade,
o que é extremamente necessário.
Temos personagens cuja sexualidade
é muito bem explorada, como a
Batwoman, e outros que ainda
vemos nas entrelinhas, apesar da
confirmação dos roteiristas, como a
Mulher-Maravilha. Hoje temos
muito mais chances de construir
narrativas diversas e representativas
do que durante a censura, ainda
mais enquanto assistimos esses
personagens indo para o cinema ou
para a TV.
Lord Fanny. Divulgação: DC Comics.
America Chavez. Divulgação: Marvel Comics.
Monica Teixeira
Monica Teixeira é estudante de Pedagogia muito apaixonada pelo universo literário.
Amante de séries de médico, viciada em tudo que envolve super-herois e não perde um
episódio de Legends Of Tomorrow. Ela vive na Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro.
49
A culpa é
do Lewis Carroll
Ela era assim: distraída, tímida, inteligente, reservada, parecia viver no
mundo das maravilhas. Remetia à Alice, personagem de Lewis Carroll, o que
de pronto me fazia pensar na minha história favorita da Disney. E foi com
um “Oi, então hoje é seu aniversário?” que tudo começou. Havia algo nela,
entende, algo que poucos enxergavam. Dentro daquela piscina cor de mel
pairava uma tristeza, uma espécie de solidão, e o sorriso nos lábios vermelhos
nem sempre condiziam com a realidade.
Semelhante ao Coelho Branco, estava sempre atrasada para seus compromissos.
Costumava ser divertido vê-la quase correr pelos corredores para conseguir
chegar a tempo. Um dia conversamos. Rápido, sem delongas. “Você
sabe quem é a Mariana?”, perguntei, e ela me contou como a conhecia. Entre
esses pequenos encontros e diálogos, algo inesperado surgiu. Contido,
acanhado, quieto. Prestes a causar turbulência.
Sua memória parecia a do Chapeleiro Maluco, você dizia algo e ela não
tardava de esquecer. Não era falta de atenção, fazia parte da personalidade.
“Qual é o seu ascendente mesmo?”, indagava novamente três dias depois.
Diferente da Rainha de Copas, sua voz era doce, serena, agradável aos ouvidos.
Às vezes conversávamos, bastante, sobre variados assuntos. Às vezes me
encarava, simplesmente. “Você está pensando em algo, minha querida, e isso
faz com que se esqueça de falar”, Carroll escreveu, me lembrava.
Um dia uma porta se abriu, levantei os olhos que estavam grudados em um
livro de Antoine de Saint-Exupéry e disse “mais uma esnobe”. Era ela e mal
sabia eu.
Alice Groves
Não sei se sou mais jornalista ou mais escritora. Algo no meio. Encontre-me entre notícias do dia a
dia, artigos, contos, histórias e poesias.
50
Os Signos na
Parada LGBTQIA+
Já deixo aqui o aviso de possíveis gatilhos para quem, como eu, está com saudade de uma boa aglomeração.
As famosas Paradas, além de um momento de manifestação política e social, são também um quase
Carnaval fora de época, afinal a gente tem que honrar a nossa fama de lgbt povo animado haha, e como nem
só de caminhão vive a mulher sapatão*, a gente não pode ver um trio que fica empolgadinha também, se bem
que, depende do signo, certo?! Por isso a gente fez uma listinha aqui para você já imaginar o que esperar da
próxima vez, baseado nessa ciência tão exata e comprovada… A ASTROLOGIA!
Áries - Pode ter certeza que serão as primeiras a topar o rolê, o único problema é que
uma ariana raiz provavelmente vai passar metade do trajeto tretando com todo mundo
que esbarrar nela, torça para não derrubar a bebida dessa pessoa, pois ISSO É GRAVE!
Bom, a outra metade vai estar tomando iniciativa para tentar beijar a crush. Mas não se
preocupe, a lealdade deste signo nunca vai te deixar na mão.
Touro - Por ser uma grande fã do conforto da própria casa, uma Parada muito movimentada
talvez não seja a melhor opção de festa para uma taurina, mas se for, estejam alertas
que ela vai precisar estar bem alimentada só para evitar um possível estresse, mas já
adianto, melhor pessoa para dividir aquele dogão no meio do rolê não há!
Gêmeos - Ai, ai a dualidade da geminiana, comunicativas, são apaixonadas por festas e
eventos onde possam conhecer gente nova, o que faz da Parada um rolê imperdível, mas
tenha em mente que isso pode mudar a qualquer momento e ela tenha um plano B, que
envolva um bom cochilo a tarde toda, e você nem saiba disso.
Câncer - Grandes eventos talvez não sejam a primeira opção desse signo, que costuma
preferir lugares ou situações em que possa fazer o que quiser sem se preocupar, ou ter
suas vontades respeitadas, mas caso você consiga arrastar uma canceriana para festa, não
se surpreenda com ela se emocionando do mais absoluto NADA com a multidão, esbanjando
orgulho ao som de “Firework” ou “Born This Way”.
Leão - Ela vai para BRILHAR! Sabe aquela menina enrolada na bandeira LGBTQIA+
com o glitter on point e sendo o centro das atenções, é a mulher de Leão, dona de uma
personalidade confiante, ela honra muito a palavra orgulho e não deixa de se mostrar.
Além disso, pelo forte espírito de liderança é possível que ela seja também parte da voz
ativa e política do movimento.
Virgem - Para tirar uma virginiana de casa para uma festa que inclui muito barulho,
bebida, suor e muvuca, primeiro, você merece um prêmio (e ela também) e, segundo,
saiba que serão nas condições dela. Se tem alguém que vai se preocupar em planejar
tudo, como horários e pontos de encontro, esse alguém é a virginiana, ela é a alma sensata
do rolê, que vai te salvar de ficar perdido do resto dos amigos, porque quando
ninguém nem sabia que precisava... ela fez UM PLANO.
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Libra – Se umas planejam demais, outras preferem deixar rolar, e a libriana é essa
pessoa. Famosas por serem "de boas", quando cercadas das pessoas certas, não têm
dificuldades em se divert e nem em se apaixonar. É bem possível que ganhe alguns
amores da vida no decorrer do evento, e depois sofra para lidar com a indecisão de
quem escolher nos dias seguintes.
Escorpião - Bom, todo mundo sabe a fama que as pessoas desse signo têm de curtir uma
pegação, certo? É óbvio que a escorpiana não perderia a oportunidade de flertar com
metade da cidade, o prazer da conquista anima mais essa mulher que a última música
da Pabllo Vittar, então pode ter certeza que, se quiser companhia para ir à Parada, ela é
a pessoa certa, só não garantimos que ela vá voltar com você!
Sagitário - "Vamo na p….?" "Vamo", é assim a vida da sagitariana, totalmente aberta a
convites para fazer coisas diferentes, a Parada é o evento DO ANO! Cantar, dançar e
curtir como se não houvesse amanhã estão no sangue desse signo, se começar a tocar
“Break Free” procure pela sagitariana em cima do ônibus mais perto de você!
Capricórnio - A seriedade da primeira impressão cai por terra uma vez que ela começa
a sentir a vontade na festa, se tiver cercada de amigos de confiança então, você conseguirá
ver a caprica se soltar e finalmente curtir o rolê, sem, é claro, deixar de se preocupar
se tão cobrando muito caro na bebida ou se o Uber tá com tarifa dinâmica.
Aquário - Boa sorte em tentar convencer a aquariana a ir à Parada, mas se ela for não
estranhe, ela gosta de ser diferente e vai curtir a festa do seu jeito, às vezes mais tímida,
às vezes procurando conhecer gente diferente, pode parecer desânimo ou desinteresse,
mas é só o jeito whatever dela de ser.
Peixes - A pobre da pisciana perdida no rolê, senhor! Além da altíssima probabilidade
de se perder do grupinho num momento de distração, a Parada tem muita gente bonita
e interessante para essa mulher se apaixonar com cinco minutos de festa, e passar o resto
do dia planejando o namoro, casamento e quantos gatos elas vão ter… Ah, sendo que
ela se esqueceu de pegar o contato, óbvio!
*Eu usei sapatão como termo guarda-chuva só pelo meme, gente, não me matem, serve pras Bi, pras Pan, pra
todo mundo que é gado gosta de mulher!
astrologa
de mewira
´
Roberta Valentim
Roberta é pura série teen, filme de super heróis e música pop. Publicitária de
formação, designer de profissão e entendida de cultura POP por paixão. Habitante
do país Minas Gerais, mas que sonha em conhecer o mundo todo.
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palavras cruzadas
The L Word
(2004-2009)
7
6
1. Qual é o nome da filha da Tina e da Bette?
2. Quem roubou o filme que a Tina produziu?
3. Quem era o namorado da Jenny?
4. Com quem Shane noivou?
5. Por causa de quem as protagonistas de The
L Word fazem a caminhada de prevenção ao
câncer de mama?
6. Qual era o nome do bar-café de The L Word?
7. Quem desistiu da carreira de militar para
ficar com Alice?
8. Quem teve a bissexualidade apagada na
série?
9. Onde se passa The L Word?
5
4
9
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8
3
1
Foto: Divulgação.
EM BREVE
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