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INVERNO 2021 – EDIÇÃO 4

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Aulas de pintura, boxe e percussão na ONG Gerando Falcões | fotos: divulgação<br />

“Eu quero conquistar o mundo<br />

e mandar a desigualdade para o<br />

museu. É uma utopia, eu sei, mas<br />

não trabalho por menos que isso”<br />

Lemaestro<br />

Um reencontro que mudaria para sempre<br />

a vida de Lemaestro (e de muitas<br />

pessoas) deu-se por acaso, em 2011.<br />

“Eu estava saindo de uma escola depois<br />

de terminar uma oficina com a garotada<br />

e o Edu [Lyra] estava chegando<br />

para dar uma palestra sobre o livro que<br />

estava lançando [Jovens Falcões]. Estudamos<br />

na mesma escola, nos conhecíamos,<br />

mas não éramos próximos, ele era<br />

do futebol e eu do skate.” Os dois jovens<br />

conversaram e descobriram muitas<br />

afinidades. A amizade se fortaleceu e,<br />

em 2013, eles criaram a ONG Gerando<br />

Falcões, que nasceu para apoiar jovens<br />

da periferia na região em que cresceram<br />

(e conheciam bem), uma área que<br />

compreende o leste de São Paulo e parte<br />

dos municípios contíguos de Poá e<br />

Ferraz de Vasconcelos.<br />

Lemaestro e Edu Lyra | foto: divulgação<br />

Depois que saiu da clínica de recuperação, Lemaestro decidiu<br />

que precisava ajudar outras pessoas a se levantar ou, melhor<br />

ainda, evitar que elas caíssem. Ao lado de um amigo também<br />

skatista, oferecia oficinas de skate a crianças e jovens, atividade<br />

que começava com aula sobre o esporte e finalizava<br />

com um almoço coletivo. Os empregos e bicos eram intermitentes,<br />

mas ele seguia compondo, cantando rap e tentando<br />

conscientizar outros jovens por meio de seu próprio exemplo<br />

de superação. “Não me vejo fora do trabalho de transformação<br />

social. Sem isso, eu provavelmente nem estaria vivo,<br />

muitos amigos e conhecidos da minha geração já morreram<br />

ou estão presos”, diz.<br />

De acordo com as especialistas, a necessidade de ajudar<br />

pessoas próximas é um traço comum entre aqueles que<br />

se dedicam de corpo e alma ao trabalho social. A psicóloga<br />

Mariana Prioli Cordeiro explica que muitas dessas pessoas<br />

desejam “dar um sentido à própria história e às próprias<br />

ações” e, com isso, engajam-se primeiramente em trabalhos<br />

dentro da própria comunidade. Mariana diz que eles “se reconhecem<br />

e são reconhecidos no território onde atuam”, e isso<br />

serve de estímulo pessoal e coletivo. Graça Gonçalves complementa,<br />

afirmando que o impulso inicial é diferente quando<br />

o outro é abstrato e quando ele é conhecido, como vizinhos,<br />

ex-colegas de escola e parentes.<br />

Um dos corais da ONG Gerando Falcões | foto: divulgação<br />

Os Falcões passaram a oferecer projetos<br />

musicais e esportivos às escolas<br />

da região e criaram a Recomeçar, uma<br />

ação para ajudar egressos do sistema<br />

penitenciário no processo de reinserção<br />

na sociedade. Mas o começo não foi<br />

nada fácil. Lemaestro pediu demissão<br />

— era ajudante geral em uma pequena<br />

empresa — para montar a ONG e passou<br />

apertos até que a empreitada se<br />

estabilizasse. “Eu comia resto de arroz<br />

queimado, que era o que tinha, ficava<br />

sem água e luz por falta de pagamento.<br />

Foi mais ou menos um ano assim, no<br />

perrengue”, relembra.<br />

Cinco anos se passaram até que, em<br />

2018, a ONG atraiu a atenção do empresário<br />

e investidor Jorge Paulo Lemann.<br />

Como um toque de Midas, o<br />

apoio de Lemann foi o suficiente para<br />

os Falcões alçarem voo, atraindo o interesse<br />

de empresários de peso. Os Falcões<br />

ganharam envergadura nacional,<br />

estão presentes em mais de 670 favelas<br />

e comunidades pobres em praticamente<br />

todo o território brasileiro,<br />

criaram programas (presenciais e online)<br />

de formação de líderes e cursos de<br />

capacitação para expandir e melhorar<br />

a atuação de centenas de ONGs que auxiliam.<br />

Recentemente, a ONG demonstrou<br />

seu poder mobilizador ao anunciar<br />

que tinha captado, em 40 dias de<br />

campanha, 25 milhões de reais em doações<br />

para combater a fome agravada<br />

pela pandemia.<br />

O músico e empreendedor social Lemaestro<br />

sonha grande. Conta que,<br />

na primeira reunião para criar a ONG<br />

Gerando Falcões, ele, Edu, Mayara e<br />

Amanda já falavam em tornar a iniciativa<br />

global. “Eu quero conquistar o<br />

mundo e mandar a desigualdade para<br />

o museu. É uma utopia, eu sei, mas não<br />

trabalho por menos que isso.”<br />

“Não me vejo fora do trabalho<br />

de transformação social. Sem<br />

isso, eu provavelmente nem<br />

estaria vivo”<br />

Lemaestro<br />

<strong>INVERNO</strong> <strong>2021</strong> | <strong>EDIÇÃO</strong> 4 • PÁG. 31<br />

<strong>INVERNO</strong> <strong>2021</strong> | <strong>EDIÇÃO</strong> 4 • PÁG. 30

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