Revista Aquaculture Brasil - 23ed
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REVISTA
AQUACULTURE
BRASIL
EDIÇÃO
23
ABR/JUN
2021
PRÊMIO CAPES DE TESE
2020
ISSN 2525-3379
AQUICULTURA
MULTITRÓFICA
INTEGRADA:
Uma aplicação ao sistema de
bioflocos e economia circular
Artigo: Principais normas
que regulamentam a
aquicultura no Brasil
Coluna: Múltiplos usos
da água
Entrevista: Adriana
Ferreira da Silva - UNAM/
México e Aquícola Garza
Eles fazem a diferença:
Ofélia Maria Campigotto
MAR/ABR 2018
1
AQUACULTURE BRASIL
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA
BRASILEIRA!
EDITOR-CHEFE:
Giovanni Lemos de Mello
redacao@aquaculturebrasil.com
EDITORES-ASSISTENTES:
Alex Augusto Gonçalves
Artur Nishioka Rombenso
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano
Roberto Bianchini Derner
Rodolfo Luís Petersen
DIREÇÃO DE ARTE:
Syllas Mariz
Jéssica Brol
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:
Adolfo Jatobá, Adriana F. da Silva, Amanda Favetta,
Amanda Murarolli Ribeiro, Brunna Louise Nunes de Sousa,
Caio H. N. Ferreira, Carlize Lopes, Caroline Munhoz
Meira, Eduardo da Silva, Eduardo L. C. Ballester, Esmeralda
Chamorro Legarda, Fabio Rosa Sussel, Fabrício M.
Dutra, Felipe do Nascimento Vieira, Gabriel Deschamps,
Géssyca T. M. M. Santos, Janaína S. Santos, Leonardo
C. A. Ferreira, Marco Antônio de Lorenzo, Marcos T. T.
Júnior, Maria Luiza Rodrigues de Souza, Melina Franco
Coradini, Nara Mendes Queiroz Ribeiro, Neydsom S.
Barbosa, Ng H. They, Nívia L. C. Siqueira, Ofélia Maria
Campigotto, Otávio Augusto L. F. Pimentel, Rayssa D.
Lira, Robilson Antonio Weber e Yolanda M. Dantas
Os artigos assinados e imagens são de
responsabilidade dos autores.
COLUNISTAS:
André Camargo
Artur Nishioka Rombenso
Diego Maia Rocha
Eduardo Gomes Sanches
Fábio Rosa Sussel
Giovanni Lemos de Mello
Ivã Guidini Lopes
Juliana Antunes Galvão
Marcela Maia Yamashita
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano
Rodolfo Luís Petersen
Ronaldo O. Cavalli
As colunas assinadas e imagens são de
responsabilidade dos autores.
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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação
trimestral da EDITORA
AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.
(ISSN 2525-3379).
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88790-000.
A AQUACULTURE BRASIL não se
responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de
terceiros.
Mais uma edição online!
Talvez eu seja suspeito para falar, mas toda vez
que fazemos a última leitura, os últimos ajustes no
texto e na diagramação, previamente ao lançamento,
temos a sensação de que está em nossa
tela a melhor edição de todas.
Sensação que já se repetiu outras 23 vezes.
Não posso deixar de registrar o trabalho editorial
de nossa colaboradora Jéssica Brol. Uma
grande Engenheira de Pesca, que se especializou
na diagramação de nosso periódico, aliás, o mais
lindo do País, não acham?
Como assim uma Engenheira de Pesca trabalhando
com diagramação, design visual e editoração de uma revista?
Queridos amigos leitores, é preciso pensar e agir fora da caixa!
A pandemia do Covid-19 nos trouxe várias lições. Algumas, somente assimilaremos
e compreenderemos no futuro. Mas os aprendizados já estão aí.
As universidades vazias, com aulas online pouco produtivas, talvez coloquem
em xeque a continuidade de vários cursos de graduação, de várias áreas.
Se estou falando dos cursos de graduação da área de aquicultura? Estou
falando de todas as áreas...
Há tempos que características como comprometimento, iniciativa, assiduidade,
honestidade, responsabilidade, ética, capacidade de trabalhar em equipe,
criatividade, entre outras, são importantes para um profissional, de qualquer área.
O “feijão com arroz” da aquicultura, vários profissionais podem se especializar,
na linguagem comum, podem “desenrolar”. Agora as características acima
citadas, como aprender ou desenvolver? Vêm de berço?
Viva os administradores, nutricionistas, engenheiros de alimentos, engenheiros
de produção, médicos e advogados que queiram se especializar na área de
aquicultura.
Isto vai ser gigante no País e precisamos de todos vocês!
Aquele corporativismo que ainda vemos em alguns “perdidos” por aí? Vai
acabar. Assim como essas pessoas estão cada vez mais no ostracismo em seus
locais de trabalho.
Viva a diversidade aquícola!
Ótima leitura!
Giovanni Lemos de Mello,
Editor-chefe.
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SUMÁRIO
AQUACULTURE BRASIL - edição 23 abr/jun 2021
08 FOTO DO LEITOR
»»
p.10
10 PRINCIPAIS NORMAS QUE REGULAMENTAM A
AQUICULTURA NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA
HISTÓRICA
22 MÉTODOS DE CONTROLE DA ICTIOFITIRÍASE: QUAIS
OS PRÓXIMOS PASSOS NA PREVENÇÃO DESTA
DOENÇA?
28 AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA E
ECONOMIA CIRCULAR APLICADOS AO SISTEMA DE
BIOFLOCOS
»»
p.22
36 CRIAÇÃO DE JACARÉS DO PANTANAL (Caiman
yacare):UMA ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO DE
ANIMAIS SILVESTRES BRASILEIROS
44 INFORMAÇÕES PRÁTICAS SOBRE OS ANESTÉSICOS
MAIS COMUNS NA AQUICULTURA
52 PRODUÇÃO DE Litopenaeus vannamei EM SISTEMA
DE BIOFLOCOS COM USO DE TECNOLOGIA DE
CONSÓRCIO PROBIÓTICO
60 ESPAÇO EMPRESA - VAXXINOVA
»»
p.36
64 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR
65 CHARGES
6
»»
p.90
66 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA
68 ATUALIDADES DA CARCINICULTURA
70 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA
»»
p.44
72 AQUICULTURA ORNAMENTAL
74 GREEN TECHNOLOGIES
76 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA
78 VISÃO AQUÍCOLA
80 PISCICULTURA MARINHA
82 SANIDADE
»»
p.52
84 GESTÃO DE RESÍDUOS
86 NAVEGANDO NA AQUICULTURA
88 TECNOLOGIA DO PESCADO
90 ENTREVISTA - ADRIANA FERREIRA DA SILVA
96 ELAS FAZEM A DIFERENÇA
100 DESPESCOU
»»
p.84
7
Alevino de Pirarucu
(Presidente Figueiredo, AM)
Manoel Pio
Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata,
Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri
(Fortaleza, CE)
Giancarlo Lavor
Camarão marinho - Litopenaus vannamei
(Fortaleza, CE)
Edras Rodrigues
Cultivo de Gracilaria caudata
(Registro, SP)
Aryanne Rodrigues de Lima Franco
ABR/JUN 2021
8
Produção de tilápia - Associação dos Piscicultores do Serrote Preto
(Petrolândia, PE)
Fagner Barros Pankararu
Estágio de Engenharia de Pesca, na fazenda de camarão Espaço Aqua Japi
(Jundiaí, SP)
Patrizia Paula
ABR/JUN 2021
>>
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia
e participe desta seção.
redacao@aquaculturebrasil.com
9
© Daniela Campeche
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10
PARCEIROS NA 23° ED:
Principais normas que
regulamentam a aquicultura
no Brasil: uma perspectiva
histórica
Otávio Augusto L. F. Pimentel 1, 2 * , Yolanda M. Dantas 1, 3 , Bárbara S. F. G. Bacurau 1 ,
Nívia L. C. Siqueira 1, 4 , Géssyca T. M. M. Santos 1 , Leonardo C. A. Ferreira 1,5 ,
Neydsom S. Barbosa 1 , Rayssa D. Lira 1, 2 , Marcos T. T. Júnior 1 , Janaína S. Santos 1 e
Ng H. They 1, 6
1
Departamento de Oceanografia e Limnologia
Centro de Biociências
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, Brasil
2
Programa de Pós Graduação em Aquicultura
Instituto de Oceanografia
Universidade Federal do Rio Grande
Rio Grande, Brasil
3
Programa de Pós Graduação em Ecologia
Centro de Biociências
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, Brasil
*otavio.pimentel@yahoo.com
4
Programa de Pós Graduação em Ciência e Eng. de Materiais
Centro de Ciências Exatas e da Terra
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, Brasil
5
Programa de Pós Graduação em Bioinformática
Instituto Metrópole Digital
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, Brasil
6
Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos
Departamento Interdisciplinar, Campus Litoral Norte
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Imbé, Brasil
O
histórico da regulamentação ambiental
da aquicultura no Brasil é marcado pela
inexistência, por muitas décadas, de um
corpo normativo específico e por um amparo inicial
em uma legislação mais ampla referente aos recursos
hídricos. A década de 30 foi marcada por vários
decretos que traziam alguns poucos aspectos relacionados
à temática ambiental, ainda de maneira muito
incipiente. É de 23 de janeiro de 1934 que data o
Decreto nº 23.793, o chamado Primeiro Código Florestal,
que não fazia menção direta a nenhuma atividade
de pesca ou aquicultura, mas já trazia a ideia da
proteção de matas ciliares em cursos d’água.
No mesmo ano, entrou em vigor o Código de
Águas (Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934),
que possuía dois capítulos que faziam referência à obrigatoriedade
de observância de leis em relação à pesca.
A preocupação ambiental aparecia de maneira tímida,
conforme pode ser observado no Código de Caça e
Pesca (Decreto nº 23.672, de 2 de janeiro de 1934),
que entrou em vigor também no mesmo ano. Em seu
artigo 6º, o Código estabelecia a obrigatoriedade da
observância de dispositivos que objetivavam, dentre
outras coisas, “a defesa e conservação das espécies da
fauna e flora aquáticas existentes”. Em seu capítulo VII,
há vários artigos sobre ostreicultura e maricultura, no
qual é chamado de “propagação em parques artificiais”,
e particularmente interessante é o artigo 73, que proibia
o fundeamento de embarcações e lançamento de
efluentes sobre os bancos de moluscos demarcados.
Também há menção no artigo 74 sobre a sustentabilidade
da coleta de moluscos de bancos, nos seguintes
termos: “os bancos que ficarem descobertos na maré
baixa só poderão ser explorados com emprego de ins-
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PARCEIROS NA 23° ED:
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ABR/JUN 2021
trumentos que não arranquem os moluscos em grandes
porções”. Ainda, no capítulo XII, há artigos que estabelecem
que represamentos de rios e córregos ficam sujeitos
à obrigatoriedade de construção de escadas de peixes, ascensores,
tanques de espera ou barragens suplementares.
O Decreto-Lei 1 nº 794 de 19 de outubro de 1938,
o chamado Código de Pesca, revogou e substituiu a parte
da pesca do Código de Caça e Pesca de 1934. Esse Decreto-Lei
proibia, por exemplo, a criação de currais de
peixes, as chamadas “cercadas”. Ele apresentava um capítulo
específico sobre “Moluscos, Crustáceos, Esponjas
e Algas”, o capítulo VII, em que novamente é estipulada
a proibição de lançamento de detritos e fundeamento
de embarcações em bancos de moluscos. O capítulo
VII permitia a instalação de coletores de ostras próximo
aos bancos naturais para a coleta de material destinado
ao cultivo em parques artificiais e indicava o serviço de
caça e pesca como órgão responsável por regulamentar o
estabelecimento de parques artificias para o cultivo de ostras
e mexilhões. Também figurava pela primeira vez um
capítulo específico sobre piscicultura, o capítulo X. Nesse
capítulo eram estabelecidas as regulamentações das estações
de piscicultura federais, estaduais, municipais e particulares.
Entre alguns aspectos da proteção ambiental que
figuravam nesse capítulo estão a proibição de importação
e exportação de peixes vivos ou ovos para o exterior sem
prévia autorização do serviço de caça e pesca e também
a criação das Estações Estações Experimentais de Biologia,
voltadas à propagação e defesa da fauna e repovoamento
de cursos d’água. Em seu capítulo XI, empreendimentos
de represamentos de rios ficaram com obrigatoriedade
atrelada de realizar obras de conservação da fauna fluvial,
através de construção de estruturas para passagem de peixes
ou estações de piscicultura.
O segundo Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de setembro
de 1965) entrou em vigor em meados da década
de 60 e revogou o Primeiro Código Florestal da década de
30. Ainda não havia menção direta a atividades de aquicultura,
mas constituiu um marco na legislação ambiental brasileira
por ter criado as Áreas de Preservação Permanente
(APPs), que são definidas como faixas marginais ao longo
de cursos d’água, cobertas ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de “preservar os recursos hídricos,
a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populações humanas”. Assim, embora não
mencionasse explicitamente a aquicultura, a lei restringia
uma série de atividades que pudessem prejudicar ou suprimir
as APPs, o que poderia ser estendido, de acordo
com a interpretação, a várias atividades de aquicultura.
Em 1967 foi aprovado o Decreto-Lei nº 221, de 28
de fevereiro, que tratava da proteção e estímulos à pesca
e que revogou o antigo Código de Pesca de 1938. Não
houve menção explícita a questões ambientais relacionadas
diretamente à aquicultura, mas houve o estabelecimento
da obrigatoriedade de medidas de proteção da
fauna para quaisquer empreendimentos que causem alterações
em regimes d’água, tais como barragens e desvios.
Houve também uma menção breve e bastante genérica
sobre a proibição de lançamento de efluentes de esgoto
e resíduos líquidos que possam tornar as águas “poluídas”.
Esse Decreto-Lei foi posteriormente revogado pela Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura,
que é comentada em detalhes ao longo do texto.
Nota-se, de maneira geral, que a legislação, embora
fizesse menção a questões ambientais pontuais, o fazia de
maneira bastante utilitarista, com vistas a evitar a sobrecarga
dos estoques naturais e à manutenção das condições
sanitárias do pescado. A partir de meados da década
de 1990, normas específicas passam a surgir para o setor
da aquicultura, buscando seu ordenamento de forma a
preservar os ecossistemas aquáticos naturais de possíveis
impactos ligados à atividade, reconhecendo o valor intrínseco
da proteção ambiental.
Esses dispositivos legais mais recentes englobam vários
aspectos, tais como a classificação dos empreendimentos
aquícolas quanto ao porte e aos possíveis impactos, critérios
de descarte de efluentes, zoneamento de áreas ambientalmente
sensíveis (e.g. manguezais), processo de cadastramento
e licenciamento de atividades aquícolas e a normatização
do uso de organismos geneticamente modificados.
Com o crescimento da produção aquícola brasileira, o
cumprimento das obrigações legais previstas para a instalação
dos empreendimentos aquícolas se faz necessário para
que a atividade possa se expandir de maneira ambientalmente
segura. Entretanto, a legislação voltada para a aquicultura
é fragmentada em diversas normas 2 (leis, portarias,
decretos, instruções normativas (IN)) e são em geral
de difícil compreensão, principalmente para aquicultores
com menor familiaridade com a linguagem jurídica, o que
pode se tornar um obstáculo para o cumprimento delas.
Portanto, o presente artigo tem como objetivo apresentar
um ementário das principais normas federais relacionadas
à aquicultura, sob uma perspectiva histórica e em ordem
cronológica, buscando expor os principais aspectos que devem
ser minimamente conhecidos por quem atua na área.
1
Decreto-Lei: tipo de norma que existiu até a Constituição Federal de 1988. Tinha aspecto semelhante à atual Medida Provisória.
2
Norma: é o termo geral para textos legais: toda lei é uma norma, mas nem toda norma é uma lei. Algumas normas podem ser resoluções ou
instruções normativas, por exemplo, expedidas por Conselhos ou pelo Poder Executivo (não Legislativo).
12
PARCEIROS NA 23° ED:
A partir de meados da
década de 1990, normas
específicas passam a
surgir para o setor da
aquicultura, buscando seu
ordenamento de forma a
preservar os ecossistemas
aquáticos naturais de
possíveis impactos ligados
à atividade, reconhecendo
o valor intrínseco da
proteção ambiental.
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PARCEIROS NA 23° ED:
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Legislação:
Lei 6.938/1981 - Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA)
A PNMA foi um marco na legislação ambiental brasileira
por trazer a criação, dentre outras coisas, do arcabouço
institucional ambiental no país, o Sistema Nacional
de Meio Ambiente (SISNAMA). A lei também instituiu a
obrigatoriedade da Avaliação de Impactos Ambientais e
dos Relatórios de Impacto Ambiental, o licenciamento
para atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, os
padrões de qualidade ambiental (para ar, águas e solo), o
zoneamento ambiental, a criação de áreas de proteção
ambiental de relevante interesse ecológico e as reservas
extrativistas. Além disso, também criou a Taxa de Controle
e Fiscalização Ambiental (TCFA), trimestral, que incide sobre
atividades licenciadas e que varia em função da pessoa
(física ou jurídica), do porte da empresa e da quantidade de
recursos demandada. A lei também explicita a obrigatoriedade
da recuperação e indenização dos danos ambientais
causados, bem como recomenda a utilização de práticas
que melhorem a qualidade ambiental, o que deve ser estimulado
pelo Poder Público através de isenções fiscais.
Situação: vigente.
Resolução do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA)
04/1985 - Reservas ecológicas
Essa norma dispõe sobre as Reservas Ecológicas, consideradas
formações florísticas e as áreas de florestas de
preservação permanente mencionadas na PNMA. A resolução
determina larguras mínimas para essas áreas de
preservação e cita como Reservas Ecológicas as formações
vegetais nas áreas de entorno dos corpos d’água, que são
denominadas atualmente de Áreas de Preservação Permanente.
Outro importante ponto é a caracterização do
manguezal como Reserva Ecológica e a sua conceituação
como “ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos
sujeitos à ação das marés localizadas em áreas relativamente
abrigadas e formado por vasas lodosas recentes
às quais se associam comunidades vegetais características”.
A resolução ainda cita a competência dos Estados e Municípios,
através de seus órgãos ambientais responsáveis,
para o estabelecimento de “normas e procedimentos mais
restritivos que os contidos na Resolução, devendo ser
adequadas às peculiaridades regionais e locais”. Situação:
revogada pela resolução CONAMA 303 /2002.
Resolução CONAMA 01/1986
- Avaliação de impacto ambiental
Essa resolução regulamenta as Avaliações de Impacto
Ambiental (AIAs), o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), determinando
uma série de atividades obrigatoriamente sujeitas às
AIAs. O EIA é um estudo técnico detalhado e completo,
desenvolvido por uma equipe multidisciplinar habilitada
e independente do proponente do projeto, contendo a
descrição da área, todos os possíveis impactos positivos e
negativos que um empreendimento pode causar, medidas
que serão tomadas para que os impactos mais significativos
sejam evitados, reduzidos (caso sejam inevitáveis)
ou sanados (mitigados, caso sejam irredutíveis). O RIMA
retrata sinteticamente as conclusões do EIA, devendo ser
apresentado em linguagem clara, acessível e bastante ilustrada,
sendo a versão pública deste. Embora a resolução
não explicite atividades de aquicultura, ela estabelece que
nos casos não previstos, os órgãos competentes devem
analisar, com base na Constituição Federal, se a atividade
deve ter EIA/RIMA ou não. Ela estabelece ainda as esferas
de atuação dos órgãos do licenciamento, definindo que
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) deve ter competência em
âmbito federal e que os demais entes do Sistema Nacional
do Meio Ambiente (SISNAMA) devem atuar em suas
respectivas esferas de competência (estadual e municipal).
Situação: vigente.
Resolução CONAMA 20/1986 -
Classificação dos corpos d’água
Essa resolução foi a primeira que estabeleceu uma
classificação dos corpos d’água de acordo com a salinidade
(águas doces, salobras e salinas) e os seus princi-
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PARCEIROS NA 23° ED:
pais usos previstos. As classes dentro de cada tipo de
faixa de salinidade contêm níveis de qualidade (físicos,
químicos e microbiológicos) que devem ser atendidos
de acordo com os usos preponderantes. A aquicultura
é prevista em várias classes de águas dentro de todas
as faixas de salinidade. Situação: revogada pela resolução
CONAMA 357/2005.
Lei 7.661/1988 - Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (PNGC)
Essa lei é subordinada aos princípios da PNMA e
visa orientar a utilização dos recursos da zona costeira
através do PNGC, que deve definir o zoneamento de
diversos recursos, dentre eles as áreas de manguezais,
sistemas fluviais, estuarinos e lagunares. Ela determina
ainda que o PNGC deve levar em consideração os critérios
e padrões determinados pelo CONAMA.
Situação: vigente.
Constituição Federal de 1988 -
CF/88
A CF/88 foi outro importante marco ambiental pois
apresenta um artigo inteiro dedicado ao Meio Ambiente,
o art. 225. Além disso, temas relacionados ao Meio
Ambiente permeiam toda a Constituição. A CF/88 estabelece
o Meio Ambiente como um bem fundamental,
de uso comum, de direito de todos e que cabe ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo.
Estabelece ainda as águas como um bem público,
institui a obrigatoriedade do Estudo Prévio de Impacto
Ambiental e da recuperação da degradação ambiental,
além de sanções penais e administrativas em casos de
lesão ao Meio Ambiente. Vale ressaltar que as obrigatoriedades
determinadas pela CF/88 são regulamentadas
por outras normas posteriores (Leis, Resoluções, etc).
Situação: vigente.
Resolução CONAMA 237/1997
- Licenciamento ambiental
Essa resolução trata do licenciamento ambiental, definindo-o
como um processo administrativo feito pelo
órgão ambiental para a instalação, ampliação e operação
de empreendimentos que usem recursos naturais,
poluam e/ou possam potencialmente poluir ou causar
degradação ambiental. A licença, por sua vez, é um ato
administrativo em que o órgão ambiental competente
“estabelece as condições, restrições e medidas de
controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo
empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar,
instalar ou ampliar as atividades sujeitas ao licenciamento”.
O processo de licenciamento completo envolve 3
tipos de licença, que são obtidas nesta ordem: Licença
Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e a Licença de
Operação (LO). A LP é concedida antes de qualquer
modificação no ambiente, sendo avaliado se o local é
adequado e se o projeto é viável do ponto de vista
ambiental, isto é, busca-se evitar, reduzir e mitigar impactos
ambientais e se há alternativas mais sustentáveis,
como por exemplo a instalação em locais menos
sensíveis. Além disso, a LP estabelece uma série de
condicionantes que devem ser obedecidas nas etapas
subsequentes. A LI autoriza a instalação do empreendimento,
sempre de acordo com as condicionantes
(planos, programas e projetos aprovados pelo órgão
licenciador), bem como medidas de controle e monitoramento
ambiental. A LO autoriza a operação do
empreendimento, após verificado o cumprimento de
todas as condicionantes anteriores. Situação: vigente.
Portaria Normativa IBAMA
113/1997 - Cadastro Técnico Federal
de Atividades Potencialmente Poluidoras
ou Utilizadoras de Recursos
Ambientais
Essa portaria torna obrigatório o Cadastro Técnico
Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras, contemplando
pessoas físicas e jurídicas que se dedicam a
atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração,
produção, transporte e comercialização de produtos
potencialmente danosos ao meio ambiente, assim
como minerais, produtos e subprodutos da fauna, flora
e pesca. A aquicultura é enquadrada na categoria “Pesca”
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
15
ABR/JUN 2021
sob o código 20-04. A fim de manterem seus direitos decorrentes
do registro, as pessoas físicas ou jurídicas devem
renovar anualmente o certificado de registro, mediante a
contribuição com a importância correspondente ao valor
estabelecido na tabela de preços do IBAMA. Também
devem informar qualquer alteração cadastral num prazo
de 30 dias e, no caso de encerramento das atividades,
solicitar cancelamento do registro. Situação: vigente.
Lei 9.433/1997 - Política Nacional
de Recursos Hídricos (PNRH)
Essa lei é um dos marcos da gestão dos recursos hídricos
no Brasil, pois determina o seu arcabouço legal e
organizacional. Estabelece os Planos de Recursos Hídricos,
a exigência do enquadramento dos corpos d’água em classes,
de acordo com seus usos preponderantes, a exigência
da outorga de direitos de uso da água, a cobrança pelos direitos
de uso da água, o Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos, o qual deve disponibilizar o balanço atual
de recursos hídricos (disponibilidade qualitativa e quantitativa),
e a criação das Agências de Água. Um dos avanços
fundamentais da lei foi reconhecer as bacias hidrográficas
como unidades fundamentais de manejo, entendendo que
a gestão dos corpos d’água deve obedecer aos limites naturais
da bacia hidrográfica, que frequentemente não obedece
aos limites geográficos (fronteiras entre municípios,
estados e países). Situação: vigente.
Portaria IBAMA 145/1998
- Introdução, reintrodução e
transferência de peixes, crustáceos,
moluscos e macrófitas aquáticas para
fins de aquicultura, excluindo as espécies
ornamentais
Essa portaria proíbe a introdução de peixes e macrófitas
exóticas de água doce no Brasil. A introdução de
crustáceos, moluscos, macroalgas e peixes marinhos, no
entanto, pode ser realizada mediante Pedido de Introdução
e Cultivo Experimental ao IBAMA. Para tanto, deve-se
apresentar uma série de documentos, incluindo o Registro
de Aquicultor e informações sobre a espécie a ser introduzida
(nome da espécie, biologia, dados zootécnicos ou
agronômicos, estágio de desenvolvimento), procedimentos
de quarentena, local e métodos experimentais a serem
utilizados. Outras normas a respeito da reintrodução
e transferência de espécies são também apresentadas. Situação:
vigente.
Portaria IBAMA 136/1998 -
Normas para registro de aquicultor
e pesque-pague no IBAMA
Essa portaria estabelece normas para o registro de
aquicultor, que é definido como “pessoa física ou jurídica
que se dedique ao cultivo ou criação de organismos
cujo ciclo de vida ocorre inteiramente em meio aquático”.
Para solicitação do registro por pessoa física é necessária
a apresentação de uma série de documentos tais como
o Cadastro Técnico Federal de Atividades Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais, documento de recolhimento
de receita (DR, devidamente autenticado pela
rede bancária autorizada), cópia da carteira de identidade
(RG), cópia do CPF e cópia da Licença Ambiental de Operação
expedida pelo órgão ambiental competente. Para
pessoas jurídicas, são exigidos os mesmos documentos,
sendo o RG e o CPF substituidos por cópias do documento
de constituição atualizado, do cartão do Cadastro Geral
de Contribuintes, do comprovante de inscrição estadual
e do alvará de funcionamento expedido pela prefeitura.
Ao final do processo, o IBAMA emite um registro efetivo,
chamado de certificado de registro, que deve ser renovado
anualmente. Deve ser previamente autorizada pelo
IBAMA qualquer modificação nas condições em que foi
realizado o registro. Se houver desativação do empreendimento,
o registro deve ser cancelado mediante solicitação.
Situação: vigente.
Lei 9.984/2000 - Cria a Agência
Nacional de Águas e Saneamento
Básico (ANA)
Essa lei cria a ANA, uma autarquia vinculada ao Ministério
do Meio Ambiente que integra o Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIN-
GREH) e tem como finalidade implementar a Política
Nacional de Recursos Hídricos, dentro de suas atribuições,
ou seja, em águas de domínio da União. Para isso
ela supervisiona, controla e avalia ações e atividades
relacionadas ao cumprimento da legislação federal rela-
16
PARCEIROS NA 23° ED:
cionada aos recursos hídricos. Atribuições importantes
da ANA incluem conceder a outorga de direitos de uso
da água em corpos de domínio da União, fiscalizar o
uso de recursos hídricos e auxiliar os Comitês de Bacia
Hidrográfica na implementação da cobrança pelo uso
da água. A ANA ainda é responsável por disponibilizar
informação atualizada sobre o panorama da qualidade
e quantidade dos principais corpos d’água do território
nacional através do Sistema Nacional de Informações
sobre Recursos Hídricos (SNIRH), bem como promover
ações para prevenir ou minimizar o efeito das
secas e inundações. Abaixo da ANA estão as Agências
de Água, que atuam como secretarias executivas e possuem
como área de atuação os Comitês de Bacias Hidrográficas.
Situação: vigente.
Resolução CONAMA 302/2002
- Limites de Área de Preservação
Permanente de reservatórios artificiais
e regime de uso do entorno
Essa resolução trata das definições e limites de Áreas
de Preservação Permanente (APPs) de reservatórios artificiais
e da elaboração obrigatória de plano ambiental de
conservação e uso do seu entorno. Ela modifica e regulamenta
o artigo 2ª da Lei 4.771/65 (Segundo Código
Florestal, atualmente substituído pela Lei 12.651/2012,
o Novo Código Florestal), que previa uma Área de Preservação
Permanente de 100 m no entorno de cursos
d’água naturais ou artificiais com largura entre 50 e 100
m. A inovação dessa resolução foi a de diferenciar os reservatórios
artificiais em função do tamanho e da localização,
se rural ou urbana. A resolução determina como
APP a área no entorno de reservatórios artificiais de 30
m quando situados em áreas urbanas e 100 m para áreas
rurais, 15 m para reservatórios de geração de energia
com até 10 ha de área de superfície e 15 m para reservatórios
artificiais não utilizados para o abastecimento
público ou geração de energia elétrica com até 20 ha de
área de superfície. Ainda determina que o empreendedor
deve elaborar um plano ambiental de conservação
e uso do entorno do reservatório artificial no âmbito do
processo de licenciamento ambiental. Essa resolução exclui
os reservatórios oriundos de acumulações artificiais
de água < 5 ha de superfície, desde que não sejam resultantes
de barragens e não estejam em áreas de APPs.
Situação: vigente.
Resolução CONAMA 303/2002 -
Parâmetros, definições e limites de
Áreas de Preservação Permanente
Revoga a resolução CONAMA 04/1985 e complementa
a resolução CONAMA 302/2002. Essa resolução
estabelece os limites para a Área de Preservação Permanente
no entorno de reservatórios naturais. Para regiões
de restinga, estabelece uma faixa mínima de 300 m, medidos
a partir da linha de preamar máxima e também em
qualquer região recoberta por vegetação com função
fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues. A resolução
ainda determina que dunas e toda extensão de
manguezais seja considerada como Área de Preservação
Permanente. Em seu artigo 4º, é citado que a definição
das APPs no entorno de reservatórios artificiais deve seguir
a resolução CONAMA 302/2002.
Situação: vigente.
Resolução CONAMA 312/2002 -
Licenciamento ambiental da
carcinicultura em zona costeira
Essa é uma resolução que trata especificamente da
carcinicultura, determinando as normas específicas para
o licenciamento dessa atividade. Um dos pontos cruciais
é que ela proíbe a carcinicultura em áreas de manguezais.
Em zonas costeiras, a construção, instalação, ampliação
e funcionamento de atividades de carcinicultura
dependem de licenciamento ambiental. Também são
estabelecidas categorias de porte: pequeno ≤ 10 ha,
médio > 10 ha e ≤ 50 ha e grande > 50 ha. A categorização
é importante, pois os empreendimentos de
pequeno porte podem ser licenciados através de um
processo simplificado, sendo os demais sujeitos ao processo
ordinário. Fica também obrigatória a reserva de
20% da área total do empreendimento como área de
preservação integral, ou seja, área em que não poderá
haver construção ou qualquer tipo de atividade aquícola.
No processo de licenciamento também é exigido o
termo de outorga pelos direitos de uso da água. Outro
ponto importante é o uso de bacias de sedimentação
que, a critério do órgão licenciador, deverão ser utilizadas
como etapa intermediária entre a circulação e o
descarte dos efluentes. A resolução ainda traz em ane-
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
17
ABR/JUN 2021
xo a lista de documentos mínimos necessários os parâmetros
ambientais mínimos para o Plano de Controle
Ambiental e para o Plano de Monitoramento Ambiental.
Situação: vigente.
Decreto 4.895/2003 - Cessão de
águas públicas de domínio da União
para a exploração da aquicultura
Revoga o decreto 2.869/1998. Esse decreto permite
que sejam usados corpos d’água de domínio da União
para a prática de aquicultura, desde que observados critérios
de ordenamento, localização e preferência, visando
o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar,
a inclusão social e o aumento da produção de pescado.
Situação: revogado pelo decreto nº 10.576, de 14 de
dezembro de 2020.
IN da Secretaria Especial de Aquicultura
e Pesca da Presidência da
República (SEAP/PR) 03/2004 -
Registro Geral de Pesca (RGP)
Essa Instrução Normativa determina que qualquer pessoa
física ou jurídica só poderá exercer atividades de aquicultura
com fins comerciais se devidamente inscritas no
RGP. A Aquicultura se enquadra na categoria: I) Pescador
Profissional, b) Pescador Profissional na Pesca Industrial,
VI) aquicultor, definido como “pessoa física ou jurídica que
se dedica ao cultivo, criação ou manutenção em cativeiro,
com fins comerciais, de organismos cujo ciclo de vida, em
condições naturais, ocorre total ou parcialmente em meio
aquático, incluindo a produção de imagos, ovos, larvas,
pós-larvas, náuplios, sementes, girinos, alevinos ou mudas
de algas marinhas”. Situação: alterada pela IN SEAP
12/2006, IN MPA 6/2011 e IN MPA 08/2012.
Resolução CONAMA 357/2005 -
Classificação dos corpos d’água e
diretrizes para seu enquadramento
Essa resolução regulamenta a resolução CONAMA
20/1986 e a CF/88 e determina o enquadramento das
águas em classes, de acordo com os seus principais tipos
de usos. As águas são divididas em doces (salinidade <
0,5), salobras (salinidade entre 0,5 e 30) e salinas (salinidade
> 30), havendo várias classes dentro de cada faixa de
salinidade. As águas doces apresentam cinco classes (classe
especial e classes 1, 2, 3 e 4) e as águas salobras e as salinas
possuem quatro classes cada (classe especial, classes
1, 2 e 3). As classes são definidas em relação a diversos
parâmetros químicos, físicos e microbiológicos, como, por
exemplo, teor de oxigênio, de contaminantes e de coliformes.
A aquicultura tem previsão de ser realizada nas águas
doces na classe 2 e nas salobras e salinas na classe 1. É
preciso atentar também ao complemento proposto pela
Resolução CONAMA 430/2011, que trata das condições
e padrões de lançamento de efluentes, que determina que
o lançamento do efluente não pode exceder os limites estabelecidos
para a classe do corpo receptor. Situação:
complementada e alterada pela Resolução CONAMA
430/2011.
Lei 11.105/2005 - Lei da
Biossegurança
Revogou a Lei nº 8.974 de 1995. Essa lei estabelece
normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades
que envolvem organismos geneticamente modificados
(OGM) e seus derivados, cria o Conselho Nacional de
Biossegurança – CNBS e reestrutura a Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança– CTNBio. Importante para casos
em que a aquicultura envolva OGMs. Situação: vigente.
Lei 11.959/2009 - Política Nacional
de Desenvolvimento Sustentável
da Aquicultura e Pesca
Essa lei permite ao aquicultor coletar, capturar e transportar
organismos aquáticos, quando devidamente autorizado
pelo órgão ambiental competente, para diversos fins,
incluindo reposição de plantel de reprodutores e cultivo de
moluscos e macroalgas. Ela também classifica a aquicultura
em comercial, científica-tecnológica, familiar, ornamental
e de recomposição ambiental. São considerados fatores
importantes para os empreendimentos: área, forma de
cultivo, práticas de manejo e finalidade do empreendi-
18
PARCEIROS NA 23° ED:
mento. Ela também considera as empresas de aquicultura
como empresas pesqueiras, determina a responsabilidade
pela contenção do escape de espécies exóticas, proíbe a
soltura de OGMs e ainda determina que as áreas aquícolas
em salinas, salgados, apicuns, restingas e quaisquer áreas
adjacentes a quaisquer corpos d’água devem observar as
Áreas de Preservação Permanente, conforme determinado
pelo Novo Código Florestal (Lei 12.651/2012, vide
abaixo). Situação: vigente.
Resolução CONAMA 413/2009 -
Licenciamento ambiental da
aquicultura
Essa é a primeira resolução que trata especificamente
do licenciamento da aquicultura como um todo, exceto
para aqueles regulamentados pela resolução CONAMA
312/2002 (específica da carcinicultura em zonas costeiras).
Nessa resolução os empreendimentos são classificados
de acordo com vários critérios, sendo um deles o
porte, que é baseado na área total inundada em hectares
(incluindo canais de abastecimento, drenagem e bacias
de sedimentação) e variando de acordo com o tipo de
atividade exercida (carcinicultura ou piscicultura de água
doce ou marinha, ranicultura, malacocultura ou algicultura).
Outra classificação é pelo tipo de sistema (extensivo,
semi-intensivo ou intensivo) e as características ecológicas
da espécie (nativa, exótica, carnívora, não carnívora e onívora/autotrófica).
A combinação entre o tipo de sistema
e as características ecológicas da espécie são usadas para
determinar o potencial de severidade das espécies: baixo,
médio ou alto. O potencial de impacto ambiental do
empreendimento é então determinado pela combinação
entre o potencial de severidade das espécies e o porte.
Sistemas integrados e que empreguem medidas de redução
de resíduos sólidos e efluentes, bem como sistemas
de tratamento de efluentes e medidas de biossegurança
podem receber uma classificação menos restritiva. Com
relação ao processo de licenciamento, todos os empreendimentos
de pequeno porte (independentemente do potencial
de severidade das espécies) e os de médio porte
com baixo potencial de severidade das espécies podem
ser licenciados através de um procedimento simplificado
de licenciamento ambiental, contanto que não estejam
em áreas com um grande número de empreendimentos
aquícolas, não seja ultrapassada a capacidade de suporte
dos corpos d’água, não se encontrem em corpos d’água
com florações frequentes de cianobactérias (acima do estabelecido
pela Resolução CONAMA 357/2005) e não
demandem novos barramentos de cursos d’água. Parques
aquícolas e adensamentos de empreendimentos de pequeno
porte com a mesma atividade passam por um único
processo de licenciamento. Situação: alterada pela Resolução
CONAMA 459/2013.
IN do Ministério da Pesca e
Aquicultura 06/2011 - Registro
e Licença de Aquicultor
Essa Instrução Normativa altera a Instrução Normativa
SEAP/PR 03/2004 e estabelece a necessidade da Licença
de Aquicultor e do Registro de Aquicultor, sendo necessária
para o exercício da prática de aquicultura. O Registro
de Aquicultor tem validade de um ano, devendo ser renovado,
ocasião esta que resultará na emissão da Licença
de Aquicultor, que é emitida de forma individual. A Licença
representa, portanto, uma comprovação da conclusão da
inscrição no Registro. Após a validade não é necessário
renovar o Registro, apenas atualizá-lo. A Licença, por sua
vez, também tem validade de um ano, devendo ser periodicamente
renovada. Outra alteração importante foi que o
RGP e a licença passam a ser solicitados junto à Superintendência
Federal da Pesca e Aquicultura (SFPA) da unidade
da federação em que o empreendimento se localiza.
Situação: alterada parcialmente pela IN do Ministério da
Pesca e Aquicultura 16/2013.
Lei 12.651/2012 - Novo Código
Florestal
No que tange à aquicultura, essa lei proíbe qualquer
tipo de ocupação nas Áreas de Preservação Permanente
(APPs), exceto quando autorizado por órgão ambiental
competente. Além disso, estipula a obrigatoriedade de
manutenção da vegetação em zona de APP por parte do
proprietário da terra, possuidor ou ocupante. Em caso de
supressão da vegetação, o responsável fica ainda obrigado
a realizar sua recomposição. A lei estabelece como APP
uma faixa em torno de qualquer corpo d’água, sendo uma
largura mínima de 30 m para cursos d’água com < 10 m
de largura, 50 m para cursos d’água entre 10 e 50 m de
largura, 100 m para cursos d’água entre 50 e 200 m de
largura, 200 m para cursos d’água entre 200 e 600 m de
largura e 500 m para cursos d’água > 600 m de largura.
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
19
Lagoas e lagos artificiais possuem como APPs faixas com
largura de 100 m se estiverem em zonas rurais, exceto
se tiverem < 20 ha (sendo então reduzido para 50 m)
ou 30 m em zonas urbanas, enquanto que nascentes e
olhos d’água devem possuir 50 m. A lei admite a prática de
aquicultura por imóveis rurais com até 15 módulos fiscais
em APPs de cursos d’águas e lagoas, desde que sejam realizadas
práticas sustentáveis de manejo de solo e recursos
hídricos, haja conformidade com planos de bacia ou de
manejo de recursos hídricos, seja licenciado pelo órgão
ambiental competente e o imóvel esteja inscrito no Cadastro
Ambiental Rural. Situação: vigente.
IN do Ministério da Pesca e Aquicultura
16/2013 - Manutenção
do Registro de Aquicultor
Essa Instrução Normativa altera a Instrução Normativa
MPA 06/2011, tornando o Registro de Aquicultor
válido por tempo indeterminado, desde que o aquicultor
tenha a posse da licença ou número de protocolo
que comprove o requerimento da licença junto ao órgão
ambiental competente. Situação: vigente.
Resolução CONAMA 459/2013 -
Licenciamento ambiental da
aquicultura
Essa resolução altera a redação de alguns artigos da
resolução CONAMA 413/2009 que dispõe sobre o licenciamento
ambiental da aquicultura e dá outras providências.
Situação: vigente.
Devem ser observados os critérios de localização, com
a finalidade de promover a geração de emprego e renda,
desenvolvimento sustentável, aumento da produção
brasileira de pescados, inclusão social e segurança
alimentar. Expõe os requisitos básicos para o processo
de cessão do uso da área e outorga de direito de uso
dos recursos hídricos para a prática de aquicultura. Explicita
ainda que a gestão de parques aquícolas poderá
ser delegada aos estados e municípios se estes cumprirem
os critérios de interesse, comprovação de corpo
técnico qualificado, apresentação de plano de assistência
técnica e capacitação e apresentação de relatório
anual das atividades desenvolvidas. Situação: vigente.
Considerações
finais
Observa-se ao longo dos anos uma evolução na
legislação ambiental relacionada à aquicultura, tendo
surgido normas específicas para o setor somente em
meados da década de 1990. O arcabouço legal aquícola
brasileiro atual é bastante moderno e robusto, procurando
conciliar o desenvolvimento da atividade com
a preservação dos ecossistemas aquáticos, com o uso
consciente do solo e dos recursos hídricos.
Um aspecto importante para o cumprimento correto
da legislação ambiental é o conhecimento a respeito
do corpo normativo de uma área. Dessa forma, tornar
as leis e os regulamentos compreensíveis para quem
trabalha ou pretende trabalhar com aquicultura é um
fator importante para ensejar o cumprimento das leis
vigentes, estimular a regularização ambiental e propiciar
o desenvolvimento sustentável do setor.
Consulte as referências bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/artigos
ABR/JUN 2021
Decreto nº 10.576/2020 -
Cessão de uso de espaços físicos
de corpos d’água da União para
prática de aquicultura
Revoga o decreto 4.895/2003. Esse decreto dispõe
sobre a possibilidade de cessão de uso de águas que estão
sob domínio da União para a prática da aquicultura.
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PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
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© mhollaen | pixabay
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PARCEIROS NA 23° ED:
Métodos de controle da
Ictiofitiríase: quais os próximos
passos na prevenção desta doença?
*
Caroline Munhoz Meira¹, Amanda Murarolli Ribeiro¹, Nara Mendes Queiroz Ribeiro¹, Brunna
Louise Nunes de Sousa² e Fabio Rosa Sussel¹
1
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - FZEA/USP
Universidade de São Paulo - USP
Pirassununga, SP
caroline.meira@usp.br
2
Faculdade Dr. Francisco Maeda (Fafram)
Ituverava, SP
De acordo com o
Relatório publicado
pela FAO
(Organização das Nações
Unidas para a Agricultura
e Alimentação) em 2020,
a produção mundial de
pescado chegou a 179
milhões de toneladas em
2018, atingindo um recorde
histórico. A aquicultura
cresceu 25% entre 2008 e
2017 e foi responsável por
82,1 milhões de toneladas
métricas. O consumo humano
de pescado também
foi recorde sendo que em
1961, a população mundial
consumia 9 kg per capita/
ano e, em 2018, este valor
passou para 20,5 kg per capita
anuais, principalmente
devido a expansão da oferta
de produtos aquícolas.
Na produção aquícola,
várias são as doenças
que podem acometer
os peixes, sendo que
entre os parasitas
destaca-se o protozoário
ciliado Ichthyophtirius
multifiliis.
Com base no pressuposto
de maior demanda
e melhorias tecnológicas,
espera-se que a produção
total mundial de peixes
continue a se expandir e,
por este motivo, é necessário
o desenvolvimento
de tecnologias que permitam
alavancar o setor da
aquicultura no Brasil. A intensificação
da produção
faz com seja cada vez mais
importante estar atento
a fatores que são protagonistas
na manutenção
da sanidade dos animais.
Na produção aquícola,
várias são as doenças
que podem acometer os
peixes, sendo que entre
os parasitas destaca-
-se o protozoário ciliado
Ichthyophtirius multifiliis.
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PARCEIROS NA 23° ED:
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“Ictio” ou
Ichthyophtirius
multifiliis
Figura 1. © BioPeixe
Causador da “doença dos pontos brancos”, o
Ichthyophtirius multifiliis ou “Ictio”, como é popularmente
conhecido, causa sinais muito característicos
de sua manifestação sendo facilmente reconhecidos
nos peixes.
Considerado por muitos autores um dos mais
comuns patógenos em peixes de água doce, possui
distribuição geográfica global e é capaz de infectar
qualquer espécie de peixe podendo causar altos índices
de mortalidade. É particularmente devastador
em animais de pisciculturas que por muitas vezes
encontram-se em condições de maior estresse
como manipulação constante, baixa oxigenação da
água e alta densidade populacional.
Figura 2. © Figura modificada a partir de Dickerson (2012).
Ciclo de vida
ABR/JUN 2021
Seu ciclo biológico é complexo e inclui
vários estágios morfologicamente distintos,
onde cada um possui uma função específica
(Figura 2).
A patogenia do Íctio está relacionada
ao desenvolvimento de uma forma denominada
trofonte. Neste estágio ele realiza
o parasitismo no epitélio do peixe, ingere
as células do hospedeiro, incluindo debris
celulares.
Quando isso ocorre, células do sistema
imune e células sanguíneas em geral migram
para o foco de infecção.
24
PARCEIROS NA 23° ED:
Figura 3. © Santiago Benites de Pádua
É neste momento em que ocorrem as formações
de pontos brancos situados em toda superfície
corpórea, incluindo pele, nadadeiras, córnea,
cavidade bucal e brânquias (Figura 3).
Um dos principais problemas relatados pela
infecção do parasito está relacionado à formação
de úlceras (Figura 4). Esses ferimentos são comumente
utilizados como rota de entrada de patógenos
secundários, oportunistas à condição de debilidade
do hospedeiro frente à ictiofitiríase, como
é o caso da Aeromonas hydrophila, que aumenta
a mortalidade durante a infestação pelo por Íctio.
Figura 4. © Adriano R. Hummel - Oficina do Peixe
Prevenção da doença
Uma vez que tratamentos químicos ainda não
possuem eficácia e praticidade satisfatórias no
controle da ictiofitiríase, uma alternativa que vem
ganhando destaque é a produção de vacinas para
a prevenção da infecção desse parasita. Esta alternativa
se destaca pois embora não existam relatos
de espécies de peixes que sejam naturalmente
imunes à infecção por I. multifiliis, diversos trabalhos
já confirmaram que peixes sobreviventes
à infecção inicial desenvolvem subsequente imunidade
protetiva, o que indica que a imunização
é uma alternativa viável para impedir a infecção
desse parasita em peixes de criação.
Figura 5. © Colpani
A partir da elucidação da imunidade protetiva,
estudos demonstraram que anticorpos de imobilização,
encontrados no muco e no soro de
peixes infectados com I. multifiliis estão envolvidos
na proteção contra infecções subsequentes,
sendo observados em altos títulos em peixes que
já tiveram contato com o parasita. Esses anticorpos
são produzidos em resposta ao contato com
uma classe altamente abundante de proteínas dos
parasitas conhecidas como antígenos de imobili-
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PARCEIROS NA 23° ED:
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ABR/JUN 2021
zação (i-Ag), que foram classificadas dessa forma
devido ao fato de que a interação dos anticorpos
do hospedeiro com tais proteínas de I. multifiliis
provoca a interrupção dos movimentos flagelares
do parasita, o imobilizando e o tornando vulnerável
ao sistema imune do hospedeiro.
Em condições experimentais, peixes já foram
imunizados com sucesso através de injeções por
via intraperitoneal de terontes vivos, produzindo
uma proteção de quase 100% nos animais desafiados
com doses letais desses parasitas. Além
disso, i-Ag nativos de terontes isolados também
foram capazes de gerar proteção contra desafios
subsequentes, mostrando ser uma opção efetiva
de vacina contra I. multifiliis. Apesar desta efetividade,
o grande problema no uso dessas estratégias
de vacinação é o fato de que são necessárias
grandes quantidades de terontes e, por serem parasitas
obrigatórios (o peixe é essencial para que
parasita complete seu ciclo), essas formas somente
são obtidas a partir de animais infectados, o que
torna essas opções de vacinação muito demoradas,
caras e impraticáveis em larga escala para
imunização de animais de produção.
Dessa forma, o desenvolvimento de sistemas
alternativos para a produção dos i-Ag em grandes
quantidades de forma recombinante é cada vez
mais visado por grupos de pesquisa que buscam
uma forma de evitar os prejuízos da doença em pisciculturas.
Alguns destes antígenos de imobilização
(i-Ag) já foram produzidos com sucesso na forma
de proteínas recombinantes ou utilizados como
vacinas de DNA. Apesar de observarem certo grau
de proteção nos peixes imunizados, estas estratégias
provocaram também alterações em vários parâmetros
de resposta imune nos peixes e os testes
feitos não forneceram proteção significativa em
um subsequente desafio com o próprio parasita.
Sugere-se que a proteção insuficiente das alternativas
testadas se deve ao fato de que a imunização
tenha sido realizada apenas com os i-Ag
que, utilizados isoladamente, não são capazes de
estimular uma proteção eficiente nas mucosas,
principal sítio de infecção do Íctio. Dessa forma,
o uso de algum outro agente estimulante da resposta
imune de mucosas teria o potencial de aumentar
o efeito protetivo dessa estratégia de vacinação.
Esse tipo de substância auxiliar recebe o
nome de adjuvante e diversas pesquisas indicam
que há potencial para a imunização desde que seja
encontrada uma combinação adequada do antígeno
com a mesma.
A obtenção de uma substância que possa ser
utilizada para desencadear respostas imunológicas
específicas e mais eficientes, sem a necessidade da
introdução de substâncias oleosas como adjuvante,
que podem ocasionar efeitos colaterais indesejáveis,
é um dos principais objetivos dos estudos
atuais. A vacinação é hoje cotada como a melhor
estratégia de prevenção da ictiofitiríase.
A vacinação é hoje
cotada como a melhor
estratégia de prevenção da
ictiofitiríase.
Conclusão
Considerando o impacto social e econômico
causado pela “doença dos pontos brancos” e a
necessidade do desenvolvimento de sistemas alternativos
para o controle dessa doença, a produção
de uma combinação vacina/adjuvante contra
I.multifiliis, capaz de conferir proteção contra este
protozoário em sistemas de criação, é algo que
trará enormes benefícios no controle dessa que é
uma das mais devastadoras enfermidades de peixes
em pisciculturas.
Consulte as referências bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/artigos
26
PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
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© Esmeralda Chamorro Legarda
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PARCEIROS NA 23° ED:
Aquicultura Multitrófica Integrada
e economia circular aplicados ao
sistema de bioflocos
*Esmeralda Chamorro Legarda, Marco Antônio de Lorenzo e Felipe do Nascimento
Vieira
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Laboratório de Camarões Marinhos - LCM
Florianópolis, SC
*esmeraldachamo@hotmail.com
Cultivo de camarões em
Sistema de bioflocos
Com o intuito de
aumentar a competitividade
do setor
aquícola, as produções de
organismos aquáticos têm se
tornado cada vez mais intensivas.
Dentre as tecnologias
aplicadas na intensificação da
produção, destaca-se a tecnologia
do sistema superintensivo
de bioflocos. O sistema
de bioflocos (BFT) tem
sido utilizado na produção de
peixes e camarões, elevando
as densidades de estocagem
com taxa de renovação mínima
de água, reduzindo o uso
de área e recursos hídricos
destinados ao cultivo. Esse
sistema se utiliza de uma rica
O uso da Aquicultura
Multitrófica Integrada
(AMTI) surge como
uma alternativa para
contribuir com o aumento
da sustentabilidade do
sistema de bioflocos.
comunidade microbiana, chamada
de flocos, que auxilia
na manutenção da qualidade
de água, faz a ciclagem dos
nutrientes e é uma fonte alimentar
para os camarões.
Entretanto, o desenvolvimento
do sistema BFT apresenta
alguns problemas, destacando-se
a baixa retenção
dos nutrientes da dieta pelos
animais de cultivo (27% do
nitrogênio e 11% do fósforo)
e, consequentemente, a geração
de sólidos ricos em nutrientes.
O uso da Aquicultura
Multitrófica Integrada (AMTI)
surge como uma alternativa
para contribuir com o aumento
da sustentabilidade do sis-
ABR/JUN 2021
tema de bioflocos. A AMTI é um sistema de produção
que integra espécies de diferentes níveis tróficos em
um mesmo ambiente de cultivo, resultando na conversão
dos resíduos do cultivo de uma espécie em fonte
de alimento ou fertilizantes para outra, permitindo
o melhor aproveitamento dos nutrientes da dieta.
A proposta de diversificação, com uso de conceitos
de AMTI e conceitos de economia circular nesse
trabalho, pretende integrar espécies de diferentes níveis
tróficos (camarão, tainha e macroalga – Figura 1)
com o intuito de reciclar nutrientes gerados por uma
espécie para serem reaproveitados por outras, além
de propor aplicações dos produtos oriundos dessa
integração, como as macroalgas, visando o aumento
da quantidade, qualidade e diversidade da produção.
Os dados apresentados neste artigo são parte
da tese de doutorado da pesquisadora Esmeralda
Chamorro Legarda, que recentemente foi agraciada
no Prêmio CAPES de teses na área de Zootecnia e
Recursos Pesqueiros. O prêmio CAPES de teses foi
criado em 2005 e desde então vem premiando as
melhores teses de doutorado do Brasil em cada área
de conhecimento elencados pela CAPES. A escolha
dos trabalhos é feita por comissões de premiação,
que consideraram sua originalidade, relevância para
o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e
social do país. Além disso são avaliadas a qualidade e
quantidade de publicações decorrentes da tese, sua
metodologia, redação, estrutura e organização do
texto.
Integração de
camarão e tainha
Inicialmente foi avaliado se a tainha poderia aproveitar
os bioflocos como fonte de alimento quando
integradas ao cultivo de camarão. Observou-se que
os peixes tiveram bom crescimento e mantiveram
seus parâmetros hematológicos e imunológicos estáveis,
aumentando a produtividade do sistema em
11,9% e recuperando 16,8% mais fósforo em relação
ao monocultivo de camarão.
Posteriormente, avaliou-se se era possível aumentar
a densidade de peixes para melhorar a eficiência
de retenção de fósforo e produtividade. O equilíbrio
da integração camarão:peixe foi 10% de biomassa
de peixe em relação à biomassa de camarão. Isto
resultou em um aumento de 20% na produtividade
e biomassa final total em relação ao monocultivo de
camarão, sendo 3,7 kg/m³ a densidade de tainha a se
Figura 1. Espécies de diferentes níveis tróficos
(camarão, tainha e macroalga) utilizadas no AMTI.
usar em sistema integrado com camarão em BFT. Além
disso, a integração do peixe ao sistema de cultivo de
camarão melhorou o aproveitamento do recurso água,
utilizando 17% menos água que o monocultivo.
Adição da macroalga
ao cultivo integrado
de camarão e tainha
A partir dos resultados da integração de camarão
e tainha, pensou-se em integrar uma macroalga
ao sistema com a finalidade de aproveitar os nutrientes
dissolvidos na água. No final do experimento
observou-se que a integração da macroalga Ulva
fasciata aumentou a retenção de nitrogênio e fósforo,
não precisamente pela quantidade de biomassa
produzida, mas pela composição da macroalga que
apresentou maior teor de proteína, fósforo e compostos
bioativos (Tabela 2), em relação a alga inicial.
30
PARCEIROS NA 23° ED:
Tabela 1. Cutlivo do camarão (Litopenaeus vannamei) e tainha (Mugil spp.) em sistema integrado de bioflocos com
diferentes densidades de tainha (10, 20 e 30% da biomassa de peixes em relação a de camarão).
Dados zootécnicos T0% T10% T20% T30% p-valor
Camarão:
Peso final (g) 12,97± 0,52 13,09 ± 0,35 12,84 ± 0,40 12,91 ± 0,51 0,88
Sobrevivência (%) 91,25 ± 0,88 94,22 ± 3,67 94,06 ± 0,36 94,22 ± 2,67 0,24
Conversão alimentar
aparente (FCA)
1,71 ± 0,08 1,66 ± 0,13 1,74 ± 0,15 1,68 ±0,05 0,73
Biomassa final (kg) 1,89 ± 0,07 1,97 ± 0,10 1,93 ± 0,06 1,95 ± 0,05 0,51
Produtividade (kg m -3 ) 2,37 ± 0,09 2,47 ± 0,12 2,42 ± 0,08 2,43 ± 0,07 0,51
Tainha:
Peso final (g) - 12,84 ± 1,77 a 10,94 ± 1,09ab 9,33 ± 1,12 b 0,03
Sobrevivência (%) - 89,77 ± 4,35 a 79,07 ± 7,60a 61,03 ± 5,40b <0,01
Conversão alimentar
aparente (FCA)
- 1,26 ± 0,37 a 3,94 ± 1,58 b - * <0,01
Biomassa final (kg) - 0,25 ± 0,04 b 0,37 ± 0,01 a 0,37 ± 0,03 a <0,01
Produtividade (kg m -3 ) - 2,54 ± 0,39 b 3,69 ± 0,11 a 3,68 ± 0,32 a <0,01
Camarão + Tainha:
Biomassa final (kg) 1,89 ± 0,07b 2,23 ± 0,12a 2,30 ± 0,07a 2,33 ± 0,05a <0.01
Produtividade (kg m -3 ) 2,13 ± 0,08b 2,50 ± 0,13a 2,59 ± 0,07a 2,62 ± 0,06a <0.01
Tabela 2. Concentração de nitrogênio, fósforo, clorofila, carotenoides e compostos fenólicos da macroalga Ulva
fasciata no início e no final do cultivo integrado com camarão e tainha em sistema de bioflocos por 55 dias.
Composto Inicial Final p-valor
Nitrogênio (% do peso seco) 1,04 ± 0,05 2,94 ± 0,30 <0,001
ABR/JUN 2021
Fósforo (% do peso seco) 0,08 ± 0,01 0,10 ± 0,00 <0,001
Clorofila (µg g -1 do peso fresco) 72,15±12,07 294,66±16,46 0,004
Carotenoides (µg g -1 do peso fresco) 4,99±0,73 16,46±3,41 0,022
Compostos fenólicos (µg g -1 do
peso seco)
0,32±0,05 0,19±0,03 0,024
PARCEIROS NA 23° ED:
31
Aplicação dietética
da biomassa de
macroalga proveniente do
cultivo integrado com camarão e
tainha em sistema de bioflocos
A biomassa da macroalga Ulva fasciata produzida
no sistema foi aplicada em diferentes porcentagens
em dietas para o peixe olhete (Seriola dorsalis). Com
apenas 1% de adição foi possível melhorar a composição
do filé deste peixe, aumentando o teor do ácido
graxo docosaexaenoico (DHA – 22:6n3), conhecido
popularmente como ômega 3 assim como o somatório
de ácidos graxos insaturados (Tabela 3). Este
trabalho foi realizado em parceria com a Universidad
Autonoma da Baja Califórnia, México, com supervisão
da Dra. Maria Teresa Viana e do Dr. André Braga.
Com apenas 1% de
adição da biomassa
de macroalga foi
possível melhorar a
composição do filé deste
peixe, aumentando o
teor do ácido graxo
docosaexaenoico (DHA)
conhecido popularmente
como ômega 3.
Figura 2. Exemplar do peixe olhete (Seriola dorsalis),
alimentado com dieta contendo a
biomassa da macroalga produzida
no sistema IMTA.
© Esmeralda Chamorro
Legarda
ABR/JUN 2021
32
PARCEIROS NA 23° ED:
Tabela 3. Perfil dos principais ácidos graxos do músculo do peixe (Seriola dorsalis) alimentados por 48 dias com
dietas com diferentes níveis de adição de Ulva na dieta.
Perfil de ácidos graxos
(% de lipídeos totais)
U-0 U-5 U-10 U-20
14:0 4,31±1,19a 3,30±0,50a,b 2,29±0,28b 2,53±0,32b
16:0 15,87±0,70 15,94±0,51 16,50±1,47 15,91±0,35
18:0 5,60±0,38 5,92±0,30 7,17±1,49 7,45±0,34
ΣSFA 25,78±0,10 25,16±0,71 25,96±2,82 25,90±0,33
16:1n7 4,11±0,29a 4,35±0,55a 2,72±0,13b 3,00±0,33b
18:1n9 24,00±0,82a 24,89±3,40a 16,68±1,69b 16,11±1,56b
18:1n7 2,45±0,11 2,49±0,14 2,48±0,08 2,26±0,04
20:1n9 0,62±0,13 0,69±0,14 0,71±0,29 0,61±0,15
ΣMUFA 31,18±0,51a 32,43±3,62a 22,60±1,64b 21,97±1,80b
18:2n6 13,41±0,17a 13,70±0,34a 11,09±0,48b 11,69±0,33b
20:2n6 0,54±0,01 0,57±0,16 0,75±0,36 0,62±0,14
20:4n6 2,43±0,04 2,35±0,48 3,12±0,28 3,29±0,50
ΣPUFA n6 16,38±0,12a 16,63±0,32a 14,95±0,85b 15,60±0,32a,b
18:3n3 1,06±0,23 1,09±0,07 0,89±0,29 0,90±0,17
18:4n3 0,53±0,00 0,51±0,13 0,42±0,08 0,44±0,13
20:5n3 3,72±0,29 4,21±1,40 4,09±0,54 4,70±0,70
22:5n3 2,75±0,44 2,28±0,36 2,08±1,52 2,32±0,47
22:6n3 15,47±0,38b 14,66±1,51b 24,37±2,54a 24,08±0,89a
ΣPUFA n3 23,53±0,58b 22,75±3,41b 31,84±3,94a 32,44±1,16a
ΣPUFA 39,90±0,70b 39,38±3,69b 46,79±4,69a,b 48,04±1,37a
n3:n6 1,44±0,02b 1,37±0,18b 2,12±0,18a 2,08±0,06a
DHA:EPA 4,18±0,43b,c 3,65±0,72c 5,98±0,16a 5,20±0,81a,b
DHA:ARA 6,38±0,07 6,31±0,67 7,85±0,85 7,44±1,16
Outros 3,14±0,29a,b 3,03±0,57b 4,65±0,72a 4,09±0,76a,b
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
33
Dessa maneira
se observa que a
partir da ciclagem
de nutrientes é
possível produzir
um novo produto
com potencial
de aplicação na
aquicultura como
aditivo alimentar.
ABR/JUN 2021
34
PARCEIROS NA 23° ED:
Conclusão
A partir dos resultados da tese podemos
concluir que é possível melhorar o cultivo de
camarão em bioflocos em termos de produtividade
e de eficiência ecológica aplicando
os conceitos de Aquicultura Multitrófica Integrada
com tainha e macroalgas em bioflocos.
A integração com tainha melhora a produtividade
e aumenta a retenção de fósforo do
sistema. A macroalga Ulva fasciata dentro
do sistema integrado, além de incrementar a
produtividade, retenção de fósforo e nitrogênio,
também aumentou o seu teor nutricional
e compostos antioxidantes. Além disso, a
macroalga pode ser utilizada como aditivo alimentar
para o olhete (Seriola dorsalis), tendo
potencial como promotor de crescimento e
incrementando o teor de ácidos graxos PUFA
como o DHA no filé.
Perspectivas futuras
A partir desta tese se abrem novas perspectivas
de pesquisa com o objetivo de responder
as seguintes perguntas:
• A tainha poderia utilizar somente os
bioflocos como fonte de alimento?
• De que maneira os compostos antioxidantes
provenientes das macroalgas ajudam
a proteger os ácidos graxos poliinsaturados
promovendo essa maior retenção no filé
do peixe?
• Como ficaria o teor de DHA na carne
de camarão com a adição da macroalga na
sua dieta?
• O que seria necessário para levar
essa tecnologia para uma escala comercial?
Publicações em periódico
internacional
A tese de doutorado rendeu 4 artigos e
1 capítulo de livro, sendo que os resultados
já encontram-se publicados nos periódicos
Aquaculture (3) e Aquaculture Research (1).
ABR/JUN 2021
Consulte as referências bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/artigos
PARCEIROS NA 23° ED:
35
ABR/JUN 2021
© Andreas Trepte
36
PARCEIROS NA 23° ED:
Criação de jacarés do
pantanal (Caiman yacare):
uma alternativa para a produção de
animais silvestres brasileiros
Melina Franco Coradini* e Maria Luiza Rodrigues de Souza
¹Programa de Pós-graduação em Zootecnia
Universidade Estadual de Maringá
Maringá, PR
*melinacoradini@gmail.com
Em 23 de fevereiro de
1990 o IBAMA instituiu
a portaria Nº126,
permitindo a criação de Caiman
crocodylus yacare em cativeiro
dentro da Bacia do Rio
Paraguai para finalidades comerciais.
Além disso, no dia 20
de fevereiro de 2008, o mesmo
órgão emitiu a instrução
normativa Nº169, que institui
e normatiza o uso e manejo
da fauna silvestre em cativeiro
no território nacional. Estas
estratégias adotadas pelo Brasil
auxiliam na conservação de
ambientes naturais, e na manutenção
da biodiversidade, através
do manejo sustentável de
espécies silvestres como o jacaré
do Pantanal, por exemplo.
Os criadouros de crocodilianos
são compostos basicamente
por sistemas de manejos
dos tipos harvest, ranching
Em fevereiro de 1990
o IBAMA instituiu a
portaria Nº126, que
permitiu, pela primeira
vez, a criação de Caiman
crocodylus yacare, em
cativeiro para finalidade
comercial.
e farming. No Brasil os sistemas
utilizados são o ranching onde
ocorre a coleta de ovos na natureza
e subsequente “engorda”
dos filhotes em cativeiro e
o sistema de criação farming,
onde a produção e reprodução
da espécie ocorrem em cativeiro,
com ciclo fechado. Neste
sistema, controlam-se diversos
fatores produtivos, como alimentação,
sanidade, ambiência,
reprodução entre outros.
O jacaré do pantanal é uma
espécie de crocodiliano que
pertence a família Alligatoridae,
gênero Caiman, espécie Caiman
Crocodillus yacare. Este jacaré
atinge de 2,5 a 3 m de comprimento,
ele é caracterizado por
apresentar um focinho longo e
possuir escamas osteodérmicas,
bem desenvolvidas, com flancos
menos ossificados, o que
gera mais valor no comércio
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
37
de peles. Outra característica marcante da espécie são
os seus dentes expostos, pois a mandíbula possui manchas
pretas e os dentes podem se projetar para cima,
ultrapassando o maxilar superior, ficando visíveis. O que
gerou até o apelido de jacaré-de-piranha no Pantanal.
Cadeia produtiva
e processamento
Diferente do que ocorre com a produção de outras
espécies animais, como por exemplo a tilápia, que
o filé é o principal objetivo de produzir essa espécie;
já o jacaré, a pele era transformada em couro, sendo
considerada o principal produto, comercializada em
cm 2 , enquanto a carne um coproduto obtido através
da exploração deste animal. Entretanto, nos últimos
anos devido ao valor nutricional e ao interesse econômico
demonstrado pelas indústrias e consumidores em
relação a essa proteína animal, atualmente a carne é
considerada um produto de interesse igualitário a pele
dentro da jacaricultura. Pois, no Brasil tem-se notado o
aumento no consumo de carnes de animais não convencionais
como o avestruz, capivara, jacaré, javali e
tartaruga. Contudo, as carnes de animais silvestres ofertadas
aos consumidores, devem ser provenientes de
criadouros e abatedouros autorizados pelo IBAMA e
regulamentadas por normas de qualidade da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e por órgãos
de fiscalização sanitária, como o Serviço de Inspeção
federal (SIF), relacionados com a qualidade desse tipo
de alimento. Um exemplo de criadouro e unidade de
processamento de jacarés que atende a todas as certificações
citadas é a empresa Caimasul, localizada em
Corumbá-MS.
Figura 1. Cadeia produtiva do jacaré do Pantanal. © Caimasul (2021).
ABR/JUN 2021
Figura 2. Procedimentos de abate para o jacaré do Pantanal. © Caimasul, 2021
Legenda: A - Parte externa do abatedouro para recepção e jejum dos animais. No momento que antecede ao
abate são submetidos a uma lavagem de aspersão antes de entrar na linha de processamento;
B – tanque de sanitização dos animais pré-abate;
C – Pistola modelo Zilka utilizada na insensibilização dos animais;
D – Linha de abate iniciando o corte Hornback da pele;
E – Esfola do animal;
F – Carcaças de jacarés do Pantanal na câmara de resfriamento.
38
PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
39
ABR/JUN 2021
Produtos obtidos
a partir do Jacaré do Pantanal:
a) Couro
Como já foi dito anteriormente a obtenção da pele
do jacaré para a produção de couro é um dos principais
interesses econômicos da jacaricultura, porém, a
pele desses animais possui características que ao mesmo
tempo em que proporcionam um couro único,
também, dificultam o seu processo de curtimento. A
pele dos jacarés é composta por uma rede interligada
de placas osteodérmicas de diversas formas e tamanhos,
sendo que na superfície ventral essas placas são
quadradas e planas, já as placas do flanco e do pescoço
são arredondadas e possui um centro em relevo, ao
longo da cauda essas placas possuem uma elevação
bem acentuada (Figura 4).
O padrão de corte utilizado na produção de couros
depende da exigência do comprador. Há dois tipos de
corte utilizados pela indústria, os cortes Belly e Hornback.
O corte Hornback é obtido pela incisão na linha
média ventral, estendendo-se nas regiões do pescoço,
tronco e cauda, mantendo na íntegra a pele do dorso.
No corte Belly, a incisão é feita na linha média dorsal,
estendendo-se da região cervical até a extremidade
da cauda, preservando a integridade da pele na região
ventral do animal, como mostra a figura 5.
A tecnologia empregada para o curtimento é conhecida,
porém existem particularidades em específico
para essa espécie de pele, principalmente em relação
as placas osteodérmicas.
Dentro do curtume ela é dessalgada e submetida
ao processo de curtimento. De acordo com Jacinto
(1995), na etapa do remolho e caleiro é extraída a
queratina. No caleiro, são adicionados produtos alcalinos
como a cal e carbonato de sódio, atingindo um pH
acima de 12, onde proporciona a abertura da estrutura
fibrosa, com intumescimento de toda a pele (Souza,
2004). O pH é reduzido de 12 para 8,5 num processo
de lavagens sucessivas e desencalagem com sais
ácidos (sulfato de amônia e kalplex® ou Dekalon®).
Em seguida, a pele é submetida a etapa de purga com
enzima proteolítica, por 60 minutos. Nova solução de
desencalagem é realizada para reduzir ainda mais o
pH, para 7,0 e realizada várias lavagens de desengraxe,
Figura 4. Couro de jacaré do Pantanal evidenciando a presença de
placas osteodérmicas. © Autor
Figura 5. Padrões de corte da pele de jacaré do Pantanal. a) Pele crua
em corte Belly; b) Pele curtida em corte Hornback © Autor
40
PARCEIROS NA 23° ED:
com uso de tensoativo neutro, para remoção de gorduras
naturais da pele. Em seguida as peles são colocadas
no piquel, cuja água deve conter um baumé 3,0 (grau de
salinidade de água) e depois adicionado o ácido clorídrico,
para que o pH permaneça o mais ácido possível (pH
=1 a 2), por um período de tempo correspondente a
descalcinação dos osteodermos (remover as células de
tecido ósseo que existem na derme da pele do animal).
Após, a pele estando maleável, acrescenta-se sal de cromo
para o curtimento, ou corrige-se o pH para atingir
pH 4,0 e adicionar o tanino vegetal. Neste momento
a pele se transforma num material putrescível em imputrescível,
sendo considerado a partir dessa etapa de
couro. De preferência 24 a 48h do curtimento, faz-se a
neutralização com bicarbonato de sódio para atingir um
pH 5,5 a 6,5, seguido do recurtimento, sendo este realizado,
principalmente, com taninos vegetais ou sintéticos.
Nesta etapa, também pode ser realizado o tingimento
com cores diversas, conforme a especificação do comprador.
A pele de jacaré necessita em torno de 20 a 30
dias de processo, em função do tamanho (animal) da
pele e calcificação (presença dos osteodermos).
O couro após o curtimento apresenta uma espessura
variando de 1,57 a 2,47 mm, para animais abatidos na faixa
de 4,5 a 6 kg. Esta variação na espessura se deve principalmente
pelas diferenças existentes entre as espessuras
nas diferentes regiões das peles dos jacarés. Ao avaliar
a qualidade do couro de jacaré do pantanal, quanto à tração,
elasticidade e rasgamento progressivo, testes estes
normalmente realizados para determinar a qualidade
de resistência do couro, observam-se também diferenças
entre as regiões do couro analisadas (Tabela 1).
Independentemente das variações nas resistências
a tração, alongamento e ao rasgo, existentes nas regiões
do couro de jacaré do pantanal ele pode ser utilizado
para confecção de vestuário. De acordo com
as exigências de qualidade para couro de vestimenta
(estabelecidas pela Comissão de Especificações
dos Institutos de Couro do Ceará) para a resistência
à tensão ou tração deve ser de 12 N/mm 2 (IUP6/
DIN 53328) e rasgamento de 15 N/mm (IUP8/DIN
53329). Já existe referência que menciona que o couro
deve ter no mínimo 9,80 N/mm 2 de resistência à
tração para ser utilizada para confecção de vestuário
(Hoinacki, 1989). No entanto, os couros são mais
destinados a confecção de bolsas, carteiras, cintos,
sapatos e chaveiros com os retalhos.
Financeiramente é difícil mensurar o valor de um
artigo produzido utilizando o couro de crocodilianos.
Entretanto, sabe-se que produtos feitos com couro
de jacaré, por ser considerado um couro exótico,
possuem um alto valor agregado, mas a escassez de
pesquisas e literatura que determinam a sua qualidade
e resistência prejudica a padronização deste material.
Também, podem ocorrer problemas durante o seu
crescimento dentro do criatório, em especial na superfície
do couro, prejudicando a sua qualidade final
para comercialização (Figura 6).
Tabela 1. Tração, alongamento e rasgamento progressivo de diferentes regiões do couro de jacaré do Pantanal.
Região do couro Espessura (mm) Tração (N/mm²) Alongamento (%) Rasgo (N/mm)
Anterior 1,94±0,08 14,68±5,29 44,42±9,97 76,55±11,18
Dorsal 2,47±0,45 14,94±4,45 30,00±4,45 63,76±1,61
Caudal 2,25±0,23 16,45±2,94 31,50±2,95 65,23±0,14
Ventral 1,57±0,45 16,37±3,02 25,67±8,78 69,78±4,41
Patas 1,89±0,13 12,69±3,30 37,87±3,42 53,60±11,77
ABR/JUN 2021
Figura 6. Couro de jacaré do Pantanal com defeitos. © Autor
PARCEIROS NA 23° ED:
41
b) Carne
A carne de jacaré do Pantanal é uma ótima fonte
de proteína de origem animal por possuir alto valor
biológico, alta digestibilidade, baixos valores de colesterol,
além de demonstrar potencial tecnológico
para a produção de derivados como embutidos ou
reestruturados (Romanelli et al., 2002; Vicente Neto
et al., 2007; Fernandes et al. 2014).
O corte com maior interesse econômico é o filé
de cauda. Entretanto, há relatos de estudos envolvendo
a qualidade de outros cortes, como filé de
dorso, lombo e as coxas, mostrando que a composição
química da carne varia, com teores de umidade
entre 71,02 a 76,77%, teores de proteína bruta de
20,80 a 24,37 %, lipídios totais de 0,29 a 2,40% e
matéria mineral de 0,58 a 1,40% (Fernandes et al.,
2017; Rodrigues et al., 2007; Vicente Neto et al.,
2007).
Os cinco cortes comerciais da carcaça de jacarés,
realizados na Empresa Caimasul, durante a desossa e
analisados na Universidade Estadual de Maringá, no
departamento de Zootecnia, apresentam teores de
gordura e minerais diferentes em relação aos cortes.
Por exemplo, o filé de cauda apresentou o maior
teor de gordura e o menor teor de minerais, já o
filé de lombo ocorreu o contrário, apresentando o
maior teor de minerais e menor teor de gordura. Pode-se
observar que a carne de jacaré apresenta elevado
teor de proteína e baixíssimo teor de gordura.
Os teores de umidade, proteína, gordura e minerais
de todos os principais cortes comerciais de jacaré do
Pantanal podem ser observados na Tabela 2.
Os cortes comerciais apresentam diferentes rendimentos
quando comparados entre si (Tabela 3).
Um fator que pode alterar o rendimento de cada
corte é o peso em que o animal é abatido, há uma
tendência de que animais com maiores pesos vivos
ao abate gerarem maiores rendimentos de carcaça,
consequentemente de filés de cauda, lombo e coxas,
como mostra a Figura 8.
Assim como acontece com a produção de outras
espécies animais, o beneficiamento do jacaré permite
também a produção de diversos produtos cárneos
como embutidos, reestruturados, empanados, conservas,
defumados ou até mesmo produtos da carne
propriamente dita apenas temperada (Fernandes et
al., 2013; Paulino et al., 2011; Azevedo et al., 2009;
Carmo et al., 2009). O desenvolvimento destes produtos
agrega mais valor a carne e otimiza a utilização
de partes como aparas, iscas e retalhos, que ficariam
obsoletos durante o processamento do jacaré.
Figura 7. Alguns dos cortes realizados durante a desossa do jacaré do Pantanal na empresa Caimasul (Corumbá, MS).
© Caimasul
ABR/JUN 2021
42
PARCEIROS NA 23° ED:
Tabela 2. Valor nutricional dos principais cortes de jacaré do Pantanal.
Cortes
comerciais
Teores nutricionais (%)
Umidade Proteína Bruta Lipídeos Minerais
Filé de cauda 73,99±0,15 23,85±0,20 0,49±0,13 0,56±0,23
Filé de dorso 74,66±0,52 23,54±0,11 0,41±0,05 0,85±0,05
Filé de lombo 73,17±0,97 23,57±0,08 0,25±0,11 1,00±0,21
Filé mignon 74,95±0,19 23,38±0,27 0,33±0,03 0,73±0,06
Coxas 74,93±0,79 23,90±0,25 0,33±0,03 0,83±0,04
Tabela 3. Rendimentos de carcaça e cortes comerciais de jacaré do pantanal em diferentes categorias de peso vivo ao abate.
Rendimento
carcaça (%)
Categoria de peso vivo ao abate (kg)
39,82±4,29 43,47±0,64 46,43±2,32 46,72±2,61
1 (<1,5) 2 (1,501 a 2,5) 3 (2,501 a 3,5) 4 (>3,501)
Filé de cauda 6,01±1,54 7,24±0,31 8,40±0,85 8,55±1,00
Filé de dorso 2,08±0,23 2,41±0,10 2,46±0,15 2,28±0,03
Filé de lombo 3,93±0,69 4,44±0,18 5,07±0,45 5,05±0,43
Filé mignon 1,49±0,01 1,54±0,04 1,51±0,01 1,47±0,03
Coxas 4,55±0,53 4,95±0,13 5,27±0,19 5,57±0,49
Figura 8. Rendimentos de carcaça, filés de cauda, lombo e coxas de jacaré
do pantanal em função das diferentes categorias de peso vivo ao abate.
Rendimento (%)
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Carcaça
Filé de
cauda
Filé de
lombo
Categoria de peso ao
abate (kg)
1 (<1,5)
2 (1,501 a 2,5)
3 (2,501 a 3,5)
4 (>3,501)
Coxas
Conclusão
A criação de jacaré do Pantanal, em
determinadas regiões do Brasil, é uma atividade
regulamentada e que pode gerar
um alto retorno econômico, principalmente
pelos produtos que ela promove.
Entretanto, ainda faltam pesquisas que
padronizem os produtos já existentes.
Os poucos trabalhos já realizados relacionados
com os produtos gerados com
a criação do jacaré do Pantanal, deixam
claro, que este animal possui um grande
potencial para a sua exploração comercial,
ao mesmo tempo em que proporciona o
uso sustentável da fauna, garantindo a manutenção
da biodiversidade e contribuindo
para a sua conservação.
Consulte as referências bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/artigos
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
43
ABR/JUN 2021
44
PARCEIROS NA 23° ED:
Informações práticas sobre os
anestésicos mais comuns na
aquicultura
Eduardo da Silva*, Gabriel Deschamps, Adolfo Jatobá, Carlize Lopes e Robilson
Antonio Weber
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense
Laboratório de Aquicultura
Araquari, SC
*eduardo.silva.pr.em@gmail.com
O
perfil dos consumidores tem se alterado ao
longo dos últimos 10 anos e com isso os
empresários precisam se adaptar para permanecerem
no mercado (Fernandes
e Vieira, 2021). Segundo
Siqueira (2019), a maior parte da
população brasileira, assim como
Além da importância
de preservar o bemestar
animal para
suprir as exigências do
mercado consumidor, é
importante salvaguardar
a saúde dos peixes
diante de eventos
adversos.
a mundial, é formada por consumidores
das Gerações Y e Z,
que além de outras características,
são os que mais estão preocupados
com a sustentabilidade
ao comprarem um produto.
Além disso, atualmente, existe
uma preocupação crescente por
parte dos pesquisadores, e da
população como um todo, com
relação ao bem-estar animal
(Gonçalves e Giaquinto, 2020).
Além da importância de preservar
o bem-estar animal para
suprir as exigências do mercado
consumidor, é importante
salvaguardar a saúde dos peixes
diante de eventos adversos
(Pounder et al., 2018), pois eventos estressantes nos
peixes ativam o eixo hipotálamo-hipófise-interrenal
que induzem a liberação de corticosteroides, entre
eles o cortisol, (principal hormônio utilizado para
avaliação de estresse agudo em peixes) que desencadeiam
uma série de respostas fisiológicas e adaptativas
(Sadoul e Geffroy, 2019). Uma dessas respostas
é a mobilização de reservas energéticas por meio da
glicólise e gliconeogênese (Sadoul
e Vijayan, 2016). Ou seja, o peixe
deixa de utilizar energia para crescer
e a direciona para enfrentar
o evento estressante, no caso de
um cultivo comercial, diminuindo
o desempenho dos animais.
Na aquicultura, os peixes podem
ser submetidos à vários manejos
que vão desde pesagem,
vacinação, transporte, e até procedimentos
mais invasivos e dolorosos
como cirurgias (Priborsky e Velisek,
2018). Esses manejos, muitas
vezes são de rotina e essenciais
(Ribeiro et al., 2018). Entretanto,
causam estresse aos animais (Medeiros
Júnior et al., 2019). Nesses
momentos, a utilização de anestésicos
pode ser necessária (Priborsky
e Velisek, 2018) para reduzir
o estresse (Medeiros Júnior et al.,
2019). A técnica mais utilizada para induzir anestesia em
peixes é através do banho de imersão (diluir o anestésico
na água). Este é inalado através das brânquias, se
difunde na corrente sanguínea, chegando ao sistema
nervoso central (Ross e Ross, 2008; Martins et al., 2018)
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
45
ABR/JUN 2021
Neste contexto, o uso da anestesia em peixes tem
se tornado cada vez mais essencial (Gonçalves e Giaquinto,
2020). Entretanto, é fundamental ter conhecimento
do produto utilizado e seus efeitos fisiológicos
e comportamentais, uma vez que a exposição à alguns
fármacos podem também causar estresse e efeitos adversos
(Pounder et al., 2018). É importante ressaltar
que fatores relacionados ao ambiente (temperatura,
pH, salinidade e oxigênio dissolvido na água) e ao animal
(espécie, peso e fase reprodutiva) também devem
ser levados em consideração, pois interferem no tempo
de indução e recuperação dos animais (Priborsky e
Velisek, 2018). Diante do presente cenário, torna-se
importante/necessário conhecer os principais anestésicos
utilizados, juntamente com informações práticas
para uso na piscicultura comercial e/ou aquarismo.
Principais
anestésicos
utilizados em peixes
Pesquisas com diferentes anestésicos testando suas
concentrações, efeitos fisiológicos e utilização em diversas
situações de manejos, constituem um tema
muito atual e recorrente (Honorato et al., 2021; Rucinque
et al., 2021; Teixeira et al., 2021; Wang et al.,
2021; Zahran et al., 2021). Entre eles, destacamos
quatro anestésicos utilizados na aquicultura: 2-Fenóxietanol
(Pounder et al., 2018; da Silva et al., 2019;
Rucinque et al., 2021; da Silva et al., in press), Benzocaína
(Pounder et al., 2018; Ribeiro et al., 2018;
Romaneli et al., 2018; Medeiros Júnior et al., 2019;
Ferreira et al., 2020; Gonçalves e Giaquinto, 2020),
Eugenol (Pounder et al., 2018; Ribeiro et al., 2018;
Romaneli et al., 2018; Corso et al., 2019; Yousefi et
al., 2019; Honorato et al., 2021; Wang et al., 2021;
Zahran et al., 2021) e Metanossulfonato de tricaína
(Pounder et al., 2018; Ouyang et al., 2020; Yu et al.,
2020; Honorato et al., 2021; Teixeira et al., 2021).
1. Fenoxietanol
Este anestésico, mais conhecido pela abreviação
do inglês, 2-Phe (2-Phenoxyethanol), é um líquido
moderadamente oleoso, aromático e incolor (Barata
et al., 2016). Além da anestesia, o 2-Phe exerce efeito
analgésico (Grasshoff et al., 2006). Também possui
propriedades bactericidas e fungicidas que fazem do
2-Phe muito útil para cirurgias (Ross e Ross, 2008).
Recentemente, o 2-Phe teve sua utilização avaliada
em Oreochromis niloticus (Rucinque et al.,
2021), Oncorhynchus mykiss (Pounder et al., 2018),
Rhamdia quelen (da Silva et al., in press) e Astyanax
bimaculatus (da Silva et al., 2019). Sendo que nos
três primeiros trabalhos, o cortisol foi mensurado.
Concentrações de 200 - 600 µL/L de 2-Phe são
suficientes para anestesiar Astyanax bimaculatus pesando
4,41 ± 0,85 g em 155 - 45 segundos, respectivamente
(da Silva et al., 2019). Para Oreochromis
niloticus de 224,05 ± 67,56 g é necessária uma concentração
de 1000 µL/L do anestésico para indução
em 150 segundos (Rucinque et al., 2021). Em Oncorhynchus
mykiss (47,61 ± 2,79 g), a concentração
utilizada foi maior (6000 µL/L), porém com menor
tempo de indução, 76 segundos (Pounder et al., 2018).
O Rhamdia quelen (126,47 ± 41,14 g) necessitou de
uma concentração de apenas 700 µL/L para ser anestesiado
em 180 segundos (da Silva et al., in press).
No experimento com Oreochromis niloticus, o
nível de cortisol do grupo anestesiado com 2-Phe
foi igual ao grupo dos animais expostos ao etanol
(Rucinque et al., 2021). Enquanto no Oncorhynchus
mykiss (Pounder et al., 2018) e Rhamdia quelen
(da Silva et al., in press) anestesiados com 2-Phe
mantiveram os níveis cortisol igual ao nível basal.
A exposição ao anestésico em altas concentrações
e/ou por muito tempo pode eutanasiar os animais. A
mesma concentração utilizada para anestesiar Oreochromis
niloticus (6000 µL/L) em 76 segundos foi responsável
pela eutanásia dos animais quando expostos durante
235 segundos (Rucinque et al., 2021).
Informações de Segurança
ao Manipulador: O
fenoxietanol é nocivo se ingerido,
inalado ou em contato com a pele e
irritante severo para olhos e pele (Ross
e Ross, 2008). Em caso de contato,
lavar imediatamente com água em
abundância (Ross e Ross, 2008).
46
PARCEIROS NA 23° ED:
2. Benzocaína
A benzocaína é um composto branco,
inodoro e insípido (Purbosari et al.,
2019). É quase totalmente insolúvel
em água, portanto, para facilitar sua
solubilização, deve ser primeiro dissolvido
em acetona ou etanol (Ross e
Ross, 2008). Teve, recentemente, seu
uso avaliado em Aulonocara nyassae
(Ferreira et al., 2020), Oncorhynchus
mykiss (Pounder et al., 2018), Oreochromis
niloticus (Gonçalves e Giaquinto,
2020), Prochilodus lineatus (Medeiros
Júnior et al., 2019), Lophiosilurus alexandri
(Ribeiro et al., 2018) e Pterophyllum
scalare (Romaneli et al., 2018).
Ferreira et al. (2020) avaliaram a
benzocaína em diferentes tamanhos
de Aulonocara nyassae, concluíram
que para exemplares de 0,74 ± 0,31
g, uma rápida indução anestésica (42
segundos) era obtida com a concentração
de 108 mg/L, enquanto que
exemplares maiores (3,80 ± 0,92 g)
submetidos à 113 mg/L levavam de
48 a 76 segundos para a anestesia. Em
Oncorhynchus mykiss (47,61 ± 2,79 g),
a concentração de 150 mg/L foi capaz
de induzir os animais à anestesia em
87 segundos (Pounder et al., 2018). Já
com 80 mg/L de benzocaína é possível
anestesiar Oreochromis niloticus (22,85
± 2,57 g) em 266 segundos (Gonçalves
e Giaquinto, 2020). Para
Prochilodus lineatus
(4,70 ± 1,60 g), 50
mg/L causam anestesia
profunda em 151
segundos e em 296
segundos é recomendado
para intervenções cirúrgicas
(Medeiros Júnior
et al., 2019). Para anestesia de
Lophiosilurus alexandri (214,87 ±
75,83 g), pode-se utilizar 60 -
120 mg/L de benzocaína (175 -
107 segundos, respectivamente)
(Ribeiro et al., 2018). Para
Pterophyllum scalare (16,45
± 1,75 g), 89,25 mg/L de
benzocaína são necessários
para induzir os animais à
anestesia em 103 segundos
(Romaneli et al., 2018).
Em Oncorhynchus mykiss
a benzocaína evitou o estresse
e manteve o cortisol
nos níveis basais, além disso,
pode ser utilizada para
causar a eutanásia se a
exposição à 150 mg/L
continuar por 177
segundos (Pounder
et al., 2018). E a
anestesia com
benzocaína em
Lophiosilurus alexandri
não causa
alterações hemato-
-bioquímicas prejudiciais
à fisiologia dos animais
(Ribeiro et al., 2018).
Informações de Segurança
ao Manipulador: A
benzocaína é perigosa se ingerida
e irritante para os olhos, pele e
sistema respiratório (Ross e Ross,
2008).
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
47
ABR/JUN 2021
3. Eugenol
Existe uma preocupação que o uso
de anestésicos sintéticos cause danos
aos animais, pessoas e até mesmo ao
ambiente e isso tem feito do óleo de
cravo e o eugenol, os anestésicos derivados
de plantas mais utilizados na
aquicultura (Aydin e Barbas, 2020). O
eugenol é um composto natural extraído
do cravo-da-índia e comumente
comercializado (Honorato et al., 2021).
Acredita-se que o eugenol bloqueia a
transmissão de informações sensoriais
ao hipotálamo (Corso et al., 2019).
O eugenol causou uma rápida indução
anestésica em Pterophyllum scalare
(16,45 ± 1,75 g) em 79 segundos
(Romaneli et al., 2018) e em Geophagus
brasiliensis (4,30 ± 1,22 g) em 60
segundos (Honorato et al., 2021) com
90,6 e 217 mg/L, respectivamente. Entretanto,
em concentrações mais baixas,
30 mg/L, o eugenol levou 345 segundos
para anestesiar Oreochromis niloticus
(35,00 ± 2,30 g) (Zahran et al., 2021).
A relação inversa entre concentração e
tempo de indução do eugenol ficou claro
no Ictalurus punctatus (135,30 ± 6,20
g), anestesiado com concentrações que
variaram de 30 a 100 mg/L, cujos tempos
de indução foram respectivamente
1086 e 96 segundos (Wang et al., 2021).
Concentrações medianas (80 - 160
mg/L) induziram a anestesia
de Lophiosilurus
alexandri (171,59 ±
37,87 g) em tempos
que variam entre 130
e 79 segundos, respectivamente
(Ribeiro et
al., 2018). Em Prochilodus
nigricans (221,34
± 9,00 g), 50 mg/L
causa indução anestésica
em 163 segundos
(Viegas et al., 2020).
Para Oncorhynchus
mykiss (47,61 ± 2,79
g), 200 mg/L de eugenol
é capaz de induzir a anestesia em
86 segundos (Pounder et al., 2018).
O eugenol foi capaz de reduzir o
cortisol em Cyprinus carpio (110,00 ±
5,65 g) submetida à 5 min em banho
anestésico com 43 mg/L (Yousefi et al.,
2019) e em Ictalurus punctatus submetido
à 5 h de transporte (Wang et al.,
2021). Além disso, evitou o aumento do
cortisol em Oncorhynchus mykiss (Pounder
et al., 2018). Em Rhamdia quelen
(500,00 ± 10,00 g) submetido à 30, 40
e 50 mg/L, não foi observada diferença
no cortisol quando comparado ao grupo
controle (Corso et al., 2019). Enquanto
que em Oreochromis niloticus, o cortisol
do grupo anestesiado foi maior que o
grupo controle (Zahran et al., 2021).
As concentrações de 30, 40 e 50
mg/L utilizadas em reprodutores machos
de Rhamdia quelen não altera a
qualidade seminal em sêmen fresco
(Corso et al., 2019). Em espécimes de
Lophiosilurus alexandri, o eugenol não
causou alterações hemato-bioquímicas
prejudiciais à fisiologia dos animais
(Ribeiro et al., 2018). E em Prochilodus
nigricans manteve a glicose em níveis
basais além de garantir a boa saúde das
brânquias (Viegas et al., 2020). Entretanto,
induz a eutanásia de Oncorhynchus
mykiss quando expostos por 168
segundos em 200 mg/L de eugenol.
Informações de Segurança
ao Manipulador: Substâncias
muito semelhantes ao eugenol
são nocivas se ingeridas, inaladas
ou absorvidas pela pele, além de
irritante para os olhos, pele e sistema
respiratório (Ross e Ross, 2008). Ross
e Ross (2008), acreditam que deve-se
minimizar o contato direto com essas
substâncias.
48
PARCEIROS NA 23° ED:
4. Metanossulfonato de tricaína
Mais conhecido como MS-222, apresenta-se como
um pó cristalino branco (Purbosari et al., 2019). É bastante
solúvel em água (Ross e Ross, 2008). Após o
preparo da solução-mãe pode ser mantido, quando
bem conservado, por até três meses, mas eventualmente,
pode desenvolver coloração e perder a potência
do produto (Ross e Ross, 2008). É um dos anestésicos
mais utilizados no mundo com notáveis tempos
de indução e recuperação (Priborsky e Velisek, 2018).
Oncorhynchus mykiss (47,61 ± 2,79 g), quando submetida
à 200 mg/L de MS-222, levam, aproximadamente,
91 segundos para a anestesia, porém, se continuarem
expostos por 277 segundos, serão eutanasiados (Pounder
et al., 2018). Em Geophagus brasiliensis (4,30 ± 1,22 g), a
anestesia em 60 segundos se dá com a concentração de
394 mg/L (Honorato et al., 2021). Para Symphysodon aequifasciatus
(34,27 ± 4,46 g), concentrações que variam
entre 95 - 105 mg/L podem induzir a anestesia em 152
– 132 segundos, respectivamente (Ouyang et al., 2020).
A indução anestésica de Pampus argenteus (11,20 ± 1,50
g) se dá em 168 segundos com 75 mg/L (Yu et al., 2020).
E Rhamdia quelen (363,00 ± 71,20), com concentrações
entre 100 - 300 mg/L causam a anestesia, respectivamente
em 283 - 30 segundos (Teixeira et al., 2021).
Informações de Segurança
ao Manipulador: O MS-222 é
nocivo se ingerido, inalado ou absorvido
pela pele e irritante para olhos, pele
e sistema respiratório (Ross e Ross,
2008).
O MS-222 evitou o aumento das concentrações de
cortisol em Oncorhynchus mykiss (Pounder et al., 2018)
e Symphysodon aequifasciatus (Ouyang et al., 2020),
mantendo os valores semelhantes aos níveis basais.
Em Pampus argenteus, não evitou o aumento dos níveis
de cortisol quando comparado aos níveis basais,
entretanto evitou o incremento deste quando comparado
à indivíduos submetidos à estresse (Yu et al.,
2020). Em Rhamdia quelen manteve o cortisol semelhante
ao grupo controle, mas este grupo havia sido estressado
para os procedimentos (Teixeira et al., 2021).
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
49
ABR/JUN 2021
Considerações
O tipo de manejo,
finais
tempo de exposição/
indução e concentração
são fatores
determinantes para a
escolha do anestésico.
O tipo de manejo, tempo de exposição/indução
e concentração são
fatores determinantes para a escolha
do anestésico, assim como as alterações
hematológicas, bioquímicas
e histológicas. Faz-se necessário uso
de anestésicos, principalmente para
manejos mais invasivos, não apenas
para cumprir as normas de bem-estar,
mas também evitar acidentes e
perdas econômicas desnecessárias.
Não existe um produto perfeito
com uma concentração ideal aplicável
à todas as espécies, tamanhos e
estágios de vida. Entretanto, vários
fármacos/produtos podem ser utilizados
para produzir anestesia em peixes,
mas para a escolha de qual utilizar
deve-se observar, além das particularidades
de cada produto, os fatores
relacionados ao ambiente (temperatura,
pH, salinidade e oxigênio dissolvido
na água) e ao animal (espécie,
peso e fase reprodutiva). Todos estes
fatores influenciam na anestesia e devem
ser levados em consideração.
Ao manipular os anestésicos, o uso
de equipamentos de proteção individual,
principalmente luvas e óculos de
proteção são imprescindíveis. Desta
forma, evita-se acidentes que causem
algum dano ao manipulador.
Consulte as referências
bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/artigos
50
PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
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© Aquaculture Brasil
ABR/JUN 2021
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PARCEIROS NA 23° ED:
Produção de Litopenaeus
vannamei em sistema de
bioflocos com uso de tecnologia
de consórcio probiótico
Amanda Favetta, Caio H. N. Ferreira, Fabrício M. Dutra e Eduardo L. C.
Ballester*
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Departamento de Aquicultura
Maripá, PR
*elcballester@yahoo.com.br
O
camarão-branco-do-pacífico, Litopenaeus
vannamei, é o crustáceo mais produzido
no mundo, representando
52,9% dessa produção
(FAO, 2020). A partir das últimas
duas décadas, o aumento da demanda
por alimento, a crescente
escassez de água, a ocorrência de
doenças e a preocupação com o
meio ambiente, tem levado a produção
de camarão a se intensificar
e o sistema de bioflocos - BFT –
Biofloc Technology tem sido empregado
como uma alternativa (Zhang
et al., 2017; Kumar et al., 2020;
Xu et al., 2021). Os microrganismos
presentes nos bioflocos mantém
o equilíbrio da qualidade de
água por meio da ciclagem de nutrientes
para formação da sua biomassa
(Emerenciano et al., 2017).
Nesses sistemas, as maiores
densidades de estocagem empregadas,
tornam mais complexo manter o equilíbrio das
comunidades microbianas presentes (Da Silveira et
al., 2020). A utilização de probióticos, como suplementos
microbianos, tem sido avaliada para este tipo
de sistema com o objetivo de manipular a composição
destas comunidades. Além disso,
os probióticos promovem
vários benefícios aos camarões
que refletem em ganhos
de desempenho zootécnico
(Adel et al., 2017; Amoah et
al, 2019). Diversos trabalhos
tem explorado estes benefícios,
seja com o uso de um
único organismo probiótico
seja com o uso de diversos organismos
probióticos em conjunto
(De Souza et al, 2012).
A Tecnologia do Consorcio
Probiótico (TCP) é uma
tecnologia inovadora que tem
como base o princípio cientifico
dos Microbiomas Projetados
Ativos. Isso significa dizer
que utilizamos microrganismos
(bactérias e leveduras) que, nas
proporções e meios adequados, constituem um ambiente
simbiótico que irão operar de forma suportar
e proteger ambientes produtivos. Por meio de in-
Os microrganismos
presentes nos bioflocos
mantém o equilíbrio
da qualidade de água
por meio da ciclagem
de nutrientes para
formação da sua
biomassa.
terações desse sistema, internas e externas, são formados
os pós-bióticos primários e secundários, que
por sua vez possuem ações diretas no meio, como
por exemplo, mineralização de matéria orgânica,
disponibilização de nutrientes, ação anti-microbiana
(antagonizando elementos patogênicos) entre outras.
Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho
foi avaliar o efeito do produto Bio O 2
Camarão®,
com base na tecnologia de consórcio probiótico
(Global Saúde®), sobre a atividade enzimática
digestiva e desempenho zootécnico de juvenis de
Litopenaeus vannamei, durante a fase inicial de engorda,
produzidos em sistema de bioflocos - BFT.
Material e
métodos
A avaliação do Bio O 2
Camarão® foi realizada
no Laboratório de Carcinicultura, Núcleo
de Pesquisa e Desenvolvimento em Aquicultura
Sustentável da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Maripá - PR, durante 32 dias (Figura 1).
O produto é composto por uma combinação de
microrganismos, contendo bactérias ácido lácticas,
leveduras, Bacillus subtilis, Bifidobacterium animalis,
Lactobacillus casei - subespécie rhamnosus, Saccharomyces
cerevisiae, e outras 13 espécies de bactérias
utilizadas no processo de propagação da TCP.
O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado, com quatro tratamentos (Tabela 1,
Figura 2) e quatro repetições. Foram estocados
35 camarões por unidade experimental (aproximadamente
160 camarões/m 3 ) com peso médio
de 3,15±0,53g e comprimento total médio de
7,80±0,54cm. Os camarões foram alojados em
tanques circulares de polietileno com 220L de volume
útil, dispostos em uma estufa, em sistema estático
de bioflocos com aeração forçada (Figura 3).
As rações comerciais Guabitech Inicial J ® e
GuabiTech Active 1.6® foram ofertadas de acordo
com a recomendação para a fase de desenvolvimento.
Cada unidade experimental recebeu
7,5g de ração por dia, fracionada em cinco alimentações.
A taxa de arraçoamento foi calculada pro-
Figura 1. Laboratório de Carcinicultura - Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Aquicultura Sustentável NPDA - UFPR Maripá- PR. © autor,
2011
ABR/JUN 2021
54
PARCEIROS NA 23° ED:
Descrição dos tratamentos quanto a dosagem e frequência
de administração na água e inclusão na alimentação.
Tabela 1.
Tratamento
Dose
Probiótico na água
Frequência
Probiótico na alimentação
T1 (controle) Sem probiótico - Sem probiótico
T2 50 mL / 100.000 L (0,5 ppm*) 3 aplicações / semana 3 mL kg -1 de ração
T3 100 mL / 100.000 L (1 ppm) 3 aplicações / semana 3 mL kg -1 de ração
T4 100 mL / 100.000 L (1 ppm) 7 aplicações / semana Sem probiótico
Nota: * ppm: partes por milhão
Disposição das unidades experimentais na estufa
Figura 2.
Porta da estufa
Cortina lateral
T4 T3 T1 T2 T3 T4 T2 T1
T2 T1 T3 T4 T1 T2 T3 T4
jetando um crescimento de 1g por semana e conversão
alimentar de 1,5:1, fornecendo a mesma
quantidade durante toda a duração do experimento.
Ao longo do experimento foram monitoradas as
seguintes variáveis de qualidade de água: temperatura,
oxigênio dissolvido, pH, salinidade, dureza, alcalinidade,
amônia total, nitrito, sólidos suspensos totais (SST)
(Apha, 2005), sólidos sedimentáveis (SS) (Avnimelech,
2009). O monitoramento de Vibrio foi realizado em
amostras de água, no 1 o , 15 o e 31 o dia e no hepatopâncreas
dos camarões ao final do experimento. O
plaqueamento e contagem de unidades formadoras
de colônia (UFCs) foi realizado no Núcleo Experimental
de Micologia Aplicada (NEMA), UFPR, Palotina.
Ao final do experimento todos os animais foram contabilizados,
pesados e medidos para determinar peso
médio final (PF), comprimento médio final (CF), ganho
de peso (GP), sobrevivência (S), biomassa final (BF), ganho
de biomassa (GB), conversão alimentar aparente
(CAA), taxa de crescimento relativo diário peso (TCRP).
Também ao final do experimento foi avaliada a
atividade enzimática digestiva em hepatopâncreas
no Laboratório de Bioquímica e Genética na Universidade
Federal da Fronteira Sul onde foram analisados
os teores de amilase, lipase e quimotripsina.
Todas as variáveis passaram pela verificação de
pressupostos de normalidade e homocedasticidade.
Os dados de UFC de Vibrio em água e lipase passaram
por transformação logarítmica (log x). Os dados
foram submetidos a análise de variância (Anova)
uma via e, quando detectadas diferenças, ao teste
de comparação de médias de Tukey. Os valores de
SS foram submetidos a analise não paramétrica de
Kruskal-Wallis devido a não atenderem os pressupostos
de normalidade e homogeneidade. Para todos
os testes foi adotado nível de significância de 5%.
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
55
Figura 3. Unidades experimentais em sistema de bioflocos. © autor 2021
ABR/JUN 2021
56
PARCEIROS NA 23° ED:
Resultados e
discussão
Não foram observadas diferenças significativas para
as variáveis de qualidade de água que permaneceram
dentro da faixa recomendada para a espécie, com exceção
do pH, que se manteve ligeiramente acima em
todos os tratamentos, no entanto, isso não afetou o
desempenho dos camarões (Van Wyk et al., 1999; Lin
e Chen, 2001; Lin e Chen, 2003). Não foram observadas
diferenças significativas nas concentrações de Vibrio
entre os tratamentos para água ou hepatopâncreas.
O uso do probiótico promoveu melhoras no
desempenho zootécnico dos camarões, com
maiores valores de biomassa final e ganho de biomassa,
e maior eficiência na conversão alimentar.
A ausência de algumas proteases, carboidrases e
lipases no trato digestivo dos animais limita a absorção
de nutrientes contidos nas macromoléculas, principalmente
de ingredientes de origem vegetal. Nesse
sentido, o uso de bactérias capazes de produzir
essas enzimas ou estimular a produção endógena,
pode tornar a alimentação mais eficiente (Olmos et
al., 2020; Ringo et al., 2020). Assim, neste estudo,
o aumento na atividade das enzimas observado nos
tratamentos com uso de probiótico refletiu na melhoria
de desempenho mencionada anteriormente.
Essa afirmação pode ser sustentada com base nos
estudos de Zheng et al. (2018), no qual também observaram
melhora no crescimento relacionada a atividade
enzimática de L. vannamei, e Tsai et al. (2019)
que atribuíram um maior crescimento devido a uma
melhora na digestibilidade da dieta, associando essa
melhora ao incremento da atividade enzimática.
Estudos mostraram que os probióticos promovem
benefícios ao sistema imunológico (Roomiani
et al., 2018) composição da microbiota intestinal
(Fan e Li, 2019), morfologia do trato digestivo e atividade
enzimática digestiva, que juntos refletem em
incremento no desempenho zootécnico de camarões
(Amoah et al., 2019, De Souza et al, 2012).
A mistura de espécies num mesmo probiótico,
tecnologia utilizada no Bio O 2
Camarão®,
é mais eficiente do que o uso de espécies isoladas,
pois microrganismos com diferentes benefícios
agem de forma sinérgica melhorando o desenvolvimento
dos camarões (Wang et al., 2019).
Tabela 2. Atividade enzimática digestiva (quimotripsina, amilase e lipase) em hepatopâncreas e desempenho zootécnico de L.
vannamei produzidos em sistema de bioflocos. Biomassa final (BF), ganho de biomassa (GB), conversão alimentar aparente (CAA),
peso médio final (PF), comprimento médio final (CF), ganho de peso (GP), sobrevivência (S) e taxa de crescimento relativo diário
peso (TCRP).
Variável T1 T2 T3 T4
Quimotripsina 0,676 ± 0,057 b 0,651 ± 0,032 b 0,733 ± 0,051 a 0,752 ± 0,064 a
Amilase 9,08 ± 0,88 b 9,02 ± 1,12 b 10,36 ± 1,48 a 11,35 ± 1,16 a
Lipase 0,972 ± 0,154 c 0,971 ± 0,171 c 1,213 ± 0,411 b 1,659 ± 0,068 a
BF (g) 254,94 ± 2,81 b 278,02 ± 11,49 ab 288,29 ± 18,67 a 284,18 ± 10,15 ab
GB (g) 159,37 ± 2,95 b 173,31 ± 8,19 a 186,63 ± 8,09 a 177,43 ± 3,47 a
CAA (g) 1,41 ± 0,03 a 1,30 ± 0,06 ab 1,21 ± 0,05 b 1,27 ± 0,03 b
PF (g) 8,15 ± 0,32 8,10 ± 0,11 8,67 ± 0,35 8,16 ± 0,57
CF (cm) 10,77 ± 0,12 10,70 ± 0,17 10,93 ± 0,06 10,63 ± 0,25
GP (g) 5,10 ± 0,32 5,05 ± 0,11 5,62 ± 0,35 5,11 ± 0,57
S (%) 84,60 ± 4,13 92,70 ± 3,12 90,00 ± 9,49 94,50 ± 9,36
TCRP (%) 267,10 ± 10,60 265,46 ± 3,51 284,37 ± 1,52 267,43 ± 18,78
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
57
Figura 4.
Camarões no início do experimento (A.) e camarão
alimentado com probiótico (B.)
A.
ABR/JUN 2021
B.
Conclusão
Conforme observado no
estudo, e nas condições experimentais,
recomendamos administração
do TCP Bio O 2
Camarão®
diariamente, nas doses
de 100mL/100.000L em água e
3mL kg -1 de ração na dieta durante
a fase de engorda de L.
vannamei em sistema de bioflocos.
O uso do probiótico potencializou
os benefícios naturais do
biofloco, promovendo aumento
da atividade enzimática digestiva,
o que proporcionou maior
eficiência no aproveitamento
da dieta, e consequentemente
benefícios no desempenho zootécnico
de L. vannamei, em termos
de biomassa final, ganho de
biomassa e conversão alimentar.
Esses indicadores de desempenho
estão entre os fatores que
mais influenciam na lucratividade
da atividade de carcinicultura em
todas as fases, especialmente na
fase de engorda (Ruiz-Velazco et
al., 2021).
Consulte as referências
bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/artigos
58
PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
59
Empresa:
Vaxxinova
Vaxxinova é líder em vacinas autógenas
para tilápias no Brasil
Com um histórico de mais de 60 anos
de atuação no segmento de saúde
animal, a empresa de saúde animal
Biovet Vaxxinova acaba de anunciar que passa
a se chamar Vaxxinova, com o propósito de
“Cuidar de Vidas. Alimentar o Mundo”.
A mudança de marca e de posicionamento
é o ponto estratégico da transformação empreendida
nos últimos três anos pela empresa,
após a aquisição da multinacional Vaxxinova,
que faz parte do EW Group.
há de melhor em vacinas autógenas para tilapicultura”,
explica o médico veterinário Santiago
Benites de Pádua, gerente de produtos Aqua
Vaxxinova.
Outro movimento importante para a conquista
da liderança no setor foi no sentido de
que, mesmo com todos os desafios trazidos
pela pandemia, no ano fiscal 2020/2021, a
empresa continuou investindo com recursos
próprios no site fabril.
ABR/JUN 2021
Nesse período, por exemplo, a empresa
criou sua Unidade de Negócios Aquacultura, e
já alcança a liderança no mercado brasileiro de
vacinas autógenas para tilapicultura, amparada
no excelente desempenho no segmento de vacinas
customizadas.
“Com um serviço de campo forte, apoiado
por profissionais de excelência e a parceria do
mais estruturado laboratório de diagnóstico de
enfermidades de organismos aquáticos do Brasil,
Aquavet/UFMG, passamos a disponibilizar nesse
período um portfólio customizado com o que
A empresa criou sua
Unidade de Negócios
Aquacultura, e já
alcança a liderança no
mercado brasileiro de
vacinas autógenas para
tilapicultura.
60
Espaço empresa
Esp
ço empresa
Unidades de
bioensaios da
Vaxxinova.
Para exemplificar, construiu
uma nova e exclusiva
planta de produção em
Vargem Grande Paulista,
concluída ainda em 2020,
que foi fundamental para
sedimentar a liderança no
mercado nacional de vacinas
autógenas para tilapicultura, e atender o
mercado por meio da marca Govaxx® de vacinas
autógenas.
Além disso, em seu centro de pesquisa
Aqua, específico para suportar o desenvolvimento
de novos produtos para linha de peixes
no Brasil, a empresa dedica-se a realização de
estudos clínicos, análises de segurança e eficácia
para as vacinas produzidas aos clientes.
A Vaxxinova pode oferecer tudo isso ao
mercado de peixes porque é uma potência
mundial no mercado de vacinas em diversos
segmentos de animais de produção (Aquacultura,
Avicultura, Pecuária e Suinocultura).
A empresa tem o respaldo de uma rede tecnológica
mundialmente estruturada por meio
de instalações de produção, pesquisa, desenvolvimento
e diagnóstico com operações
no Brasil, Itália, Alemanha, Japão, Jordânia,
Noruega, Tailândia, EUA, Holanda e Chile.
ABR/JUN 2021
Espaço empresa
61
Esp
ço empresa
Faz parte do portfólio a
produção e comercialização
de vacinas contra diferentes
espécies, sorotipos e
combinações de Streptococcus,
que atualmente é o principal
patógeno que impacta
as criações de tilápia no
Brasil. Produz ainda vacinas
combinadas contendo
Francisella orientalis, outro
patógeno sazonal com impacto
nas formas jovens da tilápia,
conhecida como o grande
desafio de inverno para os
criadores.
ABR/JUN 2021
Os portfólios
regionais da marca
compreendem,
entre outros, produtos terapêuticos, antiparasitários
e respondem pela produção anual
de bilhões de doses de vacinas licenciadas,
além de ser líder em vacinas autógenas. Graças
a isso, a Vaxxinova foi eleita pelo Animal
Pharm Awards a melhor companhia europeia
no setor de saúde animal.
Com sede mundial na Holanda, a Vaxxinova
faz parte da holding familiar EW Group, presente
em mais de 50 países, com mais de 15
mil colaboradores, detentora de mais de 165
empresas que atuam nos mercados de genética
(aves e peixes), saúde animal (Vaxxinova) e
nutrição (aditivos).
O site fabril da empresa no Brasil fica em
Vargem Grande Paulista (SP). Ibiúna (SP) possui
a maior fábrica de vacinas contra Coccidiose
Aviária da América Latina. E exclusivamente no
segmento Pet atua por meio da marca Biovet.
“Com toda essa estrutura, asseguramos que
podemos crescer de forma sustentável, mantendo
a excelência de nossos serviços e qualidade
de nossos produtos”, conclui Santiago Benites.
CONTATO:
www
www.vaxxinova.com.br/
+55 11 9 42596702
62
Espaço empresa
Assessing the sustainability of tilapia farming in bioflocbased
culture using emergy synthesis
Autores: Luiz H.David, Sara M.Pinhoa, Karel J.Keesman e Fabiana Garcia
A tecnologia de bioflocos (BFT) tem sido aplicada com sucesso ao cultivo de tilápia,
uma das espécies de peixes mais produzidas no mundo. Do ponto de vista ambiental, a
síntese emergética tem sido usada para medir a sustentabilidade de diferentes sistemas de
aquicultura. Em resumo, a síntese emergética é um método que permite medir a energia
direta e indireta necessária para fazer um produto e / ou sustentar um sistema. Dada a
escassez de avaliações de sustentabilidade de sistemas baseados em bioflocos, ainda não
está claro se as características positivas do BFT permitem enquadrá-lo em uma abordagem
sustentável real para a aquicultura. Este estudo teve como objetivo investigar
e aplicar a síntese emergética para avaliar a sustentabilidade da produção
comercial de alevinos de tilápia do Nilo em um sistema baseado em
bioflocos. Entre os resultados em destaque, estão:
• O sistema BFT utilizado pela fazenda se mostrou eficiente para a
produção de alevinos de tilápia e pode ser considerado um sistema
potencialmente sustentável.
ABR/JUN 2021
• Uma fazenda que opera em BFT é altamente dependente de
recursos da economia em geral.
• A fonte alternativa de eletricidade analisada (fotovoltáica) não
melhorou o desempenho energético da fazenda BFT.
Quer saber os demais resultados? Confira no periódico Aquaculture:
https://doi.org/10.1016/j.ecolind.2021.108186
64
PARCEIROS NA 23° ED:
Saturação de oxigênio
“nas alturas”
Aquicultura jurássica
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
65
ABR/JUN 2021
Fábio Sussel
Pesquisador Científico em Aquicultura e Apresentador Canal #VaiAqua
Pirassununga, SP
fabiosussel@hotmail.com
Aquicultura Brasileira X Mercado de
Proteína Aquática no Brasil
Uma premissa básica para
se ter sucesso financeiro
no segmento em que cada
empresa atua é conhecer bem
o mercado. Os principais players,
concorrentes, expectativas
dos consumidores, riscos,
desafios, oportunidades, logística,
entre outros ...
A recente história da aquicultura
brasileira é pautada em
vários cases de empresas que
transformaram paixão em negócio.
Ok, isto é legal, traz uma
pegada de saudosismo. Mas...
pensando em negócio de fato,
isto não é tão bom assim. Sempre
fui contra do tal discurso:
“somos apeixonados” pelo o
que fazemos. É negócio e ponto
final. É fato que tenho prazer
em trabalhar com organismos
aquáticos, mas... nem sempre
esta satisfação se converte em
$$$. Então, é fundamental que
a oportunidade de negócio em
relação ao universo da proteína
aquática esteja à frente da paixão.
E é justamente aí que eu
sinto uma grande carência (inclusive
da minha parte) por parte
dos aquicultores brasileiros:
pouco conhecemos do mercado
no qual atuamos. E por
conta deste desconhecimento,
nos posicionamos de forma
equivocada frente aos princi-
66
PARCEIROS NA 23° ED:
pais players. Se por exemplo, segmentarmos
o mercado de proteína aquática no Brasil em
aquicultura, pesca comercial e distribuidores, o
segmento da produção é o nanico dos três. E
nós achando que somos grandes, que podemos
influenciar consumidores, que os outros setores
devem se curvar a nós. Um baita erro ...
Há dois exercícios bem fáceis pra se fazer e
entender melhor isto. Primeiro, dar uma passada
de olho nas gôndolas de supermercados e
identificar quantos produtos e empresas tem de
aquicultura. Depois, comparar com os produtos
importados e os da pesca comercial. Um segundo
exercício é dar uma folhada na revista Seafood
Brasil, veículo de comunicação que transita
muito bem entre os segmentos de produção,
pesca comercial e distribuição. É impressionante
a quantidade de anúncios de grandes empresas
não relacionadas a aquicultura, mas que atuam
no segmento de proteína aquática, seja extrativismo
ou distribuição. Temos um forte viés para
achar ou interpretar que estas empresas não estão
relacionadas ao nosso negócio.
Muitas vezes nos gabamos em citar grandes
empresas de aquicultura (e de fato devemos ter
orgulho, pois, temos sim grandes exemplos),
mas não temos a mínima ideia da real quantidade
e do quanto faturam as distribuidoras de
pescado e empresas de pesca comercial. Ou
ainda, não fazemos a mínima ideia do volume
que estas empresas movimentam e como eles
sabem exatamente qual tipo de produto os
consumidores querem e qual deixa as melhores
margens de lucro. Nem sempre fornecem
os melhores produtos em termos de qualidade
de conservação e sabor, mas... sabem muito
bem o que os consumidores querem, o quanto
irá custar atender a demanda, o tamanho deste
mercado, a logística certa para chegar até o
consumidor final e qual margem de lucro vão
ter. O segmento de aquicultura primeiro preza
em produzir um peixe ou camarão com qualidade
máxima em todos os sentidos, depois tenta
encaixar este produto ao mercado.
Agora a coisa se agrava mesmo quando o
assunto é comunicação e estratégias de marketing.
Uma tragédia!!! Conta-se nos dedos de
uma mão as empresas de aquicultura, incluindo
as cooperativas, que possuem boas estratégias
de comunicação. No mais, o que se vê é um
festival de vídeos amadores e postagem em redes
sociais onde a única estratégia que se observa
é: comunicar-se para o próprio setor. Um
tiro no pé. Se estratégias caseiras de marketing
e comunicação fossem eficientes, não haveriam
cursos em nível superior para estas áreas.
Como sempre digo: comunicação tem cor, tem
entonação, tem tipo de fonte, tem emoção,
tem hora, tem dia da semana, tem o veículo
certo ... sendo que quando estes elementos
são negligenciados, a chance do efeito inverso
acontecer é grande.
O setor de aquicultura precisa entender que
a roda já está construída. Nós é que temos que
nos moldar a ela e não querer construir nossa
própria roda. E pior: querer competir com a
roda que está há muito mais tempo no mercado.
Temos sim condições de sermos mais sustentáveis,
de termos mais qualidade e de atender
a demanda crescente por alimentos. Mas
por enquanto, tem gente maior e mais preparada
na nossa frente. Sem vaidades, devemos
aprender com o que já está sendo feito.
#VaiAqua!
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
67
Diego Maia Rocha
Sócio-Diretor Synbiaqua Cultivos Aquáticos
Natal, RN
diegomaiarocha@synbiaqua.com.br
É preciso efetivamente participar mais!
Não basta apenas a presença em
grupos de whastapp para fortalecer
a carcinicultura, é preciso
efetivamente participar mais.
maior probabilidade de participação, comunicação
e aproximação que envolva os atores
A
da nossa indústria, atualmente é o whatsapp, o que
é algo positivo, porém não é o suficiente, é preciso
participar mais e de outras formas. A ideia desse artigo
é sinalizar alguns cases de demandas atendidas, seja na
perspectiva micro ou macro, mas que sem a participação
e envolvimento do produtor se perdem ao longo
do tempo.
ABR/JUN 2021
Case I
Quando o vírus da mancha branca chegou no Nordeste
entre 2010 e 2011, alguns anos depois tudo que
se desejava era um laboratório de referência para análises
virais, não apenas para este, como para outros vírus,
e que esse fosse de idoneidade incontestada, sem
relação com laboratório de pós-larvas. Em 2016 uma
empresa multinacional e com expertise no ramo se
instala no Brasil, apenas 3 anos depois, essa empresa
encerra suas atividades por falta de procura. Atualmente
não há laboratórios com esse know how no Brasil.
Case II
Um dos grandes problemas da comercialização de
camarão fresco é a falta de referências de preços ao
longo do ano de fontes seguras. Há quase um ano,
um app foi lançado para que os produtores de todos
os estados, informassem de forma clara, o preço
praticado de venda, assim se teria uma referência vinda
diretamente de produtores. Mas o que se percebe,
mais uma vez é que a participação poderia ser maior
por parte dos produtores.
68
PARCEIROS NA 23° ED:
Case III
Em abril de 2020, foi concedida para aqueles que
tiveram interesse a liberação de reprodutores SPF
dos EUA, que era uma demanda antiga. Atualmente,
quase um ano e meio depois, o que se percebe é
que ainda não existe uma isonomia por parte da indústria
na importação desses animais. Possivelmente
nos próximos 6 meses, esse assunto ainda estará em
aberto e corre o risco de virar só mais um, que por
falta de diálogo e participação direta dos produtores
sucumbirá ao esquecimento.
Todos os anos haverá oportunidades e desafios para
todos aqueles que trabalham na carcinicultura, nas mais
diversas frentes possíveis, todos querem participar
com suas opiniões e contribuições. Mas é preciso reunir,
efetivar e concretizar essas contribuições, se não
corremos sempre o risco de ter demandas atendidas,
e, ao mesmo tempo perdidas por falta de participação.
A carcinicultura cresce, a visibilidade volta a ser
maior, os desafios são os mesmos ou até maiores, e
nesse novo momento a participação de todos é fundamental.
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69
ABR/JUN 2021
André Camargo
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ABR/JUN 2021
Múltiplos usos da água
Me lembro bem, na década de
2000, quando no CONAMA
e CONAPE se discutia muito os
múltiplos usos da água, confesso que
naquele momento pouca importância
era dada à aquicultura e muito pouco
se discutia em relação ao uso da
água para produção de organismos
aquáticos.
Hoje por sua vez, devido à
importância conquistada por nossa
atividade, chegou o momento de
exaustivamente discutirmos relações
de outras atividades humanas com
a aquicultura em relação ao uso de
nosso maior bem, a água.
Acredito que a aquicultura deve
ser menos importante apenas do que
o consumo humano de água potável e
a geração de energia elétrica, porém
muitos outros usos se inter-relacionam
conosco e devemos nos aprofundar
com cada uma dessas relações.
Irrigação, indústria, esgotamento
sanitário, turismo entre outros, são
usos de água que de alguma forma
podem se relacionar com nossa
aquicultura.
O abastecimento público de água
potável por exemplo classifica as
águas de tal forma que limita muito os
demais usos e se justifica tamanha a
nobreza desta participação em nossa
sociedade. A geração de energia por
sua vez possui regras muito claras
em suas concessões e o respeito
às cotas, vazões e etc fazem-se
fundamentais, sabemos que muitas
vezes concessionárias de energia
de nosso país extrapolaram cotas
mínimas, vazões máximas e outros
parâmetros, mais isso vem diminuindo
e a fiscalização da própria sociedade
vem aumentando. Como uma grande
parcela de nossa produção aquícola
é oriunda de reservatórios de usinas
hidrelétricas, devemos ficar atentos
e sempre buscar o diálogo para que
este convívio seja saudável e garanta a
viabilidade de todos.
O uso de águas para a criação de
organismos aquáticos enfrenta nos
últimos anos, ao longo de todo o
Brasil, o conflito com duas atividades
principais: o esgotamento sanitário de
cidades que polui os corpos d´água e
causa mortalidades e contaminações e
a lixiviação de fertilizantes e pesticidas
agrícolas que em muitos casos já
causou estragos na produção agrícola
do Brasil.
Concluindo, precisamos mais do
que nunca sermos responsáveis por
nossos atos e cobrar os demais atores
de nossa sociedade em relação ao
uso múltiplo da água, é direito de
todos o acesso a água de qualidade
e, portanto, temos o dever de zelar
cada vez mais por nosso bem maior,
a aquicultura só é capaz de ser uma
atividade forte e pujante com água
de qualidade e por este motivo
devemos estimular a participação dos
aquicultores em todas as instâncias
que discutam o uso da água.
Que este seja o primeiro de
muitos textos tratando deste tema,
boa leitura.
70
PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
71
Eduardo Gomes Sanches
Instituto de Pesca/APTA/SAA
Ubatuba, SP
eduardo.sanches2005@gmail.com
ABR/JUN 2021
Canal de divulgação
ossa conversa desta vez vai ser sobre como
N fazer as informações técnicas chegarem a todos
os interessados na aquicultura ornamental. Entretanto,
a proposta aqui vai ser como fazer a informação chegar
aos interessados, mas aproveitando a ferramenta da
interação. Diferente dos segmentos da aquicultura
voltados à produção de alimento, a aquicultura
ornamental apresenta características bem distintas,
tais como uma expressiva pulverização de pequenos
produtores, lojistas e aquaristas, grande componente
de amadorismo, com pouco conhecimento científico
disponível, mas muitas informações veiculadas
repetidamente, em redes sociais e grupos de
influenciadores, que acabam se tornando “verdades”.
Estas características criam um desafio para levar
conhecimento técnico que possa contribuir para o
desenvolvimento na produção de peixes ornamentais.
Pensando em como a academia poderia contribuir
neste desafio, nossa colega Dra. Anita Rademaker Valença,
docente do Departamento de Aquicultura da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) me
procurou com a proposta de criar um canal de divulgação
e interação com os interessados na produção
do acará disco. A ideia seria realizar discussões com
especialistas sobre temas relacionados a produção e
comercialização desta espécie, ampliando o acesso ao
conhecimento científico e sobre experiências práticas
no dia a dia das criações. Desta maneira, seria possível
contribuir para a profissionalização do setor. As apresentações
ficariam gravadas, podendo ser assistidas em
outros momentos pelos interessados. O canal contaria
ainda com a participação do colega Gabriel Henrique
de Mendonça Cardoso, biólogo com profundo conhecimento
sobre o acará disco no ambiente natural, visto
sua experiência como pesquisador na Amazônia.
Depois de muito planejamento, o canal iniciou as
atividades. Vários temas já foram abordados, tais como
unir pesquisa e produção, a diversidade de cores dos
discos na natureza e aspectos da comercialização nacional
e internacional.
Nestes
temas contamos
com especialistas,
como Hudson José
Crizanto da H&K, empresa
que exporta acarás
disco e o Luiz Francisco Bosso,
da Aquática Brazil, uma das maiores distribuidoras de
produtos para aquarismo no Brasil. Mais recentemente
pudemos conversar com a Ingrid Baran, da Baran
Discos, uma das lojas especializadas na comercialização
de acarás disco. Tudo isto de forma interativa, levando
o conhecimento e a experiência prática dos participantes
para quem tem interesse em manter, criar ou até
mesmo empreender neste ramo da aquicultura ornamental
com esta espécie emblemática da aquicultura
ornamental no Brasil.
As próximas apresentações do canal irão trazer temas
como “Legislação para o acará disco” com o Felipe
Weber, “Cultivo do acará disco no Brasil” com Manuel
Vasquez Vidal Júnior, “Aquarismo e Educação” com Francisco
Menezes Ramos e Leopoldo Barreto, “Empreendedorismo
com acarás disco” com Victor Hugo Andrade.
Muitos temas estão sendo organizados, considerando
a interação com o público e as sugestões recebidas.
Convido a todos que tem interesse na aquicultura ornamental,
em particular sobre os acarás disco, a participar,
assistindo as apresentações e propondo novos
temas, para que o conhecimento possa ser divulgado
e que as boas experiências possam ser conhecidas!!!!
Desta maneira o canal estará contribuindo para o crescimento
da aquicultura ornamental no Brasil, trazendo
oportunidades de inovação e empreendedorismo.
O canal pode ser acessado via Núcleo de Cidadania
e Ensino Digital (NCED) da Universidade Federal de
Santa Catarina. Até a próxima coluna. E não esqueça
que a aquicultura ornamental, de pequena, só tem o
peixe!!!!!!
72
PARCEIROS NA 23° ED:
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Soluções para tratamento de efluentes
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ABR/JUN 2021
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Maurício Gustavo Coelho Emerenciano
CSIRO - Austrália
mauricio.emerenciano@csiro.au
*As opiniões citadas abaixo do primeiro autor são exclusivamente pessoais e não necessariamente remetem as
opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
ABR/JUN 2021
Circularidade na Aquicultura: ainda vamos
escutar muito sobre este conceito!
Hoje o assunto é circularidade e como esta
tendência pode (e vai) impactar a Aquicultura
mundial e nacional. A coluna Green Technologies desta
edição traz uma reflexão sobre o tema e as perspectivas
da aplicação desse conceito que veio para ficar.
Mas afinal, o que é a circularidade e o impacto
nas economias mundiais? A circularidade vem da aplicação
direta do conceito de economia circular, que
por sua vez associa o desenvolvimento econômico
ao melhor uso de recursos naturais. A ideia central
é depender menos de matérias-primas e otimizar ao
máximo o seu uso, priorizando insumos mais duráveis,
recicláveis e renováveis. Outro ponto importante
é a criação de co-produtos e novas oportunidades
de negócios. Existe um estímulo à inserção de
matéria-prima secundária nos processos produtivos
e fomento ao mercado de troca de resíduos. Como
resultado, as empresas não apenas reduzem custos
e perdas produtivas, mas também criam novas fontes
de receita. Segundo a Comissão Europeia, com
a massificação da circularidade é esperado até 2030
uma redução de 17 a 24% na dependência de matérias-primas
diretas naquele continente, gerando €600
bilhões em economia e 2-4% de redução nas emissões
de gases que causam o efeito estufa (UE, 2017).
E na Aquicultura, quais exemplos práticos de circularidade?
Podemos destacar diversos exemplos
desde os mais “tecnológicos” como o da empresa de
biotecnologia da Noruega Hyperthermics. Esta startup
transforma e recicla resíduos do cultivo de salmão
(sobras de ração, fezes, etc.) convertendo-os em
biogás e biomassa microbiana, rico ingrediente para
fabricação de rações de camarões e outras espécies
de peixes (Waycott, 2020). Já exemplos mais “simples”
incluem diversas modalidades de policultivos
aquícolas como o de carpas (cada espécie ocupando
um nicho ecológico diferente), camarões marinhos
com peixes e ostras, além de peixes e camarões de
água doce. Empresas como a Primar e Camanor são
exemplos nacionais que há muitos anos aplicam com
maestria a circularidade nas suas produções. Outros
exemplos incluem os sistemas multitróficos integrados
(utilizando como espécies secundárias os moluscos
bivalves, macroalgas e equinodermos como o
pepido-do-mar, uma iguaria de altíssimo valor para o
mercado asiático), sistemas de aquaponia e de bioflocos.
Algumas estratégias simples como a adoção de
substratos verticais, também são exemplos de circularidade
que podem diminuir o consumo de ração e
a exigência proteicas dos organismos cultivados (Olier
et al 2020). No aspecto nutricional, uso de farinha de
insetos (Tubin, 2020), microalgas produzidas a partir
de efluentes aquícolas (Zhang et al 2019), excesso
de sólidos suspensos transformados em farinha de
bioflocos (Bauer et al 2012), além do resíduo de restaurantes
(Sousa et al 2019), e do processamento do
pescado transformado em farinhas ou silagens (Borguesi
et al 2007) são exemplos de economia circular
na nutrição aquícola.
Além das vantagens citadas acima, a aplicação
do conceito circularidade além de ajudar o meio
ambiente, impulsionará e facilitará os processos de
certificação, dando acesso a mercados mais exigentes
(que por sua vez pagam mais). No entanto, é
de suma importância lembrar que um dos pilares da
sustentabilidade é o econômico. A circularidade pode
adicionar complexidade na produção e adicionar custos
extras. Neste sentido, uma avaliação minuciosa
do mercado alvo, juntamente com um cauteloso
planejamento produtivo e financeiro são de extrema
importância para a resiliência do negócio. O conceito
de economia circular veio para ficar, mas entender
suas nuances é fundamental. A conta tem que bater.
Até a próxima!
74
PARCEIROS NA 23° ED:
Green
TECHNOLOGIES
Figura 1. Exemplos de circularidade: policultivo tilápias e L. vannamei em Santa Catarina e tilápias produzidas juntamente com
camarão de água-doce Macrobrachium rosenbergii no Paraná. © Giovanni L. de Mello e Maurício Emerenciano
Figura 2. Bioflocos e Aquaponia são exemplos de sistemas de produção aquícola que carregam consigo a circularidade.
© Maurício Emerenciano
ABR/JUN 2021
Consulte as referências bibliográficas em
www.aquaculturebrasil.com/colunas
PARCEIROS NA 23° ED:
75
NUTRIÇÃO AQUÍCOLA
ABR/JUN 2021
Artur Nishioka Rombenso
CSIRO – Austrália
IPEMAR – Brasil
artur.rombenso@csiro.au
*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições
vinculadas ao mesmo.
Diretrizes e prioridades da indústria de
nutrição aquícola perante os tempos de COVID
Hoje abordarei as diretrizes e prioridades da
indústria de nutrição aquícola perante os
tempos de COVID com base nas minhas experiências
em projetos e em contatos com profissionais
ao longo da cadeia produtiva aquícola, especialmente
na Ásia e Oceania, e que nem sempre refletem
a realidade da indústria de ração em todas regiões.
Em momentos de incertezas, uma das primeiras
ações institucionais consiste na redução de despesas, o
que pode refletir de diversas maneiras, principalmente
na reorganização das prioridades e/ou redução do orçamento
dedicado à pesquisa. Acredito que, assim como
eu, vários leitores também tiveram oportunidades de
projetos de pesquisa adiadas ou canceladas. Nesse contexto,
surgem dúvidas sobre as prioridades de pesquisa
da indústria de nutrição aquícola. E também algo para
refletir sobre o quão essencial são nossos projetos de
pesquisa – tema que abordarei numa futura coluna.
Um dos principais objetivos das empresas de ração
é a consistência de qualidade de seus produtos. Nos
momentos em que os preços dos ingredientes estão
instáveis e tendem a aumentar, ocorre uma busca por
flexibilização nas formulações. Ou seja, diminuir a dependência
de ingredientes chaves que são mais caros,
aumentar o portfólio de matérias-primas, e ao tempo
manter o desempenho dos organismos aquáticos e o
valor nutriticional do produto final. Para tal, as empresas
estão focando em pesquisas para avaliar diferentes
combinações de ingredientes e testar novas matérias-
-primas e aditivos, sempre mantendo o preço da ração
como um dos fatores decisivos. Além disso, a origem
dos ingredientes, que influencia os custos de transporte,
e consequente sustentabilidade em termos de emissões
de CO 2
são fatores importantes¹. Para mais informações
sobre as características dos ingredientes e a importância
das mesmas, recomendo a leitura do artigo revisão
Glencross 2020². Assim, existe uma diretriz em priorizar
ingredientes locais ao invés dos mais tradicionais, porém
geograficamente distantes. Empresas multinacionais instaladas
na Austrália, por exemplo, estão atualmente utilizando
de 60 a 80% de matérias-primas australianas em
suas formulações.
Infelizmente, pesquisas mais básicas e de alto risco
são alocadas para baixo na lista de prioridades por não
terem implementação comercial imediata. Porém, momentos
de incerteza também devem ser vistos como
oportunidades. Portanto, devemos ser criativos e alinhar
ideias de pesquisa e desenvolvimento com essas
diretrizes para continuar o avanço da atividade aquícola.
Vale ressaltar que nenhum impacto positivo é realizado
isoladamente, assim a indústria de ração faz sua parte e,
juntamente com as outras ao longo da cadeia produtiva,
fazem com que a atividade como um todo progrida nesses
momentos delicados.
Espero ter trazido algo novo para vocês leitores e ao
mesmo tempo ter feito jus a todos nós, profissionais aquícolas,
que estamos trabalhando duro nesses últimos tempos
buscando manter o progresso da aquicultura.
¹ Escobar N., et al., 2020. Spatially-explicit footprints
of agricultural commodities: Mapping carbon emissions
in Brazil’s soy exports. Global Environmental Change https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2020.102067
² Glencross, B.D. 2020. A feed is still only as good
as its ingredients: An update on the nutritional research
strategies for the optimal evaluation of ingredients
for aquaculture feeds. Aquaculture nutrition https://doi.
org/10.1111/anu.13138
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PARCEIROS NA 23° ED:
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
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ABR/JUN 2021
Visão
aquícola
Giovanni Lemos de Mello
Produção de Garoupas no Brasil: Realidade
e Perspectivas
As garoupas estão entre os peixes marinhos mais
produzidos no mundo. Segundo a FAO, a produção
global é de 155 mil toneladas, focada no mercado
asiático de peixes vivos, a preços por volta de 60 dólares
o quilo. Os serranídeos em geral possuem alta demanda
para exportação. Em 2019, somente os Estados Unidos
importaram 6.715 toneladas, 15% do Brasil (oriundas
da pesca extrativista), a preços entre 10-12 dólares/kg.
A garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) é
uma espécie hermafrodita sequencial protogínica caracterizada
por alta fidelidade ao local, crescimento lento,
maturação sexual tardia e suscetível à sobrepesca.
Essas características levaram sua inclusão na lista de espécies
ameaçadas de extinção na categoria vulnerável,
tanto pela União Internacional para a Conservação da
Natureza, quanto pelo Ministério do Meio Ambiente
no Brasil, onde atualmente no País a espécie tem sua
captura proibida durante o período de 1° de novembro
a 28 de fevereiro.
Devido à sobrepesca da espécie, a piscicultura marinha
surge como uma forma de amenizar esses impactos
em populações naturais. Assim, a criação da garoupa-
-verdadeira tem sido impulsionada pela redução da oferta
da pesca de captura e pela sua relevância econômica,
uma vez que é considerada um peixe nobre e muito
apreciado, apresentando elevados valores de mercado.
No Brasil, a partir de 2007 a Redemar Alevinos,
localizada em Ilhabela (SP), centrou esforços visando
o desenvolvimento da criação da garoupa-verdadeira,
E. marginatus. De forma inédita no mundo, a espécie
teve o domínio de sua reprodução, larvicultura e alevinagem,
em condições laboratoriais. Um marco para a
piscicultura marinha brasileira e global!
Desde 2016 a Redemar produz com regularidade
juvenis de garoupa-verdadeira, com peso médio
individual de 2,0 g. Contudo, nestes primeiros anos,
houve pouco interesse dos aquicultores brasileiros em
aventurar-se na engorda da espécie. Desta forma, a
empresa voltou-se para projetos ambientais, como o
repovoamento de ambientes recifais do litoral paulista.
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil
Laguna, SC
giovanni@aquaculturebrasil.com
Com objetivo de fomentar o início da engorda no
Brasil, através do apoio da Fapesp (Projeto GAROUPA-
TEC) em 2019 a Redemar produziu juvenis de 100 g,
para que a engorda pudesse ser validada em distintos
sistemas de produção, sob escala produtiva, incluindo
sistemas abertos e fechados, em terra e no mar.
Uma das experiências mais exitosas foi em viveiros
originalmente construídos para a carcinicultura marinha,
no Sul do Brasil. Ressalta-se que na Ásia a maior
parte das garoupas são produzidas em pequenos viveiros
de terra. No Brasil, este modelo de produção
também mostrou potencial para a garoupa-verdadeira.
Uma parceria com a Mar do Brasil Aquicultura,
empresa localizada em Laguna (SC), possibilitou
a engorda de 2.000 juvenis até 500 g de peso médio.
Face aos desafios de cultivá-las pela primeira vez,
os resultados zootécnicos foram bastante positivos.
78
PARCEIROS NA 23° ED:
Exemplar de garoupas
(Epinephelus marginatus)
cultivadas em viveiros em
parceria com a empresa
Mar do Brasil, localizada
em Laguna/SC, município
que fica a 120 km ao sul
da capital do estado,
Florianópolis.
© Giovanni Lemos de Mello
Atualmente, existem três empreendimentos
de engorda no Brasil.
A Mar do Brasil (Laguna/SC), Maricultura
Costa Verde (Angra dos Reis/
RJ) e Prime (Alcobaça/BA). O curioso
é que são três diferentes sistemas de
produção (viveiros de camarão, tanques-rede
marinhos e sistema aberto
próximo ao mar). Hoje, estão alojadas
15.000 garoupas-verdadeiras na
água, nestes três empreendimentos.
Para o próximo verão (2021-2022),
a Redemar já possui mais de 150 mil
alevinos encomendados, incluindo
um novo player no Pará. Ou seja, um
aumento de dez vezes em relação ao
ano anterior, visando principalmente
atender ao mercado externo. A partir
de 2022, outras três fazendas de engorda
serão instaladas. Duas empresas
envolvidas pretendem trabalhar em
sistema de integração, o que abrirá
oportunidades para “engordadores”
interessados na criação de garoupas.
Será a maior produção da história
da empresa e, consequentemente,
de 2023 em diante o Brasil
passará a ter uma produção regular.
A estatística da produção de garoupas
no Brasil está saindo do zero e
dos sonhos de muitos profissionais
envolvidos, em especial da Cláudia e
do Pedro, fundadores da Redemar.
Em princípio, o modelo de produção
é bifásico, com duração de 18
meses e peso médio final de 600 g.
Trata-se de um novo produto no mercado,
a “garoupa prato”, o qual não
concorre com a pesca extrativista.
O mercado atualmente busca regularidade,
padronização, rastreabilidade
e sustentabilidade, e estes critérios
somente a piscicultura marinha
poderá oferecer.
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
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Ronaldo O. Cavalli
Estação Marinha de Aquacultura - EMA
Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Rio Grande, RS
ronaldocavalli@gmail.com
ABR/JUN 2021
Lançamento editorial:
“A aquicultura do beijupirá (Rachycentron
canadum) no Brasil”
Nas últimas décadas, a aquicultura, e em especial
a piscicultura marinha, tem experimentado um
rápido crescimento em várias regiões do mundo. No
Brasil, embora tenha-se conhecimento sobre a criação
de peixes marinhos na região Nordeste desde o século
XVII, a atividade ainda não contribui significativamente
com a produção de pescado. Durante muitos anos, os
esforços de pesquisa e desenvolvimento em piscicultura
marinha no Brasil foram tímidos, baseados quase que
unicamente em iniciativas de alguns poucos grupos de
pesquisa e, na maioria dos casos, sem a desejada multidisciplinaridade
e/ou interação institucional. Apesar dos
significativos avanços no conhecimento sobre algumas
espécies de interesse econômico (tainha Mugil sp., robalo-peva
Centropomus parallelus e linguado Paralichthys
orbignyanus), nenhuma delas chegou a ser produzida comercialmente.
A partir dos anos 2000, com o sucesso
na criação do beijupirá (Rachycentron canadum) na Ásia,
alguns produtores nacionais passaram a considerar a produção
dessa espécie nativa do litoral brasileiro, inclusive
com algumas iniciativas de produção nas regiões Nordeste
e Sudeste.
A despeito do enorme potencial da aquicultura do
beijupirá no Brasil, até recentemente os estudos científicos
sobre a biologia e criação dessa espécie eram
praticamente inexistentes no nosso país. Cientes dessa
realidade, a partir de 2007 uma série de reuniões entre
profissionais de diferentes instituições brasileiras foi
realizada, o que acabou levando à criação da Rede de
Pesquisa e Desenvolvimento em Piscicultura Marinha -
REPIMAR. Esta rede foi formada com o propósito de
apoiar o desenvolvimento sustentável da piscicultura
marinha, inicialmente com o foco na adaptação e aprimoramento
dos sistemas de produção do beijupirá. Em
um primeiro momento, a REPIMAR esteve composta
por pesquisadores da UFRPE, UFPE, UFRB, USP, FIPERJ,
UFLA, UFSC, FURG, Instituto de Pesca/SP e EMBRA-
PA. Posteriormente, colegas da UFPI, UFAL, UFMT,
UFPR, UFT, UNIR, IFPB, Redemar Alevinos e CSIRO
(Austrália) também passaram a colaborar. No desenvolvimento
de suas atividades, a REPIMAR contou com
o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), do então
Ministério da Aquicultura e Pesca (MPA), do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI, do Fundo
Setorial do Agronegócio – CT/Agronegócio e da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
Como parte deste esforço coordenado de pesquisa
e desenvolvimento, o livro “A aquicultura do beijupirá
(Rachycentron canadum) no Brasil” acaba de ser lançado
pela Editora da FURG. Organizado e editado pelo Prof.
Ronaldo O. Cavalli (FURG, RS) e com a participação de
54 autores de 16 instituições, o livro apresenta os principais
resultados científicos e tecnológicos, além das experiências
adquiridas, sobre os mais diferentes aspectos da
cadeia de produção do beijupirá no Brasil. Na concepção
do livro optou-se por não se limitar unicamente aos resultados
obtidos no âmbito da REPIMAR, mas também
incorporar os estudos realizados por outros colegas paralelamente
às ações da rede. Em seus 19 capítulos e
296 páginas, o livro apresenta noções básicas de biologia,
o estado da pesca e das tecnologias e sistemas de produção
mais utilizados na criação desta espécie no país para
familiarizar o leitor a tais temas. Também são abordadas
questões fundamentais para a sustentabilidade da piscicultura
marinha, tais como produção de formas jovens,
nutrição e alimentação, impactos ambientais, viabilidade
econômica, variabilidade genética, sanidade, tecnologias
de abate, aproveitamento de subprodutos, rastreabilidade,
desenvolvimento de embalagens e mercado.
Os autores fazem parte de um seleto grupo de profissionais
que, nos últimos anos, estudaram, pesquisaram e
ensinaram piscicultura marinha sob os seus mais diferentes
ângulos e possibilidades. Em comum e em conjunto,
80
PARCEIROS NA 23° ED:
Beijupirá (Rachycentron canadum).
eles têm a noção das muitas
oportunidades que a atividade
pode oferecer à sociedade,
assim como os principais
gargalos a serem transpostos.
Embora destinado prioritariamente
a estudantes de graduação
em Engenharia de Pesca,
Oceanografia, Ciências Biológicas,
Engenharia de Aquicultura,
Engenharia de Alimentos,
Medicina Veterinária e outras
áreas de formação, além de
pós-graduandos em aquicultura
e áreas afins, a expectativa
é de que o livro também
atinja os demais interessados
em piscicultura marinha, em
especial a comunidade empresarial
e demais formadores
de opinião. Espera-se,
portanto, que o livro
contribua para a melhoria
da formação
de recursos humanos
nesta área do conhecimento,
além de contribuir
para o desenvolvimento de iniciativas
de piscicultura marinha
no Brasil.
Embora o livro seja totalmente
dedicado ao beijupirá,
vale ressaltar que grande parte
dos problemas e dificuldades
aqui apresentadas e discutidas
também serão observadas nas
tentativas de aquicultura de
outras espécies de peixes marinhos
no Brasil. Finalmente, é
imperativo observar que não
se trata de uma obra definitiva,
mas um passo no sentido de
disponibilizar, em um só volume
e em português, os fundamentos
sobre a aquicultura
de uma espécie de interesse
econômico e nativa do litoral
brasileiro.
O livro pode ser adquirido
pelo e-mail da Editora da
FURG (editora@furg.br) pelo
valor de R$ 90,00.
ABR/JUN 2021
PARCEIROS NA 23° ED:
81
Marcela Maia Yamashita
Doutora em aquicultura
Help Fish - Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Peixes
Sinop, MT
contato@helpfish.com.br
ABR/JUN 2021
Piscinoodinium pillulare - Devo me
preocupar?
Este parasito de nome complicado, é um protozoário
que causa uma das três principais parasitoses
que acometem os cultivos de tambaqui e
seus híbridos, tanto nas fases de larvicultura, quanto
alevinagem e engorda. Apesar da evolução desta parasitose
ser geralmente crônica na fase de engorda,
ela é mais agressiva nas fases anteriores e, portanto,
não deve ser negligenciada, tratando-se de um parasito
perigoso que merece atenção e cuidado por parte
dos piscicultores. Sua ocorrência não se restringe
somente ao cultivo de peixes redondos, sendo também
encontrado acometendo outras espécies nativas,
como: matrinxã, piauçu, curimatã e pintado amazônico;
além de espécies exóticas, como: o catfish
americano e a tilápia. Bem, com estas informações já
conseguimos perceber, que trata-se de um parasito
de ampla distribuição territorial, cuja ocorrência já foi
registrada nos principais pólos de piscicultura de água
doce do Brasil.
Causador da chamada Piscinodiníase ou doença
do veludo, Piscinoodinium pillulare é um parasito que
possui formato de saco ou pêra, e cor castanho-amarelada
a castanho-escura. Uma característica curiosa,
é o fato de possuir cloroplastos, o que sugere que
este microrganismo seja capaz de produzir seu próprio
alimento. Sendo assim, sua forma parasitária no
peixe seria oportunista. Este ectoparasito (parasito
externo) se instala principalmente no tegumento
(pele) e brânquias dos peixes. Uma vez instalada, a
doença pode conferir uma coloração de ferrugem
no tegumento do animal (Figura 1), que pode evoluir
para hemorragias na pele, inflamação e necrose.
Quando presente em grandes quantidades podem
causar hiperplasia (aumento do número de células)
e fusão das lamelas secundárias no tecido branquial
(Figura 2), dificultando a respiração dos animais e
podendo os levar à morte por asfixia, mesmo em
viveiros com concentrações de oxigênio adequadas.
Por isso, sinais clínicos comuns observados nos
peixes acometidos por esta enfermidade, são: agitação,
sinais de desconforto, movimentos operculares
intensos, concentração em áreas dos tanques com
maior nível de oxigênio (entrada de água, superfície
ou próximo à aeradores), boquejamento de ar na superfície
da água ou aumento dos lábios inferiores (no
caso do tambaqui e tambatinga). O parasito também
pode atingir os olhos e penetrar debaixo da pele, se
alojando no tecido subcutâneo, favorecendo a ocorrência
de infecções bacterianas secundárias.
Sua classificação como um protista flagelado refere-se
à sua fase de vida livre, quando nada ativamente
em busca de um hospedeiro. Quando este
for encontrado, o parasito se fixa através de um disco
de fixação composto por estruturas denominadas rizocistos
(que se assemelham muito com raízes). Por
isso, quando observamos Piscinoodinium pillulare em
exames à fresco sob microscopia óptica, não percebemos
movimentos, pois não possuem estruturas de
locomoção na fase parasitária, sendo imóveis, diferente
de outros protozoários parasitos de peixes.
Este parasito possui somente o peixe como hospedeiro,
portanto dizemos que ele possui um ciclo
de vida direto. Sua transmissão é horizontal, ou seja,
é transmitido de um indivíduo para o outro através
do contato direto ou através de fômites e água contaminados.
Portanto, quando uma piscicultura tem esta
parasitose diagnosticada, através de exames parasitológicos,
faz-se ainda mais necessária a aplicação de
práticas de biosseguridade, como: o não compartilhamento
de utensílios entre viveiros e a desinfecção
de equipamentos. Algo importante a se comentar é
o fato de Piscinoodinium pillulare se beneficiar em ambientes
de baixa alcalinidade, pH ácido e alta densidade
de estocagem, sendo estes portanto, fatores de
82
PARCEIROS NA 23° ED:
risco associados à esta parasitose. Desta forma, uma
maneira de evitar a instalação desta enfermidade, seria
manter estes parâmetros dentro de faixas ideais
e corrigí-los para níveis adequados sempre que necessário
pois, tais alterações na qualidade de água ou
até mesmo a queda da temperatura pela entrada de
uma frente fria, podem ser gatilhos para desencadear
esta doença. Os banhos de sal também são bastante
promissores na prevenção e no controle desta enfermidade
pois, além de desidratar os parasitos, favorecem
a produção de muco pelo peixe, auxiliando
na sua primeira barreira de defesa e, possibilitando a
reposição de sais no sangue dos animais, restabelecendo
seu equilíbrio osmótico.
1
Figura 1. Exemplar de tambatinga apresentando
coloração de ferrugem.
© Marcela Maia Yamashita
2
ABR/JUN 2021
Figura 2. Filamentos branquiais de tambatinga
demonstrando alta infestação por Piscinoodinium
pillulare (cabeça de seta vermelha e todos os demais
pontos castanho-escuros); aumento 50x.
© Marcela Maia Yamashita.
PARCEIROS NA 23° ED:
83
Gestão
de Resíduos
Ivã Guidini Lopes
Doutor em Aquicultura
Pesquisador na Ingredient Odyssey - EntoGreen
Santarém, Portugal
ivanguid@gmail.com
ABR/JUN 2021
Larvas de mosca soldado
negro: novidade na gestão de
resíduos, nutrição de peixes e
sustentabilidade
Você já ouviu falar na mosca soldado negro?
Essa mosca de nome curioso, cientificamente
chamada de Hermetia illucens ou BSF, é o assunto do
momento no setor agropecuário mundial. Na última
semana do mês de agosto de 2021, a União Europeia
(EU) aprovou a utilização das larvas e seus produtos
derivados (farinhas, óleos e larvas secas) como
ingredientes proteicos para a alimentação de porcos
e frangos, sendo que sua utilização na aquicultura já
está também aprovada. Aqui no Brasil, o uso da farinha
dessa larva desidratada na alimentação animal
está permitido desde novembro de 2020, de acordo
com a Instrução Normativa n° 110 do MAPA. Mas
o que isso tem a ver com a gestão de resíduos na
aquicultura?
As larvas da BSF são criadas a partir de resíduos
orgânicos, como por exemplo restos de alimentos,
resíduos do processamento de insumos agrícolas e
também os resíduos da aquicultura. Dezenas de empreendimentos
estão se estabelecendo no mundo,
inclusive no Brasil, devido ao enorme potencial desse
inseto, tanto em relação a reduzir o impacto ambiental
do descarte de resíduos quanto ao seu uso na
alimentação animal. As larvas de BSF foram destaque
até da revista Forbes no final do ano de 2019 (clique
aqui para conferir a matéria). Esse organismo transforma
os resíduos em diferentes produtos de forma
extremamente rápida (12-15 dias) e sua qualidade
nutricional é muito interessante para o uso como ingrediente
proteico. As larvas possuem até 60% de
proteína bruta e 30% de lipídeos em base seca, além
de aminoácidos e ácidos graxos essenciais em altas
concentrações. Essa grande novidade da gestão de
resíduos e alimentação animal está muito próxima da
aquicultura brasileira.
Centenas de estudos
já avaliaram
o consumo de diversas
fontes de
resíduos orgânicos
por larvas de
BSF, inclusive dos
resíduos da aquicultura,
como carcaças
e vísceras de peixes
mortos ou processados.
Portanto, esse
método já comprovado
permite
reciclar esses resíduos
e reintroduzi-los
na cadeia produtiva como alimento
alternativo para os peixes. Trazendo essa novidade
para dentro do nosso mundo da aquicultura, é possível
pensar em maneiras de atrelar o tratamento de
resíduos com a produção, por meio da integração de
sistemas.
Enquanto algumas pisciculturas, frigoríficos e centros
de pesquisa já adotaram por exemplo a compostagem
como método de tratamento de resíduos,
ou mesmo o preparo de silagens a partir de resíduos
frescos para reduzir custos com a alimentação de peixes,
por que não podemos pensar em integrar outro
tipo de sistema para o tratamento dos resíduos e beneficiar
nossa produção? A inovação está aí para ser
incorporada em nosso dia a dia!
Hoje no Brasil existem algumas empresas privadas
que estão se dedicando a este novo conceito de economia
circular referente ao tratamento de resíduos
e a alimentação animal. Produtores de larvas de BSF,
84
PARCEIROS NA 23° ED:
de tenébrios ou larvas da farinha e outros
insetos estão desenvolvendo tecnologias para suprir
a grande demanda por fontes alternativas de
proteína do mercado nacional, especialmente devido
ao preço crescente da farinha de peixe no
mercado nacional e internacional. Certamente
a aquicultura não ficará fora dessa novidade
e nos próximos anos estaremos diante de
um mercado conjunto em amplo crescimento.
Afinal, geramos grandes quantidades de
resíduos na produção aquícola e precisamos
dessas fontes alternativas para
impulsionar a produção!
Para finalizar, gostaria de apresentar
a vocês a primeira iniciativa criada por diferentes
atores relacionados à produção
de insetos no Brasil, a Associação Brasileira
dos Criadores de Insetos Alimentícios (AS-
BRACIA). Essa associação reúne diversos produtores,
pesquisadores e entusiastas do assunto, elabora
materiais didáticos e eventos e promove-se
discussões de extrema relevância para esse mercado.
Para quem ficou curioso sobre o assunto,
vale a pena conferir e começar a se inteirar desse
incrível segmento do mercado da gestão de resíduos
e alimentação animal.
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PARCEIROS NA 23° ED:
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projeto Cultura da Água é um projeto de
O extensão universitário da Universidade Federal
do Paraná que visa defender, discutir e divulgar a
aquicultura sustentável. Estes objetivos se devem em
parte ao desconhecimento do grande público e da
necessidade de divulgar a aquicultura, mas também
aos ataques frequentes tanto do mundo científico do
conservadorismo biológico como do jornalismo não
especializado, inclusive, atingindo a grande mídia.
Atualmente, com a perda gradual da importância
da TV aberta, a internet tem crescido a passos agigantados,
e grandes corporações especializadas em
entretenimentos como a NETFLIX ganharam um espaço
infinito. O documentário Seaspiracy da Netflix
é prova disso e do poder de manipulação do público
leigo, e não estou falando de um público sem educação
básica, estou falando de políticos, artistas, ativistas
sociais e professores universitários. Uma amiga minha,
veterinária, mestre e doutora da USP outro dia me
comentou: “Rodolfo, viste o documentário da Netflix?
O que você opina disso? Não comerei mais peixe!”.
O diretor Ali Tabrizi, financiado por Leonardo Di
Caprio, destaca no documentário a queda abrupta das
populações de peixes, a poluição dos oceanos, a matança
indiscriminada de mamíferos marinhos, expõe
vítimas do trabalho escravo em embarcações de pesca
e critica principalmente a Aquicultura em função do
uso de farinhas de animais marinhos como insumo na
formulação de rações.
Com relação a pesca vou deixar a meus amigos
Engenheiros de Pesca opinarem a respeito, mas sem
dúvidas o problema da pesca depredatória e a fauna
associada atingida em determinadas pescarias é um
problema sério, o que não significa que não existem
modelos de manejo.
E a aquicultura?
Bom, a aquicultura é uma grande ferramenta, que
Navegando na aquicultura
Rodolfo Luis Petersen
Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Pontal do Paraná, PR
rodolfopetersen@hotmail.com
Documentário “Seaspiracy”: A arte de
sempre colocar-nos como patinhos feios na
grande mídia
associada à pesca sustentável, visa contribuir para a
produção de proteína animal saudável no mundo.
Porém... não podemos negar nossos enormes esforços
que ainda não foram atingidos. Claro que sempre
existem casos pontuais que já estão em andamento,
mas vamos pensar analisando a indústria como um
todo.
1) A substituição completa de farinha de peixe
das rações. Poderíamos cultivar na base de farinha de
soja como fonte de proteína? A Associação Americana
de Soja já investiu milhões em pesquisas. O problema
é simples, mesmo que conseguíssemos manter a
eficiência do sistema imune com aditivos nutricionais
e microrganismos benéficos, a taxa de crescimento
ficaria comprometida, elevando os custos de produção
e o preço final do produto. Uma solução seria
desenvolver programas de melhoramento genético
tendo como base dietas sem ingredientes de origem
marinha. Outros ingredientes como larvas de insetos
e microalgas apresentam um enorme potencial para
resolver o problema no futuro.
2) A estruturação organizada de parques aquícolas
legislados, com estudos profundos de impactos e
capacidade de carga de uma determinada região, com
projetos licenciados. No caso de moluscos e cultivo
de peixes em tanques-rede existe a chance de realizar
manejos de movimentação das fazendas para mitigar o
impacto em determinada região.
Neste contexto, qual é o proposta do projeto Cultura
da Água em um fórum de discussão?
a) Transformar as fazendas semi-intensivas em
fazendas “orgânicas” manejadas mediante técnicas de
simbiótica e com o uso massivo de microrganismos
benéficos.
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b) Novas fazendas intensivas ou superintensivas
com o mínimo uso da água e o controle total
dos efluentes, tanto em sistemas RAS ou heterotrófico
com todas as suas variantes.
c) Desenvolver programas de melhoramento
genético visando a substituição total da farinha de peixe
nas rações assim como desenvolver linhagens específicas
para sistemas de cultivo específico com controle
sanitários das sementes utilizadas.
d) Fazer uso de energias sustentáveis, como a
eólica e a solar.
e) Implementação da Aquicultura 4.0 nos sistemas
de produção: rastreabilidade completa do pescado
e de seus produtos, conexão entre ferramentas de
informação e comunicação e automação dos processos.
O problema é que, tanto na pesca como na aquicultura,
uma coisa é a teoria e outra coisa é a pratica,
mas acredito que estejamos caminhando no caminho
certo. Política, ambição econômica, países subdesenvolvidos,
e corrupção generalizada é o que domina o
mundo contemporâneo.
Sonhar não custa nada!
Sonhar é preciso pelo bem das próximas gerações.
Obs: Recomendo este documentário do ano 2020
da Rede de Pesquisa em Aquicultura IMUNOGENOM
formada por pesquisadores da Universidade de Santiago
de Compostela. https://www.youtube.com/watch?-
v=dUfB7Wh7Vk0
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Juliana Antunes Galvão
Coordenadora do Grupo de Estudos e Extensão em Inovação Tecnológica
e Qualidade do Pescado
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP
Piracicaba - SP
jugalvao@usp.br
Todo dia é dia de pescado!
Com uma costa de 8.500 km de extensão, abrigando
um montante significativo quanto as
reservas de água doce do mundo, clima favorável ao
desenvolvimento de muitas espécies e matérias primas
diversas para elaboração de ração, a cadeia produtiva
do pescado no Brasil está em franca ascensão através
da criação de organismos aquáticos. Cadeia se estruturando,
crescendo de forma consistente, as perspectivas
são extremamente positivas.
O consumo mundial de pescado está projetado
para aumentar em 31 milhões de toneladas na próxima
década para chegar a 178 milhões de toneladas em
2025. 21,5 kg/hab./ano é uma das projeções feitas pela
FAO para 2030, puxado por países como Japão e China
com 60-40 kg/hab./ano. O Brasil com seus 9,5 kg/hab./
ano tem tido incremento considerável de consumo
nos últimos anos, mesmo com diferenças significativas
quando consideramos as diferenças regionais que nosso
país apresenta.
Não podemos afirmar que o consumo de pescado
não está enraizado em nossa história, fazendo parte
da cultura do país, vide nossa ancestralidade indígena,
onde o pescado é presença certa no dia a dia dos pratos
indígenas, e nossa colonização portuguesa, povo
este, desbravadores dos mares e grandes consumidores
de pescado.
Afinal o que houve conosco?
Historicamente não desenvolvemos esta importante
cadeia produtiva como deveríamos e poderíamos. Por
outro lado, nosso país apresenta algumas particularidades
como o oferecimento de uma gama de diferentes
proteínas de origem animal, fruto de cadeias produtivas
fortemente consolidadas.
Em muitas residências, o brasileiro não tem o hábito
de preparo, nem sabe como preparar o pescado em
casa, preferindo consumi-lo em bares e restaurantes.
Primeiramente é preciso informar ao consumidor, o
quão distinta é a proteína do pescado em relação as outras
proteínas de origem animal. O pescado apresenta
excelente qualidade proteica em termos de quantidade
e qualidade de aminoácidos, com alta digestibilidade e
valor biológico. É fonte considerável de lisina comparado
com outras fontes proteicas de origem animal. Em
relação a quantidade calórica, e qualidade de lipídeos
e proteínas, devido a diversidade de espécies e consequentemente
de composição quanto aos nutrientes,
sempre teremos uma espécie que se adeque ao plano
alimentar e cardápio do consumidor, alcançando os
distintos objetivos nutricionais. Estudos realizados em
diversos países demostram associações entre consumo
de pescado e prevenção de síndrome metabólica, diminuição
de incidência de acidente vascular, diminuição
da probabilidade de desenvolvimento de sintomas
depressivos, Alzheimer, câncer gastrointestinal.
Pescado é saúde!
Uma importante iniciativa para incentivar o consumo
é a Semana do Pescado, que prioritariamente nasceu
de uma iniciativa governamental devido as próprias demandas
do setor, no intuito de ser uma segunda Semana
Santa para o segundo semestre do ano, objetivando
alavancar o consumo e consequentemente as vendas.
Em sua 18° edição, hoje a Semana do Pescado que não
é semanal e sim quinzenal, é um evento organizado
pelas entidades nacionais no mês de setembro, apoiado
pelas instâncias governamentais, sendo uma articulação
do setor produtivo, varejo e restaurantes.
Nosso pescado precisa ir além da Semana do Pescado
e atingir diferentes nichos de mercado, chegando
a todas as mesas. Dos entraves para o consumo de
pescado, o consumidor elenca em muitas pesquisas
fatores como qualidade, preço, hábito, praticidade,
entre outros.
Hoje há uma fatia de mercado com consumidores
com conhecimento e consciência de consumo, exigindo
uma cadeia que esbanje transparência e confiança.
O consumidor está focado em sensorialidade e prazer,
buscando alimentos premium, étnicos e gourmet; saudabilidade
e bem estar buscando produtos de baixo valor
calórico, energéticos e enriquecidos nutricionalmente;
convenientes e práticos com a facilidade dos pratos
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prontos para o consumo; confiáveis e de
qualidade com garantia de origem, selos
que diferenciem o produto e qualidade;
sustentáveis e éticos com embalagens recicláveis
e certificações que atestem seus
processos.
As tendências de consumo sofreram
alterações devido a pandemia, mudanças
estas que vieram para ficar como as compras
on line, sendo necessário que o mercado
se adapte a todas as demandas que
vem surgindo.
Temos um longo caminho pela frente
para atingirmos nossos objetivos como
cadeia produtiva, para que não sejamos
lembrados apenas durante uma, ou duas
semanas do ano, porque “Dia de Pescado
é Todo Dia!”
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Adriana
Ferreira da
Silva
Zootecnista pela UEM e doutora em Ciências
Marinhas pela Universidade Nacional Autônoma
do México - UNAM.
Adriana já colocou o pé no curso
de zootecnia sabendo o que queria:
piscicultura! O mestrado na FURG,
no entanto, foi o “divisor de águas”
da sua trajetória profissional.
Atualmente na cidade de Mérida,
capital de Yucatán no México,
Adriana conta aos leitores um pouco
da sua trajetória e situação atual.
E sobre o futuro, não tem planos de
voltar a morar no Brasil.
AQUACULTURE BRASIL: Afinal, Adri é uma brasileira vivendo
no México ou uma mexicana que teve passagem
pelo Brasil?
Adriana Ferreira da Silva: Sou brasileira vivendo no
México, natural de Londrina no Paraná. Mas na verdade
meu sobrenome entrega minha nacionalidade.
AQUACULTURE BRASIL: Graduada em Zootecnia pela
Universidade Estadual de Maringá -
UEM (2007), faculdade localizada no
interior do estado do Paraná, como
foi sua aproximação com a aquicultura?
Adriana Ferreira da Silva: Na verdade,
minha história com a aquicultura
começou antes da minha vida acadêmica
iniciar. Nascida em Londrina
no Paraná, a “Meca” ou polo da produção
de tilápia nacional, já vivenciava
a aquicultura de forma empírica.
Quando comecei meus estudos
em Maringá, precisamente no meu
primeiro dia de aula, busquei o professor
de piscicultura Ricardo Pereira
Ribeiro e desde 2002 oficialmente/
profissionalmente iniciei minha jornada
na Aquicultura, quase 20 anos..
Durante minha
trajetória na graduação
me apaixonei
pelos crustáceos,
especificamente camarão.
Sabia que era necessário
uma pós nessa área.
AQUACULTURE BRASIL: Mestre em Aquicultura pela
Universidade Federal do Rio Grande - FURG (2009), e
doutora em Ciências Marinhas pela Universidade Nacional
Autônoma do México UNAM (2014). Como foram
essas experiências e o que te fez ficar no México?
Adriana Ferreira da Silva: Durante minha trajetória na
graduação me apaixonei pelos crustáceos, especificamente
camarão. Sabia que era necessário uma pós nessa
área. Fiz inúmeros estágios em fazendas e Centros de
pesquisa e optei pelo mestrado na FURG. Buscava nesse
momento trabalhar com nutrição
de camarões. Foi quando conheci
o Dr. Ronaldo Cavalli, que estava
de malas prontas para o Nordeste
do Brasil. Ele me indicou trabalhar
com um colega, Wilson Wasielesky,
nosso famoso “Mano”. Neste momento
começava uma nova etapa
da minha vida, seria o “divisor de
águas” da minha trajetória profissional.
Tive a honra de aprender
sobre a tecnologia de Bioflocos
com os pioneiros no Brasil, cheguei
exatamente quando eles estavam
apenas começando. Minha história
com México foi completamente
aleatória. Ainda queria muito desenvolver
trabalhos com nutrição
e durante meu tempo na FURG
conheci um colega mexicano, Dr
Manuel Valenzuela, quem me indicou
a Dra Gabriela Gaxiola da
UNAM no México como assessor. Antes de entrar no
doutorado, fiz estágio por um período de 2 meses, apliquei
para o doutorado, passei e estou aqui desde então.
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Inauguração da Fazenda “Acuícola Garza”. © Adriana Ferreira da Silva
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Surgiram muitas oportunidades na área acadêmica e
também empresarial, agarrei e me dediquei, o resultado
vocês estão conhecendo aqui na revista!
AQUACULTURE BRASIL: Além de pesquisadora,
também é empreendedora. Quantos anos tem
a empresa que você fundou, a “Acuícola Garza”?
Como surgiu a ideia de produzir tilápias em BFT?
Adriana Ferreira da Silva: A Acuícola Garza acaba de
completar 7 anos operando como uma fazenda produtora
e comercializadora de peixes e camarões. Trabalhamos
com a tecnologia de Bioflocos desde que iniciamos
em 2014. Utilizamos o BFT em todo o ciclo em
nossos 65 tanques. Nossa fazenda é uma das maiores
da região com uma capacidade de produção de 500
toneladas por ano. Estamos localizados em uma região
turística e praticamente toda nossa produção se comercializa
em Cancun e Riviera Maya. É uma fazenda comercial,
mas também fazemos pesquisa para melhoria
contínua da nossa produção. Acuícola Garza é a terceira
empresa que fundei aqui no México, Kamer e Corium
Fish foram as primeiras. Meus sócios queriam produzir
tilápia com alguma técnica ecológica e própria para
a região. Aqui não podemos escavar então construir
viveiros não era uma opção. Não temos rios, então
troca de água seria outro problema. O BFT se casou
perfeitamente com os objetivos técnicos e comerciais
da Companhia e hoje somos referência como fazenda
“eco-friendly” no México.
AQUACULTURE BRASIL: Sobre a produção de tilápia
em Bioflocos, você vê esse como um caminho
para o Brasil, que no momento sofre diante
de uma crise hídrica que atinge até mesmo o
estado do Paraná, maior produtor nacional de tilápias?
Adriana Ferreira da Silva: Eu sempre enfatizo que o
BFT não é para qualquer região e deve estar alinhado
com os objetivos de cada empresa e com os recursos
essenciais presentes, como disponibilidade de energia e
mão de obra especializada por exemplo. Realmente no
Brasil o uso do BFT no ciclo completo não seria necessário
na maioria das regiões, já que temos recursos suficientes
para produzir a menor custo monetário e ambiental.
Acredito que produzir alevinos no BFT e depois
engordar em sistema convencional seja uma opção na
maioria dos estados brasileiros. No caso específico de
certas regiões e agora com essa crise hídrica o aquicultor
deve repensar nas estratégias de produção e claro,
o BFT é uma opção que deve ser levada em consideração.
Existem ao redor do mundo muitas fazendas de
ciclo completo trabalhando tilápia nos bioflocos, portanto,
é uma realidade não mais algo piloto comercial.
AQUACULTURE BRASIL: Quais as principais
vantagens que você vê no cultivo de tilápia
em bioflocos? E quais os principais desafios?
Adriana Ferreira da Silva: A principal vantagem é a
produção utilizando poucos recursos naturais (ter-
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PARCEIROS NA 23° ED:
reno e água principalmente) e menos alimento comparado
com os sistemas tradicionais. A qualidade do
produto é sem dúvida superior, tanto em características
organolépticas tanto em características nutricionais.
Os mercados verdes são tendências e quem não se
incorporar a eles estará fora do cenário. Quanto aos
desafios, está na produção de peixes maiores a 500g,
no modelo da tilápia. Nossas pesquisas demonstram
que peixes maiores a este peso não conseguem
aproveitar tanto os flocos, mas por outro lado seguimos
utilizando pouca água e espaço. Aqui o tamanho
comercial antes da pandemia era inferior a 500g agora
vimos uma mudança no hábito do consumidor e
querem peixes de 600 a 700g. Estamos ajustando os
processos para chegar ao tamanho que nossos clientes
necessitam sem ver afetado o custo final de produção
AQUACULTURE BRASIL: E os camarões marinhos, tem
espaço para o cultivo destes crustáceos na Acuícola
Garza?
Adriana Ferreira da Silva: Nossa empresa comercializa
camarão também. Produzimos por temporadas.
Quando iniciamos era 50% de cada produto,
depois decidimos que era mais factível a
comercialização. Agora com a entrada de um novo
sócio estamos nos organizando para voltar a produzir
em nossas instalações. Também chegamos a produzir
o langostino Australiano Cherax quadricarinatus.
AQUACULTURE BRASIL: Conte-nos um pouco de
como é a aquicultura na região de Mérida e no México
de modo geral.
Adriana Ferreira da Silva: Atualmente estou na capital
do estado de Yucatán, Mérida. Aqui no sul/sudeste
do México a aquicultura não é tão popular como é no
norte do pais. Devido algumas características, como
solo cárstico (rochoso), falta de rios (só existem rios
subterrâneos) e por ter áreas naturais protegidas em
toda costa praticamente. A grande vantagem é o clima,
todo ano temos temperaturas elevadas próprias para
produção de organismos tropicais e estamos ao lado
da maior zona turística do país, o que ajuda a escoar
a produção. Predomina aqui no sul/sudeste produção
de tilápia, camarão Litopenaeus vannamei, rã, a lagosta
Australiana, uma das maiores fazendas de ornatos da
América Latina, pepino do mar, laboratórios de alevinos
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Adriana em sua Fazenda
“Acuícola Garza”.
© Adriana Ferreira da Silva
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de tilápia e recentemente um laboratório de larvas de
camarão. Já no norte do México temos as grandes fazendas
de camarão, lembrando que o México perde só
para o Equador na produção Latino Americana, tilápia
e peixes marinhos diversos. No centro do país a truta,
a carpa, bagre, ostras e peixes nativos de água doce
como o peixe lagarto (parecido com o nosso pirarucu).
AQUACULTURE BRASIL: Previsto para ocorrer
em 2021, mas adiado em virtude da pandemia,
o congresso da WAS - World Aquaculture Society
será realizado em 2022 em Mérida, de 24 a
27 de Maio. Você está participando da organização?
Tem alguma novidade a respeito desta edição?
Adriana Ferreira da Silva: Estamos bastante
emocionados com o Congresso, estou na organização
e fiquei encarregada do tour nas principais fazendas da
região e da mesa redonda Mulheres na Aquicultura.
Muitas novidades no Congresso, esperamos contar com
a presença de muitos brasileiros.
Adriana Ferreira da Silva: Minha relação com a internet
começou em 2016 quando criei meu blog. Neste
momento comecei a ganhar gosto por trabalhar com o
digital. Depois veio a era dos vídeos, na verdade desde
2019 faço Lives, mas naquela época usava a conta da
empresa e não guardava os vídeos, eram ao vivo mesmo,
sem repetição. Ano passado foi quando a maioria
das pessoas ficaram frente aos meios digitais e acabei
sendo mais visualizada. Fizemos ao redor de 80 transmissões
na minha conta de facebook e outras como
convidada, acho que foram mais de 100 participações
entre conferências e Lives. Este ano resolvi criar meu
canal de YouTube onde transmito nas segundas-feiras
a retrospectiva dos vídeos anteriores que estão no Facebook
e toda quarta-feira vídeos inéditos. Os temas
são todos relacionados a “Tendência Aquícola”, que por
sinal é o nome do meu canal.Eu amo divulgar conteúdo
aquícola e marcas que sejam importantes para o desenvolvimento
do setor. Temos adicionalmente cursos digitais
e mentoria para produtores que buscam incursionar
na aquicultura.
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AQUACULTURE BRASIL: E a respeito da piscicultura
marinha, que o México tem apostado em algumas
espécies. Como você vê a evolução desse setor no
México? Estaria o México a frente do Brasil na corrida
pela produção de espécies marinhas?
Adriana Ferreira da Silva: Realmente a piscicultura
marinha é uma realidade para algumas espécies, por
exemplo: robalo Centropomus undecimalis, jurel Seriola
lalandi, atum Thunnus orientalis, corvina Sciaenops
ocellatus, cobia Rachycentron canadum, pargos Pagrus
pagrus, totoaba Totoaba macdonaldi e outros. México é
um país tradicionalmente pesqueiro, mais que aquícola,
os avanços na piscicultura marinha vão neste contexto,
a preferência no consumo realmente é de produtos
marinhos. Existia apoios governamentais que ajudaram
a expandir este setor, agora tudo é por capital privado.
Mesmo assim esse capital injetado pelo governo contribuiu
para expansão do setor. Segundo as estatísticas de
produção o México produz uma variedade de organismos
marinhos, não só peixes, superior ao Brasil. Dados
da FAO demonstram esta realidade entre os dois
países. Diferente da produção em água doce, que no
Brasil é superior.
AQUACULTURE BRASIL: Em Abril de 2020 (pode
nos corrigir se estivermos errados) você começou
a fazer lives transmitidas pelo facebook.
Como surgiu e como tem sido essa experiência?
AQUACULTURE BRASIL: Das mais de 50 lives salvas em
seu canal no YouTube, com diferentes especialistas e
pessoas ligadas a aquicultura, qual delas foi a que mais
te marcou e por quê?
Adriana Ferreira da Silva: Difícil de responder, acho
que cada entrevistado aportou muito com sua trajetória
e conhecimento e tenho muita estima por cada um que
participou das nossas entrevistas. Escolho todos!
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PARCEIROS NA 23° ED:
AQUACULTURE BRASIL: Cada vez mais nós vemos mulheres
liderando e conquistando espaço na aquicultura.
Inclusive, esse também foi um dos temas de uma de suas
lives. Como você vê esse crescimento das Mulheres na
Aquicultura?
Adriana Ferreira da Silva: Acho que posso dizer que
sou militante neste tema, parte dos meus propósitos é
ajudar mulheres para que atuem no setor. Hoje vemos
uma atuação maior, mas ainda temos áreas a cobrir, principalmente
nos postos de liderança. Acredito que falta
promover a diversidade nas empresas, incluindo políticas
efetivas de equidade de gênero, desenvolver um plano
de carreira estratégico, oferecer mentorias e treinamentos
e criar espaços seguros e igualdade salarial.
AQUACULTURE BRASIL: Pensa em voltar para o Brasil e
continuar na aquicultura por aqui?
Adriana Ferreira da Silva: Para o Brasil só volto para
passar férias (risos). Ajudo produtores brasileiros com
cursos, consultorias e assessorias de forma remota e tenho
alguns convites para cursos presenciais. Mas estou
realizada aqui e muito feliz!
Parte dos meus propósitos
é ajudar mulheres para
que atuem no setor. Hoje
vemos uma atuação maior,
mas ainda temos áreas a
cobrir, principalmente nos
postos de liderança.
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ELAS FAZEM A
Ofélia Maria Campigotto
Mulheres fazendo a diferença na aquicultura! É o caso da Ofélia, a atual presidente
da Associação Catarinense de Aquicultura (ACAq) e há mais de 20 anos no ramo da
piscicultura. Ela nos contou um pouco dessa história. Confira!
“Sou filha de Agricultor, vivi no campo e conheci
a “Tilápia” ainda quando criança... Para nós era o
“Peixe capim” e era um peixe apenas para consumo
próprio. Fui à luta muito jovem para estudar e
trabalhar. Minha Mãe faleceu quando eu tinha 3
anos de idade... Meu Pai (Elias Campigotto - Hoje
com 90 anos) aos 28 anos ficou viúvo e com 4 filhos...
imagina a batalha que foi... Como sou a mais jovem
das mulheres, sempre tive muitas responsabilidades,
aprendi a liderar na marra, tinha que ajudar nas tarefas
domésticas, comida, roupas e tudo mais... Quando
sai de casa foi para estudar e trabalhar, passei por
Curitiba, Blumenau... Trabalhei na Arno S.A. por 22
anos com promoções e vendas! Foi uma grande escola,
aprendi muito e sou bem grata por tudo. Com o
tempo de serviço, 30 anos, chegou à aposentadoria...
Ufa! Com o meu fundo de garantia comprei o Sítio
onde estamos hoje (Fazenda Nossa Sra. de Fátima)
com meu marido, Paulo Marangoni, em Gaspar/SC. O
sítio tem 42,6 hectares de terra e usamos 2 hectares
com as lagoas de tanques escavados. Produzimos em
média 50.000 kg por ano. Podemos produzir mais,
mas o momento com os custos altos das rações e
energia elétrica é bom ter cautela. Afinal temos que
pagar tudo adiantado, para receber só com as vendas
dos Peixes. Nosso foco de vendas é para Pesque e
Pague da região..”
ABR/JUN 2021
Inovação “dentro de casa”
“O Paulo é um inventor... Já desenvolveu alimentador
automático para peixes, aeradores, tudo automatizado
pra facilitar o nosso dia a dia na Piscicultura.
Instalamos em 2020 placas para energia fotovoltáica,
hoje o sol gera nossa energia. Há também um projeto
em desenvolvimento com sondas. Como somos “apeixonados”,
estamos bem envolvidos na atividade em
Gaspar e no estado como um todo. A porteira de nossa
piscicultura está sempre aberta para receber os envolvidos
na atividade, só agendar com antecedência.”
Ofélia Maria Campigotto
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PARCEIROS NA 23° ED:
A aquicultura e a fotografia
“Quando o Paulo estava como Presidente da AQUI-
PAR - Associação dos Piscicultores do Município de Gaspar/SC,
comecei a acompanhar as reuniões e percebi
que tinha falta de informações e registros. Comecei fazendo
lista de presença, atas, súmulas, e um dos nossos
objetivos estava na divulgação dos trabalhos realizados,
inclusive, está registrado isso no Estatuto da AQUIPAR
“Objetivos: Apoiar e estimular o ensino, a pesquisa, a
extensão e os trabalhos técnicos e científicos de interesse
da Aquicultura/Piscicultura e Divulgar os mesmos”.
Assim, procurei imagem de Peixes e fiquei bem decepcionada…
Então resolvi fazer um Curso de Fotografia
na FURB - Blumenau/SC. Amei e até hoje continuo
fazendo os registro dos eventos, dos peixes e outros..”
Reeleita para mais uma gestão na ACAq, Associação
Catarinense de Aquicultura
“No dia 24/09/2021 a ACAq completou 36 anos
e fui reeleita para a gestão de 2022 a 2023. A ACAq
foi formada para atender Piscicultura/Aquicultura /
Maricultura e Carcinicultura. Quando assumimos
em 2018, nosso objetivo foi de trabalhar somente
com a Piscicultura/Aquicultura, até que em 2020
conseguimos, depois de muitas reuniões, registrar o
novo Estatuto da ACAq. Quem me desafiou foi o Sr.
Evandro da ACQUA SUL Piscicultura - Ilhota/SC e hoje
um dos maiores Produtores de Alevinos do estado.
Com o objetivo de fortalecer e desenvolver a atividade,
temos muitas pessoas e entidades envolvidas com
a associação, como piscicultores, técnicos, pesquisadores,
professores, empresas do ramo de equipamentos
e rações e muitos outros… um depende do
outro. “Toda força será fraca se não estiver unida”. E
estamos sempre pensando no tripé social, econômico
e ambiental. A atual gestão é composta por (cargo/
município): Presidente: Ofélia Maria Campigotto
(Gaspar), Vice-Presidente: Marcelo Luchetta (Massaranduba),
Primeiro Secretário: Túlio Ramos ( Agrolândia),
Segundo Secretário: Marcio Schwanz (Blumenau),
Tesoureiro: Cristiane Zappelline. Conselho
Fiscal: Três (3) Membros Efetivos: Orlando Giovanella
(Cooper Juriti - Massaranduba), Tiago Heidemann
Wensing (AAQUIAR - Armazém), Vilson Isidoro - (Belo
Peixe Trutas - Lages) . Três (3) Suplentes: Jamiro
Altrak (Joinville), Ivanir Sandri (Gaspar), Edmar Hélio
Michelluzzi (APISNA – Massaranduba)”.
Principais trabalhos desenvolvidos pela ACAq
“Um dos maiores desafios foi uma atualização
da Lei nº 15.736/2012, que disciplina a piscicultura
de águas continentais no estado. A principal
mudança foi nos critérios para o licenciamento
ambiental. A proposta permitiu o uso de áreas de
preservação permanente para a atividade da piscicultura
– seguindo critérios que liberem a produção,
sem comprometer a preservação da vegetação
nativa. A mesma foi aprovada na ALESC
em 04/12/2018, onde trabalhamos em conjunto
com o IMA / SAR e ACAq - elaborando os “Termos
de Referência e Termo de Cooperação”. Outro
ponto foi o Recadastramento Rural, entender
como fazer, buscar prorrogação para os pedidos
etc. A aprovação da suspensão da outorga para
uso de águas por pequenas propriedades rurais,
através da Portaria SEMA nº 257/2021, aprovada
em maio deste ano. Em 2019 tivemos o Primeiro
encontro com o Secretário de Aquicultura e
Pesca do Governo Federal Sr. Jorge Seif Júnior em
Itajaí/SC na Epagri, onde foi entregue uma Carta
de solicitações da Piscicultura/Aquicultura do estado,
onde um dos Pedidos foi a suspensão do PIS/
Confins na ração de Peixes. Também temos participação
na Câmara da Setorial da Piscicultura,
e estamos sempre envolvidos com diversos órgãos,
como outras associações, cooperativas, Epagri, institutos
de pesquisa, universidades e muito mais. ”
O que mais marcou nesse período de 20 anos
na piscicultura
“Principalmente os Trabalhos Realizados! Criado
o “Dia do Pescador” em Gaspar/SC. A data
é comemorada no dia 29/06, dia de São Pedro!
Padroeiro dos Pescadores! o Primeiro foi em
29/06/2010, na Truticultura Bertoldi. O evento é
sempre acompanhado de Palestras sobre Aquicultura/Piscicultura
e com um almoço a base de Peixe.
Temos também o Festival Gastronômico da Tilápia
de Gaspar, que já está na sua quinta edição.
Além disso, Gaspar recebeu um prêmio em 2019
“Prefeito Empreendedor” com a Piscicultura”.
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ELAS FAZEM A
Ofélia Maria Campigotto
Uma opinião sobre a Peixe BR
“A Peixe BR soma muito com o setor com as informações,
publicações sobre a Piscicultura a nível nacional
e os desafios a serem conquistados. Mas, ainda
tem que ter um olhar mais voltado para os médios
e pequenos produtores, que é a nossa realidade”.
Importância da Semana do Pescado
“Somos Apoiadores: ACAq / AQUIPAR juntamente
com o SINDIPI e muitas outras pessoas
como a Fernanda Queiróz em Joinville/ SC. Sempre
acompanhei a “Semana do Pescado” e foram feitas
algumas ações por aqui em Gaspar/SC junto aos Associados
da AQUIPAR. Foi criada a Câmara Técnica
da Piscicultura e Agricultura - DEL aqui em Gaspar/
SC “Queremos aumentar o consumo do Peixe de
uma maneira geral. Já temos o filé de tilápia na merenda
Escolar. Penso quer temos que saber vender
melhor o nosso Peixe. Ter Pertencimento! Valorização
e melhor aproveitamento! Hoje já estamos na
Medicina com a Pele de Tilápias! Turismo dentro da
atividade também é um grande potencial que ainda
é pouco explorado pelos piscicultores”.
encontrei muitas pessoas a nível nacional… Principalmente
mulheres. Nós começamos a conversar,
se conectar via WhatsApp… Conversei com a Vera/
Fernanda / Marilza e formamos o Grupo “Mulheres
na Aquicultura” em 10/02/2021. Acredito na
Força das Mulheres! Principalmente em Gestão/
Organização… Com amor, dedicação e determinação!
“A Piscicultura tem muito envolvimento das
mulheres, na organização e controle, na alimentação
com a elaboração de preparo dos peixes,
no atendimento, na Educação, ou seja, em várias
funções. E entre as funções em que há mulheres
fazendo diferença, a de pesquisa científica e atendimento
no serviço público ganham destaque. Juntas
somos mais fortes! E contamos com apoio dos
Homens também, afinal queremos igualdade.”
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Grupo
“Mulheres na
Aquicultura”
“Com a Pandemia
passamos
mais tempo em
casa… e assim,
também com mais
tempo para estudar,
ler, fazer cursos online
e acompanhar
as Lives sobre Piscicultura/
Aquicultura.
E nesse meio
de mídias sociais
Eleição da diretoria 2022-2023 da ACAq
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Os sistemas de policultivo com tilápias e camarões de água doce são uma atividade
promissora em termos de sustentabilidade e rendimento. Pequenos produtores podem
se valer desta ferramenta para aumentar sua lucratividade, assim como fez o produtor
Édi Carlo de Klitzke de Timbó/ SC. A técnica de produção foi instruída pela equipe do
Laboratório de Carcinicultura da UFPR - Maripá e a produção foi acompanhada pelo
técnico de campo Luciano de Souza, Engenheiro Ambiental.
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Resultados da Fazenda -
Edi Carlo de Klitzke
Data do povoamento: nov/2020
Número de animais estocadas:
2250 tilápias e 4.000 camarões
Área do viveiro: 1.200 m²
Densidade: 1,875 tilápias e 3,33 camarões/m²
Data de despesca: set/2021
Período de cultivo: +/- 10 meses
Peso final: tilápias 900g e camarões 36g
Biomassa final:1.813 Kg de tilápias e 90 Kg de
camarão
Produtividade: 1,58 Kg/m 2
Sobrevivência: 89,5 % tilápia 62,5 % camarão
Total de ração utilizada: 2.112,3 Kg
Conversão alimentar: 1,11:1
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