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Revista Aquaculture Brasil - 23ed

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aquaculturebrasil.com

REVISTA

AQUACULTURE

BRASIL

EDIÇÃO

23

ABR/JUN

2021

PRÊMIO CAPES DE TESE

2020

ISSN 2525-3379

AQUICULTURA

MULTITRÓFICA

INTEGRADA:

Uma aplicação ao sistema de

bioflocos e economia circular

Artigo: Principais normas

que regulamentam a

aquicultura no Brasil

Coluna: Múltiplos usos

da água

Entrevista: Adriana

Ferreira da Silva - UNAM/

México e Aquícola Garza

Eles fazem a diferença:

Ofélia Maria Campigotto

MAR/ABR 2018

1




AQUACULTURE BRASIL

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA

BRASILEIRA!

EDITOR-CHEFE:

Giovanni Lemos de Mello

redacao@aquaculturebrasil.com

EDITORES-ASSISTENTES:

Alex Augusto Gonçalves

Artur Nishioka Rombenso

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano

Roberto Bianchini Derner

Rodolfo Luís Petersen

DIREÇÃO DE ARTE:

Syllas Mariz

Jéssica Brol

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:

Adolfo Jatobá, Adriana F. da Silva, Amanda Favetta,

Amanda Murarolli Ribeiro, Brunna Louise Nunes de Sousa,

Caio H. N. Ferreira, Carlize Lopes, Caroline Munhoz

Meira, Eduardo da Silva, Eduardo L. C. Ballester, Esmeralda

Chamorro Legarda, Fabio Rosa Sussel, Fabrício M.

Dutra, Felipe do Nascimento Vieira, Gabriel Deschamps,

Géssyca T. M. M. Santos, Janaína S. Santos, Leonardo

C. A. Ferreira, Marco Antônio de Lorenzo, Marcos T. T.

Júnior, Maria Luiza Rodrigues de Souza, Melina Franco

Coradini, Nara Mendes Queiroz Ribeiro, Neydsom S.

Barbosa, Ng H. They, Nívia L. C. Siqueira, Ofélia Maria

Campigotto, Otávio Augusto L. F. Pimentel, Rayssa D.

Lira, Robilson Antonio Weber e Yolanda M. Dantas

Os artigos assinados e imagens são de

responsabilidade dos autores.

COLUNISTAS:

André Camargo

Artur Nishioka Rombenso

Diego Maia Rocha

Eduardo Gomes Sanches

Fábio Rosa Sussel

Giovanni Lemos de Mello

Ivã Guidini Lopes

Juliana Antunes Galvão

Marcela Maia Yamashita

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano

Rodolfo Luís Petersen

Ronaldo O. Cavalli

As colunas assinadas e imagens são de

responsabilidade dos autores.

QUER ANUNCIAR?

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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação

trimestral da EDITORA

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.

(ISSN 2525-3379).

www.aquaculturebrasil.com

Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC,

88790-000.

A AQUACULTURE BRASIL não se

responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de

terceiros.

Mais uma edição online!

Talvez eu seja suspeito para falar, mas toda vez

que fazemos a última leitura, os últimos ajustes no

texto e na diagramação, previamente ao lançamento,

temos a sensação de que está em nossa

tela a melhor edição de todas.

Sensação que já se repetiu outras 23 vezes.

Não posso deixar de registrar o trabalho editorial

de nossa colaboradora Jéssica Brol. Uma

grande Engenheira de Pesca, que se especializou

na diagramação de nosso periódico, aliás, o mais

lindo do País, não acham?

Como assim uma Engenheira de Pesca trabalhando

com diagramação, design visual e editoração de uma revista?

Queridos amigos leitores, é preciso pensar e agir fora da caixa!

A pandemia do Covid-19 nos trouxe várias lições. Algumas, somente assimilaremos

e compreenderemos no futuro. Mas os aprendizados já estão aí.

As universidades vazias, com aulas online pouco produtivas, talvez coloquem

em xeque a continuidade de vários cursos de graduação, de várias áreas.

Se estou falando dos cursos de graduação da área de aquicultura? Estou

falando de todas as áreas...

Há tempos que características como comprometimento, iniciativa, assiduidade,

honestidade, responsabilidade, ética, capacidade de trabalhar em equipe,

criatividade, entre outras, são importantes para um profissional, de qualquer área.

O “feijão com arroz” da aquicultura, vários profissionais podem se especializar,

na linguagem comum, podem “desenrolar”. Agora as características acima

citadas, como aprender ou desenvolver? Vêm de berço?

Viva os administradores, nutricionistas, engenheiros de alimentos, engenheiros

de produção, médicos e advogados que queiram se especializar na área de

aquicultura.

Isto vai ser gigante no País e precisamos de todos vocês!

Aquele corporativismo que ainda vemos em alguns “perdidos” por aí? Vai

acabar. Assim como essas pessoas estão cada vez mais no ostracismo em seus

locais de trabalho.

Viva a diversidade aquícola!

Ótima leitura!

Giovanni Lemos de Mello,

Editor-chefe.


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AQUACULTURE BRASIL

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no maior portal da aquicultura brasileira

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SUMÁRIO

AQUACULTURE BRASIL - edição 23 abr/jun 2021

08 FOTO DO LEITOR

»»

p.10

10 PRINCIPAIS NORMAS QUE REGULAMENTAM A

AQUICULTURA NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA

HISTÓRICA

22 MÉTODOS DE CONTROLE DA ICTIOFITIRÍASE: QUAIS

OS PRÓXIMOS PASSOS NA PREVENÇÃO DESTA

DOENÇA?

28 AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA E

ECONOMIA CIRCULAR APLICADOS AO SISTEMA DE

BIOFLOCOS

»»

p.22

36 CRIAÇÃO DE JACARÉS DO PANTANAL (Caiman

yacare):UMA ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO DE

ANIMAIS SILVESTRES BRASILEIROS

44 INFORMAÇÕES PRÁTICAS SOBRE OS ANESTÉSICOS

MAIS COMUNS NA AQUICULTURA

52 PRODUÇÃO DE Litopenaeus vannamei EM SISTEMA

DE BIOFLOCOS COM USO DE TECNOLOGIA DE

CONSÓRCIO PROBIÓTICO

60 ESPAÇO EMPRESA - VAXXINOVA

»»

p.36

64 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR

65 CHARGES

6


»»

p.90

66 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA

68 ATUALIDADES DA CARCINICULTURA

70 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA

»»

p.44

72 AQUICULTURA ORNAMENTAL

74 GREEN TECHNOLOGIES

76 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA

78 VISÃO AQUÍCOLA

80 PISCICULTURA MARINHA

82 SANIDADE

»»

p.52

84 GESTÃO DE RESÍDUOS

86 NAVEGANDO NA AQUICULTURA

88 TECNOLOGIA DO PESCADO

90 ENTREVISTA - ADRIANA FERREIRA DA SILVA

96 ELAS FAZEM A DIFERENÇA

100 DESPESCOU

»»

p.84

7


Alevino de Pirarucu

(Presidente Figueiredo, AM)

Manoel Pio

Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata,

Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri

(Fortaleza, CE)

Giancarlo Lavor

Camarão marinho - Litopenaus vannamei

(Fortaleza, CE)

Edras Rodrigues

Cultivo de Gracilaria caudata

(Registro, SP)

Aryanne Rodrigues de Lima Franco

ABR/JUN 2021

8


Produção de tilápia - Associação dos Piscicultores do Serrote Preto

(Petrolândia, PE)

Fagner Barros Pankararu

Estágio de Engenharia de Pesca, na fazenda de camarão Espaço Aqua Japi

(Jundiaí, SP)

Patrizia Paula

ABR/JUN 2021

>>

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia

e participe desta seção.

redacao@aquaculturebrasil.com

9


© Daniela Campeche

ABR/JUN 2021

10

PARCEIROS NA 23° ED:


Principais normas que

regulamentam a aquicultura

no Brasil: uma perspectiva

histórica

Otávio Augusto L. F. Pimentel 1, 2 * , Yolanda M. Dantas 1, 3 , Bárbara S. F. G. Bacurau 1 ,

Nívia L. C. Siqueira 1, 4 , Géssyca T. M. M. Santos 1 , Leonardo C. A. Ferreira 1,5 ,

Neydsom S. Barbosa 1 , Rayssa D. Lira 1, 2 , Marcos T. T. Júnior 1 , Janaína S. Santos 1 e

Ng H. They 1, 6

1

Departamento de Oceanografia e Limnologia

Centro de Biociências

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Natal, Brasil

2

Programa de Pós Graduação em Aquicultura

Instituto de Oceanografia

Universidade Federal do Rio Grande

Rio Grande, Brasil

3

Programa de Pós Graduação em Ecologia

Centro de Biociências

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Natal, Brasil

*otavio.pimentel@yahoo.com

4

Programa de Pós Graduação em Ciência e Eng. de Materiais

Centro de Ciências Exatas e da Terra

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Natal, Brasil

5

Programa de Pós Graduação em Bioinformática

Instituto Metrópole Digital

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Natal, Brasil

6

Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos

Departamento Interdisciplinar, Campus Litoral Norte

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Imbé, Brasil

O

histórico da regulamentação ambiental

da aquicultura no Brasil é marcado pela

inexistência, por muitas décadas, de um

corpo normativo específico e por um amparo inicial

em uma legislação mais ampla referente aos recursos

hídricos. A década de 30 foi marcada por vários

decretos que traziam alguns poucos aspectos relacionados

à temática ambiental, ainda de maneira muito

incipiente. É de 23 de janeiro de 1934 que data o

Decreto nº 23.793, o chamado Primeiro Código Florestal,

que não fazia menção direta a nenhuma atividade

de pesca ou aquicultura, mas já trazia a ideia da

proteção de matas ciliares em cursos d’água.

No mesmo ano, entrou em vigor o Código de

Águas (Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934),

que possuía dois capítulos que faziam referência à obrigatoriedade

de observância de leis em relação à pesca.

A preocupação ambiental aparecia de maneira tímida,

conforme pode ser observado no Código de Caça e

Pesca (Decreto nº 23.672, de 2 de janeiro de 1934),

que entrou em vigor também no mesmo ano. Em seu

artigo 6º, o Código estabelecia a obrigatoriedade da

observância de dispositivos que objetivavam, dentre

outras coisas, “a defesa e conservação das espécies da

fauna e flora aquáticas existentes”. Em seu capítulo VII,

há vários artigos sobre ostreicultura e maricultura, no

qual é chamado de “propagação em parques artificiais”,

e particularmente interessante é o artigo 73, que proibia

o fundeamento de embarcações e lançamento de

efluentes sobre os bancos de moluscos demarcados.

Também há menção no artigo 74 sobre a sustentabilidade

da coleta de moluscos de bancos, nos seguintes

termos: “os bancos que ficarem descobertos na maré

baixa só poderão ser explorados com emprego de ins-

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

11


ABR/JUN 2021

trumentos que não arranquem os moluscos em grandes

porções”. Ainda, no capítulo XII, há artigos que estabelecem

que represamentos de rios e córregos ficam sujeitos

à obrigatoriedade de construção de escadas de peixes, ascensores,

tanques de espera ou barragens suplementares.

O Decreto-Lei 1 nº 794 de 19 de outubro de 1938,

o chamado Código de Pesca, revogou e substituiu a parte

da pesca do Código de Caça e Pesca de 1934. Esse Decreto-Lei

proibia, por exemplo, a criação de currais de

peixes, as chamadas “cercadas”. Ele apresentava um capítulo

específico sobre “Moluscos, Crustáceos, Esponjas

e Algas”, o capítulo VII, em que novamente é estipulada

a proibição de lançamento de detritos e fundeamento

de embarcações em bancos de moluscos. O capítulo

VII permitia a instalação de coletores de ostras próximo

aos bancos naturais para a coleta de material destinado

ao cultivo em parques artificiais e indicava o serviço de

caça e pesca como órgão responsável por regulamentar o

estabelecimento de parques artificias para o cultivo de ostras

e mexilhões. Também figurava pela primeira vez um

capítulo específico sobre piscicultura, o capítulo X. Nesse

capítulo eram estabelecidas as regulamentações das estações

de piscicultura federais, estaduais, municipais e particulares.

Entre alguns aspectos da proteção ambiental que

figuravam nesse capítulo estão a proibição de importação

e exportação de peixes vivos ou ovos para o exterior sem

prévia autorização do serviço de caça e pesca e também

a criação das Estações Estações Experimentais de Biologia,

voltadas à propagação e defesa da fauna e repovoamento

de cursos d’água. Em seu capítulo XI, empreendimentos

de represamentos de rios ficaram com obrigatoriedade

atrelada de realizar obras de conservação da fauna fluvial,

através de construção de estruturas para passagem de peixes

ou estações de piscicultura.

O segundo Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de setembro

de 1965) entrou em vigor em meados da década

de 60 e revogou o Primeiro Código Florestal da década de

30. Ainda não havia menção direta a atividades de aquicultura,

mas constituiu um marco na legislação ambiental brasileira

por ter criado as Áreas de Preservação Permanente

(APPs), que são definidas como faixas marginais ao longo

de cursos d’água, cobertas ou não por vegetação nativa,

com a função ambiental de “preservar os recursos hídricos,

a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o

fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o

bem-estar das populações humanas”. Assim, embora não

mencionasse explicitamente a aquicultura, a lei restringia

uma série de atividades que pudessem prejudicar ou suprimir

as APPs, o que poderia ser estendido, de acordo

com a interpretação, a várias atividades de aquicultura.

Em 1967 foi aprovado o Decreto-Lei nº 221, de 28

de fevereiro, que tratava da proteção e estímulos à pesca

e que revogou o antigo Código de Pesca de 1938. Não

houve menção explícita a questões ambientais relacionadas

diretamente à aquicultura, mas houve o estabelecimento

da obrigatoriedade de medidas de proteção da

fauna para quaisquer empreendimentos que causem alterações

em regimes d’água, tais como barragens e desvios.

Houve também uma menção breve e bastante genérica

sobre a proibição de lançamento de efluentes de esgoto

e resíduos líquidos que possam tornar as águas “poluídas”.

Esse Decreto-Lei foi posteriormente revogado pela Política

Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura,

que é comentada em detalhes ao longo do texto.

Nota-se, de maneira geral, que a legislação, embora

fizesse menção a questões ambientais pontuais, o fazia de

maneira bastante utilitarista, com vistas a evitar a sobrecarga

dos estoques naturais e à manutenção das condições

sanitárias do pescado. A partir de meados da década

de 1990, normas específicas passam a surgir para o setor

da aquicultura, buscando seu ordenamento de forma a

preservar os ecossistemas aquáticos naturais de possíveis

impactos ligados à atividade, reconhecendo o valor intrínseco

da proteção ambiental.

Esses dispositivos legais mais recentes englobam vários

aspectos, tais como a classificação dos empreendimentos

aquícolas quanto ao porte e aos possíveis impactos, critérios

de descarte de efluentes, zoneamento de áreas ambientalmente

sensíveis (e.g. manguezais), processo de cadastramento

e licenciamento de atividades aquícolas e a normatização

do uso de organismos geneticamente modificados.

Com o crescimento da produção aquícola brasileira, o

cumprimento das obrigações legais previstas para a instalação

dos empreendimentos aquícolas se faz necessário para

que a atividade possa se expandir de maneira ambientalmente

segura. Entretanto, a legislação voltada para a aquicultura

é fragmentada em diversas normas 2 (leis, portarias,

decretos, instruções normativas (IN)) e são em geral

de difícil compreensão, principalmente para aquicultores

com menor familiaridade com a linguagem jurídica, o que

pode se tornar um obstáculo para o cumprimento delas.

Portanto, o presente artigo tem como objetivo apresentar

um ementário das principais normas federais relacionadas

à aquicultura, sob uma perspectiva histórica e em ordem

cronológica, buscando expor os principais aspectos que devem

ser minimamente conhecidos por quem atua na área.

1

Decreto-Lei: tipo de norma que existiu até a Constituição Federal de 1988. Tinha aspecto semelhante à atual Medida Provisória.

2

Norma: é o termo geral para textos legais: toda lei é uma norma, mas nem toda norma é uma lei. Algumas normas podem ser resoluções ou

instruções normativas, por exemplo, expedidas por Conselhos ou pelo Poder Executivo (não Legislativo).

12

PARCEIROS NA 23° ED:


A partir de meados da

década de 1990, normas

específicas passam a

surgir para o setor da

aquicultura, buscando seu

ordenamento de forma a

preservar os ecossistemas

aquáticos naturais de

possíveis impactos ligados

à atividade, reconhecendo

o valor intrínseco da

proteção ambiental.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

13


ABR/JUN 2021

Legislação:

Lei 6.938/1981 - Política Nacional

do Meio Ambiente (PNMA)

A PNMA foi um marco na legislação ambiental brasileira

por trazer a criação, dentre outras coisas, do arcabouço

institucional ambiental no país, o Sistema Nacional

de Meio Ambiente (SISNAMA). A lei também instituiu a

obrigatoriedade da Avaliação de Impactos Ambientais e

dos Relatórios de Impacto Ambiental, o licenciamento

para atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, os

padrões de qualidade ambiental (para ar, águas e solo), o

zoneamento ambiental, a criação de áreas de proteção

ambiental de relevante interesse ecológico e as reservas

extrativistas. Além disso, também criou a Taxa de Controle

e Fiscalização Ambiental (TCFA), trimestral, que incide sobre

atividades licenciadas e que varia em função da pessoa

(física ou jurídica), do porte da empresa e da quantidade de

recursos demandada. A lei também explicita a obrigatoriedade

da recuperação e indenização dos danos ambientais

causados, bem como recomenda a utilização de práticas

que melhorem a qualidade ambiental, o que deve ser estimulado

pelo Poder Público através de isenções fiscais.

Situação: vigente.

Resolução do Conselho Nacional

do Meio Ambiente (CONAMA)

04/1985 - Reservas ecológicas

Essa norma dispõe sobre as Reservas Ecológicas, consideradas

formações florísticas e as áreas de florestas de

preservação permanente mencionadas na PNMA. A resolução

determina larguras mínimas para essas áreas de

preservação e cita como Reservas Ecológicas as formações

vegetais nas áreas de entorno dos corpos d’água, que são

denominadas atualmente de Áreas de Preservação Permanente.

Outro importante ponto é a caracterização do

manguezal como Reserva Ecológica e a sua conceituação

como “ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos

sujeitos à ação das marés localizadas em áreas relativamente

abrigadas e formado por vasas lodosas recentes

às quais se associam comunidades vegetais características”.

A resolução ainda cita a competência dos Estados e Municípios,

através de seus órgãos ambientais responsáveis,

para o estabelecimento de “normas e procedimentos mais

restritivos que os contidos na Resolução, devendo ser

adequadas às peculiaridades regionais e locais”. Situação:

revogada pela resolução CONAMA 303 /2002.

Resolução CONAMA 01/1986

- Avaliação de impacto ambiental

Essa resolução regulamenta as Avaliações de Impacto

Ambiental (AIAs), o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e

o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), determinando

uma série de atividades obrigatoriamente sujeitas às

AIAs. O EIA é um estudo técnico detalhado e completo,

desenvolvido por uma equipe multidisciplinar habilitada

e independente do proponente do projeto, contendo a

descrição da área, todos os possíveis impactos positivos e

negativos que um empreendimento pode causar, medidas

que serão tomadas para que os impactos mais significativos

sejam evitados, reduzidos (caso sejam inevitáveis)

ou sanados (mitigados, caso sejam irredutíveis). O RIMA

retrata sinteticamente as conclusões do EIA, devendo ser

apresentado em linguagem clara, acessível e bastante ilustrada,

sendo a versão pública deste. Embora a resolução

não explicite atividades de aquicultura, ela estabelece que

nos casos não previstos, os órgãos competentes devem

analisar, com base na Constituição Federal, se a atividade

deve ter EIA/RIMA ou não. Ela estabelece ainda as esferas

de atuação dos órgãos do licenciamento, definindo que

o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA) deve ter competência em

âmbito federal e que os demais entes do Sistema Nacional

do Meio Ambiente (SISNAMA) devem atuar em suas

respectivas esferas de competência (estadual e municipal).

Situação: vigente.

Resolução CONAMA 20/1986 -

Classificação dos corpos d’água

Essa resolução foi a primeira que estabeleceu uma

classificação dos corpos d’água de acordo com a salinidade

(águas doces, salobras e salinas) e os seus princi-

14

PARCEIROS NA 23° ED:


pais usos previstos. As classes dentro de cada tipo de

faixa de salinidade contêm níveis de qualidade (físicos,

químicos e microbiológicos) que devem ser atendidos

de acordo com os usos preponderantes. A aquicultura

é prevista em várias classes de águas dentro de todas

as faixas de salinidade. Situação: revogada pela resolução

CONAMA 357/2005.

Lei 7.661/1988 - Plano Nacional de

Gerenciamento Costeiro (PNGC)

Essa lei é subordinada aos princípios da PNMA e

visa orientar a utilização dos recursos da zona costeira

através do PNGC, que deve definir o zoneamento de

diversos recursos, dentre eles as áreas de manguezais,

sistemas fluviais, estuarinos e lagunares. Ela determina

ainda que o PNGC deve levar em consideração os critérios

e padrões determinados pelo CONAMA.

Situação: vigente.

Constituição Federal de 1988 -

CF/88

A CF/88 foi outro importante marco ambiental pois

apresenta um artigo inteiro dedicado ao Meio Ambiente,

o art. 225. Além disso, temas relacionados ao Meio

Ambiente permeiam toda a Constituição. A CF/88 estabelece

o Meio Ambiente como um bem fundamental,

de uso comum, de direito de todos e que cabe ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo.

Estabelece ainda as águas como um bem público,

institui a obrigatoriedade do Estudo Prévio de Impacto

Ambiental e da recuperação da degradação ambiental,

além de sanções penais e administrativas em casos de

lesão ao Meio Ambiente. Vale ressaltar que as obrigatoriedades

determinadas pela CF/88 são regulamentadas

por outras normas posteriores (Leis, Resoluções, etc).

Situação: vigente.

Resolução CONAMA 237/1997

- Licenciamento ambiental

Essa resolução trata do licenciamento ambiental, definindo-o

como um processo administrativo feito pelo

órgão ambiental para a instalação, ampliação e operação

de empreendimentos que usem recursos naturais,

poluam e/ou possam potencialmente poluir ou causar

degradação ambiental. A licença, por sua vez, é um ato

administrativo em que o órgão ambiental competente

“estabelece as condições, restrições e medidas de

controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo

empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar,

instalar ou ampliar as atividades sujeitas ao licenciamento”.

O processo de licenciamento completo envolve 3

tipos de licença, que são obtidas nesta ordem: Licença

Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e a Licença de

Operação (LO). A LP é concedida antes de qualquer

modificação no ambiente, sendo avaliado se o local é

adequado e se o projeto é viável do ponto de vista

ambiental, isto é, busca-se evitar, reduzir e mitigar impactos

ambientais e se há alternativas mais sustentáveis,

como por exemplo a instalação em locais menos

sensíveis. Além disso, a LP estabelece uma série de

condicionantes que devem ser obedecidas nas etapas

subsequentes. A LI autoriza a instalação do empreendimento,

sempre de acordo com as condicionantes

(planos, programas e projetos aprovados pelo órgão

licenciador), bem como medidas de controle e monitoramento

ambiental. A LO autoriza a operação do

empreendimento, após verificado o cumprimento de

todas as condicionantes anteriores. Situação: vigente.

Portaria Normativa IBAMA

113/1997 - Cadastro Técnico Federal

de Atividades Potencialmente Poluidoras

ou Utilizadoras de Recursos

Ambientais

Essa portaria torna obrigatório o Cadastro Técnico

Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras, contemplando

pessoas físicas e jurídicas que se dedicam a

atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração,

produção, transporte e comercialização de produtos

potencialmente danosos ao meio ambiente, assim

como minerais, produtos e subprodutos da fauna, flora

e pesca. A aquicultura é enquadrada na categoria “Pesca”

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

15


ABR/JUN 2021

sob o código 20-04. A fim de manterem seus direitos decorrentes

do registro, as pessoas físicas ou jurídicas devem

renovar anualmente o certificado de registro, mediante a

contribuição com a importância correspondente ao valor

estabelecido na tabela de preços do IBAMA. Também

devem informar qualquer alteração cadastral num prazo

de 30 dias e, no caso de encerramento das atividades,

solicitar cancelamento do registro. Situação: vigente.

Lei 9.433/1997 - Política Nacional

de Recursos Hídricos (PNRH)

Essa lei é um dos marcos da gestão dos recursos hídricos

no Brasil, pois determina o seu arcabouço legal e

organizacional. Estabelece os Planos de Recursos Hídricos,

a exigência do enquadramento dos corpos d’água em classes,

de acordo com seus usos preponderantes, a exigência

da outorga de direitos de uso da água, a cobrança pelos direitos

de uso da água, o Sistema de Informações sobre Recursos

Hídricos, o qual deve disponibilizar o balanço atual

de recursos hídricos (disponibilidade qualitativa e quantitativa),

e a criação das Agências de Água. Um dos avanços

fundamentais da lei foi reconhecer as bacias hidrográficas

como unidades fundamentais de manejo, entendendo que

a gestão dos corpos d’água deve obedecer aos limites naturais

da bacia hidrográfica, que frequentemente não obedece

aos limites geográficos (fronteiras entre municípios,

estados e países). Situação: vigente.

Portaria IBAMA 145/1998

- Introdução, reintrodução e

transferência de peixes, crustáceos,

moluscos e macrófitas aquáticas para

fins de aquicultura, excluindo as espécies

ornamentais

Essa portaria proíbe a introdução de peixes e macrófitas

exóticas de água doce no Brasil. A introdução de

crustáceos, moluscos, macroalgas e peixes marinhos, no

entanto, pode ser realizada mediante Pedido de Introdução

e Cultivo Experimental ao IBAMA. Para tanto, deve-se

apresentar uma série de documentos, incluindo o Registro

de Aquicultor e informações sobre a espécie a ser introduzida

(nome da espécie, biologia, dados zootécnicos ou

agronômicos, estágio de desenvolvimento), procedimentos

de quarentena, local e métodos experimentais a serem

utilizados. Outras normas a respeito da reintrodução

e transferência de espécies são também apresentadas. Situação:

vigente.

Portaria IBAMA 136/1998 -

Normas para registro de aquicultor

e pesque-pague no IBAMA

Essa portaria estabelece normas para o registro de

aquicultor, que é definido como “pessoa física ou jurídica

que se dedique ao cultivo ou criação de organismos

cujo ciclo de vida ocorre inteiramente em meio aquático”.

Para solicitação do registro por pessoa física é necessária

a apresentação de uma série de documentos tais como

o Cadastro Técnico Federal de Atividades Poluidoras ou

Utilizadoras de Recursos Ambientais, documento de recolhimento

de receita (DR, devidamente autenticado pela

rede bancária autorizada), cópia da carteira de identidade

(RG), cópia do CPF e cópia da Licença Ambiental de Operação

expedida pelo órgão ambiental competente. Para

pessoas jurídicas, são exigidos os mesmos documentos,

sendo o RG e o CPF substituidos por cópias do documento

de constituição atualizado, do cartão do Cadastro Geral

de Contribuintes, do comprovante de inscrição estadual

e do alvará de funcionamento expedido pela prefeitura.

Ao final do processo, o IBAMA emite um registro efetivo,

chamado de certificado de registro, que deve ser renovado

anualmente. Deve ser previamente autorizada pelo

IBAMA qualquer modificação nas condições em que foi

realizado o registro. Se houver desativação do empreendimento,

o registro deve ser cancelado mediante solicitação.

Situação: vigente.

Lei 9.984/2000 - Cria a Agência

Nacional de Águas e Saneamento

Básico (ANA)

Essa lei cria a ANA, uma autarquia vinculada ao Ministério

do Meio Ambiente que integra o Sistema Nacional

de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIN-

GREH) e tem como finalidade implementar a Política

Nacional de Recursos Hídricos, dentro de suas atribuições,

ou seja, em águas de domínio da União. Para isso

ela supervisiona, controla e avalia ações e atividades

relacionadas ao cumprimento da legislação federal rela-

16

PARCEIROS NA 23° ED:


cionada aos recursos hídricos. Atribuições importantes

da ANA incluem conceder a outorga de direitos de uso

da água em corpos de domínio da União, fiscalizar o

uso de recursos hídricos e auxiliar os Comitês de Bacia

Hidrográfica na implementação da cobrança pelo uso

da água. A ANA ainda é responsável por disponibilizar

informação atualizada sobre o panorama da qualidade

e quantidade dos principais corpos d’água do território

nacional através do Sistema Nacional de Informações

sobre Recursos Hídricos (SNIRH), bem como promover

ações para prevenir ou minimizar o efeito das

secas e inundações. Abaixo da ANA estão as Agências

de Água, que atuam como secretarias executivas e possuem

como área de atuação os Comitês de Bacias Hidrográficas.

Situação: vigente.

Resolução CONAMA 302/2002

- Limites de Área de Preservação

Permanente de reservatórios artificiais

e regime de uso do entorno

Essa resolução trata das definições e limites de Áreas

de Preservação Permanente (APPs) de reservatórios artificiais

e da elaboração obrigatória de plano ambiental de

conservação e uso do seu entorno. Ela modifica e regulamenta

o artigo 2ª da Lei 4.771/65 (Segundo Código

Florestal, atualmente substituído pela Lei 12.651/2012,

o Novo Código Florestal), que previa uma Área de Preservação

Permanente de 100 m no entorno de cursos

d’água naturais ou artificiais com largura entre 50 e 100

m. A inovação dessa resolução foi a de diferenciar os reservatórios

artificiais em função do tamanho e da localização,

se rural ou urbana. A resolução determina como

APP a área no entorno de reservatórios artificiais de 30

m quando situados em áreas urbanas e 100 m para áreas

rurais, 15 m para reservatórios de geração de energia

com até 10 ha de área de superfície e 15 m para reservatórios

artificiais não utilizados para o abastecimento

público ou geração de energia elétrica com até 20 ha de

área de superfície. Ainda determina que o empreendedor

deve elaborar um plano ambiental de conservação

e uso do entorno do reservatório artificial no âmbito do

processo de licenciamento ambiental. Essa resolução exclui

os reservatórios oriundos de acumulações artificiais

de água < 5 ha de superfície, desde que não sejam resultantes

de barragens e não estejam em áreas de APPs.

Situação: vigente.

Resolução CONAMA 303/2002 -

Parâmetros, definições e limites de

Áreas de Preservação Permanente

Revoga a resolução CONAMA 04/1985 e complementa

a resolução CONAMA 302/2002. Essa resolução

estabelece os limites para a Área de Preservação Permanente

no entorno de reservatórios naturais. Para regiões

de restinga, estabelece uma faixa mínima de 300 m, medidos

a partir da linha de preamar máxima e também em

qualquer região recoberta por vegetação com função

fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues. A resolução

ainda determina que dunas e toda extensão de

manguezais seja considerada como Área de Preservação

Permanente. Em seu artigo 4º, é citado que a definição

das APPs no entorno de reservatórios artificiais deve seguir

a resolução CONAMA 302/2002.

Situação: vigente.

Resolução CONAMA 312/2002 -

Licenciamento ambiental da

carcinicultura em zona costeira

Essa é uma resolução que trata especificamente da

carcinicultura, determinando as normas específicas para

o licenciamento dessa atividade. Um dos pontos cruciais

é que ela proíbe a carcinicultura em áreas de manguezais.

Em zonas costeiras, a construção, instalação, ampliação

e funcionamento de atividades de carcinicultura

dependem de licenciamento ambiental. Também são

estabelecidas categorias de porte: pequeno ≤ 10 ha,

médio > 10 ha e ≤ 50 ha e grande > 50 ha. A categorização

é importante, pois os empreendimentos de

pequeno porte podem ser licenciados através de um

processo simplificado, sendo os demais sujeitos ao processo

ordinário. Fica também obrigatória a reserva de

20% da área total do empreendimento como área de

preservação integral, ou seja, área em que não poderá

haver construção ou qualquer tipo de atividade aquícola.

No processo de licenciamento também é exigido o

termo de outorga pelos direitos de uso da água. Outro

ponto importante é o uso de bacias de sedimentação

que, a critério do órgão licenciador, deverão ser utilizadas

como etapa intermediária entre a circulação e o

descarte dos efluentes. A resolução ainda traz em ane-

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

17


ABR/JUN 2021

xo a lista de documentos mínimos necessários os parâmetros

ambientais mínimos para o Plano de Controle

Ambiental e para o Plano de Monitoramento Ambiental.

Situação: vigente.

Decreto 4.895/2003 - Cessão de

águas públicas de domínio da União

para a exploração da aquicultura

Revoga o decreto 2.869/1998. Esse decreto permite

que sejam usados corpos d’água de domínio da União

para a prática de aquicultura, desde que observados critérios

de ordenamento, localização e preferência, visando

o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar,

a inclusão social e o aumento da produção de pescado.

Situação: revogado pelo decreto nº 10.576, de 14 de

dezembro de 2020.

IN da Secretaria Especial de Aquicultura

e Pesca da Presidência da

República (SEAP/PR) 03/2004 -

Registro Geral de Pesca (RGP)

Essa Instrução Normativa determina que qualquer pessoa

física ou jurídica só poderá exercer atividades de aquicultura

com fins comerciais se devidamente inscritas no

RGP. A Aquicultura se enquadra na categoria: I) Pescador

Profissional, b) Pescador Profissional na Pesca Industrial,

VI) aquicultor, definido como “pessoa física ou jurídica que

se dedica ao cultivo, criação ou manutenção em cativeiro,

com fins comerciais, de organismos cujo ciclo de vida, em

condições naturais, ocorre total ou parcialmente em meio

aquático, incluindo a produção de imagos, ovos, larvas,

pós-larvas, náuplios, sementes, girinos, alevinos ou mudas

de algas marinhas”. Situação: alterada pela IN SEAP

12/2006, IN MPA 6/2011 e IN MPA 08/2012.

Resolução CONAMA 357/2005 -

Classificação dos corpos d’água e

diretrizes para seu enquadramento

Essa resolução regulamenta a resolução CONAMA

20/1986 e a CF/88 e determina o enquadramento das

águas em classes, de acordo com os seus principais tipos

de usos. As águas são divididas em doces (salinidade <

0,5), salobras (salinidade entre 0,5 e 30) e salinas (salinidade

> 30), havendo várias classes dentro de cada faixa de

salinidade. As águas doces apresentam cinco classes (classe

especial e classes 1, 2, 3 e 4) e as águas salobras e as salinas

possuem quatro classes cada (classe especial, classes

1, 2 e 3). As classes são definidas em relação a diversos

parâmetros químicos, físicos e microbiológicos, como, por

exemplo, teor de oxigênio, de contaminantes e de coliformes.

A aquicultura tem previsão de ser realizada nas águas

doces na classe 2 e nas salobras e salinas na classe 1. É

preciso atentar também ao complemento proposto pela

Resolução CONAMA 430/2011, que trata das condições

e padrões de lançamento de efluentes, que determina que

o lançamento do efluente não pode exceder os limites estabelecidos

para a classe do corpo receptor. Situação:

complementada e alterada pela Resolução CONAMA

430/2011.

Lei 11.105/2005 - Lei da

Biossegurança

Revogou a Lei nº 8.974 de 1995. Essa lei estabelece

normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades

que envolvem organismos geneticamente modificados

(OGM) e seus derivados, cria o Conselho Nacional de

Biossegurança – CNBS e reestrutura a Comissão Técnica

Nacional de Biossegurança– CTNBio. Importante para casos

em que a aquicultura envolva OGMs. Situação: vigente.

Lei 11.959/2009 - Política Nacional

de Desenvolvimento Sustentável

da Aquicultura e Pesca

Essa lei permite ao aquicultor coletar, capturar e transportar

organismos aquáticos, quando devidamente autorizado

pelo órgão ambiental competente, para diversos fins,

incluindo reposição de plantel de reprodutores e cultivo de

moluscos e macroalgas. Ela também classifica a aquicultura

em comercial, científica-tecnológica, familiar, ornamental

e de recomposição ambiental. São considerados fatores

importantes para os empreendimentos: área, forma de

cultivo, práticas de manejo e finalidade do empreendi-

18

PARCEIROS NA 23° ED:


mento. Ela também considera as empresas de aquicultura

como empresas pesqueiras, determina a responsabilidade

pela contenção do escape de espécies exóticas, proíbe a

soltura de OGMs e ainda determina que as áreas aquícolas

em salinas, salgados, apicuns, restingas e quaisquer áreas

adjacentes a quaisquer corpos d’água devem observar as

Áreas de Preservação Permanente, conforme determinado

pelo Novo Código Florestal (Lei 12.651/2012, vide

abaixo). Situação: vigente.

Resolução CONAMA 413/2009 -

Licenciamento ambiental da

aquicultura

Essa é a primeira resolução que trata especificamente

do licenciamento da aquicultura como um todo, exceto

para aqueles regulamentados pela resolução CONAMA

312/2002 (específica da carcinicultura em zonas costeiras).

Nessa resolução os empreendimentos são classificados

de acordo com vários critérios, sendo um deles o

porte, que é baseado na área total inundada em hectares

(incluindo canais de abastecimento, drenagem e bacias

de sedimentação) e variando de acordo com o tipo de

atividade exercida (carcinicultura ou piscicultura de água

doce ou marinha, ranicultura, malacocultura ou algicultura).

Outra classificação é pelo tipo de sistema (extensivo,

semi-intensivo ou intensivo) e as características ecológicas

da espécie (nativa, exótica, carnívora, não carnívora e onívora/autotrófica).

A combinação entre o tipo de sistema

e as características ecológicas da espécie são usadas para

determinar o potencial de severidade das espécies: baixo,

médio ou alto. O potencial de impacto ambiental do

empreendimento é então determinado pela combinação

entre o potencial de severidade das espécies e o porte.

Sistemas integrados e que empreguem medidas de redução

de resíduos sólidos e efluentes, bem como sistemas

de tratamento de efluentes e medidas de biossegurança

podem receber uma classificação menos restritiva. Com

relação ao processo de licenciamento, todos os empreendimentos

de pequeno porte (independentemente do potencial

de severidade das espécies) e os de médio porte

com baixo potencial de severidade das espécies podem

ser licenciados através de um procedimento simplificado

de licenciamento ambiental, contanto que não estejam

em áreas com um grande número de empreendimentos

aquícolas, não seja ultrapassada a capacidade de suporte

dos corpos d’água, não se encontrem em corpos d’água

com florações frequentes de cianobactérias (acima do estabelecido

pela Resolução CONAMA 357/2005) e não

demandem novos barramentos de cursos d’água. Parques

aquícolas e adensamentos de empreendimentos de pequeno

porte com a mesma atividade passam por um único

processo de licenciamento. Situação: alterada pela Resolução

CONAMA 459/2013.

IN do Ministério da Pesca e

Aquicultura 06/2011 - Registro

e Licença de Aquicultor

Essa Instrução Normativa altera a Instrução Normativa

SEAP/PR 03/2004 e estabelece a necessidade da Licença

de Aquicultor e do Registro de Aquicultor, sendo necessária

para o exercício da prática de aquicultura. O Registro

de Aquicultor tem validade de um ano, devendo ser renovado,

ocasião esta que resultará na emissão da Licença

de Aquicultor, que é emitida de forma individual. A Licença

representa, portanto, uma comprovação da conclusão da

inscrição no Registro. Após a validade não é necessário

renovar o Registro, apenas atualizá-lo. A Licença, por sua

vez, também tem validade de um ano, devendo ser periodicamente

renovada. Outra alteração importante foi que o

RGP e a licença passam a ser solicitados junto à Superintendência

Federal da Pesca e Aquicultura (SFPA) da unidade

da federação em que o empreendimento se localiza.

Situação: alterada parcialmente pela IN do Ministério da

Pesca e Aquicultura 16/2013.

Lei 12.651/2012 - Novo Código

Florestal

No que tange à aquicultura, essa lei proíbe qualquer

tipo de ocupação nas Áreas de Preservação Permanente

(APPs), exceto quando autorizado por órgão ambiental

competente. Além disso, estipula a obrigatoriedade de

manutenção da vegetação em zona de APP por parte do

proprietário da terra, possuidor ou ocupante. Em caso de

supressão da vegetação, o responsável fica ainda obrigado

a realizar sua recomposição. A lei estabelece como APP

uma faixa em torno de qualquer corpo d’água, sendo uma

largura mínima de 30 m para cursos d’água com < 10 m

de largura, 50 m para cursos d’água entre 10 e 50 m de

largura, 100 m para cursos d’água entre 50 e 200 m de

largura, 200 m para cursos d’água entre 200 e 600 m de

largura e 500 m para cursos d’água > 600 m de largura.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

19


Lagoas e lagos artificiais possuem como APPs faixas com

largura de 100 m se estiverem em zonas rurais, exceto

se tiverem < 20 ha (sendo então reduzido para 50 m)

ou 30 m em zonas urbanas, enquanto que nascentes e

olhos d’água devem possuir 50 m. A lei admite a prática de

aquicultura por imóveis rurais com até 15 módulos fiscais

em APPs de cursos d’águas e lagoas, desde que sejam realizadas

práticas sustentáveis de manejo de solo e recursos

hídricos, haja conformidade com planos de bacia ou de

manejo de recursos hídricos, seja licenciado pelo órgão

ambiental competente e o imóvel esteja inscrito no Cadastro

Ambiental Rural. Situação: vigente.

IN do Ministério da Pesca e Aquicultura

16/2013 - Manutenção

do Registro de Aquicultor

Essa Instrução Normativa altera a Instrução Normativa

MPA 06/2011, tornando o Registro de Aquicultor

válido por tempo indeterminado, desde que o aquicultor

tenha a posse da licença ou número de protocolo

que comprove o requerimento da licença junto ao órgão

ambiental competente. Situação: vigente.

Resolução CONAMA 459/2013 -

Licenciamento ambiental da

aquicultura

Essa resolução altera a redação de alguns artigos da

resolução CONAMA 413/2009 que dispõe sobre o licenciamento

ambiental da aquicultura e dá outras providências.

Situação: vigente.

Devem ser observados os critérios de localização, com

a finalidade de promover a geração de emprego e renda,

desenvolvimento sustentável, aumento da produção

brasileira de pescados, inclusão social e segurança

alimentar. Expõe os requisitos básicos para o processo

de cessão do uso da área e outorga de direito de uso

dos recursos hídricos para a prática de aquicultura. Explicita

ainda que a gestão de parques aquícolas poderá

ser delegada aos estados e municípios se estes cumprirem

os critérios de interesse, comprovação de corpo

técnico qualificado, apresentação de plano de assistência

técnica e capacitação e apresentação de relatório

anual das atividades desenvolvidas. Situação: vigente.

Considerações

finais

Observa-se ao longo dos anos uma evolução na

legislação ambiental relacionada à aquicultura, tendo

surgido normas específicas para o setor somente em

meados da década de 1990. O arcabouço legal aquícola

brasileiro atual é bastante moderno e robusto, procurando

conciliar o desenvolvimento da atividade com

a preservação dos ecossistemas aquáticos, com o uso

consciente do solo e dos recursos hídricos.

Um aspecto importante para o cumprimento correto

da legislação ambiental é o conhecimento a respeito

do corpo normativo de uma área. Dessa forma, tornar

as leis e os regulamentos compreensíveis para quem

trabalha ou pretende trabalhar com aquicultura é um

fator importante para ensejar o cumprimento das leis

vigentes, estimular a regularização ambiental e propiciar

o desenvolvimento sustentável do setor.

Consulte as referências bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/artigos

ABR/JUN 2021

Decreto nº 10.576/2020 -

Cessão de uso de espaços físicos

de corpos d’água da União para

prática de aquicultura

Revoga o decreto 4.895/2003. Esse decreto dispõe

sobre a possibilidade de cessão de uso de águas que estão

sob domínio da União para a prática da aquicultura.

20

PARCEIROS NA 23° ED:


ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

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© mhollaen | pixabay

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PARCEIROS NA 23° ED:


Métodos de controle da

Ictiofitiríase: quais os próximos

passos na prevenção desta doença?

*

Caroline Munhoz Meira¹, Amanda Murarolli Ribeiro¹, Nara Mendes Queiroz Ribeiro¹, Brunna

Louise Nunes de Sousa² e Fabio Rosa Sussel¹

1

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - FZEA/USP

Universidade de São Paulo - USP

Pirassununga, SP

caroline.meira@usp.br

2

Faculdade Dr. Francisco Maeda (Fafram)

Ituverava, SP

De acordo com o

Relatório publicado

pela FAO

(Organização das Nações

Unidas para a Agricultura

e Alimentação) em 2020,

a produção mundial de

pescado chegou a 179

milhões de toneladas em

2018, atingindo um recorde

histórico. A aquicultura

cresceu 25% entre 2008 e

2017 e foi responsável por

82,1 milhões de toneladas

métricas. O consumo humano

de pescado também

foi recorde sendo que em

1961, a população mundial

consumia 9 kg per capita/

ano e, em 2018, este valor

passou para 20,5 kg per capita

anuais, principalmente

devido a expansão da oferta

de produtos aquícolas.

Na produção aquícola,

várias são as doenças

que podem acometer

os peixes, sendo que

entre os parasitas

destaca-se o protozoário

ciliado Ichthyophtirius

multifiliis.

Com base no pressuposto

de maior demanda

e melhorias tecnológicas,

espera-se que a produção

total mundial de peixes

continue a se expandir e,

por este motivo, é necessário

o desenvolvimento

de tecnologias que permitam

alavancar o setor da

aquicultura no Brasil. A intensificação

da produção

faz com seja cada vez mais

importante estar atento

a fatores que são protagonistas

na manutenção

da sanidade dos animais.

Na produção aquícola,

várias são as doenças

que podem acometer os

peixes, sendo que entre

os parasitas destaca-

-se o protozoário ciliado

Ichthyophtirius multifiliis.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

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“Ictio” ou

Ichthyophtirius

multifiliis

Figura 1. © BioPeixe

Causador da “doença dos pontos brancos”, o

Ichthyophtirius multifiliis ou “Ictio”, como é popularmente

conhecido, causa sinais muito característicos

de sua manifestação sendo facilmente reconhecidos

nos peixes.

Considerado por muitos autores um dos mais

comuns patógenos em peixes de água doce, possui

distribuição geográfica global e é capaz de infectar

qualquer espécie de peixe podendo causar altos índices

de mortalidade. É particularmente devastador

em animais de pisciculturas que por muitas vezes

encontram-se em condições de maior estresse

como manipulação constante, baixa oxigenação da

água e alta densidade populacional.

Figura 2. © Figura modificada a partir de Dickerson (2012).

Ciclo de vida

ABR/JUN 2021

Seu ciclo biológico é complexo e inclui

vários estágios morfologicamente distintos,

onde cada um possui uma função específica

(Figura 2).

A patogenia do Íctio está relacionada

ao desenvolvimento de uma forma denominada

trofonte. Neste estágio ele realiza

o parasitismo no epitélio do peixe, ingere

as células do hospedeiro, incluindo debris

celulares.

Quando isso ocorre, células do sistema

imune e células sanguíneas em geral migram

para o foco de infecção.

24

PARCEIROS NA 23° ED:


Figura 3. © Santiago Benites de Pádua

É neste momento em que ocorrem as formações

de pontos brancos situados em toda superfície

corpórea, incluindo pele, nadadeiras, córnea,

cavidade bucal e brânquias (Figura 3).

Um dos principais problemas relatados pela

infecção do parasito está relacionado à formação

de úlceras (Figura 4). Esses ferimentos são comumente

utilizados como rota de entrada de patógenos

secundários, oportunistas à condição de debilidade

do hospedeiro frente à ictiofitiríase, como

é o caso da Aeromonas hydrophila, que aumenta

a mortalidade durante a infestação pelo por Íctio.

Figura 4. © Adriano R. Hummel - Oficina do Peixe

Prevenção da doença

Uma vez que tratamentos químicos ainda não

possuem eficácia e praticidade satisfatórias no

controle da ictiofitiríase, uma alternativa que vem

ganhando destaque é a produção de vacinas para

a prevenção da infecção desse parasita. Esta alternativa

se destaca pois embora não existam relatos

de espécies de peixes que sejam naturalmente

imunes à infecção por I. multifiliis, diversos trabalhos

já confirmaram que peixes sobreviventes

à infecção inicial desenvolvem subsequente imunidade

protetiva, o que indica que a imunização

é uma alternativa viável para impedir a infecção

desse parasita em peixes de criação.

Figura 5. © Colpani

A partir da elucidação da imunidade protetiva,

estudos demonstraram que anticorpos de imobilização,

encontrados no muco e no soro de

peixes infectados com I. multifiliis estão envolvidos

na proteção contra infecções subsequentes,

sendo observados em altos títulos em peixes que

já tiveram contato com o parasita. Esses anticorpos

são produzidos em resposta ao contato com

uma classe altamente abundante de proteínas dos

parasitas conhecidas como antígenos de imobili-

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

25


ABR/JUN 2021

zação (i-Ag), que foram classificadas dessa forma

devido ao fato de que a interação dos anticorpos

do hospedeiro com tais proteínas de I. multifiliis

provoca a interrupção dos movimentos flagelares

do parasita, o imobilizando e o tornando vulnerável

ao sistema imune do hospedeiro.

Em condições experimentais, peixes já foram

imunizados com sucesso através de injeções por

via intraperitoneal de terontes vivos, produzindo

uma proteção de quase 100% nos animais desafiados

com doses letais desses parasitas. Além

disso, i-Ag nativos de terontes isolados também

foram capazes de gerar proteção contra desafios

subsequentes, mostrando ser uma opção efetiva

de vacina contra I. multifiliis. Apesar desta efetividade,

o grande problema no uso dessas estratégias

de vacinação é o fato de que são necessárias

grandes quantidades de terontes e, por serem parasitas

obrigatórios (o peixe é essencial para que

parasita complete seu ciclo), essas formas somente

são obtidas a partir de animais infectados, o que

torna essas opções de vacinação muito demoradas,

caras e impraticáveis em larga escala para

imunização de animais de produção.

Dessa forma, o desenvolvimento de sistemas

alternativos para a produção dos i-Ag em grandes

quantidades de forma recombinante é cada vez

mais visado por grupos de pesquisa que buscam

uma forma de evitar os prejuízos da doença em pisciculturas.

Alguns destes antígenos de imobilização

(i-Ag) já foram produzidos com sucesso na forma

de proteínas recombinantes ou utilizados como

vacinas de DNA. Apesar de observarem certo grau

de proteção nos peixes imunizados, estas estratégias

provocaram também alterações em vários parâmetros

de resposta imune nos peixes e os testes

feitos não forneceram proteção significativa em

um subsequente desafio com o próprio parasita.

Sugere-se que a proteção insuficiente das alternativas

testadas se deve ao fato de que a imunização

tenha sido realizada apenas com os i-Ag

que, utilizados isoladamente, não são capazes de

estimular uma proteção eficiente nas mucosas,

principal sítio de infecção do Íctio. Dessa forma,

o uso de algum outro agente estimulante da resposta

imune de mucosas teria o potencial de aumentar

o efeito protetivo dessa estratégia de vacinação.

Esse tipo de substância auxiliar recebe o

nome de adjuvante e diversas pesquisas indicam

que há potencial para a imunização desde que seja

encontrada uma combinação adequada do antígeno

com a mesma.

A obtenção de uma substância que possa ser

utilizada para desencadear respostas imunológicas

específicas e mais eficientes, sem a necessidade da

introdução de substâncias oleosas como adjuvante,

que podem ocasionar efeitos colaterais indesejáveis,

é um dos principais objetivos dos estudos

atuais. A vacinação é hoje cotada como a melhor

estratégia de prevenção da ictiofitiríase.

A vacinação é hoje

cotada como a melhor

estratégia de prevenção da

ictiofitiríase.

Conclusão

Considerando o impacto social e econômico

causado pela “doença dos pontos brancos” e a

necessidade do desenvolvimento de sistemas alternativos

para o controle dessa doença, a produção

de uma combinação vacina/adjuvante contra

I.multifiliis, capaz de conferir proteção contra este

protozoário em sistemas de criação, é algo que

trará enormes benefícios no controle dessa que é

uma das mais devastadoras enfermidades de peixes

em pisciculturas.

Consulte as referências bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/artigos

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ABR/JUN 2021

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© Esmeralda Chamorro Legarda

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Aquicultura Multitrófica Integrada

e economia circular aplicados ao

sistema de bioflocos

*Esmeralda Chamorro Legarda, Marco Antônio de Lorenzo e Felipe do Nascimento

Vieira

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Laboratório de Camarões Marinhos - LCM

Florianópolis, SC

*esmeraldachamo@hotmail.com

Cultivo de camarões em

Sistema de bioflocos

Com o intuito de

aumentar a competitividade

do setor

aquícola, as produções de

organismos aquáticos têm se

tornado cada vez mais intensivas.

Dentre as tecnologias

aplicadas na intensificação da

produção, destaca-se a tecnologia

do sistema superintensivo

de bioflocos. O sistema

de bioflocos (BFT) tem

sido utilizado na produção de

peixes e camarões, elevando

as densidades de estocagem

com taxa de renovação mínima

de água, reduzindo o uso

de área e recursos hídricos

destinados ao cultivo. Esse

sistema se utiliza de uma rica

O uso da Aquicultura

Multitrófica Integrada

(AMTI) surge como

uma alternativa para

contribuir com o aumento

da sustentabilidade do

sistema de bioflocos.

comunidade microbiana, chamada

de flocos, que auxilia

na manutenção da qualidade

de água, faz a ciclagem dos

nutrientes e é uma fonte alimentar

para os camarões.

Entretanto, o desenvolvimento

do sistema BFT apresenta

alguns problemas, destacando-se

a baixa retenção

dos nutrientes da dieta pelos

animais de cultivo (27% do

nitrogênio e 11% do fósforo)

e, consequentemente, a geração

de sólidos ricos em nutrientes.

O uso da Aquicultura

Multitrófica Integrada (AMTI)

surge como uma alternativa

para contribuir com o aumento

da sustentabilidade do sis-


ABR/JUN 2021

tema de bioflocos. A AMTI é um sistema de produção

que integra espécies de diferentes níveis tróficos em

um mesmo ambiente de cultivo, resultando na conversão

dos resíduos do cultivo de uma espécie em fonte

de alimento ou fertilizantes para outra, permitindo

o melhor aproveitamento dos nutrientes da dieta.

A proposta de diversificação, com uso de conceitos

de AMTI e conceitos de economia circular nesse

trabalho, pretende integrar espécies de diferentes níveis

tróficos (camarão, tainha e macroalga – Figura 1)

com o intuito de reciclar nutrientes gerados por uma

espécie para serem reaproveitados por outras, além

de propor aplicações dos produtos oriundos dessa

integração, como as macroalgas, visando o aumento

da quantidade, qualidade e diversidade da produção.

Os dados apresentados neste artigo são parte

da tese de doutorado da pesquisadora Esmeralda

Chamorro Legarda, que recentemente foi agraciada

no Prêmio CAPES de teses na área de Zootecnia e

Recursos Pesqueiros. O prêmio CAPES de teses foi

criado em 2005 e desde então vem premiando as

melhores teses de doutorado do Brasil em cada área

de conhecimento elencados pela CAPES. A escolha

dos trabalhos é feita por comissões de premiação,

que consideraram sua originalidade, relevância para

o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e

social do país. Além disso são avaliadas a qualidade e

quantidade de publicações decorrentes da tese, sua

metodologia, redação, estrutura e organização do

texto.

Integração de

camarão e tainha

Inicialmente foi avaliado se a tainha poderia aproveitar

os bioflocos como fonte de alimento quando

integradas ao cultivo de camarão. Observou-se que

os peixes tiveram bom crescimento e mantiveram

seus parâmetros hematológicos e imunológicos estáveis,

aumentando a produtividade do sistema em

11,9% e recuperando 16,8% mais fósforo em relação

ao monocultivo de camarão.

Posteriormente, avaliou-se se era possível aumentar

a densidade de peixes para melhorar a eficiência

de retenção de fósforo e produtividade. O equilíbrio

da integração camarão:peixe foi 10% de biomassa

de peixe em relação à biomassa de camarão. Isto

resultou em um aumento de 20% na produtividade

e biomassa final total em relação ao monocultivo de

camarão, sendo 3,7 kg/m³ a densidade de tainha a se

Figura 1. Espécies de diferentes níveis tróficos

(camarão, tainha e macroalga) utilizadas no AMTI.

usar em sistema integrado com camarão em BFT. Além

disso, a integração do peixe ao sistema de cultivo de

camarão melhorou o aproveitamento do recurso água,

utilizando 17% menos água que o monocultivo.

Adição da macroalga

ao cultivo integrado

de camarão e tainha

A partir dos resultados da integração de camarão

e tainha, pensou-se em integrar uma macroalga

ao sistema com a finalidade de aproveitar os nutrientes

dissolvidos na água. No final do experimento

observou-se que a integração da macroalga Ulva

fasciata aumentou a retenção de nitrogênio e fósforo,

não precisamente pela quantidade de biomassa

produzida, mas pela composição da macroalga que

apresentou maior teor de proteína, fósforo e compostos

bioativos (Tabela 2), em relação a alga inicial.

30

PARCEIROS NA 23° ED:


Tabela 1. Cutlivo do camarão (Litopenaeus vannamei) e tainha (Mugil spp.) em sistema integrado de bioflocos com

diferentes densidades de tainha (10, 20 e 30% da biomassa de peixes em relação a de camarão).

Dados zootécnicos T0% T10% T20% T30% p-valor

Camarão:

Peso final (g) 12,97± 0,52 13,09 ± 0,35 12,84 ± 0,40 12,91 ± 0,51 0,88

Sobrevivência (%) 91,25 ± 0,88 94,22 ± 3,67 94,06 ± 0,36 94,22 ± 2,67 0,24

Conversão alimentar

aparente (FCA)

1,71 ± 0,08 1,66 ± 0,13 1,74 ± 0,15 1,68 ±0,05 0,73

Biomassa final (kg) 1,89 ± 0,07 1,97 ± 0,10 1,93 ± 0,06 1,95 ± 0,05 0,51

Produtividade (kg m -3 ) 2,37 ± 0,09 2,47 ± 0,12 2,42 ± 0,08 2,43 ± 0,07 0,51

Tainha:

Peso final (g) - 12,84 ± 1,77 a 10,94 ± 1,09ab 9,33 ± 1,12 b 0,03

Sobrevivência (%) - 89,77 ± 4,35 a 79,07 ± 7,60a 61,03 ± 5,40b <0,01

Conversão alimentar

aparente (FCA)

- 1,26 ± 0,37 a 3,94 ± 1,58 b - * <0,01

Biomassa final (kg) - 0,25 ± 0,04 b 0,37 ± 0,01 a 0,37 ± 0,03 a <0,01

Produtividade (kg m -3 ) - 2,54 ± 0,39 b 3,69 ± 0,11 a 3,68 ± 0,32 a <0,01

Camarão + Tainha:

Biomassa final (kg) 1,89 ± 0,07b 2,23 ± 0,12a 2,30 ± 0,07a 2,33 ± 0,05a <0.01

Produtividade (kg m -3 ) 2,13 ± 0,08b 2,50 ± 0,13a 2,59 ± 0,07a 2,62 ± 0,06a <0.01

Tabela 2. Concentração de nitrogênio, fósforo, clorofila, carotenoides e compostos fenólicos da macroalga Ulva

fasciata no início e no final do cultivo integrado com camarão e tainha em sistema de bioflocos por 55 dias.

Composto Inicial Final p-valor

Nitrogênio (% do peso seco) 1,04 ± 0,05 2,94 ± 0,30 <0,001

ABR/JUN 2021

Fósforo (% do peso seco) 0,08 ± 0,01 0,10 ± 0,00 <0,001

Clorofila (µg g -1 do peso fresco) 72,15±12,07 294,66±16,46 0,004

Carotenoides (µg g -1 do peso fresco) 4,99±0,73 16,46±3,41 0,022

Compostos fenólicos (µg g -1 do

peso seco)

0,32±0,05 0,19±0,03 0,024

PARCEIROS NA 23° ED:

31


Aplicação dietética

da biomassa de

macroalga proveniente do

cultivo integrado com camarão e

tainha em sistema de bioflocos

A biomassa da macroalga Ulva fasciata produzida

no sistema foi aplicada em diferentes porcentagens

em dietas para o peixe olhete (Seriola dorsalis). Com

apenas 1% de adição foi possível melhorar a composição

do filé deste peixe, aumentando o teor do ácido

graxo docosaexaenoico (DHA – 22:6n3), conhecido

popularmente como ômega 3 assim como o somatório

de ácidos graxos insaturados (Tabela 3). Este

trabalho foi realizado em parceria com a Universidad

Autonoma da Baja Califórnia, México, com supervisão

da Dra. Maria Teresa Viana e do Dr. André Braga.

Com apenas 1% de

adição da biomassa

de macroalga foi

possível melhorar a

composição do filé deste

peixe, aumentando o

teor do ácido graxo

docosaexaenoico (DHA)

conhecido popularmente

como ômega 3.

Figura 2. Exemplar do peixe olhete (Seriola dorsalis),

alimentado com dieta contendo a

biomassa da macroalga produzida

no sistema IMTA.

© Esmeralda Chamorro

Legarda

ABR/JUN 2021

32

PARCEIROS NA 23° ED:


Tabela 3. Perfil dos principais ácidos graxos do músculo do peixe (Seriola dorsalis) alimentados por 48 dias com

dietas com diferentes níveis de adição de Ulva na dieta.

Perfil de ácidos graxos

(% de lipídeos totais)

U-0 U-5 U-10 U-20

14:0 4,31±1,19a 3,30±0,50a,b 2,29±0,28b 2,53±0,32b

16:0 15,87±0,70 15,94±0,51 16,50±1,47 15,91±0,35

18:0 5,60±0,38 5,92±0,30 7,17±1,49 7,45±0,34

ΣSFA 25,78±0,10 25,16±0,71 25,96±2,82 25,90±0,33

16:1n7 4,11±0,29a 4,35±0,55a 2,72±0,13b 3,00±0,33b

18:1n9 24,00±0,82a 24,89±3,40a 16,68±1,69b 16,11±1,56b

18:1n7 2,45±0,11 2,49±0,14 2,48±0,08 2,26±0,04

20:1n9 0,62±0,13 0,69±0,14 0,71±0,29 0,61±0,15

ΣMUFA 31,18±0,51a 32,43±3,62a 22,60±1,64b 21,97±1,80b

18:2n6 13,41±0,17a 13,70±0,34a 11,09±0,48b 11,69±0,33b

20:2n6 0,54±0,01 0,57±0,16 0,75±0,36 0,62±0,14

20:4n6 2,43±0,04 2,35±0,48 3,12±0,28 3,29±0,50

ΣPUFA n6 16,38±0,12a 16,63±0,32a 14,95±0,85b 15,60±0,32a,b

18:3n3 1,06±0,23 1,09±0,07 0,89±0,29 0,90±0,17

18:4n3 0,53±0,00 0,51±0,13 0,42±0,08 0,44±0,13

20:5n3 3,72±0,29 4,21±1,40 4,09±0,54 4,70±0,70

22:5n3 2,75±0,44 2,28±0,36 2,08±1,52 2,32±0,47

22:6n3 15,47±0,38b 14,66±1,51b 24,37±2,54a 24,08±0,89a

ΣPUFA n3 23,53±0,58b 22,75±3,41b 31,84±3,94a 32,44±1,16a

ΣPUFA 39,90±0,70b 39,38±3,69b 46,79±4,69a,b 48,04±1,37a

n3:n6 1,44±0,02b 1,37±0,18b 2,12±0,18a 2,08±0,06a

DHA:EPA 4,18±0,43b,c 3,65±0,72c 5,98±0,16a 5,20±0,81a,b

DHA:ARA 6,38±0,07 6,31±0,67 7,85±0,85 7,44±1,16

Outros 3,14±0,29a,b 3,03±0,57b 4,65±0,72a 4,09±0,76a,b

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

33


Dessa maneira

se observa que a

partir da ciclagem

de nutrientes é

possível produzir

um novo produto

com potencial

de aplicação na

aquicultura como

aditivo alimentar.

ABR/JUN 2021

34

PARCEIROS NA 23° ED:


Conclusão

A partir dos resultados da tese podemos

concluir que é possível melhorar o cultivo de

camarão em bioflocos em termos de produtividade

e de eficiência ecológica aplicando

os conceitos de Aquicultura Multitrófica Integrada

com tainha e macroalgas em bioflocos.

A integração com tainha melhora a produtividade

e aumenta a retenção de fósforo do

sistema. A macroalga Ulva fasciata dentro

do sistema integrado, além de incrementar a

produtividade, retenção de fósforo e nitrogênio,

também aumentou o seu teor nutricional

e compostos antioxidantes. Além disso, a

macroalga pode ser utilizada como aditivo alimentar

para o olhete (Seriola dorsalis), tendo

potencial como promotor de crescimento e

incrementando o teor de ácidos graxos PUFA

como o DHA no filé.

Perspectivas futuras

A partir desta tese se abrem novas perspectivas

de pesquisa com o objetivo de responder

as seguintes perguntas:

• A tainha poderia utilizar somente os

bioflocos como fonte de alimento?

• De que maneira os compostos antioxidantes

provenientes das macroalgas ajudam

a proteger os ácidos graxos poliinsaturados

promovendo essa maior retenção no filé

do peixe?

• Como ficaria o teor de DHA na carne

de camarão com a adição da macroalga na

sua dieta?

• O que seria necessário para levar

essa tecnologia para uma escala comercial?

Publicações em periódico

internacional

A tese de doutorado rendeu 4 artigos e

1 capítulo de livro, sendo que os resultados

já encontram-se publicados nos periódicos

Aquaculture (3) e Aquaculture Research (1).

ABR/JUN 2021

Consulte as referências bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/artigos

PARCEIROS NA 23° ED:

35


ABR/JUN 2021

© Andreas Trepte

36

PARCEIROS NA 23° ED:


Criação de jacarés do

pantanal (Caiman yacare):

uma alternativa para a produção de

animais silvestres brasileiros

Melina Franco Coradini* e Maria Luiza Rodrigues de Souza

¹Programa de Pós-graduação em Zootecnia

Universidade Estadual de Maringá

Maringá, PR

*melinacoradini@gmail.com

Em 23 de fevereiro de

1990 o IBAMA instituiu

a portaria Nº126,

permitindo a criação de Caiman

crocodylus yacare em cativeiro

dentro da Bacia do Rio

Paraguai para finalidades comerciais.

Além disso, no dia 20

de fevereiro de 2008, o mesmo

órgão emitiu a instrução

normativa Nº169, que institui

e normatiza o uso e manejo

da fauna silvestre em cativeiro

no território nacional. Estas

estratégias adotadas pelo Brasil

auxiliam na conservação de

ambientes naturais, e na manutenção

da biodiversidade, através

do manejo sustentável de

espécies silvestres como o jacaré

do Pantanal, por exemplo.

Os criadouros de crocodilianos

são compostos basicamente

por sistemas de manejos

dos tipos harvest, ranching

Em fevereiro de 1990

o IBAMA instituiu a

portaria Nº126, que

permitiu, pela primeira

vez, a criação de Caiman

crocodylus yacare, em

cativeiro para finalidade

comercial.

e farming. No Brasil os sistemas

utilizados são o ranching onde

ocorre a coleta de ovos na natureza

e subsequente “engorda”

dos filhotes em cativeiro e

o sistema de criação farming,

onde a produção e reprodução

da espécie ocorrem em cativeiro,

com ciclo fechado. Neste

sistema, controlam-se diversos

fatores produtivos, como alimentação,

sanidade, ambiência,

reprodução entre outros.

O jacaré do pantanal é uma

espécie de crocodiliano que

pertence a família Alligatoridae,

gênero Caiman, espécie Caiman

Crocodillus yacare. Este jacaré

atinge de 2,5 a 3 m de comprimento,

ele é caracterizado por

apresentar um focinho longo e

possuir escamas osteodérmicas,

bem desenvolvidas, com flancos

menos ossificados, o que

gera mais valor no comércio

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

37


de peles. Outra característica marcante da espécie são

os seus dentes expostos, pois a mandíbula possui manchas

pretas e os dentes podem se projetar para cima,

ultrapassando o maxilar superior, ficando visíveis. O que

gerou até o apelido de jacaré-de-piranha no Pantanal.

Cadeia produtiva

e processamento

Diferente do que ocorre com a produção de outras

espécies animais, como por exemplo a tilápia, que

o filé é o principal objetivo de produzir essa espécie;

já o jacaré, a pele era transformada em couro, sendo

considerada o principal produto, comercializada em

cm 2 , enquanto a carne um coproduto obtido através

da exploração deste animal. Entretanto, nos últimos

anos devido ao valor nutricional e ao interesse econômico

demonstrado pelas indústrias e consumidores em

relação a essa proteína animal, atualmente a carne é

considerada um produto de interesse igualitário a pele

dentro da jacaricultura. Pois, no Brasil tem-se notado o

aumento no consumo de carnes de animais não convencionais

como o avestruz, capivara, jacaré, javali e

tartaruga. Contudo, as carnes de animais silvestres ofertadas

aos consumidores, devem ser provenientes de

criadouros e abatedouros autorizados pelo IBAMA e

regulamentadas por normas de qualidade da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e por órgãos

de fiscalização sanitária, como o Serviço de Inspeção

federal (SIF), relacionados com a qualidade desse tipo

de alimento. Um exemplo de criadouro e unidade de

processamento de jacarés que atende a todas as certificações

citadas é a empresa Caimasul, localizada em

Corumbá-MS.

Figura 1. Cadeia produtiva do jacaré do Pantanal. © Caimasul (2021).

ABR/JUN 2021

Figura 2. Procedimentos de abate para o jacaré do Pantanal. © Caimasul, 2021

Legenda: A - Parte externa do abatedouro para recepção e jejum dos animais. No momento que antecede ao

abate são submetidos a uma lavagem de aspersão antes de entrar na linha de processamento;

B – tanque de sanitização dos animais pré-abate;

C – Pistola modelo Zilka utilizada na insensibilização dos animais;

D – Linha de abate iniciando o corte Hornback da pele;

E – Esfola do animal;

F – Carcaças de jacarés do Pantanal na câmara de resfriamento.

38

PARCEIROS NA 23° ED:


ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

39


ABR/JUN 2021

Produtos obtidos

a partir do Jacaré do Pantanal:

a) Couro

Como já foi dito anteriormente a obtenção da pele

do jacaré para a produção de couro é um dos principais

interesses econômicos da jacaricultura, porém, a

pele desses animais possui características que ao mesmo

tempo em que proporcionam um couro único,

também, dificultam o seu processo de curtimento. A

pele dos jacarés é composta por uma rede interligada

de placas osteodérmicas de diversas formas e tamanhos,

sendo que na superfície ventral essas placas são

quadradas e planas, já as placas do flanco e do pescoço

são arredondadas e possui um centro em relevo, ao

longo da cauda essas placas possuem uma elevação

bem acentuada (Figura 4).

O padrão de corte utilizado na produção de couros

depende da exigência do comprador. Há dois tipos de

corte utilizados pela indústria, os cortes Belly e Hornback.

O corte Hornback é obtido pela incisão na linha

média ventral, estendendo-se nas regiões do pescoço,

tronco e cauda, mantendo na íntegra a pele do dorso.

No corte Belly, a incisão é feita na linha média dorsal,

estendendo-se da região cervical até a extremidade

da cauda, preservando a integridade da pele na região

ventral do animal, como mostra a figura 5.

A tecnologia empregada para o curtimento é conhecida,

porém existem particularidades em específico

para essa espécie de pele, principalmente em relação

as placas osteodérmicas.

Dentro do curtume ela é dessalgada e submetida

ao processo de curtimento. De acordo com Jacinto

(1995), na etapa do remolho e caleiro é extraída a

queratina. No caleiro, são adicionados produtos alcalinos

como a cal e carbonato de sódio, atingindo um pH

acima de 12, onde proporciona a abertura da estrutura

fibrosa, com intumescimento de toda a pele (Souza,

2004). O pH é reduzido de 12 para 8,5 num processo

de lavagens sucessivas e desencalagem com sais

ácidos (sulfato de amônia e kalplex® ou Dekalon®).

Em seguida, a pele é submetida a etapa de purga com

enzima proteolítica, por 60 minutos. Nova solução de

desencalagem é realizada para reduzir ainda mais o

pH, para 7,0 e realizada várias lavagens de desengraxe,

Figura 4. Couro de jacaré do Pantanal evidenciando a presença de

placas osteodérmicas. © Autor

Figura 5. Padrões de corte da pele de jacaré do Pantanal. a) Pele crua

em corte Belly; b) Pele curtida em corte Hornback © Autor

40

PARCEIROS NA 23° ED:


com uso de tensoativo neutro, para remoção de gorduras

naturais da pele. Em seguida as peles são colocadas

no piquel, cuja água deve conter um baumé 3,0 (grau de

salinidade de água) e depois adicionado o ácido clorídrico,

para que o pH permaneça o mais ácido possível (pH

=1 a 2), por um período de tempo correspondente a

descalcinação dos osteodermos (remover as células de

tecido ósseo que existem na derme da pele do animal).

Após, a pele estando maleável, acrescenta-se sal de cromo

para o curtimento, ou corrige-se o pH para atingir

pH 4,0 e adicionar o tanino vegetal. Neste momento

a pele se transforma num material putrescível em imputrescível,

sendo considerado a partir dessa etapa de

couro. De preferência 24 a 48h do curtimento, faz-se a

neutralização com bicarbonato de sódio para atingir um

pH 5,5 a 6,5, seguido do recurtimento, sendo este realizado,

principalmente, com taninos vegetais ou sintéticos.

Nesta etapa, também pode ser realizado o tingimento

com cores diversas, conforme a especificação do comprador.

A pele de jacaré necessita em torno de 20 a 30

dias de processo, em função do tamanho (animal) da

pele e calcificação (presença dos osteodermos).

O couro após o curtimento apresenta uma espessura

variando de 1,57 a 2,47 mm, para animais abatidos na faixa

de 4,5 a 6 kg. Esta variação na espessura se deve principalmente

pelas diferenças existentes entre as espessuras

nas diferentes regiões das peles dos jacarés. Ao avaliar

a qualidade do couro de jacaré do pantanal, quanto à tração,

elasticidade e rasgamento progressivo, testes estes

normalmente realizados para determinar a qualidade

de resistência do couro, observam-se também diferenças

entre as regiões do couro analisadas (Tabela 1).

Independentemente das variações nas resistências

a tração, alongamento e ao rasgo, existentes nas regiões

do couro de jacaré do pantanal ele pode ser utilizado

para confecção de vestuário. De acordo com

as exigências de qualidade para couro de vestimenta

(estabelecidas pela Comissão de Especificações

dos Institutos de Couro do Ceará) para a resistência

à tensão ou tração deve ser de 12 N/mm 2 (IUP6/

DIN 53328) e rasgamento de 15 N/mm (IUP8/DIN

53329). Já existe referência que menciona que o couro

deve ter no mínimo 9,80 N/mm 2 de resistência à

tração para ser utilizada para confecção de vestuário

(Hoinacki, 1989). No entanto, os couros são mais

destinados a confecção de bolsas, carteiras, cintos,

sapatos e chaveiros com os retalhos.

Financeiramente é difícil mensurar o valor de um

artigo produzido utilizando o couro de crocodilianos.

Entretanto, sabe-se que produtos feitos com couro

de jacaré, por ser considerado um couro exótico,

possuem um alto valor agregado, mas a escassez de

pesquisas e literatura que determinam a sua qualidade

e resistência prejudica a padronização deste material.

Também, podem ocorrer problemas durante o seu

crescimento dentro do criatório, em especial na superfície

do couro, prejudicando a sua qualidade final

para comercialização (Figura 6).

Tabela 1. Tração, alongamento e rasgamento progressivo de diferentes regiões do couro de jacaré do Pantanal.

Região do couro Espessura (mm) Tração (N/mm²) Alongamento (%) Rasgo (N/mm)

Anterior 1,94±0,08 14,68±5,29 44,42±9,97 76,55±11,18

Dorsal 2,47±0,45 14,94±4,45 30,00±4,45 63,76±1,61

Caudal 2,25±0,23 16,45±2,94 31,50±2,95 65,23±0,14

Ventral 1,57±0,45 16,37±3,02 25,67±8,78 69,78±4,41

Patas 1,89±0,13 12,69±3,30 37,87±3,42 53,60±11,77

ABR/JUN 2021

Figura 6. Couro de jacaré do Pantanal com defeitos. © Autor

PARCEIROS NA 23° ED:

41


b) Carne

A carne de jacaré do Pantanal é uma ótima fonte

de proteína de origem animal por possuir alto valor

biológico, alta digestibilidade, baixos valores de colesterol,

além de demonstrar potencial tecnológico

para a produção de derivados como embutidos ou

reestruturados (Romanelli et al., 2002; Vicente Neto

et al., 2007; Fernandes et al. 2014).

O corte com maior interesse econômico é o filé

de cauda. Entretanto, há relatos de estudos envolvendo

a qualidade de outros cortes, como filé de

dorso, lombo e as coxas, mostrando que a composição

química da carne varia, com teores de umidade

entre 71,02 a 76,77%, teores de proteína bruta de

20,80 a 24,37 %, lipídios totais de 0,29 a 2,40% e

matéria mineral de 0,58 a 1,40% (Fernandes et al.,

2017; Rodrigues et al., 2007; Vicente Neto et al.,

2007).

Os cinco cortes comerciais da carcaça de jacarés,

realizados na Empresa Caimasul, durante a desossa e

analisados na Universidade Estadual de Maringá, no

departamento de Zootecnia, apresentam teores de

gordura e minerais diferentes em relação aos cortes.

Por exemplo, o filé de cauda apresentou o maior

teor de gordura e o menor teor de minerais, já o

filé de lombo ocorreu o contrário, apresentando o

maior teor de minerais e menor teor de gordura. Pode-se

observar que a carne de jacaré apresenta elevado

teor de proteína e baixíssimo teor de gordura.

Os teores de umidade, proteína, gordura e minerais

de todos os principais cortes comerciais de jacaré do

Pantanal podem ser observados na Tabela 2.

Os cortes comerciais apresentam diferentes rendimentos

quando comparados entre si (Tabela 3).

Um fator que pode alterar o rendimento de cada

corte é o peso em que o animal é abatido, há uma

tendência de que animais com maiores pesos vivos

ao abate gerarem maiores rendimentos de carcaça,

consequentemente de filés de cauda, lombo e coxas,

como mostra a Figura 8.

Assim como acontece com a produção de outras

espécies animais, o beneficiamento do jacaré permite

também a produção de diversos produtos cárneos

como embutidos, reestruturados, empanados, conservas,

defumados ou até mesmo produtos da carne

propriamente dita apenas temperada (Fernandes et

al., 2013; Paulino et al., 2011; Azevedo et al., 2009;

Carmo et al., 2009). O desenvolvimento destes produtos

agrega mais valor a carne e otimiza a utilização

de partes como aparas, iscas e retalhos, que ficariam

obsoletos durante o processamento do jacaré.

Figura 7. Alguns dos cortes realizados durante a desossa do jacaré do Pantanal na empresa Caimasul (Corumbá, MS).

© Caimasul

ABR/JUN 2021

42

PARCEIROS NA 23° ED:


Tabela 2. Valor nutricional dos principais cortes de jacaré do Pantanal.

Cortes

comerciais

Teores nutricionais (%)

Umidade Proteína Bruta Lipídeos Minerais

Filé de cauda 73,99±0,15 23,85±0,20 0,49±0,13 0,56±0,23

Filé de dorso 74,66±0,52 23,54±0,11 0,41±0,05 0,85±0,05

Filé de lombo 73,17±0,97 23,57±0,08 0,25±0,11 1,00±0,21

Filé mignon 74,95±0,19 23,38±0,27 0,33±0,03 0,73±0,06

Coxas 74,93±0,79 23,90±0,25 0,33±0,03 0,83±0,04

Tabela 3. Rendimentos de carcaça e cortes comerciais de jacaré do pantanal em diferentes categorias de peso vivo ao abate.

Rendimento

carcaça (%)

Categoria de peso vivo ao abate (kg)

39,82±4,29 43,47±0,64 46,43±2,32 46,72±2,61

1 (<1,5) 2 (1,501 a 2,5) 3 (2,501 a 3,5) 4 (>3,501)

Filé de cauda 6,01±1,54 7,24±0,31 8,40±0,85 8,55±1,00

Filé de dorso 2,08±0,23 2,41±0,10 2,46±0,15 2,28±0,03

Filé de lombo 3,93±0,69 4,44±0,18 5,07±0,45 5,05±0,43

Filé mignon 1,49±0,01 1,54±0,04 1,51±0,01 1,47±0,03

Coxas 4,55±0,53 4,95±0,13 5,27±0,19 5,57±0,49

Figura 8. Rendimentos de carcaça, filés de cauda, lombo e coxas de jacaré

do pantanal em função das diferentes categorias de peso vivo ao abate.

Rendimento (%)

50

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0

Carcaça

Filé de

cauda

Filé de

lombo

Categoria de peso ao

abate (kg)

1 (<1,5)

2 (1,501 a 2,5)

3 (2,501 a 3,5)

4 (>3,501)

Coxas

Conclusão

A criação de jacaré do Pantanal, em

determinadas regiões do Brasil, é uma atividade

regulamentada e que pode gerar

um alto retorno econômico, principalmente

pelos produtos que ela promove.

Entretanto, ainda faltam pesquisas que

padronizem os produtos já existentes.

Os poucos trabalhos já realizados relacionados

com os produtos gerados com

a criação do jacaré do Pantanal, deixam

claro, que este animal possui um grande

potencial para a sua exploração comercial,

ao mesmo tempo em que proporciona o

uso sustentável da fauna, garantindo a manutenção

da biodiversidade e contribuindo

para a sua conservação.

Consulte as referências bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/artigos

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

43


ABR/JUN 2021

44

PARCEIROS NA 23° ED:


Informações práticas sobre os

anestésicos mais comuns na

aquicultura

Eduardo da Silva*, Gabriel Deschamps, Adolfo Jatobá, Carlize Lopes e Robilson

Antonio Weber

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense

Laboratório de Aquicultura

Araquari, SC

*eduardo.silva.pr.em@gmail.com

O

perfil dos consumidores tem se alterado ao

longo dos últimos 10 anos e com isso os

empresários precisam se adaptar para permanecerem

no mercado (Fernandes

e Vieira, 2021). Segundo

Siqueira (2019), a maior parte da

população brasileira, assim como

Além da importância

de preservar o bemestar

animal para

suprir as exigências do

mercado consumidor, é

importante salvaguardar

a saúde dos peixes

diante de eventos

adversos.

a mundial, é formada por consumidores

das Gerações Y e Z,

que além de outras características,

são os que mais estão preocupados

com a sustentabilidade

ao comprarem um produto.

Além disso, atualmente, existe

uma preocupação crescente por

parte dos pesquisadores, e da

população como um todo, com

relação ao bem-estar animal

(Gonçalves e Giaquinto, 2020).

Além da importância de preservar

o bem-estar animal para

suprir as exigências do mercado

consumidor, é importante

salvaguardar a saúde dos peixes

diante de eventos adversos

(Pounder et al., 2018), pois eventos estressantes nos

peixes ativam o eixo hipotálamo-hipófise-interrenal

que induzem a liberação de corticosteroides, entre

eles o cortisol, (principal hormônio utilizado para

avaliação de estresse agudo em peixes) que desencadeiam

uma série de respostas fisiológicas e adaptativas

(Sadoul e Geffroy, 2019). Uma dessas respostas

é a mobilização de reservas energéticas por meio da

glicólise e gliconeogênese (Sadoul

e Vijayan, 2016). Ou seja, o peixe

deixa de utilizar energia para crescer

e a direciona para enfrentar

o evento estressante, no caso de

um cultivo comercial, diminuindo

o desempenho dos animais.

Na aquicultura, os peixes podem

ser submetidos à vários manejos

que vão desde pesagem,

vacinação, transporte, e até procedimentos

mais invasivos e dolorosos

como cirurgias (Priborsky e Velisek,

2018). Esses manejos, muitas

vezes são de rotina e essenciais

(Ribeiro et al., 2018). Entretanto,

causam estresse aos animais (Medeiros

Júnior et al., 2019). Nesses

momentos, a utilização de anestésicos

pode ser necessária (Priborsky

e Velisek, 2018) para reduzir

o estresse (Medeiros Júnior et al.,

2019). A técnica mais utilizada para induzir anestesia em

peixes é através do banho de imersão (diluir o anestésico

na água). Este é inalado através das brânquias, se

difunde na corrente sanguínea, chegando ao sistema

nervoso central (Ross e Ross, 2008; Martins et al., 2018)

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

45


ABR/JUN 2021

Neste contexto, o uso da anestesia em peixes tem

se tornado cada vez mais essencial (Gonçalves e Giaquinto,

2020). Entretanto, é fundamental ter conhecimento

do produto utilizado e seus efeitos fisiológicos

e comportamentais, uma vez que a exposição à alguns

fármacos podem também causar estresse e efeitos adversos

(Pounder et al., 2018). É importante ressaltar

que fatores relacionados ao ambiente (temperatura,

pH, salinidade e oxigênio dissolvido na água) e ao animal

(espécie, peso e fase reprodutiva) também devem

ser levados em consideração, pois interferem no tempo

de indução e recuperação dos animais (Priborsky e

Velisek, 2018). Diante do presente cenário, torna-se

importante/necessário conhecer os principais anestésicos

utilizados, juntamente com informações práticas

para uso na piscicultura comercial e/ou aquarismo.

Principais

anestésicos

utilizados em peixes

Pesquisas com diferentes anestésicos testando suas

concentrações, efeitos fisiológicos e utilização em diversas

situações de manejos, constituem um tema

muito atual e recorrente (Honorato et al., 2021; Rucinque

et al., 2021; Teixeira et al., 2021; Wang et al.,

2021; Zahran et al., 2021). Entre eles, destacamos

quatro anestésicos utilizados na aquicultura: 2-Fenóxietanol

(Pounder et al., 2018; da Silva et al., 2019;

Rucinque et al., 2021; da Silva et al., in press), Benzocaína

(Pounder et al., 2018; Ribeiro et al., 2018;

Romaneli et al., 2018; Medeiros Júnior et al., 2019;

Ferreira et al., 2020; Gonçalves e Giaquinto, 2020),

Eugenol (Pounder et al., 2018; Ribeiro et al., 2018;

Romaneli et al., 2018; Corso et al., 2019; Yousefi et

al., 2019; Honorato et al., 2021; Wang et al., 2021;

Zahran et al., 2021) e Metanossulfonato de tricaína

(Pounder et al., 2018; Ouyang et al., 2020; Yu et al.,

2020; Honorato et al., 2021; Teixeira et al., 2021).

1. Fenoxietanol

Este anestésico, mais conhecido pela abreviação

do inglês, 2-Phe (2-Phenoxyethanol), é um líquido

moderadamente oleoso, aromático e incolor (Barata

et al., 2016). Além da anestesia, o 2-Phe exerce efeito

analgésico (Grasshoff et al., 2006). Também possui

propriedades bactericidas e fungicidas que fazem do

2-Phe muito útil para cirurgias (Ross e Ross, 2008).

Recentemente, o 2-Phe teve sua utilização avaliada

em Oreochromis niloticus (Rucinque et al.,

2021), Oncorhynchus mykiss (Pounder et al., 2018),

Rhamdia quelen (da Silva et al., in press) e Astyanax

bimaculatus (da Silva et al., 2019). Sendo que nos

três primeiros trabalhos, o cortisol foi mensurado.

Concentrações de 200 - 600 µL/L de 2-Phe são

suficientes para anestesiar Astyanax bimaculatus pesando

4,41 ± 0,85 g em 155 - 45 segundos, respectivamente

(da Silva et al., 2019). Para Oreochromis

niloticus de 224,05 ± 67,56 g é necessária uma concentração

de 1000 µL/L do anestésico para indução

em 150 segundos (Rucinque et al., 2021). Em Oncorhynchus

mykiss (47,61 ± 2,79 g), a concentração

utilizada foi maior (6000 µL/L), porém com menor

tempo de indução, 76 segundos (Pounder et al., 2018).

O Rhamdia quelen (126,47 ± 41,14 g) necessitou de

uma concentração de apenas 700 µL/L para ser anestesiado

em 180 segundos (da Silva et al., in press).

No experimento com Oreochromis niloticus, o

nível de cortisol do grupo anestesiado com 2-Phe

foi igual ao grupo dos animais expostos ao etanol

(Rucinque et al., 2021). Enquanto no Oncorhynchus

mykiss (Pounder et al., 2018) e Rhamdia quelen

(da Silva et al., in press) anestesiados com 2-Phe

mantiveram os níveis cortisol igual ao nível basal.

A exposição ao anestésico em altas concentrações

e/ou por muito tempo pode eutanasiar os animais. A

mesma concentração utilizada para anestesiar Oreochromis

niloticus (6000 µL/L) em 76 segundos foi responsável

pela eutanásia dos animais quando expostos durante

235 segundos (Rucinque et al., 2021).

Informações de Segurança

ao Manipulador: O

fenoxietanol é nocivo se ingerido,

inalado ou em contato com a pele e

irritante severo para olhos e pele (Ross

e Ross, 2008). Em caso de contato,

lavar imediatamente com água em

abundância (Ross e Ross, 2008).

46

PARCEIROS NA 23° ED:


2. Benzocaína

A benzocaína é um composto branco,

inodoro e insípido (Purbosari et al.,

2019). É quase totalmente insolúvel

em água, portanto, para facilitar sua

solubilização, deve ser primeiro dissolvido

em acetona ou etanol (Ross e

Ross, 2008). Teve, recentemente, seu

uso avaliado em Aulonocara nyassae

(Ferreira et al., 2020), Oncorhynchus

mykiss (Pounder et al., 2018), Oreochromis

niloticus (Gonçalves e Giaquinto,

2020), Prochilodus lineatus (Medeiros

Júnior et al., 2019), Lophiosilurus alexandri

(Ribeiro et al., 2018) e Pterophyllum

scalare (Romaneli et al., 2018).

Ferreira et al. (2020) avaliaram a

benzocaína em diferentes tamanhos

de Aulonocara nyassae, concluíram

que para exemplares de 0,74 ± 0,31

g, uma rápida indução anestésica (42

segundos) era obtida com a concentração

de 108 mg/L, enquanto que

exemplares maiores (3,80 ± 0,92 g)

submetidos à 113 mg/L levavam de

48 a 76 segundos para a anestesia. Em

Oncorhynchus mykiss (47,61 ± 2,79 g),

a concentração de 150 mg/L foi capaz

de induzir os animais à anestesia em

87 segundos (Pounder et al., 2018). Já

com 80 mg/L de benzocaína é possível

anestesiar Oreochromis niloticus (22,85

± 2,57 g) em 266 segundos (Gonçalves

e Giaquinto, 2020). Para

Prochilodus lineatus

(4,70 ± 1,60 g), 50

mg/L causam anestesia

profunda em 151

segundos e em 296

segundos é recomendado

para intervenções cirúrgicas

(Medeiros Júnior

et al., 2019). Para anestesia de

Lophiosilurus alexandri (214,87 ±

75,83 g), pode-se utilizar 60 -

120 mg/L de benzocaína (175 -

107 segundos, respectivamente)

(Ribeiro et al., 2018). Para

Pterophyllum scalare (16,45

± 1,75 g), 89,25 mg/L de

benzocaína são necessários

para induzir os animais à

anestesia em 103 segundos

(Romaneli et al., 2018).

Em Oncorhynchus mykiss

a benzocaína evitou o estresse

e manteve o cortisol

nos níveis basais, além disso,

pode ser utilizada para

causar a eutanásia se a

exposição à 150 mg/L

continuar por 177

segundos (Pounder

et al., 2018). E a

anestesia com

benzocaína em

Lophiosilurus alexandri

não causa

alterações hemato-

-bioquímicas prejudiciais

à fisiologia dos animais

(Ribeiro et al., 2018).

Informações de Segurança

ao Manipulador: A

benzocaína é perigosa se ingerida

e irritante para os olhos, pele e

sistema respiratório (Ross e Ross,

2008).

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

47


ABR/JUN 2021

3. Eugenol

Existe uma preocupação que o uso

de anestésicos sintéticos cause danos

aos animais, pessoas e até mesmo ao

ambiente e isso tem feito do óleo de

cravo e o eugenol, os anestésicos derivados

de plantas mais utilizados na

aquicultura (Aydin e Barbas, 2020). O

eugenol é um composto natural extraído

do cravo-da-índia e comumente

comercializado (Honorato et al., 2021).

Acredita-se que o eugenol bloqueia a

transmissão de informações sensoriais

ao hipotálamo (Corso et al., 2019).

O eugenol causou uma rápida indução

anestésica em Pterophyllum scalare

(16,45 ± 1,75 g) em 79 segundos

(Romaneli et al., 2018) e em Geophagus

brasiliensis (4,30 ± 1,22 g) em 60

segundos (Honorato et al., 2021) com

90,6 e 217 mg/L, respectivamente. Entretanto,

em concentrações mais baixas,

30 mg/L, o eugenol levou 345 segundos

para anestesiar Oreochromis niloticus

(35,00 ± 2,30 g) (Zahran et al., 2021).

A relação inversa entre concentração e

tempo de indução do eugenol ficou claro

no Ictalurus punctatus (135,30 ± 6,20

g), anestesiado com concentrações que

variaram de 30 a 100 mg/L, cujos tempos

de indução foram respectivamente

1086 e 96 segundos (Wang et al., 2021).

Concentrações medianas (80 - 160

mg/L) induziram a anestesia

de Lophiosilurus

alexandri (171,59 ±

37,87 g) em tempos

que variam entre 130

e 79 segundos, respectivamente

(Ribeiro et

al., 2018). Em Prochilodus

nigricans (221,34

± 9,00 g), 50 mg/L

causa indução anestésica

em 163 segundos

(Viegas et al., 2020).

Para Oncorhynchus

mykiss (47,61 ± 2,79

g), 200 mg/L de eugenol

é capaz de induzir a anestesia em

86 segundos (Pounder et al., 2018).

O eugenol foi capaz de reduzir o

cortisol em Cyprinus carpio (110,00 ±

5,65 g) submetida à 5 min em banho

anestésico com 43 mg/L (Yousefi et al.,

2019) e em Ictalurus punctatus submetido

à 5 h de transporte (Wang et al.,

2021). Além disso, evitou o aumento do

cortisol em Oncorhynchus mykiss (Pounder

et al., 2018). Em Rhamdia quelen

(500,00 ± 10,00 g) submetido à 30, 40

e 50 mg/L, não foi observada diferença

no cortisol quando comparado ao grupo

controle (Corso et al., 2019). Enquanto

que em Oreochromis niloticus, o cortisol

do grupo anestesiado foi maior que o

grupo controle (Zahran et al., 2021).

As concentrações de 30, 40 e 50

mg/L utilizadas em reprodutores machos

de Rhamdia quelen não altera a

qualidade seminal em sêmen fresco

(Corso et al., 2019). Em espécimes de

Lophiosilurus alexandri, o eugenol não

causou alterações hemato-bioquímicas

prejudiciais à fisiologia dos animais

(Ribeiro et al., 2018). E em Prochilodus

nigricans manteve a glicose em níveis

basais além de garantir a boa saúde das

brânquias (Viegas et al., 2020). Entretanto,

induz a eutanásia de Oncorhynchus

mykiss quando expostos por 168

segundos em 200 mg/L de eugenol.

Informações de Segurança

ao Manipulador: Substâncias

muito semelhantes ao eugenol

são nocivas se ingeridas, inaladas

ou absorvidas pela pele, além de

irritante para os olhos, pele e sistema

respiratório (Ross e Ross, 2008). Ross

e Ross (2008), acreditam que deve-se

minimizar o contato direto com essas

substâncias.

48

PARCEIROS NA 23° ED:


4. Metanossulfonato de tricaína

Mais conhecido como MS-222, apresenta-se como

um pó cristalino branco (Purbosari et al., 2019). É bastante

solúvel em água (Ross e Ross, 2008). Após o

preparo da solução-mãe pode ser mantido, quando

bem conservado, por até três meses, mas eventualmente,

pode desenvolver coloração e perder a potência

do produto (Ross e Ross, 2008). É um dos anestésicos

mais utilizados no mundo com notáveis tempos

de indução e recuperação (Priborsky e Velisek, 2018).

Oncorhynchus mykiss (47,61 ± 2,79 g), quando submetida

à 200 mg/L de MS-222, levam, aproximadamente,

91 segundos para a anestesia, porém, se continuarem

expostos por 277 segundos, serão eutanasiados (Pounder

et al., 2018). Em Geophagus brasiliensis (4,30 ± 1,22 g), a

anestesia em 60 segundos se dá com a concentração de

394 mg/L (Honorato et al., 2021). Para Symphysodon aequifasciatus

(34,27 ± 4,46 g), concentrações que variam

entre 95 - 105 mg/L podem induzir a anestesia em 152

– 132 segundos, respectivamente (Ouyang et al., 2020).

A indução anestésica de Pampus argenteus (11,20 ± 1,50

g) se dá em 168 segundos com 75 mg/L (Yu et al., 2020).

E Rhamdia quelen (363,00 ± 71,20), com concentrações

entre 100 - 300 mg/L causam a anestesia, respectivamente

em 283 - 30 segundos (Teixeira et al., 2021).

Informações de Segurança

ao Manipulador: O MS-222 é

nocivo se ingerido, inalado ou absorvido

pela pele e irritante para olhos, pele

e sistema respiratório (Ross e Ross,

2008).

O MS-222 evitou o aumento das concentrações de

cortisol em Oncorhynchus mykiss (Pounder et al., 2018)

e Symphysodon aequifasciatus (Ouyang et al., 2020),

mantendo os valores semelhantes aos níveis basais.

Em Pampus argenteus, não evitou o aumento dos níveis

de cortisol quando comparado aos níveis basais,

entretanto evitou o incremento deste quando comparado

à indivíduos submetidos à estresse (Yu et al.,

2020). Em Rhamdia quelen manteve o cortisol semelhante

ao grupo controle, mas este grupo havia sido estressado

para os procedimentos (Teixeira et al., 2021).

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

49


ABR/JUN 2021

Considerações

O tipo de manejo,

finais

tempo de exposição/

indução e concentração

são fatores

determinantes para a

escolha do anestésico.

O tipo de manejo, tempo de exposição/indução

e concentração são

fatores determinantes para a escolha

do anestésico, assim como as alterações

hematológicas, bioquímicas

e histológicas. Faz-se necessário uso

de anestésicos, principalmente para

manejos mais invasivos, não apenas

para cumprir as normas de bem-estar,

mas também evitar acidentes e

perdas econômicas desnecessárias.

Não existe um produto perfeito

com uma concentração ideal aplicável

à todas as espécies, tamanhos e

estágios de vida. Entretanto, vários

fármacos/produtos podem ser utilizados

para produzir anestesia em peixes,

mas para a escolha de qual utilizar

deve-se observar, além das particularidades

de cada produto, os fatores

relacionados ao ambiente (temperatura,

pH, salinidade e oxigênio dissolvido

na água) e ao animal (espécie,

peso e fase reprodutiva). Todos estes

fatores influenciam na anestesia e devem

ser levados em consideração.

Ao manipular os anestésicos, o uso

de equipamentos de proteção individual,

principalmente luvas e óculos de

proteção são imprescindíveis. Desta

forma, evita-se acidentes que causem

algum dano ao manipulador.

Consulte as referências

bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/artigos

50

PARCEIROS NA 23° ED:


ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

51


© Aquaculture Brasil

ABR/JUN 2021

52

PARCEIROS NA 23° ED:


Produção de Litopenaeus

vannamei em sistema de

bioflocos com uso de tecnologia

de consórcio probiótico

Amanda Favetta, Caio H. N. Ferreira, Fabrício M. Dutra e Eduardo L. C.

Ballester*

Universidade Federal do Paraná - UFPR

Departamento de Aquicultura

Maripá, PR

*elcballester@yahoo.com.br

O

camarão-branco-do-pacífico, Litopenaeus

vannamei, é o crustáceo mais produzido

no mundo, representando

52,9% dessa produção

(FAO, 2020). A partir das últimas

duas décadas, o aumento da demanda

por alimento, a crescente

escassez de água, a ocorrência de

doenças e a preocupação com o

meio ambiente, tem levado a produção

de camarão a se intensificar

e o sistema de bioflocos - BFT –

Biofloc Technology tem sido empregado

como uma alternativa (Zhang

et al., 2017; Kumar et al., 2020;

Xu et al., 2021). Os microrganismos

presentes nos bioflocos mantém

o equilíbrio da qualidade de

água por meio da ciclagem de nutrientes

para formação da sua biomassa

(Emerenciano et al., 2017).

Nesses sistemas, as maiores

densidades de estocagem empregadas,

tornam mais complexo manter o equilíbrio das

comunidades microbianas presentes (Da Silveira et

al., 2020). A utilização de probióticos, como suplementos

microbianos, tem sido avaliada para este tipo

de sistema com o objetivo de manipular a composição

destas comunidades. Além disso,

os probióticos promovem

vários benefícios aos camarões

que refletem em ganhos

de desempenho zootécnico

(Adel et al., 2017; Amoah et

al, 2019). Diversos trabalhos

tem explorado estes benefícios,

seja com o uso de um

único organismo probiótico

seja com o uso de diversos organismos

probióticos em conjunto

(De Souza et al, 2012).

A Tecnologia do Consorcio

Probiótico (TCP) é uma

tecnologia inovadora que tem

como base o princípio cientifico

dos Microbiomas Projetados

Ativos. Isso significa dizer

que utilizamos microrganismos

(bactérias e leveduras) que, nas

proporções e meios adequados, constituem um ambiente

simbiótico que irão operar de forma suportar

e proteger ambientes produtivos. Por meio de in-

Os microrganismos

presentes nos bioflocos

mantém o equilíbrio

da qualidade de água

por meio da ciclagem

de nutrientes para

formação da sua

biomassa.


terações desse sistema, internas e externas, são formados

os pós-bióticos primários e secundários, que

por sua vez possuem ações diretas no meio, como

por exemplo, mineralização de matéria orgânica,

disponibilização de nutrientes, ação anti-microbiana

(antagonizando elementos patogênicos) entre outras.

Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho

foi avaliar o efeito do produto Bio O 2

Camarão®,

com base na tecnologia de consórcio probiótico

(Global Saúde®), sobre a atividade enzimática

digestiva e desempenho zootécnico de juvenis de

Litopenaeus vannamei, durante a fase inicial de engorda,

produzidos em sistema de bioflocos - BFT.

Material e

métodos

A avaliação do Bio O 2

Camarão® foi realizada

no Laboratório de Carcinicultura, Núcleo

de Pesquisa e Desenvolvimento em Aquicultura

Sustentável da Universidade Federal do

Paraná (UFPR), Maripá - PR, durante 32 dias (Figura 1).

O produto é composto por uma combinação de

microrganismos, contendo bactérias ácido lácticas,

leveduras, Bacillus subtilis, Bifidobacterium animalis,

Lactobacillus casei - subespécie rhamnosus, Saccharomyces

cerevisiae, e outras 13 espécies de bactérias

utilizadas no processo de propagação da TCP.

O delineamento experimental foi inteiramente

casualizado, com quatro tratamentos (Tabela 1,

Figura 2) e quatro repetições. Foram estocados

35 camarões por unidade experimental (aproximadamente

160 camarões/m 3 ) com peso médio

de 3,15±0,53g e comprimento total médio de

7,80±0,54cm. Os camarões foram alojados em

tanques circulares de polietileno com 220L de volume

útil, dispostos em uma estufa, em sistema estático

de bioflocos com aeração forçada (Figura 3).

As rações comerciais Guabitech Inicial J ® e

GuabiTech Active 1.6® foram ofertadas de acordo

com a recomendação para a fase de desenvolvimento.

Cada unidade experimental recebeu

7,5g de ração por dia, fracionada em cinco alimentações.

A taxa de arraçoamento foi calculada pro-

Figura 1. Laboratório de Carcinicultura - Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Aquicultura Sustentável NPDA - UFPR Maripá- PR. © autor,

2011

ABR/JUN 2021

54

PARCEIROS NA 23° ED:


Descrição dos tratamentos quanto a dosagem e frequência

de administração na água e inclusão na alimentação.

Tabela 1.

Tratamento

Dose

Probiótico na água

Frequência

Probiótico na alimentação

T1 (controle) Sem probiótico - Sem probiótico

T2 50 mL / 100.000 L (0,5 ppm*) 3 aplicações / semana 3 mL kg -1 de ração

T3 100 mL / 100.000 L (1 ppm) 3 aplicações / semana 3 mL kg -1 de ração

T4 100 mL / 100.000 L (1 ppm) 7 aplicações / semana Sem probiótico

Nota: * ppm: partes por milhão

Disposição das unidades experimentais na estufa

Figura 2.

Porta da estufa

Cortina lateral

T4 T3 T1 T2 T3 T4 T2 T1

T2 T1 T3 T4 T1 T2 T3 T4

jetando um crescimento de 1g por semana e conversão

alimentar de 1,5:1, fornecendo a mesma

quantidade durante toda a duração do experimento.

Ao longo do experimento foram monitoradas as

seguintes variáveis de qualidade de água: temperatura,

oxigênio dissolvido, pH, salinidade, dureza, alcalinidade,

amônia total, nitrito, sólidos suspensos totais (SST)

(Apha, 2005), sólidos sedimentáveis (SS) (Avnimelech,

2009). O monitoramento de Vibrio foi realizado em

amostras de água, no 1 o , 15 o e 31 o dia e no hepatopâncreas

dos camarões ao final do experimento. O

plaqueamento e contagem de unidades formadoras

de colônia (UFCs) foi realizado no Núcleo Experimental

de Micologia Aplicada (NEMA), UFPR, Palotina.

Ao final do experimento todos os animais foram contabilizados,

pesados e medidos para determinar peso

médio final (PF), comprimento médio final (CF), ganho

de peso (GP), sobrevivência (S), biomassa final (BF), ganho

de biomassa (GB), conversão alimentar aparente

(CAA), taxa de crescimento relativo diário peso (TCRP).

Também ao final do experimento foi avaliada a

atividade enzimática digestiva em hepatopâncreas

no Laboratório de Bioquímica e Genética na Universidade

Federal da Fronteira Sul onde foram analisados

os teores de amilase, lipase e quimotripsina.

Todas as variáveis passaram pela verificação de

pressupostos de normalidade e homocedasticidade.

Os dados de UFC de Vibrio em água e lipase passaram

por transformação logarítmica (log x). Os dados

foram submetidos a análise de variância (Anova)

uma via e, quando detectadas diferenças, ao teste

de comparação de médias de Tukey. Os valores de

SS foram submetidos a analise não paramétrica de

Kruskal-Wallis devido a não atenderem os pressupostos

de normalidade e homogeneidade. Para todos

os testes foi adotado nível de significância de 5%.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

55


Figura 3. Unidades experimentais em sistema de bioflocos. © autor 2021

ABR/JUN 2021

56

PARCEIROS NA 23° ED:


Resultados e

discussão

Não foram observadas diferenças significativas para

as variáveis de qualidade de água que permaneceram

dentro da faixa recomendada para a espécie, com exceção

do pH, que se manteve ligeiramente acima em

todos os tratamentos, no entanto, isso não afetou o

desempenho dos camarões (Van Wyk et al., 1999; Lin

e Chen, 2001; Lin e Chen, 2003). Não foram observadas

diferenças significativas nas concentrações de Vibrio

entre os tratamentos para água ou hepatopâncreas.

O uso do probiótico promoveu melhoras no

desempenho zootécnico dos camarões, com

maiores valores de biomassa final e ganho de biomassa,

e maior eficiência na conversão alimentar.

A ausência de algumas proteases, carboidrases e

lipases no trato digestivo dos animais limita a absorção

de nutrientes contidos nas macromoléculas, principalmente

de ingredientes de origem vegetal. Nesse

sentido, o uso de bactérias capazes de produzir

essas enzimas ou estimular a produção endógena,

pode tornar a alimentação mais eficiente (Olmos et

al., 2020; Ringo et al., 2020). Assim, neste estudo,

o aumento na atividade das enzimas observado nos

tratamentos com uso de probiótico refletiu na melhoria

de desempenho mencionada anteriormente.

Essa afirmação pode ser sustentada com base nos

estudos de Zheng et al. (2018), no qual também observaram

melhora no crescimento relacionada a atividade

enzimática de L. vannamei, e Tsai et al. (2019)

que atribuíram um maior crescimento devido a uma

melhora na digestibilidade da dieta, associando essa

melhora ao incremento da atividade enzimática.

Estudos mostraram que os probióticos promovem

benefícios ao sistema imunológico (Roomiani

et al., 2018) composição da microbiota intestinal

(Fan e Li, 2019), morfologia do trato digestivo e atividade

enzimática digestiva, que juntos refletem em

incremento no desempenho zootécnico de camarões

(Amoah et al., 2019, De Souza et al, 2012).

A mistura de espécies num mesmo probiótico,

tecnologia utilizada no Bio O 2

Camarão®,

é mais eficiente do que o uso de espécies isoladas,

pois microrganismos com diferentes benefícios

agem de forma sinérgica melhorando o desenvolvimento

dos camarões (Wang et al., 2019).

Tabela 2. Atividade enzimática digestiva (quimotripsina, amilase e lipase) em hepatopâncreas e desempenho zootécnico de L.

vannamei produzidos em sistema de bioflocos. Biomassa final (BF), ganho de biomassa (GB), conversão alimentar aparente (CAA),

peso médio final (PF), comprimento médio final (CF), ganho de peso (GP), sobrevivência (S) e taxa de crescimento relativo diário

peso (TCRP).

Variável T1 T2 T3 T4

Quimotripsina 0,676 ± 0,057 b 0,651 ± 0,032 b 0,733 ± 0,051 a 0,752 ± 0,064 a

Amilase 9,08 ± 0,88 b 9,02 ± 1,12 b 10,36 ± 1,48 a 11,35 ± 1,16 a

Lipase 0,972 ± 0,154 c 0,971 ± 0,171 c 1,213 ± 0,411 b 1,659 ± 0,068 a

BF (g) 254,94 ± 2,81 b 278,02 ± 11,49 ab 288,29 ± 18,67 a 284,18 ± 10,15 ab

GB (g) 159,37 ± 2,95 b 173,31 ± 8,19 a 186,63 ± 8,09 a 177,43 ± 3,47 a

CAA (g) 1,41 ± 0,03 a 1,30 ± 0,06 ab 1,21 ± 0,05 b 1,27 ± 0,03 b

PF (g) 8,15 ± 0,32 8,10 ± 0,11 8,67 ± 0,35 8,16 ± 0,57

CF (cm) 10,77 ± 0,12 10,70 ± 0,17 10,93 ± 0,06 10,63 ± 0,25

GP (g) 5,10 ± 0,32 5,05 ± 0,11 5,62 ± 0,35 5,11 ± 0,57

S (%) 84,60 ± 4,13 92,70 ± 3,12 90,00 ± 9,49 94,50 ± 9,36

TCRP (%) 267,10 ± 10,60 265,46 ± 3,51 284,37 ± 1,52 267,43 ± 18,78

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

57


Figura 4.

Camarões no início do experimento (A.) e camarão

alimentado com probiótico (B.)

A.

ABR/JUN 2021

B.

Conclusão

Conforme observado no

estudo, e nas condições experimentais,

recomendamos administração

do TCP Bio O 2

Camarão®

diariamente, nas doses

de 100mL/100.000L em água e

3mL kg -1 de ração na dieta durante

a fase de engorda de L.

vannamei em sistema de bioflocos.

O uso do probiótico potencializou

os benefícios naturais do

biofloco, promovendo aumento

da atividade enzimática digestiva,

o que proporcionou maior

eficiência no aproveitamento

da dieta, e consequentemente

benefícios no desempenho zootécnico

de L. vannamei, em termos

de biomassa final, ganho de

biomassa e conversão alimentar.

Esses indicadores de desempenho

estão entre os fatores que

mais influenciam na lucratividade

da atividade de carcinicultura em

todas as fases, especialmente na

fase de engorda (Ruiz-Velazco et

al., 2021).

Consulte as referências

bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/artigos

58

PARCEIROS NA 23° ED:


ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

59


Empresa:

Vaxxinova

Vaxxinova é líder em vacinas autógenas

para tilápias no Brasil

Com um histórico de mais de 60 anos

de atuação no segmento de saúde

animal, a empresa de saúde animal

Biovet Vaxxinova acaba de anunciar que passa

a se chamar Vaxxinova, com o propósito de

“Cuidar de Vidas. Alimentar o Mundo”.

A mudança de marca e de posicionamento

é o ponto estratégico da transformação empreendida

nos últimos três anos pela empresa,

após a aquisição da multinacional Vaxxinova,

que faz parte do EW Group.

há de melhor em vacinas autógenas para tilapicultura”,

explica o médico veterinário Santiago

Benites de Pádua, gerente de produtos Aqua

Vaxxinova.

Outro movimento importante para a conquista

da liderança no setor foi no sentido de

que, mesmo com todos os desafios trazidos

pela pandemia, no ano fiscal 2020/2021, a

empresa continuou investindo com recursos

próprios no site fabril.

ABR/JUN 2021

Nesse período, por exemplo, a empresa

criou sua Unidade de Negócios Aquacultura, e

já alcança a liderança no mercado brasileiro de

vacinas autógenas para tilapicultura, amparada

no excelente desempenho no segmento de vacinas

customizadas.

“Com um serviço de campo forte, apoiado

por profissionais de excelência e a parceria do

mais estruturado laboratório de diagnóstico de

enfermidades de organismos aquáticos do Brasil,

Aquavet/UFMG, passamos a disponibilizar nesse

período um portfólio customizado com o que

A empresa criou sua

Unidade de Negócios

Aquacultura, e já

alcança a liderança no

mercado brasileiro de

vacinas autógenas para

tilapicultura.

60

Espaço empresa


Esp

ço empresa

Unidades de

bioensaios da

Vaxxinova.

Para exemplificar, construiu

uma nova e exclusiva

planta de produção em

Vargem Grande Paulista,

concluída ainda em 2020,

que foi fundamental para

sedimentar a liderança no

mercado nacional de vacinas

autógenas para tilapicultura, e atender o

mercado por meio da marca Govaxx® de vacinas

autógenas.

Além disso, em seu centro de pesquisa

Aqua, específico para suportar o desenvolvimento

de novos produtos para linha de peixes

no Brasil, a empresa dedica-se a realização de

estudos clínicos, análises de segurança e eficácia

para as vacinas produzidas aos clientes.

A Vaxxinova pode oferecer tudo isso ao

mercado de peixes porque é uma potência

mundial no mercado de vacinas em diversos

segmentos de animais de produção (Aquacultura,

Avicultura, Pecuária e Suinocultura).

A empresa tem o respaldo de uma rede tecnológica

mundialmente estruturada por meio

de instalações de produção, pesquisa, desenvolvimento

e diagnóstico com operações

no Brasil, Itália, Alemanha, Japão, Jordânia,

Noruega, Tailândia, EUA, Holanda e Chile.

ABR/JUN 2021

Espaço empresa

61


Esp

ço empresa

Faz parte do portfólio a

produção e comercialização

de vacinas contra diferentes

espécies, sorotipos e

combinações de Streptococcus,

que atualmente é o principal

patógeno que impacta

as criações de tilápia no

Brasil. Produz ainda vacinas

combinadas contendo

Francisella orientalis, outro

patógeno sazonal com impacto

nas formas jovens da tilápia,

conhecida como o grande

desafio de inverno para os

criadores.

ABR/JUN 2021

Os portfólios

regionais da marca

compreendem,

entre outros, produtos terapêuticos, antiparasitários

e respondem pela produção anual

de bilhões de doses de vacinas licenciadas,

além de ser líder em vacinas autógenas. Graças

a isso, a Vaxxinova foi eleita pelo Animal

Pharm Awards a melhor companhia europeia

no setor de saúde animal.

Com sede mundial na Holanda, a Vaxxinova

faz parte da holding familiar EW Group, presente

em mais de 50 países, com mais de 15

mil colaboradores, detentora de mais de 165

empresas que atuam nos mercados de genética

(aves e peixes), saúde animal (Vaxxinova) e

nutrição (aditivos).

O site fabril da empresa no Brasil fica em

Vargem Grande Paulista (SP). Ibiúna (SP) possui

a maior fábrica de vacinas contra Coccidiose

Aviária da América Latina. E exclusivamente no

segmento Pet atua por meio da marca Biovet.

“Com toda essa estrutura, asseguramos que

podemos crescer de forma sustentável, mantendo

a excelência de nossos serviços e qualidade

de nossos produtos”, conclui Santiago Benites.

CONTATO:

www

www.vaxxinova.com.br/

+55 11 9 42596702

62

Espaço empresa



Assessing the sustainability of tilapia farming in bioflocbased

culture using emergy synthesis

Autores: Luiz H.David, Sara M.Pinhoa, Karel J.Keesman e Fabiana Garcia

A tecnologia de bioflocos (BFT) tem sido aplicada com sucesso ao cultivo de tilápia,

uma das espécies de peixes mais produzidas no mundo. Do ponto de vista ambiental, a

síntese emergética tem sido usada para medir a sustentabilidade de diferentes sistemas de

aquicultura. Em resumo, a síntese emergética é um método que permite medir a energia

direta e indireta necessária para fazer um produto e / ou sustentar um sistema. Dada a

escassez de avaliações de sustentabilidade de sistemas baseados em bioflocos, ainda não

está claro se as características positivas do BFT permitem enquadrá-lo em uma abordagem

sustentável real para a aquicultura. Este estudo teve como objetivo investigar

e aplicar a síntese emergética para avaliar a sustentabilidade da produção

comercial de alevinos de tilápia do Nilo em um sistema baseado em

bioflocos. Entre os resultados em destaque, estão:

• O sistema BFT utilizado pela fazenda se mostrou eficiente para a

produção de alevinos de tilápia e pode ser considerado um sistema

potencialmente sustentável.

ABR/JUN 2021

• Uma fazenda que opera em BFT é altamente dependente de

recursos da economia em geral.

• A fonte alternativa de eletricidade analisada (fotovoltáica) não

melhorou o desempenho energético da fazenda BFT.

Quer saber os demais resultados? Confira no periódico Aquaculture:

https://doi.org/10.1016/j.ecolind.2021.108186

64

PARCEIROS NA 23° ED:


Saturação de oxigênio

“nas alturas”

Aquicultura jurássica

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

65


ABR/JUN 2021

Fábio Sussel

Pesquisador Científico em Aquicultura e Apresentador Canal #VaiAqua

Pirassununga, SP

fabiosussel@hotmail.com

Aquicultura Brasileira X Mercado de

Proteína Aquática no Brasil

Uma premissa básica para

se ter sucesso financeiro

no segmento em que cada

empresa atua é conhecer bem

o mercado. Os principais players,

concorrentes, expectativas

dos consumidores, riscos,

desafios, oportunidades, logística,

entre outros ...

A recente história da aquicultura

brasileira é pautada em

vários cases de empresas que

transformaram paixão em negócio.

Ok, isto é legal, traz uma

pegada de saudosismo. Mas...

pensando em negócio de fato,

isto não é tão bom assim. Sempre

fui contra do tal discurso:

“somos apeixonados” pelo o

que fazemos. É negócio e ponto

final. É fato que tenho prazer

em trabalhar com organismos

aquáticos, mas... nem sempre

esta satisfação se converte em

$$$. Então, é fundamental que

a oportunidade de negócio em

relação ao universo da proteína

aquática esteja à frente da paixão.

E é justamente aí que eu

sinto uma grande carência (inclusive

da minha parte) por parte

dos aquicultores brasileiros:

pouco conhecemos do mercado

no qual atuamos. E por

conta deste desconhecimento,

nos posicionamos de forma

equivocada frente aos princi-

66

PARCEIROS NA 23° ED:


pais players. Se por exemplo, segmentarmos

o mercado de proteína aquática no Brasil em

aquicultura, pesca comercial e distribuidores, o

segmento da produção é o nanico dos três. E

nós achando que somos grandes, que podemos

influenciar consumidores, que os outros setores

devem se curvar a nós. Um baita erro ...

Há dois exercícios bem fáceis pra se fazer e

entender melhor isto. Primeiro, dar uma passada

de olho nas gôndolas de supermercados e

identificar quantos produtos e empresas tem de

aquicultura. Depois, comparar com os produtos

importados e os da pesca comercial. Um segundo

exercício é dar uma folhada na revista Seafood

Brasil, veículo de comunicação que transita

muito bem entre os segmentos de produção,

pesca comercial e distribuição. É impressionante

a quantidade de anúncios de grandes empresas

não relacionadas a aquicultura, mas que atuam

no segmento de proteína aquática, seja extrativismo

ou distribuição. Temos um forte viés para

achar ou interpretar que estas empresas não estão

relacionadas ao nosso negócio.

Muitas vezes nos gabamos em citar grandes

empresas de aquicultura (e de fato devemos ter

orgulho, pois, temos sim grandes exemplos),

mas não temos a mínima ideia da real quantidade

e do quanto faturam as distribuidoras de

pescado e empresas de pesca comercial. Ou

ainda, não fazemos a mínima ideia do volume

que estas empresas movimentam e como eles

sabem exatamente qual tipo de produto os

consumidores querem e qual deixa as melhores

margens de lucro. Nem sempre fornecem

os melhores produtos em termos de qualidade

de conservação e sabor, mas... sabem muito

bem o que os consumidores querem, o quanto

irá custar atender a demanda, o tamanho deste

mercado, a logística certa para chegar até o

consumidor final e qual margem de lucro vão

ter. O segmento de aquicultura primeiro preza

em produzir um peixe ou camarão com qualidade

máxima em todos os sentidos, depois tenta

encaixar este produto ao mercado.

Agora a coisa se agrava mesmo quando o

assunto é comunicação e estratégias de marketing.

Uma tragédia!!! Conta-se nos dedos de

uma mão as empresas de aquicultura, incluindo

as cooperativas, que possuem boas estratégias

de comunicação. No mais, o que se vê é um

festival de vídeos amadores e postagem em redes

sociais onde a única estratégia que se observa

é: comunicar-se para o próprio setor. Um

tiro no pé. Se estratégias caseiras de marketing

e comunicação fossem eficientes, não haveriam

cursos em nível superior para estas áreas.

Como sempre digo: comunicação tem cor, tem

entonação, tem tipo de fonte, tem emoção,

tem hora, tem dia da semana, tem o veículo

certo ... sendo que quando estes elementos

são negligenciados, a chance do efeito inverso

acontecer é grande.

O setor de aquicultura precisa entender que

a roda já está construída. Nós é que temos que

nos moldar a ela e não querer construir nossa

própria roda. E pior: querer competir com a

roda que está há muito mais tempo no mercado.

Temos sim condições de sermos mais sustentáveis,

de termos mais qualidade e de atender

a demanda crescente por alimentos. Mas

por enquanto, tem gente maior e mais preparada

na nossa frente. Sem vaidades, devemos

aprender com o que já está sendo feito.

#VaiAqua!

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

67


Diego Maia Rocha

Sócio-Diretor Synbiaqua Cultivos Aquáticos

Natal, RN

diegomaiarocha@synbiaqua.com.br

É preciso efetivamente participar mais!

Não basta apenas a presença em

grupos de whastapp para fortalecer

a carcinicultura, é preciso

efetivamente participar mais.

maior probabilidade de participação, comunicação

e aproximação que envolva os atores

A

da nossa indústria, atualmente é o whatsapp, o que

é algo positivo, porém não é o suficiente, é preciso

participar mais e de outras formas. A ideia desse artigo

é sinalizar alguns cases de demandas atendidas, seja na

perspectiva micro ou macro, mas que sem a participação

e envolvimento do produtor se perdem ao longo

do tempo.

ABR/JUN 2021

Case I

Quando o vírus da mancha branca chegou no Nordeste

entre 2010 e 2011, alguns anos depois tudo que

se desejava era um laboratório de referência para análises

virais, não apenas para este, como para outros vírus,

e que esse fosse de idoneidade incontestada, sem

relação com laboratório de pós-larvas. Em 2016 uma

empresa multinacional e com expertise no ramo se

instala no Brasil, apenas 3 anos depois, essa empresa

encerra suas atividades por falta de procura. Atualmente

não há laboratórios com esse know how no Brasil.

Case II

Um dos grandes problemas da comercialização de

camarão fresco é a falta de referências de preços ao

longo do ano de fontes seguras. Há quase um ano,

um app foi lançado para que os produtores de todos

os estados, informassem de forma clara, o preço

praticado de venda, assim se teria uma referência vinda

diretamente de produtores. Mas o que se percebe,

mais uma vez é que a participação poderia ser maior

por parte dos produtores.

68

PARCEIROS NA 23° ED:

Case III

Em abril de 2020, foi concedida para aqueles que

tiveram interesse a liberação de reprodutores SPF

dos EUA, que era uma demanda antiga. Atualmente,

quase um ano e meio depois, o que se percebe é

que ainda não existe uma isonomia por parte da indústria

na importação desses animais. Possivelmente

nos próximos 6 meses, esse assunto ainda estará em

aberto e corre o risco de virar só mais um, que por

falta de diálogo e participação direta dos produtores

sucumbirá ao esquecimento.

Todos os anos haverá oportunidades e desafios para

todos aqueles que trabalham na carcinicultura, nas mais

diversas frentes possíveis, todos querem participar

com suas opiniões e contribuições. Mas é preciso reunir,

efetivar e concretizar essas contribuições, se não

corremos sempre o risco de ter demandas atendidas,

e, ao mesmo tempo perdidas por falta de participação.

A carcinicultura cresce, a visibilidade volta a ser

maior, os desafios são os mesmos ou até maiores, e

nesse novo momento a participação de todos é fundamental.


SAIS BALANCEADOS

PARA CARCINICULTURA

VeroMix é um concentrado dos

principais constituintes do sal

marinho, para uso em carcinicultura,

com excelente relação custo/benefício.

Na forma de concentrado, reduz o custo

de frete envolvido e pode ser formulado

para atender casos especiais.

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tanques de

carcinicultura

em suas

características

físico-químicas

e balanço

iônico - específicos

para a produção

de camarões

marinhos

Sacos valvulados

de polietileno de 25 kg.

Para 1L de água:

1 parte de VEROMIX

2 partes de sal sem iodo

+

2 kg DE

SAL SEM IODO

1 kg DE

VEROMIX

Preparam

de água

salinidade

10 PPT

69

ABR/JUN 2021


André Camargo

Sócio Fundador da Escama Forte

Botucatu, SP

andre@escamaforte.com.br

ABR/JUN 2021

Múltiplos usos da água

Me lembro bem, na década de

2000, quando no CONAMA

e CONAPE se discutia muito os

múltiplos usos da água, confesso que

naquele momento pouca importância

era dada à aquicultura e muito pouco

se discutia em relação ao uso da

água para produção de organismos

aquáticos.

Hoje por sua vez, devido à

importância conquistada por nossa

atividade, chegou o momento de

exaustivamente discutirmos relações

de outras atividades humanas com

a aquicultura em relação ao uso de

nosso maior bem, a água.

Acredito que a aquicultura deve

ser menos importante apenas do que

o consumo humano de água potável e

a geração de energia elétrica, porém

muitos outros usos se inter-relacionam

conosco e devemos nos aprofundar

com cada uma dessas relações.

Irrigação, indústria, esgotamento

sanitário, turismo entre outros, são

usos de água que de alguma forma

podem se relacionar com nossa

aquicultura.

O abastecimento público de água

potável por exemplo classifica as

águas de tal forma que limita muito os

demais usos e se justifica tamanha a

nobreza desta participação em nossa

sociedade. A geração de energia por

sua vez possui regras muito claras

em suas concessões e o respeito

às cotas, vazões e etc fazem-se

fundamentais, sabemos que muitas

vezes concessionárias de energia

de nosso país extrapolaram cotas

mínimas, vazões máximas e outros

parâmetros, mais isso vem diminuindo

e a fiscalização da própria sociedade

vem aumentando. Como uma grande

parcela de nossa produção aquícola

é oriunda de reservatórios de usinas

hidrelétricas, devemos ficar atentos

e sempre buscar o diálogo para que

este convívio seja saudável e garanta a

viabilidade de todos.

O uso de águas para a criação de

organismos aquáticos enfrenta nos

últimos anos, ao longo de todo o

Brasil, o conflito com duas atividades

principais: o esgotamento sanitário de

cidades que polui os corpos d´água e

causa mortalidades e contaminações e

a lixiviação de fertilizantes e pesticidas

agrícolas que em muitos casos já

causou estragos na produção agrícola

do Brasil.

Concluindo, precisamos mais do

que nunca sermos responsáveis por

nossos atos e cobrar os demais atores

de nossa sociedade em relação ao

uso múltiplo da água, é direito de

todos o acesso a água de qualidade

e, portanto, temos o dever de zelar

cada vez mais por nosso bem maior,

a aquicultura só é capaz de ser uma

atividade forte e pujante com água

de qualidade e por este motivo

devemos estimular a participação dos

aquicultores em todas as instâncias

que discutam o uso da água.

Que este seja o primeiro de

muitos textos tratando deste tema,

boa leitura.

70

PARCEIROS NA 23° ED:


ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

71


Eduardo Gomes Sanches

Instituto de Pesca/APTA/SAA

Ubatuba, SP

eduardo.sanches2005@gmail.com

ABR/JUN 2021

Canal de divulgação

ossa conversa desta vez vai ser sobre como

N fazer as informações técnicas chegarem a todos

os interessados na aquicultura ornamental. Entretanto,

a proposta aqui vai ser como fazer a informação chegar

aos interessados, mas aproveitando a ferramenta da

interação. Diferente dos segmentos da aquicultura

voltados à produção de alimento, a aquicultura

ornamental apresenta características bem distintas,

tais como uma expressiva pulverização de pequenos

produtores, lojistas e aquaristas, grande componente

de amadorismo, com pouco conhecimento científico

disponível, mas muitas informações veiculadas

repetidamente, em redes sociais e grupos de

influenciadores, que acabam se tornando “verdades”.

Estas características criam um desafio para levar

conhecimento técnico que possa contribuir para o

desenvolvimento na produção de peixes ornamentais.

Pensando em como a academia poderia contribuir

neste desafio, nossa colega Dra. Anita Rademaker Valença,

docente do Departamento de Aquicultura da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) me

procurou com a proposta de criar um canal de divulgação

e interação com os interessados na produção

do acará disco. A ideia seria realizar discussões com

especialistas sobre temas relacionados a produção e

comercialização desta espécie, ampliando o acesso ao

conhecimento científico e sobre experiências práticas

no dia a dia das criações. Desta maneira, seria possível

contribuir para a profissionalização do setor. As apresentações

ficariam gravadas, podendo ser assistidas em

outros momentos pelos interessados. O canal contaria

ainda com a participação do colega Gabriel Henrique

de Mendonça Cardoso, biólogo com profundo conhecimento

sobre o acará disco no ambiente natural, visto

sua experiência como pesquisador na Amazônia.

Depois de muito planejamento, o canal iniciou as

atividades. Vários temas já foram abordados, tais como

unir pesquisa e produção, a diversidade de cores dos

discos na natureza e aspectos da comercialização nacional

e internacional.

Nestes

temas contamos

com especialistas,

como Hudson José

Crizanto da H&K, empresa

que exporta acarás

disco e o Luiz Francisco Bosso,

da Aquática Brazil, uma das maiores distribuidoras de

produtos para aquarismo no Brasil. Mais recentemente

pudemos conversar com a Ingrid Baran, da Baran

Discos, uma das lojas especializadas na comercialização

de acarás disco. Tudo isto de forma interativa, levando

o conhecimento e a experiência prática dos participantes

para quem tem interesse em manter, criar ou até

mesmo empreender neste ramo da aquicultura ornamental

com esta espécie emblemática da aquicultura

ornamental no Brasil.

As próximas apresentações do canal irão trazer temas

como “Legislação para o acará disco” com o Felipe

Weber, “Cultivo do acará disco no Brasil” com Manuel

Vasquez Vidal Júnior, “Aquarismo e Educação” com Francisco

Menezes Ramos e Leopoldo Barreto, “Empreendedorismo

com acarás disco” com Victor Hugo Andrade.

Muitos temas estão sendo organizados, considerando

a interação com o público e as sugestões recebidas.

Convido a todos que tem interesse na aquicultura ornamental,

em particular sobre os acarás disco, a participar,

assistindo as apresentações e propondo novos

temas, para que o conhecimento possa ser divulgado

e que as boas experiências possam ser conhecidas!!!!

Desta maneira o canal estará contribuindo para o crescimento

da aquicultura ornamental no Brasil, trazendo

oportunidades de inovação e empreendedorismo.

O canal pode ser acessado via Núcleo de Cidadania

e Ensino Digital (NCED) da Universidade Federal de

Santa Catarina. Até a próxima coluna. E não esqueça

que a aquicultura ornamental, de pequena, só tem o

peixe!!!!!!

72

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ABR/JUN 2021

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73


Maurício Gustavo Coelho Emerenciano

CSIRO - Austrália

mauricio.emerenciano@csiro.au

*As opiniões citadas abaixo do primeiro autor são exclusivamente pessoais e não necessariamente remetem as

opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.

ABR/JUN 2021

Circularidade na Aquicultura: ainda vamos

escutar muito sobre este conceito!

Hoje o assunto é circularidade e como esta

tendência pode (e vai) impactar a Aquicultura

mundial e nacional. A coluna Green Technologies desta

edição traz uma reflexão sobre o tema e as perspectivas

da aplicação desse conceito que veio para ficar.

Mas afinal, o que é a circularidade e o impacto

nas economias mundiais? A circularidade vem da aplicação

direta do conceito de economia circular, que

por sua vez associa o desenvolvimento econômico

ao melhor uso de recursos naturais. A ideia central

é depender menos de matérias-primas e otimizar ao

máximo o seu uso, priorizando insumos mais duráveis,

recicláveis e renováveis. Outro ponto importante

é a criação de co-produtos e novas oportunidades

de negócios. Existe um estímulo à inserção de

matéria-prima secundária nos processos produtivos

e fomento ao mercado de troca de resíduos. Como

resultado, as empresas não apenas reduzem custos

e perdas produtivas, mas também criam novas fontes

de receita. Segundo a Comissão Europeia, com

a massificação da circularidade é esperado até 2030

uma redução de 17 a 24% na dependência de matérias-primas

diretas naquele continente, gerando €600

bilhões em economia e 2-4% de redução nas emissões

de gases que causam o efeito estufa (UE, 2017).

E na Aquicultura, quais exemplos práticos de circularidade?

Podemos destacar diversos exemplos

desde os mais “tecnológicos” como o da empresa de

biotecnologia da Noruega Hyperthermics. Esta startup

transforma e recicla resíduos do cultivo de salmão

(sobras de ração, fezes, etc.) convertendo-os em

biogás e biomassa microbiana, rico ingrediente para

fabricação de rações de camarões e outras espécies

de peixes (Waycott, 2020). Já exemplos mais “simples”

incluem diversas modalidades de policultivos

aquícolas como o de carpas (cada espécie ocupando

um nicho ecológico diferente), camarões marinhos

com peixes e ostras, além de peixes e camarões de

água doce. Empresas como a Primar e Camanor são

exemplos nacionais que há muitos anos aplicam com

maestria a circularidade nas suas produções. Outros

exemplos incluem os sistemas multitróficos integrados

(utilizando como espécies secundárias os moluscos

bivalves, macroalgas e equinodermos como o

pepido-do-mar, uma iguaria de altíssimo valor para o

mercado asiático), sistemas de aquaponia e de bioflocos.

Algumas estratégias simples como a adoção de

substratos verticais, também são exemplos de circularidade

que podem diminuir o consumo de ração e

a exigência proteicas dos organismos cultivados (Olier

et al 2020). No aspecto nutricional, uso de farinha de

insetos (Tubin, 2020), microalgas produzidas a partir

de efluentes aquícolas (Zhang et al 2019), excesso

de sólidos suspensos transformados em farinha de

bioflocos (Bauer et al 2012), além do resíduo de restaurantes

(Sousa et al 2019), e do processamento do

pescado transformado em farinhas ou silagens (Borguesi

et al 2007) são exemplos de economia circular

na nutrição aquícola.

Além das vantagens citadas acima, a aplicação

do conceito circularidade além de ajudar o meio

ambiente, impulsionará e facilitará os processos de

certificação, dando acesso a mercados mais exigentes

(que por sua vez pagam mais). No entanto, é

de suma importância lembrar que um dos pilares da

sustentabilidade é o econômico. A circularidade pode

adicionar complexidade na produção e adicionar custos

extras. Neste sentido, uma avaliação minuciosa

do mercado alvo, juntamente com um cauteloso

planejamento produtivo e financeiro são de extrema

importância para a resiliência do negócio. O conceito

de economia circular veio para ficar, mas entender

suas nuances é fundamental. A conta tem que bater.

Até a próxima!

74

PARCEIROS NA 23° ED:


Green

TECHNOLOGIES

Figura 1. Exemplos de circularidade: policultivo tilápias e L. vannamei em Santa Catarina e tilápias produzidas juntamente com

camarão de água-doce Macrobrachium rosenbergii no Paraná. © Giovanni L. de Mello e Maurício Emerenciano

Figura 2. Bioflocos e Aquaponia são exemplos de sistemas de produção aquícola que carregam consigo a circularidade.

© Maurício Emerenciano

ABR/JUN 2021

Consulte as referências bibliográficas em

www.aquaculturebrasil.com/colunas

PARCEIROS NA 23° ED:

75


NUTRIÇÃO AQUÍCOLA

ABR/JUN 2021

Artur Nishioka Rombenso

CSIRO – Austrália

IPEMAR – Brasil

artur.rombenso@csiro.au

*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições

vinculadas ao mesmo.

Diretrizes e prioridades da indústria de

nutrição aquícola perante os tempos de COVID

Hoje abordarei as diretrizes e prioridades da

indústria de nutrição aquícola perante os

tempos de COVID com base nas minhas experiências

em projetos e em contatos com profissionais

ao longo da cadeia produtiva aquícola, especialmente

na Ásia e Oceania, e que nem sempre refletem

a realidade da indústria de ração em todas regiões.

Em momentos de incertezas, uma das primeiras

ações institucionais consiste na redução de despesas, o

que pode refletir de diversas maneiras, principalmente

na reorganização das prioridades e/ou redução do orçamento

dedicado à pesquisa. Acredito que, assim como

eu, vários leitores também tiveram oportunidades de

projetos de pesquisa adiadas ou canceladas. Nesse contexto,

surgem dúvidas sobre as prioridades de pesquisa

da indústria de nutrição aquícola. E também algo para

refletir sobre o quão essencial são nossos projetos de

pesquisa – tema que abordarei numa futura coluna.

Um dos principais objetivos das empresas de ração

é a consistência de qualidade de seus produtos. Nos

momentos em que os preços dos ingredientes estão

instáveis e tendem a aumentar, ocorre uma busca por

flexibilização nas formulações. Ou seja, diminuir a dependência

de ingredientes chaves que são mais caros,

aumentar o portfólio de matérias-primas, e ao tempo

manter o desempenho dos organismos aquáticos e o

valor nutriticional do produto final. Para tal, as empresas

estão focando em pesquisas para avaliar diferentes

combinações de ingredientes e testar novas matérias-

-primas e aditivos, sempre mantendo o preço da ração

como um dos fatores decisivos. Além disso, a origem

dos ingredientes, que influencia os custos de transporte,

e consequente sustentabilidade em termos de emissões

de CO 2

são fatores importantes¹. Para mais informações

sobre as características dos ingredientes e a importância

das mesmas, recomendo a leitura do artigo revisão

Glencross 2020². Assim, existe uma diretriz em priorizar

ingredientes locais ao invés dos mais tradicionais, porém

geograficamente distantes. Empresas multinacionais instaladas

na Austrália, por exemplo, estão atualmente utilizando

de 60 a 80% de matérias-primas australianas em

suas formulações.

Infelizmente, pesquisas mais básicas e de alto risco

são alocadas para baixo na lista de prioridades por não

terem implementação comercial imediata. Porém, momentos

de incerteza também devem ser vistos como

oportunidades. Portanto, devemos ser criativos e alinhar

ideias de pesquisa e desenvolvimento com essas

diretrizes para continuar o avanço da atividade aquícola.

Vale ressaltar que nenhum impacto positivo é realizado

isoladamente, assim a indústria de ração faz sua parte e,

juntamente com as outras ao longo da cadeia produtiva,

fazem com que a atividade como um todo progrida nesses

momentos delicados.

Espero ter trazido algo novo para vocês leitores e ao

mesmo tempo ter feito jus a todos nós, profissionais aquícolas,

que estamos trabalhando duro nesses últimos tempos

buscando manter o progresso da aquicultura.

¹ Escobar N., et al., 2020. Spatially-explicit footprints

of agricultural commodities: Mapping carbon emissions

in Brazil’s soy exports. Global Environmental Change https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2020.102067

² Glencross, B.D. 2020. A feed is still only as good

as its ingredients: An update on the nutritional research

strategies for the optimal evaluation of ingredients

for aquaculture feeds. Aquaculture nutrition https://doi.

org/10.1111/anu.13138

76

PARCEIROS NA 23° ED:


ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

77


ABR/JUN 2021

Visão

aquícola

Giovanni Lemos de Mello

Produção de Garoupas no Brasil: Realidade

e Perspectivas

As garoupas estão entre os peixes marinhos mais

produzidos no mundo. Segundo a FAO, a produção

global é de 155 mil toneladas, focada no mercado

asiático de peixes vivos, a preços por volta de 60 dólares

o quilo. Os serranídeos em geral possuem alta demanda

para exportação. Em 2019, somente os Estados Unidos

importaram 6.715 toneladas, 15% do Brasil (oriundas

da pesca extrativista), a preços entre 10-12 dólares/kg.

A garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) é

uma espécie hermafrodita sequencial protogínica caracterizada

por alta fidelidade ao local, crescimento lento,

maturação sexual tardia e suscetível à sobrepesca.

Essas características levaram sua inclusão na lista de espécies

ameaçadas de extinção na categoria vulnerável,

tanto pela União Internacional para a Conservação da

Natureza, quanto pelo Ministério do Meio Ambiente

no Brasil, onde atualmente no País a espécie tem sua

captura proibida durante o período de 1° de novembro

a 28 de fevereiro.

Devido à sobrepesca da espécie, a piscicultura marinha

surge como uma forma de amenizar esses impactos

em populações naturais. Assim, a criação da garoupa-

-verdadeira tem sido impulsionada pela redução da oferta

da pesca de captura e pela sua relevância econômica,

uma vez que é considerada um peixe nobre e muito

apreciado, apresentando elevados valores de mercado.

No Brasil, a partir de 2007 a Redemar Alevinos,

localizada em Ilhabela (SP), centrou esforços visando

o desenvolvimento da criação da garoupa-verdadeira,

E. marginatus. De forma inédita no mundo, a espécie

teve o domínio de sua reprodução, larvicultura e alevinagem,

em condições laboratoriais. Um marco para a

piscicultura marinha brasileira e global!

Desde 2016 a Redemar produz com regularidade

juvenis de garoupa-verdadeira, com peso médio

individual de 2,0 g. Contudo, nestes primeiros anos,

houve pouco interesse dos aquicultores brasileiros em

aventurar-se na engorda da espécie. Desta forma, a

empresa voltou-se para projetos ambientais, como o

repovoamento de ambientes recifais do litoral paulista.

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

Editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil

Laguna, SC

giovanni@aquaculturebrasil.com

Com objetivo de fomentar o início da engorda no

Brasil, através do apoio da Fapesp (Projeto GAROUPA-

TEC) em 2019 a Redemar produziu juvenis de 100 g,

para que a engorda pudesse ser validada em distintos

sistemas de produção, sob escala produtiva, incluindo

sistemas abertos e fechados, em terra e no mar.

Uma das experiências mais exitosas foi em viveiros

originalmente construídos para a carcinicultura marinha,

no Sul do Brasil. Ressalta-se que na Ásia a maior

parte das garoupas são produzidas em pequenos viveiros

de terra. No Brasil, este modelo de produção

também mostrou potencial para a garoupa-verdadeira.

Uma parceria com a Mar do Brasil Aquicultura,

empresa localizada em Laguna (SC), possibilitou

a engorda de 2.000 juvenis até 500 g de peso médio.

Face aos desafios de cultivá-las pela primeira vez,

os resultados zootécnicos foram bastante positivos.

78

PARCEIROS NA 23° ED:


Exemplar de garoupas

(Epinephelus marginatus)

cultivadas em viveiros em

parceria com a empresa

Mar do Brasil, localizada

em Laguna/SC, município

que fica a 120 km ao sul

da capital do estado,

Florianópolis.

© Giovanni Lemos de Mello

Atualmente, existem três empreendimentos

de engorda no Brasil.

A Mar do Brasil (Laguna/SC), Maricultura

Costa Verde (Angra dos Reis/

RJ) e Prime (Alcobaça/BA). O curioso

é que são três diferentes sistemas de

produção (viveiros de camarão, tanques-rede

marinhos e sistema aberto

próximo ao mar). Hoje, estão alojadas

15.000 garoupas-verdadeiras na

água, nestes três empreendimentos.

Para o próximo verão (2021-2022),

a Redemar já possui mais de 150 mil

alevinos encomendados, incluindo

um novo player no Pará. Ou seja, um

aumento de dez vezes em relação ao

ano anterior, visando principalmente

atender ao mercado externo. A partir

de 2022, outras três fazendas de engorda

serão instaladas. Duas empresas

envolvidas pretendem trabalhar em

sistema de integração, o que abrirá

oportunidades para “engordadores”

interessados na criação de garoupas.

Será a maior produção da história

da empresa e, consequentemente,

de 2023 em diante o Brasil

passará a ter uma produção regular.

A estatística da produção de garoupas

no Brasil está saindo do zero e

dos sonhos de muitos profissionais

envolvidos, em especial da Cláudia e

do Pedro, fundadores da Redemar.

Em princípio, o modelo de produção

é bifásico, com duração de 18

meses e peso médio final de 600 g.

Trata-se de um novo produto no mercado,

a “garoupa prato”, o qual não

concorre com a pesca extrativista.

O mercado atualmente busca regularidade,

padronização, rastreabilidade

e sustentabilidade, e estes critérios

somente a piscicultura marinha

poderá oferecer.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

79


Ronaldo O. Cavalli

Estação Marinha de Aquacultura - EMA

Universidade Federal do Rio Grande - FURG

Rio Grande, RS

ronaldocavalli@gmail.com

ABR/JUN 2021

Lançamento editorial:

“A aquicultura do beijupirá (Rachycentron

canadum) no Brasil”

Nas últimas décadas, a aquicultura, e em especial

a piscicultura marinha, tem experimentado um

rápido crescimento em várias regiões do mundo. No

Brasil, embora tenha-se conhecimento sobre a criação

de peixes marinhos na região Nordeste desde o século

XVII, a atividade ainda não contribui significativamente

com a produção de pescado. Durante muitos anos, os

esforços de pesquisa e desenvolvimento em piscicultura

marinha no Brasil foram tímidos, baseados quase que

unicamente em iniciativas de alguns poucos grupos de

pesquisa e, na maioria dos casos, sem a desejada multidisciplinaridade

e/ou interação institucional. Apesar dos

significativos avanços no conhecimento sobre algumas

espécies de interesse econômico (tainha Mugil sp., robalo-peva

Centropomus parallelus e linguado Paralichthys

orbignyanus), nenhuma delas chegou a ser produzida comercialmente.

A partir dos anos 2000, com o sucesso

na criação do beijupirá (Rachycentron canadum) na Ásia,

alguns produtores nacionais passaram a considerar a produção

dessa espécie nativa do litoral brasileiro, inclusive

com algumas iniciativas de produção nas regiões Nordeste

e Sudeste.

A despeito do enorme potencial da aquicultura do

beijupirá no Brasil, até recentemente os estudos científicos

sobre a biologia e criação dessa espécie eram

praticamente inexistentes no nosso país. Cientes dessa

realidade, a partir de 2007 uma série de reuniões entre

profissionais de diferentes instituições brasileiras foi

realizada, o que acabou levando à criação da Rede de

Pesquisa e Desenvolvimento em Piscicultura Marinha -

REPIMAR. Esta rede foi formada com o propósito de

apoiar o desenvolvimento sustentável da piscicultura

marinha, inicialmente com o foco na adaptação e aprimoramento

dos sistemas de produção do beijupirá. Em

um primeiro momento, a REPIMAR esteve composta

por pesquisadores da UFRPE, UFPE, UFRB, USP, FIPERJ,

UFLA, UFSC, FURG, Instituto de Pesca/SP e EMBRA-

PA. Posteriormente, colegas da UFPI, UFAL, UFMT,

UFPR, UFT, UNIR, IFPB, Redemar Alevinos e CSIRO

(Austrália) também passaram a colaborar. No desenvolvimento

de suas atividades, a REPIMAR contou com

o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), do então

Ministério da Aquicultura e Pesca (MPA), do Ministério

da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI, do Fundo

Setorial do Agronegócio – CT/Agronegócio e da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Como parte deste esforço coordenado de pesquisa

e desenvolvimento, o livro “A aquicultura do beijupirá

(Rachycentron canadum) no Brasil” acaba de ser lançado

pela Editora da FURG. Organizado e editado pelo Prof.

Ronaldo O. Cavalli (FURG, RS) e com a participação de

54 autores de 16 instituições, o livro apresenta os principais

resultados científicos e tecnológicos, além das experiências

adquiridas, sobre os mais diferentes aspectos da

cadeia de produção do beijupirá no Brasil. Na concepção

do livro optou-se por não se limitar unicamente aos resultados

obtidos no âmbito da REPIMAR, mas também

incorporar os estudos realizados por outros colegas paralelamente

às ações da rede. Em seus 19 capítulos e

296 páginas, o livro apresenta noções básicas de biologia,

o estado da pesca e das tecnologias e sistemas de produção

mais utilizados na criação desta espécie no país para

familiarizar o leitor a tais temas. Também são abordadas

questões fundamentais para a sustentabilidade da piscicultura

marinha, tais como produção de formas jovens,

nutrição e alimentação, impactos ambientais, viabilidade

econômica, variabilidade genética, sanidade, tecnologias

de abate, aproveitamento de subprodutos, rastreabilidade,

desenvolvimento de embalagens e mercado.

Os autores fazem parte de um seleto grupo de profissionais

que, nos últimos anos, estudaram, pesquisaram e

ensinaram piscicultura marinha sob os seus mais diferentes

ângulos e possibilidades. Em comum e em conjunto,

80

PARCEIROS NA 23° ED:


Beijupirá (Rachycentron canadum).

eles têm a noção das muitas

oportunidades que a atividade

pode oferecer à sociedade,

assim como os principais

gargalos a serem transpostos.

Embora destinado prioritariamente

a estudantes de graduação

em Engenharia de Pesca,

Oceanografia, Ciências Biológicas,

Engenharia de Aquicultura,

Engenharia de Alimentos,

Medicina Veterinária e outras

áreas de formação, além de

pós-graduandos em aquicultura

e áreas afins, a expectativa

é de que o livro também

atinja os demais interessados

em piscicultura marinha, em

especial a comunidade empresarial

e demais formadores

de opinião. Espera-se,

portanto, que o livro

contribua para a melhoria

da formação

de recursos humanos

nesta área do conhecimento,

além de contribuir

para o desenvolvimento de iniciativas

de piscicultura marinha

no Brasil.

Embora o livro seja totalmente

dedicado ao beijupirá,

vale ressaltar que grande parte

dos problemas e dificuldades

aqui apresentadas e discutidas

também serão observadas nas

tentativas de aquicultura de

outras espécies de peixes marinhos

no Brasil. Finalmente, é

imperativo observar que não

se trata de uma obra definitiva,

mas um passo no sentido de

disponibilizar, em um só volume

e em português, os fundamentos

sobre a aquicultura

de uma espécie de interesse

econômico e nativa do litoral

brasileiro.

O livro pode ser adquirido

pelo e-mail da Editora da

FURG (editora@furg.br) pelo

valor de R$ 90,00.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

81


Marcela Maia Yamashita

Doutora em aquicultura

Help Fish - Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Peixes

Sinop, MT

contato@helpfish.com.br

ABR/JUN 2021

Piscinoodinium pillulare - Devo me

preocupar?

Este parasito de nome complicado, é um protozoário

que causa uma das três principais parasitoses

que acometem os cultivos de tambaqui e

seus híbridos, tanto nas fases de larvicultura, quanto

alevinagem e engorda. Apesar da evolução desta parasitose

ser geralmente crônica na fase de engorda,

ela é mais agressiva nas fases anteriores e, portanto,

não deve ser negligenciada, tratando-se de um parasito

perigoso que merece atenção e cuidado por parte

dos piscicultores. Sua ocorrência não se restringe

somente ao cultivo de peixes redondos, sendo também

encontrado acometendo outras espécies nativas,

como: matrinxã, piauçu, curimatã e pintado amazônico;

além de espécies exóticas, como: o catfish

americano e a tilápia. Bem, com estas informações já

conseguimos perceber, que trata-se de um parasito

de ampla distribuição territorial, cuja ocorrência já foi

registrada nos principais pólos de piscicultura de água

doce do Brasil.

Causador da chamada Piscinodiníase ou doença

do veludo, Piscinoodinium pillulare é um parasito que

possui formato de saco ou pêra, e cor castanho-amarelada

a castanho-escura. Uma característica curiosa,

é o fato de possuir cloroplastos, o que sugere que

este microrganismo seja capaz de produzir seu próprio

alimento. Sendo assim, sua forma parasitária no

peixe seria oportunista. Este ectoparasito (parasito

externo) se instala principalmente no tegumento

(pele) e brânquias dos peixes. Uma vez instalada, a

doença pode conferir uma coloração de ferrugem

no tegumento do animal (Figura 1), que pode evoluir

para hemorragias na pele, inflamação e necrose.

Quando presente em grandes quantidades podem

causar hiperplasia (aumento do número de células)

e fusão das lamelas secundárias no tecido branquial

(Figura 2), dificultando a respiração dos animais e

podendo os levar à morte por asfixia, mesmo em

viveiros com concentrações de oxigênio adequadas.

Por isso, sinais clínicos comuns observados nos

peixes acometidos por esta enfermidade, são: agitação,

sinais de desconforto, movimentos operculares

intensos, concentração em áreas dos tanques com

maior nível de oxigênio (entrada de água, superfície

ou próximo à aeradores), boquejamento de ar na superfície

da água ou aumento dos lábios inferiores (no

caso do tambaqui e tambatinga). O parasito também

pode atingir os olhos e penetrar debaixo da pele, se

alojando no tecido subcutâneo, favorecendo a ocorrência

de infecções bacterianas secundárias.

Sua classificação como um protista flagelado refere-se

à sua fase de vida livre, quando nada ativamente

em busca de um hospedeiro. Quando este

for encontrado, o parasito se fixa através de um disco

de fixação composto por estruturas denominadas rizocistos

(que se assemelham muito com raízes). Por

isso, quando observamos Piscinoodinium pillulare em

exames à fresco sob microscopia óptica, não percebemos

movimentos, pois não possuem estruturas de

locomoção na fase parasitária, sendo imóveis, diferente

de outros protozoários parasitos de peixes.

Este parasito possui somente o peixe como hospedeiro,

portanto dizemos que ele possui um ciclo

de vida direto. Sua transmissão é horizontal, ou seja,

é transmitido de um indivíduo para o outro através

do contato direto ou através de fômites e água contaminados.

Portanto, quando uma piscicultura tem esta

parasitose diagnosticada, através de exames parasitológicos,

faz-se ainda mais necessária a aplicação de

práticas de biosseguridade, como: o não compartilhamento

de utensílios entre viveiros e a desinfecção

de equipamentos. Algo importante a se comentar é

o fato de Piscinoodinium pillulare se beneficiar em ambientes

de baixa alcalinidade, pH ácido e alta densidade

de estocagem, sendo estes portanto, fatores de

82

PARCEIROS NA 23° ED:


risco associados à esta parasitose. Desta forma, uma

maneira de evitar a instalação desta enfermidade, seria

manter estes parâmetros dentro de faixas ideais

e corrigí-los para níveis adequados sempre que necessário

pois, tais alterações na qualidade de água ou

até mesmo a queda da temperatura pela entrada de

uma frente fria, podem ser gatilhos para desencadear

esta doença. Os banhos de sal também são bastante

promissores na prevenção e no controle desta enfermidade

pois, além de desidratar os parasitos, favorecem

a produção de muco pelo peixe, auxiliando

na sua primeira barreira de defesa e, possibilitando a

reposição de sais no sangue dos animais, restabelecendo

seu equilíbrio osmótico.

1

Figura 1. Exemplar de tambatinga apresentando

coloração de ferrugem.

© Marcela Maia Yamashita

2

ABR/JUN 2021

Figura 2. Filamentos branquiais de tambatinga

demonstrando alta infestação por Piscinoodinium

pillulare (cabeça de seta vermelha e todos os demais

pontos castanho-escuros); aumento 50x.

© Marcela Maia Yamashita.

PARCEIROS NA 23° ED:

83


Gestão

de Resíduos

Ivã Guidini Lopes

Doutor em Aquicultura

Pesquisador na Ingredient Odyssey - EntoGreen

Santarém, Portugal

ivanguid@gmail.com

ABR/JUN 2021

Larvas de mosca soldado

negro: novidade na gestão de

resíduos, nutrição de peixes e

sustentabilidade

Você já ouviu falar na mosca soldado negro?

Essa mosca de nome curioso, cientificamente

chamada de Hermetia illucens ou BSF, é o assunto do

momento no setor agropecuário mundial. Na última

semana do mês de agosto de 2021, a União Europeia

(EU) aprovou a utilização das larvas e seus produtos

derivados (farinhas, óleos e larvas secas) como

ingredientes proteicos para a alimentação de porcos

e frangos, sendo que sua utilização na aquicultura já

está também aprovada. Aqui no Brasil, o uso da farinha

dessa larva desidratada na alimentação animal

está permitido desde novembro de 2020, de acordo

com a Instrução Normativa n° 110 do MAPA. Mas

o que isso tem a ver com a gestão de resíduos na

aquicultura?

As larvas da BSF são criadas a partir de resíduos

orgânicos, como por exemplo restos de alimentos,

resíduos do processamento de insumos agrícolas e

também os resíduos da aquicultura. Dezenas de empreendimentos

estão se estabelecendo no mundo,

inclusive no Brasil, devido ao enorme potencial desse

inseto, tanto em relação a reduzir o impacto ambiental

do descarte de resíduos quanto ao seu uso na

alimentação animal. As larvas de BSF foram destaque

até da revista Forbes no final do ano de 2019 (clique

aqui para conferir a matéria). Esse organismo transforma

os resíduos em diferentes produtos de forma

extremamente rápida (12-15 dias) e sua qualidade

nutricional é muito interessante para o uso como ingrediente

proteico. As larvas possuem até 60% de

proteína bruta e 30% de lipídeos em base seca, além

de aminoácidos e ácidos graxos essenciais em altas

concentrações. Essa grande novidade da gestão de

resíduos e alimentação animal está muito próxima da

aquicultura brasileira.

Centenas de estudos

já avaliaram

o consumo de diversas

fontes de

resíduos orgânicos

por larvas de

BSF, inclusive dos

resíduos da aquicultura,

como carcaças

e vísceras de peixes

mortos ou processados.

Portanto, esse

método já comprovado

permite

reciclar esses resíduos

e reintroduzi-los

na cadeia produtiva como alimento

alternativo para os peixes. Trazendo essa novidade

para dentro do nosso mundo da aquicultura, é possível

pensar em maneiras de atrelar o tratamento de

resíduos com a produção, por meio da integração de

sistemas.

Enquanto algumas pisciculturas, frigoríficos e centros

de pesquisa já adotaram por exemplo a compostagem

como método de tratamento de resíduos,

ou mesmo o preparo de silagens a partir de resíduos

frescos para reduzir custos com a alimentação de peixes,

por que não podemos pensar em integrar outro

tipo de sistema para o tratamento dos resíduos e beneficiar

nossa produção? A inovação está aí para ser

incorporada em nosso dia a dia!

Hoje no Brasil existem algumas empresas privadas

que estão se dedicando a este novo conceito de economia

circular referente ao tratamento de resíduos

e a alimentação animal. Produtores de larvas de BSF,

84

PARCEIROS NA 23° ED:


de tenébrios ou larvas da farinha e outros

insetos estão desenvolvendo tecnologias para suprir

a grande demanda por fontes alternativas de

proteína do mercado nacional, especialmente devido

ao preço crescente da farinha de peixe no

mercado nacional e internacional. Certamente

a aquicultura não ficará fora dessa novidade

e nos próximos anos estaremos diante de

um mercado conjunto em amplo crescimento.

Afinal, geramos grandes quantidades de

resíduos na produção aquícola e precisamos

dessas fontes alternativas para

impulsionar a produção!

Para finalizar, gostaria de apresentar

a vocês a primeira iniciativa criada por diferentes

atores relacionados à produção

de insetos no Brasil, a Associação Brasileira

dos Criadores de Insetos Alimentícios (AS-

BRACIA). Essa associação reúne diversos produtores,

pesquisadores e entusiastas do assunto, elabora

materiais didáticos e eventos e promove-se

discussões de extrema relevância para esse mercado.

Para quem ficou curioso sobre o assunto,

vale a pena conferir e começar a se inteirar desse

incrível segmento do mercado da gestão de resíduos

e alimentação animal.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

85


ABR/JUN 2021

projeto Cultura da Água é um projeto de

O extensão universitário da Universidade Federal

do Paraná que visa defender, discutir e divulgar a

aquicultura sustentável. Estes objetivos se devem em

parte ao desconhecimento do grande público e da

necessidade de divulgar a aquicultura, mas também

aos ataques frequentes tanto do mundo científico do

conservadorismo biológico como do jornalismo não

especializado, inclusive, atingindo a grande mídia.

Atualmente, com a perda gradual da importância

da TV aberta, a internet tem crescido a passos agigantados,

e grandes corporações especializadas em

entretenimentos como a NETFLIX ganharam um espaço

infinito. O documentário Seaspiracy da Netflix

é prova disso e do poder de manipulação do público

leigo, e não estou falando de um público sem educação

básica, estou falando de políticos, artistas, ativistas

sociais e professores universitários. Uma amiga minha,

veterinária, mestre e doutora da USP outro dia me

comentou: “Rodolfo, viste o documentário da Netflix?

O que você opina disso? Não comerei mais peixe!”.

O diretor Ali Tabrizi, financiado por Leonardo Di

Caprio, destaca no documentário a queda abrupta das

populações de peixes, a poluição dos oceanos, a matança

indiscriminada de mamíferos marinhos, expõe

vítimas do trabalho escravo em embarcações de pesca

e critica principalmente a Aquicultura em função do

uso de farinhas de animais marinhos como insumo na

formulação de rações.

Com relação a pesca vou deixar a meus amigos

Engenheiros de Pesca opinarem a respeito, mas sem

dúvidas o problema da pesca depredatória e a fauna

associada atingida em determinadas pescarias é um

problema sério, o que não significa que não existem

modelos de manejo.

E a aquicultura?

Bom, a aquicultura é uma grande ferramenta, que

Navegando na aquicultura

Rodolfo Luis Petersen

Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar

Universidade Federal do Paraná - UFPR

Pontal do Paraná, PR

rodolfopetersen@hotmail.com

Documentário “Seaspiracy”: A arte de

sempre colocar-nos como patinhos feios na

grande mídia

associada à pesca sustentável, visa contribuir para a

produção de proteína animal saudável no mundo.

Porém... não podemos negar nossos enormes esforços

que ainda não foram atingidos. Claro que sempre

existem casos pontuais que já estão em andamento,

mas vamos pensar analisando a indústria como um

todo.

1) A substituição completa de farinha de peixe

das rações. Poderíamos cultivar na base de farinha de

soja como fonte de proteína? A Associação Americana

de Soja já investiu milhões em pesquisas. O problema

é simples, mesmo que conseguíssemos manter a

eficiência do sistema imune com aditivos nutricionais

e microrganismos benéficos, a taxa de crescimento

ficaria comprometida, elevando os custos de produção

e o preço final do produto. Uma solução seria

desenvolver programas de melhoramento genético

tendo como base dietas sem ingredientes de origem

marinha. Outros ingredientes como larvas de insetos

e microalgas apresentam um enorme potencial para

resolver o problema no futuro.

2) A estruturação organizada de parques aquícolas

legislados, com estudos profundos de impactos e

capacidade de carga de uma determinada região, com

projetos licenciados. No caso de moluscos e cultivo

de peixes em tanques-rede existe a chance de realizar

manejos de movimentação das fazendas para mitigar o

impacto em determinada região.

Neste contexto, qual é o proposta do projeto Cultura

da Água em um fórum de discussão?

a) Transformar as fazendas semi-intensivas em

fazendas “orgânicas” manejadas mediante técnicas de

simbiótica e com o uso massivo de microrganismos

benéficos.

86

PARCEIROS NA 23° ED:


b) Novas fazendas intensivas ou superintensivas

com o mínimo uso da água e o controle total

dos efluentes, tanto em sistemas RAS ou heterotrófico

com todas as suas variantes.

c) Desenvolver programas de melhoramento

genético visando a substituição total da farinha de peixe

nas rações assim como desenvolver linhagens específicas

para sistemas de cultivo específico com controle

sanitários das sementes utilizadas.

d) Fazer uso de energias sustentáveis, como a

eólica e a solar.

e) Implementação da Aquicultura 4.0 nos sistemas

de produção: rastreabilidade completa do pescado

e de seus produtos, conexão entre ferramentas de

informação e comunicação e automação dos processos.

O problema é que, tanto na pesca como na aquicultura,

uma coisa é a teoria e outra coisa é a pratica,

mas acredito que estejamos caminhando no caminho

certo. Política, ambição econômica, países subdesenvolvidos,

e corrupção generalizada é o que domina o

mundo contemporâneo.

Sonhar não custa nada!

Sonhar é preciso pelo bem das próximas gerações.

Obs: Recomendo este documentário do ano 2020

da Rede de Pesquisa em Aquicultura IMUNOGENOM

formada por pesquisadores da Universidade de Santiago

de Compostela. https://www.youtube.com/watch?-

v=dUfB7Wh7Vk0

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PARCEIROS NA 23° ED:

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Juliana Antunes Galvão

Coordenadora do Grupo de Estudos e Extensão em Inovação Tecnológica

e Qualidade do Pescado

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP

Piracicaba - SP

jugalvao@usp.br

Todo dia é dia de pescado!

Com uma costa de 8.500 km de extensão, abrigando

um montante significativo quanto as

reservas de água doce do mundo, clima favorável ao

desenvolvimento de muitas espécies e matérias primas

diversas para elaboração de ração, a cadeia produtiva

do pescado no Brasil está em franca ascensão através

da criação de organismos aquáticos. Cadeia se estruturando,

crescendo de forma consistente, as perspectivas

são extremamente positivas.

O consumo mundial de pescado está projetado

para aumentar em 31 milhões de toneladas na próxima

década para chegar a 178 milhões de toneladas em

2025. 21,5 kg/hab./ano é uma das projeções feitas pela

FAO para 2030, puxado por países como Japão e China

com 60-40 kg/hab./ano. O Brasil com seus 9,5 kg/hab./

ano tem tido incremento considerável de consumo

nos últimos anos, mesmo com diferenças significativas

quando consideramos as diferenças regionais que nosso

país apresenta.

Não podemos afirmar que o consumo de pescado

não está enraizado em nossa história, fazendo parte

da cultura do país, vide nossa ancestralidade indígena,

onde o pescado é presença certa no dia a dia dos pratos

indígenas, e nossa colonização portuguesa, povo

este, desbravadores dos mares e grandes consumidores

de pescado.

Afinal o que houve conosco?

Historicamente não desenvolvemos esta importante

cadeia produtiva como deveríamos e poderíamos. Por

outro lado, nosso país apresenta algumas particularidades

como o oferecimento de uma gama de diferentes

proteínas de origem animal, fruto de cadeias produtivas

fortemente consolidadas.

Em muitas residências, o brasileiro não tem o hábito

de preparo, nem sabe como preparar o pescado em

casa, preferindo consumi-lo em bares e restaurantes.

Primeiramente é preciso informar ao consumidor, o

quão distinta é a proteína do pescado em relação as outras

proteínas de origem animal. O pescado apresenta

excelente qualidade proteica em termos de quantidade

e qualidade de aminoácidos, com alta digestibilidade e

valor biológico. É fonte considerável de lisina comparado

com outras fontes proteicas de origem animal. Em

relação a quantidade calórica, e qualidade de lipídeos

e proteínas, devido a diversidade de espécies e consequentemente

de composição quanto aos nutrientes,

sempre teremos uma espécie que se adeque ao plano

alimentar e cardápio do consumidor, alcançando os

distintos objetivos nutricionais. Estudos realizados em

diversos países demostram associações entre consumo

de pescado e prevenção de síndrome metabólica, diminuição

de incidência de acidente vascular, diminuição

da probabilidade de desenvolvimento de sintomas

depressivos, Alzheimer, câncer gastrointestinal.

Pescado é saúde!

Uma importante iniciativa para incentivar o consumo

é a Semana do Pescado, que prioritariamente nasceu

de uma iniciativa governamental devido as próprias demandas

do setor, no intuito de ser uma segunda Semana

Santa para o segundo semestre do ano, objetivando

alavancar o consumo e consequentemente as vendas.

Em sua 18° edição, hoje a Semana do Pescado que não

é semanal e sim quinzenal, é um evento organizado

pelas entidades nacionais no mês de setembro, apoiado

pelas instâncias governamentais, sendo uma articulação

do setor produtivo, varejo e restaurantes.

Nosso pescado precisa ir além da Semana do Pescado

e atingir diferentes nichos de mercado, chegando

a todas as mesas. Dos entraves para o consumo de

pescado, o consumidor elenca em muitas pesquisas

fatores como qualidade, preço, hábito, praticidade,

entre outros.

Hoje há uma fatia de mercado com consumidores

com conhecimento e consciência de consumo, exigindo

uma cadeia que esbanje transparência e confiança.

O consumidor está focado em sensorialidade e prazer,

buscando alimentos premium, étnicos e gourmet; saudabilidade

e bem estar buscando produtos de baixo valor

calórico, energéticos e enriquecidos nutricionalmente;

convenientes e práticos com a facilidade dos pratos

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PARCEIROS NA 23° ED:


prontos para o consumo; confiáveis e de

qualidade com garantia de origem, selos

que diferenciem o produto e qualidade;

sustentáveis e éticos com embalagens recicláveis

e certificações que atestem seus

processos.

As tendências de consumo sofreram

alterações devido a pandemia, mudanças

estas que vieram para ficar como as compras

on line, sendo necessário que o mercado

se adapte a todas as demandas que

vem surgindo.

Temos um longo caminho pela frente

para atingirmos nossos objetivos como

cadeia produtiva, para que não sejamos

lembrados apenas durante uma, ou duas

semanas do ano, porque “Dia de Pescado

é Todo Dia!”

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Adriana

Ferreira da

Silva

Zootecnista pela UEM e doutora em Ciências

Marinhas pela Universidade Nacional Autônoma

do México - UNAM.

Adriana já colocou o pé no curso

de zootecnia sabendo o que queria:

piscicultura! O mestrado na FURG,

no entanto, foi o “divisor de águas”

da sua trajetória profissional.

Atualmente na cidade de Mérida,

capital de Yucatán no México,

Adriana conta aos leitores um pouco

da sua trajetória e situação atual.

E sobre o futuro, não tem planos de

voltar a morar no Brasil.

AQUACULTURE BRASIL: Afinal, Adri é uma brasileira vivendo

no México ou uma mexicana que teve passagem

pelo Brasil?

Adriana Ferreira da Silva: Sou brasileira vivendo no

México, natural de Londrina no Paraná. Mas na verdade

meu sobrenome entrega minha nacionalidade.

AQUACULTURE BRASIL: Graduada em Zootecnia pela

Universidade Estadual de Maringá -

UEM (2007), faculdade localizada no

interior do estado do Paraná, como

foi sua aproximação com a aquicultura?

Adriana Ferreira da Silva: Na verdade,

minha história com a aquicultura

começou antes da minha vida acadêmica

iniciar. Nascida em Londrina

no Paraná, a “Meca” ou polo da produção

de tilápia nacional, já vivenciava

a aquicultura de forma empírica.

Quando comecei meus estudos

em Maringá, precisamente no meu

primeiro dia de aula, busquei o professor

de piscicultura Ricardo Pereira

Ribeiro e desde 2002 oficialmente/

profissionalmente iniciei minha jornada

na Aquicultura, quase 20 anos..

Durante minha

trajetória na graduação

me apaixonei

pelos crustáceos,

especificamente camarão.

Sabia que era necessário

uma pós nessa área.

AQUACULTURE BRASIL: Mestre em Aquicultura pela

Universidade Federal do Rio Grande - FURG (2009), e

doutora em Ciências Marinhas pela Universidade Nacional

Autônoma do México UNAM (2014). Como foram

essas experiências e o que te fez ficar no México?

Adriana Ferreira da Silva: Durante minha trajetória na

graduação me apaixonei pelos crustáceos, especificamente

camarão. Sabia que era necessário uma pós nessa

área. Fiz inúmeros estágios em fazendas e Centros de

pesquisa e optei pelo mestrado na FURG. Buscava nesse

momento trabalhar com nutrição

de camarões. Foi quando conheci

o Dr. Ronaldo Cavalli, que estava

de malas prontas para o Nordeste

do Brasil. Ele me indicou trabalhar

com um colega, Wilson Wasielesky,

nosso famoso “Mano”. Neste momento

começava uma nova etapa

da minha vida, seria o “divisor de

águas” da minha trajetória profissional.

Tive a honra de aprender

sobre a tecnologia de Bioflocos

com os pioneiros no Brasil, cheguei

exatamente quando eles estavam

apenas começando. Minha história

com México foi completamente

aleatória. Ainda queria muito desenvolver

trabalhos com nutrição

e durante meu tempo na FURG

conheci um colega mexicano, Dr

Manuel Valenzuela, quem me indicou

a Dra Gabriela Gaxiola da

UNAM no México como assessor. Antes de entrar no

doutorado, fiz estágio por um período de 2 meses, apliquei

para o doutorado, passei e estou aqui desde então.

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Inauguração da Fazenda “Acuícola Garza”. © Adriana Ferreira da Silva

ABR/JUN 2021

Surgiram muitas oportunidades na área acadêmica e

também empresarial, agarrei e me dediquei, o resultado

vocês estão conhecendo aqui na revista!

AQUACULTURE BRASIL: Além de pesquisadora,

também é empreendedora. Quantos anos tem

a empresa que você fundou, a “Acuícola Garza”?

Como surgiu a ideia de produzir tilápias em BFT?

Adriana Ferreira da Silva: A Acuícola Garza acaba de

completar 7 anos operando como uma fazenda produtora

e comercializadora de peixes e camarões. Trabalhamos

com a tecnologia de Bioflocos desde que iniciamos

em 2014. Utilizamos o BFT em todo o ciclo em

nossos 65 tanques. Nossa fazenda é uma das maiores

da região com uma capacidade de produção de 500

toneladas por ano. Estamos localizados em uma região

turística e praticamente toda nossa produção se comercializa

em Cancun e Riviera Maya. É uma fazenda comercial,

mas também fazemos pesquisa para melhoria

contínua da nossa produção. Acuícola Garza é a terceira

empresa que fundei aqui no México, Kamer e Corium

Fish foram as primeiras. Meus sócios queriam produzir

tilápia com alguma técnica ecológica e própria para

a região. Aqui não podemos escavar então construir

viveiros não era uma opção. Não temos rios, então

troca de água seria outro problema. O BFT se casou

perfeitamente com os objetivos técnicos e comerciais

da Companhia e hoje somos referência como fazenda

“eco-friendly” no México.

AQUACULTURE BRASIL: Sobre a produção de tilápia

em Bioflocos, você vê esse como um caminho

para o Brasil, que no momento sofre diante

de uma crise hídrica que atinge até mesmo o

estado do Paraná, maior produtor nacional de tilápias?

Adriana Ferreira da Silva: Eu sempre enfatizo que o

BFT não é para qualquer região e deve estar alinhado

com os objetivos de cada empresa e com os recursos

essenciais presentes, como disponibilidade de energia e

mão de obra especializada por exemplo. Realmente no

Brasil o uso do BFT no ciclo completo não seria necessário

na maioria das regiões, já que temos recursos suficientes

para produzir a menor custo monetário e ambiental.

Acredito que produzir alevinos no BFT e depois

engordar em sistema convencional seja uma opção na

maioria dos estados brasileiros. No caso específico de

certas regiões e agora com essa crise hídrica o aquicultor

deve repensar nas estratégias de produção e claro,

o BFT é uma opção que deve ser levada em consideração.

Existem ao redor do mundo muitas fazendas de

ciclo completo trabalhando tilápia nos bioflocos, portanto,

é uma realidade não mais algo piloto comercial.

AQUACULTURE BRASIL: Quais as principais

vantagens que você vê no cultivo de tilápia

em bioflocos? E quais os principais desafios?

Adriana Ferreira da Silva: A principal vantagem é a

produção utilizando poucos recursos naturais (ter-

92

PARCEIROS NA 23° ED:


reno e água principalmente) e menos alimento comparado

com os sistemas tradicionais. A qualidade do

produto é sem dúvida superior, tanto em características

organolépticas tanto em características nutricionais.

Os mercados verdes são tendências e quem não se

incorporar a eles estará fora do cenário. Quanto aos

desafios, está na produção de peixes maiores a 500g,

no modelo da tilápia. Nossas pesquisas demonstram

que peixes maiores a este peso não conseguem

aproveitar tanto os flocos, mas por outro lado seguimos

utilizando pouca água e espaço. Aqui o tamanho

comercial antes da pandemia era inferior a 500g agora

vimos uma mudança no hábito do consumidor e

querem peixes de 600 a 700g. Estamos ajustando os

processos para chegar ao tamanho que nossos clientes

necessitam sem ver afetado o custo final de produção

AQUACULTURE BRASIL: E os camarões marinhos, tem

espaço para o cultivo destes crustáceos na Acuícola

Garza?

Adriana Ferreira da Silva: Nossa empresa comercializa

camarão também. Produzimos por temporadas.

Quando iniciamos era 50% de cada produto,

depois decidimos que era mais factível a

comercialização. Agora com a entrada de um novo

sócio estamos nos organizando para voltar a produzir

em nossas instalações. Também chegamos a produzir

o langostino Australiano Cherax quadricarinatus.

AQUACULTURE BRASIL: Conte-nos um pouco de

como é a aquicultura na região de Mérida e no México

de modo geral.

Adriana Ferreira da Silva: Atualmente estou na capital

do estado de Yucatán, Mérida. Aqui no sul/sudeste

do México a aquicultura não é tão popular como é no

norte do pais. Devido algumas características, como

solo cárstico (rochoso), falta de rios (só existem rios

subterrâneos) e por ter áreas naturais protegidas em

toda costa praticamente. A grande vantagem é o clima,

todo ano temos temperaturas elevadas próprias para

produção de organismos tropicais e estamos ao lado

da maior zona turística do país, o que ajuda a escoar

a produção. Predomina aqui no sul/sudeste produção

de tilápia, camarão Litopenaeus vannamei, rã, a lagosta

Australiana, uma das maiores fazendas de ornatos da

América Latina, pepino do mar, laboratórios de alevinos

ABR/JUN 2021

Adriana em sua Fazenda

“Acuícola Garza”.

© Adriana Ferreira da Silva

PARCEIROS NA 23° ED:

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de tilápia e recentemente um laboratório de larvas de

camarão. Já no norte do México temos as grandes fazendas

de camarão, lembrando que o México perde só

para o Equador na produção Latino Americana, tilápia

e peixes marinhos diversos. No centro do país a truta,

a carpa, bagre, ostras e peixes nativos de água doce

como o peixe lagarto (parecido com o nosso pirarucu).

AQUACULTURE BRASIL: Previsto para ocorrer

em 2021, mas adiado em virtude da pandemia,

o congresso da WAS - World Aquaculture Society

será realizado em 2022 em Mérida, de 24 a

27 de Maio. Você está participando da organização?

Tem alguma novidade a respeito desta edição?

Adriana Ferreira da Silva: Estamos bastante

emocionados com o Congresso, estou na organização

e fiquei encarregada do tour nas principais fazendas da

região e da mesa redonda Mulheres na Aquicultura.

Muitas novidades no Congresso, esperamos contar com

a presença de muitos brasileiros.

Adriana Ferreira da Silva: Minha relação com a internet

começou em 2016 quando criei meu blog. Neste

momento comecei a ganhar gosto por trabalhar com o

digital. Depois veio a era dos vídeos, na verdade desde

2019 faço Lives, mas naquela época usava a conta da

empresa e não guardava os vídeos, eram ao vivo mesmo,

sem repetição. Ano passado foi quando a maioria

das pessoas ficaram frente aos meios digitais e acabei

sendo mais visualizada. Fizemos ao redor de 80 transmissões

na minha conta de facebook e outras como

convidada, acho que foram mais de 100 participações

entre conferências e Lives. Este ano resolvi criar meu

canal de YouTube onde transmito nas segundas-feiras

a retrospectiva dos vídeos anteriores que estão no Facebook

e toda quarta-feira vídeos inéditos. Os temas

são todos relacionados a “Tendência Aquícola”, que por

sinal é o nome do meu canal.Eu amo divulgar conteúdo

aquícola e marcas que sejam importantes para o desenvolvimento

do setor. Temos adicionalmente cursos digitais

e mentoria para produtores que buscam incursionar

na aquicultura.

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AQUACULTURE BRASIL: E a respeito da piscicultura

marinha, que o México tem apostado em algumas

espécies. Como você vê a evolução desse setor no

México? Estaria o México a frente do Brasil na corrida

pela produção de espécies marinhas?

Adriana Ferreira da Silva: Realmente a piscicultura

marinha é uma realidade para algumas espécies, por

exemplo: robalo Centropomus undecimalis, jurel Seriola

lalandi, atum Thunnus orientalis, corvina Sciaenops

ocellatus, cobia Rachycentron canadum, pargos Pagrus

pagrus, totoaba Totoaba macdonaldi e outros. México é

um país tradicionalmente pesqueiro, mais que aquícola,

os avanços na piscicultura marinha vão neste contexto,

a preferência no consumo realmente é de produtos

marinhos. Existia apoios governamentais que ajudaram

a expandir este setor, agora tudo é por capital privado.

Mesmo assim esse capital injetado pelo governo contribuiu

para expansão do setor. Segundo as estatísticas de

produção o México produz uma variedade de organismos

marinhos, não só peixes, superior ao Brasil. Dados

da FAO demonstram esta realidade entre os dois

países. Diferente da produção em água doce, que no

Brasil é superior.

AQUACULTURE BRASIL: Em Abril de 2020 (pode

nos corrigir se estivermos errados) você começou

a fazer lives transmitidas pelo facebook.

Como surgiu e como tem sido essa experiência?

AQUACULTURE BRASIL: Das mais de 50 lives salvas em

seu canal no YouTube, com diferentes especialistas e

pessoas ligadas a aquicultura, qual delas foi a que mais

te marcou e por quê?

Adriana Ferreira da Silva: Difícil de responder, acho

que cada entrevistado aportou muito com sua trajetória

e conhecimento e tenho muita estima por cada um que

participou das nossas entrevistas. Escolho todos!

94

PARCEIROS NA 23° ED:


AQUACULTURE BRASIL: Cada vez mais nós vemos mulheres

liderando e conquistando espaço na aquicultura.

Inclusive, esse também foi um dos temas de uma de suas

lives. Como você vê esse crescimento das Mulheres na

Aquicultura?

Adriana Ferreira da Silva: Acho que posso dizer que

sou militante neste tema, parte dos meus propósitos é

ajudar mulheres para que atuem no setor. Hoje vemos

uma atuação maior, mas ainda temos áreas a cobrir, principalmente

nos postos de liderança. Acredito que falta

promover a diversidade nas empresas, incluindo políticas

efetivas de equidade de gênero, desenvolver um plano

de carreira estratégico, oferecer mentorias e treinamentos

e criar espaços seguros e igualdade salarial.

AQUACULTURE BRASIL: Pensa em voltar para o Brasil e

continuar na aquicultura por aqui?

Adriana Ferreira da Silva: Para o Brasil só volto para

passar férias (risos). Ajudo produtores brasileiros com

cursos, consultorias e assessorias de forma remota e tenho

alguns convites para cursos presenciais. Mas estou

realizada aqui e muito feliz!

Parte dos meus propósitos

é ajudar mulheres para

que atuem no setor. Hoje

vemos uma atuação maior,

mas ainda temos áreas a

cobrir, principalmente nos

postos de liderança.

ABR/JUN 2021

PARCEIROS NA 23° ED:

95


ELAS FAZEM A

Ofélia Maria Campigotto

Mulheres fazendo a diferença na aquicultura! É o caso da Ofélia, a atual presidente

da Associação Catarinense de Aquicultura (ACAq) e há mais de 20 anos no ramo da

piscicultura. Ela nos contou um pouco dessa história. Confira!

“Sou filha de Agricultor, vivi no campo e conheci

a “Tilápia” ainda quando criança... Para nós era o

“Peixe capim” e era um peixe apenas para consumo

próprio. Fui à luta muito jovem para estudar e

trabalhar. Minha Mãe faleceu quando eu tinha 3

anos de idade... Meu Pai (Elias Campigotto - Hoje

com 90 anos) aos 28 anos ficou viúvo e com 4 filhos...

imagina a batalha que foi... Como sou a mais jovem

das mulheres, sempre tive muitas responsabilidades,

aprendi a liderar na marra, tinha que ajudar nas tarefas

domésticas, comida, roupas e tudo mais... Quando

sai de casa foi para estudar e trabalhar, passei por

Curitiba, Blumenau... Trabalhei na Arno S.A. por 22

anos com promoções e vendas! Foi uma grande escola,

aprendi muito e sou bem grata por tudo. Com o

tempo de serviço, 30 anos, chegou à aposentadoria...

Ufa! Com o meu fundo de garantia comprei o Sítio

onde estamos hoje (Fazenda Nossa Sra. de Fátima)

com meu marido, Paulo Marangoni, em Gaspar/SC. O

sítio tem 42,6 hectares de terra e usamos 2 hectares

com as lagoas de tanques escavados. Produzimos em

média 50.000 kg por ano. Podemos produzir mais,

mas o momento com os custos altos das rações e

energia elétrica é bom ter cautela. Afinal temos que

pagar tudo adiantado, para receber só com as vendas

dos Peixes. Nosso foco de vendas é para Pesque e

Pague da região..”

ABR/JUN 2021

Inovação “dentro de casa”

“O Paulo é um inventor... Já desenvolveu alimentador

automático para peixes, aeradores, tudo automatizado

pra facilitar o nosso dia a dia na Piscicultura.

Instalamos em 2020 placas para energia fotovoltáica,

hoje o sol gera nossa energia. Há também um projeto

em desenvolvimento com sondas. Como somos “apeixonados”,

estamos bem envolvidos na atividade em

Gaspar e no estado como um todo. A porteira de nossa

piscicultura está sempre aberta para receber os envolvidos

na atividade, só agendar com antecedência.”

Ofélia Maria Campigotto

96

PARCEIROS NA 23° ED:


A aquicultura e a fotografia

“Quando o Paulo estava como Presidente da AQUI-

PAR - Associação dos Piscicultores do Município de Gaspar/SC,

comecei a acompanhar as reuniões e percebi

que tinha falta de informações e registros. Comecei fazendo

lista de presença, atas, súmulas, e um dos nossos

objetivos estava na divulgação dos trabalhos realizados,

inclusive, está registrado isso no Estatuto da AQUIPAR

“Objetivos: Apoiar e estimular o ensino, a pesquisa, a

extensão e os trabalhos técnicos e científicos de interesse

da Aquicultura/Piscicultura e Divulgar os mesmos”.

Assim, procurei imagem de Peixes e fiquei bem decepcionada…

Então resolvi fazer um Curso de Fotografia

na FURB - Blumenau/SC. Amei e até hoje continuo

fazendo os registro dos eventos, dos peixes e outros..”

Reeleita para mais uma gestão na ACAq, Associação

Catarinense de Aquicultura

“No dia 24/09/2021 a ACAq completou 36 anos

e fui reeleita para a gestão de 2022 a 2023. A ACAq

foi formada para atender Piscicultura/Aquicultura /

Maricultura e Carcinicultura. Quando assumimos

em 2018, nosso objetivo foi de trabalhar somente

com a Piscicultura/Aquicultura, até que em 2020

conseguimos, depois de muitas reuniões, registrar o

novo Estatuto da ACAq. Quem me desafiou foi o Sr.

Evandro da ACQUA SUL Piscicultura - Ilhota/SC e hoje

um dos maiores Produtores de Alevinos do estado.

Com o objetivo de fortalecer e desenvolver a atividade,

temos muitas pessoas e entidades envolvidas com

a associação, como piscicultores, técnicos, pesquisadores,

professores, empresas do ramo de equipamentos

e rações e muitos outros… um depende do

outro. “Toda força será fraca se não estiver unida”. E

estamos sempre pensando no tripé social, econômico

e ambiental. A atual gestão é composta por (cargo/

município): Presidente: Ofélia Maria Campigotto

(Gaspar), Vice-Presidente: Marcelo Luchetta (Massaranduba),

Primeiro Secretário: Túlio Ramos ( Agrolândia),

Segundo Secretário: Marcio Schwanz (Blumenau),

Tesoureiro: Cristiane Zappelline. Conselho

Fiscal: Três (3) Membros Efetivos: Orlando Giovanella

(Cooper Juriti - Massaranduba), Tiago Heidemann

Wensing (AAQUIAR - Armazém), Vilson Isidoro - (Belo

Peixe Trutas - Lages) . Três (3) Suplentes: Jamiro

Altrak (Joinville), Ivanir Sandri (Gaspar), Edmar Hélio

Michelluzzi (APISNA – Massaranduba)”.

Principais trabalhos desenvolvidos pela ACAq

“Um dos maiores desafios foi uma atualização

da Lei nº 15.736/2012, que disciplina a piscicultura

de águas continentais no estado. A principal

mudança foi nos critérios para o licenciamento

ambiental. A proposta permitiu o uso de áreas de

preservação permanente para a atividade da piscicultura

– seguindo critérios que liberem a produção,

sem comprometer a preservação da vegetação

nativa. A mesma foi aprovada na ALESC

em 04/12/2018, onde trabalhamos em conjunto

com o IMA / SAR e ACAq - elaborando os “Termos

de Referência e Termo de Cooperação”. Outro

ponto foi o Recadastramento Rural, entender

como fazer, buscar prorrogação para os pedidos

etc. A aprovação da suspensão da outorga para

uso de águas por pequenas propriedades rurais,

através da Portaria SEMA nº 257/2021, aprovada

em maio deste ano. Em 2019 tivemos o Primeiro

encontro com o Secretário de Aquicultura e

Pesca do Governo Federal Sr. Jorge Seif Júnior em

Itajaí/SC na Epagri, onde foi entregue uma Carta

de solicitações da Piscicultura/Aquicultura do estado,

onde um dos Pedidos foi a suspensão do PIS/

Confins na ração de Peixes. Também temos participação

na Câmara da Setorial da Piscicultura,

e estamos sempre envolvidos com diversos órgãos,

como outras associações, cooperativas, Epagri, institutos

de pesquisa, universidades e muito mais. ”

O que mais marcou nesse período de 20 anos

na piscicultura

“Principalmente os Trabalhos Realizados! Criado

o “Dia do Pescador” em Gaspar/SC. A data

é comemorada no dia 29/06, dia de São Pedro!

Padroeiro dos Pescadores! o Primeiro foi em

29/06/2010, na Truticultura Bertoldi. O evento é

sempre acompanhado de Palestras sobre Aquicultura/Piscicultura

e com um almoço a base de Peixe.

Temos também o Festival Gastronômico da Tilápia

de Gaspar, que já está na sua quinta edição.

Além disso, Gaspar recebeu um prêmio em 2019

“Prefeito Empreendedor” com a Piscicultura”.

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ELAS FAZEM A

Ofélia Maria Campigotto

Uma opinião sobre a Peixe BR

“A Peixe BR soma muito com o setor com as informações,

publicações sobre a Piscicultura a nível nacional

e os desafios a serem conquistados. Mas, ainda

tem que ter um olhar mais voltado para os médios

e pequenos produtores, que é a nossa realidade”.

Importância da Semana do Pescado

“Somos Apoiadores: ACAq / AQUIPAR juntamente

com o SINDIPI e muitas outras pessoas

como a Fernanda Queiróz em Joinville/ SC. Sempre

acompanhei a “Semana do Pescado” e foram feitas

algumas ações por aqui em Gaspar/SC junto aos Associados

da AQUIPAR. Foi criada a Câmara Técnica

da Piscicultura e Agricultura - DEL aqui em Gaspar/

SC “Queremos aumentar o consumo do Peixe de

uma maneira geral. Já temos o filé de tilápia na merenda

Escolar. Penso quer temos que saber vender

melhor o nosso Peixe. Ter Pertencimento! Valorização

e melhor aproveitamento! Hoje já estamos na

Medicina com a Pele de Tilápias! Turismo dentro da

atividade também é um grande potencial que ainda

é pouco explorado pelos piscicultores”.

encontrei muitas pessoas a nível nacional… Principalmente

mulheres. Nós começamos a conversar,

se conectar via WhatsApp… Conversei com a Vera/

Fernanda / Marilza e formamos o Grupo “Mulheres

na Aquicultura” em 10/02/2021. Acredito na

Força das Mulheres! Principalmente em Gestão/

Organização… Com amor, dedicação e determinação!

“A Piscicultura tem muito envolvimento das

mulheres, na organização e controle, na alimentação

com a elaboração de preparo dos peixes,

no atendimento, na Educação, ou seja, em várias

funções. E entre as funções em que há mulheres

fazendo diferença, a de pesquisa científica e atendimento

no serviço público ganham destaque. Juntas

somos mais fortes! E contamos com apoio dos

Homens também, afinal queremos igualdade.”

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Grupo

“Mulheres na

Aquicultura”

“Com a Pandemia

passamos

mais tempo em

casa… e assim,

também com mais

tempo para estudar,

ler, fazer cursos online

e acompanhar

as Lives sobre Piscicultura/

Aquicultura.

E nesse meio

de mídias sociais

Eleição da diretoria 2022-2023 da ACAq

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Os sistemas de policultivo com tilápias e camarões de água doce são uma atividade

promissora em termos de sustentabilidade e rendimento. Pequenos produtores podem

se valer desta ferramenta para aumentar sua lucratividade, assim como fez o produtor

Édi Carlo de Klitzke de Timbó/ SC. A técnica de produção foi instruída pela equipe do

Laboratório de Carcinicultura da UFPR - Maripá e a produção foi acompanhada pelo

técnico de campo Luciano de Souza, Engenheiro Ambiental.

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Resultados da Fazenda -

Edi Carlo de Klitzke

Data do povoamento: nov/2020

Número de animais estocadas:

2250 tilápias e 4.000 camarões

Área do viveiro: 1.200 m²

Densidade: 1,875 tilápias e 3,33 camarões/m²

Data de despesca: set/2021

Período de cultivo: +/- 10 meses

Peso final: tilápias 900g e camarões 36g

Biomassa final:1.813 Kg de tilápias e 90 Kg de

camarão

Produtividade: 1,58 Kg/m 2

Sobrevivência: 89,5 % tilápia 62,5 % camarão

Total de ração utilizada: 2.112,3 Kg

Conversão alimentar: 1,11:1

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