Três Séculos da Cavalaria em Minas
Livro histórico : Professor Cléber Almeida de oliveira
Livro histórico : Professor Cléber Almeida de oliveira
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EQUITATVS SEMPER:
TRÊS SÉCULOS
DA CAVALARIA
NAS MINAS GERAIS.
A EPOPÉIA E
O LEGADO
CONTINUAM.
ESCRITO POR
CLEBER ALMEIDA DE OLIVEIRA
CAPA
RUBENS JOSÉ (BÉLIKO) TOLEDO
REVISÃO
MARCUS AURÉLIO – TENENTE-CORONEL (CAVALARIA)
COMANDANTE DO 4º ESQUADRÃO C. MEC.
ESQUADRÃO DRAGÕES REAIS DAS MINAS
DIAGRAMAÇÃO E EDIÇÃO
EDITORA MARIANA HISTÓRICA E CULTURAL
2019
(PUBLICADO EM 2021)
IMPRESSÃO: GRÁFICA FORMATO
3
AGRADECIMENTOS
PELA CESSÃO DE SEUS ARQUIVOS E IMAGENS::
CRISTIANO CASIMIRO DOS SANTOS
E SAULO PFEIFFER
PELO PATROCÍNIO E APOIO
DE ENTIDADES DA SOCIEDADE SANDUMONENSE
E DE MARIANA – MG
ACE / CDL (SANTOS DUMONT – MG)
ACIASD (SANTOS DUMONT – MG)
ADESAN (SANTOS DUMONT – MG)
ASSOCIAÇÃO DE MILITARES DA RESERVA
(SANTOS DUMONT – MG)
EDITORA MARIANA HISTÓRICA E CULTURAL
( MARIANA -MG)
CONTUR (SANTOS DUMONT – MG)
LOJA MAÇÔNICA ANTENOR AYRES VIANNA
(SANTOS DUMONT – MG)
SINDCOMÉRCIO (SANTOS DUMONT – MG)
4
AGRADECIMENTO ESPECIAL
AO SR. CRISTIANO CASIMIRO DOS SANTOS,
IRMÃO DRAGÃO REAL DAS MINAS,
CUJO ENVOLVIMENTO, TENACIDADE
E ESPÍRITO FRATERNO E GUERREIRO,
PERMITIU TANTO A REALIZAÇÃO E O SUCESSO
DOS EVENTOS DA COMEMORAÇÃO DOS 300 ANOS
DA CHEGADA DOS DRAGÕES DEL REY, EM 2019,
CAPITANEANDO A PARCERIA ENTRE
A CIDADE DE MARIANA-MG
AO 4º ESQUADRÃO DE CAVALARIA MECANIZADO
DRAGÕES REAIS DAS MINAS,
BEM COMO SER O FATO DE SER O MECENAS/PATRONO
DA PUBLICAÇÃO DESSE LIVRO/OBRA.
À ELE,
EXEMPLO/PARADIGMA DE DEDICAÇÃO, EMPENHO E
MAESTRIA AOS ESTUDOS E PESQUISAS HISTÓRICAS,
NOSSOS ETERNOS RECONHECIMENTO E AMIZADE,
E, MAIS IMPORTANTE,
O ORGULHO INDELÉVEL POR TÊ-LO
EM NOSSAS FILEIRAS E POR PODERMOS
OMBREAR NA LUTA PELO ISONÔMICO
CONHECIMENTO/PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA.
5
IN MEMORIAM
MAJOR REINALDO MENNA BARRETO DE B.F. BOSON
EX- COMANDANTE (31/03/1986-29/01/1990)
AMOU TANTO O 4º ESQD CMEC DRM, QUE, POR
DESEJO SEU, TEVE SUAS CINZAS ESPALHADAS NESSA
OM
SARGENTO FRAZ HOLSTEIN LIGÓRIO DA FONSECA
(PATENTE QUE O CONHECI, NA RESERVA TENENTE)
AMIGO E IRMÃO DRAGÃO REAL DAS MINAS,
E CO-AUTOR (COMIGO)
DO PROJETO DE DENOMINAÇÃO HISTÓRICA DESSA
OM
SRA. EULÁLIA JORGE MACHADO
(CARINHOSAMENTE ALCUNHADA “GENERAL LALINHA”)
AMIGA E IRMÃ DRAGÃO REAL DAS MINAS,
COLABORADORA EMÉRITA E BENEMÉRITA DESSA OM
E A TODOS OS DRAGÕES REAIS DAS MINAS
QUE PASSARAM(ÃO) PARA A ETERNIDADE,
IRMANADOS, OMBREADOS E CERRANDO FILEIRAS
6
SER DE CAVALARIA – é ser da astúcia enamorado;
da bravura, amante; da audácia, apaixonado; da
iniciativa, servo. É fazer do perigo a sublime loucura
que, em infrene galopada, conduz as raias luminosas
do heroísmo.
(Ten. Cel. Cav. LUIS FELIPE DE AZAMBUJA)
A cultura histórica tem o objetivo de manter viva a
consciência que a sociedade humana tem do próprio
passado, ou melhor, do seu presente, ou melhor, de si
mesma.
Não basta dizer que a história é o juízo histórico, mas é
preciso acrescentar que todo o juízo é juízo histórico,
ou história, com certeza.
(BENEDETTO CROCE – filósofo, historiador e político
italiano; 1866-1952)
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ÍNDICE
PREFÁCIO
ALMA DE CAVALARIANO
INTRODUÇÃO
1. HISTÓRICO CONCISO
2. NO CUMPRIMENTO DO DEVER
2.1 Participação em Missões de
Paz da ONU e eventos/missões nacionais
2.2 Relatos testemunhais dos atuais
Dragões Reais das Minas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FOTOS
ANEXO 1
ANEXO 2
ANEXO 3
CAPITÃO “DRAGÃO” JOÃO FERNANDES
FERREIRA
UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA
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PREFÁCIO
O Livro “EQUITATVS SEMPER. TRÊS SÉCULOS DE
CAVALARIA NAS MINAS GERAIS: A EPOPÉIA E O LEGADO
CONTINUAM”, se divide em três partes: CAP. 1. HISTÓRICO
CONCISO; CAP. 2. NO CUMPRIMENTO DO DEVER – 2.1
Participação em Missões de Paz da ONU e eventos/missões
nacionais, 2.2 Relatos testemunhais dos atuais Dragões Reais
das Minas –; e ANEXOS.
Trata tanto do tricentenário da chegada, em 1719, dos
Dragões Reais das Minas, na época “Dragões Del Rey”, como
também do transcurso dos noventa anos de criação do 4º
Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, única unidade de
cavalaria do Exército Brasileiro sediada no Estado de Minas
Gerais. Esta singular organização militar é integrante da 4ª
Brigada de Infantaria Leve de Montanha e, só por esse motivo já
alcançaria lugar de honra entre as tropas especiais de nosso
exército.
Porém, é importante salientar que os “Dragões Del Rey”,
primeira tropa de elite da Coroa Portuguesa no Brasil, além de
fazerem cumprir as determinações régias, os crimes de lesamajestade
e coibir revoltas internas – como a sedição de Vila
Rica de 1720, ou a revolta de Felipe dos Santos, considerada a
última revolta nativista colonial – forneciam segurança e
proteção para a população e os viajantes – quase sempre
tropeiros – nas Minas Gerais do século XVIII. Em vista dos
crimes de lesa-majestade ou de iminente conflagração, a Coroa
Portuguesa – na pessoa de Dom João V – tomou medidas firmes
para assegurar o controle dessa região, criando tanto as juntas
de julgamento, como também, enviando, em 1719 (conforme
disposto na Carta Régia de 20 de junho daquele ano), duas
Companhias de Dragões provenientes do norte de Portugal.
Essas últimas eram forças militares profissionais que tinham
como finalidade fazer cumprir a lei, controlar os escravos,
escoltar o transporte do ouro e reprimir distúrbios nas regiões
metropolitanas. Embora pareça um pouco dicotômico, essas
tropas, que poderiam ser auxiliadas por milícias criadas para
enfrentar casos de emergência, em que pese contar com suas
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fileiras formadas por maioria de brancos, eram compostas
,também, por ex-escravos, negros e mulatos, o que era algo
inédito e inovador até então, parecendo antever que um dia o
nosso país teria uma tropa genuinamente brasileira, sem
distinção de raça, origem ou condição social, uma “fusão de
raças e forte semente”, como é o Exército Brasileiro.
Convém destacar também que essas tropas de regimento
regular de cavalaria que vieram atuar na então Região das Minas
d'Ouro – por isso chamados de “Dragões Reais das Minas”–
foram os primórdios do surgimento da Polícia Militar em Minas
Gerais e de unidades semelhantes no Brasil – que os
substituíram, a partir de 1775, no combate às ações dos bandos
armados da Mantiqueira e Macacu – que atuavam nos “Sertões
do Leste”, hoje Zona da Mata Sul.
Interessante complementar que a quadrilha da Mantiqueira,
liderada por um cigano denominado Joaquim de Oliveira, que
tinha por alcunha “Montanha”, compunha-se de mestiços e
ciganos, e agia nos sertões da Mantiqueira durante os anos
iniciais da década de 1780. Atacando tropeiros que iam
abastecer a região das minas ou que desciam em direção ao Rio
de Janeiro com suas valiosas cargas.
De outro lado, nos sertões das Cachoeiras de Macacu –
Sertões do Leste (Zona da Mata Mineira) – atuou o bando de
contrabandistas, comandado pelo lendário “Mão de Luva”, que
agiu também nos anos iniciais da mesma década, composto por
brancos pobres, escravos, libertos e indígenas. Este bando, em
particular, ocupava-se do extravio do ouro para o Rio de Janeiro,
procurando, dessa forma, fugir dos “registros” (pontos de
controles dos portugueses) e dos destacamentos localizados
naquelas proximidades.
Não fosse a presença vigilante e repressora dos Dragões
Reais das Minas, que lhes impuseram sucessivas derrotas,
esses grupos teriam cumprido com êxito seus criminosos
intentos. Garantiu-se o império da lei e da ordem.
Recentemente, as várias missões cumpridas pelo “Nosso
Esquadrão”, tanto no Brasil como integrando Forças de Paz da
ONU – United Nations Operation in Mozambique (ONUMOZ);
Missão de Observação das Nações Unidas em Angola
10
(MONUA); Missão das Nações Unidas para Estabilização do
Haiti (MINUSTAH) –, atestam o adestramento da tropa, o forte
espírito de cumprimento do dever, profissionalismo e, ainda, o
permanente estado de prontidão dessa unidade. Fiéis à tradição
de seus predecessores, que há trezentos anos impuseram e
mantiveram a lei e a ordem no Brasil Colônia, os modernos
“Dragões Reais” continuam cumprindo sua missão com grande
devoção, abnegação e excessivo patriotismo.
Os relatos testemunhais contidos nesta obra, tanto de
militares da ativa, como da reserva, dão a devida sustentação à
atuação e o emprego das tropas dessa OM em missões
nacionais e internacionais. Devido à informalidade e a
autenticidade dessas memórias, as mesmas não foram tratadas
com rigor acadêmico, ou seja, sendo apenas adicionadas
as mesmas não foram tratadas com rigor acadêmico, ou seja,
sendo apenas adicionadas ao corpo textual da obra, sem
interferências do autor ou de terceiros. A somatória de todos
esses testemunhos revela, além dos atributos já destacados, a
irrestrita determinação e busca constante pela excelência e pelo
aprimoramento evolutivo permanente dessa tropa, retrados na
obediência devida às leis e na defesa do Brasil e da sua gente.
Conclui-se, por fim, que independentemente da época,
dos meios a serem empregados ou dos recursos disponíveis, o
fator humano será sempre determinante para o sucesso em
todas as ocasiões. Isto poderá ser comprovado facilmente nas
histórias relatadas durante a leitura. Assim, poderemos concluir,
ao término da mesma, que esses guerreiros modernos são
verdadeiramente os herdeiros incontestáveis e legítimos das
nobres tradições daquela primeira unidade regular de
Cavalaria, e reforçam os traços de identidade que os mantém
coesos nesse firme propósito de continuarem a ser uma tropa
tão especial.
Assim, nobres cavalarianos, saibam manter sempre viva
a herança e a memória dos feitos heróicos de seus
predecessores, de uma saga que foi iniciada há trezentos anos
e que continua a ser galgada com êxito, demonstrando às
gerações atuais e futuras de novos “Dragões Reais das Minas”
que o caminho a ser trilhado é sempre o da verdade e o da vida
11
em retidão, em qualquer época e em qualquer lugar.
Parafraseando o insígne patrono da arma de Cavalaria,
olhando os feitos dessa honrada unidade militar, com orgulho
posso afirmar também:
“É FÁCIL A MISSÃO DE COMANDAR HOMENS LIVRES,
BASTA MOSTRAR- LHES O CAMINHO DO DEVER!”
(Gen. Osório, Passo da Pátria, 1866)
VIDA LONGA AOS DRAGÕES!
VIDA LONGA À CAVALARIA!!
GENERAL DE BRIGADA ALCIO ALVES ALMEIDA E
COSTA
Comandante da 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha
(2019-2020)
12
ALMA DE CAVALARIANO
Assentado à beira do fogo de chão, no acampamento
brasileiro em Tuiuty, em plena campanha do Paraguai, o velho
soldado esquentava sua água para o chimarrão, quando foi
interrompido pelas palavras do recém-chegado voluntário da
Bahia: “por favor, como faço para conhecer o General Osório?”
Ao que lhe respondeu o velho, mansamente: “por que você quer
conhecê-lo?” “Ouvi dizer que sua liderança é tão grande que faz
a tropa superar qualquer desafio!” Disse o baiano, bastante
entusiasmado. O velho, fitando os olhos no jovem moço,
respondeu: “não é bem assim! Osório também tem medo e
muitas outras dificuldades. Sente aqui e vou te contar sobre
isso!” Os dois começaram uma longa conversa, regada a
chimarrão e, ao terminá-la, o velho chamou um soldado que
estava próximo à barraca e lhe disse: “acompanhe esse novo
soldado até sua barraca, para que não se perca no campo!” O
baiano, ao levantar-se, agradeceu a cordialidade e, antes de
sair, perguntou ao velho: “qual seu nome?” O velho, antes de
sorver o mate, respondeu: “Manuel Luís..seja bem-vindo ao
Paraguai!” Ao saírem dali, o baiano, frustrado por não ter
conhecido o famoso general, mas admirado pela atenção do
velho, confidenciou ao soldado que lhe acompanhava: “gostei
desse velho, muito atencioso esse tal Manuel Luís, não é?” O
soldado então abriu um sorriso e lhe respondeu: “ele é sempre
assim! Esse é o General Osório!” Adaptado do livro Osório:
síntese de seu perfil histórico. (MAGALHÃES, 2008, p.332).
Esse texto resume a essência do que é o Cavalariano.
Valentia, destemor, coragem, iniciativa, astúcia, em suma: um
guerreiro. Mas isso não o torna desumano. A humildade, a
camaradagem e a empatia para com seus semelhantes o fazem
ser diferente e único, tanto na guerra, quanto na paz.
Quando assumi o Comando do 4º Esquadrão de Cavalaria
Mecanizado, para o biênio 2019-2020, foi com grande satisfação
que me inteirei da sua singular condição de herdeiro das
tradições e da missão precípua dos DRAGÕES REAIS DAS
MINAS (os antigos DRAGÕES DEL REY), e que é a
Denominação Histórica dessa Organização Militar, fato este que
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me confere uma maior responsabilidade ao ter a oportunidade
de liderar tropa tão ímpar. Os modernos DRAGÕES,
aquartelados em Santos Dumont-MG, e que são os
responsáveis pela operacionalidade e adestramento
exemplares da única unidade da Arma de Cavalaria do
Exército Brasileiro nas Minas Gerais, sempre prontos a atender
ao chamado dos seus Comandantes, e da Pátria, sentem um
vívido orgulho pela distinção de serem os continuadores e
preservadores do legado da primeira unidade de Cavalaria
Regular a atuar em território nacional, ainda no período colonial
e, mais ainda, por se tratar de uma tropa de elite que
possibilitou o estabelecimento da ordem pública, da legalidade
e da paz social nas plagas mineiras.
Como mineiro honorário da imponente Mantiqueira, sinto
que esses laços, essa relação histórica, se estreitam mais e
mais a cada dia de caserna. Aprendo pouco a pouco, a todo o
momento, e quanto mais me cerco de informações relevantes
sobre essa saga que se iniciou no século XVIII, mais
precisamente em 1719, aumenta a convicção, a disposição e a
determinação de que fui agraciado com essa oportunidade,
tanto na minha carreira militar como na vivência cidadã, de
ombrear com tão relevante passado e tão promissores presente
e futuro dessa linhagem de guerreiros.
Este Livro comemora e enaltece os trezentos anos da chegada
das duas primeiras Companhias de Dragões vindas do norte de
Portugal, com sessenta homens cada, no tempo do Conde de
Assumar (D. Pedro de Almeida Portugal), bem como as
relevantes ações realizadas ao longo dos noventa anos do 4º
Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, o “ESQUADRÃO
DRAGÕES REAIS DAS MINAS”. Aprouve ao DEUS Todo-
Poderoso que essa distinção se desse sob o meu Comando
nesta OM. Me sinto honrado por essa tarefa, de sorte que me
presto a responder a esse chamado para me inserir, em
definitivo, na conclusão dessa missão.
Caberia, ainda, um capítulo inteiro apenas para agradecer
ao legado imensurável construído e deixado por algumas
personalidades ímpares, civis e militares que muito contribuíram
para o engrandecimento do “Nosso Esquadrão”, sem as quais a
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nossa história estaria incompleta. Seria, porém, uma tarefa
impossível de ser feita com toda a justiça que merece, posto que
algum nome poderia ser olvidado.
Por fim agradeço ao Professor Cléber, amigo e entusiasta
da causa deste Esquadrão, pela honra que me foi concedida,
permitindo-me tecer essas breves palavras.
Coronel Marcus Aurélio de Albuquerque Pinto.
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INTRODUÇÃO
Paolo Mantegazza (1831-1910), neurologista, fisiologista
e antropólogo italiano, além de escritor de ficção, frisou, certa
vez, que “O homem a pé é uma inteligência que procura; o
homem a cavalo uma inteligência que conquista; o homem a pé é
um filósofo que observa e pensa; o homem a cavalo é um
pensamento que devora o espaço e que domina o mundo”.
Externalizando uma reflexão direta e objetiva, já antecipando as
devidas vênias a interpretações díspares e não tão pontuais,
através da qual me parece inegável que o mesmo tenha
conseguido captar e transformar em um tão arguto e belo e
preciso pensamento tudo aquilo o que representa as obras e as
conquistas atemporais e milenares da Cavalaria e o sentimento e
a alma que revestem e talham os briosos Cavalarianos.
São tantos os exemplos de grandes figuras da História
que se sobressaíram como Comandantes dessa Arma que
apenas citar o fato de que o maior General de todos os tempos,
Alexandre, o Grande, aos 16 anos já era líder do Esquadrão de
Elite da Cavalaria Real Macedônica, conhecida como a “Ponta”,
o qual foi decisivo tanto na conquista da Grécia como na
construção do posterior Império Helenístico; uma garantidora de
vitória nas mais decisivas batalhas. A qualquer um que cruza os
portões de qualquer OM de Cavalaria, ou que tem contato com
um Cavalariano, resta a certeza que há ali um singular e verídico
amor pelos animais, como que mantendo a herança de
Alexandre, o Grande, que tanto apreço, carinho e dedicação
sempre demonstrou por dois grandes e ternos amigos e
companheiros: Bucéfalo, seu majestoso Cavalo; e Péritas, seu
fiel Cachorro – um molosso, que se sacrificou para salvar o dono
em batalha contra os Malos, na confluência do Rio Indo.
Avançando um pouco mais no tempo, Fedeli (2018, p. 1)
esclarece que, na Idade Média, a Cavalaria “era a forma cristã da
condição militar” e “o cavaleiro era o soldado cristão” na sua
plenitude, e que mais do que uma instituição, a Cavalaria foi um
ideal de vida militar, que foi por meio dela que a Igreja
transformou os bárbaros em santos. Assim, quando se compara
um soldado bárbaro, valente, mas ainda cruel, forte, mas
16
grosseiro, com ossantos produzidos pela Cavalaria
compreende-se o valor dela: São Luis, rei de França, São
Fernando, rei de Castela, o condestável de Portugal,
Nun'Álvares Pereira, e Santa Joana D' Arc, foram alguns dos
santos gerados pela Cavalaria.
Ligada as origens precursoras dos Estados Nacionais
Modernos (FEDELI, 2018, p. 2), na Europa, a Cavalaria nasceu
dos costumes germânicos cristianizados pela Igreja, pois ela
não surgiu por um decreto, nem foi fundada por um homem
determinado, uma vez que desabrochou naturalmente dos
costumes germânicos, sobrenaturalmente purificados pelo
cristianismo. Em seu código de honra, composto por 10
condutas irrefutáveis, algumas se destacam pela sua
continuidade evolutiva – frisando que osnão citados se
encontram relacionados a práticas e pensamentos medievais
não mais tão presenciais na nossa contemporaneidade (ibidem,
pp. 5-6): 2º Mandamento: Defenderás a Igreja; 3º
Mandamento: Respeitarás os fracos; 4º Mandamento:
Amarás o país em que nasceste; 5º Mandamento: Não
recuarás diante do inimigo; 8 º Mandamento: Não mentirás e
serás fiel a palavra dada; 9º Mandamento: Serás generoso e
farás liberalidade a todos; 10º Mandamento: Combater o
mal e defender o bem.
Os tempos pacifistas, relativistas e ecumênicos em que
vivemos, em que "há guerras e rumores de guerra", tempos
próprios para os falsos profetas chamarem “Pax! Pax!”,
quando não há paz, não admitem a liceidade da guerra, que
consideram um ato bárbaro e injusto em si, sem
possibilidade de ser santificado. Tempos, os nossos, em que
se vendem as espadas, para se comprarem mantos. Tempos
pacifistas que obrigam a uma explicação: a guerra é lícita?
Não é a guerra uma coisa essencialmente contrária, ao
espírito cristão? Não se deve buscar a paz?
A Igreja sempre ensinou que a guerra é um mal, mas um mal,
às vezes, necessário, para evitar um mal maior. Ela é como
uma operação cirúrgica, que é sempre um mal menor e
necessário para evitar o mal maior da morte. A guerra é uma
operação cirúrgica no mundo, para exterminar o câncer da
injustiça. Ela visa restabelecer a justiça, porque, sem esta,
não há paz verdadeira. "Opus justitiae pax”. A paz é o efeito
17
da justiça. Uma paz que consista apenas na inexistência de
lutas armadas é comparável à paz do canceroso que não sabe
de seu mal, e que, por isso, não se opera, pensando que está
bem, enquanto a morte silenciosamente corrói suas
entranhas.
A guerra é, pois, lícita quando visa restabelecer a justiça.
A paz é a tranqüilidade na ordem, ensinou Santo Agostinho.
Quando a desordem e a injustiça perturbam a paz, é preciso
restaurar a justiça pela espada. Assim como o médico
restaura a saúde com o bisturi. A guerra deve visar a
restauração da ordem, da justiça e, por elas, a restauração da
paz. Por isso dizia. Santa Joana D 'Arc: "Só se obterá a paz, na
ponta da lança".
Por outro lado, Santo Agostinho mostra que o mal da guerra
não é nem a morte, nem a destruição, mas o ódio. Se a guerra
for feita por amor à justiça, ela será um ato virtuoso. Por isso,
Cristo não condenou o uso da espada, antes pelo contrário,
ordenou que São Pedro a guardasse, para usá-la, quando
fosse justo e conveniente.
A guerra é inevitável, porque sempre haverá maus. (GRIFO
NOSSO) (FEDELI, 2018, pp. 2-3)
Nascimento (2016, pp. 233-44) enumera as qualidades
do Cavaleiro: Coragem; Nobreza; Honra; Palavra
Empenhada. E mesmo sendo frutos de uma conjuntura e de
uma época passadas, ainda são “espelhos” nos quais a ética e o
caráter da Cavalaria e do Cavalariano buscam se mirar para
manter e aperfeiçoar as suas tradições e a sua marca
conjuntural/estrutural, indelével e unitária.
Talvez a grande compilação a respeito de tudo o que
deveria ser e fazer a Ordem dos Cavaleiros, da qual, insisto, a
Cavalaria e os Cavalarianos desde então, e os atuais,
prosseguem na sua senda, é “O Livro da Ordem de Cavalaria
(c. 1274-1276)”, de Ramon Lull (Raimundo Lúlio), o qual inicia
sua obra com a seguinte citação/solicitação/prece “Deus
honrado, glorioso, que sois cumprimento de todos os bens,
por vossa graça e vossa bênção começa este livro que é da
Ordem de Cavalaria”. Sobressaem-se, na PARTE II. DO
OFÍCIO QUE PERTENCE AO CAVALEIRO, três determinações
basilares (2000, p. 2):
18
13– Nenhum ofício há que seja feito que não possa ser desfeito;
porque se o que é feito não pudesse ser desfeito nem destruído, só o
que é feito seria semelhante a Deus, que não é feito nem pode ser
destruído. Logo, como o ofício de cavalaria é feito e ordenado por Deus
e se mantém por aqueles que amam a ordem de cavalaria e que estão
na ordem de cavalaria, por isso, o malvado cavaleiro que se vai da
ordem de cavalaria desama o ofício da cavalaria, desfaz em si mesmo
a cavalaria.
17 – Se a menor nobreza de coragem fosse melhor conveniente com a
ordem de cavalaria que a maior, concordar-se-iam fraqueza e covardia
com cavalaria contra ardor e força de coragem; e se isto fosse assim,
fraqueza e covardia seriam ofício de cavaleiro, e ardor e força
desordenariam a ordem de cavalaria. Logo, como isto seja o contrário,
por isto, se tu, cavaleiro, queres e amas muito a cavalaria, te convém
esforçar para que, quanto mais fortemente tiver faltas de
companheiros e de armas e de mantimentos, ajas ardorosamente e
com coragem e esperança contra aqueles que são contrários à
cavalaria. E se tu morres para manter a cavalaria, então tu tens a
cavalaria naquilo que mais pode amar e servir e ter, porque cavalaria
em nenhum lugar está tão agradavelmente como em nobreza de
coragem; e nenhum homem não pode mais amar nem honrar nem ter
cavalaria que aquele que morre pela honra e a ordem de cavalaria.
18 – Cavalaria e ardor não se convêm sem sabedoria e sentido, porque
se o fizessem, loucura e ignorância seriam convenientes à ordem de
cavalaria; e se isto fosse assim, sabedoria e sentido, que são
contrários a loucura e ignorância, seriam contrários à ordem, e isso é
impossível, pela qual impossibilidade é significado a ti, cavaleiro que
tens grande amor à ordem de cavalaria, que assim como cavaleiro, por
nobreza de coragem, te faz haver ardor e te faz menosprezar os
perigos, para que a cavalaria possas honrar; assim à ordem de
cavalaria convém que se faça amar sabedoria e sentido, e que
busquem honrar a ordem de cavalaria contra o desordenamento e o
falecimento que existem naqueles que cuidam seguir a honra da
cavalaria pela loucura e pela míngua de entendimento.
Apesar de uma singular conjunção histórica em 2019, nesse
prólogo não irei discorrer sobre os trezentos anos da chegada dos
Dragões Reais das Minas, em 1719, a primeira Unidade Regular de
Cavalaria do Exército Português em terras brasileiras, e também a
primeira força/tropa de elite a atuar em solo pátrio, tampouco sobre a
19
OM que deu origem, em 1929, isso há noventa anos, ao atual 4º
Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, uma vez que tais
temáticas serão devidamente tratadas em capítulo específico.
Sua intenção é a de tão somente ilustrar e iniciar os leitores nas
origens e nas tradições milenares e atemporais da Arma de
Cavalaria e de fornecer uma pálida e simplificada noção daquilo
que é ser Cavalariano.
No estudo da História, trabalhando com os métodos
acadêmicos e os rigores científicos da Historiografia, evitando
assim os descaminhos, erros e idiossincrasias típicos da
historicidade, e pautado na mais isonômica e concreta
observação e descrição dos fatos/períodos enfocados, há que,
ininterruptamente, ser vigilante, objetivo e, principalmente,
honesto/sincero na exposição do objeto em análise. Michel
Eyquem de Montaigne – ensaísta e escritor francês (séc. XVI) –,
nos ensina que “A palavra é metade de quem a pronuncia,
metade de quem a ouve”, e, em assim sendo, o Historiador
jamais deve desinformar ou induzir ao erro premeditado.
Mesmo não tendo servido nessa OM, nem jamais ter
prestado o serviço militar, orgulho-me de ter uma simbiose um
tanto quanto sui generis com o 4º Esquadrão de Cavalaria
Mecanizado DRAGÕES REAIS DAS MINAS: o escolhi como
minha “segunda casa”; e acabei sendo que “meio adotado”, algo
como um CAVALARIANO EMÉRITO. Em assim sendo, desde os
anos finais da ultima década do século XX, essa associação
permanece, possibilitando-me, entre tantas outras gratas
satisfações, ter me sido conferida a honra de ser o co-autor do
seu Projeto de Denominação Histórica; em parceria com meu
Irmão D'Armas, o saudoso, na época, Sargento Franz
HOLSTEIN Ligório da Fonseca.
Em 16 de Janeiro de 2019, no final da manhã, próximo
às 12:00 horas (meio-dia), o Tenente-Coronel Marcus Aurélio me
incumbiu de mais essa missão, a de escrever esse livro alusivo
ao tricentenário da chegada dos Dragões Reais das Minas e do
nonagésimo aniversário de fundação dessa OM.
20
Como é prática da Cavalaria, na observância da Disciplina e
da Hierarquia, vamos logo à carga para atender ao chamamento
do Comando/Dever/Missão.
O autor
21
1. HISTÓRICO CONCISO
Uma vez mais, seguindo o espírito da Cavalaria de rapidez e de
objetividade no cumprimento das suas missões, e também de
em tudo usar de parcimônia e de sempre agir de modo a
amealhar meios e recursos, atuando com o devido laconismo, a
descrição sobre as origens históricas tanto dos Dragões Reais
das Minas como as do 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado
serão apresentadas de forma sucinta e direta. Em relação à
saga da tricentenária primeira tropa regular de Cavalaria a atuar
em solo pátrio, tal resumo em muito se justifica pelo fato de já se
ter procedida uma análise e produção textual bem mais
detalhada e completa quando da elaboração do Projeto de
Denominação Histórica desta OM.
A descoberta do ouro nas Minas Gerais, no então
Campos dos(de) Goytacazes, no final do século XVII, na região
do Serro Frio, com o encontro dos cascalhos auríferos
(faiscadoras) nos sertões do rio Casca, por volta de 1693 –
apesar de alguns historiadores como Carvalho Franco, no
«Dicionário dos Bandeirantes e Sertanistas do Brasil» dizem ser
provável que 12 anos antes Borba Gato e os seus (outros dizem
20 anos antes) já tivessem colhido algumas amostras às
margens do rio das Velhas –, por Antônio Rodrigues Arzão,
bandeirante nascido em Taubaté – filho do capitão Manuel
Rodrigues Arzão (morto em 1700) e de Maria Afonso ou Afonso
de Azevedo –, o qual, seguindo os passos da bandeira de
Fernão Dias Pais, organizou em 1693, uma expedição que
penetrou no Embaú, em Minas Gerais, e, através de Itaberaba,
dirigiu Tripuí, rio histórico de Ouro Preto. Essa epopéia é assim
descrita na seção de Biografias do Portal São Francisco (2018, p. 2 -
https://www.portalsaofrancisco.com.br/biografias/antonio-rodrigues-arzao)
Era o cabo de bandeira escravagista que teria, em 1693 (a data
se ignora, especula-se que foi a partir de 1690) achado ouro na
casa da Casca, assim chamada, não deu importância ao
achado, pois nunca cogitou em pedir ao rei qualquer proveito.
Sertanista dos antigos, penetrou o sertão à cata de
esmeraldas, em demanda do Itaverava com mais ou menos 50
22
homens entre os quais se achava seu cunhado José
Gonçalves de Carvalho, casado com Catarina de Camargo,
filha de Fernando Ortiz de Camargo o Moço. Assim chegou aos
sertões da Casca ou distrito do Cuieté (ou Caeté, “mato
bravo”) a cinco léguas do rio Doce- e, guiado por uma índia,
descobriu cascalhos de ouro – ou, dizem, teria achado no
córrego onde lavavam os pratos.
No Itaverava, tivera as mesmas dúvidas que Vicente Lopes,
decidindo prosseguir – e foi ter à serra do Guarapiranga, de
onde pela manhã avistou os pincaros agudos da serra dos
Arrepiados por efeito da luz parecendo mais próximos;
descendo nessa direção encontrou o rio Piranga, em seu
melhor braço, aurífero, e índios da nação puri que lhe falaram
de um manacial melhor, o do rio Casca, originário da
cordilheira. No ramo superior desta, chamado hoje serra do
Brigadeiro, havia o pico chamado Pedra Menina que tem
parecença com o Itacolumi, por isso se enganou.
Sua comitiva teria morrido de febres, os índios não o quiseram
acompanhar,ou temendo os conquistadores no vale do
Sipotaua (Xopotó, «cipó amarelo») e só queriam aceitar seguilo
para o Espírito Santo, muito mais perto do que Taubaté.
E assim foi. No Casca, o sertanista enchera os alforges destes
ouros, do que ofereceu três oitavas ao Capitão-Mor regente
João Velasco de Molina, que delas fez três moedas) e à câmara
de Vitoria, onde chegou descendo o rio Doce. As oitavas
apresentadas foram as primeiras de que se acha relação dos
registros de São Paulo. Com o fracasso da bandeira, teria
desertado Duarte Nunes, o descobridor do ouro preto? O fato é
que voltou ao Rio e Santos e de lá a São Paulo.
O historiador mineiro Diogo de Vasconcelos detalha a viagem
de Arzão que, após breve estada em Itaverava, alcançou a
Serra do Guarapiranga de onde, pela manhã, avistou os
píncaros agudos da serra de Arrepiados. Afirma que, em razão
da luz oriental, supôs mais próxima a serra. Seguindo, então,
em sua direção, encontrou o rio Piranga.
O historiador mineiro Diogo de Vasconcelos detalha a viagem
de Arzão que, após breve estada em Itaverava, alcançou a
Serra do Guarapiranga de onde, pela manhã, avistou os
23
píncaros agudos da serra de Arrepiados. Afirma que, em razão
da luz oriental, supôs mais próxima a serra. Seguindo, então,
em sua direção, encontrou o rio Piranga.
A riqueza que vinha para salvar o projeto colonizador
português, desde a crise do Ciclo do Açúcar, provocou, na
colônia, grandes agitações, sendo que os locais demonstraram
ser um povo "aguerrido, vaidoso do seu poderio" nas
montanhas, conscientes de que a lei apenas seria cumprida se
houvesse a concordância de seus habitantes.O povoamento da
região provocou graves litígios, e mesmos conflitos, e teve de ser
regulada a entrada de colonos (brasileiros, portugueses) através
da imposição de cotas anuais, e foi assim que, no começo do
século XVIII, começou a Guerra dos Emboabas, contrapondo o
emboaba Manuel Nunes Viana a D. Fernando de Mascarenhas e
aos paulistas, e que resultou na separação da capitania de São
Paulo e Minas de Ouro (Real Capitania das Minas de Ouro e dos
Campos Gerais dos Cataguases) do Rio de Janeiro, em 1709.
O adestramento Militar dos nossos atuais Dragões Reais
das Minas requer o entendimento histórico sobre o
desenvolvimento das Minas Gerais e dos “porquês” seus
“antepassados” foram para cá enviados:
2 – O QUE É SER UM DRAGÃO REAL DAS MINAS
DRAGÕES REAIS DE MINAS”, nome pelas quais eram
conhecidas as três Companhias de Dragões de Cavalaria
que aqui se instalaram à partir de 1719 na Vila de Nossa
Senhora do Ribeirão do Carmo( Mariana - MG) e que foram
reunidas em 1775 formando assim o Regimento de Dragões
Reais de Vila Rica (Ouro Preto - MG), unidade do Exército
Real Português baseada na Minas Gerais no período
colonial brasileiro, salientando que eram tropas do primeiro
escalão de defesa da capital da Coroa e não as costumeiras
tropas de Milícias, Auxiliares, Ordenanças ou de
Pedestres.
Às duas Companhias de Dragões do Exército do tempo do
Conde de Assumar ( D. Pedro de Almeida Portugal, 1719)
24
– aboletados – veio se juntar uma terceira, que guarnecia o
Distrito de Minas Novas, quando este foi desligado da
Bahia e anexado a Minas (1757). O Governador Antônio de
Noronha reuniu estas três Companhias no Regimento de
Dragões, criado em 1775, para o qual construiu o quartel,
em Cachoeira do Campo, prédio em grande parte
conservado, atual sede das Escolas Dom Bosco, por
doação aos Salesianos, no governo de C. J. Bias Fortes.
· “Descobertos os veios de ouro pelos bandeirantes
paulistas, nas últimas décadas do século VXII, formou-se o
caminho que ligava São Paulo à região das minas,
passando pelo Rio de Janeiro, conhecido como Caminho
Velho.O tempo gasto e as dificuldades encontradas para
percorrer este trajeto mostraram a necessidade de se
descobrir um novo caminho que, com mais facilidade,
principalmente com mais rapidez, conduzisse do Rio de
Janeiro às Minas. Coube ao sertanista Garcia Rodrigues
Paes a incumbência deste projeto. Segundo orientação do
governador e capitão general do Rio de Janeiro, Artur de Sá
e Menezes, partiu do Rio de Janeiro, por volta de 1700 /
1701, para desbravar o território mineiro, buscando abrir a
picada do Caminho Novo, obra que mais tarde foi concluída
por Domingos Rodrigues da Fonseca.
A própria palavra Mantiqueira ou Mantiquira ou
Amantiqueira se perde em apreciações de gírias locais e /
ou de derivações, mas sempre atentando para as
periculosidades intrínsecas e relacionadas ao termo –
ladroeira; manta e capa de lã, em sentido figurado, ardil e
trapaça. Tal afluxo de bandoleiros, assassinos, quadrilhas
organizadas, vivaldinos, contrabandistas, invasores,
fugitivos da justiça, sonegadores do fisco real, seus
comparsas locais, e tantos outros personagens
igualmente não tão dignos, tornou de uma urgência
primordial a instalação e a atuação de efetivos militares
que respaldassem os interesses portugueses nas minas
do ouro. O combate a célebre e famigerada quadrilha da .
25
Serra da Mantiqueira, que apavorava os incautos viajantes
pela sua brutalidade e auferia sempre maiores prejuízos ao
erário régio, foi determinado por Dom Rodrigo José de
Menezes, empreendimento magistralmente levado a cabo
pelo hábil comando e determinação de dois futuros
inconfidentes, o Coronel José Ayres Gomes e o Alferes
Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes. Em carta
endereçada às autoridades portuguesas, datada de 19 de
abril de 1783, na Borda do Campo, o Alferes Joaquim José
da Silva Xavier descreve, com detalhes, os resultados de
suas surtidas contra os salteadores do Caminho Novo,
missão desempenhada com a supervisão do Tenente
Coronel José Ayres Gomes. Em carta endereçada às
autoridades portuguesas, datada de 19 de abril de 1783, na
Borda do Campo, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier
descreve, com detalhes, os resultados de suas surtidas
contra os salteadores do Caminho Novo, missão
desempenhada com a supervisão do Tenente Coronel José
Ayres Gomes.
De geração em geração, histórias da perigosa saga dos
viajantes que por aqui se aventuravam, em especial sobre a
atuação do terrível Montanha e de seus famigerados
sequazes, bem como de relatos sobre outros bandidos. A
presença constante de malfeitores, e a existência de uma
Casa Forte, fez com que Bernardo José de Lorena, do
Conselho de Sua Majestade Governador e Capitão General
da Companhia da Capitania das Minas Gerais,
determinasse a criação e instalação de uma Companhia de
Ordenanças no Distrito da Capela de São Miguel e Almas do
Caminho Novo do Rio de Janeiro – conseqüência da já
citada carta de Tiradentes-, e cujo comando primeiro foi
auferido “no Posto do Capitão delas o dito Gonçalo Gomes
Martins, a qual Companhia se compõe de sessenta
soldados com seus competentes oficiais”.
Às margens do Caminho Novo estavam as sesmarias, cujas
concessões visavam, em pleno fastígio do ouro, garantir a
26
formação de lavouras que permitissem suprir os
bandeirantes em suas jornadas às minas. Para descanso do
viageiro, e abrigo nas longas caminhadas, os pousos
nasciam ao comprido da grande via. Furnas e casas-fortes
para segurança das riquezas transportadas, capelas para a
oração. Numa delas, obtida em 1709, por Domingos
Gonçalves Ramos, na atual cidade de Santos Dumont, então
despontou um agrupamento com casario disperso, futuro
arraial de João Gomes, nome de um lavrador adquirente.
Nas terras aparecem ranchos para os viajantes do Caminho
Novo se abrigavam. Próximo, cresceu lavoura e criação.
Levanta-se, mais tarde, a primitiva capela de São Miguel e
Almas, cuja construção deve-se talvez ao velho João
Gomes. A capela, a margem do Caminho Novo, é dedicada a
São Miguel e Alma, protetores invocados dos bandeirantes
na perigosa travessia da Mantiqueira.
Cabe aqui lembrar que a cidade de Santos Dumont, sede do
4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, encontra-se
localizada justamente nesta “encruzilhada”, nesta “artéria
vital”, pois se situa estrategicamente no sopé da Serra da
Mantiqueira, divisando, simultaneamente, a subida para a
região das minas de ouro e a descida para o vale do Rio
Paraibuna, para o Registro / Pedra do Paraíbuna e sua
posterior descida pela região serrana fluminense até
alcançar a faixa litorânea do Rio de Janeiro.(ALMEIDA DE
OLIVEIRA, 2011, pp. 2-3)
Frisando que, como ainda não havia força militar portuguesa
permanente para impor as Ordenações Filipinas, e as Reformas
Pombalinas, as leis, nos sertões, eram impostas por verdadeiros
"régulos" (designação dada na historiografia e administração
colonial portuguesa aos chefes tribais e outros potentados
africanos e mais raramente da Ásia, nomeadamente de Timor),
em que o governo era distante e não dispunha de força, ao
contrário dos habitantes – solidários, organizados e armados.
Lembrando que a organização militar portuguesa para suas
colônias obedecia ao seguinte tripé: as Tropas pagas, também
27
conhecidas como Regulares ou de 1ª linha (1641), todos os
praças que as compunham recebiam soldo por se tratarem de
pessoas com a devida instrução militar, submetidas a
treinamentos especializados para que pudessem dominar o
manejo das armas e o conhecimento tático a ser utilizado em
batalhas; as tropas de Auxiliares, ou 2ª linha (1645),
apresentavam diversas semelhanças com as Ordenanças,
constituíam-se igualmente da população civil e não tinham
direito ao recebimento do soldo, exceto os mais altos oficiais,
que geralmente eram deslocados das tropas pagas para treinar
os soldados destes corpos, recebiam, portanto, treinamento
militar; as Ordenanças, ou Tropas de 3ª linha, se
institucionalizaram em Portugal durante o governo de D.
Sebastião, no ano de 1570, quando surgiu a necessidade da
organização de uma defesa mais local e específica em
detrimento daquelas gerais e mais abrangentes, priorizadas até
então, seu estabelecimento foi um mecanismo de
municipalização da prática de recrutamento da população, em
cada localidade era eleito um comandante máximo das
Ordenanças, o Capitão-mor, responsável pelo alistamento de
toda a população sob sua supervisão, levantando os
equipamentos militares e montarias de cada habitante, em tais
corpos eram permitidos a participação de pretos e pardos,
principalmente após a intensificação dos conflitos lusocastelhanos
no sul do território brasileiro na segunda metade do
XVIII.
3 – UNIDADES MILITARES NAS MINAS COLONIAL
Os regimentos auxiliares seriam os corpos militares
formados pelos vassalos não pertencentes à tropa regular
ou às ordenanças. Teoricamente, teriam como
responsabilidade auxiliar as tropas regulares na defesa das
fronteiras. Seus integrantes não recebiam soldo,
fardamento, equipamento ou armamento. Seriam
organizados pelos poderosos locais e sua estrutura
hierárquica assemelhava-se aos corpos regulares: coronel,
tenente-coronel, sargento - mor, ajudante, capitães,
tenentes, alferes, porta - estandartes, sargentos, furriéis,
28
cabos- de-esquadra, anspessadas e soldados (entre 38 e
41 praças).
Nos finais do século XVIII as Minas possuiriam cerca de 247
companhias de ordenanças; as ordenanças estavam
divididas em “homens de pé” e “homens de cavalo”. As
ordenanças, formadas pelos moradores locais (vassalos),
eram designadas de acordo com as localidades onde
estavam sediadas e com a qualidade de gente que as
compunham. As ordenanças atuariam localmente para
preservar a tranqüilidade e o sossego públicos. Em cada
vila existiria um capitão-mor responsável por um conjunto
de ordenanças de homens pardos, pretos libertose brancos
– Câmaras Municipais.
Nas Minas setecentistas os homens pardos e negros
estariam agrupados, basicamente, em quatro espécies de
milícias:
a) as companhias auxiliares de infantaria;
b) as companhias de ordenanças de pé (destruição de
quilombos, repressão aos índios, defesa de fronteiras
– terrestres e marítimas, auxílio a tropas regulares) ;
c) os corpos de pedestres (evitar extravio e contrabando,
caçar escravos fugidos)
d) e os corpos de homens-do-mato (defesa de vilas e
arraiais contra quilombolas e “selvagens”, ações
ofensivas e defensivas, não podiam ficar nas cidades e
sim no mato);
Seus comandantes eram todos homens brancos. Essas
milícias foram institucionalizadas nas Minas a partir dos
primeiros anos dos setecentos e foram vistas de maneiras
distintas pelas diversas autoridades portuguesas.
Resultado das reformas militares do Conde de Lippe (1776),
em Portugal e da necessidade de se reforçar os efetivos
militares em função dos conflitos com os espanhóis. A
partir da reestruturação militar, a reunião das companhias
29
auxiliares de infantaria de homens pardos e pretos libertos
receberia a designação de terço. A comandar o terço, estaria
o mestre-de-campo. Quando uma companhia de homens
pardos ou pretos libertos, por especificidade da missão a
desempenhar ou pela distância em que se encontrava, não
pudesse ser reunida ao terço, receberia a denominação
companhia franca. (ALMEIDA DE OLIVEIRA, 2011, pp. 4-5)
Na América lusa haviam diferentes formas de se incorporar
os homens de cor (negros, mulatos e pardos) escravizados,
forros ou livres no âmbito militar. Tais homens podiam, por
exemplo, serem utilizados de uma forma privada, como uma
espécie de guarda pessoal constituída informalmente, isto
é, sem a conotação militar que se associava às tropas de
homens de cor montadas recorrentemente durante todo o
período colonial em caso de necessidade, sendo a mais
famosa conhecida como “Terço dos Henriques”. (COSTA,
2015, p. 1)
Tal processo também se deu na cidade sede da OM dos
atuais Dragões Reais das Minas – conhecida inicialmente como
Rocinha de João Gomes, passando a Fazenda de João Gomes,
Distrito de João Gomes, João Gomes Velho, Palmyra e
atualmente Santos Dumont –, pois uma carta do Alferes Joaquim
José da Silva Xavier, o Tiradentes, de 1783, requerendo maior
patrulhamento nessa região, e representação de autoridades
de Barbacena, levou à criação da Companhia de Ordenanças do
Distrito da Capela de São Miguel e Almas do Caminho Novo do
Rio de Janeiro. Castello Branco (1988, pp. 34-5) detalha que, do
Conselho de Sua Majestade Governador e Capitão General da
Companhia da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de
Lorena, em 27 de abril de 1798, na capital – Vila Rica de Nossa
Senhora do Pilar do Ouro Preto –, cria, em conformidade com o
Cap. 19 do Regimento dos Governadores, a citada Companhia,
tendo como Capitão Mor Manoel de Sá Fortes Bustamante
Nogueira, e a qual era composta por, segundo o documento
oficial (ANEXOS), “sessenta soldados com seus competentes
oficiais
30
Aprofundando sobre essas organizações militares precursoras
no pós - Guararapes (Insurreição Pernambucana – 1645-54):
Durante o século XVII, a organisação militar verdadeiramente
digna de interesse no Brasil é a pernambucana, visto como
aquella região sahia de uma terrível luta. Após Britto Freire, em
1663, em plena paz, o conde de Óbidos reformou o que aquelle
fizera, reduzindo toda a tropa a dois únicos terços completos. Mais
tarde, o governador Henrique Luiz Freire creou o regimento de
dragões auxiliares, a pé, dividido em dois batalhões de dez
companhias cada um, com 1.200 bayonetas, tambores e
officiaes, repartido pelos districtos de Olinda, Recife, Beberibe,
Cabo e Iguarassú. Havia mais, então, dois regimentos de
cavallaria ligeira de ordenanças, um com 600 cavallos nos
districtos cie Itamaracá e Goyana, outro com 500, nos de Alagoas,
Porto Calvo e Serinhaem.
Em Olinda e Recife estacionavam dois regimentos de infantaria
paga, tropa activa, não territorial como as outras, cada qual com
dez .companhias, sendo uma delias de granadeiros, e mais 150
soldados de artilharia. Eis o effectivo de cada companhia: 44
soldados, quatro cabos, dois sargentos, um alferes, um tenente,
um capitão e um tambor; as de granadeiros eram maiores: 55
soldados, os mesmos inferiores e superiores e, além do tambor,
um pifano ou pifaro.
Conservava-se, religiosamente, o terço preto de Henrique Dias,
por patente do conde da Torre, de 4 de setembro de 1639,
nomeado Primeiro Governador e Cabo dos Negros e Mulatos do
Brasil.
Completava essa organisação militar uma força de 13
companhias de ordenanças (cavallaria) e quatro terços de
infantaria, distribuídos por freguezias e co-marcas. No meiado do
século XVII, toda essa tropa era regularmente fardada e armada.
Com a mesma formação de reserva territorial, havia no Ceará e
Rio Grande do Norte dois terços de infantaria e um regimento de
ordenanças, cuja efficiencia era em extremo precaria. Ademais,
umas duas companhias de infantaria, para guarnição dos fortes,
chamadas "companhias fixas" ou "pés de Castello". A mesma
organisação, mutatis mutandis, nas outras capitanias.
No começo do século XVIII, de 1718 a 1720, assume a de
Minas Geraes importancia maior, devido ás suas grupiaras )
31
auríferas e garimpos diamantiferos. O governo portuguez manda
para alli, como guarnição e policia, as duas famosas
companhias dos dragões reaes das Minas, com 60 homens cada
uma. (GRIFO NOSSO) (RODRIGUES, BARROSO, 1922, p. 7)
Para estabelecer o controle régio contra os descaminhos do
ouro, o Rei Dom João V nomeou Dom Pedro Miguel de Almeida
Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, como governador,
e, tais medidas, e, principalmente, o envio dos soldados era uma
precaução contra a exorbitante cobrança imposta, antecipando
a Coroa que haveria resistência, e o “pulso firme” do Conde de
Assumar já havia despertado a antipatia entre os mineiros e,
quando os primeiros militares chegaram em Ribeirão do Carmo,
Domingos Rodrigues do Prado liderava, em Pitangui, uma
agitação contra o governador.
O aumento do controle nos Registros, a maior
fiscalização da quintagem e o transtorno que as casas de
fundição iriam provocar (forçando o deslocamento até elas,
despesas com burocracia, hospedagem, demoras etc.) era mais
uma dificuldade que o povo não estava disposto a tolerar, e, além
de Pitangui, outros povoados se agitavam, e os dragões usam da
repressão violenta, mas a crise se espalhara: estava acesa a
chama que eclodiria na Revolta de Filipe dos Santos.
De acordo com Nepomuceno (2018, p. 2), as duas
primeiras companhias de “Dragões” – com 60 homens cada,
norte de Portugal – chegaram ao Brasil em 1719, sendo
compostas pelos melhores homens do Exército Português,
experimentados em serviços de guerra e de polícia e seu efetivo,
acrescido de oficiais dragões vindos de Lisboa, serviu de base
para a criação, em 1736, de uma terceira companhia, na colônia
de Sacramento, no sul do Brasil.
Esta terceira companhia seria denominada “Dragões do
Rio Pardo”, enquanto as duas primeiras, formaria em 1775, o
Regimento Regular de Cavalaria de Minas, conhecido como os
“Dragões Reais de Minas”, subordinados e provisionados pela
Capitania das Minas Gerais.
O Esquadrão de Cavalaria Ligeira da Guarda do Vice-
Rei, que em 1808 seria transformado em 1º Regimento de
32
1ª Linha e mais recentemente em 1º Regimento de Cavalaria de
Guarda (os Dragões da Independência) foi criado em 1765, no
Rio de Janeiro, com base no modelo e no efetivo dos Dragões do
Rio Grande do Sul que por sua vez teve origem nos regimentos
de Dragões das Minas Gerais.
Dragões Reais - Minas Gerais (1730) e Rio Grande (1767)
Registro de José Wasth Rodrigues
Guarda dos Dragões – século XVIII
Ivan Washt Rodrigues
33
Esquadrão da Cavalaria da Guarda dos Vice-Reis do Rio de Janeiro – 1786
José Washt Rodrigues
Uniforme dos Dragões do Rio Grande
(https://historiadoriogrande.wordpress.com/tag/dragoes-do-rio-grande/)
34
1ª Companhia de Dragões Reais das Minas, 1730 2ª Companhia de Dragões Reais das Minas,
1730 (Soldado) – José Wasth Rodrigues 1730 (Soldado) – José Wasth Rodrigues
Quartel dos Dragões da Vila de Nossa Senhora do Carmo 1719 (atual Mariana – MG)
(Desenho de Cristiano Casimiro dos Santos)
35
Mapa do Caminho Novo / Estrada Real, reforçando/realçando
sua importância e ligações históricas com os Dragões Reais das Minas
36
Uma das mais importantes ações dos Dragões Reais
das Minas foi no controle e na repressão da Revolta de Vila Rica
de 1720, ou de Felipe dos Santos, historicamente reconhecida
como a última das Revoltas Nativistas do Período Colonial
Brasileiro. Para a melhor compreensão da mesma segue-se um
breve resumo sobre o evento:
Julgamento de Filipe dos Santos Óleo s Antônio Parreiras retratando
a versão da execução. Ao fundo, o pintor mostra a fumaça da queima
das casas dos revoltosos.
Villa Rica, por Arnaud Julien Pallière, 1820
37
Transcorrendo entre junho e julho de 1720, esta revolta em Minas
Gerais trazia a marca de uma situação comum na capitania, onde
funcionários régios se viam obrigados, muitas vezes, a se
dobrarem diante das vontades da elite local, principalmente com
relação à administração régia e à cobrança de impostos. Além da
resistência à arrecadação do quinto do ouro, colaboraram para a
inquietação social as reformas na organização militar (afastando
oficiais e cortando suprimentos) e a expulsão de clérigos de
Minas.
Contrariamente ao que era defendido por uma historiografia mais
tradicional, onde se elegia Filipe dos Santos como cabeça do
levante, a rebelião tinha como seus líderes principais: Pascoal da
Silva Guimarães, Dr. Manoel Mosqueira da Rosa, Frei Vicente
Botelho e Frei Francisco de Monte Alverne (ou Manuel Nunes
Viana)
Evidentemente o anúncio de reformas na arrecadação do quinto
(no que se refere à exclusividade de arrecadação e de fusão do
ouro minerado, pela administração régia) através da Casa de
Fundição e Moeda (o que tornava proibido o comum método de
utilização do “Ouro em pó”) despertou a ira e encabeçou a lista de
reivindicações dos revoltosos. O Alvará de 11 de fevereiro de
1719 já decretava a criação das Casas de Fundição, prevista para
Julho de 1720, porém em junho sua execução foi antecipada sem
prévio aviso, atiçando as acaloradas relações entre a população
mineira e a administração.
O primeiro alvo dos amotinados foi o Ouvidor Martinho Vieira de
Freitas que sob a acusação de estar planejando ações judiciais
contra os moradores de Vila Rica, no dia 6 de Julho tem a sua casa
invadida, e enquanto a documentação era destruída. Após alguns
dias, o Governador e Capitão-Mor Pedro Miguel de Almeida
Portugal e Vasconcelos (3º Conde de Assumar) tenta apaziguar
os ânimos, com promessas de perdão e o atendimento das
exigências. Porém, com a demora das negociações, a “turba
amotinada” sequestra alguns vereadores da Câmara de Ouro
Preto e marcha em direção ao governador que se deslocara para a
vila de Ribeirão do Carmo. Lá, além do armistício exigiram (dentre
outras coisas) a não instalação da casa de Fundição e Moedas,
diminuição de alguns impostos, tendo como contrapartida o
pagamento anual de 30 arrobas asseguradas pela população ao
Rei. Ao longo dos dias vários acordos são tentados e escritos. Os
rebeldes, apesar de sofrerem com o pagamento dos direitos
régios, permaneciam fiel ao Soberano, ao reino e a seus direitos e
38
deveres costumeiros. Eram rebeldes com causa.
No processo de pacificação, o conde-governador aceita as
exigências e, com a relativa calmaria restabelecida, aciona a
Companhia dos Dragões (tropa de elite vinda ao Brasil, dentre
outras funções, para reprimir motins e levantes), massacra os
envolvidos, fulmina os núcleos e as residências. Um dos
principais idealizadores da revolta, Filipe dos Santos, é
enforcado e esquartejado em praça pública. (DIAS,ET AL, 2016,
pp. 1-2)
Assim, a origem dos Dragões Reais das Minas se encontra
umbilicalmente ligada à Carta Régia de 11 de fevereiro de 1719
que autorizou a criação de novas Casas de Fundição,
determinou a cobrança do quinto sobre o ouro em pó, em
substituição às vinte cinco arrobas de ouro que se pagava
anualmente, e proibiu a circulação do ouro que fosse fundido
fora destas, o que não foi bem aceito pela população da
capitania onde se localizavam as minas, inclusive falava-se que
os mineradores, alarmados com a ação fiscal, sentiam-se cada
vez mais insatisfeitos e inseguros.
Ficava desde aquelle dia rigorosamente prohibida a
exportação,que não fosse nessa especie, unica legalizada.
Masvisto não deverem os-povos pagar em duplicata os
quintos,concedia-se-lhes o prazo do quatro mezes a contar
daquelladata para exportarem livremente o seu ouro.
As consequências destas medidas, que chegaram ao Brasil pela
frota de maio, (1719) veremos mais adeante.
Recebendo a Carta Regia em que se mandava executara lei de 11
de fevereiro, o Conde convocou uma juntadosProvedores, e mais
pessoas zelosas do serviço Real, celebrada na Villa do Carmo em
16 do julho daquelle anno de1719, e á ella oxpoz a materia, mas
não para que fosse discutida,e sim para que os presentes ao
governo orientassem sobre o melhor meio de executala,
indicando-lho os pontos do território das Minas mais convenientes
ás Casas de Fundição, e quantas devei iam ser. Assentou-se na
junta que seriam quatro : uma em Villa Rica, outra em
Sabará,terceira em S. João d'El-Rei, a ultima no Serro.
(VASCONCELLOS, 1904, p. 313)
39
A título de informação, a primeira Casa de Fundição foi
estabelecida em São Paulo, por volta de 1580, para fundir o ouro
extraído das minas do Jaraguá e de outras jazidas nos arredores
da vila. De acordo com Barcelos (2013, pp. 145-6), em fins do
século XVII, quando do começo da exploração aurífera das
jazidas aluvionares do atual estado brasileiro de Minas Gerais,a
cobrança do quinto restringiu-se a quatro casas de fundição
estabelecidas na faixa litorânea.
Esse vácuo de poder resultava no fato de que
(BARCELOS, 2013, p. 146) inegável que grandes
quantidades do ouro brasileiro depressa entravam em
circulação, legalmente ou não, de ambos os lados do Atlântico,
sendo que, por volta do ano de 1703, a quantidade de ouro em
Minas excedia em muito todo o ouro que Portugal ate então
recebera da Guine, desde a fundação da Mina, em 1482, ou ao
que toda a Espanha havia recebido de suas possessões
americanas durante o decorrer do século XVI. Assim, diante
dessas e outras inconveniências, a parte mais lesada era
sempre a Fazenda Real, conforme documentos da época,
por exemplo, em 1693, escrevia Luiz Lopes Pegado, provedor da
Fazenda do Rio, que o ouro que entrava nas casas de fundição
ficava muito aquém do que devia, sendo os homens de tão
“pouca obediência” que não o quintavam.
As Casas de Fundição (CAMARGO, 2012, p. 1) foram
criadas pelo “Primeiro regimento das terras minerais no Brasil”,
de 15 de agosto de 1603, com a finalidade de fundir todo o ouro e
prata extraídos das minas, incluindo nesse processo a coleta do
quinto. Eram compostas por provedor, escrivão, oficial mineiro
prático, tesoureiro, mestres de fundição, meirinho e guardas. Já
o regimento de 1603 determinava não só o estabelecimento das
casas de fundição e o recolhimento do direito real do quinto,
como também a instalação de provedoria das minas, e em 1613,
foi dado um regimento para as minas de São Vicente e, em 1618,
o “Segundo regimento das terras minerais”, que conservou as
linhas gerais do sistema administrativo e fiscal estabelecido
anteriormente; além disso, a necessidade de circulação de
moedas na colônia levou algumas casas de fundição, como as
de São Paulo, Cuiabá e Goiás, a exercerem, igualmente, a
atividade de oficina monetária, com o objetivo de recunhar as
40
moedas existentes antes da instalação da primeira Casa da
Moeda, em 1694.
Com a situação evoluindo (CAMARGO, 2012, p. 1),
devido a então crescente importância econômica da atividade e
a necessidade de regular a exploração das terras minerais
acabaram por determinar diversas mudanças nas formas de
tributação, organização e fiscalização da extração de metais
na primeira metade do século XVIII. Sendo que o regimento de
19 de abril de 1702 expressou a maior preocupação das
autoridades no controle da arrecadação e no combate ao
contrabando, a fim de garantir os privilégios da Coroa, esse
regimento transformou o antigo cargo de provedor e
superintendente das minsa, a quem caberia uma série de
atribuições que incluíam a alçada judicial para a resolução de
conflitos entre mineradores e a aplicação de penas aos
contrabandistas, além do cargo de guarda-mor, responsável
pela demarcação e repartição das datas, terras onde se
realizava a exploração mineral.
Nessa conjuntura (CAMARGO, 2012, p. 1), a
organização administrativa também sofreu alterações, onde a
lei de 11 de fevereiro de 1719 autorizou a criação de novas casas
de fundição, determinou a cobrança do quinto sobre o ouro em
pó, em substituição às vinte cinco arrobas de ouro que eram
pagas anualmente, e proibiu a circulação do ouro que fosse
fundido fora delas, e essas medidas, que visavam aumentar o
controle da Coroa sobre a exploração, contribuíram para que, no
ano seguinte, uma sublevação contra as autoridades
portuguesas ocorresse em Vila Rica, tendo como um dos
principais focos a atuação das casas de fundição. Contudo, o
incremento da ação fiscal da metrópole por meio das casas de
fundição não garantiu rendimentos suficientes para a Coroa,
sendo substituído o sistema de arrecadação da quota anual pela
captação, imposto que incidia não sobre a produção das minas,
mas sobre os trabalhadores, escravos, forros e população de
baixa renda, em 1733; a implementação dessa medida seria
O reinado de D José I (1750-1777) foi marcado por um amplo programa
de reformas, que envolviam a recuperação econômica da metrópole e a
modernização do Estado português, apoiadas financeiramente nas
receitas advindas do Brasil o que levou à necessidade de aumentar a
41
arrecadação e, consequentemente, de reorganizar a administração das
minas para maior controle de sua exploração.
Em 1750, o alvará de 3 de dezembro restaurou a cobrança do quinto,
estabeleceu uma série de instruções sobre a circulação do ouro, definiu as
penas para os responsáveis por descaminhos e determinou a derrama para o
caso de a soma dos direitos dos quintos arrecadados não alcançar a
quantidade estabelecida pela Coroa, de cem arrobas de ouro. As casas de
fundição foram recriadas, funcionando junto com as Intendência do Ouro,
compostas pelo intendente, fiscal, dois meirinhos e dois escrivões, e
reportando-se aos recém-criados Intendência Gerais do Ouro ,
estabelecidos na Bahia e no Rio de Janeiro.
Em 4 de março de 1751, outro alvará regulou, detalhadamente, a atuação
das casas de fundição e de seus oficiais. Foram acrescentados, em sua
estrutura, tesoureiro, escrivão da receita, escrivão da intendência, um
fundidor e seu ajudante, um ensaiador e seu ajudante. O ouro em pó era
pesado na balança localizada na Mesa da Intendência, e fundido após a
retirada do quinto real. Depois, fazia-se a declaração dos quilates de cada
barra em livro, em forma de guias que seriam remetidas aos intendentesgerais
do Ouro, que deveriam dar conta das atividades ao Conselho
Ultramarino. (CAMARGO, 2012, pp. 1-2).
Em concluso:
Em 1803, o alvará de 13 de maio propôs uma ampla reformulação da
administração do ouro e diamantes, reduzindo o quinto ao décimo ou meio
quinto, determinando a criação de outros órgãos e mandando abolir as casas
de fundição. Contudo, esse ato parece não ter sido eficaz, pois elas
aparecem na legislação posterior, e a cobrança do quinto ainda é
mencionada.
Atuando na nova configuração administrativa após a instalação da corte no
Brasil, as casas de fundição de Vila Rica, São João del Rei, Sabará e Vila do
Príncipe ou Tejuco passaram a abrigar caixas filiais do Banco do Brasil, de
acordo com a carta régia de 2 de setembro de 1818. Casas de fundição
existiram em Cuiabá, Goiás, Sabará, São João del Rei, Serro Frio, Vila Rica,
Rio das Mortes, Jacobina, São Paulo e outros lugares. A legislação indica,
por meio de alguns poucos atos, que as casas de fundição tiveram
trajetórias próprias, sendo criadas e extintas em momentos diferentes, como
a da capitania de São Paulo, dissolvida em 1° de setembro de 1819. Na lei de
24 de outubro de 1832, foram abolidas todas as casas de fundição e
intendências do ouro, e suas comissárias em Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso. (CAMARGO, 2012, p. 2)
42
Mediante tal situação presencial, e rotineira, de crime de
lesa-majestade, e de iminente conflagração, no uso dos seus
atributos, a Coroa Portuguesa – Dom João V –, na mesma Carta
Régia de 11 de fevereiro de 1719, tomou medidas firmes para
assegurar o controle daquela região, tanto criando juntas de
julgamento, como também, além disso, enviou, conforme
disposto na Carta Régia de 20 de junho de 1719, duas
Companhias de Dragões – conforme já exposto na carta de abril
22 de 1719 (ANEXO 1), do Conde do Vimieiro – Dom Sancho de
Faro e Sousa (Lisboa, 16599 — Bahia, 1719, um administrador
colonial português, vice-rei do Brasil) ao Conde de Assumar –,
que eram forças militares profissionais, regimento de Cavalaria
Regular, provenientes do norte de Portugal, com a finalidade de
fazer cumprir a lei, controlar os escravos, escoltar o transporte
de ouro e reprimir distúrbios. Essas tropas que poderiam ser
auxiliadas por milícias criadas para enfrentar casos de
emergência, e que embora com suas fileiras formadas
principalmente por brancos, contavam, ainda, com ex-escravos,
negros e mulatos.
Na frota, que aportou no Rio de Janeiro em meiados de1719,
Ordens Regias baixaram de summa importância como na acima
se disse. Alèm da lei do 11 de fevereiro, o Conde recebeu a Carta
do 25 de abril mandando dar baixa dos postos aos officiaes de
Ordenança, onde não houvesse corpos organizados; e outra ao
mesmo tempo, que lhe avizava ter Sua Magestade mandado
pôr á sua disposição um terço dos Dragões de
cavallaria.(GRIFO NOSSO) (VASCONCELLOS, 1904, p. 332)
Souza (1994, p. 65) analisa um texto anônimo “Discurso
histórico e político sobre a sublevação que nas Minas
houve no ano de 1720”, atribuído a Pedro Miguel de Almeida
Portugal e Vasconcelos, 3º. Conde de Assumar (ANEXO 2), que
foi publicado duas vezes – entre 05 e 19 de fevereiro de 1898, no
jornal Minas Gerais, órgão oficial do Estado; logo a seguir, pela
Imprensa Oficial de Minas Gerais, contando com introdução e
43
comentários do erudito José Pedro Xavier da Veiga, então
diretor do Arquivo Público Mineiro – o qual reafirma que “Com a
chegada da frota de mil setecentos e dezenove, entrou
nestas Minas a nova lei que sobre os quintos foi Sua Majestade
servido mandar expender; chegaram as tropas dos dragões;
fizeram-se públicas as ordens para dar baixa a todos os oficiais
da ordenança que não tivessem corpo; também se
feznotória a expulsão dos religiosos”. Concluindo que (ibidem,
p. 66): “os grandes, que até ali obravam sempre absolutos, e
de cujo favor para a execução de qualquer ordem estava
pendente a autoridade dos governadores. começaram a
afligir-se à vista dos dragões, que só reputavam por
Inimigos da sua grandeza, e um como freio das suas
demasias” (GRIFO NOSSO).
A idéia legalista era o cumprimento da determinação
segundo a qual (SOUZA, 1994, p. 65) “sua Majestade quer que
as suas Minas não andem sempre tão confusas, tão
perturbadas, faça que nelas se restituam os mineiros a seu
lugar, mande que quantos se acham hoje introduzidos, ainda
que bem à sua custa nesta república, vá cada um tratar de seu
ofício”. O “braço forte” deveria ser, e foi, imposto.
Outra apreciação sobre o texto supracitado é feito por
Azevedo (2006, p. 40), o qual corrobora a compreensão de que
foram componentes como a ambição, a miragem da riqueza
fácil, os tumultos, os motins, as insolências, dentre outras
particularidades históricas, que provavelmente fizeram das
Minas Gerais colonial um atrativo especial aos pesquisadores
que produziram trabalhos sobre a colonização dessa região. Em
assim sendo, vê-se que consubstanciaram-se interesses e
poder, o que fez engendrar circunstâncias que levaram muitos
mineiros, na primeira metade do século XVIII, a se insurgir
contra as autoridades régias na região aurífera, e ainda que não
propusessem alternativas políticas contrárias ao domínio da
Coroa portuguesa, os mineiros insurgentes contestaram as
autoridades locais, sobretudo quando estas se esforçavam para
impor algumas determinações que vinham de Lisboa.
44
1ª Companhia de Dragões Reais de 1730
(Quadro – óleo sobre tela – de Saulo Pfeiffer)
As sementes plantadas em terras brasileiras por esses
Cavalarianos precursores não se restringiram às Minas Gerais.
Tanto o Centro-Oeste como o Sul se beneficiaram com envio de
destacamentos seus para suas regiões. O primeiro local a ter tal
privilégio foi Goiás.
Quando Bartolomeu Bueno encontrou ouro na região de
Goiás em 1725, houve uma intensa confluência de
populações das mais heterogêneas para os novos
territórios a serem anexados à Capitania de São Paulo,
movimentos estes tão acentuados e incessantes como
aqueles das Minas Geraes no início do século. A
diversidadedos grupos humanos e a convergência dos
45
traziam em seu bojo um processo de enérgicas disputas e
desentendimentos entre aqueles que por um tempo alise
estabeleceriam (CHAIM, 1987). Os domínios dos Goyases
estavam, assim, destinados desde o princípio a sofrer com
o caos e a desordem tão características do rush aurífero,
principalmente em virtude da mobilidade resultante dos
novos descobertos e/ou esgotamento dos já conhecidos,
fator que ressaltava a ganância em detrimento do equilíbrio
social e de uma boa convivência entre os povos (...)
(...) Destarte, podemos perceber que o gérmen da força
militar se estabeleceu nas novas terras antes mesmo da
instalação efetiva do aparato administrativo aos moldes das
governanças portuguesas, se configurando como elemento
essencial para a futura organização defensiva dos Goyases,
movimento iniciado com a vinda da primeira companhia de
Dragões da Cavalaria junto com o Conde de Sarzedas em
1736. Alguns elementos acentuaram a necessidade de uma
Tropa Regular naquelas minas.
Sabe-se que a viagem do referido Conde necessitava
cuidados especiais de modo a garantir o bom cumprimento
de sua missão, que era a de estabelecer a ordem em diletas
terras do oeste colonial. Além disso, a chegada do Ouvidor
Gregório Dias à região do Tocantins (norte dos Goyases),
explicitou a intensidade dos problemas concernentes à
violência dos povos, posto que o descobrimento de
algumas minas havia causado grande alvoroço entre os
garimpeiros, requerendo solução imediata. Para tanto,
expede sua Majestade D. João V por meio de carta régia
endereçada ao então governador e Capitão General do Rio
de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, a ordem de enviar às
minas de Goiás um destacamento de quarenta Dragões
montados para assistir ao conde de Sarzedas em suas
diligências. Este corpo regulado seria enviado das
Geraes para o arraial de Sant'ana, objetivando constituir ali
a primeira companhia de Dragões destas terras, “que se
comporá de soldados veteranos dessas Minas geraes, e de
novos, reechendo-se logo com soldados novos, os que se
tirarem dos corpos velhos”.
46
Assim, a primeira e única Tropa Regular dos Goyases
durante o século XVIII seria composta por alguns dos mais
experimentados soldados das Geraes. Ao todo somava
quatro praças além do solicitado por Sua Majestade,
totalizando quarenta e quatro homens, dentre: trinta e sete
soldados, um Capitão, um Tenente, um Alferes, um Furriel,
um Tambor e dois cabos de esquadra. Ao chegar em Goiás,
deveriam sentar praça por um período mínimo de dez anos,
tempo necessário para acalmar os ânimos e estabilizar a
vida na vila e nos arraiais, incumbidos da defesa e do
policiamento destas terras, fatores necessários ao bom
convívio dos povos. O número de componentes desta tropa
permaneceria inalterado até 1749, quando, por ordem de D.
João V, Gomes Freire de Andrade acrescentou a esta
lotação nove soldados e dois cabos de esquadra,
totalizando, assim, cinquenta e cinco praças. (GOMES,
2012, pp. 3-4-6)
Já na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, há de se
destacar que, segundo o artigo “A Revolta dos Dragões e as
privações dos primeiros habitantes” (2010, p. 1), os Dragões
formavam um regimento militar que chegou ao Rio Grande
juntamente com a expedição oficial de José da Silva Paes, em
1737, esse regimento era composto por 41 membros oriundos de
Minas Gerais e consistiam em tropas especiais que atuavam
como cavalaria ou infantaria e serviam tanto para defesa
quanto para ataque, bem como que o grupamento tinha por
objetivo garantir, via presença e apoio bélico, não apenas a
ocupação, mas a colonização do território ao sul de Laguna, em
direção ao estuário do Prata. Além do que, inicialmente, sua
organização previa atuação na Colônia do Sacramento, o que se
tornou impossível devido ao bloqueio espanhol feito à possessão
portuguesa, e, em face disso, os dragões foram deslocados para
Rio Grande e, posteriormente, a corporação recebeu o
acréscimo de novos contingentes, estabelecendo-se em
definitivo no povoado como regimento próprio.
Histórico ampliado pelo artigo “Os Dragões de Rio Pardo”
(2007, p. 1):
47
Os Dragões eram soldados treinados para combater a pé e a
cavalo, conforme as exigências das circunstancias, e foram
fundamentais para a formação do Rio Grande do Sul.
Valentes, fortes, grandes cavaleiros, guerreiros
invencíveis, manejando a espada, a lança, a pistola ou o
mosquete, os Dragões escreveram com seu sangue
páginas brilhantes ao longo dos 82 anos de sua
permanência em Rio Pardo.
Organizados como um esquadrão, primeiramente pelo
Brigadeiro José da Silva Paes no Presídio Jesus-Maria-
José, no Porto de Rio Grande, seu primeiro comandante foi
o bravo capitão Francisco Pinto Bandeira, grande herói da
nossa formação. Em 1737, a rigor, começa a saga do
glorioso regimento, mas só em 1739, sob o comando de
Diogo Osório Cardoso e logo de Tomaz Luiz Osório, começa
verdadeiramente a saga heróica dos Dragões.
Em 1750, é assinado o Tratado de Madrid, assinalando o
começo de um período de paz entre Espanha e Portugal. E
os exércitos ibéricos tiveram que vencer a resistência
missioneira para ocupar o Sete Povos das Missões. Os
Dragões se cobrem de glória. Logo depois, têm que
enfrentar os próprios espanhóis de Vertiz e De Ceballos,
firmando o nome de Rio Pardo como Tranqueira Invicta. Os
Dragões casavam com as moças de Rio Pardo e formavam
as famílias dos grandes heróis da formação da nossa terra.
Unindo essas “três pontas”, sobre sua jornada pelas regiões
coloniais, Fidelis Soares (2017, p. 1) lembra que no Brasil os
Dragões iniciam sua jornada histórica a partir do período
Colonial desempenhando missões de ação rápida e de controle
de estradas do Brasil Colônia. Reiterando que, segundo os
registros históricos, é em 1719 que chegam a Minas Gerais duas
companhias de Dragões Del Rey enviadas de Lisboa, e
aquarteladas (ANEXO 3) na primeira capital mineira Vila de
Nossa Senhora do Carmo – hoje Mariana-MG - que irão
constituir os famosos Dragões Reais de Minas unidade em que
serviu o Alferes Joaquim Jose da Silva Xavier, bem como que tal
48
unidade tinha como missão principal a garantia da segurança
dos distritos mineradores e seus caminhos, funcionando como
uma espécie de polícia militar montada, e que da reunião das
três companhias de dragões que tinham sido enviadas de
Portugal para Minas Gerais, as duas primeiras vieram em 1719 e
a terceira em 1729.
Tiradentes em uniforme do Regimento de Dragões das Minas.
Imagem (muito idealizada) de José Washt Rodrigues, 1940
Em tempo, explicando sobre a prática do aboletamento
(COTTA, 2006, p. 6), como não existiam quartéis, os oficiais e
soldados foram aboletados em pequenos grupos, cerca de
dois, três e até mais, em casas de moradores, os quais tinham
obrigação de fornecer forragens para os animais e alimentos
para os soldados, embora isso fosse pago pelos cofres do
Senado da Câmara. Sendo que apenas uma pequena parte dos
Dragões foi aquartelada numa construção de pau- a -pique que
49
antes servira de açougue público, sem formas de quartel e
caindo aos pedaços.
Frisando que (FIDELIS SOARES, 2017, p. 1) o Regimento de
Dragões de Minas formado pelas duas companhias tinham como
missão principal, a da garantia da lei e da ordem nas atividades
de exploração do ouro e a fiscalização da cobrança de impostos.
Outros dados relevantes (ibidem, pp. 1-2): já em 1729, chega da
Metrópole Portuguesa, uma terceira companhia de dragões,
que acaba por ser enviada para participar nas operações
militares de defesa do Sul do Brasil, esta companhia foi
acrescida de oficiais dragões adicionais vindos diretamente de
Portugal, sendo o núcleo de um regimento de dragões a ser
formado na Colônia do Sacramento, esse regimento irá ser
formado em 1736, mas como Regimento de Dragões do Rio
Pardo; com base em efetivos dos Dragões Reais de Minas são
também criadas às companhias de Dragões de Cuiabá e de
Goiás.
Já no Primeiro Império Brasileiro:
Com os eventos da Independência do Brasil e da reorganização do novo
Exército Brasileiro em 1825 os dragões Coloniais são extintos. Os
antigos dragões de Minas, do Rio Pardo, de Montevidéu e da União
tornam-se, respectivamente, o 2º, 5º, 6º e 7º regimentos de cavalaria de
1ª linha. O antigo Esquadrão de Cavalaria da Guarda do Vice-Rei foi
transformado em 1º Regimento de Cavalaria do Exército por dom João VI
em 1808 tomando nova designação como 1º Regimento de Cavalaria de
Primeira Linha. Com a Independência, é criada também a Imperial
Guarda de Honra dos Mosqueteiros de dom Pedro I (1822-1831) núcleo
primordial para o Regimento de Dragões. Segundo o Dr. Gustavo
Barroso sendo proclamada a Independência, recebeu o imperador o
auxilio de algumas províncias, em primeiro lugar temos a de São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais que serviram de base para criação da
unidade que recebeu a denominação de Imperial Guarda de Honra,
criada por decreto de 1º de Dezembro de 1822. (FIDELIS SOARES,
2017, p. 2)
Promovendo um breve, e conciso, resumo sobre os
principais tópicos até aqui abordados, são de grande valia as
informações disponibilizadas no site da PMMG na sua Linha do
Te m p o ( h t t p s : / / w w w. p o l i c i a m i l i t a r. m g . g o v. b r / p o r t a l -
pm/externo/conteudo.action?conteudo=8781&tipoConteudo=subP),
50
abarcando, nesse particular, o período de 1709 até a 1775.
Reiterando que as montanhas de Minas guardavam o dourado
da terra, onde ouro, diamantes, e outras pedras preciosas
afloravam pelo chão, escorria nos riachos, cintilava aos quatro
ventos
Nesse contexto, continua expondo a fonte acima citada,
um território crucial para a sobrevivência da Metrópole
(Portugal) e que demandou mais ferramentas de segurança
para a fluidez das riquezas, sendo que em um cenário de pouca
estrutura vária e com muitos caminhos possíveis para o
contrabando é que chegaram a terras coloniais 3 tropas de
Dragões Del Rey a partir de 1719. De modo que esses militares
se instalaram para garantir a produção e deslocamento dos
minerais preciosos das Minas até os portos marítimos.
Aprofundando sobre a organização militar nas Minas do
século XVIII:
Gravura de J.M. Rugendas sobre a mineração de ouro no Brasil
Em 09 de novembro de 1709, foi criada a Capitania de Minas e
São Paulo, o que se conhecia de organização militar, no Brasil,
eram as TROPAS DE LINHA, as Milícias e as ORDENANÇAS. A
história da institucionalização de um corpo militar responsável
pela polícia nas Minas do Ouro inicia-se em 1719, com a chegada
dos Dragões em Vila Rica (atual Ouro Preto).Cotta, 2006, diz que
essa tropa regular e paga pela Coroa portuguesa teria sofrido um
processo de especialização precoce. Tendo em vista a
necessidade
51
necessidade de controle do território, das pessoas e da
arrecadação dos impostos, a Coroa portuguesa construiu,
gradativamente e ao sabor das exigências locais, um conjunto de
políticas da ordem para as Minas. O Sistema Luso- Brasileiro de
Polícia tinha como tripé: a ideia de Ordem;a pluralidade de
estratégias de controle e a força das instituições militares na
operacionalização de suas políticas.
Em Minas Gerais o primeiro ponto a destacar é a especialização
policial precoce das instituições militares em virtude de aspectos
geopolíticos sui generis. Tal característica se deve às funções
exercidas, desde os primeiros anos, pelos corpos militares em
Minas:
· controle da arrecadação dos tributos;
· repressão aos extravios de ouro e diamantes;
· controle das violências coletiva e interpessoal;
· vigilância dos caminhos, estradas e rios;
· prisão de infratores.
Minas era para Portugal o coração da América Portuguesa. O
processo de construção das ordens social, jurídica e pública nas
Minas teria a participação dos governadores, militares,
magistrados, clero, poderosos locais, comerciantes, lavradores e
das comunidades. Em um ambiente marcado pela violência,
tanto interpessoal quanto coletiva, e pela imprevisibilidade, seria
necessário desenvolver estratégias e mecanismos que
Além do que:
O conceito luso-brasileiro de polícia para o início do século XVIII
estaria relacionado à ordem estabelecida para a segurança e
comodidade pública dos habitantes bem como à boa ordem que
se observa as leis que a prudência estabeleceu para a sociedade
nas cidades. No coração da América Portuguesa, o conceito de
polícia receberia vernizes diversos, mas em seu cerne guardaria a
ideia de ordem estabelecida. Naquela época o conflito entre os
governadores e funcionários tornaram impossível " o exercício
pleno do poder metropolitano".
O poder estabelecido nas Minas embasava-se, principalmente,
no exercício da violência, como forma de manter a ordem e
submeter o povo.
52
Mesmo com a chegada dos Dragões Del Rey (1719) o Conde
Assumar, governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro
(1717-1721), e seus sucessores continuaram a depender das
ordenanças e dos corpos auxiliares para a manutenção da
tranquilidade e sossego públicos. Naquele tempo, a multiplicidade
de patentes militares passadas aos poderosos locais funcionaria
de forma a possibilitar o controle das facções contrárias..Em dado
momento um poderoso estaria ao lado da Coroa; em outro,
deveria ser combatido. Os vassalos viam as patentes militares
como uma das possibilidades para aumentarem seu poder e
prestígio pessoal, além de lhes servirem para usufruírem das
prerrogativas e isenções atinentes aos postos.
A estrutura dos corpos militares estaria dividida em: Regulares
(também chamados de tropa paga ou de linha); Milícias;
Ordenança
Especificamente sobre a tropa regular e paga: os Dragões de
El Rey – 1ª linha –, a Linha do Tempo em uso apresenta os
seguintes destaques: considerados Tropas de 1ª Linha, em
princípio eram recrutadas em Portugal; constituíam a FORÇA
REGULAR E PAGA a serviço dos interesses da metrópole; sua
formação ocorreu em consequência da descoberta do ouro, e
dos vários levantes que se verificaram em Minas Gerais; para
reprimi-los e garantir a arrecadação do “quinto” do ouro à Coroa,
o Rei de Portugal, D. João V fez partir para a colônia (Brasil) um
contingente de Dragões constituídos por duas Companhias; em
fins de 1719 já estavam agindo em Minas. Relembrando que os
Dragões portugueses, que para as Minas se deslocaram em
1719 a pedido do Conde de Assumar, não eram “tropa para
pelejar em campo aberto contra o inimigo”, bem como que,
originalmente, um dragão era um tipo de soldado que se
caracterizava por se deslocar a cavalo, mas combater a pé.
Inicialmente e até meados do século XVIII, as unidades de
dragões constituíam assim uma espécie de infantaria montada,
e ainda que, contudo, posteriormente, os dragões
transformaram-se, passando de infantaria montada a tropas de
genuína cavalaria.
“As missões dos Dragões se restringiriam inicialmente à guarda
dos governadores, ao comboio da Fazenda de Sua Majestade e
ao socorro contra os poderosos, que se faziam fortes com seus
53
escravos, e à atuação em lugares intricados”.A conveniência de
se empregarem dragões residia no fato de que “o principal
exercício deles é o manejo de infantaria”.
Devido ao elevado custo de vida o vencimento dos Dragões das
Minas era arbitrado em quatro vezes mais do que se pagava em
Portugal. As duas primeiras companhias de Dragões das Minas se
formaram em virtude da carta régia de 09 de fevereiro de 1719.
Seu efetivo era composto de Portugueses, exceção feita aos
soldados tambores (músicos), originários da África. Houve
problemas com deserção. A terceira companhia foi criada em 08
de dezembro de 1729. As atividades desenvolvidas pelos
Dragões estavam diretamente vinculadas ao processo de
imposição do poder pela Coroa portuguesa sobre os poderosos
locais, manutenção da arrecadação dos impostos e conservação
da ordem e sossegos públicos.
Os Dragões possuíam um estandarte e nele estava desenhada
uma mão com um raio que rompia entre uma nuvem, suspensa no
ar, como ameaçando a uns montes que estavam embaixo. Estava
escrito: “cedere, aut caedi” que quer dizer, “ceder ou ser ferido.”
Os governadores da época do Brasil colônia acreditavam que as
redes clientelares dariam certa ordenação e estabilidade ao
sistema de controle social. Havia interesse dos poderosos por
obter patentes militares devido a posição que passavam a ocupar
nas redes de poder. A chegada do Conde de Assumar trouxe
medo, por parte dos poderosos de Vila Rica possuidores de
patentes militares.
Como precursora da sua dissolução próxima (COTTA, 2000,
p. 8), em 1766, sob orientação de Pombal, ocorre nova
reestruturação militar, em Carta Régia de 22 de março, o
Governador de Minas recebe determinações para que: “mande
alistar todos os moradores desta Capitania sem distinção de
cores e classes, que puderem pegar em armas, e formar por
classes Terços Auxiliares e Ordenanças de ambas as armas
(infantaria e cavalaria), criando os oficiais precisos, e mandando
disciplinar cada um dos Terços Auxiliares por Sargento-mor
tirado das tropas pagas, que vencerão o mesmo soldo que os
das tropas pagas, que estão nesta Capitania, pagos pelos
rendimentos das Câmaras”. Os integrantes desses Corpos
Auxiliares deveriam, em tempo de paz, se dedicarem ao cultivo
da terra e à criação de gados. Lembrando que quem recebia
soldo era apenas o Sargento-mor.
54
Assim (COTTA, 2000, p. 8), quando das instruções trazidas
por Dom Antônio de Noronha em 1775, havia em Minas treze
Regimentos Auxiliares de Cavalaria, e seis possuíam o título de
nobreza. Martinho de Mello recomendou a Dom Antônio de
Noronha que investigasse tal questão, pois não se entendia
que em Minas existissem tantos nobres capazes de formar seis
regimentos. Considerava ainda que tais denominações eram
muito nocivas ao serviço, não havendo a necessidade da
“estranha e incompetente distinção” quanto ao serviço de nobres
e plebeus.
REGIMENTOS AUXILIARES DE CAVALARIA
COMARCA NOBREZA COMUM
OURO PRETO 02 02
RIO DAS VELHAS 02 02
SERRO FRIO 01 01
RIO DAS MORTE 01 02
TOTAL 06 07
Ao se referir aos Dragões, Martinho de Mello e Castro reclama
dos elevados soldos pagos atualmente pela Coroa a essas
Companhias. Seus exorbitantes soldos somente se justificavam
numa época em que Minas era um vasto sertão, sem recursos e
sem alimentos. No presente, todas aquelas dificuldades não mais
existiam. A mesma quantia paga às três Companhias era 8
suficiente para manter um Regimento de Cavalaria com 600
cavalos, bem mais disciplinado e subordinado. Após
levantamentos pessoais, Dom Antônio de Noronha constatou
que as Companhias de Dragões realizavam um serviço
desordenado, faltavam-lhes disciplina militar havendo soldados e
cabos que se corrompiam “ao deixar passar alguns
contrabandos.” De posse das determinações, Dom Antônio
promoveu a reorganização dos Regimentos Auxiliares, os de
Nobreza e os Terços de Ordenanças de homens pardos e pretos.
(COTTA, 2000, pp. 8-9)
Mediante tal reorganização, Cotta (2000, p. 9) enumera que
dos seis Regimentos de Nobreza, permaneceu apenas um, o
qual foi dividido em 10 Companhias com um efetivo de 390
55
praças; portanto, na interpretação de Noronha, não havia em
Minas tantos nobres capazes de formar os seis Regimentos
anteriores.
No seu último ato (COTTA, 2000, p. 10), em 1775, D.
Antônio de Noronha havia acrescentado indivíduos aos Corpos
dos Homens Pardos e às Companhias de Pretos, pois, as
encontrou bastante reduzidas em função da criação dos
Regimentos de Auxiliares de 1766. Após essa reorganização, o
Terço passou a contar com 3.120 praças. Por um conjunto de
fatores, tais como as informações sobre a desorganização,
indisciplina e corrupção repassadas por Dom Antônio de
Noronha, além das guerras no sul do Brasil, a Coroa Portuguesa
sentiu necessidade de reorganizar suas forças militares,
atualizar seus regulamentos, armamentos e métodos de
combate, e, novamente, entregou ao famoso discípulo de
Frederico II da Prússia, Conde de Schaumburg Lippe Buckeburg,
a tarefa de transformar o ruinoso estado de coisas reinante no
setor militar; além de outros oficiais, foram para Portugal o
Marechal de Campo Johan Heinrich Böhn e o Brigadeiro,
especialista em fortificações, Jacques Funck, que logo foram
despachados para o Brasil.
Sobre o Regimento Regular de Cavalaria de Minas:
Em junho de 1775, Dom Antônio de Noronha, autorizado por Dom
José I, após dissolver as Companhias de Dragões, retirar dos
Corpos Auxiliares os melhores indivíduos, trazer dos Regimentos
do Rio de Janeiro oficiais de boa instrução e fazer vir de Portugal
um sargento-mor familiarizado com os novos princípios da arte de
guerra, criou o Regimento Regular de Cavalaria de Minas. Era um
Corpo diferente dos demais que existiam nas Quando do envio
de D. Antônio de Noronha para o governo da Capitania de Minas
Gerais, uma das recomendações feitas por Martinho de Mello
consistia na solução de um problema não só de cunho militar, mas
sobretudo financeiro: eram excessivos os gastos feitos com as
três Companhias de Dragões em Minas Gerais. A Coroa tinha
uma despesa anual de cerca de cento e vinte mil cruzados. A Real
Fazenda fornecia, ainda, os cavalos que custavam regularmente
56
de trinta a trinta e cinco mil réis. Além de fornecer o sustento para
os soldados e semoventes, tinha os gastos com fardamento,
armamento e hospital para a tropa. (COTTA, 2000, pp. 10-11)
“Amarrando as pontas”:
Em carta de 25 de julho de 1775, Dom Antônio de Noronha relata
que as três Companhias de Dragões (dissolvidas por ele)
recebiam de soldo não 35.525$280, conforme dados de Martinho
de Melo e Castro, mas sim 37.300$402. Com a criação do
Regimento Regular de Cavalaria, o total dos soldos pagos às oito
companhias anualmente seria de 37.119$300. Quanto aos
cavalos, esses passariam a ser adquiridos por vinte mil réis;
quanto às despesas com fardamentos, ferragens e capins, seria
aconselhável recolher aos cofres do Rei as terças dos
rendimentos das câmaras, pois, em Portugal, essas terças eram
utilizadas para reparo dos muros e castelos e outras obras
necessárias para a defesa. Nas Minas, os muros eram as
próprias tropas. Outras medidas tendentes a racionalizar os
gastos foram os assentamentos de praças especialistas
(espingardeiro e seleiro), o que proporcionava economia nos
consertos de armas, selins, arreios e selas. (COTTA, 2000, p. 11)
Dando formatação final, o site da PMMG frisa que a
chegada dos Dragões para as Minas Gerais trouxe sérias
dificuldades, pois não haviam quartéis e foi adotado o sistema de
aboletamento, e que esse sistema gerou revolta nos moradores
que queriam que as companhias de dragões pagassem seu
sustento, em 1719 a Câmara de Vila do Carmo (Mariana-MG)
cedeu aos Dragões terras para pasto dos cavalos e
posteriormente os Dragões se instalaram em Cachoeira do
Campo (Ouro Preto). Interessante ressaltar que o
envelhecimento da tropa provocou a falta de efetivo, de forma
que: entre 1729 e 1768 houve a diminuição do efetivo em função
da criação do corpo de Dragões da Colônia de Sacramento e da
reforma de alguns dragões; o efetivo das três companhias de
dragões nunca passou de 200 homens; esta situação abre
espaço para aumentar a importância dos corpos auxiliares e as
ordenanças, cujos chefes eram os poderosos locais.
Avançando alguns séculos, foquemos na contemporaneidade.
57
Utilizando o “Breve Histórico do 4º ESQD C MEC”, criado
em parceria com a RP (5ª Seção) do 4º Esquadrão de Cavalaria
Mecanizado, cumpre-se o intento de apresentar um resumo
fidedigno de sua evolução denominativa e de aquartelamentos
ao longo desses noventa anos:
O 4º Esqd C Mec foi criado pelo Aviso Ministerial nº 855, de
21 de novembro de 1929, sendo desde 1945 a única
Organização Militar de Arma de Cavalaria do Exército
Brasileiro sediada em MG e continuadora de uma tradição
que teve seu início em 1719 quando chegaram de Portugal
duas Companhias de Dragões Reais na Vila do Ribeirão do
Carmo ( Mariana).
Após a Independência, uma série de outras unidades de
Cavalaria estiveram sediadas em Minas Gerais, localizadas
sobretudo na capital da Província, a cidade de ouro Preto.
Em 1917 cria-se o 14° Regimento de Cavalaria, que no ano
seguinte seria instalado na cidade de Três Corações do Rio
Verde. Em 1919 a unidade passou a ter a designação de 4°
Regimento Divisionário (4° RCD. Nossa subunidade,
quando de sua criação em 1929, embora com sede em Juiz
de Fora, era um esquadrão orgânico do 4° RCD.
Em 1945 tendo o 4° RCD sido extinto e em seu
aquartelamento instalada a nova Escola de sargento das
Armas (ESA), fica o então 4° Esquadrão de Cavalaria,
sediado em Juiz de Fora, sendo o representante único da
Arma de Osório nas Alterosas.
Em 1946 e 1947 muda Denominação para 4° Esquadrão de
Reconhecimento Mecanizado respectivamente.Sua
denominação atual, 4° Esquadrão de Cavalaria Mecanizado
foi dada em 1973.
Em 1984 o 4º Esqd. C. Mec. foi transferido do quartel que
ocupava no bairro Mariano Procópio em Juiz de Fora para a
cidade de Santos Dumont, terra do “Pai da aviação”, que
acolheu com hospitalidade a única Unidade de Cavalaria de
Minas Gerais.
O Projeto de Denominação Histórica do 4º Esquadrão de
Cavalaria Mecanizado – ESQUADRÃO DRAGÕES REAIS
58
DAS MINAS – foi aprovado pelo Boletim do Exército n° 29 -
Brasília – DF, de 21 de julho de 2006, conforme PORTARIA N
º 430, DE 18 DE JULHO DE 2006 (p. 15). Conforme o disposto
pelo Boletim do Exército, N º 17/2007 Brasília - DF, 27 de abril de
2007, PORTARIA N ° 228, DE 23 DE ABRIL DE 2007 (p. 14), o qual
Concede Estandarte Histórico ao 4º Esquadrão de Cavalaria
Mecanizado.
Com bem mais de meio século de existência, o 4° Esquadrão
de Cavalaria Mecanizado participou de fatos relevantes em
nossa História:
- Revolução de 1932; - Formou a Vanguarda das tropas que
se deslocaram de MG para Guanabara em 31 de março de
1964;
- Participou com viaturas blindadas e pessoal da Força de
Paz da ONU em Moçambique, África Oriental em 1994; -
Participou com um Pelotão de Reconhecimento Completo e
pessoal de apoio, num total de 44homens, da Força de Paz
da ONU em Angola, África Austral, em 1996;
59
- Intervenção na greve da Polícia Militar de Minas Gerais, em
1997;
- Participou da Força de Paz da ONU no Haiti, em 2007, 2010
e 2012;
- Nos V Jogos Mundiais Militares em 2011 na cidade do Rio
de Janeiro;
- Duas participações na Pacificação do Complexo da Penha
e Alemão (Arcanjo II e V) em 2011, na cidade do Rio de
Janeiro; - Conferência Rio + 20 em 2012, na cidade do Rio de
Janeiro;
- Na Jornada Mundial da Juventude em 2013, na cidade do
Rio de Janeiro; - Na Copa das Confederações em 2013, na
cidade de Belo Horizonte;
- Participou da Operação São Francisco, na Pacificação do
Complexo da Maré em 2014, na cidade do Rio de Janeiro. -
Na Copa do Mundo em 2014, Na cidade de Belo Horizonte;
- Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016 na cidade do Rio
de Janeiro. - Intervenção Federal no Rio de Janeiro, em
Na Revolução Constitucionalista/Paulista de 1932 o 4°
Regimento Divisionário (4° RCD), instalado na cidade de Três
Corações do Rio Verde – futura sede da Escola de Sargento das
Armas (ESA) – teve participação decisiva, e Parreiras (2018, p. 1)
relembra que os embates envolveram cerca de 100 mil soldados
federais, sobretudo mineiros, e 60 mil revolucionários de São
Paulo, tendo o número de mortos sido calculado em 2 mil
paulistas e 1.050 do lado federal. Entre julho e setembro,
mineiros lutaram para recupera dos paulistas o Túnel da
Mantiqueira – uma passagem de 997 metros de extensão sob a
Garganta do Embaú, entre Passa Quatro (MG) e Cruzeiro (SP),
perto da estação de Manacá, da Rede Mineira de Viação, ponto
em que as duas forças se entrincheiraram.
O comando do 4° Regimento Divisionário (4° RCD) ficou
à cargo do Coronel Eurico Gaspar Dutra (JATOBÁ, 2005, p. 104)
em conjunto com o regimento da Força Pública (PM) mineira
vinda de São João Del Rey – que fazia parte do primeiro Batalhão
expedicionário da Força Pública (PM) mineira, e que entre seus
quadros tinha o Capitão Médico Juscelino Kubitschek (JK),
comandada pelo Tenente - Coronel Francisco de Campos
60
Brandão. Desse episódio, além dos futuros Presidentes da
República Dutra – que também foi Ministro da Guerra – e JK –,
três Governadores (ibidem, p. 115) emergiram das trincheiras da
Mantiqueira: Capitão Ernesto Dorneles (RS); Capitão
Assumpção (PA); Delegado Especial Benedito Valadares (MG).
Fundamentado na velha sabedoria mineira que nos ensina que
“Mais vale um pássaro na mão que dois voando” e que
“Apressado come cru”, .cabe deixar patente que há uma razão
absolutamente coerente para a discrepância no volume de
informações entre as duas narrativas históricas desse capítulo.
A motivação inicial diz respeito ao fato de que os
Dragões (Del Rey) Reais das Minas completam trezentos anos
da sua chegada em 2019, enquanto que para o 4º Esquadrão de
Cavalaria Mecanizado ainda restam dez anos para comemorar o
seu primeiro centenário, em 2029, considerando, pois, que uma
obra mais completa sobre essa OM será bem mais oportuna na
citada data; daqui a uma década.
Mesmo que tal honra, que tamanha deferência, não seja
a mim concedida na ocasião, creio que essa seja a conduta mais
prudente nessa ocasião; apesar de ser impossível não ter a
pretensão antecipada – já nesse momento – de me voluntariar
para tanto quando à hora chegar. O passado e o presente irão
estar representados nas narrativas textuais do decorrer desse
livro, e quanto ao futuro, só nos resta aguardar e compilar os
acontecimentos/fatos porvir para a obra centenária.
A apreciação factual e cronológica até aqui exposta
nada mais é/foi do que o necessário intróito para que se
conheça, e compreenda, como se forjaram e como atuam, hoje,
os Dragões Reais das Minas – com relatos testemunhais
descritos por eles mesmos, no subitem 2.2, e complementados
por fotos (EM ANEXOS).
61
2. NO CUMPRIMENTO DO DEVER
Desde sempre, e para sempre, esse é o lema a ser
vivenciado.
Tal conduta, e marca da personalidade, dos Dragões
Reais das Minas encontra eco na citação de Alfred Armand
Montapert (1906-1977) – escritor francês, autor do livro “A
Suprema Filosofia do Homem: As Leis da Vida”, publicado
em 1970 – “Somos totalmente responsáveis pela qualidade
da nossa vida e pelo efeito exercido sobre os outros,
construtivo ou destrutivo, quer pelo exemplo quer pela
influência direta”. Sem se esquecer de frisar que ainda há uma
outra certeza que completa essa característica indelével desses
Cavalarianos, de jamais refugar nas missões a eles confiadas, a
qual se encontra exposta em duas outras linhas mestras: “Há
duas fontes perenes de alegria pura: o bem realizado e o
dever cumprido” (Eduardo Girão); e “Se aceito uma missão
na vida pode ter certeza que será cumprida, porque desistir
o u b a i x a r o s b r a ç o s n ã o é p a r a m i m ” ( A U TO R
DESCONHECIDO).
Do alvorecer do século XVIII, chegando a esse início de
século XXI, não há relevante nódoa que recaia sobre esses
guerreiros, pois o dever sempre foi, é e será cumprido com os
devidos desvelo, denodo e decisão. Atuar em conjunto, com
cada elo da corrente fortalecendo os demais, é a fórmula
atemporal que sempre trouxe, traz e trará, o devido
reconhecimento aos feitos/desempenho dessa singular tropa.
Nada é mais simples do que saber o que, e como, fazer.
2.1 Participação em Missões de Paz da ONU e
eventos/missões nacionais
A extrema confiança demonstrada pelos organismos
internacionais sobre as tropas brasileiras, desde a sua
participação destacada na Segunda Guerra Mundial (FEB), fez
com que a Organização das Nações Unidas (ONU), através do
seu Conselho de Segurança (CSNU) - responsável pela paz e
segurança internacionais, formado por 15 membros: cinco
permanentes, que possuem o direito a veto que são Estados
Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China, e dez membros
62
não-permanentes, eleitos pela Assembléia Geral por dois anos –
empregasse efetivos militares brasileiros nas suas Missões de
Paz.
Na perspectiva do Itamaraty, expressa em “O Brasil e o
Conselho de Segurança da ONU” (201i, pp. 1-2):
A Carta das nações Unidas resultou de negociações
realizadas ao final da 2a Guerra Mundial e está em vigor
desde 1945. Na arquitetura institucional da ONU, atribuiu-se
a um órgão de composição reduzida – o Conselho de
Segurança das nações Unidas (CSNU) – a primazia sobre
condução dos assuntos relacionados à paz e à segurança
internacionais. A guerra tornou-se uma violação ao direito
internacional e os Estados se comprometeram a resolver
suas controvérsias por meios pacíficos e a evitar o uso da
força nas relações internacionais.
Com base nos Capítulos VI ou VII da Carta da ONU, o
Conselho de Segurança pode decidir sobre medidas a
serem adotadas em relação aos Estados cujas ações não se
coadunem com as normas relativas à paz e à segurança
internacionais. Dentre as decisões que podem ser tomadas
ao amparo do Capítulo VII estão o embargo de armas,
sanções abrangentes e mesmo a autorização de intervenção
armada. Essas medidas são manifestações impositivas da
autoridade do CSNU, pois dispensam o consentimento das
partes em conflito.
O Conselho de Segurança é composto por cinco membros
permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, França e
Reino Unido – os "P-5") e por dez membros não
permanentes, eleitos para mandatos de dois anos. O Brasil
é, ao lado do Japão, o país que por mais vezes integrou o
CSNU como membro não permanente. Esteve nele presente
por dez vezes, nos biênios 1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-
64, 1967-68, 1988-89, 1993-94, 1998-99, 2004-05 e 2010-11.
Para o último, foi eleito com 182 votos (dentre 183 países
votantes), o que demonstra o amplo reconhecimento das
contribuições do Brasil à atuação do órgão.
63
Ciente da importância das atribuições do Conselho de
Segurança, o Brasil sustenta que o órgão deve atuar de
forma transparente, responsável e sempre orientada pelos
princípios basilares da Carta das Nações Unidas.
Defendemos as vias diplomática e política para a solução
dos conflitos e consideramos que as medidas coercitivas
são opções de última instância.
O B r a s i l p r o c u r a c o n t r i b u i r p a r a a p r i m o r a r o
desenvolvimento conceitual dos assuntos de paz e
segurança – a exemplo da diplomacia preventiva, meio mais
efetivo para proteger as populações civis sob risco de
violência. Enfatizamos a interdependência entre segurança
e desenvolvimento, o que foi endossado pelo Conselho de
Segurança em declaração adotada sob a presidência
brasileira do órgão em fevereiro de 2011.
Caracterizado por sua postura de independência, equilíbrio
e capacidade de diálogo, o Brasil atua – no exercício dos
mandatos do CSNU e de outros órgãos das Nações Unidas–
pela construção de consensos, especialmente em situações
de grande polarização e divergência entre os membros do
CSNU.
O Brasil advoga a necessidade de reforma do CSNU para
torná-lo mais legítimo e representativo do conjunto dos
Estados-membros da ONU, que hoje somam 193 países. A
reforma é necessária para que o órgão passe a refletir a
realidade contemporânea. Trata-se de preservar o
arcabouço das Nações Unidas, adaptando suas estruturas
às exigências do século XXI.
Em consonância com os aspectos fundamentais das
perspectivas nacionais e dos compromissos internacionais,
conforme exposto no site do Exército Brasileiro, sobre as
“Missões de Paz” (2018, pp. 1-2):
Baseada nos preceitos do artigo 4º da Constituição Federal,
a participação brasileira em missões de paz só ocorre após o
atendimento de algumas imposições, cuja principal é a
aceitação, por parte dos países ou das facções envolvidas no
64
conflito, da presença de observadores ou tropas estrangeiras
em seu território.
Essa conduta da política externa brasileira vem sendo
adotada há longo tempo. Assim, a primeira participação do
Exército Brasileiro ocorreu em 1947, quando observadores
militares foram enviados para os Balcãs. Durante as décadas de
50 e 60, viria a participar com efetivos maiores, integrando
forças internacionais de paz, sob a égide da Organização das
Nações Unidas (ONU) no Oriente Médio e da Organização dos
Estados Americanos no Caribe. A mais longa missão foi no
Oriente Médio (UNEF) e durou de 1957 a 1967, com a
participação de 600 homens, em média, que se revezaram em
20 contingentes.
Nas décadas seguintes, foram bastante reduzidas as
missões, até reiniciarem em 1989, quando inúmeras foram
abertas. Em 1994, foram enviadas tropas (uma companhia) para
auxiliar a manutenção da paz em Moçambique. Em setembro de
1995, o Exército enviou para Angola um contingente composto
por mais de mil homens (um batalhão, uma companhia de
engenharia e um posto de saúde). Nos últimos anos, militares
brasileiros vêm prestando serviços às Nações Unidas, como
observadores, na África, na América Central, na Europa, e na
Ásia, e cooperando para a solução pacífica do conflito fronteiriço
entre o Equador e o Peru.
A par do excelente desempenho demonstrado pelas tropas
e pelos observadores brasileiros em missões no exterior, o
Exército tem participado de exercícios conjuntos com outros
países.
A participação em missões de paz vem trazendo crescente
prestígio à política externa e ao Exército Brasileiro, aumentando
a projeção nacional no cenário mundial.
A Política Externa Brasileira para Operações de Paz
Fundamentada na Política de Defesa Nacional, consoante a
diretriz de participar de Operações Internacionais de Paz, de
acordo com os interesses brasileiros, pautada pelas seguintes
linhas gerais:
65
Os Princípios das Operações de Paz
O Brasil considera que as Operações de Paz são instrumentos
úteis para solucionar conflitos e ajudam a promover
negociações político-diplomáticas, mas não podem substituílas;
a solução definitiva sempre dependerá da vontade política
das partes.
Quando instaurada, uma Operação de Paz deve ser regida
pelos princípios de imparcialidade, aplicação do mínimo de força
necessária, negociação com todas as partes envolvidas e
intermediação na busca de soluções, evitando-se a discussão
de problemas e responsabilidades.
Experiências Brasileiras em Operações de Paz
O Brasil, há muito tempo, vem contribuindo com o esforço de
organismos internacionais de paz, quer pelo envio de
observadores militares desarmados, quer pela inserção de
tropas levemente armadas nas áreas conflagradas. Os objetivos
têm sido monitorar o cessar-fogo entre as partes envolvidas e
desenvolver as melhores condições para o pleno
restabelecimento da paz regional.
Exercícios Conjuntos
Exercício Forças Unidas – O exercício inicialmente denominado
Forças Unidas foi estruturado num quadro de Força de Paz,
realizado numa situação hipotética e com auxílio de
computadores. No decorrer do exercício, são simulados
incidentes que envolvem a tropa, civis e demais participantes na
questão. Nos primeiros dias são realizados seminários com
diferentes temas sobre assuntos correlatos com a ONU e
Operações de Manutenção da Paz. O exercício é patrocinado
pelo Comando Sul do Exército dos Estados Unidos da América
(EUA).
Em 1997, o exercício foi realizado na Escola de Comando do
Estado-Maior do Exército (ECEME). O Exército Brasileiro
realizou toda a coordenação, planejamento e desenvolvimento
do evento, baseado na experiência vivida em Angola.
66
Em 1999 o exercício passou a ser chamado SUR 99, e foi
realizado na capital boliviana segundo uma situação planejada
pelo Comando Sul do Exército dos EUA.
Em substituição ao exercício Forças Unidas, que passou a ser
bianual, em 2000 foi realizado um simpósio de Forças de Paz em
Santiago do Chile.
Operação Cruzeiro do Sul – Em 1996, foi criado um exercício
denominado Operação Cruzeiro do Sul, por iniciativa da
Argentina, com os objetivos de proporcionar um maior
entrosamento entre os integrantes de uma Força de Paz
Combinada (F Paz Cbn) e desenvolver o planejamento de
estado-maior nos níveis grande unidade (GU) e unidade (U),
reforçando os laços de amizade no contexto do MERCOSUL. Em
1997, contando com a participação do Uruguai, o exercício foi
realizado no Brasil, com a presença de tropa no terreno. Em
1998, o exercício foi de quadros, realizado na Argentina, com a
inclusão do Paraguai.
Em 1999, foi realizado no Brasil, e constou de seminários com o
objetivo de trocar experiências relativas às operações de
manutenções de paz e planejamento nos níveis GU e U. Pode-se
observar a diferença entre o SUR 99 e a Operação Cruzeiro do
Sul: o primeiro constitui comando de brigada e o segundo
comando regional, de acordo com o desdobramento das Forças
da ONU em Angola. No ano 2000 o exercício foi de posto de
comando com incidentes.
Exercício de Apoio Humanitário – Ainda em 1998, por ocasião de
uma conferência bilateral de estados-maiores entre os Exércitos
do Brasil e da Argentina, foi estabelecido que seria realizado,
anualmente e por revezamento, um exercício combinado de
apoio humanitário às comunidades por ocasião de desastres
naturais.
Em 1999, o exercício denominado Operação Iguaçu – I foi
realizado na cidade de Posadas, na Argentina, contando com a
presença de militares do 2º Regimento de Cavalaria Mecanizado
e do estado-maior da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada,
explorado sob o tema de um alagamento generalizado na
67
fronteira comum, operacionalizando a assistência humanitária.
Seminários – Nos anos de 1997 e 1998, o Exército participou de
seminários de assuntos relacionados com Operações de
Manutenção da Paz, na América do Sul e Grã-Bretanha. Em
1999, foi realizado um intercâmbio de especialistas em
operação de manutenção de paz com o Exército dos
Estados Unidos da América. Foram discutidos temas como
desminagem, relacionamento com organizações não -
governamentais (ONG)e conceitos doutrinários.
O preparo da tropa – Uma situação real – O Comando de
Operações Terrestres (COTER) é responsável pelo preparo das
tropas que se destinam às missões de manutenção da paz. São
tomadas como referências de preparo as Diretrizes da ONU e os
Programas Padrão de Instrução, entre outros documentos. O
tempo previsto é de cerca de três meses, dividido em instrução
individual (quadros, cabos e soldados) e adestramento.
Perspectivas
Em âmbito internacional – A tendência aponta para a concessão,
pela ONU, de mandatos para que organismos regionais
conduzam operações de manutenção de paz, com o provável
aumento de missões delegadas para coalizões de estadosmembros,
como foi o caso da missão junto à INTERFET; ou para
organismos regionais, com a conseqüente diminuição do
controle das operações por parte das Nações Unidas.
Em curto e médio prazos, pode-se dizer que, em razão do seu
alto custo e das dificuldades de atingir resultados definitivos, as
missões de paz da ONU, envolvendo emprego de tropa,
deverão diminuir. Por outro lado, as missões de emprego
individual – observadores militares – por enquanto, não deverão
sofrer redução.
As Nações Unidas, por sua universalidade, legitimidade e
experiência de mais de 50 anos em missões congêneres, devem
continuar, quando possível, a conduzir as operações de
manutenção de paz.
68
Específicas para a Força
O emprego de forças militares em Operações de Paz continuará
a ser uma constante nos próximos anos. O Brasil poderá ser
convocado a dar sua parcela de contribuição.
Considerando o aspecto profissional e doutrinário das nossas
Forças Armadas, com enfoque central na atuação do Exército
Brasileiro, e em respeito aos pactos assumidos com Organismos
Multilaterais e com a Comunidade Internacional, há uma
rigorosa preparação dos militares brasileiros designadospara
tais missões:
Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB)
Inicialmente, quando os primeiros contingentes de tropa brasileira
foram desdobrados para o emprego em missões fora do país, coube
aos próprios sua preparação. Posteriormente, a 5ª Subchefia do
Estado-Maior do Exército ficou encarregada de planejar esses
treinamentos e adestramentos.
Desde os primeiros desdobramentos de tropa coube aos
contingentes designados a condução de seu respectivo preparo.
Posteriormente, a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército
passou a orientar o preparo da tropa. Em 2001 foi criado, na
Divisão de Missão de Paz do COTER, o Centro de Preparação e
Avaliação para Missões de Paz do Exército Brasileiro (CEPAEB),
com a missão de orientar o preparo de todos os militares
brasileiros designados para integrarem Missões de Paz.
A Resolução 44/49, da Assembléia Geral das Nações Unidas –
ASNU, de 08 de dezembro de 1989, sobre a “Revisão
Abrangente da Questão das Operações de Paz em Todos os
seus Aspectos”, encorajou os Estados-Membros a organizaremse
no estabelecimento de programas de treinamento para
militares e pessoal civil, tendo em vista seu emprego em
operações de paz. A reunião, homônima, do IV Comitê da ASNU,
ocorrida em 04 de outubro de 2005 – na qual discursou o
Conselheiro Militar da Missão Permanente do Brasil junto à ONU,
em Nova Iorque, aprofundou a questão e enfatizou o
compromisso de futuro dos diverso s Estado - Membros para
69
com os aspectos específicos do treinamento para as operações
de paz. Em decorrência desses eventos e em face da crescente
mobilização internacional dos países-membros no sentido de
criar estruturas que possibilitem a prática e a disseminação dos
procedimentos e normas vigentes nas missões de paz, o
Exército Brasileiro, o mais expressivo tributário no âmbito da
Forças Armadas Brasileiras este tipo de missão, criou, por meio
da Portaria do Comandante do Exército Nr 090, de 23 de
fevereiro de 2005, o Centro de Instrução de Operações de Paz.
Como conseqüência do compromisso internacional
recentemente assumido relativo à Missão das Nações Unidas
para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), o CI Op Paz iniciou
suas atividades com a incumbência de conduzir o preparo da
então Brigada Haiti, 3º Contingente, integrada pelo GUEs - 9ª
Bda Inf Mtz, instalando-se provisoriamente no aquartelamento
do 57º BI Mtz (Es) / REI, a unidade base do Batalhão Haiti.
Dessa forma, após a criação do CI Op Paz, os contingentes, a
partir do terceiro, inclusive, passaram a preparar-se e a serem
empregados sob a luz do Cap. 7 da carta das Nações Unidas,
coerente com o mandato da MINUSTAH, produzindo
significativas modificações no comportamento das tropas no
terreno.
Em 15 de junho de 2010, a portaria nº 952-MD, de mesma data,
designa o Centro de Instrução de Operações de Paz (C I O p
Paz), do Exército Brasileiro para a preparação de militares e
civis brasileiros e de nações amigas a serem enviados em
missões de paz e altera a sua denominação, para Centro
Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB).
O 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, desde a
instalação da OM em Santos Dumont-MG, em 1984, teve
Cavalarianos selecionados para atuar em Missões de Paz da
ONU. Para melhor introduzir a segunda parte desse capítulo,
segue-se o resumo dessas Missões:
United Nations Operation in Mozambique (ONUMOZ) – Foi
estabelecida para implementar o Acordo Geral de Paz, assinado
em outubro de 1992 pelo Presidente da República de
70
Moçambique o Presidente da Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO). O mandato incluía o monitoramento
do cessar-fogo, a retirada de tropas estrangeiras, a segurança
dos corredores de transporte e a verificação do processo
eleitoral. De janeiro de 1993 a dezembro de 1994, o Brasil
contribuiu para a missão com um total de 26 observadores
militares, 67 observadores policiais, uma unidade médica e uma
companhia de infantaria, composta de 170 militares. O General
de Divisão Lélio Gonçalves Rodrigues da Silva exerceu o
comando da ONUMOZ de fevereiro de 1993 a fevereiro de 1994.
M i s s ã o d e O b s e r v a ç ã o d a s N a ç õ e s U n i d a s e m
Angola(MONUA) – Foi estabelecida em 30 de junho de 1997
para ajudar as partes em conflito a consolidar a paz e a
reconciliação nacional. Seu mandato previa, ainda, o
estabelecimento de condições para garantir uma estabilidade
duradoura, um desenvolvimento democrático e a reconstrução
do País.
O Brasil contribuiu, durante todo o mandato da Missão(de julho de
1997 a fevereiro de 1999) com uma média de quatro
Observadores Militares, aproximadamente 20 Observadores
Policiais e dois oficiais que atuaram no Estado-Maior da missão.
Em março de 1999, o Brasil passou a ceder uma unidade médica,
composta por 15 militares do Exército, para prestar apoio ao
pessoal das Nações Unidas em Luanda durante o período de
encerramento da MONUA.
Missão das Nações Unidas para Estabilização do
Haiti(MINUSTAH) – Foi criada por Resolução do Conselho de
segurança da ONU, em fevereiro 2004, para restabelecer a
segurança e normalidade institucional do país após sucessivos
episódios de turbulência política e violência, que culminaram com
a partida do então presidente, Jean Bertrand Aristide, para o
exílio.O Brasil sempre comandou o componente militar da Missão
(2004-2017), que teve a participação de tropas de outros 15
países, além do efetivo brasileiro de capacetes azuis da Marinha,
do Exército e da Força Aérea.
71
O Conselho de Segurança da ONU adotou, em 13 de abril de
2017, a Resolução 2350 (2017), que estendeu pelos seus
últimos seis meses o mandato da Missão das Nações Unidas
para a estabilização no Haiti (MINUSTAH) e estabeleceu, a partir
de 16 de outubro do mesmo ano, uma nova operação de
manutenção da paz no país – Missão das Nações Unidas para o
apoio à Justiça no Haiti (MINUJUSTH), composta apenas por
civis e unidades de polícia.
Ao longo dos 13 anos de atuação das Forças Armadas
brasileiras, a população haitiana foi apoiada pela Missão na
ocasião das duas catástrofes naturais que atingiram o país. No
dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto causou a morte de
maisde 200 mil pessoas. Em 4 de outubro de 2016, o furacão
Matthew causou inundações e deixou milhares desabrigados.
Mas não se trata tão somente de participações exemplares e
consecutivas em Missões de Paz da ONU.
Em nosso país, também teve contribuição efetiva na
defesa da segurança e da soberania pátrias: intervenção na
greve da Polícia Militar de Minas Gerais, em 1997; V Jogos
Mundiais Militares em 2011 na cidade do Rio de
Janeiro;Conferência Rio + 20 em 2012, na cidade do Rio de
Janeiro;Jornada Mundial da Juventude em 2013, na cidade do
Rio de Janeiro;Copa das Confederações em 2013, na cidade de
Belo Horizonte; duas participações na Pacificação do Complexo
da Penha e Alemão (Arcanjo II e V) em 2011, na cidade do Rio de
Janeiro; Operação São Francisco, na Pacificação do Complexo
da Maré em 2014, na cidade do Rio de Janeiro; Copa do Mundo
em 2014, na cidade de Belo Horizonte;Jogos Olímpicos e
Paralímpicos, em 2016 na cidade do Rio de Janeiro; Intervenção
Federal no Rio de Janeiro, em 2018.
Tanta lá como cá, esses Cavalarianos se sobressaem e
se valoram.
Tornar-se um Dragão Real das Minas é ser,
invariavelmente, a “ponta de lança”, a unidade/tropa
precursora/desbravadora, é ser a referência buscada – pela sua
excelência e galhardia no cumprimento das missões.
72
2.2 Relatos testemunhais dos atuais Dragões Reais das
Minas
Uma coisa é o que, e como, a historiografia – oficial e/ou
acadêmica – relata e descreve um fato, como o analisa a partir de
determinadas perspectivas e ideologias. Outra coisa, a mais
relevante delas, são as memórias daqueles que participaram
diretamente desses eventos, sempre dentro da perspectiva do
impacto e da influência, além do significado e da significância,
nas suas vidas, na dos seus pares e familiares por simplesmente
terem sido Agentes da História naquele momento crucial – para o
Brasil e/ou o mundo.Doravante serão esses relatos
testemunhais, tanto de efetivos como de militares da reserva, do
4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado DRAGÕES REAIS DAS
MINAS, que darão a devida sustentação à atuação/emprego de
tropas dessa OM em missões nacionais e internacionais.
Levando em conta a informalidade e a autenticidade dessas
memórias eletivas – conforme respostas desses Cavalarianos
ao RELATÓRIO HISTÓRICO TESEMUNHAL – DOCUMENTAL
(ANEXO 1) – as mesmas não serão tratadas com desnecessário
rigor acadêmico; apenas adidas ao corpo textual dessa obra.
Augusto Cury, Psiquiatra e Escritor brasileiro, ensina, de
forma inequívoca e objetiva, que “Um homem sem história é
como um livro sem letras”, corroborando uma das máximas de
Cícero - Marco Túlio Cícero, ou em latim Marcus Tullius Cicero,
(106 a.C. - 43 a.C.) foi um orador, escritor, estadista romano, e
considerado um dos maiores filósofos da Roma Antiga -, na qual
afirma, categoricamente, que “A história é testemunha do
passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida,
anunciadora dos tempos antigos”. E ao pensar nos relatos
que se seguirão, é impossível não deixar de ponderar sobre uma
das grandes mensagens deixadas pelo filósofo, escritor, poeta e
filólogo alemão do século XIX, Friedrich Nietzsche, “Quem só
tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e
tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o
enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!”, e
a única alternativa para desatar esse Nó Górdio é
compartilhando tais passagens para que os aprendizados de
alguns se tornem a inspiração e “chave decodificadora” de
73
outros tantos anônimos que buscam sua redenção nesse ato de
humanidade.
Passemos, de imediato, aos relatos testemunhais,
observando/obedecendo a ordem cronológica das
missões
74
CARLOS ALBERTO - RESERVA/PATENTE: 2º Tenente R/1
UNAVEM Ill — 3º Missão de Verificação das Nações Unidas em
Angola, no período de Fevereiro a Agosto de 1996, 1º Sargento
Enfermeiro.
Quando recebemos o repórter Hermano Hening em nossa base eu fui
designado pelo então Capitão Jaqueira para servir de seu motorista
nos dias em que lá permaneceu o acompanhando em todas as
reportagens que se fizessem necessárias, me deu as chaves da Toyota
e assim eu cumpri a missão levando-o em todas as nossas bases de
operação na Província do Biê, bem como na capital Kuito.
Aconteceu também um fato interessante quando nos deslocávamos de
Hércules C-130 com a comitiva do Estado Maior do Exército e uma das
turbinas parou de funcionar eu fiquei meio apreensivo e um coronel da
comitiva me disse: não precisa ficar preocupado, o avião trem quatro
turbinas e esta não vai fazer falta.
Outro fato que me deixou bastante emocionado foi o garotinho Alberto
com quem eu fiz amizade, todos os dias ele me esperava em frente a
nossa base de operações para conversar comigo e pedir alguma coisa
que eu sempre dava, guloseimas, peças do vestuário, enfim, certa feita
estava saindo com o Capitão Borges para caminhar, ele queria ir junto
eu falei que não por causa da distância, eram 8 km, e fomos nós e ele
ficou, andamos 4km e retornamos quando eu vejo um pontinho negro
no horizonte, eu falei pro meu amigo será que é o Alberto? E não deu
outra, era ele mesmo, e eu falei Alberto é muito longe pára você, você é
muito pequeno, o que veio fazer aqui? Ele me respondeu: eu estava
preocupado com o meu amigo por causa das minas terrestres.
Outro fato bem marcante também foram as visitas que fizemos ao asilo
de Cangalo, todos os dias o pessoal do rancho pegava tudo que sobrou
da refeição daquele dia e fazia um sopão, carne, arroz, legumes, enfim,
e colocava num panelão e nós acompanhamos o pessoal do rancho,
neste dia a comissão do EME estava presente e não se conteve em
lágrimas, os atendidos eram crianças, órfãos de guerra, idosos e
mutilados pelas minas, que nos recebiam batendo com sua marmitas
vazias no solo e cantando no dialeto deles como forma de
agradecimento, essa era a única refeição que tinham naquele dia.
Também fiquei gratificado em ensiná-los a construir latrinas de fossa e
assim minimizar bastante as parasitoses intestinais, aliadas ao
tratamento.
Digno de relato também é formação dos agentes de saúde entre os
próprios nativos, nós os ensinamos a colher o sangue furando a ponta
75
do dedo e espalhando na lâmina daqueles que estivessem com
suspeita de malária, eles traziam todas estas lâminas e nós as
colocávamos no microscópio, aquelas que estavam positivas, que
foram previamente identificadas retornavam com o tratamento que
n ó s f o r n e c í a m o s , e c o m e s t a m e d i d a n ó s r e d u z i m o s
consideravelmente o índice de mortandade entre os nossos irmãos
angolanos.
Gostaria de ressaltar também a parte religiosa desenvolvida pelo
nosso capelão militar Capitão Pedro e de seus auxiliares onde estou
incluído juntamente com o Rosinei e o Marcio Costa, onde nós
tivemos a oportunidade de auxiliá-lo na adaptação de um
container que foi transformado em local de oração, bem como
participar das missas através do coral, participar do lava pés
auxiliando o Padre na lavagem dos pés dos apóstolos.
Na vida militar foi muito interessante ver in loco a atuação e fazendo
parte de um Batalhão de Força de Paz desdobrado no terreno atuando
em missão real, com suas companhias e pelotões, realizando intenso
patrulhamento e escolta de comboios e autoridades, montando e
operando postos de observação e controle de trânsito a fim de evitar
violações do cessar fogo; os militares de engenharia recuperando e
construindo pontes e estradas, fazendo terraplanagem e executando
um dos trabalhos mais perigosos no território angolano: encontrar e
destruir minas anti-pessoais e anti-carros. O pessoal do Pelotão de
Saúde fazendo profilaxia da malária, um inimigo constante: realizando
ACISO (ações cívico sociais) onde eram realizados atendimentos
médicos e odontológicos aos nativos da região com farta distribuição
de medicamentos.
Na vida pessoal foi uma experiência incrível, pois tive a oportunidade
de trabalhar com muito amor à profissão e ao próximo, exercitei
bastante a fraternidade, a solidariedade, fazendo tudo que estava ao
meu alcance para ajudar nossos irmãos angolanos. Na minha função
dentro da enfermaria o atendimento que eu proporcionava aos
companheiros de missão era estendido aos meus irmãos angolanos.
Eu cresci muito como ser humano, eu chego a falar para algumas
pessoas mais chegadas que eu não sei quem foi mais beneficiado se
eu ou eles, na realidade a oportunidade que eles me deram de ser útil
naquelas circunstâncias extremas do pós guerra influenciaram
diretamente na minha vida. Me sinto muito feliz pelo que pude fazer e
minha família e meus amigos se orgulham muito de mim.
Na OM aconteceu uma coisa interessante nosso comandante na
época da missão Major Vieira fez o seguinte, nós que ficamos aqui no
quartel e não fomos na missão temos que fazer alguma coisa para
76
que quando eles chegarem poderem observar que não ficamos aqui
parados enquanto eles estavam na missão arriscando suas vidas, eles
começaram o trabalho de construção de uma piscina em ritmo
acelerado, de modo que a obra não parava, virava dia e noite, estavam
todos comprometidos nesta empreitada, tendo como administrador da
obra o próprio Major Vieira, que incansavelmente conduziu a obra até
o final.
A escala de serviço ficou também muito apertada porque nós
embarcamos com um Pelotão de Cavalaria completo e turma se
desdobrando aqui para compensar a nossa ausência.
Ele montou um ponto de apoio para as famílias que tinha seus
membros na missão e a coisa funcionou muito bem.
No meio da missão foi oferecida a possibilidade de vir ao Brasil para
aqueles que quisessem com às custas da viagem por conto do
interessado, alguns que realizaram a viagem estiveram no quartel e
puderam aquilatar o orgulho dos companheiros em ver o colega
ostentando a Boina Azul e o interesse em saber como estava sendo a
missão, as dificuldades, a saudade dos familiares, enfim tudo que
estava acontecendo conosco.A chegada foi uma festa para a família,
para a comunidade e principalmente para o 4º Esqd C Mec que tinha
um Pelotão de Cavalaria de Força de Paz.
Quando desembarcamos na nossa base de operações em angola e
após receber nossas barracas e guardar todo nosso material, eu e o
capitão Borges de imediato raspamos as nossas cabeças e
começamos a fazer uma brincadeira chamada sombra, que consistia
em ele fazer uns movimentas e eu repetir os mesmos movimentos, e o
pessoal caindo na risada pois imagina um capitão e um 1º sargento
fazendo essa brincadeira, foram no Coronel Raphael comandante do
Batalhão Angola e contaram o acontecido, e obtiveram a seguinte
resposta: deixem os dois, não quero que interfiram na brincadeira
deles isto é muito bom para o entretenimento da tropa.
Foi a mesma coisa que jogar o sapo na água, nós crescemos muito no
conceito do Coronel, era proibido entra no rancho fora dos horários de
refeição, quando aparecíamos na porta o soldado chamava o tenente
responsável e anunciava o capitão Borges e o sargento Carlos Alberto
estão aqui obtendo a seguinte resposta: O Coronel ordenou para
deixá-los em PAZ então deixe eles entrarem, se quiserem levar o
rancho todo podem levar.
E assim foi muito bom nós conversávamos com todos os soldados
principalmente, ouvíamos os seus anseios, fazíamos bastantes
brincadeiras, estávamos sempre juntos.
77
Certo dia apareceu uma angolana para fazer uma cirurgia dentária
com ele, o auxiliar dele estava em missão viajando, sobrou prá mim a
tarefa de auxiliá-lo no procedimento, mas não foi possível acabei
servindo de babá pois a criança chorava muito e ainda me presenteou
com um intenso xixi no colo.
78
Nome: Aguinaldo Nome de Guerra: Silvério
Ativa Patente 2° Sargento
Haiti: Missão das nações unidas para a estabilização no Haiti:
Fui designado para integrar o 8° contingente no período de:
19/11/2007 a 21/05/2008, minha patente na época era Cabo e no
período de 21/11/2013 a 19/04/2014 pós terremoto minha
patente era 2° Sargento.
Bom ao pisar em solo haitiano o que avistamos naquele primeiro
momento foi ver a miséria que aquele país estava passando, haitianos
revirando lixo para tirar daqueles detritos o que comer, isso foi muito
impactante naquele primeiro momento, um país sem nenhum
saneamento básico, como coleta de lixo, água potável e esgoto. Um
fato interessante que me chamou atenção foi observar uma “canaleta”
nos cantos das ruas onde corria uma água aparentemente limpa e
transparente, mas que na verdade era imprópria para consumo
humano mas que os haitianos com aquela água tomavam banho,
bebiam e utilizavam para cozinhar, olhava aquelas pessoas usando
daquela água junto com os animais, como porcos, cabritos e isso me
impressionou muito. Outro fato que me impactou e esse eu presenciei
dentro da base onde o batalhão estava Brabati 1 foi no meu local de
trabalho, na base eu trabalhava no rancho(S.V) e lá na cozinha
trabalhavam alguns haitianos, homens e mulheres, certa vem estava
de serviço já no horário da ceia e presenciei um fato, um haitiana de
nome Victoria já estava encerrando seus trabalhos e percebi que uma
cadela estava muito agitada, ele latia muito, pois na base haviam entre
4 e 5 cães de estimação, coisa que no Haiti é raro de se ver, então ae
perceber o agito da cadela fui ver o que estava acontecendo, caminhei
atrás do container e vi que os filhotes da cadela haviam sumido, os
filhotes tinham entre 3 e 4 semanas de vida ao ver um volume muito
grande na bolsa de Victoria perguntei pra ela e tinha visto os filhotes e
ela nervosa me respondeu que não sabia, mas ao observar a bolsa
dela vinha dali o choro dos filhotes, então eu a questionei sobre o que
faria com os filhotes e ela me respondeu “grande chefe e pra dar de
comer para meus peti(filhos)”, eu mas que depressa argumentei com
ela que aquilo não era certo e a convenci a fazer uma troca, daria a
ela, leite, cereais e carne em troca dos cachorrinhos, no primeiro
momento ela aceitou e os filhotes foram devolvidos, passado alguns
dias os filhotes sumiram novamente e a cadela estava muito triste,
quando fui perguntar a Victoria ela me disse que levou os filhotes e deu
de comida para seus peti(filhos) pois estavam sem comer a dias, isso
me deixou com um sentimento de tristeza e raiva, pois ver um ser
79
humano dar de comer um animal que para nós é de estimação e não
poder fazer nada, e entender que o que prevalece é o instinto de
sobrevivência.
Como militar a missão foi uma conquista, todo militar sonha em
participar de uma missão no exterior e isso me engrandeceu muito,
como pessoa e militar, foi uma experiência a a qual tive a honra de
aprender e me vez ver como é grandioso poder ajudar o próximo, dar
mais valor a vida e não fica reclamando e qualquer coisa, hoje sou um
ser humano melhor que antes da missão, agradeço a Deus e minha
família por tudo.
O 4° Esqd é uma unidade reconhecida em nossa região e de
muito valor por ter em sua historia varias missões dentro e fora
do país, Moçambique (1994), Angola (1995), Haiti (2007-2010-
2013), com tantos integrantes participantes dessas missões faz
que 4º Esqd tenha em suas mãos integrantes com vasta
experiência para atuar em qualquer tipo de missão, isso faz
nossa unidade ser diferenciada.
Bom um caso engraça e interessante e acontecia em alguns
corimeques era o fato que como o confinamento e rotina na base
eram estressantes, para sair da rotina alguns corimeques
realizavam brincadeiras como: disputa de flexão, disputa de
barra, cabo de guerra. No meu corimeque eram 4 motoristas de
blindado e 2 rancheiros e o nosso passa tempo era nos finais de
semana se juntar e fazer comida dentro do corimeque, era uma
forma de distração, juntavam os motoristas, eu e o outro
rancheiro e cada um fazia uma coisa, com isso o tempo
rapidamente passava e era muito bom.
80
Nome: Renan Ferreira de Oliveira – Nome de Guerra: Renan
Reserva – Patente: Cabo
Jornada Mundial da Juventude
O 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado integrado ao 32º BI
motorizado de Petrópolis foi empregado para cumprir a missão de
garantia da lei e da ordem (GLO) na Jornada Mundial da Juventude que
aconteceu de 23 a 28 de julho de 2013 no Rio de Janeiro -
Brasil,durante a visita do Papa Francisco.
As unidades correspondentes foram empregadas incialmente em
Guaratiba bairro situado na zona oeste da cidade e onde estava
sendo construído o Campus Fidei, que segundo informações obtidas
por meio da interneto campus Fidei apresentava uma área de 1,36
milhão de m², cercado por uma vegetação de mangues.
O Esquadrão chegou uma semana antes para o reconhecimento da
área – eu cumpria a função de comandante de esquadra como cabo e
tendo como comandante de GC o2º Sgt. Gledison, 2º Sgt. Tomires
adjunto do comandante do pelotão 2º Ten. Campelo todos alojados
em uma escola local. Durante o primeiro reconhecimento da área, a
chuva que já era incessante desde antes de nossa chegada criou uma
massa de ar gelado caindo a temperatura entre 8ºC e 13ºC, deixando
o reconhecimento mais difícil, e, ao chegarmos ao Campus Fidei, nos
deparamos com máquinas tentando amenizar a situação da chuva,
espalhando cascalho em enormes possas de água. Durante o nosso
reconhecimento, a chuva formou várias lagoas, acredito que o
Esquadrão havia sido designado para pior área. Ao nos depararmos
com uma grande lagoa, o pelotão parou, e sem comandos ou
indagações, vendo o receio da tropa, com “a moral baixa”, molhados e
com frio, atravanquei naquela enorme possa de água que havia se
formado ali, e cobria mais que uma avenida de largura, afundando a
minha perna até a metade da coxa. Naquele momento, já não tinha
certeza se o evento aconteceria naquela região. Mais tarde, de volta à
base, recebemos ordens para nos preparamos, pois o evento daria
continuidade em Copacabana, onde já se encontrava uma estrutura
montada que deu início à visita do papa na cidade. Ao sermos
designados para outra escola, já em Copacabana, recebemos
suprimento operacional (R2) para um dia, onde nossa missão se
tratava de patrulhar parte da orla e ruas paralelas, evitando eventuais
transtornos aos turistas que vinham em peregrinação de diversas
partes do mundo . Era o último dia, e a mudança nos pegou de
81
surpresa, mas foi emocionante estar patrulhando a orla e ver o papa
passando e acenando para a multidão, dava pra sentir a energia e o
tempo todo pessoas jogavam objetos religiosos em direção ao carro
presenteando o papa. Foi um momento de tensão, estava atento a
tudo e a todos, pois mesmo a entidade religiosa não apresentando
inimigo declarado, existia a chance de algum fanático religioso reagir
negativamente deixando os nervos à flor da pele de todos militares
presentes, felizmente tudo acabou bem e encerramos a missão.
Quando retornamos à base de Copacabana, com ar de missão
cumprida, recebemos a noticia que teríamos que permanecer mais um
dia,24h encerrando as 00:00 h do dia seguinte. Em uma patrulha e
outra, já sem suprimento para alimentar a tropa e com sono, solicitei
permissão ao Ten. Campelo para realizar a compra de suprimentos
para alimentar a tropa em um mercado local, foi ai que o mérito de todo
esforço veio à tona. Ao entrar no mercado, fomos recebidos como
heróis e, sem entender nada, o gerente veio me agradecer, pois o
mercado não era assaltado á dois dias e, que segundo ele, ocorria de
duas a três vezes ao dia. O comerciante não queria cobrar as compras,
mas, de forma alguma poderíamos aceitar, porém, foi muito
gratificante receber esse retorno dos cariocas e ver quão grande foi a
importância do exército presente ali para garantia da lei e da ordem.
82
Nome: Cleiton Fernandes Aguiar de Souza
Nome de Guerra: Fernandes
Ativa – Patente: Soldado
Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio de Janeiro 2016
O evento (Olimpíadas) decorreu no período de 3 a 21 de agosto de
2016 e as Paraolimpíadas ocorreram entre 07 e 18 de setembro.
A missão foi dada para garantir a segurança da realização dos jogos
olímpicos é paraolímpicos no Rio de janeiro, a missão que uniu
brasileiros com outros países com a cultura, comida e pela beleza que
nosso Brasil tem. Tive conhecimento de como é participar de um
grande evento como esse que cada 4 anos ocorre em um país e eu tive
privilégio de participar desse evento fazendo a segurança não só do
meu país mais sim de todos aqueles que vieram no intuito de
acompanhar e desfrutar os jogos e nosso país maravilhoso, cada
momento que passei foi marcante desde o grande frio das antenas da
Sumaré até o maravilhoso momento de estar no Maracanã e Cristo
Redentor, foi uma das melhores missões que pude participar estará
marcado na minha memória.
Aprendi muito com meus companheiros a dividir essa experiência
fantástica que talvez não tenha mais no Brasil e principalmente não
estarei mais na ativa do exército, mais levarei comigo tudo o que
aprendi com meus companheiros, por lá não foi só maravilhas também
passei por frios, chuvas, até por está em algum lugar mais afastado as
vezes chegava comida gelada mais nada a abaixasse nossa moral e
manter focado na missão fazendo q todos pudessem desfrutar do
nosso país, deixei marcado meu nome nessa história e todos aqueles
q falarem da olimpíadas de 2016 vou lembrar q fiz de tudo pela
segurança dos jogos serem realizados e principalmente pela
segurança de todos posso levar essa história por toda minha vida e
contar para meus filhos e netos.
Essa missão mostrou para 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha
(31 DE MARÇO, Juiz de Fora – MG) que o Esquadrão está sempre
preparado para qualquer tipo de missão, mostramos que somos
capazes e bem adestrados para que quando for dado e for acionado
agente estará pronto,isso fez crescer cada vez mais nossa
experiência e conhecer mais um ao outro para que nosso
conhecimento possamos passar para aqueles que chegarem na OM
motivar e preparar e deixa sempre o esquadrão no topo e ser bem
representado pela brigada e pelo exército.
83
Um prazer de participar dessa missão, todos nós passamos por tudo
que podia imaginar mais a satisfação de dever cumprido no final da
missão mostrou q somos capazes de tudo.
Brasil acima de tudo.
Montanha!!!!
84
Nome: José Estevam Pinheiro Filho – Nome de Guerra:
Estevam
Ativa – Patente: 1º Tenente
Intervenção Federal Rio de Janeiro 2018 – Operação Furacão
Participei da operação furacão com o 1º Pelotão de Cavalaria
Mecanizado, na ocasião já era 1º Tenente, estávamos subordinados ao
32 BIL compondo a FT Montanha 32 juntamente com um grupamento
do 4º GAC e uma equipe de manutenção do 17 Blog, a minha
participação se deu em 02 (dois) períodos, sendo o primeiro de 27 de
Julho de 2018 a 24 de Agosto de 2018 e o segundo período foi de 22 de
Outubro de 2018 a 23 de Novembro de 2018.
No Âmbito da operação furacão estávamos atuando em diversas
missões de garantia da lei e da ordem (GLO), tais como Posto de
Bloqueio e Controle de Vias Urbanas, Ponto de Segurança Estático,
Patrulhamento motorizado, Patrulhamento Blindado e revistas de
Material e pessoal. Essas ações de GLO ocorreram na região de São
Gonçalo-RJ e Niterói-RJ, e no 1º período que estive nessa missão
ainda atuamos no complexo da penha e vila cruzeiro por 02 (dois) dias
na cidade do Rio de Janeiro-RJ.
Para mim o mais marcante foi participar nesse tipo de operações GLO,
eu nunca havia participado nesse tipo de missão, em todos os
aspectos foi novidade, uma nova guarnição onde foram realizadas as
operações, as operações em conjunto com órgãos de segurança
pública, o modo de operar na guarnição do Rio de Janeiro e a
sequência de missões e operações realizadas com a tropa
Durante as 04 (quatro) semanas que estive na guarnição de Niterói na
minha 1ª passagem da intervenção federal, ficou nítido 3 fases bem
específicas nas operações principalmente no que tange ao
patrulhamento com abordagem e revista de pessoal. Na primeira
semana o deslocamento se restringia somente ao itinerário préestabelecido
pelo escalão superior, que após uns dias de
patrulhamento já não havia mais o efeito surpresa contra os APOP
(agente perturbador da ordem pública), na segunda semana houve um
pouco mais de liberdade com relação ao itinerário a se deslocar,
podendo variar algumas ruas do pré-estabelecido, isso fez com que se
aumentasse um pouco mais o efeito surpresa, aumentando um pouco
o número de apreensões e revistas. Na terceira semana o
deslocamento não se restringia mais a um itinerário pré-estabelecido e
sim era determinada uma área para patrulhamento e um horário para
tal, e ficava a critério do Cmt Pel o itinerário a se percorrer, aplicandose
também este critério para abordagens e revistas, com isso o efeito
85
surpresa cresceu de maneira considerável aumentando também o
numero de apreensões.
Durante as 04 (quatro) semanas que estive na guarnição de Niterói na
minha 2ª passagem da intervenção federal, o contexto das operações
haviam mudado tendo em vista que a intenção do comando era reduzir
o roubo de cargas na BR 101 no trecho entre Niterói-Rj e São Gonçalo,
os patrulhamentos em comunidades continuaram porém a maior parte
da missão consistia em PBCVU nas entradas das comunidades
durante todo o dia, com foco em roubo de cargas e veículos.
Na vida pessoal essa missão influenciou principalmente nos quesitos
de organização em casa e com familiares, na época morava sozinho
então não dispunha muito de ajuda para organização da casa. Tive
que solicitar apoio de amigos que me ajudaram no pagamento de
contas obrigatórias da casa (água, luz) entre outras que iriam chegar
no meu período de ausência. Além disso, organização da logística
tendo em vista a partida para a operação, com organização de
materiais a serem levados, compra de materiais necessários e outros
confortos que julgava necessário
Na vida militar o ganho foi considerável a contar pela experiência
adquirida durante a operação tanto quanto o ganho nos
adestramentos feitos na preparação para a missão, módulos de
progressão em ambiente urbano, módulos de tiro voltados para ações
de GLO tais como tiro sob stress (stress fire) e tiro de ação e reflexo,
como também toda a preparação logística da missão e documentação
necessária para a mesma.
Influenciou e melhorou bastante na preparação das tropas na OM,
tendo em vista que dentro dos rodízios previstos com a tropa para a
atuação na intervenção federal, haviam inúmeros treinos e
adestramentos, sendo estes dentro da própria OM como também em
outras OM's, houve também um aumento na chegada dos recursos
para o esquadrão trazendo consigo uma melhora significativa de
materiais, viaturas e instalações tudo visando uma melhor preparação
e atuação da tropa durante a missão.
No ponto de vista pós-intervenção essas melhorias somadas a
experiência adquirida pelos militares durante o período de intervenção
vai possibilitar uma preparação ainda melhor para futuras missões que
o Esquadrão virá receber.
Sou grato pela oportunidade que o Exército me concedeu de poder
atuar nesse ambiente da guarnição do RJ, trabalhei com excepcionais
militares que sempre buscavam dar o seu melhor em prol do
cumprimento da missão, aprendi muito, passei por momentos de
dificuldade mas a missão foi muito bem cumprida, nossa tropa se
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destacou e elevou ainda mais a importância da dos Dragões Reais das
Minas no âmbito da Brigada e do Exército e mostrou o valor do Soldado
“Boina Preta”
Montanha!!!
Cavalaria!!!
Boina Preta!
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Nome: Jayme Piloni Junior – Nome de Guerra: Piloni
Reserva – Patente: 1º Tenente
Participação nas filmagens de “Luar sobre Parador” – 1988
O Esquadrão participou com viaturas e figurantes no filme americano
“Luar sobre Parador". Com a Direção de Paul Mazursky. ELENCO:
Richard Dreyfuss, Raul Julia, Sônia Braga, Fernando Rey, Milton
Gonçalves, entre outros.
Foi uma missão feita também com membros da Brigada Paraquedista
na cidade de Ouro Preto. O Esquadrão forneceu viaturas que foram
caracterizadas com cores e símbolos do país fictício de Parador.
Vários militares tiveram participação como figurantes do filme,
fazendo parte do Exército de Parador. O militar mais destacado foi o
1° Sargento Benedito que era o Comandante da Guarda do
Presidente, aparecendo várias vezes no filme.
As viaturas também apareceram muitas vezes, sendo que na última
cena a nossa ambulância, que na época era uma Rural, participa da
última cena de ação filme onde o ator americano Richard Dreyfus e a
atriz brasileira Sônia Braga fogem.
Pela participação no filme o Esquadrão foi dotado com uma cota bem
maior de combustível, o que possibilitou a realização de todos os
exercícios de instrução e adestramento para os Pelotões de Cavalaria
Mecanizada. Também recebemos tintas necessárias para a pintura de
todas as viaturas que ainda não estavam no padrão camuflado.
O mais interessante foi o valor que era pago pela produção do filme
para cada participação na figuração. O valor era em média 30 dólares.
Isso gerou um certo celeuma com as outras unidades da Brigada, pois
começou a aparecer no set de filmagem muitos militares tentando tirar
quem já estava lá.
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A somatória de todos esses relatos revela muito mais do
que o constante adestramento, estado de prontidão e de
operacionalidade desta OM, uma vez que todos esses feitos só
puderam ser alcançados pela destacada excelência, pela
i r r e s t r i t a d e t e r m i n a ç ã o e p e l o a p r i m o r a m e n t o
evolutivo/constante dos Dragões Reais das Minas, bem como
pelo irrefreável sentimento de cumprimento do dever, da
obediência devida às leis e de defesa do Brasil e da sua gente.
O fator humano será sempre determinante, pois dentro
de cada farda existe um brasileiro preparado, e decidido, a
cumprir sua sagrada e constitucional missão de se doar pelo seu
país e pelos seus concidadãos, e cada uma dessas pequenas
histórias confirma, e reafirma, que esses guerreiros modernos
são sim herdeiros incontestáveis e legítimos das nobres
tradições da primeira unidade regular de Cavalaria, da primeira
tropa de elite, em solo pátrio, e que suas vivências e
experiências representam fielmente o conjunto da tropa e
realçam a sua unidade identitária.
Destaca-se, nesse contexto, o exemplo da “Associação
de Militares da Reserva de Santos Dumont-MG”, que desde a
sua fundação, em 25 de agosto de 2012, mantêm estreita e
singular relação com o 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado
ESQUADRÃO DRAGÕES REAIS DAS MINAS; dois dos quais
contribuíram com essa importante parte dessa obra.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a pesquisa para a elaboração desse Livro
deparei-me com uma postagem bastante interessante no portal
do 52º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Ouro Preto – MG, e
que possui responsabilidade territorial sobre 04 municípios (Ouro
Preto, Mariana, Itabirito, Diogo de Vasconcelos) e 23 distritos,
além de diversas localidades, com uma extensão territorial de
3147,44 Km e uma população fixa estimada em 173.738
habitantes –, relativo à 8ª edição da entrega do Diploma de Honra
ao Mérito “Quartel dos Dragões de Nossa Senhora do Carmo”
onde a Câmara Municipal de Mariana, em 16 de junho de 2016,
homenageou a Polícia Militar de Minas Gerais com a entrega do
mesmo a cinco a policiais militares que se destacaram na
corporação e na sociedade. Atentando ainda que o título da
honraria é um resgate histórico ao período colonial, quando em
1719 a Vila de Nossa Senhora do Carmo, atual cidade de
Mariana, ganhou duas Companhias de Dragões, também
conhecidos como Dragões do Conde de Assumar, bem como de
que os dragões desempenharam missões militares de defesa
externa e de segurança interna.
Especificando, ao final da matéria, que o Quartel dos
Dragões da Vila de Nossa Senhora do Carmo foi o primeiro
Quartel de Dragões da Capitania de Minas Gerais e localizava-se
na atual Praça Minas Gerais para abrigar as referidas
Companhias de Cavalaria. E para tornar informar e detalhar
melhor apresenta um complemento derradeiro: o termo dragão
surgiu no século XVI para se referir a soldados que combatiam a
pé e se deslocavam a cavalo. A origem também é atribuída aos
supostos dragões contidos nos estandartes das tropas do conde
de Brissac, na França, ou a uma espécie de arma curta ou
carabina usada pelas mesmas; também pode ter sido originado
do fato de um soldado de infantaria a galope, com a sua casaca
solta ao vento e o fogo saindo da arma, se parecer com um
dragão.
A escolha, e a relevância, dessa notícia, de cunho
institucional e cívico, possuem o intuito e o destaque de deixar
patente, e inequívoco, o entendimento de que, mesmo passado
90
três séculos da chegado dos Dragões Reais das Minas, em
1719, a importância dos seus atos/feitos e a memória que se
mantêm viva nos locais onde se aquartelaram e deixaram
marcas da sua passagem. O próprio diploma demonstra a
relevância histórica capital desse primeiro quartel para a
comunidade.
Escudando-me na convicção de que muito não foi aqui
exposto, relatado e/ou devidamente mais aprofundado e
detalhado, resta-me o conforto de ter a consciência clara de que
isso assim se deu porque foram sim cumpridas as
determinações do plano mestre para a elaboração dessa obra
que hora se finda, obedecendo tanto à sua destinação e
formatação textual como a exposição das informações e
análises basilares concernentes, além a observância aos limites
previamente estabelecidos para que o significado, e a
significância, de tão importante abordagem dessa conjunção
histórica ímpar não se perdesse em descaminhos
desnecessários e desfigurantes. O Historiador sabe que a partir
daquele ponto onde encerra sua narrativa sempre haverá a
possibilidade de que outros irão, ou poderão, usá-lo como ponto
de partida, ou fundamentação, para futuros estudos, ou então
para enriquecer alguma pesquisa em andamento relacionada
aos resultados do seu trabalho.
Os primeiros Dragões Reais das Minas completam seus
trezentos anos, cristalizando o destaque, a deferência, a
memória e a mística que fizeram por merecer, e os atuais, do 4º
Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, ao chegarem aos seus
noventas anos, se firmam na certeza de muitas outras décadas
de profícuas conquistas e vitórias ainda os aguardam – hoje e no
futuro. Nunca se tratou, desde o começo desse projeto, de um
exercício de proselitismo e nem, tampouco, de formular uma
exegese apologética e/ou sofismática, mas sim de render a justa
homenagem a essa tropa atemporal, a esses guerreiros de elite,
resgatando uma considerável parte da sua trajetória e
asseverando que o seu legado permanece, persiste e é
continuadamente aprimorado e reverenciado.
Nos é impossível fazer qualquer afirmação sobre o que
nos reserva o amanhã, não é saudável tecer conjecturas insanas
e nem descabidas sobre aquilo que a temporalidade – que
91
sabiamente limita-nos ao que foi consumado no passado e a
seqüencialidade volátil do presente – nos impede de agir como
pitonisas ou profetas amadorísticos e inconseqüentes. Por isso
mesmo, aprende-se que o conhecimento sobre o futuro “a Deus
pertence”, que nossa humanidade, que já é reconhecidamente
falha por aquilo que fizemos e fazemos, de ser encarada não
como uma limitação, que deve ser tratada como uma
possibilidade de humildade e de reflexão, pois, somente nesse
contexto é que estaremos aptos a aprender com o que fomos e o
que somos, e, doravante, desenvolver a capacidade e a
compreensão de estarmos prontos a lidar com o porvir.
92
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FOTOS JOGOS OLIMPÍCOS E PARAOLIMPÍCOS – RIO DE JANEIRO 2016
98
FOTOS OPERAÇÃO FURACÃO – GLO RIO DE JANEIRO 2018
99
FOTOS FILME LUAR SOBRE PARADOR - 1988
Imagens: https://www.imcdb.org/m95654.html
100
ANEXO 1
Carta para o Excelentíssimo Senhor Conde de Assumar.
Excelentíssimo Senhor. Meu Senhor. Recebo a última de Vossa
Excelência de 20 de fevereiro., e sinto que a Vossa Excelência pareça
que possa haver em mim descuido, para lhe desmerecer o favor das
suas notícias, sendo tão pontual em lhas agradecer que não perco
ocasião alguma em que deixe de me ir por aos seus pés da maneira
que posso. Os dias passados escrevi a Vossa Excelência por uma
sumaca que saiu deste porto, e remeti ao seu procurador no Rio de
Janeiro um saco de cartas, em que iam algumas do Excelentíssimo
Senhor Conde pai de Vossa Excelência; aqui me seguram constam —
64temente haver sido apresada a dita suma e a por um dos muitos
piratas que freqüentam e infestam perniciosamente esta costa, e
nesta consideração lhe escrevi novamente por terra, agora o faço
também por esta embarcação do contrato, remetendo-lhe outra via
além das que têm ido. Estimo inexplicavelmente que Vossa
Excelência se ache mais sossegado e com os povos naquela
quietação em que os sabe conservar a sua prudência e a sua justiça. A
Manuel Nunes Viana tornei a chamar novamente, e a uma
representação que aqui me chegou dos moradores do rio das Velhas
respondi com aquéias amoestações e ameaças que convém ao
respeito da pessoa de Vossa Excelência e do seu caráter, porem
Vossa Excelência (como o aviso em todas) não tendo expressa ordem
de Sua Majestade se deve abster e não continuar no projeto da nova
vila no sítio do Papagaio, nem em qualquer outro da jurisdição da
Bahia, por ser este o fundamento maior pelo que tenho colhido da
inquietação daquela gente; e eu por obrigação do Governo sendo tão
amante de Vossa Excelência e tão venerador seu não posso deixar de
me opor suavemente a este intento, sendo espontânea determinação
sua sem expressa ordem de El-Rei que resolverá o que for do seu
maior serviço e agrado, porque eu a tudo saberei sacrificar a minha
obediência e ficarei desculpado com os meus sucessores. Agora me
chegam três embarcações que vieram incorporadas com a frota do
Rio de Janeiro; os senhores Condes de Assumar ficam com muito boa
saúde; algumas mortes tem havido na corte, e novidades que a Vossa
Excelência serão presentes pelas 65 - cartas dos mesmos senhores,
que suponho irem na frota do Rio. Aqui se me manda a cópia deu ma
nova lei que Sua Majestade manda para essas Minas aonde
manda erigir casas de fundição como Vossa Excelência verá da
mesma lei que tenho por sem dúvida lhe vai na mesma frota pois
101
há de ser o executor dela; também vão à ordem de Vossa
Excelência dois Capitães de Cavalos dos reformados com
sessenta soldados, tudo bem importante e necessário a um
Governo que se acha sem forças algumas para a sujeição dos
mesmos moradores. É chegada nau da índia, o Vice-Rei está no seu
Governo com muita estimação e com muito boa saúde; esta nau é a
que ficou arribada em Moçambique o ano passado adonde se deteve
alguns meses esperando monção e depois de a ter para fazer viagem
ha poucos dias, lhe foi necessário arribar novamente ao cabo de Boa
Esperança, a uma feitoria que os Holandezes têm nele, adonde
acharam todo o fornecimento necessário para continuar a sua
derrota a este porto adonde chegaram milagrosamente, pelo
miserável estado em que a nau vem e pelos muitos corsários que
incessantemente freqüentam esta costa, de que escapou a benefício
das fragatas que trago ' nela. O Bergantim da Ilha da Madeira, de que
dou notícia a Vossa Excelência em outra e levava a minha primeira via
para Sua Majestade afirmam alguns dos prisioneiros que os piratas
fizeram em outras embarcações que também haviam apresado esta,
e^a levavam consigo, mas esta falta se supre por um patacho de aviso,
que mando ao Reino com segunda via e avisoda chegada da nau da
índia. E 66 Vossa Excelência esteja na certeza de que em nenhuma
ocasião me descuidarei de fazer presente à nossa corte as grandes
virtudes que em Vossa Excelência venero, e todo este Estado
geralmente reconhece. Fico aos pés de Vossa Excelência que Deus
guarde muitos anos.Bahia e abril 22 de 1719. O Conde do Vimieiro.
Excelentíssimo Senhor Conde de Assumar.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE
BIBLIOTECA NACIONAL
DOCUMENTOS
HISTÓRICOS
CARTAS DE OFÍCIO
1717 — 1723
CARTAS PARA A BAHIA
1723 — 1724
TYP. BAPTISTA DE SOUZA Rua da Misericórdia, 51 — Rio. 1946
Cristiano Casimiro dos Santos – Professor/ Mariana
Revista Mariana Histórica e Cultural
102
ANEXO 2
Conde de Assumar
Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal nasceu em 17 de outubro de
1688 e morreu 1756, 3.° Conde de Assumar, 1.º Marquês de Castelo
Novo e 1.° Marquês de Alorna, 3.° Governador e Capitão-mor da
Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, no Brasil, e ainda 44.º Vice-
Rei da Índia.
Foi indicado pela Coroa de Portugal como terceiro governador da
Capitania de São Paulo e Minas de Ouro (Real Capitania das Minas de
Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguases), visando manter a ordem
entre os mineiros da região e garantir as rendas da Coroa.
Chegou ao Brasil em 24 de Julho de 1717, desembarcando no Rio de
Janeiro, onde permaneceu por alguns dias, seguindo viagem por mar
até Santos e depois por terra até São Paulo, onde tomou posse da
Capitania a 4 de Setembro, em cerimônia na Igreja do Carmo. No final
de setembro iniciou visita de inspeção às Minas Gerais.
D.Pedro Miguel de Almeida Portugal, o Conde de Assumar, governou
as Minas Gerias dos anos de 1717 a 1721. Esta figura vem obtido um
destacado lugar na historiografia tradicional sobre Minas Colonial
assim como nas recentes produções acerca da temática, no entanto,
nenhum estudo aprofundado sobre sua administração nas Minas
setecentista é encontrado.
Neste sentido, destacamos a figura do Governador D. Pedro de
Almeida, o Conde de Assumar, por inaugurar a repressão aos
habitantes das Minas e demonstrar-se especialmente zeloso no
cumprimento dos intentos da Coroa portuguesa. Tal qual se pode
perceber na do Conde de Assumar ao Rei de Portugal, datada de 17 de
Novembro de 1720 pela qual se demonstra bastante preocupado em
estabelecer a lei e defender os interesses da coroa, chegando ao
ponto até de denunciar ao Rei os Ministros que acobertavam negros:
Todo esse cuidado de Assumar para que as leis fossem cumpridas nas
Minas não foi capaz, porém de garantir a ordem; ao contrário, foram os
anos de seu governo os de maior instabilidade política devido aos
inúmeros motins e tumultos por parte dos colonos e escravos. Cabe
ressaltar neste sentido que os anos de governo do Conde de Assumar
vão de 1717 a 1721, e acerca deste período Donald Ramos (2005,
p.178)12 afirma que “representaram um divisor de águas na história de
Minas Gerais” em virtude das inúmeras conspirações escravas e
levantes de quilombos contra a ordem escravista vigente na época.
D. João V nomeou governador a D. Pedro Miguel de Almeida Portugal
103
e Vasconcelos, Conde de Assumar governador para aplicar nas Minas
três disposições que contrariavam os interesses locais:
· Anunciar a instalação, na capitania, de um bispado, objetivando
a moralização do clero que ali vivia dissolutamente, praticando
desde delitos ao desrespeito do celibato, como também
envolvia-se no tráfico do ouro.
· Aplicação da Carta Régia de 25 de abril de 1719, onde se
extinguiam funções, aumentava-se o poder do governador e,
ainda, trazia para as Minas um contingente de Dragões (Duas
Companhias de Dragões que se instalaram na Vila do Carmo),
· Imposição do cumprimento da Carta de 1728, que criava as
casas de fundição, e que já causara tumultos.
Algumas atividades históricas do Conde de Assumar.
História de Nossa Senhora Aparecida
Os fatos foram registrados primeiramente pelos padres José Alves
Vilela, em 1743, e João de Morais e Aguiar, em 1757. Esses registros
foram feitos nos livros da Paróquia de Santo Antônio de Guaratinguetá,
à qual pertencia a região onde a imagem foi encontrada. A imagem
apareceu em outubro de 1717. E os fatos aconteceram assim:
Dom Pedro de Almeida, governante da capitania de São Paulo e Minas
de Ouro, homem que detinha também o título de Conde de Assumar,
passava por Guaratinguetá, SP, quando viajava para Vila do Carmo,
MG. A população organizou uma festa para receber o conde de
Assumar. Para prepararem a comida, pescadores foram para o rio
Paraíba com a difícil missão de conseguirem muitos peixes para a
comitiva do governador, mesmo não sendo tempo de pesca. Domingos
Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, sentindo o peso de sua
responsabilidade, fizeram uma oração pedindo a ajuda da Mãe de
Deus. Depois de tentar várias vezes sem sucesso, na altura do Porto
Itaguaçu, já desistindo da pescaria, João Alves lançou a rede
novamente. Não pegou nenhum peixe, mas apanhou a imagem de
Nossa Senhora da Conceição. Porém, faltando a cabeça. Emocionado,
lançou de novo a rede e, desta vez, pegou a cabeça que se encaixou
perfeitamente na pequena imagem. Só este fato, já foi um grande
milagre. Mas, após esse achado, eles apanharam tamanha quantidade
de peixes que tiveram que retornar ao porto com medo de a canoa virar.
Os pescadores chegaram a Guaratinguetá eufóricos e emocionados
104
com o que presenciaram e toda a população entendeu o fato como
intervenção divina. Assim aconteceu o primeiro de muitos milagres
pela ação de Nossa Senhora Aparecida.
Quartel de Dragões da Vila Nossa Senhora do Carmo
Com a finalidade de impedir a sonegação de impostos e a
institucionalização da violência, bem como erradicar o clima de
agitação ora instalado na Capitania das Minas Gerais, o Governador
Pedro Miguel de Almeida - o Conde de Assumar recorre ao Rei de
Portugal, que por Carta Régia de 20 de junho de 1719. Cria em na Vila
de Nossa Senhora do Carmo (Mariana) Minas Gerais duas primeiras
Companhias de Dragões. O Quartel da Companhia de Dragões da Vila
de Nossa Senhora do Carmo primeiro Quartel de Dragões da
Capitania de Minas Gerais foi construído em Mariana localizado na
atual Praça Minas Gerais para abrigar as referidas Companhias de
Cavalaria, sendo a que a pastagem para os animaisestendia até a
fazenda do Bucão. (Praça Minas Gerais /Rua Dom Silvério e Colina do
São Pedro) O pátio de cavalhada e adestramento de animais
localizava-se na atual praça Gomes Freire. O quartel construído aos
moldes da arquitetura militar portuguesa tinha sua frente voltada para
o Ribeirão do Carmo e torres de guarda para o leste e oeste. Esta
fortificação foi demolida quando Villa N S.do Carmo foi elevada a
cidade de Mariana em 1745. Pela primeira vez as Minas Gerais teria
uma tropa militar regular.
Revolta de Felipe dos Santos / Revolta de Vila Rica de 1720:
Então, o rei mandou instalar as Casas de Fundição. Todo ouro
encontrado devia ser entregue a essas Casas onde o ouro era
transformado em barras já sendo descontado o quinto. Era proibido
comprar ou vender ouro que não fosse em barras feitas por essas
casas.
No ano de 1720, o governador de Minas Gerais, Conde de Assumar,
instalou a Casa de Fundição de Vila Rica. Em razão disso, os
mineradores fizeram uma revolta para tentar diminuir o "quinto", que
ficou conhecida como Revolta de Vila Rica ou Revolta de Filipe dos
Santos.
Seu líder chamava-se Filipe dos Santos e os revoltosos exigiam várias
coisas:
- Diminuição do quinto
- Eliminação do monopólio de vários produtos de consumo
- Fim da repressão contra os rebeldes
105
Eram mais de 2000 revoltosos armados e o governador não tinha
tropas. Para ganhar tempo, o Conde de Assumar prometeu atender os
pedidos dos revoltosos; porém, quando conseguiu reunir uma tropa,
partiu para cima dos rebeldes e mandou prender seus líderes.
CONSEQÜENCIAIS DA REVOLTA
- Filipe dos Santos foi condenado à morte
- As casas de Fundição foram mantidas
- Minas Gerais foi separada da capitania de São Paulo.
Cristiano Casimiro dos Santos – Professor/ Mariana
Revista Mariana Histórica e Cultural
106
ANEXO 3
107
Fonte: Revista Mariana Histórica e Cultural
108
Fonte: Revista Mariana Histórica e Cultural
CAPITÃO “DRAGÃO” JOÃO FERNANDES FERREIRA
Não há História, inclusive a Militar, sem dois fatores cruciais:
eventos/fatos e pessoas/protagonistas. E mais significativo ainda
quando o foco dessas pesquisas transcende o universo acadêmico e
se pauta no aspecto familiar, na busca pelas raízes, pela identidade da
descendência.
Esse é o caso do Sr. Eduardo Oliveira Ferreira, de Montes
Claros, Minas Gerais, que ao investigar sobre a origem da família se
deparou com um dos Dragões de Minas (Dragões Del Rey), seu
pentavô. Seu nome era João Fernandes Ferreira, foi nomeado capitão
em 22 de outubro de 1718 pelo Conde de Assumar, e posteriormente
capitão-mor (Comandante de Companhia de Ordenanças),
possivelmente de um dos dois Regimentos Auxiliares de Cavalaria (01
da Nobreza e 01 Comum) da/na cidade do Serro (antiga Vila do
Príncipe) – elevada a cidade em 07 de março de 1838 –, e que
participou das tropas complementares da primeira Companhia no
Brasil, em 1719, sendo escolhido como procurador da Vila do Príncipe
(Serro-MG), falecendo na mesma localidade em 11 de setembro de
1787.
O Sr. Eduardo Oliveira Ferreira frisa que, segundo seus
estudos iniciais, tudo leva a crer que seu pentavô Dragão tinha a
função de fiscalizar os empreendimentos nas minas na sua área de
a b r a n g ê n c i a . C o r r o b o r a n d o t a l p o s t u r a , e m 1 7 2 0 ,
documentos/registros citam que, na Vila do Príncipe (Serro-MG), o
doutor Bernardo Pereira de Gusmão e Noronha ouvidor geral, e
corregedor desta comarca do Rio das Velhas tomou contas da receita
e despesa que tinha feito o procurador do conselho João Fernandes
Ferreira.
Suas informações iniciais se baseiam na pesquisa do
Professor Danilo Arnaldo Briskievicz, que está escrevendo o segundo
livro sobre a cidade do Serro, e que começa citando que em 1719 o
Capitão João Fernandes Ferreira é eleito procurador do Senado da
Câmara da Vila do Príncipe. Seguem-se outros dados interessantes:
em, 1721, para vereadores foram escolhidos o capitão João
Fernandes Ferreira, Antônio Alves Silva e José da Silva Baldai; em,
1725, pelas eleições do Senado da Câmara foram escolhidos dois
109
juízes ordinários, o primeiro, o capitão João Fernandes Ferreira e o
segundo o capitão Antônio Pereira Ribeiro; em 1739, os oficiais eleitos
foram o primeiro juiz guarda-mor Manuel Machado Carneiro (no
mesmo cargo em 1743), o segundo juiz capitão João Fernandes
Ferreira, os vereadores Manuel Rodrigues Silva, capitão Gil das Neves
Correia e Francisco Lopes de Campos, além do procurador do ano o
português sargento-mor Francisco Pereira Maciel, que também
assumiu o cargo de segundo juiz nos anos de 1746 e 1747, falecendo
com testamento aberto em 1783.
Observa-se também a relação com a Companhia de Dragões
de Minas Novas, de que era comandante o Capitão Belchior dos Reys e
Mello, conforme Urbino Viana: "Esse Belchior dos Reys e Mello foi o
capitão de Dragões cujas tropas conseguiram vencer a Domingos Dias
do Prado e a um seu irmão, que, juntamente Sebastião Leme,
descobridor das minas de Arassuahy e Fanado ou Minas Novas, se
sublevaram, assassinando o superintendente Dr. Pedro Leolino Mariz,
conforme escreve Porto Seguro”. (Monografia Histórica de Montes
Claros, p. 43). O capitão Belchior dos Reys veio a ter fazenda chamada
“Ribeirão” próxima a então fazenda Montes Claros do Alferes José
Lopes de Carvalho, que posteriormente fundou a atual cidade de
Montes Claros. A fazenda do filho do capitão João Fernandes Ferreira
era vizinha às fazendas desses dois militares, conforme imagem a
seguir
110
Segue-se transcrição da carta de nomeação do João Fernandes
Ferreira, com algumas lacunas, palavras ficaram faltando, pois o
documento é difícil de ler:
"Dom Pedro de Almeida… Faço saber Vossa Senhoria (?) na pessoa
de João Fernandes Ferreira Alferes de sua con… de auxiliar do terço
da Villa do Príncipe e ao bom procedimento. Com que se tem havido
no exercício do ditto posto acompanhando seu capitão nas guardas
em mostras que tem passado. E havendo hum bem com boa
satisfação em tudo o mais em que foi ocupado do serviço de Sua
Magestade e por esperar delle daqui por diante procedera da mesma
sorte no que foi do leal serviço. E por bem e por serviço de sua
Majestade de o nomear como por esta carta o nomeyo por Capitão da
mesma companhia de ra, bem como o tio deste foi o alferes
José Fernandes Barbosa:
Outro antepassado seu (9º avô), Domingos da Fonseca, com
Estevão da Fonseca, em requerimento de 23/10/1733, soldado(s) de
Cavalaria do Regimento do sargento-mor do Batalhão do Marquês de
Marialva, solicitava(m) a mercê de se lhe conceder(em) baixa no(s)
seu(s) assento(s), a fim de poder(em) passar ao Estado do Brasil para
servir(em) nas tropas de Dragões das Minas; esse Marquês de
Marialva é descendente daquele que liderou a famosa Batalha de
Montes Claros, em 17/06/1665, vencendo, definitivamente, a Guerra
de Restauração contra a Espanha. A cidade de Montes Claros tem
esse nome por que foi a fazenda de um dos primeiros militares da
região, pertencia ao Alferes José Lopes de Carvalho.
P.S: Felizmente, em 2021, a pesquisa do Sr. Eduardo Oliveira Ferreira prossegue.
111
UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA
Para efeitos de melhor compreensão do real teor da saga dos
cavalarianos mineiros, os DRAGÕES REAIS DAS MINAS, serão
reproduzidas, na íntegra, as partes II, III e IV do Projeto de
Denominação Histórica do 4º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado
DRAGÕES REAIS DAS MINAS:
II – AS ESTRADAS DE MINAS
A sociedade urbana das Minas Gerais foi o divisor de águas da
vida da colônia portuguesa da América do Sul. Antes da invasão das
terras do ouro por centenas de milhares de colonos portugueses e
brasileiros, principalmente, que seguiram as pegadas dos
desbravadores paulistas que lograram encontrar o tão precioso e
brilhante metal tão arduamente procurado e desejado / ambicionado
desde a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral, sonho
concretizado pelo bandeirante Antônio Rodrigues Arzão no final do
século XVII,e que livrou Portugal da bancarrota após a decadência do
comércio do açúcar.
Entradas ocasionais vindas da Bahia e do Espírito Santo, durante
o século XVI, deram início ao ciclo do ouro de lavagem e,
posteriormente, do grande ciclo do ouro e diamantes, que viria a
trespassar com afiada e aguda determinação o véu de mistério que
encobria os sertões do leste para se chegar a região da Mantiqueira,
ou então, como citada em alguns documentos do século XVIII, “até o
pé da serra afamada da Amantiqueira” - (Antonil) -, fazendo pois o
roteiro da vila de São Paulo para as Minas Gerais e o Rio das Velhas .
Cabe aqui lembrar que a cidade de Santos Dumont, sede do 4º
Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, encontra-se localizada
justamente nesta “encruzilhada”, nesta “artéria vital”, pois situa-se
estrategicamente no sopé da Serra da Mantiqueira, divisando
,simultaneamente, a subida para a região das minas de ouro e a
descida para o vale do Rio Paraibuna, para o Registro / Pedra do
Paraíbuna e sua posterior descida pela região serrana fluminense até
alcançar a faixa litorânea do Rio de Janeiro.
Os bandeirantes paulistas metidos nesta épica empreitada tinham
como base de suas operações, e principal ponto de partida, a vila de
Taubaté, fundada em 1645, de onde transpunham a Mantiqueira pela
garganta do Embaú (hoje, Cruzeiro). Bandeiras de Fernão Dias
Paes e Borba Gato, por exemplo, atraídos pelas promessas de
112
riqueza do Itacolomi, largavam os verdes campos de Piratininga em
busca dos vales sombrios onde brilhava o ouro, aventuravam-se em
uma longa, cansativa e arriscada jornada pelo chamado Caminho
Velho. Devido a importância do empreendimento, e após a descoberta
de ouro por Antônio Rodrigues Arzão na Mata Oriental das Minas, as
autoridades lusas trataram logo de impulsionar a exploração da região
com a abertura de um novo picadão que mais tarde se converteria no
Caminho Novo. A hercúlea tarefa coube ao filho do grande Fernão
Dias, o determinado e incansável Garcia Rodrigues Paes,
acolhendo a determinação do governador e capitão general do Rio de
Janeiro, Artur de Sá Menezes, de uma nova ligação entre a sede da
Capitania (Rio de Janeiro) e as Minas de Cataguases (região do ouro),
obra completada por Domingos Rodrigues da Fonseca e por Bernardo
Soares de Proença (1725).
O Professor Luiz Fernando Soares de Castro, do Departamento
de Geociências, Instituto de Ciências Humanas e de Letras, da
Universidade Federal de Juiz de Fora, apresenta dois interessantes
resumos intitulados, respectivamente, “EXPLICAÇÃO DO CAMINHO
VELHO” e “O CAMINHO NOVO”, cujos textos reproduziremos abaixo:
“À procura do ouro e pedras preciosas seguiam os bandeirantes,
desde o primórdio da história colonial, rumo ao interior. Depois de
descobertas as minas de ouro, a grande invasão do território mineiro
se fez, principalmente, pelo caminho do Rio de Janeiro e São Paulo,
chamado de Caminho Geral do Sertão. Do Rio de Janeiro iam os
viajantes por mar até Parati onde começava o caminho por terra,
atravessando a Serra do Mar, juntando-se à terra paulista, em
princípio Taubaté, e depois em Pindamonhangaba. Fundidos os
caminhos num só, seguia este para as Minas, atravessando a Serra
da Mantiqueira na Garganta do Embaú e Passa-Trinta (hoje, Passa
Quatro). O Caminho Geral do Sertão continuava por lugares onde se
situam as cidades de: Itanhandu, Santana do Capivari, Consolação,
Pouso Alto, Boa Vista, Baependi, Conceição do Rio Verde,
Cruzília,Ingai. Seguia-se a travessia do Rio Grande, pouco depois de
passar por Ibituruna, a do Rio das Mortes, chegando até o arraial do
Rio das Mortes, atual cidade de São João Del Rey.”
“Em 1699, o Governador Artur de Sá Menezes, recebeu
autorização de Lisboa para a feitura de um novo caminho para as
minas. O desbravador Garcia Rodrigues Paes levou a cabo a
113
incumbência de abrir o Caminho Novo, que, estando aberto em 1707,
a partir do Rio de Janeiro transpunha a Serra dos Órgãos, vindo direto
aos vales dos Rios Paraíba e Paraibuna, chegando até a Borda do
Campo e Registro. Neste ponto havia uma bifurcação: um
caminhocontinuava para Vila Rica (Ouro Preto), e o outro, seguia rumo
ao Arraial do Rio das Mortes (São João Del Rey). O Caminho Novo
encurtava a viagem em 15 dias e ficaria conhecido na história como o
Caminho do Ouro.”
No seu livro “UMA CIDADE À BEIRA DO CAMINHO NOVO”, o
grande pesquisador sandumonense, infelizmente já falecido, Oswaldo
Henrique Castello Branco, nas páginas 17 e 26, complementando
brilhantemente as informações acima, estabelece uma sucinta, porém
rica e esclarecedora, concatenação das primeiras vias de penetração
estabelecidas com os sertões mineiros.
“Descobertos os veios de ouro pelos bandeirantes paulistas, nas
últimas décadas do século VXII, formou-se o caminho que ligava São
Paulo à região das minas, passando pelo Rio de Janeiro,
conhecido como Caminho Velho. O tempo gasto e as dificuldades
encontradas para percorrer este trajeto mostraram a necessidade de
se descobrir um novo caminho que, com mais facilidade,
principalmente com mais rapidez, conduzisse do Rio de Janeiro às
minas.
Coube ao sertanista Garcia Rodrigues Paes a incumbência deste
projeto. Segundo orientação do governador e capitão general do Rio
de Janeiro, Artur de Sá e Menezes, partiu do Rio de Janeiro, por volta
de 1700 / 1701, para desbravar o território mineiro, buscando abrir a
picada do Caminho Novo, obra que mais tarde foi concluída por
Domingos Rodrigues da Fonseca.
Este Caminho Novo passou a chamar-se, mais tarde, Estrada
Real da Corte, ficando ligada à Província de Minas Gerais (Eduardo
Canabrava Ribeiro, Jornada a Minas Gerais em 1822). Mas o certo é
que Caminho Novo ficou mesmo sendo a sua denominação, como
caminho constantemente palmilhado por muitas caravanas que se
destinavam a Minas, ou de lá provinham. Até mesmo os inconfidentes
circulavam por este caminho conspirando (Autos da Devassa da
Inconfidência Mineira, vol. 2, p. 402), até que, por fim, foram
acorrentados (“Jornada dos Mártires , tela de Antônio Parreiras, no
Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora) e enviados ao sacrifício, ao
114
degredo, à morte, esses heróis da Inconfidência Mineira.
Como grande e exponencial via de penetração às minas, foram
surgindo às suas margens, a princípio roças e engenhos e depois
pequenos povoados que dariam origem às importantes cidades de
hoje (...)
Da carta datada de 24 de maio de 1698, dirigida ao Rei por Artur
de Sá Menezes, evidencia-se o compromisso do seu signatário,
Garcia Rodrigues Paes, no sentido de lhe ser franqueada entre o Rio e
as “minas” uma comunicação rápida e segura, evitando assim ao
caminhante e interesses reais o penoso percurso de então, em tempo
de três meses.
No projeto do Caminho Novo, “o meio da jornada” dele,
segundo o próprio Garcia Rodrigues Paes, seria Paraíba (hoje
Paraíba do Sul) e o ponto de término seria a Borda do Campo,
atualmente Barbacena. Em 1699 era uma realidade a picada.
Em 1700 já eram bons os serviços de Garcia Rodrigues Paes.
Nele se lê nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (vol.
XXXIX) nos documentos do Arquivo da Marinha e Ultramar de Lisboa,
Garcia Rodrigues Paes pede o foro de Fidalgo da Casa Real e o hábito
da Ordem de Cristo para si e seus dois filhos, pelos serviços que
prestara nos descobrimentos das minas de ouro (documento 2.434, p.
274).
Garcia Rodrigues foi provisionado em 19 de abril de 1702 no
cargo de Guarda-Mor das Minas.
Informa Miran de Barros Latif, em seu magnífico As Minas Gerais:
“Como mercê póstuma à Bandeira de Fernão Dias, nomeia-se o seu
filho Garcia Rodrigues Paes primeiro Guarda-Mor Geral e fica-lhe
afeto tudo que se relaciona com o trabalho extrativo. Usando de
atribuições autônomas da justiça civil e mesmo do próprio Capitão
General; com direito de prender e expulsar sumariamente os infratores
do regimento; estando a seu critério a repartição de todas as riquezas
das Minas, através de Cartas de datas por ele apenas firmadas, a
Guardamoria torna-se de uma importância tanto maior quanto é a
primeira vez que um ocupa um cargo colonial de incontestável
responsabilidade.
115
Os governantes queixam-se, julgando estas atribuições
exageradas. Mas caso tentem restringi-las são desautorizados pela
Coroa.”
Em 1704 estão em franco andamento os trabalhos do Caminho
Novo em relação à execução da Carta Régia de 1702 (...)”
Outro ponto relevante levantado pelo citado grande historiador
sandumonense está em explanar sobre os perigos que rondavam a
viagem do ouro e das provisões necessárias a manutenção da
atividade mineradora. A própria palavra Mantiqueira ou Mantiquira se
perde em apreciações de gírias locais e / ou de derivações, mas
sempre atentando para as periculosidades intrínsecas e relacionadas
ao termo – ladroeira; manta e capa de lã, em sentido figurado, ardil e
trapaça. Tal afluxo de bandoleiros, assassinos, quadrilhas
organizadas, vivaldinos, contrabandistas, invasores, fugitivos da
justiça, sonegadores do fisco real, seus comparsas locais, e tantos
outros personagens igualmente não tão dignos, tornou de uma
urgência primordial a instalação e a atuação de efetivos militares que
respaldassem os interesses portugueses nas minas do ouro. O
combate a célebre e famigerada quadrilha da Serra da Mantiqueira,
que apavorava os incautos viajantes pela sua brutalidade e auferia
sempre maiores prejuízos ao erário régio, foi determinado por Dom
Rodrigo José de Menezes, empreendimento magistralmente levado a
cabo pelo hábil comando e determinação de dois futuros inconfidentes,
o Coronel José Ayres Gomes e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier
– o Tiradentes. Em carta endereçada às autoridades portuguesas,
datada de 19 de abril de 1783, na Borda do Campo, o Alferes Joaquim
José da Silva Xavier descreve, com detalhes, os resultados de suas
surtidas contra os salteadores do Caminho Novo, missão
desempenhada com a supervisão do Tenente Coronel José Ayres
Gomes.
Parte do Caminho Novo, com calçamento secular, ainda existe
no trecho que vai de Perobas de Cima (Santos Dumont) até a Fazenda
da Borda do Campo (Barbacena), correspondendo a uma ínfima,
porém milagrosamente preservada, parcela da sua extensão original
na região. Este monumento histórico a céu aberto, e ainda hoje
utilizado como via de acesso e de livre trânsito por alguns distritos e
localidades, somente não foi dilapidado porque o traçado estabelecido
para a construção da BR - 040 ficou mais à sua direita. Ladeado
116
por muitas fazendas, construções e marcos diversos que
atravessaram a colônia, o império e resistem bravamente até hoje,
seus habitantes repassam, de geração em geração, histórias da
perigosa saga dos viajantes que por aqui se aventuravam, em especial
sobre a atuação do terrível Montanha e de seus famigerados
sequazes, bem como de relatos sobre outros bandidos. A presença
constante de malfeitores, e a existência de uma Casa Forte, fez com
que Bernardo José de Lorena, do Conselho de Sua Majestade
Governador e Capitão General da Companhia da Capitania das Minas
Gerais, determinasse a criação e instalação de uma Companhia de
Ordenanças no Distrito da Capela de São Miguel e Almas do Caminho
Novo do Rio de Janeiro – conseqüência da já citada carta de Tiradentes
–, e cujo comando primeiro foi auferido “no Posto do Capitão delas o
dito Gonçalo Gomes Martins, a qual Companhia se compõe de
sessenta soldados com seus competentes oficiais (...)” (BRANCO,
Oswaldo Henrique Castello, op. cit, p. 34-35), fato que atesta a
importância estratégica, desde então, da rocinha / arraial de João
Gomes.
Paulo Mercadante, na sua extraordinária e indispensável obra
“Os Sertões do Leste”, subsidia, sobremaneira, os dados
apresentados pelo Sr. Oswaldo H. Castello Branco. Lê - se, na
página 38 do citado livro, a seguinte passagem:
“Às margens do Caminho Novo estavam as sesmarias, cujas
concessões visavam, em pleno fastígio do ouro, garantir a formação de
lavouras que permitissem suprir os bandeirantes em suas jornadas às
minas. Para descanso do viageiro, e abrigo nas longas caminhadas, os
pousos nasciam ao comprido da grande via. Furnas e casas-fortes
para segurança das riquezas transportadas, capelas para a oração.
Numa delas, obtida em 1709, por Domingos Gonçalves Ramos, na
atual cidade de Santos Dumont, então despontou um agrupamento
com casario disperso, futuro arraial de João Gomes, nome de um
lavrador adquirente. Nas terras aparecem ranchos para os viajantes do
Caminho Novo se abrigavam. Próximo, cresceu lavoura e criação.
Levanta-se, mais tarde, aprimitiva capela de São Miguel e Almas,
cuja construção deve-se talvez ao velho João Gomes. A capela, a
margem do Caminho Novo, é dedicada a São Miguel e Alma,
protetores invocados dos bandeirantes na perigosa travessia da
Mantiqueira.”
117
Mais adiante, página 42, Paulo Mercadante, referindo-se a outro
trecho / região, lembrando que em 1714 o Governador Dom Brás
Baltasar da Silveira propôs a divisão da capitania em quatro comarcas,
destaca o papel relevante das unidades / regimentos de dragões na
vigilância e na manutenção da ordem estabelecida e na preservação
dos interesses metropolitanos em relação a “jóia da coroa” na colônia
do Brasil.
“(...) Em 1780, Miguel Henriques, o Mão - de -Luva, chegava
às minas de Cantagalo pelo caminho do Pomba. Levas de sertanistas
internavam-se no vale, descendo os rios, rumo aos aldeamentos do
atual município de Guarani, entravam pelos afluentes do Pomba ou
beiradeavam o ribeirão da Tijuca. Tal êxodo de geralistas levaria o
governo a criação de postos fiscais.
Nesta época, afrouxava-se a política protetora da Metrópole
com relação aos Sertões do Leste. O Governador Luís da Cunha
Meneses determinava-lhe a exploração, abria-os ao povoamento, por
não lhe parecer haver terras inúteis “pela falta de se conhecer as
utilidades que se poderão tirar das mesmas”. Encarregou o Sargento-
Mor do Regimento de Dragões, Pedro Afonso Galdavo de S. Martinho,
de examinar as Áreas Proibidas a fim de reconhecer como se
deveriam levantar barreiras eficazes à segurança dos reais
interesses. Seria também por essa portaria que o Governador
ordenaria ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, então incumbido
da ronda da mata, que acompanhasse o Sargento-Mor no exame das
possibilidades auríferas das terras e de sua capacidade de
acomodação de gente. A ambos, sargento e alferes, cumpriam o
reconhecimento de estradas e caminhos que abertos estivessem de
ligação entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro.
De tal missão resultaria o desbaratamento do núcleo de Mãode-Luva,
Manuel Henriques, afinal preso e remetido para Vila Rica
com seus companheiros de faiscagem. O percurso do Sargento-Mor
revela, segundo observação de Diogo de Vasconcelos, como o País já
estava sulcado de caminhos.”
A Estrada União-Indústria, obra encomendada por Dom Pedro
II ao seu amigo pessoal Mariano Procópio Ferreira Lage, nos últimos
quartéis do século XIX, aproveitando boa parte do trecho do Caminho
Novo, nada mais é do que uma nova etapa da nevrálgica, e
indispensável, ligação entre o centro dirigente localizado no Rio de
118
Janeiro e a sempre influente, e historicamente decisiva, região das
Minas Gerais. A equipe que elaborou este estudo se fez presente no
trecho preservado existente no distrito de Perobas de Cima, em
Santos Dumont, verificando inscrições referentes a construção da
União - Indústria verificando inscrições referentes a construção da
União-Indústria perpetuadas em uma fonte de água, e entrando em
contato com um habitante local que recentemente encontrou uma
moeda do Segundo Império da mesma época da execução dos
trabalhos na “nova estrada”. Há também marcos de uma posterior
empreitada de restauração e de implementação de serviços de
drenagem de águas pluviais, datados de 1928.
Por sua vez, a BR-040 constitui-se no ponto extremo, e atual,
deste histórico de caminhos que devassaram os sertões mineiros.
Iniciada na época do Milagre Brasileiro, e praticamente concluída no
governo do Presidente João Batista de Figueiredo, durante o período
dos governos militares que se seguiram a Revolução de 31 de Março
de 1964, figura com uma dos principais sistemas viários do país,
contribuindo decisivamente para o contínuo desenvolvimento da
região sudeste do Brasil.
É notório observar-se que nossa explanação quanto a Estrada
União-Indústria e a rodovia BR-040 é ínfima se comparada ao volume
de informações e de considerações que nos detivemos com relação
ao Caminho Novo e a Estrada Real / Estrada da Corte. Como nosso
interesse de Denominação Histórica centra-se no desenvolvimento
das unidades mineiras de cavalaria (Dragões) durante a vigência do
Caminho Novo / Estrada Real, seria um “ataque diversionista” e uma
“dispersão injustificável de reservas estratégicas” gastarmos “nossa
munição em alvos secundários”.
Desde as entradas iniciadas por Sebastião Fernandes
Tourinho, em 1573, que entrando pelo Rio Doce e voltando pelo
Jequitinhonha com notícias de esmeraldas, posteriormente
confirmadas pela expedição de Antônio Dias Adorno, a opulência e a
riqueza da região das minas fez com que cada vez mais aventureiros e
desbravadores para cá se deslocassem. Logo depois, em 1662,
Augusto Barbalho realiza nova descoberta de esmeraldas, mas é com
Antônio Rodrigues Arzão, em 1693 / 1694, e pelas bandeiras que
imediatamente lhe seguiram, é o que o metal dourado – o ouro – é
descoberto em Itaberaba, Ouro Branco, Itatiaia e Ouro Preto. Este
119
“golpe de sorte” dos paulistas fez com que o então Governador do Rio
de Janeiro, Sebastião de Castro Caldas, envia-se com extrema
urgência, em 16 de junho de 1695, amostras de ouro à Lisboa. Seguese
a abertura do Caminho Novo, que além de agilizar e dar mais
segurança a atividade mineradora, também foi vital a defesa dos
interesses coloniais portugueses como, por exemplo, quando do
socorro prestado pelo Governador Antônio de Albuquerque Coelho de
Carvalho com envio de tropas, em 28 de setembro de 1711, para
combater invasores franceses que concentravam ações contra o Rio
de Janeiro.
III – A ORGANIZAÇÃO MILITAR PORTUGUESA NAS
MINAS GERAES DO SÉCULO XVIII.
A Organização Militar Portuguesa em Minas Gerais é um
caso bem particular durante o Período Colonial.
Além do Exército, havia a tropa de segunda linha, os Terços
de Auxiliares e de terceiros (as “ ordenanças” , de que sairia a Guarda
Nacional), os milicianos do tipo “ pardos” e “pretos”, estes ainda
chamados “ Henriques” em pleno reinado de D. João VI. Essas tropas
populares correspondem a um tipo de organização que dificilmente
pode ser traduzido em conceitos modernos. Hoje, nada temos de
semelhante às Ordenanças, aos “Henriques” , aos Regimentos de
Pardos.
Em Minas, além das tropas organizadas pelo povo para a
defesa territorial, havia uma únicatropa do Exército Real, o único
corpo militar português sediado em Minas, o Regimento de
Dragões, a que pertencia o Tiradentes.
O Sr. Daniel de Carvalho, em estudo mais recente, fixa com
muita justeza os principais aspectos do problema, apresentando os
pontos principais da questão, e dirimindo certas dúvidas que ainda
persistem:
“Com a restauração da independência portuguesa, em 1640,
adotou-se o sistema de defesa baseado em três categorias de forças –
a primeira linha, constituída pela tropa paga (Exército); a segunda , de
Terços de Auxiliares e a terceira, de Corpos de Ordenanças” .
120
“Em Minas, com a lição do ataque de Duguay-Trouin, Antônio
de Albuquerque tratou de levantar as três linhas de defesa.
o
Imediatamente criou os Terços de Auxiliares. Para isso, a 1 de julho de
1711, concedeu patente de Mestre de Campo do Terço de Auxiliares do
Ribeirão do Carmo ao Capitão-mor Domingos Fernandes Pinto, cujos
serviços anteriores são enumerados nesse diploma” .
“ A força do Exército, cuja criação em Minas fora autorizada
desde 1709, só foi criada depois de 1712. Em vez do Regimento de
500 praças, constituíram-se apenas duas Companhias de Cavalaria
(Dragões).
A diferença entre auxiliares e Ordenanças era grande.
Observe-se desde logo que os Mestres de Campo dos
Auxiliares percebiam soldo, e os Capitães-mores não recebiam
remuneração pelo comando das Ordenanças. Gozavam, entretanto,
de honras, privilégios, isenções que valiam muito.
Às duas Companhias de Dragões do Exército do tempo
do Conde de Assumar (1719) veio juntar-se uma terceira, que
guarnecia o Distrito de Minas Novas, quando este foi desligado da
Bahia e anexado a minas (1757). O Governador Antônio de Noronha
reuniu estas três Companhias no Regimento de Dragões, criado em
1775, para o qual construiu o quartel, em Cachoeira do Campo, prédio
em grande parte conservado, atual sede das Escolas Dom Bosco, por
doação aos Salesianos, no governo de C. J. Bias Fortes.
Esse processo de eleição, porém, foi logo revogado pelos
inconvenientes que apresentou, e que foram assim expressos no
Alvará de 18 de outubro de 1709 que revigorou os termos de uma
disposição de Dom João IV nos seguintes termos:
faço saber aos que este Alvará virem ou dele tiverem
notícia, que tendo consideração a que o Regimento que o Sr. Rei
Dom Sebastião estabeleceu, para o bem regime e serviço das
Ordenanças, sendo o mais ajustado à razão e benefício dos
povos, procurando que o Governo deles e das Companhias fosse
a eleição, se tem pelos mesmos povos abusado dele, fazendo-se
as eleições geralmente com dolo e violência de que resultam
crimes, despesas e descréditos de famílias inteiras, criando-se
ódios que se conservam de pais a filhos, em grandes desserviços
de Deus e grave dano à conservação dos meus vassalos, a
121
cujos excessos não têm atalhado as repetidas ordens que os
Senhores Reis, meus predecessores mandaram passar, em
corroboração e inteira observância do dito Regimento, nem o
castigo que vários lugares têm experimentado com as Alçadas a
que deu motivo a sua contumácia; antes de ter mostrado a
experiência que cada dia cresce a sua rebeldia, achando-se a
maior parte dos Conselhos divididos em parcialidades, com
grande escândalo da justiça e perturbação do bom Governo; e
desejando eu evitar este dano e em que meus vassalos haja toda
a união e que sejam governados por pessoas dignas de ocupar
os postos militares e não por aqueles quem com maior poder e
séqüito, sem merecimento e capacidade, os usurpam para as
suas vinganças, hei por bem extinguir as ditas eleições dos
postos de milícias, derrogando, nesta parte, o dito Regimento,
ficando em seu vigor as mais disposições etc.
IV – TROPAS DE DRAGÕES NAS MINAS GERAIS
Na Capitania de Minas Gerais, as tropas de Dragões tem especial
importância, pois eram a única tropa de 1a Linha desse “ Continente” e
por essa singularidade, vale a pena esboçar o histórico e as
características principais desses contingentes. Cerca de 1719 a
Capitania recebeu o primeiro contingente de Dragões de 1a Linha do
país.
a
Não que fosse o único ou maior efetivo de tropa de 1 Linha. No
a
Rio de Janeiro se encontrava o maior contingente de tropas de 1
Linha do Sul, pelo menos dois Regimentos de Infantaria. Todavia, era
um dos maiores, nessa época. Só mais tarde, São Paulo recebeu
a
contingente maior de tropas de 1 Linha. Também foi mais tarde que
a
houve Dragões (1 Linha) em rio Grande de São Pedro (um
Regimento, removido da Colônia de Sacramento, formado em parte
com efetivos de Minas Gerais), em Goiás ( um Regimento. Formado
também em parte com contingentes de Minas Gerais) e Mato Grosso (
provavelmente formado em parte com tropas de Goiás).
Em outubro de 1719 chegaram de Lisboa, com seus cavalos,
fardamentos e armamentos duas Companhias de Dragões para as
“Minas Gerais” , cada uma com 60 homens, sendo comandantes
a
da 1 Cia, o Capitão Joseph Rodrigues de Oliveira e, da
122
a
a
2 Cia, Capitão João Almeyda Vasconcellos. Da 1 Cia , era Alferes
a
Manoel de Barros Guedes Madureira. Da 2 Cia era Tenente Joseph
de Morais Cabral.
Em 18 de fevereiro de 1731, o Tenente Joseph de Moraes
Cabral, que servia na Cia. de Dragões das Minas Gerais comandada
por João de Almeyda de Vasconcellos , foi promovido ao posto de
Capitão na vaga deixada por falecimento deste último. O Capitão
Joseph de Moraes Cabral havia ido a Lisboa, Portugal.
Embarcou na nau capitânea da frota em Lisboa na madrugada do
dia 17 de março de 1731 e saltou em terra no Rio de Janeiro, RJ, em 01
de junho de 1731. Recebeu 32$000 rs. de ajuda de custo. Em 1731,
quando havia apenas duas Companhias e Dragões, vamos encontrar
dois comandantes: Capitão Joseph Roiz de Oliveira (ausente) e
Capitão Joseph de Moraes Cabral.
Aos 11 de março de 1734 o então Tenente Manoel de Barros
Guedes Madureira, que servia na Companhia de Joseph Roiz de
a
Oliveira, foi promovido ao posto de Capitão da recém criada 3
Companhia de Dragões que deveria ser formada a partir dos efetivos
das outras duas existentes. Entre outros feitos, quando ainda era
Tenente, está o de prender dois dos cabeças do levante de Vila Rica,
de 1720, o padre Frei Francisco de monte Alverne e o Mestre de
Campo Pascoal de Silva Guimarães, que culminou com o
a
enforcamento de Felipe dos Santos. Essa 3 Companhia foi extinta em
29 de maio de 1739 e seus efetivos transferidos para formar o
Regimento da Colônia de Sacramento, no Rio da Prata ( hoje
Uruguai). O Capitão Manoel de Barros Guedes Madureira, um soldado
cheio de cicatrizes de batalhas, na península Ibérica e no Brasil,
morreu ao que tudo indica, em combates contra os espanhóis,
defendendo a fronteira sul do Brasil.
Cerca de 1736 o Capitão Joseph de Moraes Cabral marchou com
alguma tropa para “ os Goyazes” e deixou seu comando vago, o qual foi
ocupado interinamente pelo Tenente de Dragões Simão da Cunha
Pereira, que até então era o comandante do destacamento de Minas
Novas, sujeita ao Governador daBahia, até 1757.. O Tenente Simão
da Cunha Pereira era considerado um “ oficial de préstimo” por Gomes
Freyre de Andrada, tendo vasculhado o “ Certão” sufocando motins e
fazendo cumprir a lei e as ordens reais. Isso lhe valeu duas Cartas de
Padrão de Tença da Ordem de Cristo em 06 de março de 1741 e 29 de
abril de 1741 e ser nomeado Primeiro Escudeiro e logo Cavaleiro
123
da Casa Real de Dom João V por alvará régio de 5 de março de 1746.
Por Carta Patente datada de 28 de março de 1743 o Tenente de
Dragões Simão da Cunha Pereira foi promovido a capitão de Cavalos
da Companhia de Dragões das Minas Gerais ( Arraial do Tejuco) por
ter vagado o posto em virtude de Joseph de Moraes Cabral ter sido
promovido a Tenente-Coronel do Regimento “ Novo” de Dragões (
Goiás).
No ano de 1753, com a prisão de Felisberto Caldeira Brant, o
contratador dos diamantes, o Capitão de Dragões Simão da Cunha
Pereira comandou a escolta para o Rio de Janeiro, RJ, onde também
foi preso e julgado pelo Tribunal da Relação, acusado de conivência
com o primeiro acusado, sendo condenado a perdimento do posto e
a
10 nos de degredo para Angola. Possivelmente não foram aplicadas
as penas e o degredo deve ter sido convertido para prisão temporária
na fortaleza da ilhas das Cobras. Mas foi afastado do serviço e tudo
indica que não mais voltou ao Arraial do Tejuco, embora tenha sido
mantido nominalmente no comando da sua Companhia de Dragões.
O abrandamento da pena pode ter sido um privilégio concedido a um
Cavaleiro da Casa Real de Dom João V, com Carta de Padrão de
Tença da Ordem de Cristo. O Capitão de Dragões Simão da Cunha
Pereira encontrava-se ainda preso na Ilhas das Cobras no ano de
1758 e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de fevereiro de 1774. Foi
a
sepultado em 21 de fevereiro de 1774 na Igreja da ordem 3 do Carmo
do rio de Janeiro.]
Uma prova de que o Capitão de Dragões Simão da Cunha
Pereira continuou no comando, embora nominalmente, é que
frequentemente são mencionadas três Companhias, em torno de
1760, referidas como: Cia. de Menezes, Cia. de Cunha e Cia. de Luz.
Ainda no ano de 1772 amos encontrar três Companhias de Dragões:
do Capitão Simão da Cunha Pereira (ausente), do Capitão Antônio
Pinto Carneiro e do Capitão Ignácio da Luz (ausente: “ foy” ). Ainda em
1773 as três companhias eram referidas como de: Cunha, Carneiro e
Luz.
É curioso observar-se que os postos de comando destas
Companhias de Dragões estavam quase sempre vagos, pelos mais
diferentes motivos. José Joaquim da Rocha menciona como Oficiais
das duas primeiras Companhias apenas dois Tenentes e dois Alferes,
e, da terceira Companhia, somente um Alferes. Não havia nenhum
Capitão. Assim, diz que “ alguns destes Off.es se não ocupavão,
124
por não haver em q.e, e se fazia o serviço com os Cabos e Sold.os
estes érão fiéis, e vigilantes, nos serviços de S. Mag.de, e cada
hum fasia timbre de se distinguir pelo seo precedim.to e serviço.
“
Essa ociosidade dos oficiais é um fato confirmado por
Bernardo Xavier Pinto e Souza, que diz que os serviços se realizavam
“ sem dependência de officialidade que os cabos inferiores
ordinariamente substituirão. “
Os “tempos heróicos” haviam passado, quando os Dragões
tinham que abafar revoltas, motins e insurreições freqüentes ,
provocadas pela turba de garimpeiros e aventureiros. Ainda sobre
essa ociosidade da oficialidade dos Dragões, deve-se observar dois
pontos:
1) ocorreu depois da metade do século XVIII, quando a
população de Minas já havia se estratificado e havia uma sociedade e
uma máquina de governo estabelecida, ou seja, ordem social;
2) deve-se, sem a menor dúvida, ao fato de as unidades
existiam apenas nominalmente, estando seus efetivos atomizados,
espalhados, distribuídos capilarmente, em um incontável número de
pequenos serviços particulares, de escoltas de presos e transporte de
valores.
José Joaquim da Rocha se refere à existência de pequenos
destacamentos de Dragões espalhados: “ S. Romão tem huma
Guarda Militar, que se occupa em dar buscas de oiro, e
diamantes, aos viandantes que passão por aquelles sertões,
destacando para isso patrulhas.” , no Julgado da Companhia do
Rio Verde existem “ guardas, que impedem o transporte do
mesmo oiro para a Capitania de Minas Geraes...” ; no Julgado do
Jacuhy “ Tem um Registro..., he guarnecido por huma Guarda
Militar, commandada por hum inferior, e quatro soldados. “
Uma interpretação dos dados da Folha Militar fornece a
a
composição dos quadros de uma Companhia de Cavalaria de 1
Linha, dividindo-se o número de oficiais e praças por oito, que era o
número de Companhias, como mostrado no quadro 3:
A exceção à virtual desintegração das tropas de Dragões talvez
somente seja a Companhia de Dragões do Arraial do Tejuco, cujo
efetivo de 80 homens ficava à disposição da Intendência dos
125
Diamantes. José Joaquim da e Rocha diz que o Arraial do tejuco
“Tem hum Quartel Militar com a guarnição de 80 homens,
commndados por hum Capitão e seos Officiaes competentes; e
daqui se costumão destacar guardas, para todos os
Destacamentos daquelle continente.”
Significa que boa parte do seu efetivo estava distribuído pelos
diversos “ Registros” que cercavam a Demarcação Diamantina ou
fazendo escolta dvalores. Fato significativo é que apesar de serem
mencionados três quartéis de tropas de Dragões, em Vila Rica, na
Cachoeira e no Arraial do Tejuco, só o de Cachoeira do Campo parece
ser um edifício de proporções adequadas.
Em Diamantina (Arraial do Tejuco) o prédio que é identificado
como antigo quartel e que hoje abriga a “ Biblioteca Antônio Torres” , no
centro da cidade, é muito pequeno e só daria paar conter o Estado-
Maior ( comando) da tropa e não comportaria o alojamento da tropa.
a
O Regimento de Cavalaria de 1 Linha de Vila Rica foi o sucessor
dessas três Companhias de Dragões, criado em 1775, mas somente
depois da morte de um dos seus últimos e mais antigos Capitães
comandantes de Companhia, Simão da Cunha Pererira, ocorrida no
Rio de Janeiro em 1774. A estrutura do Regimento de Cavalaria de Vila
Rica pode ser deduzida a partir da Folha Militar da Capitania,
apresentada por José Joaquim da Rocha.
Os números encontrados parecem bem próximos da realidade, já
que o sub-total relativo ao corpo do Regimento é de 480 homens, valor
que coincide com o fornecido por Diogo Pereira Ribeiro de
Vasconcellos, e quase igual ao dado por José Joaquim da rocha, de
481, que deve se referir exclusivamente à tropa, excluído o Estado-
Maior do Regimento. Se forem incluídos dentro do Estado-Maior do
Regimento, os Estados - Maiores dos “Batalhões” virtuais que
ficamimplícitos por Comarca, o organograma geral do Regimento de
a
cavalaria de 1 Linha de Vila Rica é o mostrado na figura 1 no capítulo
dos anexos.
Admitindo-se que a distribuição de cada duas das oito
Companhias de Cavalaria para cada uma das quatro Comarcas, como
faz supor a existência de quatro Sargentos-Mores de Comarca,
constituiria implicitamente um “Batalhão” por Comarca. A segunda
versão da estrutura do regimento é a mostrada na figura 2 no capítulo
dos anexos. Todavia, é perfeitamente admissível que o efetivo total,
126
quando foi criado o Regimento de Cavalaria de Vila Rica, em 1775,
fosse menor que a lotação prevista, por falta de contingente. Nesse
caso, algumas das Companhias de Cavalaria teriam um menor
número de postos preenchidos, isso é, alguns postos estariam vagos.
Deve-se observar que o fato do próprio Governador e Capitão General
ter reservado o “comando” nominal do Regimento criava uma
anomalia, já que quem era o comandante efetivo era o subcomandante,
o Tenente-Coronel do Regimento.
Além dessas tropas, Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos,
menciona a existência de “Pedestres” ou “ Soldados do Mato”, que se
encontravam “ As ordens do intendente ( dos diamantes) e
caixas”, com um efetivo total de 141 homens, sendo 80 no Arraial do
Tejuco e 21 na Serra de Santo Antônio. Esses Pedestres
complementavam o “ destacamento” de Dragões do Arraial do Tejuco,
que tinha 80 homens, o que equivale a uma Companhia de Dragões,
freqüentemente mencionada nos documentos da época como a “
Companhia dede Cunha” ( Capitão de Dragões Simão da Cunha
Pereira). Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos menciona ainda
outros efetivos. “ Aggregados a este regimento ( de Vila Rica)” (...)
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