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Três Séculos da Cavalaria em Minas

Livro histórico : Professor Cléber Almeida de oliveira

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EQUITATVS SEMPER:

TRÊS SÉCULOS

DA CAVALARIA

NAS MINAS GERAIS.

A EPOPÉIA E

O LEGADO

CONTINUAM.

ESCRITO POR

CLEBER ALMEIDA DE OLIVEIRA

CAPA

RUBENS JOSÉ (BÉLIKO) TOLEDO

REVISÃO

MARCUS AURÉLIO – TENENTE-CORONEL (CAVALARIA)

COMANDANTE DO 4º ESQUADRÃO C. MEC.

ESQUADRÃO DRAGÕES REAIS DAS MINAS

DIAGRAMAÇÃO E EDIÇÃO

EDITORA MARIANA HISTÓRICA E CULTURAL

2019

(PUBLICADO EM 2021)

IMPRESSÃO: GRÁFICA FORMATO

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AGRADECIMENTOS

PELA CESSÃO DE SEUS ARQUIVOS E IMAGENS::

CRISTIANO CASIMIRO DOS SANTOS

E SAULO PFEIFFER

PELO PATROCÍNIO E APOIO

DE ENTIDADES DA SOCIEDADE SANDUMONENSE

E DE MARIANA – MG

ACE / CDL (SANTOS DUMONT – MG)

ACIASD (SANTOS DUMONT – MG)

ADESAN (SANTOS DUMONT – MG)

ASSOCIAÇÃO DE MILITARES DA RESERVA

(SANTOS DUMONT – MG)

EDITORA MARIANA HISTÓRICA E CULTURAL

( MARIANA -MG)

CONTUR (SANTOS DUMONT – MG)

LOJA MAÇÔNICA ANTENOR AYRES VIANNA

(SANTOS DUMONT – MG)

SINDCOMÉRCIO (SANTOS DUMONT – MG)

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

AO SR. CRISTIANO CASIMIRO DOS SANTOS,

IRMÃO DRAGÃO REAL DAS MINAS,

CUJO ENVOLVIMENTO, TENACIDADE

E ESPÍRITO FRATERNO E GUERREIRO,

PERMITIU TANTO A REALIZAÇÃO E O SUCESSO

DOS EVENTOS DA COMEMORAÇÃO DOS 300 ANOS

DA CHEGADA DOS DRAGÕES DEL REY, EM 2019,

CAPITANEANDO A PARCERIA ENTRE

A CIDADE DE MARIANA-MG

AO 4º ESQUADRÃO DE CAVALARIA MECANIZADO

DRAGÕES REAIS DAS MINAS,

BEM COMO SER O FATO DE SER O MECENAS/PATRONO

DA PUBLICAÇÃO DESSE LIVRO/OBRA.

À ELE,

EXEMPLO/PARADIGMA DE DEDICAÇÃO, EMPENHO E

MAESTRIA AOS ESTUDOS E PESQUISAS HISTÓRICAS,

NOSSOS ETERNOS RECONHECIMENTO E AMIZADE,

E, MAIS IMPORTANTE,

O ORGULHO INDELÉVEL POR TÊ-LO

EM NOSSAS FILEIRAS E POR PODERMOS

OMBREAR NA LUTA PELO ISONÔMICO

CONHECIMENTO/PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA.

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IN MEMORIAM

MAJOR REINALDO MENNA BARRETO DE B.F. BOSON

EX- COMANDANTE (31/03/1986-29/01/1990)

AMOU TANTO O 4º ESQD CMEC DRM, QUE, POR

DESEJO SEU, TEVE SUAS CINZAS ESPALHADAS NESSA

OM

SARGENTO FRAZ HOLSTEIN LIGÓRIO DA FONSECA

(PATENTE QUE O CONHECI, NA RESERVA TENENTE)

AMIGO E IRMÃO DRAGÃO REAL DAS MINAS,

E CO-AUTOR (COMIGO)

DO PROJETO DE DENOMINAÇÃO HISTÓRICA DESSA

OM

SRA. EULÁLIA JORGE MACHADO

(CARINHOSAMENTE ALCUNHADA “GENERAL LALINHA”)

AMIGA E IRMÃ DRAGÃO REAL DAS MINAS,

COLABORADORA EMÉRITA E BENEMÉRITA DESSA OM

E A TODOS OS DRAGÕES REAIS DAS MINAS

QUE PASSARAM(ÃO) PARA A ETERNIDADE,

IRMANADOS, OMBREADOS E CERRANDO FILEIRAS

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SER DE CAVALARIA – é ser da astúcia enamorado;

da bravura, amante; da audácia, apaixonado; da

iniciativa, servo. É fazer do perigo a sublime loucura

que, em infrene galopada, conduz as raias luminosas

do heroísmo.

(Ten. Cel. Cav. LUIS FELIPE DE AZAMBUJA)

A cultura histórica tem o objetivo de manter viva a

consciência que a sociedade humana tem do próprio

passado, ou melhor, do seu presente, ou melhor, de si

mesma.

Não basta dizer que a história é o juízo histórico, mas é

preciso acrescentar que todo o juízo é juízo histórico,

ou história, com certeza.

(BENEDETTO CROCE – filósofo, historiador e político

italiano; 1866-1952)

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ÍNDICE

PREFÁCIO

ALMA DE CAVALARIANO

INTRODUÇÃO

1. HISTÓRICO CONCISO

2. NO CUMPRIMENTO DO DEVER

2.1 Participação em Missões de

Paz da ONU e eventos/missões nacionais

2.2 Relatos testemunhais dos atuais

Dragões Reais das Minas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

FOTOS

ANEXO 1

ANEXO 2

ANEXO 3

CAPITÃO “DRAGÃO” JOÃO FERNANDES

FERREIRA

UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA

07

11

14

20

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88

91

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110

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PREFÁCIO

O Livro “EQUITATVS SEMPER. TRÊS SÉCULOS DE

CAVALARIA NAS MINAS GERAIS: A EPOPÉIA E O LEGADO

CONTINUAM”, se divide em três partes: CAP. 1. HISTÓRICO

CONCISO; CAP. 2. NO CUMPRIMENTO DO DEVER – 2.1

Participação em Missões de Paz da ONU e eventos/missões

nacionais, 2.2 Relatos testemunhais dos atuais Dragões Reais

das Minas –; e ANEXOS.

Trata tanto do tricentenário da chegada, em 1719, dos

Dragões Reais das Minas, na época “Dragões Del Rey”, como

também do transcurso dos noventa anos de criação do 4º

Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, única unidade de

cavalaria do Exército Brasileiro sediada no Estado de Minas

Gerais. Esta singular organização militar é integrante da 4ª

Brigada de Infantaria Leve de Montanha e, só por esse motivo já

alcançaria lugar de honra entre as tropas especiais de nosso

exército.

Porém, é importante salientar que os “Dragões Del Rey”,

primeira tropa de elite da Coroa Portuguesa no Brasil, além de

fazerem cumprir as determinações régias, os crimes de lesamajestade

e coibir revoltas internas – como a sedição de Vila

Rica de 1720, ou a revolta de Felipe dos Santos, considerada a

última revolta nativista colonial – forneciam segurança e

proteção para a população e os viajantes – quase sempre

tropeiros – nas Minas Gerais do século XVIII. Em vista dos

crimes de lesa-majestade ou de iminente conflagração, a Coroa

Portuguesa – na pessoa de Dom João V – tomou medidas firmes

para assegurar o controle dessa região, criando tanto as juntas

de julgamento, como também, enviando, em 1719 (conforme

disposto na Carta Régia de 20 de junho daquele ano), duas

Companhias de Dragões provenientes do norte de Portugal.

Essas últimas eram forças militares profissionais que tinham

como finalidade fazer cumprir a lei, controlar os escravos,

escoltar o transporte do ouro e reprimir distúrbios nas regiões

metropolitanas. Embora pareça um pouco dicotômico, essas

tropas, que poderiam ser auxiliadas por milícias criadas para

enfrentar casos de emergência, em que pese contar com suas

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fileiras formadas por maioria de brancos, eram compostas

,também, por ex-escravos, negros e mulatos, o que era algo

inédito e inovador até então, parecendo antever que um dia o

nosso país teria uma tropa genuinamente brasileira, sem

distinção de raça, origem ou condição social, uma “fusão de

raças e forte semente”, como é o Exército Brasileiro.

Convém destacar também que essas tropas de regimento

regular de cavalaria que vieram atuar na então Região das Minas

d'Ouro – por isso chamados de “Dragões Reais das Minas”–

foram os primórdios do surgimento da Polícia Militar em Minas

Gerais e de unidades semelhantes no Brasil – que os

substituíram, a partir de 1775, no combate às ações dos bandos

armados da Mantiqueira e Macacu – que atuavam nos “Sertões

do Leste”, hoje Zona da Mata Sul.

Interessante complementar que a quadrilha da Mantiqueira,

liderada por um cigano denominado Joaquim de Oliveira, que

tinha por alcunha “Montanha”, compunha-se de mestiços e

ciganos, e agia nos sertões da Mantiqueira durante os anos

iniciais da década de 1780. Atacando tropeiros que iam

abastecer a região das minas ou que desciam em direção ao Rio

de Janeiro com suas valiosas cargas.

De outro lado, nos sertões das Cachoeiras de Macacu –

Sertões do Leste (Zona da Mata Mineira) – atuou o bando de

contrabandistas, comandado pelo lendário “Mão de Luva”, que

agiu também nos anos iniciais da mesma década, composto por

brancos pobres, escravos, libertos e indígenas. Este bando, em

particular, ocupava-se do extravio do ouro para o Rio de Janeiro,

procurando, dessa forma, fugir dos “registros” (pontos de

controles dos portugueses) e dos destacamentos localizados

naquelas proximidades.

Não fosse a presença vigilante e repressora dos Dragões

Reais das Minas, que lhes impuseram sucessivas derrotas,

esses grupos teriam cumprido com êxito seus criminosos

intentos. Garantiu-se o império da lei e da ordem.

Recentemente, as várias missões cumpridas pelo “Nosso

Esquadrão”, tanto no Brasil como integrando Forças de Paz da

ONU – United Nations Operation in Mozambique (ONUMOZ);

Missão de Observação das Nações Unidas em Angola

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(MONUA); Missão das Nações Unidas para Estabilização do

Haiti (MINUSTAH) –, atestam o adestramento da tropa, o forte

espírito de cumprimento do dever, profissionalismo e, ainda, o

permanente estado de prontidão dessa unidade. Fiéis à tradição

de seus predecessores, que há trezentos anos impuseram e

mantiveram a lei e a ordem no Brasil Colônia, os modernos

“Dragões Reais” continuam cumprindo sua missão com grande

devoção, abnegação e excessivo patriotismo.

Os relatos testemunhais contidos nesta obra, tanto de

militares da ativa, como da reserva, dão a devida sustentação à

atuação e o emprego das tropas dessa OM em missões

nacionais e internacionais. Devido à informalidade e a

autenticidade dessas memórias, as mesmas não foram tratadas

com rigor acadêmico, ou seja, sendo apenas adicionadas

as mesmas não foram tratadas com rigor acadêmico, ou seja,

sendo apenas adicionadas ao corpo textual da obra, sem

interferências do autor ou de terceiros. A somatória de todos

esses testemunhos revela, além dos atributos já destacados, a

irrestrita determinação e busca constante pela excelência e pelo

aprimoramento evolutivo permanente dessa tropa, retrados na

obediência devida às leis e na defesa do Brasil e da sua gente.

Conclui-se, por fim, que independentemente da época,

dos meios a serem empregados ou dos recursos disponíveis, o

fator humano será sempre determinante para o sucesso em

todas as ocasiões. Isto poderá ser comprovado facilmente nas

histórias relatadas durante a leitura. Assim, poderemos concluir,

ao término da mesma, que esses guerreiros modernos são

verdadeiramente os herdeiros incontestáveis e legítimos das

nobres tradições daquela primeira unidade regular de

Cavalaria, e reforçam os traços de identidade que os mantém

coesos nesse firme propósito de continuarem a ser uma tropa

tão especial.

Assim, nobres cavalarianos, saibam manter sempre viva

a herança e a memória dos feitos heróicos de seus

predecessores, de uma saga que foi iniciada há trezentos anos

e que continua a ser galgada com êxito, demonstrando às

gerações atuais e futuras de novos “Dragões Reais das Minas”

que o caminho a ser trilhado é sempre o da verdade e o da vida

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em retidão, em qualquer época e em qualquer lugar.

Parafraseando o insígne patrono da arma de Cavalaria,

olhando os feitos dessa honrada unidade militar, com orgulho

posso afirmar também:

“É FÁCIL A MISSÃO DE COMANDAR HOMENS LIVRES,

BASTA MOSTRAR- LHES O CAMINHO DO DEVER!”

(Gen. Osório, Passo da Pátria, 1866)

VIDA LONGA AOS DRAGÕES!

VIDA LONGA À CAVALARIA!!

GENERAL DE BRIGADA ALCIO ALVES ALMEIDA E

COSTA

Comandante da 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha

(2019-2020)

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ALMA DE CAVALARIANO

Assentado à beira do fogo de chão, no acampamento

brasileiro em Tuiuty, em plena campanha do Paraguai, o velho

soldado esquentava sua água para o chimarrão, quando foi

interrompido pelas palavras do recém-chegado voluntário da

Bahia: “por favor, como faço para conhecer o General Osório?”

Ao que lhe respondeu o velho, mansamente: “por que você quer

conhecê-lo?” “Ouvi dizer que sua liderança é tão grande que faz

a tropa superar qualquer desafio!” Disse o baiano, bastante

entusiasmado. O velho, fitando os olhos no jovem moço,

respondeu: “não é bem assim! Osório também tem medo e

muitas outras dificuldades. Sente aqui e vou te contar sobre

isso!” Os dois começaram uma longa conversa, regada a

chimarrão e, ao terminá-la, o velho chamou um soldado que

estava próximo à barraca e lhe disse: “acompanhe esse novo

soldado até sua barraca, para que não se perca no campo!” O

baiano, ao levantar-se, agradeceu a cordialidade e, antes de

sair, perguntou ao velho: “qual seu nome?” O velho, antes de

sorver o mate, respondeu: “Manuel Luís..seja bem-vindo ao

Paraguai!” Ao saírem dali, o baiano, frustrado por não ter

conhecido o famoso general, mas admirado pela atenção do

velho, confidenciou ao soldado que lhe acompanhava: “gostei

desse velho, muito atencioso esse tal Manuel Luís, não é?” O

soldado então abriu um sorriso e lhe respondeu: “ele é sempre

assim! Esse é o General Osório!” Adaptado do livro Osório:

síntese de seu perfil histórico. (MAGALHÃES, 2008, p.332).

Esse texto resume a essência do que é o Cavalariano.

Valentia, destemor, coragem, iniciativa, astúcia, em suma: um

guerreiro. Mas isso não o torna desumano. A humildade, a

camaradagem e a empatia para com seus semelhantes o fazem

ser diferente e único, tanto na guerra, quanto na paz.

Quando assumi o Comando do 4º Esquadrão de Cavalaria

Mecanizado, para o biênio 2019-2020, foi com grande satisfação

que me inteirei da sua singular condição de herdeiro das

tradições e da missão precípua dos DRAGÕES REAIS DAS

MINAS (os antigos DRAGÕES DEL REY), e que é a

Denominação Histórica dessa Organização Militar, fato este que

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me confere uma maior responsabilidade ao ter a oportunidade

de liderar tropa tão ímpar. Os modernos DRAGÕES,

aquartelados em Santos Dumont-MG, e que são os

responsáveis pela operacionalidade e adestramento

exemplares da única unidade da Arma de Cavalaria do

Exército Brasileiro nas Minas Gerais, sempre prontos a atender

ao chamado dos seus Comandantes, e da Pátria, sentem um

vívido orgulho pela distinção de serem os continuadores e

preservadores do legado da primeira unidade de Cavalaria

Regular a atuar em território nacional, ainda no período colonial

e, mais ainda, por se tratar de uma tropa de elite que

possibilitou o estabelecimento da ordem pública, da legalidade

e da paz social nas plagas mineiras.

Como mineiro honorário da imponente Mantiqueira, sinto

que esses laços, essa relação histórica, se estreitam mais e

mais a cada dia de caserna. Aprendo pouco a pouco, a todo o

momento, e quanto mais me cerco de informações relevantes

sobre essa saga que se iniciou no século XVIII, mais

precisamente em 1719, aumenta a convicção, a disposição e a

determinação de que fui agraciado com essa oportunidade,

tanto na minha carreira militar como na vivência cidadã, de

ombrear com tão relevante passado e tão promissores presente

e futuro dessa linhagem de guerreiros.

Este Livro comemora e enaltece os trezentos anos da chegada

das duas primeiras Companhias de Dragões vindas do norte de

Portugal, com sessenta homens cada, no tempo do Conde de

Assumar (D. Pedro de Almeida Portugal), bem como as

relevantes ações realizadas ao longo dos noventa anos do 4º

Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, o “ESQUADRÃO

DRAGÕES REAIS DAS MINAS”. Aprouve ao DEUS Todo-

Poderoso que essa distinção se desse sob o meu Comando

nesta OM. Me sinto honrado por essa tarefa, de sorte que me

presto a responder a esse chamado para me inserir, em

definitivo, na conclusão dessa missão.

Caberia, ainda, um capítulo inteiro apenas para agradecer

ao legado imensurável construído e deixado por algumas

personalidades ímpares, civis e militares que muito contribuíram

para o engrandecimento do “Nosso Esquadrão”, sem as quais a

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nossa história estaria incompleta. Seria, porém, uma tarefa

impossível de ser feita com toda a justiça que merece, posto que

algum nome poderia ser olvidado.

Por fim agradeço ao Professor Cléber, amigo e entusiasta

da causa deste Esquadrão, pela honra que me foi concedida,

permitindo-me tecer essas breves palavras.

Coronel Marcus Aurélio de Albuquerque Pinto.

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INTRODUÇÃO

Paolo Mantegazza (1831-1910), neurologista, fisiologista

e antropólogo italiano, além de escritor de ficção, frisou, certa

vez, que “O homem a pé é uma inteligência que procura; o

homem a cavalo uma inteligência que conquista; o homem a pé é

um filósofo que observa e pensa; o homem a cavalo é um

pensamento que devora o espaço e que domina o mundo”.

Externalizando uma reflexão direta e objetiva, já antecipando as

devidas vênias a interpretações díspares e não tão pontuais,

através da qual me parece inegável que o mesmo tenha

conseguido captar e transformar em um tão arguto e belo e

preciso pensamento tudo aquilo o que representa as obras e as

conquistas atemporais e milenares da Cavalaria e o sentimento e

a alma que revestem e talham os briosos Cavalarianos.

São tantos os exemplos de grandes figuras da História

que se sobressaíram como Comandantes dessa Arma que

apenas citar o fato de que o maior General de todos os tempos,

Alexandre, o Grande, aos 16 anos já era líder do Esquadrão de

Elite da Cavalaria Real Macedônica, conhecida como a “Ponta”,

o qual foi decisivo tanto na conquista da Grécia como na

construção do posterior Império Helenístico; uma garantidora de

vitória nas mais decisivas batalhas. A qualquer um que cruza os

portões de qualquer OM de Cavalaria, ou que tem contato com

um Cavalariano, resta a certeza que há ali um singular e verídico

amor pelos animais, como que mantendo a herança de

Alexandre, o Grande, que tanto apreço, carinho e dedicação

sempre demonstrou por dois grandes e ternos amigos e

companheiros: Bucéfalo, seu majestoso Cavalo; e Péritas, seu

fiel Cachorro – um molosso, que se sacrificou para salvar o dono

em batalha contra os Malos, na confluência do Rio Indo.

Avançando um pouco mais no tempo, Fedeli (2018, p. 1)

esclarece que, na Idade Média, a Cavalaria “era a forma cristã da

condição militar” e “o cavaleiro era o soldado cristão” na sua

plenitude, e que mais do que uma instituição, a Cavalaria foi um

ideal de vida militar, que foi por meio dela que a Igreja

transformou os bárbaros em santos. Assim, quando se compara

um soldado bárbaro, valente, mas ainda cruel, forte, mas

16


grosseiro, com ossantos produzidos pela Cavalaria

compreende-se o valor dela: São Luis, rei de França, São

Fernando, rei de Castela, o condestável de Portugal,

Nun'Álvares Pereira, e Santa Joana D' Arc, foram alguns dos

santos gerados pela Cavalaria.

Ligada as origens precursoras dos Estados Nacionais

Modernos (FEDELI, 2018, p. 2), na Europa, a Cavalaria nasceu

dos costumes germânicos cristianizados pela Igreja, pois ela

não surgiu por um decreto, nem foi fundada por um homem

determinado, uma vez que desabrochou naturalmente dos

costumes germânicos, sobrenaturalmente purificados pelo

cristianismo. Em seu código de honra, composto por 10

condutas irrefutáveis, algumas se destacam pela sua

continuidade evolutiva – frisando que osnão citados se

encontram relacionados a práticas e pensamentos medievais

não mais tão presenciais na nossa contemporaneidade (ibidem,

pp. 5-6): 2º Mandamento: Defenderás a Igreja; 3º

Mandamento: Respeitarás os fracos; 4º Mandamento:

Amarás o país em que nasceste; 5º Mandamento: Não

recuarás diante do inimigo; 8 º Mandamento: Não mentirás e

serás fiel a palavra dada; 9º Mandamento: Serás generoso e

farás liberalidade a todos; 10º Mandamento: Combater o

mal e defender o bem.

Os tempos pacifistas, relativistas e ecumênicos em que

vivemos, em que "há guerras e rumores de guerra", tempos

próprios para os falsos profetas chamarem “Pax! Pax!”,

quando não há paz, não admitem a liceidade da guerra, que

consideram um ato bárbaro e injusto em si, sem

possibilidade de ser santificado. Tempos, os nossos, em que

se vendem as espadas, para se comprarem mantos. Tempos

pacifistas que obrigam a uma explicação: a guerra é lícita?

Não é a guerra uma coisa essencialmente contrária, ao

espírito cristão? Não se deve buscar a paz?

A Igreja sempre ensinou que a guerra é um mal, mas um mal,

às vezes, necessário, para evitar um mal maior. Ela é como

uma operação cirúrgica, que é sempre um mal menor e

necessário para evitar o mal maior da morte. A guerra é uma

operação cirúrgica no mundo, para exterminar o câncer da

injustiça. Ela visa restabelecer a justiça, porque, sem esta,

não há paz verdadeira. "Opus justitiae pax”. A paz é o efeito

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da justiça. Uma paz que consista apenas na inexistência de

lutas armadas é comparável à paz do canceroso que não sabe

de seu mal, e que, por isso, não se opera, pensando que está

bem, enquanto a morte silenciosamente corrói suas

entranhas.

A guerra é, pois, lícita quando visa restabelecer a justiça.

A paz é a tranqüilidade na ordem, ensinou Santo Agostinho.

Quando a desordem e a injustiça perturbam a paz, é preciso

restaurar a justiça pela espada. Assim como o médico

restaura a saúde com o bisturi. A guerra deve visar a

restauração da ordem, da justiça e, por elas, a restauração da

paz. Por isso dizia. Santa Joana D 'Arc: "Só se obterá a paz, na

ponta da lança".

Por outro lado, Santo Agostinho mostra que o mal da guerra

não é nem a morte, nem a destruição, mas o ódio. Se a guerra

for feita por amor à justiça, ela será um ato virtuoso. Por isso,

Cristo não condenou o uso da espada, antes pelo contrário,

ordenou que São Pedro a guardasse, para usá-la, quando

fosse justo e conveniente.

A guerra é inevitável, porque sempre haverá maus. (GRIFO

NOSSO) (FEDELI, 2018, pp. 2-3)

Nascimento (2016, pp. 233-44) enumera as qualidades

do Cavaleiro: Coragem; Nobreza; Honra; Palavra

Empenhada. E mesmo sendo frutos de uma conjuntura e de

uma época passadas, ainda são “espelhos” nos quais a ética e o

caráter da Cavalaria e do Cavalariano buscam se mirar para

manter e aperfeiçoar as suas tradições e a sua marca

conjuntural/estrutural, indelével e unitária.

Talvez a grande compilação a respeito de tudo o que

deveria ser e fazer a Ordem dos Cavaleiros, da qual, insisto, a

Cavalaria e os Cavalarianos desde então, e os atuais,

prosseguem na sua senda, é “O Livro da Ordem de Cavalaria

(c. 1274-1276)”, de Ramon Lull (Raimundo Lúlio), o qual inicia

sua obra com a seguinte citação/solicitação/prece “Deus

honrado, glorioso, que sois cumprimento de todos os bens,

por vossa graça e vossa bênção começa este livro que é da

Ordem de Cavalaria”. Sobressaem-se, na PARTE II. DO

OFÍCIO QUE PERTENCE AO CAVALEIRO, três determinações

basilares (2000, p. 2):

18


13– Nenhum ofício há que seja feito que não possa ser desfeito;

porque se o que é feito não pudesse ser desfeito nem destruído, só o

que é feito seria semelhante a Deus, que não é feito nem pode ser

destruído. Logo, como o ofício de cavalaria é feito e ordenado por Deus

e se mantém por aqueles que amam a ordem de cavalaria e que estão

na ordem de cavalaria, por isso, o malvado cavaleiro que se vai da

ordem de cavalaria desama o ofício da cavalaria, desfaz em si mesmo

a cavalaria.

17 – Se a menor nobreza de coragem fosse melhor conveniente com a

ordem de cavalaria que a maior, concordar-se-iam fraqueza e covardia

com cavalaria contra ardor e força de coragem; e se isto fosse assim,

fraqueza e covardia seriam ofício de cavaleiro, e ardor e força

desordenariam a ordem de cavalaria. Logo, como isto seja o contrário,

por isto, se tu, cavaleiro, queres e amas muito a cavalaria, te convém

esforçar para que, quanto mais fortemente tiver faltas de

companheiros e de armas e de mantimentos, ajas ardorosamente e

com coragem e esperança contra aqueles que são contrários à

cavalaria. E se tu morres para manter a cavalaria, então tu tens a

cavalaria naquilo que mais pode amar e servir e ter, porque cavalaria

em nenhum lugar está tão agradavelmente como em nobreza de

coragem; e nenhum homem não pode mais amar nem honrar nem ter

cavalaria que aquele que morre pela honra e a ordem de cavalaria.

18 – Cavalaria e ardor não se convêm sem sabedoria e sentido, porque

se o fizessem, loucura e ignorância seriam convenientes à ordem de

cavalaria; e se isto fosse assim, sabedoria e sentido, que são

contrários a loucura e ignorância, seriam contrários à ordem, e isso é

impossível, pela qual impossibilidade é significado a ti, cavaleiro que

tens grande amor à ordem de cavalaria, que assim como cavaleiro, por

nobreza de coragem, te faz haver ardor e te faz menosprezar os

perigos, para que a cavalaria possas honrar; assim à ordem de

cavalaria convém que se faça amar sabedoria e sentido, e que

busquem honrar a ordem de cavalaria contra o desordenamento e o

falecimento que existem naqueles que cuidam seguir a honra da

cavalaria pela loucura e pela míngua de entendimento.

Apesar de uma singular conjunção histórica em 2019, nesse

prólogo não irei discorrer sobre os trezentos anos da chegada dos

Dragões Reais das Minas, em 1719, a primeira Unidade Regular de

Cavalaria do Exército Português em terras brasileiras, e também a

primeira força/tropa de elite a atuar em solo pátrio, tampouco sobre a

19


OM que deu origem, em 1929, isso há noventa anos, ao atual 4º

Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, uma vez que tais

temáticas serão devidamente tratadas em capítulo específico.

Sua intenção é a de tão somente ilustrar e iniciar os leitores nas

origens e nas tradições milenares e atemporais da Arma de

Cavalaria e de fornecer uma pálida e simplificada noção daquilo

que é ser Cavalariano.

No estudo da História, trabalhando com os métodos

acadêmicos e os rigores científicos da Historiografia, evitando

assim os descaminhos, erros e idiossincrasias típicos da

historicidade, e pautado na mais isonômica e concreta

observação e descrição dos fatos/períodos enfocados, há que,

ininterruptamente, ser vigilante, objetivo e, principalmente,

honesto/sincero na exposição do objeto em análise. Michel

Eyquem de Montaigne – ensaísta e escritor francês (séc. XVI) –,

nos ensina que “A palavra é metade de quem a pronuncia,

metade de quem a ouve”, e, em assim sendo, o Historiador

jamais deve desinformar ou induzir ao erro premeditado.

Mesmo não tendo servido nessa OM, nem jamais ter

prestado o serviço militar, orgulho-me de ter uma simbiose um

tanto quanto sui generis com o 4º Esquadrão de Cavalaria

Mecanizado DRAGÕES REAIS DAS MINAS: o escolhi como

minha “segunda casa”; e acabei sendo que “meio adotado”, algo

como um CAVALARIANO EMÉRITO. Em assim sendo, desde os

anos finais da ultima década do século XX, essa associação

permanece, possibilitando-me, entre tantas outras gratas

satisfações, ter me sido conferida a honra de ser o co-autor do

seu Projeto de Denominação Histórica; em parceria com meu

Irmão D'Armas, o saudoso, na época, Sargento Franz

HOLSTEIN Ligório da Fonseca.

Em 16 de Janeiro de 2019, no final da manhã, próximo

às 12:00 horas (meio-dia), o Tenente-Coronel Marcus Aurélio me

incumbiu de mais essa missão, a de escrever esse livro alusivo

ao tricentenário da chegada dos Dragões Reais das Minas e do

nonagésimo aniversário de fundação dessa OM.

20


Como é prática da Cavalaria, na observância da Disciplina e

da Hierarquia, vamos logo à carga para atender ao chamamento

do Comando/Dever/Missão.

O autor

21


1. HISTÓRICO CONCISO

Uma vez mais, seguindo o espírito da Cavalaria de rapidez e de

objetividade no cumprimento das suas missões, e também de

em tudo usar de parcimônia e de sempre agir de modo a

amealhar meios e recursos, atuando com o devido laconismo, a

descrição sobre as origens históricas tanto dos Dragões Reais

das Minas como as do 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado

serão apresentadas de forma sucinta e direta. Em relação à

saga da tricentenária primeira tropa regular de Cavalaria a atuar

em solo pátrio, tal resumo em muito se justifica pelo fato de já se

ter procedida uma análise e produção textual bem mais

detalhada e completa quando da elaboração do Projeto de

Denominação Histórica desta OM.

A descoberta do ouro nas Minas Gerais, no então

Campos dos(de) Goytacazes, no final do século XVII, na região

do Serro Frio, com o encontro dos cascalhos auríferos

(faiscadoras) nos sertões do rio Casca, por volta de 1693 –

apesar de alguns historiadores como Carvalho Franco, no

«Dicionário dos Bandeirantes e Sertanistas do Brasil» dizem ser

provável que 12 anos antes Borba Gato e os seus (outros dizem

20 anos antes) já tivessem colhido algumas amostras às

margens do rio das Velhas –, por Antônio Rodrigues Arzão,

bandeirante nascido em Taubaté – filho do capitão Manuel

Rodrigues Arzão (morto em 1700) e de Maria Afonso ou Afonso

de Azevedo –, o qual, seguindo os passos da bandeira de

Fernão Dias Pais, organizou em 1693, uma expedição que

penetrou no Embaú, em Minas Gerais, e, através de Itaberaba,

dirigiu Tripuí, rio histórico de Ouro Preto. Essa epopéia é assim

descrita na seção de Biografias do Portal São Francisco (2018, p. 2 -

https://www.portalsaofrancisco.com.br/biografias/antonio-rodrigues-arzao)

Era o cabo de bandeira escravagista que teria, em 1693 (a data

se ignora, especula-se que foi a partir de 1690) achado ouro na

casa da Casca, assim chamada, não deu importância ao

achado, pois nunca cogitou em pedir ao rei qualquer proveito.

Sertanista dos antigos, penetrou o sertão à cata de

esmeraldas, em demanda do Itaverava com mais ou menos 50

22


homens entre os quais se achava seu cunhado José

Gonçalves de Carvalho, casado com Catarina de Camargo,

filha de Fernando Ortiz de Camargo o Moço. Assim chegou aos

sertões da Casca ou distrito do Cuieté (ou Caeté, “mato

bravo”) a cinco léguas do rio Doce- e, guiado por uma índia,

descobriu cascalhos de ouro – ou, dizem, teria achado no

córrego onde lavavam os pratos.

No Itaverava, tivera as mesmas dúvidas que Vicente Lopes,

decidindo prosseguir – e foi ter à serra do Guarapiranga, de

onde pela manhã avistou os pincaros agudos da serra dos

Arrepiados por efeito da luz parecendo mais próximos;

descendo nessa direção encontrou o rio Piranga, em seu

melhor braço, aurífero, e índios da nação puri que lhe falaram

de um manacial melhor, o do rio Casca, originário da

cordilheira. No ramo superior desta, chamado hoje serra do

Brigadeiro, havia o pico chamado Pedra Menina que tem

parecença com o Itacolumi, por isso se enganou.

Sua comitiva teria morrido de febres, os índios não o quiseram

acompanhar,ou temendo os conquistadores no vale do

Sipotaua (Xopotó, «cipó amarelo») e só queriam aceitar seguilo

para o Espírito Santo, muito mais perto do que Taubaté.

E assim foi. No Casca, o sertanista enchera os alforges destes

ouros, do que ofereceu três oitavas ao Capitão-Mor regente

João Velasco de Molina, que delas fez três moedas) e à câmara

de Vitoria, onde chegou descendo o rio Doce. As oitavas

apresentadas foram as primeiras de que se acha relação dos

registros de São Paulo. Com o fracasso da bandeira, teria

desertado Duarte Nunes, o descobridor do ouro preto? O fato é

que voltou ao Rio e Santos e de lá a São Paulo.

O historiador mineiro Diogo de Vasconcelos detalha a viagem

de Arzão que, após breve estada em Itaverava, alcançou a

Serra do Guarapiranga de onde, pela manhã, avistou os

píncaros agudos da serra de Arrepiados. Afirma que, em razão

da luz oriental, supôs mais próxima a serra. Seguindo, então,

em sua direção, encontrou o rio Piranga.

O historiador mineiro Diogo de Vasconcelos detalha a viagem

de Arzão que, após breve estada em Itaverava, alcançou a

Serra do Guarapiranga de onde, pela manhã, avistou os

23


píncaros agudos da serra de Arrepiados. Afirma que, em razão

da luz oriental, supôs mais próxima a serra. Seguindo, então,

em sua direção, encontrou o rio Piranga.

A riqueza que vinha para salvar o projeto colonizador

português, desde a crise do Ciclo do Açúcar, provocou, na

colônia, grandes agitações, sendo que os locais demonstraram

ser um povo "aguerrido, vaidoso do seu poderio" nas

montanhas, conscientes de que a lei apenas seria cumprida se

houvesse a concordância de seus habitantes.O povoamento da

região provocou graves litígios, e mesmos conflitos, e teve de ser

regulada a entrada de colonos (brasileiros, portugueses) através

da imposição de cotas anuais, e foi assim que, no começo do

século XVIII, começou a Guerra dos Emboabas, contrapondo o

emboaba Manuel Nunes Viana a D. Fernando de Mascarenhas e

aos paulistas, e que resultou na separação da capitania de São

Paulo e Minas de Ouro (Real Capitania das Minas de Ouro e dos

Campos Gerais dos Cataguases) do Rio de Janeiro, em 1709.

O adestramento Militar dos nossos atuais Dragões Reais

das Minas requer o entendimento histórico sobre o

desenvolvimento das Minas Gerais e dos “porquês” seus

“antepassados” foram para cá enviados:

2 – O QUE É SER UM DRAGÃO REAL DAS MINAS

DRAGÕES REAIS DE MINAS”, nome pelas quais eram

conhecidas as três Companhias de Dragões de Cavalaria

que aqui se instalaram à partir de 1719 na Vila de Nossa

Senhora do Ribeirão do Carmo( Mariana - MG) e que foram

reunidas em 1775 formando assim o Regimento de Dragões

Reais de Vila Rica (Ouro Preto - MG), unidade do Exército

Real Português baseada na Minas Gerais no período

colonial brasileiro, salientando que eram tropas do primeiro

escalão de defesa da capital da Coroa e não as costumeiras

tropas de Milícias, Auxiliares, Ordenanças ou de

Pedestres.

Às duas Companhias de Dragões do Exército do tempo do

Conde de Assumar ( D. Pedro de Almeida Portugal, 1719)

24


– aboletados – veio se juntar uma terceira, que guarnecia o

Distrito de Minas Novas, quando este foi desligado da

Bahia e anexado a Minas (1757). O Governador Antônio de

Noronha reuniu estas três Companhias no Regimento de

Dragões, criado em 1775, para o qual construiu o quartel,

em Cachoeira do Campo, prédio em grande parte

conservado, atual sede das Escolas Dom Bosco, por

doação aos Salesianos, no governo de C. J. Bias Fortes.

· “Descobertos os veios de ouro pelos bandeirantes

paulistas, nas últimas décadas do século VXII, formou-se o

caminho que ligava São Paulo à região das minas,

passando pelo Rio de Janeiro, conhecido como Caminho

Velho.O tempo gasto e as dificuldades encontradas para

percorrer este trajeto mostraram a necessidade de se

descobrir um novo caminho que, com mais facilidade,

principalmente com mais rapidez, conduzisse do Rio de

Janeiro às Minas. Coube ao sertanista Garcia Rodrigues

Paes a incumbência deste projeto. Segundo orientação do

governador e capitão general do Rio de Janeiro, Artur de Sá

e Menezes, partiu do Rio de Janeiro, por volta de 1700 /

1701, para desbravar o território mineiro, buscando abrir a

picada do Caminho Novo, obra que mais tarde foi concluída

por Domingos Rodrigues da Fonseca.

A própria palavra Mantiqueira ou Mantiquira ou

Amantiqueira se perde em apreciações de gírias locais e /

ou de derivações, mas sempre atentando para as

periculosidades intrínsecas e relacionadas ao termo –

ladroeira; manta e capa de lã, em sentido figurado, ardil e

trapaça. Tal afluxo de bandoleiros, assassinos, quadrilhas

organizadas, vivaldinos, contrabandistas, invasores,

fugitivos da justiça, sonegadores do fisco real, seus

comparsas locais, e tantos outros personagens

igualmente não tão dignos, tornou de uma urgência

primordial a instalação e a atuação de efetivos militares

que respaldassem os interesses portugueses nas minas

do ouro. O combate a célebre e famigerada quadrilha da .

25


Serra da Mantiqueira, que apavorava os incautos viajantes

pela sua brutalidade e auferia sempre maiores prejuízos ao

erário régio, foi determinado por Dom Rodrigo José de

Menezes, empreendimento magistralmente levado a cabo

pelo hábil comando e determinação de dois futuros

inconfidentes, o Coronel José Ayres Gomes e o Alferes

Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes. Em carta

endereçada às autoridades portuguesas, datada de 19 de

abril de 1783, na Borda do Campo, o Alferes Joaquim José

da Silva Xavier descreve, com detalhes, os resultados de

suas surtidas contra os salteadores do Caminho Novo,

missão desempenhada com a supervisão do Tenente

Coronel José Ayres Gomes. Em carta endereçada às

autoridades portuguesas, datada de 19 de abril de 1783, na

Borda do Campo, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier

descreve, com detalhes, os resultados de suas surtidas

contra os salteadores do Caminho Novo, missão

desempenhada com a supervisão do Tenente Coronel José

Ayres Gomes.

De geração em geração, histórias da perigosa saga dos

viajantes que por aqui se aventuravam, em especial sobre a

atuação do terrível Montanha e de seus famigerados

sequazes, bem como de relatos sobre outros bandidos. A

presença constante de malfeitores, e a existência de uma

Casa Forte, fez com que Bernardo José de Lorena, do

Conselho de Sua Majestade Governador e Capitão General

da Companhia da Capitania das Minas Gerais,

determinasse a criação e instalação de uma Companhia de

Ordenanças no Distrito da Capela de São Miguel e Almas do

Caminho Novo do Rio de Janeiro – conseqüência da já

citada carta de Tiradentes-, e cujo comando primeiro foi

auferido “no Posto do Capitão delas o dito Gonçalo Gomes

Martins, a qual Companhia se compõe de sessenta

soldados com seus competentes oficiais”.

Às margens do Caminho Novo estavam as sesmarias, cujas

concessões visavam, em pleno fastígio do ouro, garantir a

26


formação de lavouras que permitissem suprir os

bandeirantes em suas jornadas às minas. Para descanso do

viageiro, e abrigo nas longas caminhadas, os pousos

nasciam ao comprido da grande via. Furnas e casas-fortes

para segurança das riquezas transportadas, capelas para a

oração. Numa delas, obtida em 1709, por Domingos

Gonçalves Ramos, na atual cidade de Santos Dumont, então

despontou um agrupamento com casario disperso, futuro

arraial de João Gomes, nome de um lavrador adquirente.

Nas terras aparecem ranchos para os viajantes do Caminho

Novo se abrigavam. Próximo, cresceu lavoura e criação.

Levanta-se, mais tarde, a primitiva capela de São Miguel e

Almas, cuja construção deve-se talvez ao velho João

Gomes. A capela, a margem do Caminho Novo, é dedicada a

São Miguel e Alma, protetores invocados dos bandeirantes

na perigosa travessia da Mantiqueira.

Cabe aqui lembrar que a cidade de Santos Dumont, sede do

4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, encontra-se

localizada justamente nesta “encruzilhada”, nesta “artéria

vital”, pois se situa estrategicamente no sopé da Serra da

Mantiqueira, divisando, simultaneamente, a subida para a

região das minas de ouro e a descida para o vale do Rio

Paraibuna, para o Registro / Pedra do Paraíbuna e sua

posterior descida pela região serrana fluminense até

alcançar a faixa litorânea do Rio de Janeiro.(ALMEIDA DE

OLIVEIRA, 2011, pp. 2-3)

Frisando que, como ainda não havia força militar portuguesa

permanente para impor as Ordenações Filipinas, e as Reformas

Pombalinas, as leis, nos sertões, eram impostas por verdadeiros

"régulos" (designação dada na historiografia e administração

colonial portuguesa aos chefes tribais e outros potentados

africanos e mais raramente da Ásia, nomeadamente de Timor),

em que o governo era distante e não dispunha de força, ao

contrário dos habitantes – solidários, organizados e armados.

Lembrando que a organização militar portuguesa para suas

colônias obedecia ao seguinte tripé: as Tropas pagas, também

27


conhecidas como Regulares ou de 1ª linha (1641), todos os

praças que as compunham recebiam soldo por se tratarem de

pessoas com a devida instrução militar, submetidas a

treinamentos especializados para que pudessem dominar o

manejo das armas e o conhecimento tático a ser utilizado em

batalhas; as tropas de Auxiliares, ou 2ª linha (1645),

apresentavam diversas semelhanças com as Ordenanças,

constituíam-se igualmente da população civil e não tinham

direito ao recebimento do soldo, exceto os mais altos oficiais,

que geralmente eram deslocados das tropas pagas para treinar

os soldados destes corpos, recebiam, portanto, treinamento

militar; as Ordenanças, ou Tropas de 3ª linha, se

institucionalizaram em Portugal durante o governo de D.

Sebastião, no ano de 1570, quando surgiu a necessidade da

organização de uma defesa mais local e específica em

detrimento daquelas gerais e mais abrangentes, priorizadas até

então, seu estabelecimento foi um mecanismo de

municipalização da prática de recrutamento da população, em

cada localidade era eleito um comandante máximo das

Ordenanças, o Capitão-mor, responsável pelo alistamento de

toda a população sob sua supervisão, levantando os

equipamentos militares e montarias de cada habitante, em tais

corpos eram permitidos a participação de pretos e pardos,

principalmente após a intensificação dos conflitos lusocastelhanos

no sul do território brasileiro na segunda metade do

XVIII.

3 – UNIDADES MILITARES NAS MINAS COLONIAL

Os regimentos auxiliares seriam os corpos militares

formados pelos vassalos não pertencentes à tropa regular

ou às ordenanças. Teoricamente, teriam como

responsabilidade auxiliar as tropas regulares na defesa das

fronteiras. Seus integrantes não recebiam soldo,

fardamento, equipamento ou armamento. Seriam

organizados pelos poderosos locais e sua estrutura

hierárquica assemelhava-se aos corpos regulares: coronel,

tenente-coronel, sargento - mor, ajudante, capitães,

tenentes, alferes, porta - estandartes, sargentos, furriéis,

28


cabos- de-esquadra, anspessadas e soldados (entre 38 e

41 praças).

Nos finais do século XVIII as Minas possuiriam cerca de 247

companhias de ordenanças; as ordenanças estavam

divididas em “homens de pé” e “homens de cavalo”. As

ordenanças, formadas pelos moradores locais (vassalos),

eram designadas de acordo com as localidades onde

estavam sediadas e com a qualidade de gente que as

compunham. As ordenanças atuariam localmente para

preservar a tranqüilidade e o sossego públicos. Em cada

vila existiria um capitão-mor responsável por um conjunto

de ordenanças de homens pardos, pretos libertose brancos

– Câmaras Municipais.

Nas Minas setecentistas os homens pardos e negros

estariam agrupados, basicamente, em quatro espécies de

milícias:

a) as companhias auxiliares de infantaria;

b) as companhias de ordenanças de pé (destruição de

quilombos, repressão aos índios, defesa de fronteiras

– terrestres e marítimas, auxílio a tropas regulares) ;

c) os corpos de pedestres (evitar extravio e contrabando,

caçar escravos fugidos)

d) e os corpos de homens-do-mato (defesa de vilas e

arraiais contra quilombolas e “selvagens”, ações

ofensivas e defensivas, não podiam ficar nas cidades e

sim no mato);

Seus comandantes eram todos homens brancos. Essas

milícias foram institucionalizadas nas Minas a partir dos

primeiros anos dos setecentos e foram vistas de maneiras

distintas pelas diversas autoridades portuguesas.

Resultado das reformas militares do Conde de Lippe (1776),

em Portugal e da necessidade de se reforçar os efetivos

militares em função dos conflitos com os espanhóis. A

partir da reestruturação militar, a reunião das companhias

29


auxiliares de infantaria de homens pardos e pretos libertos

receberia a designação de terço. A comandar o terço, estaria

o mestre-de-campo. Quando uma companhia de homens

pardos ou pretos libertos, por especificidade da missão a

desempenhar ou pela distância em que se encontrava, não

pudesse ser reunida ao terço, receberia a denominação

companhia franca. (ALMEIDA DE OLIVEIRA, 2011, pp. 4-5)

Na América lusa haviam diferentes formas de se incorporar

os homens de cor (negros, mulatos e pardos) escravizados,

forros ou livres no âmbito militar. Tais homens podiam, por

exemplo, serem utilizados de uma forma privada, como uma

espécie de guarda pessoal constituída informalmente, isto

é, sem a conotação militar que se associava às tropas de

homens de cor montadas recorrentemente durante todo o

período colonial em caso de necessidade, sendo a mais

famosa conhecida como “Terço dos Henriques”. (COSTA,

2015, p. 1)

Tal processo também se deu na cidade sede da OM dos

atuais Dragões Reais das Minas – conhecida inicialmente como

Rocinha de João Gomes, passando a Fazenda de João Gomes,

Distrito de João Gomes, João Gomes Velho, Palmyra e

atualmente Santos Dumont –, pois uma carta do Alferes Joaquim

José da Silva Xavier, o Tiradentes, de 1783, requerendo maior

patrulhamento nessa região, e representação de autoridades

de Barbacena, levou à criação da Companhia de Ordenanças do

Distrito da Capela de São Miguel e Almas do Caminho Novo do

Rio de Janeiro. Castello Branco (1988, pp. 34-5) detalha que, do

Conselho de Sua Majestade Governador e Capitão General da

Companhia da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de

Lorena, em 27 de abril de 1798, na capital – Vila Rica de Nossa

Senhora do Pilar do Ouro Preto –, cria, em conformidade com o

Cap. 19 do Regimento dos Governadores, a citada Companhia,

tendo como Capitão Mor Manoel de Sá Fortes Bustamante

Nogueira, e a qual era composta por, segundo o documento

oficial (ANEXOS), “sessenta soldados com seus competentes

oficiais

30


Aprofundando sobre essas organizações militares precursoras

no pós - Guararapes (Insurreição Pernambucana – 1645-54):

Durante o século XVII, a organisação militar verdadeiramente

digna de interesse no Brasil é a pernambucana, visto como

aquella região sahia de uma terrível luta. Após Britto Freire, em

1663, em plena paz, o conde de Óbidos reformou o que aquelle

fizera, reduzindo toda a tropa a dois únicos terços completos. Mais

tarde, o governador Henrique Luiz Freire creou o regimento de

dragões auxiliares, a pé, dividido em dois batalhões de dez

companhias cada um, com 1.200 bayonetas, tambores e

officiaes, repartido pelos districtos de Olinda, Recife, Beberibe,

Cabo e Iguarassú. Havia mais, então, dois regimentos de

cavallaria ligeira de ordenanças, um com 600 cavallos nos

districtos cie Itamaracá e Goyana, outro com 500, nos de Alagoas,

Porto Calvo e Serinhaem.

Em Olinda e Recife estacionavam dois regimentos de infantaria

paga, tropa activa, não territorial como as outras, cada qual com

dez .companhias, sendo uma delias de granadeiros, e mais 150

soldados de artilharia. Eis o effectivo de cada companhia: 44

soldados, quatro cabos, dois sargentos, um alferes, um tenente,

um capitão e um tambor; as de granadeiros eram maiores: 55

soldados, os mesmos inferiores e superiores e, além do tambor,

um pifano ou pifaro.

Conservava-se, religiosamente, o terço preto de Henrique Dias,

por patente do conde da Torre, de 4 de setembro de 1639,

nomeado Primeiro Governador e Cabo dos Negros e Mulatos do

Brasil.

Completava essa organisação militar uma força de 13

companhias de ordenanças (cavallaria) e quatro terços de

infantaria, distribuídos por freguezias e co-marcas. No meiado do

século XVII, toda essa tropa era regularmente fardada e armada.

Com a mesma formação de reserva territorial, havia no Ceará e

Rio Grande do Norte dois terços de infantaria e um regimento de

ordenanças, cuja efficiencia era em extremo precaria. Ademais,

umas duas companhias de infantaria, para guarnição dos fortes,

chamadas "companhias fixas" ou "pés de Castello". A mesma

organisação, mutatis mutandis, nas outras capitanias.

No começo do século XVIII, de 1718 a 1720, assume a de

Minas Geraes importancia maior, devido ás suas grupiaras )

31


auríferas e garimpos diamantiferos. O governo portuguez manda

para alli, como guarnição e policia, as duas famosas

companhias dos dragões reaes das Minas, com 60 homens cada

uma. (GRIFO NOSSO) (RODRIGUES, BARROSO, 1922, p. 7)

Para estabelecer o controle régio contra os descaminhos do

ouro, o Rei Dom João V nomeou Dom Pedro Miguel de Almeida

Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, como governador,

e, tais medidas, e, principalmente, o envio dos soldados era uma

precaução contra a exorbitante cobrança imposta, antecipando

a Coroa que haveria resistência, e o “pulso firme” do Conde de

Assumar já havia despertado a antipatia entre os mineiros e,

quando os primeiros militares chegaram em Ribeirão do Carmo,

Domingos Rodrigues do Prado liderava, em Pitangui, uma

agitação contra o governador.

O aumento do controle nos Registros, a maior

fiscalização da quintagem e o transtorno que as casas de

fundição iriam provocar (forçando o deslocamento até elas,

despesas com burocracia, hospedagem, demoras etc.) era mais

uma dificuldade que o povo não estava disposto a tolerar, e, além

de Pitangui, outros povoados se agitavam, e os dragões usam da

repressão violenta, mas a crise se espalhara: estava acesa a

chama que eclodiria na Revolta de Filipe dos Santos.

De acordo com Nepomuceno (2018, p. 2), as duas

primeiras companhias de “Dragões” – com 60 homens cada,

norte de Portugal – chegaram ao Brasil em 1719, sendo

compostas pelos melhores homens do Exército Português,

experimentados em serviços de guerra e de polícia e seu efetivo,

acrescido de oficiais dragões vindos de Lisboa, serviu de base

para a criação, em 1736, de uma terceira companhia, na colônia

de Sacramento, no sul do Brasil.

Esta terceira companhia seria denominada “Dragões do

Rio Pardo”, enquanto as duas primeiras, formaria em 1775, o

Regimento Regular de Cavalaria de Minas, conhecido como os

“Dragões Reais de Minas”, subordinados e provisionados pela

Capitania das Minas Gerais.

O Esquadrão de Cavalaria Ligeira da Guarda do Vice-

Rei, que em 1808 seria transformado em 1º Regimento de

32


1ª Linha e mais recentemente em 1º Regimento de Cavalaria de

Guarda (os Dragões da Independência) foi criado em 1765, no

Rio de Janeiro, com base no modelo e no efetivo dos Dragões do

Rio Grande do Sul que por sua vez teve origem nos regimentos

de Dragões das Minas Gerais.

Dragões Reais - Minas Gerais (1730) e Rio Grande (1767)

Registro de José Wasth Rodrigues

Guarda dos Dragões – século XVIII

Ivan Washt Rodrigues

33


Esquadrão da Cavalaria da Guarda dos Vice-Reis do Rio de Janeiro – 1786

José Washt Rodrigues

Uniforme dos Dragões do Rio Grande

(https://historiadoriogrande.wordpress.com/tag/dragoes-do-rio-grande/)

34


1ª Companhia de Dragões Reais das Minas, 1730 2ª Companhia de Dragões Reais das Minas,

1730 (Soldado) – José Wasth Rodrigues 1730 (Soldado) – José Wasth Rodrigues

Quartel dos Dragões da Vila de Nossa Senhora do Carmo 1719 (atual Mariana – MG)

(Desenho de Cristiano Casimiro dos Santos)

35


Mapa do Caminho Novo / Estrada Real, reforçando/realçando

sua importância e ligações históricas com os Dragões Reais das Minas

36


Uma das mais importantes ações dos Dragões Reais

das Minas foi no controle e na repressão da Revolta de Vila Rica

de 1720, ou de Felipe dos Santos, historicamente reconhecida

como a última das Revoltas Nativistas do Período Colonial

Brasileiro. Para a melhor compreensão da mesma segue-se um

breve resumo sobre o evento:

Julgamento de Filipe dos Santos Óleo s Antônio Parreiras retratando

a versão da execução. Ao fundo, o pintor mostra a fumaça da queima

das casas dos revoltosos.

Villa Rica, por Arnaud Julien Pallière, 1820

37


Transcorrendo entre junho e julho de 1720, esta revolta em Minas

Gerais trazia a marca de uma situação comum na capitania, onde

funcionários régios se viam obrigados, muitas vezes, a se

dobrarem diante das vontades da elite local, principalmente com

relação à administração régia e à cobrança de impostos. Além da

resistência à arrecadação do quinto do ouro, colaboraram para a

inquietação social as reformas na organização militar (afastando

oficiais e cortando suprimentos) e a expulsão de clérigos de

Minas.

Contrariamente ao que era defendido por uma historiografia mais

tradicional, onde se elegia Filipe dos Santos como cabeça do

levante, a rebelião tinha como seus líderes principais: Pascoal da

Silva Guimarães, Dr. Manoel Mosqueira da Rosa, Frei Vicente

Botelho e Frei Francisco de Monte Alverne (ou Manuel Nunes

Viana)

Evidentemente o anúncio de reformas na arrecadação do quinto

(no que se refere à exclusividade de arrecadação e de fusão do

ouro minerado, pela administração régia) através da Casa de

Fundição e Moeda (o que tornava proibido o comum método de

utilização do “Ouro em pó”) despertou a ira e encabeçou a lista de

reivindicações dos revoltosos. O Alvará de 11 de fevereiro de

1719 já decretava a criação das Casas de Fundição, prevista para

Julho de 1720, porém em junho sua execução foi antecipada sem

prévio aviso, atiçando as acaloradas relações entre a população

mineira e a administração.

O primeiro alvo dos amotinados foi o Ouvidor Martinho Vieira de

Freitas que sob a acusação de estar planejando ações judiciais

contra os moradores de Vila Rica, no dia 6 de Julho tem a sua casa

invadida, e enquanto a documentação era destruída. Após alguns

dias, o Governador e Capitão-Mor Pedro Miguel de Almeida

Portugal e Vasconcelos (3º Conde de Assumar) tenta apaziguar

os ânimos, com promessas de perdão e o atendimento das

exigências. Porém, com a demora das negociações, a “turba

amotinada” sequestra alguns vereadores da Câmara de Ouro

Preto e marcha em direção ao governador que se deslocara para a

vila de Ribeirão do Carmo. Lá, além do armistício exigiram (dentre

outras coisas) a não instalação da casa de Fundição e Moedas,

diminuição de alguns impostos, tendo como contrapartida o

pagamento anual de 30 arrobas asseguradas pela população ao

Rei. Ao longo dos dias vários acordos são tentados e escritos. Os

rebeldes, apesar de sofrerem com o pagamento dos direitos

régios, permaneciam fiel ao Soberano, ao reino e a seus direitos e

38


deveres costumeiros. Eram rebeldes com causa.

No processo de pacificação, o conde-governador aceita as

exigências e, com a relativa calmaria restabelecida, aciona a

Companhia dos Dragões (tropa de elite vinda ao Brasil, dentre

outras funções, para reprimir motins e levantes), massacra os

envolvidos, fulmina os núcleos e as residências. Um dos

principais idealizadores da revolta, Filipe dos Santos, é

enforcado e esquartejado em praça pública. (DIAS,ET AL, 2016,

pp. 1-2)

Assim, a origem dos Dragões Reais das Minas se encontra

umbilicalmente ligada à Carta Régia de 11 de fevereiro de 1719

que autorizou a criação de novas Casas de Fundição,

determinou a cobrança do quinto sobre o ouro em pó, em

substituição às vinte cinco arrobas de ouro que se pagava

anualmente, e proibiu a circulação do ouro que fosse fundido

fora destas, o que não foi bem aceito pela população da

capitania onde se localizavam as minas, inclusive falava-se que

os mineradores, alarmados com a ação fiscal, sentiam-se cada

vez mais insatisfeitos e inseguros.

Ficava desde aquelle dia rigorosamente prohibida a

exportação,que não fosse nessa especie, unica legalizada.

Masvisto não deverem os-povos pagar em duplicata os

quintos,concedia-se-lhes o prazo do quatro mezes a contar

daquelladata para exportarem livremente o seu ouro.

As consequências destas medidas, que chegaram ao Brasil pela

frota de maio, (1719) veremos mais adeante.

Recebendo a Carta Regia em que se mandava executara lei de 11

de fevereiro, o Conde convocou uma juntadosProvedores, e mais

pessoas zelosas do serviço Real, celebrada na Villa do Carmo em

16 do julho daquelle anno de1719, e á ella oxpoz a materia, mas

não para que fosse discutida,e sim para que os presentes ao

governo orientassem sobre o melhor meio de executala,

indicando-lho os pontos do território das Minas mais convenientes

ás Casas de Fundição, e quantas devei iam ser. Assentou-se na

junta que seriam quatro : uma em Villa Rica, outra em

Sabará,terceira em S. João d'El-Rei, a ultima no Serro.

(VASCONCELLOS, 1904, p. 313)

39


A título de informação, a primeira Casa de Fundição foi

estabelecida em São Paulo, por volta de 1580, para fundir o ouro

extraído das minas do Jaraguá e de outras jazidas nos arredores

da vila. De acordo com Barcelos (2013, pp. 145-6), em fins do

século XVII, quando do começo da exploração aurífera das

jazidas aluvionares do atual estado brasileiro de Minas Gerais,a

cobrança do quinto restringiu-se a quatro casas de fundição

estabelecidas na faixa litorânea.

Esse vácuo de poder resultava no fato de que

(BARCELOS, 2013, p. 146) inegável que grandes

quantidades do ouro brasileiro depressa entravam em

circulação, legalmente ou não, de ambos os lados do Atlântico,

sendo que, por volta do ano de 1703, a quantidade de ouro em

Minas excedia em muito todo o ouro que Portugal ate então

recebera da Guine, desde a fundação da Mina, em 1482, ou ao

que toda a Espanha havia recebido de suas possessões

americanas durante o decorrer do século XVI. Assim, diante

dessas e outras inconveniências, a parte mais lesada era

sempre a Fazenda Real, conforme documentos da época,

por exemplo, em 1693, escrevia Luiz Lopes Pegado, provedor da

Fazenda do Rio, que o ouro que entrava nas casas de fundição

ficava muito aquém do que devia, sendo os homens de tão

“pouca obediência” que não o quintavam.

As Casas de Fundição (CAMARGO, 2012, p. 1) foram

criadas pelo “Primeiro regimento das terras minerais no Brasil”,

de 15 de agosto de 1603, com a finalidade de fundir todo o ouro e

prata extraídos das minas, incluindo nesse processo a coleta do

quinto. Eram compostas por provedor, escrivão, oficial mineiro

prático, tesoureiro, mestres de fundição, meirinho e guardas. Já

o regimento de 1603 determinava não só o estabelecimento das

casas de fundição e o recolhimento do direito real do quinto,

como também a instalação de provedoria das minas, e em 1613,

foi dado um regimento para as minas de São Vicente e, em 1618,

o “Segundo regimento das terras minerais”, que conservou as

linhas gerais do sistema administrativo e fiscal estabelecido

anteriormente; além disso, a necessidade de circulação de

moedas na colônia levou algumas casas de fundição, como as

de São Paulo, Cuiabá e Goiás, a exercerem, igualmente, a

atividade de oficina monetária, com o objetivo de recunhar as

40


moedas existentes antes da instalação da primeira Casa da

Moeda, em 1694.

Com a situação evoluindo (CAMARGO, 2012, p. 1),

devido a então crescente importância econômica da atividade e

a necessidade de regular a exploração das terras minerais

acabaram por determinar diversas mudanças nas formas de

tributação, organização e fiscalização da extração de metais

na primeira metade do século XVIII. Sendo que o regimento de

19 de abril de 1702 expressou a maior preocupação das

autoridades no controle da arrecadação e no combate ao

contrabando, a fim de garantir os privilégios da Coroa, esse

regimento transformou o antigo cargo de provedor e

superintendente das minsa, a quem caberia uma série de

atribuições que incluíam a alçada judicial para a resolução de

conflitos entre mineradores e a aplicação de penas aos

contrabandistas, além do cargo de guarda-mor, responsável

pela demarcação e repartição das datas, terras onde se

realizava a exploração mineral.

Nessa conjuntura (CAMARGO, 2012, p. 1), a

organização administrativa também sofreu alterações, onde a

lei de 11 de fevereiro de 1719 autorizou a criação de novas casas

de fundição, determinou a cobrança do quinto sobre o ouro em

pó, em substituição às vinte cinco arrobas de ouro que eram

pagas anualmente, e proibiu a circulação do ouro que fosse

fundido fora delas, e essas medidas, que visavam aumentar o

controle da Coroa sobre a exploração, contribuíram para que, no

ano seguinte, uma sublevação contra as autoridades

portuguesas ocorresse em Vila Rica, tendo como um dos

principais focos a atuação das casas de fundição. Contudo, o

incremento da ação fiscal da metrópole por meio das casas de

fundição não garantiu rendimentos suficientes para a Coroa,

sendo substituído o sistema de arrecadação da quota anual pela

captação, imposto que incidia não sobre a produção das minas,

mas sobre os trabalhadores, escravos, forros e população de

baixa renda, em 1733; a implementação dessa medida seria

O reinado de D José I (1750-1777) foi marcado por um amplo programa

de reformas, que envolviam a recuperação econômica da metrópole e a

modernização do Estado português, apoiadas financeiramente nas

receitas advindas do Brasil o que levou à necessidade de aumentar a

41


arrecadação e, consequentemente, de reorganizar a administração das

minas para maior controle de sua exploração.

Em 1750, o alvará de 3 de dezembro restaurou a cobrança do quinto,

estabeleceu uma série de instruções sobre a circulação do ouro, definiu as

penas para os responsáveis por descaminhos e determinou a derrama para o

caso de a soma dos direitos dos quintos arrecadados não alcançar a

quantidade estabelecida pela Coroa, de cem arrobas de ouro. As casas de

fundição foram recriadas, funcionando junto com as Intendência do Ouro,

compostas pelo intendente, fiscal, dois meirinhos e dois escrivões, e

reportando-se aos recém-criados Intendência Gerais do Ouro ,

estabelecidos na Bahia e no Rio de Janeiro.

Em 4 de março de 1751, outro alvará regulou, detalhadamente, a atuação

das casas de fundição e de seus oficiais. Foram acrescentados, em sua

estrutura, tesoureiro, escrivão da receita, escrivão da intendência, um

fundidor e seu ajudante, um ensaiador e seu ajudante. O ouro em pó era

pesado na balança localizada na Mesa da Intendência, e fundido após a

retirada do quinto real. Depois, fazia-se a declaração dos quilates de cada

barra em livro, em forma de guias que seriam remetidas aos intendentesgerais

do Ouro, que deveriam dar conta das atividades ao Conselho

Ultramarino. (CAMARGO, 2012, pp. 1-2).

Em concluso:

Em 1803, o alvará de 13 de maio propôs uma ampla reformulação da

administração do ouro e diamantes, reduzindo o quinto ao décimo ou meio

quinto, determinando a criação de outros órgãos e mandando abolir as casas

de fundição. Contudo, esse ato parece não ter sido eficaz, pois elas

aparecem na legislação posterior, e a cobrança do quinto ainda é

mencionada.

Atuando na nova configuração administrativa após a instalação da corte no

Brasil, as casas de fundição de Vila Rica, São João del Rei, Sabará e Vila do

Príncipe ou Tejuco passaram a abrigar caixas filiais do Banco do Brasil, de

acordo com a carta régia de 2 de setembro de 1818. Casas de fundição

existiram em Cuiabá, Goiás, Sabará, São João del Rei, Serro Frio, Vila Rica,

Rio das Mortes, Jacobina, São Paulo e outros lugares. A legislação indica,

por meio de alguns poucos atos, que as casas de fundição tiveram

trajetórias próprias, sendo criadas e extintas em momentos diferentes, como

a da capitania de São Paulo, dissolvida em 1° de setembro de 1819. Na lei de

24 de outubro de 1832, foram abolidas todas as casas de fundição e

intendências do ouro, e suas comissárias em Minas Gerais, Goiás e Mato

Grosso. (CAMARGO, 2012, p. 2)

42


Mediante tal situação presencial, e rotineira, de crime de

lesa-majestade, e de iminente conflagração, no uso dos seus

atributos, a Coroa Portuguesa – Dom João V –, na mesma Carta

Régia de 11 de fevereiro de 1719, tomou medidas firmes para

assegurar o controle daquela região, tanto criando juntas de

julgamento, como também, além disso, enviou, conforme

disposto na Carta Régia de 20 de junho de 1719, duas

Companhias de Dragões – conforme já exposto na carta de abril

22 de 1719 (ANEXO 1), do Conde do Vimieiro – Dom Sancho de

Faro e Sousa (Lisboa, 16599 — Bahia, 1719, um administrador

colonial português, vice-rei do Brasil) ao Conde de Assumar –,

que eram forças militares profissionais, regimento de Cavalaria

Regular, provenientes do norte de Portugal, com a finalidade de

fazer cumprir a lei, controlar os escravos, escoltar o transporte

de ouro e reprimir distúrbios. Essas tropas que poderiam ser

auxiliadas por milícias criadas para enfrentar casos de

emergência, e que embora com suas fileiras formadas

principalmente por brancos, contavam, ainda, com ex-escravos,

negros e mulatos.

Na frota, que aportou no Rio de Janeiro em meiados de1719,

Ordens Regias baixaram de summa importância como na acima

se disse. Alèm da lei do 11 de fevereiro, o Conde recebeu a Carta

do 25 de abril mandando dar baixa dos postos aos officiaes de

Ordenança, onde não houvesse corpos organizados; e outra ao

mesmo tempo, que lhe avizava ter Sua Magestade mandado

pôr á sua disposição um terço dos Dragões de

cavallaria.(GRIFO NOSSO) (VASCONCELLOS, 1904, p. 332)

Souza (1994, p. 65) analisa um texto anônimo “Discurso

histórico e político sobre a sublevação que nas Minas

houve no ano de 1720”, atribuído a Pedro Miguel de Almeida

Portugal e Vasconcelos, 3º. Conde de Assumar (ANEXO 2), que

foi publicado duas vezes – entre 05 e 19 de fevereiro de 1898, no

jornal Minas Gerais, órgão oficial do Estado; logo a seguir, pela

Imprensa Oficial de Minas Gerais, contando com introdução e

43


comentários do erudito José Pedro Xavier da Veiga, então

diretor do Arquivo Público Mineiro – o qual reafirma que “Com a

chegada da frota de mil setecentos e dezenove, entrou

nestas Minas a nova lei que sobre os quintos foi Sua Majestade

servido mandar expender; chegaram as tropas dos dragões;

fizeram-se públicas as ordens para dar baixa a todos os oficiais

da ordenança que não tivessem corpo; também se

feznotória a expulsão dos religiosos”. Concluindo que (ibidem,

p. 66): “os grandes, que até ali obravam sempre absolutos, e

de cujo favor para a execução de qualquer ordem estava

pendente a autoridade dos governadores. começaram a

afligir-se à vista dos dragões, que só reputavam por

Inimigos da sua grandeza, e um como freio das suas

demasias” (GRIFO NOSSO).

A idéia legalista era o cumprimento da determinação

segundo a qual (SOUZA, 1994, p. 65) “sua Majestade quer que

as suas Minas não andem sempre tão confusas, tão

perturbadas, faça que nelas se restituam os mineiros a seu

lugar, mande que quantos se acham hoje introduzidos, ainda

que bem à sua custa nesta república, vá cada um tratar de seu

ofício”. O “braço forte” deveria ser, e foi, imposto.

Outra apreciação sobre o texto supracitado é feito por

Azevedo (2006, p. 40), o qual corrobora a compreensão de que

foram componentes como a ambição, a miragem da riqueza

fácil, os tumultos, os motins, as insolências, dentre outras

particularidades históricas, que provavelmente fizeram das

Minas Gerais colonial um atrativo especial aos pesquisadores

que produziram trabalhos sobre a colonização dessa região. Em

assim sendo, vê-se que consubstanciaram-se interesses e

poder, o que fez engendrar circunstâncias que levaram muitos

mineiros, na primeira metade do século XVIII, a se insurgir

contra as autoridades régias na região aurífera, e ainda que não

propusessem alternativas políticas contrárias ao domínio da

Coroa portuguesa, os mineiros insurgentes contestaram as

autoridades locais, sobretudo quando estas se esforçavam para

impor algumas determinações que vinham de Lisboa.

44


1ª Companhia de Dragões Reais de 1730

(Quadro – óleo sobre tela – de Saulo Pfeiffer)

As sementes plantadas em terras brasileiras por esses

Cavalarianos precursores não se restringiram às Minas Gerais.

Tanto o Centro-Oeste como o Sul se beneficiaram com envio de

destacamentos seus para suas regiões. O primeiro local a ter tal

privilégio foi Goiás.

Quando Bartolomeu Bueno encontrou ouro na região de

Goiás em 1725, houve uma intensa confluência de

populações das mais heterogêneas para os novos

territórios a serem anexados à Capitania de São Paulo,

movimentos estes tão acentuados e incessantes como

aqueles das Minas Geraes no início do século. A

diversidadedos grupos humanos e a convergência dos

45


traziam em seu bojo um processo de enérgicas disputas e

desentendimentos entre aqueles que por um tempo alise

estabeleceriam (CHAIM, 1987). Os domínios dos Goyases

estavam, assim, destinados desde o princípio a sofrer com

o caos e a desordem tão características do rush aurífero,

principalmente em virtude da mobilidade resultante dos

novos descobertos e/ou esgotamento dos já conhecidos,

fator que ressaltava a ganância em detrimento do equilíbrio

social e de uma boa convivência entre os povos (...)

(...) Destarte, podemos perceber que o gérmen da força

militar se estabeleceu nas novas terras antes mesmo da

instalação efetiva do aparato administrativo aos moldes das

governanças portuguesas, se configurando como elemento

essencial para a futura organização defensiva dos Goyases,

movimento iniciado com a vinda da primeira companhia de

Dragões da Cavalaria junto com o Conde de Sarzedas em

1736. Alguns elementos acentuaram a necessidade de uma

Tropa Regular naquelas minas.

Sabe-se que a viagem do referido Conde necessitava

cuidados especiais de modo a garantir o bom cumprimento

de sua missão, que era a de estabelecer a ordem em diletas

terras do oeste colonial. Além disso, a chegada do Ouvidor

Gregório Dias à região do Tocantins (norte dos Goyases),

explicitou a intensidade dos problemas concernentes à

violência dos povos, posto que o descobrimento de

algumas minas havia causado grande alvoroço entre os

garimpeiros, requerendo solução imediata. Para tanto,

expede sua Majestade D. João V por meio de carta régia

endereçada ao então governador e Capitão General do Rio

de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, a ordem de enviar às

minas de Goiás um destacamento de quarenta Dragões

montados para assistir ao conde de Sarzedas em suas

diligências. Este corpo regulado seria enviado das

Geraes para o arraial de Sant'ana, objetivando constituir ali

a primeira companhia de Dragões destas terras, “que se

comporá de soldados veteranos dessas Minas geraes, e de

novos, reechendo-se logo com soldados novos, os que se

tirarem dos corpos velhos”.

46


Assim, a primeira e única Tropa Regular dos Goyases

durante o século XVIII seria composta por alguns dos mais

experimentados soldados das Geraes. Ao todo somava

quatro praças além do solicitado por Sua Majestade,

totalizando quarenta e quatro homens, dentre: trinta e sete

soldados, um Capitão, um Tenente, um Alferes, um Furriel,

um Tambor e dois cabos de esquadra. Ao chegar em Goiás,

deveriam sentar praça por um período mínimo de dez anos,

tempo necessário para acalmar os ânimos e estabilizar a

vida na vila e nos arraiais, incumbidos da defesa e do

policiamento destas terras, fatores necessários ao bom

convívio dos povos. O número de componentes desta tropa

permaneceria inalterado até 1749, quando, por ordem de D.

João V, Gomes Freire de Andrade acrescentou a esta

lotação nove soldados e dois cabos de esquadra,

totalizando, assim, cinquenta e cinco praças. (GOMES,

2012, pp. 3-4-6)

Já na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, há de se

destacar que, segundo o artigo “A Revolta dos Dragões e as

privações dos primeiros habitantes” (2010, p. 1), os Dragões

formavam um regimento militar que chegou ao Rio Grande

juntamente com a expedição oficial de José da Silva Paes, em

1737, esse regimento era composto por 41 membros oriundos de

Minas Gerais e consistiam em tropas especiais que atuavam

como cavalaria ou infantaria e serviam tanto para defesa

quanto para ataque, bem como que o grupamento tinha por

objetivo garantir, via presença e apoio bélico, não apenas a

ocupação, mas a colonização do território ao sul de Laguna, em

direção ao estuário do Prata. Além do que, inicialmente, sua

organização previa atuação na Colônia do Sacramento, o que se

tornou impossível devido ao bloqueio espanhol feito à possessão

portuguesa, e, em face disso, os dragões foram deslocados para

Rio Grande e, posteriormente, a corporação recebeu o

acréscimo de novos contingentes, estabelecendo-se em

definitivo no povoado como regimento próprio.

Histórico ampliado pelo artigo “Os Dragões de Rio Pardo”

(2007, p. 1):

47


Os Dragões eram soldados treinados para combater a pé e a

cavalo, conforme as exigências das circunstancias, e foram

fundamentais para a formação do Rio Grande do Sul.

Valentes, fortes, grandes cavaleiros, guerreiros

invencíveis, manejando a espada, a lança, a pistola ou o

mosquete, os Dragões escreveram com seu sangue

páginas brilhantes ao longo dos 82 anos de sua

permanência em Rio Pardo.

Organizados como um esquadrão, primeiramente pelo

Brigadeiro José da Silva Paes no Presídio Jesus-Maria-

José, no Porto de Rio Grande, seu primeiro comandante foi

o bravo capitão Francisco Pinto Bandeira, grande herói da

nossa formação. Em 1737, a rigor, começa a saga do

glorioso regimento, mas só em 1739, sob o comando de

Diogo Osório Cardoso e logo de Tomaz Luiz Osório, começa

verdadeiramente a saga heróica dos Dragões.

Em 1750, é assinado o Tratado de Madrid, assinalando o

começo de um período de paz entre Espanha e Portugal. E

os exércitos ibéricos tiveram que vencer a resistência

missioneira para ocupar o Sete Povos das Missões. Os

Dragões se cobrem de glória. Logo depois, têm que

enfrentar os próprios espanhóis de Vertiz e De Ceballos,

firmando o nome de Rio Pardo como Tranqueira Invicta. Os

Dragões casavam com as moças de Rio Pardo e formavam

as famílias dos grandes heróis da formação da nossa terra.

Unindo essas “três pontas”, sobre sua jornada pelas regiões

coloniais, Fidelis Soares (2017, p. 1) lembra que no Brasil os

Dragões iniciam sua jornada histórica a partir do período

Colonial desempenhando missões de ação rápida e de controle

de estradas do Brasil Colônia. Reiterando que, segundo os

registros históricos, é em 1719 que chegam a Minas Gerais duas

companhias de Dragões Del Rey enviadas de Lisboa, e

aquarteladas (ANEXO 3) na primeira capital mineira Vila de

Nossa Senhora do Carmo – hoje Mariana-MG - que irão

constituir os famosos Dragões Reais de Minas unidade em que

serviu o Alferes Joaquim Jose da Silva Xavier, bem como que tal

48


unidade tinha como missão principal a garantia da segurança

dos distritos mineradores e seus caminhos, funcionando como

uma espécie de polícia militar montada, e que da reunião das

três companhias de dragões que tinham sido enviadas de

Portugal para Minas Gerais, as duas primeiras vieram em 1719 e

a terceira em 1729.

Tiradentes em uniforme do Regimento de Dragões das Minas.

Imagem (muito idealizada) de José Washt Rodrigues, 1940

Em tempo, explicando sobre a prática do aboletamento

(COTTA, 2006, p. 6), como não existiam quartéis, os oficiais e

soldados foram aboletados em pequenos grupos, cerca de

dois, três e até mais, em casas de moradores, os quais tinham

obrigação de fornecer forragens para os animais e alimentos

para os soldados, embora isso fosse pago pelos cofres do

Senado da Câmara. Sendo que apenas uma pequena parte dos

Dragões foi aquartelada numa construção de pau- a -pique que

49


antes servira de açougue público, sem formas de quartel e

caindo aos pedaços.

Frisando que (FIDELIS SOARES, 2017, p. 1) o Regimento de

Dragões de Minas formado pelas duas companhias tinham como

missão principal, a da garantia da lei e da ordem nas atividades

de exploração do ouro e a fiscalização da cobrança de impostos.

Outros dados relevantes (ibidem, pp. 1-2): já em 1729, chega da

Metrópole Portuguesa, uma terceira companhia de dragões,

que acaba por ser enviada para participar nas operações

militares de defesa do Sul do Brasil, esta companhia foi

acrescida de oficiais dragões adicionais vindos diretamente de

Portugal, sendo o núcleo de um regimento de dragões a ser

formado na Colônia do Sacramento, esse regimento irá ser

formado em 1736, mas como Regimento de Dragões do Rio

Pardo; com base em efetivos dos Dragões Reais de Minas são

também criadas às companhias de Dragões de Cuiabá e de

Goiás.

Já no Primeiro Império Brasileiro:

Com os eventos da Independência do Brasil e da reorganização do novo

Exército Brasileiro em 1825 os dragões Coloniais são extintos. Os

antigos dragões de Minas, do Rio Pardo, de Montevidéu e da União

tornam-se, respectivamente, o 2º, 5º, 6º e 7º regimentos de cavalaria de

1ª linha. O antigo Esquadrão de Cavalaria da Guarda do Vice-Rei foi

transformado em 1º Regimento de Cavalaria do Exército por dom João VI

em 1808 tomando nova designação como 1º Regimento de Cavalaria de

Primeira Linha. Com a Independência, é criada também a Imperial

Guarda de Honra dos Mosqueteiros de dom Pedro I (1822-1831) núcleo

primordial para o Regimento de Dragões. Segundo o Dr. Gustavo

Barroso sendo proclamada a Independência, recebeu o imperador o

auxilio de algumas províncias, em primeiro lugar temos a de São Paulo,

Rio de Janeiro e Minas Gerais que serviram de base para criação da

unidade que recebeu a denominação de Imperial Guarda de Honra,

criada por decreto de 1º de Dezembro de 1822. (FIDELIS SOARES,

2017, p. 2)

Promovendo um breve, e conciso, resumo sobre os

principais tópicos até aqui abordados, são de grande valia as

informações disponibilizadas no site da PMMG na sua Linha do

Te m p o ( h t t p s : / / w w w. p o l i c i a m i l i t a r. m g . g o v. b r / p o r t a l -

pm/externo/conteudo.action?conteudo=8781&tipoConteudo=subP),

50


abarcando, nesse particular, o período de 1709 até a 1775.

Reiterando que as montanhas de Minas guardavam o dourado

da terra, onde ouro, diamantes, e outras pedras preciosas

afloravam pelo chão, escorria nos riachos, cintilava aos quatro

ventos

Nesse contexto, continua expondo a fonte acima citada,

um território crucial para a sobrevivência da Metrópole

(Portugal) e que demandou mais ferramentas de segurança

para a fluidez das riquezas, sendo que em um cenário de pouca

estrutura vária e com muitos caminhos possíveis para o

contrabando é que chegaram a terras coloniais 3 tropas de

Dragões Del Rey a partir de 1719. De modo que esses militares

se instalaram para garantir a produção e deslocamento dos

minerais preciosos das Minas até os portos marítimos.

Aprofundando sobre a organização militar nas Minas do

século XVIII:

Gravura de J.M. Rugendas sobre a mineração de ouro no Brasil

Em 09 de novembro de 1709, foi criada a Capitania de Minas e

São Paulo, o que se conhecia de organização militar, no Brasil,

eram as TROPAS DE LINHA, as Milícias e as ORDENANÇAS. A

história da institucionalização de um corpo militar responsável

pela polícia nas Minas do Ouro inicia-se em 1719, com a chegada

dos Dragões em Vila Rica (atual Ouro Preto).Cotta, 2006, diz que

essa tropa regular e paga pela Coroa portuguesa teria sofrido um

processo de especialização precoce. Tendo em vista a

necessidade

51


necessidade de controle do território, das pessoas e da

arrecadação dos impostos, a Coroa portuguesa construiu,

gradativamente e ao sabor das exigências locais, um conjunto de

políticas da ordem para as Minas. O Sistema Luso- Brasileiro de

Polícia tinha como tripé: a ideia de Ordem;a pluralidade de

estratégias de controle e a força das instituições militares na

operacionalização de suas políticas.

Em Minas Gerais o primeiro ponto a destacar é a especialização

policial precoce das instituições militares em virtude de aspectos

geopolíticos sui generis. Tal característica se deve às funções

exercidas, desde os primeiros anos, pelos corpos militares em

Minas:

· controle da arrecadação dos tributos;

· repressão aos extravios de ouro e diamantes;

· controle das violências coletiva e interpessoal;

· vigilância dos caminhos, estradas e rios;

· prisão de infratores.

Minas era para Portugal o coração da América Portuguesa. O

processo de construção das ordens social, jurídica e pública nas

Minas teria a participação dos governadores, militares,

magistrados, clero, poderosos locais, comerciantes, lavradores e

das comunidades. Em um ambiente marcado pela violência,

tanto interpessoal quanto coletiva, e pela imprevisibilidade, seria

necessário desenvolver estratégias e mecanismos que

Além do que:

O conceito luso-brasileiro de polícia para o início do século XVIII

estaria relacionado à ordem estabelecida para a segurança e

comodidade pública dos habitantes bem como à boa ordem que

se observa as leis que a prudência estabeleceu para a sociedade

nas cidades. No coração da América Portuguesa, o conceito de

polícia receberia vernizes diversos, mas em seu cerne guardaria a

ideia de ordem estabelecida. Naquela época o conflito entre os

governadores e funcionários tornaram impossível " o exercício

pleno do poder metropolitano".

O poder estabelecido nas Minas embasava-se, principalmente,

no exercício da violência, como forma de manter a ordem e

submeter o povo.

52


Mesmo com a chegada dos Dragões Del Rey (1719) o Conde

Assumar, governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro

(1717-1721), e seus sucessores continuaram a depender das

ordenanças e dos corpos auxiliares para a manutenção da

tranquilidade e sossego públicos. Naquele tempo, a multiplicidade

de patentes militares passadas aos poderosos locais funcionaria

de forma a possibilitar o controle das facções contrárias..Em dado

momento um poderoso estaria ao lado da Coroa; em outro,

deveria ser combatido. Os vassalos viam as patentes militares

como uma das possibilidades para aumentarem seu poder e

prestígio pessoal, além de lhes servirem para usufruírem das

prerrogativas e isenções atinentes aos postos.

A estrutura dos corpos militares estaria dividida em: Regulares

(também chamados de tropa paga ou de linha); Milícias;

Ordenança

Especificamente sobre a tropa regular e paga: os Dragões de

El Rey – 1ª linha –, a Linha do Tempo em uso apresenta os

seguintes destaques: considerados Tropas de 1ª Linha, em

princípio eram recrutadas em Portugal; constituíam a FORÇA

REGULAR E PAGA a serviço dos interesses da metrópole; sua

formação ocorreu em consequência da descoberta do ouro, e

dos vários levantes que se verificaram em Minas Gerais; para

reprimi-los e garantir a arrecadação do “quinto” do ouro à Coroa,

o Rei de Portugal, D. João V fez partir para a colônia (Brasil) um

contingente de Dragões constituídos por duas Companhias; em

fins de 1719 já estavam agindo em Minas. Relembrando que os

Dragões portugueses, que para as Minas se deslocaram em

1719 a pedido do Conde de Assumar, não eram “tropa para

pelejar em campo aberto contra o inimigo”, bem como que,

originalmente, um dragão era um tipo de soldado que se

caracterizava por se deslocar a cavalo, mas combater a pé.

Inicialmente e até meados do século XVIII, as unidades de

dragões constituíam assim uma espécie de infantaria montada,

e ainda que, contudo, posteriormente, os dragões

transformaram-se, passando de infantaria montada a tropas de

genuína cavalaria.

“As missões dos Dragões se restringiriam inicialmente à guarda

dos governadores, ao comboio da Fazenda de Sua Majestade e

ao socorro contra os poderosos, que se faziam fortes com seus

53


escravos, e à atuação em lugares intricados”.A conveniência de

se empregarem dragões residia no fato de que “o principal

exercício deles é o manejo de infantaria”.

Devido ao elevado custo de vida o vencimento dos Dragões das

Minas era arbitrado em quatro vezes mais do que se pagava em

Portugal. As duas primeiras companhias de Dragões das Minas se

formaram em virtude da carta régia de 09 de fevereiro de 1719.

Seu efetivo era composto de Portugueses, exceção feita aos

soldados tambores (músicos), originários da África. Houve

problemas com deserção. A terceira companhia foi criada em 08

de dezembro de 1729. As atividades desenvolvidas pelos

Dragões estavam diretamente vinculadas ao processo de

imposição do poder pela Coroa portuguesa sobre os poderosos

locais, manutenção da arrecadação dos impostos e conservação

da ordem e sossegos públicos.

Os Dragões possuíam um estandarte e nele estava desenhada

uma mão com um raio que rompia entre uma nuvem, suspensa no

ar, como ameaçando a uns montes que estavam embaixo. Estava

escrito: “cedere, aut caedi” que quer dizer, “ceder ou ser ferido.”

Os governadores da época do Brasil colônia acreditavam que as

redes clientelares dariam certa ordenação e estabilidade ao

sistema de controle social. Havia interesse dos poderosos por

obter patentes militares devido a posição que passavam a ocupar

nas redes de poder. A chegada do Conde de Assumar trouxe

medo, por parte dos poderosos de Vila Rica possuidores de

patentes militares.

Como precursora da sua dissolução próxima (COTTA, 2000,

p. 8), em 1766, sob orientação de Pombal, ocorre nova

reestruturação militar, em Carta Régia de 22 de março, o

Governador de Minas recebe determinações para que: “mande

alistar todos os moradores desta Capitania sem distinção de

cores e classes, que puderem pegar em armas, e formar por

classes Terços Auxiliares e Ordenanças de ambas as armas

(infantaria e cavalaria), criando os oficiais precisos, e mandando

disciplinar cada um dos Terços Auxiliares por Sargento-mor

tirado das tropas pagas, que vencerão o mesmo soldo que os

das tropas pagas, que estão nesta Capitania, pagos pelos

rendimentos das Câmaras”. Os integrantes desses Corpos

Auxiliares deveriam, em tempo de paz, se dedicarem ao cultivo

da terra e à criação de gados. Lembrando que quem recebia

soldo era apenas o Sargento-mor.

54


Assim (COTTA, 2000, p. 8), quando das instruções trazidas

por Dom Antônio de Noronha em 1775, havia em Minas treze

Regimentos Auxiliares de Cavalaria, e seis possuíam o título de

nobreza. Martinho de Mello recomendou a Dom Antônio de

Noronha que investigasse tal questão, pois não se entendia

que em Minas existissem tantos nobres capazes de formar seis

regimentos. Considerava ainda que tais denominações eram

muito nocivas ao serviço, não havendo a necessidade da

“estranha e incompetente distinção” quanto ao serviço de nobres

e plebeus.

REGIMENTOS AUXILIARES DE CAVALARIA

COMARCA NOBREZA COMUM

OURO PRETO 02 02

RIO DAS VELHAS 02 02

SERRO FRIO 01 01

RIO DAS MORTE 01 02

TOTAL 06 07

Ao se referir aos Dragões, Martinho de Mello e Castro reclama

dos elevados soldos pagos atualmente pela Coroa a essas

Companhias. Seus exorbitantes soldos somente se justificavam

numa época em que Minas era um vasto sertão, sem recursos e

sem alimentos. No presente, todas aquelas dificuldades não mais

existiam. A mesma quantia paga às três Companhias era 8

suficiente para manter um Regimento de Cavalaria com 600

cavalos, bem mais disciplinado e subordinado. Após

levantamentos pessoais, Dom Antônio de Noronha constatou

que as Companhias de Dragões realizavam um serviço

desordenado, faltavam-lhes disciplina militar havendo soldados e

cabos que se corrompiam “ao deixar passar alguns

contrabandos.” De posse das determinações, Dom Antônio

promoveu a reorganização dos Regimentos Auxiliares, os de

Nobreza e os Terços de Ordenanças de homens pardos e pretos.

(COTTA, 2000, pp. 8-9)

Mediante tal reorganização, Cotta (2000, p. 9) enumera que

dos seis Regimentos de Nobreza, permaneceu apenas um, o

qual foi dividido em 10 Companhias com um efetivo de 390

55


praças; portanto, na interpretação de Noronha, não havia em

Minas tantos nobres capazes de formar os seis Regimentos

anteriores.

No seu último ato (COTTA, 2000, p. 10), em 1775, D.

Antônio de Noronha havia acrescentado indivíduos aos Corpos

dos Homens Pardos e às Companhias de Pretos, pois, as

encontrou bastante reduzidas em função da criação dos

Regimentos de Auxiliares de 1766. Após essa reorganização, o

Terço passou a contar com 3.120 praças. Por um conjunto de

fatores, tais como as informações sobre a desorganização,

indisciplina e corrupção repassadas por Dom Antônio de

Noronha, além das guerras no sul do Brasil, a Coroa Portuguesa

sentiu necessidade de reorganizar suas forças militares,

atualizar seus regulamentos, armamentos e métodos de

combate, e, novamente, entregou ao famoso discípulo de

Frederico II da Prússia, Conde de Schaumburg Lippe Buckeburg,

a tarefa de transformar o ruinoso estado de coisas reinante no

setor militar; além de outros oficiais, foram para Portugal o

Marechal de Campo Johan Heinrich Böhn e o Brigadeiro,

especialista em fortificações, Jacques Funck, que logo foram

despachados para o Brasil.

Sobre o Regimento Regular de Cavalaria de Minas:

Em junho de 1775, Dom Antônio de Noronha, autorizado por Dom

José I, após dissolver as Companhias de Dragões, retirar dos

Corpos Auxiliares os melhores indivíduos, trazer dos Regimentos

do Rio de Janeiro oficiais de boa instrução e fazer vir de Portugal

um sargento-mor familiarizado com os novos princípios da arte de

guerra, criou o Regimento Regular de Cavalaria de Minas. Era um

Corpo diferente dos demais que existiam nas Quando do envio

de D. Antônio de Noronha para o governo da Capitania de Minas

Gerais, uma das recomendações feitas por Martinho de Mello

consistia na solução de um problema não só de cunho militar, mas

sobretudo financeiro: eram excessivos os gastos feitos com as

três Companhias de Dragões em Minas Gerais. A Coroa tinha

uma despesa anual de cerca de cento e vinte mil cruzados. A Real

Fazenda fornecia, ainda, os cavalos que custavam regularmente

56


de trinta a trinta e cinco mil réis. Além de fornecer o sustento para

os soldados e semoventes, tinha os gastos com fardamento,

armamento e hospital para a tropa. (COTTA, 2000, pp. 10-11)

“Amarrando as pontas”:

Em carta de 25 de julho de 1775, Dom Antônio de Noronha relata

que as três Companhias de Dragões (dissolvidas por ele)

recebiam de soldo não 35.525$280, conforme dados de Martinho

de Melo e Castro, mas sim 37.300$402. Com a criação do

Regimento Regular de Cavalaria, o total dos soldos pagos às oito

companhias anualmente seria de 37.119$300. Quanto aos

cavalos, esses passariam a ser adquiridos por vinte mil réis;

quanto às despesas com fardamentos, ferragens e capins, seria

aconselhável recolher aos cofres do Rei as terças dos

rendimentos das câmaras, pois, em Portugal, essas terças eram

utilizadas para reparo dos muros e castelos e outras obras

necessárias para a defesa. Nas Minas, os muros eram as

próprias tropas. Outras medidas tendentes a racionalizar os

gastos foram os assentamentos de praças especialistas

(espingardeiro e seleiro), o que proporcionava economia nos

consertos de armas, selins, arreios e selas. (COTTA, 2000, p. 11)

Dando formatação final, o site da PMMG frisa que a

chegada dos Dragões para as Minas Gerais trouxe sérias

dificuldades, pois não haviam quartéis e foi adotado o sistema de

aboletamento, e que esse sistema gerou revolta nos moradores

que queriam que as companhias de dragões pagassem seu

sustento, em 1719 a Câmara de Vila do Carmo (Mariana-MG)

cedeu aos Dragões terras para pasto dos cavalos e

posteriormente os Dragões se instalaram em Cachoeira do

Campo (Ouro Preto). Interessante ressaltar que o

envelhecimento da tropa provocou a falta de efetivo, de forma

que: entre 1729 e 1768 houve a diminuição do efetivo em função

da criação do corpo de Dragões da Colônia de Sacramento e da

reforma de alguns dragões; o efetivo das três companhias de

dragões nunca passou de 200 homens; esta situação abre

espaço para aumentar a importância dos corpos auxiliares e as

ordenanças, cujos chefes eram os poderosos locais.

Avançando alguns séculos, foquemos na contemporaneidade.

57


Utilizando o “Breve Histórico do 4º ESQD C MEC”, criado

em parceria com a RP (5ª Seção) do 4º Esquadrão de Cavalaria

Mecanizado, cumpre-se o intento de apresentar um resumo

fidedigno de sua evolução denominativa e de aquartelamentos

ao longo desses noventa anos:

O 4º Esqd C Mec foi criado pelo Aviso Ministerial nº 855, de

21 de novembro de 1929, sendo desde 1945 a única

Organização Militar de Arma de Cavalaria do Exército

Brasileiro sediada em MG e continuadora de uma tradição

que teve seu início em 1719 quando chegaram de Portugal

duas Companhias de Dragões Reais na Vila do Ribeirão do

Carmo ( Mariana).

Após a Independência, uma série de outras unidades de

Cavalaria estiveram sediadas em Minas Gerais, localizadas

sobretudo na capital da Província, a cidade de ouro Preto.

Em 1917 cria-se o 14° Regimento de Cavalaria, que no ano

seguinte seria instalado na cidade de Três Corações do Rio

Verde. Em 1919 a unidade passou a ter a designação de 4°

Regimento Divisionário (4° RCD. Nossa subunidade,

quando de sua criação em 1929, embora com sede em Juiz

de Fora, era um esquadrão orgânico do 4° RCD.

Em 1945 tendo o 4° RCD sido extinto e em seu

aquartelamento instalada a nova Escola de sargento das

Armas (ESA), fica o então 4° Esquadrão de Cavalaria,

sediado em Juiz de Fora, sendo o representante único da

Arma de Osório nas Alterosas.

Em 1946 e 1947 muda Denominação para 4° Esquadrão de

Reconhecimento Mecanizado respectivamente.Sua

denominação atual, 4° Esquadrão de Cavalaria Mecanizado

foi dada em 1973.

Em 1984 o 4º Esqd. C. Mec. foi transferido do quartel que

ocupava no bairro Mariano Procópio em Juiz de Fora para a

cidade de Santos Dumont, terra do “Pai da aviação”, que

acolheu com hospitalidade a única Unidade de Cavalaria de

Minas Gerais.

O Projeto de Denominação Histórica do 4º Esquadrão de

Cavalaria Mecanizado – ESQUADRÃO DRAGÕES REAIS

58


DAS MINAS – foi aprovado pelo Boletim do Exército n° 29 -

Brasília – DF, de 21 de julho de 2006, conforme PORTARIA N

º 430, DE 18 DE JULHO DE 2006 (p. 15). Conforme o disposto

pelo Boletim do Exército, N º 17/2007 Brasília - DF, 27 de abril de

2007, PORTARIA N ° 228, DE 23 DE ABRIL DE 2007 (p. 14), o qual

Concede Estandarte Histórico ao 4º Esquadrão de Cavalaria

Mecanizado.

Com bem mais de meio século de existência, o 4° Esquadrão

de Cavalaria Mecanizado participou de fatos relevantes em

nossa História:

- Revolução de 1932; - Formou a Vanguarda das tropas que

se deslocaram de MG para Guanabara em 31 de março de

1964;

- Participou com viaturas blindadas e pessoal da Força de

Paz da ONU em Moçambique, África Oriental em 1994; -

Participou com um Pelotão de Reconhecimento Completo e

pessoal de apoio, num total de 44homens, da Força de Paz

da ONU em Angola, África Austral, em 1996;

59


- Intervenção na greve da Polícia Militar de Minas Gerais, em

1997;

- Participou da Força de Paz da ONU no Haiti, em 2007, 2010

e 2012;

- Nos V Jogos Mundiais Militares em 2011 na cidade do Rio

de Janeiro;

- Duas participações na Pacificação do Complexo da Penha

e Alemão (Arcanjo II e V) em 2011, na cidade do Rio de

Janeiro; - Conferência Rio + 20 em 2012, na cidade do Rio de

Janeiro;

- Na Jornada Mundial da Juventude em 2013, na cidade do

Rio de Janeiro; - Na Copa das Confederações em 2013, na

cidade de Belo Horizonte;

- Participou da Operação São Francisco, na Pacificação do

Complexo da Maré em 2014, na cidade do Rio de Janeiro. -

Na Copa do Mundo em 2014, Na cidade de Belo Horizonte;

- Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016 na cidade do Rio

de Janeiro. - Intervenção Federal no Rio de Janeiro, em

Na Revolução Constitucionalista/Paulista de 1932 o 4°

Regimento Divisionário (4° RCD), instalado na cidade de Três

Corações do Rio Verde – futura sede da Escola de Sargento das

Armas (ESA) – teve participação decisiva, e Parreiras (2018, p. 1)

relembra que os embates envolveram cerca de 100 mil soldados

federais, sobretudo mineiros, e 60 mil revolucionários de São

Paulo, tendo o número de mortos sido calculado em 2 mil

paulistas e 1.050 do lado federal. Entre julho e setembro,

mineiros lutaram para recupera dos paulistas o Túnel da

Mantiqueira – uma passagem de 997 metros de extensão sob a

Garganta do Embaú, entre Passa Quatro (MG) e Cruzeiro (SP),

perto da estação de Manacá, da Rede Mineira de Viação, ponto

em que as duas forças se entrincheiraram.

O comando do 4° Regimento Divisionário (4° RCD) ficou

à cargo do Coronel Eurico Gaspar Dutra (JATOBÁ, 2005, p. 104)

em conjunto com o regimento da Força Pública (PM) mineira

vinda de São João Del Rey – que fazia parte do primeiro Batalhão

expedicionário da Força Pública (PM) mineira, e que entre seus

quadros tinha o Capitão Médico Juscelino Kubitschek (JK),

comandada pelo Tenente - Coronel Francisco de Campos

60


Brandão. Desse episódio, além dos futuros Presidentes da

República Dutra – que também foi Ministro da Guerra – e JK –,

três Governadores (ibidem, p. 115) emergiram das trincheiras da

Mantiqueira: Capitão Ernesto Dorneles (RS); Capitão

Assumpção (PA); Delegado Especial Benedito Valadares (MG).

Fundamentado na velha sabedoria mineira que nos ensina que

“Mais vale um pássaro na mão que dois voando” e que

“Apressado come cru”, .cabe deixar patente que há uma razão

absolutamente coerente para a discrepância no volume de

informações entre as duas narrativas históricas desse capítulo.

A motivação inicial diz respeito ao fato de que os

Dragões (Del Rey) Reais das Minas completam trezentos anos

da sua chegada em 2019, enquanto que para o 4º Esquadrão de

Cavalaria Mecanizado ainda restam dez anos para comemorar o

seu primeiro centenário, em 2029, considerando, pois, que uma

obra mais completa sobre essa OM será bem mais oportuna na

citada data; daqui a uma década.

Mesmo que tal honra, que tamanha deferência, não seja

a mim concedida na ocasião, creio que essa seja a conduta mais

prudente nessa ocasião; apesar de ser impossível não ter a

pretensão antecipada – já nesse momento – de me voluntariar

para tanto quando à hora chegar. O passado e o presente irão

estar representados nas narrativas textuais do decorrer desse

livro, e quanto ao futuro, só nos resta aguardar e compilar os

acontecimentos/fatos porvir para a obra centenária.

A apreciação factual e cronológica até aqui exposta

nada mais é/foi do que o necessário intróito para que se

conheça, e compreenda, como se forjaram e como atuam, hoje,

os Dragões Reais das Minas – com relatos testemunhais

descritos por eles mesmos, no subitem 2.2, e complementados

por fotos (EM ANEXOS).

61


2. NO CUMPRIMENTO DO DEVER

Desde sempre, e para sempre, esse é o lema a ser

vivenciado.

Tal conduta, e marca da personalidade, dos Dragões

Reais das Minas encontra eco na citação de Alfred Armand

Montapert (1906-1977) – escritor francês, autor do livro “A

Suprema Filosofia do Homem: As Leis da Vida”, publicado

em 1970 – “Somos totalmente responsáveis pela qualidade

da nossa vida e pelo efeito exercido sobre os outros,

construtivo ou destrutivo, quer pelo exemplo quer pela

influência direta”. Sem se esquecer de frisar que ainda há uma

outra certeza que completa essa característica indelével desses

Cavalarianos, de jamais refugar nas missões a eles confiadas, a

qual se encontra exposta em duas outras linhas mestras: “Há

duas fontes perenes de alegria pura: o bem realizado e o

dever cumprido” (Eduardo Girão); e “Se aceito uma missão

na vida pode ter certeza que será cumprida, porque desistir

o u b a i x a r o s b r a ç o s n ã o é p a r a m i m ” ( A U TO R

DESCONHECIDO).

Do alvorecer do século XVIII, chegando a esse início de

século XXI, não há relevante nódoa que recaia sobre esses

guerreiros, pois o dever sempre foi, é e será cumprido com os

devidos desvelo, denodo e decisão. Atuar em conjunto, com

cada elo da corrente fortalecendo os demais, é a fórmula

atemporal que sempre trouxe, traz e trará, o devido

reconhecimento aos feitos/desempenho dessa singular tropa.

Nada é mais simples do que saber o que, e como, fazer.

2.1 Participação em Missões de Paz da ONU e

eventos/missões nacionais

A extrema confiança demonstrada pelos organismos

internacionais sobre as tropas brasileiras, desde a sua

participação destacada na Segunda Guerra Mundial (FEB), fez

com que a Organização das Nações Unidas (ONU), através do

seu Conselho de Segurança (CSNU) - responsável pela paz e

segurança internacionais, formado por 15 membros: cinco

permanentes, que possuem o direito a veto que são Estados

Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China, e dez membros

62


não-permanentes, eleitos pela Assembléia Geral por dois anos –

empregasse efetivos militares brasileiros nas suas Missões de

Paz.

Na perspectiva do Itamaraty, expressa em “O Brasil e o

Conselho de Segurança da ONU” (201i, pp. 1-2):

A Carta das nações Unidas resultou de negociações

realizadas ao final da 2a Guerra Mundial e está em vigor

desde 1945. Na arquitetura institucional da ONU, atribuiu-se

a um órgão de composição reduzida – o Conselho de

Segurança das nações Unidas (CSNU) – a primazia sobre

condução dos assuntos relacionados à paz e à segurança

internacionais. A guerra tornou-se uma violação ao direito

internacional e os Estados se comprometeram a resolver

suas controvérsias por meios pacíficos e a evitar o uso da

força nas relações internacionais.

Com base nos Capítulos VI ou VII da Carta da ONU, o

Conselho de Segurança pode decidir sobre medidas a

serem adotadas em relação aos Estados cujas ações não se

coadunem com as normas relativas à paz e à segurança

internacionais. Dentre as decisões que podem ser tomadas

ao amparo do Capítulo VII estão o embargo de armas,

sanções abrangentes e mesmo a autorização de intervenção

armada. Essas medidas são manifestações impositivas da

autoridade do CSNU, pois dispensam o consentimento das

partes em conflito.

O Conselho de Segurança é composto por cinco membros

permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, França e

Reino Unido – os "P-5") e por dez membros não

permanentes, eleitos para mandatos de dois anos. O Brasil

é, ao lado do Japão, o país que por mais vezes integrou o

CSNU como membro não permanente. Esteve nele presente

por dez vezes, nos biênios 1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-

64, 1967-68, 1988-89, 1993-94, 1998-99, 2004-05 e 2010-11.

Para o último, foi eleito com 182 votos (dentre 183 países

votantes), o que demonstra o amplo reconhecimento das

contribuições do Brasil à atuação do órgão.

63


Ciente da importância das atribuições do Conselho de

Segurança, o Brasil sustenta que o órgão deve atuar de

forma transparente, responsável e sempre orientada pelos

princípios basilares da Carta das Nações Unidas.

Defendemos as vias diplomática e política para a solução

dos conflitos e consideramos que as medidas coercitivas

são opções de última instância.

O B r a s i l p r o c u r a c o n t r i b u i r p a r a a p r i m o r a r o

desenvolvimento conceitual dos assuntos de paz e

segurança – a exemplo da diplomacia preventiva, meio mais

efetivo para proteger as populações civis sob risco de

violência. Enfatizamos a interdependência entre segurança

e desenvolvimento, o que foi endossado pelo Conselho de

Segurança em declaração adotada sob a presidência

brasileira do órgão em fevereiro de 2011.

Caracterizado por sua postura de independência, equilíbrio

e capacidade de diálogo, o Brasil atua – no exercício dos

mandatos do CSNU e de outros órgãos das Nações Unidas–

pela construção de consensos, especialmente em situações

de grande polarização e divergência entre os membros do

CSNU.

O Brasil advoga a necessidade de reforma do CSNU para

torná-lo mais legítimo e representativo do conjunto dos

Estados-membros da ONU, que hoje somam 193 países. A

reforma é necessária para que o órgão passe a refletir a

realidade contemporânea. Trata-se de preservar o

arcabouço das Nações Unidas, adaptando suas estruturas

às exigências do século XXI.

Em consonância com os aspectos fundamentais das

perspectivas nacionais e dos compromissos internacionais,

conforme exposto no site do Exército Brasileiro, sobre as

“Missões de Paz” (2018, pp. 1-2):

Baseada nos preceitos do artigo 4º da Constituição Federal,

a participação brasileira em missões de paz só ocorre após o

atendimento de algumas imposições, cuja principal é a

aceitação, por parte dos países ou das facções envolvidas no

64


conflito, da presença de observadores ou tropas estrangeiras

em seu território.

Essa conduta da política externa brasileira vem sendo

adotada há longo tempo. Assim, a primeira participação do

Exército Brasileiro ocorreu em 1947, quando observadores

militares foram enviados para os Balcãs. Durante as décadas de

50 e 60, viria a participar com efetivos maiores, integrando

forças internacionais de paz, sob a égide da Organização das

Nações Unidas (ONU) no Oriente Médio e da Organização dos

Estados Americanos no Caribe. A mais longa missão foi no

Oriente Médio (UNEF) e durou de 1957 a 1967, com a

participação de 600 homens, em média, que se revezaram em

20 contingentes.

Nas décadas seguintes, foram bastante reduzidas as

missões, até reiniciarem em 1989, quando inúmeras foram

abertas. Em 1994, foram enviadas tropas (uma companhia) para

auxiliar a manutenção da paz em Moçambique. Em setembro de

1995, o Exército enviou para Angola um contingente composto

por mais de mil homens (um batalhão, uma companhia de

engenharia e um posto de saúde). Nos últimos anos, militares

brasileiros vêm prestando serviços às Nações Unidas, como

observadores, na África, na América Central, na Europa, e na

Ásia, e cooperando para a solução pacífica do conflito fronteiriço

entre o Equador e o Peru.

A par do excelente desempenho demonstrado pelas tropas

e pelos observadores brasileiros em missões no exterior, o

Exército tem participado de exercícios conjuntos com outros

países.

A participação em missões de paz vem trazendo crescente

prestígio à política externa e ao Exército Brasileiro, aumentando

a projeção nacional no cenário mundial.

A Política Externa Brasileira para Operações de Paz

Fundamentada na Política de Defesa Nacional, consoante a

diretriz de participar de Operações Internacionais de Paz, de

acordo com os interesses brasileiros, pautada pelas seguintes

linhas gerais:

65


Os Princípios das Operações de Paz

O Brasil considera que as Operações de Paz são instrumentos

úteis para solucionar conflitos e ajudam a promover

negociações político-diplomáticas, mas não podem substituílas;

a solução definitiva sempre dependerá da vontade política

das partes.

Quando instaurada, uma Operação de Paz deve ser regida

pelos princípios de imparcialidade, aplicação do mínimo de força

necessária, negociação com todas as partes envolvidas e

intermediação na busca de soluções, evitando-se a discussão

de problemas e responsabilidades.

Experiências Brasileiras em Operações de Paz

O Brasil, há muito tempo, vem contribuindo com o esforço de

organismos internacionais de paz, quer pelo envio de

observadores militares desarmados, quer pela inserção de

tropas levemente armadas nas áreas conflagradas. Os objetivos

têm sido monitorar o cessar-fogo entre as partes envolvidas e

desenvolver as melhores condições para o pleno

restabelecimento da paz regional.

Exercícios Conjuntos

Exercício Forças Unidas – O exercício inicialmente denominado

Forças Unidas foi estruturado num quadro de Força de Paz,

realizado numa situação hipotética e com auxílio de

computadores. No decorrer do exercício, são simulados

incidentes que envolvem a tropa, civis e demais participantes na

questão. Nos primeiros dias são realizados seminários com

diferentes temas sobre assuntos correlatos com a ONU e

Operações de Manutenção da Paz. O exercício é patrocinado

pelo Comando Sul do Exército dos Estados Unidos da América

(EUA).

Em 1997, o exercício foi realizado na Escola de Comando do

Estado-Maior do Exército (ECEME). O Exército Brasileiro

realizou toda a coordenação, planejamento e desenvolvimento

do evento, baseado na experiência vivida em Angola.

66


Em 1999 o exercício passou a ser chamado SUR 99, e foi

realizado na capital boliviana segundo uma situação planejada

pelo Comando Sul do Exército dos EUA.

Em substituição ao exercício Forças Unidas, que passou a ser

bianual, em 2000 foi realizado um simpósio de Forças de Paz em

Santiago do Chile.

Operação Cruzeiro do Sul – Em 1996, foi criado um exercício

denominado Operação Cruzeiro do Sul, por iniciativa da

Argentina, com os objetivos de proporcionar um maior

entrosamento entre os integrantes de uma Força de Paz

Combinada (F Paz Cbn) e desenvolver o planejamento de

estado-maior nos níveis grande unidade (GU) e unidade (U),

reforçando os laços de amizade no contexto do MERCOSUL. Em

1997, contando com a participação do Uruguai, o exercício foi

realizado no Brasil, com a presença de tropa no terreno. Em

1998, o exercício foi de quadros, realizado na Argentina, com a

inclusão do Paraguai.

Em 1999, foi realizado no Brasil, e constou de seminários com o

objetivo de trocar experiências relativas às operações de

manutenções de paz e planejamento nos níveis GU e U. Pode-se

observar a diferença entre o SUR 99 e a Operação Cruzeiro do

Sul: o primeiro constitui comando de brigada e o segundo

comando regional, de acordo com o desdobramento das Forças

da ONU em Angola. No ano 2000 o exercício foi de posto de

comando com incidentes.

Exercício de Apoio Humanitário – Ainda em 1998, por ocasião de

uma conferência bilateral de estados-maiores entre os Exércitos

do Brasil e da Argentina, foi estabelecido que seria realizado,

anualmente e por revezamento, um exercício combinado de

apoio humanitário às comunidades por ocasião de desastres

naturais.

Em 1999, o exercício denominado Operação Iguaçu – I foi

realizado na cidade de Posadas, na Argentina, contando com a

presença de militares do 2º Regimento de Cavalaria Mecanizado

e do estado-maior da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada,

explorado sob o tema de um alagamento generalizado na

67


fronteira comum, operacionalizando a assistência humanitária.

Seminários – Nos anos de 1997 e 1998, o Exército participou de

seminários de assuntos relacionados com Operações de

Manutenção da Paz, na América do Sul e Grã-Bretanha. Em

1999, foi realizado um intercâmbio de especialistas em

operação de manutenção de paz com o Exército dos

Estados Unidos da América. Foram discutidos temas como

desminagem, relacionamento com organizações não -

governamentais (ONG)e conceitos doutrinários.

O preparo da tropa – Uma situação real – O Comando de

Operações Terrestres (COTER) é responsável pelo preparo das

tropas que se destinam às missões de manutenção da paz. São

tomadas como referências de preparo as Diretrizes da ONU e os

Programas Padrão de Instrução, entre outros documentos. O

tempo previsto é de cerca de três meses, dividido em instrução

individual (quadros, cabos e soldados) e adestramento.

Perspectivas

Em âmbito internacional – A tendência aponta para a concessão,

pela ONU, de mandatos para que organismos regionais

conduzam operações de manutenção de paz, com o provável

aumento de missões delegadas para coalizões de estadosmembros,

como foi o caso da missão junto à INTERFET; ou para

organismos regionais, com a conseqüente diminuição do

controle das operações por parte das Nações Unidas.

Em curto e médio prazos, pode-se dizer que, em razão do seu

alto custo e das dificuldades de atingir resultados definitivos, as

missões de paz da ONU, envolvendo emprego de tropa,

deverão diminuir. Por outro lado, as missões de emprego

individual – observadores militares – por enquanto, não deverão

sofrer redução.

As Nações Unidas, por sua universalidade, legitimidade e

experiência de mais de 50 anos em missões congêneres, devem

continuar, quando possível, a conduzir as operações de

manutenção de paz.

68


Específicas para a Força

O emprego de forças militares em Operações de Paz continuará

a ser uma constante nos próximos anos. O Brasil poderá ser

convocado a dar sua parcela de contribuição.

Considerando o aspecto profissional e doutrinário das nossas

Forças Armadas, com enfoque central na atuação do Exército

Brasileiro, e em respeito aos pactos assumidos com Organismos

Multilaterais e com a Comunidade Internacional, há uma

rigorosa preparação dos militares brasileiros designadospara

tais missões:

Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB)

Inicialmente, quando os primeiros contingentes de tropa brasileira

foram desdobrados para o emprego em missões fora do país, coube

aos próprios sua preparação. Posteriormente, a 5ª Subchefia do

Estado-Maior do Exército ficou encarregada de planejar esses

treinamentos e adestramentos.

Desde os primeiros desdobramentos de tropa coube aos

contingentes designados a condução de seu respectivo preparo.

Posteriormente, a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército

passou a orientar o preparo da tropa. Em 2001 foi criado, na

Divisão de Missão de Paz do COTER, o Centro de Preparação e

Avaliação para Missões de Paz do Exército Brasileiro (CEPAEB),

com a missão de orientar o preparo de todos os militares

brasileiros designados para integrarem Missões de Paz.

A Resolução 44/49, da Assembléia Geral das Nações Unidas –

ASNU, de 08 de dezembro de 1989, sobre a “Revisão

Abrangente da Questão das Operações de Paz em Todos os

seus Aspectos”, encorajou os Estados-Membros a organizaremse

no estabelecimento de programas de treinamento para

militares e pessoal civil, tendo em vista seu emprego em

operações de paz. A reunião, homônima, do IV Comitê da ASNU,

ocorrida em 04 de outubro de 2005 – na qual discursou o

Conselheiro Militar da Missão Permanente do Brasil junto à ONU,

em Nova Iorque, aprofundou a questão e enfatizou o

compromisso de futuro dos diverso s Estado - Membros para

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com os aspectos específicos do treinamento para as operações

de paz. Em decorrência desses eventos e em face da crescente

mobilização internacional dos países-membros no sentido de

criar estruturas que possibilitem a prática e a disseminação dos

procedimentos e normas vigentes nas missões de paz, o

Exército Brasileiro, o mais expressivo tributário no âmbito da

Forças Armadas Brasileiras este tipo de missão, criou, por meio

da Portaria do Comandante do Exército Nr 090, de 23 de

fevereiro de 2005, o Centro de Instrução de Operações de Paz.

Como conseqüência do compromisso internacional

recentemente assumido relativo à Missão das Nações Unidas

para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), o CI Op Paz iniciou

suas atividades com a incumbência de conduzir o preparo da

então Brigada Haiti, 3º Contingente, integrada pelo GUEs - 9ª

Bda Inf Mtz, instalando-se provisoriamente no aquartelamento

do 57º BI Mtz (Es) / REI, a unidade base do Batalhão Haiti.

Dessa forma, após a criação do CI Op Paz, os contingentes, a

partir do terceiro, inclusive, passaram a preparar-se e a serem

empregados sob a luz do Cap. 7 da carta das Nações Unidas,

coerente com o mandato da MINUSTAH, produzindo

significativas modificações no comportamento das tropas no

terreno.

Em 15 de junho de 2010, a portaria nº 952-MD, de mesma data,

designa o Centro de Instrução de Operações de Paz (C I O p

Paz), do Exército Brasileiro para a preparação de militares e

civis brasileiros e de nações amigas a serem enviados em

missões de paz e altera a sua denominação, para Centro

Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB).

O 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, desde a

instalação da OM em Santos Dumont-MG, em 1984, teve

Cavalarianos selecionados para atuar em Missões de Paz da

ONU. Para melhor introduzir a segunda parte desse capítulo,

segue-se o resumo dessas Missões:

United Nations Operation in Mozambique (ONUMOZ) – Foi

estabelecida para implementar o Acordo Geral de Paz, assinado

em outubro de 1992 pelo Presidente da República de

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Moçambique o Presidente da Resistência Nacional

Moçambicana (RENAMO). O mandato incluía o monitoramento

do cessar-fogo, a retirada de tropas estrangeiras, a segurança

dos corredores de transporte e a verificação do processo

eleitoral. De janeiro de 1993 a dezembro de 1994, o Brasil

contribuiu para a missão com um total de 26 observadores

militares, 67 observadores policiais, uma unidade médica e uma

companhia de infantaria, composta de 170 militares. O General

de Divisão Lélio Gonçalves Rodrigues da Silva exerceu o

comando da ONUMOZ de fevereiro de 1993 a fevereiro de 1994.

M i s s ã o d e O b s e r v a ç ã o d a s N a ç õ e s U n i d a s e m

Angola(MONUA) – Foi estabelecida em 30 de junho de 1997

para ajudar as partes em conflito a consolidar a paz e a

reconciliação nacional. Seu mandato previa, ainda, o

estabelecimento de condições para garantir uma estabilidade

duradoura, um desenvolvimento democrático e a reconstrução

do País.

O Brasil contribuiu, durante todo o mandato da Missão(de julho de

1997 a fevereiro de 1999) com uma média de quatro

Observadores Militares, aproximadamente 20 Observadores

Policiais e dois oficiais que atuaram no Estado-Maior da missão.

Em março de 1999, o Brasil passou a ceder uma unidade médica,

composta por 15 militares do Exército, para prestar apoio ao

pessoal das Nações Unidas em Luanda durante o período de

encerramento da MONUA.

Missão das Nações Unidas para Estabilização do

Haiti(MINUSTAH) – Foi criada por Resolução do Conselho de

segurança da ONU, em fevereiro 2004, para restabelecer a

segurança e normalidade institucional do país após sucessivos

episódios de turbulência política e violência, que culminaram com

a partida do então presidente, Jean Bertrand Aristide, para o

exílio.O Brasil sempre comandou o componente militar da Missão

(2004-2017), que teve a participação de tropas de outros 15

países, além do efetivo brasileiro de capacetes azuis da Marinha,

do Exército e da Força Aérea.

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O Conselho de Segurança da ONU adotou, em 13 de abril de

2017, a Resolução 2350 (2017), que estendeu pelos seus

últimos seis meses o mandato da Missão das Nações Unidas

para a estabilização no Haiti (MINUSTAH) e estabeleceu, a partir

de 16 de outubro do mesmo ano, uma nova operação de

manutenção da paz no país – Missão das Nações Unidas para o

apoio à Justiça no Haiti (MINUJUSTH), composta apenas por

civis e unidades de polícia.

Ao longo dos 13 anos de atuação das Forças Armadas

brasileiras, a população haitiana foi apoiada pela Missão na

ocasião das duas catástrofes naturais que atingiram o país. No

dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto causou a morte de

maisde 200 mil pessoas. Em 4 de outubro de 2016, o furacão

Matthew causou inundações e deixou milhares desabrigados.

Mas não se trata tão somente de participações exemplares e

consecutivas em Missões de Paz da ONU.

Em nosso país, também teve contribuição efetiva na

defesa da segurança e da soberania pátrias: intervenção na

greve da Polícia Militar de Minas Gerais, em 1997; V Jogos

Mundiais Militares em 2011 na cidade do Rio de

Janeiro;Conferência Rio + 20 em 2012, na cidade do Rio de

Janeiro;Jornada Mundial da Juventude em 2013, na cidade do

Rio de Janeiro;Copa das Confederações em 2013, na cidade de

Belo Horizonte; duas participações na Pacificação do Complexo

da Penha e Alemão (Arcanjo II e V) em 2011, na cidade do Rio de

Janeiro; Operação São Francisco, na Pacificação do Complexo

da Maré em 2014, na cidade do Rio de Janeiro; Copa do Mundo

em 2014, na cidade de Belo Horizonte;Jogos Olímpicos e

Paralímpicos, em 2016 na cidade do Rio de Janeiro; Intervenção

Federal no Rio de Janeiro, em 2018.

Tanta lá como cá, esses Cavalarianos se sobressaem e

se valoram.

Tornar-se um Dragão Real das Minas é ser,

invariavelmente, a “ponta de lança”, a unidade/tropa

precursora/desbravadora, é ser a referência buscada – pela sua

excelência e galhardia no cumprimento das missões.

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2.2 Relatos testemunhais dos atuais Dragões Reais das

Minas

Uma coisa é o que, e como, a historiografia – oficial e/ou

acadêmica – relata e descreve um fato, como o analisa a partir de

determinadas perspectivas e ideologias. Outra coisa, a mais

relevante delas, são as memórias daqueles que participaram

diretamente desses eventos, sempre dentro da perspectiva do

impacto e da influência, além do significado e da significância,

nas suas vidas, na dos seus pares e familiares por simplesmente

terem sido Agentes da História naquele momento crucial – para o

Brasil e/ou o mundo.Doravante serão esses relatos

testemunhais, tanto de efetivos como de militares da reserva, do

4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado DRAGÕES REAIS DAS

MINAS, que darão a devida sustentação à atuação/emprego de

tropas dessa OM em missões nacionais e internacionais.

Levando em conta a informalidade e a autenticidade dessas

memórias eletivas – conforme respostas desses Cavalarianos

ao RELATÓRIO HISTÓRICO TESEMUNHAL – DOCUMENTAL

(ANEXO 1) – as mesmas não serão tratadas com desnecessário

rigor acadêmico; apenas adidas ao corpo textual dessa obra.

Augusto Cury, Psiquiatra e Escritor brasileiro, ensina, de

forma inequívoca e objetiva, que “Um homem sem história é

como um livro sem letras”, corroborando uma das máximas de

Cícero - Marco Túlio Cícero, ou em latim Marcus Tullius Cicero,

(106 a.C. - 43 a.C.) foi um orador, escritor, estadista romano, e

considerado um dos maiores filósofos da Roma Antiga -, na qual

afirma, categoricamente, que “A história é testemunha do

passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida,

anunciadora dos tempos antigos”. E ao pensar nos relatos

que se seguirão, é impossível não deixar de ponderar sobre uma

das grandes mensagens deixadas pelo filósofo, escritor, poeta e

filólogo alemão do século XIX, Friedrich Nietzsche, “Quem só

tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e

tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o

enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!”, e

a única alternativa para desatar esse Nó Górdio é

compartilhando tais passagens para que os aprendizados de

alguns se tornem a inspiração e “chave decodificadora” de

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outros tantos anônimos que buscam sua redenção nesse ato de

humanidade.

Passemos, de imediato, aos relatos testemunhais,

observando/obedecendo a ordem cronológica das

missões

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CARLOS ALBERTO - RESERVA/PATENTE: 2º Tenente R/1

UNAVEM Ill — 3º Missão de Verificação das Nações Unidas em

Angola, no período de Fevereiro a Agosto de 1996, 1º Sargento

Enfermeiro.

Quando recebemos o repórter Hermano Hening em nossa base eu fui

designado pelo então Capitão Jaqueira para servir de seu motorista

nos dias em que lá permaneceu o acompanhando em todas as

reportagens que se fizessem necessárias, me deu as chaves da Toyota

e assim eu cumpri a missão levando-o em todas as nossas bases de

operação na Província do Biê, bem como na capital Kuito.

Aconteceu também um fato interessante quando nos deslocávamos de

Hércules C-130 com a comitiva do Estado Maior do Exército e uma das

turbinas parou de funcionar eu fiquei meio apreensivo e um coronel da

comitiva me disse: não precisa ficar preocupado, o avião trem quatro

turbinas e esta não vai fazer falta.

Outro fato que me deixou bastante emocionado foi o garotinho Alberto

com quem eu fiz amizade, todos os dias ele me esperava em frente a

nossa base de operações para conversar comigo e pedir alguma coisa

que eu sempre dava, guloseimas, peças do vestuário, enfim, certa feita

estava saindo com o Capitão Borges para caminhar, ele queria ir junto

eu falei que não por causa da distância, eram 8 km, e fomos nós e ele

ficou, andamos 4km e retornamos quando eu vejo um pontinho negro

no horizonte, eu falei pro meu amigo será que é o Alberto? E não deu

outra, era ele mesmo, e eu falei Alberto é muito longe pára você, você é

muito pequeno, o que veio fazer aqui? Ele me respondeu: eu estava

preocupado com o meu amigo por causa das minas terrestres.

Outro fato bem marcante também foram as visitas que fizemos ao asilo

de Cangalo, todos os dias o pessoal do rancho pegava tudo que sobrou

da refeição daquele dia e fazia um sopão, carne, arroz, legumes, enfim,

e colocava num panelão e nós acompanhamos o pessoal do rancho,

neste dia a comissão do EME estava presente e não se conteve em

lágrimas, os atendidos eram crianças, órfãos de guerra, idosos e

mutilados pelas minas, que nos recebiam batendo com sua marmitas

vazias no solo e cantando no dialeto deles como forma de

agradecimento, essa era a única refeição que tinham naquele dia.

Também fiquei gratificado em ensiná-los a construir latrinas de fossa e

assim minimizar bastante as parasitoses intestinais, aliadas ao

tratamento.

Digno de relato também é formação dos agentes de saúde entre os

próprios nativos, nós os ensinamos a colher o sangue furando a ponta

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do dedo e espalhando na lâmina daqueles que estivessem com

suspeita de malária, eles traziam todas estas lâminas e nós as

colocávamos no microscópio, aquelas que estavam positivas, que

foram previamente identificadas retornavam com o tratamento que

n ó s f o r n e c í a m o s , e c o m e s t a m e d i d a n ó s r e d u z i m o s

consideravelmente o índice de mortandade entre os nossos irmãos

angolanos.

Gostaria de ressaltar também a parte religiosa desenvolvida pelo

nosso capelão militar Capitão Pedro e de seus auxiliares onde estou

incluído juntamente com o Rosinei e o Marcio Costa, onde nós

tivemos a oportunidade de auxiliá-lo na adaptação de um

container que foi transformado em local de oração, bem como

participar das missas através do coral, participar do lava pés

auxiliando o Padre na lavagem dos pés dos apóstolos.

Na vida militar foi muito interessante ver in loco a atuação e fazendo

parte de um Batalhão de Força de Paz desdobrado no terreno atuando

em missão real, com suas companhias e pelotões, realizando intenso

patrulhamento e escolta de comboios e autoridades, montando e

operando postos de observação e controle de trânsito a fim de evitar

violações do cessar fogo; os militares de engenharia recuperando e

construindo pontes e estradas, fazendo terraplanagem e executando

um dos trabalhos mais perigosos no território angolano: encontrar e

destruir minas anti-pessoais e anti-carros. O pessoal do Pelotão de

Saúde fazendo profilaxia da malária, um inimigo constante: realizando

ACISO (ações cívico sociais) onde eram realizados atendimentos

médicos e odontológicos aos nativos da região com farta distribuição

de medicamentos.

Na vida pessoal foi uma experiência incrível, pois tive a oportunidade

de trabalhar com muito amor à profissão e ao próximo, exercitei

bastante a fraternidade, a solidariedade, fazendo tudo que estava ao

meu alcance para ajudar nossos irmãos angolanos. Na minha função

dentro da enfermaria o atendimento que eu proporcionava aos

companheiros de missão era estendido aos meus irmãos angolanos.

Eu cresci muito como ser humano, eu chego a falar para algumas

pessoas mais chegadas que eu não sei quem foi mais beneficiado se

eu ou eles, na realidade a oportunidade que eles me deram de ser útil

naquelas circunstâncias extremas do pós guerra influenciaram

diretamente na minha vida. Me sinto muito feliz pelo que pude fazer e

minha família e meus amigos se orgulham muito de mim.

Na OM aconteceu uma coisa interessante nosso comandante na

época da missão Major Vieira fez o seguinte, nós que ficamos aqui no

quartel e não fomos na missão temos que fazer alguma coisa para

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que quando eles chegarem poderem observar que não ficamos aqui

parados enquanto eles estavam na missão arriscando suas vidas, eles

começaram o trabalho de construção de uma piscina em ritmo

acelerado, de modo que a obra não parava, virava dia e noite, estavam

todos comprometidos nesta empreitada, tendo como administrador da

obra o próprio Major Vieira, que incansavelmente conduziu a obra até

o final.

A escala de serviço ficou também muito apertada porque nós

embarcamos com um Pelotão de Cavalaria completo e turma se

desdobrando aqui para compensar a nossa ausência.

Ele montou um ponto de apoio para as famílias que tinha seus

membros na missão e a coisa funcionou muito bem.

No meio da missão foi oferecida a possibilidade de vir ao Brasil para

aqueles que quisessem com às custas da viagem por conto do

interessado, alguns que realizaram a viagem estiveram no quartel e

puderam aquilatar o orgulho dos companheiros em ver o colega

ostentando a Boina Azul e o interesse em saber como estava sendo a

missão, as dificuldades, a saudade dos familiares, enfim tudo que

estava acontecendo conosco.A chegada foi uma festa para a família,

para a comunidade e principalmente para o 4º Esqd C Mec que tinha

um Pelotão de Cavalaria de Força de Paz.

Quando desembarcamos na nossa base de operações em angola e

após receber nossas barracas e guardar todo nosso material, eu e o

capitão Borges de imediato raspamos as nossas cabeças e

começamos a fazer uma brincadeira chamada sombra, que consistia

em ele fazer uns movimentas e eu repetir os mesmos movimentos, e o

pessoal caindo na risada pois imagina um capitão e um 1º sargento

fazendo essa brincadeira, foram no Coronel Raphael comandante do

Batalhão Angola e contaram o acontecido, e obtiveram a seguinte

resposta: deixem os dois, não quero que interfiram na brincadeira

deles isto é muito bom para o entretenimento da tropa.

Foi a mesma coisa que jogar o sapo na água, nós crescemos muito no

conceito do Coronel, era proibido entra no rancho fora dos horários de

refeição, quando aparecíamos na porta o soldado chamava o tenente

responsável e anunciava o capitão Borges e o sargento Carlos Alberto

estão aqui obtendo a seguinte resposta: O Coronel ordenou para

deixá-los em PAZ então deixe eles entrarem, se quiserem levar o

rancho todo podem levar.

E assim foi muito bom nós conversávamos com todos os soldados

principalmente, ouvíamos os seus anseios, fazíamos bastantes

brincadeiras, estávamos sempre juntos.

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Certo dia apareceu uma angolana para fazer uma cirurgia dentária

com ele, o auxiliar dele estava em missão viajando, sobrou prá mim a

tarefa de auxiliá-lo no procedimento, mas não foi possível acabei

servindo de babá pois a criança chorava muito e ainda me presenteou

com um intenso xixi no colo.

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Nome: Aguinaldo Nome de Guerra: Silvério

Ativa Patente 2° Sargento

Haiti: Missão das nações unidas para a estabilização no Haiti:

Fui designado para integrar o 8° contingente no período de:

19/11/2007 a 21/05/2008, minha patente na época era Cabo e no

período de 21/11/2013 a 19/04/2014 pós terremoto minha

patente era 2° Sargento.

Bom ao pisar em solo haitiano o que avistamos naquele primeiro

momento foi ver a miséria que aquele país estava passando, haitianos

revirando lixo para tirar daqueles detritos o que comer, isso foi muito

impactante naquele primeiro momento, um país sem nenhum

saneamento básico, como coleta de lixo, água potável e esgoto. Um

fato interessante que me chamou atenção foi observar uma “canaleta”

nos cantos das ruas onde corria uma água aparentemente limpa e

transparente, mas que na verdade era imprópria para consumo

humano mas que os haitianos com aquela água tomavam banho,

bebiam e utilizavam para cozinhar, olhava aquelas pessoas usando

daquela água junto com os animais, como porcos, cabritos e isso me

impressionou muito. Outro fato que me impactou e esse eu presenciei

dentro da base onde o batalhão estava Brabati 1 foi no meu local de

trabalho, na base eu trabalhava no rancho(S.V) e lá na cozinha

trabalhavam alguns haitianos, homens e mulheres, certa vem estava

de serviço já no horário da ceia e presenciei um fato, um haitiana de

nome Victoria já estava encerrando seus trabalhos e percebi que uma

cadela estava muito agitada, ele latia muito, pois na base haviam entre

4 e 5 cães de estimação, coisa que no Haiti é raro de se ver, então ae

perceber o agito da cadela fui ver o que estava acontecendo, caminhei

atrás do container e vi que os filhotes da cadela haviam sumido, os

filhotes tinham entre 3 e 4 semanas de vida ao ver um volume muito

grande na bolsa de Victoria perguntei pra ela e tinha visto os filhotes e

ela nervosa me respondeu que não sabia, mas ao observar a bolsa

dela vinha dali o choro dos filhotes, então eu a questionei sobre o que

faria com os filhotes e ela me respondeu “grande chefe e pra dar de

comer para meus peti(filhos)”, eu mas que depressa argumentei com

ela que aquilo não era certo e a convenci a fazer uma troca, daria a

ela, leite, cereais e carne em troca dos cachorrinhos, no primeiro

momento ela aceitou e os filhotes foram devolvidos, passado alguns

dias os filhotes sumiram novamente e a cadela estava muito triste,

quando fui perguntar a Victoria ela me disse que levou os filhotes e deu

de comida para seus peti(filhos) pois estavam sem comer a dias, isso

me deixou com um sentimento de tristeza e raiva, pois ver um ser

79


humano dar de comer um animal que para nós é de estimação e não

poder fazer nada, e entender que o que prevalece é o instinto de

sobrevivência.

Como militar a missão foi uma conquista, todo militar sonha em

participar de uma missão no exterior e isso me engrandeceu muito,

como pessoa e militar, foi uma experiência a a qual tive a honra de

aprender e me vez ver como é grandioso poder ajudar o próximo, dar

mais valor a vida e não fica reclamando e qualquer coisa, hoje sou um

ser humano melhor que antes da missão, agradeço a Deus e minha

família por tudo.

O 4° Esqd é uma unidade reconhecida em nossa região e de

muito valor por ter em sua historia varias missões dentro e fora

do país, Moçambique (1994), Angola (1995), Haiti (2007-2010-

2013), com tantos integrantes participantes dessas missões faz

que 4º Esqd tenha em suas mãos integrantes com vasta

experiência para atuar em qualquer tipo de missão, isso faz

nossa unidade ser diferenciada.

Bom um caso engraça e interessante e acontecia em alguns

corimeques era o fato que como o confinamento e rotina na base

eram estressantes, para sair da rotina alguns corimeques

realizavam brincadeiras como: disputa de flexão, disputa de

barra, cabo de guerra. No meu corimeque eram 4 motoristas de

blindado e 2 rancheiros e o nosso passa tempo era nos finais de

semana se juntar e fazer comida dentro do corimeque, era uma

forma de distração, juntavam os motoristas, eu e o outro

rancheiro e cada um fazia uma coisa, com isso o tempo

rapidamente passava e era muito bom.

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Nome: Renan Ferreira de Oliveira – Nome de Guerra: Renan

Reserva – Patente: Cabo

Jornada Mundial da Juventude

O 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado integrado ao 32º BI

motorizado de Petrópolis foi empregado para cumprir a missão de

garantia da lei e da ordem (GLO) na Jornada Mundial da Juventude que

aconteceu de 23 a 28 de julho de 2013 no Rio de Janeiro -

Brasil,durante a visita do Papa Francisco.

As unidades correspondentes foram empregadas incialmente em

Guaratiba bairro situado na zona oeste da cidade e onde estava

sendo construído o Campus Fidei, que segundo informações obtidas

por meio da interneto campus Fidei apresentava uma área de 1,36

milhão de m², cercado por uma vegetação de mangues.

O Esquadrão chegou uma semana antes para o reconhecimento da

área – eu cumpria a função de comandante de esquadra como cabo e

tendo como comandante de GC o2º Sgt. Gledison, 2º Sgt. Tomires

adjunto do comandante do pelotão 2º Ten. Campelo todos alojados

em uma escola local. Durante o primeiro reconhecimento da área, a

chuva que já era incessante desde antes de nossa chegada criou uma

massa de ar gelado caindo a temperatura entre 8ºC e 13ºC, deixando

o reconhecimento mais difícil, e, ao chegarmos ao Campus Fidei, nos

deparamos com máquinas tentando amenizar a situação da chuva,

espalhando cascalho em enormes possas de água. Durante o nosso

reconhecimento, a chuva formou várias lagoas, acredito que o

Esquadrão havia sido designado para pior área. Ao nos depararmos

com uma grande lagoa, o pelotão parou, e sem comandos ou

indagações, vendo o receio da tropa, com “a moral baixa”, molhados e

com frio, atravanquei naquela enorme possa de água que havia se

formado ali, e cobria mais que uma avenida de largura, afundando a

minha perna até a metade da coxa. Naquele momento, já não tinha

certeza se o evento aconteceria naquela região. Mais tarde, de volta à

base, recebemos ordens para nos preparamos, pois o evento daria

continuidade em Copacabana, onde já se encontrava uma estrutura

montada que deu início à visita do papa na cidade. Ao sermos

designados para outra escola, já em Copacabana, recebemos

suprimento operacional (R2) para um dia, onde nossa missão se

tratava de patrulhar parte da orla e ruas paralelas, evitando eventuais

transtornos aos turistas que vinham em peregrinação de diversas

partes do mundo . Era o último dia, e a mudança nos pegou de

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surpresa, mas foi emocionante estar patrulhando a orla e ver o papa

passando e acenando para a multidão, dava pra sentir a energia e o

tempo todo pessoas jogavam objetos religiosos em direção ao carro

presenteando o papa. Foi um momento de tensão, estava atento a

tudo e a todos, pois mesmo a entidade religiosa não apresentando

inimigo declarado, existia a chance de algum fanático religioso reagir

negativamente deixando os nervos à flor da pele de todos militares

presentes, felizmente tudo acabou bem e encerramos a missão.

Quando retornamos à base de Copacabana, com ar de missão

cumprida, recebemos a noticia que teríamos que permanecer mais um

dia,24h encerrando as 00:00 h do dia seguinte. Em uma patrulha e

outra, já sem suprimento para alimentar a tropa e com sono, solicitei

permissão ao Ten. Campelo para realizar a compra de suprimentos

para alimentar a tropa em um mercado local, foi ai que o mérito de todo

esforço veio à tona. Ao entrar no mercado, fomos recebidos como

heróis e, sem entender nada, o gerente veio me agradecer, pois o

mercado não era assaltado á dois dias e, que segundo ele, ocorria de

duas a três vezes ao dia. O comerciante não queria cobrar as compras,

mas, de forma alguma poderíamos aceitar, porém, foi muito

gratificante receber esse retorno dos cariocas e ver quão grande foi a

importância do exército presente ali para garantia da lei e da ordem.

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Nome: Cleiton Fernandes Aguiar de Souza

Nome de Guerra: Fernandes

Ativa – Patente: Soldado

Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio de Janeiro 2016

O evento (Olimpíadas) decorreu no período de 3 a 21 de agosto de

2016 e as Paraolimpíadas ocorreram entre 07 e 18 de setembro.

A missão foi dada para garantir a segurança da realização dos jogos

olímpicos é paraolímpicos no Rio de janeiro, a missão que uniu

brasileiros com outros países com a cultura, comida e pela beleza que

nosso Brasil tem. Tive conhecimento de como é participar de um

grande evento como esse que cada 4 anos ocorre em um país e eu tive

privilégio de participar desse evento fazendo a segurança não só do

meu país mais sim de todos aqueles que vieram no intuito de

acompanhar e desfrutar os jogos e nosso país maravilhoso, cada

momento que passei foi marcante desde o grande frio das antenas da

Sumaré até o maravilhoso momento de estar no Maracanã e Cristo

Redentor, foi uma das melhores missões que pude participar estará

marcado na minha memória.

Aprendi muito com meus companheiros a dividir essa experiência

fantástica que talvez não tenha mais no Brasil e principalmente não

estarei mais na ativa do exército, mais levarei comigo tudo o que

aprendi com meus companheiros, por lá não foi só maravilhas também

passei por frios, chuvas, até por está em algum lugar mais afastado as

vezes chegava comida gelada mais nada a abaixasse nossa moral e

manter focado na missão fazendo q todos pudessem desfrutar do

nosso país, deixei marcado meu nome nessa história e todos aqueles

q falarem da olimpíadas de 2016 vou lembrar q fiz de tudo pela

segurança dos jogos serem realizados e principalmente pela

segurança de todos posso levar essa história por toda minha vida e

contar para meus filhos e netos.

Essa missão mostrou para 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha

(31 DE MARÇO, Juiz de Fora – MG) que o Esquadrão está sempre

preparado para qualquer tipo de missão, mostramos que somos

capazes e bem adestrados para que quando for dado e for acionado

agente estará pronto,isso fez crescer cada vez mais nossa

experiência e conhecer mais um ao outro para que nosso

conhecimento possamos passar para aqueles que chegarem na OM

motivar e preparar e deixa sempre o esquadrão no topo e ser bem

representado pela brigada e pelo exército.

83


Um prazer de participar dessa missão, todos nós passamos por tudo

que podia imaginar mais a satisfação de dever cumprido no final da

missão mostrou q somos capazes de tudo.

Brasil acima de tudo.

Montanha!!!!

84


Nome: José Estevam Pinheiro Filho – Nome de Guerra:

Estevam

Ativa – Patente: 1º Tenente

Intervenção Federal Rio de Janeiro 2018 – Operação Furacão

Participei da operação furacão com o 1º Pelotão de Cavalaria

Mecanizado, na ocasião já era 1º Tenente, estávamos subordinados ao

32 BIL compondo a FT Montanha 32 juntamente com um grupamento

do 4º GAC e uma equipe de manutenção do 17 Blog, a minha

participação se deu em 02 (dois) períodos, sendo o primeiro de 27 de

Julho de 2018 a 24 de Agosto de 2018 e o segundo período foi de 22 de

Outubro de 2018 a 23 de Novembro de 2018.

No Âmbito da operação furacão estávamos atuando em diversas

missões de garantia da lei e da ordem (GLO), tais como Posto de

Bloqueio e Controle de Vias Urbanas, Ponto de Segurança Estático,

Patrulhamento motorizado, Patrulhamento Blindado e revistas de

Material e pessoal. Essas ações de GLO ocorreram na região de São

Gonçalo-RJ e Niterói-RJ, e no 1º período que estive nessa missão

ainda atuamos no complexo da penha e vila cruzeiro por 02 (dois) dias

na cidade do Rio de Janeiro-RJ.

Para mim o mais marcante foi participar nesse tipo de operações GLO,

eu nunca havia participado nesse tipo de missão, em todos os

aspectos foi novidade, uma nova guarnição onde foram realizadas as

operações, as operações em conjunto com órgãos de segurança

pública, o modo de operar na guarnição do Rio de Janeiro e a

sequência de missões e operações realizadas com a tropa

Durante as 04 (quatro) semanas que estive na guarnição de Niterói na

minha 1ª passagem da intervenção federal, ficou nítido 3 fases bem

específicas nas operações principalmente no que tange ao

patrulhamento com abordagem e revista de pessoal. Na primeira

semana o deslocamento se restringia somente ao itinerário préestabelecido

pelo escalão superior, que após uns dias de

patrulhamento já não havia mais o efeito surpresa contra os APOP

(agente perturbador da ordem pública), na segunda semana houve um

pouco mais de liberdade com relação ao itinerário a se deslocar,

podendo variar algumas ruas do pré-estabelecido, isso fez com que se

aumentasse um pouco mais o efeito surpresa, aumentando um pouco

o número de apreensões e revistas. Na terceira semana o

deslocamento não se restringia mais a um itinerário pré-estabelecido e

sim era determinada uma área para patrulhamento e um horário para

tal, e ficava a critério do Cmt Pel o itinerário a se percorrer, aplicandose

também este critério para abordagens e revistas, com isso o efeito

85


surpresa cresceu de maneira considerável aumentando também o

numero de apreensões.

Durante as 04 (quatro) semanas que estive na guarnição de Niterói na

minha 2ª passagem da intervenção federal, o contexto das operações

haviam mudado tendo em vista que a intenção do comando era reduzir

o roubo de cargas na BR 101 no trecho entre Niterói-Rj e São Gonçalo,

os patrulhamentos em comunidades continuaram porém a maior parte

da missão consistia em PBCVU nas entradas das comunidades

durante todo o dia, com foco em roubo de cargas e veículos.

Na vida pessoal essa missão influenciou principalmente nos quesitos

de organização em casa e com familiares, na época morava sozinho

então não dispunha muito de ajuda para organização da casa. Tive

que solicitar apoio de amigos que me ajudaram no pagamento de

contas obrigatórias da casa (água, luz) entre outras que iriam chegar

no meu período de ausência. Além disso, organização da logística

tendo em vista a partida para a operação, com organização de

materiais a serem levados, compra de materiais necessários e outros

confortos que julgava necessário

Na vida militar o ganho foi considerável a contar pela experiência

adquirida durante a operação tanto quanto o ganho nos

adestramentos feitos na preparação para a missão, módulos de

progressão em ambiente urbano, módulos de tiro voltados para ações

de GLO tais como tiro sob stress (stress fire) e tiro de ação e reflexo,

como também toda a preparação logística da missão e documentação

necessária para a mesma.

Influenciou e melhorou bastante na preparação das tropas na OM,

tendo em vista que dentro dos rodízios previstos com a tropa para a

atuação na intervenção federal, haviam inúmeros treinos e

adestramentos, sendo estes dentro da própria OM como também em

outras OM's, houve também um aumento na chegada dos recursos

para o esquadrão trazendo consigo uma melhora significativa de

materiais, viaturas e instalações tudo visando uma melhor preparação

e atuação da tropa durante a missão.

No ponto de vista pós-intervenção essas melhorias somadas a

experiência adquirida pelos militares durante o período de intervenção

vai possibilitar uma preparação ainda melhor para futuras missões que

o Esquadrão virá receber.

Sou grato pela oportunidade que o Exército me concedeu de poder

atuar nesse ambiente da guarnição do RJ, trabalhei com excepcionais

militares que sempre buscavam dar o seu melhor em prol do

cumprimento da missão, aprendi muito, passei por momentos de

dificuldade mas a missão foi muito bem cumprida, nossa tropa se

86


destacou e elevou ainda mais a importância da dos Dragões Reais das

Minas no âmbito da Brigada e do Exército e mostrou o valor do Soldado

“Boina Preta”

Montanha!!!

Cavalaria!!!

Boina Preta!

87


Nome: Jayme Piloni Junior – Nome de Guerra: Piloni

Reserva – Patente: 1º Tenente

Participação nas filmagens de “Luar sobre Parador” – 1988

O Esquadrão participou com viaturas e figurantes no filme americano

“Luar sobre Parador". Com a Direção de Paul Mazursky. ELENCO:

Richard Dreyfuss, Raul Julia, Sônia Braga, Fernando Rey, Milton

Gonçalves, entre outros.

Foi uma missão feita também com membros da Brigada Paraquedista

na cidade de Ouro Preto. O Esquadrão forneceu viaturas que foram

caracterizadas com cores e símbolos do país fictício de Parador.

Vários militares tiveram participação como figurantes do filme,

fazendo parte do Exército de Parador. O militar mais destacado foi o

1° Sargento Benedito que era o Comandante da Guarda do

Presidente, aparecendo várias vezes no filme.

As viaturas também apareceram muitas vezes, sendo que na última

cena a nossa ambulância, que na época era uma Rural, participa da

última cena de ação filme onde o ator americano Richard Dreyfus e a

atriz brasileira Sônia Braga fogem.

Pela participação no filme o Esquadrão foi dotado com uma cota bem

maior de combustível, o que possibilitou a realização de todos os

exercícios de instrução e adestramento para os Pelotões de Cavalaria

Mecanizada. Também recebemos tintas necessárias para a pintura de

todas as viaturas que ainda não estavam no padrão camuflado.

O mais interessante foi o valor que era pago pela produção do filme

para cada participação na figuração. O valor era em média 30 dólares.

Isso gerou um certo celeuma com as outras unidades da Brigada, pois

começou a aparecer no set de filmagem muitos militares tentando tirar

quem já estava lá.

88


A somatória de todos esses relatos revela muito mais do

que o constante adestramento, estado de prontidão e de

operacionalidade desta OM, uma vez que todos esses feitos só

puderam ser alcançados pela destacada excelência, pela

i r r e s t r i t a d e t e r m i n a ç ã o e p e l o a p r i m o r a m e n t o

evolutivo/constante dos Dragões Reais das Minas, bem como

pelo irrefreável sentimento de cumprimento do dever, da

obediência devida às leis e de defesa do Brasil e da sua gente.

O fator humano será sempre determinante, pois dentro

de cada farda existe um brasileiro preparado, e decidido, a

cumprir sua sagrada e constitucional missão de se doar pelo seu

país e pelos seus concidadãos, e cada uma dessas pequenas

histórias confirma, e reafirma, que esses guerreiros modernos

são sim herdeiros incontestáveis e legítimos das nobres

tradições da primeira unidade regular de Cavalaria, da primeira

tropa de elite, em solo pátrio, e que suas vivências e

experiências representam fielmente o conjunto da tropa e

realçam a sua unidade identitária.

Destaca-se, nesse contexto, o exemplo da “Associação

de Militares da Reserva de Santos Dumont-MG”, que desde a

sua fundação, em 25 de agosto de 2012, mantêm estreita e

singular relação com o 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado

ESQUADRÃO DRAGÕES REAIS DAS MINAS; dois dos quais

contribuíram com essa importante parte dessa obra.

89


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a pesquisa para a elaboração desse Livro

deparei-me com uma postagem bastante interessante no portal

do 52º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Ouro Preto – MG, e

que possui responsabilidade territorial sobre 04 municípios (Ouro

Preto, Mariana, Itabirito, Diogo de Vasconcelos) e 23 distritos,

além de diversas localidades, com uma extensão territorial de

3147,44 Km e uma população fixa estimada em 173.738

habitantes –, relativo à 8ª edição da entrega do Diploma de Honra

ao Mérito “Quartel dos Dragões de Nossa Senhora do Carmo”

onde a Câmara Municipal de Mariana, em 16 de junho de 2016,

homenageou a Polícia Militar de Minas Gerais com a entrega do

mesmo a cinco a policiais militares que se destacaram na

corporação e na sociedade. Atentando ainda que o título da

honraria é um resgate histórico ao período colonial, quando em

1719 a Vila de Nossa Senhora do Carmo, atual cidade de

Mariana, ganhou duas Companhias de Dragões, também

conhecidos como Dragões do Conde de Assumar, bem como de

que os dragões desempenharam missões militares de defesa

externa e de segurança interna.

Especificando, ao final da matéria, que o Quartel dos

Dragões da Vila de Nossa Senhora do Carmo foi o primeiro

Quartel de Dragões da Capitania de Minas Gerais e localizava-se

na atual Praça Minas Gerais para abrigar as referidas

Companhias de Cavalaria. E para tornar informar e detalhar

melhor apresenta um complemento derradeiro: o termo dragão

surgiu no século XVI para se referir a soldados que combatiam a

pé e se deslocavam a cavalo. A origem também é atribuída aos

supostos dragões contidos nos estandartes das tropas do conde

de Brissac, na França, ou a uma espécie de arma curta ou

carabina usada pelas mesmas; também pode ter sido originado

do fato de um soldado de infantaria a galope, com a sua casaca

solta ao vento e o fogo saindo da arma, se parecer com um

dragão.

A escolha, e a relevância, dessa notícia, de cunho

institucional e cívico, possuem o intuito e o destaque de deixar

patente, e inequívoco, o entendimento de que, mesmo passado

90


três séculos da chegado dos Dragões Reais das Minas, em

1719, a importância dos seus atos/feitos e a memória que se

mantêm viva nos locais onde se aquartelaram e deixaram

marcas da sua passagem. O próprio diploma demonstra a

relevância histórica capital desse primeiro quartel para a

comunidade.

Escudando-me na convicção de que muito não foi aqui

exposto, relatado e/ou devidamente mais aprofundado e

detalhado, resta-me o conforto de ter a consciência clara de que

isso assim se deu porque foram sim cumpridas as

determinações do plano mestre para a elaboração dessa obra

que hora se finda, obedecendo tanto à sua destinação e

formatação textual como a exposição das informações e

análises basilares concernentes, além a observância aos limites

previamente estabelecidos para que o significado, e a

significância, de tão importante abordagem dessa conjunção

histórica ímpar não se perdesse em descaminhos

desnecessários e desfigurantes. O Historiador sabe que a partir

daquele ponto onde encerra sua narrativa sempre haverá a

possibilidade de que outros irão, ou poderão, usá-lo como ponto

de partida, ou fundamentação, para futuros estudos, ou então

para enriquecer alguma pesquisa em andamento relacionada

aos resultados do seu trabalho.

Os primeiros Dragões Reais das Minas completam seus

trezentos anos, cristalizando o destaque, a deferência, a

memória e a mística que fizeram por merecer, e os atuais, do 4º

Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, ao chegarem aos seus

noventas anos, se firmam na certeza de muitas outras décadas

de profícuas conquistas e vitórias ainda os aguardam – hoje e no

futuro. Nunca se tratou, desde o começo desse projeto, de um

exercício de proselitismo e nem, tampouco, de formular uma

exegese apologética e/ou sofismática, mas sim de render a justa

homenagem a essa tropa atemporal, a esses guerreiros de elite,

resgatando uma considerável parte da sua trajetória e

asseverando que o seu legado permanece, persiste e é

continuadamente aprimorado e reverenciado.

Nos é impossível fazer qualquer afirmação sobre o que

nos reserva o amanhã, não é saudável tecer conjecturas insanas

e nem descabidas sobre aquilo que a temporalidade – que

91


sabiamente limita-nos ao que foi consumado no passado e a

seqüencialidade volátil do presente – nos impede de agir como

pitonisas ou profetas amadorísticos e inconseqüentes. Por isso

mesmo, aprende-se que o conhecimento sobre o futuro “a Deus

pertence”, que nossa humanidade, que já é reconhecidamente

falha por aquilo que fizemos e fazemos, de ser encarada não

como uma limitação, que deve ser tratada como uma

possibilidade de humildade e de reflexão, pois, somente nesse

contexto é que estaremos aptos a aprender com o que fomos e o

que somos, e, doravante, desenvolver a capacidade e a

compreensão de estarmos prontos a lidar com o porvir.

92


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VASCONCELLOS, Diogo de. História Antiga das Minas Geraes. Belo Horizonte:

Imprensa Official do Estado de Minas Geraes, 1904.

94


95


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97


FOTOS JOGOS OLIMPÍCOS E PARAOLIMPÍCOS – RIO DE JANEIRO 2016

98


FOTOS OPERAÇÃO FURACÃO – GLO RIO DE JANEIRO 2018

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FOTOS FILME LUAR SOBRE PARADOR - 1988

Imagens: https://www.imcdb.org/m95654.html

100


ANEXO 1

Carta para o Excelentíssimo Senhor Conde de Assumar.

Excelentíssimo Senhor. Meu Senhor. Recebo a última de Vossa

Excelência de 20 de fevereiro., e sinto que a Vossa Excelência pareça

que possa haver em mim descuido, para lhe desmerecer o favor das

suas notícias, sendo tão pontual em lhas agradecer que não perco

ocasião alguma em que deixe de me ir por aos seus pés da maneira

que posso. Os dias passados escrevi a Vossa Excelência por uma

sumaca que saiu deste porto, e remeti ao seu procurador no Rio de

Janeiro um saco de cartas, em que iam algumas do Excelentíssimo

Senhor Conde pai de Vossa Excelência; aqui me seguram constam —

64temente haver sido apresada a dita suma e a por um dos muitos

piratas que freqüentam e infestam perniciosamente esta costa, e

nesta consideração lhe escrevi novamente por terra, agora o faço

também por esta embarcação do contrato, remetendo-lhe outra via

além das que têm ido. Estimo inexplicavelmente que Vossa

Excelência se ache mais sossegado e com os povos naquela

quietação em que os sabe conservar a sua prudência e a sua justiça. A

Manuel Nunes Viana tornei a chamar novamente, e a uma

representação que aqui me chegou dos moradores do rio das Velhas

respondi com aquéias amoestações e ameaças que convém ao

respeito da pessoa de Vossa Excelência e do seu caráter, porem

Vossa Excelência (como o aviso em todas) não tendo expressa ordem

de Sua Majestade se deve abster e não continuar no projeto da nova

vila no sítio do Papagaio, nem em qualquer outro da jurisdição da

Bahia, por ser este o fundamento maior pelo que tenho colhido da

inquietação daquela gente; e eu por obrigação do Governo sendo tão

amante de Vossa Excelência e tão venerador seu não posso deixar de

me opor suavemente a este intento, sendo espontânea determinação

sua sem expressa ordem de El-Rei que resolverá o que for do seu

maior serviço e agrado, porque eu a tudo saberei sacrificar a minha

obediência e ficarei desculpado com os meus sucessores. Agora me

chegam três embarcações que vieram incorporadas com a frota do

Rio de Janeiro; os senhores Condes de Assumar ficam com muito boa

saúde; algumas mortes tem havido na corte, e novidades que a Vossa

Excelência serão presentes pelas 65 - cartas dos mesmos senhores,

que suponho irem na frota do Rio. Aqui se me manda a cópia deu ma

nova lei que Sua Majestade manda para essas Minas aonde

manda erigir casas de fundição como Vossa Excelência verá da

mesma lei que tenho por sem dúvida lhe vai na mesma frota pois

101


há de ser o executor dela; também vão à ordem de Vossa

Excelência dois Capitães de Cavalos dos reformados com

sessenta soldados, tudo bem importante e necessário a um

Governo que se acha sem forças algumas para a sujeição dos

mesmos moradores. É chegada nau da índia, o Vice-Rei está no seu

Governo com muita estimação e com muito boa saúde; esta nau é a

que ficou arribada em Moçambique o ano passado adonde se deteve

alguns meses esperando monção e depois de a ter para fazer viagem

ha poucos dias, lhe foi necessário arribar novamente ao cabo de Boa

Esperança, a uma feitoria que os Holandezes têm nele, adonde

acharam todo o fornecimento necessário para continuar a sua

derrota a este porto adonde chegaram milagrosamente, pelo

miserável estado em que a nau vem e pelos muitos corsários que

incessantemente freqüentam esta costa, de que escapou a benefício

das fragatas que trago ' nela. O Bergantim da Ilha da Madeira, de que

dou notícia a Vossa Excelência em outra e levava a minha primeira via

para Sua Majestade afirmam alguns dos prisioneiros que os piratas

fizeram em outras embarcações que também haviam apresado esta,

e^a levavam consigo, mas esta falta se supre por um patacho de aviso,

que mando ao Reino com segunda via e avisoda chegada da nau da

índia. E 66 Vossa Excelência esteja na certeza de que em nenhuma

ocasião me descuidarei de fazer presente à nossa corte as grandes

virtudes que em Vossa Excelência venero, e todo este Estado

geralmente reconhece. Fico aos pés de Vossa Excelência que Deus

guarde muitos anos.Bahia e abril 22 de 1719. O Conde do Vimieiro.

Excelentíssimo Senhor Conde de Assumar.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE

BIBLIOTECA NACIONAL

DOCUMENTOS

HISTÓRICOS

CARTAS DE OFÍCIO

1717 — 1723

CARTAS PARA A BAHIA

1723 — 1724

TYP. BAPTISTA DE SOUZA Rua da Misericórdia, 51 — Rio. 1946

Cristiano Casimiro dos Santos – Professor/ Mariana

Revista Mariana Histórica e Cultural

102


ANEXO 2

Conde de Assumar

Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal nasceu em 17 de outubro de

1688 e morreu 1756, 3.° Conde de Assumar, 1.º Marquês de Castelo

Novo e 1.° Marquês de Alorna, 3.° Governador e Capitão-mor da

Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, no Brasil, e ainda 44.º Vice-

Rei da Índia.

Foi indicado pela Coroa de Portugal como terceiro governador da

Capitania de São Paulo e Minas de Ouro (Real Capitania das Minas de

Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguases), visando manter a ordem

entre os mineiros da região e garantir as rendas da Coroa.

Chegou ao Brasil em 24 de Julho de 1717, desembarcando no Rio de

Janeiro, onde permaneceu por alguns dias, seguindo viagem por mar

até Santos e depois por terra até São Paulo, onde tomou posse da

Capitania a 4 de Setembro, em cerimônia na Igreja do Carmo. No final

de setembro iniciou visita de inspeção às Minas Gerais.

D.Pedro Miguel de Almeida Portugal, o Conde de Assumar, governou

as Minas Gerias dos anos de 1717 a 1721. Esta figura vem obtido um

destacado lugar na historiografia tradicional sobre Minas Colonial

assim como nas recentes produções acerca da temática, no entanto,

nenhum estudo aprofundado sobre sua administração nas Minas

setecentista é encontrado.

Neste sentido, destacamos a figura do Governador D. Pedro de

Almeida, o Conde de Assumar, por inaugurar a repressão aos

habitantes das Minas e demonstrar-se especialmente zeloso no

cumprimento dos intentos da Coroa portuguesa. Tal qual se pode

perceber na do Conde de Assumar ao Rei de Portugal, datada de 17 de

Novembro de 1720 pela qual se demonstra bastante preocupado em

estabelecer a lei e defender os interesses da coroa, chegando ao

ponto até de denunciar ao Rei os Ministros que acobertavam negros:

Todo esse cuidado de Assumar para que as leis fossem cumpridas nas

Minas não foi capaz, porém de garantir a ordem; ao contrário, foram os

anos de seu governo os de maior instabilidade política devido aos

inúmeros motins e tumultos por parte dos colonos e escravos. Cabe

ressaltar neste sentido que os anos de governo do Conde de Assumar

vão de 1717 a 1721, e acerca deste período Donald Ramos (2005,

p.178)12 afirma que “representaram um divisor de águas na história de

Minas Gerais” em virtude das inúmeras conspirações escravas e

levantes de quilombos contra a ordem escravista vigente na época.

D. João V nomeou governador a D. Pedro Miguel de Almeida Portugal

103


e Vasconcelos, Conde de Assumar governador para aplicar nas Minas

três disposições que contrariavam os interesses locais:

· Anunciar a instalação, na capitania, de um bispado, objetivando

a moralização do clero que ali vivia dissolutamente, praticando

desde delitos ao desrespeito do celibato, como também

envolvia-se no tráfico do ouro.

· Aplicação da Carta Régia de 25 de abril de 1719, onde se

extinguiam funções, aumentava-se o poder do governador e,

ainda, trazia para as Minas um contingente de Dragões (Duas

Companhias de Dragões que se instalaram na Vila do Carmo),

· Imposição do cumprimento da Carta de 1728, que criava as

casas de fundição, e que já causara tumultos.

Algumas atividades históricas do Conde de Assumar.

História de Nossa Senhora Aparecida

Os fatos foram registrados primeiramente pelos padres José Alves

Vilela, em 1743, e João de Morais e Aguiar, em 1757. Esses registros

foram feitos nos livros da Paróquia de Santo Antônio de Guaratinguetá,

à qual pertencia a região onde a imagem foi encontrada. A imagem

apareceu em outubro de 1717. E os fatos aconteceram assim:

Dom Pedro de Almeida, governante da capitania de São Paulo e Minas

de Ouro, homem que detinha também o título de Conde de Assumar,

passava por Guaratinguetá, SP, quando viajava para Vila do Carmo,

MG. A população organizou uma festa para receber o conde de

Assumar. Para prepararem a comida, pescadores foram para o rio

Paraíba com a difícil missão de conseguirem muitos peixes para a

comitiva do governador, mesmo não sendo tempo de pesca. Domingos

Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, sentindo o peso de sua

responsabilidade, fizeram uma oração pedindo a ajuda da Mãe de

Deus. Depois de tentar várias vezes sem sucesso, na altura do Porto

Itaguaçu, já desistindo da pescaria, João Alves lançou a rede

novamente. Não pegou nenhum peixe, mas apanhou a imagem de

Nossa Senhora da Conceição. Porém, faltando a cabeça. Emocionado,

lançou de novo a rede e, desta vez, pegou a cabeça que se encaixou

perfeitamente na pequena imagem. Só este fato, já foi um grande

milagre. Mas, após esse achado, eles apanharam tamanha quantidade

de peixes que tiveram que retornar ao porto com medo de a canoa virar.

Os pescadores chegaram a Guaratinguetá eufóricos e emocionados

104


com o que presenciaram e toda a população entendeu o fato como

intervenção divina. Assim aconteceu o primeiro de muitos milagres

pela ação de Nossa Senhora Aparecida.

Quartel de Dragões da Vila Nossa Senhora do Carmo

Com a finalidade de impedir a sonegação de impostos e a

institucionalização da violência, bem como erradicar o clima de

agitação ora instalado na Capitania das Minas Gerais, o Governador

Pedro Miguel de Almeida - o Conde de Assumar recorre ao Rei de

Portugal, que por Carta Régia de 20 de junho de 1719. Cria em na Vila

de Nossa Senhora do Carmo (Mariana) Minas Gerais duas primeiras

Companhias de Dragões. O Quartel da Companhia de Dragões da Vila

de Nossa Senhora do Carmo primeiro Quartel de Dragões da

Capitania de Minas Gerais foi construído em Mariana localizado na

atual Praça Minas Gerais para abrigar as referidas Companhias de

Cavalaria, sendo a que a pastagem para os animaisestendia até a

fazenda do Bucão. (Praça Minas Gerais /Rua Dom Silvério e Colina do

São Pedro) O pátio de cavalhada e adestramento de animais

localizava-se na atual praça Gomes Freire. O quartel construído aos

moldes da arquitetura militar portuguesa tinha sua frente voltada para

o Ribeirão do Carmo e torres de guarda para o leste e oeste. Esta

fortificação foi demolida quando Villa N S.do Carmo foi elevada a

cidade de Mariana em 1745. Pela primeira vez as Minas Gerais teria

uma tropa militar regular.

Revolta de Felipe dos Santos / Revolta de Vila Rica de 1720:

Então, o rei mandou instalar as Casas de Fundição. Todo ouro

encontrado devia ser entregue a essas Casas onde o ouro era

transformado em barras já sendo descontado o quinto. Era proibido

comprar ou vender ouro que não fosse em barras feitas por essas

casas.

No ano de 1720, o governador de Minas Gerais, Conde de Assumar,

instalou a Casa de Fundição de Vila Rica. Em razão disso, os

mineradores fizeram uma revolta para tentar diminuir o "quinto", que

ficou conhecida como Revolta de Vila Rica ou Revolta de Filipe dos

Santos.

Seu líder chamava-se Filipe dos Santos e os revoltosos exigiam várias

coisas:

- Diminuição do quinto

- Eliminação do monopólio de vários produtos de consumo

- Fim da repressão contra os rebeldes

105


Eram mais de 2000 revoltosos armados e o governador não tinha

tropas. Para ganhar tempo, o Conde de Assumar prometeu atender os

pedidos dos revoltosos; porém, quando conseguiu reunir uma tropa,

partiu para cima dos rebeldes e mandou prender seus líderes.

CONSEQÜENCIAIS DA REVOLTA

- Filipe dos Santos foi condenado à morte

- As casas de Fundição foram mantidas

- Minas Gerais foi separada da capitania de São Paulo.

Cristiano Casimiro dos Santos – Professor/ Mariana

Revista Mariana Histórica e Cultural

106


ANEXO 3

107

Fonte: Revista Mariana Histórica e Cultural


108

Fonte: Revista Mariana Histórica e Cultural


CAPITÃO “DRAGÃO” JOÃO FERNANDES FERREIRA

Não há História, inclusive a Militar, sem dois fatores cruciais:

eventos/fatos e pessoas/protagonistas. E mais significativo ainda

quando o foco dessas pesquisas transcende o universo acadêmico e

se pauta no aspecto familiar, na busca pelas raízes, pela identidade da

descendência.

Esse é o caso do Sr. Eduardo Oliveira Ferreira, de Montes

Claros, Minas Gerais, que ao investigar sobre a origem da família se

deparou com um dos Dragões de Minas (Dragões Del Rey), seu

pentavô. Seu nome era João Fernandes Ferreira, foi nomeado capitão

em 22 de outubro de 1718 pelo Conde de Assumar, e posteriormente

capitão-mor (Comandante de Companhia de Ordenanças),

possivelmente de um dos dois Regimentos Auxiliares de Cavalaria (01

da Nobreza e 01 Comum) da/na cidade do Serro (antiga Vila do

Príncipe) – elevada a cidade em 07 de março de 1838 –, e que

participou das tropas complementares da primeira Companhia no

Brasil, em 1719, sendo escolhido como procurador da Vila do Príncipe

(Serro-MG), falecendo na mesma localidade em 11 de setembro de

1787.

O Sr. Eduardo Oliveira Ferreira frisa que, segundo seus

estudos iniciais, tudo leva a crer que seu pentavô Dragão tinha a

função de fiscalizar os empreendimentos nas minas na sua área de

a b r a n g ê n c i a . C o r r o b o r a n d o t a l p o s t u r a , e m 1 7 2 0 ,

documentos/registros citam que, na Vila do Príncipe (Serro-MG), o

doutor Bernardo Pereira de Gusmão e Noronha ouvidor geral, e

corregedor desta comarca do Rio das Velhas tomou contas da receita

e despesa que tinha feito o procurador do conselho João Fernandes

Ferreira.

Suas informações iniciais se baseiam na pesquisa do

Professor Danilo Arnaldo Briskievicz, que está escrevendo o segundo

livro sobre a cidade do Serro, e que começa citando que em 1719 o

Capitão João Fernandes Ferreira é eleito procurador do Senado da

Câmara da Vila do Príncipe. Seguem-se outros dados interessantes:

em, 1721, para vereadores foram escolhidos o capitão João

Fernandes Ferreira, Antônio Alves Silva e José da Silva Baldai; em,

1725, pelas eleições do Senado da Câmara foram escolhidos dois

109


juízes ordinários, o primeiro, o capitão João Fernandes Ferreira e o

segundo o capitão Antônio Pereira Ribeiro; em 1739, os oficiais eleitos

foram o primeiro juiz guarda-mor Manuel Machado Carneiro (no

mesmo cargo em 1743), o segundo juiz capitão João Fernandes

Ferreira, os vereadores Manuel Rodrigues Silva, capitão Gil das Neves

Correia e Francisco Lopes de Campos, além do procurador do ano o

português sargento-mor Francisco Pereira Maciel, que também

assumiu o cargo de segundo juiz nos anos de 1746 e 1747, falecendo

com testamento aberto em 1783.

Observa-se também a relação com a Companhia de Dragões

de Minas Novas, de que era comandante o Capitão Belchior dos Reys e

Mello, conforme Urbino Viana: "Esse Belchior dos Reys e Mello foi o

capitão de Dragões cujas tropas conseguiram vencer a Domingos Dias

do Prado e a um seu irmão, que, juntamente Sebastião Leme,

descobridor das minas de Arassuahy e Fanado ou Minas Novas, se

sublevaram, assassinando o superintendente Dr. Pedro Leolino Mariz,

conforme escreve Porto Seguro”. (Monografia Histórica de Montes

Claros, p. 43). O capitão Belchior dos Reys veio a ter fazenda chamada

“Ribeirão” próxima a então fazenda Montes Claros do Alferes José

Lopes de Carvalho, que posteriormente fundou a atual cidade de

Montes Claros. A fazenda do filho do capitão João Fernandes Ferreira

era vizinha às fazendas desses dois militares, conforme imagem a

seguir

110


Segue-se transcrição da carta de nomeação do João Fernandes

Ferreira, com algumas lacunas, palavras ficaram faltando, pois o

documento é difícil de ler:

"Dom Pedro de Almeida… Faço saber Vossa Senhoria (?) na pessoa

de João Fernandes Ferreira Alferes de sua con… de auxiliar do terço

da Villa do Príncipe e ao bom procedimento. Com que se tem havido

no exercício do ditto posto acompanhando seu capitão nas guardas

em mostras que tem passado. E havendo hum bem com boa

satisfação em tudo o mais em que foi ocupado do serviço de Sua

Magestade e por esperar delle daqui por diante procedera da mesma

sorte no que foi do leal serviço. E por bem e por serviço de sua

Majestade de o nomear como por esta carta o nomeyo por Capitão da

mesma companhia de ra, bem como o tio deste foi o alferes

José Fernandes Barbosa:

Outro antepassado seu (9º avô), Domingos da Fonseca, com

Estevão da Fonseca, em requerimento de 23/10/1733, soldado(s) de

Cavalaria do Regimento do sargento-mor do Batalhão do Marquês de

Marialva, solicitava(m) a mercê de se lhe conceder(em) baixa no(s)

seu(s) assento(s), a fim de poder(em) passar ao Estado do Brasil para

servir(em) nas tropas de Dragões das Minas; esse Marquês de

Marialva é descendente daquele que liderou a famosa Batalha de

Montes Claros, em 17/06/1665, vencendo, definitivamente, a Guerra

de Restauração contra a Espanha. A cidade de Montes Claros tem

esse nome por que foi a fazenda de um dos primeiros militares da

região, pertencia ao Alferes José Lopes de Carvalho.

P.S: Felizmente, em 2021, a pesquisa do Sr. Eduardo Oliveira Ferreira prossegue.

111


UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA

Para efeitos de melhor compreensão do real teor da saga dos

cavalarianos mineiros, os DRAGÕES REAIS DAS MINAS, serão

reproduzidas, na íntegra, as partes II, III e IV do Projeto de

Denominação Histórica do 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado

DRAGÕES REAIS DAS MINAS:

II – AS ESTRADAS DE MINAS

A sociedade urbana das Minas Gerais foi o divisor de águas da

vida da colônia portuguesa da América do Sul. Antes da invasão das

terras do ouro por centenas de milhares de colonos portugueses e

brasileiros, principalmente, que seguiram as pegadas dos

desbravadores paulistas que lograram encontrar o tão precioso e

brilhante metal tão arduamente procurado e desejado / ambicionado

desde a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral, sonho

concretizado pelo bandeirante Antônio Rodrigues Arzão no final do

século XVII,e que livrou Portugal da bancarrota após a decadência do

comércio do açúcar.

Entradas ocasionais vindas da Bahia e do Espírito Santo, durante

o século XVI, deram início ao ciclo do ouro de lavagem e,

posteriormente, do grande ciclo do ouro e diamantes, que viria a

trespassar com afiada e aguda determinação o véu de mistério que

encobria os sertões do leste para se chegar a região da Mantiqueira,

ou então, como citada em alguns documentos do século XVIII, “até o

pé da serra afamada da Amantiqueira” - (Antonil) -, fazendo pois o

roteiro da vila de São Paulo para as Minas Gerais e o Rio das Velhas .

Cabe aqui lembrar que a cidade de Santos Dumont, sede do 4º

Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, encontra-se localizada

justamente nesta “encruzilhada”, nesta “artéria vital”, pois situa-se

estrategicamente no sopé da Serra da Mantiqueira, divisando

,simultaneamente, a subida para a região das minas de ouro e a

descida para o vale do Rio Paraibuna, para o Registro / Pedra do

Paraíbuna e sua posterior descida pela região serrana fluminense até

alcançar a faixa litorânea do Rio de Janeiro.

Os bandeirantes paulistas metidos nesta épica empreitada tinham

como base de suas operações, e principal ponto de partida, a vila de

Taubaté, fundada em 1645, de onde transpunham a Mantiqueira pela

garganta do Embaú (hoje, Cruzeiro). Bandeiras de Fernão Dias

Paes e Borba Gato, por exemplo, atraídos pelas promessas de

112


riqueza do Itacolomi, largavam os verdes campos de Piratininga em

busca dos vales sombrios onde brilhava o ouro, aventuravam-se em

uma longa, cansativa e arriscada jornada pelo chamado Caminho

Velho. Devido a importância do empreendimento, e após a descoberta

de ouro por Antônio Rodrigues Arzão na Mata Oriental das Minas, as

autoridades lusas trataram logo de impulsionar a exploração da região

com a abertura de um novo picadão que mais tarde se converteria no

Caminho Novo. A hercúlea tarefa coube ao filho do grande Fernão

Dias, o determinado e incansável Garcia Rodrigues Paes,

acolhendo a determinação do governador e capitão general do Rio de

Janeiro, Artur de Sá Menezes, de uma nova ligação entre a sede da

Capitania (Rio de Janeiro) e as Minas de Cataguases (região do ouro),

obra completada por Domingos Rodrigues da Fonseca e por Bernardo

Soares de Proença (1725).

O Professor Luiz Fernando Soares de Castro, do Departamento

de Geociências, Instituto de Ciências Humanas e de Letras, da

Universidade Federal de Juiz de Fora, apresenta dois interessantes

resumos intitulados, respectivamente, “EXPLICAÇÃO DO CAMINHO

VELHO” e “O CAMINHO NOVO”, cujos textos reproduziremos abaixo:

“À procura do ouro e pedras preciosas seguiam os bandeirantes,

desde o primórdio da história colonial, rumo ao interior. Depois de

descobertas as minas de ouro, a grande invasão do território mineiro

se fez, principalmente, pelo caminho do Rio de Janeiro e São Paulo,

chamado de Caminho Geral do Sertão. Do Rio de Janeiro iam os

viajantes por mar até Parati onde começava o caminho por terra,

atravessando a Serra do Mar, juntando-se à terra paulista, em

princípio Taubaté, e depois em Pindamonhangaba. Fundidos os

caminhos num só, seguia este para as Minas, atravessando a Serra

da Mantiqueira na Garganta do Embaú e Passa-Trinta (hoje, Passa

Quatro). O Caminho Geral do Sertão continuava por lugares onde se

situam as cidades de: Itanhandu, Santana do Capivari, Consolação,

Pouso Alto, Boa Vista, Baependi, Conceição do Rio Verde,

Cruzília,Ingai. Seguia-se a travessia do Rio Grande, pouco depois de

passar por Ibituruna, a do Rio das Mortes, chegando até o arraial do

Rio das Mortes, atual cidade de São João Del Rey.”

“Em 1699, o Governador Artur de Sá Menezes, recebeu

autorização de Lisboa para a feitura de um novo caminho para as

minas. O desbravador Garcia Rodrigues Paes levou a cabo a

113


incumbência de abrir o Caminho Novo, que, estando aberto em 1707,

a partir do Rio de Janeiro transpunha a Serra dos Órgãos, vindo direto

aos vales dos Rios Paraíba e Paraibuna, chegando até a Borda do

Campo e Registro. Neste ponto havia uma bifurcação: um

caminhocontinuava para Vila Rica (Ouro Preto), e o outro, seguia rumo

ao Arraial do Rio das Mortes (São João Del Rey). O Caminho Novo

encurtava a viagem em 15 dias e ficaria conhecido na história como o

Caminho do Ouro.”

No seu livro “UMA CIDADE À BEIRA DO CAMINHO NOVO”, o

grande pesquisador sandumonense, infelizmente já falecido, Oswaldo

Henrique Castello Branco, nas páginas 17 e 26, complementando

brilhantemente as informações acima, estabelece uma sucinta, porém

rica e esclarecedora, concatenação das primeiras vias de penetração

estabelecidas com os sertões mineiros.

“Descobertos os veios de ouro pelos bandeirantes paulistas, nas

últimas décadas do século VXII, formou-se o caminho que ligava São

Paulo à região das minas, passando pelo Rio de Janeiro,

conhecido como Caminho Velho. O tempo gasto e as dificuldades

encontradas para percorrer este trajeto mostraram a necessidade de

se descobrir um novo caminho que, com mais facilidade,

principalmente com mais rapidez, conduzisse do Rio de Janeiro às

minas.

Coube ao sertanista Garcia Rodrigues Paes a incumbência deste

projeto. Segundo orientação do governador e capitão general do Rio

de Janeiro, Artur de Sá e Menezes, partiu do Rio de Janeiro, por volta

de 1700 / 1701, para desbravar o território mineiro, buscando abrir a

picada do Caminho Novo, obra que mais tarde foi concluída por

Domingos Rodrigues da Fonseca.

Este Caminho Novo passou a chamar-se, mais tarde, Estrada

Real da Corte, ficando ligada à Província de Minas Gerais (Eduardo

Canabrava Ribeiro, Jornada a Minas Gerais em 1822). Mas o certo é

que Caminho Novo ficou mesmo sendo a sua denominação, como

caminho constantemente palmilhado por muitas caravanas que se

destinavam a Minas, ou de lá provinham. Até mesmo os inconfidentes

circulavam por este caminho conspirando (Autos da Devassa da

Inconfidência Mineira, vol. 2, p. 402), até que, por fim, foram

acorrentados (“Jornada dos Mártires , tela de Antônio Parreiras, no

Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora) e enviados ao sacrifício, ao

114


degredo, à morte, esses heróis da Inconfidência Mineira.

Como grande e exponencial via de penetração às minas, foram

surgindo às suas margens, a princípio roças e engenhos e depois

pequenos povoados que dariam origem às importantes cidades de

hoje (...)

Da carta datada de 24 de maio de 1698, dirigida ao Rei por Artur

de Sá Menezes, evidencia-se o compromisso do seu signatário,

Garcia Rodrigues Paes, no sentido de lhe ser franqueada entre o Rio e

as “minas” uma comunicação rápida e segura, evitando assim ao

caminhante e interesses reais o penoso percurso de então, em tempo

de três meses.

No projeto do Caminho Novo, “o meio da jornada” dele,

segundo o próprio Garcia Rodrigues Paes, seria Paraíba (hoje

Paraíba do Sul) e o ponto de término seria a Borda do Campo,

atualmente Barbacena. Em 1699 era uma realidade a picada.

Em 1700 já eram bons os serviços de Garcia Rodrigues Paes.

Nele se lê nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (vol.

XXXIX) nos documentos do Arquivo da Marinha e Ultramar de Lisboa,

Garcia Rodrigues Paes pede o foro de Fidalgo da Casa Real e o hábito

da Ordem de Cristo para si e seus dois filhos, pelos serviços que

prestara nos descobrimentos das minas de ouro (documento 2.434, p.

274).

Garcia Rodrigues foi provisionado em 19 de abril de 1702 no

cargo de Guarda-Mor das Minas.

Informa Miran de Barros Latif, em seu magnífico As Minas Gerais:

“Como mercê póstuma à Bandeira de Fernão Dias, nomeia-se o seu

filho Garcia Rodrigues Paes primeiro Guarda-Mor Geral e fica-lhe

afeto tudo que se relaciona com o trabalho extrativo. Usando de

atribuições autônomas da justiça civil e mesmo do próprio Capitão

General; com direito de prender e expulsar sumariamente os infratores

do regimento; estando a seu critério a repartição de todas as riquezas

das Minas, através de Cartas de datas por ele apenas firmadas, a

Guardamoria torna-se de uma importância tanto maior quanto é a

primeira vez que um ocupa um cargo colonial de incontestável

responsabilidade.

115


Os governantes queixam-se, julgando estas atribuições

exageradas. Mas caso tentem restringi-las são desautorizados pela

Coroa.”

Em 1704 estão em franco andamento os trabalhos do Caminho

Novo em relação à execução da Carta Régia de 1702 (...)”

Outro ponto relevante levantado pelo citado grande historiador

sandumonense está em explanar sobre os perigos que rondavam a

viagem do ouro e das provisões necessárias a manutenção da

atividade mineradora. A própria palavra Mantiqueira ou Mantiquira se

perde em apreciações de gírias locais e / ou de derivações, mas

sempre atentando para as periculosidades intrínsecas e relacionadas

ao termo – ladroeira; manta e capa de lã, em sentido figurado, ardil e

trapaça. Tal afluxo de bandoleiros, assassinos, quadrilhas

organizadas, vivaldinos, contrabandistas, invasores, fugitivos da

justiça, sonegadores do fisco real, seus comparsas locais, e tantos

outros personagens igualmente não tão dignos, tornou de uma

urgência primordial a instalação e a atuação de efetivos militares que

respaldassem os interesses portugueses nas minas do ouro. O

combate a célebre e famigerada quadrilha da Serra da Mantiqueira,

que apavorava os incautos viajantes pela sua brutalidade e auferia

sempre maiores prejuízos ao erário régio, foi determinado por Dom

Rodrigo José de Menezes, empreendimento magistralmente levado a

cabo pelo hábil comando e determinação de dois futuros inconfidentes,

o Coronel José Ayres Gomes e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier

– o Tiradentes. Em carta endereçada às autoridades portuguesas,

datada de 19 de abril de 1783, na Borda do Campo, o Alferes Joaquim

José da Silva Xavier descreve, com detalhes, os resultados de suas

surtidas contra os salteadores do Caminho Novo, missão

desempenhada com a supervisão do Tenente Coronel José Ayres

Gomes.

Parte do Caminho Novo, com calçamento secular, ainda existe

no trecho que vai de Perobas de Cima (Santos Dumont) até a Fazenda

da Borda do Campo (Barbacena), correspondendo a uma ínfima,

porém milagrosamente preservada, parcela da sua extensão original

na região. Este monumento histórico a céu aberto, e ainda hoje

utilizado como via de acesso e de livre trânsito por alguns distritos e

localidades, somente não foi dilapidado porque o traçado estabelecido

para a construção da BR - 040 ficou mais à sua direita. Ladeado

116


por muitas fazendas, construções e marcos diversos que

atravessaram a colônia, o império e resistem bravamente até hoje,

seus habitantes repassam, de geração em geração, histórias da

perigosa saga dos viajantes que por aqui se aventuravam, em especial

sobre a atuação do terrível Montanha e de seus famigerados

sequazes, bem como de relatos sobre outros bandidos. A presença

constante de malfeitores, e a existência de uma Casa Forte, fez com

que Bernardo José de Lorena, do Conselho de Sua Majestade

Governador e Capitão General da Companhia da Capitania das Minas

Gerais, determinasse a criação e instalação de uma Companhia de

Ordenanças no Distrito da Capela de São Miguel e Almas do Caminho

Novo do Rio de Janeiro – conseqüência da já citada carta de Tiradentes

–, e cujo comando primeiro foi auferido “no Posto do Capitão delas o

dito Gonçalo Gomes Martins, a qual Companhia se compõe de

sessenta soldados com seus competentes oficiais (...)” (BRANCO,

Oswaldo Henrique Castello, op. cit, p. 34-35), fato que atesta a

importância estratégica, desde então, da rocinha / arraial de João

Gomes.

Paulo Mercadante, na sua extraordinária e indispensável obra

“Os Sertões do Leste”, subsidia, sobremaneira, os dados

apresentados pelo Sr. Oswaldo H. Castello Branco. Lê - se, na

página 38 do citado livro, a seguinte passagem:

“Às margens do Caminho Novo estavam as sesmarias, cujas

concessões visavam, em pleno fastígio do ouro, garantir a formação de

lavouras que permitissem suprir os bandeirantes em suas jornadas às

minas. Para descanso do viageiro, e abrigo nas longas caminhadas, os

pousos nasciam ao comprido da grande via. Furnas e casas-fortes

para segurança das riquezas transportadas, capelas para a oração.

Numa delas, obtida em 1709, por Domingos Gonçalves Ramos, na

atual cidade de Santos Dumont, então despontou um agrupamento

com casario disperso, futuro arraial de João Gomes, nome de um

lavrador adquirente. Nas terras aparecem ranchos para os viajantes do

Caminho Novo se abrigavam. Próximo, cresceu lavoura e criação.

Levanta-se, mais tarde, aprimitiva capela de São Miguel e Almas,

cuja construção deve-se talvez ao velho João Gomes. A capela, a

margem do Caminho Novo, é dedicada a São Miguel e Alma,

protetores invocados dos bandeirantes na perigosa travessia da

Mantiqueira.”

117


Mais adiante, página 42, Paulo Mercadante, referindo-se a outro

trecho / região, lembrando que em 1714 o Governador Dom Brás

Baltasar da Silveira propôs a divisão da capitania em quatro comarcas,

destaca o papel relevante das unidades / regimentos de dragões na

vigilância e na manutenção da ordem estabelecida e na preservação

dos interesses metropolitanos em relação a “jóia da coroa” na colônia

do Brasil.

“(...) Em 1780, Miguel Henriques, o Mão - de -Luva, chegava

às minas de Cantagalo pelo caminho do Pomba. Levas de sertanistas

internavam-se no vale, descendo os rios, rumo aos aldeamentos do

atual município de Guarani, entravam pelos afluentes do Pomba ou

beiradeavam o ribeirão da Tijuca. Tal êxodo de geralistas levaria o

governo a criação de postos fiscais.

Nesta época, afrouxava-se a política protetora da Metrópole

com relação aos Sertões do Leste. O Governador Luís da Cunha

Meneses determinava-lhe a exploração, abria-os ao povoamento, por

não lhe parecer haver terras inúteis “pela falta de se conhecer as

utilidades que se poderão tirar das mesmas”. Encarregou o Sargento-

Mor do Regimento de Dragões, Pedro Afonso Galdavo de S. Martinho,

de examinar as Áreas Proibidas a fim de reconhecer como se

deveriam levantar barreiras eficazes à segurança dos reais

interesses. Seria também por essa portaria que o Governador

ordenaria ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, então incumbido

da ronda da mata, que acompanhasse o Sargento-Mor no exame das

possibilidades auríferas das terras e de sua capacidade de

acomodação de gente. A ambos, sargento e alferes, cumpriam o

reconhecimento de estradas e caminhos que abertos estivessem de

ligação entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro.

De tal missão resultaria o desbaratamento do núcleo de Mãode-Luva,

Manuel Henriques, afinal preso e remetido para Vila Rica

com seus companheiros de faiscagem. O percurso do Sargento-Mor

revela, segundo observação de Diogo de Vasconcelos, como o País já

estava sulcado de caminhos.”

A Estrada União-Indústria, obra encomendada por Dom Pedro

II ao seu amigo pessoal Mariano Procópio Ferreira Lage, nos últimos

quartéis do século XIX, aproveitando boa parte do trecho do Caminho

Novo, nada mais é do que uma nova etapa da nevrálgica, e

indispensável, ligação entre o centro dirigente localizado no Rio de

118


Janeiro e a sempre influente, e historicamente decisiva, região das

Minas Gerais. A equipe que elaborou este estudo se fez presente no

trecho preservado existente no distrito de Perobas de Cima, em

Santos Dumont, verificando inscrições referentes a construção da

União - Indústria verificando inscrições referentes a construção da

União-Indústria perpetuadas em uma fonte de água, e entrando em

contato com um habitante local que recentemente encontrou uma

moeda do Segundo Império da mesma época da execução dos

trabalhos na “nova estrada”. Há também marcos de uma posterior

empreitada de restauração e de implementação de serviços de

drenagem de águas pluviais, datados de 1928.

Por sua vez, a BR-040 constitui-se no ponto extremo, e atual,

deste histórico de caminhos que devassaram os sertões mineiros.

Iniciada na época do Milagre Brasileiro, e praticamente concluída no

governo do Presidente João Batista de Figueiredo, durante o período

dos governos militares que se seguiram a Revolução de 31 de Março

de 1964, figura com uma dos principais sistemas viários do país,

contribuindo decisivamente para o contínuo desenvolvimento da

região sudeste do Brasil.

É notório observar-se que nossa explanação quanto a Estrada

União-Indústria e a rodovia BR-040 é ínfima se comparada ao volume

de informações e de considerações que nos detivemos com relação

ao Caminho Novo e a Estrada Real / Estrada da Corte. Como nosso

interesse de Denominação Histórica centra-se no desenvolvimento

das unidades mineiras de cavalaria (Dragões) durante a vigência do

Caminho Novo / Estrada Real, seria um “ataque diversionista” e uma

“dispersão injustificável de reservas estratégicas” gastarmos “nossa

munição em alvos secundários”.

Desde as entradas iniciadas por Sebastião Fernandes

Tourinho, em 1573, que entrando pelo Rio Doce e voltando pelo

Jequitinhonha com notícias de esmeraldas, posteriormente

confirmadas pela expedição de Antônio Dias Adorno, a opulência e a

riqueza da região das minas fez com que cada vez mais aventureiros e

desbravadores para cá se deslocassem. Logo depois, em 1662,

Augusto Barbalho realiza nova descoberta de esmeraldas, mas é com

Antônio Rodrigues Arzão, em 1693 / 1694, e pelas bandeiras que

imediatamente lhe seguiram, é o que o metal dourado – o ouro – é

descoberto em Itaberaba, Ouro Branco, Itatiaia e Ouro Preto. Este

119


“golpe de sorte” dos paulistas fez com que o então Governador do Rio

de Janeiro, Sebastião de Castro Caldas, envia-se com extrema

urgência, em 16 de junho de 1695, amostras de ouro à Lisboa. Seguese

a abertura do Caminho Novo, que além de agilizar e dar mais

segurança a atividade mineradora, também foi vital a defesa dos

interesses coloniais portugueses como, por exemplo, quando do

socorro prestado pelo Governador Antônio de Albuquerque Coelho de

Carvalho com envio de tropas, em 28 de setembro de 1711, para

combater invasores franceses que concentravam ações contra o Rio

de Janeiro.

III – A ORGANIZAÇÃO MILITAR PORTUGUESA NAS

MINAS GERAES DO SÉCULO XVIII.

A Organização Militar Portuguesa em Minas Gerais é um

caso bem particular durante o Período Colonial.

Além do Exército, havia a tropa de segunda linha, os Terços

de Auxiliares e de terceiros (as “ ordenanças” , de que sairia a Guarda

Nacional), os milicianos do tipo “ pardos” e “pretos”, estes ainda

chamados “ Henriques” em pleno reinado de D. João VI. Essas tropas

populares correspondem a um tipo de organização que dificilmente

pode ser traduzido em conceitos modernos. Hoje, nada temos de

semelhante às Ordenanças, aos “Henriques” , aos Regimentos de

Pardos.

Em Minas, além das tropas organizadas pelo povo para a

defesa territorial, havia uma únicatropa do Exército Real, o único

corpo militar português sediado em Minas, o Regimento de

Dragões, a que pertencia o Tiradentes.

O Sr. Daniel de Carvalho, em estudo mais recente, fixa com

muita justeza os principais aspectos do problema, apresentando os

pontos principais da questão, e dirimindo certas dúvidas que ainda

persistem:

“Com a restauração da independência portuguesa, em 1640,

adotou-se o sistema de defesa baseado em três categorias de forças –

a primeira linha, constituída pela tropa paga (Exército); a segunda , de

Terços de Auxiliares e a terceira, de Corpos de Ordenanças” .

120


“Em Minas, com a lição do ataque de Duguay-Trouin, Antônio

de Albuquerque tratou de levantar as três linhas de defesa.

o

Imediatamente criou os Terços de Auxiliares. Para isso, a 1 de julho de

1711, concedeu patente de Mestre de Campo do Terço de Auxiliares do

Ribeirão do Carmo ao Capitão-mor Domingos Fernandes Pinto, cujos

serviços anteriores são enumerados nesse diploma” .

“ A força do Exército, cuja criação em Minas fora autorizada

desde 1709, só foi criada depois de 1712. Em vez do Regimento de

500 praças, constituíram-se apenas duas Companhias de Cavalaria

(Dragões).

A diferença entre auxiliares e Ordenanças era grande.

Observe-se desde logo que os Mestres de Campo dos

Auxiliares percebiam soldo, e os Capitães-mores não recebiam

remuneração pelo comando das Ordenanças. Gozavam, entretanto,

de honras, privilégios, isenções que valiam muito.

Às duas Companhias de Dragões do Exército do tempo

do Conde de Assumar (1719) veio juntar-se uma terceira, que

guarnecia o Distrito de Minas Novas, quando este foi desligado da

Bahia e anexado a minas (1757). O Governador Antônio de Noronha

reuniu estas três Companhias no Regimento de Dragões, criado em

1775, para o qual construiu o quartel, em Cachoeira do Campo, prédio

em grande parte conservado, atual sede das Escolas Dom Bosco, por

doação aos Salesianos, no governo de C. J. Bias Fortes.

Esse processo de eleição, porém, foi logo revogado pelos

inconvenientes que apresentou, e que foram assim expressos no

Alvará de 18 de outubro de 1709 que revigorou os termos de uma

disposição de Dom João IV nos seguintes termos:

faço saber aos que este Alvará virem ou dele tiverem

notícia, que tendo consideração a que o Regimento que o Sr. Rei

Dom Sebastião estabeleceu, para o bem regime e serviço das

Ordenanças, sendo o mais ajustado à razão e benefício dos

povos, procurando que o Governo deles e das Companhias fosse

a eleição, se tem pelos mesmos povos abusado dele, fazendo-se

as eleições geralmente com dolo e violência de que resultam

crimes, despesas e descréditos de famílias inteiras, criando-se

ódios que se conservam de pais a filhos, em grandes desserviços

de Deus e grave dano à conservação dos meus vassalos, a

121


cujos excessos não têm atalhado as repetidas ordens que os

Senhores Reis, meus predecessores mandaram passar, em

corroboração e inteira observância do dito Regimento, nem o

castigo que vários lugares têm experimentado com as Alçadas a

que deu motivo a sua contumácia; antes de ter mostrado a

experiência que cada dia cresce a sua rebeldia, achando-se a

maior parte dos Conselhos divididos em parcialidades, com

grande escândalo da justiça e perturbação do bom Governo; e

desejando eu evitar este dano e em que meus vassalos haja toda

a união e que sejam governados por pessoas dignas de ocupar

os postos militares e não por aqueles quem com maior poder e

séqüito, sem merecimento e capacidade, os usurpam para as

suas vinganças, hei por bem extinguir as ditas eleições dos

postos de milícias, derrogando, nesta parte, o dito Regimento,

ficando em seu vigor as mais disposições etc.

IV – TROPAS DE DRAGÕES NAS MINAS GERAIS

Na Capitania de Minas Gerais, as tropas de Dragões tem especial

importância, pois eram a única tropa de 1a Linha desse “ Continente” e

por essa singularidade, vale a pena esboçar o histórico e as

características principais desses contingentes. Cerca de 1719 a

Capitania recebeu o primeiro contingente de Dragões de 1a Linha do

país.

a

Não que fosse o único ou maior efetivo de tropa de 1 Linha. No

a

Rio de Janeiro se encontrava o maior contingente de tropas de 1

Linha do Sul, pelo menos dois Regimentos de Infantaria. Todavia, era

um dos maiores, nessa época. Só mais tarde, São Paulo recebeu

a

contingente maior de tropas de 1 Linha. Também foi mais tarde que

a

houve Dragões (1 Linha) em rio Grande de São Pedro (um

Regimento, removido da Colônia de Sacramento, formado em parte

com efetivos de Minas Gerais), em Goiás ( um Regimento. Formado

também em parte com contingentes de Minas Gerais) e Mato Grosso (

provavelmente formado em parte com tropas de Goiás).

Em outubro de 1719 chegaram de Lisboa, com seus cavalos,

fardamentos e armamentos duas Companhias de Dragões para as

“Minas Gerais” , cada uma com 60 homens, sendo comandantes

a

da 1 Cia, o Capitão Joseph Rodrigues de Oliveira e, da

122


a

a

2 Cia, Capitão João Almeyda Vasconcellos. Da 1 Cia , era Alferes

a

Manoel de Barros Guedes Madureira. Da 2 Cia era Tenente Joseph

de Morais Cabral.

Em 18 de fevereiro de 1731, o Tenente Joseph de Moraes

Cabral, que servia na Cia. de Dragões das Minas Gerais comandada

por João de Almeyda de Vasconcellos , foi promovido ao posto de

Capitão na vaga deixada por falecimento deste último. O Capitão

Joseph de Moraes Cabral havia ido a Lisboa, Portugal.

Embarcou na nau capitânea da frota em Lisboa na madrugada do

dia 17 de março de 1731 e saltou em terra no Rio de Janeiro, RJ, em 01

de junho de 1731. Recebeu 32$000 rs. de ajuda de custo. Em 1731,

quando havia apenas duas Companhias e Dragões, vamos encontrar

dois comandantes: Capitão Joseph Roiz de Oliveira (ausente) e

Capitão Joseph de Moraes Cabral.

Aos 11 de março de 1734 o então Tenente Manoel de Barros

Guedes Madureira, que servia na Companhia de Joseph Roiz de

a

Oliveira, foi promovido ao posto de Capitão da recém criada 3

Companhia de Dragões que deveria ser formada a partir dos efetivos

das outras duas existentes. Entre outros feitos, quando ainda era

Tenente, está o de prender dois dos cabeças do levante de Vila Rica,

de 1720, o padre Frei Francisco de monte Alverne e o Mestre de

Campo Pascoal de Silva Guimarães, que culminou com o

a

enforcamento de Felipe dos Santos. Essa 3 Companhia foi extinta em

29 de maio de 1739 e seus efetivos transferidos para formar o

Regimento da Colônia de Sacramento, no Rio da Prata ( hoje

Uruguai). O Capitão Manoel de Barros Guedes Madureira, um soldado

cheio de cicatrizes de batalhas, na península Ibérica e no Brasil,

morreu ao que tudo indica, em combates contra os espanhóis,

defendendo a fronteira sul do Brasil.

Cerca de 1736 o Capitão Joseph de Moraes Cabral marchou com

alguma tropa para “ os Goyazes” e deixou seu comando vago, o qual foi

ocupado interinamente pelo Tenente de Dragões Simão da Cunha

Pereira, que até então era o comandante do destacamento de Minas

Novas, sujeita ao Governador daBahia, até 1757.. O Tenente Simão

da Cunha Pereira era considerado um “ oficial de préstimo” por Gomes

Freyre de Andrada, tendo vasculhado o “ Certão” sufocando motins e

fazendo cumprir a lei e as ordens reais. Isso lhe valeu duas Cartas de

Padrão de Tença da Ordem de Cristo em 06 de março de 1741 e 29 de

abril de 1741 e ser nomeado Primeiro Escudeiro e logo Cavaleiro

123


da Casa Real de Dom João V por alvará régio de 5 de março de 1746.

Por Carta Patente datada de 28 de março de 1743 o Tenente de

Dragões Simão da Cunha Pereira foi promovido a capitão de Cavalos

da Companhia de Dragões das Minas Gerais ( Arraial do Tejuco) por

ter vagado o posto em virtude de Joseph de Moraes Cabral ter sido

promovido a Tenente-Coronel do Regimento “ Novo” de Dragões (

Goiás).

No ano de 1753, com a prisão de Felisberto Caldeira Brant, o

contratador dos diamantes, o Capitão de Dragões Simão da Cunha

Pereira comandou a escolta para o Rio de Janeiro, RJ, onde também

foi preso e julgado pelo Tribunal da Relação, acusado de conivência

com o primeiro acusado, sendo condenado a perdimento do posto e

a

10 nos de degredo para Angola. Possivelmente não foram aplicadas

as penas e o degredo deve ter sido convertido para prisão temporária

na fortaleza da ilhas das Cobras. Mas foi afastado do serviço e tudo

indica que não mais voltou ao Arraial do Tejuco, embora tenha sido

mantido nominalmente no comando da sua Companhia de Dragões.

O abrandamento da pena pode ter sido um privilégio concedido a um

Cavaleiro da Casa Real de Dom João V, com Carta de Padrão de

Tença da Ordem de Cristo. O Capitão de Dragões Simão da Cunha

Pereira encontrava-se ainda preso na Ilhas das Cobras no ano de

1758 e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de fevereiro de 1774. Foi

a

sepultado em 21 de fevereiro de 1774 na Igreja da ordem 3 do Carmo

do rio de Janeiro.]

Uma prova de que o Capitão de Dragões Simão da Cunha

Pereira continuou no comando, embora nominalmente, é que

frequentemente são mencionadas três Companhias, em torno de

1760, referidas como: Cia. de Menezes, Cia. de Cunha e Cia. de Luz.

Ainda no ano de 1772 amos encontrar três Companhias de Dragões:

do Capitão Simão da Cunha Pereira (ausente), do Capitão Antônio

Pinto Carneiro e do Capitão Ignácio da Luz (ausente: “ foy” ). Ainda em

1773 as três companhias eram referidas como de: Cunha, Carneiro e

Luz.

É curioso observar-se que os postos de comando destas

Companhias de Dragões estavam quase sempre vagos, pelos mais

diferentes motivos. José Joaquim da Rocha menciona como Oficiais

das duas primeiras Companhias apenas dois Tenentes e dois Alferes,

e, da terceira Companhia, somente um Alferes. Não havia nenhum

Capitão. Assim, diz que “ alguns destes Off.es se não ocupavão,

124


por não haver em q.e, e se fazia o serviço com os Cabos e Sold.os

estes érão fiéis, e vigilantes, nos serviços de S. Mag.de, e cada

hum fasia timbre de se distinguir pelo seo precedim.to e serviço.

Essa ociosidade dos oficiais é um fato confirmado por

Bernardo Xavier Pinto e Souza, que diz que os serviços se realizavam

“ sem dependência de officialidade que os cabos inferiores

ordinariamente substituirão. “

Os “tempos heróicos” haviam passado, quando os Dragões

tinham que abafar revoltas, motins e insurreições freqüentes ,

provocadas pela turba de garimpeiros e aventureiros. Ainda sobre

essa ociosidade da oficialidade dos Dragões, deve-se observar dois

pontos:

1) ocorreu depois da metade do século XVIII, quando a

população de Minas já havia se estratificado e havia uma sociedade e

uma máquina de governo estabelecida, ou seja, ordem social;

2) deve-se, sem a menor dúvida, ao fato de as unidades

existiam apenas nominalmente, estando seus efetivos atomizados,

espalhados, distribuídos capilarmente, em um incontável número de

pequenos serviços particulares, de escoltas de presos e transporte de

valores.

José Joaquim da Rocha se refere à existência de pequenos

destacamentos de Dragões espalhados: “ S. Romão tem huma

Guarda Militar, que se occupa em dar buscas de oiro, e

diamantes, aos viandantes que passão por aquelles sertões,

destacando para isso patrulhas.” , no Julgado da Companhia do

Rio Verde existem “ guardas, que impedem o transporte do

mesmo oiro para a Capitania de Minas Geraes...” ; no Julgado do

Jacuhy “ Tem um Registro..., he guarnecido por huma Guarda

Militar, commandada por hum inferior, e quatro soldados. “

Uma interpretação dos dados da Folha Militar fornece a

a

composição dos quadros de uma Companhia de Cavalaria de 1

Linha, dividindo-se o número de oficiais e praças por oito, que era o

número de Companhias, como mostrado no quadro 3:

A exceção à virtual desintegração das tropas de Dragões talvez

somente seja a Companhia de Dragões do Arraial do Tejuco, cujo

efetivo de 80 homens ficava à disposição da Intendência dos

125


Diamantes. José Joaquim da e Rocha diz que o Arraial do tejuco

“Tem hum Quartel Militar com a guarnição de 80 homens,

commndados por hum Capitão e seos Officiaes competentes; e

daqui se costumão destacar guardas, para todos os

Destacamentos daquelle continente.”

Significa que boa parte do seu efetivo estava distribuído pelos

diversos “ Registros” que cercavam a Demarcação Diamantina ou

fazendo escolta dvalores. Fato significativo é que apesar de serem

mencionados três quartéis de tropas de Dragões, em Vila Rica, na

Cachoeira e no Arraial do Tejuco, só o de Cachoeira do Campo parece

ser um edifício de proporções adequadas.

Em Diamantina (Arraial do Tejuco) o prédio que é identificado

como antigo quartel e que hoje abriga a “ Biblioteca Antônio Torres” , no

centro da cidade, é muito pequeno e só daria paar conter o Estado-

Maior ( comando) da tropa e não comportaria o alojamento da tropa.

a

O Regimento de Cavalaria de 1 Linha de Vila Rica foi o sucessor

dessas três Companhias de Dragões, criado em 1775, mas somente

depois da morte de um dos seus últimos e mais antigos Capitães

comandantes de Companhia, Simão da Cunha Pererira, ocorrida no

Rio de Janeiro em 1774. A estrutura do Regimento de Cavalaria de Vila

Rica pode ser deduzida a partir da Folha Militar da Capitania,

apresentada por José Joaquim da Rocha.

Os números encontrados parecem bem próximos da realidade, já

que o sub-total relativo ao corpo do Regimento é de 480 homens, valor

que coincide com o fornecido por Diogo Pereira Ribeiro de

Vasconcellos, e quase igual ao dado por José Joaquim da rocha, de

481, que deve se referir exclusivamente à tropa, excluído o Estado-

Maior do Regimento. Se forem incluídos dentro do Estado-Maior do

Regimento, os Estados - Maiores dos “Batalhões” virtuais que

ficamimplícitos por Comarca, o organograma geral do Regimento de

a

cavalaria de 1 Linha de Vila Rica é o mostrado na figura 1 no capítulo

dos anexos.

Admitindo-se que a distribuição de cada duas das oito

Companhias de Cavalaria para cada uma das quatro Comarcas, como

faz supor a existência de quatro Sargentos-Mores de Comarca,

constituiria implicitamente um “Batalhão” por Comarca. A segunda

versão da estrutura do regimento é a mostrada na figura 2 no capítulo

dos anexos. Todavia, é perfeitamente admissível que o efetivo total,

126


quando foi criado o Regimento de Cavalaria de Vila Rica, em 1775,

fosse menor que a lotação prevista, por falta de contingente. Nesse

caso, algumas das Companhias de Cavalaria teriam um menor

número de postos preenchidos, isso é, alguns postos estariam vagos.

Deve-se observar que o fato do próprio Governador e Capitão General

ter reservado o “comando” nominal do Regimento criava uma

anomalia, já que quem era o comandante efetivo era o subcomandante,

o Tenente-Coronel do Regimento.

Além dessas tropas, Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos,

menciona a existência de “Pedestres” ou “ Soldados do Mato”, que se

encontravam “ As ordens do intendente ( dos diamantes) e

caixas”, com um efetivo total de 141 homens, sendo 80 no Arraial do

Tejuco e 21 na Serra de Santo Antônio. Esses Pedestres

complementavam o “ destacamento” de Dragões do Arraial do Tejuco,

que tinha 80 homens, o que equivale a uma Companhia de Dragões,

freqüentemente mencionada nos documentos da época como a “

Companhia dede Cunha” ( Capitão de Dragões Simão da Cunha

Pereira). Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos menciona ainda

outros efetivos. “ Aggregados a este regimento ( de Vila Rica)” (...)

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